o livro das almas

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O Livro das Almas escrito em Novembro de 2010, Goiânia – GO, por Paulo Fernando Pinto “Em nome de Deus (Alá), O Clemente, O Misericordioso.” CAPÍTULO UM 0. Estas são as doze almas: o carneiro vermelho, a vaca verde, as borboletas amarelas siameses de quatro asas, a siri de prata, o leão de ouro, a abelha laranja perfumada, a lebre rosa, o besouro negro, o elfo de robe púrpura, a cabra de oito joelhos, a águia azul turquesa e o peixe bípede. Embora tudo pareça muito natural até aqui, o que estou prestes a dizer será desafiador para, inclusive, a imaginação mais fértil dos homens, quem sabe, nenhum animal, nem mesmo uma criança, conseguirá fantasiar as figuras, porque estas não eram feito de matéria (carne), mas sim, de luz, e possuiam vida. Cada personagem tinha seu corpo traçados em cores centilhantes vivas, irradiavam um brilho borrado, e uma luz que não se via, mas se sentia, e era misteriosamente acendida em cima do corpo de cada um. 1. O carneiro vermelho foi o primeiro a falar no auditório, onde estavam as outras onze almas que compõem, compunham, comporão e haverão de compôr tudo o que existe e o que não existe no Universo. 2. Com seus chifres ameaçadores e porte charmoso, o carneiro ficou de pé, e subiu ao palco. Então todos o viram, e estavam

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Page 1: O Livro das Almas

O Livro das Almas

escrito em Novembro de 2010, Goiânia – GO, por

Paulo Fernando Pinto

“Em nome de Deus (Alá), O Clemente, O Misericordioso.”

CAPÍTULO UM

0. Estas são as doze almas: o carneiro vermelho, a vaca verde, as borboletas amarelas siameses de quatro asas, a siri de prata, o leão de ouro, a abelha laranja perfumada, a lebre rosa, o besouro negro, o elfo de robe púrpura, a cabra de oito joelhos, a águia azul turquesa e o peixe bípede.

Embora tudo pareça muito natural até aqui, o que estou prestes a dizer será desafiador para, inclusive, a imaginação mais fértil dos homens, quem sabe, nenhum animal, nem mesmo uma criança, conseguirá fantasiar as figuras, porque estas não eram feito de matéria (carne), mas sim, de luz, e possuiam vida.

Cada personagem tinha seu corpo traçados em cores centilhantes vivas, irradiavam um brilho borrado, e uma luz que não se via, mas se sentia, e era misteriosamente acendida em cima do corpo de cada um.

1. O carneiro vermelho foi o primeiro a falar no auditório, onde estavam as outras onze almas que compõem, compunham, comporão e haverão de compôr tudo o que existe e o que não existe no Universo.

2. Com seus chifres ameaçadores e porte charmoso, o carneiro ficou de pé, e subiu ao palco. Então todos o viram, e estavam todos em silêncio, naquela sala chamada ‘A Criação e Não Criação do Universo’.

As onze almas estavam sentadas em cadeiras especiais (a que o carneiro estava, era vermelha) e muito bem comportados, exceto a Vaca Verde, que não gostava da sensação de agilidade e iniciativa que o carneiro a transmitia, e a Lebre Rosa, que

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queria que houvesse uma segunda pessoa ali para discutir as suas ideias junto com o carneiro, para que alcançassem equilíbrio e concórdia.

3. O carneiro falou:4. “ Eu sou o primeiro!” 5. “A falar, o voluntário!”6. “Tenho coragem, sou carneiro!”7. “Minha cor é vermelha, e minha família chama Vá!.” 8. “Que cada um de meus irmãos e irmãs suba ao palco, e que

tomemos a força cedida pela minha divina alma para que haja vida e morte, em tudo que exista e não exista no Universo!”

9. “ Viajaremos pelo Universo, e espalharemos êxtase no coração de nossos descendentes, que serão nada mais que sortudos!”

10. “ Felizes como Deuses serão, seremos e somos!”11. “ O tempo deixará de conhecer o passado, presente e

futuro, porque conhecerão a minha semente do amor, que vai além da imaginação, do tempo e do espaço.”

12. “ Onde quer que haja espaço e tempo, haverá vida, e onde quer que haja vida, haverá amor, e onde quer que haja amor, haverá a minha semente plantada no coração dos vivos e dos mortos, dos que existem e dos que não existem.”

13. O carneiro vermelho sentou na cadeira vermelha. Saiu da cadeira verde a vaca verde, e subiu ao palco.

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CAPÍTULO DOIS

1. A vaca verde era forte,robusta, suas tetas eram imensas, e seu leite era deliciosamente doce. Era a segunda a falar, das outras onze almas que equilibram tudo o que existe e que não existe.

2. Todos calados e comportados, menos as borboletas amarelas siameses de quatro asas, que não suportavam a calma e a lerdeza da vaca, e o besouro negro, que achava tudo muito superficial o que a vaca falava, mesmo antes de começar a falar.

3. A vaca falou:4. “ Eu sou a natureza!”5. “ A falar, a naturista!”6. “ Sei do jogo da sedução; sou sensual, sou a vaca!”7. “ Minha cor é verde, e minha família chama Altolá!”8. “ Que meus irmãos e minhas irmãs subam ao palco após mim, e

sintam-se livres para comentarem sobre a semenete enraizada pelo irmão carneiro; semente que não brotaria sem o adubo que eu proporciono.”

9. “Que descubramos aqui, ali e acolá e além de lá, e que o universo seja nosso lugar de passeio, e que não seja nosso lugar de passeio.”

10. “Sendo e não sendo, o Universo é infinito e perfeito.”11. “ Sim, o que é e não é, é infinito, e por não ter fim, é

per fectus.”12. “ Onde quer que haja a semente do amor plantada pelo irmão

carneiro, haverá adubo cedida pela minha divina alma para que aquilo nasça e saia da casca que guarda o DNA do amor, que é a mágica da nossa criação, amores! Sim, que é a mágica da nossa criação.”

13. A vaca verde sentou na cadeira verde. Voaram da cadeira amarela as borboletas amarelas siameses de quatro asas, e subiram ao palco.

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CAPÍTULO TRÊS

1. As borboletas eram de um amarelo brilhante, comparável ao Sol como o vimos da Terra, a cabeça de uma era roxa, a da outra, amarelo, e as quatro asas eram desproporcionalmente grandes para o resto do corpo, e cada vez que as batiam, purpurinas cor de roxo e amarelo flutuavam no ar, e faziam um barulhinho curioso cada vez que suas asas agitavam no ar. Era uma figura muito peculiar.

2. Todas as onze almas assistiam atentamente às borboletas naquele auditório, ainda que a siri de prata, em sua cadeira cor de prata, as achasse muito conversativas mas pouco gentis, e o elfo de robe púrpura (seu corpo era metade elfo, metade cavalo, e segurava um arco), que não gostava da superficialidade e incapacidade de aprofundar num só assunto das borboletas.

3. As borboletas pararam no ar, como o beija-flor, e a cabeça amarela começou a falar:

4. “Eu sou o Não!”, e a cabeça roxa emendou: “ Eu sou o Sim!”5. As duas cabeças falaram em coro, como se tivessem decorado

a fala: “ A falar, falar, os curiosos, curiosos, da criação, criação, do Universo, Universo, de tudo que existe, existe, e não existe, não existe.”

6. A cabeça amarela prosseguiu: “ Nós serviremos à semente do irmão carneiro de forma diferente, seremos as suas mais fieis mensageiras, e quais forem suas necessidades para crescerem, serão providenciadas por nós.”

7. “ De acordo.” Concordou a cabeça roxa, e esta continuou:8. “ Irmãos! O Universo é só amor, mas com a nossa chegada, o

amor vai ser ainda mais precioso, pois nós ensinaremos aos nossos descendentes sobre a curiosidade! Eles ficarão curiosos sobre tudo, assim como nós somos. Quererão saber da morte, da vida, do Universo, de nós, das verdades, das mentiras, de tudo que tem dois lados, enfim...”

9. “ De acordo.” Declarou a cabeça amarela, e esta completou: “ Por nossas curiosidades serem infinitas, dificilmente nossa alma aprofundar-se-á num assunto somente, mas em vários”. ( Nesse momento, o auditório foi surpreendido por uma tosse do elfo de robe púrpura).

10. As duas cabeças: “ Queremos e abençoamos os dois lados das coisas.”

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11. “ Somos os dois lados das coisas.” “Ela (a cabeça roxo dizendo à amarela) é o yang, o positivo.” “ Ele (a cabeça amarela dizendo à roxa) é o yin, o negativo”.

12. “ Somos mestres da tolerância, e conhecedores de tudo um pouco. Sim, de tudo um pouco.”

13. Calaram-se as borboletas, e pousaram na cadeira amarela. O auditório ficara em silêncio e ninguém se levantou. Então, as borboletas ouviram o ronco da vaca verde, que havia caido em profundo sono, mas não ficaram ofendidas: a vaca era por natureza dorminhoca.

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CAPÍTULO QUATRO

000. Um sono pesado invadiu o auditório, e todas as doze almas dormiram subitamente.

00. Todos dormiram profundamente, e o quarto era iluminado por uma luz que vinha de todos os cantos, como se o Sol estivesse a palmos diante deles.

0. O sono foi tão gostoso, que todos sonharam, mas somente três almas relembraram quais foram seus sonhos.

1. O carneiro sonhou que estava num campo de morangos, e sabia que havia ali um morango, entre tantos, que, ao ser comido, o levaria a uma dimensão de paz e tranquilidade. Quando finalmente achou o morango, que era rosa, e quis muito comê-la, despertou...

2. A vaca sonhou que havia comido do morango, mas como já era de sua natureza ser calma e tranquila, não gostou tanto da dimensão como gostaria seu irmão o carneiro. Entretanto, nesta dimensão, havia uma gruta misteriosa, perto de uma rocha intensamente preta, e quando a vaca tomava coragem para entrar ali, despertou...

3. As borboletas, curiosas, entraram na caverna e deperaram ali com um sapo cor violeta que tentava engoli-las com sua língua enorme e pegajosa. Desesperadas, as borboletas cegaram o sapo com suas purpurinas, e o sapo se transformou estranhamente em carneiro e, sem que as borboletas pudessem entender, estavam não numa gruta, mas num campo de morangos, voando sobre os milhares de pés de morangos.

4. Saiu da cadeira prata a siri de prata, e subiu ao palco.

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CAPÍTULO CINCO

1. Era uma siri imenso, com belíssimos olhos, cílios compridos, garras pomposas, e seu andar era majestoso. Seu corpo era feito de prata, e refletia a luz gloriosamente.

2. As onze almas estavam atentas ao discurso da siri, mas havia algo de diferente com o leão de ouro e a cabra de oito joelhos.. aquele não entendia o sentimentalismo que o fechado siri o transmitia, e esta estranhava o infantilismo e o pensamento nostálgico do siri.

3. A siri falou:4. “Salve! O calor do amor e os rios e a toca e o refúgio e o

calor na bunda da galinha, que faz chocar o ovo, tudo isto eu sou.”

5. “Eu sou eu! Minha família tem um nome: Família.”6. “Salve! Irmão carneiro, fez a semente, irmã vaca a

fertilizou, irmãos borboletas são a força de entrosamento da semente. Eu darei o calor a semente, e cuidarei dela.”

7. “Sim!Eu sou o calor da terra, que aquece a semente, a umidade da água, que hidrata a semente, a moderação do sol e da lua, que fortalece a semente.”

8. “Salve! Eu sou muito, mas muito importante para que o amor seja sentido, como todos nós aqui somos.” (leão de ouro tossiu, como se quisesse ser ‘mais igual’ que as outras onze almas)

9. “Meu papel é de ensinar aos nossos descendentes a emoção.”10. “Meu verbo é sentir, e meu ofício é doméstico, eu

cuido dos meus filhos, dou-lhes de comer e de beber.”11. “Eu tenho infinito estoque de amor para dar, e quem

souber o que se esconde por detrás desta dura carapaça, será um felizardo, porque ser desfrutador do amor é melhor que todas as coisas.”

12. “Salve! Aqui termina meu discurso! Que suba o próximo ao palco, e que seja feita a Sua Vontade! Que a semente dê frutos, e que gere outras sementes! Porque filho de Deus, todos somos, e nada é melhor do que isto! Existe amor em

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minha fala e em tudo que faço: e o que desejarmos virará realidade.”

13. A siri de prata sentou na cadeira prata. Levantou-se da cadeira dourada o leão de ouro, e subiu ao palco.

CAPÍTULO SEIS

1. O leão era o único entre os quadrúpedes que andava de quatro. Andava confiante, reto, seu corpo era todo dourado-amarelado, e sua juba demandava respeito.

2. Soltou um rugido assustador (a siri de prata sentiu-se ameaçado, e correu de sua cadeira, e escondeu-se no canto da sala) e, conseguira a atenção das onze almas, exceto pela águia azul-turquesa, que não achava o leão de ouro uma alma amigável, e a abelha laranja perfumada, que era delicada demais para a grosseria e majestosidade do leão. (a siri percebeu que não era ameaça, e voltou ao seu assento).

3. O leão começou com um grito tão alto que fez tremer o chão do audiotório e todas as cadeiras das almas:

4. “ Oi.”5. “ Eu sou a adoração, a bajulação, a alegria, a felicidade,

o ego, a auto estima, o sorriso, o drama, o teatro, as brincadeiras, o jogo, a vida boêmia, a coragem, a valência, o centro de tudo e O Sol.”

6. “ Como eu sirvo aos meus irmãos: eu sou o esplendor e o crescimento da semente do amor, criada pelo carneiro vermelho, adubada pela vaca verde, dualizada pelas borboletas amarelas, cuidada pela siri prata.”

7. “ Eu não tenho força alguma, pois SOU a própria força!”8. “ Eu não desejo, eu realizo!”9. “ Eu aprendi a colher o dia (carpe diem) e sei como

nenhuma alma neste estabelecimento, como é se sentir bem.” ( A abelha laranja discordou e estava prestes a criticá-lo, mas não quis interromper o seu irmão o leão, por ética).

10. “ Possa por mim a semente conhecer a honra!”

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11. “ Possa por mim os descendentes conhecerem a honra, e não a humilhação!”

12. “ Que possa minha compreensão, generosidade e ironia invadir o coração de todos os homens, e que estes não vivem dependentes de religião nenhuma, pois daí vem muita dor.”

13. E sentou-se o leão em seu trono. O carneiro vermelho admirou a energia com a qual o leão discursara. Levantou vôo a abelha laranja da cadeira laranja e se dirigiu ao palco.

CAPÍTULO SETE

1. Diferente das pequenas borboletas, era uma imensa abelha, do tamanho de um hipopótamo, de cor laranja escuro, listrada com aneis pretos. Exalava um perfume indescritível, cheirosíssimo, similiar à fragrância mista de morango fresco, terra molhada e chocolate com hortelã.

2. Pousou no chão, e todas as onze almas a assistiam, em silêncio. O peixe bípede olhava curiosamente à abelha, e suas guelras abriam e fechavam, já a lebre rosa empinava as orelhas para escutá-la melhor.

3. A abelha iniciou com uma crítica:4. “ Olá, meus irmãos. De nós doze, eu sou a sexta alma a vir

para cá e tenho certeza que as cinco que já vieram devem ser analisadas cuidadosamente, para que nenhum erro seja cometido.”

5. “ Irmão leão: eu estive te observando, e conclui que você tem tudo do melhor a oferecer aos homens, desde felicidade até boa sorte. Entretanto, só mesmo a siri para sensibilizar seu duro coração.”

6. “ Irmã siri: eu estive te observando, e conclui que você tem tudo do melhor a oferecer aos homens, desde compreensibilidade à cuidados maternos. Mas, só mesmo as borboletas para te impedirem de ver somente o lado ruim das coisas da vida.”

7. “ Irmãos borboletas: eu estive observando vocês, e conclui que vocês têm tudo do melhor a oferecer aos homens, desde

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curiosidade à espírito fraternal. Todavia, só mesmo a vaca para acalmar seus nervos eternalmente ativos.

8. “ Irmã vaca: eu estive te observando, e conclui que você tem tudo do melhor a oferecer aos homens, desde apreciação da natureza à determinação. Contudo, só mesmo o carneiro para te livrar da preguiça, para fazer você se mexer e usar mais a imaginação.

9. “ Irmão carneiro: eu estive te observando, e conclui que você tem o melhor a oferecer aos homens: a semente do amor. Só a irmã peixe, espiritual como é, sabe do que é feito essa semente.”

10. “ Quanto a mim, eu darei à semente a capacidade de crítica, de auto purificação e as curas de todas as doenças.”

11. “ Eu sou a médica das onzes almas, e no corpo, eu sou o intestino. Eu gosto de estudar, de ler e de escrever: sou também a intelectual da família.”

12. “ Como sou a senhora da crítica, é justo...” (neste momento, a lebre rosa pulou da cadeira, limpo o bigode, e saltou de volta ao lugar, tudo porque adorava aquela palavra, “justiça”) “... é justo eu me criticar: sou perfeccionista, e isto pode me deixar obcecada por detalhes insignificantes da vida.”

13. A vaca amou o discurso.A abelha voltou à sua cadeira laranja, e ninguém se

levantou. Então, ela ficou com sono, e dormiu. Pouco tempo depois, todas as doze almas adormeceram, pela segunda vez.

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CAPÍTULO OITO

0. O sono foi tão gostoso, que todos sonharam, mas somente três almas relembraram quais foram seus sonhos.

1. O siri sonhou que estava isolado, totalmente solitário no Oceano, numa melancolia profunda. Enquanto nadava, achou a semente do amor do carneiro no fundo do oceano, e com sua garra, apanhou e comeu. Não muito depois de engolir a semente do amor, o oceano enchera de vida novamente, e havia todos os animais ali, e todas as plantas e algas também. E então acordou.

2. O leão sonhou que segurava um espelho que refletia toda a luz do sol, e mirava todo o reflexo ao oceano, onde morava o siri. De repente, viu a água evaporar, e tornar nuvens, e a terra não era só oceano, mas havia agora terra. E então acordou.

3. A abelha sonhou que colheu tanto pólen das flores que nasciam na terra que rendeu milhares de colmeias entupidas do mais doce mel. Como havia comida na terra, e água nos rios, apareceram os primeiros animais terrestres, que adoravam o mel daquela abelha. E então acordou.

4. Após estas três almas contarem seus sonhos, perceberam que tinham sonhado a mesma coisa, e mais, um sonho continuava a história do outro. Sentiram bem com esta coincidência, e disse o leão: “Somos mesmo espíritos livres; somos mesmo, cada um, sortudos.” De fato, coincidências assim só acontecem com O Toque

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divino. Não há deus além do homem e das doze almas que o gerou, mas apenas Um Deus gerou estes subdeuses.

5. Espreguiçou a lebre rosa, e então saltou de sua cadeira da mesma cor, e subiu ao palco.

CAPÍTULO NOVE

1. Era uma lebre de tamanho comum, idêntica à vulgar, exceto por sua cor.

2. Como a irmã abelha havia previsto, desde a sétima à décima segunda alma que subisse ao palco, estaria com seus planos voltados aos outros, e não diretamente ligados à semente do amor do carneiro, que era apenas uma desculpa para criarem a vida, e saciarem o direito dos homens, que é de viver de acordo com a sua própria lei ( já foi dito no começo do livro: ‘não há lei além faze o que tu queres’ (ALIII:60), não há dor maior que a escravidão mental, a dependência do inconsciente, que acontece quando não estamos contentes com nossas próprias leis, ou pior, quando acreditamos que elas não sejam válidas ou boas o bastante para serem cumpridas).

Um dos objetivos deste livro é de transmitir esta mensagem, porque a passagem neste mundo é ligeira como um piscar de olhos, e temos que aproveitar ao máximo, antes que soe a sineta da morte. A vida é o recreio, a morte é o sino que bate, chamando os alunos de volta à aula.

3. A lebre começou, depois de limpar o bigode, que não estava nada sujo; aliás, era pura mania: (o besouro negro estava inquieto em seu assento, e

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deixou que um morcego saisse de sua asa. Ninguém ali sabia que ele tinha um morcego guardado sob a asa!)

4. “ Gente, eu sou a libra rosa, como vocês sabem. Eu sou a sétima alma a profanar minhas sagradas revelações.”

5. “ Atenção! Eu sou a Justiça, o Equilíbrio entre a bondade e a maldade, a Harmonia e a Beleza! Eu sou o intermédio das coisas. Sou o vento que sopra do leste e empurra a tripulação portuguesa ao Brasil.”

6. “ Ouve, meu irmão carneiro: eu sou a metade que te falta, que te completa, e vice versa. Quando você subiu ao palco, certamente reparou em meu comportamento: eu sabia que você era minha alma gêmea, pois você é o pioneiro das causas, e eu sou o justiceiro dos efeitos!” (o carneiro concordou, deu um sorriso gostoso, e berrou.)

7. “ Ah, meu trabalho com a semente é a seguinte: dá-la o componente equilíbrio, para que os homens possam sentir o desequilíbrio, para buscarem, graças à seu livre-arbítrio, o equilíbrio das coisas e, consequentemente, a perfeição de estado de espírito.”

8. “ Eu concedo à semente o gene da ética e a cor rosa.”

9. “ Que eles (os homens) ajam como bem acharem que devam!”

10. “ Que eles aprendam com seus erros!”

11. “ Que montem um belo sistema, uma sociedade onde existe uma lei, que deverá ser moldurada em belíssimos quadros: “Amor é a Lei, Amor sob Vontade.”(Al I:57)

12. “ Que jamais vivam como no aeon passado.”

13. A lebre terminou o discurso, e o carneiro vermelho berrou quase tão alto quanto o rugido do leão de ouro, é que ficara contente por ter tido seu nome mencionado. Abriu as asas o besouro negro e voou de sua cadeira cor escarlate para posar no palco, na frente das onze almas irmãs.

As borboletas amaram o discurso da lebre.

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CAPÍTULO DEZ

1. Todo o corpo do besouro era negro. De todas as almas que subira ao palco, esta era a que menos refletia luz, era também a mais misteriosa.

2. Posou o morcego em seu ombro, e havia um escorpião saindo da asa do besouro. O elfo assistia àqueles animais com certa curiosidade e nojo.

3. O besouro disse:4. “ Minha irmã gêmea é a vaca verde, pois nossas

personalidades são do eixo da ‘matéria criada’, assim como o carneiro-lebre é o eixo da ‘criação da matéria’”.

5. “ Eu sou a investigação de tudo; sou o detetive e meus sentimentos são profundos e minha energia é muita. A vaca sente-se segura ou realizada com o ganho de coisas de valor; eu sinto-me assim com a perda de coisas sem valor.”

6. “ Eu sou intensa, investigativa e infinitamente sensual.”7. “ Eu quebro tabus, e sei como nenhuma outra alma deste

recinto que as aparências enganam, e que é preciso conhecer a fundo algum caso para julgar qualquer coisa.”

8. “ À semente do Amor, criada pelo carneiro e fortificada por seis almas até agora, eu darei o poder, para que possa

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o amor atingir todos os homens; o êxtase, para que possa alegrá-los em momentos depressivos e o tesão, para que destruam tabus e vivam sexualmente contentes.”

9. “ Eu sou como as profundas águas do Oceano Pacífico: aparentemente, sou quieta e inofensiva, mas por dentro sou agitada e um tanto vingativa.”

10. “ Eu juro, aqui, na frente dos meus onze irmãos, que são tudo para mim, manter-me fiel às minhas palavras: eu apoio e promovo o plano de que a semente do amor seja digna de todos os homens!”

11. “ Eu amo a humanidade, os homens, e eu quero vê-los em êxtase! Eu sou o real valor das coisas, e sou eu quem falo aos homens para não darem a mínima a pequenices desprezáveis.”

12. “ Unidos, fazemos qualquer sonho tornar-se realidade.”

13. O siri gosto muitou do discurso.O besouro voou de volta à cadeira, e seus animais voaram junto. Levantou-se da cadeira roxa o elfo de robe púrpura.

CAPÍTULO ONZE

1. O elfo era uma figura estranha, um verdadeiro monstro, sem comparação com animal algum da Terra. Tinha o tamanho de uma árvore pequena e era magro como um palito; suas orelhas eram longas (maior até que as da lebre) e sua expressão facial era comfortante, com seu largo sorriso, e dava a impressão de ser o maior sábio de todos: tinha ar de filósofo.

2. Sua pele era roxa, e segurava um arco imenso na mão ( duas vezes maior que ele mesmo), a túnica que usava era da cor de sua pele, só que mais escuro. Amarrado nas costas, estava o cesto onde ficavam as flechas, que jamais acabavam. Havia uma gaita pendurado em seu pescoço, e o elfo a usava para chamar o Eldorado, um cavalo sem cabeça de noventa e três pés, que transportava o cavaleiro na velocidade do pensamento.A cabra de oito joelhos estava perplexa.

3. O elfo começou:

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4. “ Vocês! Escutem minha fala, porque é importante. Que nada! Não há nada com o que preocupar, senhores, eu sou o irônico daqui.”

5. “ Eu tenho uma piada para contar, mas não acho que agora é a hora propícia. De qualquer forma...”

6. “... eu inventei a sorte.” Neste momento, a cabra interrompeu o elfo e perguntou o que era essa tal de sorte (a cabra era um sujeito pessimista, o oposto do elfo, que era exageradamente otimista), e o elfo explicou: “ A sorte é mais que chance, e menos que destino; a sorte é a magia que os homens sentem quando alguma coisa boa ou satisfatória acontecem no horário certo, com a pessoa certa e no local certo.”

7. “ Onde houver sorte, exagero, filosofias, ensinamento, desejo por viagens, sarcasmo e indiferença por pequenos planos, fiquem sabendo, ali estarei também eu. Sim, quem exagera, ensina ou ama viajar, está provando o melhor do que minha divina alma proporciona.

(Obs.: as almas dos homens são tão divinas quanto às dos Doze Irmãos, e tão imortais quanto. Na verdade, são até mais, já que cada humano é um universo com os mesmo ingredientes (energia do carneiro, energia da vaca, das borboletas...), só que em quantidades diferentes, e por isto são únicos e mais completos.)

8. “A semente do amor está, doravante, possuida pelo meu exagero, minha ironia e malícia.”

9. “ Todas as gotas dos oceanos somados com todas as estrelas da noite escura, multiplicado pelo número de átomos no corpo humano elevado ao quadrado pela quantidade de grãos de areia do mundo, resulta em meu número predileto.”

10. “ Darei agora uma aula de matemática.” A cabra pensou que o elfo era maluco, o leão sorriu com esta fala, o besouro deu gargalhadas e uma tarântula saiu de sua asa e o carneiro berrou euforicamente. “ Estudem essas equações, e por gentileza, quero a tarefa feita até a aula seguinte: 0=∞ , 1=2=3, 0=2, 0=1, ∞-1=∞, -1=0, -∞=0, -∞=∞ e -1=1.”

11. “ Muito bem, amigos. Nossos humanos vão adorar provar da combinação das nossas bêncãos. Eles serão livres, e toda dia, quando dormirem, virão para cá, no auditório de tudo que existe e não existe, onde o teto e as paredes não têm fim.”

12. “ Assim como minhas irmãs gêmeas as borboletas, são curiosas, eu também sou, mas elas querem saber de tudo um pouco, e eu, de bastante um monte. Nós dois montamos o eixo da expressão, conhecimento, alegria e idealismo. O

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que há além do horizonte é uma pergunta típica minha, enquanto “ o que acontecesse se eu apertar este butão?” é clássica das borboletas.”

13. O carneiro e o leão levantaram juntos e aplaudiram o magnífico discurso do enérgico elfo, e estes três irmãos então formaram o Trio da Energia.

O elfo sentou em sua cadeira cor roxa, e esperou que alguém levantasse. Restavam apenas quatro almas para discurscarem, e a semente do amor estava quase pronta para gerar o homem!

CAPÍTULO DOZE

0. A décima alma deveria levantar-se com seu discurso, mas ninguém levantou e, pela terceira vez, as doze almas adormeceram.

1. As doze almas tiveram sonhos lúcidos, mas só três delas lembraram detalhadamente o que haviam sonhado e puderam compartilhar com a família.

2. A lebre sonhou que estava dentro do sonho de algum de seus irmãos, e que estava num campo aberto. Neste campo havia muitas outras lebres, e suas ninhadas eram de muitos filhotes, o que salvava esta espécie da extinção,

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pois havia muitos predadores. Então ela fundou uma sociedade, estabeleceu-se um governo e haviam criado um sistema de civilização.

Um dia, as lebres encontraram o carneiro no campo, e o convidaram a morar como ‘cidadão’, não como ‘selvagem’, ideia que o carneiro abraçou, e havia na cidade carneiros e lebres desempenhando cada um seu papel (profissão).

3. O besouro sonhou que era um escorpião, cuja presa predileta era um coelhinho bem gordo. Entretanto, o carneiro era seu amigo e, outro dia, vendo que havia uma sociedade onde viviam carneiros e lebres em harmonia, o besouro sentiu ciúmes.

O carneiro percebeu a frustração do besouro, e o convidou a participar da sociedade. Como estes dois se amavam, o besouro acabou aceitando, mas não se dava bem com a lebre, que parecia um animal fraco e sem maldade.

O besouro chamou sua família e procriaram, e a sociedade estava cheia de lebres, carneiros e besouros, cada um com seu dever na sociedade, mas nada era determinado, e todos viviam felizes, de acordo com suas vontades.

Uma vaca apareceu no horizonte, e quis entrar. O besouro gostou da ideia, e disse que era uma boa ideia. Os outros não se importaram, e então vacas e bois moravam juntos no mesmo círculo social.

4. O elfo sonhou que era um macaco. Pulando de galho em galho das árvores da floresta, encontrou aquela sociedade, e viu que havia paz ali. Ele aproximou da civilização, e as quatro espécies de animais, que simpatizavam muito com aquela figura engraçada, aceitaram-no.

Em pouco tempo dezenas de macacos pulavam de alegria na sociedade, e agora viviam em harmonia todos eles.

As borboletas não pediram permissão e entraram na sociedade. Os animais adoraram a atitude delas, afinal, o mundo não era de ninguém, não existia fronteiras nem menos latifundiários.

Os besouros, que tinham uma concentração de força imensa, disseram um dia uma verdade à sociedade: que existia no Universo uma Lei, e era a lei do forte. De fato: os fracos caíam, e só erguiam os fortes. O besouro foi admirado por todos, e aquela lei foi seguida com todo amor que os animais tinham para dar. Não existia, portanto, hipocrisia, todos viviam como a vida é, e a paz era abundante.

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5. Todos do auditório ouviram com atenção ao que diziam, e o peixe bípede comentou:

- Os sonhos revelam muitas coisas sobre nós mesmos! Esperem até eu subir ao palco e começar meu discurso, pois desmentirei todos os mistérios dos sonhos, dos pesadelos, das ilusões e do mundo místico!

Aquilo impressionou todas as onze almas! Elas ficaram curiosas. Mas foi a cabra de oito joelhos quem levantou da cadeira marrom, e subiu ao palco.

CAPÍTULO TREZE

1. A cabra tinha chifres curvos, e todo seu corpo, marrom. Andava de quatro, e curiosamente, tinha dois joelhos em cada perna e cada perna tinha dois pés.

Obs.: Que fique claro: cada alma governa uma parte do corpo humano, e a cabra é a governadora dos joelhos. Os joelhos que temos foram criados pela cabra, junto com suas bênçãos. Mais avante no livro, o peixe dirá tudo o que não foi esclarecido.

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Grite isso com toda a força, se você quiser: TODO HOMEM E TODA MULHER É UMA ESTRELA, QUE SEGUE SEU PRÓPRIO CURSO.

2. Como sempre, todas almas estavam atentas, menos uma: a águia, que considerava a cabra sistemática e anti social, atribuitos que ela detestava.

3. A cabra começou:4. Paz a todos. Eu sou a cabra, minha cor é marrom e minha

irmã gêmea é a siri, e nós formamos o eixo da segurança emocional.

5. Enquanto ela cria um lar confortável e seguro e faz o papel de mãe e ainda cuida de todos que ama, eu crio um ambiente onde as coisas funcionam devidamente certo devido ao meu esforço e vontade de trabalhar, e querer sempre alcançar meus objetivos. Na família, faço o papel de pai.

6. “ Responsabilidade, seriedade, persistência e determinação” - são minhas quatro palavras prediletas, já que resumem perfeitamente as qualidades da minh’alma.

7. Meus amores (apesar de parecer o contrário, a cabra tinha a maior consideração com seus irmãos, e os tratava com carinho), eu, então, atribuirei à semente do amor o dom da noção, para que os homens possam saber a hora certa para fazerem o que quiserem, e ainda, se é o que querem fazer.

8. Com a noção do perigo e o bom senso das coisas, os homens poderão levar uma vida longa e segura, repleta de amor.

9. Assim como a flecha lançada pelo elfo roxo (nesta hora, o elfo ergueu seu arco e todos puderam enxergar sua imensa arma) ultrapassa as longíquas linhas do horizonte, assim são minhas metas: eu crio planos super ambiciosos, e sou o único que, graças a minha determinação, comumente alcanço meus objetivos, não sem antes trabalhar duro por isto.

10. É por isto que tenho oito joelhos, conseguiria o homem escalar montanhas se não fosse a flexibilidade do seu par de joelhos?!

Isto é uma alegoria às metas dos homens: sem determinação, desestiriam e, com isto, viria a derrota. Com a derrota, viria a melancolia, e com a melancolia, viria o desespero. Com o desespero, viria o pessimismo, e com o pessimismo, os homens não conseguiriam desfrutar das frutas geradas pela árvore do amor!

11. Quão mesquinhos se tornarão os homens se, desanimados por obstáculos da vida, deixarem-se cair na teia traiçoera do pessimismo! Verão a glória do amor distorcida, e chegarão a desprezar a vida pelas suas desgraças. Não por muito tempo! Deus sabe o que faz.

12. Mas, irmãos, reconheçam o seguinte: que a existência é puro êxtase, (por que? Porque a existência surgiu da semente do amor, e amor é a água que toda alma bebe, é um

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bem universal) que pensamentos depressivos e ataques de desespero são como sombras: elas passam e somem: mas existe aquilo que permanece.

Obs.: para provar que o pensamento da cabra faz sentido, pense no dia e na noite. O sol permanece parado no centro da galáxia, e a Terra gira em torno de si mesma, e daquela estrela (o sol). Sabendo disto, existe diferença entre dia e noite? Não! A noite é so uma sombra, ela passa e some, assim como nossas tristezas. O sol fica estátil, imutável: assim também com o Amor.

13. A cabra fez silêncio: havia terminado o discurso. Eis que levantaram a vaca verde e a abelha laranja, festejando as incríveis palavras da prática cabra. Estes três irmãos formaram o Trio da Conservação.

A águia azul turquesa bateu as asas e foi em direção ao palco. Era a décima primeira alma a discursar.

CAPÍTULO CATORZE

1. A águia era dona de um porte deveras elegante: seu corpo era repleto de penas azul turquesa, embora aqui e ali houvessem algumas cores que mudavam de cor! Essa mudança de cor está associada à personalidade da águia, que se adapta

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muito bem à sociedade, ‘mudando de cor’ pelo prazer de se enturmar com outros.

2. Todos assistiam atenciosos, e ninguém estava inquieto, como vinha acontecendo . A águia estava prestes a desmentir alguns pensamentos fantásticos e místicos da sua irmã, a cabra, e e já tinha na mente o que queria dar à semente que criaria o Universo, a casa dos homens.

3. A águia iniciou:4. “ Guiiiii!!” - ela piou tão alto, num tom tão agudo, que

faz sentido comparar ao rugido que o leão dera, só que desta vez, na versão ‘super aguda’. Suas íris eram triangulares, e pareciam mirar uns ratos que saiam desprevenidos das asas do besouro.

5. “ Ninguém desta família falou, até agora, algo que se aproximasse da realidade.”

6. “ Pois saibam de uma coisa, que apesar de todas as sensações boas que os homens passarão, todos as vitórias, momentos de felicidade etc., eles enfrentarão doenças, misérias, tristezas, sofrimentos, fracassos, enfim, tudo que não se queria num mundo fantástico.”

7. “ Alto lá! Existirá o bem e o mal: mas tudo que for feito por amor, acontecerá além destes dois*. Sendo os homens nascidos dum Universo brotado da semente do Amor, é lógico concluir que a única preocupação deles será a de amar às outras pessoas queridas, mas principalmente a si mesmos.”

8. “ Não existe morte: existe o despertar do sono da vida.”

9. “ Não existe quem deverá ser derrubado ou elevado: tudo é sempre como foi (AL II:58).”

10.“ Os homens serão livres, e adorarão ser livres, porque se sentirão mais pertencentes ao universo desta maneira. Em outras palavras, serão sentidos mais amados, uma vez que nada é mais o Universo que amor, mas não amor sob medo: amor sob vontade. Como assim, vocês me perguntam? Darei à semente o poder da VONTADE, que garantirá aos nossos filhos, os homens, o livre arbítrio, assim como o direito de fazerem o que quiserem, porque o mundo será deles. “

11. “ Que o inimigo seja descrito assim: alguém que interfira de qualquer maneira nos sonhos duma outra pessoa, na verdadeira Vontade de outrem. Atenção! Eles são também, cada homem, sem exceção, um Universo único e inimitável. Ora, a semente não produz a árvore, e esta não produz a fruta, e estas não têm sementes? Pois pelo simples fato de existir, a alma humana já é um universo, porque nasceu da

*Friedriech Nietzsche escreveu em seu livro “Além do bem e do Mal”, aforismo número 153: Was aus Liebe gethan wird, geschieht immer jenseits von Gut und Böse. "( Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.)

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semente criada no auditória de tudo que existe e não existe.

12. “ Nenhum humano será obrigado a fazer nada que não quiser, nem a acreditar no que não lhe agradar. Sortudo aquele que escolher amar, porque este saberá, enfim, que tudo é nada, que não existe inferno nem paraíso, e que o sofrimento surge exclusivamente quando a alma não está em sintonia com as ondas de êxtase do Universo, ondas que transportam amor. Este que sabe amar entenderá as equações exibidas pelo elfo. A dor serve para fortalecer os homens, que estarão perfeitamente fortes quando perderem o medo de viver, de amar, de falar e de arriscar.”

13. A águia terminou o discurso, e foi reconhecida pelos gritos de torcida das borboletas e da lebre, que acharam magnífico o discurso. Estes três formaram o Trio da Mente.

14. Sentiram frio nas barrigas (ou nas almas?) as doze almas, porque estavam prestes a ouvir o último discurso, o do peixe bípede, que tinha um bigode engraçado e que cuspia quando falava.

i. Estavam todos ansiosos para ouvir, porque não parecia que houvesse mais nada que pudesse ser feito para completar a essência do trabalho de criação do Universo, trabalhado até agora pelas onze almas. E pensar que, no final do discurso, iriam criar os homens, esta coisa sagrada e preciosa, que é o homem!

ii. O peixe bípede balançou o bigode, e surpreendentemente, o auditório encheu-se completamente de água salgada. Apesar disto, todos respiravam normalmente.

15. O peixe nadou até ao palco, e encarou a plateia com um sorriso que fez desaparecer o frio da barriga de cada um.

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CAPÍTULO QUINZE

1. O peixe soltou doze bolhas de ar de cores diferentes entre si sob a água, e explicou:

- A bolha vermelha pertence ao carneiro; a verde, à vaca; a amarela, às borboletas; a prata, à siri; a dourada, ao leão; a laranja, à abelha; a rosa, à lebre; a preta, ao besouro; a púrpura, ao elfo; a marrom, à cabra; a azul, à águia; e roxa, a mim.

2. Após cada alma entrar na bolha de sua respectiva cor, sem saber direito por que faziam aquilo, o peixe explicou:

- No universo que criaremos, onde viverão os homens e milhões de outros seres vivos, filhos da Semente (do amor), haverá cores. Cada cor será regida pelas características de sua respectiva alma, e as cores derivadas das doze almas, poderá ser ponderada pelo homem e comparar o tom à cor da alma mais próxima. Por exemplo, a cor cinza é comparável à cor prata mais que qualquer uma das cores dos irmãos, e sabendo que a cor da siri é prata, a cor cinza é regida pela irmã siri.

- O que isto tudo significa? É um jogo de cromologia (estudo das cores): cada cor leva determinado tipo de virtude e relaxa a alma dos homens dependendo do regente desta cor. Falarei sobre as virtudes (personalidade evoluída) e os vícios (caráter inexperiente) de cada um das Doze Almas, para que tudo fique claro aos homens e para que eles possam livrarem-se da ânsia de descobrir o segredo da vida e poderem viver felizes.

3. A virtude é antecedida pelo nome da alma e seu vício e posto por último, desta forma: virtude / nome da alma / da(o) + vício. Lembrem, porém, do que vai além do bem (virtude) e do mal (vício): o amor.

O peixe então disse:

- O independente carneiro da ira;

- A estável vaca da preguiça;

- As curiosas borboletas da mentira;

- A protetora siri da sensibilidade emocional;

- O criativo leão do drama;

- A trabalhadeira abelha do perfeccionismo;

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- A encantadora lebre da pendência;

- O misterioso (no sentido de “investigador”) besouro da intensidade;

- O livre elfo da irresponsabilidade;

- A prudente cabra da seriedade;

- A humanitária águia da distância;

- O romântico peixe da fantasia.

4. Eia! Os homens têm o direito de amar como quiser e com quem quiser. Tudo que viola este direito é insanidade.

- Haverá insanos na Terra, mas os sensatos saberão que toda a depressão, insatisfação, sentimento de culpa e desgraça têm uma mesma origem: a briga entre o bem e o mal, o preto e o branco, o yang e o yin, e quando finalmente entenderem que todas as coisas são uma só, poderão gozar da beleza inexpressível do amor, que é a energia que nos mantêm e os manterão vivos.

5. (A esta altura, gotas de terra caíam nas bolhas em que estavam cada alma, e quando metade de suas bolhas estavam cobertas de terra, viram um brilho surgir no meio daquele oceano de água e cores, e sabiam que se tratava da semente do amor, que procurava um fértil solo para germinar.)

- Este brilho que vêem, meus irmãos, é a semente do amor em seu grau mais alto de perfeição, já que foi:

Criada pelo carneiro; Concretizada pela vaca; Idealizada pelas borboletas; Cuidada pela siri; Embelezada pelo leão; Purificada pela abelha; Justificada pela lebre; Intensificada pelo besouro; Libertada pelo elfo; Disciplinada pela cabra; Educada pela águia; Plantada pelo peixe.

6. “Eia! Permitam que a semente seja cultivada na terra das suas bolhas!” – disse o peixe.

E então o brilho desceu, e em cada bolha ela foi plantada.

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7. O peixe prosseguiu com o discurso:

- Como o garoto que beija uma menina pela primeira vez, como a felicidade da esposa que engravida, vocês, irmãos, estão prestes a experimentar algo que ficará em suas memórias por longo tempo!

E todas as bolhas se juntarão, e virarão uma só bolha, onde se encontravam as doze almas.

8. “Digam “eu te amo!” a cada um de seus irmãos, e dê um carinhoso abraço nele ou nela.” – disse o peixe. E assim foi feito, todos se abraçavam e ninguém sentia vergonha.

9. Entrementes, no solo a planta erguia-se. Era a semente do amor que havia brotado.

O peixe comentou:

- Como em breve teremos uma planta de amor adulta, é sábio lembrarmos de nossas regências, além das cores. Direi sobre nossas influências sobre os minerais, as gemas e os animais.

O carneiro rege o rubi, a ametista e é pai das ovelhas e do gado miúdo (bezerro);

A vaca rege o cobre, a esmeralda, o cobre e é mãe dos touros e do gado grosso (de grandes proporções);

As borboletas regem o mercúrio, o berilo e são os pais dos símios;

A siri rege as pérolas, a prata e é mãe dos crustáceos e dos animais fluviais e/ou lacustres;

O leão rege o ouro, o diamante e é pai dos felinos e dos animais selvagens;

A abelha rege o mercúrio, a jaspe e é mãe dos caninos e dos animais de estimação;

A lebre rege o cobre, o bronze, a safira e é pai dos animais voláteis (que se movimentam muito);

O besouro rege o ferro, o aço, o topázio e é mãe dos animais vorazes e dos aracnídeos;

O elfo rege o estanho, a granada e é pai dos animais hípicos e dos carnívoros;

A cabra rege o chumbo, o alumínio, o ônix e é mãe dos animais ruminantes;

A águia rege o chumbo, o alumínio, a água-marinha e é pai das aves;

O peixe rege o estanho, a platina e é mãe dos animais marinhos e dos peixes;

10. A siri, o besouro e o peixe formaram o Trio da Emoção.

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CAPÍTULO DEZESSEIS

1. A planta do amor finalmente alcançou seu período de safra, e uma fruta, disforme e feita de luz, estava pendurada num caule da árvore. Era naquele fruto onde os homens morariam, era aquele fruto o que passariam a conhecer pelo nome de universo.

2. Subitamente, todas as almas dormiram profundamente, exceto pelo peixe bípede, que não dormia. Era a alma mais confusa e difícil de entender.

3. O peixe bípede aproximou-se do caule onde estava o fruto, e então cantou afinadamente uma belíssima música, cujo vocalista era ele próprio, e os instrumentos musicais, o cair da água e o barulho que as ondas provocavam.

4. Enquanto cantava, as adormecidas almas foram, lentamente, pairando no ar e, enfim, foram todas sugadas pela fruta, e passaram a ser um só todo, junto com o universo que eles próprios construíram.

5. O peixe, que permanecia cantando e dançando, sabia que a música era algo que os as homens deveriam apreciar, pois é uma excelente via de acalmar e confortar suas almas.

6. Como restava somente o peixe para ser dissolvido naquela divina luz, onde foram seus onze irmãos, sentiu-se em dúvida entre parar de cantar e partir com seus irmãos ou permanecer cantando aquela perfeita canção.

7. Eis que outro peixe, que nadava por acaso por ali, furou parte da bolha e encontrou com o outro peixe que já estava ali, cantando. Pouco tempo depois, mais e mais peixes invadiram a bolha, e todos adoravam cantar e dançar, e todos os peixes dançavam alegremente.

8. Quando o peixe bípede percebeu que seria egoísta de sua parte deixar seus irmãos irem sós, decidiu deixar-se ser levado pela luz da fruta do pé de amor, e logo encontraram com seus irmãos num espaço brilhante e infinitamente grande, o universo. Contudo, no auditório, infinitos peixes prosseguiam com a dança, que não acabaria nunca.

9. Entretanto, não só peixes juntavam-se à festa, mas também todos os animais, dos unicelulares até os de metabolismos mais complexos;

10. E muitos deles foram sugados pela luz da fruta do amor enquanto cantavam e dançavam, e passaram a fazer parte do universo, junto com os homens, que foram feitos a partir da combinação das doze almas;

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11. E grãos de areia foram sugados pela luz amorosa, e fizeram parte do universo. Cada grão passou a ser reconhecido como estrela e/ou planeta e/ou asteroide pelos homens.

12. E a fruta do amor, que emitia luz infinita, sugava mais e mais grãos e mais e mais animais, de modo que o universo seria fisicamente infinito;

13. Os grãos de areia, que estavam dentro da bolha, eram também infinitos porque faziam parte do “universo de tudo que existe e não existe”. Como pode algo que existe e paradoxalmente não existe ter um fim?

14. Os animais que cantavam também eram infinitos, porque nasciam da música que os outros cantavam. A música é como as almas: não tem fim nem sentido.

15. E as doze almas dissolveram-se no universo que havia criado, e trataram de estar onipresentes;

16. Onde estavam, estava também o amor, a alegria, a felicidade e o êxtase;

17. Num dos grãos de areia, predominou-se a existência do homem, o único dos animais dotados de consciência. Chamaram seu grão de “Terra”, e jamais compreenderam o universo, antes da introdução dos discursos das doze almas;

18. Entrementes, no auditório cantavam seres vivos de toda forma uma música que, de certo modo, dera vida ao universo do Amor, onde vivem os homens.

19. Não confundam, porém, o amor sob vontade, que é o amor sincero, corajoso e livre de ânsias de resultados, com o amor que a maioria das pessoas estão viciadas: o amor sob medo.

20. Seja bravo, tenha coragem e não desista. Ninguém vai te censurar, ninguém tem este direito.

21. Deixem os fracos parasitas de lado, pois eles são como carrapatos para vocês, eles tentam chupar um pouco da sua alegria, tamanha são suas desgraças.

22. Você é responsável pelas suas atitudes.23. Não pense que a cabeça agüenta se você parar(Raul

Seixas).