o livro português - cm-lisboa.pthemerotecadigital.cm-lisboa.pt/efemerides/... · 2018. 10. 27. ·...

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! .1 .................. .. lm \ .. r\l' () l \.\ d semana •. CULTURA ' , 9 - w. PARECE QUE FOI ONTEM O livro português nas <<bocas>> do mundo • LITERATURA D Miguel Serrano A voz do editor: Fe- lizmente os livros de auto- res portugueses começa- ram a vender-se tanto ou mais que as traduções. Felizmente! O facto se de todo não avaliza a qua- lidade da literatura portu- guesa , mormente a ficção que a poesia foi sempre ponto alto na nossa tradi- ção cultural ..:. começou-se pela poesia, escrevem-se novelas que são poemas ... - dele, do facto há que ti- rar uma perspectiva ani- madora e mais apelativ.a que a voz do editor. Perante uma velha e perturbadora indiferença da _gente leitora, este sii:ial mais, sem que se possa in- tegrar num contexto cultu- ral mais vasto - tudo vai bem no reino da Dina- marca , ou somos um país de leitores -, veicula ao exercício da informação uma maior responsabilida- de, sobretudo àqueles ór- gãos de maior audiência, como a televisão e a rá- dio. Que abram mais os cordões- aos livros e me- nos à bolsa. Nomes como Saramago, José Cardoso Pires, Urba- no Tavares Rodrigues, Lobo Antunes, Baptista- -Bastos , Fernando Namo- ra, Vergílio Ferreira, Lí- dia Jorge, Agustina Bessa Luís, tantos outros têm obras traduzidas em todo o mundo culto e são sinal de garantia para um públi- co - o nosso, - mais vasto, mais interessado. · ' · .,. · A literatura portuguesa . que foi precária de inte : resse justamente por ser portuguesa, isto é por aquela velha infelicidade que o estrangeiro é ,que é bom , robusteceu-se, para além de Camões e Eça - e se Camilo foi grande! - e ganha neste momento for- ças para novas e agradá- vei s. viagens. E mais leito- res ganharia se o ensino fosse outro e diferente, se entre a escola e a estética, o fenómeno poético e o criativo houvesse uma ar- ticulação real, se as crian- ças não fossem para a es- cola para deixar de ser. .. crianças. Adiante! O que está em causa neste escrito, o que ele se propõe é mencionar, à maneira do apanhado re- sumo que todos os anos por esta altura se costuma fazer , os nomes dos escri- tores e respectivas obras que , a nós, leitores, mais nos cativaram, mais nos ' . ensinaram, mais compa- ' nhia nos fizeram' melhor nos identificaram com os seus personagens, mais participaram no jogo que sempre se estabelece entre o escritor e quem o lê. E sendo assim, aqui te- mos desde logo quatro no- mes para quatro títulos: · José Cardoso Pires com «Alexandra Alpha» - a ironia que sublinha de for- ma admirável as ressonân- cias de uma burguesia de- socu p;:ida; retrato de um grupo de personagens inesquecíveis, observado com astúcia e rigor exem- plares; Baptista-Bastos «A Colina de Cristal» - a ter- nura pelos lugares e pelas pessoas, a escrita rigorosa, espaço e jogo de uma lu- cidez dorida, um espanto- so poder de expressão; «Espingardas Música Clássica» de Alexandre Pinheiro Torres - ainda a ironia, ainda o jogo e o óculo assente sobre este lugar que é português, μm livro muito especial; João' de Melo . «Entre Pássaro e Anjo» - contos de afirma- ção de um grande escri- tor, incidência maior de certos tipos, vanguarda es- tética, uma matriz ainda com «Autópsia de um Mar de Ruínas». Para além destes nomes muitos outros. Felizmen- te. Retomamos o feliz- mente com alegria, com prazer, pelo gosto do li- vro, pelo amor a. «A Cor- te do Norte» de Agustina Bessa Luís; «Soma» de Hélia Correia; «Os Pregos na Erva» de · Maria ,-Oa- briela Llansol; «Regresso por úin RiÓ» êle Francisco José Viegas; «Psiché» de Fernando Campos; «Vin- dimas no Capim» de José Brás; o teatro de Rovisco Pais, que foi jovem e ta- lentoso; a reedição do li- vro «0 Ano de 1983» de José Saramago, um escri- tor de outra dimensão, para além das nossas fron- teiras; as autobiografias de Mário Dionísio e Fer- nando Namora e tantos outros textos que incluí- dos no dizer de salvo o erro e omissão aqui não surgem, mas que igual- mente entregaram à ficção portuguesa . um dos seus maiores desafios de sem- pre pelo que se tem passado nestes anos pós 25 de Abril. Desafio grande reside também no ensaio históri- co ou literário; igualmente ' . . na poesia. Textos como «A Inqui- sição de Évora» de Antó- nio Borges Coelho: «Na'- José Cardoso Pires: «Alexandra Alpha», a ironia devastadora num romance que é denúncia de mitos Baptista-Bastos: Um muito belo romance, ou o livro dos lugares, · das ruas e das pessoas António Ramos Rosa: A poesia do amor e da interioridade ' vegadores, Viajantes e Aventureiros Portugueses» de Luís de Albuquerque; «Entre Fialho e Nemésio» de Óscar Lopes; «Estudos Ibéricos - Da Cultura à Literatura, Séculos XIII a XVII» de Maria Idalina Resina Rodrigues; «Várias Vozes» de Vasco da Graça Moura; «A Gestão dos Re- cursos Humanos e os Di- reitos dos Trabalhadores» de Anselmo Aníbal e Ví- tor Costa; «Ensaios Sobre a Poesia Portuguesa» de António Rámos Rosa; «Correspondência de Ca- milo» de Alexandre Ca- bral - textos desta quali- dade constituem sinal !J1ais do que evidente da vitalidade actual da litera- tura deste País, momento de exemplar criatividade e testemunho do acto da es- crita, fllllnifesto de cons- ciência que poder ser pre- núncio de uma apreciável viragem. Na poesia surgem desde logo os nomes de António Ramos Rosa «No Calca- nhar do Vento»; David Mourão-Ferreira «0 Corpo Iluminado»; AI Berto «O Medo»; Fernando Assis Pacheco «Variações em Sousa»; «Vertentes do Olhar» (já saído em Espa- nha) de Eugénio de Andra- de; «A Poesia» de Ruy Ci- natti, a «Poesia Completa» de J. Miguel Fernandes Jorge; «A poesia» de Luís Miguel Nava; «Mas» de Jo- aquim Pessoa; «0 Rosto Verso» de José Correia Ta- vares; «Rosa Sangrenta» de Maria Teresa Horta, e ou- tros livros, outros nomes David Mourão-Ferreira: A poesia de mármore, no mármore da poesia Luís de Albuquerque-: ·Descobrimentos e navegadores, para além de aventureíros, um texto apaixonante António Borges Coelho: A história da inquisição num documento impressionante que, na sua pluralictade, . . vieram ennquecer o nosso riquíssimo património poético. Na literatura para os mais novos ocorrem-nos desde logo citar José Jorge Letria, Prémio «Ü Am- biente na Literatura Infan- til»; Alice Carlos Correia; António Torrado; Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada e outros. E terminamos com a cer- teza que muitos foram os esquecidos o que desde logo nos penaliza, como um leitor/amador, alegran- do-nos no entanto, a ousa- dia de aqui divulgarmos al- guns títulos e nomes de es- critores que durante o ano transaéto trouxeram ao ro- mance, ao conto, à novela, à poesia e ao ensaio precio- sos elementos para a histó- ria da cultura portuguesa. Não queremos aqui dei- xar sem registo, o fabuloso álbum dedicado à pintura de Armando Alves (Oiro do Dia/Porto) numa das mais · notáveis iniciativas editoriais do ano e que será sem dúvida marco referen- - eia!. ... e, veja bem o leitor como elas acontecem, qua- se nos escapa esse estudo de António Vitorino d' Al- meida chamado «Música e Variações» e a peça de tea- tro que o teatro justificou «A Segunda Vida de Fran- cisco de Assis» de JQsé Sa- ramago. E agora sim, acrescente você as obras que lhe agra- darem e saudemos juntos o livro e os autores, sabendo que nada é definitivo.

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Page 1: O livro português - cm-lisboa.pthemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/... · 2018. 10. 27. · Correia; António Torrado; Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada e outros. E terminamos

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w. PARECE QUE FOI ONTEM 87~~~~~~~~~~~-

O livro português

nas <<bocas>> do mundo

• LITERATURA

D Miguel Serrano

A voz do editor: Fe­lizmente os livros de auto­res portugueses começa­ram a vender-se tanto ou mais que as traduções.

Felizmente! O facto se de todo não avaliza a qua­lidade da literatura portu­guesa, mormente a ficção já que a poesia foi sempre ponto alto na nossa tradi­ção cultural ..:. começou-se pela poesia, escrevem-se novelas que são poemas ... - dele, do facto há que ti­rar uma perspectiva ani­madora e mais apelativ.a que a voz do editor.

Perante uma velha e perturbadora indiferença da _gente leitora, este sii:ial mais, sem que se possa in­tegrar num contexto cultu­ral mais vasto - tudo vai bem no reino da Dina­marca, ou somos um país de leitores -, veicula ao exercício da informação uma maior responsabilida­de, sobretudo àqueles ór­gãos de maior audiência, como a televisão e a rá­dio. Que abram mais os cordões- aos livros e me­nos à bolsa.

Nomes como Saramago, José Cardoso Pires, Urba­no Tavares Rodrigues, Lobo Antunes, Baptista­-Bastos , Fernando Namo­ra, Vergílio Ferreira, Lí­dia Jorge, Agustina Bessa Luís, tantos outros têm obras traduzidas em todo o mundo culto e são sinal de garantia para um públi­co - o nosso, - mais vasto, mais interessado. · ' · .,. ·

A literatura portuguesa . que foi precária de inte: resse justamente por ser portuguesa, isto é por aquela velha infelicidade que o estrangeiro é , que é bom, robusteceu-se, para além de Camões e Eça - e se Camilo foi grande! - e ganha neste momento for­ças para novas e agradá­veis. viagens. E mais leito­res ganharia se o ensino fosse outro e diferente, se entre a escola e a estética, o fenómeno poético e o criativo houvesse uma ar­ticulação real, se as crian­ças não fossem para a es­cola para deixar de ser. .. crianças. Adiante!

O que está em causa neste escrito, o que ele se propõe é mencionar, à maneira do apanhado re­sumo que todos os anos por esta altura se costuma fazer , os nomes dos escri­tores e respectivas obras que, a nós, leitores, mais nos cativaram, mais nos

' . ensinaram, mais compa-

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nhia nos fizeram' melhor nos identificaram com os seus personagens, mais participaram no jogo que sempre se estabelece entre o escritor e quem o lê.

E sendo assim, aqui te­mos desde logo quatro no­mes para quatro títulos: · José Cardoso Pires com «Alexandra Alpha» - a ironia que sublinha de for­ma admirável as ressonân­cias de uma burguesia de­socu p;:ida; retrato de um grupo de personagens inesquecíveis, observado com astúcia e rigor exem­plares; Baptista-Bastos «A Colina de Cristal» - a ter­nura pelos lugares e pelas pessoas, a escrita rigorosa, espaço e jogo de uma lu­cidez dorida, um espanto­so poder de expressão; «Espingardas e· Música Clássica» de Alexandre Pinheiro Torres - ainda a ironia, ainda o jogo e o óculo assente sobre este lugar que é português, µm livro muito especial; João' de Melo . «Entre Pássaro e Anjo» - contos de afirma­ção de um grande escri­tor, incidência maior de certos tipos, vanguarda es­tética, uma matriz ainda com «Autópsia de um Mar de Ruínas».

Para além destes nomes muitos outros. Felizmen­te. Retomamos o feliz­mente com alegria, com prazer, pelo gosto do li­vro, pelo amor a. «A Cor­te do Norte» de Agustina Bessa Luís; «Soma» de Hélia Correia; «Os Pregos na Erva» de ·Maria ,-Oa- -~

briela Llansol; «Regresso por úin RiÓ» êle Francisco José Viegas; «Psiché» de Fernando Campos; «Vin­dimas no Capim» de José Brás; o teatro de Rovisco Pais, que foi jovem e ta­lentoso; a reedição do li­vro «0 Ano de 1983» de José Saramago, um escri­tor de outra dimensão, para além das nossas fron­teiras; as autobiografias de Mário Dionísio e Fer­nando Namora e tantos outros textos que incluí­dos no dizer de salvo o erro e omissão aqui não surgem, mas que igual­mente entregaram à ficção portuguesa. um dos seus maiores desafios de sem­pre ~sobretudo pelo que se tem passado nestes anos pós 25 de Abril.

Desafio grande reside também no ensaio históri­co ou literário; igualmente

' . . na poesia.

Textos como «A Inqui­sição de Évora» de Antó­nio Borges Coelho: «Na'-

José Cardoso Pires: «Alexandra Alpha», a ironia devastadora num romance que é denúncia de mitos

Baptista-Bastos: Um muito belo romance, ou o livro dos lugares, · das ruas e das pessoas

António Ramos Rosa: A poesia do amor e da interioridade

'

vegadores, Viajantes e Aventureiros Portugueses» de Luís de Albuquerque; «Entre Fialho e Nemésio» de Óscar Lopes; «Estudos Ibéricos - Da Cultura à Literatura, Séculos XIII a XVII» de Maria Idalina Resina Rodrigues ; «Várias Vozes» de Vasco da Graça Moura; «A Gestão dos Re­cursos Humanos e os Di­reitos dos Trabalhadores» de Anselmo Aníbal e Ví­tor Costa; «Ensaios Sobre a Poesia Portuguesa» de António Rámos Rosa; «Correspondência de Ca­milo» de Alexandre Ca­bral - textos desta quali­dade constituem sinal !J1ais do que evidente da vitalidade actual da litera­tura deste País, momento de exemplar criatividade e testemunho do acto da es-

crita, fllllnifesto de cons­ciência que poder ser pre­núncio de uma apreciável viragem.

Na poesia surgem desde logo os nomes de António Ramos Rosa «No Calca­nhar do Vento»; David Mourão-Ferreira «0 Corpo Iluminado»; AI Berto «O Medo»; Fernando Assis Pacheco «Variações em Sousa»; «Vertentes do Olhar» (já saído em Espa­nha) de Eugénio de Andra­de; «A Poesia» de Ruy Ci­natti, a «Poesia Completa» de J. Miguel Fernandes Jorge; «A poesia» de Luís Miguel Nava; «Mas» de Jo­aquim Pessoa; «0 Rosto ~o Verso» de José Correia Ta­vares; «Rosa Sangrenta» de Maria Teresa Horta, e ou­tros livros, outros nomes

David Mourão-Ferreira: A poesia de mármore, no mármore da poesia

Luís de Albuquerque-: ·Descobrimentos e navegadores, para além de aventureíros, um texto apaixonante

António Borges Coelho: A história da inquisição num documento impressionante

que, na sua pluralictade, . . vieram ennquecer o nosso já riquíssimo património poético.

Na literatura para os mais novos ocorrem-nos desde logo citar José Jorge Letria, Prémio «Ü Am­biente na Literatura Infan­til»; Alice Vi~ira; Carlos Correia; António Torrado; Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada e outros.

E terminamos com a cer­teza que muitos foram os esquecidos o que desde logo nos penaliza, como um leitor/amador, alegran­do-nos no entanto, a ousa­dia de aqui divulgarmos al­guns títulos e nomes de es­critores que durante o ano transaéto trouxeram ao ro­mance, ao conto, à novela, à poesia e ao ensaio precio-

sos elementos para a histó­ria da cultura portuguesa.

Não queremos aqui dei­xar sem registo, o fabuloso álbum dedicado à pintura de Armando Alves (Oiro do Dia/Porto) numa das mais · notáveis iniciativas editoriais do ano e que será sem dúvida marco referen-

- eia!. ... e, veja bem o leitor

como elas acontecem, qua­se nos escapa esse estudo de António Vitorino d' Al­meida chamado «Música e Variações» e a peça de tea­tro que o teatro justificou «A Segunda Vida de Fran­cisco de Assis» de JQsé Sa­ramago.

E agora sim, acrescente você as obras que lhe agra­darem e saudemos juntos o livro e os autores , sabendo que nada é definitivo.