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MARIA AMELIA SALGADO LOUREIRO COORDENADORA O INTEGRALISMO SINTESE DO PENSAMENTO POLITICO DOUTRINÁRIO DE PLINIO SALGADO

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MARIA AMELIA SALGADO LOUREIRO COORDENADORA

O INTEGRALISMO SINTESE DO PENSAMENTO POLITICO DOUTRINÁRIO DE PLINIO SALGADO

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PAGINA DE PLINIO SALGADO, EXTRAIDA DO DIÁRIO DE SUA MULHER, ESCRITA NA NOITE DE 7-10-1938, EM SÃO PAULO, À RUA CAPITÃO-MOR DIOGO BARRETO, nº 46, NO PARAISO.

O dia 7 de Outubro é considerado a data da fundação do Integralismo, pelo fato de haverem sido nesse dia distribuídos os exemplare s do Manifesto, conhecido pelo nome de Manifesto de Outubro. Na verdade, a primeir a vez que se falou em “Ação Integralista Brasileira” foi em Maio de 1932, numa reunião da Sociedade de Estudos Político, realizada no Clube Português. Mo livro de atas daquela sociedade, consta que ficou resolvido organizar-se, com o fim de divu lgar nossos princípios doutrinários e exercer uma função educativa de amplitude popular . Foi nesse mês de Maio que escrevi o Manifesto chamado de Outubro, do qual tir ei algumas cópias, que entreguei a vários dirigentes da Sociedade de Estudos Polític os. Creio que em atas subseqüentes existem referencias a tais fatos. Não chegamos, porém, a lançar o Manifesto, porque na ocasião em que pretendíamos fa zê-lo rebentou a revolução paulista (9 de Julho). As coisas ficaram paralisada s. Em 3 de outubro terminou a revolução. Um grupo que freqüentava a minha casa du rante aqueles tormentosos dias, e que era Eurico Guedes de Araújo, Iracy Igay ara, Alpinolo Lopes Casale, Antônio Toledo Piza, Manoel Pinto da Silva, Louro P edroso resolveu mandar imprimir o Manifesto. Não havia, porém, dinheiro. Resolveu L ouro Pedroso mandar imprimir por conta própria.

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MARIA AMELIA SALGADO LOUREIRO (Coordenadora)

O INTEGRALISMO

Síntese do pensamento político-doutrinário de Plíni o Salgado

“Editora Voz do Oeste” São Paulo

1981

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“NÃO PERGUNTE O QUE A PATRIA PODE FAZER POR VOCÊ, M AS O QUE VOCÊ PODE FAZER PELA PÁTRIA”

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APRESENTAÇÃO

Achamos oportuno divulgar, em embora sinteticamente , o pensamento político doutrinário de Plínio Salgado, que hoje se afigura mais atual que nunca.

Resolvemos adotar o método de perguntas e respostas – o catecismo – por considerá-lo mais didático e abrangente, pois a tinge as diversas camadas culturais da sociedade.

O texto foi construído sobre toda a obra de Plínio Salgado (livros, artigos, entrevistas, manifestos, projetos legislativos), ra zão pela qual se faz desnecessário apontar a bibliografia.

O nosso intuito foi antes de tudo, colocar em seus devidos termos os princípios do Integralismo, já que vem sendo ele tã o mal interpretado por alguns.

E se verá, afinal, que todo o seu fundamento se apó ia na doutrina de Cristo, o que torna perene e próprio para todas as épocas, enquanto existir um Homem sobre a face da terra.

Maria Amélia Salgado Loureiro

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A GUISA DE PREFÁCIO

“... As suas palavras repetiram o que, no fundo da consciência, nas horas de meditação, digo a mim mesmo: “a semeadura foi gr ande, a colheita virá”. Nem outra coisa me propuz ou me proponho. Dizem de uns que plantam couves, de outros que plantam carvalhos: mas eu não pretendi fazer um a horta para alimentar os apressados, os medíocres, nem erguer carvalhos onde as aves de rapina, decorativas e inúteis, vem pousar como emblema de egoísmos fero zes e usurpações imperialistas; o que eu quis foi semear uma grande seara, para encher os celeiros de um povo; uma seara que reproduza indefinidamente, r epartindo em cada colheita o milagre de ouro da fartura. Sonhei e sonho um Brasi l honesto e bom, inteligente, penetrado do superior sentido do equilíbrio, que re aliza harmonias sociais perfeitas.

Justamente por adotar uma concepção totalista do mu ndo e dos seus movimentos, repugna-me a idéia do Estado Totalitári o, do Estado absorvente, com finalidade em si próprio; desejo-o forte, como expr essão de força nacional, e eficiente, como mantenedor das liberdades inerentes à Pessoa H umana, mas a amplitude do seu domínio limita-se às portas das consciências. H omens íntegros, lares intangíveis, coletividades esclarecidas, dignidades asseguradas, solidariedade nacional, elevação espiritual, eis o panorama que imagino sobre a cart a geográfica do Brasil.

Essas idéias foram semeadas. A terra é boa. Não me interessa o êxito imediato. O essencial é que os nossos filhos sejam dignos de nossos esforços. Tudo isso costumo pensar quando converso comigo mesmo. E sta sua carta veio continuar essa conversa, como um comensal que chega, senta-se numa cadeira, e prossegue familiarmente a versar o tema que não foi interromp ido. Sou-lhe imensamente grato pelas suas palavras. Elas representam para mim uma das alegrias desta fase. Esta fase de exílio, de incompreensões, de excomunhão of icial, não pode ser uma fase triste. Tudo isso é normal em relação à idéias que deverão triunfar. Se nos faltassem estes sofrimentos, isso significaria que nossas idé ias não eram suficientemente fortes e belas, capazes de despertar o ódio. A aceitação s em réplica, sem relutância de uma idéia, por uma sociedade corrompida, demonstraria u ma afinidade degradante como o meio em que surgiu.

Fraca é a luz que não faz sombra”.

(Trecho de uma carta escrita do exílio por Plínio Salgado, a um amigo do interior de São Paulo)

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Como na sceu o Integralismo (Uma página de Plínio Salgado) Uma data histórica

O dia 24 de fevereiro de 1932 amanheceu em São Paul o manifestando grande agitação popular. Comemorando a Constituição de 1891 realizava-se um comício monstro, bem indicativo da revolução constitucionalista que se deflagraria em 9 de julho daquele ano.

No momento em que a enorme massa popular se comprim ia na Praça da Sé, um grupo de intelectuais e idealistas se reunia na redação do matutino “A Razão”, na Rua José Bonifácio. Desse jornal de p ropriedade de Alfredo Egidio de Souza Aranha, era eu redator principal, tendo como companheiros de redação San Tiago Dantas, Gabriel de Barros, Mario Graciotti, A lpinolo Lopes Casali, Nuto Sant’Ana, Leopoldo Sant’Ana, Nóbrega de Siqueira, S ilveira Peixoto e outros da nova geração. Fazia um ano que eu publicava, sem assinat ura, a “Nota Política”, duas colunas em que diariamente analisava a situação do país e punha em evidência os pensadores até antão esquecidos, entre eles Alberto Torres, Farias Brito, Euclides da Cunha, Oliveira Lima, Joaquim Nabuco, Tavares Basto s e rememorava os fatos da Monarquia e a República, entre os quais os menciona dos por Afonso Celso (Oito anos de parlamento) e Campos Sales (“Da propaganda à pre sidência”). Os artigos iam formando adeptos em todo o país, cumprindo destacar Helder Câmara e Jeovah Mota, no Ceará; Petrônio Chaves, no Rio; Olbino de Melo, em Minas; Fairbanks, no interior de São Paulo, e muitos outros.

Naquela manhã de 24 de fevereiro, organizamos a Soc iedade de Estudos Políticos (SEP), constituída inicialmente p or José de Almeida Camargo, Mario Graciotti, Ataliba Nogueira, Alpinolo Lopes Casali, Antônio Toledo Piza, Iraci Igaiara, Mota Filho, Sebastião Pagano, Mario Zaroni, José Ma ria Machado, Leães Sobrinho, Carvalho Pinto, Arlindo Veiga dos Santos, João de O liveira Filho, e vários outros.

As reuniões da SEP passaram a realizar-se no “Clube Português”, Avenida São João, na sala de armas daquela sociedad e.

Em 23 de maio deu-se o violento movimento popular c ontra a ditadura Vargas. Nessa noite, por equívo, foi empas telado o jornal “A Razão”, por aconselhar o povo paulista a não se levantar em rev olução, tão desejada pelo Ditador, para ter oportunidade de esmagar São Paulo.

De maio a julho, redigi o Manifesto chamando depois , “de outubro”. Tirei cópias para distribuir entre os membros da SE P. Foi quando Mota Filho, que sabia da evolução dos acontecimentos em São Paulo, aconselhou-me a guardá-lo para melhor oportunidade.

Em 9 de julho, estourou a revolução paulista. Esper ei três meses, até o epílogo daquela tragédia. Os rádios da Ditadura a nunciavam que se tratava de um movimento separatista (cínica mentira, pois se trat ava de um movimento armado a favor a favor da constitucionalização do país) e co m isto se fortaleceu para destruir São Paulo, o que sempre fora o seu desejo. A 3 de o utubro, as forças paulistas, cercadas por todos os lados, capitularam.

Em 5 daquele mês, mandei imprimir para distribuição em todo o país, o manifesto integralista, já escrito em junho . Começou a ser enviado para todos os Estados, no dia 7, da que foi consagrada como a inicial da “Ação Integralista Brasileira”.

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O chamando “Manifesto de Outubro” causou grande rep ercussão no país. Acordava os sentimentos patrióticos e de unid ade nacional. Afirmava, de início, uma convicção espiritualista e cristã. Criticava as revoluções sem doutrina. Sustentava o princípio tradicional da Pátria, consu bstanciado na expressão “Deus, Pátria e Família”. Examinava o problema de Federaçã o e dos Municípios. Detinha-se na questão social. Debatia o assunto das raças, tod as iguais na formação da nacionalidade. Combatia o cosmopolitismo. Como chag a destruidora das estruturas nacionais, concitava a união dos brasileiros, das F orças Armadas e da população civil, na luta contra o comunismo e o capitalismo i nternacional. Propunha a criação de um Estado em que todas as forças nacionais se conju gassem com o alto objetivo de se construir o grande Brasil.

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DEUS E O HOMEM

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_____________________________________________________ DEUS E O HOMEM, BASE DO PENSAMENTO INTEGRALISTA

Qual a doutrina criada por Plínio Salgado? - O Integralismo. Em que se alicerça essa Doutrina? - Na concepção espiritualista do Universo e do Homem. Crê o Integralismo em Deus e na imortalidade da alm a? - Sim. Acredita num Deus pessoal e no destino sobrenatural do Homem. O que deriva dessa crença? - A primordialidade e a prevalência do Espírito sobre a matéria, ou seja, a superposição dos valores da Alma em relação às contingências do Corpo, pois o Homem não pode procurar alicerce em si mesmo, porque o seu alicerce único é Deus. E o que resulta desse conceito? - O primado do espiritual sobre o moral, do moral sobre o social, do social sobre o nacional, do nacional sobre o individual. Acredita o Integralismo na ação da Providência na v ida do Homem? - Sim. Ao afirmar: “Deus dirigi o destino dos Povos”. Qual a corrente que se opõe a essa concepção espiri tualista do Universo e do Homem? - A grande corrente do Materialismo. Como concebe o Materialismo, o Universo e o Homem? - Somente segundo suas expressões físicas. Nega ou não considera a existência de Deus e a imortadelidade da alma. Então que resta à criatura humana segundo essa corr ente? - Um destino biológico, circunscrito ao âmbito da Terra. Qual o primeiro degrau do materialismo? - A atitude de certas pessoas, ditas religiosas, que procuram mais os bens da Terra que os bens do Céu, afirmando ser imperioso resolver antes de tudo os problemas econômicos, para que a criatura humana esteja em condições psicológicas de se voltar para Deus. Qual o segundo degrau? - A atitude dos que não tomam conhecimento da origem e da finalidade da criatura humana. E a terceiro? - É a negação do espírito. Se pudesse haver dignidade na revolta do Homem contra Deus, poder-se-ia dizer que é este o degrau mais digno, mais coerente do Materialismo. Adota o Integralismo alguma confissão religiosa? - Não. Acredita fundamentalmente em Cristo, pois sua doutrina emana das fontes inesgotáveis do Evangelho. Por isso afirma que seu pensamento “veio de Cristo e vai para Cristo”. Sem ser confessional declara que cada homem tem o dever de se voltar para o seu criador. Em suma, o Integralismo, em face do crescente perigoso materialista que avassala o mundo, com a impassibilidade dos agnósticos, proclama aquilo mesmo que o Papa Pio XI afirmou na Encíclica “Caritatis Chisti Compulsi”: “É chegado o momento em que se devem unir, não somente os que se gloriam do nome de cristãos, mais todos aqueles que acreditando em Deus, fazem dEle o fundamento da sociedade”. Qual o propósito do Integralismo ao esposar esses p rincípios? - O Integralismo propõe uma frente única espiritualista, contra a onda avassaladora do materialismo, proclamando, contra a existência de Deus e da alma do Homem e não se imiscuída no que se refere à disciplina religiosa adotada por este ou por aquele, pois só reprova aquilo mesmo que a Constituição Brasileira também reprova, ou seja, as práticas de seitas que constituem ameaça à paz e aos bons costumes. Por que uma corrente política como o Integralismo v ai buscar no Evangelho a sua inspiração? - Por entender que somente a prática da Verdade pregada pelo Divino Mestre poderá levar o Homem a alcançar aquela felicidade possível na Terra.

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O que é o Homem para o Integralismo? - É a síntese substancial, o ser racional, o ser livre, onde se integram todos os fenômenos. Não o destrói como o comunismo; nem o oprime como o capitalismo; dignifica-o. Por isso prega o respeito á Pessoa Humana e a defesa de tudo que lhe é inerente: Família, Propriedade, Salário Justo, Iniciativa Particular, Liberdade Religiosa. Qual a visão especifica que o Integralismo tem do H omem? - O Integralismo possui uma visão global do Homem, isto é, soma todas as suas expressões, todas as suas tendências, fundindo o sentido materialista do fato, ao sentido interior da idéia e subordinando ambos ao ritmo supremo espiritualista. As outras correntes de pensamento adotam esse ponto de vista? - Não. As demais correntes de pensamento possuem visões parciais do Homem. Quais são essas visões? - Uns viram no Homem apenas uma realidade econômica: é o Homem Econômico de Marx; outros só viram a realidade política: é o Homem-cívico das democracias agnósticas; outros só viram as realidades do prazer sensual: é o Homem-pansexualista de Freud; outros só viram as realidades dos impulsos violentos e dominadores: é o Super-Homem de Nietbche; outros viram as realidades de diferenciação do plasma germinativo: é o Homem-Raça de Gumplowcz, de Ratzenhoffer, de Houston Chamberlain e de Gobineau; alguns, como Rousseau e Locke apenas consideravam a bondade natural do ser humano, ao passo que outros, como Hobbes, considerou somente a maldade natural de nossa Espécie. E a que levam essas visões mutiladas do Homem? - A formação de monstros. Que monstros são esses? - O monstro Individualismo, o monstro Coletividade, o monstro Estado, o monstro Raça, o monstro Liberalismo. E como combatê-los? - Contra o monstro Individualismo, opor os deveres do Homem para com a Família, a Sociedade e a Pátria; contra o monstro Coletividade, os deveres do Homem para consigo mesmo, no sentido de manter íntegras as expressões de sua personalidade no Espaço (Propriedade e Nação), no Tempo (Família e Tradição), no Espaço-Tempo (Liberdade e obrigação de trabalho e direito a salário justo), e, finalmente, na Eternidade (Religião); contra o monstro Estado, os deveres do Homem em face da dignidade que lhe confere Deus, caracterizada no principio da intangibilidade da pessoa Humana e nas responsabilidades decorrentes do livre-arbítrio; contra o monstro Raça, a fraternidade dos povos, unidos pelo próprio sangue do Salvador; contra o monstro Liberalismo, o respeito à autoridade dos representantes de Deus na Hierarquia da Igreja e na ordem temporal. Dentre todos esses monstros, quais os maiores inimi gos do Homem? - Se se puder estabelecer degraus de valores nessa área, acreditamos que os maiores inimigos do Homem são o Estatismo e o Liberalismo. Por que? - Porque os dois extremos (autoridade sem limites e liberdade sem freios) estão sempre dispostos a sacrificar aquilo que mais importa ao Homem conservar intangível: a dignidade de sua Pessoa, segundo os fins preestabelecidos pelo Criador. Como neutralizar essa ação dissolvente? - Opondo, a cada exagero, a justa medida, o sentido de equilíbrio que herdamos de Cristo. Qual o atributo essencial da pessoa Humana, segundo o Integralismo? - A Liberdade. Considera o Homem mesmo uma expressão de Liberdade, com direitos naturais na tríplice esfera de suas legítimas aspirações materiais, intelectuais e espirituais. Portanto acha imprescindível criar as condições indispensáveis para a realização efetiva da Liberdade. Como considera o Integralismo a Liberdade? - Como base fundamental da doutrina de Estado por ele pregada.

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Luta o Integralismo pela Liberdade? - Acreditando em Deus que nos traçou leis imprescritíveis e na existência da alma do Homem. Logicamente pugna pela Liberdade, sem a qual o mesmo Homem não poderá escolher o seu caminho.

__________________ O HOMEM MODERNO

Quais as manifestações práticas do materialismo no mundo moderno? - O Tecnicismo, O Espírito Burguês e o Agnosticismo. a) TECNICISMO O que se entende por Tecnicismo? - É o conceito que transformou a escala de valores e procedeu à mecanização do Homem. Quais os fatos característicos da civilização tecni cista? - Dois principais:

a) Crise de adaptação conseqüente da transformação rapidíssima do modo de vida nestes 80 anos e da qual resultam não somente o choque psíco-fisiológico no individuo, mas também político-social.

b) Ausência de conteúdo moral, cuja conseqüência é ficar o Homem Moderno guarnecido de instrumentos materiais para a objetivação de fins materiais, porém inteiramente desarmado de instrumentos espirituais capazes de submeterem o ritmo acelerado do progresso técnico a condições de equilíbrio social, de conformidade com a lei divina. Quais as conseqüências do Tecnicismo em outros seto res humanos? - A civilização da máquina influiu no processo da vida social e política, determinando a substituição do conceito “povo” pelo conceito “massa” e o conceito “direito” pelo conceito “fato”. Não mais vale a Pessoa, mas o Individuo, parcela da massa. Há relação entre o progresso humano e o progresso t écnico? - O progresso humano não acompanhou o progresso técnico. Qual a conseqüência dessa disritmia? - A conseqüência é que a ciência em lugar de contribuir para o desenvolvimento do Homem concorre para a desumanização da Pessoa Humana. Como a Ciência de nossos dias considera o Homem? - Considera o Homem não como causa, um fim, uma justificativa de suas pesquisas, mas simplesmente um campo de experiências, um objetivo de investigações, um boneco, afinal, de carne e sangue, ossos e nervos, mas tão insignificante e mesquinho, que o cientista puro jamais cogita de sua significação e seu destino. O que decorre do espírito tecnocrata que domina o n osso tempo? - Que tanto mais o Homem crê nas possibilidades técnicas e por elas se entusiasma, tanto menos crê nas possibilidades anímicas do seu próprio ser, entregando-se a uma espécie de fatalismo que o reduz a simples joguete das circunstâncias criadas pelo progresso material. Em que se transformou, pois, o Homem na era da máqu ina? - Em monstruoso Frankstein centaurizado á justaposição das máquinas, a que adere como peça adequada ao ritmo das propulsões elétricas ou mecânicas. O que pode advir às futuras gerações se esse estado de coisas persistir? - No caminho em que vamos, serão as futuras gerações constituídas de Homens e Mulheres autômatos, dirigidos despoticamente por uma elite exploradora de seus instintos. Em que se transformou, então, a máquina moderna? - A máquina moderna, criação do Homem para produzir confortos ao Homem, tornou-se uma concorrente deste. E o que poderá acontecer? - O Homem moderno, tornando-se um autômato, um boneco de carne e osso, será possivelmente substituído por um outro boneco de aço e ferro. O que representa a máquina para o Homem moderno? - A vida humana mecanizou-se sucessivamente e de tal forma, que a máquina passou a constituir uma segunda natureza do Homem. O Homem moderno é como um mutilado que se adaptou, não a um complemento, mas sim a um ou mais suplemento.

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E o que aconteceu? - À proporção que o uso foi se transformando em hábito, o suplemento adquiriu o caráter de complemento, porque, dispensando-o, o Homem se sente diminuído no seu poder de domínio do espaço e do tempo. Como definir, pois, o Homem do Século XX? - O Homem do século XX é um ser de muletas. Muletas suplementares, mas muletas. Para onde leva essa realidade? - Por essa subtração constante do poder do Homem no que se refere à sua capacidade de prover-se independente dos implementos constituídos pelo cabedal de objetos que possui, realiza-se uma diminuição do seu poder espiritual. E o Homem, de alma enfraquecida, manifesta-se na plenitude de sua substância inquinada pela mancha original de remota ascendência. É o ser embrutecido, primeiro pelo comodismo e depois pelo egoísmo. O que acontece ao Trabalho nesta sociedade tecnocra ta? - O Trabalho perde sua original grandeza e dignidade, passando a ser uma mercadoria. O trabalhador transforma-se num autômato. O empresário noutro autômato. E o que deriva de tudo isso? - O Trabalho deixa de ser um instrumento do Homem, passando o Homem a ser o seu instrumento. Qual a outra conseqüência do tecnicismo na vida hum ana? - O tecnicismo concorreu para uma total desagregação do pensamento, do Espírito, que pode assim se expressar:

a) O sentido de análise do experimentalismo científico, criando um novo processo “de pensar”;

b) O individualismo romântico com a variedade de seus padrões artísticos e literários, criando um novo processo “de sentir”;

c) O ceticismo filosófico, que lançou a dúvida sobre o pensamento e o sentimento; d) O democratismo liberal, no campo da política, permitindo a expansão máxima de

todas as concepções e formas de vida, e tendendo, de seu turno, aos extremos fraccionamentos da sociedade. E como esta civilização essencialmente técnica, con sidera o Homem? - Ela adstringe-se, no que tange ao Homem, ao critério das especializações profissionais, excluindo todos os elementos culturais não concernentes ao objeto da preparação especializada. Em resumo, não constrói homens. Então o que significa o Homem para o mundo de hoje? - o Homem nada mais vale. Pra o industrial ele é, apenas, a “máquina de consumir”; para o político, a peça na “máquina do Estado”; para o arquiteto, “o objeto acondicionável”; para o psicólogo e o pedagogo, um “barro plástico”; para o biólogo, uma “espécie animal”; para o fisiologista e o médico, um “campo de experiências”; para o filósofo, o “fenômeno da consciência”. O Homem é a mercadoria mais desvalorizada nos dias de hoje. O que se pode concluir, então? - Que o Homem moderno é um ser desenraizado. Vivendo num mundo hostil, desligado do sobrenatural, o Homem sente-se desamparado, diminuindo, degradado. Perdeu o sentido humano da existência e, conseqüentemente, perdeu o sentido da sua finalidade. Esqueceu-se de que possui uma alma. Qual a conseqüência? - Desamparado pelos filósofos, desamparado pelos cientistas, desamparado pelo Estado, sem moral, sem esperança, sem caridade, o Homem geme no mais extremo desespero. E a decorrência disso? - Nesse estado de espírito de simples objetivo passivo de agentes exteriores, muitas vezes imprevisíveis, o Homem de nosso tempo, perdendo inteiramente a fé em seu poder espiritual de intervir na Marcha da História, não apenas se deixa levar pela corrente dos fatos sociais, porém ainda, no que concerne ao seu próprio governo pessoal, abdica o seu lugar de Ser Racional e se entrega, inerme e brutalizado, ao despotismo dos seus próprios instintos. Conforma-se ao “standard” de uma inconseqüente multidão bestializada à qual adere por

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incapacidade de reagir. Como, pois, caracterizar esta Civilização? - É uma Civilização puramente técnica e baseada no individualismo, que exclui a consideração do Homem Integral, pois transforma a pessoa em Individuo, tomando do Homem apenas os seus fragmentos. Como definir o Homem Integral? - É o homem ou Pessoa Humana, criatura de Deus, constituída de um corpo e de uma alma, dispondo de faculdade que lhes são próprias, gozando de direitos e subordinando-se a deveres, segundo a doutrina que lhe foi estabelecida pelo Criador. A Pessoa Humana não é somente alma, nem somente corpo, mas o composto de alma e corpo. Não é gigante, nem pigmeu, nem autômato: é simplesmente Homem. Essa a visão do Homem Integral, penetrado do sentido profundo do Cosmos, como a Primeira Humanidade; iluminado pelo Verbo Divino, como a Segunda; senhora dos elementos, como a Terceira; e com tudo isto criando a luminosa era em que a Ciência, orientada pela Consciência, não seja mais a serva do ódio, porém o instrumento da Bondade, na Quarta Humanidade. b) ESPIRITO BURGUES Qual o maior mal advindo da civilização tecnicista? - O espírito burguês. O que vem a ser o “espírito burguês”? - É o próprio espírito da avareza e da sensualidade, que se manifesta de formas tão variada e por vezes tão sutis, que muitos casos há em que alguém, julgando estar combatendo o espírito burguês, não faz mais do que avolumá-lo em sua própria alma. Quais as características do espírito burguês? - Podemos sintetizá-las em:

1) Preocupação exclusiva pelos bem materiais e sede de lucro; 2) Egoísmo feroz e sede; 3) Materialismo de vida e moral de prazer progressista; 4) Espírito de transação; 5) Espírito de passividade e espírito de comodismo; 6) Insatisfação que leva ao desespero; 7) Insensibilidade; 8) Orgulho satânico; 9) Transmutação dos meios em fins e dos fins em meios:

10) Incapacidade de se elevar à idéia nobilitantes, impotência para caminhar contra a corrente dos erros e o vendaval da loucura contemporânea. E a que leva o espírito burguês? - A um quadro de ambigüidade e confusão, de miséria moral e aviltamento, de tolerância para com o vício, o crime, a desordem, e de intolerância contra os legítimos direitos dos que se batem por mundo melhor e mais digno. De onde promana o espírito burguês? - Inegavelmente do Capitalismo, pois ele se origina da concepção utilitária de vida, sem nenhuma consideração pelos fins transcendentais do Homem. A sua fonte real está no Utilitarismo inglês, que foi, no século passado, a grande fábrica de Sancho-pancismo que desgraça o mundo moderno pela ausência dos ideais superiores do Homem. E qual a origem do Utilitarismo? - O Fenomenismo de Hume. Suas raízes, porém, vão à teoria do prazer de Hobbes e a moral de interesse de Locke e, mais remotamente, ao individualismo de Bacon. A burguesia pode ser considerada uma classe? - Não. A burguesia é um estado de espírito. O espírito da burguesia vive em todas as classes sociais. c) AGONOSTICISMO Qual a decorrência lógica do espírito burguês? - O Agnosticismo.

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Como podem ser classificados os agnósticos? - Como homens imparciais, os homens-tipo da mediocridade, os homens que consideram o Bem e o Mal com iguais direitos. O que caracteriza o agnóstico? - O fundamento de sua filosofia é o vazio de opiniões e o aspecto tranqüilo de seu estilo de vida. O traço característico do agnóstico é a transigência. A sua atitude, a do menor esforço. O que essas manifestações do materialismo produzem no Homem? - A animalização do gênero humano, a degradação do Homem pela renuncia ao divino.

____________________________________________________ A RECONSTRUÇÃO DO HOMEM E A REVOLUÇÃO INTERIOR

Como se poderá atingir a Quarta Humanidade? - Talvez, chegando ao estremo paroxismo esta civilização sem Deus, e se um pavoroso desastre puzer fim ao orgulho insensato dos cientistas, dos estadistas, dos poderosos, dos ricos, dos gozadores, dos malfeitores, dos luxuriosos e de todos os que se agitam aos ventos da loucura, talvez uma Nova Humanidade recomece. E das cinzas de nossa civilização renascerá, por certo, uma outra – a nova Fênix – que resplandecerá em juventude de perene beleza, à luz da Graça que vem d’Aquele que é a própria Luz, a Luz verdadeira que alumia a todo o Homem que vem ao mundo, conforme diz o versículo do Evangelista de Patmos. Qual o caminho a seguir para a realização desse lum inoso porvir? - A reconstrução do Homem. É a única solução para o problema humano que se apresenta hoje com uma gravidade sem precedentes na História e da qual depende a sorte das Nações. Urge, pois, como preliminar de qualquer solução dos angustiosos problemas que afligem este século, reeducar o Homem, restaura-lhe a dignidade, reacender nele a chama da juventude criadora. Esta a grande Cruzada dos tempos modernos: Lançar no mundo o Homem Nono dos tempos Novos. Como empreender essa reconstrução do Homem? - Pela Revolução Interior, a revolução dos espíritos, a mudança dos costumes. No que consiste a Revolução do Interior? - A Revolução do Espírito contra a Matéria. Em vez de reformar, transformar. Transformar no sentido da valorização do Espírito. Quais os caminhos que levam à Revolução Interna? - A Revolução Interna supõe o domínio de si mesmo pela renúncia às paixões, pelo esforço reflexivo que procura descobrir no Homem decaído a verdadeira grandeza humana. O problema é este: descobrir o Homem no homem. E o que mais? - Reconstruir o Homem é levar o próprio Homem a reconsquistar-se, Dominar o comodismo, a preguiça, o ceticismo, a desilusão, o cansaço, a impetuosidade, o egoísmo, o apego às glórias falazes, convencido de que ninguém tem o direito de pretender orientar uma Pátria, quando não é capaz de governar-se a si próprio. O problema do mundo é um problema de santificação das Nações. Porém as nações não se santificam coletivamente, se cada um dos seus componentes não procurar aprimorar-se nas virtudes através de sacrifícios. Por que essa afirmação? - Porque para combater o mal da sociedade precisamos primeiro, combater o mal em nós mesmos. Vejamos o caso do Brasil: o que ele mais precisa não é de reformas administrativas (conquanto estas sejam necessárias), mas de reforma dos homens. O momento nacional exige uma verdadeira revolução nos costumes. Sem ela não teremos homens dignos. Sem homens dignos não teremos administração honesta, de nada valendo nem novas estruturas, nem mesmo os planos governamentais por mais belos que sejam. Terão esses conceitos validade prática? - São os únicos conceitos “práticos” no campo das idéias. Senão vejamos: tomemos como exemplo a construção d uma casa. O arquiteto elabora uma planta perfeita nos seus mínimos detalhes. Nada falta: é bela, é funcional. Mas na sua construção entram materiais de segunda e terceira qualidade. O que acontece? Logo a casa se deteriora e cai.

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E ao que leva essa evidência? - Á verificação de que ou fazemos uma revolução nos costumes, ou de nada valerão os esforços do Governo e dos homens de Estado empenhados em elevar a Nação e engrandecê-la. Esta a Revolução pregada pelo Integralismo. Como, então, classificar a Revolução Integralista? - Ela é muito mais profunda do que uma simples revolução política, pois o Homem tem de reagir, violentar os costumes. Precisa lutar consigo mesmo, batalhar contra o próprio ser, aperfeiçoar-se cada vez mais na prática das virtudes, ser sincero, ser verdadeiro, não cortejar a popularidade. Quais as qualidades para se obter a vitoria integra l? - Pedir a Deus coragem e paciência, fortaleza e inspiração, energia e bondade, severidade sem alarde, bravura sem ostentação, virtude sem orgulho puritanista, humildade sem dignidade e dignidade sem egolatria. Cultivar o amor ao seu povo e a generosidade para os que se manifestam incapazes de compreender o ideal proposto. E o que é necessário para levar a Revolução Integra lista avante? - Em primeiro lugar a crença de que o Homem pode interferir na marcha social e a Revolução é a nota característica do poder da Pessoa Humana. Revolução é vitalidade, é força do Homem. É autonomia da Idéia, é interferência histórica, é propulsão, desvio da rota, criação de aspectos novos. Revolução é, pois, beleza da mocidade e glorificação do Homem. O Homem é novo, quando se rejuvenesce pela ação criadora de seu mundo interior; e quando ele se sente suficientemente jovem, interfere, atua, modifica, na ânsia de renovar a faze da Terra. Quais as qualidades necessárias a essa em empresa? - Energia, destemor e domínio próprio, lembrando-se que tudo se rebela contra aquele que quer uma ordem nova. Todos os preconceitos se levantam. Tudo o que há de negativo no passado se mobiliza. Todos os comodismos dos satisfeitos se insurgem. Todos os medíocres se conjugam para aniquilar aquele que vai interferir na marcha normal dos fatos. Qual a conclusão? - Que o nosso combate deve, portanto, principiar em nós mesmos. E é somente por esta Revolução Interior que se poderá salvar a democracia, vivificar a liberdade, enobrecer a Pessoa Humana, engrandecer a Nação, transmitir à posteridade um patrimônio moral com que se defenda, se afirme e se engrandeça, realizando a Pátria dos nossos sonhos, que é a Pátria inspirada na lei eterna de Cristo. Isto porque no próprio Homem, considerado singularmente, lutam dois homens: o velho e o novo, aquele trazendo a tendência ao Mal, este a iluminar-se com a própria luz que de si mesmo tira e que é a aspiração ao Bem. Portanto, para combater o mal da sociedade, precisamos, primeiro, combater o mal em nós mesmos.

Teorias de Governo _______________________________________ TIPOS FUNDAMENTAIS DE CONVÌVIO SOCIAL

Como se origina a conduta dos Estados na variedade de suas expressões e modalidades? - Em três tipos fundamentais de convívio social, a saber: a) O individualismo; b) O Coletivismo; c) O Grupalismo. Como definir o Individualismo? - É a desordem política e moral. E o Coletivismo? - A supressão total da ordem pela força. E o Grupalismo? - É a Democracia Orgânica, a verdadeira democracia.

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Qual a origem do Individualismo e do coletivismo? - Sem dúvida nenhuma o totalitarismo. Por que? - Porque toda a doutrina ou ação política ou social que coloca em primeiro lugar um conceito qualquer e em segundo lugar o Homem pode ser taxada de totalitária. Pode citar exemplos? - O nazismo colocou em primeiro lugar a raça; o socialismo, a coletividade; a liberal-democracia, a liberdade isenta de todos os deveres; o capitalismo, o negócio. E como é considerado o Homem no Estado Totalitário? - Nele o Homem perde suas prerrogativas de Pessoa Humana, sendo encarada a coletividade nacional como um conjunto de agentes biológicos e culturais da produção. Quais as conseqüências? - O triunfo da força sobre o direito, das transigências sobre os princípios, da vontade onipotente dos governantes sobre a lei. Em suma, é o predomínio dos fisicamente mais fortes. Qual o exemplo mais nítido dessa realidade? - No passado, o nazismo com sua doutrina do espaço vital e da divisão do mundo em zonas de influências impostas pela fatalidade geográfica; no presente, o comunismo com sua doutrina de expansionismo imperialista. Quais as origens filosóficas dos totalitaristas? - Se buscarmos na História da Filosofia a origem dos Totalitarismos iremos encontrá-la em Hobbes com sua concepção do Estado absorvente e anulador das liberdades humanas e em Locke e Rousseau, pais do Estado Liberal. Um Estado forte é um Estado Totalitário? - Não. Um Estado forte é aquele cuja autoridade moral se fortalece pelo respeito que este mesmo Estado vota à intangibilidade da Pessoa Humana e de todas as suas expressões grupais ou sociais. O Estado totalitário é o Estado arbitrário.

______________________ A LIBERAL DEMOCRACIA

Como se rege a Liberal Democracia? - Pelo critério individualista, isto é, o Liberalismo. O que vem a ser Liberalismo? - O Liberalismo é uma doutrina política que surgiu com o advento da Revolução Francesa, nos fins do século XVIII. Podemos dizer que sua ação política, oriunda da Declaração de Direitos do Homem, da Virginia (Estados Unidos), em 1876, e da Assembléia Constituinte Francesa em 1789, na realidade começou a ter prática efetiva a partir do movimento constitucionalista da Europa, de 1820 em diante. Teve um lado positivo: trouxe grandes benefícios à humanidade, abolindo os governos despóticos e traçando normas ao equilíbrio social. Entretanto, aplicado ao campo econômico, onde se fazia sentir nenhuma ação do Estado no sentido de equilibrar as forças do Capital e do Trabalho, deixou que aquele se organizasse em trusts e monopólios e este tivesse de reagir por si mesmo, organizando na Inglaterra as Trade Unions e no Continente as Confederações Gerais de Trabalhadores. É que estando obsoletas as estruturas da Economia medieval, foram estas extintas, mas não se lhe deu em substituição nenhuma organização que correspondesse ao desenvolvimento industrial e à internacionalização do comercio. Gerou-se, desse fato, a luta de classe. Que se entende por Estado liberal-democratico? - É um Estado agnóstico e naturalista, favorecendo com sua neutralidade, o progresso do Mal contra o Bem, desconhecendo, assim, por principio, as questões da origem e finalidade do ser humano. Como assim? - O naturalismo do século XVII, com Rousseau, D’Alemberr, Helvetus, Holbach, substituiu em política, o conceito do Estado e do Governo – Tão luminosamente expendidos por São Tomás, pelos caprichos da chamada soberania, oriunda das massas populares desorganizadas, onde cada individuo deixou de ser criatura de Deus com necessidades

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tanto do corpo como do espírito, para torna-se, apenas, o ente-cívico, desprotegido de todo o amparo dos grupos naturais em que o Homem se agrega para defender-se. Quais, então os conceitos consagrados pela democrac ia-liberal? - São dois esses conceitos:

a) O conceito do homem-cívico. b) O conceito da soberania nacional como a expressão da soma das vontades dos

“homens-cívicos”. Como se denomina a relação entre esses dois conceit os? - O voto. O que é o voto na democracia liberal? - Uma burla, porque não exprime um interesse real, direto, sendo uma relação entre o eleitor e o candidato, do mesmo modo como esta seria uma relação entre o problema público e a solução alvitrada pelo votante. E o que resulta desse conceito? - O Homem passa a ser o cidadão-cívico, cujas necessidades o Estado ignora. Por que? - Porque exclui-se do voto a expressão representativa de interesse individuais ou grupais. Mas então os governantes não são livremente escolhi dos pelo voto? - O principio da livre escolha dos governantes pelos cidadões é burlada pelo individualismo excessivo que, utilizando-se do prestígio das posições conquistadas ou do poder do dinheiro, ilude as multidões, moldando a opinião ao seu talante, e conduzindo despoticamente as massas desorganizadas. Que concluir dessa afirmativa? - Que a liberal-democracia despersonaliza o Homem. Essa democracia afoga o individuo no oceano do sufrágio. No terreno econômico como age a liberal democracia? - O Estado Liberal permanece de braços cruzados, como mero espectador do processo evolutivo da vida econômica da Nação. Não admite nenhuma orientação diretiva do Estado no tocante à evolução das forças materiais. O Estado é mero mantenedor da ordem pública, simples espectador da batalha econômica. A ele é negado o poder de intervir nos fenômenos da produção, da distribuição e do consumo das mercadorias. Todo o edifício da Economia Clássica repousa sobre os princípios que enclausuram o Estado, tornando-o impotente e inerme. E quanto às questões sociais? - Toda a legislação do Estado liberal em relação às questões sociais não passa de aspirina para as dores de cabeça das Nações, meros tratamentos sintomáticos de enfermidades profundas. A frase “laisser faire, laisser passer”, define a atitude de indiferença do Estado diante das lutas sociais. Aonde leva essa impassibilidade do Estado liberal? - Aos totalitarismos extremos. E por que? - Por ser um regime político do “salve-se quem puder”, a liberal democracia abandona o ser humano ao seu próprio destino, exigindo dele, apenas um cidadão votante e pagador de impostos, com boa folha na policia, caderneta de serviço militar, RG e CPF, haja embora fome na sua casa. Consagra, portanto, o direito das classes de fazer justiça pelas próprias mãos. Nunca o Estado liberal se inquietou com as conseqüê ncias desse seu descaso? - Quando o Estado se inquieta diante das greves e demonstrações proletárias, a burguesia oferece-lhe as idéias altruísticas com que mascaram a sua opressão aos trabalhadores: montepios, caixas de pensão, creches, hospitais. E o que decorre dos princípios liberais? - O Estado parece desconhecer a organização dos grupos financeiros e dos sindicatos de trabalhadores. Nega, porisso mesmo, aos sindicatos os direitos políticos, esquecendo-se de que o sindicato tem não só um caráter econômico, mas um caráter ético e uma função

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política. Quais os principais defeitos do Estado liberal? - É um Estado estático e um Estado amoral. Como assim? - É um Estado estático, incapaz de adaptar-se dinamicamente à evolução dos tempos e às necessidades atuais das Nações. E é um Estado amoral porque não há moral sem conceito filosófico de vida. Na administração pública não podemos compreender moralidade sem definição de conceito de Estado e de objetivos nacionais claramente prefixados. Mas não se baseia o Liberalismo no conceito de libe rdade, fonte mais pura da Democracia? - O Liberalismo tornou-se a negação da Liberdade e da própria Democracia. Senão vejamos: livre não é o Estado para intervir na economia; livre não é a classe profissional para defender os interesses de seus membros, porque o trabalho, transformando-se em mercadoria, ficou sujeito à lei da oferta e da procura; livre não é a família, uma vez que não tem independência e economia garantidas; livre não é o produtor, porque na oscilação dos preços não consegue muitas vezes defender, não somente o valor de seu trabalho, mas nem mesmo os prejuízos do capital empregado, isto é, do trabalho anterior acumulado; livre não é o consumidor, pois desejaria comprar, não dispondo do poder aquisitivo; livre não é ó comercio, porque está sujeito a manobras de grupos financeiros que governam à revelia do Estado; livre não é o individuo, porque os próprios governos reconhecem que o direito de escolha política deve ser secreto, o que demonstra não haver garantias para ninguém.

____________ SOCIALISMO

Como surgiu o Socialismo? - Em 1848, Marx e Engels lançaram um manifesto conclamando os operários de todo o mundo a se unirem. Enquanto a doutrina liberal era agnóstica, o marxismo se apresentou como a doutrina do liberalismo histórico, também chamado dialético, pela conjunção das concepções materialistas inglesas e francesas com o idealismo dialético do filósofo alemão Hegel. Em que se baseia o Socialismo? - Sua base é o materialismo, negando a existência de Deus e da alma humana. Considera o Homem como um Ser-Economico, que precisa atender, apenas, as suas necessidades físicas. É o Socialismo uma doutrina adequada à época atual? - Além dê ser uma doutrina baseada no ateísmo e no materialismo, o Socialismo representa uma mentalidade atrasada para o nosso tempo, pela unilateriedade na consideração dos problemas, pelo que Henri Lê Man, pensador belga, o qualificou como uma forma de mentalidade do tempo da iluminação a gás. Como se divide o Socialismo? - Em Nacional Socialismo e Internacional Socialismo. Além da mesma origem filosófica, quais as outras id entidades entre o Nacional Socialismo e o Internacional Socialismo? - Ambos confundem Estado e Nação, conforme o conceito de Blustchel. Ambos consideram o Estado, não como um instrumento do Homem, porém como um instrumento de aproveitamento do Homem no interesse da coletividade. Ambos são socialistas revolucionários, um de caráter nacional, outro de caráter universal. Ambos invertem a hierarquia dos valores humanos, dando preeminência aos valores físicos e tolerando, apenas por motivos táticos, a manifestação espiritual dos cidadões, a qual, todavia, é de tal forma controlada ou coagida, que praticamente não tem exercício assegurado. Ambos destroem os Grupos Naturais, que são anteparo do Homem na defesa das suas liberdades face ao Estado. Quantas espécies de Socialismo existem? - Existem três espécies de Socialismo: Socialismo Capitalista, Socialismo Coletivista e Socialismo Nacionalista ou Nacional Socialista.

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Que pretende o Socialismo Capitalista? - Pretende impor o governo de grupos ou indivíduos detentores das riquezas, dos meios de produção e do dinheiro. Um certo número de homens ricos, ou unidos em grupos que tomam a forma de sociedades industriais ou comerciais, dirige o trabalho de uma grande multidão de pessoa proletarizada, subordinando os detentores dos pequenos capitais, pequenos bens, e os que exercem as atividades em profissões liberais. É a ditadura da plutocracia. Que pretende o Socialismo Coletivista? - O Socialismo Coletivista pretende que o Governo, ou o Estado, se apodere de todas as riquezas, de todos os meios de produção (estrada de ferro, navios, bancos, fábricas, minas, etc.) tornando-se o único patrão e submetendo todas as pessoas a uma espécie de cativeiro, sob o falso pretexto de uma igualdade econômica a qual, na verdade, não existe, pois os dirigentes desse sistema de governo levam vida de magnatas, exatamente como no regime capitalista. É a ditadura da Economia. Quantas espécies de Socialismo Coletivista existem? - Pondo de lado o Socialismo chamando Utópico ou Sonhador, o qual hoje está fora de moda, o Socialismo chamando Científico ou Marxista divide-se em duas correntes: a dos evolucionistas e dos revolucionários. Que pretendem os socialistas evolucionistas? - Pretendem que a própria evolução do regime capitalista, na sua marcha natural, termine pela imposição do capitalismo de Estado, isto é, pela posse de todos os bens nas mãos do governo, tornando-se todas as pessoas subordinadas ao único patrão, que será o mesmo governo. Essa espécie de socialismo não se utiliza de revoluções, mas dos meios políticos comuns, isto é, do voto, para eleger seus representantes e das medidas administrativas para acelerar a transformação do capitalismo de grupos ou indivíduos em capitalismo do Estado. Que pretendem os socialistas revolucionários? - Os socialistas revolucionários, também chamados comunistas, pretendem a mesmíssima coisa que os socialistas evolucionistas, mas me vez de se utilizarem, apenas, dos meios pacíficos (eleitorais e administrativos) utilizam-se não somente desses meios, mas também dos golpes de força isto é: revoluções, sabotagens, assassinatos, desordens e violências de toda a espécie, quando os meios pacíficos não dão os resultados que desejam. Mas então, o Socialismo e o Comunismo são a mesma c oisa? - Sim. Porque ambos são materialistas, ambos negam a existência de Deus e da alma; ambos pretendem abolir a Família, para tornar o ser humano isolado e sem defesa no meio social; ambos pretendem que o Estado seja o único patrão; ambos querem destruir a idéia e o culto da Pátria. Mas os socialistas ou os comunistas nem sempre dize m que desejam abolir a Família, acabar com a Pátria, combater a Religião. Como expl ica\r isso? - Cada vez que eles assim procedem é para iludir os ignorantes que não conhecem a doutrina do marxismo e, principalmente, do marxismo-leninista, ou Comunismo. Quando algum propagandista do Socialismo ou do Comunismo, disser semelhantes coisas, responda-se a ele dizendo: ou você é um ignorante que não conhece os fundamentos materialistas do Socialismo ou Comunismo, ou então pensa que sou ignorante e pretende iludir-me. Por que o Comunismo é denominado “marxismo-leninist a”? - O Comunismo, ainda que contido no pensamento de Marx, tomou corpo depois que Lenine, em reunião dos socialistas internacionais, na Suíça, separou-se destes, criando novos métodos de ação. Como já dissemos, o Comunismo deseja a mesma coisa que o Socialismo, isto é, a estatização de todas as propriedades e meios de produção, mas enquanto o Socialismo adota um método evolutivo – baseado no materialismo histórico que é determinista – o Comunismo prefere os métodos revolucionários, interferindo nos fatos sociais e políticos, para precipitar o processo de transformação do Estado. De certo forma o Socialismo é mais materialista que o Comunismo, pois este se contradiz quando acredita na intervenção do Homem na formação dos acontecimentos de que tira proveito. Quando

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vencedor, depois de se utilizar os componentes políticos e sociais, ainda que não comunistas, o comunismo proclama seu ateísmo, persegue as religiões, que chama “ópio do povo”, coíbe a iniciativa privada, a livre manifestação de pensamento, sujeita o Homem e as Famílias à mais negra escravidão. Presentemente utiliza-se da tática de infiltração nos Governos, nos partidos, na Imprensa, nos meios operários e estudantis e até nas Religiões, para depois de vitorioso a todos submeter e oprimir, mostrando a sua horrorosa catadura que logo aparecerá, ao arrancar a máscara do nacionalismo e da democracia com que se disfarçou. O que objetiva o Comunismo? - O Comunismo identifica os conceitos de Nação, Estado e Governo. Subordinando todo o seu método crítico ao jogo dialético das forças econômicos e sociais, o marxismo objetivando a realização da síntese hegeliana, uma sociedade utópica que depois de transitar pela ditadura, possa abster-se dos governos e da idéia do Estado. O que é o Estado Comunista na prática? - O mais cruel dos totalitarismos, conseqüência lógica de sua concepção materialista da vida e da História. Qual o conceito que o marxismo tem de Democracia? - Para ele a Democracia é a realização da igualdade econômica mediante a socialização dos meios de produção. O que importa se colocar os instrumentos produtores de riqueza nas mãos de uma classe dirigente, que se torna poderosa e exerce o seu domínio incontrastável sobre a coletividade dirigida. Subordina-se, assim, a Pessoa Humana, à vontade onipotente dos detentores do poder. Quais as conseqüências dessa concepção materialista do Estado? - Entre outras:

a) Supressão da autonomia do Homem, da Família, dos Grupos Naturais. b) Negação do direito à propriedade privada. c) Abandono da moral do Homem, pois se cuida, tão somente, do seu aspecto

econômico. d) Impedimento do exercício da sociedade Religiosa.

_____________________ NACIONAL SOCIALISMO

Como considera o Nacional Socialismo a Pessoa Human a? - Reduz o Homem a simples célula do Estado, desprovido de autonomia e fisionomia própria. Como vê o Estado? - Considera o Estado segundo a concepção de Bluntschli, isto é, o Estado como um ser vivo, do qual os cidadãos não passa de células. E o que decorre dessa conceituação? - Querendo livrar-se de um Estado Totalitário, destinado a absorver a espécie humana, como no regime comunista, cai na armadilha de um Estado totalitário que se propõe absorver a Nação. Como Assim? - O Comunismo pretende reduzir toda a Humanidade à massa amorfa, onde os direitos individuais se afogarão no oceano dos direitos coletivos, utopia que só favorece a uma reduzida casta dirigente. O nacional-socialismo, identificando os conceitos de Nação e Estado e dando a este configuração e exercício funcional de caráter biológico, fará desaparecer as marcas da personalidade dos súbitos, sempre que contrariem os caracteres expressivos da fisionomia estatal. Quais as conseqüências dessa doutrina de Estado? - Três principais:

a) Coloca os interesses do Estado acima dos interesses do Homem e dos Grupos Naturais;

b) O Estado faz de si mesmo um fim, obrigando todos os cidadãos a tomá-lo, também, como seu próprio fim;

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c) Ameaça os Grupos Naturais que servem de sustentáculo à estrutura temporal das Sociedades Religiosas. Qual a facção que, atualmente, se rege pelo Naciona l-Socialismo? - O Trabalhismo. Mas o Trabalhismo é socialista? - Sim. De tempo a tempo o Socialismo inventa um nome para se disfarçar e encobrir seus propósitos materialistas contra a Família, a Religião e a Pátria. Atualmente, um nome que está em voga é “Trabalhismo”. Quer dizer que o Trabalhismo é também materialista? - O Trabalhismo não é mais do que o socialismo evolucionista com outro nome. Baseia-se, do mesmo modo que o Comunismo, na doutrina de Marx, o qual proclama que o único problema do Homem é o problema econômico e que o único meio de resolvê-lo é tornar as pessoas escravas do Estado, ou do Governo, que deve ser o único patrão, pagando os salários que bem entenda e exigindo o esforço que julgue necessário ainda que sacrificando o trabalhador à bem do que eles chamam a coletividade. Em última análise, é o próprio Comunismo, sem se utilizar de meios revolucionários ou violentos. Mas o Trabalhismo não tem por fim melhora a vida do s trabalhadores? - O Trabalhismo, pelo contrário, agrava a situação econômica e social sem nenhum beneficio para os trabalhadores, porque o seu fim único e último é ir forçando as situações até chegar o dia em que, estando tudo preparado, transformará os operários, os camponeses, os homens das profissões liberais, todos enfim, em verdadeiros escravos do Estado ou do Governo. Se o Trabalhismo pretendesse, realmente, melhorar a vida dos trabalhadores, ele cogitaria de resolver todos os problemas que se relacionam com o bem estar dos que trabalham. O bem estar dos que trabalham depende da solução de outros problemas? - Mas é lógico. O que adianta, por exemplo, aumentar os salários, se também cresce o custo dos gêneros de primeiras necessidades e dos alugues de casa, não podendo o operário manter-se com sua família, dado os preços caríssimos que paga por tudo? O que adianta oferecer garantias para tratamento de moléstias, aposentadorias e pensões, e outros benefícios, se as condições de saúde pública, de alimentação, de transportes, são péssimas? O que adianta favorecer o operário se não se cuida de dar bases sólidas às próprias indústrias? O que adianta pugnar pelos direitos, aliás, legítimos, dos trabalhadores da cidade, se a agricultura não produz e, portanto, há falta de gêneros nas grandes cidades e um encarecimento exorbitante desses mesmos gêneros? E o que adianta ao agricultor produzir, se ele não tem meios de transporte para trazer a mercadoria que quer vender nas cidades? E o que adianta facilitar meios de transporte, se não há braços para a lavoura? E como arranjar braços para a lavoura, se na roça tudo falta ao trabalhador: médico, farmácia, escola ou os mínimos confortos para uma vida compatível com a dignidade do trabalho? E o que adianta prodigalizar esses meios aos homens da roça, se os próprios fazendeiros não encontram apoio do governo, lutando com tais dificuldades de dinheiro ou crédito, que são obrigados a se sujeitarem aos açambarcadores que lhes pagam o que bem entendem pelos produtos, sacrificando dessa maneira os próprios trabalhadores rurais? E que adiantaria amenizar o esforço dos fazendeiros, se o país não possui máquinas agrícolas a preço razoável, tendo de importar tudo, por não haver em nossa terra uma indústria suficiente de ferro? E que adianta tentar resolver o problema do ferro, se não possuímos carvão de pedra, também chamado hulha, dependendo o nosso país, em matéria de combustível, dos estrangeiros?. Então o que fazer? - Em primeiro lugar resolver o problema do combustível a nível nacional e rasgar o país de estradas de ferro e rodagem; desenvolver a navegação fluvial e marítima; melhorar a saúde do povo para torná-lo mais eficiente; educá-lo para que compreenda as suas necessidades e os seus deveres. Tudo isso é um conjunto do qual depende a sorte dos trabalhadores. O Trabalhismo não faz essas cogitações?

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- ao. Faz, apenas, promessas na praça pública e o seu fim único é agravar a situação, como tem acontecido na Inglaterra, onde a miséria do proletariado cresceu desde o advento do partido Trabalhista, tanto assim que o povo inglês resolveu voltar ao manancial do Conservadorismo. O que deseja, na realidade, o Trabalhismo? - A mesma coisa que o Socialismo: a escravização de todos os indivíduos ao Governo. No dia em que conseguir isso, adeus reclamações de operários! Adeus liberdade de greve, liberdade de reunião, liberdade de palavra! Será, então, como na Rússia soviética, onde os operários são mandados para a Sibéria quando reclamam.

____________________________ NAZISMO, FASCISMO, RACISMO

Já que estamos falando de regime políticos, qual a opinião do Integralismo sobre Nazismo, Fascismo e Racismo? - O Nazismo, isto é, o nacional-socialismo, conforme seu nome indica, é um misto do socialismo de Marx e do nacionalismo de Bluntschili, cuja doutrina identifica a Nação como o Estado. Entram na composição do Nazismo ainda o pensamento de Nietzsche, que engendrou o Super-Homem e pregou a violência, assim como as idéias racistas de Houston e Gobineau. Transferindo a idéia do Super-Homem de Nietzsche para a Super-Raça, o Nazismo identificou esta com o Estado absorvente, totalitário, belicoso, conquistador e opressor. É uma doutrina condenável que foi, desde o começo, reprovada pelo Integralismo, como se vê na famosa “Carta de Natal e Fim de Ano”, de Plínio Salgado, publicada em 1935. E o Fascismo? - Quanto ao Fascismo, o Integralismo o considera um regime de circunstância, aparecido na Itália no momento em que o Comunismo avançava assustadoramente, ameaçando a integridade daquela Nação. Não tinha uma doutrina fixa, como o Nazismo. Sua preocupação era o combate ao comunismo. Uma vez no poder organizou o Estado baseado no corporativismo católico, absorvendo o partido cristão de D. Stulzo, no nacionalismo pregado pelo partido desse nome e tradições históricas do povo italiano e seus ancestrais romanos. Tentou debalde dar ao movimento um conteúdo filosófico, por esforço de alguns intelectuais como Giovanni Bentile, mas o sentido político do regime foi pragmático, mais se preocupando com as realizações administrativas. Então o Fascismo pode ser aceitável? - Não. O Fascismo não é aceitável por ser um regime que suprime a liberdade individual e elimina a representação política, pois as corporações não tinham no Fascismo senão uma função econômica e a Câmara Fascista não passava de um órgão constituído pelas listas do Partido Único, não havendo, portanto, circulação livre da opinião popular. Por que o Comunismo denomina fascista a quantos lut am contra sua ideologia? - Por ter sido o primeiro movimento pequeno-burguês que se ergueu contra o Comunismo. A Enciclopédia Soviética define o Fascismo como “qualquer ação contraria à revolução do proletariado”. O Nazismo e o Fascismo são idéias oriundas do sécul o XX? - Não. Tanto um como o outro são remanescentes das idéias do século XIX, inadequadas ao nosso tempo. Então o Integralismo não os aceita? - Sendo o Integralismo uma doutrina do século XX, pelo se sentido de síntese e critério de co-relações dos fenômenos econômico-sociais, jamais poderia aceita o tipo de Estado Fascista ou Nazista. Além do mais, se o Integralismo considera o Estado uma criatura da Nação, não pode aceitar qualquer doutrina que superponha o Estado à Não. O menor não pode absorver o maior. O Integralismo é anti-racista? - Evidentemente. A declaração a tal respeito se encontra no Manifesto de Outro de 1932, em seu Capitulo 4º. Em que se baseou o Integralismo sobre o assunto?

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- Baseou-se em Alberto Torres no seu livro “O Problema Nacional Brasileiro”. Afirma ele e afirma o Integralismo no citado Manifesto de há quase cinqüenta anos, que no Brasil muitos intelectuais aceitavam as idéias racistas dos povos que nos queriam dominar, sob pretexto de nossa inferioridade racial. O que pensa o Integralismo disso? - Seria ridículo que em nosso País, onde somos o resultado de um conjunto de raças – índios, pretos, europeus e asiáticos – adotássemos qualquer preconceito racial. Além do mais, o Integralismo é cristo e Cristo pregou a confraternização de todos os povos e raças. Mas não existiu, dentro do Integralismo, uma corren te racista? - Se por acaso algum integralista foi atraído pelo racismo, ele estava fora de nossa doutrina, agindo por conta própria, como acontece, aliás, a este e a outros respeitos, em todas as correntes políticas.

O Estado Integral ________________________ DEFINIÇÕES NECESSÁRIAS

Qual o primeiro passo para a formulação de uma dout rina equipadora de Estado? - Uma exata conceituação sobre Política, Sociedade, País, Pátria, Nação e Estado. A que leva uma determinação falsa sobre essas reali dades? - A uma série de erros que, aliás, incidem hoje sobre o Estado Moderno. O que é a Política? - É o Governo da Sociedade pelo Estado. Podemos também defini-la como a ciência e a arte de realizar o bem comum. A Política é então uma ciência? - É ciência quando se baseia em conhecimentos certos acerca de assuntos de que trata para atingir aquele bem comum, como por exemplo, os assuntos referentes à sociologia, à economia, ao direito, à psicologia, à estatística, à pedagogia, etc. E quando é a Política considerada uma arte? - Quando traça regras de ação baseadas na experiência histórica e nos conhecimentos exatos a respeito dos homens e de um determinado povo. Que é o bem comum? - É tudo que concorre para:

1º) Assegurar a liberdade humana nos limites da verdadeira moral inspirada em Deus e nos direitos e deveres do Homem para com o mesmo Deus, para consigo próprio, para com a sua Família e a sua Pátria; 2º) Garantir a cada um e a todos os seres humanos a subsistência individual e familiar, o êxito no trabalho e a sua justa remuneração, os meios de educação, higiene, transporte, comunicações, ordem pública, elevação cultural e aperfeiçoamento moral.

Quantos elementos encontramos na definição da Polít ica como “governo da sociedade pelo Estado”?

- Três:

a) Sociedade b) Governo c) Estado

A Sociedade o que é? - A Sociedade é a união moral e necessária de seres humanos, vivendo harmoniosamente, em demanda de seus fins superiores. Que se entende por Governo? - Governo é o órgão que modera as vontades de cada um, condicionando os impulsos individuais, segundo o direito e a ordem, às exigências do bem comum. Mas governar não é apenas policiar. Governar é orientar para o bem. E o Estado como pode ser definido?

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- O Estado é entidade jurídica criada pela Nação, isto é, pelo consenso dos homens livres a fim de que exerça o governo nacional, promovendo o bem comum e garantindo justos direitos. O que é País para o Integralismo? - O País é a base física do Estado. É o meio físico em que vive um povo. Por analogia costuma-se designar a Nação pelo nome de País. E a Pátria? - Das relações sentimentais entre o Homem e a paisagem física e humana em que se move é que se originou a idéia de Pátria. E o que resulta dessas relações? - Razão ética, imperativa espiritual, imposições do afeto e da solidariedade de milhões de filhos de um mesmo Povo. A Pátria é só a Terra, o Homem e a Comunidade Human a? - A Pátria não é apenas constituída das expressões materiais dos espaços geográficos. Ela – como seus filhos – tem um corpo e uma alma. O corpo é o território e a população que o preenche, maquilo que esta possui de material e que é tudo o que de material existe no Homem. A alma é a História. O que se deve compreender como História? - Devemos entendê-la como a interpretação dos fatores psicológicos que atuaram nos fatos ocorridos e a compreensão do sentido moral que presidiu ao processo da formação da Nacionalidade. Por que chamar a História de alma de um povo? - Porque a História é o agente das resistências eficazes, a força de sobrevivência, a energia que se exprime na dignidade e na honra e, sobretudo, na consciência da alta missão política entre as outras nacionalidades. Como definir a Nação? - Quando a comunidade pátria movimenta-se no sentido da organicidade surge a Nação, conjunto de personalidades e de grupos naturais, exprimindo-se politicamente numa personalidade coletivo que sabe de onde vem, onde está e para onde vai?. Como o Integralismo compreende a Nação? - Como ima grande sociedade de famílias vivendo em determinado território, sob o mesmo governo, sob a impressão das mesmas tradições históricas e com as mesmas aspirações e finalidades. Quais os sinais característicos da Nação? - A Nação é uma continuidade histórica, no tempo; é um patrimônio territorial, no espaço geográfico; é realidade social, uma individuação econômica, uma expressão moral, como conjunto de pessoas, famílias, grupos de trabalho, municípios. É a unidade humana diferenciada pelo meio físico, pela estrutura étnica, pelos índices culturais, pelo idioma, pelo temperamento e vocação de um povo. A Nação é um conjunto de pessoas livres, de famílias livres, de profissões livres, de propriedades livres, de municípios livres. O que a Nação exprime? - O Homem e o conjunto de homens; cada um dos Grupos Naturais e todos ao mesmo tempo. Se o Homem e os Grupos Naturais gozam de direitos e subordinam-se a deveres, a Nação goza também desses direitos e subordina-se a idênticos deveres, num sentido harmônico de reciprocidade, em relação a cada elemento que a compõe e a todos em conjunto. Existe uma vocação nacional? - Se Deus ordenou a distribuição dos povos da terra em grupos nitidamente diferenciados, é porque, do mesmo modo que a cada homem incumbe um papel segundo a sua vocação, também a cada comunidade política toca desempenhar missões próprias no curso da História, em relação às demais comunidades políticas. As Nações possuem uma personalidade, isto é, um mod o de ser coletivo, que não se confunde com a existência de seus filhos? - Sim. Essa personalidade nacional é constituída de elementos essencialmente espirituais,

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ainda que se manifeste nas expressões materiais visíveis da sociedade civil e dos tipos de vida condicionados a circunstâncias físicas especificas. Como se manifesta a personalidade das Nações? - Através do gênio de um povo. E o que vem a ser o gênio de um povo? - Gênio de um povo é um modo de ser, um caráter próprio, uma tendência vocacional, uma consciência de missão histórica, uma aspiração a idéias que justifiquem a permanência e a sobrevivência da Nação. E como nasce a Nação? - A Nação nasce quando aquele caráter acima especificado se define, aquele modo de ser se fixa, aquela tendência vocacional se revela, aquela consciência se determina e aquela aspiração se torna o móvel das ações políticas dos indivíduos e dos Estados. E quando as Nações definham e morrem? - Quando vão perdendo o sentido de sua própria existência e encontram diante de si o vazio imenso de idéias a serem procurados. Qual, então, a missão dos condutores de povos? - É despertar a Nação para a vocação histórica, ditada por sua personalidade. Ensinar a Nação a saber quem é, para que ela continue a ser. E o que acontece às Nações quando não sabem ou se e squecem de quem são? - As Nações que perdem a memória de sua vocação histórica se deixam conduzir pelos acontecimentos em lugar de dirigir o destino de seus filhos. O que resulta da consciência de vocação histórica d as Nações? - O sadio nacionalismo, pedra de toque da vitalidade de um povo. Existe uma só conceituação de nacionalidade? - Não. Vários são essas conceituações, que a grosso modo podemos sintetizar em certas e erradas. Quais as erradas? - muitas são essas falsas conceituações. Entre elas existem:

a) As que exaltam o Nacionalismo a tal ponto, que o tornam um instrumento de preocupação interna e de ameaça externa. Assim o Nazismo e o Comunismo, ao identificar a Nação com o Estado, sacrificando, porisso, ao Estado, a Pessoa e suas legitimas projeções e tornando-se por assim dizer, um Nacionalismo anti-nacionalismo, porque a pretexto de salvar, mata a Nação em tudo que diz respeito à sua essência e substância.

b) As que condenam “in limine”, todo nacionalismo. c) As que tomaram o nacionalismo como sinônimo de xenofobia, de jacobinismo, de

atitudes de repulsa às nações estrangeiras. Quais os graves erros do falso nacionalismo? - A estatização crescente das empresas, a política tendente a dificultar a livre-iniciativa, o poder emissor desencadeando as ondas inflacionárias que descontrolam todos os orçamentos estaduais e municipais, se situam entre os graves erros do falso nacionalismo. Qual a conceituação certa? - O verdadeiro nacionalismo é postulado pelas próprias prerrogativas naturais da Pessoa Humana. Se na Nação encontramos os princípios fundamentais da liberdade e da responsabilidade do Homem e a sustentação doutrinária da autonomia dos Grupos Naturais, a começar pela Família, que é o mais importante, então temos de aceitar a Nação e o nacionalismo como um meio de defesa e garantia de sobrevivência dos direitos individuais e grupais. E resta lembrar que foi Deus quem diferenciou a unidade humana em expressões particulares, segundo condições geográficas, climáticas, econômicas, culturais, idiomáticas, históricas e temperamentais. Então o nacionalismo não é um atentado aos legítimo s direitos da Pessoa Humana? - Ao contrário. O Nacionalismo bem concebido é uma condição para sua plena realização. Na verdade, o nacionalismo cristão sustenta o principio da intangibilidade da Pessoa Humana e dos Grupos Naturais de que se servem as mesmas pessoas para defender seus direitos e cumprir seus deveres, tendentes a um fim determinado por Deus.

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Como o Integralismo concebe o nacionalismo? - O nacionalismo é um instrumento que o Homem usa segundo as normas do Estado e por intermédio de governo legítimos, para entender-se com os seus semelhantes em todas as regiões da terra. Esta é, por assim dizer, a forma de um internacionalismo cristão, que não pode aceitar aquele internacionalismo de indivíduos, da utopia socialista, cujos objetivos passam por cima das Nações, as quais, pelas suas diferenças já apontadas – geografia, climáticas, raciais, idiomáticas e temperamentais – como que refletem e participam dos atributos das pessoas que as compõe e da intangibilidade que essas pessoas asseguram direitos irrecusáveis. Então o Integralismo não é partidário do nacionalis mo exacerbado? - Não. Defendendo a diferenciação humana em grupos naturais, constituindo Pátrias independentes, cada qual gozando de legítima soberania, usufruindo no concerto internacional de guais direitos e aceitando recíprocos deveres. O nacionalismo faz parte da doutrina integralista? - O nacionalismo foi lançado como bandeira pelo Integralismo no Manifesto de Outubro de 1932, com estas palavras: “O cosmopolitismo, isto é, a influência estrangeira, é um mal de morte para a Nacionalidade. Combatê-lo é nosso dever. E isso não quer dizer má vontade para as nações amigas, para com os filhos de outros países que aqui também trabalham objetivando o engrandecimento da Nação Brasileira e cujos descendentes estão integrados em nossa vida do povo”. E mais: “Levantamo-nos num grande movimento nacionalista para afirmar o valor do Brasil e tudo o que é útil e belo no caráter e nos costumes brasileiros, para unir todos os brasileiros num só espírito. Temos de invocar nossas tradições, temos de nos afirmar como um povo unido e forte. O nacionalismo para nós não é, apenas, o culto da Bandeira e do Hino Nacional: é a profunda consciência das nossas necessidades, do caráter, das tendências, das aspirações da Pátria e do calor de um povo. Essa a grande campanha que vamos empreender”. E realizou o Integralismo essa campanha? - Sim, ao mesmo tempo em que as suas elites dirigentes se entregavam ao estudo das realidades do País. Em 1933, aplicando o principio nacionalista à solução dos problemas econômicos brasileiros, foi publicado o chamando Manifesto-Programa, sugerindo as medidas a serem adotadas, entre elas a nacionalização das riquezas do sub-solo, inclusive o petróleo, da energia elétrica, a disciplinação dos capitais estrangeiros e o favorecimento às industrialização do país, a transferência da Capital para a ocupação do Oeste e desenvolvimento de zonas abandonadas e muitas outras providências. E o capital estrangeiro? Como o encara o nacionalis mo integralista? - O Integralismo não é adverso à contribuição do capital estrangeiro no desenvolvimento do Brasil. Pelo contrário, entende de grande utilidade essa contribuição. Devemos dar-lhe todas as garantias, lembrando-nos de que os Estados Unidos, no começo, se valeu de capitais ingleses, franceses, belgas, alemães e outros, que foram fatores positivos de seu progresso. E faz o Integralismo alguma exigência na matéria? - O que o Integralismo exige é a disciplinação desses capitais. O capital alienígena empregado no país para produzir utilidades de exportação e conseqüentemente divisas, deve ser melhor acolhido que aqueles que apenas gira no comércio interno, não produzindo, muitas vezes, nenhuma riqueza nacional. E o que mais? - A disciplinação deve também ser no sentido de que, na verdade, entrem valores monetários no país, impedindo-se que empresas estrangeiras, servindo-se de Bancos estrangeiros, utilizem dinheiro brasileiro para montar sua indústria ou comércio, iludindo, assim a boa fé nacional. Deve, ainda, regular a remessa de lucros de sorte a se evitar as sucessivas sangrias que, por intermédio do capital estrangeiro inescrupuloso, depauperam a Nação. Dentro desse espírito, devemos, através de uma reforma bancária, impedir que Bancos estrangeiros, trazendo contribuição mínima, girem com o próprio dinheiro brasileiro neles depositados. No mais, não devemos temer o capital estrangeiro, mas até estimular o seu ingresso no País.

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Então, segundo o que foi exposto, não se pode confu ndir Nação e Estado? - Jamais. Aliá, essa identificação está na raiz dos totalitarismos. Como impedir essa identificação? - Insistindo sempre na distribuição entre Nação e Estado, pois o Estado não é a Nação, mas é o ordenamento jurídico das forças nacionais. A Nação cria o Estado, ao passo que o Estado não pode criar a Nação. Mas a Nação que engendra o Estado é a Nação que se pode definir como conjunto de pessoas humanas na plenitude de uma consciência de comunidade histórico-social. O Estado é instrumento de que servem o Homem, os Grupos Naturais, a Comunidade Nacional, para manter o equilíbrio dos direitos e deveres entre uns e outros, nas relações da vida interna, e para sustentar direitos e cumprir deveres na comunidade das outras Nações. Qual a diferença entre Governo e Estado? - O Estado vive na lei escrita; o Governo vive nos atos que pratica para fazer viver a lei do Estado. O Estado tem uma permanência maior, porque a sua transformação se opera em razão de circunstância históricas; o Governo tem uma permanência menor, porque a sua substituição se opera em razão de conveniência políticas. O Governo é a concretização física e moral do Estado, a personificação da autoridade do Estado, indispensável para coordenar e orientar as atividades individuais no sentido das idéias preestabelecidas ao constituir-se o mesmo Estado.

________________________________________ PRINCIPIOS BÁSICOS DO ESTADO INTEGRAL

Como pretende o Integralismo construir a Sociedade? - Segundo a hierarquia de seus valores espirituais e materiais, de acordo com as leis que regem os seus movimentos e sob a dependência da realidade primordial, absoluta, que é Deus. Como define o Integralismo os valores do Estado? - Na doutrina do Estado há valores essenciais e valores acidentais. Os valores essenciais são independentes do tempo, do espaço e das formas de governo porque inscritos na própria lei natural; os valores acidentais existem em função das circunstâncias geográficas, históricas, econômicas, políticas e sociais de um povo. Os primeiros são, por sua própria natureza, imutáveis, Os segundos são transitórios. E o que concluir? - O Estado pode variar de formas políticas, mas não pode, em face do direito natural, em face da finalidade que Deus designou à Criatura Humana, variar de essência. E quais as características do Estado Integral? - É um Estado Ético-Finalista, um Estado-Meio, um Estado Dinâmico. Que se entende por Estado Ético-Finalista? - É um Estado que se radica numa nítida concepção do Homem e do Universo, regendo-se por uma norma moral definida, com objetivos prefixados. É um Estado que tem consciência de sua origem, sabe o que quer e para onde vai. Qual a conseqüência dessa concepção? - Segundo um conceito de origem e de fim, e tendo em vista a realidade dos movimentos sociais, o Integralismo deseja criar o Estado Finalista, de plasticidade revolucionária, expressivo das aspirações superiores do Homem e atento à interpretação dos movimentos sociais. Em resumo: Estado de finalidade prefixada, porém de plasticidade revolucionária. Onde esse Estado vai buscar sua força? - Pretendo restaurar o equilíbrio social criando um Estado Ético, esse Estado tem de ir buscar a sua força nalguma moral. Essa fonte de moralidade do Estado é a Família. Sem a Família não existe Estado Ético. Por que o Estado Integral é um Estado-Meio? - Porque não é um fim em si, a que devam sacrificar-se o Homem e os Grupos Naturais. Mas um meio indispensável ao desabrochamento das virtualidades humanas e de suas legítimas projeções.

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Por que o Estado Integral é um Estado Dinâmico? - O Estado Integral, embora seja estável em seus elementos essenciais, é necessariamente dinâmico em seus elementos acidentais. Deve adaptar-se às circunstâncias históricas, sociais, econômicas e políticas de cada povo e de cada época. Qual o traço característico do Estado Integral? - É a visão global dos problemas e da realidade, em oposição à consideração unilateral e parcial deformante. Como assim? - Os problemas têm de ser resolvidos em conjunto. Todos têm de ser enquadrados num só pensamento e subordinados a uma única orientação geral e supervisionadora.

____________________ O HOMEM E O ESTADO

Em que se baseia o Estado Integral? - Na concepção integral do Homem, sendo base fundamental do Estado Integral a intangibilidade da Pessoa Humana e do Livre Arbítrio de cada um. Para ele a Pessoa Humana é o ponto de partida e de chegada de todas as cogitações sociais e políticas, o fundamento dos Grupos Naturais, a fonte do direito e da independência das Nações. Porisso é preciso colocar o Homem como base de toda a ordem social. Segundo o Integralismo de onde procede o pensamento da organização social? - Do sentido das finalidades humanas. E é do pensamento da organização social que decorre a orientação política, com influência, por sua vez, na Sociedade e no Estado. Qual, então, a base da construção nacional? - O Homem, a Pessoa humana. E o que resulta dessa conceituação? - O Estado não pode fugir ao fim para que foi criado e que é servir ao Homem, facilitando-lhe a realização de seus justos objetivos. É preciso construir um Estado para homens, segundo as suas finalidades, a sua natureza, os seus direitos, os seus deveres, a sua função e as suas aspirações justas. Portanto o Estado deve assegurar ao Homem todos os meios necessários para o livre desenvolvimento de suas personalidades, de sorte que ele realize aqueles fins naturais e temporais que objetivem o seu fim sobrenatural e eterno, Incumbe, pois, ao Estado a obrigação de prover as condições necessárias à satisfação integral dessas legítimas aspirações (materiais, intelectuais e espirituais) da personalidade humana, respeitando e favorecendo a sua mais ampla expansão, norteando-se sempre pelos imperativos da harmonia social e dos superiores destinos do Homem. A que se opõe o Estado Integral? - Opõe-se, ao mesmo tempo, às ditaduras que sacrificam o Homem ao Estado e aos regimes que imolam o Homem ás oligarquias políticas e financeiras. O Estado Integral é um Estado que salva o Homem da ditadura cruel do materialismo finalista e da ditadura sem finalidade da plutocracia democrática e das oligarquias políticas financeiras. É o Estado que defende o Individuo contra a Sociedade e a Sociedade contra o Individuo.

________________________________ O ESTADO E OS GRUPOS NATURAIS

Como definir os Grupos Naturais? - A Sociedade Cristã é, antes de tudo, uma sociedade ordenada que se baseia na integridade do Homem ou da Pessoa Humana. Para que o Homem se manifeste sempre segundo o que ele é, cumprir que se exprima por meio daqueles instrumentos de sua própria consciência de realidade, necessidades, direitos e deveres, fins temporais e eternos. Esses instrumentos se denominam Grupos Naturais, isto é, a reunião de seres humanos defendendo interesses e objetivando finalidades comuns. Quais os Grupos naturais? - A Família, a Profissão, a Propriedade, o Município.

Como o Estado Integral considera os Grupos Naturais ?

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- Considera os Grupos Naturais como legítima projeção das suas virtualidades. O coletivismo marxista considera os indivíduos como frações de uma massa em que se fundem todos os egoísmos. Os Estados Integrais, inspirados nos ideais cristãos, considera as pessoas como unidades componentes de variados conjuntos em que se reúnem todos os altruísmos, uma vez que as atividades dos homens objetivam benefícios, beneficiando-se para obter condições de melhor oferecer benefícios. Segundo o Integralismo, quais as bases da verdadeir a Democracia e, portanto, do Estado Integral? - A Pessoa Humana intangível, os Grupos Naturais que dela procedem e dos quais o primeiro é a Família, vindo em seguida a Profissão, a Propriedade justa, isto é, aquela que não ultrapasse os limites do bem alheio ou comum e o Município, porque esses Grupos Naturais facultam à Pessoa Humana os meios indispensáveis à expressão de sua autonomia.

a) A FAMILIA

Qual o primeiro e mais importante Grupo Natural? - É a Família. Por que? - Porque o Homem e sua Família procedem o Estado. Tendo em vista a importância da Família, como garan tir a legitima expansão do Homem para sua integralização dentro dela? - Facultando-lhe os direitos indispensáveis para que ele possa cumprir os seus deveres de acordo com sua finalidade. Que deveres são esses? - O primeiro, o de prover à sua própria manutenção e à da sua Família, para isso necessitando de direitos que lhe assegurem justa remuneração de trabalho por meio do qual aufere o necessário com que sustentar-se e sustentar o lar domestico. O segundo, está na própria obrigação de manter a sociedade familiar que criou com o objetivo de não se extinguir o gênero humano. Para isso o Homem une-se à Mulher e funda essa pequena república que chamamos de Família, na qual ambos exercem magistério e magistratura, primeiro por serem mestres de seus filhos na formação moral, segundo, porque o Homem e a Mulher devem ser soberanos em sua casa, não podendo nenhum Estado ou Governo interferir na sua liberdade. É o conjunto de famílias que forma a nação, e os demais grupos naturais são criados para garantir-lhes os legítimos direitos. O Estado deve, porisso, ser forte para manter o Homem integro e a sua Família, pois é esta que cria as virtudes que consolidam o próprio Estado. Qual, pois, o papel do Estado Ético em relação à Fa mília? - O Estado Ético deve manter o equilíbrio dos Grupos, a fim de assegurar a intangibilidade do Homem. A Família é o Grupo Síntese que oferece ao Estado o sentido dos lineamentos exatos. Porisso o Integralismo considera a Família o primeiro dos grupos naturais, pois que, pela sua natureza, ao mesmo tempo biológica e moral, é o nascedouro da vida social e o repositório das tradições da Pátria. Que reivindica o Integralismo para a Família? - Considerando a Família a primeira célula e fundamento da sociedade nacional, cumpre ser dignificada e protegida. Não pode ser vítima de dissolução, nem o Estado pode usurpar-lhe o direito da educação da prole. Para sua maior proteção o Integralismo pleiteia a instituição do “bem da família”, isento de impostos, bem como a instituição do salário família e do voto familiar, este último como meio da Família participar no Governo do Estado. Uma vez que o Integralismo reivindica para a Famíli a a liberdade no tocante à educação da prole, cabe perguntar: como encara o pr oblema da educação? - Dois aspectos oferece esses problema: o doutrinário e o prático. Do ponto de vista doutrinário, o Integralismo propugna pela formação integral do Homem, visando a sua felicidade, que está na plenitude da realização de sua personalidade. Nestas condições, conjuga os elementos fornecedores do Homem completo ou integral: a educação física, intelectual e espiritual. Da primeira, decorre a saúde e vitalidade do corpo: da segunda,

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a posse dos acontecimentos científicos, técnicos e artísticos: da terceira, as normas do seu comportamento moral, em seu próprio beneficio, da Família e da Nação. Sob o aspecto prático, o Integralismo propugna pela gratuidade do estudo nos primeiro e segundo graus e pela facilidade do acesso a cursos no grau superior. Quanto à escolha do estabelecimento de ensino, os pais de família devem gozar liberdade plena. O que é preciso para uma formação que tornem úteis à Nação os homens e as mulheres? - É preciso não unilateralizar o problema apenas ministrando conhecimentos literários ou técnicos, mas também os fundamentos da moral e do civismo, pois a falta ou má aplicação desse ensino é que têm produzido no país multidões de egoístas, oportunistas e irresponsáveis. É o Integralismo favorável aos testes vocacionais? - Sim. As vocações devem ser consultadas, para evitar futuros insucessos profissionais e frustrações da personalidade. A educação se processa somente no lar e na escola? - Não. A educação se faz também por outros veículos do pensamento. Assim o Estado deve exercer fiscalização direta sobre o rádio, a televisão, o teatro, o cinema, o livro e a imprensa, a fim de que tais instrumentos de difusão de idéias e de exemplos, longe de deseducarem o povo – como acontece atualmente – venham, ao contrário, colaborar com o Estado e as Famílias na obra de elevação moral da Nacionalidade. Se o problema educacional não deve se restringir à instrução, mas também à educação e baseando-se esta em princípios morais, q ual o critério do Integralismo no que se refere à concepção desses princípios morais? - O Integralismo, baseando-se no conceito espiritualista de vida, acredita que o Homem tem um destino terreno e um destino eterno tem corpo e alma e procede de Deus. São, portanto, as concepções religiosas que dão ao Homem a consciência de seus deveres.

b) A PROFISSÃO

Qual o construtor do Estado Integral? - O Trabalho, sob suas variadas modalidades. Para o Integralismo o Trabalho é uma das bases do Estado e do Governo. Que prega o Integralismo no que tange ao Trabalho? - Entende que os trabalhadores de todas as classes profissionais devem organizar-se em associações. A associação de trabalhadores deve ter caráter excl usivamente econômico ou econômico-politico? - A primeira das hipóteses representa a concepção que possuem do problema, com absoluta identidade, o liberalismo-individualista e o corporativismo fascista. A única diferença entre o primeiro e o segundo esta na pluralidade sindical consagrada pelo primeiro em contraposição à unidade adotada pelo segundo. A segunda das hipóteses representa a concepção que têm do problema o totalitarismo comunista e certos tipos de social-democracia (estes tentaram a experiência de fazer coexistir na mesma casa do parlamento a representação política e a representação classista); mas, enquanto a social democracia, consagrando o multipartidarismo, também consagra o pluri-sindicalismo, o totalitarismo comunista que, como o fascismo, apóia-se no unipartidarismo, submete a vontade de todos os trabalhadores aos caprichos do partido único. Os trabalhadores devem ter representação política, segundo cada uma de suas categorias ou devem ter apenas representação econôm ica segundo cada uma de suas categorias? - O Integralismo é pela organização corporativa econômica e política, que exprime a democracia-organica por ele preconizada. Como assim? - A Revolução Francesa destruiu as corporações. Como sucedâneo destas surgiram os partidos políticos. Mas os partidos políticos tomaram por base, apenas, um dos aspectos do

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Homem: o Homem-cívico. Não representavam, de fato, os interesses das diferentes classes sociais. A industrialização subseqüente suscitou novos problemas de caráter econômico-social, estranho às preocupações dos partidos. Sentindo os trabalhadores que os partidos políticos não se preocupavam com os problemas, foram se organizando em uniões, federações e confederações. Essas associações verificaram que os problemas econômico-sociais relacionavam-se intimamente com os problemas políticos. Como conseqüência os sindicatos de trabalhadores, ainda que organizados muitas vezes com fins econômicos, adquiriram tom político; os partidos, que são essencialmente políticos, vão inscrevendo nos seus programas reivindicações de caráter econômico-social. E o que concluir? - A evidencia da necessidade de criação de corporações que tenham caráter econômico e político, como preconiza o Integralismo, isto é, com prolongamento na Câmara Política, esta sendo independente. Considerando que a garantia da liberdade humana e d a autonomia da Família reside, principalmente, nos meios materiais de subsistência e que estes são auferidos pelo trabalho, qual é a concepção do trabalho adotada pe lo Integralismo. - Trabalho humano não é uma mercadoria sujeita à lei da oferta e da procura; não é, também, como concebem os socialistas e comunistas, um complemento da matéria-prima na formação da mercadoria. Ambas as concepções são materialistas. O Integralismo considera o Trabalho humano uma coisa sagrada, porque participa da sacralidade do Homem, de sua liberdade, de seu poder criador, de seu sacrifício no cumprimento do seu dever. E o que deriva dessa concepção? - A necessidade de ser o trabalho remunerado, de sorte que essa remuneração supra as necessidades do trabalhador e da sua família. E entende mesmo que o ganho de quem trabalha deve ser de tal forma, que lhe sobre alguma coisa a fim de que, se o pai de família for previdente, possa juntar algo de seu com que adquirir uma prosperidade ou “bem de família”, base física de autonomia e estabilidade do lar domestico. Qual a solução proposta pelo Integralismo para obje tivar esse fim? - o Integralismo pugna pelo salário familiar e pela real participação dos empregados no lucro das empresas. E quanto à chamada luta de classe, que erige uma in compatibilidade entre o Capital e o Trabalho, como entendem os comunistas? - O Comunismo, como o Socialismo, corresponde a uma mentalidade retrógada, incapaz de ver as coisas em seu conjunto e suas correlações. O Capital, que é trabalho acumulado, conjuga-se com o Trabalho atual e atuante, fornecendo-lhe os meios de execução, enquanto este lhe fornece os elementos dinâmicos dessa execução. São dois fatores que se compõe, unidos ainda pelas investigações científicas e processos técnicos, para produzir riquezas que beneficiem a toda a comunidade nacional. E qual o objetivo do Integralismo nesse setor? - Harmonizar os dois fatores, sob os critérios da justiça e atento aos interesses da Nação, é o objetivo do Integralismo. Para impedir que o Capital se torne instrumento de espoliação do Trabalho e que o Trabalho se faça instrumento da desorganização e empobrecimento do país, com agravamento do custo de vida e desvalorização monetária, o Integralismo propugna por leis adequadas que tragam a paz, assegurem a justiça e a ordem, de que decorre o bem-estar de todos. A real participação dos empregados no lucro das emp resas, acima apontados, pela qual o Integralismo pugna desde 1935, será um dos f atores para solucionar a questão de luta de classe? - É uma necessidade imperiosa, mas que tem de ser encarada sob diversos aspectos:

a) O da manutenção da empresa: b) O da capacidade e diligência do empregado a fim de que não se equipare o homem

trabalhador, competente, honesto, ao vadio, incompetente e desonesto, o que seria grave injustiça;

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c) O das necessidades familiares do emprego e as suas próprias; d) E, finalmente, o interesse nacional do enriquecimento do País pela elevação dos

índices da produção em condições econômicas adequadas. O que é necessário para se alcançar esse objetivo? - Urge uma legislação de bom senso e clarividência, pela qual o Integralismo luta há longos anos. Acreditamos, entretanto, que todas as dificuldades surgidas à execução da idéia já consagrada na Constituição da República, provêm da falta de uma Câmara Econômica, pela qual o Integralismo se bate e que com a participação de todas as categorias de empregadores e empregados, encontraria a fórmula conciliatória. Isso mais reforça o argumento favorável à Democracia Orgânica proposta pelo Integralismo.

c) PROPRIEDADE

E quanto à Propriedade? Firmado o princípio da lega lidade da propriedade familiar, é natural que perguntemos: qual o conceito do Integra lismo sobre a propriedade em geral? - O Integralismo considera a Propriedade, qualquer que ela seja, desde que adquirida honestamente, como trabalho acumulado. Ora, se o Trabalho, na concepção integralista, participa da liberdade, da intangibilidade e da dignidade do Homem, logicamente a Propriedade que dele se origina, também participa daquelas prerrogativas humanas. É, portanto, intangível. Mas o direito e posse sobre as propriedades estão sujeitas a deveres, pois não existe nenhum direito que não corresponda a um dever e nenhum dever que não corresponda a um direito. O que deve visar a Propriedade? - Todas as propriedades devem visar, não somente aos interesses do proprietário, mas também aos interesses do bem comum. Qual, então, a finalidade da Propriedade? - A Propriedade tem um fim social e na verdade se torna ilegítima, se não atende aos reclamos do enriquecimento da Nação e à distribuição de benefícios sociais. O que ocorre á Propriedade nos regimes socialista e comunista? - O Socialismo e Comunismo, pregando a estatização dos meios de produção e a total desapropriação das propriedades pelo Governo, destroem a liberdade individual, anulam as bases da independência do Homem, pois o que é de todos não é de ninguém.

d) MUNICÍPIO

O que é Município? - É uma reunião de pessoas, de famílias autônomas, de propriedades de que o homem dispõe livremente, de grupos de trabalhadores livres. O que representa o Município para a Nação? - Ele é a celular da Nação, pois a Nacionalidade é um conjunto de Municípios. Nestes é que se exprime familiarmente, profissionalmente, politicamente, a vontade da Nação. De que necessitam os Municípios para realizar sua m issão na vida da Nação? - Devem ser autônomos em tudo o que respeita a seus interesses peculiares. Quais as condições necessárias para que a autonomia municipal não seja apenas teórica, mas prática? - A autonomia municipal só pode ser efetiva, real, prática, se as suas rendas compatibilizarem-se com as suas necessidades e se – eis um ponto importantíssimo – o seu território se conserva intangível. Em conclusão: o que exigem as realidades econômicas , sociais e políticas dos tempos modernos no que se refere aos Grupos Naturai s? - Essas realidades exigem que todos os Grupos Naturais tenham uma expressão política. De fato, a Família é autônoma e entre as prerrogativas dessa autonomia deve estar a prerrogativa política de representar e fazer valer os seus direitos, em tudo o que respeita ao seu peculiar interesse. Por sua vez as Classes Profissionais devem ser livres e para valer essa liberdade devem ter direitos políticos relacionados com tudo o que for de seu peculiar

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interesse. Do mesmo modo o Município é autônomo em tudo o que se refere aos seus peculiares interesses e logicamente, o Município, como Município, deve escolher livremente os seus governantes locais e a reunião dos municípios deve produzir representantes do Município na Nação.

______________________ DEMOCRACIA ORGANICA

Que quer dizer Democracia? - Etmologicamente, Democracia é o governo do povo. O que supõe o reconhecimento efetivo das prerrogativas da Pessoa Humana e a participação mais direta dos cidadãos no governo do Estado. Essa participação se processa através do voto. É este o sentido que as diversas correntes política s conferem à Democracia? - A palavra Democracia, em nossos dias, recebeu significações substancialmente diferentes e até mesmo contraditórias, de acordo com a filosofia de vida esposada por cada regime político. Assim, pouco tem de comum a liberal-democracia, as democracias populares (marxistas) e a democracia-cristã. Quase sempre, porém, a palavra Democracia encobre um regime político anti-humano e, portanto, anti-democratico. Quais os elementos necessários para que um regime s eja democrático? - Três são esses elementos:

a) Representação; b) Voto; c) Igualdade de direitos.

O que é a Democracia para o Integralismo? - É uma Democracia de conseqüências; é um efeito, jamais uma causa. Sua fonte são os princípios, a doutrina, as regras originárias de uma concepção de vida. A Democracia, para o Integralismo é, antes de tudo, uma declaração de princípios cristãos. Qual o papel da verdadeira Democracia? - A Democracia pregada pelo Integralismo, a única exeqüível, vivifica a liberdade do homem e autoridade do Estado, fazendo a primeira fundamento da segunda e a segunda, condição da primeira. Sua base está em Deus e a sua inspiração nos ensinamentos do Evangelho. Outorga a Democracia pregada pelo Integralismo libe rdade aos cidadões? - sim. Menos a de utilizar essa liberdade para implantar regimes que contrariem aqueles seus princípios fundamentais. Mas com esse condicionamento não estará negando os princípios democráticos? - Jamais. A liberdade sem freios é a mãe de todos os totalitarismos, a destruição da própria liberdade. O que pregamos hoje é o que já se pregava na Grécia antiga, isto é, a defesa da Democracia contra os perigos da liberdade que levam à anarquia, da anarquia que incita às reivindicações extremas de igualdade, e da igualdade que produz o domínio de um só ou de alguns, sobre a multidão escravizada. Democracia e forma de governo tem a mesma significa ção? - Não. Democracia, que é regime, não se confunde com forma de governo. A forma de governo pode ser monarquia ou republicana. No Brasil temos um regime democrático e uma forma de governo republicana. Pode-se confundir Democracia com modo de votar? - De maneira nenhuma. Há diversos tipos de voto num regime democrático: o voto direto e o indireto, o sufrágio universal e o profissional. No Brasil temos usado o sufrágio universal, isto é, o voto direto e geral. O Integralismo é pelo sufrágio universal? - O Integralismo prega outro tipo de voto, porque sabe que o voto universal favorece a vitoria dos que dispõe de mais dinheiro, deturpando assim a verdadeira expressão da vontade popular. Qual o tipo de voto pregado pelo Integralismo? - Voto indireto: os eleitos vão constituir Câmaras que escolhem os administradores, ao invés de serem esses escolhidos diretamente pelo eleitor, Pregamos o voto profissional, porque melhor e mais fielmente traduz a defesa dos interesses do povo. Isto quer dizer que a forma

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do Estado que desejamos è constituída dos organismos profissionais, culturais, familiares e religiosos, cada qual elegendo seus representantes pelos votos de classe e qualidade. É o que denominamos Democracia Orgânica. O que se entende por Democracia Orgânica? - No organismo social os homens fazem parte integrante de Grupos Naturais, que gozam de prerrogativas humanas. Esses grupos estão intimamente entrelaçados entre si, constituindo a Nação. A Democracia Orgânica toma por base, então, não o homem-cívico, isolado, da liberal-democracia, mas o Homem em função dos grupos naturais, que protegem sua personalidade e asseguram sua autonomia. Em outras palavras: o Estado Integral se edifica a partir das realidades que constituem o “organismo social”. Como assim? - O Estado Integral não é um Estado unilateral, oriundo dos caprichos da soberania popular e do sufrágio universal, uma simples projeção jurídica de um aspecto da nacionalidade, e sim a própria Nação organizada segundo as categorias de seus componentes. A Democracia Orgânica é, porisso, realmente o governo do povo, sendo a expressão da verdadeira Democracia. Quem, pois, participa do Governo do Estado na Democ racia Orgânica? - Quem participa do Governo do Estrado não é a massa amorfa, mas o homem livre e consciente, enquanto integrado nos grupos naturais, isto é, o povo. Qual a diferença entre “massa” e “povo”? - Povo é multidão amorfa, ou como se diz “massa”, são dois conceitos diferentes. O Povo vive e se move por vida própria. A “massa” é inerte e não pode ser movida senão por agentes externos. O Povo vive na plenitude da vida dos homens que a compõem, cada um na sua categoria e modo de ser, uma pessoa que compreende a sua própria responsabilidade, as suas próprias convicções. A “massa”, ao contrário, espera o impulso de fora, dominada pelos que lhe exploram os instintos e impressões, pronta a seguir hoje uma bandeira, amanhã outra. Da exuberância de vida de um verdadeiro povo, uma vitalidade abundante e rica se infunde no Estado e em todos os seus órgãos, com vigor incessantemente renovado. A “massa” é a inimiga capital da Democracia. Porque a “massa” é a inimiga da Democracia? - Porque sendo amorfa é suscetível de ser conduzida para onde querem os detentores dos meios mais eficientes de propaganda, aventureiros de toda espécie, que disponham de dinheiro e de audácia e que a sensibilizem com a demagogia das ruas. Assim, sendo a matéria prima do sufrágio universal nas eleições diretas a que temos assistido, elimina os valores mais altos e consagra deploráveis mediocridades. O que é necessário para que haja verdadeiro Povo? - Para haver verdadeiro povo é preciso que o Homem se manifeste como membro de cada Grupo Natural, cujas zonas de interesse são bem definidas. Os chefes de famílias unam-se de Deus) unam-se, falem, segundo os interesses do grupo a que pertencem ou dos grupos em que encontram motivos de união pela identidade ocasional das suas preocupações; os que residem no mesmo Município unam-se e falem em nome dos interesses locais que são comuns a todos os chefes de família e a todos os gêneros de trabalho; os que habitam a mesma Nação (a qual é constituída por todas as Pessoas, Família, Grupos de Trabalho e Grupos locais, seja qual for a sua raça, sexo ou religião), unam-se e falem em nome da Pátria; os que possuem uma disciplina religiosa (e devem ser todos os homens e mulheres) unam-se e reclamem do Estado o respeito à sua liberdade e aos princípios segundo os quais todas as atividades tendem para Deus. Só assim existe Povo, do contrário só existe “massa”. Em que se apóia a Democracia Orgânica para se reali zar politicamente? - Na Câmara Orgânica e na Câmara Política. O que vem a ser Câmara Orgânica? - É a Câmara formada pelos representantes das diversas categorias profissionais. Por que o Integralismo pugna pela formação da Câmar a Orgânica?

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- Porque entende que somente os componentes de cada categoria profissional podem, na verdade, conhecer os problemas específicos de sua classe, pois que os sentem na própria carne. Como assim? - Está claro: um metalúrgico entende muito mais de seus próprios problemas do que um tecelão; o médico sabe mais de suas próprias necessidades que o engenheiro; este mais que o advogado e assim por diante. Podemos exemplificar com os órgãos do corpo humano: e falem em nome das Famílias; os que trabalham (e são todos os homens, segundo as Leis aos rins cabe a tarefa de filtrar e para isso ele está aparelhado convenientemente; assim acontece ao coração, ao pulmão, ao fígado. Todos são órgãos vitais, mas não poderão jamais cumprir a tarefa dos outros. É da correta realização de suas funções e da harmonia entre todas essas mesmas funções, que resulta a saúde do corpo humano. O que se entende por Câmara Política? - É a Câmara destinada a legislar, dar forma legal, às proposituras elaboradas pela Câmara Orgânica. Em que se apóia o Integralismo para pugnar pela Câm ara Orgânica? - Na realidade social. Senão vejamos: quem exerce um mandato parlamentar na Câmara ou Senado observa, ao cabo de algum tempo, um fato que só aos distraídos escapa: as atividades dos “grupos de pressão” procurando influir nos trabalhos legislativos. Não é uma interferência indébita, mas o natural e humano interesse das categorias econômicas, profissionais e culturais, que se constituem em comissões, às vezes manifestando-se nas galerias. Trazem memórias e representações, analisando artigos e parágrafos de projetos de lei que, afinal aprovados, sobem à sanção presidencial. E se do Presidente da República a lei votada volver ao Congresso com vetos totais ou parciais, também voltam as classes interessadas a exercer cabala sobre deputados e senadores, visando a rejeição igualmente total ou parcial das decisões do Executivo. E são novos comentários mimeografados ou impressos, fortalecidos por argumentos orais junto aos legisladores. Então aqui no Brasil, a molde de outros países do m undo, já se sentem, também, os efeitos dos “grupos de pressão” nos trabalhos legis lativos? - Sim. Ora é o problema do açúcar, jogando os interesses do Norte contra o sul; ora é o problema do papel, pondo em cheque interesses de importadores contra a indústria nacional; doutra feita é a controvertida questão do café, em que debatem produtores, intermediários e a política do IBC; outras vezes são assuntos da siderurgia, em que contrabatem objetivos nacionalistas e interesses de grupos estrangeiros; freqüentemente surgem temas tributários, aduaneiros, creditícios, trabalhistas, relacionados com o comercio, a indústria, a agricultura, o funcionalismo, o operariado. Todo esse complexo nacional vai como regatos, rios ou caudais, desaguar nos corredores do Parlamento. Tal estado de coisas é um bem ou um mal? - Não é nem uma coisa nem outra, porque representa, apenas, uma realidade social, ainda não considerada jurídica ou politicamente. Os “grupos de pressão” não podem ser evitados, pois evitá-los seria contrariar a natureza humana. Ninguém que se sinta prejudicado ou favorecido por um artigo de lei proposto, deixará de manifestar o seu pensamento. Os órgãos constitutivos da vitalidade do corpo naci onal costumam tomar alguma iniciativa particular, para tentar suavizar a situa ção existente? - Como expressão da vida desses órgãos temos os freqüentes congressos de indústria, de comerciantes, de agricultores, de bancários, de operários de fábrica, de funcionários públicos, de classes liberais. E o que se discute nesses congressos? - Neles se discutem matérias que dizem respeito a cada uma dessas categorias, resultando relatórios, memoriais, estudos, conclusões, que são enviados ao Legislativo ou aos órgãos do Executivo, morrendo nas gavetas, sem nenhum resultado prático. O que é necessário para resolver, de vez, o problem a? - É necessário transformar uma realidade social em norma constitucional.

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Em que se apóia o Integralismo para reivindicar ess a transformação? - O desenvolvimento da Economia, os avanços culturais decorrentes do progresso, da ciência e da técnica e a amplitude e complexidade crescentes do aparelho administrativo em todos os países, criaram em nosso século necessidades novas, que se esforçam por serem atendidas. Já Santo Agostinho, no IV século da nossa era, declarava: “Os regimes políticos evoluem, a lei segue suas vicissitudes; os costumes se transformam e a lei se adapta às suas variações. Aspirações, até antão desconhecidas aparecem, necessidades imprevisíveis surgem e é de todo indispensável rever as leis para as satisfazer”. A lentidão com que se opera a translação dos costumes para a lei escrita levou Alberto Torres, com grande clarividência, a escrever o seguinte, no seu livro “Organização Nacional”: “ Na verdade todos os países possuem um regime constitucional verdadeiro, mas subterrâneo. Está ai o terrível problema da arte política: conciliar a realidade com a abstração, ou pelo menos, aproximar a verdade das coisas do nível ideal da lei. Um regime puro seria aquele em que os dois planos se confundissem; assim, o regime constitucional progride quando o plano inferior se aproxima da concepção legal. A regra geral é que a marcha das nações se opera através ou apesar das instituições nominais, de acordo com as correntes profundas que as impulsionam ou dirigem”. Essa incapacidade, verificada no Brasil, para obser var e compreender as realidades da Nação e as exigências decorrentes do tempo que t udo vai transmitindo, representa uma insuficiência apenas brasileira? - Não. Em outros países vem se dando a mesma coisa. Na França, por exemplo. No prefácio do livro “Homem Travail” de G. Le Fèvre, Tardieu diz: “Chegamos, nesta matéria, como em outros assuntos, depois de tantos anos, sob o regime das emendas, tímidas adições ratificativas de indiscutíveis rotinas. É preciso passar, das emendas que mascaram, para a reforma que constrói”. Já existem, no Brasil, organizações de categorias e conômicas ou culturais? - Sim. As categorias econômicas já se organizaram em entidades, como as entidades rurais, as federações e confederações industriais, as associações comerciais, as uniões de empregados no comercio, as associações de funcionários públicos, os sindicatos operários; do mesmo modo as categorias culturais expressivas nos Clubes de Engenharia, nas Sociedades de Medicina, na Ordem dos Advogados, nas Associações de Professores, nas Academias de Letras, de Ciência, nos Institutos Históricos e Geográficos, nas Religiões. Por acaso não são essas agremiações que representam e significam as forças vivas da nacionalidade? - Sim. Podemos acusá-las de pouco patrióticas pelo fato de clamarem contra as crises que as atingem como no caso relativo à agricultura, qua ndo as coisas não andam bem no setor; ou em se tratando da indústria e do comercio , das concordatas e falências cujas explicações só tem sido dada pelo monólogo go vernamental; ou ao que se refere às profissões liberais, ao funcionalismo e a o operariado, o drama do custo de vida, não debatido pelos interessados que a ele se sujeitam passivamente, sem o direito de emitir opinião? - De maneira nenhuma. Então qual a solução? - A solução para se evitar o clamor dessas forças vitais da Nacionalidade é transformá-las, de simples espectadores, em agentes atuantes e participantes nas decisões das matérias que lhes dizem respeito. É preciso dar-lhe responsabilidades, tirá-las do desprezo em que vivem, como verdadeiros escravos, a mendigar favores que nem sempre lhes são propiciados; elas representam a essência e a substância dos “Grupos Naturais” de que se devem estruturar as sociedades cristãs, pelo que lhes são inerentes os direitos de autonomia, oriundos da lídima fonte da Pessoa Humana. Então por que não se procura as bases naturais da o rganicidade do País? - É o que deseja o Integralismo, ao propor a formação da Câmara Orgânica. Qual a estrutura dessa Câmara Orgânica?

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- A Câmara Orgânica, constituída pelos representantes diretos das categorias econômicas e culturais da Nação, eleitos por seus pares, funcionará como órgão técnico de assessoria das outras casas do Congresso e poderá ter iniciativa de projetos de lei, que serão enviados à Câmara dos Deputados, a qual ajuizará da sua constitucionalidade e jurisdicidade. Será um órgão de grande precisão técnica ao contrário do que sucede atualmente nas comissões permanentes da Câmara dos Deputados e do Senado. Como assim? - Adotando-se nessas Casas o critério político, vemos advogados em comissões de Minas e Energia ou Saúde; médicos ou engenheiros em comissões de Justiça; comerciantes em comissões de Educação; professores em comissões de Transportes e assim por diante. E a conseqüência desse estado de coisa? - Os estudos são feitos de improviso, pois somente ao cabo de um ou dois anos o membro da comissão vai entrando no assunto, porque falta-lhe a vivência deles. E quanto ao poder Executivo? - Ai se recrutam técnicos e teóricos, leitores de livros soezes em citações de autores e mais versados em algarismos frios de estatísticas do que na palpitante realidade humana dos fatos, mais apegados a conceitos e aforismas de doutrinas muitas vezes superadas, do que ao sincero desejo de pesquisar e sobretudo de ouvir e ver o que na verdade se passa no País. E com a Câmara Orgânica? - Na Câmara Orgânica estarão os homens em cuja própria carne doem os problemas. Se uma categoria pleiteia uma reivindicação para sua área, o que pode ser em detrimento de outras, ai estão todas as categorias para debater a questão e encontrar a linha de equilíbrio, tendo em vista, antes de mais nada, o interesse supremo da Pátria. A Câmara Orgânica não diminuirá os poderes e prerro gativas da Câmara e do Senado? - Ao contrário, virá fortalecê-los, complementando-os como assessoria técnica e corrigindo a inexpressividade do sufrágio universal, cujos representantes nada mais exprimem do que as correntes de opinião do País, mas não, especificamente, os interesses de qualquer das categorias componentes do corpo vivo da Nação. Existirá outra vantagem com a formação da Câmara Or gânica? - Sim. Não mais poder-se-ão ouvir as queixas da agricultura, da indústria, do comercio, do operariado, do funcionalismo, das entidades culturais contra o Congresso ou poder Executivo, alegando que não foram consultados ao se tomarem certas deliberações, pois se lhe foi conferido uma parcela de responsabilidade nas decisões legislativas ou governamentais. A idéia da implantação da Câmara Orgânica preocupa outros países do ocidente? - Principalmente nos Estados Unidos a idéia da Câmara Orgânica vai caminhando a passos largos nos círculos mais expressivos da cultura norte-americana. Em reunião de professores catedráticos daquele país, realizada na Universidade de Pittsbourg, foi debatido o problema dos “grupos de pressão” sobre os parlamentares. Ao cabo de alguns dias, conforme relata o ilustre jurista Temístocles Cavalcanti, a conclusão de todos os professores universitários ali convocados foi a de que solução única seria criar-se o que nos Estados Unidos chamam a Câmara Econômica. E o Bispo de Nova York, Fulton Sheen, analisando o problema expõe um argumento esmagador quando diz: “Há mais motivo de identidade de interesse entre um ferroviário da Califórnia, no Pacifico, e outro em Nova York, no Atlântico, do que entre duas pessoas que, residindo na mesma cidade, são de profissão diferente”. A que leva esse ponderação? - Essa ponderação transcende o âmbito meramente geográfico, adotado como base pelo sufrágio universal, para atingir o plano de maior expressão humano e de realidade social, que é o interesse comum dos homens que trabalham na mesma categoria. Que outros países se preocupam com a idéia da Câmar a Orgânica? - A odeia é amplamente triunfante no mundo ocidental. Citaremos alguns nomes que focalizaram o assunto: o socialismo russo Pitirim Sorokim; o catedrático da Universidade de

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Viena, Léo Gabriel; o jurista francês Henri Burdeau; o professor da Universidade de Leningrado Gurwitch, que depois de lecionar em Praga, Bordeus, Strasbougo e na Sorbonne de Paris, atualmente leciona nos Estados Unidos; Harold Laski; o jurista italiano Ciacc; e os escritores Danileski, Schubert, Berdiaev, Krosber, comentados sobre este assunto por Sorokim. Como reagem os países na atual conjuntura social? - Os países que adotam o sufrágio impelem os partidos, para obter votos, a inscrever em seus programas reivindicações das diversas categorias profissionais. E as associações de classe e sindicatos? - Passaram a desenvolver ação política. Então é como se paralelas se tornassem convergentes ? - Exatamente. Os partidos adquirem caráter social e a classe trabalhadora assume posições políticas. E a que leva essa convergência? - Estamos no século das grandes sínteses. Chegamos a este ponto no momento em que vivemos, temos de caminhar para a síntese, que polarizará numa só expressão, o econômico, o político, o cultural e o espiritual. A Câmara Orgânica será o primeiro sinal dos tempos novos, o instrumento de harmonização entre o poder do Estado e as forças vivas da Nação. E o que é necessário fazer para dar esse primeiro p asso? - Temos de passar da falsa democracia das massas para a democracia verdadeira do povo. Como assim? - Urge tirar o verdadeiro povo, coordenado em suas respectivas categorias, da situação de marginalização em que vive, enquanto as massas insensatas elegem representantes sem nenhum vínculo que os liguem a qualquer dos órgãos vitais da Nação. Então é uma verdadeira Revolução? - Sim. A Câmara Orgânica será o início da revolução tão necessária para acabar com os ídolos, fetiches e Cagliostros que iludem as multidões e desencadeiam campanhas injustas contra governos honestos e homens honrados que não compactuam com suas mágicas de feira. Plínio Salgado teve a oportunidade de apresentar o Projeto da Câmara Orgânica ao Parlamento? - Sim. Através da Emenda Constitucional nº 609, assim redigida:

Ao artigo 28 do Cap. VI do Projeto de Constituição de iniciativa do Poder Executivo, acrescentando-se:

“ e da Câmara Orgânica” . Onde convier: Art . A Câmara Orgânica será constituída pelos representantes diretos das categorias

econômicas e culturais da Nação, eleitos pelos órgãos de classe, em número de dois para cada uma, e com as mesmas prerrogativas dos membros do Congresso.

Art . A Câmara Orgânica funcionará como órgão técnico de assessoramento das outras Casas do Congresso e poderá ter iniciativa de projetos de lei que serão enviados à Câmara dos Deputados, a qual ajuizará de sua constitucionalidade e jurisdicidade.

Art . A manutenção da Câmara Orgânica correrá por conta das categorias representadas, na forma estabelecida em lei.

Art . São consideradas categorias econômicas as atuais Federações e Confederações das classes patronais e de empregados.

Art . São consideradas categorias culturais as instituições de cultura nos diversos ramos científicos, técnicos, literários e artísticos e as entidades representativas das profissões liberais.

Art . Os projetos oriundos de uma categoria deverão ser discutidos com a participação de todas, visando-se evitar desequilíbrios resultantes das implicações que a medida legislativa proposta possa ter sobre outros setores da vida nacional.

Art . Nenhuma lei que se relacione com qualquer das categorias econômicas e culturais do País poderá ser aprovada sem parecer prévio da Câmara Orgânica.

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Parágrafo único . Os pareceres da Câmara Orgânica sobre projetos oriundos da Câmera dos Deputados, do Senado ou do Poder Executivo, terão caráter opinativo.

Art . O Poder Executivo deverá ouvir a Câmara Orgânica sobre matérias de decreto ou instrução que afetem interesses das categorias econômicas e culturais da Nação.

Art . Em cada Estado da União haverá uma Câmara Orgânica Regional, eleita pelas federações de classes, a qual se organizará e funcionará de acordo com os artigos precedentes, nos assuntos relativos à competência das Assembléias Legislativas e do Governo do Estado.

Problemas básicos da Nação ____________________________________ INDUSTRIA, COMERCIO E AGRICULTURA

Se os integralistas estivessem no poder, que fariam em relação à Industria, ao Comércio e à Agricultura do País? - Da filosofia integral que adotam decorre uma criteriologia governamental baseada na co-relação dos fenômenos sociais e econômicos e na íntima conexão dos diferentes problemas que se oferecem à consideração dos homens de Estado. O desenvolvimento harmônico da Industria, do Comercio e da Agricultura significará o perfeito equilíbrio econômico de que o País necessita para o seu desenvolvimento.

a) INDUSTRIA

O que o governo integralista faria pela indústria? - Facilitaria por todos os meios o progresso industrial, a partir das indústrias de base que garantem maior expansão de todas as outras. Preocupar-se-ia com a criação de novas indústrias, principalmente as que visassem o aproveitamento das matérias-primas nacionais. Evitaria a concentração industrial, criando outros pólos de desenvolvimento no setor. E quanto às matérias-primas nacionais? - Organizaria equipes de especialistas (mineralogistas, botânicos, químicos, físicos) para o estudo das riquezas brasileiras e seu aproveitamento industrial. E o que mais? - Entraria, com visão nova, numa fase de predomínio da tecnologia, incrementando a criação cada vez maior de novos laboratórios de pesquisas e institutos culturais, para a elevação dos índices de nossa capacidade técnica. E quanto às empresas? - Garantiria os direitos da livre empresa e restringiria os limites da intervenção estatal e da concorrência estatal, que são fatores de desânimo. E no que se refere às greves? - Além de leis regulamentando as greves, faria cessar os colapsos freqüentes da produção, ocasionados pelas paredes suscitadas com fins políticos; esse objetivo seria facilitado pela presença de representantes operários e empresariais na Câmara Orgânica, onde um espírito de harmonia seria criado no trato de problemas que interessam empregados e empregadores. E o que mais? - Favoreceria, enfim, por todos os meios, as indústrias do País; dando oportunidade aos seus órgãos representativos a se manifestarem na Câmara Orgânica, como conhecedores mais diretos dos assuntos relacionados com suas atividades.

b) COMÉRCIO

Como o Integralismo considera o Comércio? - Como o sistema de circulação do corpo da Pátria. À semelhança do que se passa no organismo humano, a Indústria e a Agricultura criam os glóbulos vitais, que pelo Comércio atingem o grande pulmão que é o mercado ou a praça; ai recebem o oxigênio do negócio ou venda, transformando-se no sangue vermelho (dinheiro) que volta ao ponto de partida, para revitalizar os órgãos da produção, a fim de que produzam mais. Como é, comumente, visto o Comércio?

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- Esquecidos de que sem o Comércio de nada valeria termos Indústria e Agricultura, longe de ser facilitada a sua tarefa, o Comércio tem sido olhado injustamente como um instrumento de espoliação, sujeitando-se a verdadeiras perseguições governamentais, sobretudo através de medidas contrárias às leis naturais da economia, todas artificiais no que se refere ao problema dos preços, sem consulta a dados estatísticos exatos que atendam ao custo da mercadoria, seu transporte, os ônus dos impostos e as imposições das leis trabalhistas, não se falando na insegurança criada pela desvalorização monetária. Existem ainda, maiores gravames pesando sobre o Com ércio? - Sim. A atividade comercial é ainda atormentada pela variedade e multiplicidade de impostos e contribuições municipais, estaduais e federais, todos em épocas diferentes e sujeitos ao regime do papelório, não se falando nas fiscalizações muitas vezes desonestas, que se exercem ou por motivo de perseguição política, ou inspiradas pelo intuito de chantagem. E o que fazer? - Todos esses problemas nos são oferecidos na apreciação da vida comercial brasileira e urge corrigir tamanhas injustiças. Porisso achamos que também o Comércio lucrará com a criação da Câmara Orgânica, onde tratará diretamente de seus interesses, que são o interesse da Nação.

c) AGRICULTURA

Como o Integralismo considera a Agricultura? - Com referência à Agricultura, o Integralismo entende ser ela e a Pecuária de tal importância, que não se compreende tenham sido até hoje quase que inteiramente abandonadas a si próprias esses grande setor da vida nacional. Urgem providências novas, iniciativas novas, métodos novos, para o desenvolvimento da lavoura e da pecuária em nosso País. Como pretende o Integralismo resolver os problemas da Agricultura? - Segundo o critério já anteriormente enunciado, atentas as correlações dos fenômenos econômicos e sociais, o progresso da Agricultura e da Pecuária está intimamente ligado à Indústria e ao Comercio. Qual a relação entre a Indústria e a Agricultura? - No que se refere à Indústria, é necessário criar e estimular as já existentes atividades no sentido de se elevar o nível da produção de tratores, máquinas agrícolas, implementos, adubos químicos, inseticidas, veículos rurais e tudo aquilo de que o lavrador ou pecuarista necessita. E quanto ao Comércio? - Quanto ao Comércio, precisamos sair da rotina de seus contatos esporádicos e descoordenados com os produtores do campo, criando-se, com a colaboração das entidades rurais, sistemática no que se refere ao acesso aos mercados. Como assim? - Tal sistema, baseado em levantamentos estatísticos de quantidade e preços de custos e transporte e numa rede de armazéns, silos, frigoríficos, será um elemento propulsor do dinamismo da produção agro-pecuária.

____________ TRANSPORTE

E quanto ao transporte? - Realizaria uma política de transportes para o barateamento dos fretes e despesas portuárias, entrave hoje dos maiores para o desenvolvimento de nosso comércio interno e externo. E o que mais? - Com a crise atual do petróleo, além de fontes alternativas de energia, incrementar a construção de novas vias férreas, movidas a eletricidade ou mesmo a carvão e o aprimoramento daquelas já existentes.

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E isso seria possível? - Evidentemente. Temos a maior reserva de ferro do mundo – Minas Gerais -, temos a experiência de Volta Redonda, que pode ser um início para a realização de uma grande obra siderúrgica. Podemos, portanto, fabricar trilhos, como já fabricamos vagões e até locomotivas. Entretanto, de quarentas anos para cá, não temos construído estradas de ferro. Qual tem sido a ação do Governo no setor? - A realização de uma política eminentemente rodoviária. O integralismo é contra essa política? - Não. É claro que há, também, necessidade de estradas de rodagem, mas se observamos detidamente, constataremos a concomitância da crise brasileira com o surto rodoviário e revemos que estamos desgraçando a economia nacional com uso de transportes em desacordo com a realidade brasileira. Os Estados Unidos, pátria do automóvel e da gasolina, fazem seu comércio interior transitando 80% no transporte fluvial – Mississipi, Missouri – e estradas de ferro. O que acontece no Brasil? - Nós não temos transportes fluviais, não temos transportes marítimos – porque as empresas existentes estão cada vez piores e a queda da sua eficiência se acentua de ano para ano – e não temos estradas de ferro. O que resulta dessa constatação? - Que estamos gastando prodigamente, num país paupérrimo. O valor econômico do que um caminhão transporta não corresponde, para a Nação, à gasolina que ele consume. E o transporte fluvial, marítimo ou ferroviário eli minaria esse desperdício? - Indiscutivelmente, uma vez que tanto os navios como as locomotivas podem ser movidas a lenha, carvão ou eletricidade. O que conclui? - Que é preciso resolver o problema do transporte, tendo-se em vista o problema do combustível e enfatizando-se a necessidade de se criar fontes de energia eminentemente nacionais. Com isso estar-se-ia dando um passo formidável para a solução de todos os problemas sociais e econômicos que afligem a Nação.

__________________ REFORMA AGRÁRIA

Como o Integralismo coloca o problema agrário no Br asil? - Submetendo-o, também, à criteriologia integralista. Como assim? - Numerosos são os projetos chamados de reforma agrária, e intensa é a propaganda que a respeito do assunto se desenvolve em todo o País. Entendemos ser necessária e urgente a solução dessa importante questão. Entretanto, submetida à criteriologia integralista da concepção global das diferenciações em que se exprime a unidade do tema, entendemos que a maior parte dos que sinceramente pugnam em tal esfera, pelos interesses do homem do campo, do equilíbrio social e dos imperativos da produção nacional, tem equacionado mal a sua tese. Por que? - Porque partem da apreciação do termo “Terra”, quando deveriam partir do termo “Homem”. O Integralismo esquematiza o problema considerando que de nada vale distribuir terras sem que o Homem esteja aparelhado para utilizá-las. De que necessita o Homem para aproveitar a Terra? - De vários elementos, a saber:

1) saúde 2) instrução 3) financiamento 4) transporte 5) assistência técnica

Sem esses elementos o que acontecerá? - O agricultor irá morrer de fome, embora estabelecido no chão mais fértil.

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Poderia explicar? - Suponhamos ter um lavrador perfeita saúde, mas ser analfabeto. Como pode ele aprender o que lhe é mister para produzir mais e melhor? Demos, entretanto, que ele tenha saúde e seja instruído, porém sem recursos financeiros, sem crédito bancário como hoje acontece. Como tocará sua lavoura? Como atualizará a faina agrícola sem as máquinas indispensáveis ao tombamento, ao plantio, à colheita, às iniciais operações de beneficiamento dos produtos? Como poderá se utilizar de adubos adequados? Usemos de otimismo e suponhamos que esse homem tem saúde, instrução e, por milagre, obteve financiamento para o trato de seu chão, mas não tem transporte; nesse caso ficará à mercê dos especuladores, com suas frotas de caminhões, se houver estradas, a pagar-lhe um preço que não atinge os gastos que fez. Digamos, todavia, que esse agricultor é saudável, instruído, financeiro e dispões de transportes, mas lhe falta assistência técnica; não conhece a natureza de seu terreno, ignora quais s processos mais adequados à sua produção, desconhece a natureza química dos adubos convenientes. Nesse caso, será um lavrador rotineiro, pouco útil a si mesmo e aos interesses da produção nacional. E quanto à Terra? - Passando do termo “Homem” para o termo “Terra”, devemos ter em vista:

1) as diferenciações geográficas e geológicas (vocação da terra) no imenso território; 2) as diversidades dos tipos de produção; 3) os conceitos variáveis de minifúndios e latifúndio.

Como, então, deverá ser a legislação no setor? - A legislação há de ser plástica, acomodada às circunstâncias da complexidade brasileira, científica e tecnicamente instruída no sentido de um planejamento orgânico. E o que mais? - Isto posto, é preciso complementar a Lei Agrária adotando-se um método nacional de armazenamento e distribuição dos produtos agrícolas, de sorte a liberar o produtor e o consumidor da bárbara exploração dos intermediários desalmados. Isto resolverá, ao mesmo tempo, dois problemas: o da justa remuneração ao homem do campo e o barateamento do custo de vida nos centros urbanos. O Integralismo possui algum projeto sobre a Reforma Agrária? - Sim. Os deputados integralistas já apresentaram na Câmara dois projetos sobre o assunto: um da reestruturação agrária do País e outro criando o fundo nacional para a reforma agrária. O primeiro foi científica e tecnicamente elaborado, pondo em ação todos os setores da vida nacional, no sentido de se elevar os índices da produção nos campos. O segundo, oferecendo ao governo recursos para desapropriações em dinheiro e execução de um plano de colonização. Temos a certeza de que esses projetos resolveriam o problema agro-pecuário no Brasil.

____________ CONCLUSÃO

Uma vez exposto o pensamento político-doutrinário d e Plínio Salgado, o que devemos concluir? - Em primeiro lugar, que é necessário uma restauração da Democracia, principalmente neste momento em que é ameaçada pelos totalitarismos que a ferem mortalmente. E como atingir esse objetivo? - Se a Democracia é a livre expressão da personalidade humana, insistimos: é preciso buscar nas raízes do Homem o principio vital do sistema político a que ele aspira. A vida da Democracia está, pois, na alma de cada cidadão. Quais, então, os verdadeiros princípios da Democrac ia? - São os princípios fundamentalmente cristãos. É a lei que procede da fé num Criador do Universo e na imortalidade da alma humana e que sustenta a liberdade do Homem como prerrogativa do seu espírito. Qual a condição para a existência da Democracia? - A Democracia só pode existir com a lei de Deus, que fez o Homem livre e responsável. Cumpre, pois, como único meio de realizar-se o regime democrático, uma larga e profunda

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Cont. O Integralismo – Síntese do pensamento políti co doutrinário de Plínio Salgado fl. 34

obra de educação para a Democracia. E quanto à solução dos problemas nacionais? - Só a implantação da Democracia Orgânica, como foi exaustivamente demonstrado, trazendo em seu bojo a Câmara Econômica, poderá solucionar, de vez, todos os problemas que afligem a Nação Brasileira. Esse é o ideal do Integralismo, criado por Plínio Salgado.

I N D I C E Apresentação A guisa de Prefácio

1ª Parte: Deus e o Homem

1) Deus e o Homem, base do pensamento integralista 2) O Homem Moderno

a) Tecnicismo b) Espírito Burguês c) Agnosticismo

3) A Reconstrução do Homem e a Revolução Interior

2ª Parte: Teorias de Governo

1) Tipos fundamentais de convívio social

a) Liberal Democracia b) Socialismo

I – Nacional-Socialismo II – Internacional Socialismo

c) Nazismo, Fascismo, Racismo

3ª Parte: O Estado Integral

1) Definições necessárias

a) País e Pátria b) Nação c) Estado d) Governo

2) Princípios básicos do Estado Integral

a) O Estado e o Homem b) O Estado e os Grupos Naturais

I – Família II – A Profissão III – Propriedade IV – Município

c) Democracia Orgânica

4ª Parte: Problemas básicos da Nação

1) Industria, Comércio, Agricultura.

a) Industria b) Comércio c) Agricultura

2) Transporte 3) Reforma Agrária 4) Conclusão

FRENTE INTEGRALISTA BRASILEIRA

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