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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos),Florianópolis, 2013. ISSN2179-510X
O INTEGRALISMO DE SAIA: MILITÂNCIA FEMININA NAS FILEIRAS
INTEGRALISTAS EM SANTOS
Lilian Tavares de Bairros1
Resumo: Este artigo busca depreender como se deram a participação das mulheres integralistas no
contexto político na cidade de Santos entre o período de 1934 e 1937. A Ação Integralista Brasileira
(AIB) foi um movimento político nacionalista, denominado de cunho autoritário, considerado por
alguns estudiosos como de extrema direita. Pode-se considerar que foi o primeiro partido de massas
do país, constituído na década de 1930. Seu lema máximo era a tríade: “Deus, Pátria e Família”, e
em função disso, conseguiu atrair a simpatia de diversos seguimentos sociais. Entende-se que o
integralismo abriu uma porta para as mulheres atuarem como militantes nas suas fileiras para
mantê-las protegidas dos ares cosmopolitas que sopravam da Europa, porém para algumas foi uma
grande oportunidade de participar ativamente da política do seu país. A atuação feminina não se
constituiu apenas no interior do integralismo, apesar de sua atribuição ser vinculada ao
assistencialismo e magistério, essas relações se deram de forma mais intensa como sugere a
historiografia atual.Este recorte busca mostrar a participação efetiva da militância feminina (as
Blusas-verdes) no desenvolvimento do movimento político, promovendo a doutrina integralista e o
assistencialismo diante dos novos adeptos e simpatizantes do Sigma na cidade de Santos.
Palavras-chave: Gênero, Integralismo e História Regional.
O integralismo foi um importante movimento político que, ao longo da década de 1930,
atraiu para suas fileiras um grande número de adeptos. A Ação Integralista Brasileira foi fundada
oficialmentenodia 7 de outubro de 1932por Plínio Salgado, com o lançamento doManifesto de
Outubro, no Teatro Municipal de São Paulo(TRINDADE,1979, pp.123-124).Homens, mulheres,
jovens e mesmo crianças faziam parte deste movimento de caráter ideológico, considerado por seus
estudiosos como de extrema direita. Para Maio e Cytrynowickz: “O integralismo se caracteriza
como um movimento de massa de corte nacionalista, antiliberal e anticomunista, os autores
evidenciam que a composição social da Ação Integralista Brasileira (AIB) em sua estrutura política
e organizacional, aproxima-se das congêneres fascistas” (MAIO: CYTRYNOWICZ, 2003, p.45,
apud, TRINDADE). 1 Pós-graduanda (Lato Sensu) na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP/Brasil). Pesquisadora integrante no Diretório de Pesquisa sobre integralismo pelo CNPq.
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Nesta paisagem de transformações sociais, políticas e econômicas que o país vivenciava,
novas oportunidades surgiram para as mulheres na esfera pública, possibilitando assim, uma maior
visibilidade feminina em espaços antes de exclusividade masculina (MANCILHA, 2011, p.185).
Considerando este contexto, a AIB2 não menosprezou o papel das mulheres nas suas fileiras,
tratando de agregar as “blusas-verdes” 3, a fim de utilizar à sua participação para disseminar a
ideologia integralista entre mulheres, jovens e crianças, mas também para resguardar à mulher das
ideias de emancipação feminina, esse pensamento pode-se entender melhor quando Plínio Salgado
em seu livro, A Mulher do século XX, lamenta que nessa modernidade não houvesse mais distinção
entre os sexos. Para o próprio autor, a libertação feminina era falta de espiritualidade vigente na
sociedade capitalista da época. As mulheres trabalhando fora de casa estavam se masculinizando,
enquanto os homens se efeminando, o Chefe nacional confirmava nas suas palavras que:
[...] uma das mais lamentáveis, consequências do facto de não estabelecer distinção entre o homem e a mulher, nos atos, nas maneiras, costumes, está em que a identidade de funções na vida social, transfere-se ao ambiente doméstico e traz ao homem a convicção de que não precisa da mulher no lar (SALGADO, 1946, p.42).
Podemos entender o pensamento da sociedade do começo do século XX, por meio das
palavras das Autoras Maluf e Mott, que:
As mudanças no comportamento feminino ocorrido ao longo das três primeiras décadas deste século incomodaram conservadores deixaram perplexos os desavisados, estimularam debates entre os mais progressistas (MALUF: MOTT, 1998, p.367).
Esse conservadorismo fica evidente no discurso sexista integralista. A mulher integralista
tinha grande contribuição a dar na tarefa de educação da consciência nacional, isso era vinculado às
senhoras e moças integralistas, encaminhando-se principalmente aos setores educacionais e
2A Ação Integralista Brasileira (AIB) nasceu numa fase de ascensão das ideias autoritárias de direita, a partir do marco político estabelecido pela Revolução de 1930, radicalizando em direção do discurso ideológico fascista as tendências antiliberais difundidas entre amplos setores políticos e intelectuais no contexto pós-revolucionário. Verbete do Dicionário Histórico Biográfico da CPDOC/FGV. Fonte Internet, disponível em:http://cpdoc.fgv.br/, acessado em 15 Jun. 2013 (versão on line). 3Eram denominadas desta forma, pois nas vestimentas dos integralistas predominava a cor verde oliva, que virou o símbolo dos adeptos, cujos codinomes: camisas-verdes para os homens e blusas-verdes para as mulheres marcaram a história do movimento. De acordo com o regimento interno do movimento integralista as mulheres eram obrigadas a usar o uniforme da AIB.
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assistenciais aos quais dispunham no Sigma4, ou seja, um modo para as manterem longe dos ares da
modernidade e liberdade da época.
Entretanto, autoras como, LídiaMaria Vianna Possas, Renata Simões Duarte e Virginia
Mancilha, contrapõem a ideia de que a mulher integralista era submissa, afirmando serem antes,
mais protagonistas do que a imprensa noticiava, fugindo, portanto do estigma de membros que
desempenhavam apenas papéis secundários. Eram oradoras, militantes ativas politicamente e
escritoras em jornais como A Offensiva e o Monitor Integralista; enas revistasAnauê e Brasil
Feminino5, entre outros. Em seu livro: Mulheres, Trens e Trilhos, LídiaPossas(2001) sugere que a
mulher ferroviária integralista, detinha um papel importante dentro da AIB. Para esta historiadora, a
mulher integralista tinha orgulho de ter participado ativamente na história do seu país, dentro das
fileiras do integralismo, o que fica patente nesta citação: “[...] vestia a camisa verde de que me
orgulho, porque embora mulher, desejo contribuir para a salvação da minha pátria [...]” Maria José
Nunes6, ferroviária e datilógrafa (POSSAS, 2001, p.124).
Como visto, o integralismo se apresentava inicialmente apenas com um caráter masculino,
porém, os ares cosmopolitas que tomavam conta dos ideais femininos, como a modernidade e a
liberdade acabaram colaborando para a participação das mulheres como militantes de relevância
dentro do movimento integralista, por isso a AIB tratou de atrair as mulheres paras suas fileiras.
Para realização da construção historiográfica deste artigo, realizamos um mapeamento no
Jornal A Tribuna de Santos, entre os anos de 1932 e 1937, que foi essencial para perceber o
manancial de informações existentes sobre o integralismo e a mulher na cidade de Santos. Por meio
dessa fonte primária foi possível analisar como se deram as relações políticas e sociais do Sigma
com a sociedade santista do período supracitado.
Os caminhos conhecidos por essa história nos mostraram as experiências femininas diante
da sua representação perante a sociedade na cidade de Santos deste período. O instrumento
utilizado, portanto, foi a imprensa local, um material indispensável para reconstrução da história do
movimento integralista, sobretudo, com relação aoestudo de gênero.
4O Sigma, letra grega que indica soma, corresponde, no nosso alfabeto, à letra ‘S’. Na AIB, esse símbolo tinha como objetivo lembrar que o movimento tinha o sentido de integrar todas as forças sociais do país como a suprema expressão da nacionalidade. (CAVALARI, 1999, p. 191). 5Revista Brasil Feminino, publicação oficiosa da Ação Integralista Brasileira, e como informador de todo o movimento da SNAFP, por ordem do Plínio Salgado, o Chefe Nacional. Informação sobre a mudança ideológica da revista para se tornar um objeto para imprensa feminina integralista. (revista Brasil Feminino, edição 35, 1937, p.1). 66 Maria José Nunes, nascida em Sena Madureira no Amazonas foi admitida em 13/01/1931 como datilógrafa na Estrada de Ferro Noroeste do Brasil em Bauru e tornou-se militante integralista, assumindo publicamente sua opção, inclusive durante o inquérito policial de Nicola Rosica. (POSSAS, 2001, p.78).
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O primeiro recorte sobre as blusas verdes foiencontrado apenas em dezembro de 19347, com
um pedido para doação de brinquedos para ser entregue aos filhos dos operários integralistas, essa
campanha se chamava “Vovô Índio” 8, pois a doutrina tinha sempre um apelo nacionalista.
Essas militantes desempenhavam as funções de magistério para crianças, alfabetização de
jovens e adultos, aulas de corte e arte doméstica, ou seja, os ensinamentos da doutrina e
assistencialismo. O Departamento Feminino de Santos era similar ao Departamento Nacional
Feminino, que era composto por cinco divisões: Expediente, Cultura Física, Educação, Estudos e
Ação Social (CAVALARI, 1999, p.66).
As mulheres que compunham o departamento feminino santista foram atraídas para o
integralismo provavelmente influenciadas por seus maridos e familiares, que também militavam no
movimento, isso se justifica pelos sobrenomes encontrados. Certamente não foi apenas esse tipo de
envolvimento que trouxe a mulher para as fileiras, também era uma forma de atuar em um partido,
que no momento vigente possuía grande influência na política nacional. Alguns nomes encontrados
nos diversos recortes pesquisados dão a dimensão plural deste contingente: Lilia de Moraes Alves,
Durvalina Alves, Jacintha Toiça, Maria de Lourdes Paixão, Nair Bueno, Maria Puglisi, Hermegilda
Campos Fernandes, Risoleta de Moura Ribeiro, Alice Fernandes Moreira, Eugenia Alves Pinto,
Herculana Serrano Campos, Julieta Dascola Rodrigues,Joana Batista de Moraes, Maria Cardoso da
Silva Dias, Maria das Neves T. Fernandes, Maria de Sousa Araújo, Odonor Wiener, Yolanda D.
Dantos Montes, Zayda Carvalho Vianna, H. Monteiro 9.
Vale ressaltar que a “inclusão política das mulheres viria a ocorrer em 1932, quando o
presidente Getúlio Vargas assinou o decreto-lei10, que previa o direito de voto as mulheres e ao voto
secreto,o quegarantia alguma melhoria no campo dos direitos civis e sociais (AVELAR, 2001, p.
17), ou seja, a partir da reforma do código eleitoral, as mulheres passam a ter direitoao sufrágio, e
os líderes do movimento integralista perceberam a importância desse novo eleitorado abrindo assim
o engajamento para as mulheres entre as suas fileiras. Porém, as mudanças introduzidas pela
Revolução Culturaldos anos 1920 na sociedade brasileira não deveriam, segundo o pensamento
7Jornal ATribuna, 23 de dezembro de 1934. p.6 8 Personagem amazônico que sairia da floresta para distribuir presentes entre as crianças, impedindo assim à propagação do imperialismo por intermédio do Papai Noel. Promovido até por Getúlio Vargas, foi propagandeado pelos integralistas. 9 Dados recolhidos na pesquisa de iniciação científica financiada pelo CNPq em 2011/2012,coletada em diversos recortes do jornal A Tribuna, entre os anos de 1934 a 1937. 10 Decreto-lei nº 21.076 de 24 de fevereiro de 1932. No artigo2º, declara que é’ eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo, alistado na forma deste Código. Fonte Internet, disponível em: http://www6.senado.gov.br/legislacao/Lista Publicacoes. action?id=33626, acessado em: 19 Jun. 2013.
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integralista, interferir na função primordial da mulher, ou seja, manter de todas as formas o lar puro.
(M. Amélia Salgado Loureiro ao pai, In: Salgado, 1955, p.300, apud, POSSAS 2002, p.110).
Para o cidadão exercer o direito do voto, deveria ter 21 anos e ser alfabetizado, nesse
desdobramento entra a função mais importante das Blusas-Verdes, a alfabetização desses novos
eleitores, portanto, “O integralismo desde seu nascedouro, atribuiu à mulher a função de educadora
e forjadora de caráter, devendo dedicar seus esforços em prol da renovação espiritual do país
(SIMÕES, 2011, p.4)”.Na verdade, esse pensamento não existia somente dentro do movimento,
correspondia aos costumes do período,a profissão de professora lhe era mais acessível que outros de
cunho dito como masculino,em tom frequentemente professoral, incentivavam-se a formação do
magistério dada às moças daquele tempo (MALUF: MOTT, 1998, p.390).
Em 22 de maio de 1935, foi reinaugurado“os cursos de alfabetização daEscola Plínio
Salgado para os alunos (crianças)e os pais (adultos)”, que nos faz acreditar que a proximidade das
eleições municipais, forçou a urgência da alfabetização, para garantir votos de novos eleitores para
a Ação Integralista Brasileira, todo esse processo era arregimentado dentro das normas do Sigma,
pois a mulher, de modo algum poderia perder a sua principal identidade de simbologia mariana, de
candura e fraternal.
Para garantir esse caráter conservador, a militante deveria seguir os discursos doutrinários e
católicos, “esse conteúdo normatizador, afirmava que, a mulher ao vestir a blusa-verde, deveria
honrá-la e nunca se deixar abater por um descuido que manchasse a gloriosa vestimenta usada”
(MANCILHA, 2011, p.1996), ou seja, nunca deixar-se atrair pelas ideologias anarquistas,
comunistas11 e libertárias das mulheres que lutavam pela emancipação feminina, entre essas
mulheres, deve-se destaque à Bertha Luz12, Maria Lacerda de Moura13 e Eugenia Cobra (MATOS,
2000, p.29).
11O movimento comunista em si não costumava defender tais bandeiras, já que seu objetivo principal era a instauração de uma sociedade sem classes quando, pregava ele, as demais questões sociais se resolveriam. O partido comunista foi criado em 1922. 12 Líder feminista e bióloga, pioneira das lutas feministas no Brasil, nasceu em São Paulo. Completou sua educação na Europa onde tomou contato com a explosiva campanha sufragista inglesa. Em 1918, em Paris, licenciou-se em ciências na Universidade Sorbonne, voltando em seguida para o Brasil, onde ingressou através do concurso público, como bióloga no Museu Nacional. Desde seu regresso se tornou defensora dos direitos da mulher no país. (SHUMAHER: BRAZIL, 2000,p.106). 13 Nascida em Minas Gerais a 16 de maio de 1887, desde jovem se interessou pelo pensamento social e pelas ideias anticlericais. Formou-se na Escola Normal de Barbacena, em 1904, começando logo a lecionar nessa mesma escola. Inicia então um trabalho junto às mulheres da região, incentivando um mutirão de construção de casas populares para a população carente da cidade. Participou da fundação da Liga Contra o Analfabetismo. Maria Lacerda de Moura pode ser considerada uma das pioneiras do feminismo no Brasil e uma das poucas ativistas que se envolveu diretamente com o movimento operário e sindical. Maria Lacerda de Moura, não seguia as diretrizes do grupo especifico, ainda mais individualmente, o que teria contribuído para o seu isolamento na época. Depois de romper com Bertha Lutz, não se agregou a qualquer grupo. (SOIHET, 2012, p.235).
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Foi inaugurada no dia 03 de agosto de 1935, a Escola de Cortes e Artes Domésticas, no
núcleo distrital da Vila Mathias, com cursos gratuitos para todas as senhoras e senhorinhas,
integralistas ou não14. É provável, que este tipo de curso se justifique pelas palavras das autoras
Maluf e Mott, para as quais as mulheres que não sabiam costurar eram dignas de lástima e também
as boas donas de casa deveriam saber gerenciar o dinheiro das despesas e não pedi-lo com
frequência aos maridos, enfim, tinham que se contentar com a renda provida pelos companheiros.
Em consonância, para Hunt,estava claro que o homem se recusava a atribuir à mulher
qualquer papel intelectual e político, uma carreira pública destruíra a família, fundamento da
sociedade e base da ordem natural (HUNT, 1999, p.45). É notório também, que a sociedade ainda
previa o papel da mulher como secundário e voltado para família e com os afazeres domésticos e
qualquer manifestação pública e política poderia contrapor os preceitos existentes, precisava-se,
portanto quebrar paradigmas e algumas mulheres conseguiram alguma posição pública no
movimento integralista.
A presença oficial feminina na AIB, na qualidade de membros efetivos, foi aprovada no dia
10 de agosto de 1936, obedecendo às normas hierárquicas do integralismo. Os Departamentos
Femininos passaram a ser reconhecidos como, Secretaria Nacional de Arregimentação Feminina e
Plinianos (SNAFP), e tinham como lema: “Crer, Obedecer e Preservar”, nesse ano as mulheres já
constituíam aproximadamente 20% dos militantes do movimento (MAIO, CYTRYNOWICZ, 2003,
p.52).O núcleo feminino santista da AIB primeiramente era chefiado, por Lilia de Moraes Alves,
num segundo momento pode-se verificar a mudança de direção para Risoleta de Moura Ribeiro, em
193715.
Devido aos contatos com os Departamentos Femininos de outros municípios, foram
recebidas em Santos, pelas integrantes do movimento a chefe do município de Cambuci- RJ, Alvira
Truddi 16 e por duas vezes a chefe nacional feminina, Margarida Corbisier, a primeira visita ocorreu
no ano 1935 e a segunda em 1936, essas chefes femininas foram recebidas para uma conferência
doutrinária no Salão do Parque Balneário Hotel17, local esse de grande prestígio na cidade.
Provavelmente as visitas de Margarida Corbisier, foram para ajudar na organização da presença das
14Jornal A Tribuna, 31 de agosto de 1935, p.3. 15 Jornal A Tribuna, 06 de novembro de 1937, p.5 16 Jornal A Tribuna, 15 de fevereiro de 1935, p.3 17 Elegante hotel da família Fracarolli, situado no final da Avenida Ana Costa, no bairro do Gonzaga, era usado para festas e recepções da alta sociedade santista. Considerando suas várias fases, fizeram desse hotel um ponto de referência da cidade, com muitas histórias, principalmente no auge de suas atividades, quando o cassino fervilhava, atraindo gente endinheirada e artistas, e seu luxo e conforto atraíam reis e presidentes. O próprio Hotel Parque Balneário serviu como base para a criação de vários clubes e entidades, sendo marcantes ainda os banquetes, jantares e bailes ali realizados. Revolução. Fonte Internet, disponível em:http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0183a.htm, acessado em 18 Jun. 2013.
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mulheres integralistas nos congressos e passeatas, mas também para oficializar o Departamento
Feminino das cidades de Santos e São Vicente.
Por sua vez, nota-se o crescimento das mulheres nas fileiras integralista brasileira e na
cidade de Santos, esse rápido aumento das mulheres na militância do Sigma da cidade, foi motivo
de reunião extraordinária com os dirigentes locais18 e as militantes, possivelmente devido a esse
contexto as mulheres começaram a ter maior participação política dentro do movimento, isso se
aprecia pela imagem descrita neste trabalho, aonde o chefe da doutrina, Miguel Reale, vem
discursar no Hotel Parque Balneário para as mulheres integralistas santistas.
Militantes Femininas da AIB de Santos em reunião com Miguel Reale.
Fonte: Jornal A Tribuna, 14 de março de 1937, p.3.
Nesse determinado momento foi criado um regimento especial direcionado as blusas verdes,
chamado de Schema de Theses19,que elevava o discurso em favor da renovação espiritual do país,
no qual considerava que a mulher, tinha grande contribuição para uma nova consciência nacional.
Em Santos a transição de Departamento Feminino para SNAFP, começa a ser notada a partir do
recorte do Jornal A Tribuna no dia 18 de dezembro de 1936, que convocava as mulheres
integralistas para o trabalho assistencial direcionado as famílias materialmente carentes, para
auxiliar na campanha de vacinação de varíola e para a organização de novas escolas de
alfabetização em Santos.
Todavia, o trabalho de assistencialismo na cidade de Santos e São Vicente, foi realizado por
meio da arrecadação de roupas e brinquedos para crianças carentes, foram distribuídos cartões para
18 Jornal A Tribuna, 12 de novembro de 1937, p.5. 19Para maiores informações, documento transcrito na íntegra disponível em: (FERREIRA, 2012, p. 54)
8 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos),Florianópolis, 2013. ISSN2179-510X
organizar essas doações. No dia do Natal de 1936, por volta das 9 horas da manhã, no núcleo
santista, as blusas verdes organizaram uma festa beneficente para distribuição de brinquedos e
roupas em prol das crianças carentes.
Nessa mesma campanha, eram feitas também um comunicado a toda população sobre a
campanha de vacinação de varíola. Vale lembrar que, 30 anos após a Revolta da Vacina
(CARVALHO, 1987, p.83), ainda havia preocupação com a propagação dessa patologia. A SNAFP
ministrava as vacinas não somente no núcleo central como também conduzia as vacinas, nas
comunidades carentes mais distantes, ou seja, para aquelas pessoas que não tinham possibilidades
de comparecer na sede, este serviço era feito por meio de agendamento realizado pelo telefone nº 22
69, da sede central 20.
No ano de 1937, esta campanha de saúde pública continuou, mas a proximidade das
eleições presidenciais“acelerou” o trabalho na ala feminina integralista santista na alfabetização da
população sem instrução escolar.Foram abertas novas escolaspara dar continuidade nesse processo,
tais como: a Caetano Spinelli e a Plínio Salgado, todas administradas pela SNAFP, em todos os
subnúcleos santistas, as aulas eram diárias no período vespertino para jovens e adultos e no período
noturno era realizados cursos rápidos de alfabetização para os operários que trabalhavam no período
comercial.
Vale lembrar, que em dois dias foram abertas novas escolas integralistas em Santos,
portantoa intenção era realmente angariar votos para o Chefe Nacional, candidato a Presidência da
República, o Sr. Plínio Salgado. A AIB de Santos tratou de orientar e participar ativamente desta
campanha e propaganda política, e as mulheres realizavam esse papel fundamental na disseminação
da doutrina integralista por meio da alfabetização, seguindo as ordens ditadas do movimento.
Tendo em vista os aspectos observados na fotografia apresentada neste artigo, é possível
aferir a relevância do movimento integralista na cidade de Santos e a necessidade de novos estudos
acadêmicos sobre a Ação Integralista Brasileira, que foi de suma importância no cenário político
nacional e regional. Essa foto demonstra a militância feminina integralista de Santos em plena
atuação dentro no movimento político, imagem bastante diferente do que os pintores do começo
século retratavam: como sendo a mulher, um personagem “apolítico”, sem nenhuma
representatividade no mundo político. (CARVALHO, 1990, p.95).
20 Jornal A Tribuna,19 de dezembro de 1936, p.4.
9 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos),Florianópolis, 2013. ISSN2179-510X
Fotografia da década de 1930 da AIB Santista. Fonte:Acervo da Professora Dra. Maria Apparecida Franco, doada pelo Pe. Francisco Grecco
Desta maneira, esse estudo teve como intenção mapear os seguimentos sociais e políticos
onde as mulheres integralistas atuavam na sociedade santista na década de 1930, buscando um olhar
mais atento à identidade pública da mulher. As Blusas verdes da cidade de Santos neste momento
de grande repercussão nacional e histórica mostraram-se de maneira ativa, sobretudo, nas
manifestações de massa em público, nas campanhas eleitorais, nos setores educacionais e
assistenciais das famílias desprovidas, cumpriam um papel fundamental na implantação das normas
rígidas da AIB.
Em suma, muitas dúvidas foram compreendidas, principalmente no que diz respeito ao papel
atribuído à mulher integralista da cidade de Santos. Podemos verificar e reconstruir por meio das
fontes pesquisadas o que a historiografia mais recente tem começado a perceber: a função cada vez
mais essencial do gênero feminino no movimento integralista.
Assim, mesmo tendo menos espaço que o gênero masculino, e atuando, principalmente
como tutora do ‘lar e da família’, a mulher integralista santista despontou como um personagem
político que passava ao largo da coadjuvância. Aprofundar os estudos sobre suas funções e ações
favorecerá não apenas o estudo sobre o papel da mulher na sociedade santista, mas, sobretudo o
desempenho que tiveram no universo tradicionalmente masculino que é o mundo político.
Fontes
Jornal A Tribuna de Santos, 1932 a 1937, depositados na Hemeroteca de Santos “Roldão Mendes”.
Revista Brasil Feminino edição 35 (1937) e 36 (1937), depositadas no Arquivo Edgard Leuenroth,
Universidade de Campinas (UNICAMP).
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THE INTEGRALISM IN SKIRT: FEMALE MILITANCY IN INTEGRALIST ROWS IN
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Abstract: This article aims to infer the way the participation of women in fundamentalist political
context in the city of Santos in the period between 1934 and 1937 ocurred. The Ação Integralista
Brasileira (AIB) was a nationalist political movement, considered of authoritarian nature and of the
extreme right by some scholars. Also, it may be seen as the first mass party of the country,
constituted in 1930. Its motto was the triad ‘God, homeland and family’ which led to the attraction
of the sympathy of many social sectors. It is suggested that fundamentalism has opened a door for
women to act as activists in their ranks with the goal of keeping them distant from the
cosmopolitan air that blew from Europe, but for some women it was a great opportunity to actively
participate in the policy of their country. The female performance was not limited to the inner of the
fundamentalism. Although their assignment was linked to welfare and teaching these relation was
more intense, as the current historiography suggests. This snipped aims to show the effective
12 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos),Florianópolis, 2013. ISSN2179-510X
participation of female militancy (the Green-blouses) in the development of the political movement,
in the promotion of the fundamentalist doctrine and welfare before the new Sigma followers and
supporters in the city of Santos.
Key-words: Gender, Integralism, Regional History.