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O mecânico de automóveis e seu ambiente de trabalho Marina Campos Guijarro (UEM) [email protected] Vinícius Antônio Ávalos (UEM) [email protected] Bruno Montanari Razza (UEM) [email protected] O presente artigo trata-se de uma avaliação das condições ergonômicas do posto de trabalho do mecânico de automóveis. Por meio da análise das condições físicas, ambientais e de postura desses trabalhadores durante a retífica de um motor, como meio de verificar a ocorrência de problemas de saúde relacionados a esse trabalho. Os resultados concluíram que a possível adequação ergonômica na oficina contribui para a melhoria na produtividade dos mecânicos. Palavras-chave: Trabalho; Postura; Mecânico de automóveis. 1. Introdução O estudo aborda uma análise ergonômica do posto de trabalho dos mecânicos de automóveis, envolvendo a postura do trabalhador, conforto ambiental e carga de trabalho como meio de identificar as dificuldades desses trabalhadores relacionados aos instrumentos e ambiente de trabalho além da possibilidade de melhoria das condições ambientais e da produtividade desses mecânicos. A profissão de mecânico de automóveis já existe há mais de um século no Brasil, desde o surgimento dos primeiros carros no final do século XIX. Atualmente, a profissão vem sendo expandida e modernizada constantemente em nosso país. A tarefa dos mecânicos de automóveis envolve excessivos esforços físicos, muitas vezes associados a um alto nível de precisão, conhecimento e qualificação. A análise no posto de trabalho do mecânico de automóveis deve compreender a verificação das exigências biomecânicas e cognitivas com enfoque à postura e o esforço físico, pois a postura, segundo Maia e Francisco (2007), situa-se entre os aspectos que podem vir a influenciar no bem estar do trabalhador. A postura inadequada e o esforço físico no momento de execução de sua tarefa podem tornar-se agentes de desgaste físico e mental, causando desconforto e mal estar ao trabalhador. 2. Revisão Bibliográfica Diversos fatores podem influenciar no desempenho de trabalho dos mecânicos de automóveis, como a baixa iluminação, a deficiência na ventilação, os ruídos constantes de partida e aceleração dos veículos, a postura inadequada em determinadas atividades, o contato direto com produtos químicos, dentre outros. A iluminação inadequada prejudica a visualização dos funcionários na realização de uma tarefa, pois pode provocar brilhos e ofuscamentos, que levam ao surgimento de fadiga visual (IIDA, 2005). Os sintomas da fadiga visual são: irritação, lacrimação e avermelhamento dos olhos, conjuntivite, visão dupla, dores de cabeça, redução da força de acomodação e convergência, redução da acuidade visual, da sensibilidade ao contraste e da velocidade de percepção, causando uma significativa perda de produtividade, redução da qualidade do trabalho, erros, aumento da freqüência de acidentes e queixas dos funcionários (KROEMER; GRANDJEAN, 2005). 72 INGEPRO Inovação, Gestão e Produção Maio de 2010, vol. 02, n o . 05 ISSN 1984-6193 www.ingepro.com.br

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O mecânico de automóveis e seu ambiente de trabalho

Marina Campos Guijarro (UEM) [email protected]ícius Antônio Ávalos (UEM) [email protected]

Bruno Montanari Razza (UEM) [email protected]

O presente artigo trata-se de uma avaliação das condições ergonômicas do posto de trabalho do mecânico de automóveis. Por meio da análise das condições físicas, ambientais e de postura desses trabalhadores durante a retífica de um motor, como meio de verificar a ocorrência de problemas de saúde relacionados a esse trabalho. Os resultados concluíram que a possível adequação ergonômica na oficina contribui para a melhoria na produtividade dos mecânicos. Palavras-chave: Trabalho; Postura; Mecânico de automóveis.

1. Introdução

O estudo aborda uma análise ergonômica do posto de trabalho dos mecânicos de automóveis, envolvendo a postura do trabalhador, conforto ambiental e carga de trabalho como meio de identificar as dificuldades desses trabalhadores relacionados aos instrumentos e ambiente de trabalho além da possibilidade de melhoria das condições ambientais e da produtividade desses mecânicos.

A profissão de mecânico de automóveis já existe há mais de um século no Brasil, desde o surgimento dos primeiros carros no final do século XIX. Atualmente, a profissão vem sendo expandida e modernizada constantemente em nosso país.

A tarefa dos mecânicos de automóveis envolve excessivos esforços físicos, muitas vezes associados a um alto nível de precisão, conhecimento e qualificação. A análise no posto de trabalho do mecânico de automóveis deve compreender a verificação das exigências biomecânicas e cognitivas com enfoque à postura e o esforço físico, pois a postura, segundo Maia e Francisco (2007), situa-se entre os aspectos que podem vir a influenciar no bem estar do trabalhador. A postura inadequada e o esforço físico no momento de execução de sua tarefa podem tornar-se agentes de desgaste físico e mental, causando desconforto e mal estar ao trabalhador.

2. Revisão Bibliográfica

Diversos fatores podem influenciar no desempenho de trabalho dos mecânicos de automóveis, como a baixa iluminação, a deficiência na ventilação, os ruídos constantes de partida e aceleração dos veículos, a postura inadequada em determinadas atividades, o contato direto com produtos químicos, dentre outros.

A iluminação inadequada prejudica a visualização dos funcionários na realização de uma tarefa, pois pode provocar brilhos e ofuscamentos, que levam ao surgimento de fadiga visual (IIDA, 2005). Os sintomas da fadiga visual são: irritação, lacrimação e avermelhamento dos olhos, conjuntivite, visão dupla, dores de cabeça, redução da força de acomodação e convergência, redução da acuidade visual, da sensibilidade ao contraste e da velocidade de percepção, causando uma significativa perda de produtividade, redução da qualidade do trabalho, erros, aumento da freqüência de acidentes e queixas dos funcionários (KROEMER; GRANDJEAN, 2005).

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Outro problema comum em oficinas mecânicas é a exposição do trabalhador a produtos químicos tóxicos ou de odores fortes, como o benzeno, os solventes, a gasolina e a graxa, cujos efeitos nocivos podem ser agravados pela deficiência da ventilação desses locais. Os solventes são qualificados como nocivos, porque são voláteis e penetram com facilidade no organismo do indivíduo, provocando efeitos tóxicos de vários níveis. O mais prejudicial à saúde é o benzeno, pois pode causar anemia plástica e leucemia (IIDA, 2005). Outra questão bastante complicada é a inalação do monóxido de carbono expelido dos escapamentos dos automóveis que acarreta em insuficiência respiratória ao mecânico porque o gás monóxido de carbono (CO) tem maior afinidade à hemoglobina do sangue em relação ao gás oxigênio (O2) de forma que o CO anula a atuação da hemoglobina (IIDA, 2005).

O ruído, problema inerente da atividade, interfere na transmissão de informações, fazendo com que a comunicação entre os trabalhadores torne-se confusa aumentando a chance de erros pela dificuldade de compreensão, a redução na concentração e transtornos psíquicos envolvidos no trabalho (estresse), aborrecimentos e o aparecimento de dores de cabeça (IIDA, 2005). A presença de ruídos elevados no ambiente de trabalho pode perturbar, além disso, quando este ruído é freqüente e em longos períodos de tempo, a exposição dos mecânicos a esse ambiente pode provocar a surdez temporária e podendo levar a surdez permanente por efeito cumulativo (DUL; WEERDMEESTER, 2004).

Para realizar o trabalho, o mecânico de automóveis freqüentemente necessita realizar posturas extremas e em espaços restritos, principalmente o trabalho se encontra em locais de difícil acesso no interior do veículo. O trabalhador permanece geralmente parado em pé e seus braços ficam estendidos por um longo período de tempo sem sustentação ou apoio, o que pode resultar em dores nos punhos, cotovelos e ombros (DUL; WEERDMEESTER, 2004).

Segundo Iida (2005, p. 167):

A posição parada, em pé, é altamente fatigante porque exige muito trabalho estático da musculatura envolvida para manter essa posição. Na realidade, o corpo não fica totalmente estático, mas oscilando, exigindo freqüentes reposicionamentos, dificultando a realização de movimentos precisos.

Por fim, constata-se a importância de um estudo específico em relação ao posto de trabalho do mecânico de automóveis, analisando e apresentando possíveis disparidades presente neste ambiente de trabalho.

3. Objetivos

O objetivo deste trabalho foi avaliar as condições ergonômicas no posto de trabalho do mecânico de automóveis por meio da análise das condições físicas, ambientais e posturais desses trabalhadores durante a retífica de um motor.

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4. Materiais e Métodos

4.1 Objeto de estudo

O objeto de estudo deste trabalho é a atividade dos mecânicos de automóveis de oficina da cidade de Cianorte-PR. A oficina em estudo proporciona o serviço de auto peças no qual solicita ao fornecedor as peças necessárias quando o trabalho dos mecânicos exige repor alguma peça da oficina. A oficina é dividida em três setores: sala de recepção, local de consertos mecânicos e auto-peças, atividades estas que são realizadas por cinco funcionários responsáveis pelos serviços mecânicos gerais e dois destes que revezam para fazer trabalhos específicos como montagem de motor e câmbio além da parte de injeção eletrônica. Dentre outras tarefas realizadas na oficina estão a troca de molas, a injeção eletrônica, o serviços de autopeças, a soldagem de peças, a limpeza de peças, a correção de vazamentos e a mecânica em geral.

4.2 Aspectos éticos

Este estudo atendeu aos aspectos éticos descritos no “código de deontologia do Ergonomista Certificado” (ABERGO, 2003). Assim, todos os participantes voluntários assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, baseado na resolução 196/96-CNS/MS.

4.3 Sujeitos

Participaram do estudo cinco sujeitos do gênero masculino com idade média de 41,8 anos (d.p. 13,14 anos), todos mecânicos de automóveis, sendo 3 destros e 2 canhotos. A lateralidade foi informada pelos próprios indivíduos.

4.4 Materiais

Para este estudo foram utilizados os seguintes materiais:

∙ “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido”;

∙ Protocolo para levantamento de dados ergonômicos;

∙ Protocolo Rula;

∙ Questionário Nórdico (adaptado de KUORINKA, 1986);

∙ Decibilímetro digital;

∙ Anemômetro digital;

∙ Termohigrômetro digital;

∙ Trena Western modelo 3m/10ft;

∙ Máquina fotográfica digital Olympus, modelo X-845, resolução de 8.0 megapixels;

∙ Modelos antropométricos em escala 1:10.

4.5 Procedimentos

Preliminarmente foi realizada uma avaliação ambiental na oficina, sendo verificados o nível de iluminamento, temperatura, umidade do ar, ventilação e ruído. Também foi realizada uma análise da atividade do mecânico de automóveis, constando as tarefas e funções que a oficina realiza, o número de funcionários e sua organização, as ferramentas utilizadas nas atividades e a descrição de como é feito o reparo do motor. Foi realizado um desenho esquemático do posto de trabalho do mecânico em escala 1:10 para avaliar, utilizando

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modelos antropométricos, para avaliar preliminarmente questões relacionadas a alcance e espaço de trabalho.

Além disso, uma análise postural foi feita por meio de fotografias seqüenciais com o objetivo de registrar as variações de postura no momento da retífica e analisá-las pelo método de biomecânica observacional RULA (Rapid Upper Limb Assesment). O critério de seleção das fotografias para análise foi aquelas que apresentaram as maiores constrições posturais. O método RULA permite a identificação do grau de risco à saúde de cada uma das posturas realizadas, considerando também fatores como repetitividade e postura estática, dando como resultado quatro níveis de severidade. O nível 1 significa que a postura é aceitável se não permanecer por longos períodos de tempo, o nível 2 significa que é necessário uma avaliação e que mudanças podem ser feitas, o nível 3 significa que é necessário uma avaliação e mudanças rapidamente e o nível 4 significa que é necessário uma imediata avaliação e mudanças.

Para finalizar a pesquisa, foram aplicados, diretamente com os sujeitos, protocolos de avaliação da atividade cotidiana no posto de trabalho dos mecânicos para identificar a percepção dos trabalhadores em relação a aspectos de conforto e qualidade das condições ambientais.

4.6 Análise dos dados

Os resultados obtidos foram analisados com estatística descrtiva.

5. Resultados

5.1 Análise ambiental

A iluminação incidente sobre a superfície de trabalho do mecânico na manutenção do motor (iluminação localizada) aponta 50 lux. A intensidade luminosa perto do motor (aproximadamente a um metro do chão) é de 70 lux e próximo à lâmpada (aproximadamente a dois metros do chão) é de 310 lux. Na porta dos fundos onde é utilizado o elevador, constata-se 165 lux, na janela frontal, 60 lux e na porta principal utilizada somente para a circulação de veículos e pessoas é 400 lux. No ambiente em geral 25 lux.

A temperatura no interior da oficina, durante o inverno, mede 23,6 °C, com umidade relativa do ar 64 RH % e velocidade do vento 0,4 m/s.

O ruído no ambiente sem carros ligados oscila entre 60-70 dB. O ruído próximo ao ouvido do mecânico com carros ligados é de 85 dB e próximo ao motor quando este está ligado é de 120 dB.

5.2 Quanto ao método Rula

Das imagens capturadas, 20 foram selecionadas para análise. Das posturas analisadas, nenhuma apresentava o nível 1, 15% apresentava o nível 2, 80% apresentava o nível 3 e 5% apresentava o nível 4. De todas as figuras analisadas, foram observadas posturas de flexão de tronco, freqüentes abduções de ombro associadas à aplicação de força devido à superfície de trabalho ser baixa e distante do trabalhador, apresentando dificuldades de acesso conforme apresentado na figura 1. Na primeira imagem, as maiores variações situam-se na postura do braço, cotovelo, cervical e tronco acarretando no nível 3, que significa que é necessário uma avaliação e mudanças rapidamente. A segunda postura indica maiores variações na postura do braço, do punho, cervical e tronco, acarretando no nível 4, que significa que é necessário uma imediata avaliação e mudanças. A terceira imagem apresenta posturas inadequadas do braço, cotovelo, cervical e tronco, acarretando no nível 3. Quanto as imagens situadas na parte de

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baixo, a primeira indica posturas incorretas de tronco e membros superiores, levando a um resultado de nível 3. A segunda figura revela posturas inadequadas de tronco, cervical, cotovelos e punhos durante o trabalho, ocasionando o nível 3 e a terceira figura denota posturas impróprias de tronco, cervical, cotovelos e braços, resultando no nível 3.

Fig 1. Exemplos de posturas analisadas pelo método RULA.

5.3 Perfil e Voz do trabalhador

O tempo médio de trabalho destes indivíduos é de 22,8 anos (d.p. 14,83 anos), a maioria trabalha entre 6 a 8 horas por dia e todos os entrevistados responderam que trabalham seis dias por semana. Todos os entrevistados responderam que não realizam outras atividades (trabalho) nas suas horas vagas; 60% dos trabalhadores responderam que possuem folgas ao menos de vez em quando durante o horário de trabalho (não contando com o horário de almoço) para repouso, enquanto 40% responderam que não possuem folgas. Quando foi perguntado em que período eles organizavam o ambiente de trabalho, 40% responderam que organizavam durante o serviço e 60% organizavam após o serviço.

Em relação à iluminação do seu ambiente de trabalho, 80% responderam que é muito boa, não tem problemas e 20% responderam que é insuficiente, cansa um pouco a visão. Quanto ao cansaço ou desânimo antes mesmo de entrar no serviço, 80% responderam que raramente se sentem cansados ou desanimados antes mesmo de entrar no serviço e 20% responderam que nunca se sentiram cansados ou desanimados antes de trabalhar.

Quando questionados se tem ou tiveram algum problema de saúde relacionado à profissão, 80% responderam que não e 20% responderam que tiveram problemas na coluna. Foram questionados, com que freqüência costumam consumir alguns produtos como estimulantes ou medicamentos; 40% responderam que consumiam remédios para dores de cabeça ocasionalmente e 20% freqüentemente. 20% responderam que consomem freqüentemente remédios para dores musculares, 80% responderam que consomem café, chá e refrigerantes freqüentemente e 20% responderam que consomem esses produtos ocasionalmente.

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5.4 Questionário Nórdico

A figura 2 representa os resultados do Questionário Nórdico quanto aos locais de desconforto e a freqüência de sua ocorrência. Como pode ser observado, as maiores incidências de desconforto estão localizadas no pescoço e ombro direito, coluna lombar, joelho e pés, tanto relacionado a dores/desconforto pontuais (ocorridos em um dia) quanto em problemas recorrentes (semana/ano).

Fig 2. Resultados de locais de desconforto com o Questionário Nórdico.

6. Discussão

A iluminação incidente de 50 lux corresponde a uma iluminação incorreta para a retífica de motores porque se situa muito abaixo do nível recomendado de iluminação em oficinas em geral (400 a 600 lux) (IIDA, 2005). A iluminação de 25 lux no ambiente em geral está muito abaixo do nível recomendado para zonas de circulação, que geralmente variam entre 100-150 lux (IIDA, 2005). Quanto à intensidade luminosa próxima ao motor (70 lux) e próximo à lâmpada (310 lux), na porta dos fundos onde é utilizado o elevador (165 lux), na janela frontal (60 lux) e na porta principal (400 lux) é possível concluir que a iluminação continua baixa para o reparo de veículos e elevada nas zonas de circulação.

A temperatura e a ventilação no interior da oficina (23,6°C, 64% e 0,4 m/s) estão dentro da zona de conforto térmico, que é delimitada entre as temperaturas de 20 a 24°C, com umidade relativa de 40% a 80% e velocidade do ar moderado a 0,2m/s, considerando que a temperatura foi aferida numa época de clima ameno (IIDA, 2005). No entanto, os trabalhadores manifestaram o desejo de uma melhor ventilação no local de trabalho, devido à alta temperatura que pode ser atingida no verão.

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A oscilação do ruído entre 60-70 dB está situada entre o nível aceitável em ambientes durante o dia e o limite de conversação difícil (IIDA, 2005). O ruído contínuo de 85 dB é considerado o máximo tolerável para uma exposição durante 8h de jornada diária de trabalho, pelas normas brasileiras (NR-15).

Conforme o método RULA, verificamos que as posturas apresentadas apresentam grandes constrições posturais, podendo levar ao surgimento de dor lombar, dor na cervical e dor nos ombros devido às freqüentes flexões de tronco e abduções do ombro associadas a aplicações de força pela superfície de trabalho ser baixa e distante do trabalhador. Essa associação pode ser comprovada pelos locais de desconforto apresentados pelo questionário nórdico, indicando a necessidade de intervenção nessa atividade.

7. Considerações Finais

Um dos fatores mais graves desta atividade é a postura de trabalho. Nesse caso recomenda-se o uso de equipamentos que facilitem o alcance do trabalhador em locais de difícil acesso do veículo, elevadores que posicionem o automóvel em altura mais adequada à realização da atividade e paralelamente instruir o trabalhador sobre as melhores posturas a serem realizadas e como utilizar equipamentos e utensílios de forma a evitar lesões e acidentes de trabalho.

Para evitar possíveis acidentes de trabalho e até mesmo o desgaste físico e mental do indivíduo, é indicado que se respeite a carga horária diária estipulada ao trabalhador, evitando exceder os limites recomendados. O descanso é extremamente importante para o ser humano, serve como estimulante e regenerador das energias perdidas no período de trabalho. Realizar curtas pausas no período de trabalho, também é importante para garantir uma recuperação de estruturas e tecidos (músculos, articulações) e também que a tarefa não se torne monótona e estressante (IIDA, 2005).

A temperatura do ambiente de trabalho deve situar-se na zona de conforto térmico, que é estabelecida entre 20 a 24°C. Deve-se atentar para que esta temperatura não esteja fora desta zona, para não interferir no trabalho do indivíduo. A ventilação do ambiente também é importante, pois além de proporcionar uma sensação agradável nos dias de temperatura mais elevada, ajuda a propagar odores e gazes tóxicos presentes no ambiente de trabalho (IIDA, 2005). Para remediar os efeitos do calor, é importante providenciar uma ventilação forçada adequada, que permite a troca do ar quente e viciado em produtos voláteis e monóxido de carbono por ar fresco do ambiente externo.

A iluminação mal planejada proporciona uma queda no rendimento dos funcionários em razão da necessidade de um tempo maior para a discriminação das peças do motor, que em geral são da mesma tonalidade (pouco contraste) e de tamanhos variados. Além disso, o reparo dos automóveis num ambiente de 50 lux exige uma maior fixação do olhar para o reconhecimento de detalhes ou peças e a tendência de aproximação do corpo ao veículo numa postura inclinada para uma melhor visualização, o que contribui para uma sobrecarga dos músculos do globo ocular, dificuldades na leitura visual além de dores (IIDA, 2005). A dificuldade de visualização devido à má iluminação pode também comprometer a identificação de peça e componentes pequenos e de pouco contraste, levando a erros de trabalho e lentidão na realização do serviço.

A fadiga visual também é uma conseqüência da baixa iluminação e para preveni-la e melhorar o rendimento e satisfação dos funcionários, recomenda-se um aumento na luminosidade das lâmpadas do tipo fluorescentes, para um mínimo de 400 lux e substituir a iluminação atual por uma iluminação melhor distribuída em todo o ambiente, como uma

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iluminação pontual (foco de luz) para ser usada quando necessário de forma a complementar a iluminação ambiente.

Por fim, em relação aos ruídos no ambiente de trabalho, uma solução para diminuir o impacto que chega aos ouvidos dos mecânicos, é a utilização de protetores auriculares no momento da partida de motores. Desta forma, além de reduzir o estresse do trabalhador, estará protegendo-o de possíveis lesões auriculares.

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ERGONOMIA. Norma ERG BR 1002: Código de Deontologia do Ergonomista Certificado. ABERGO, 2003. Disponível em: < http://www.abergo.org.br/arquivos/Norma% 20ERG%20 BR%201002%20-%20Deontologia.pdf>. Acesso em: ago. 2008.

DUL, J.; WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática. São Paulo: Editora Edgard Blücher, 2004.

IIDA, I. Ergonomia: Projeto e produção. São Paulo: Editora Edgard Blücher, 2005.

KROMER, K.H.E; GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia: Adaptando o trabalho ao homem. Porto Alegre: Editora Bookman, 2005.

KUORINKA, B; JONSSON, A; KILBOM, H; VINTERBERG, F; BIERING-SORENSEN, G; ANDERSSON, K. JORGENSEN. Standardised Nordic questionnaires for the analysis of musculoskeletal symptoms . Applied Ergonomics, v. 18, n.3, p. 233-237, 1987.

MAIA, I.M.O; FRANCISCO, A.C. Ergonomia: Ferramenta de Manutenção Industrial. In: Congresso Internacional de Administração, 2007, Ponta Grossa. Anais eletrônicos... Ponta Grossa: UEPG, 2007. Disponível em: < http://www.admpg.com.br/2007/index.php?page=5&lang=1&sub=17>. Acesso em: jul. 2008.

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