o jornal Última hora no governo joão goulart

49
Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia e Ciências Sociais Departamento de História O jornal Última Hora no governo João Goulart (1961-1964) Autor: Fábio Dias Nascimento Orientador: Renato Lemos Rio de janeiro 2010

Upload: fabio-dias

Post on 23-Jun-2015

354 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Esta monografia analisa a participação política que o jornal Última Hora teve em dois episódios que ilustram a crise de regime presente no governo João Goulart: a criação do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e a Revolta dos Sargentos de 1963. A partir dos conceitos de Gramsci de "hegemonia" e "partido", este estudo tem o objetivo de ilustrar como o Última Hora, defensor dos interesses presidenciais, atuou no campo da mídia impressa, onde se travaram verdadeiras batalhas pela conquista da opinião pública no início dos anos 1960.

TRANSCRIPT

Page 1: O jornal Última Hora no governo João Goulart

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto de Filosofia e Ciências Sociais

Departamento de História

O jornal Última Hora no governo João

Goulart (1961-1964)

Autor: Fábio Dias Nascimento

Orientador: Renato Lemos

Rio de janeiro

2010

Page 2: O jornal Última Hora no governo João Goulart

2

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que colaboraram direta e indiretamente para a realização desta

monografia. Pelo apoio incondicional agradeço a minha família, que me incentivou em

todas as etapas da minha vida.

Academicamente agradeço ao meu orientador Renato Lemos, sem o qual este projeto

não seria possível. Ainda pelo suporte acadêmico, e pessoal, agradeço a minha amiga

Mariana Cabra Amorim, que muito me ensinou em nossa trajetória universitária.

Page 3: O jornal Última Hora no governo João Goulart

3

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................... 1

CAPÍTULO I

IMPRENSA E POLÍTICA............................................................................................. 8

CAPÍTULO II

O POPULISMO BRASILEIRO.................................................................................... 14

FORMAÇÃO DO ESTADO POPULISTA.................................................................. 14

CRISE DO POPULISMO............................................................................................. 22

CAPÍTULO III

AS MENSAGENS......................................................................................................... 28

A CRIAÇÃO DO COMANDO GERAL DOS TRABALHADORES.......................... 28

A REVOLTA DOS SARGENTOS DE 1963................................................................ 34

CONCLUSÃO............................................................................................................... 41

BIBLIOGRAFIA........................................................................................................... 43

Page 4: O jornal Última Hora no governo João Goulart

4

INTRODUÇÃO

Este estudo busca analisar como o jornal Última Hora (UH) atua no cenário

político em dois episódios: a criação do Comando Geral dos Trabalhadores e a Revolta

dos Sargentos de 1963. Este periódico era diretamente vinculado a ideologia populista

getulista e tinha participação ativa no cenário político nacional. A escolha dos eventos

se justifica pelos significados a eles atribuídos em função da crise do populismo,

durante o governo Goulart (1961-1964).

Para ilustrar como um veículo de mídia pode atuar politicamente, no Capítulo I

me remeto às reflexões de Gramsci sobre os conceitos de “partido” e “hegemonia”.

Recorro, também, a duas dissertações de mestrado que, seguindo estes conceitos,

analisam os periódicos Jornal do Brasil e O semanário, em recortes dentro do governo

Goulart. Desta forma podem-se identificar interesses de linhas políticas contemporâneas

e como a mídia impressa do período atuava em defesa destas, permitindo, assim,

entender como e com quais objetivos o Última Hora agiu.

No Capítulo II, faço uma análise do populismo, recorrendo à pesquisa de René

Armand Dreifuss sobre o processo que levou ao Golpe de 1964, como ideologia e como

prática política, buscando seus mecanismos de funcionamento em suas origens, na

década de 1930, no governo Vargas. O populismo foi uma forma de organização do

governo e de regime. Constituiu-se em uma fórmula nacional de “desenvolvimento” que

tentava estabelecer uma hegemonia burguesa, sintetizando a limitada convergência de

classe no poder, o corporativismo associativo e autoritarismo do Estado Novo. O

populismo era um meio para o Executivo estabelecer um limitado esquema de

mobilização política nacional de massas urbanas. Teve como base uma estrutura

sindical controlada pelo Estado e o apoio de partidos criados através da influência de

Getúlio Vargas.1

No Capítulo III, por fim, analiso cada episódio recortado separadamente, fazendo,

primeiramente, uma breve introdução do evento. Então, para analisar como as notícias eram

interpretadas pela mídia escrita, selecionei três periódicos: o Jornal do Brasil, O Semanário,

analisados no Capítulo I, e o Tribuna da Imprensa, opositor de Jango e representante

1 DREIFUSS, René Armand. 1964: A Conquista do Estado. Ação Política, Poder e Golpe de Classe.

Petrópolis: Vozes, 1981, p. 27.

Page 5: O jornal Última Hora no governo João Goulart

5

dos setores de direita e conservadores, detalhados no Capítulo II. Enfim, analiso as

mensagens do Última Hora nos dias seguintes aos episódios selecionados. Desta forma

busco entender como, nessas situações de crise, o UH agiu politicamente em defesa dos

interesses do presidente.

As fontes primárias utilizadas serão os jornais Última Hora, Tribuna da Imprensa,

Jornal do Brasil e O semanário, das primeiras edições que narram os dois episódios.

No entanto, para se entender o papel que o Última Hora teve politicamente nos

anos 1960, faz-se necessário levar em consideração, primeiramente, algumas

características do sistema de mídia brasileiro.

Este, desde seu princípio, foi marcado pelo monopólio familiar dos meios de

comunicação, o que limitou o direcionamento ideológico de um jornal, por exemplo, à

defesa dos interesses e valores de um pequeno, e bem específico, grupo de pessoas. A

baixa circulação dos jornais no Brasil, associada ao pequeno número de leitores, teve

como conseqüência, no campo da grande imprensa, um jornalismo orientado

prioritariamente para a elite e permeável à influência externa. Percebe-se, também em

função desta baixa circulação, a dificuldade de um jornal alcançar autonomia financeira,

fazendo-se necessário financiamento de terceiros para a saúde econômica de um

periódico. Em conseqüência desta dependência, a grande imprensa assumiu um

compromisso com interesses de seus financiadores, as elites. Este conjunto de fatores

fez do campo jornalístico brasileiro pouco diversificado politicamente e com um perfil

conservador.2

Foi somente a partir da década de 1930 que os meios de comunicação assumiram

um papel central no cenário nacional, sendo atores importantes em muitos momentos

políticos decisivos. Esta mudança teve inicio durante o Estado Novo (1937-1945),

motivada pelas novas necessidades de influenciar a opinião pública, apresentadas neste

governo por Getúlio Vargas. 3

Em relação à imprensa durante o Estado Novo, Marialva

Barbosa escreve:

2 AZEVEDO, F. A. “Mídia e democracia no Brasil”. In: Opinião pública. Campinas: vol. 12, n. 1,

Abril/Maio, 2006, p. 88-113. 3 BARBOSA, Marialva. “Imprensa e poder no Brasil pós-1930”. In: Em Questão. Porto Alegre: vol. 12,

n. 2, p. 215-234, jun./dez. 2006.

Page 6: O jornal Última Hora no governo João Goulart

6

Falar (,...,) da imprensa durante os primeiros quinze anos em que

Getúlio Vargas esteve à frente do governo é se referir às complexas relações

de poder que se estabelecem, à questão do Estado, entendido de maneira

ampliada, tal como concebeu Gramsci e, finalmente, compreender a

formação de um pensamento que se construía como dominante e que será

fundamental para a formulação dos ideais estadonovistas. Havia a

preocupação em incluir um novo personagem: o público agora visto como

massa. Havia, ainda, a construção de um ideal de nação, no qual prevalecia a

idéia de direcionamento político e intelectual dos que ocupavam posição

dominante face ao restante da população.4

Foi neste período, por exemplo, que se construiu o mito Vargas, moldando a

imagem do presidente como “pai dos pobres”, “líder das massas urbanas” e “defensor

dos grupos menos favorecidos”.

O Estado Novo, no entanto, foi marcado por

contradições no campo midiático. Embora órgãos de imprensa tenham se desenvolvido

e aumentado seu alcance, em 1939 com a criação dos Departamento de Imprensa e

Propaganda (DIP), os jornais tiveram sua liberdade de expressão cerceada pela ação da

censura.5

Com o fim do Estado Novo, e da censura, em 1945, os meios de comunicação

passaram se impor como atores sociais, no sentido gramsciano, conforme o jornalismo

vai se desenvolvendo. Segundo Marialva Barbosa:

O que se procura construir naquele momento é a autonomização do

campo jornalístico em relação ao literário, fundamental para a

autoconstrução da legitimidade da profissão. Assim, as reformas dos jornais

na década de 1950 devem ser lidas como momento de construção, pelos

próprios profissionais, do marco-fundador de um jornalismo que se faz

moderno e permeado por uma neutralidade fundamental para espelhar o

mundo. A mítica da objetividade – imposta pelos padrões redacionais e

editoriais – é fundamental para dar ao campo lugar autônomo e reconhecido,

4 BARBOSA, Marialva. Op. cit, p. 222.

5Ibid, pp. 219-222.

Page 7: O jornal Última Hora no governo João Goulart

7

construindo o jornalismo como a única atividade capaz de decifrar o mundo

para o leitor.6

Os jornais, ao priorizarem, a partir daí, um conteúdo enfeixado pela

idéia de imparcialidade contida nos parâmetros de lide e da edição, no qual o

corpo de copy-desk ganha destaque, que ao promoverem a padronização de

linguagem, constroem para a imprensa o espaço da neutralidade absoluta.

Com isso, passam a ter o reconhecimento de público como lugares

emblemáticos para a difusão da informação, ainda que a carga opinativa

nunca tenha sido alijada das publicações.7

Foi dentro deste contexto que, em 1951, nasceu o jornal Última Hora, cuja

história se funde com a de seu fundador, Samuel Wainer. Paulista, filho de imigrantes,

Wainer teve uma origem humilde. Dedicou-se ao jornalismo trabalhando nos Diários

Associados de Assis Chateaubriand. Já possuía alguns artigos de respaldo quando sua

carreira jornalística se destaca ao conseguir uma entrevista com Getúlio Vargas em

1949. Vargas mantinha um mutismo público no cenário nacional desde 1947 e

anunciou, através de uma entrevista concedida a Wainer, que voltaria à política como

“líder de massas, e não de partidos”.8

Vargas lançou sua campanha à presidência para as eleições de 1950 e Wainer

ganhou uma enorme projeção como seu repórter de acesso privilegiado. Getúlio era

objeto de antipatia da grande imprensa que temia sua volta à política, justificada pela

capacidade de manobra das massas populares e pelas práticas ditatoriais implementadas

no Estado Novo, como a censura. Mesmo assim Vargas conseguiu um forte apoio das

camadas populares e foi eleito.

A imprensa reagiu “silenciando” Getúlio. Ele era mencionado apenas em

situações negativas, não tendo apoio da mídia impressa. Este boicote levou Vargas a

buscar Wainer para criar um jornal que o apoiasse. Ele garantiu, através de sua

influência, os financiamentos necessários para o nascimento do jornal, batizado Última

Hora. Segundo Wainer, o objetivo do jornal era romper com a formação oligárquica da

6 BARBOSA, Marialva. Op. cit, p. 223.

7 Ibid, p. 224.

8 WAINER, Samuel. Minha razão de viver. Rio de Janeiro: Record, 1988, p. 22.

Page 8: O jornal Última Hora no governo João Goulart

8

imprensa brasileira e dar início a um tipo de imprensa popular independente.9 Seu

propósito mais imediato, no entanto, foi quebrar o silêncio do resto da imprensa em

relação a Vargas, no que foi bem sucedido.

O UH apresentava a ambiguidade populista, tentando cooptar tanto as elites

quanto as massas. Continha sessões direcionadas aos dois setores, seguindo uma linha

capitalista e nacionalista. Novas táticas e técnicas fizeram a Última Hora ganhar

projeção conferindo-lhe a condição de voz populista, ou, a voz de Getúlio.

Desde logo, o UH definiu-se como um jornalismo participativo e comunitário,

atuando especialmente no campo do jornalismo opinativo e do jornalismo

interpretativo, para usarmos as categorizações normalmente evocadas pelos estudiosos

do fenômeno jornalístico.

Uma das principais novidades trazidas pelo Última Hora foi a regionalização.

Wainer desdobrou seu periódico em uma série de jornais, começando em São Paulo e se

expandindo, posteriormente, para Belo Horizonte, Recife, Curitiba e, enfim, Porto

Alegre. Todas as filiais, no entanto, recebiam notícias nacionais da sede carioca,

garantindo coesão no discurso do jornal.

Durante todo o governo de Getúlio o Última Hora foi seu porta voz. Ele,

freqüentemente, segundo Wainer, direcionava o posicionamento do jornal sobre alguma

questão específica ou apontava algum fato a ser destacado. Conforme ganhava projeção

o Última Hora era mais atacado pela imprensa, sendo os principais opositores a Tribuna

da Imprensa, de Carlos Lacerda, e os Diários Associados, de Assis Chateaubriand. No

dia de sua morte o jornal teve uma vendagem de oitocentas mil cópias e foi um dos

únicos não atacados por multidões revoltas.

O Última Hora sobreviveu à morte de Getúlio, tornando-se um símbolo do seu

legado, e passou seu apoio à candidatura de Juscelino Kubitschek. Foi o único jornal a

aprovar, sem restrições, a construção de Brasília. Passado os anos do governo Juscelino

Kubitschek (1956-1961), o UH lutou contra Jânio Quadros nas eleições de 1960,

apoiando o Marechal Henrique Teixeira Lott. Apesar da oposição a sua candidatura,

Jânio, quando eleito, buscou o apoio de Wainer. Seu jornal já havia se tornado sólido e

uma grande influência, mesmo não recebendo todo o apoio que tinha quando Vargas era

vivo.

9 WAINER, Samuel. Op. cit., p. 123-30.

Page 9: O jornal Última Hora no governo João Goulart

9

Criado para ser a voz de Getúlio, o UH continuou a sê-lo após a sua morte. Vargas

ainda existia no imaginário popular, o que garantia o prestígio do jornal frente a uma

massa trabalhista nacionalista. Esta força fez do jornal uma importante instituição

política.

Durante a Crise da Legalidade, em 1961, o Última Hora apoiou a posse de Jango

e condenou articulações golpistas. Com a aprovação do remendo constitucional, que

instaurou o regime parlamentarista, ganhou maior apoio político, devido à proximidade

já existente entre João Goulart e Wainer, e econômico, através de mais acesso aos

empreiteiros.

Podemos perceber, entre a posse de Jango e Golpe Militar de 1964, uma mudança

do discurso ideológico do periódico. A linha política populista ficava cada vez mais

obsoleta em meio a uma tendência de radicalização política, analisada no capítulo 2. Em

suas memórias Wainer afirma que, mesmo discordando de atitudes de Jango que

considerava extremadas, apoiava o presidente:

A força dos grupos radicais no interior do governo tornou-se tão

aguda que passou a influenciar a própria linha da Última Hora,

levando o jornal a defender teses que não eram minhas. Nos bastidores

eu fazia o possível para evitar que Jango fosse longe demais. Mas não

convinha transformar o jornal em porta voz das minhas próprias

idéias, uma vez que ele se incorporara ao esquema de sustentação do

governo. Assim, houve momentos em que a Última Hora pareceu

favorável à execução de reformas perigosamente ousadas, ou até

mesmo à consumação de um golpe de esquerda. Eu não podia atacar o

comportamento de Goulart e seus aliados, ou supostos aliados, no meu

jornal.10

O Última Hora radicalizou conforme Jango o fez. Manteve seu apoio às propostas

de Reformas de Base, às restrições ao capital estrangeiro e no episódio da Revolta dos

Marinheiros de 1964, quando toda a imprensa se voltou contra presidente. No entanto, o

jornal teve um papel particular e fundamental neste cenário político, pois era o órgão

10

WAINER, Samuel. Op. cit., p. 249.

Page 10: O jornal Última Hora no governo João Goulart

10

responsável pela defesa dos interesses presidenciais na mídia impressa. Como esta

defesa ocorreu é o que esta pesquisa analisa.

Page 11: O jornal Última Hora no governo João Goulart

11

CAPÍTULO I

IMPRENSA E POLÍTICA

Ao longo do século XX percebeu-se que a imprensa adquire um papel social

fundamental na maioria das sociedades. Ela constantemente aumentou seu alcance,

velocidade de transmissão, capacidade de produção e reprodução da informação,

ampliando, então, sua influência social. É exatamente esta capacidade de influenciar

grandes públicos que fez a imprensa tornar-se, cada vez mais, um instrumento de poder

muito importante para o meio político. Nelson Werneck Sodré apontava, já na década

de 1960, uma estreita ligação entre o desenvolvimento da sociedade capitalista e o

desenvolvimento da imprensa, devido à influência que a “difusão impressa exerce sobre

o comportamento das massas e dos indivíduos”.11

Para entender o papel que o Última Hora desempenha no cenário político

brasileiro, no início dos anos 1960, recorro às reflexões de Antônio Gramsci em relação

a órgãos de imprensa. Segundo ele, a análise de um órgão de imprensa pode ser feita em

sua atuação como “partido”. O autor entende como partido político um organismo que,

na sociedade civil, elabora e reproduz diretrizes políticas e, ainda, apresenta meios para

aplicação das mesmas.

Será necessária a ação política (no sentido estrito) para que se

possa falar de “partido político”? Observa-se que no mundo moderno,

em muitos países, os partidos orgânicos e fundamentais se dividem,

por necessidades de luta ou por qualquer outra razão, em frações que

assumiram o nome de “partido” e, inclusive, de partido independente.

Por isso, muitas vezes o Estado-Maior intelectual do partido orgânico

não pertence a nenhuma das frações, mas opera como se fosse uma

força dirigente superior aos partidos e às vezes reconhecida como tal

pelo público. Esta função pode ser estudada com maior precisão se

parte do ponto de vista que um jornal (ou um grupo de jornais), uma

revista (ou um grupo de revistas), são também eles “partidos”,

“frações de partidos” ou “funções de um determinado partido”.12

11

SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 1983, p. 1. 12

GRAMSCI, Antonio. Maquiavel, a Política e o Estado Moderno. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 1984, pp. 22-23.

Page 12: O jornal Última Hora no governo João Goulart

12

A imprensa passou a realizar seu papel de disseminadora e formadora de opinião

de forma mais rápida, direta e impactante sobre o público quando comparado às

agremiações políticas, tornando-se um instrumento ou parte substancial destas. Um

órgão de imprensa difere de um “partido orgânico”, neste aspecto de formador de

opinião, pois não necessita da iniciativa do receptor da informação. Um partido precisa

que seu público esteja pré-disposto a ouvi-lo e a buscar suas opiniões. A imprensa, no

entanto, se adapta a seu público alvo veiculando e editando a informação para o leitor.

Este papel político que a imprensa adquire é fundamental para a dominação da

sociedade por um grupo, ou determinados grupos. Este tipo de dominação no campo das

idéias é conceituado por Gramsci como hegemonia.13

Este conceito trata de uma

dominação na esfera ideológica necessária para que o restante da sociedade aceite, ou

até exija, as diretrizes propostas. Isto é necessário para que um grupo possa ter certo

controle da sociedade com o mínimo de violência.

Segundo Gramsci este domínio ocorre no nível das superestruturas, que ele

divide, para fins de análise, em “sociedade civil” e “sociedade política”. A “sociedade

política”, ou “o Estado”, consiste nas instituições públicas, que detém o monopólio legal

da violência e exercem a “dominação direta”, como as Forças Armadas por exemplo. A

sociedade civil compreende organismos “privados” e voluntários (partidos,

organizações sociais, meios de comunicação, escolas, igrejas), que elaboram e difundem

ideologias e valores simbólicos que visariam à direção da sociedade.14

Portanto, para um grupo estabelecer as diretrizes de uma determinada sociedade

não basta este buscar o controlar apenas o Estado, mas também os canais ideológicos da

sociedade civil. Esta capacidade de unificar grupos sociais em torno de um ideal

benéfico para o grupo dominante é a hegemonia que Gramsci conceitua e a busca por

esta hegemonia que faz da imprensa um ator politicamente importante.

Seguindo esta linha analítica, Marcio Santos Nascimento, em sua dissertação de

mestrado, pesquisou como o Jornal do Brasil agiu politicamente nos meses que

antecederam o Golpe de 1964.15

Seu objetivo é demonstrar como este periódico

colaborou para a aceitação do Golpe civil-militar pela opinião pública e para isto

13

GRUPPI, Luciano. O conceito de hegemonia em Gramsci. Rio de Janeiro: Graal, 1978. 14

SEMERARO, Giovanni. Gramsci e a sociedade civil. Petrópolis: Vozes, 1999. 15

NASCIMENTO, Marcio S. A participação do Jornal do Brasil no processo de desestabilização e

deposição do presidente João Goulart. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Programa de Pós-

Graduação em História Social, UFRJ, 2010.

Page 13: O jornal Última Hora no governo João Goulart

13

analisou os editoriais e as notícias da primeira página do jornal desde outubro de 1963

até primeiro de abril de 1964. Em relação à escolha de suas fontes, o autor escreveu:

O estudo dos editoriais se justifica porque por seu intermédio

podemos ter idéia do ponto de vista dos diretores do jornal e, de certa

forma, do público para o qual ele é dirigido. Um jornal reflete sempre,

mesmo que minimamente, a opinião dos seus principais anunciantes e

leitores, em particular numa conjuntura como a dos anos 1960, de

Guerra Fria, aguçamento das lutas sociais, engajamento de amplos

setores sociais na conquista das reformas de base, etc.

A análise das primeiras páginas permite que se possa perceber a

mensagem imediata que o jornal quer passar, para o público leitor. As

chamadas de primeira página, assim como as fotos, não são colocadas

de forma aleatória. São escolhidas para influenciar, para mostrar algo,

para causar algum impacto no leitor, seja esse impacto positivo ou

negativo.16

Nascimento identificou o Jornal do Brasil com um discurso liberal conservador,

pois o periódico, enquanto órgão burguês, sente-se confortável para atacar setores da

esquerda e apela para o uso de meios não democráticos para resolver impasses, embora

alegue defender a democracia.17

Em relação à postura do periódico no governo João

Goulart, o autor escreve:

Apesar das críticas feitas ao governo de João Goulart, o jornal

não se coloca imediatamente pela sua queda, mas contra a inflação;

num segundo momento apela para a manutenção da ordem e da

democracia acima de tudo; depois passa para críticas contra o

comunismo, sempre pregando a legalidade e a justiça social, o temor

de grupos radicais, até chegar ao ponto em que indica ações do

presidente visando um golpe para perpetuar-se no poder, afirmando

que o país estaria no auge da agitação, da guerra civil e da tomada de

poder por elementos radicais, finalmente apelando para a intervenção

armada.18

16

NASCIMENTO, Marcio S. Op. cit., p. 4. 17

Ibid., p. 44. 18

Ibid., pp. 56-57.

Page 14: O jornal Última Hora no governo João Goulart

14

Nascimento dividiu sua análise das mensagens por temas: “Alinhamento do Brasil

com os EUA”, “Temor ao comunismo”, “República sindicalista”, “Tendências

continuístas e autoritárias de João Goulart”, “Descrença no Governo”, “Proximidade do

caos”, “Chamamento à ordem” e “Apoio a uma ação militar”. Através destes, ele

identificou os assuntos mais relevantes, do ponto de vista político, e que mais se

repetiram dentro do período recortado. Em certos episódios apresentou, também,

reportagens do Última Hora para comparar discursos conflitantes.19

Utilizando as reflexões de Gramsci, Nascimento faz uma análise do Jornal do

Brasil como um partido e conclui que este periódico ajudou a criar um clima de

insegurança tamanho que o Golpe de 1964 é visto com legitimidade, dentro do seu

círculo de influência. Segundo ele, para defender seus ideais e aliados burgueses, o

periódico ataca o presidente, colocando-o como um líder antidemocrático ou uma

marionete dos comunistas. Finalmente, o jornal incentivou atitudes extremas e

antidemocráticas para conter o clima instável e a “ameaça da esquerda”.20

Rafael do Nascimento Souza Brasil também realizou uma reflexão acerca da

trajetória política de um jornal, O Semanário.21

Ele teve como objetivo demonstrar a

participação política de diferentes setores, militares e civis, que visavam um

desenvolvimento autônomo do país. Utilizando os conceitos de Gramsci, ele identificou

o periódico como produtor e veículo de propostas de organização do Estado brasileiro,

tendo como base um ideal nacionalista. Em função deste ideal, grupos distintos da

sociedade, nas décadas de 1950 e 1960, contribuíram para a produção do periódico.

Por ser representativo dessa heterogeneidade do movimento

nacionalista e ser portador dos ideais e propostas de diferentes grupos

sociais, acreditamos ser deveras adequada a utilização do periódico

quanto aos objetivos deste trabalho, que gira em torno da atuação

política de militares nacionalistas articulados com outros grupos

civis.22

19

NASCIMENTO, Marcio S. Op. cit., pp. 54-91. 20

Ibid. pp. 92-99. 21

SOUZA BRASIL, Rafael do Nascimento. Um jornal que vale por um partido – O Semanário.

Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em História Social, UFRJ, 2010. 22

Ibid., p. 10

Page 15: O jornal Última Hora no governo João Goulart

15

Souza Brasil tem como recorte temporal o período entre o início do governo de

Juscelino Kubitschek (1956-1961) e o golpe civil-militar de 1964. Ele tem foco em dois

temas presentes nas discussões políticas do período: o desenvolvimento econômico

industrial do Brasil e as lutas políticas empreendidas em torno da aprovação das

propostas de Reformas de Base, durante o governo João Goulart.

Primeiramente, ele analisa as discussões travadas nas páginas do jornal,

identificando a formulação e veiculação de projetos nacionalistas para a sociedade.

Apresenta e discute, ainda, o surgimento do periódico e as articulações sociais que se

realizavam em torno deste.23

Depois, ele aponta elementos que dão sentido ao

nacionalismo em cada segmento politicamente ativo, já que esta ideologia era apoiada

por grupos heterogêneos.24

Em seu último capítulo, Souza Brasil busca:

(...) explicitar as estratégias adotadas por civis e militares,

através das páginas de O Semanário, com o fito de ordenar o conjunto

da sociedade em prol de um projeto de desenvolvimento nacionalista.

E, também, situar os interesses sociais em disputa nos momentos de

definição das políticas estatais, identificando, especialmente, os

processos de elaboração de propostas e as articulações sociais

realizadas pelo jornal em foco.25

Os debates protagonizados pelo jornal o fizeram um ator político importante deste

período histórico, servindo de suporte para difusão do ideal nacionalista e ponto de

convergência de diferentes segmentos que tinham este ideal em comum. O Semanário,

segundo Souza Brasil, trouxe ao público debates políticos e idéias nacionalistas,

colocando-se como ator relevante no cenário político brasileiro e servindo de exemplo

às reflexões de Gramsci apresentadas acima.

Diferentemente de Marcio Nascimento, que tinha como objeto de reflexão o

próprio Jornal do Brasil, Souza Brasil analisa a produção e formulação do discurso

nacionalista e o faz através de O Semanário.

Estas pesquisas acima resenhadas tratam, direta ou indiretamente, de perspectivas

de organização social que disputavam a hegemonia do processo político brasileiro e que

se utilizavam da mídia impressa para atingir seus objetivos. De forma semelhante,

23

SOUZA BRASIL, Rafael do Nascimento. Op. cit., p. 12-85 24

Ibid., pp. 86-117 25

Ibid., p. 11

Page 16: O jornal Última Hora no governo João Goulart

16

analiso o Última Hora como um partido populista, que buscava influenciar de forma

mais eficiente a opinião pública.

O conceito de opinião pública utilizado neste trabalho entende-a como um juízo

de valor de um grupo ou grupos. Tal juízo, no entanto, não tem embasamento científico

ou argumentos sustentáveis a nível acadêmico, podendo ser identificado como senso

comum. Este conceito pressupõe uma sociedade livre e articulada, com centros onde se

formam opiniões não individuais interessadas em controlar a política do Governo.26

Portanto, esta pesquisa busca analisar como o populismo brasileiro se porta na

crise de regime do início da década de 1960. Para isto será utilizado o Última Hora,

interpretado como órgão diretamente associado ao presidente João Goulart. Para esta

análise faço um recorte em dois episódios críticos: a Revolta dos Sargentos de 1963 e a

criação do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), em 1962. A escolha destes

recortes se justifica por serem episódios de ruptura em instituições básicas do regime

vigente.

26

BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco (org.). Dicionário de Política.

Brasília: UnB, 1995, 2º vol., 11ª edição, pp 842-845.

Page 17: O jornal Última Hora no governo João Goulart

17

CAPÍTULO II

O POPULISMO BRASILEIRO

Este capítulo tem como objetivo refletir sobre o populismo no Brasil e

contextualizar o período de crise no início dos anos 1960. Para compreender este

período onde o Estado Populista encontra-se em crise, me remeto à sua implementação

a partir de 1930, buscando quais circunstâncias possibilitaram este sistema e quais

mecanismos ele utiliza para se afirmar e se estabelecer. Procuro refletir por que o

Estado populista obteve sucesso em outros momentos no Brasil, para, então, analisar os

motivos de contestação do regime.

Por Regime político se entende:

(...) o conjunto das instituições que regulam a luta pelo poder e

o seu exercício, bem como a prática dos valores que animam tais

instituições.

As instituições constituem, por um lado, a estrutura orgânica do

poder político, que escolhe a classe dirigente e atribui a cada um dos

indivíduos empenhados na luta política um papel peculiar. Por outro,

são normas e procedimentos que garantem a repetição constante de

determinados comportamentos e tornam assim possível o

desenvolvimento regular e ordenado da luta pelo poder, do exercício

deste e das atividades sociais a ele vinculadas.27

FORMAÇÃO DO ESTADO POPULISTA

A urbanização e o desenvolvimento industrial no início do século XX

desorganizaram a frágil estrutura do Estado oligárquico. Setores com ideologia

burguesa, geralmente urbanos, passaram a exigir uma nova ordem nacional, onde o país

não dependesse somente de exportações agrárias. Esta nova demanda social, no entanto,

não atacou a maioria dos valores tradicionais da elite rural. Setores agrários e industriais

no Brasil estavam intimamente ligados. Grande parte do capital para o surgimento de

27 BOBBIO, Norberto (Org). Op. cit. p. 1081.

Page 18: O jornal Última Hora no governo João Goulart

18

uma indústria nacional veio dos setores agrários e parte da demanda industrial vinha dos

setores agro-exportadores. Vale, ainda, lembrar que laços familiares ou comerciais,

muitas vezes, uniam estes dois setores. No entanto, os novos interesses ganham

identidade política e respaldo social, principalmente após a crise de 1929, permitindo a

Revolução de 1930.28

Durante o governo de Getúlio Vargas forjou-se o chamado “Estado de

compromisso”29

que se institucionalizou na constituição de 1934. Nele, Vargas colocou-

se como intermediador dos interesses dos vários grupos que atuavam na esfera política.

Esse surgiu da incapacidade dos grupos sociais de assumirem o controle do Estado em

benefício próprio, gerando um equilíbrio instável. Esta instabilidade social perdurou até

o Estado Novo em 1937, o qual, de forma autoritária, conseguiu incentivar o

desenvolvimento industrial frente à nova demanda nacional. Este teve um aumento

significativo devido ao menor interesse internacional na economia brasileira, frente às

crises econômicas e à Segunda Guerra Mundial. A industrialização neste momento teve

um caráter de “substituição de importações”.30

O Estado Novo conseguiu reestruturar os mecanismos políticos do Brasil. Os

interesses agrários, historicamente prioritários no Brasil, perderam sua posição

privilegiada para o setor industrial que cada vez mais se afirma politicamente. Neste

período o Executivo deu prioridade às demandas da Confederação Nacional da Indústria

e da Confederação Nacional do Comércio.31

Vargas estimulou, ainda, um processo “nacional” de formulação de diretrizes

políticas em uma tentativa de subordinar lideranças regionais e introduzir reformas

administrativas, através da modernização do aparelho estatal. Criou o, Departamento

Administrativo do Serviço Público (DASP), que tirava a burocracia estatal do controle

de oligarquias, transferindo a prática do patronato para o Governo central.32

Esta postura

do Estado Novo no processo de industrialização incentivou classes médias e militares a

participarem do aparelho administrativo do Estado.

28

DREIFUSS, René Armand. 1964: A Conquista do Estado. Ação Política, Poder e Golpe de Classe.

Petrópolis: Vozes, 1981, pp. 21-22. 29

LOPES, Juarez Brandão. Desenvolvimento e mudança social: formação da sociedade urbano-

industrial no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, MEC, 1976. 30

TAVARES, Maria da Conceição. Da substituição de importações ao capitalismo financeiro. Rio de

Janeiro: Zahar, 1975. pp. 67-69. 31

DREIFUSS. Op. cit. pp. 22 -27. 32

SOUZA, Maria do Carmo Campelo de. Estado e Partidos Políticos no Brasil 1930 a 1964. São Paulo:

Ed. Alfa-Omega,1976. pp. 96-98.

Page 19: O jornal Última Hora no governo João Goulart

19

O Estado Novo interferiu, também, na regulamentação da “força de trabalho” e de

suas representações, o que facilitou a expansão capitalista em diversos aspectos.

Primeiramente estas medidas garantiram a “paz social”, pois, ao assegurar direitos

trabalhistas as massas trabalhadoras ficaram relativamente satisfeitas, e devido à forma

combinada de paternalismo e repressão com que estas foram implementadas o Estado

passou a exercer influência sobre as reivindicações sindicais. Em outro plano, estas

regulamentações permitiam maior precisão nos planos econômicos governamentais. O

salário mínimo, por exemplo, foi uma medida que nivelou o custo da mão-de-obra

garantindo, apenas, a subsistência. Esta medida facilitou a expansão capitalista por

garantir trabalhadores a baixos custos e aumentou o controle do Governo em relação à

receita do país.33

Em meados dos anos 40, no entanto, a “paz social” adquirida no governo Vargas

passou a ser cada vez mais ameaçada. A influência do governo central sobre as massas

trabalhadoras não estava sendo suficiente para conter as crescentes agitações em torno

dos baixos salários e novos sindicatos independentes estavam surgindo. Percebeu-se,

ainda, no Brasil, uma onda antifascista que aumentou com a aliança com os Estados

Unidos na Segunda Guerra Mundial e o Estado Novo passou a ser cada vez mais

atacado pela opinião pública. As elites burguesas estavam incertas em relação ao novo

cenário internacional do Pós-Guerra e temerosas quanto ao ressurgimento da esquerda

de forma organizada no quadro político brasileiro.34

Alguns apontamentos devem ser feitos em relação ao que Dreifuss chama de

“burguesia nacional”. Ele divide este grupo em dois: burguesia nacionalista e burguesia

entreguista. A primeira é considerada aliada de intelectuais nacionalistas e setores

médios e trabalhistas, tendo como projeto um desenvolvimento da indústria nacional de

forma mais independente, ainda que indiretamente aliada ao capital estrangeiro. A

segunda tem como projeto de desenvolvimento o alinhamento direto com os Estados

Unidos e é ligada diretamente ao capital multinacional, buscando a facilidade de entrada

deste no mercado nacional. Suas diferenças são conjunturais e não estruturais, ou seja,

elas têm projetos diferentes, mas os mesmos objetivos fundamentais, pois seguem a

lógica capitalista.35

33

DREIFUSS, René Armand. Op. cit., pp. 22-27. 34

Ibid. 35

Ibid. pp. 25-26.

Page 20: O jornal Última Hora no governo João Goulart

20

Em 1945, os empresários adotaram demandas populares como slogans políticos,

visando diminuir as agitações sociais e desacreditar Vargas perante as classes

trabalhadoras. Este, percebendo a insustentabilidade do sistema vigente tentou deslocar

sua base sócio-política construindo um sistema político trabalhista de centro-esquerda

através de um discurso nacionalista. Dreifuss escreve sobre este período:

Eleições nacionais foram marcadas para dezembro de 1945,

para as quais Getúlio Vargas estimulou a criação de dois partidos, o

Partido Trabalhista brasileiro – PTB, baseado na máquina sindical de

Marcondes Filho, e o Partido Social Democrático – PSD, que não

possuía coisa alguma em comum com seus homônimos europeus e se

baseava nos interventores estaduais, nos industriais de São Paulo e nos

chefes políticos oligárquicos, os conhecidos coronéis. A oposição de

centro direita criou a União Democrática Nacional – UDN, um

conjunto amplo de posições anticomunistas, antinacionalistas, e anti-

Vargas (mais tarde antipopulistas), cuja base eleitoral encontrava-se

principalmente nas classes médias e que era liderada por profissionais

liberais, empresários e políticos.36

Esta manobra de Vargas alarmou seus opositores e a industriais “entreguistas”.

Embora Vargas não se opusesse à aliança com o capital multinacional, ele priorizava o

desenvolvimento da indústria nacional. Os primeiros sintomas da Guerra Fria já

apareciam e o não alinhamento direto com o bloco capitalista trouxe incertezas.

Vargas apóia a candidatura do general Eurico Gaspar Dutra, seu Ministro da

Guerra desde 1936, para fazer frente ao candidato da UDN, o Brigadeiro Eduardo

Gomes.

Embora tenha sido apoiado por Vargas, o governo Dutra (1946-1951) apresentou

rumos diferentes do governo anterior. Seu governo foi fortemente influenciado por

empresários e seu Ministério contava com figuras de destaque da UDN. Ele logo se

alinhou aos Estados Unidos, reprimiu e diminuiu a participação das classes

trabalhadoras no aparelho governamental e desativou organizações estatais,

retrocedendo o projeto nacionalista e favorecendo a empresa privada associada aos

36

DREIFUSS, René Armand. Op. cit., p. 27.

Page 21: O jornal Última Hora no governo João Goulart

21

EUA. Estabeleceu a Escola Superior de Guerra – ESG, que cooptou militares anti-

Vargas.

As medidas do governo Dutra, porém, não conseguiram o consentimento das

classes subordinadas. O governo tentou controlar o surgimento de organizações

autônomas entre as classes trabalhadoras criando o Serviço Social da Indústria – SESI.

A tentativa de controle paternalista das massas, no entanto, foi dificultada pela crescente

organização das mesmas. O Partido Comunista do Brasil (PCB) demonstrou mais

organização que o PTB e em 1947, nas eleições estaduais, foi o quarto partido com mais

votos no Brasil, ficando em terceiro no estado de São Paulo, na frente de UDN.37

No

mesmo ano o partido foi posto na ilegalidade, quatrocentos sindicatos sofreram

intervenção em suas atividades por suspeita de ligação com o PCB e houve expurgos no

funcionalismo público.38

Em 1950 houve eleições e Vargas se candidata pelo PTB. A UDN concorre

novamente com o Brigadeiro Eduardo Gomes e o PSD apresentou um candidato à parte,

Cristiano Machado.

. Vargas, em sua campanha pelo país, assumiu seus principais compromissos com

uma industrialização nacionalista e com os trabalhadores urbanos. Para evitar

confrontos com os grupos que foram favorecidos no governo Dutra, deixou claro que

aceitaria os investimentos estrangeiros.39

Vargas venceu as eleições com grande maioria de votos. O bloco populista

contava com apoio de grupos diversos em todo o território nacional: classes

trabalhadoras urbanas, elite agrária e burguesia nacionalista. Contava, ainda, com os

grupos simpáticos a um desenvolvimento nacionalista, tendo como apoiadores uma

parcela das classes médias, militares e intelectuais.

Como resultado desta tendência apaziguadora dos conflitos sociais e desta rede de

alianças heterogênea, Vargas montou um ministério com cautela. O PTB ganhou

somente a cadeira do Ministério do Trabalho e o PSD, a maioria das restantes, o que

significava diretrizes conservadoras para reduzir os temores das elites em torno da

possível instalação de uma república “sindicalista”, ou seja, de que Vargas utilizasse sua

influência com sindicatos para pressionar toda a sociedade a seguir suas diretrizes

37

BOURNE, Richard. Getúlio Vargas of Brazil 1883-1954. London: Charles Knight & Co. Ltd., 1974,

p. 148. 38

DREIFUSS, René Armand. Op. cit. p. 29-30. 39

Ibid., p. 30.

Page 22: O jornal Última Hora no governo João Goulart

22

políticas.40

Vargas, nesta segunda administração, se deparou com um cenário político-

social bem diferente, no qual o Congresso havia adquirido mais importância, sendo um

espaço de negociação e alianças entre diversos interesses.

Dreifuss dividiu esta segunda administração de Vargas em três fases:

A primeira fase foi caracterizada por uma forte presença

empresarial, uma política anti-inflacionária e uma procura entusiástica

de ajuda econômica dos Estados Unidos. Essa fase terminou em

meados de 1953 sob a pressão conjunta de sindicatos e diversos

grupos nacionalistas. O governo fracassou em sua tentativa de

controlar a inflação, enquanto os benefícios da ajuda externa não se

concretizavam. Em meados de 1953 o ministério foi reorganizado e

começou a segunda fase. Apesar de manter suas opções abertas tanto

em relação ao bloco oligárquico-industrial quanto aos Estados Unidos,

(...) Getúlio Vargas recorreu intensamente às classes trabalhadoras

como um grupo de pressão. Ele substituiu seu ministro do Trabalho

por João Goulart, um jovem militante do PTB do Rio Grande do Sul,

seu protegido político e que assumiu o seu cargo com um enfoque

muito mais radical. Nesta segunda fase, a crescente polarização

política e ideológica em torno de assuntos nacionalistas e trabalhistas

andou passo a passo com uma crescente oposição do Exército a

Getúlio Vargas e, conseqüentemente, a João Goulart, culminando com

o famoso Memorando dos Coronéis assinado em fevereiro de 1954

por mais de oitenta oficiais influentes, o que levou à demissão de João

Goulart e do ministro da Guerra Estillac Leal, nacionalista getulista. A

terceira fase foi inaugurada sob considerável pressão militar, pressão

esta fortemente apoiada por empresários e pelo governo americano.

Esta fase foi, na verdade, uma longa sucessão de manobras getulistas

defensivas e com propósitos definidos e limitados, manobras que

foram intensamente atacadas no Congresso e na imprensa por

políticos mordazes e agressivos, como Carlos Lacerda, figura de proa

da UDN do Rio de Janeiro; essa fase culminou com um golpe de

Estado e suicídio de Getúlio em 1954. 41

40

DREIFUSS, René Armand. Op. cit. p. 31. 41

Ibid.,. p. 33.

Page 23: O jornal Última Hora no governo João Goulart

23

O sistema pretendido por Vargas almejou um Estado autossuficiente para apoiar

uma industrialização nacional e limitar os investimentos estrangeiros no país. Ele

buscou, também, assegurar a implementação de um bloco industrial trabalhista com

vínculos com o Estado e a acomodação de interesses agrários. Grupos empresariais

viram com preocupação este projeto, pois diminuiria sua participação nas decisões

administrativas e contrariava os interesses multinacionais, que voltavam a focar, de

forma agressiva, no Brasil, após sua retração durante a Segunda Guerra Mundial.42

Com o suicídio de Vargas tem início o mandato presidencial de João Café Filho,

vice-presidente eleito pelo Partido Social Progressista (PSP), partido populista que tinha

grande influência junto à classe trabalhadora de São Paulo. Neste período a política

econômica do país mudou radicalmente. Corporações internacionais ganharam

incentivos para se estabelecer no Brasil. Para ilustrar estes incentivos cito a Instrução

113, da Superintendência da Moeda e do Crédito – SUMOC, que, excluindo firmas

brasileiras, isentava as corporações multinacionais da “cobertura cambial” necessária à

importação de maquinário permitindo que importassem equipamento por um preço 45%

abaixo das taxas.43

Café Filho foi apoiado por uma aliança informal de centro-direita

composta, principalmente, por políticos da UDN e do PSP.

Nas eleições seguintes a aliança PSD/PTB – coligação herdeira do “getulismo” –

venceu tendo Juscelino Kubitschek e João Goulart, ou Jango, como candidatos. Jango

baseou sua campanha em aspectos estatizantes, nacionalistas e reformistas presentes no

segundo governo Vargas. Kubitschek, no entanto, apresentou um discurso voltado para

aceleração do desenvolvimento com o Plano de Metas.

O governo de Juscelino investiu em políticas desenvolvimentistas que incentivam

a entrada de investimentos estrangeiros. Esperava-se que a entrada de empresas

multinacionais no mercado interno estimulasse o desenvolvimento industrial brasileiro,

ainda muito primitivo.44

Inicialmente o Plano de Metas contava com o apoio do Congresso, porém este foi

se posicionando de forma conservadora frente à política de modernização do

Executivo.45

Visando superar a ineficiência da burocracia estatal frente às necessidades

do Plano de Metas, são criados os Grupos Executivos.

42

BANDEIRA, Moniz. Presença dos Estados Unidos no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,

1973, pp. 363-65. 43

Ibid., pp. 365-72. 44

Ibid., p. 34. 45

Apud. DREIFUSS, René Armand. Op. cit., p. 35.

Page 24: O jornal Última Hora no governo João Goulart

24

Eles formavam uma “administração paralela” coexistindo com

o Executivo tradicional e duplicando ou substituindo burocracias

velhas e inúteis. Essa administração paralela, composta de diretores de

empresas privadas e empresários com qualificações profissionais, os

chamados técnicos, e por oficiais militares, permitia que os interesses

multinacionais e associados ignorassem os canais tradicionais de

formulação de diretrizes políticas e os centros de tomada de decisão,

contornando assim as estruturas de representação do regime

populista.46

Este esquema, no entanto, dependia do apoio do Executivo para ser eficiente,

fazendo necessário que os interesses multinacionais e associados conseguissem o

comando do Estado e a ocupação dos cargos burocráticos da administração.

O Plano de Metas fez o Estado se tornar um produtor de bens e serviços

estratégicos para infra-estrutura e controlador indireto de substanciais mecanismos da

política econômica. No entanto, não era o Estado que direcionava o processo de

expansão capitalista, mas o capital transnacional.47

A política de desenvolvimento do

Governo Kubitschek também modificou a divisão social do trabalho no cenário

nacional, pois a classe trabalhadora industrial cresce, assim como a concentração

populacional em centros urbanos.48

Estes fatores dão maior relevância política às classes

operárias, que passam a se organizar cada vez mais. No meio agrário surgiram, em

meados da década de cinqüenta, as ligas camponesas mobilizando trabalhadores rurais.

No fim dessa década, percebem-se tentativas de sindicalização de massas rurais, uma

crescente mobilização política estudantil e divergências políticas dentro das Forças

Armadas. O cenário político brasileiro tensionava-se ameaçando o modelo do Estado

populista que não conseguia mais garantir seu compromisso de convergência de

classes.49

Vale lembrar que em 1959 ocorreu a Revolução Cubana que tensionou os ânimos

políticos em toda América. Este episódio, inserido no ambiente de Guerra Fria, teve um

valor simbólico notável para todo o continente, pois este até então, era considerado o

“quintal” dos Estados Unidos. Com isso os EUA passaram a ter uma postura mais rígida

46

DREIFUSS, René Armand. Op. cit., p. 35. 47

Apud DREIFUSS, René Armand. Op. cit., p. 36. 48

Apud. Ibid., p. 36. 49

Ibid., pp. 35-38

Page 25: O jornal Última Hora no governo João Goulart

25

de vigilância em relação a movimentos de esquerda na América. O governo brasileiro

foi pressionado, tanto pelas elites nacionais quanto por setores multinacionais, para

alinhar-se de forma mais concreta ao bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos.

Juscelino Kubitschek , no fim de sua administração, percebe o esgotamento de seu

modelo de desenvolvimento e adota uma política de “adiamento de problemas”50

,

deixando para o governo sucessor os problemas que estavam se acumulando na

sociedade.

CRISE DO POPULISMO

O governo populista de Juscelino Kubitschek chega ao fim em janeiro de 1961.

Os candidatos à sucessão são Jânio Quadros, apoiado pela UDN, representando uma

tentativa de grupos de direita de compartilhar o Estado com o modelo populista vigente,

e o marechal Henrique Teixeira Lott, que, apoiado pelo PSD e PTB, tentava a

presidência. A coligação PSD e PTB indica, ainda, para vice João Goulart com o apoio

do PCB. Neste período era possível votar em candidatos a presidente e a vice de chapas

diferentes, o que permite a vitória de Jânio e de Goulart, eleito para vice. Este último era

considerado herdeiro político de Getúlio e defendia reformas populares sociais, o que

contrariava os interesses dos grupos que apoiaram Jânio.

Logo após a posse de Quadros já surgem sinais de pressão para que as diretrizes

políticas nacionais se aliem aos interesses do grande capital. Ele recebe um documento

do CONCLAP – Conselho Nacional das Classes Produtoras, Sugestões para uma

política nacional de desenvolvimento.51

O documento exigia a reafirmação do papel da empresa privada e do

capital estrangeiro no planejamento do desenvolvimento, o controle da

mobilização popular e da intervenção estatal na economia, a redefinição das

funções do Estado, medidas contra inflação e uma readequação da

administração pública. (...) As diretrizes políticas sugeridas pelo documento

inspiraram o governo Jânio Quadros e seriam mais tarde princípios básicos

do programa das classes empresariais em sua campanha contra João

Goulart.52

50

Apud. DREIFUSS, René Armand. Op. cit., p. 36. 51

Ibid., pp. 125-126. 52

Ibid., p. 126.

Page 26: O jornal Última Hora no governo João Goulart

26

Jânio monta um Executivo que favorece os interesses multinacionais e associados,

colocando no governo os grupos que formavam a administração paralela do governo

Kubitschek. Importantes grupos econômicos multinacionais e associados, influentes

associações de classes empresariais, membros da CONSULTEC e o núcleo da ESG

foram incluídos em postos da administração pública, alto comando da hierarquia militar

e em seu ministério.53

Em relação à CONSULTEC, esta consistia no mais influente dos

chamados escritórios técnicos. Estes surgiram da consciência empresarial da

necessidade de planejamento especializado para seu desenvolvimento. Eles realizavam

estudos de viabilidade e davam consultoria legal à empresas. Seus serviços serviam de

referência para empresas estrangeiras que buscavam entrar no mercado brasileiro.54

Após os primeiros meses de governo fica clara a impossibilidade de um

crescimento distributivo esperado pelas camadas populares. A economia estava

enfraquecida. O plano de Kubitschek de promover um crescimento “acelerado” esgotou

os recursos do Estado e sua política de “adiamento de problemas” deixou para Jânio

uma inflação cada vez mais incontrolável, dificuldades na balança de pagamentos,

exaustão do mercado de consumo de bens duráveis e estagnação da economia agrária.55

Quadros não consegue manter a uma base de apoio forte nas camadas de esquerda

e gradualmente os setores de direita, incluindo a UDN, se afastam do presidente.

Enquanto no plano interno desenvolveu uma política considerada conservadora e

alinhada aos interesses multinacionais e associados, em relação à política externa Jânio

seguiu uma linha independente. Ele assumiu uma posição contrária a dos Estados

Unidos em relação a Cuba e aproxima-se de países socialistas do Leste europeu.

Posicionou-se, ainda, contra o colonialismo e a favor da autodeterminação dos povos.

Estas atitudes se opõem aos interesses do capital multinacional e associado. Jânio

começa a sofrer pressões de ambos os lados, da direita e de uma esquerda trabalhista

cada vez mais organizada, e não consegue aprovação para seus projetos.

Em meio a esta situação Jânio Quadros renunciou na esperança de ser

reconduzido ao governo por seus apoiadores e ter mais liberdade de ação no cargo. Ele

se aproveitou da visita de João Goulart à China comunista, em uma missão de boa

vontade e comercial, para usar o medo de um presidente de esquerda a seu favor.

53

DREIFUSS, René Armand. Op. cit. p.126 54

Ibid., pp. 82-83. 55

Ibid., p. 128.

Page 27: O jornal Última Hora no governo João Goulart

27

Quadros, porém, não recebeu apoio da sociedade para retornar ao cargo e iniciou-se

uma crise política no país em torno da sucessão presidencial.56

Em caso de vacância do cargo de presidente, segundo a Constituição, o vice-

presidente deveria assumir, e na impossibilidade deste, o presidente da Câmara dos

Deputados. Devido à ausência de João Goulart, assume interinamente Pascoal Ranieri

Mazzilli no dia 25 de agosto de 1961.

Apesar da posse de Jango estar prevista na Constituição, setores da sociedade se

opuseram à sua posse, juntamente com os três ministros militares. Estes alegavam que

ela significaria séria ameaça à ordem e às instituições, com base nas posições políticas,

consideradas esquerdistas, defendidas por Goulart. Neste cenário ocorreu uma forte

mobilização pró e contra a posse de Goulart, polarizando a sociedade brasileira.

Em resistência ao veto militar Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul,

e o general José Machado Lopes, comandante do III Exército, sediado no estado,

iniciaram uma campanha nacional pela posse de Goulart. Formou-se a Cadeia da

Legalidade, rede de mais emissoras de rádio incentivando a população a se mobilizar

em defesa da legalidade. No Congresso Nacional, ainda, parlamentares rejeitaram o

pedido de impedimento de Jango e propuseram a adoção de um regime parlamentarista

como uma solução conciliatória.57

A sociedade se polarizou entre defensores da legalidade e os partidários do veto,

chegando a haver reais possibilidades de confronto militar. Este impasse durou vários

dias.

Enquanto ferviam as negociações, Jango, informado do rumo

dos acontecimentos, aproximava-se do território brasileiro. De

Cingapura, seguiu para Paris, e da capital francesa para Nova Iorque,

onde chegou em 30 de agosto. Nessa cidade, concedeu uma entrevista

à imprensa onde declarou que seguiria para a Argentina e chegaria ao

Brasil pelo Rio Grande do Sul. No dia seguinte viajou para Buenos

Aires, onde foi impedido de desembarcar, em virtude de forte

dispositivo militar armado pelo governo argentino. Nesse mesmo dia,

rumou para Montevidéu, onde era esperado pelo embaixador brasileiro

56

DE PAULA, Christiane Jalles. O segundo Mandato e a crise sucessória. Rio de Janeiro: CPDOC.

Disponível em:

http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/VicePresidenteJanio/O_segundo_mandato_e_a_crise_

sucessoria. (Acessado em 17/06/2010) 57

Ibid.

Page 28: O jornal Última Hora no governo João Goulart

28

Valder Sarmanho, cunhado de Getúlio Vargas. Na capital uruguaia,

Goulart decidiu aceitar a fórmula parlamentarista, mesmo contando

com o apoio de importantes setores que rejeitavam essa solução

conciliatória.

A profunda crise instalada no país com a renúncia de Jânio

chegava ao fim, e sem derramamento de sangue. No dia 2 de

setembro, o Congresso Nacional aprovou a emenda parlamentarista e,

finalmente, no dia 7, João Goulart foi empossado na presidência da

República.58

A emenda constitucional implantou o regime parlamentarista com uma vigência

temporária, segundo a qual nove meses antes do término do mandato de Goulart haveria

um plebiscito para decisão de continuidade do parlamentarismo ou retorno ao

presidencialismo. Jango, tendo em vista sua fragilidade política e buscando a

restauração do regime presidencialista, tentou ampliar suas alianças e defendeu um

desenvolvimento nacional-reformista.

Em relação à denominação de “reformas de base” Goulart reuniu as reformas

bancaria, fiscal, urbana, administrativa, agrária e universitária. Devido a sua

popularidade nas camadas mais humildes, buscou ampliar o eleitorado estendendo o

direito de voto aos analfabetos e às patentes subalternas das forças armadas. Tentou,

também, instaurar medidas que permitissem o controle do Estado na economia e nos

investimentos estrangeiros no país, entre elas a de restrição a remessa de lucros pelas

companhias multinacionais às suas matrizes.59

A ascensão de Jango à presidência significou uma vitória dos interesses das

camadas mais populares a partir do momento que estes passaram a compor as diretrizes

do Estado. Com isto, durante o período parlamentarista, houve uma redefinição de

forças sociais e políticas. Isto ficou nítido, por exemplo, nas eleições de 1962, que

alteraram as relações de força dentro do Congresso Nacional. Enquanto o PSD manteve-

se como partido mais votado, a UDN foi superada pelo PTB. Com isto ocorre uma

redefinição de alianças e maior fragmentação no sistema partidário. Setores importantes

58

DE PAULA, Christiane Jalles. Op. cit. 59

FERREIRA, Marieta de Moraes. As reformas de base. CPDOC. Disponível em:

http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/NaPresidenciaRepublica/As_reformas_de_base.

(Acessado em 17/06/2010)

Page 29: O jornal Última Hora no governo João Goulart

29

do PSD, considerado um partido moderado, passam a se alinhar à UDN para barrar

reformas as propostas por Goulart.

A radicalização e a fragmentação atingiam não só os partidos

políticos. À esquerda e à direita surgiam diversas organizações que se

mobilizavam pró ou contra as reformas. Algumas como o Instituto de

Pesquisa e Investigações Sociais (IPES) e o Instituto Brasileiro de

Ação Democrática (IBAD) eram financiadas por setores empresariais

contrários a Goulart. No campo da esquerda, a disputa pela condução

do movimento popular era acirrada. Em 1962, os comunistas se

dividiram em duas organizações: o Partido Comunista Brasileiro

(PCB), ligado à URSS, e o Partido Comunista do Brasil (PC do B),

mais próximo da China. Havia ainda a Política Operária (Polop); a

Ação Popular (AP), ligada à Igreja Católica; as Ligas Camponesas,

dirigidas por Francisco Julião, e o próprio PTB, cuja ala mais radical

era liderada por Brizola.

A Igreja Católica, que também se encontrava dividida entre um

setor mais progressista e um mais conservador, passou a ser um ator

importante no período. Sua ala mais politizada fazia trabalho de

alfabetização através dos Movimentos Eclesiais de Base (MEB),

enquanto sua ala mais conservadora promovia manifestações contra o

governo.60

O plebiscito, antecipado para janeiro de 1963, restaurou o presidencialismo tendo

ampla margem de votos. No entanto, as reformas propostas por Goulart não

conseguiram ser implementadas devido a forte resistência no Congresso. Dentro desde

ambiente político polarizado a proposta conciliatória populista fica limitada frente a

uma crise econômica e uma crise de regime.

Neste cenário de contestação de regime, os órgãos de imprensa travam

verdadeiras batalhas pela conquista da opinião pública. O Última Hora, assumidamente

defensor de Goulart, teve um papel de destaque neste momento de crise do populismo,

enquanto a maior parte da imprensa se colocou, gradativamente, contra a permanência

de Goulart no poder.

60

PANDOLFI, Dulce. O cenário político partidário do periodo. CPDOC. Disponível em:

http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/NaPresidenciaRepublica/O_cenario_politico_partidari

o_do_periodo. (Acessado em 17/06/2010)

Page 30: O jornal Última Hora no governo João Goulart

30

Page 31: O jornal Última Hora no governo João Goulart

31

CAPÍTULO 3

AS MENSAGENS

Este capítulo se destina à análise das mensagens do Última Hora nos episódios da

criação do Comando Geral dos Trabalhadores e da Revoltas dos Sargentos de 1963. A

partir deste recorte, tenho como objetivos analisar o papel partidário que este exerceu no

cenário de crise de regime que vivia a sociedade brasileira no início dos anos 1960.

Recorro aos editoriais referentes aos temas e, buscando enriquecer a pesquisa,

confronto-os com as notícias de primeira página de outros periódicos. Para tal,

selecionei o Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda, um dos maiores porta-vozes das

ideologias conservadora e direitista no país, representante dos interesses do capital

multinacional e associado, e grande adversário de Getúlio Vargas, e dos movimentos

políticos trabalhista e comunista. Portanto, opositor de Jango e rival declarado do UH.

Durante o governo de Goulart, Lacerda era governador da Guanabara.

Recorro ainda ao Jornal do Brasil, que se colocava como representante de ideais

liberais, e a O Semanário, defensor de um desenvolvimento nacionalista, já comentados

no capítulo 2. Desta forma busco ilustrar como algumas das influências políticas

estavam agindo no Rio de Janeiro, ainda a cidade central do cenário político brasileiro.

A CRIAÇÃO DO COMANDO GERAL DOS TRABALHADORES

No início da década de 1960, principalmente no governo Goulart, as agitações

populares autônomas haviam atingido níveis de atividade e, sobretudo de influência

política, sem paralelo na história brasileira. A mobilização popular passou a pressionar

as estruturas dominantes em função da crise econômica, que reduziu a capacidade de

emprego e o valor relativo do salário-mínimo, em função da alta inflação.

Taxa de Inflação Anual – IGP-DI

1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964

24,57% 6,95% 24,38% 39,44% 30,46% 47,79% 51,60% 79,91% 92,12%

Fonte: IPEA

Page 32: O jornal Última Hora no governo João Goulart

32

As classes trabalhadoras exigiam medidas que seguissem o discurso nacional-

reformista, defendido por Jango durante toda sua carreira política. O clima de tensão

que se instaura faz com que o bloco oligárquico-industrial se afaste cada vez mais de

João Goulart, deixando-o dependente dos trabalhadores mobilizados, pois eram a única

“massa de manobra” política restante ao governo.61

As entidades independentes indicavam uma crise de regime porque significavam

que o aparato jurídico-político de controle dos sindicatos estava deixando de funcionar,

abalando esse importante mecanismo de dominação classista. Goulart teve relações

contraditórias com essas entidades, especialmente o CGT, que, se, por um lado, o

pressionava, por outro lhe dava apoio político.

A crescente independência destas contrariava, ainda, os interesses do capital

multinacional e associado e criava um clima de insegurança nos setores médios da

sociedade. A convergência de classes do compromisso populista já não era possível.

Um episódio que marca este processo de independência do movimento sindical e,

conseqüentemente, de crise de regime é a criação do Comando Geral dos Trabalhadores.

Este era uma organização intersindical de trabalhadores que não era reconhecida pelo

Ministério do Trabalho.62 Criado, em 1962, com o objetivo de orientar e dirigir o

movimento sindical brasileiro:

Entre 17 e 19 de agosto, realizou-se em São Paulo o IV

Encontro Sindical Nacional dos Trabalhadores. Os delegados

presentes em número de 2.566, representando predominantemente os

estados do Rio de Janeiro, Guanabara e São Paulo, comprometeram-se

a trabalhar pela volta do regime presidencial sob a condição de que

Goulart considerasse algumas de suas reivindicações básicas, como a

revogação da Lei de Segurança Nacional, a extensão do direito de

voto a todos os adultos, inclusive analfabetos e soldados, o aumento

de 100% no salário mínimo, a reforma agrária, a reforma bancária, a

promulgação do direito de greve e a limitação do direito à remessa de

lucros para o exterior. Ainda nesse encontro, com a finalidade de

61

DREIFUSS, René Armand. Op. cit. pp. 132-36. 62

KORNIS, Mônica e FLAKSMAN, Dora. “Comando Geral dos Trabalhadores (CGT)”. In: ALVEZ DE

ABREU, A. Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930. Rio de Janeiro, Ed. FGV, 2001, p.

842.

Page 33: O jornal Última Hora no governo João Goulart

33

impulsionar o movimento trabalhista, o Comando Geral de Greve63

transformou-se no Comando Geral dos Trabalhadores.64

A questão sindical brasileira era um tema delicado e as diversas vertentes políticas

o interpretaram de acordo com os interesses que defendiam. Durante o mesmo fim de

semana em que se realizou o IV Encontro em São Paulo, no Rio de Janeiro foi realizado

o II Encontro Interestadual de Trabalhadores Livres. Este último se colocou como um

movimento trabalhista de oposição a Goulart, seguindo a linha lacerdista.

O Tribuna da Imprensa não tratou o Encontro de São Paulo, utilizando-o, apenas,

como exemplo em um discurso de ataque ao presidente.

O GOVERNO CONSPIRA

Não darei um golpe de cima para baixo, não usarei o exército –

diz o Sr. João Goulart. Minha força é do povo. Não posso evitar o

movimento de baixo para cima. É o golpe da República Sindicalista.65

Este periódico, que representava interesses de oposição direta a Goulart, exalta o

encontro trabalhista ocorrido no Rio de Janeiro, que contou com a presença do

governador Carlos Lacerda em sua cerimônia de encerramento. As notícias

apresentavam críticas de trabalhadores ao presidente, que concluíram a incapacidade de

Goulart de governar.

De forma semelhante, o Jornal do Brasil, em sua edição de domingo

(19/08/1962), buscou, desvincular o presidente dos trabalhadores, associando-o a

comunistas e utilizando o “discurso dos trabalhadores”.

Dois mil trabalhadores, representando 1300 sindicatos e

associações de classe, compareceram ao Encontro, que acusou

também o Sr. Leonel Brizola de favorecer a propagação do

comunismo. À sessão de encerramento, hoje, estará presente o

governador Carlos Lacerda.66

63

O Comando Geral da Greve (CGG), que deu origem ao CGT, foi criado em 1962. No mês de junho se

iniciou as negociações para a formação de um novo ministério, em função da renúncia do primeiro-

ministro Tancredo Neves. Neste episódio criou-se o CGG que decretou uma greve geral de 24 horas, no

dia 5 de julho, como forma de pressionar o governo a uma escolha favorável ao movimento sindical. 64

KORNIS, Mônica e FLAKSMAN, Dora. Op. cit., p. 843. 65

Tribuna da Imprensa. Edição 8287, 18/08/62, p. 4. 66

Jornal do Brasil. Edição 193 (Ano LXXII), 19/08/62, p. 11 (1° cad.).

Page 34: O jornal Última Hora no governo João Goulart

34

ENCONTRO DE TRABALHADORES DEMOCRÁTICOS CULPA

GOVERNO PELA INFILTRAÇÃO COMUNISTA

Na inauguração do Encontro, seu presidente, Sr. Antonio

Pereira Magaldi, que é também presidente da Confederação Nacional

dos Trabalhadores no Comércio, ressaltou a união de todos os

trabalhadores democráticos do país na firme disposição de reagirem

contra a crescente infiltração comunista.67

Em defesa dos interesses nacionalistas, O Semanário interpretou estes eventos

comemorando o IV Encontro Sindical Nacional. A notícia era intitulada “CONGRESSO

DE SÃO PAULO FOI VITÓRIA DOS TRABALHADORES”68

. O periódico acusou

Lacerda e seus aliados de tentarem sabotar o evento, no entanto, este teria conseguido

ser um espetáculo de civismo e patriotismo dos trabalhadores brasileiros.

O Última Hora, assim como O Semanário, não menciona a reunião de

trabalhadores do Rio, de base lacerdista. Noticia, apenas, o Encontro ocorrido em São

Paulo.

LIDERES SINDICAIS INICIAM HOJE LUTA POR NOVOS

SALÁRIOS.

“Enquanto não conseguimos que o governo adote medidas

capazes de fazer cessar a alta desenfreada do custo de vida, vemo-nos

obrigados a pleitear, com necessário vigor, a elevação geral dos

salários, notadamente dos atuais níveis do salário-mínimo, que já

estão completamente superados, em todo o País”. Declarou à

[redação] de UH na tarde de ontem, o líder sindical Benedito

Cerqueira, a propósito da sugestão que a delegação carioca

apresentará, em São Paulo, no IV Encontro Sindical Nacional, que se

instala, na noite de hoje.69

O UH deu uma atenção diferencial a criação do CGT. Embora fosse um

organismo independente do Estado, o que ia contra a estrutura que sustentava o

67

Jornal do Brasil. Edição 193 (Ano LXXII), 19/08/62, p. 11 (1° cad.). 68

O Semanário. Edição 295, 23/08/62, p. 1. 69

Última Hora. Edição 929, 17/08/62, p. 9.

Page 35: O jornal Última Hora no governo João Goulart

35

populismo no Brasil, ambos buscavam manter o mútuo apoio. O CGT apoiou a

antecipação do plebiscito e a aplicação das Reformas de Base, propostas por Goulart.

COMANDO GERAL.

Além da proposta para que seja iniciada, em todo território

nacional, a luta pela revisão imediata dos atuais níveis de salário-

mínimo, a delegação carioca ao IV Encontro Sindical Nacional

apresentará uma outra sugestão, visando a criação do Comando Geral

dos Trabalhadores, organismo destinado a coordenar as lutas de

caráter mais geral do movimento sindical brasileiro. O referido

comando, conforme o pensamento dos líderes sindicais cariocas, seria

composto de dois representantes de cada Confederação, ou Federação

não confederada. No caso de qualquer Confederação escusar-se a

participar do novo organismo, caberia aos seus filiados, federações ou

sindicatos, indicar o representante do setor profissional. A nova

organização surgiria como resultado do importante papel

desempenhado pelo Comando Geral da Greve em 5 de julho,

estabelecido improvisadamente, para fazer face à necessidade de

arregimentar trabalhadores de todas as categorias profissionais para a

luta contra os golpistas e em defesa da legalidade e das liberdades

sindicais e democráticas que se encontravam ameaçadas. O novo

organismo, se aprovado no IV Encontro que se instala, hoje, em São

Paulo, terá funções mais amplas, devendo funcionar como órgão

coordenador da luta pela execução do programa a ser aprovado no

referido conclave.70

O Última Hora exaltou a organização e força do movimento sindical, podendo

legitimar as propostas presidenciais sem que Goulart se expusesse como um radical. Ele

tratou a força dos movimentos trabalhistas como um fator demonstrativo da necessidade

de aplicação dos projetos presidenciais.

IV ENCONTRO SINDICAL NACIONAL DECIDE:

REVISÃO IMEDIATA DE SALÁRIOS

São Paulo, 20 – (UH) – Revisão imediata de salário-mínimo

atual e delegação de poderes “ao comando geral da greve” para que, a

70

Última Hora. Edição 929, 17/08/62, p. 9.

Page 36: O jornal Última Hora no governo João Goulart

36

qualquer momento deflagre uma parada geral no País, em defesa dos

direitos e reivindicações dos operários, foram as principais resoluções

do “IV Encontro Sindical Nacional” que se encerrou na noite de

ontem com a presença de 3.500 delegados classistas, representando

associações e federações. Estiveram presentes ao encerramento, entre

outras autoridades o ministro do Trabalho, professor Hermes Lima,

representando o presidente da república, o jornalista João Pinheiro

Neto, subsecretário do Trabalho e o Sr. Dante Pellacani, presidente da

CNTI

MANIFESTO – Salientando que “não haverá solução favorável

ao povo, pela forma como procedem as cúpulas partidárias, e o

governo, com conciliações que atendem aos trusts, monopólios e seus

agentes, inimigos da nossa pátria”, os trabalhadores lançaram um

manifesto, aprovado por unanimidade no encontro e do qual se

destacam, além da revisão do salário-mínimo, os seguintes pontos:

1- Defesa das liberdades democráticas e sindicais;

2- Direito de voto aos soldados e analfabetos;

3- Democratização da lei eleitoral e legalização de todos

os partidos;

4- Contra a Lei de Segurança Nacional;

5- Pela ampla liberdade de imprensa;

6- Repudiar o substituto Jefferson de Aguiar e imediata

aprovação do projeto, originário da Câmara federal,

sobre o direito de greve;

7- Medidas reais contra os trusts e monopólio;

8- Reforma agrária radical;

9- Salário família

10- Aumento geral dos salários

11- Veto à tentativa de congelamento dos salários e

vencimentos de civis e militares;

12- Aplicação integral de todas as conquistas das leis

sociais e trabalhistas e da Lei de Organização de

Previdência Social;

13- Lutas pela revisão de jornada de trabalho da mulher,

de 8 para 6 horas;

Page 37: O jornal Última Hora no governo João Goulart

37

REFORMAS DE BASE

Os debates ocorridos nas sessões do IV Encontro

levaram os líderes sindicais a concluir que o fenômeno

altista é uma conseqüência natural do que

denominaram “estrutura econômica arcaica e viciada

em que vivemos”. Partindo desse princípio,

consideraram que “para se conseguir a estabilização e

posterior barateamento do custo de vida, são

necessárias as reformas de base, pelas quais vem

lutando os trabalhadores, sem que até agora tivessem

sido atendidos pelos que detém o poder”.71

O Última Hora, neste episódio, buscou demonstrar a força e organização do

movimento sindical exaltando, então, o apoio deste ao presidente. Os defensores dos

interesses populistas podiam projetar, de forma conveniente, sua força política para a

opinião pública, sem comprometer, diretamente, a imagem do presidente. Esta força

veio, em grande parte, do apoio dos movimentos sindicais. Por outro lado, a oposição ao

governo interpreta esta ascensão sindical como um mecanismo do presidente para

implementar uma “República sindicalista”, em alguns casos colocando-o como líder

conspirador e, em outros, como uma marionete dos comunistas.

A REVOLTA DOS SARGENTOS DE 1963

A Revolta dos Sargentos foi uma rebelião promovida por cabos, sargentos e

suboficiais da Marinha e Aeronáutica, em Brasília, no dia 12 de setembro de 1963. Este

episódio foi marcante por representar um ataque à hierarquia militar, significando,

então, que a polarização da sociedade já corrompia a disciplina dentro das próprias

Forças Armadas.

Esta questão militar não era inédita no Brasil. O movimento tenentista, que teve

início nos anos 20, por exemplo, já demonstrava uma cisão ideológica nas Forças.

71

Última Hora. Edição 929, 20/08/62, p.2.

Page 38: O jornal Última Hora no governo João Goulart

38

Com a renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, as Forças Armadas se

dividiram radicalmente, quase entrando em combate, contra e a favor da posse de

Goulart. Esta divisão permaneceu durante todo o governo de Jango.

A Revolta dos Sargentos ocorre em função da decisão do Supremo Tribunal

Federal (STF) de reafirmar a inelegibilidade de sargentos para órgãos do Poder

Legislativo. Esta limitação constava na Constituição de 1946.

A Carta de 1946 proibia, embora de forma pouco explícita, que

os chamados graduados das forças armadas (sargentos, suboficiais e

cabos) exercessem mandato parlamentar em nível municipal, estadual

ou federal. Nesse sentido, o direito à elegibilidade foi o móvel

principal das campanhas da categoria. Durante o mandato de João

Goulart (1961-1964), o movimento dos sargentos foi fortalecido

devido à sua participação, durante agosto e setembro de 1961, na

campanha da legalidade, que garantira a posse de Goulart. Além disso,

o movimento apoiava as reformas de base (agrária, urbana,

educacional, constitucional etc.) preconizadas pelo governo.72

Em 1962, nas eleições de outubro, sargentos dos estados da Guanabara, São Paulo

e Rio Grande do Sul, se candidataram para a Câmara Federal, assembléias legislativas e

para câmaras municipais. No estado da Guanabara, o sargento do Exército Antônio

Garcia Filho, apesar do impedimento constitucional, elegeu-se deputado federal e tomou

posse em 1º de fevereiro de 1963. No entanto, os candidatos do Rio Grande do Sul,

Aimoré Zoch Cavalheiro, e de São Paulo, Edgar Nogueira Borges, foram impedidos de

assumir seus cargos de deputado estadual e vereador, respectivamente.

No Rio de Janeiro, no dia 12 de maio de 1963, aproximadamente mil graduados se

reuniram para discutir este episódio e o subtenente Gelci Rodrigues Correia acusou a

ordem reinante de beneficiar apenas uma pequena parcela da sociedade. Declarou que

sua categoria não defenderia um regime excludente e exigiu do governo as reformas de

base. Em resposta a esta declaração, o ministro da Guerra, general Amauri Kruel

ordenou a prisão de Gelci por 30 dias.

72

LAMARÃO, Sérgio. A Revolta dos Marinheiros. CPDOC. [online] Disponível em:

http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/AConjunturaRadicalizacao/A_revolta_dos_marinheiro

s. (Acessado em 20/06/2010)

Page 39: O jornal Última Hora no governo João Goulart

39

No dia 11 de setembro o STF reafirmou a inelegibilidade dos sargentos,

suboficiais e cabos, levando cerca de seiscentos graduados da Aeronáutica e Marinha a

tomarem o Departamento Federal de Segurança Pública (DFSP), a Estação Central da

Rádio Patrulha, o Ministério da Marinha, a Rádio Nacional e o Departamento de

Telefones Urbanos e Interurbanos, na capital do país, controlando a comunicação de

Brasília. Sob o comando do sargento da Aeronáutica Antônio de Prestes Paula, oficiais

militares foram presos juntamente com o ministro do STF, Vitor Nunes Leal. A revolta

durou cerca de doze horas e aumentou a tensão política nacional.

Este episódio marcou o período por ilustrar que nem as Forças Armadas estavam

imunes à radicalização existente no Brasil. A crise de regime torna-se cada vez mais

clara.

Os jornais tiveram as mais variadas interpretações. Dos periódicos aqui

analisados, o Última Hora foi o único a publicar a notícia ainda no dia 12 de setembro.

REVOLTA DE SARGENTOS EM BRASÍLIA

BRASÍLIA, 12 (UH) – Urgente – Dezenas de sargentos da

Marinha e Aeronáutica levantaram-se, esta madrugada, contra a

decisão do Supremo Tribunal Federal negando o recurso impetrado

pelo Sargento Aimoré Zech Cavaleiro para reformar pronunciamento

da Justiça Eleitoral, que lhe recusou o registro de candidato a

deputado estadual pelo PTB gaúcho.

O levante começou cerca de 1 hora da manhã quando os

primeiros amotinados convocaram a guarnição da FAB, sendo

ordenada a prisão de todo oficial encontrado na cidade. Duas horas

depois estavam ocupados o DTUI, o prédio do DFSP, na Esplanada

dos Ministérios, os pontos de saída para Goiânia e Belo Horizonte,

sendo requisitadas todas as viaturas da Radiopatrulha. ÀS 3 horas,

cercada e ocupada a estação telefônica, sendo interrompidas e

controladas as linhas urbanas e interurbanas.73

73

Última Hora. Edição 4148, 12/09/63, p. 1.

Page 40: O jornal Última Hora no governo João Goulart

40

Esta pequena nota publicada pelo UH foi apenas informativa, tendo em vista que

os eventos ainda eram muito recentes. Nas edições do dia 13, no entanto, o episódio de

Brasília era a principal notícia. O Tribuna da Imprensa condenou a rebelião, embora

tenha identificado como maior culpado o presidente, acusando-o de praticar

constantemente a violência e a inconstitucionalidade, dando como exemplo a

antecipação do plebiscito, que foi interpretada como inconstitucional pelo periódico. O

jornal exigiu a punição dos sargentos e pediu que se buscassemos “verdadeiros

culpados”, que estimulavam este tipo de indisciplina e violência.

A REVOLTA DOS ANJOS

A rebelião dos sargentos, que convulsionou Brasília e inquietou

o país todo (menos, naturalmente, o Sr. João Goulart), é mais um

episódio, desta vez gravíssimo, da desordem, do descaso, da

incapacidade e da falta de autoridade deste inqualificável governo que

aí está.

(...) Quem semeia ventos, colhe tempestade. Pois o Sr. João

Goulart está colhendo agora o que plantou incansavelmente. A paz de

pântano que tanto estimulou e da qual se fez o mais compenetrado

arauto, explodiu agora nesse movimento sedicioso que inquieta todo o

país, que faz tremer as instituições, e que compromete mais uma vez,

no exterior, o nosso crédito e a nossa reputação.74

O Jornal do Brasil reservou quatro páginas, em sua edição do dia 13 de setembro,

à revolta. Na última destas, a Coluna do Castello, que teve como autores proprietária e

diretores do jornal, foi intitulada: “BASTA”. Nesta os diretores do periódico se

pronunciam sobre o episódio de Brasília e o cenário político do período.

Chegou o momento de inverter a tendência, de mudar o rumo

da corrente que no vai arrastando aos baixos antidemocráticos.

Chegou o momento – agora mais que antes, com a revolta de

sargentos contra a decisão do Supremo Tribunal Federal – de pôr

termo no seio do próprio governo à coexistência de duas políticas:

74

Tribuna da Imprensa. Edição 3148, 13/09/63, p. 1.

Page 41: O jornal Última Hora no governo João Goulart

41

uma legal, sem eficiência e resultado administrativo democrático, e

outra ilegal, visivelmente subversiva, montada nesse apêndice ilegal

do governo, chamado Comando Geral dos Trabalhadores.75

O JB, assim como o Tribuna da Imprensa, aponta Jango como conivente com a

revolta por não tomar nenhuma atitude drástica. Ambos os periódicos fazem discursos

alarmantes em relação à administração de Goulart.

O Semanário, porém, reconheceu a legitimidade da revolta dos sargentos e

defendeu a anistia para eles, acusados de quebrar a hierarquia militar. Comparou o caso

ao episódio de 1961, quando os militares que conspiraram contra a posse de Goulart

foram anistiados imediatamente. Como se nota, por ser um periódico de diretrizes

nacionalistas, a interpretação do periódico sobre a revolta relaciona esta questão à

manutenção da ordem vigente, a qual, segundo O Semanário, atacava os interesses

nacionais em favor do domínio estrangeiro.

A REVOLTA DOS SARGENTOS

Com essa atitude de intolerância, os reacionários visam é

impedir as reformas que o general Jair [Dantas Ribeiro, ministro da

Guerra] já declarou não poderem ser proteladas por mais tempo,

atraindo para isso o poder civil e as autoridades militares para a órbita

de influência do “gorilismo”76

e do IBAD, e jogando o Exército contra

a classe operária, sufocando em sangue a luta dos trabalhadores por

melhores condições de vida e, como coroamento dessa obra de traição

aos interesses do povo brasileiro, abrindo de par em par as portas de

país à invasão e ao domínio dos monopólios e trustes internacionais.77

75

Jornal do Brasil. Edição 214 (ano LXXIII), 13/09/63, p. 6 (1° cad.). 76

A associação a gorilas passou a ser realizada por grupos de esquerda para satirizar setores

conservadores e militares de direita. O termo “gorila” sintetizava brutalidade e estupidez, e foi apropriado

pela esquerda brasileira para atacar a repressão e práticas consideradas golpistas. Para uma analise mais

específica em torno das origens e usos da figura caricatural do gorila no Brasil, ver MOTTA, Rodrigo P.

S. A figura caricatural do gorila nos discursos da esquerda. Uberlândia: ArtCultura, v. 9, n. 15, p.

195-212, jul.-dez. 2007. 77

O Semanário. Edição 351, 25/09/63 p. 1.

Page 42: O jornal Última Hora no governo João Goulart

42

O Última Hora, por fim, tem a preocupação de destacar a posição presidencial em

defesa da ordem e da hierarquia militar. O Brasil, em 1963, estava em um momento

crítico da crise política e Goulart busca tranqüilizar a população. Publicou na primeira

página da edição de 13/09/1963:

JANGO EM BRASÍLIA: GOVERNO INFLEXÍVEL NA

ORDEM E NA LEI

Reafirmou o chefe da Nação que “o governo será sempre

inflexível na manutenção da ordem e na preservação das instituições,

respeitando e fazendo respeitar as decisões dos poderes da República”

e que “nesse propósito não tolera a indisciplina e a insubordinação,

venham de onde vierem e qualquer que seja o pretexto que se

inspirem”.

“Somente em um clima de segurança e normalidade

democráticas – concluiu – pode o povo brasileiro concretizar as

reformas estruturais que correspondem as suas aspirações de

progresso e justiça social”. 78

Apesar do discurso, intolerante à rebelião, de Goulart que o UH transcreve com

maior importância, o jornal não culpou os sargentos revoltosos pelo incidente,

interpretando-o sob um olhar estrutural e com um tom de alerta. O UH vai defender que

este episódio é conseqüência das mudanças sofridas pela sociedade brasileira e que

enquanto a estrutura política e social não se adaptasse a esta nova realidade, através das

reformas de base, estes episódios críticos continuariam acontecendo.

A EXPLOSÃO

O levante dos sargentos em Brasília, antes de submetido a

análise mais profunda, acentua a atmosfera explosiva que o país vive

desde a renúncia de Jânio Quadros, da qual não consegue libertar-se

78

Última Hora. Edição 4149, 13/09/63, p. 1.

Page 43: O jornal Última Hora no governo João Goulart

43

para o retorno ao clima normal das democracias organizadas. É inútil

esconder os fatos. Há um vulcão sobre o país com uma agravante: sua

erupção agora atingiu a base mesma da segurança nacional, as Forças

Armadas.

Êste é o momento de todos aqueles que detêm uma parcela de

responsabilidade na vida brasileira compreenderem que a situação não

admite mais subterfúgios, paliativos ou hesitações. O regime corre um

grande perigo. A paz social tornou-se uma ficção.

As classes dirigentes têm que admitir a realidade: a estrutura

política e social do país está superada. As Reformas de Base, que os

constituintes de 1946 não souberam ou não puderam institucionalizar,

estão na raiz de todas as explosões políticas, sociais, econômicas,

financeiras e militares em que o país vem-se desintegrando desde a

morte de Getúlio Vargas. Só os cegos, os aventureiros e os

reacionários não querem reconhecer esse fato. A advertência recente

de Kennedy de que a América Latina caminha para a reforma ou para

a revolução tem sido a constante advertência do presidente João

Goulart, desde sua acidentada posse em 1961. Advertência que não

admite mais protelação para seu entendimento.

As espadas desembainhadas em Brasília puderam conter

facilmente um levante de sargentos, mas não poderão talvez conter

amanhã a explosão final que ocorrerá, se o Brasil não for ajustado à

sua nova realidade social que só as reformas de base imporão sem

derramamento de sangue. A opção é clara.79

Nas publicações, destes quatro periódicos, em relação a este episódio, pode-se destacar

que todos interpretam a revolta sob um olhar estrutural. Enquanto o Tribuna da imprensa e o JB

denunciaram o presidente como principal culpado pelo “caos instaurado”, o Semanário e o UH

apontaram os projetos presidenciais como a solução para a crise, que, segundo eles, teria como

causa os impedimentos às reformas necessárias, causados por conservadores e elitistas. O

Última Hora tinha como objetivo, ainda, transmitir a voz de João Goulart e sua postura em

relação ao ocorrido, que seria de defensor da ordem e contra radicalismos.

79

Última Hora. Edição 4149, 13/09/63, p. 1.

Page 44: O jornal Última Hora no governo João Goulart

44

CONCLUSÃO

Neste trabalho procurou-se analisar os traços que compunham o projeto populista,

defendido por diversas parcelas da sociedade, através do periódico Última Hora,

durante o governo Goulart. Os debates propostos pelo jornal cotidianamente fizeram

deste uma ferramenta política influente na sociedade brasileira, que, oficiosamente,

defendeu os interesses presidenciais. Desta forma o UH tornou-se parte integrante e

ativa de linhas político-partidárias, seguindo o conceito de “partido” de Gramsci.

Com o objetivo de facilitar esta percepção dos papéis partidários que os

periódicos exerciam, os episódios selecionados para análise nos ilustram dois momentos

de crise do regime instaurado. A tensão política no Brasil atingiu visibilidade

internacional devido à polarização radical que se instaurava em diversos setores da

sociedade.

Os dois episódios, a criação do Comando Geral dos Trabalhadores e a Revolta dos

Sargentos de 1963, foram selecionados por representarem rupturas na estrutura do

regime instaurado. A criação do CGT, um órgão independente do Estado, ia contra a

estrutura populista que influenciava o movimento sindical brasileiro através de vínculos

entre sindicato e Estado, estabelecidos na Era Vargas. A Revolta dos Sargentos, por sua

vez, representou a quebra da hierarquia militar, sendo interpretada por oposicionistas ao

governo como sinal revolucionário.

A partir das mensagens analisadas, pode-se concluir que o Última Hora, durante o

governo João Goulart, atuou como a “voz” populista na mídia impressa. Através destas,

dois interesses se mostraram em todas as edições: defesa incondicional dos interesses

presidenciais e defesa de interesses populares, trabalhistas e nacionalistas.

Com as notícias dos jornais Tribuna da Imprensa, Jornal do Brasil, O Semanário

e Última Hora pode-se ilustrar, de forma resumida, o cenário da mídia impressa e como

estas quatro linhas políticas, respectivamente “lacerdista”, liberal, nacionalista e

“janguista”, atuavam em defesa de seus interesses. Esta última defendendo o governo de

Jango, que se afastava gradativamente da filosofia populista, ao tomar atitudes radicais

conforme a crise se agrava.

Page 45: O jornal Última Hora no governo João Goulart

45

O UH, sempre defensor e um símbolo populista na mídia, defendeu e preservou a

imagem de Goulart, mas teve a liberdade de discursar de forma mais agressiva e radical

de forma conveniente aos interesses presidenciais. A respeito do UH, enfim, Antonio

Hohlfeldt, resumidamente, define:

Última Hora, genericamente considerada, deve ser

compreendida como uma publicação popular e populista, na medida

em que deu voz ao segmento popular, pelos valores do salário

mínimo, na defesa da legalidade, no apoio a Cuba, na resistência ao

aumento das passagens do transporte coletivo, contra a inflação, etc. –

reconhecendo, pois, e transformando as camadas populares em

sujeitos da política e da história. Nesta perspectiva, Última Hora foi

um jornal nacionalista, porque defendeu projetos de industrialização

nacional, autônoma e independente – ao menos no discurso – ainda

que sob um enfoque capitalista que se articulava com o capitalismo

internacional.80

Seja em defesa de interesses populistas, nacionalistas, trabalhistas ou pessoais,

como nos governos de Getúlio Vargas ou João Goulart, o Última Hora se consagrou

uma importante ferramenta política no Brasil. Seu prestígio político levou candidatos

populistas a financiarem a instalação de filiais em suas regiões, devido à influência que

um veículo de mídia impressa de grande porte exerce sobre a opinião pública. Durante o

governo Goulart, o UH foi peça fundamental na batalha hegemônica travada no Brasil.

80

HOHLFELDT, Antonio. O projeto político-ideológico de Última Hora. Salvador: INTERCOM,

2002, p.6.

Page 46: O jornal Última Hora no governo João Goulart

46

BIBLIOGRAFIA

Fontes:

Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. Setor de Periódicos:

Jornal do Brasil

O Semanário

Tribuna da Imprensa

Última Hora

Obras Gerais:

ABREU, Alzira Alves (Org.). A imprensa em transição. Rio de Janeiro: Fundação

Getúlio Vargas. 1996.

AZEVEDO, F. A. “Mídia e democracia no Brasil”. In: Opinião pública. Campinas,

vol. 12, n. 1, Abril/Maio, 2006.

BANDEIRA, Moniz. Presença dos Estados Unidos no Brasil. Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira, 1973.

BARBOSA, Marialva. “Como escrever uma história da imprensa?” In: GT História do

jornalismo. II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho. Florianópolis, 2004.

BARBOSA, Marialva. “Imprensa e poder no Brasil pós-1930”. In: Em Questão. Porto

Alegre, vol. 12, n. 2, p. 215-234, jun./dez. 2006.

BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco (org.).

Dicionário de Política. Brasília: UnB, 2º vol.,1995, 11ª edição.

BOURNE, Richard. Getúlio Vargas of Brazil 1883-1954. London: Charles Knight &

Co. Ltd., 1974.

Page 47: O jornal Última Hora no governo João Goulart

47

DREIFUSS, René Armand. 1964: A Conquista do Estado. Ação Política, Poder e

Golpe de Classe. Petrópolis: Vozes, 1981.

GRAMSCI, Antonio. Maquiavel, a Política e o Estado Moderno. Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira, 1984.

GRUPPI, Luciano. O conceito de hegemonia em Gramsci. Rio de Janeiro: Graal,

1978.

HOHLFELDT, Antonio. O projeto político-ideológico de Última Hora. Salvador:

INTERCOM, 2002.

__________________. Última Hora: populismo nacionalista nas páginas de um

jornal. Porto Alegre: Sulina, 2002.

IANNI, Octavio. O colapso do Populismo no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 1968.

KORNIS, Mônica e FLAKSMAN, Dora. “Comando Geral dos Trabalhadores (CGT)”.

In: ALVEZ DE ABREU, A. Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930. Rio

de Janeiro: Ed. FGV, 2001.

LOPES, Juarez Brandão. Desenvolvimento e mudança social: formação da sociedade

urbano-industrial no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, MEC, 1976.

MOTTA, Rodrigo P. S. A figura caricatural do gorila nos discursos da esquerda.

Uberlândia: ArtCultura, v. 9, n. 15, p. 195-212, jul.-dez. 2007.

NASCIMENTO, Marcio S. A participação do Jornal do Brasil no processo de

desestabilização e deposição do presidente João Goulart. Dissertação de Mestrado.

Rio de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em História Social, UFRJ, 2010.

Page 48: O jornal Última Hora no governo João Goulart

48

PEROSA, Lilian Maria F. de Lima. Última Hora: uma revolução na imprensa

brasileira. 2003.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & história cultural. Belo Horizonte:

Autêntica, 2003.

ROUCHOU, J. S. Duas vozes de Wainer. Rio de Janeiro: Universidade Ed., 2004.

SEMERARO, Giovanni. Gramsci e a sociedade civil. Petrópolis: Vozes, 1999.

SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. 3ª ed. São Paulo: Martins

Fontes, 1983.

SOUZA BRASIL, Rafael do Nascimento. Um jornal que vale por um partido – O

Semanário. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em

História Social, UFRJ, 2010.

SOUZA, Maria do Carmo Campelo de. Estado e Partidos Políticos no Brasil 1930 a

1964. São Paulo: Ed. Alfa-Omega,1976.

STEPAN, Alfred. Os militares na política: As mudanças de padrões na vida

brasileira. Rio de Janeiro: Artenova, 1975.

STEWART, Angus. “As raízes sociais do populismo”. In: TABAK, Fanny (Org.)

Ideologias: Populismo. Rio de Janeiro: Eldorado, 1973.

TAVARES, Maria da Conceição. Da substituição de importações ao capitalismo

financeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.

TOLEDO, Caio Navarro de. O governo Goulart e o golpe de 64. São Paulo: Editora

Brasiliense, 1982.

WAINER, Samuel. Minha razão de viver. Rio de Janeiro: Record, 1988.

Page 49: O jornal Última Hora no governo João Goulart

49

WEFFORT, Francisco. O populismo na política brasileira. Rio de Janeiro: Paz e

Terra, 1978.

Artigos disponíveis em Revistas virtuais:

DE PAULA, Christiane Jalles. O segundo Mandato e a crise sucessória. CPDOC.

Disponível em:

http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/VicePresidenteJanio/O_segundo_ma

ndato_e_a_crise_sucessoria.

FERREIRA, Marieta de Moraes. As reformas de base. CPDOC. Disponível em:

http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/NaPresidenciaRepublica/As_reforma

s_de_base.

KONDER, Leandro. A questão da ideologia em Gramsci. Disponível em:

www.gramsci.org/arquiv61.htm.

LAMARÃO, Sérgio. A Revolta dos Marinheiros. CPDOC. Disponível em:

http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/AConjunturaRadicalizacao/A_revolt

a_dos_marinheiros.

PANDOLFI, Dulce. O cenário político partidário do periodo. CPDOC. Disponível

em:http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/NaPresidenciaRepublica/O_cena

rio_politico_partidario_do_periodo.