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MONALISA RENATA GAZOLI O MÉTODO ANALÍTICO PARA O ENSINO DA LEITURA EM “SÉRIE DE LEITURA PROENÇA” (1926-1928), DE ANTONIO FIRMINO DE PROENÇA UNESP - Universidade Estadual Paulista Faculdade de Filosofia e Ciências Campus de Marília Programa de Pós-Graduação em Educação Marília-SP 11 de fevereiro de 2010

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Nesta dissertação, apresentam-se resultados de pesquisa de mestrado em educação (Bolsa Capes - março a agosto de 2008; bolsa Fapesp - setembro de 2008 a fevereiro de 2010), vinculada às linhas “Alfabetização” e “Ensino de Língua Portuguesa” do Grupo de Pesquisa e do Projeto Integrado de Pesquisa “História do Ensino de Língua e Literatura no Brasil”, ambos coordenados por Maria do Rosário L. Mortatti. Com o objetivo de contribuir para a compreensão de um importante momento da história do ensino da leitura no Brasil, focalizase a proposta para esse ensino apresentada pelo professor paulista Antonio Firmino de Proença (1880-1946), nos livros didáticos que integram a “Série de leitura Proença”, a saber: Cartilha Proença (1926), Leitura do principiante (1926), 1º. livro de leitura (1926), 2º. livro de leitura (1927), 3º. livro de leitura (1928) e 4º. livro de leitura (1948). Os livros que integram essa série foram publicados pela Editora Melhoramentos (SP) e circularam em diferentes estados brasileiros, dentre os quais, Ceará, Minas Gerais, Pernambuco e Santa Catarina, além de São Paulo, tendo contribuído para a formação de muitas gerações de brasileiros. Mediante abordagem histórica centrada em pesquisa documental e bibliográfica, desenvolvida por meio dos procedimentos de localização, recuperação, reunião, seleção e ordenação de fontes documentais, analisou-se a configuração textual dos livros dessa série, que consiste em enfocar os diferentes aspectos constitutivos de seu sentido. Concluiu-se que, nesses livros, apresentada-se uma proposta de concretização do método analítico para o ensino da leitura diretamente relacionada com outros livros de leitura publicados nas décadas iniciais do século XX, como decorrência da institucionalização desse método, no estado de São Paulo.

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  • 1. MONALISA RENATA GAZOLI O MTODO ANALTICO PARA O ENSINO DA LEITURA EM SRIE DE LEITURA PROENA (1926-1928), DE ANTONIO FIRMINO DE PROENA UNESP - Universidade Estadual Paulista Faculdade de Filosofia e Cincias Campus de Marlia Programa de Ps-Graduao em Educao Marlia-SP 11 de fevereiro de 2010

2. MONALISA RENATA GAZOLI O MTODO ANALTICO PARA O ENSINO DA LEITURA EM SRIE DE LEITURA PROENA (1926-1928), DE ANTONIO FIRMINO DE PROENA DISSERTAO apresentada banca examinadora do Programa de Ps-Graduao em Educao da FFC-Unesp-Marlia, como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Educao. rea de Concentrao: Polticas Pblicas e Administrao da Educao Brasileira. Linha de Pesquisa: Filosofia e Histria da Educao no Brasil. Orientadora: Profa . Dra . Maria do Rosrio Longo Mortatti. Marlia-SP 11 de fevereiro de 2010 3. Ficha catalogrfica elaborada pelo Servio Tcnico de Biblioteca e Documentao Univ Estadual Paulista Campus de Marlia Gazoli, Monalisa Renata. G291m O mtodo analtico para o ensino de leitura em Srie de leitura Proena (1926-1928), de Antonio Firmino Proena / Monalisa Renata Gazoli. Marlia, 2010. 209 f. ; 30 cm. Dissertao (Mestrado em Educao) Faculdade de Filosofia e Cincias, Universidade Estadual Paulista, 2010. Bibliografia: f. 164-209 Orientadora: Prof Dr Maria do Rosrio Longo Mortati 1. Ensino de leitura. 2. Mtodo analtico. 3. Histria da educao. I. Autor. II. Ttulo. CDD 372.410981 4. MONALISA RENATA GAZOLI O MTODO ANALTICO PARA O ENSINO DA LEITURA EM SRIE DE LEITURA PROENA (1926-1928), DE ANTONIO FIRMINO DE PROENA Banca Examinadora ________________________________________________ Orientadora: Profa . Dra . Maria do Rosrio Longo Mortatti Faculdade de Filosofia e Cincias-Unesp-Marlia _______________________________________________ 2. Examinadora: Prof. Dr. Circe Maria Fernandes Bittencourt PUC-So Paulo _______________________________________________ 3. Examinadora: Dr. Lzara Nanci de Barros Amncio Instituto de Cincias Humanas e Sociais-UFMT-Rondonpolis 5. quele que segura minha mo e me ajuda a superar os perigos de viver: Jorge, amado. 6. Agradecimentos queles que me auxiliaram direta ou indiretamente no desenvolvimento da pesquisa da qual resultou esta dissertao: a Deus, Pai compreensivo e fiel; aos meus pais, que me deram a oportunidade de viver e me ensinaram a superar dificuldades; ao meu amado, um companheiro estimado; professora Maria do Rosrio L. Mortatti, por suas inquestionveis qualidades de mestre respeitosa e exemplar; aos queridos e estimados amigos do Gphellb Grupo de Pesquisa Histria do Ensino de Lngua e Literatura no Brasil, pela oportunidade de aprender o valor do trabalho em grupo; aos professores das disciplinas cursadas como aluna de mestrado, que me proporcionaram valiosas interlocues; aos funcionrios dos acervos consultados e da Escola Estadual Prof. Antonio Firmino de Proena, que me auxiliaram oportunizando o acesso aos documentos necessrios ao desenvolvimento da pesquisa; e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) e Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (Fapesp), pelas bolsas concedidas, sem as quais no teria sido possvel dedicar-me exclusivamente pesquisa de que resultou esta dissertao de mestrado; a essas pessoas e instituies, consciente de que um trabalho de pesquisa jamais realizado isoladamente, meus agradecimentos sinceros. 7. A alma de uma collectividade qualquer naturalmente a somma de todos os caracteres dos individuos actuais e de todas as influencias passadas; uma synthese do pensar e sentir dos que vivem e dos que se foram. (PROENA, 1919, p. 6) 8. GAZOLI, Monalisa Renata. O mtodo analtico para o ensino da leitura em Srie de leitura Proena (1926-1928), de Antonio Firmino de Proena. 2010, 209f. Dissertao (Mestrado em Educao) Faculdade de Filosofia e Cincias, UNESP Univ Estadual Paulista, Marlia, 2010. RESUMO Nesta dissertao, apresentam-se resultados de pesquisa de mestrado em educao (Bolsa Capes - maro a agosto de 2008; bolsa Fapesp - setembro de 2008 a fevereiro de 2010), vinculada s linhas Alfabetizao e Ensino de Lngua Portuguesa do Grupo de Pesquisa e do Projeto Integrado de Pesquisa Histria do Ensino de Lngua e Literatura no Brasil, ambos coordenados por Maria do Rosrio L. Mortatti. Com o objetivo de contribuir para a compreenso de um importante momento da histria do ensino da leitura no Brasil, focaliza- se a proposta para esse ensino apresentada pelo professor paulista Antonio Firmino de Proena (1880-1946), nos livros didticos que integram a Srie de leitura Proena, a saber: Cartilha Proena (1926), Leitura do principiante (1926), 1. livro de leitura (1926), 2. livro de leitura (1927), 3. livro de leitura (1928) e 4. livro de leitura (1948). Os livros que integram essa srie foram publicados pela Editora Melhoramentos (SP) e circularam em diferentes estados brasileiros, dentre os quais, Cear, Minas Gerais, Pernambuco e Santa Catarina, alm de So Paulo, tendo contribudo para a formao de muitas geraes de brasileiros. Mediante abordagem histrica centrada em pesquisa documental e bibliogrfica, desenvolvida por meio dos procedimentos de localizao, recuperao, reunio, seleo e ordenao de fontes documentais, analisou-se a configurao textual dos livros dessa srie, que consiste em enfocar os diferentes aspectos constitutivos de seu sentido. Concluiu-se que, nesses livros, apresentada-se uma proposta de concretizao do mtodo analtico para o ensino da leitura diretamente relacionada com outros livros de leitura publicados nas dcadas iniciais do sculo XX, como decorrncia da institucionalizao desse mtodo, no estado de So Paulo. Palavras-chave: Antonio Firmino de Proena. Ensino da leitura. Mtodo analtico. Histria da Educao. 9. ABSTRACT This work deals with the results of a Master degree dissertation research related to Literacy and Portuguese Language of Research Group and Research Integrated Project History of Language and Literature Teaching in Brazil both under the leadership of Maria do Rosrio Longo Mortatti. Aiming contributing to understand an important of the history of reading teaching in Brazil, it focus on the proposal concerning reading teaching presented by Professor Antonio Firmino Proena (1880-1946), in the didactic books called Srie de leitura Proena, that is: Cartilha Proena (1926), Leitura do principiante (1926), 1. livro de leitura (1926), 2. livro de leitura (1927), 3. livro de leitura (1928) e 4. livro de leitura (1948). All those books were published by Editora Melhoramentos (SP) and had circulation in different Brazilian states such as Cear, Minas Gerais, Pernambuco e Santa Catarina, besides So Paulo, and in this way, they contributed to form many Brazilian generations. Through historical approach centred on documentary and bibliographical investigation, and by means of localizing, retrieving, assembling, selecting and ordering proceedings, those books textual configuration was analysed, that is to say, to focus on different constitutive aspects of their meanings. The conclusion is that in those books, a proposal to make concrete the analytical method for reading teaching is presented, which is directly related to other reading books published at the beginning decades of 20 th century, as a result of the institutionalization of that method in the state of So Paulo. Keywords: Antonio Firmino Proena. Reading teaching. Analytical method. History of education. 10. LISTA DE FIGURAS Figura 1 Foto de A. F. Proena ...................................................... 47 Figura 2 Capa da 1. edio de Cartilha Proena .......................... 97 Figura 3 Capa da 66. edio de Cartilha Proena ........................ 98 Figura 4 Capa da 79. edio de Cartilha Proena ........................ 99 Figura 5 Capa da 59. edio de Leitura do principiante ............... 100 Figura 6 Capa da 87. edio de Leitura do principiante ............... 101 Figura 7 Capa da 35. edio de 1. livro de leitura ....................... 102 Figura 8 Capa da 45. edio de 1. livro de leitura ....................... 103 Figura 9 Capa da 1. edio de 2. livro de leitura ......................... 104 Figura 10 Capa da 31. edio de 2. livro de leitura ..................... 105 Figura 11 Capa da 15. edio de 3. livro de leitura ..................... 106 Figura 12 Capa da 17. edio de 3. livro de leitura ..................... 107 Figura 13 Capa da 21. edio de 4. livro de leitura ..................... 108 Figura 14 Pgina da 1. edio de Cartilha Proena .................. 133 Figura 15 Pgina da 59. edio de Leitura do principiante .......... 134 Figura 16 Pgina da 59. edio de Leitura do principiante .......... 135 Figura 17 Pgina da 1. edio de Cartilha Proena ..................... 141 11. LISTA DE QUADROS Quadro 1 Bibliografia de A. F. Proena, por tipo de texto e ano de publicao, entre 1913 e 1959 .............................................................................. 56 Quadro 2 Ano da 1. edio dos livros de Antonio Firmino de Proena ........... 58 Quadro 3 Ano de publicao, quantidade de artigos e revistas pedaggicas nas quais foram publicados artigos de A. F. Proena, entre 1913 e 1934 ............ 59 Quadro 4 Bibliografia sobre A. F. Proena, por tipo de texto e ano de publicao, entre 1917 e 2009 .............................................................................. 64 Quadro 5 Perodo de publicao e quantidade de edies dos livros da Srie de leitura Proena ................................................................................................ 89 Quadro 6 Ano de publicao das edies dos livros da Srie de leitura Proena ................................................................................................................ 91 Quadro 7 Quantidade de pginas dos livros da Srie de leitura Proena ....... 93 Quadro 8 Ttulos dos textos das lies suprimidas, ou acrescentadas, ou modificadas, na 45. edio de 1. livro de leitura, comparativamente 5. a 10. edio ........................................................................................................... 112 Quadro 9 Ttulo dos textos das lies suprimidas ou acrescentadas, na 30. edio de 2. livro de leitura, comparativamente 1. edio .............................. 113 Quadro 10 Autor, ttulo do texto e nmero da lio, na 30. edio de 2. livro de leitura ............................................................................................................... 114 Quadro 11 Ttulo dos textos das lies suprimidas ou acrescentadas, na 17. e 20. edies de 3. livro de leitura, comparativamente 15. edio .................... 115 Quadro 12 Enunciados de exerccios, em 1. livro de leitura ............................ 117 Quadro 13 Temas das exposies gramaticais e enunciados de exerccios, em 2. livro de leitura ........................................................................................... 118 Quadro 14 Temas das exposies gramaticais e enunciados de exerccios, em 3. livro de leitura ........................................................................................... 119 Quadro 15 Autor, ttulo do texto e nmero da lio, na 1. edio de 2. livro de leitura ............................................................................................................... 138 Quadro 16 Autor, ttulo do texto e nmero da lio, na 15. edio de 3. livro de leitura ............................................................................................................... 139 Quadro 17 Autor, ttulo do texto e nmero da lio, na 21. edio de 4. livro de leitura ............................................................................................................... 140 Quadro 18 Nmero e ttulo do texto, quantidade de pargrafos, frase-sntese e nmero da(s) pgina(s) de Leitura do principiante .............................................. 142 Quadro 19 Ttulo do texto, quantidade de pargrafos, nmero de pgina e frase-sntese das lies de 1. livro de leitura ....................................................... 144 Quadro 20 Temas das exposies gramaticais e enunciados de exerccios, em 4. livro de leitura ........................................................................................... 145 12. SUMRIO Apresentao ......................................................................................................................................... 12 Introduo ............................................................................................................................................. 17 Captulo 1 Pesquisas histricas de brasileiros sobre ensino da leitura e da escrita e sobre livro didtico .................................................................................................................................................... 31 Captulo 2 Aspectos da vida, da atuao profissional e da bibliografia de e sobre Antonio Firmino de Proena .............................................................................................................................. 46 2.1 Dados biogrficos e atuao profissional....................................................................................... 47 2.2 Bibliografia de Antonio Firmino de Proena ................................................................................. 54 2.3 Bibliografia sobre A. F. Proena ................................................................................................... 63 2.3.1 Captulo de livro ......................................................................................................................... 65 2.3.2 Texto acadmico sobre A. F. Proena ........................................................................................ 66 2.3.3 Textos sobre A. F. Proena, em anais de eventos ...................................................................... 66 2.3.4 Textos de homenagem pstuma a A. F. Proena ........................................................................ 69 2.3.5 Textos, publicados entre 1928 e 1954, com menes a A. F. Proena, sua atuao profissional ou produo escrita e/ou citaes de textos seus ..................................................................................... 73 2.3.6 Textos, publicados entre 1974 e 2009, com menes a A. F. Proena, sua atuao profissional ou produo escrita e/ou citaes de textos seus ..................................................................................... 78 Captulo 3 Apresentao da Srie de leitura Proena ................................................................ 84 3.1 A editora da Srie de leitura Proena ......................................................................................... 85 3.2 Aspectos gerais dos livros da Srie de leitura Proena .............................................................. 88 3.3 As diferentes edies dos livros da Srie de leitura Proena ..................................................... 96 3.3.1 Capas ........................................................................................................................................... 96 3.3.2 Folha de rosto e 4. capa ............................................................................................................. 109 3.3.3 Prefcio e ilustraes .................................................................................................................. 110 3.3.4 Lies .......................................................................................................................................... 111 3.3.5 Vocabulrio e exerccios ............................................................................................................. 116 3.3.6 Exposies gramaticais ........................................................................................................... 117 Captulo 4 Srie de leitura Proena e o ensino da leitura pelo mtodo analtico ..................... 121 4.1 Os exemplares analisados .............................................................................................................. 122 4.2 As explicaes do autor ................................................................................................................. 124 4.3 As ilustraes e as lies ............................................................................................................... 132 Captulo 5 Srie de leitura Proena e a histria da alfabetizao no Brasil ............................ 147 5.1 Principais caractersticas educacionais do segundo e terceiro momentos cruciais na histria da alfabetizao no Brasil ....................................................................................................................... 148 5.2 Srie de leitura Proena e o segundo e o terceiro momentos cruciais na histria da alfabetizao no Brasil ............................................................................................................................ 156 Consideraes finais ............................................................................................................................. 161 Referncias ............................................................................................................................................ 164 Bibliografia de apoio terico ................................................................................................................ 176 Apndice Bibliografia de e sobre Antonio Firmino de Proena: um instrumento de pesquisa ......... 179 Anexos ..................................................................................................................................................... 202 Foto de A. F. Proena .............................................................................................................................. 203 Documento de identidade de A. F. Proena ............................................................................................ 204 Carteirinha de scio de A. F. Proena ao Centro do Professorado Paulista (CPP) ................................. 205 Atestado de bito de A. F. Proena ......................................................................................................... 206 Capa do livro Antonio Firmino de Proena: 1980, 1. centenrio de nascimento .................................. 207 Foto da lpide de A. F. Proena ............................................................................................................... 208 Foto da fachada da E.E. Prof. Antonio Firmino de Proena ................................................................ 209 13. APRESENTAO 14. 13 Nesta dissertao, apresento resultados de pesquisa de mestrado desenvolvida junto ao Programa de Ps-Graduao em Educao, da Faculdade de Filosofia e Cincias (FFC), da UNESP Universidade Estadual Paulista campus de Marlia e vinculada ao Gphellb Grupo de Pesquisa Histria do Ensino de Lngua e Literatura no Brasil1 , e ao Projeto Integrado de Pesquisa Histria do ensino de lngua e literatura no Brasil (Piphellb), ambos coordenados pela Prof. Dr. Maria do Rosrio Longo Mortatti. Os resultados da pesquisa aqui apresentados se referem anlise da configurao textual dos livros que integram a Srie de leitura Proena, escritos pelo professor paulista Antonio Firmino de Proena (1880-1946). Os livros dessa srie so: Cartilha Proena, Leitura do principiante, 1. livro de leitura; 2. livro de leitura; 3. livro de leitura; e 4. livro de leitura. Para essa anlise, venho desenvolvendo pesquisa documental e bibliogrfica desde o ingresso no mestrado e em continuidade pesquisa de iniciao cientfica, iniciada em 2007. Para tanto, consultei acervos fsicos de instituies localizadas nas cidades paulistas de Marlia-SP, Araraquara-SP, Campinas-SP, So Paulo-SP e na cidade do Rio de Janeiro-RJ, alm de base de dados disponveis on-line e catlogos digitais disponveis na Internet. importante destacar que, aps trs anos de desenvolvimento de pesquisa documental e bibliogrfica constatei significativas mudanas no que se refere importncia que se atribui ao estudo da vida e obra desse professor, para o que penso ter modestamente contribudo, expandindo indicaes contidas em Mortatti (2000a). Quando iniciei a pesquisa, em 2007, no havia nenhum trabalho resultante de pesquisa acadmico-cientfica que tratasse exclusivamente da vida, atuao profissional e produo estrita de A. F. Proena. Localizei, naquele momento, apenas, dois textos resultantes desse tipo de pesquisa, contendo menes a esse professor e sua produo didtica ou citaes de textos seus: o livro O livro na educao (1974), de Samuel Pfromm Neto, Carlos Dib e Nelson Rosamilha (1974), no qual se apresentam informaes sobre a cartilha e os livros de leitura de A. F. Proena; e o livro Os sentidos da alfabetizao (2000a), de Maria do Rosrio Longo Mortatti, no qual se encontram informaes sobre A. F. Proena e breve anlise de aspectos da configurao textual de Cartilha Proena. Foi justamente com base nesses dois textos, em especial no segundo deles, que escolhi o tema de minha pesquisa de iniciao cientfica, da qual resultou o primeiro trabalho especfico e detalhado sobre A. F. Proena, o qual me propiciou contribuir, mesmo que de 1 Cadastrado no Diretrio dos Grupos de Pesquisa do Brasil CNPq; certificado pela UNESP Universidade Estadual Paulista. Informaes disponveis em: . 15. 14 forma modesta, para destacar a importncia da atuao desse professor paulista, no mbito de um importante momento da histria do ensino da leitura e da escrita no Brasil e, ao mesmo, tempo, contribuir para a produo da histria desse ensino. Concomitantemente ao desenvolvimento da pesquisa documental e bibliogrfica cujos resultados apresento nesta dissertao, entre 2008 e o primeiro semestre de 2009, cursei cinco disciplinas, para integralizao dos crditos do mestrado, as quais contriburam para o desenvolvimento da pesquisa e para minha formao como pesquisadora. So elas: Histria do ensino da leitura e escrita no Brasil e Metodologia da pesquisa cientfica: anlise da configurao textual, ministradas pela Prof. Dr. Maria do Rosrio Longo Mortatti (FFC- Unesp-Marlia); Histria da Escola no Brasil, ministrada pela Dr. Ana Clara Bertoletto Nery (FFC-Unesp-Marlia); Histria da Educao e Histria Cultural: perspectivas de pesquisa, ministrada pela Prof. Dr. Rosa Ftima de Souza (FCL-Unesp-Araraquara); Didtica da lngua materna: princpios e metodologia, ministrada pela Dr. Cyntia Graziella Guizelim Simes Girotto (FFC-Unesp-Marlia); e tica e educao, ministrada pelo Dr. Alonso Bezerra de Carvalho (FFC-Unesp-Marlia). Alm da integralizao dos crditos nas disciplinas mencionadas, apresentei resultados parciais da pesquisa em quatro eventos cientficos nacionais e dois internacionais: III Seminrio Internacional: Escola e Cultura, promovido pelo Programa de Estudos Ps- Graduados em Educao: Histria, Poltica, Sociedade e realizado na Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, em agosto de 2008; V Congresso Brasileiro de Histria da Educao, promovido pela Sociedade Brasileira de Histria da Educao e realizado em Aracaju- Sergipe, em novembro de 2008; II Seminrio Brasileiro Livro e Histria Editorial, promovido pelo Ncleo de Pesquisa sobre Livro e Histria Editorial no Brasil e realizado na cidade do Rio de Janeiro, em maio de 2009; 17. Congresso de Leitura do Brasil, promovido pela Associao de Leitura do Brasil e realizado na cidade de Campinas-So Paulo, em julho de 2009; 32. Reunio Anual da Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Educao (ANPEd), promovida pela Anped e realizada na cidade de Caxambu-Minas Gerais, em outubro de 2009; e IX Congresso Iberoamericano de Histria da Educao Latino-Americana (CIHELA), promovido pela Sociedade Brasileira de Histria da Educao (SBHE) e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e realizado na cidade do Rio de Janeiro, em novembro de 2009. Destaco que na 32. Reunio anual da ANPEd, em co-autoria com a Prof. Dr. Maria do Rosrio Longo Mortatti, a Dr. Rosane Michelle de Castro e as doutorandas 16. 15 Thabatha Aline Trevisan e Brbara Cortella Pereira, apresentei o minicurso2 intitulado O mtodo de anlise da configurao textual: fundamentos e possibilidades de aplicao, no Grupo de Trabalho Histria da Educao. Escrevi, tambm, um artigo que integrar uma coletnea sobre o professor A. F. Proena, organizada por Mrcia de Paula Gregorio Razzini e cuja publicao est prevista para junho de 2010, ano em que ser comemorado o 130. aniversrio de nascimento do professor A. F. Proena. Participei tambm de sesses de orientao individuais e coletivas, com periodicidade semanal, e de atividades promovidas pelo Gphellb Grupo de Pesquisa Histria do Ensino de Lngua e Literatura no Brasil, como seminrios de pesquisa, Cafs Histrico-culturais3 ; e grupos de estudo, as quais contriburam, decisivamente, para o encaminhamento da pesquisa e das atividades correlatas. Alm das atividades mencionadas, as consideraes da Prof. Dr. Circe Maria Fernandes Bittencourt e da Dr. Lzara Nanci de Barros Amncio, decorrentes de suas arguies no Exame Geral de Qualificao de Mestrado, ocorrido em agosto de 2009, foram muito importantes para minha tomada de deciso em relao aos encaminhamentos feitos, cujos resultados encontram-se nesta dissertao. *** Em vista do exposto organizei esta dissertao de mestrado da seguinte forma: na Introduo, apresento aspectos de minha formao e atuao profissional que me motivaram a desenvolver pesquisa histrica sobre o tema alfabetizao, assim como apresento o corpus documental privilegiado, o problema, a hiptese, os objetivos e os pressupostos terico- metodolgicos norteadores da pesquisa; no Captulo 1, apresento pesquisas histricas de brasileiros sobre ensino da leitura e da escrita e sobre livro didtico; no Captulo 2, apresento aspectos da vida, da atuao profissional e da bibliografia de e sobre A. F. Proena; no Captulo 3, apresento a Srie de leitura Proena, escolhida como corpus documental privilegiado de pesquisa; no Captulo 4, apresento a proposta de concretizao do mtodo analtico pelo professor A. F. Proena, nos livros que integram a srie de leitura de sua autoria; e no Captulo 5, apresento outros aspectos do momento histrico de publicao e circulao dos livros que integram a Srie de leitura Proena, perodo considerado por 2 A ortografia que utilizei neste 2. relatrio cientfico (final) est de acordo com o novo acordo ortogrfico da Lngua Portuguesa, em vigor, no Brasil, a partir de janeiro de 2009. 3 Os Cafs Histrico-Culturais so palestras, conferncias e encontros organizados pelos integrantes do Gphellb, nos quais so abordados assuntos relacionados s cinco linhas de pesquisa desse grupo de pesquisa. 17. 16 Mortatti (2000a) como o segundo e terceiro momentos cruciais na histria da alfabetizao no Brasil. Aps esses cinco captulos, apresento relao de referncias de textos citados e de bibliografia consultada; seguidas de um apndice intitulado Bibliografia de e sobre Antonio Firmino de Proena: um instrumento de pesquisa (GAZOLI, 2009a), contendo referncias de textos de e textos sobre o autor da Srie de leitura Proena e, em anexo, apresento foto de A. F. Proena, fotos de seu documento de identidade, fotos de sua carteirinha de scio do Centro do Professorado Paulista (CPP), foto de seu atestado de bito, foto da capa de um livreto elaborado para a comemorao (in memoriam) do 1. centenrio de seu nascimento, foto de sua lpide e foto da fachada da escola estadual da qual patrono (E.E. Prof. Antonio Firmino de Proena, localizada no bairro da Mooca, na cidade de So Paulo-SP). 18. INTRODUO 19. 18 Apresento, nesta dissertao, resultados de pesquisa desenvolvida entre maro de 2008 e dezembro de 2009, cujo interesse se originou de questionamentos que vinha fazendo (ainda que de forma no-sistemtica) sobre o tema alfabetizao, desde a poca em que cursava o Centro Especfico de Formao e Aperfeioamento do Magistrio (Cefam) em Lins-SP, e tambm por meio das reflexes que realizei durante o curso de Pedagogia da Faculdade de Filosofia e Cincias (FFC), da Universidade Estadual Paulista (UNESP) campus de Marlia, mais precisamente nas aulas das disciplinas: Metodologia do Ensino Fundamental (sries iniciais): Alfabetizao; e Metodologia do Ensino Fundamental (sries iniciais): Lngua Portuguesa. Concomitantemente ao curso de graduao iniciei, em 2006, minha carreira profissional como professora efetiva da Secretaria Municipal de Educao de Marlia-SP, oportunidade em que pude observar atividades de professoras alfabetizadoras e dialogar com elas sobre suas concepes e prticas de alfabetizao. Compreendendo que o tema alfabetizao bastante complexo, optei por pedir exonerao de meu cargo de professor para me dedicar exclusivamente pesquisa acadmico- cientfica sobre o tema. Ingressei, ento, no incio de 2007, como bolsista de iniciao cientfica4 no Gphellb Grupo de Pesquisa Histria do Ensino de Lngua e Literatura no Brasil5 , que decorre do Programa de Pesquisa Histria do ensino de lngua e literatura no Brasil (Pphellb), ambos coordenados pela Prof. Dr. Maria do Rosrio Longo Mortatti. Desse grupo e desse programa de pesquisa, em funcionamento desde 1994, resultou o Projeto Integrado de Pesquisa Histria do ensino de lngua e literatura no Brasil (Piphellb), em funcionamento desde 1995, tambm coordenado pela professora acima mencionada. O Gphellb, o Pphellb e o Piphellb esto organizados em torno de tema geral, mtodo de investigao e objetivo geral que so comuns a todas as pesquisas de seus integrantes. O tema geral ensino de lngua e literatura no Brasil se subdivide em cinco linhas de pesquisa, a saber: Formao de professores; Alfabetizao; Ensino de lngua portuguesa; Ensino de literatura; e Literatura infantil e juvenil. O mtodo de investigao est centrado em abordagem histrica, com anlise da configurao textual de fontes documentais. O objetivo geral, por sua vez, consiste em: [...] contribuir tanto para a produo de uma histria do ensino de lngua e literatura no Brasil, que auxilie na busca de solues para os 4 Bolsa Pibic/CNPq/Unesp - maro a novembro de 2007. 5 Cadastrado no Diretrio dos Grupos de Pesquisa do Brasil CNPq; certificado pela UNESP. Informaes disponveis em: . 20. 19 problemas desse ensino, no presente, quanto para a formao de pesquisadores capazes de desenvolver pesquisas histricas que permitam avanos em relao aos campos de conhecimento envolvidos. (MORTATTI, 2003, p. 3) Como membro do Gphellb, sob orientao da Prof. Dr. Maria do Rosrio Longo Mortatti, escolhi desenvolver pesquisa vinculada s linhas Alfabetizao e Ensino de lngua portuguesa e li, inicialmente, Os sentidos da alfabetizao (MORTATTI, 2000a). Por meio das reflexes que essa leitura me proporcionou, a partir das informaes e sugestes de minha orientadora, escolhi abordar a bibliografia de e sobre o professor paulista A. F. Proena (1880-1946) e iniciei etapa preliminar de pesquisa, passando a elaborar um instrumento de pesquisa por meio da utilizao de procedimentos de localizao, recuperao, reunio, seleo e ordenao de referncias de textos escritos por A. F. Proena e de textos escritos por outros autores com menes a A. F. Proena, sua atuao profissional ou produo escrita e/ou citaes de textos seus. A anlise dessas referncias e a leitura de bibliografia especializada me possibilitaram elaborar projeto de pesquisa com o objetivo de contribuir para a produo de uma histria do ensino de lngua e literatura no Brasil, por meio da anlise da configurao textual de Cartilha Proena (1926), escrita pelo professor A. F. Proena. Do desenvolvimento desse projeto, resultou o Trabalho de concluso de curso (TCC) intitulado O mtodo analtico para o ensino da leitura em Cartilha Proena (1926), de Antonio Firmino de Proena (GAZOLI, 2007a), que foi aprovado com nota 10 e teve sua publicao recomendada pelos membros da banca examinadora6 . Em apndice a esse TCC, encontra-se o instrumento de pesquisa intitulado Bibliografia de e sobre Antonio Firmino de Proena: um instrumento de pesquisa (GAZOLI, 2007b). No incio de 2008, ingressei no mestrado7 junto ao Programa de Ps-Graduao em Educao, FFC-Unesp-Marlia, tambm sob orientao da Prof. Dr. Maria do Rosrio Longo Mortatti, e dei continuidade pesquisa desenvolvida em nvel de iniciao cientfica. Em maro desse ano, encaminhei projeto de pesquisa de mestrado Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (Fapesp)8 , no qual propus a anlise da 6 Foram membros da banca examinadora desse TCC: Prof. Dr. Maria do Rosrio Longo Mortatti (orientadora); Dr. Mrcia de Paula Gregrio Razzini (Cefiel - Unicamp); e Dr. Estela Natalina Mantovani Bertoletti (UEMS - Paranaba). 7 Bolsa Capes - maro a agosto de 2008. 8 Bolsa Fapesp - setembro de 2008 a fevereiro de 2010. 21. 20 configurao textual de dois livros que integram a Srie de leitura Proena9 : Leitura do principiante (1926) e 1. livro de leitura (1926). A opo por esses livros deveu-se: ao fato de se apresentarem como continuidade proposta para o ensino da leitura contida em Cartilha Proena, que analisei em nvel de IC; importncia que tiveram no momento histrico em que foram escritos e editados assim como durante as dcadas seguintes, em que continuaram a ser publicados, com nmero considervel de edies, e utilizados em escolas do estado de So Paulo; e ao destaque de A. F. Proena como diretor de escola normal, Inspetor Geral do Ensino no estado de So Paulo e colaborador em revistas pedaggicas, como a revista Educao (editada pela Diretoria Geral da Instruo Pblica de So Paulo e pela Sociedade de Educao) e a Revista do Professor (editada pelo Centro do Professorado Paulista). A pesquisa documental desenvolvida, todavia, possibilitou-me localizar referncias e exemplares de outros livros de A. F. Proena, o que, por sua vez, possibilitou-me ampliar o instrumento de pesquisa, o que resultou em verso atualizada, at dezembro de 2009 (GAZOLI, 2009a) (Anexo). Dentre as referncias e exemplares de livros localizados e reunidos nessa verso atualizada do instrumento de pesquisa, destaco os que integram a Srie de leitura Proena, publicada pela Companhia Melhoramentos de So Paulo (SP) e integrada pelos seguintes ttulos: Cartilha Proena (1926); Leitura do principiante (1926); 1. livro de leitura (1926); 2. livro de leitura (1927); 3. livro de leitura (1928); e 4. livro de leitura (1928)10 . Por compreender a importncia da pesquisa histrica sobre o ensino da leitura e escrita optei, em 2008, pela continuidade da pesquisa de iniciao cientfica concluda em 2007 da qual resultou o trabalho de concluso de curso intitulado O mtodo analtico para o ensino da leitura em Cartilha Proena, (1926), de Antonio Firmino de Proena (GAZOLI, 2007a) enfocando a proposta para o ensino da leitura apresentada pelo professor paulista A. F. Proena, nos livros didticos que integram a Srie de leitura Proena, de sua autoria que tiveram sucessivas edies entre 1926 e 1956, de acordo com informaes localizadas at o momento da redao final desta dissertao, e com 1. edio, no mbito do segundo e terceiro momentos cruciais na histria do ensino da leitura e da escrita no Brasil, propostos por Mortatti (2000a). 9 Nesta dissertao, utilizo a denominao Srie de leitura Proena apesar de a editora apresent-la, segundo informaes localizadas at o momento da redao final desta dissertao, apenas no verso da folha de rosto da 84. edio de Cartilha Proena (1955). A opo pela denominao de srie de leitura aqui utilizada por analogia a outras sries de leitura publicadas entre as dcadas finais do sculo XIX e iniciais do sculo XX. Por esse motivo, daqui em diante, nesta dissertao, apresento a denominao Srie de leitura Proena entre aspas. 10 O ttulo do 3. livro de leitura foi modificado, em 1948, para 4. livro de leitura. Tratarei desse aspecto em detalhes no Captulo 4, desta dissertao. 22. 21 Os livros que integram a srie de leitura em questo eram destinados aos alunos do curso primrio, tendo tido sucessivas edies durante as trs dcadas que foram publicados. Cartilha Proena explicitamente destinada aos alunos do 1. ano do curso primrio e teve sua 1. edio publicada em 1926 e a ltima, a 84. edio, em 1955. Leitura do principiante, tambm destinado explicitamente aos alunos do 1. ano do curso primrio teve sua 1. edio publicada, tambm em 1926 e a ltima, a 87. edio, em 1956. Esses dois livros contm a proposta de A. F. Proena para o ensino inicial da leitura, pelo mtodo analtico. Os outros livros que integram a Srie de leitura Proena apresentam proposta para o ensino da leitura e de outros contedos do programa escolar para alunos das classes adiantadas do curso primrio (2. ao 4. ano escolar): 1. livro de leitura tambm explicitamente destinado aos alunos do 2. ano do curso primrio e teve sua 1. edio publicada, tambm em 1926 e a ltima, a 48., em 1948; 2. livro de leitura explicitamente destinado aos alunos do 3. ano do curso primrio e teve sua 1. edio publicada, em 1927 e a ltima, a 50., em 1950; 3. livro de leitura explicitamente destinado aos alunos do 4. ano do curso primrio e teve sua 1. edio publicada, em 1928 e a ltima, a 35., em 1950; e 4. livro de leitura explicitamente destinado aos alunos do 4. ano do curso primrio e teve sua 1. edio publicada, em 1948 e a ltima, em 195111 . A Srie de leitura Proena foi constituda, at 1948, pelos livros intitulados: Cartilha Proena, Leitura do principiante, 1. livro de leitura, 2. livro de leitura e 3. livro de leitura. Houve, no decorrer da dcada de 1940, muitas alteraes nos contedos e nos aspectos grficos dos livros da srie de leitura em questo, tendo sido, aps 1948, modificado o ttulo desses livros: o ttulo do 1. livro de leitura modificado para 2. livro de leitura; o ttulo do 2. livro de leitura modificado para 3. livro de leitura; e o ttulo do 3. livro de leitura modificado para 4. livro de leitura12 . Aps 1948, portanto, o ttulo do 1. livro de leitura deixou de constar na Srie de leitura Proena, passando essa e ser constituda pelos livros intitulados: Cartilha Proena, Leitura do principiante, 2. livro de leitura, 3. livro de leitura e 4. livro de leitura. 11 Como informei, o ttulo do 3. livro de leitura foi modificado, em 1948, para 4. livro de leitura, por isso a data da 1. edio desse livro destoa da data dos demais livros da Srie de leitura Proena. 12 Agradeo s valiosas contribuies da Dr. Mrcia de Paula Gregrio Razzini quando da elaborao da coletnea que organizou sobre o professor A. F. Proena para a qual elaborei um captulo , que me auxiliaram a compreender aspectos referentes reorganizao da Srie de leitura Proena (ocorrida em 1948),. Essa pesquisadora realizou estgio junto Editora Melhoramentos (SP), em 1987, perodo em que organizou os arquivos dessa editora e que manuseou vrios exemplares dos livros da srie em questo. 23. 22 Pelos motivos que apresentei, embora tenha localizado seis ttulos de livros que integram a srie de leitura em questo, essa srie foi constituda, ao longo de sua trajetria editorial, sempre por cinco livros. Para no causar confuses, todavia, apresento a data da 1. e da ltima edies de 4. livro de leitura, respectivamente, 1948 e 1951, perodo em que o 3. livro de leitura foi publicado com o ttulo 4. livro de leitura. Analisei vrias edies dos livros didticos que integram a Srie de leitura Proena com o objetivo de constatar alteraes entre elas. As edies analisadas so: Cartilha Proena, 1. edio (1926), 39. edio ([19--]a) e 84. edio (1955); Leitura do principiante, 59. edio (1943a) e 87. edio (1956); 1. livro de leitura, 5. a 10. edio (1928), 35. edio ([19--]b), 45. edio (1940) e 47. edio (1947a); 2. livro de leitura, 1. edio (1927), 16. edio ([19--]c), 30. edio (1942), 31. edio (1945) e 33. edio (1947b); 3. livro de leitura, 15. edio ([19--]d), 17. edio (1941), 20. edio (1946) e 35. edio (1950a); e 4. livro de leitura, 21. edio (1948a). No foi possvel obter cpia completa da 31. e da 33. edies de 2. livro de leitura e da 17. e da 20. edies de 3. livro de leitura. Obtive cpia apenas da capa, folha de rosto, prefcio e sumrio dessas edies, todavia, ainda assim optei por utilizar essas edies, porque, por meio das informaes que nelas localizei, pude observar algumas mudanas entre as edies desses livros. O corpus documental privilegiado de pesquisa ficou, portanto, composto pelos livros que integram a Srie de leitura Proena, para cuja anlise utilizo tambm as diferentes edies que localizei de um mesmo ttulo. Tendo escolhido o corpus de pesquisa, formulei o seguinte problema de investigao: qual a proposta de A. F. Proena para o ensino da leitura no curso primrio, em continuidade proposta para a alfabetizao apresentada pelo autor em Cartilha Proena? A partir desse problema, formulei as seguintes questes norteadoras da pesquisa: quem foi A. F. Proena, qual sua formao e atuao profissional? Com qual propsito foram escritos os livros que integram a Srie de leitura Proena? A quem se destinavam esses livros? Como e o que se propunha nesses livros, em relao ao mtodo analtico para o ensino da leitura? Em que contexto histrico foram escritos e publicados? Com quais outros livros de 24. 23 leitura e com que outras sries de leitura dialogam? Qual a repercusso desses livros no ensino da leitura no Brasil? A hiptese que conduziu a pesquisa foi que, nos livros de leitura da Srie de leitura Proena, seu autor buscou dar continuidade proposta de concretizao13 do mtodo analtico para o ensino inicial da leitura, apresentada em Cartilha Proena, utilizando o recurso da srie de leitura, que se tornou prtica comum no segundo e no terceiro momentos cruciais na histria do ensino da leitura e da escrita no Brasil. Nesses momentos histricos buscava-se implementar polticas de expanso da escola pblica e se expandia tambm o mercado editorial de livros didticos, para o qual foi significativa a contribuio da Companhia Melhoramentos de So Paulo. Concomitantemente formulao da hiptese, defini como objetivos da pesquisa os seguintes: contribuir para a produo de uma histria do ensino de lngua e literatura no Brasil; contribuir para a compreenso de um importante momento da histria do ensino da leitura e escrita no Brasil; ampliar instrumento de pesquisa contendo a bibliografia de e sobre A. F. Proena; analisar a configurao textual dos livros que integram a Srie de leitura Proena; e contribuir para o desenvolvimento de pesquisas correlatas. *** Aps a escolha do corpus privilegiado de pesquisa, da formulao do problema de investigao, da formulao da hiptese e da definio dos objetivos, passei a definir os conceitos operativos utilizados no desenvolvimento da pesquisa, os quais se referem a: alfabetizao, cartilha de alfabetizao, mtodos de alfabetizao, sries de leitura, livro de leitura, livro didtico, Escola Nova, pesquisa histrica, documento e configurao textual. Passo, ento, a explicitar esses conceitos, de acordo com sua utilizao nesta dissertao. De acordo com Venezky, o conceito de lectoescrita14 se refere : [...] capacidade mnima de ler e escrever em uma determinada lngua, assim como tambm uma direo para o pensamento ou um modo de pensar o uso da leitura e escrita no dia-a-dia. A lectoescrita difere do simples ler e escrever porque pressupe um entendimento do uso apropriado dessas 13 O termo concretizao est sendo utilizado, nesta dissertao, como proposto por Mortatti (2000a), o qual explicarei no Captulo 1, desta dissertao. 14 Segundo Mortatti (2004), Beatriz Vigas-Faria, tradutora do dicionrio de Harris e Hodges (1999), optou por traduzir o termo ingls literacy por lectoescrita; todavia, nesta dissertao, optei por utilizar o termo alfabetizao. 25. 24 capacidades dentro de uma sociedade que est fundamentada no texto escrito. (VENEZKY apud HARRIS; HODGES, 1999, p. 153) Devido s muitas possibilidades de definio e conceituao do termo alfabetizao, optei por utiliz-lo, no sentido que lhe atribui Mortatti (2000a, p. 17): o [...] ensino da lngua escrita na fase inicial de escolarizao de crianas. Em relao cartilha de alfabetizao, Harris e Hodges a definem como: 1. um livro para iniciantes usado no ensino da leitura; mais especificamente, o primeiro livro didtico formal de um programa de leitura basal, geralmente precedido de um livro de preparao e de uma ou mais pr-cartilhas. (HARRIS; HODGES, 1999, p. 51) Mortatti (2000b) amplia a definio de cartilha de alfabetizao proposta por Harris e Hodges, definindo-a como um livro didtico utilizado inicialmente para o ensino da leitura e, principalmente a partir do incio do sculo XX, no Brasil, para o ensino simultneo da leitura e escrita. Quanto aos mtodos de alfabetizao, Grisi os classifica em trs tipos, assim caracterizados: Mtodo sinttico Considerado historicamente como o primeiro o que consiste no ensino ou aprendizado da leitura e da escrita segundo a ordem de complexidade crescente do material grfico, a partir dos elementos alfabticos. [...] Mtodo analtico o que consiste no ensino ou aprendizado da leitura e da escrita segundo a ordem de decomposio progressiva do material, a partir portanto de todos grficos, isto , sentenas ou palavras. [...] Mtodo misto ou analtico-sinttico [...] tende a reunir as simpatias gerais. Teoricamente, duas so as suas modalidades: a primeira consiste no ensino prvio das letras ou silabas15 , seguido imediatamente de suas combinaes em palavras e sentenas; a segunda, na apresentao de frases e vocbulos que so imediatamente decompostos em silabas e letras. (GRISI, 1946, p. 3-4, grifos do autor) Ainda quanto aos mtodos de alfabetizao, Braslavsky (1971) classifica-os apenas em mtodos de marcha sinttica e mtodos de marcha analtica. Os mtodos sintticos so classificados, segundo Braslavsky (1971) em: a) alfabtico, da letra, literal ou grafemtico, cujo ensino [...] parte dos sinais simples, letras ou grafemas (BRASLAVSKY, 1971, p. 44); b) fontico, cujo ensino [...] parte dos sons simples, ou fonemas. s vezes parte do som mais complexo da slaba (BRASLAVSKY, 1971, p. 44, grifo da autora); c) mtodos silbicos, cujo ensino parte das slabas [...] que depois se combinam em palavras e frases. (BRASLAVSKY, 1971, p. 55). Segundo Braslavsky, os 15 Por se tratar de pesquisa histrica, nesta e nas demais citaes e ttulos de livros manterei a ortografia de poca. 26. 25 mtodos sintticos No levam em conta o significado no ponto de partida, e no chegam necessriamente a le. (BRASLAVSKY, 1971, p. 45, grifos da autora) Ainda segundo Braslavsky, os mtodos analticos so classificados em: a) global analtico, cujo ensino [...] parte de sinais escritos complexos que podem ser a palavra, a frase ou o pargrafo. O mestre dirige a anlise. (BRASLAVSKY, 1971, p. 44-45, grifos da autora); b) global, cujo ensino [...] parte da palavra, a frase ou o pargrafo. O professor deve saber dirigir a anlise. Em qualquer caso, a criana deve chegar espontneamente a le. (BRASLAVSKY, 1971, p. 44-45, grifos da autora). Para Braslavsky (1971, p. 44), os mtodos de alfabetizao sintticos e analticos se assemelham quanto a [...] fazer compreender criana que existe certa correspondncia entre os sinais da lngua escrita e os sons da lngua falada [...]. Eles se diferenciam, todavia, porque, [...] um dsses mtodos comea pelo estudo dos sinais ou pelo[s] [...] sons elementares; e o outro, pelo contrrio, busca obter o mesmo resultado, colocando de repente a criana em face da lngua escrita. (BRASLAVSKY, 1971, p. 44). Mortatti (2006) compartilha da definio apresentada por Grisi (1946) e Braslavsky (1971), assim definindo os mtodos sintticos utilizados no Brasil, desde o sculo XIX: [...] mtodos de marcha sinttica (da parte para o todo): da soletrao (alfabtico), partindo do nome das letras; fnico (partindo dos sons correspondentes s letras); e da silabao (emisso de sons), partindo das slabas. (MORTATTI, 2006, p. 5). Quanto aos mtodos analticos utilizados no Brasil, desde o sculo XIX, Mortatti (2004) os define como: [...] maneira de se iniciar o ensino da leitura com unidades completas de linguagem, para posterior diviso em partes ou elementos menores; no mtodo da palavrao inicia-se esse ensino com palavras, que depois so divididas em slabas e letras; no mtodo da sentenciao inicia-se com sentenas inteiras, que so divididas em palavras, e estas, em slabas e letras; no mtodo das histrias (ou de contos ou da historieta) inicia-se com histrias completas para depois se orientar a ateno para as sentenas, palavras, slabas, letras; no mtodo global, enfatiza-se inicialmente o imediato reconhecimento de palavras ou sentenas inteiras, e, ocasionalmente, pode ser identificado com os mtodos da palavrao, da sentenciao ou das historietas. (MORTATTI, 2004, p. 123, grifos da autora). Em relao definio de livro didtico, utilizo a apresentada por Bittencourt (2008), que o caracteriza como: [...] uma mercadoria, um produto do mundo da edio que obedece evoluo das tcnicas de fabricao e comercializao pertencente aos interesses do mercado, mas , tambm, um depositrio dos diversos 27. 26 contedos educacionais, suporte privilegiado para recuperar os conhecimentos e tcnicas consideradas fundamentais por uma sociedade em determinada poca. (BITTENCOURT, 2008, p. 14). Ainda em relao a livro didtico, Choppin (2004) destaca que uma das dificuldades de seu estudo: [...] relaciona-se prpria definio do objeto, o que se traduz muito bem na diversidade do vocabulrio e na instabilidade dos usos lexicais. Na maioria das lnguas, o livro didtico designado de inmeras maneiras, e nem sempre possvel explicitar as caractersticas especficas que podem estar relacionadas a cada uma das denominaes, tanto mais que as palavras quase sempre sobrevivem quilo que elas designam por um determinado tempo. (CHOPPIN, 2004, p. 549) Ainda segundo Choppin (2009), essas dificuldades resultam em: [...] uma srie de termos, o mais freqentemente retirado da minuta dos ttulos, que remete matria em que a obra conhecida. Alguns fazem referncia a sua organizao interna, especialmente se referem a um conjunto de textos [...]; outros designam sua funo sinttica [...] ou seu papel diretivo [...]; outros ainda evocam o mtodo de aprendizagem que trabalham [...], o mais comum caracterizar positivamente no ttulo das obras (fcil, rpido, completo, novo, etc.) a alternncia de questes e de respostas [...], ou a exposio organizada, do simples ao complexo que mais freqente [...]. (CHOPPIN, 2009, p. 15-16) Apesar da dificuldade que Choppin (2009) apresenta, para os objetivos desta dissertao, utilizo a expresso livro didtico, para me referir aos livros utilizados por alunos em situaes de ensino e de aprendizagem, principalmente escolar, sendo que nele se encontra a matria a ser ensinada e o mtodo a ser seguido para esse ensino (MORTATTI, 2000a). Nesse sentido, cartilha um livro didtico [...] na qual se encontram o mtodo a ser seguido e a matria a ser ensinada, de acordo com certo programa oficial estabelecido previamente. (MORTATTI, 2000b, p. 42). E livro de leitura caracteriza-se tambm como um livro didtico que contm textos escritos, acompanhados ou no de exerccios, para utilizao por alunos e professores, com o objetivo de desenvolvimento de um processo de ensino e aprendizagem da leitura, em sries/anos escolares que sucedem a etapa inicial do ensino da leitura e escrita. Tratando do livro didtico, Batista (1999), considera-o: [...] um livro efmero, que se desatualiza com muita velocidade. Raramente relido; pouco se retorna a ele para buscar dados ou informaes e, por isso, poucas vezes conservado nas prateleiras de bibliotecas pessoais ou de instituies: com pequena autonomia em relao ao contexto da sala de aula 28. 27 e sucesso de graus, ciclos, bimestres e unidades escolares, sua utilizao est indissoluvelmente ligada aos intervalos de tempo escolar e ocupao dos papeis de professore e aluno. Voltado para o mercado escolar, destina-se a um pblico em geral infantil; produzido em grandes tiragens, em encadernaes, na maior parte das vezes, de pouca qualidade, deteriora-se rapidamente e boa parte de sua circulao se realiza fora do espao das grandes livrarias e bibliotecas. (BATISTA, 1999, p. 529). Quanto definio de srie de leitura utilizo, a apresentada por Oliveira e Souza (2000, p. 27), que o definem como sries de livros didticos compostas por [...] trs, quatro e at cinco livros (primeiro, segundo, terceiro, quarto e quinto livros de leitura), nos quais esto distribudos todos os conhecimentos a serem ensinados desde o primeiro at o ltimo ano da escola primria. Ainda segundo Oliveira e Souza (2000, p. 27), cada um dos livros de leitura para o ensino primrio [...] equivale a um ano letivo. Os contedos esto divididos por lies ou ttulos. As lies so apresentadas com grafias variadas nas formas e nos tamanhos e, geralmente, possuem gravuras. Em relao expresso Escola Nova, utilizo a apresentada por M. B. Loureno Filho. Para esse professor nos anos finais do sculo XIX que novas idias educacionais de uma escola diferente da existente no perodo imperial brasileiro, passam a ser disseminadas, originando-se a expresso Escola Nova, para designar esse movimento de renovao educacional. Em vrios pases, muitos educadores ento passaram a considerar novos problemas, intentando solv-los com a aplicao de recentes descobertas relativas ao desenvolvimento das crianas. Outros experimentaram variar os procedimentos de ensino, ou logo transformar as normas tradicionais da organizao escolar, com isso ensaiando uma escola nova, no sentido de escola diferente das que existissem. sse singelo nome foi por alguns adotado para caracterizao do trabalho dos estabelecimentos que dirigiam e, logo tambm, por agremiaes criadas para permuta de informaes e propagao de ideais comuns de reforma. Mais tarde, passou a qualificar reunies nacionais e internacionais, bem como a figurar no ttulo de revistas e sries de publicaes consagradas ao assunto. Dessa forma, a expresso adquiriu mais amplo sentido, ligado ao de um novo tratamento dos problemas da educao, em geral. (LOURENO FILHO, [19--], p. 15, grifo do autor)16 Esse movimento de renovao educacional conhecido como Escola nova foi amplamente pesquisado e devido s vrias concepes, nesta dissertao, estou compreendendo essa expresso como a define M. B. Loureno Filho. 16 A 1. edio de Introduo ao estudo da escola nova foi publicada em 1930, pela Companhia Melhoramentos de So Paulo (Weiszflog Irmos Incorporada) (SP); a citao que utilizo, porm, foi extrada de um exemplar da 7. edio, sem data, publicada pela mesma editora. 29. 28 Quanto pesquisa histrica, entendo-a, como prope Mortatti, ou seja, como: [...] um tipo de pesquisa cientfica, cuja especificidade consiste, do ponto de vista terico-metodolgico, na abordagem histrica no tempo do fenmeno educativo em suas diferentes facetas. Para tanto, demanda a recuperao, reunio, seleo e anlise de fontes documentais, como mediadoras na produo do objeto de investigao. (MORTATTI, 1999, p. 73) Segundo Boto (1994, p. 24), [...] o trabalho historiogrfico situa-se na confluncia entre o tempo do objeto investigado e o tempo do sujeito investigador, e este [...] interage com hipteses em modelos sempre indicirios e conjecturais. (BOTO, 1994, p. 30). Para Chartier (1990, p. 131), o trabalho histrico [...] deve ter em vista o reconhecimento de paradigmas de leitura vlidos para uma comunidade de leitores, num momento e num lugar determinados [...]. Todo trabalho historiogrfico, realizado a partir de documentos, utilizo, portanto, o termo documento, nesta dissertao, como o definiu Le Goff: O documento no qualquer coisa que fica por conta do passado, um produto da sociedade que o fabricou segundo as relaes de fora que a detinham o poder. S a anlise do documento enquanto monumento permite memria coletiva recuper-lo e ao historiador us-lo cientificamente, isto , com pleno conhecimento de causa. [...] O documento no inculo. , antes de mais nada, o resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente, da histria, da poca, da sociedade que o produziram, mas tambm das pocas sucessivas durante as quais continuou a viver, talvez esquecido, durante as quais continuou a ser manipulado, ainda que pelo silncio. O documento uma coisa que fica, que dura, e o testemunho, o ensinamento (para evocar a etimologia) que ele traz devem ser em primeiro lugar analisados, desmistificando-lhes o seu significado aparente. O documento monumento. Resulta do esforo das sociedades histricas para impor ao futuro voluntria ou involuntariamente determinada imagem de si prprias. No limite, no existe um documento-verdade. Todo documento mentira. Cabe ao historiador no fazer o papel de ingnuo. (LE GOFF, 2003, p. 535-538) Para Chartier (1990), a relao entre o pesquisador e os documentos escolhidos como fontes de pesquisa complexa e demanda compreenso de que os contedos dos documentos no so a verdade, mas sim, representaes sociais elaboradas por sujeitos de uma poca determinada. Dessa forma: [...] embora aspirem universalidade de um diagnstico fundado na razo, so sempre determinadas pelos interesses de grupos que as forjam. Da para cada caso, o necessrio relacionamento dos discursos proferidos com a posio de quem os utiliza. As percepes do social no so de forma alguma discursos neutros: produzem estratgias e prticas (sociais, escolares, polticas) que tendem a impor uma autoridade custa de outros, por elas 30. 29 menosprezados, a legitimar um projecto reformador ou a justificar, para os prprios indivduos, as suas escolhas e condutas. (CHARTIER, 1990, p. 17) Em decorrncia da compreenso de que os documentos no expressam a verdade, abordo-os a partir de todos os aspectos constitutivos de seu sentido, ou seja, compreendo-os como configurao textual. A expresso configurao textual foi formulada por Mortatti (2000a), que a define como: [...] conjunto de aspectos constitutivos de determinado texto, os quais se referem: s opes temtico-conteudsticas (o qu?) e estruturais-formais (como?), projetadas por um determinado sujeito (quem?), que se apresenta como autor de um discurso produzido de determinado ponto de vista e lugar social (de onde?) e momento histrico (quando?), movido por certas necessidades (por qu?) e propsitos (para qu), visando a determinado efeito em determinado tipo de leitor (para quem?) e logrando determinado tipo de circulao, utilizao e repercusso. (MORTATTI, 2000a, p.31) *** Para o desenvolvimento desta dissertao, coerentemente com a abordagem histrica proposta, utilizei procedimentos de: localizao, recuperao, reunio, seleo e ordenao e anlise de fontes documentais; e de leitura de bibliografia especializada, em especial com abordagem histrica, sobre alfabetizao, mtodos de alfabetizao e livro de leitura. Os livros didticos escolhidos como corpus so aqui considerados fontes documentais privilegiadas, s quais apliquei o mtodo de anlise da configurao textual. Essa anlise incidiu sobre os aspectos constitutivos do sentido desses livros didticos, a saber: formao, atuao profissional e bibliografia de A. F. Proena; lugar social ocupado por esse professor, ao longo de sua atuao profissional; razes e opes desse professor em relao elaborao de sua srie de leitura; forma e contedo expressos nos livros didticos que integram a Srie de leitura Proena; pblico a que esses livros se destinam; e momento histrico de publicao e circulao desses livros. Os demais textos de A. F. Proena e os textos escritos por outros autores com menes a esse professor, sua atuao profissional ou produo escrita e/ou citaes de textos seus tambm auxiliaram na compreenso do problema de investigao. A forma que escolhi de apresentar os documentos que integram o corpus documental privilegiado de pesquisa foi manter a ortografia de poca tanto nos ttulos dos documentos quanto nas citaes que apresento, para marcar o discurso dos sujeitos de poca sem que esses sejam confundidos com meu discurso, uma vez que, como afirma Mortatti: 31. 30 [...] o imprescindvel esforo de sntese pode, por vezes, obscurecer o carter mediador das fontes documentais para a compreenso, explicitao e interpretao do que foi o fazer e seu sentido em cada momento, utilizei-me, de maneira intensiva, do recurso s citaes. Propiciando tambm, aos sujeitos de poca o direito voz, esse procedimento permite ao leitor melhor observar, na polifonia de verses, a tenso entre imposies e apropriaes, especialmente no nvel das concretizaes [...]. (MORTATTI, 2000a, p. 32-33, grifo da autora) Apesar desse esforo, considero que minha relao com os documentos apresentados nesta dissertao no neutra e que as escolhas feitas em relao a apresentao desses documentos partem de formas especficas de pensar, sentir, querer e agir, pois, como destaca Le Goff (2003): A interveno do historiador que escolhe o documento, extraindo-o do conjunto dos dados do passado, preferindo-o a outros, atribuindo-lhe um valor de testemunho que, pelo menos em parte, depende da sua prpria posio na sociedade da sua poca e da sua organizao mental, insere-se numa situao inicial que ainda menos neutra do que a sua interveno. (LE GOFF, 2003, p. 537-538). Destaco que, por compreender que Antes de toda explicao, antes de toda interpretao compreensiva, deve ser o objeto reconhecido em sua singularidade [...] (STAROBINSKI, 1976, p. 133), esta dissertao tem tom marcadamente descritivo. A interpretao/crtica do texto, por sua vez: [...] no a representao fiel de uma obra, a sua reduplicao num espelho mais ou menos lmpido. Toda crtica completa, depois de haver sabido reconhecer a alteridade do ser ou do objeto para os quais se volta, sabe desenvolver a seu propsito uma reflexo autnoma e encontra, para exprimi-la, uma linguagem que marca, com vigor, a sua diferena. Por estreitas que sejam ou que tenham sido, num momento central da pesquisa, a simpatia e a identificao, a crtica no repete a obra da maneira como essa est enunciada. (STAROBINSKI, 1976, p. 137). 32. Captulo 1 Pesquisas histricas de brasileiros sobre ensino da leitura e da escrita e sobre livro didtico 33. 32 Pesquisas acadmicas, como as desenvolvidas por Soares e Maciel (2000), Mortatti (2003) e Oriani (2009), indicam que as pesquisas histricas sobre alfabetizao so ainda escassas no Brasil, comparativamente s desenvolvidas em relao s prticas desse ensino. A pesquisa de Mortatti (2003), posteriormente ampliada por Oriani (2009), todavia, indica que, as pesquisas histricas sobre alfabetizao, no Brasil, intensificaram-se principalmente nos anos finais do sculo XX e iniciais do sculo XXI. A necessidade de pesquisas histricas sobre o tema era j apontada por Pfromm Neto, Rosamilha e Dib (1974), tendo sido reiterada por: Soares e Maciel (2000); Mortatti (2003); e Oriani (2009). Em O livro na educao, Pfromm Neto, Rosamilha e Dib (1974) propunham-se a iniciar a construo do conhecimento sobre a literatura didtica no Brasil, fornecendo um importante conjunto de informaes e perspectivas de anlise sobre o tema. No captulo 12 desse livro, so apresentados os livros destinados ao ensino da leitura e da gramtica, no Brasil, tais como, cartilhas, livros de leitura, sries graduadas de portugus e de gramtica, utilizados por professores e alunos desde o sculo XV, at a dcada de 1920. Os autores concluem serem poucas e confusas, at 1974, as informaes disponveis a respeito da origem e do desenvolvimento da literatura didtica no Brasil, em especial livros didticos destinados ao ensino da leitura e escrita, incluindo as cartilhas de alfabetizao. Mais de duas dcadas depois, em Alfabetizao, Soares e Maciel (2000) apresentam resultados de pesquisa do tipo estado do conhecimento, abrangendo a produo cientfica de brasileiros sobre alfabetizao, no perodo de 1961 a 1989, e constatam que, na dcada de 1980, intensificam-se, por vrios motivos, as pesquisas sobre alfabetizao no Brasil, tendo-se gerado uma multiplicidade de enfoques. No perodo abrangido pelo desenvolvimento da pesquisa, entretanto, as autoras localizaram apenas uma dissertao de mestrado em que a alfabetizao abordada historicamente. Trata-se de Alfabetizao: propostas e problemas para uma anlise do seu discurso (DIETZSCH, 1979), cujo objetivo propor uma anlise das oito cartilhas mais utilizadas em So Paulo, no perodo compreendido entre 1930 e 197030 . A autora da dissertao conclui que a anlise interpretativa das cartilhas revela um discurso impessoal caracterizado, principalmente, pelo uso da no-pessoa, e a correlao desubjetividade estabelecida entre o eu e o tu que estrutura enunciados interpretativos. A autora ainda constata que, no Brasil, as mudanas ocorridas nas cartilhas ao longo do tempo 30 As cartilhas analisadas so: Cartilha da Infncia, de Thomaz Galhardo; Nova cartilha analtico-sinttica e Cartilha ensino rpido da leitura, de Mariano de Oliveira; Cartilha do povo: para ensinar a ler rapidamente, de M. B. Loureno Filho; Cartilha Sodr, de Benedicta S. Sodr; Caminho suave, de Branca Alves de Lima; Onde est o patinho?, de Ceclia B. dos Reis; e No reino da alegria, de Doracy de P. F. de Almeida. 34. 33 so significativas no que se refere aos aspectos grficos, sendo pouco significativas em relao ao seu contedo didtico. No documento Ensino de lngua e literatura no Brasil: repertrio documental republicano31 , de Mortatti (2003), encontram-se constataes, no que se refere s pesquisas sobre alfabetizao, semelhantes s de Soares e Maciel (2000). Nesse documento, encontram- se reunidas 2.025 referncias de textos produzidos por brasileiros, at 2002, relativamente s cinco linhas de pesquisa do Gphellb e do Piphellb. Desse total, 560 o maior nmero se refere linha Alfabetizao, assim distribudos: 103, referncias de livros; 25, de captulos de livros; 167, de artigos em peridicos; 7, de nmeros de peridicos; 138, de dissertaes e teses; 34, de publicaes institucionais; 78, de cartilhas; e 8, de obras de referncia. Como Soares e Maciel (2000), Mortatti (2003) conclui que, apesar das pesquisas sobre alfabetizao estarem se intensificando no Brasil, ainda eram poucas, at 2003, as pesquisas com abordagem histrica sobre alfabetizao. As concluses de Oriani (2009) so semelhantes s apresentadas por Soares e Maciel (2000) e Mortatti (2003), mas abrangem a produo acadmica publicada ou publicizada at 2007. Por meio de procedimentos de localizao, recuperao, reunio, seleo e ordenao de referncias de textos acadmico-cientficos em que se aborda historicamente a alfabetizao, Oriani (2009) tem como objetivo: [...] subsidiar tanto o trabalho de pesquisadores interessados, quanto elaborao de projetos de pesquisa sobre histria da alfabetizao no Brasil, por meio da elaborao de um instrumento de pesquisa sobre a produo acadmica em que se aborda historicamente a alfabetizao, concluda, entre 1979 e 200732 , em instituies brasileiras de ensino e pesquisa e divulgada sob a forma de livros, captulos em livros ou em coletneas, artigos em peridicos e textos disponveis na Internet e/ou sob a forma de trabalhos acadmicos. (ORIANI, 2009, p. 4-5) Aps intensa pesquisa a acervos fsicos, a bancos de teses, a bancos de dados de bibliotecas universitrias disponveis on-line e a sites de grupos de pesquisa, Oriani conclui que: observa-se certo aumento na quantidade de textos com abordagem histrica da alfabetizao, produzidos a partir de 1997; 31 Esse documento resulta das atividades do Projeto Integrado de Pesquisa Ensino de lngua e literatura no Brasil: repertrio documental republicano, desenvolvido sob a coordenao de Maria do Rosrio Longo Mortatti, entre 1999 e 2003, tendo obtido apoio e auxlio CNPq e auxlio FAPESP. 32 Como explica Oriani: A delimitao cronolgica tem: como marco inicial o ano de 1989, em que foi concluda a dissertao de mestrado de Mary Julia Dietzch, a nica pesquisa histrica sobre alfabetizao produzida at 1989, conforme afirma Soares (1989) e Soares; Maciel (2000); e, como marco final, a data mais recente de concluso de trabalhos acadmicos localizados at o momento, os quais se encontram vinculados ao Grupo de Pesquisa Histria do Ensino de Lngua e Literatura no Brasil. (ORIANI, 2009, p. 8) 35. 34 principalmente a partir de 2000, observa-se um aumento acentuado na produo acadmica sobre o tema, com predomnio de textos publicizados, ou seja, impressos e disponveis em formato encadernado em espiral ou em capa dura, ou digitalizados e disponveis na Internet, como, por exemplo, dissertaes e teses, as quais se encontram em sites de programas de ps- graduao e de bibliotecas ou em banco de teses on- line; na regio Sudeste do pas que se situam predominantemente tanto as instituies nas quais as pesquisas foram desenvolvidas quanto as editoras ou instituies responsveis pela publicao dos livros e de peridicos; alguns grupos ou ncleos de pesquisas mais atuantes no desenvolvimento de pesquisas com abordagem histrica sobre alfabetizao esto sediados em instituies da regio Sudeste, com destaque para: o Grupo de Pesquisa Histria do Ensino de Lngua e Literatura no Brasil (GPHELLB), sediado na Faculdade de Filosofia e Cincias da UNESP Campus de Marlia; e o Centro de Alfabetizao, Leitura e Escrita (CEALE), rgo complementar da Faculdade de Educao da Universidade Federal de Minas Gerais; h tambm na regio Sul do pas um nmero significativo de pesquisas, grupos e ncleos de pesquisa, editoras e instituies responsveis por publicao de peridicos; pesquisas que, atualmente, podem ser consideradas como abordagem histrica sobre alfabetizao e que foram concludas antes da defesa da tese de livre- docncia de Magnani (1997) e/ou de sua publicao em livro (MORTATTI, 2000) no eram propostas sistematicamente como histricas pelos seus autores, aspecto que se altera nas pesquisas desse tipo e sobre esse tema divulgadas aps 1997 e, principalmente, a partir de 2000. (ORIANI, 2009, p. 14-15) Oriani (2009) destaca, ainda, dois aspectos decorrentes da anlise das referncias que reuniu: apesar do aumento do nmero de pesquisas com abordagem histrica na produo acadmica no Brasil, tendncia que se verifica especialmente nos ltimos anos, essas pesquisas ainda so escassas; e a publicao do livro de Mortatti (2000) por uma editora universitria de grande reconhecimento no mercado editorial brasileiro propiciou maior divulgao da abordagem histrica utilizada pela autora, cujo carter inaugural, apontado por Soares (2000), contribuiu, principalmente, para suscitar e oferecer possibilidades investigativas aos que se interessaram pela abordagem histrica da alfabetizao; suas influncias podem ser sentidas, principalmente, na formao de novos pesquisadores interessados na temtica, utilizando para isso, uma nova abordagem na produo acadmica sobre alfabetizao desenvolvida e veiculada, no Brasil, daquele momento em diante. (ORIANI, 2009, p. 15). Em decorrncia do aumento de pesquisas com abordagem histria, s quais se refere Oriani (2009), localizei e passo a apresentar resultados de algumas pesquisas histricas sobre ensino da leitura e escrita no Brasil e sobre livro didtico, as quais considero que dialogam mais diretamente com a pesquisa que desenvolvi, uma vez que, um dos objetivos de pesquisa foi compreender um momento importante da histria desse ensino no Brasil, por meio de uma srie de livros didticos. 36. 35 Dentre algumas dessas pesquisas, destaco: Mortatti (2000a; 2000b; 2004; 2007; 2008a; 2008b); Bertoletti (2006); Amncio (2008); Ribeiro (2001); Bernardes (2003); Sobral (2007); Santos (2008); Messenberg (2008); e Pereira (2009) 33 ; Frade e Maciel (2006); Trindade (2000); Frade (2008); Campelo e Maciel (2008); Bittencourt (2008); Boto (2004); e Oliveira (2004). No livro Os sentidos da alfabetizao: So Paulo - 1876/1994, Mortatti (2000a)34 apresenta resultados de pesquisa histrica sobre ensino de leitura e da escrita no Brasil, mais precisamente no estado de So Paulo, no perodo de 1876 a 1994. A pesquisadora classificou o material documental recuperado e reunido em trs categorias. Em relao ao contedo, finalidade e forma de veiculao desses documentos, tm-se: a) tematizaes contidas especialmente em artigos, conferncias, relatos de experincia, memrias, livros tericos e de divulgao, teses acadmicas, prefcios e instrues de cartilhas e livros de leitura; b) normatizaes contidas em legislao de ensino (leis, decretos, regulamentos, portarias, programas e similares); e c) concretizaes contidas em cartilhas e livros de leitura, guias do professor, memria, relatos de experincias e material produzido por professores e alunos no decorrer das atividades didtico-pedaggicas. (MORTATTI, 2000a, p. 29) Ao delimitar o momento histrico em estudo, a pesquisadora no teve como objetivo demarcar rigidamente o incio e o final de cada um dos momentos histricos, mas, apenas situ-los no tempo, considerando as caractersticas internas do objeto de estudo. Dessa forma, elegeu quatro momentos que considerou cruciais na histria da alfabetizao no estado de So Paulo, no perodo mencionado, enfocando a questo dos mtodos de alfabetizao e considerando o que denominou de tematizaes, normatizaes e concretizaes em relao a esse ensino: - Primeiro momento A metodizao do ensino da leitura (1876 1890): caracterizado pelos ideais defendidos por Antonio da Silva Jardim, ento professor de Portugus da Escola Normal da Capital do estado de So Paulo. Segundo esse positivista militante, o melhor mtodo para o ensino da leitura era o contido na Cartilha Maternal ou Arte da Leitura (1876), escrita pelo poeta portugus Joo de Deus. O mtodo Joo de Deus baseava-se na 33 As pesquisas das quais resultaram os textos de Bertoletti (2006), Amncio (2008), Ribeiro (2001), Bernardes (2003), Sobral (2007), Santos (2008), Messenberg (2008) e Pereira (2009) foram desenvolvidas no mbito do Gphellb e do Pihellb, sob orientao da Prof. Dr. Maria do Rosrio Longo Mortatti e mediante utilizao de procedimentos de localizao, recuperao, reunio, seleo e anlise de fontes documentais. 34 Esse livro resulta da tese de livre-docncia da autora (MAGNANI, 1997). 37. 36 palavrao e se opunha aos mtodos sintticos at ento utilizados para o ensino da leitura: soletrao e silabao (mtodos sintticos). - Segundo momento A institucionalizao do mtodo analtico (1890 meados dos anos 1920): caracterizado pela discusso em torno do mtodo analtico em oposio aos tradicionais mtodos sintticos para o ensino da leitura. As discusses nesse momento histrico envolviam tambm disputas entre os modernos e mais modernos defensores do mtodo analtico, ou seja, discutiam-se os diferentes modos de processar esse mtodo: a palavrao, a silabao ou a historieta35 ; - Terceiro momento A alfabetizao sob medida (meados dos anos 1920 - final dos anos 1970): os mtodos mistos (analtico-sinttico ou vice-versa), considerados mais rpidos e eficientes. Esse momento caracterizado principalmente pela relativizao da importncia do mtodo de ensino da leitura, decorrente da disseminao das idias de M. B. Loureno Filho, no livro Testes ABC para verificao da maturidade necessria ao aprendizado da leitura e escrita (1934), em que defende que a aprendizagem da leitura e escrita depende da maturidade das crianas, e que, portanto, seria necessrio mensurar tal maturidade por meio dos testes por ele propostos. - Quarto momento Alfabetizao: construtivismo e desmetodizao (incio dos anos 1980 1994): disputa entre os: [...] partidrios da revoluo conceitual proposta pela pesquisadora argentina Emilia Ferreiro, de que resulta o chamado construtivismo, e entre os defensores velados e muitas vezes silenciosos, mas persistentes e atuantes dos tradicionais mtodos (sobretudo o misto) das tradicionais cartilhas e do tradicional diagnstico do nvel de maturidade com fins de classificao dos alfabetizandos. (MORTATTI, 2000a, p.26-27, grifos da autora). Mortatti (2000a) conclui que: [...] visando ruptura com seu passado, determinados sujeitos produziram, em cada momento histrico, determinados sentidos que consideravam modernos e fundadores do novo em relao ao ensino da leitura e escrita. Entretanto, no momento seguinte, esses sentidos acabaram por ser paradoxalmente configurados, pelos psteros imediatos, como um conjunto de semelhanas indicadoras da continuidade do antigo, devendo ser combatido como tradicional e substitudo por um novo sentido para o moderno. (MORTATTTI, 2000a, p. 23) 35 O termo historieta est sendo utilizado nesta dissertao como sendo [...] um conjunto de sentenas, enunciadas pelos alunos a partir do estmulo visual gerado pela observao e fixadas pela memria, que mantm nexos lgico-gramaticais entre si [...]. (MORTATTI, 2000a, p. 124). Tratarei desse assunto no Captulos 5, desta dissertao. 38. 37 No artigo intitulado Cartilha de alfabetizao e cultura escolar: um pacto secular, Mortatti (2000b) problematiza a relao entre as cartilhas de alfabetizao e a cultura escolar, na histria da alfabetizao no Brasil. A autora afirma que, a partir da ltima dcada do sculo XIX, iniciou-se no pas o processo de escolarizao das prticas de leitura e escrita e destaca os mtodos de alfabetizao, que ora se basearam em processos de marcha sinttica (soletrao, fnico e silabao), ora se basearam nos processos de marcha analtica (palavrao e sentenciao). Afirma, ainda, que, a partir do final do sculo XIX, as cartilhas se tornaram um instrumento indispensvel de concretizao dos mtodos mencionados, assim como se configuraram como instrumento de alfabetizao. A autora conclui questionando a respeito de ser, ou no, a cartilha um mal necessrio assim como questiona quais seriam as outras concepes, prticas, contedos, finalidades de alfabetizao e formas de acesso ao mundo letrado, que romperiam com o pacto secular do uso de cartilha. No livro Educao e letramento, Mortatti (2004) apresenta importantes consideraes sobre a relao entre educao e letramento. No captulo 2 e no captulo 3 desse livro, em especial, a pesquisadora apresenta os diferentes sentidos que as palavras analfabeto, analfabetismo, alfabetizao, alfabetizar, alfabetizado, alfabetismo, letramento, letrado e iletrado tiveram desde o perodo colonial at os anos iniciais do sculo XXI. E considera que: Tais sentidos resultaram de diferentes concepes, usos e finalidades (das antigas s modernas e contemporneas) da leitura e da escrita e os determinaram , em estreita relao com as mudanas ocorridas nos processos de educao (escolar), nas relaes entre cultura oral e cultura escrita e no contexto poltico, social e cultural do pas. (MORTATTI, 2004, p. 118) No artigo intitulado Letrar preciso, alfabetizar no basta...mais?, Mortatti (2007) tem por objetivo dar continuidade s questes apresentadas em Os sentidos da alfabetizao (MORTATTI, 2000a) e em Educao e letramento (MORTATTI, 2004), em especial discute [...] como o termo letramento dialoga com as caractersticas deste quarto momento crucial na histria da alfabetizao no Brasil [...] (MORTATTI, 2007, p. 156-157). A pesquisadora considera que, talvez, a maior contribuio da introduo do termo/conceito letramento no Brasil, seja a reflexo sobre antigas perguntas: O que ensinar? A quem compete esse ensino? Onde deve/pode ser realizado? A quem se destina? Ensinar a ler e escrever o qu? Como? Por qu? Para qu? (MORTATTI, 2007, p. 167). No artigo intitulado A querela dos mtodos de alfabetizao no Brasil: contribuies para metodizar o debate, Mortatti (2008a) tem como objetivo contribuir para o 39. 38 debate sobre os mtodos de alfabetizao no Brasil com destaque para os ocorridos neste quarto momento crucial por meio da anlise da configurao textual do livro Alfabetizao: mtodo fnico (CAPOVILLA; CAPOVILLA, 2003). Baseando-se em resultados de pesquisa documental, a pesquisadora conclui que: [...] o mtodo fnico hoje reapresentado como novo e principalmente os argumentos em sua defesa j mostraram ser ineficazes h mais de um sculo, no Brasil. Por isso, a atual discusso sobre mtodos de alfabetizao, provocada pela apresentao da proposta dos autores do livro em questo, vem gerando concluses equivocadas, com muitos outros prejuzos para o aprendizado de nossas crianas e para a sociedade brasileira. Principalmente porque no se pode aceitar que, de modo isolado e com objetivos salvacionistas, um mtodo possa resolver os problemas da alfabetizao, nem que devamos ressuscitar um ou outro deles. (MORTATTI, 2008a, p. 110) No artigo/ensaio intitulado Notas para uma histria da formao do alfabetizador no Brasil, Mortatti (2008b) tem como objetivo contribuir para a compreenso da histria da formao dos professores no Brasil por meio da apresentao dos diferentes sentidos que a alfabetizao teve desde o final do sculo XIX at os dias atuais. Dentre as importantes consideraes feitas pela pesquisadora, destaco aquelas que dizem respeito, mais diretamente, ao significado e funo atribudos s cartilhas de alfabetizao no segundo e terceiro momentos cruciais na histria da alfabetizao no Brasil. [...] dadas as constantes dificuldades dos professores em aprender (se convencer) e aplicar adequadamente as novas (para cada momento histrico) propostas para o ensino inicial da leitura e escrita, para a configurao desse modelo se forma aperfeioando e consolidando certos recursos-pedaggicos, em especial as cartilhas de alfabetizao um tipo de livro didtico em que se encontra concretizado determinado mtodo de alfabetizao, assim como o contedo a ser ensinado e os passos ordenados para esse fim e, a partir sobretudo da dcada de 1930, os manuais de ensino destinados aos cursos de formao de professores, ou seja, um tipo de livro didtico em que se busca divulgar, de forma didtica e condensada, os saberes (contedos e mtodos) necessrios ao professor primrio, que deve tambm ensinar a ler escrever. Mais que um instrumento de concretizao de determinado mtodo ou de divulgao de determinados saberes didtico-pedaggicos, as cartilhas e os manuais de ensino se tornaram substitutivo do trabalho de professores e alunos e um imprescindvel recurso a garantir a execuo eficiente e eficaz, por parte dos professores, das propostas oficiais em cada momento histrico [...] (MORTATTI, 2008b, p. 474-475, grifo da autora) 40. 39 No livro Loureno Filho e a alfabetizao: um estudo de Cartilha do Povo e da cartilha Upa, cavalinho!,36 Bertoletti (2006) tem por objetivo compreender e explicar aspectos de um passado recente da histria da alfabetizao no Brasil. Por meio da anlise da configurao textual de Cartilha do povo e Upa, cavalinho!, ambas de M. B, Loureno Filho37 , Bertoletti (2006) conclui que essas duas cartilhas representam a concretizao do projeto de alfabetizao idealizado por seu autor, no que tange aprendizagem da leitura e da escrita, ao mesmo tempo em que so representativas de sua produo didtica. No livro intitulado Ensino de leitura e grupos escolares: Mato Grosso (1910-1930)38 , Amncio (2008) tem, dentre outros, o objetivo de contribuir para a produo de uma histria do ensino de lngua no Brasil e para o desenvolvimento de pesquisas histricas em alfabetizao, mais especificamente no estado de Mato Grosso. Essa pesquisadora afirma, por meio de intensa pesquisa documental e bibliogrfica desenvolvida, que: [...] nos ltimos dez anos, pesquisas baseadas na abordagem histrica em educao passaram a ter um maior impulso em Mato Grosso, graas criao de ps-graduao em Educao pela UFMT. No entanto, so raras as pesquisas que tratam direta ou indiretamente do tema alfabetizao nesse estado. (AMNCIO, 2008, p. 15, grifo da autora) A pesquisa desenvolvida por Amncio permitiu que ela afirmasse que, no estado do Mato Grosso, no perodo pesquisado (dcada iniciais do sculo XX) [...] parecia pacfica a convivncia, por exemplo, de cartilhas fundamentadas no mtodo analtico, como a Cartilha Analytica (1910), de Arnaldo Barreto e as cartilhas respaldadas nos antigos mtodos sintticos, como o caso de Cartilha da infancia (provavelmente de 1880), de Tomaz Galhardo; ou ainda, de cartilhas que se fundamentavam em princpios inovadores para a poca de sua publicao, como a Cartilha nacional (de 1880, provavelmente), de Hilrio Ribeiro, que defendia o ensino simultneo 36 Esse livro resulta da dissertao de mestrado defendida por Bertoletti, em 1997, junto ao Programa de Ps- Graduao em Educao da FFC-UNESP-Marlia, sob orientao de Maria do Rosrio Longo Mortatti e vinculadamente ao Gphellb e ao Piphellb. 37 O professor Manoel Bergstrm Loureno Filho nasceu em Porto Ferreira, em 1897, e faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1970. Foi diplomado professor pela Escola Normal de Pirassununga, em 1914 e pela Escola Normal da Capital do estado de So Paulo, em 1917 (MONARCHA; LOURENO FILHO, 2001). Dentre as inmeras atividades realizadas por esse professor destaco sua atuao como editor da Companhia Melhoramentos de So Paulo (SP), na qual atuou como organizador, aps 1927, da coleo Biblioteca de Educao, a qual o livro Como se ensino Geographia, de A. F. Proena, integra. autor da Srie de leitura Graduada Pedrinho integrada por cinco livros de leitura e uma cartilha, a saber: Pedrinho, primeiro livro (1953); Pedrinho e seus amigos, segundo livro (1954); Aventuras de Pedrinho, terceiro livro (1955); Leituras de Pedrinho e Maria Clara, quarto livro (1956); Pedrinho e o mundo, quinto livro (segundo Bertoletti esse livro [...] parece no ter sido publicado, embora o autor e a Editora o citem constantemente na propaganda e descrio da Srie.; e cartilha Upa, cavalinho! (1957) (BERTOLETTI, 2006, p. 74). 38 Esse livro resulta da tese de doutorado tambm defendida por Amncio (2000), junto ao Programa de Ps- Graduao em Educao da FFC-Unesp-Marlia, sob orientao da Prof. Dr. Maria do Rosrio Longo Mortatti e vinculadamente ao Gphellb e ao Piphellb. 41. 40 da leitura e da escrita e teve enorme repercusso em Mato Grosso, sendo mencionada em relaes de material escolar por mais de trs dcadas seguidas no sculo XX. (AMNCIO, 2008, p. 188) No TCC intitulado Um estudo sobre A leitura analytica (1896), de Joo Kpke, Ribeiro (2001) tem por objetivo contribuir para compreenso da histria da alfabetizao no Brasil, assim como compreender os princpios do modo de processar o mtodo analtico para o ensino da leitura, proposto pelo bacharel em direito Joo Kpke39 , que, apesar de no ter-se diplomado professor, foi autor de livros didticos e vrios textos nos quais tematiza o ensino da leitura, dentre eles a conferncia intitulada A leitura analytica (1896). Por meio da anlise da configurao textual da conferncia A leitura analytica, Ribeiro (2001) conclui que o pensamento desse professor, a respeito do ensino da leitura e da escrita, fundamentava-se em princpios sobre o modo de processar o mtodo analtico, os quais incidiam sobre a necessidade de considerar o discurso como unidade de sentido no processo inicial da leitura e da escrita, tendo esse professor influenciado, significativamente, professores de sua poca e de pocas posteriores. No TCC intitulado Um estudo sobre Cartilha analytica, de Arnaldo de Oliveira Barreto (1869-1925), Bernardes (2003) tem por objetivo contribuir para a compreenso da histria da alfabetizao no Brasil, destacando o pensamento do professor paulista Arnaldo de Oliveira Barreto40 a respeito do mtodo analtico para o ensino da leitura. Por meio da anlise da configurao textual de Cartilha analytica, Bernardes (2003) conclui que Arnaldo Barreto exerceu grande influncia em relao aos demais professores de sua poca, assim como em pocas posteriores, no que se refere ao ensino inicial da leitura e da escrita. No TCC intitulado Um estudo sobre Nova cartilha analytico-synthetica (1916), de Mariano de Oliveira, Sobral (2007) tem por objetivo contribuir para compreenso da histria 39 O bacharel em Direito Joo Kpke nasceu em Petrpolis-RJ, em 1875, e faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1926. Apesar de no ter sido diplomado professor, Kpke atuou intensamente no magistrio, principalmente aps 1878, tendo escrito, dentre outros: Cartilha n.1 (1916) e Cartilha n. 2 (1916) (RIBEIRO, 2001). 40 O professor paulista Arnaldo de Oliveira Barreto nasceu em 1869, em Campinas-SP, e faleceu na cidade de So Paulo, em 1925. Foi diplomado professor pela Escola Normal da Capital do estado de So Paulo, em 1891. Em colaborao com o professor paulista Romo Puiggari (1865-1904), Arnaldo Barreto escreveu e teve publicada, pela Livraria Francisco Alves (RJ), a Srie de leitura Puiggari-Barreto integrada por Primeiro livro de leitura ([189-]), Segundo livro de leitura ([189-]), Terceiro livro de leitura ([190-]) e Quarto livro de leitura ([190-)]. Arnaldo Barreto escreveu tambm, dentre outros livros, Cartilha das mes, publicada em meados da dcada de 1890, e Cartilha analytica (1909), tambm pela Livraria Francisco Alves (RJ). Em parceira com os professores Mariano de Oliveira e Ramon Roca Dordal, Arnaldo de Oliveira Barreto teve publicado o documento oficial Instuces praticas para o ensino da leitura pelo methodo analytico Modelos de lies, que foi expedido pela Diretoria Geral da Instruo Pblica paulista, presumivelmente em 1914 (MELO, 1954, p. 83-84). 42. 41 da alfabetizao no Brasil, por meio da anlise da configurao textual da cartilha Nova cartilha analytico-synthetica, escrita pelo professor paulista Mariano de Oliveira41 . Por meio da anlise da configurao textual de Nova cartilha analytico-synthtica, Sobral (2007) conclui que a forma de processuar o mtodo analtico por Mariano de Oliveira na cartilha em questo gerou algumas polmicas, dentre elas as decorrentes da crtica feita por Joo Kpke, mas que isso no impediu que essa cartilha tivesse destaque no momento histrico de publicao. No TCC intitulado Um estudo sobre Cartilha da infancia (188?), de Thomaz Galhardo, Santos (2008) tem por objetivo contribuir para a compreenso de um importante momento da histria do ensino da leitura e da escrita no Brasil por meio da anlise da configurao textual de Cartilha da infancia (1939), do professor paulista Thomaz Galhardo42 . Por meio da anlise da configurao textual de Cartilha da infncia, Santos (2008) conclui que essa cartilha foi escrita de acordo com os princpios do mtodo sinttico para o ensino da leitura, baseado na silabao. Esse mtodo foi considerado, pelo autor dessa cartilha, o mais adequado ao ensino inicial da leitura no momento histrico de publicao, tendo influenciado geraes de professores e alunos por mais de oito dcadas. No TCC intitulado Um estudo sobre Na roa: cartilha rural para alfabetizao rpida (1935), de Renato Sneca Fleury, Messenberg (2008) tem por objetivo contribuir para a compreen