o “liberalismo caudilho” no projeto de constituição da ... · resumo: o objetivo do artigo...

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ESTUDIOS HISTÓRICOS CDHRPyB- Año VIII - Julio 2016 - Nº 16 ISSN: 1688 5317. Uruguay 1 Experiências constitucionais no Uruguai de 1830 e no Rio Grande do Sul de 1843: um ensaio de liberalismo caudilho Ana Luiza Setti Reckziegel Felipe Cittolin Abal * RESUMO: O objetivo do artigo consiste em analisar historicamente o projeto de Constituição Rio- Grandense (1843) e a Constituição Uruguaia (1830). Os dois documentos legais espelharam em termos jurídicos um contexto histórico particular da região rio-grandense e uruguaia e refletiram o que denominamos de liberalismo caudilho. Isto é, um liberalismo adaptado ao interesse das elites rurais que lideraram a Revolução Farroupilha e o processo de independência do Uruguai. Em uma perspectiva comparada, objetivamos localizar os pontos de encontro e desencontro entre os ideais expostos pelos revoltosos farroupilhas e uruguaios considerado o liberalismo das primeiras décadas do século XIX. Palavras-chave : Região Liberalismo Constituição ABSTRACT: The objective of this article is to analyze historically the Rio Grande draft Constitution (1843) and the Uruguayan Constitution (1830). The two legal documents mirrored in legal terms a particular historical context of Rio Grande do Sul region and Uruguay and reflected what we call liberalism caudillo. That is, liberalism adapted to the interests of rural elites who led the Farroupilha Revolution and the Uruguayan independence process. In a comparative perspective, we aim to find the meeting points and mismatch between the ideals exhibited by farroupilhas and Uruguayan rebels considered the liberalism of the early nineteenth century. Keywords: Region - Liberalism - Constitution Considerações Iniciais Marc Bloch, em 1928, já propunha “estudar paralelamente as sociedades ao mesmo tempo vizinhas e contemporâneas, constantemente influenciadas umas pelas outras, sujeitas em seu desenvolvimento, devido a sua proximidade e a sua sincronização, à ação das mesmas grandes causas, e remontando, ao menos parcialmente, uma origem comum”. ( BLOCH, 1983) Os processos históricos desenvolvidos na região meridional da América do Sul, especificamente a porção que abarca o território do Rio Grande do Sul e Uruguai, apresentaram, em tempos diferentes, variáveis comuns. No início, a região foi conformada pela aproximação dos povos que ali viviam, autóctones que ignoravam qualquer marca fronteiriça. Mais tarde, as guerras hispano-portuguesas pela demarcação do território se alongaram no tempo, demonstrando o caráter dinâmico da Doutora em História. Docente do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo. * Doutorando em História. Docente do curso de Direito da Universidade de Passo Fundo.

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ESTUDIOS HISTÓRICOS – CDHRPyB- Año VIII - Julio 2016 - Nº 16 – ISSN: 1688 – 5317. Uruguay

1

Experiências constitucionais no Uruguai de 1830 e no Rio Grande do

Sul de 1843: um ensaio de liberalismo caudilho

Ana Luiza Setti Reckziegel

Felipe Cittolin Abal*

RESUMO: O objetivo do artigo consiste em analisar historicamente o projeto de Constituição Rio-

Grandense (1843) e a Constituição Uruguaia (1830). Os dois documentos legais espelharam em termos

jurídicos um contexto histórico particular da região rio-grandense e uruguaia e refletiram o que

denominamos de liberalismo caudilho. Isto é, um liberalismo adaptado ao interesse das elites rurais

que lideraram a Revolução Farroupilha e o processo de independência do Uruguai. Em uma

perspectiva comparada, objetivamos localizar os pontos de encontro e desencontro entre os ideais

expostos pelos revoltosos farroupilhas e uruguaios considerado o liberalismo das primeiras décadas do

século XIX.

Palavras-chave : Região – Liberalismo – Constituição

ABSTRACT: The objective of this article is to analyze historically the Rio Grande draft Constitution

(1843) and the Uruguayan Constitution (1830). The two legal documents mirrored in legal terms a

particular historical context of Rio Grande do Sul region and Uruguay and reflected what we call

liberalism caudillo. That is, liberalism adapted to the interests of rural elites who led the Farroupilha

Revolution and the Uruguayan independence process. In a comparative perspective, we aim to find the

meeting points and mismatch between the ideals exhibited by farroupilhas and Uruguayan rebels

considered the liberalism of the early nineteenth century.

Keywords: Region - Liberalism - Constitution

Considerações Iniciais

Marc Bloch, em 1928, já propunha “estudar paralelamente as sociedades ao

mesmo tempo vizinhas e contemporâneas, constantemente influenciadas umas pelas

outras, sujeitas em seu desenvolvimento, devido a sua proximidade e a sua

sincronização, à ação das mesmas grandes causas, e remontando, ao menos

parcialmente, uma origem comum”. ( BLOCH, 1983)

Os processos históricos desenvolvidos na região meridional da América do Sul,

especificamente a porção que abarca o território do Rio Grande do Sul e Uruguai,

apresentaram, em tempos diferentes, variáveis comuns. No início, a região foi

conformada pela aproximação dos povos que ali viviam, autóctones que ignoravam

qualquer marca fronteiriça. Mais tarde, as guerras hispano-portuguesas pela

demarcação do território se alongaram no tempo, demonstrando o caráter dinâmico da

Doutora em História. Docente do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo. * Doutorando em História. Docente do curso de Direito da Universidade de Passo Fundo.

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2 região. O trânsito comercial, as semelhanças econômicas, a parecença cultural, as

alianças familiares, já submetidos às marcas dos limites coloniais e, mais tarde,

nacionais, constituíram eixos sob as quais se pode perceber a região. De acordo com

a evolução da ocupação desse espaço, configurou-se aí uma região em si mesma, um

fenômeno concreto e observável. Essa região histórica, elementar, considerada como

um espaço dinâmico e mutante é a base de nosso trabalho enquanto território sobre o

qual analisaremos a letra constitucional .

Para além desse entendimento de região, aplicaremos ao termo o raciocínio

metodológico. Isto quer dizer que entendemos região como um conceito para análise

científica, uma categoria de análise. Categoria que permite comparar duas realidades

políticas a partir da organização dos respectivos textos constitucionais, verificando de

que maneira as idéias políticas se manifestaram naquele momento e foram traduzidas

de acordo com os respectivos contextos. Para tal objetivo usaremos o recurso da

análise comparada preconizada por Marc Bloch que afirma que em história a

comparação consiste em

[...] fazer a escolha, em um ou mais meios sociais diferentes, de

dois ou mais fenômenos que pareçam, à primeira vista,

apresentar entre si certas analogias, descrever as curvas de suas

evoluções, constatar as semelhanças e as diferenças e, dentro do

possível, explicar umas e outras (BLOCH, 1983, p. 17)

Essa comparação, segue o autor, prescinde de condições tais como “ ...uma

certa similitude entre os fatos observados e uma certa dessemelhança entre os meios

onde eles foram produzidos” (BLOCH 1983, p. 17). Ainda, o historiador francês

afirma que o método comparativo pode ser entendido como um instrumento de

técnica, de uso corrente, que leva a resultados positivos, sendo possível levantar

questões e problemas quando se deixa o espaço nacional e se abrem horizontes menos

estreitos. (BLOCH 1983).

É nessa perspectiva que situamos o trabalho de comparar as ideias políticas dos

textos constitucionais do Uruguai e do Rio Grande do Sul, espaços regionais

compartilhados nos quais a fronteira não foi suficiente para separar realidades

historicamente construídas.

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3 Note-se aqui que nos estudos que propõem a comparação, esta é mais implícita

do que explícita. Do mesmo modo, a comparação ocorre geralmente no âmbito da

nação. Comparar regiões transnacionais é mais raro na historiografia. E usar a

comparação para evidenciar identidades regionais, também não é muito comum. O

desafio, portanto, é fazermos um ensaio que reflita a problemática dos textos

constitucionais de 1830 e de 1843 no contexto regional, evidenciando suas

aproximações e afastamentos.

I – A Banda Oriental : uma região conflagrada

Se o trânsito inter-fronteiriço foi constante, no século XIX evidenciou-se um

estreitamento ainda maior nas relações bilaterais a partir da invasão portuguesa na

Banda Oriental e a posterior incursão de tropas artiguistas no território sul-rio-

grandense. Nesse contexto, as interações econômicas, sociais, políticas e culturais

foram ampliadas em razão da guerra. Neste período, “o intercâmbio comercial, a

circulação de pessoas, as alianças e a identidade de interesses de grupos sociais

estavam acima do sentimento patriótico e de identidade nacional” (REICHEL;

BANDIERI, 2011, p. 25-27). Corrobora com esta afirmação os fatos de que 70% dos

criadores de gado no norte do Uruguai eram brasileiros, o contrabando existente na

fronteira entre os dois países e a necessidade detectada pelo governo uruguaio de

promover ações educacionais para o ensino do espanhol como língua oficial

(REICHEL; BANDIERI, 2011, p. 23).

Juntamente com os negócios, as ideias também circularam. Essa

permeabilidade, existente apesar das tentativas do governo central do Brasil de

afirmar o seu domínio absoluto sobre o Rio Grande do Sul, foi o principal responsável

pela possibilidade de livre trânsito de ideias e projetos políticos (PICCOLO, 2003 p.

33).

As guerras de Artigas pela independência do Uruguai visaram atacar tanto os

invasores portugueses quanto as pretensões de Buenos Aires de incorporar as terras

orientais. Artigas sustentava que o novo Estado que se formasse com as províncias

que constituíam o vice-reino do Rio da Prata adotasse a fórmula federativa, de

maneira que cada província conservasse a sua autonomia, ao contrário dos portenhos

que advogavam a forma centralizadora de administração. Foi neste ponto que Artigas

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4 mais se afastou de Buenos Aires. Na sua ótica, o sistema federativo previa duas

etapas: a primeira, a do pacto, tipicamente confederativa, que contemplaria a

necessidade da luta pela liberdade e defesa comum; a segunda, a da organização

constitucional, combinada com normas do tipo confederativo, destinadas a prevenir

contra o poder hegemônico de Buenos Aires. (RECKZIEGEL, 1999, p. 47)

As fórmulas políticas federativas completavam-se com as cláusulas nas

quais se defendia as aspirações econômicas. Consagrava-se a liberdade de comércio

inter-provincial, exigindo que não se colocasse nenhuma tarifa as artigos exportados

de uma província à outra, uma vez que as Províncias Unidas, além de um

conglomerado político, constituiriam também uma unidade econômica que não devia

descaracteriza-se com alfândegas interiores.( RECKZIEGEL, 1999, p. 48)

As agressões na área de fronteira entre o Uruguai e o Rio Grande do Sul e a

desestabilização da região trazidas pelo movimento artiguista foram a desculpa

necessária para que D. João VI ordenasse a invasão da Banda Oriental. Em 1816 um

exército bem preparado cruzou a fronteira sul do Rio Grande em uma rápida

campanha que no início do ano seguinte já chegava às portas de Montevidéu, a qual

recebeu o general português Lecor com festas e aclamações (SÁNCHEZ GÓMEZ,

2009, p. 35).

Os conflitos em território uruguaio, que após a incorporação ao Brasil passou

a ser denominado província Cisplatina, terminaram efetivamente três anos depois

com a vitória portuguesa em Tacuarembó e a capitulação de Rivera em Tres Árboles

em 1820. Iniciou-se, então, o governo de Lecor com a adesão expressa ou tácita da

oligarquia da capital, que estava contrariada com os preceitos econômicos da

revolução artiguista (CASTELLANOS, 2011, p. 5-6).

Um dos problemas mais graves para o governo de Lecor dizia respeito à

questão rural, uma vez que deviam ser sopesados os interesses dos conquistadores e

dos reclamantes das terras desapropriadas por Artigas e assoladas por quatro anos de

lutas. As atitudes do general, apesar de darem uma aparência de equidade e

formalidade, vieram a favorecer apenas os grandes proprietários do período pré-

Artigas e do novo regime português. Em relação ao comércio, foram tomadas

medidas protecionistas ao comércio, navegação e aos estancieiros brasileiros, fazendo

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5 com que a província oriental retroagisse a seu período colonial sob o domínio

espanhol (CASTELLANOS, 2011, p. 7-13).

Tendo em vista seu iminente retorno a Portugal, D. João VI ordenou a eleição

de um Congresso que decidiria os rumos da província oriental, podendo optar entre se

unir à Coroa portuguesa, declarar-se independente ou se agregar a outro governo, com

a evacuação das tropas portuguesas. Observando o estado de anarquia existente no

panorama interno e nas ex-colônias espanholas, através de um processo de exclusão,

optou o Congresso, por unanimidade, se incorporar à monarquia portuguesa

(SÁNCHEZ GÓMEZ, 2009, p. 40-41).

Em 1822, a independência do Brasil provocou a ruptura da unidade das forças

luso-brasileiras de ocupação. Lecor se posicionou favorável ao Imperador brasileiro,

constituindo o grupo dos “imperiais”. E os ocupantes partidários da Coroa portuguesa,

a mando do brigadeiro Álvaro da Costa de Souza Macedo, fiel a D. João VI,

começaram a ser tratados como os “lusitanos” ou “talaveras”.

Nesses momentos decisivos, se organizou em Montevidéu uma sociedade política

secreta aos moldes maçônicos denominada de “Cavaleiros Orientais”, tendo como

finalidade a libertação de sua província dos poderes portugueses e brasileiros

(CASTELLANOS, 2011, p. 21-22).

Em novembro de 1823, depois de terem frustrados seus planos de resistência à

dominação brasileira, Lecor e Álvaro Costa pactuaram o término das disputas e, em

fevereiro do ano seguinte, Costa e as forças portuguesas partiram de Montevidéu

dando fim à dominação lusitana. Em março, Lecor fez sua segunda entrada na capital

junto das forças imperiais, dando início à dominação brasileira, que foi chancelada

pelo Conselho da província em maio através da proclamação e juramento ao

Imperador do Brasil e subsequente juramento à Constituição brasileira

(CASTELLANOS, 2011, p. 28-29).

Seguindo os passos de D. Pedro I, Lecor também passou a tomar uma atitude

autocrática, primando pelos interesses brasileiros em detrimento aos locais e

favorecendo um grupo, que ficou conhecido como o “clube do Barão”. Lecor

privilegiou o uso do porto de Buenos Aires, prejudicando os comerciantes

montevideanos, trazendo descontento aos donos de estâncias com a proibição de abate

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6 de animais e o desvio de gado para o Rio Grande do Sul. Somado a isto, foi crescendo

um movimento de partidários favoráveis à união com Buenos Aires, que havia

realizado um tratado de comércio com a Grã-Bretanha, que se tornava mais atrativa

aos orientais (SÁNCHEZ GÓMEZ, 2009, p. 46).

Estes fatos, unidos a uma intervenção fiscal nas operações e transações sobre a

terra, contribuíram para o início da “Cruzada Libertadora” ou “Cruzada dos Trinta y

Três” em 1825, encabeçada por Fructuoso Rivera e Juan Antonio Lavalleja e com

grande apoio dos saladeristas de Buenos Aires, interessados nos riquíssimos campos

uruguaios, que em pouco tempo conquistaram o interior da província Cisplatina,

remanescendo apenas Montevidéu e Colônia como redutos imperiais (SÁNCHEZ

GÓMEZ, 2009, p. 46-48).

É nítido o caráter elitista da insurreição uruguaia contra a dominação

brasileira. Apesar de existir um fator político ligado à insatisfação dos líderes do

movimento, os principais motivadores do descontentamento estavam ligados a

questões comerciais e econômicas, especialmente dos criadores de gado, detentores

de propriedades rurais e saladeristas.

As principais bases da revolução artiguista ligadas à população, como a

redistribuição de terras, foram deixadas em segundo plano, sendo que as mais

importantes reivindicações estavam ligadas à exploração dos meios de produção e à

questão tributária.

No mês de outubro de 1827, Lavalleja deu um golpe de Estado e se

estabeleceu como governador da província e, em agosto de 1828, foi firmada no Rio

de Janeiro a Convenção Preliminar de Paz, sob os auspícios e interesses da Coroa

britânica, dando independência à Província Cisplatina (CASTELLANOS, 2011, p.

70).

A autonomia da província Cisplatina proporcionou significativo ganho

econômico à classe dominante local, composta pelos estancieiros e saladeiristas,

possuidores de um dos mais importantes portos da região e dos melhores campos para

a criação de gado. A economia uruguaia detinha, a partir de então, condições de

prosperar em detrimento da centralização brasileira e da desorganização das

províncias argentinas.

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7 A Convenção Preliminar de Paz acabou por se revestir de um status de

concessão graciosa por parte das potências signatárias, tendo o Imperador do Brasil

declarado a independência, juntamente com a República das Províncias Unidas

(CASTELLANOS, 2011, p. 73-74). O mesmo documento previa, em seu artigo 6 e

7, o dever da República Oriental de formar um Governo provisório e criar uma

Constituição política para este novo Estado (CASTELLANOS, 2011, p. 81).

II - O Rio Grande do Sul Farroupilha

Já no final do século XVIII, a produção do charque no Rio Grande do Sul,

gerava o enriquecimento dos estancieiros e, ao mesmo tempo, criava tensões

crescentes com o governo central em razão dos impostos sobre a produção, os quais

tirava-lhe poder de concorrência com o charque platino.

É certo que, no período de conflitos ocorridos na Banda Oriental entre 1810 e

1820, a desorganização da produção dos saladeiros em razão da guerra, beneficiou os

estancieiros sul- rio-grandenses (PESAVENTO, S/d, p. 34-35).

A anexação da Banda Oriental ao Brasil e a proclamação da independência,

porém, trouxeram revezes aos produtores de charque do Rio Grande do Sul. Como o

charque se direcionava especialmente ao consumo interno brasileiro, interessava aos

compradores do produto um preço baixo. Para obter este valor menor, o poder central

reduziu as tarifas alfandegárias do charque vindo da província Cisplatina, mas, para

não diminuir a arrecadação de impostos que sustentavam o poder central, foram

aumentadas as taxas sobre outros produtos, como o sal, imprescindível para a

produção do charque no Rio Grande do Sul. Esta política do governo central era

exatamente oposta ao protecionismo exigido pelos produtores do Rio Grande do Sul

(PESAVENTO, S/d, p. 39-40).

Ainda, em fins de 1822 e princípio de 1823, diversas reclamações foram

apresentadas pela junta governativa do Rio Grande do Sul na Corte: o abandono do

estado, os altos impostos sobre o charque, couros e erva-mate (SPALDING, 1982, p.

13). Apesar destes fatos que já traziam preocupações aos criadores de gado rio-

grandenses, a possibilidade de se trazer gado da província Cisplatina ao Rio Grande

do Sul ainda era o motor do sucesso econômico da região.

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8 O panorama de bem-estar econômico, porém, vem abaixo com a

independência da Cisplatina. A partir de então, o gado uruguaio deixou de seguir para

o Rio Grande do Sul e passou a ser direcionado aos saladeros platinos, que

começaram a se rearticular (PESAVENTO, S/d, p. 42). A independência da Cisplatina

começava a demonstrar o seu reflexo para os proprietários de terra do Rio Grande.

Aqueles que seriam os líderes da revolta farroupilha não estavam alheios a

esta situação. Na realidade, eles conheciam de perto as vicissitudes passadas pelos

platinos, desde os prejuízos trazidos pela anexação à Coroa lusa e, posteriormente,

brasileira, até os benefícios da independência para os estancieiros e saladeristas.

Bento Gonçalves, alcaide de Cerro Largo, casado com uma uruguaia e

detentor de terras na Banda Oriental, lutou nas guerrilhas das tropas luso-brasileiras

em 1816 e protegeu o caudilho Juan Lavalleja, seu amigo pessoal. Bento Manuel

Ribeiro foi companheiro de armas de Fructuoso Rivera, a quem auxiliou entre 1824-

1825. Antônio Paulino da Fontoura, em 1835, ajudou Lavalleja a adquirir uma

estância em Entre Rios, de onde pretendia iniciar mais um embate pelo poder. É nítida

a íntima ligação entre os líderes uruguaios e farroupilhas (FLORES, 1982, p. 71-72).

Assim, apesar da Moacyr Flores colocar que “isso não significa que o

movimento dos farrapos seja platino” (1982, p. 72), fica clara a influência dos

movimentos da Banda Oriental no pensamento farroupilha. As questões federalistas,

republicanas e liberais trazidas pelos líderes uruguaios certamente influenciaram o

pensamento dos líderes farroupilhas, uma vez que existia uma identidade entre os

uruguaios e sul- rio-grandenses. Tão íntimas eram as relações entre os líderes do

movimento farroupilha e os vizinhos uruguaios que, em 1833, Bento Gonçalves

chegou ser chamado ao Rio de Janeiro para se defender da acusação de estar

auxiliando os rebeldes uruguaios comandados por Lavalleja. Apesar da desconfiança,

continuaria como comandante da fronteira em Jaguarão e conseguiria até a

substituição do governador da província, José Mariani, por Antônio Rodrigues

Fernandes Braga (SPALDING, 1982, p. 16-17).

Em meio ao descontentamento no sul do país em relação aos impostos, a

instabilidade econômica dos estancieiros e as disputas políticas na província, foi

decretado o Ato Adicional, em 1834, que concedia poder legislativo aos conselhos

provinciais, o que se transformou em um fator preponderante ao início da revolta

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9 farroupilha. Em 20 de abril de 1835, na abertura da Assembléia Legislativa

Provincial, o Presidente Fernandes Braga e o comandante de armas Sebastião Barreto

Pereira Pinto acusaram novamente Bento Gonçalves e outros liberais de possuir laços

com os caudilhos platinos e de professar ideias republicanas (PESAVENTO, S/d, p.

45-46).

Este evento foi o catalisador necessário para que eclodisse a revolta. No final

de agosto, Bento Gonçalves pediu licença para se retirar ao estrangeiro, quando, na

realidade, cooptava os últimos apoiadores para seu movimento. Em 20 de setembro

ingressaram em Porto Alegre as forças revoltosas, depondo o Presidente Fernandes

Braga e empossando o 4 vice-presidente, Marciano Pereira Ribeiro (SPALDING,

1982, p. 27).

Começava, então, a revolta farroupilha, cujas causas, segundo Spencer

Leitman:

[...]embora fossem primordialmente determinadas pelas

circunstâncias internas resultantes de uma sociedade rural baseada numa

economia de monocultura, acontecimentos externos, como o sucesso das

revoluções republicanas dos países do Prata, e a manutenção das relações

político-econômicas com os caudilhos platinos, ajudaram a despertar a

consciência política (1979, p. 49).

Nesse momento cabe colocarmos a escolha pela expressão “revolta

farroupilha” em detrimento a “revolução farroupilha”. Norberto Bobbio expõe a

diferenciação de uma revolução em seu sentido político de outras figuras como a

rebelião e a revolta:

A Revolução e a tentativa, acompanhada do uso da violência, de

derrubar as autoridades políticas existentes e de as substituir, a fim de

efetuar profundas mudanças nas relações políticas, no ordenamento jurídico-

constitucional e na esfera sócio-econômica. A Revolução se distingue da

rebelião ou revolta, porque esta se limita geralmente a uma área geográfica

circunscrita, e, o mais das vezes, isenta de motivações ideológicas, não

propugna a subversão total da ordem constituída, mas o retorno aos

princípios originários que regulavam as relações entre as autoridades

políticas e os cidadãos, e visa a satisfação imediata das reivindicações

políticas e econômicas. A rebelião pode, portanto, ser acalmada tanto com a

substituição de algumas das personalidades políticas, como por meio de

concessões econômicas (1998, p. 1121) .

Dessa forma, pode-se denotar que o objetivo dos farroupilhas não era o de

realizar profundas mudanças políticas, mas sim o de restabelecer as relações

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10 econômicas existentes que lhes eram favoráveis. Assim, não se tratava de uma

revolução, mas de uma revolta.

No dia 25 de setembro Bento Gonçalves publicou um manifesto, justificando

o movimento do dia 20. Neste documento, pode ser visto o caráter liberal-elitista dos

farroupilhas. Colocou Bento Gonçalves que o ocorrido se dera pela “má e odiosa”

administração de Braga e que tinha por fim “restaurar o imperio da lei [...]

sustentando o trono do nosso jovem monarca e a integridade do Imperio”, o que

demonstrava seu pensamento de não romper relações com o Imperador, mas de buscar

o retorno ao status quo ante, em que a elite rio-grandense detinha maiores condições

de prosperar economicamente.

Criticou, ainda, medidas como a concessão de empregos públicos, a criação

da Guarda Nacional de Cavalaria, a violação ao instituto do habeas corpus e a

“introdução de africanos e da moeda de cobre” na província e o imposto sobre a

propriedade que havia sido estabelecido. Seu parágrafo de conclusão iniciava com a

seguinte frase: “Com o triunfo dos princípios liberais, minha ambição está satisfeita

[...]” (SPALDING, 1982, p. 91-97).

Em 11 de setembro de 1836, um dia após a vitória na batalha do Seival,

mesmo diante da derrota de Bento Gonçalves no Fanfa, Antônio de Souza Neto

proclamou a República Rio-Grandense, separando o Rio Grande do Sul do Brasil. A

questão republicana e separatista na revolta farroupilha é alvo de debate entre os

estudiosos do tema.

Fernando Callage afirma que a revolta possuía um ideal republicano e Neto,

defensor do republicanismo, realizou tal ato com a intenção de que ele se espalhasse

para o resto do país. Rubens de Vasconcelos concorda, colocando que o

desmembramento do país não era nada mais do que um meio para se chegar ao

republicanismo. Alfredo Varela, porém, aponta que o ato de Souza Neto é uma

resposta a Oribe, que desejava que o Rio Grande do Sul se unisse a uma federação

platina (apud FLORES, 1982, p. 118).

Spalding, por sua vez, expõe que a proclamação da república foi um ato de

desforra. Uma vez que o governo central se recusara a reconhecer os direitos

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11 almejados pelos farroupilhas, não restava solução além de proclamar a república e

separar-se do Brasil (1982, p. 42).

Moacyr Flores, de sua parte, coloca que o pensamento republicano já existia

no Rio Grande do Sul antes da revolta. Ainda, o objetivo principal dos farroupilhas, a

maior autonomia, que adviria do federalismo, estava intimamente ligado à república.

Com esse modelo, seria possível que outras províncias brasileiras optassem pelo

republicanismo e se unissem à República Rio-Grandense em um sistema federalista,

como foi tentado em relação à Santa Catarina, quando da efêmera duração da

República de Santa Catarina (1982, p. 125-126).

Os passos seguintes para o estabelecimento da soberania da República Rio-

Grandense foram tomados na sequência: em 6 de novembro de 1936, na vila de

Piratini, a Câmara Muncipal elegeu Bento Gonçalves como presidente e Antônio

Paulo da Fontoura, José Mariano de Matos e Inácio José de Oliveira Guimarães como

vice-presidentes. Como Bento Gonçalves estava preso na Bahia, não pôde assumir o

cargo de imediato. Naquele momento já estava prevista a elaboração de uma

Constituição própria e se estabeleceu que, até que esta fosse aprovada, se utilizariam a

Constituição e as leis do Império em tudo que não se contrapusessem aos ideais da

República. (FLORES, 1982, p. 126-127).

A questão do republicanismo e da independência terem servido como um

modo de se obter as vantagens de um sistema federativo para as elites agrárias que

compunham a liderança farroupilha está posta no “Manifesto as nações civilizadas”

escrito por Bento Gonçalves, em 1838. O líder farroupilha criticou a centralização do

governo imperial e os prejuízos ao Rio Grande do Sul, as políticas tributárias que

acarretavam perdas aos produtores de charque e o envio de dinheiro para outras

províncias, entre outros. Colocou Bento Gonçalves que, em vista disto, “um só

recurso nos restava, um único meio se oferecia à nossa salvação; e este recurso e este

meio único era a nossa Independência Política e o Sistema Republicano [...]”

(PESAVENTO, S/d, p. 57-59).

A independência política, porém, precisava de um aparato legal que a

sustentasse. Desta forma, em 1 de dezembro de 1942 se instalava a Assembléia

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12 Constituinte, na cidade do Alegrete e, dois meses depois, surgia o Projeto de

Constituição da República Rio-Grandense.

III - O liberalismo no contexto do século XIX

Tratar a respeito do liberalismo é uma tarefa árdua, uma vez que o termo

“liberal” costuma ser utilizado descolado de seu respectivo contexto histórico.

Porem, nas palavras de Bobbio, “temos inúmeros liberais diferentes entre si, mas não,

o Liberalismo” (1998, p. 688).

O liberalismo possui alguns núcleos básicos, sendo imprescindível lembrar o

seu princípio de mínima intervenção estatal:

Na epoca do capitalismo nascente, lutaram a favor da liberdade

econômica: o Estado não deveria se intrometer no livre jogo do mercado

que, sob determinados aspectos, era visto como um Estado natural, ou

melhor, como uma sociedade civil, fundamentada em contratos entre

particulares. Aceitava-se o Estado somente na figura de guardião, deixando

total liberdade (laissez faire, laissez passer) na composição dos conflitos

entre empregados e empregadores, ao poder contratual das partes; nos

conflitos entre as diferentes empresas (no ambito nacional assim como no

supranacional), ao poder de superação da concorrência que sempre

recompensa o melhor (BOBBIO, 1998, p. 693).

Esse princípio que coloca o Estado como um ente cujo papel fundamental é o

de guardião das liberdades individuais, era o maior atrativo para os revoltosos

farroupilhas e líderes da nova nação uruguaia. O mais importante seria deixar com

que os detentores da propriedade pudessem agir livremente, sem qualquer embaraço

por parte do governo, para que pudessem gerar e acumular mais riqueza.

Locke, em seu Segundo Tratado sobre o Governo, já colocava a questão da

propriedade como o centro do liberalismo. Segundo ele, este se fundaria em dois

pontos: primeiramente, que todos os homens são naturalmente livres, iguais e

independentes. Em segundo lugar, que a finalidade primordial do governo é a

conservação da propriedade como um direito natural do homem (LOCKE, 1998, p.

468-495).

Os doutrinadores Streck e Morais utilizam a proposta de Roy Macridis para

dividir o liberalismo em três núcleos distintos: moral, político e econômico,

resumindo a base fundamentadora do pensamento liberal (STRECK; MORAIS, 2010,

p. 58-59).

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13 O núcleo moral tem como base a proteção do indivíduo perante o Estado,

afirmando os direitos básicos do indivíduo e prevendo as liberdades individuais. O

núcleo político se baseia na necessidade do consentimento individual através

representação por uma legislatura eleita pelo povo, no constitucionalismo, com fins de

limitar o poder político, prever direitos fundamentais e separar os poderes, e na

soberania popular. O núcleo econômico, por sua vez, é calcado na propriedade

privada e na economia de mercado ausente de controle estatal (STRECK; MORAIS,

2010, p. 59-61).

É com base nestas definições a respeito dos núcleos básicos do liberalismo

que passaremos a realizar a análise dos textos legais uruguaio e sul- rio-grandense.

IV - Constituição Uruguaia de 1830 e projeto de Constituição da República Rio-

Grandense de 1843: o que há para comparar

Conforme expusemos até o momento, era essencial para a independência

uruguaia e para a concretização da revolta farroupilha a criação de documentos

jurídicos que fundamentassem sua existência. Não se poderia falar em um novo

Estado sem que este detivesse uma norma jurídica central.

Assim, em 1842 ocorreu a votação para a escolha dos 36 representantes que

formariam a Assembléia Constituinte da República Rio-Grandense. Essa eleição foi

realizada de forma indireta, tendo direito a voto os “grandes eleitores” indicados pelos

cidadãos de cada Província (SILVA, 2011, p. 145).

O candidato a deputado deveria ter pelo menos 21 anos, ter renda anual de

mais de 300 mil réis e ser católico (FLORES, 1982, p. 156). A votação teve como

mais votado o Padre Chagas, com 3.025 votos. Bento Gonçalves obteve 1.964 votos,

Souza Neto 1.253 e David Canabarro ficou com apenas 855 votos, restando-lhe a

condição de suplente (SILVA, 2011, p. 86).

Terminaram as votações com a eleição de 14 militares, 5 fazendeiros, 5

padres, 3 negociantes, 3 ministros, 2 doutores, 1 proprietário, 1 funcionário, 1

cirurgião, 1 secretário e 1 advogado (FLORES, 1982, p. 157). Observando-se que a

maioria dos representantes era militar e fazendeiro (lembrando que estes militares

farroupilhas eram, por sua vez, também estancieiros) pode-se afirmar que a

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14 Assembléia eleita refletia os interesses da classe detentora de terras e bens,

impossibilitando qualquer participação das classes mais baixas.

Quando da instalação da Assembléia Constituinte, apenas 22 deputados

estavam presentes e, em 10 de fevereiro de 1943, sem a aprovação do projeto

apresentado, dissolveu-se a reunião (DA SILVA, p. 145). Apesar disso, o projeto

realizado e assinado por uma comissão composta por Ulhoa Cintra, Francisco de Sá

Brito, José Mariano de Matos, Serafim dos Anjos França e Domingos José de

Almeida, serve como importante subsidio para averiguar as similitudes de ideias entre

os revoltosos farroupilhas e seus vizinhos uruguaios.

Dentre os principais tópicos de ambos os textos legais, destacamos que o

projeto de Constituição Rio-Grandense apresentava em seu primeiro artigo os ideais

de independência e republicanismo.

Art. 1.° - A República do Rio Grande e a associação

política de todos os cidadãos rio-grandenses. Eles formam uma

nação livre e independente, que não admite com qualquer outro

laço algum de união, ou federação, que se oponha a independência

de seu regime interno.

A primeira preocupação existente foi em relação à liberdade e independência, da

mesma forma que pode ser visto na Constituição Uruguaia de 1830 em seus dois

primeiros artigos:

Articulo 1. El Estado Oriental del Uruguay es la

asociacion politica de todos los ciudadanos comprendidos en los

nueve departamentos actuales de su territorio.

Articulo 2º. El es y sera para siempre libre, e

independiente de todo poder extranjero.

A diferença principal que pode ser vista nesse primeiro momento é que,

enquanto os farroupilhas se ocuparam de colocar a questão do republicanismo já no

momento inicial de sua carta, os uruguaios inseriram a forma republicana apenas em

seu artigo 13: El Estado Oriental del Uruguay adopta para su gobierno la forma

representativa republicana.

Como afirmado anteriormente, a discussão quanto ao republicanismo não era

novidade. Ele enfronhava uma ambição de descentralização política que havia sido

pleiteada por ambas as regiões, rio-grandense e uruguaia.

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15 Por outro lado, ambos os documentos previam, em seu artigo 5, a religião

Católica Apostólica Romana como a oficial do Estado. Apesar de que no projeto Rio-

Grandense constava a liberdade de culto dentro das residências ou locais destinados

para isso, nos mesmos moldes da Constituição do Império de 1824. No entanto, ao

largo desta aparente liberalidade, os não católicos estavam excluídos de participar dos

governos.

Os textos também versaram a respeito da cidadania, estabelecendo quem

seriam os cidadãos legais e naturais dos Estados. O projeto de Constituição Rio-

Grandense trazia o seguinte em seu artigo . 6.°: “ São cidadãos rio-grandenses: I -

Todos os homens livres nascidos no território da República;”. Da mesma forma, a

Constituição Uruguaia, em seu artigo 7 apontava: Ciudadanos naturales son todos

los hombres libres, nacidos en cualquier parte del territorio del Estado. Os escravos,

em um lado e outro da fronteira, não foram alcançados pela cidadania. Somente os

homens livres constaram nos textos jurídicos.

Ainda, um determinado texto legal pode ser analisado levando-se em

conta tanto o seu conteúdo quanto o que ele deixa de determinar. Assim como ocorreu

na Constituição Imperial de 1824, trata-se de uma omissão consciente. A questão da

escravidão não foi trazida em nenhum momento do projeto. O que ocorreu foi a

tentativa de se conciliar a realidade social com o ideário liberal, resultando em uma

enorme contradição: um discurso liberal com a manutenção da escravidão.

A Constituição Uruguaia, por sua vez, trazia em seu artigo 131: En el

territorio del Estado, nadie nacera ya esclavo; queda prohibido para siempre su

trafico e introduccion en la Republica. Desta maneira, apesar de não considerar os

escravos já existentes como cidadãos, a Carta Magna uruguaia já trazia em seu corpo

a proibição do tráfico de escravos e a liberdade para todos os que nascessem em

território uruguaio, o que representou um grande avanço em relação aos vizinhos rio-

grandenses e brasileiros.

Outro tema constante nos textos legais referiu-se à questão da soberania

popular. Para o documento farroupilha, em seu artigo 9, estava posto que:

A soberania reside essencialmente no povo, e todo o cidadão e

membro dela. A nação não pode exercer as atribuições da

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soberania imediatamente por si mesma, mas sim por meio das

eleições, nos casos e pelo modo que a lei determinar.

Por seu turno, a Constituição uruguaia, também em um artigo 9º, referia que

Todo ciudadanos es miembro de la soberania de la Nacion; como tal, tiene voto

activo y pasivo en los casos y formas que mas adelante se designaran.

A soberania popular é uma das bases mais importantes dos liberais contratualistas.

Neste ponto, ambos os documentos se fundamentaram nos pensamentos de Rousseau,

Locke e Hobbes para formular o embasamento da soberania. Da mesma maneira, os

textos trouxeram a divisão dos poderes através do Executivo, Legislativo e Judiciário.

No artigo 10 do projeto de constituição farroupilha e no artigo 14 da Constituição

uruguaia, vinha a baila o pensamento de outro doutrinador liberal, Montesquieu,

acreditando que a separação dos poderes, a criação de leis e a eleição do poder

legislativo, eram os meios mais propícios para se evitar eventuais abusos por parte do

poder executivo.

O poder legislativo era delegado à Assembléia Geral, composta pelos

deputados e senadores, o que estava posto no artigo 12 do projeto de constituição

farroupilha e no artigo 15 da Constituição uruguaia. Os deputados seriam eleitos

através do voto direto, conforme previsto no artigo 17 do projeto de constituição

farroupilha e no artigo 18 da Constituição uruguaia. Enquanto os senadores seriam

escolhidos pelo voto indireto, de acordo com o artigo 28 do projeto de constituição

farroupilha e também no artigo 28 da Constituição uruguaia. No caso Farroupilha, os

cidadãos divididos por distritos escolheriam os eleitores e esses elegeriam os

senadores, o que estava disposto no artigo 89.

Para se candidatar a senador o projeto de Constituição Farroupilha exigia que

se tratasse de cidadão rio-grandense, com pelo menos trinta e cinco anos de idade,

“que seja pessoa de saber, capacidade e virtudes, com preferência os que tiverem feito

serviços a Pátria” e com renda anual de seiscentos mil reis, regido no artigo 39. A

Constituição uruguaia seguia na mesma linha, apesar de conter certas diferenças.

Segundo o artigo 30, deveria se tratar de cidadão uruguaio, com ao menos trinta e

três anos de idade e um capital de dez mil pesos ou renda equivalente. Novamente

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17 ficavam alijados das decisões de Estado todas aquelas que não fossem pessoas com

propriedades ou renda.

O projeto Farroupilha previa já em seu corpo quais os cidadãos que

possuiriam direito ao voto, enquanto a Constituição uruguaia carecia de uma

legislação complementar. Colocava o projeto, em seu artigo 91, que poderiam votar

nas eleições primárias os cidadãos rio-grandenses no gozo de seus direitos políticos e

os estrangeiros naturalizados. Cabe destacar a previsão do artigo seguinte, quanto aos

excluídos do processo eleitoral:

Art. 92 - São excluídos de votar nas assembleias paroquiais:

I - Os menores de 21 anos, em cujo número se não compreendem os

casados e oficiais militares, que forem maior de 18 anos, os bachareis

formados e os clerigos de ordens sacras;

II - Os filhos de família que viverem na companhia de seus pais, menos se

servirem em ofícios públicos;

III - Os criados de servir, em cuja classe não entram os guarda-livros e

primeiros caixeiros das casas de comercio e os administradores das

fazendas rurais e fábricas.

IV - Os religiosos e quaisquer que vivem em comunidade claustral.

V - Os soldados, anspeçadas, e cabos de exercito de linhas.

VI - Os que não sabem ler nem escrever.

VII - Os que não tiverem de renda anual cem mil reis por bens de raiz,

comercio ou empregos.

Dessa maneira, a questão da soberania popular e participação do povo na

eleição de seus representantes, tão cara ao liberalismo, adquiria uma face elitista. O

cidadão completo não era o nascido na República Rio-Grandense, mas aquele que

possuísse renda suficiente para fazer parte do processo decisório.

Aqueles que não poderiam votar nas eleições primárias não participariam das

demais eleições ou serem candidatos. Para a eleição de deputados e senadores, o

artigo 94 colocava outros empecilhos:

Art. 94 - Podem ser eleitores e votar na eleição dos deputados, senadores,

conselheiros de Estado todos os que podem votar nas assembleias

paroquiais e excetuam-se:

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I - Os que não tiverem renda anual de duzentos mil reis por bens de raiz,

indústria, comercio ou emprego.

II - Os libertos.

III - Os criminosos pronunciados em qualquer processo criminal.

Como se pode denotar, a grande parte da população seria excluída do processo

de escolha de seus representantes, uma vez que a grande parte da população do Rio

Grande do Sul era analfabeta e não possuía propriedade ou renda suficiente para

participar das eleições. Ainda, gize-se que os libertos não teriam condições de votar

nas mais importantes decisões, mantendo os negros ex-escravos como cidadãos de

segunda linha.

Nos dizeres de Pesavento: “Reconfirma-se, pois, o caráter acentuadamente

elitista do movimento. Na sua experiência governamental, os farrapos tanto

ratificaram o regime censitário de votos quanto legitimaram a escravidão” (S/d, p.

63).

O presidente, por sua vez, em ambos os textos, seria eleito através da

Assembléia Geral, o que era apontado no artigo 99 do projeto de constituição

farroupilha e também no artigo 73 da Constituição uruguaia, respectivamente. O chefe

do executivo, ao assumir suas funções, deveria jurar manter a religião oficial do

Estado, Católica, Apostólica, Romana, conforme regia o artigo 102 do projeto de

constituição farroupilha e o artigo 76 da Constituição uruguaia.

Quanto ao judiciário, as cartas previam a instalação de um Supremo Tribunal

de Justiça segundo o artigo 148 , no caso farroupilha, e de uma Alta Corte de Justicia

conforme o artigo 91 no caso uruguaio. Para ser membro destas Cortes, além de uma

idade mínima e experiência profissional, o cidadão deveria cumprir os mesmos

requisitos para ser senador, em especial, ter uma renda mínima que permitia que

apenas a elite detivesse estes cargos.

Existia a previsão ainda de Tribunais de Apelação e de juízes de Direito que

atuariam junto às cidades e vilas. No projeto de Constituição Farroupilha foi

contemplado que os membros dos tribunais deveriam cumprir os mesmos requisitos

dos deputados (novamente existindo critério de propriedade e renda), enquanto os

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19 juízes necessitavam apenas de experiência profissional e cidadania, vide os artigos

154 a 163. Por sua vez, estes critérios eram exigidos pela Constituição uruguaia em

ambos os casos, conforme rezavam os artigos 192 a 106.

Quanto aos municípios, povos e vilas, era estabelecido que haveria um Diretor

de Município, na farroupilha, ou um Jefe Político, na uruguaia, com poderes

executivos, subordinados ao presidente da República, sendo que deveriam cumprir

critérios de cidadania, idade e renda, o que ficava disposto nos artigos de 182 a 185 e

de 118 a 121, respectivamente.

Junto ao poder executivo municipal funcionariam as Câmaras Municipais com

poderes restritos e reguladas para, basicamente, fomentar a agricultura, comércio e

educação dentro do município, dito nos artigos 186 a 198 do projeto farroupilha e 122

a 129 da Constituição uruguaia.

Nas disposições legais de ambos os textos pode-se ver a importância da

legalidade. Previam eles a proteção da vida, da honra, da liberdade, da segurança

individual e da propriedade, somente podendo existir qualquer limitação a estes

direitos através da lei, a qual seria igual para todos. Ainda se garantia a

inviolabilidade de domicílio e correspondência, a liberdade de expressão e a proibição

de penas desumanas, além de outros direitos ligados diretamente às previsões

existentes na Constituição do Império de 1824 e nos textos oriundos das Revoluções

Americana e Francesa.

Relata-se, novamente, que a Constituição uruguaia, em seu artigo 131, previa

expressamente: En el territorio del Estado, nadie nacerá ya esclavo; queda prohibido

para siempre su tráfico e introducción en la República. Dessa forma, assim como

colocado no projeto de Constituição Farroupilha, todos os homens nasceriam livres no

território uruguaio. Um fato, porém, deve ser ressaltado: o projeto de Constituição

Farroupilha data de fevereiro de 1843, ou seja, um ano depois da abolição da

escravatura ter sido decretada no Uruguai. Diante de várias parecenças legais em

ambos os textos, os farroupilhas não contemplaram, porém,essa questão.

A partir dessa breve análise, prova-se uma similaridade de pontos de vista com

Wolkmer que, a propósito da Carta Imperial, de 1824, afirma:

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O que, sobretudo importa ter em vista e esta clara distinção entre o

liberalismo europeu, como ideologia revolucionária articulada por novos

setores emergentes e forjados na luta contra os privilegios da nobreza e o

liberalismo brasileiro canalizado e adequado para servir de suporte aos

interesses das oligarquias, dos grandes proprietários de terra e do

clientelismo vinculado ao monarquismo imperial (2010, p. 95-96).

Enquanto os liberais europeus e norte-americanos buscavam o término dos

privilégios da classe nobre, o liberalismo uruguaio e rio-grandense do século XIX

tinha por fins apenas a desvinculação de outros Estados e a defesa dos interesses das

elites proprietárias.

Nesse sentido, se é possível referir um liberalismo caboclo para descrever

aquele previsto na Constituição Imperial de 1824, isto é, um liberalismo doutrinário

adaptado aos interesses imperiais e elitistas da época, seria possível afirmar que tanto

a Constituição uruguaia de 1830 quanto o projeto de Constituição da República Rio-

Grandense traduziram um liberalismo caudilho. Ou seja, uma doutrina adaptada à

fronteira rio-grandense-uruguaia em cujos textos constitucionais se contemplava os

interesses da elite, primando pelo direito à propriedade, que encabeçava o rol dos

direitos indisponíveis, deixando-se de lado a mais importante parte do núcleo original

do liberalismo: a participação popular e, especialmente, a liberdade.

Considerações Finais

O projeto de Constituição Farroupilha repetiu em grande parte o constante na

Constituição Uruguaia de 1830, demonstrando a proximidade de ideias existentes

naquele espaço regional.

Ambos os textos ressignificaram o liberalismo corrente, transformando-o

numa espécie de liberalismo caudilho, onde foi pinçado da doutrina liberal apenas

aquilo que se encaixava nos respectivos contextos históricos.

A coexistência deste suposto liberalismo com a escravidão não foi um

problema em si. Todos os homens nasceriam livres, porém, os que já eram escravos

permaneceriam em tal condição e, uma vez libertos, seriam cidadãos de segunda

classe. O Uruguai demorou mais doze anos após a sua Constituição para abolir a

escravidão. Os farroupilhas, apesar de terem o exemplo de seu vizinho, não previram

esta possibilidade.

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21 O projeto de Constituição Farroupilha continha quatro dispositivos que se

referiam a resguardar a propriedade. Coroando essa preocupação, o artigo 222 previa:

“O direito de propriedade e sagrado e inviolável, e ninguem pode ser privado dele,

senão conforme a lei. [...]”. Ninguém, a não ser aqueles não incluídos na cidadania -

os escravos. Curiosamente, a palavra “escravidão”, sequer foi mencionada. Em se

tratando do caso uruguaio, a mesma proteção à propriedade foi prevista, embora com

a diferença substancial de proibir o tráfico de escravos e admitir que negros nasceriam

livres. Ao final, os textos jurídicos foram um reflexo da realidade social da época. Do

liberalismo doutrinário se chegou ao possível liberalismo caudilho.

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Artículo recibido: 15 de junio de 2016

Artículo aprobado: 30 de junio de 2016

Publicado: julio 2016.