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7/26/2019 O Marxismo Weberiano_ Uma Das Mltiplas Expresses No Campo Intelectual Brasileiro - Boitempo Editorial

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17/06/2016 O marxismo weberiano: uma das mltiplas expresses no campo intelectual brasileiro - Boitempo Editorial

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O marxismo weberiano: uma das mltiplas expressesno campo intelectual brasileiro07.10.2014

Instituto Humanitas | UnisinosPatricia Facchin

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A expresso alem stahlhartes Gehuse, traduzida como habitculo duro como o ao

ou jaula de ao, foi utilizada por Max Weber, socilogo alemo, para determinar o

carter liberticida do capitalismo, que impe de forma coercitiva suas leis e sua

dinmica a todos os indivduos das sociedades industriais, e um dos temas centrais

apresentado por Michael Lwy em seu novo livro, intituladoA jaula de ao (So Paulo:

Boitempo, 2014).

Na obra, lanada nesta semana no Brasil, o socilogo brasileiro radicado na Franaestabelece uma aproximao entre o pensamento de Max Weber e Karl Marx acerca do

capitalismo. Os dois percebem que no capitalismo existe uma inverso perversa entre

fins e meios. A acumulao de dinheiro e de capital no um meio para satisfazer

necessidades sociais ou para a felicidade dos indivduos, mas um fim em si, pontua. De

acordo com Lwy, o diagnstico de ambos tem vrios pontos em comum, a grande

diferena que Weber um fatalista resignado o capitalismo nosso destino ,

enquanto Marx aposta numa alternativa emancipadora ao capitalismo.

Na entrevista a seguir, concedida IHU On-Line por e-mail, Michael Lwy comenta a

influncia do pensamento marxista weberiano na formao dos intelectuais brasileiros,especialmente por conta do desenvolvimento do catolicismo de esquerda na Amrica

Latina, e assegura que o Brasil talvez o pas do mundo onde as ideias marxistas, na

sua pluralidade e diversidade conflitiva, tm tido o maior desenvolvimento no campo

da filosofia e das cincias sociais (sociologia, cincia poltica, histria, etc.). Esta

presena de Marx e dos marxistas se manifesta no s nas universidades, mas de forma

mais ampla em partidos de esquerda, sindicatos combativos, movimentos sociais

urbanos ou rurais, comunidades de base crists, etc..

Lwy Cientista Social e leciona na Escola de Altos Estudos em Cincias Sociais, da

Universidade de Paris. Entre sua vasta obra, destacamos Ideologias e Cincia Social.Elementos para uma anlise marxista (So Paulo: Cortez, 1985), As aventuras de Karl

Marx contra o Baro de Mnchhausen (So Paulo: Cortez, 1998), A estrela da manh.

Surrealismo e marxismo (Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2002), Walter

Benjamin: Aviso de Incndio. Uma leitura das teses Sobre o conceito de histria (So

Paulo: Boitempo, 2005) eLucien Goldmann, ou a dialtica da totalidade(So Paulo:

Boitempo, 2005).

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Por que associa o capitalismo figura jaula de ao?

Michael Lwy - Weber usa a expresso stahlhartes Gehuse, habitculo duro como o

ao (geralmente traduzida por jaula de ao) para caracterizar o carter liberticida do

capitalismo, que impe de forma coercitiva suas leis e sua dinmica a todos os


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indivduos das sociedades industriais. O sistema econmico moderno aparece assim

como uma espcie de priso, uma servido a qual ningum consegue escapar.

IHU On-Line - Como o senhor entende o conceito de afinidade eletiva para

explicar a relao entre a tica protestante e o esprito do capitalismo?

Michael Lwy - Weber usa este conceito, Wahlverwandtschaft que tem sua origem na

alquimia, antes de ser reformulado por Goethe, em sua novela As afinidades eletivas ,

para designar uma relao de causalidade mtua, reforo recproco ou mesmo osmose,entre uma tica religiosa, o protestantismo asctico, e o esprito do capitalismo. Quanto

mais o indivduo, no sculo 18-19, era um calvinista fervoroso, mais chances teria de se

tornar um capitalista, e vice-versa. um dos aspectos metodolgicos mais importantes

da sociologia de Weber.

IHU On-Line - Por quais razes entende que Weber no se referiu a uma

tica catlica e tampouco seus estudos tratam do catolicismo em alguma

dimenso, tendo em vista que o catolicismo uma das bases fundamentais

da racionalidade ocidental?

Michael Lwy - Boa pergunta! No estou seguro de ter a reposta. realmente

paradoxal que Weber, que dedicou estudos aprofundados ao confucionismo e ao

hindusmo, praticamente ignorou uma das principais religies da Alemanha. Seria a

tradicional hostilidade da cultura protestante ao catolicismo? Ou talvez a dificuldade de

encaixar o catolicismo em seu esquema sobre as origens ocidentais da racionalidade

moderna? um tema para pesquisas futuras.

IHU On-Line - Quais so suas evidncias de que Weber sugere, de algum

modo, que a Igreja catlica oferece um ambiente muito menos favorvel ao

desenvolvimento do capitalismo?

Michael Lwy - Weber o afirma, de forma explcita, tanto na tica protestante e o

esprito do capitalismo como em vrios outros escritos. No existe texto desenvolvendo

esta temtica, mas fragmentos dispersos em sua obra. Ele sugere vrias pistas para

explicar a viva antipatia da tica catlica pelo capitalismo. Uma das mais interessantes

o carter totalmente impessoal do capitalismo que no permite a interveno moral

da Igreja no curso do processo econmico e social.

IHU On-Line - O que o catolicismo de esquerda na Amrica Latina, qual

sua influncia na poltica e como ele tem se desenvolvido?

Michael Lwy - O catolicismo de esquerda surge como fora poltico-religiosa

importante na Amrica Latina a partir dos anos 1960, sendo sua primeira manifestao

a Juventude Universitria Catlica - JUC brasileira. Mais tarde vai aparecer a teologia

da libertao, e toda uma dinmica sociorreligiosa, que se poderia designar como

cristianismo da libertao, incluindo CEBS, pastorais populares, etc. Sua influncia

poltica foi enorme, contribuindo de forma decisiva para a Revoluo sandinista na

Nicargua, a formao do PT e do MST no Brasil, o surgimento do Zapatismo no

Mxico, etc.

IHU On-Line - Alguns intelectuais tm tratado o capitalismo nacontemporaneidade como sendo a nova religio. O que o senhor entende

por capitalismo como religio?

Michael Lwy - Walter Benjamin escreveu em 1921 um fragmento intitulado O


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capitalismo como religio se trataria de uma religio cujas divindades como o

dinheiro so objeto de um culto fervoroso, que torna todos os indivduos

endividados e culpados, levando o planeta Humanidade Casa do Desespero. Na

Amrica Latina, telogos da libertao, como Hugo Assmann e Jung M Sung, tm

analisado o capitalismo como idolatria do mercado e religio mortfera exigindo

sacrifcios humanos. Parece-me muito sugestiva esta reflexo.

IHU On-Line - Que aproximaes evidencia no pensamento de Max Weber

e Karl Marx em relao ao capitalismo?

Michael Lwy - Os dois percebem que no capitalismo existe uma inverso perversa

entre fins e meios. A acumulao de dinheiro e de capital no um meio para satisfazer

necessidades sociais ou para a felicidade dos indivduos, mas um fim em si. Os dois

tambm observam que no capitalismo os indivduos so dominados por abstraes

reificadas. O diagnstico de ambos tem vrios pontos em comum, a grande diferena

que Weber um fatalista resignado o capitalismo nosso destino , enquanto

Marx aposta numa alternativa emancipadora ao capitalismo.

IHU On-Line - Em que consiste o marxismo weberiano? Ele se aplica aoBrasil?

Michael Lwy - Marxistas weberianos so os pensadores que, partindo de uma anlise

marxista e de um compromisso poltico socialista, buscam integrar em sua reflexo

conceitos e argumentos de Max Weber. o caso de Gerg Lukcs, da Escola de

Frankfurt, de Merleau-Ponty e alguns outros. O termo foi cunhado por Maurice

Merleau-Ponty, em seu livroLes aventures de la dialectique(1955).

IHU On-Line - Qual a influncia do pensamento de Max Weber no

desenvolvimento de intelectuais marxistas brasileiros?

Michael Lwy - Existe uma ampla difuso das ideias de Weber no Brasil. H vrios

cientistas sociais brasileiros que se interessaram por Marx e Weber: Florestan

Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, etc. Mas os dois mais prximos do marxismo

weberiano, tendo dedicado uma obra importante ao estudo de Weber, so Maurcio

Tragtenberg e Gabriel Cohn.

IHU On-Line - O senhor associa Merleau-Ponty ao marxismo weberiano.

Qual a aproximao de Ponty com o marxismo weberiano?

Michael Lwy - Na obra de 1955 que mencionamos, Merleau-Ponty se identifica com omarxismo weberiano, mas o nico exemplo que ele d Gerg Lukcs. Graas a Weber,

argumenta M-Ponty, o marxismo pode se libertar do peso da viso determinista da

histria. Mas em seus escritos posteriores desaparece esta definio.

IHU On-Line - Em que sentido o pensamento de Habermas representa

uma desassociao ao marxismo weberiano?

Michael Lwy - Habermas vai se formar no marxismo weberiano da Escola de

Frankfurt, mas pouco a pouco seus escritos vo se afastar desta matriz. Desenvolvendo

uma crtica radical tanto de Marx como de Weber, Habermas rompe com esta

problemtica para desenvolver uma viso liberal da racionalidade comunicativa comosoluo dos conflitos sociais.

IHU On-Line - Qual a influncia fundamental do marxismo weberiano nas

Cincias Humanas?


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Michael Lwy - Os pensadores desta sensibilidade vo estar entre os crticos mais

radicais da civilizao capitalista, no campo da filosofia e das cincias humanas.

Conceitos como reificao (Lukcs) ou racionalidade instrumental (os Frankfurtianos)

so exemplos desta negatividade crtica.

IHU On-Line - O pensamento marxista e, posteriormente, o pensamento

marxista weberiano, tm tido espao nas universidades do Brasil e do

mundo? Qual? Nesse sentido, como o senhor v o desenvolvimento e ainfluncia do pensamento de Marx especialmente nos cursos de Cincias

Sociais no Brasil?

Michael Lwy - O Brasil talvez o pas do mundo onde as ideias marxistas, na sua

pluralidade e diversidade conflitiva, tm tido o maior desenvolvimento no campo da

filosofia e das cincias sociais (sociologia, cincia poltica, histria, etc). Esta presena

de Marx e dos marxistas se manifesta no s nas universidades, mas de forma mais

ampla em partidos de esquerda, sindicatos combativos, movimentos sociais urbanos ou

rurais, comunidades de base crists, etc. Como o ilustram os exemplos acima

mencionados, o marxismo weberiano uma das mltiplas expresses destas ideias nocampo intelectual brasileiro.

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