o ludico na prevenção de acidentes

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    O LDICO NA PREVENO DE ACIDENTES EMCRIANAS DE 4 A 6 ANOS

    Playing strategies for the prevention of accidents in 4 to 6

    years old children

    RESUMO

    Abordar a preveno de agravos sade no contexto da escola integra as diretrizes das

    polticas pblicas ao se instituir a educao em sade como tema transversal no ensinofundamental brasileiro. O estudo teve o propsito de descrever a utilizao do ldicocomo estratgia preventiva de acidentes em crianas no contexto escolar. Trata-se de umrelato de experincia com 26 crianas do Jardim I, da Escola de Aplicao Yolanda Queiroz,em Fortaleza. Os dados foram coletados a partir de tcnicas de observao e participaode atividades ldicas como jogos, desenhos, histrias infantis. Os resultados mostraramque os desenhos e as verbalizaes das crianas sobre acidentes e sua prevenocorresponderam s expectativas de aprendizado. Considera-se que o uso de atividadesldicas uma opo para despertar a criatividade das crianas, mediada pela linguagemdo grupo cultural, possibilitando a construo de conceitos essenciais para entender asformas de prevenir acidentes na infncia.

    Descritores: Criana; Preveno de Acidentes; Promoo da Sade.

    ABSTRACT

    To broach the prevention of health damages in the school context integrates the public

    policies rules when health education is established as a transversal subject-matter in the

    Brazilian elementary education. The study had the purpose of describing the use of playing

    activities as a preventive strategy against children accidents in the school context. It was

    an experience report with 26 first grade infant education students from Yolanda Queiroz

    Application School, in Fortaleza, Brazil. The data were collected by means of observation

    and participation in playing activities such as games, drawings, infant stories. The results

    showed that the childrens drawings and talks about the accidents and their prevention

    met the learning expectations. It is considered that the use of playing activities is an

    option to arise the children creativeness halved by the cultural group language, thus

    allowing the construction of essential concepts for understanding the ways of preventing

    childhood accidents.

    Descriptors: Child; Accident Prevention; Health promotion.

    INTRODUO

    Abordar a preveno de agravos sade no contexto da escola integra asdiretrizes das polticas pblicas ao se instituir a educao em sade como tematransversal no ensino fundamental brasileiro. Nessa vertente torna-se necessrio aincluso nos currculos dos profissionais de sade desses temas, pois a educao seconstitui um meio importante na transformao e repadronizao de condutas queproporcionem ambientes saudveis, diminuindo os fatores de risco que nele existem.

    Artigo original

    Luiza Jane Eyre de SouzaVieira(1)

    Kaline Lucena de Arajo(2 )Ana Maria Fontenelle Catrib(3 )

    Ana Cla Veras CamuraVieira(4)

    1)Enfermeira. Doutora em Enfermagem.Professora Titular do Curso de Graduao

    em Enfermagem e do Mestrado emEducao em Sade. Enfermeira da UTI -Peditrica do Instituto Dr. Jos Frota,

    Fortaleza, Cear.

    2) Aluna do Curso de Enfermagem. Ex-Bolsista do Programa de Iniciao Cientfica

    da Fundao Edson Queiroz PROBIC/FEQ.

    3) Pedagoga. Doutora em Educao.Professora Titular do Curso de Graduao

    em Pedagogia e do Mestrado em Educaoem Sade da Universidade de Fortaleza

    UNIFOR.

    4) Terapeuta Ocupacional. Especialista em

    Psicomotricidade. Professora Assistentedo Curso de Terapia Ocupacional da

    Universidade de Fortaleza UNIFOR.

    Recebido em: 18/05/2004

    Revisado em: 15/12/2004Aceito em: 18/03/2005

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    Essa parceria da educao e sade dever contribuir para areduo do ndice dos acidentes, como tambm, despertar a

    necessidade da adoo de atitudes preventivas na famlia,escola e comunidade.

    A famlia e a escola desempenham papis importantespara a formao da criana durante as vrias etapas dedescoberta da vida, cabendo-lhes acompanhar, proteger,educar e favorecer o incio da socializao da criana.Consolidar essa parceria necessrio, pois a inter-relaoda escola-famlia requer contnua articulao para que se

    consiga fortalecer e alcanar propsitos com vistas construo da cidadania.

    A literatura enfoca que a educao considerada umdos mais importantes recursos na preveno de acidentes,devendo estar presente em todos os programas com estafinalidade, includa de forma permanente nas escolas ououtras instituies, para que o processo educativo possa seefetivar(1 ). A escola constitui-se em espao ideal parafortalecer a implantao, de sementes preventivas emrelao aos acidentes com crianas e adolescentes. Embora,a maioria dos acidentes com crianas seja no ambientedomstico, a escola tem papel fundamental naconscientizao da criana quanto aos riscos que permeiamo domiclio e os mecanismos de evit-los.

    A literatura retrata que o ambiente domstico

    compreende a estrutura fsica, o comportamento da famliae as atividades desenvolvidas no cotidiano que podem, emdeterminadas situaes, se constituir fator de risco nasocorrncias de acidentes domsticos. No contexto familiaras crianas esto mais vulnerveis a esses acidentes e asfamlias supem que conhecem, muito bem, o ambientedomstico tornando-se menos vigilantes e, sendo assim,facilitam os acidentes domsticos que tm repercussesindesejveis. necessrio famlia, culturalmenteconsiderada como responsvel em promover a segurana eproteo dos seus membros, se conscientize e possa realizar

    efetivamente esse cuidado preventivo(2-6)

    .Por outro lado, a escola com filosofia educativa e cidad,se integra a outros setores na busca da transformao social,podendo ser forte aliada na promoo da sade. Alianaspodem ser estabelecidas para o complexo empreendimentode fazer com que as crianas e adolescentes se transformemem sujeitos de sua sade, deixando de ser sujeitos das

    doenas (7).Nesse sentido, a filosofia da escola promotora de sade

    enfatiza que essas aes so construdas no dia-a-dia,conforme o ambiente e a estrutura de que se dispe. Noambiente escolar importante que o sentido da vida sejaapreendido por todos e que a auto-estima e as habilidades

    para o bem-viver estejam voltadas para a adoo de umavida mais saudvel. So muitos os desafios que os setores da

    sade e da educao tm para efetivar aes de promoode sade(8).

    Fortalecendo a interao da escola e criana, abrincadeira o momento vivido e lembrado da nossa infncia;associar aes preventivas, simulaes de casos adotando oldico como referencial uma possibilidade a ser percorridana tentativa de minimizar as ocorrncias de queimaduras,quedas, envenenamentos, aspiraes de corpos estranhos,

    agresses fsicas, entre outros que ameaam a integridadefsica e social do pequeno cidado.

    Os jogos e as brincadeiras mudaram muito nos diferentespases e contextos sociais, porm o prazer de brincar no

    mudou e, ao mesmo tempo, o jogo prazeroso e srio(9). Aatividade ldica, como as demais tradies, dinmica erecebe influncias da evoluo social. A tradio do ato debrincar tem sido vivenciada e modificada a cada gerao e acriana, durante o sculo XX, deparou-se com a nfase namanipulao de objetos, brinquedos, jogos eletrnicos(10). Ascrianas necessitam de opes interessantes e motivadoraspara participar do mundo. Nesse aspecto, o ldico tem comopotencialidade facilitar a fixao das percepes visual eauditiva porque os estmulos nessas reas, com contrastes evoltadas para o interesse das crianas, levam assimilao(10).

    A importncia do ldico remete-nos a educao grego-romana, com base nas idias de Plato e Aristteles, em quese utilizava o brinquedo na educao, associando a idia de

    estudo ao prazer. Na Antigidade, utilizavam-se dados, assimcomo doces e guloseimas em forma de letras e nmeros,para o ensino das crianas. A importncia da educaosensorial nesse perodo determinou, portanto, o uso do jogodidtico por professores das mais diferentes reas, comofilosofia, matemtica, estudo das lnguas e outras

    disciplinas(11).A atividade ldica encontra um papel educativo no

    desenvolvimento infantil importante na escolaridade dascrianas que vo se desenvolvendo, conhecendo econstruindo o mundo, a partir dos intercmbios sociais, dasdiferentes histrias de vida das crianas, dos pais e dosprofessores, que se torna fortalecido pela interao familiar,incorporada escola. Fica mais fcil de se trabalhar comalunos em um programa de promoo de sade da criana edo adolescente, quando a trade escola-aluno-famlia estcoadunada em seus propsitos e expectativas(12).

    Este estudo traz tona algumas premissas bsicas: apontaa importncia do ldico na formao do aprendizado da

    criana, baseando-se que a verdadeira recreao simblica,d-se nas idades de 04 a 06 anos, quando a substituio de

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    um objeto por outro, na recreao, pode ser observado com

    freqncia. Este o ponto de desenvolvimento em que as

    crianas podem expressar a imaginao, no apenas por meioda linguagem, mas tambm pelos desenhos, vocalizaes e

    movimentos(13). Outra premissa sobre a necessidade deestimular a formao de conceitos cotidianos ouespontneosque iniciam a partir da atividade prtica dacriana e de suas interaes sociais imediatas(14).

    Partindo desses pressupostos, o estudo teve por objetivodescrever a utilizao de atividades ldicas como estratgiaspreventivas de acidentes em crianas no contexto escolar.

    MTODO

    Trata-se de um relato de experincia sobre a utilizaodo ldico na preveno de acidentes em crianas de 4 a 6anos, no contexto de uma escola e representou a primeiraetapa de desenvolvimento do Projeto de Iniciao CientficaBrincando e Prevenindo Acidentes na Escola que foi

    financiado pela Fundao Edson Queiroz (FEQ).

    Este estudo foi realizado no perodo de agosto de 2001

    a junho de 2003 e envolveu a participao de crianas,famlias e professores discorrendo sobre a temtica prevenode acidentes, onde procurou-se relatar a experincia dautilizao de atividades ldicas como prtica educativa,

    preventiva, vislumbrando uma efetiva consolidao entre aeducao e a sade da criana.

    Existindo a necessidade de se inserir na realidade ecotidiano dos sujeitos, a pesquisa qualitativa emergiu comoopo metodolgica. Esta abordagem possibilita ainvestigao, amplia e explicita a interao entre opesquisador e pessoas implicadas na situao investigadafacilitando a descrio, registro e anlise dessa realidade(15,16).

    Assim sendo, participaram do estudo vinte e seis crianasna faixa etria de 04 a 06 anos, alunas do Jardim I do turnoda tarde. A seleo dessas crianas se deu de forma

    intencional, pois a literatura(2-6; 16-18) cita que esta fase a queregistra maior incidncia de acidentes como quedas,queimaduras, envenenamentos, leses perfuro-cortantes,entre outros. Como critrios de incluso estabeleceu-se quea criana estivesse matriculada regularmente na pr-escola

    e os pais se comprometessem em participar de pelo menosuma reunio educativa durante o perodo de desenvolvimentodo projeto.

    A pesquisa desenvolveu-se nas dependncias da EscolaYolanda Queiroz, localizada na comunidade do Dend, nobairro Edson Queiroz, no perodo de fevereiro a junho de

    2002. Esta escola vinculada s atividades de extenso daUniversidade de Fortaleza - UNIFOR, contribuindo para

    ampliar a atuao acadmica junto a essa comunidade,

    incentivando o exerccio da cidadania e gesto do

    autocuidado entre os moradores.Na concretizao do estudo, inicialmente foi mantido

    contato com a diretora da escola expondo os objetivos dapesquisa e o compromisso, junto a instituio, sobre a

    devoluo dos resultados. A receptividade da diretora foiamplamente favorvel colocando-se disposio para odesenvolvimento do estudo. Da mesma forma, a professorasalientou a importncia do projeto referindo ser interessantea abrangncia do projeto, ou seja, o trabalho conjunto daescola e aluno, abordando o tema sade, incluindo aparticipao da famlia para discutirem sobre a importncia

    da preveno de acidentes em crianas, pois os prpriosalunos seriam agentes multiplicadores desse tema em suasresidncias e comunidade, alertando sobre o perigo dosagravos externos sade humana.

    O primeiro contato com as crianas aconteceu na salade aula para apresentao pessoal e explanao sobre o queiria ser desenvolvido coletivamente. As crianas semostraram receptivas com a idia de brincar e, ao mesmotempo, aprender como fazer para evitar os acidentes. Dessaforma, as atividades ldicas foram planejadas para que todasas crianas participassem na realizao de oficinas, jogos,desenhos, histrias infantis e dinmicas que serviram de

    estratgias para transmitir informaes sobre a prevenode acidentes na escola. Estas atividades foram realizadasquinzenalmente e semanalmente eram planejadas outrasatividades com a professora orientadora do projeto. Utilizou-se uma linguagem de fcil entendimento para a faixa etriadas crianas e a realizao dessas atividades foi registradapela fotografia, acompanhada pela bolsista e, em alguns

    momentos, contou com a participao da professora o quecontribuiu para facilitar a interao com os alunos.

    As tcnicas de observao e participao foramrealizadas durante o desenvolvimento das atividades ldicas

    e, por conseguinte, favorecendo maior aproximao docontexto da pesquisa. Os achados foram registrados no diriode campo com palavras e frases-chave sendo ampliados,posteriormente, para constituir a descrio e reflexo do

    estudo. A anlise dos resultados teve como foco de atenoos seguintes aspectos: verbalizao e demonstrao dedesempenho das crianas; atitudes e procedimentosintergrupal que demonstrassem a preocupao em preveniracidentes e reproduo de atividades ldicas relacionadas apreveno de acidentes. Os aspectos ticos da pesquisaenvolvendo seres humanos foram considerados, bem como

    preservado o anonimato, a iseno de risco dos participantese seus familiares.

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    O ldico na preveno de acidentes em crianas de 4 a 6 anos

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    RESULTADOS

    DESCRIO DAS PRTICAS EDUCATIVAS

    1 Atividade Que tal? Brincar e aprender!

    Objetivo: socializao entre o grupo e a pesquisadora.

    Atividade prop osta: montagem de um painelilustrativo com animais conhecidos pelas crianas, enesse momento a criana se apresentava dizendo onome do animal e o prprio nome.

    Resultado: nessa atividade os animais escolhidos pelas

    crianas em primeiro lugar o cachorro, em segundo ogato e o cavalo por ltimo. A preferncia das crianaspor esses animais deve-se ao fato da presena desses

    animais no seu cotidiano.2 Atividade Desenhando os meios de preveno dos

    acidentes

    Objetivo: identificar o conhecimento sobre os objetoscausadores de acidentes e as medidas de preveno a

    partir da percepo das crianas. Atividade proposta: desenho livre com lpis de cera,

    desenvolvido pelas crianas sobre o significado dapalavra acidente, os objetos e os meios depreveno.

    Resultados: surgiu desenho circular colorido na cor

    preta e a criana referiu ser o buraco da queda;desenharam objetos que foram verbalizados por elescomo perigosos para causar acidentes - bicicleta, faca,prego, piscina, pedras, carro, parafuso e deramexplicaes sobre o significado de cada um,relacionando o tipo de acidente oriundo desses objetos.Desenharam ainda ilustraes que simbolizavam o

    modo de evit-los tais como: desenhos de casas commaterial de limpeza guardados nos armrios, janelasfechadas para as crianas no subirem, medicamentos

    guardados nas ltimas prateleiras, tomadas protegidaspara as crianas no levarem choque.

    3 Atividade Aventura do ursinho Zequinhae PandolfoPanda

    Objetivo: facilitar a compreenso das crianas, pormeio do conto infantil, sobre a necessidade de adotaratitudes saudveis.

    Atividade proposta: foi contada uma histriaenfocando a ateno a sade e a prtica do esporteem que os personagens o ursinho Zequinha e Pandaensinam os outros animais da floresta a praticaremesportes porque importante para manter a sade. A

    fim de facilitar a compreenso das crianas a bolsistaadaptou o enredo da histria, direcionando-o

    preveno de acidentes, na floresta, entre os animais,alm de incluir situaes-problema envolvendo a

    prtica de esportes e diversas brincadeiras conhecidase praticadas pelas crianas no recreio. Foramconstrudas coletivamente, crianas e bolsista, osmeios de preveno de quedas e outros acidentes queacontecem no contexto domiciliar e escolar.

    Resultados: depois de ouvirem o conto infantil ascrianas passaram a vigiar o colega para evitar asquedas e empurres durante o recreio, chamando

    ateno uns dos outros, como tambm da professorasobre a necessidade de se evitar os acidentes.

    4 Atividade - Prestando ateno no trnsito

    Objetivo: despertar o interesse e o entendimento sobreas leis do trnsito

    Atividade proposta: aconteceu com a apresentao eexplicao sobre o significado do semforo, e osprincipais sinais de trnsito, por meio de jogoseducativos e montagem com quebra-cabea versandosobre sinalizao no trnsito. Essa atividade foidesenvolvida no ptio da escola em uma pistaimprovisada que inclua semforo. Cada aluno recebeuuma identificao de acordo com o seu sinalrepresentado por bolinhas verde, amarelo, vermelho.Simulamos uma pista com curvas e paradas que

    exigiam o uso dos sinais; o sinal vermelho significandoparada obrigatria. No amarelo eles deviam prestarateno e o verde, significava passagem livre parapedestres. Esta atividade coincidiu com uma visita auma escola de trnsito (atividade que j faz parte dasaes educativas da escola) o que contribuiu paradespertar a percepo sobre esses sinais e os seussignificados. Durante a visita as crianas assistiramuma apresentao e demonstrao interativa sobre asinalizao de trnsito com nfase sobre o significadodas luzes do semforo, relacionando e distinguindocom a ao dos pedestres e dos automveis. Com ouso de instrumentos apropriados para educar ascrianas sobre a legislao do trnsito, essas,novamente tiveram a oportunidade de utilizar osprprios jogos da escola de trnsito (quebra-cabea)focalizando semforo e os significados dos sinais detrnsito.

    Resultados: por meio dos jogos educativos sobre asinalizao no trnsito as crianas oportunizaram pormeio de experincias individuais e em grupo aimportncia de obedecer e cumprir as leis de trnsito,bem como o papel do pedestre na preveno dos

    acidentes de circulao, os quais requerem muitocuidado e ateno. Por meio das perguntas e dos

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    relatos as crianas demonstraram uma aprendizagem

    satisfatria.

    5 Atividade - Brinco, aprendo e no me acidento! Objetivo: construir coletivamente recursos que

    desenvolvam as habilidades cognitivas por meio dashabilidades motoras do recorte e da colagem naproduo de painis ilustrados com mensagenseducativas.

    Atividade proposta: as crianas foram divididas em03 grupos, primeiramente utilizou-se os jogostemticos em forma de quebra-cabea e memria, eaps foi solicitado que procurassem nas revistasfiguras sobre temas relacionados a queimaduras,

    mordeduras de animais, quedas e colises, choqueeltrico, leses com instrumento prfuro-cortante,acidentes de trnsito. Aps encontr-los recortasseme colassem o que resultou em um painel ilustrado comassociao dos meios de evitar esses acidentes.

    Resultados: segundo relatos da professora as crianaspassaram a agir ativamente sendo vigilantes emsituaes cotidianas ocorridas em sala de aula, seapropriando da informao procuravam proteger a simesmo e ao colega na sala de aula, isto , adotandouma postura de vigilncia mtua.

    DISCUSSO

    Com o intuito de possibilitar maior interao entre ascrianas e a bolsista, foi desenvolvida a primeira atividadecom o grupo, onde se utilizou um painel ilustrativo com

    animais e cada criana escolhia o que iria se identificar.Iniciando a atividade referindo o seu nome e do animalescolhido, o animal que mais se sobressaiu foi o cachorro,depois o gato e por ltimo o cavalo.

    O brinquedo importante fonte de promoo aodesenvolvimento da criana, pois o uso dos instrumentos e

    signos compartilham algumas propriedades importantes;ambos envolvem uma atividade mediada, proporcionandonesse perodo da pr-escola por meio do brinquedo, aexpanso de habilidades conceituais e a imaginao(19).

    Neste sentido, as atividades propostas seguem pautadasem aquisies de conceitos e estimulando o imaginrioinfantil, quando na 2 atividade, ao serem interpelados a

    expressarem a percepo de acidente por meio de desenhos,descreveram um buraco como queda em criana. E issoaponta que a ao numa situao imaginria ensina a crianaa dirigir seu comportamento no pela percepo imediata

    dos objetos ou pela situao que a afeta de imediato, portanto impossvel para a criana muito pequena separar o campo

    do significado do campo da percepo visual, uma vez que

    h uma fuso muito ntima entre o significado e o que

    visto(19)

    .A imaginao um processo psicolgico novo para a

    criana; representa uma forma especificamente humana deatividade consciente, e o brinquedo promove essa situaoimaginria, e ensina a criana a dirigir seu comportamentono somente pela percepo imediata dos objetos ou pelasituao, mas pelo significado da situao(19).

    Na 3 atividade ao se apropriar das histrias infantis paralevantar questes sobre a preveno dos acidentes,estimulando as estratgias de manuteno da sade e prticade esportes utiliza-se a brincadeira de faz-de-conta (20)

    provocando uma situao imaginria e ao mesmo temporegida por regras, estimulando que a criana se comporte deforma mais avanada do que o habitual, agindo diretamentenas mudanas comportamentais da criana. Adaptao docontexto da histria ao tema da preveno de acidentesresultou na aquisio, pelo menos temporria, de um olhar

    vigilante sobre o modo das crianas brincarem no recreio.Nesse sentido, as histrias infantis tornam-se promotoras

    em sade por invocarem o potencial libertador e criativo dapalavra. Por meio da literatura, a criana v os desenhos,

    ilustraes ou imagens dos livros de histrias e, ouvindoalgum explicar ou narrar o que ela est vendo, comea a

    aprender, inconscientemente, que o mundo existe a partir deuma nomeao, e esse ser o ponto de partida para se chegara determinado conhecimento nomear o objeto ou ofenmeno em foco.

    Diante desse contexto, entende-se que aprender por meioda recreao para a criana extremamente habitual para acriana, na medida que essa ao faz parte de suacompetncia, possibilitando a entrada em seu mundo como objetivo de coletar informaes importantes que irocontribuir para projetar e desenvolver atividades inerentesaos papis e direcionadas s reas subjacentes de

    necessidades (13:74).Nesse universo observamos na 4 atividade que o acesso

    aos objetos mediado, por meio de recortes do real operadospelos sistemas simblicos(20), e nesta perspectiva os sinais detrnsito apresentados as crianas por meio dos jogos

    educativos, promoveram momentos em que a brincadeiraestimulou processos psicolgicos superiores como: apercepo, a ateno e a memria, a partir da mediaosimblica e da origem scio-cultural desses instrumentos,facilitando o aprendizado e a compreenso com participaocoletiva.

    A literatura nos mostra que a idia de um ensinodespertado pelo interesse do aprendiz acabou transformando

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    o sentido do que se entende por material pedaggico em cada

    aprendiz, independente de sua idade, passou a ser um desafio

    competncia do educador. Nesse contexto, os jogos ganhamespao como ferramenta ideal da aprendizagem, na medidaque estimula o interesse do aprendiz, ajuda-o a construirnovas descobertas, desenvolve e enriquece sua personalidade

    e simboliza um instrumento pedaggico que leva aoensinador a condio de condutor, estimulador e avaliadorda aprendizagem(21).

    Utilizando os jogos e relacionando alguns objetos (faca,prego, serrote, tomada, porta, janela, etc) com o tipo deacidente que este poderia ocasionar sugeriu-se a 5 atividade,uma com o tema de prevenir os acidentes arte, brincadeira e

    uma extrema seriedade. Parafraseando a literaturaconcordamos com a assertiva de que por meio do ato debrincar, a criana desenvolve estratgias de aprendizagem(...) assim como necessitam de opes interessantes emotivadoras para participarem do mundo(22).

    Entendemos que um dos objetivos da escola facilitar aaquisio do conhecimento de gerao para gerao e, almda qualidade e metodologias escolhidas para tal fim, no sedeve esquecer de que ensinar , principalmente, ensinar aaprender(19).

    As atividades desenvolvidas entre professores, mes e

    bolsista no ambiente escolar contriburam como fontes demodelos de aprendizagem, por meio das construescoletivas puderam mediar as construes infantis, por meio

    do ato de brincar juntos, no assentar-se ao lado, no tocar, noolhar, no sorriso dirigido, no interesse pela ao docompanheiro, na troca de experincia, na busca de motivospara interagir e criar no espao da sala de aula as atividades

    conjuntas.

    Durante as atividades a linguagem como o sistemasimblico(20) fundamental na mediao entre o sujeito e o

    objeto favoreceu a apropriao dos processos de abstrao egeneralizao compartilhando os significados pelos usurios.Porm percebia-se entre as crianas manifestaesfisiolgicas de emoo, na qual a conscincia afetivamanifestou-se por meio de um querer bem que contribuiupara que elas aparentassem calma e mais concentrao nasatividades escolares.

    O ldico, como elemento que estrutura a vida dascrianas, se constituiu como coadjuvante nas formas deorganizao, criao de diferentes tipos de relaes demaneira singular, como sociabilidade com o prazer, foitambm ruptura, acontecimento, manifestou repetio,negao, movimento, dinamismo, astcia, duplicidade evitalismo (9 ).

    CONSIDERAES FINAIS

    Este estudo fez parte de um projeto de iniciao cientficacujo desenvolvimento envolveu a participao da criana,famlia e professores discutindo sobre estratgias depreveno de acidentes em crianas, abrangendo o contextodomiciliar e escolar. Ao priorizar a utilizao do ldico comoestratgia educativa e preventiva com crianas de 4 a 6 anos,foi observado que houve grande envolvimento das crianasna construo coletiva das atividades ldicas desenvolvidas.As crianas assumiram ativamente o lugar de sujeitos e comcompetncia e compromisso construram e interagiram naformao de conceitos sobre a preveno dos acidentes,transformando a brincadeira em estratgia para a promoo

    da sade.A utilizao do ldico em prticas educativas descrita

    como elemento integrador s estratgias de educao emsade, despertando nas crianas o entendimento de situaesreais, mediadas pelo brinquedo, essas aes devero serincentivadas na pr-escola, utilizando a linguagem do grupocultural onde a criana se desenvolve e dirige o processo de

    formao de conceitos.

    REFERNCIAS

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    Endereo para correspondncia:

    Luiza Jane Eyre de Sousa Vieira

    Universidade de Fortaleza

    Mestrado em Educao em Sade

    Av. Washington Soares 1321 Edson Queiroz

    E-mail: [email protected]