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MARISTELA WESSLER DAGOSTIM O IMAGINÁRIO POLÍTICO PARANAENSE NA “ERA VARGAS”: A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA FIGURA PÚBLICA DE MANOEL RIBAS (1930 -1937) CURITIBA OUTUBRO/2008

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MARISTELA WESSLER DAGOSTIM

O IMAGINÁRIO POLÍTICO PARANAENSE NA “ERA VARGAS”: A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA FIGURA PÚBLICA DE MANOEL RIBAS

(1930 -1937)

CURITIBA

OUTUBRO/2008

ii

MARISTELA WESSLER DAGOSTIM

O IMAGINÁRIO POLÍTICO PARANAENSE NA “ERA VARGAS”: A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA FIGURA PÚBLICA DE MANOEL RIBAS

(1930 -1937)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de História da Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes para a obtenção do grau de Bacharel em História pela Universidade Federal do Paraná.

Orientadora: Profª. Drª. Ana Paula Vosne Martins

CURITIBA

OUTUBRO/2008

iii

AGRADECIMENTOS

No que diz respeito ao espaço acadêmico quero agradecer a Professora Ana Paula

Vosne Martins, minha orientadora, pelo seu incentivo e direção neste trabalho, e também pela

sua dedicação e excelente desempenho na condução do PET – Programa de Educação

Tutorial, do qual fui bolsista. O enfrentamento dos desafios por nós propostos, tanto para os

trabalhos desenvolvidos em grupo, quanto para o trabalho individual, foram de grande valia

para o amadurecimento intelectual como um todo.

Como resultado de um exercício de aplicação dos conhecimentos adquiridos ao longo

do curso, agradeço a todos os professores do departamento, os quais contribuíram para a

minha formação acadêmica. Mas em especial, àqueles cuja contribuição foi central para o

desenvolvimento deste trabalho, os Professores Carlos Alberto Lima, Helenice Rodrigues da

Silva, Luiz Carlos Ribeiro, Luiz Geraldo Silva, Marion Brepohl de Magalhães e Roseli

Boschilia, deixo o meu singelo agradecimento.

Quero agradecer também aos profissionais que me deram o apoio necessário ao

trabalho de pesquisa na Biblioteca Pública do Paraná, Seção Paranaense, em especial a

atenção dispensada por Josefina Palazzo Ayres e Vilma Aparecida G. Nascimento.

Agradeço em especial o apoio amável de Diniz, meu marido, Daniel, Bernardo e Júlia,

meus queridos filhos, e de todos os demais amigos. Eles não foram importantes somente para

esta realização. O carinho, a compreensão e também a crítica vinda deles, me proporcionou o

fundamental enriquecimento subjetivo diário, sem o qual nenhum trabalho subsiste.

Pela presença constante deles na minha vida, juntamente com a presença de todos

aqueles que contribuíram diretamente para a realização desta experiência acadêmica eu

agradeço a Deus. Dele vieram todos estes presentes já mencionados, e acima de tudo, o

padrão de ética e moral que dão sentido à minha vida.

iv

RESUMO

Palavras-chave: história política, imaginário político, Paraná.

No cenário conflituoso da imposição das interventorias federais após o movimento

político-militar que colocou Getulio Vargas na chefia do governo provisório em novembro de

1930, o interventor paranaense não se sustentou no poder, renunciando em dezembro de 1931.

Seu substituto, Manoel Ribas, sendo nomeado em janeiro de 1932 permaneceu à frente do

Executivo estadual até a deposição de Vargas em outubro de 1945. Dividida em três capítulos,

esta pesquisa buscou compreender o sucesso desta indicação, através da relação entre

imaginário social e representação social na construção da figura pública de Manoel Ribas.

Usamos como referencial teórico-metodológico o conceito de imaginário social definido por

Ansart, e o conceito de representação social definido por Denise Jodelet. O primeiro capítulo

trata do contexto nacional dos anos 1930, e os capítulos subseqüentes abordam da gestão e a

representação social desta figura pública. Nossas fontes contam com documentos oficiais e

jornais.

v

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................................06

CAPÍTULO 1: O CONTEXTO NACIONAL DOS ANOS 1930.............................................11

CAPÍTULO 2: O GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ NOS TUMULTUADOS ANOS

1930...........................................................................................................................................31

CAPÍTULO 3: A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA FIGURA PÚBLICA DE MANOEL

RIBAS.......................................................................................................................................50

CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................63

FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................68

6

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa buscou inserir-se no quadro de renovação teórico-metodológica da

história política presente nos trabalhos de autores que procuraram problematizar o político

com ênfase no imaginário. Nosso recorte espaço/temporal abrange a administração pública

paranaense no período que se inicia em outubro de 1930, com o movimento insurrecional que

foi denominado por seus próprios atores como Revolução de 1930, e vai até o início de

vigência do Estado Novo em novembro de 1937.

Entendemos o “político”, como nos ensina Claude Lefort, como instância que

atravessa todo o conjunto social, fazendo-se presente em todos os seus domínios, abrangendo

neste sentido as relações que se estabelecem entre as práticas, as crenças e as representações.

“Pensar o político” 1 pode levar o historiador a identificar nas experiências históricas, os

diferentes modos com que os vários sistemas e setores das relações sociais se articularam.

Tal perspectiva acompanha também o pensamento de outro filósofo político, Cornelius

Castoriadis, o qual chama atenção para a impossibilidade de compreendermos o mundo das

relações entre indivíduos fora do imaginário, visto que a linguagem ou as instituições são

constituídas em parte pelo simbólico. Tanto o imaginário utiliza o símbolo para existir, como

o simbolismo pressupõe a capacidade imaginária do homem.

Desta maneira, as formas de apreensão do real, sejam por qual meio for, são definidas

pela função simbólica. Um simbolismo não totalmente neutro nem inteiramente adequado ao

funcionamento dos processos reais. A sociedade o engendra dentro de limites, pois que “todo

simbolismo se edifica sobre as ruínas dos edifícios simbólicos precedentes, utilizando seus

materiais” 2

Nosso objetivo foi buscar estabelecer uma inteligibilidade da história política do

Paraná, através da investigação da construção da representação política de Manoel Ribas em

sua ação na esfera estratégica do Sistema de Interventorias e a relação deste processo com a

dinâmica social a ele subjacente. Para tal, privilegiamos como fonte, por um lado, o discurso

do poder, informado tanto pelo seu Relatório de Governo, quanto por suas Mensagens, como

Governador eleito à Assembléia Legislativa. Por outro lado, procuramos conhecer o discurso

dos jornalistas responsáveis por sua positiva representação, seus locutores políticos.

1 LEFORT, Claude. Pensando o político. Ensaios sobre a democracia, revolução e liberdade. p. 254-259. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1991. 2 CASTORIADIS, Cornelius. A instituição imaginária da sociedade, p. 144. São Paulo: Paz e Terra, 1986.

7

No cotejamento dos dois discursos procuramos compreender a relação entre a proposta

de administração pública de Manoel Ribas, e a dinâmica política e social do período,

informada também pelos jornalistas do periódico Gazeta do Povo. A escolha de tal periódico,

entre outros que circularam no período, deveu-se a sua cobertura constante, e, principalmente,

ao fato de que alguns de seus jornalistas transformaram-se em verdadeiros “locutores

políticos” 3 da figura pública em evidência.

Pensamos que tanto a ascendência histórica do novo interventor quanto o seu

imbricamento por laços de parentesco com a elite política local tiveram peso decisivo na sua

acomodação no cenário político deste momento. Porém, tais elementos podem ser verificados

também no que diz respeito ao nome do interventor que não conseguiu permanecer no cargo.

Ademais, estas mesmas marcas, qual sejam, a ascendência histórica e o imbricamento

por laços de parentesco, estão presentes no padrão social dos representantes políticos

anteriores e posteriores a 1930. A problemática desta pesquisa foi gerada então pela

necessidade de entender o que contribuiu de fato para o estabelecimento de um sistema de

relações sociais entre o novo interventor e a elite política paranaense, bem como sua longa

permanência no cargo máximo da administração pública do Estado.

Dado que essa pesquisa dedicou-se a perceber a relação entre uma dada representação

social e o imaginário social a ela subjacente, interessou objetivar a produção de alguns autores

que se ocuparam com esta reflexão. Neste sentido, amparamo-nos em alguns conceitos que

nos permitiram ler as fontes extraindo delas aspectos que foram tratados qualitativamente no

sentido de responder às nossas indagações.

Denise Jodelet, uma das estudiosas da noção de representação social e principal

colaboradora e continuadora do trabalho pioneiro de Moscovici4 definiu o conceito de

Representações Sociais como um pensar prático, o saber do senso comum, “como uma forma

de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo

para a construção de uma realidade comum a um grupo social ”5. A partir do conceito de

imaginário, como “o conjunto das evidências implícitas, das normas e valores que asseguram

3 ANSART, Pierre. Ideologias, conflitos e poder, p. 16. . Rio de Janeiro: Zahar editores, 1978. 4 Segundo Celso Pereira de Sá, Denise Jodelet deu continuidade ao trabalho do psicólogo social francês, Serge Moscovici, um dos primeiros delineadores do conceito e da teoria das Representações Sociais através do trabalho intitulado La psichanalyse, son image ET son public: SÁ, Celso Pereira de. Representações Sociais: o

conceito e o estado atual da teoria. In SPINK, Mary Jane (Org.) O conhecimento no Cotidiano: As

representações sociais na perspectiva da psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 1993. 5 JODELET, Denise. Representações sociais: um domínio em expansão, p. 22. In: JODELET, Denise (org.). As

representações sociais. Rio de Janeiro: Uerj, 2001.

8

a renovação das relações sociais” 6, procuramos fazer a relação entre a representação social

de Manoel Ribas, sua administração e o imaginário social a ela subjacente veiculados no

periódico usado como fonte para a pesquisa.

Esta relação torna evidente o fato de que, “a vida política se desenrola

permanentemente no plano das ações e no plano da linguagem e a produção ideológica não

cessa de acompanhar o conjunto dos empreendimentos, das tentativas e das decisões”.7

Portanto se faz necessária, como sugere Ansart, a ampliação da noção de ideologia cujo foco

não é a ideologia enquanto sistema intelectual estruturado, mas sim o trabalho ideológico das

linguagens políticas de uma sociedade, as condições desse trabalho e suas conseqüências.8

Neste sentido, procuramos perceber através das fontes os elementos evocados na

representação do interventor que contribuíram para sua legitimação, bem como para seus

longos anos de administração pública no Paraná. Estes bens de significado político divulgados

pelos mecanismos que os colocaram em circulação, ora adaptando-os, ora transformando-os

foram apresentados aos cidadãos e desempenharam a função de produzir consenso.

No primeiro capítulo deste trabalho procuramos abordar o contexto nacional deste

governo, no sentido de podermos fazer nos capítulos seguintes a relação entre a administração

pública paranaense e o conjunto de circunstâncias em que ela ocorre no interior do cenário

político nacional. Entendemos que a conjuntura nacional que antecedeu o golpe de 1937 é

bastante rica de elementos que apontam para uma sociedade bastante articulada. Tal

articulação se deu através de seus grupos de pressão, dos partidos políticos que a partir de

1933 entraram novamente em cena, e, quando da volta a normalidade constitucional, também

através dos seus representantes políticos eleitos pelo povo.

Como nos mostrou Dulce Pandolfi, este contexto caracterizou-se pela incerteza, pela

instabilidade, por marchas e contramarchas políticas9. Neste cenário que se vai desenhando

podemos observar também a emergência de lideranças, as quais apresentavam estratégias

políticas para atacar de frente os desafios suscitados por uma também nova sociedade de

massas que se formava.

6 ANSART, op. cit., p. 21. 7 ANSART, op. cit., p. 10. 8 ANSART, op. cit., p. 17. 9 PANDOLFI, Dulce. Os anos 1930: as incertezas do regime, p. 14 -37. In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Orgs.). O Brasil Republicano. O tempo do nacional-estatismo: do início da década

de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Livro 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

9

Neste sentido, o segundo capítulo de nossa pesquisa apresenta a administração de

Manoel Ribas em dois momentos. Primeiramente como Interventor do Paraná, cargo que

ocupa de fins de Janeiro de 1932 até janeiro de 1935, quando foi eleito indiretamente pela

Assembléia Estadual e assumiu o Governo Constitucional do Estado. Cargo no qual

permaneceu até o início da vigência do Estado Novo. Na verdade há um terceiro momento que

começa com a implantação do Estado Novo, pois Manoel Ribas voltou à posição de

Interventor, na qual perseverou até outubro de 1945, ou seja, até a deposição de Getúlio

Vargas. Este período, porém, fará parte de pesquisa futura.

No terceiro capítulo desta pesquisa procuramos investigar o processo de construção da

representação social e política do poder e a relação desta representação com o imaginário

social a ela subjacente. Neste sentido, interessou-nos, sobretudo, objetivar a produção de

autores que se ocuparam com a reflexão sobre a relação entre imaginário social e

representação apontando também a relação entre estes e a dinâmica social que os movia.

Além do paradigma da auto-instituição da sociedade, através do qual Castoriadis

apresenta o imaginário como agente formador do social, como força organizadora do mundo

social-histórico, foram importantes as reflexões de Ansart acerca da “imanência dos

significados na prática social”.10 E é justamente pela imanência do imaginário na produção

social de significados, e neste particular na produção social de significados políticos, que o

processo de produção e circulação dos bens de significados de uma determinada conjuntura

constitui-se em elemento decisivo para sua compreensão.

Desta maneira, foi importante para este capítulo o conceito de representações sociais,

também mencionado acima, visto que através delas os jornalistas mobilizam um conjunto de

conceitos, valores, afirmações e explicações socialmente elaborados e partilhados,

concorrendo para a construção desta realidade comum a um conjunto social. Por um lado,

atentamos para o fato de que para tais conceitos e explicações contribuíram julgamentos

valorativos vindos de fontes e experiências diversas, devem ser consideradas, como aponta

Moscovici, como verdadeiras teorias do senso comum, como “forma de compreensão que

cria o substrato das imagens e sentidos, sem a qual nenhuma coletividade pode operar”. 11

Por outro lado não podemos negligenciar o fato de que, enquanto forma de

conhecimento cuja finalidade é atender às necessidades de interpretar e mesmo construir as

10 ANSART, op. cit., p. 21-35. 11

MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social, p.48. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2003.

10

realidades sociais, as representações sociais estão embasadas no contexto e na própria

vivência dos sujeitos nelas envolvidos. Neste sentido, colocados “entre o universo dos

senhores e dos dominados”,12 a função que os jornalistas desempenharam contribuiu para a

transmissão e cristalização do imaginário daqueles aos quais representaram. São portadores

de uma espécie de “senso comum” sobre a variedade dos assuntos e objetos sociais ali

veiculados, mas são também são correias de transmissão de uma determinada cultura, de um

determinado saber.

As representações sociais são então o material com o qual os fatos ou fenômenos são

construídos enquanto tal e veiculados no periódico, são constituídas, portanto, como objetos

de conhecimento psicossocial. Conseqüentemente, elas não devem ser reduzidas a um evento

intra-individual, tampouco devem ser diluídas como forma de um pensamento social. Elas

estão embasadas no contexto e na própria vivência dos sujeitos nelas envolvidos.

Contudo, o simbolismo que as reveste, como nos mostra Castoriadis, não é totalmente

neutro, nem inteiramente adequado ao funcionamento dos processos reais. É gerado

socialmente dentro de limites, pois “todo simbolismo se edifica sobre as ruínas dos edifícios

simbólicos precedentes, utilizando seus materiais”.13

Para além dos discursos que traduzem a ação ou as propostas de ação de determinado

grupo, existem aqueles elementos extra-discursivos que muitas vezes falam mais que

palavras. Ao analisar tais elementos, os quais fizeram parte das justificativas ideológicas da

primeira república, José Murilo de Carvalho viu na batalha pela conquista do imaginário

popular no momento da implantação do regime republicano a tentativa de “formação das

almas”.

Foi assim que imagens de heróis, mitos e outros símbolos, transbordaram o restrito

circulo das elites através de um empreendimento político-pedagógico que visava atingir mente

e coração de toda a população. Como nos mostrou o autor, podemos observar que através do

imaginário “as sociedades definem suas identidades e objetivos, definem seus inimigos,

organizam seu passado, presente e futuro (...). O imaginário social é constituído e se

expressa por ideologias e utopias... (e)... por símbolos, alegorias, rituais, mitos.” 14

12 VOVELLE, Michel. Ideologias e mentalidade, p. 216. São Paulo: Brasiliense, 1 991. 13 CASTORIADIS, op. cit., p. 144. 14 CARVALHO, José Murilo de. A Formação das almas: o imaginário da república no Brasil, p. 11. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

11

CAPÍTULO l: O CONTEXTO NACIONAL DOS ANOS 1930.

Neste período marcado pela crise internacional do liberalismo o jogo político se viu

transformado em verdadeira guerra de disputas ideológicas, as quais, internacionalizadas nos

anos 1930, marcaram de maneira indelével o cenário político brasileiro. Neste sentido, mesmo

constatando o fato de que o movimento político-militar que se opôs a dominação oligárquica

em 1930, propondo-se a restabelecer e aperfeiçoar a democracia culminou numa ditadura, não

podemos deixar de lado o fato de que a estrutura política e econômica brasileira sofreu

visíveis transformações.

Assim, o primeiro governo de Getúlio Vargas, 1930-1945, foi um período singular da

história política nacional. Em poucos anos sucederam-se um governo provisório com nuance

ditatorial, seguido por um período em que o Brasil permaneceu sob a égide de uma

Assembléia Nacional Constituinte, o qual foi sucedido de um curto espaço de normalidade

institucional. Entretanto, a movimentação social do período foi acirrada com implantação do

governo constitucional, dando início a uma mais radical onda de movimentos populares, em

meio a qual o Executivo conseguiu fortalecer gradativamente o seu poder.

Este período de normalidade constitucional foi suspenso através do golpe de Estado

que implementou o Estado Novo em novembro de 1937, o qual se estendeu até fins de 1945.

Durante o momento singular em que tal estrutura parecia estar em risco de mudanças radicais,

no decorrer do período que a partir de 1930 antecedeu o Estado Novo, surgiram projetos

políticos antagônicos, mas que em sua essência partilharam em comum a solução autoritária e

a idéia de que o povo não tem identidade própria, nem sabe se autogovernar.

Para refletirmos sobre este contexto faz-se necessário ter em conta a crescente

complexidade social, o que pode ser aferido apenas por estimativas, visto que não houve

censo nacional neste período. Momento marcado por ambigüidades, por marchas e

contramarchas políticas, o alvorecer deste período que a historiografia chamou de Segunda

República traz a marca destes diferentes projetos que estavam sendo gestados como solução

para velhos problemas político-sociais, para os quais a “República Velha”, no dizer da elite

política que ia se consolidando no pós-1930, se mostrou inoperante.

Os anseios por mudanças sociais, democratização e moralização da vida pública

reclamados pela sociedade, alguns deles já presentes no ideário republicano, eram

constantemente frustrados. Desta maneira, a crise institucional que se instalou nos anos 1930

após a derrota de Getúlio Vargas à presidência da República, encontrou um ambiente de

12

efervescência política propício: vários setores da sociedade participando de debates e ações

que visavam mudar os rumos da República, o que de certa forma legitimou as ações armadas

do movimento de 1930 que se dizia revolucionário. Tal movimento de caráter político-militar

que no dia 3 de novembro de 1930 depõe Washington Luiz e coloca Getúlio Vargas na chefia

do Governo Provisório, apesar de não ter ligações diretas com as crises políticas da Primeira

República, pode ser entendido no contexto das mesmas.

Na base deste conflito estavam as dissensões que surgiam entre os vários grupos

oligárquicos estaduais – que ora se aglutinavam, ora se separavam, conforme melhor lhes

conviessem – na luta pelo poder.15 Porém, não resumiu-se a isto. A experiência republicana,

no dizer de Maria do Carmo Campello de Souza,16 legara uma geração de políticos mais

preocupados com a ascensão ao poder do que com os diversos problemas da sociedade, os

quais reclamavam um organismo econômico e uma máquina burocrática administrativa mais

competente.

Até então, o crescimento econômico, cuja base para o seu desenvolvimento era uma

economia capitalista periférica, havia sido realidade para alguns setores a volta dos quais

outros setores da economia vinham se desenvolvendo. A cafeicultura, tratando-se dos Estados

mais fortes política e economicamente, e a economia do mate, no que tange ao Estado do

Paraná, haviam proporcionado respectivamente um desenvolvimento urbano-industrial, o qual

reclamou uma maior integração econômica baseada no mercado interno. Se tal mercado

interno, por um lado vinha abrindo caminho para o crescimento econômico brasileiro, por

outro lado, necessitava, para a sua expansão, responder às turbulências internas e externas,

agravadas neste momento da conjuntura da crise de 1929.

Em 1929 o paulista Washington Luis, Presidente da República em exercício, indicou

Júlio Prestes seu conterrâneo para concorrer às eleições presidenciais que ocorreriam em

março do ano seguinte. Por esta escolha, Antônio Carlos Ribeiro de Andrade, o Presidente17

do Estado de Minas Gerais, era alijado da disputa eleitoral, contrariando assim um antigo

15 As crises políticas a que nos referimos são os arranjos e rearranjos oligárquicos na Primeira República, mas em especial a campanha civilista de Rui Barbosa em oposição à candidatura oficial de Marechal Hermes da Fonseca, 1910, e a Reação Republicana de 1921, a qual lançou a candidatura dissidente de Nilo Peçanha em oposição à oficial de Arthur Bernardes. Para ver mais sobre o assunto: SOUZA (1975), Maria do Carmo Campello de. O processo político na Primeira República, p. 162-226. In MOTA, Carlos Guilherme. Brasil em

Perspectiva. SP/RJ: Difel: 1975. 16 SOUZA (1975), Maria do Carmo Campello de. O processo político na Primeira República, p. 162-226. In

MOTA, Carlos Guilherme. Brasil em Perspectiva. SP/RJ: Difel: 1975. 17 Durante a vigência da Carta Constitucional de 1891 o cargo de Executivo Estadual era denominado Presidente de Estado.

13

pacto pelo qual os representantes políticos destes dois estados se revezavam na presidência da

República. Sob a égide da “política dos governadores” 18

, como ficou conhecido o

mecanismo de sustentação do sistema oligárquico da Primeira República, os verdadeiros

protagonistas do processo político eram os governadores. Tal mecanismo, porém, não impedia

a luta das oligarquias estaduais pelo poder.

Foi este o contexto que possibilitou uma articulação política entre as principais

lideranças de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba para a formação da Aliança Liberal.

Tal aliança oposicionista, bastante heterogênea, em meados de 1929 lançou a candidatura do

gaúcho Getúlio Vargas e do paraibano João Pessoa, para presidente e vice-presidente da

República, respectivamente. Congregados pelo objetivo primordial de ascender ao poder, a

Aliança Liberal reunia então descontentes de todos os matizes. A partir dos oligarcas

dissidentes, a aliança recebeu a adesão de todas as oposições estaduais, inclusive do Partido

Democrático de São Paulo e do Distrito Federal.

Afiançado por pleito eleitoral marcado por costumes corrompidos, garantes do

controle de poder às facções às quais os aliancistas se opunham, o resultado concedeu vitória

ao candidato paulista Júlio Prestes. Diante da derrota alguns participantes da Aliança Liberal

organizaram uma insurreição armada que em 3 de novembro colocou Getúlio Vargas na

chefia do Governo Provisório. Na condução do movimento, que se dizia revolucionário

estavam os tenentes e um grupo de políticos civis afinados com suas propostas.

Desta maneira, sintetizada na luta pela quebra da hegemonia oligárquica cafeeira, a

crise institucional que levou a superação da ordem federativa descentralizada, encontrou então

na Aliança Liberal, as condições para viabilização de seu projeto. Tal crise, porém, “dizia

respeito, em grande medida, à necessidade de reformulação das relações do Estado com um

organismo econômico que passava a exigir atuação não somente sobre alguns focos

regionais mais sobre as exigências de seu conjunto” 19. Entendemos que esta reformulação

das relações do Estado, configurada na orientação política do Governo Vargas, é o fio que

conduz nossa interpretação do período ora privilegiado.

18 A política dos governadores diz respeito ao acordo de colaboração entre Presidente da República e Governadores estaduais. Enquanto o primeiro garantia ampla autonomia aos grupos oligárquicos dominantes de cada estado, o segundo dava-lhe apoio político no Congresso através das bancadas estaduais. O resultado desse pacto foi a marginalização dos estados de menor força política, o enfraquecimento das oposições e a fraude eleitoral.:SOUZA (1975), op. cit., p. 162-226. 19 SOUZA (1975), op. cit., p.226.

14

Apesar das diferenças internas, as reivindicações da Aliança Liberal20 apresentavam

temas que se relacionavam, como justiça social e liberdade política. Propunham reformas no

sistema político, adoção do voto secreto e fim das fraudes eleitorais. Defendiam também

questões como a anistia aos perseguidos políticos, direitos sociais como a regulamentação do

trabalho das mulheres e menores, férias e salário mínimo. Também fazia parte da pauta

questões como diminuição das disparidades regionais e a diversificação da economia.

Uma das principais divergências em meio aos embates que cedo se iniciaram entre os

aliancistas dizia respeito à duração do Governo Provisório e ao modelo de Estado a ser

adotado. De um lado estavam os “oligarcas dissidentes”, em especial os representantes dos

estados mais fortes defendendo propostas que limitassem os poderes da União, concedendo

mais autonomia ao poder estadual. Na outra ponta ficavam os tenentes, defensores de um

regime forte, apartidário, centralizador e de orientação nacionalista, inspirados em intelectuais

como Oliveira Viana e Alberto Torres.

Segundo Mônica Pimenta Veloso, o caráter diferenciado da classe intelectual brasileira

como agentes da consciência e do discurso, se manifesta no Brasil ao longo de sua história.

Ressalta a autora, que nos “momentos de crises e mudanças históricas profundas (...) as elites

intelectuais marcaram presença no cenário político, defendendo o direito de intervirem no

processo de organização nacional”. 21 Vemos, porém, que apesar do papel de paladinos da

nacionalidade brasileira assumido pelos intelectuais na década de vinte, o que foi manifestado

explicita e publicamente pelo o movimento modernista, sua articulação com o campo político

se deu efetivamente a partir de 1930.

É necessário ter-se em conta, porém, que suas diferentes propostas de organização do

Estado vinham sendo apresentadas ao longo das décadas de 1920 e continuaram em 1930.

Todas as suas contribuições, destacando-se a proposta jurídica, de Francisco Campos, a

econômica, de Azevedo Amaral e a espiritual de Jacson de Figueiredo, convergiam para um

mesmo ponto, qual seja, “a solução autoritária e a desmobilização social”. 22

Neste sentido,

todos os investimentos do governo Vargas, quer na área social, política ou econômica, que

não foram poucos mesmo neste período de convulsão social, trazem a marca do autoritarismo

e da desmobilização social.

20 PANDOLFI, op. cit., p.13 -35. 21 VELLOSO, Mônica Pimenta. Os intelectuais e a política cultural do Estado Novo. p.147. In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Orgs.). O Brasil Republicano. O tempo do nacional-estatismo

– do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Livro 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 22 VELLOSO, op. cit. p. 148.

15

Neste período, do qual se pode afirmar que nascia “uma nova forma de regulação das

relações capital-trabalho cuja legitimidade foi garantida para além do tempo histórico

conhecido como era Vargas23

, os investimentos na área social começaram cedo. Em

novembro de 1930 foram criados o Ministério do Trabalho, Indústria e comércio e o

Ministério da Educação e Saúde. Muitas leis e decretos de proteção ao trabalhador foram

promulgados entre 1931 e 1934. Entre elas destacam-se aquelas que regularam a jornada de

trabalho fixada em 8 horas para o comércio e a indústria, a adoção de uma lei de férias, a

instituição da carteira de trabalho e o direito a pensões e aposentadorias, que em 1933-34

contou com o Institutos de Aposentadoria e Pensão Marítimo e Comerciário respectivamente.

Tal investimento foi acompanhado de uma nacionalização do trabalho através de

dispositivo de lei se exigia 2/3 dos empregados nacionais, e de uma Lei Sindical que em

março de 1931 adotava modelo único. Definida como órgão de colaboração com o poder

público a sindicalização não era obrigatória, porém só eram atingidos pelos benefícios

trabalhistas os membros dos sindicatos oficiais, os quais contavam também com uma Junta de

Conciliação e Julgamento para arbitrar conflitos entre patrões e empregados. As resistências

foram dissipadas na medida em que o governo “afastava antigas lideranças anarquistas e

comunistas comprometidas com a autonomia sindical do passado (...) e estimulava a

emergência de novas lideranças operárias dispostas a pactuar com seu projeto

corporativista”. 24

Segundo Eric Hobsbawm, no início dos anos 1930 a economia mundial havia

mergulhado profundamente “na maior e mais dramática crise que conhecera desde a

Revolução Industrial” 25

. Neste sentido, os investimentos na área econômica foram marcados

pela crise de escala mundial, que também se fazia sentir no Brasil, exigindo do governo recém

empossado tanto medidas de caráter econômico quanto político.

Tais crises, porém, “além de contribuírem de forma direta para a industrialização por

substituição de importações (como analisou Celso Furtado), ajudaram a formar instituições e

23 D’ARAUJO, Maria Celina. Estado, classe trabalhadora e políticas sociais, p. 215. In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Orgs.). O Brasil Republicano. O tempo do nacional-estatismo – do

início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Livro 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 24 PANDOLFI, op. cit. p. 20. 25 HOBSBAWM, Eric J. A era dos extremos: O breve século XX (1914-1991), p. 43. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

16

uma capacidade de governança que se torn[ou] mais evidente na segunda metade deste

período”. 26

A política de defesa do café é emblemática desta situação: praticamente único

responsável pelas divisas de exportação, o café necessitava achar equilíbrio no mercado

internacional. Além de ter de enfrentar a concorrência externa pelo mercado em expansão,

havia a questão interna gerada pela expansão do plantio, e sua conseqüente super produção.

Com este objetivo o Governo Provisório retoma a política de defesa do café, tendo como

Ministro da Fazenda o banqueiro paulista José Maria Whitaker.

O plano econômico para a defesa do café contou mais uma vez com empréstimos em

libras esterlinas, empregados na compra de boa parte da safra paulista. Foi estabelecida

também a cota de sacrifício do café inferior, e acordos comerciais com dezenas de novos

países da Europa Central e dos Estados Unidos.

O modelo agroexportador também precisava ser diminuído através do incentivo ao

crescimento industrial. Para Maria Aparecida Leopoldi, a relação entre Estado e Industriais

evidencia o papel de Vargas e seus ministros tanto como interlocutores atentos, quanto de

árbitros dos conflitos que iam surgindo. Sob o impacto destas crises e choques externos, o

governo Vargas, através de seus assessores, se esforçou no sentido de estabilizar um balanço

de pagamento instável, ao mesmo tempo em que incentivava o desenvolvimento industrial

com medidas protecionistas.

Desta maneira, baseado em medidas intervencionistas e centralizadoras, o

investimento na área econômica fez crescer a insatisfação dos setores oligárquicos neste

período de início do desencadeamento de um processo de industrialização do país. Entre 1931

e 1934 setores chave da economia ganharam o controle direto do governo com a criação de

institutos, como o Instituto do Cacau em 1932, o Departamento Nacional do Café, e do

Conselho Federal de Comércio Exterior.

Passado o primeiro momento de crise e recessão, os anos de 1929 a 1931, começava

no Brasil o primeiro milagre econômico do século. 27 Este período de crescimento industrial

26 LEOPOLDI, Maria Antonieta. P., A economia política do primeiro governo Vargas (1930 – 1945): a política

econômica em tempos de turbulência, p. 243 In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Orgs.). O Brasil Republicano. O tempo do nacional-estatismo – do início da década de 1930 ao apogeu do

Estado Novo. Livro 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 27 Nestes anos de milagre econômico, principalmente 1933 – 1936, o crescimento industrial deu um salto, puxando o PIB para cima. Segundo Leopoldi, os setores mais dinâmicos o foram o setor têxtil, químico, de papel, cimento, aço e pneus: LEOPOLDI, op. cit. p. 249

17

que se iniciava, segundo Leopoldi, era resultado de três fatores combinados28: do choque

externo, o qual contribui para a substituição de importações devido à recessão internacional;

das políticas governamentais, tanto daquelas políticas implementadoras de medidas

necessárias ao enfrentamento do choque externo, quanto das medidas em atendimento às

demandas setoriais (dos industriais, dos militares e da burocracia governamental); e do

esforço do empresariado industrial, cujo projeto político desenvolvimentista tinha a indústria

como propulsora do desenvolvimento econômico.

A caminhada do Governo Provisório até o Governo Constitucional foi marcada por

agitações e crises sucessivas visto que suas primeiras medidas foram intervencionistas e

centralizadoras. Através do Sistema das Interventorias, cujo Código foi promulgado em

agosto de 193l, estabelece-se um poderoso instrumento de controle do poder central sobre a

política local. Num primeiro momento a nomeação dos interventores, a maioria militares,

subordinados diretamente ao governo provisório e sem ligações locais, provocou crises as

quais foram amainadas com concessões às forças locais.

Focos permanentes de crise pulularam o país em face do ostracismo a que foram

legadas as tradicionais forças políticas locais. São Paulo é exemplo significativo desta

conjuntura contando com cinco interventores em menos de dois anos. Além da autonomia

cerceada, os gastos com o poder de fogo das oligarquias regionais, - a polícia estadual -

também estavam sendo restringidos a 10% da despesa ordinária, cujo armamento não deveria

ultrapassar ao do Exército.

Em face dos conflitos que iam surgindo a ala mais tenentista buscou se organizar

contra aqueles que não aderiram ao “espírito da revolução”, qual seja, a ameaça das

oligarquias regionais. Sua primeira organização na tentativa de reforçar o apoio popular ao

Governo Provisório, a Legião Revolucionária, não se estruturou nacionalmente. O clube 3 de

Outubro, porém, se organizou em fevereiro de 1931, pretendendo ser instrumento apaziguador

dos conflitos entre os militares.29 Criticavam o federalismo oligárquico ao tempo que

defendiam um governo forte e intervencionista capaz de eliminar o latifúndio, nacionalizar a

extração de recursos e atividades econômicas, entre outros.

Para fazer frente às forças tenentistas rearticulam-se facções oligárquicas antigas que

passam a exigir o fim do regime discricionário. Surge em São Paulo a Frente Única Paulista,

28 LEOPOLDI, op. cit., p. 248. 29 Conforme Pandolfi, entre 1930-34 ocorreram aproximadamente 50 movimentos militares de protesto: PANDOLFI, op. cit., p. 22.

18

união dos dois principais partidos políticos do Estado: Partido Republicano Paulista, que

dominava a cena política desde fins do século XIX, e o mais recente, Partido Democrático,

pleno de expectativas de assumir a liderança política. Esta aliança política recebeu também o

apoio de grandes associações de classe.

No rio Grande do Sul o questionamento parte da Frente Única Gaúcha, a qual tenta

sem sucesso conseguir a mobilização de interventores do Norte e Nordeste. Em Minas

Gerais semelhante movimento é neutralizado por acordos do Interventor Olegário Maciel com

o Partido Republicano, ficando de fora apenas a ala reconstitucionalista de Artur Bernardes.

Neste mesmo momento foi criado o Código Eleitoral através do decreto nº 21.076 de

fevereiro de 1932, o qual estabelecia em suas disposições legislativas a criação do Tribunal

Superior Eleitoral, o que aconteceu no mês de maio próximo. Além de importantes inovações,

como a introdução do voto feminino e do voto secreto, as disposições legislativas referentes

ao processo eleitoral estabeleciam também a criação da Justiça Eleitoral. A partir daí, não

estaria mais a cargo do Poder Legislativo o controle de seu próprio processo de renovação,

quadro que havia garantido a implantação das oligarquias estaduais durante a Primeira

República.30

Manifestações radicais seguiram-se a decretação do Código Eleitoral, como a

depredação do jornal antitenentista Diário Carioca. Vendo o desinteresse do governo em

punir os culpados vários de seus auxiliares pediram demissão. No mês de maio era a vez de

sedes de jornais favoráveis a Vargas serem depredadas: A Razão, O Correio da Tarde e

também a sede da Legião Revolucionária. No conflito morrem quatro estudantes cujos nomes

inspiraram uma entidade que trabalhou na organização de um levante armado pró-

reconstitucionalização. 31

As dificuldades enfrentadas por Vargas na área militar também foram grandes e

contribuíram para aumentar ainda mais o clima de agitação política. A crise militar entrou

para a história “como o caso dos ‘picolés’ e ‘rabanetes’ (...). Eram considerados ‘picolés’ os

tenentes que tinham se mostrado frios diante das adesões tardias (...), e ‘rabanetes’ os

adesistas de última hora”.32 A preocupação do governo em foi resolvida com a criação de

quadros paralelos de promoção sem prejuízo para ambos os lados.

30 SOUZA (1974 ), op. cit., p. 162 -226. 31 PANDOLFI, op. cit., p. 24. 32 Ibid, p. 13 – 37.

19

As concessões foram feitas, tanto pelo interesse em aproximar a cúpula militar,

sobretudo a parte da alta oficialidade ressentida pelo fortalecimento do tenentismo, quanto

pela necessidade de contemplar oficiais que participaram do movimento de 1930 e dos

movimentos anteriores. Neste sentido foram concedidas promoções significativas como a de

Góis Monteiro, peça chave do regime, e a de Bertoldo Klinger, o qual em seguida marchou

em luta pela reconstitucionalização do país.33

Neste mesmo mês foi criada a comissão encarregada do anteprojeto constitucional e

marcada para maio de 1933 as eleições para a Assembléia Constituinte. Em seguida o governo

se esforçou no sentido de formar bases regionais de apoio e garantia dos seus interesses no

processo de elaboração e regulamentação da futura organização política do país. Da bancada

classista, prevista pelo Código Eleitoral, o governo provisório esperava principalmente o

apoio dos representantes dos trabalhadores, eleitos por sindicatos legalizados pouco antes pelo

Ministério do Trabalho.

Contudo, o agendamento das eleições para a constituinte não arrefeceu os ânimos dos

insatisfeitos que já se articulavam para organizar uma conspiração. Em meio ao clima de

insatisfação que grassava por todos os lados, irrompeu em Julho de 1932, em São Paulo, a

luta armada pela reconstitucionalização do país. Comandada pelo tenentista Isidoro Dias

Lopes, um dos revoltosos da década de 20, o movimento de 1932 ficou restrito ao Estado,

porém recebeu apoio voluntário de vários pontos do Brasil, e transformou-se na “pior guerra

civil vivida pelo país. 34

Não recebendo apoio oficial dos demais estados, se bem que adesões expressivas

como a dos oligarcas dissidentes Artur Bernardes-MG, e Borges de Medeiros-RS, no dia 2 de

outubro o movimento foi debelado pelo Governo Provisório. Alguns líderes do movimento

foram presos, outros exilados, ou tiveram seus direitos políticos suspensos.

Apesar de derrotados militarmente, os paulistas conseguiram o compromisso de

Vargas com a reconstitucionalização do país. Conseguiram também colocar um tenentista

civil – Armando Sales de Oliveira – no governo do Estado. Essa conjuntura de adesão aos

revoltosos paulistas possibilitou uma reorganização do cenário político nacional.

33 Id. 34 PANDOLFI, op. cit., p. 25

20

Mas, para além deste “processo de depuração das elites” 35, tal radicalização política

despertou a preocupação por parte do governo central no sentido de reestruturar as Forças

Armadas e fazer delas um ator político significativo. Neste sentido, uma cúpula militar

afinada com o governo foi sendo formada com os novos generais promovidos. Alguns deles

ocupando posições importantes, como é o caso de Góis Monteiro e Eurico G. Dutra. Todavia,

aqueles generais mais antigos, em especial os que participaram do movimento de 1932 foram

afastados.

Diante da inevitabilidade da reconstitucionalização os adeptos do tenentismo se

dividem. Alguns se distanciam do governo numa postura de neutralidade, outros passam a

engrossar as fileiras dos movimentos contestatórios, como o integralismo e o comunismo, os

quais saíram fortalecidos do episódio de 1932. Outros partem, sem êxito, para a criação de um

partido nacional.

Tal tentativa aglutinaria os ‘“revolucionários” e faria oposição à “politicagem” das

antigas máquinas partidárias voltadas para “interesses particulares” 36

. Como a legislação

permitia tanto a existência de partidos provisórios, como candidaturas avulsas, o que surgiu

neste momento foi uma infinidade de partidos estaduais, a maioria organizada por

interventores, favorecendo neste sentido os situacionistas.

O saldo das eleições de maio de 1933 para a Assembléia Constituinte foi

esmagadoramente favorável às agremiações situacionistas. Em São Paulo, porém, com a

vitória da Chapa Única, que congregava as agremiações políticas que desencadearam o

movimento constitucionalista em 1932, o governo procurou compor com a elite paulista

atendendo finalmente aos seus apelos por um interventor civil. Foi neste contexto que

Armando Sales de Oliveira assumiu a interventoria do Estado em julho de 1933. 37

Instalada em 15 de novembro de 1933 a Constituinte brasileira deu início ao seu

trabalho de elaboração da Carta Constitucional que substituiu a Carta de 1891. Uma gama

variada de projetos e interesses que vinham sendo discutidos no cenário político estava sendo

ali representada Tanto para o governo quanto para a maioria das lideranças tenentistas ali

presentes a nova Carta deveria incorporar as inúmeras mudanças de caráter econômico,

político e social que vinham sendo implementadas.

35 GRYNSZPAN & PANDOLFI, Da revolução de 30 ao golpe de 37: a depuração das elites, p. 11. In Revista de Sociologia e Política, nº 9, UFPR: 1997. 36 PANDOLFI, op. cit, . p.27. 37 PANDOLFI & GRYSZPAN, op. cit., p.12.

21

Neste sentido, o grande debate polarizador das bancadas girou em torno da questão de

escolha entre a forma federalista ou centralista de governo. “Mesmo havendo um certo

consenso em torno da necessidade de um federalismo aliado a um intervencionismo estatal, a

polêmica fixou-se no grau de centralização e de intervenção possíveis”. 38 Os estados

política e economicamente mais fracos, representados pelas bancadas do Norte e Nordeste

temiam o enfraquecimento do poder central e a volta do desequilíbrio na distribuição dos

benefícios. Para os estados mais poderosos interessava uma maior autonomia em relação ao

governo central.

Outra polêmica importante no interior da Assembléia Constituinte dizia respeito à

forma de representação das associações profissionais no aparato decisório do Estado. Um

acirrado debate intelectual vinha sendo travado desde o início dos anos 1930 em torno do

modo como ocorreria a organização e a participação das entidades profissionais. Diferentes

atores sociais e diferentes estratégias estavam em jogo nessa disputa.

Os industriais argumentavam que a natureza diferenciada das entidades – patronais, de

natureza econômica e de trabalhadores, de natureza profissional –, exigiam forma de

articulação diferenciada. Neste sentido defendiam a autonomia organizativa e administrativa

das entidades. O governo e sua base de apoio defendiam o controle do Estado sobre estas

organizações e sua administração.

O modelo organizacional das entidades que prevaleceu foi aquele que as organizava

por ramo de atividade econômica, uma espécie de meio termo entre a proposta de classes,

experimentada na Constituinte e a proposta das profissões afins. Desta maneira, definiram-se

quatro categorias “correspondentes a amplos setores da atividade econômica: lavoura e

agropecuária; indústria; comércio e transportes (todas divididas paritariamente entre

patrões e empregados), mais profissões liberais-funcionários públicos.” 39

Quanto ao papel

das entidades duas questões estavam em jogo: a função deliberativa, por representação

parlamentar, ou a função consultiva, através de conselhos técnicos. Prevaleceu a forma

parlamentar, tanto na Constituinte como na Constituição de 1934.

Ficou estabelecido constitucionalmente que as eleições deveriam realizar-se por voto

direto, porém, era responsabilidade da Assembléia Nacional Constituinte a eleição do

primeiro Presidente da República após sua promulgação. Vargas é eleito por cento e setenta

38 Idem. 39 BARRETO, Álvaro Augusto de Borba. Representação das associações profissionais no Brasil: o debate dos

anos 1930, p. 129. In Revista de Sociologia e Política, nº 22 - UFPR: 2004.

22

votos contra setenta distribuídos por seus adversários, entre os quais figuravam Góes

Monteiro e Borges de Medeiros. Porém, o processo eleitoral transcorre em meio a ameaças de

golpes e conspirações, demonstrando sua frágil posição. O resultado da aprovação dos atos do

Governo Provisório também comprova o quadro de insatisfação reinante no período: “dos

duzentos e vinte deputados presentes no plenário, apenas cento e trinta e cinco votaram a

favor”. 40

A votação das disposições transitórias também gerou acalorados debates. Por fim

estabeleceu-se que haveria eleições para o Poder Legislativo, permanecendo o funcionamento

da Constituinte somente até a posse do novo Congresso. Com respeito à elegibilidade dos

interventores ao cargo de governadores constitucionais ficou determinado que estes poderiam

disputar o cargo através de eleição indireta, pelas respectivas constituintes estaduais.

A Constituição foi promulgada em 16 de Julho de 1934, e no dia seguinte Getúlio

Vargas foi eleito presidente. Para garantir sua eleição, porém, Vargas comprometeu-se com

diversas propostas contrárias ao seu encaminhamento de governo. Desta maneira, mesmo com

todo o seu esforço no sentido de intervir, tanto no conteúdo dos debates, quanto no seu

encaminhamento no plenário, o resultado do processo jurídico-político que regeria a nova

ordem, desagradou profundamente o presidente recém eleito.

No dizer de Pandolfi, “o que se tentou de fato com a Constituição de 1934, foi

estabelecer uma ordem ‘liberal’ e ‘moderna’, que não se chocasse com o fortalecimento do

Estado e com seu papel ativo na órbita dos interesses econômicos e sociais”. 41

Neste

sentido, mesmo assegurando a importância dos estados através do princípio federalista, o

texto constitucional havia ampliado o poder da União em novos capítulos referentes à ordem

econômica e social. Entretanto, a questão norteadora dos liberais representados na

Constituinte era a de assegurar o predomínio do Legislativo como instrumento inibidor do

avanço do Executivo e base da vida governamental.

Outras questões caras que vinham sendo disputadas por lideranças trabalhistas são

contempladas no texto constitucional, incorporando também o encaminhamento dados a elas

pelo governo provisório. Desta maneira, são aprovadas medidas que beneficiaram os

trabalhadores como a criação da Justiça do Trabalho, o salário mínimo, a jornada de oito

horas, férias remuneradas e descanso semanal.

40 PANDOLFI & GRYSZPAN, op. cit., p. 13. 41 PANDOLFI & GRYSZPAN, op. cit., p.13.

23

Mas a Constituição de 1934 teve vida curta. A salvaguarda dos poderes do Legislativo

tolhia o raio de ação de Executivo detendo seus avanços. O descontentamento de Vargas com

esta situação garantida pela aprovação da nova Carta fica patente em seu primeiro discurso

como Presidente Constitucional.

Pronunciando-se na Assembléia Nacional Constituinte Vargas externa sua inquietação:

“a Constituição de 34 (...) enfraquece os elos da Federação: anula, em grande parte, a ação

do presidente da República, cercando-lhe os meios imprescindíveis à manutenção da ordem,

ao desenvolvimento normal da administração (...) coloca o indivíduo acima da comunhão”.42

Se sua insatisfação com os resultados da Carta Constitucional foi explícita publicamente,

como demonstrou seu discurso, sua intenção de revisão da mesma foi também manifesta nesta

mesma ocasião em círculos privados.43

O estabelecimento de uma ordem liberal através da Constituição de 1934 confirmou o

grande peso político dos Estados, especialmente dos Estados mais influentes econômica e

politicamente, peso este, conquistado durante a Primeira República com seu regime

federalista. No início do seu governo constitucional, Vargas demonstrava a intenção de fazer

o país voltar à normalidade, com a entrada em vigor da Constituição e uma clara definição dos

limites do poder executivo.

Eleito indiretamente pelo Congresso Nacional para um mandato de quatro anos, sem

direito a reeleição, o presidente mostrou-se bastante hábil em conciliar ou neutralizar as

diversas forças políticas ao reorganizar o ministério. Os tenentes, porém, são preteridos na

reforma ministerial. “A partir de então o projeto de Vargas passou a confluir com a

estratégia que vinha sendo apontada por Góis Monteiro, que se devia fazer a política do

Exército, e não a política no Exército”. 44

As eleições em outubro de 1934 para o Congresso Nacional e para as Assembléias

Estaduais foram bastante turbulentas trazendo a tona um novo reordenamento das elites.

Apenas nove dos vinte interventores foram reconduzidos ao poder pelo voto indireto de suas

respectivas Assembléias Legislativas. O país entrava num período de normalidade

Constitucional, mas a insatisfação e a movimentação política continuavam.

42 ARQUIVO. Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. FGV/CPDOC. GV 34.07.15/12) : Apud :PANDOLFI, op. cit.,

p.31. 43 Conforme consta no site da Fundação Getúlio Vargas, disponível em: http://www.cpdoc.fgv.br/nav_historia/htm/anos30-37/ev_constituicao_1934.htm, acessado em agosto de 2008. 44 PANDOLFI, op. cit., p.30.

24

Era este, na verdade, tempo de muitas agitações sociais. Tanto à direita quanto à

esquerda surgiram organizações não-partidárias com alcance nacional: a AIB - Ação

Integralista Brasileira de inspiração fascista e dirigida por Plínio Salgado, e a Aliança

Nacional Libertadora - ANL, que tinha como presidente de honra Luis Carlos Prestes. Embora

radicalmente opostos, ambos os movimentos dirigiam seu discurso contra os preceitos liberais

da Primeira República e os descaminhos da Revolução de 1930.

A AIB existiu legalmente de outubro de 1932 a dezembro de 1938. O ano de 1933

marca o início de seus investimentos em ação de caráter nacional com uma marcha em São

Paulo que reuniu cerca de 40 mil pessoas. A partir deste momento a ação nacional tem

continuidade através da organização das “Bandeiras Integralistas" que difundiram o

integralismo pelo país. Direcionadas para o Nordeste e Sul do país, a concepção subjacente às

bandeiras “sugeria um novo processo de ‘conquista ideológica e interiorização do projeto

político integralista (...) no contexto do surgimento de slogans como a ‘marcha para o oeste e

a necessidade de conhecer o ‘Brasil real’”. 45

Segundo Marcos Chor Maio e Roney Cytrynowicz,46 o integralismo assemelhava-se

aos partidos fascistas europeus em sua ideologia, organização e ação política. Sua ação

política mobilizou o país pautando-se num nacionalismo e moralismo exacerbado,

combatendo os partidos políticos e defendendo uma integração total da sociedade, cujo

representante seria a própria AIB. Em 1935 a AIB chegou a reunir entre 500 a 800 mil

partidários, para uma população de 41,5 milhões de habitantes, sendo então o primeiro partido

político em âmbito nacional, diferente da realidade dos partidos políticos da Primeira

República, de cunho regional.

Em 1934 foi realizado o 1º Congresso nacional da AIB, no qual ficou definida a

natureza de sua estrutura e seu estatuto, ocasião mesma da eleição de Plínio Salgado como seu

chefe nacional. Contudo, foi depois das revoltas comunistas de 1935 que a organização

crescera politicamente, se alinhando junto ao governo contra o comunismo. A partir de seu 2º

Congresso Nacional, realizado em 1936, a AIB transformou-se em partido político visando

45 Ibid, p.42. 46 MAIO & CYTRYNOWICZ, Ação Integralista Brasileira: Um movimento fascista no Brasil (1932-1938), p.

40 - 63. In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Orgs.). O Brasil Republicano. O

tempo do nacional-estatismo – do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Livro 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

25

concorrer às eleições de 1938. Porém, em função do processo de radicalização política

algumas sedes do partido foram fechadas pelos respectivos governos estaduais47.

No dizer de Maio & Cytrynowicz, não havia uma unicidade neste movimento que

emergiu no contexto de incertezas dos anos 1930. Seja no plano ideológico ou no âmbito da

ação política, havia distintas concepções acerca de uma revolução integral que estava sendo

propostas.

O Integralismo foi analisado por alguns pesquisadores como um “projeto de fascismo

à brasileira”, por outros como uma “alternativa conservadora ao capitalismo dependente”,

ou ainda como uma “resposta geracional de segmentos da classe média não contemplados

pelas mudanças ocorridas após a Revolução de 1930”. Sua singularidade, todavia, repousa

no fato de que enquanto movimento ele “representou as especificidades da sociedade

brasileira das décadas de 1920 e 1930” 48

.

Fundada em outubro de 1932, a AIB contribuiu então com um dos projetos radicais

que emergiram do ambiente de indefinições e imprevisibilidades no terreno político que

marcaram os anos 1930. O movimento estruturou-se a partir de pequenos grupos e partidos de

direita, como Ação Social Brasileira (Partido Nacional Fascista), a Legião Cearense do

Trabalho, o Partido Nacional Sindicalista e a Ação Imperial Pátrio-novista (monarquista). A

partir de 1930, integrantes destes partidos se reuniram sob a liderança de Plínio Salgado tendo

como lema "Deus, Pátria e Família". 49

A AIB também atuou no executivo e no legislativo de diversas cidades e estados entre

1933 e 1937. Se em 1935 haviam elegido apenas 1 deputado federal e 4 estaduais. Conforme

mostram os autores, nas eleições de 1936, para prefeitos, deputados estaduais e vereadores, o

Partido conseguiu eleger cerca de 500 vereadores, 20 prefeitos e 4 deputados estaduais. Da

mesma maneira, o grande número de eleitores habilitados para o processo de escolha de seu

candidato para disputar as eleições à presidência nacional, marcadas para janeiro de 1938, nos

permite refletir a respeito do tamanho e influência do partido.

Mas a luta pela hegemonia política que tomou as ruas no momento da volta à

normalidade institucional teve como oposição ao grupo governista de Vargas, principalmente,

comunistas e tenentes desarticulados do novo governo. O recurso às armas não estava

47

O que acontece nos Estados da Bahia, Santa Catarina, Espírito Santo, Alagoas, Paraná, entre outros: MAIO & CYTRYNOWICZ, op. cit., p. 43. 48 MAIO & CYTRYNOWICZ, op. cit., p. 58. 49

ibid, p.41.

26

descartado visto que “a tradição republicana brasileira não era de mudanças eleitorais, mas

de movimentos militares”.50

Neste sentido, os autores apontam os levantes de novembro de 1935 como episódios

importantes dessa luta, da qual o Partido Comunista Brasileiro – PCB era seu mais novo

agente. Apesar de ter sido fundado em 1922, foi somente na década de 1930 que sua

participação no cenário político se tornou mais efetiva, quando, de fato, houve um esforço dos

comunistas brasileiros em ajustar o Brasil ao ritmo da revolução soviética.

Em agosto de 1934 Prestes havia sido admitido pelo PCB, por ordens expressas da

Internacional. Seus planos de retornar ao Brasil para liderar a luta revolucionária convergiram

com as informações dadas pela delegação brasileira do PCB, durante a conferência de

Moscou neste mesmo ano. Segundo informações que partiam do Brasil o PCB estava

fortemente organizado e contava com o apoio das Forças Armadas em todo território

nacional.

A revolução estava também prestes a começar no Brasil, visto que o governo, cada vez

mais fraco, acabaria por ceder à investida comunista. Desta maneira, o ex-líder tenentista que

havia aderido ao comunismo desde que rompera com os tenentistas que apoiaram Vargas em

1930, decidia então voltar ao Brasil para dirigi-la.51

A ANL teve também importância fundamental nos levantes de 1935. Constituída com

uma frente ampla de oposição ao integralismo e ao imperialismo, começou a ser articulada em

setembro de 1934 pelo Comitê Jurídico Popular de Investigação, organizado pelos tenentes de

esquerda. Dirigida e composta por uma absoluta maioria de tenentes, embora agrupasse civis

de todas as forças e instituições democráticas, a organização foi lançada em março do ano

seguinte, reunindo partidos políticos, sindicatos, diversas organizações femininas, culturais,

estudantis, profissionais liberais e militares. Nesta mesma ocasião foi lançado o nome de Luis

Carlos Prestes como seu presidente de honra.

Embora as perspectivas programáticas comunistas e tenentistas nem sempre

convergissem, ambos estavam convencidos de que a revolução no Brasil se aproximava e a

luta armada era o único caminho para atingir este objetivo. Neste sentido, quando Prestes

passou a participar efetivamente da ANL e o PCB ingressou oficialmente na organização, os

rumos da organização mudaram. Partia-se para ação definitiva que culminaria “num governo

50 VIANNA, Marly. O PCB, a ANL e as Insurreições de Novembro de 1935, p. 69. In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Orgs.). O Brasil Republicano. O tempo do nacional-estatismo – do

início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Livro 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 51 VIANNA, op. cit., p. 81-82.

27

nacional revolucionário, tendo á frente de tal governo, com chefe de maior prestígio popular

em todo o país, Luís Carlos Prestes.52

Os comícios que foram realizados atraíam multidões, fazendo seus líderes crerem que

aquele era verdadeiramente o momento da revolução. Concomitantemente a idéia de

revolução, um movimento que pudesse sair dos quartéis e ganhar as ruas, estava sendo

amadurecida no interior do PCB, cuja importância dentro da ANL era decisiva.

Segundo Vianna a ANL foi a maior organização de massas do Brasil. Espalhando

sedes pelo país conseguiram a adesão de milhares, mas atraíram a preocupação do governo

também. Assustado com o sucesso da organização o governo procurou combatê-la

identificando-a com o PCB. No primeiro mês da sua fundação, abril de 1935, o Congresso

aprovou a Lei de Segurança Nacional, mecanismo constitucional que lhe permitiu colocar o

movimento na ilegalidade em julho de 1935.

Na verdade o acirramento das lutas antifascitas e antiintegralistas contribuiu para que

o governo conseguisse a aprovação de três emendas constitucionais através das quais eram

intensificados os mecanismos de repreensão e controle social. Tais emendas possibilitavam ao

Executivo declarar comoção intestina grave, o equivalente a estado de guerra; declarar perda

de patente ou posto ao oficial envolvido em movimento subversivo e o equivalente poderia

ser aplicado ao funcionário civil encontrado nesta mesma situação.53 Porém, mesmo na

clandestinidade a organização cresceu e se mobilizou na tentativa de derrubar Vargas.

Planejada para ser iniciada dentro dos quartéis, a revolução tão esperada eclodiu em

novembro de 1935. Como não houve coordenação entre os diversos núcleos comunistas ela

iniciou em dias diferentes: 23 em Natal e Recife e 27 no Rio de Janeiro. Em Pernambuco o

golpe fracassou, embora no Rio Grande do Norte tenha durado um pouco mais, com a

instalação de um governo revolucionário que se manteve por três dias.

Na capital federal, conseguiram a sublevação da Escola de Aviação no Campo dos

Afonsos e do Terceiro Regimento de Infantaria na Praia Vermelha. Em todo o episódio,

porém, a tão esperada adesão maciça, limitou-se a uma participação popular e algumas

iniciativas isoladas. Desta maneira, os rebeldes acabaram também se rendendo após intensos

combates. Fracassava o movimento conhecido como Intentona Comunista. Na avaliação do

52 VIANNA, op. cit., p. 83. 53 Tais emendas possibilitavam ao Executivo declarar comoção intestina grave, equivalente a estado de guerra; declarar perda de patente ou posto ao oficial envolvido em movimento subversivo e o equivalente poderia ser aplicado ao funcionário civil encontrado nesta mesma situação. PASNDOLFI & GRYNSZPAN, op. cit., p.14.

28

próprio PCB, movimento foi derrotado porque “o país não tinha chegado ao ponto

culminante de madureza revolucionária”.54

Refutando hipóteses que ligam o movimento às ordens de Moscou, Vianna mostra que

os levantes devem ser atribuídos à insatisfação que reinava nos meios políticos e, em especial,

entre os militares. A autora ressalta o fator surpresa presente no movimento em Natal,

determinado por questões políticas locais e agitações de quartel. No Recife, foi o secretariado

do Nordeste que desencadeou a quartelada sem ter clareza do que ocorria em Natal.

Enquanto isso, no Rio de Janeiro, onde a presença dos comunistas era mais forte, a

direção do PCB e o grupo da Internacional Comunista desconheciam por completo o que se

passava no Nordeste, o que, nas palavras da autora, demonstrava a desarticulação do

movimento, o qual não ocorrera nem mesmo por deliberação do próprio PCB. O apoio do

PCB aos levantes do nordeste se daria somente em um segundo momento, por iniciativa de

Prestes, o qual buscaria apoio junto a Moscou.

Para Vianna, a luta desencadeada em 1935 foi a “última manifestação da rebeldia

tenentista”55

, tendo relação direta com a tradição das lutas travadas durante a década anterior.

Neste sentido, tal luta continuava expressando os anseios de classes e camadas da população

que queriam novos caminhos para o país, e este momento foi marcado por significativa

manifestação de militares, tanto aliancistas quanto integralistas, desiludidos com os rumos do

governo constitucional.

Na verdade, o movimento foi pretexto para que o governo desencadeasse violenta

repressão contra todos os participantes e simpatizantes do comunismo, bem com àqueles

apenas suspeitos de simpatizar ou aos inimigos do regime. Diante da demonstração de força e

autonomia do movimento popular o governo se beneficiou do temor dos liberais, conseguindo

que estes recuassem, aprovando uma série de medidas que cerceava seu próprio poder.

Desta maneira, os poderes do Legislativo foram sendo minados progressivamente. As

greves que se sucediam e o crescimento de organizações e mobilizações de massa haviam

possibilitado a aprovação da Lei de segurança Nacional em abril de 1935. Em novembro

deste mesmo ano o levante comunista foi o álibi do governo federal para a decretação do

Estado de Sítio.

54 Avaliação do PCB foi publicada em um suplemento do Jornal “A Classe Operária”, nº 195, RJ:14/12/1935, Apud VIANNA, Op. Cit. p. 99. 55 VIANNA, Op. it. P. 101.

29

Depois de violentamente reprimida e punida a revolta comunista, o Executivo se

encontrava fortalecido e com mais poder de repressão anulou franquias democráticas

presentes na Constituição de 1934, o que demonstrou o claro recuo dos liberais diante da

organização do movimento popular. Perto das eleições de 1937, mesmo com todo poder, e

aparato repressivo, Vargas não havia conseguido os necessário 2/3 do Congresso para a

prorrogação do seu mandato presidencial. A partir de então sua meta passou a ser a

desarticulação dos opositores: as articulações golpistas que redundariam no Estado Novo,

contando apenas com o governador de Minas Gerais, dentre os estados mais fortes.

Num clima de muita repressão a sucessão presidencial tomou conta da cena política.

Três candidatos foram lançados para disputarem as eleições: Armando Sales Oliveira, o

candidato de São Paulo “recebeu o apoio do governador gaúcho Flores da Cunha e de

diversos agrupamentos estaduais oposicionistas”; José Américo de Almeida, representante

dos tenentistas, mas também das forças do Norte/Nordeste, foi apoiado também “por todos os

partidos situacionistas, exceto os de São Paulo e Rio Grande do Sul“; Plínio Salgado, chefe

dos Integralistas, “foi indicado por um grande plebiscito promovido pela AIB” 56

. Estes

últimos haviam de início dado sustentação política ao governo Vargas, sobretudo no combate

ao comunismo.

Mesmo diante da expressividade das forças de oposição, manifestando sua preferência

pela candidatura Armando Sales, e da posição contrária ao continuísmo de Vargas por parte

de muitos situacionistas, seus esforços não conseguiram barrar as manobras golpistas. Desta

maneira, “instalou-se, portanto um processo em que as forças contrárias ao continuísmo,

cedendo constantemente para evitar o pior (...) facilitaram a ação de Vargas, ação esta que

terminaria por se voltar contra aquelas mesmas forças”. 57

Foi esta a conjuntura da aprovação de prorrogação do estado de guerra, em vigor

desde abril de 1936. Apesar da negativa do Congresso, a medida acabou sendo aprovada pela

Câmara dos Deputados, em função da divulgação, pelo governo, do “Plano Cohen”, o qual

revelava uma provável insurreição comunista. Mesmo havendo desconfiança por parte dos

opositores foi esta falácia, junto com o boato de que o Exército fecharia o Congresso caso a

medida não fosse aprovada, instrumentos que serviram aos objetivos golpistas. Desta maneira

Vargas ganhou tempo para buscar apoio no Norte e Nordeste, para cuja missão de adesão ao

56PANDOLFI, Op. Cit. p. 34 57 PANDOLFI & GRYNSZPAN, Op. Cit. p. 21

30

golpe foi enviado o deputado mineiro Negrão de Lima. O sucesso junto aos estados mais

fracos foi imediato.

Os Estados mais fortes acabam cedendo às pressões, visto que as manobras de Vargas

aos poucos, foram garantindo as bases de sustentação ao projeto golpista. Assim, na manhã de

10 de novembro de 1937 foi implementado o Estado Novo, através da imposição de uma nova

Constituição elaborada por Francisco Campos. No dizer de Pandolfi, tal acontecimento era,

“um dos resultados possíveis das lutas e enfrentamentos diversos travados durante a incerta

e tumultuada década de 1930.58

Para a articulação deste projeto de radicalização do centralismo autoritário foi

importante a aproximação entre Vargas e os Militares, a qual teve início em meados de 1936.

Porém, através do que foi acima exposto, torna-se notório que a ambiência política dos anos

1930, consubstanciada na carência de propostas democráticas ou de projetos com bases

verdadeiramente liberais, contribuiu para o fechamento do regime em novembro de 1937.

Durante todo o período Vargas que precedeu o golpe de 1937 a resistência ao projeto

de centralismo e autoritarismo político foi uma constante em todo o país. A ação de Vargas,

porém, se desenvolveu no sentido de “desarticular os obstáculos que se interpunham em seu

caminho, quer fossem oriundos da oposição, quer da própria situação”.59

Neste sentido, ressaltamos como força decisiva para a vitória deste projeto político

centralista e autoritário a acomodação das forças regionais aos interesses do dirigismo político

central. Para tal estratégia Vargas contou com administrações estaduais encabeçadas por

homens de confiança, entre os quais figurava Manoel Ribas, “o fiel obreiro e executor dos

seguros planos com que o Presidente Vargas norteia os rumos da causa pública”.60

Mas

desta figura pública e do governo paranaense durante os tumultuados anos 1930 trataremos no

capítulo seguinte.

58 PANDOLFI, op. cit., p. 35. 59 PANDOLFI & GRYNSZPAN, op. cit., p. 21. 60 DAGOSTIM, Maristela Wessler. O imaginário político paranaense na “era Vargas”: uma reflexão sobre o

interventor Manoel Ribas, o fiel obreiro. Texto apresentado no 14º Evento de Iniciação Científica da UFPR: Outubro de 2006.

31

CAPÍTULO 2: O GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ NOS TUMULTUADOS

ANOS 1930

As principais fontes utilizadas para a construção deste capítulo foram as Mensagens do

Governador à Assembléia Legislativa, o Relatório de Governo apresentado ao Presidente

Getúlio Vargas em 1939 e o Diário Oficial. As Mensagens são dirigidas a um fórum

eminentemente político, onde se encontravam os representantes do povo com os quais Manoel

Ribas iria governar. O relatório de Governo revela o esforço de relatar as atividades do

governo e, ao mesmo tempo, imprimir-lhes uma lógica, um sentido que as reunisse. São,

portanto, documentos a partir dos quais é possível perceber o discurso do poder sobre as

práticas gerenciais do campo político correspondente.

Em outubro de 1930 representava a situação dominante no Paraná uma arregimentação

política denominada Coligação Republicana, Partido que havia dominado a cena política nos

últimos 15 anos da Primeira República. Affonso Camargo, o Presidente de Estado deposto

sem resistência em outubro de 1930, e Caetano Munhoz da Rocha, prócer do antigo Partido

Republicano do Paraná, formavam a dobradinha que se revezou na Presidência do Estado a

partir de 1917, quando o primeiro substituiu Carlos Cavalcante no poder Executivo do Estado.

O Paraná foi um Estado que contribuiu de maneira decisiva para a vitória do

movimento insurrecional deflagrado em 3 de outubro de 1930 no Rio Grande do Sul. No dia 5

de outubro Curitiba foi tomada pelo comandante das forças revolucionárias no Estado, com a

adesão de vários setores estratégicos da força militar. Além do grande apoio de forças

militares federais sediadas no estado, por sua rota ferroviária ficou garantido o deslocamento

logístico e militar das tropas gaúchas.61

Desta maneira, o Estado contribuiu para que prevalecesse a periferia rebelde, ao

contrário do desfecho dos movimentos de ruptura política do século passado – a revolta

Farroupilha de 1838 e a Revolução Federalista de 1894 – nos quais as forças legalistas foram

vitoriosas. Um mês após o início da sublevação, no dia 3 de novembro, uma junta militar

passa o poder a Getúlio Vargas. “De imediato o Congresso Nacional e as assembléias

estaduais e municipais foram fechados, os governadores de estado depostos e a Constituição

de 1891 revogada. Vargas passou a governar através de decretos-lei”. 62

61OLIVEIRA, Ricardo Costa de (1997). Notas sobre a política paranaense no período de 1930 a 1945, p. 48. In

Revista de Sociologia e Política, nº 9, UFPR: 1997. 62 PANDOLFI, op. cit., p. 17.

32

A importância da participação do Estado do Paraná no desenrolar deste movimento

que culminou na ascensão de Getúlio Vargas ao Governo Provisório, pode ser aferida também

pela autoridade do Comandante das forças Revolucionárias no Paraná, em nomear e indicar os

governadores provisórios do Paraná e Santa Catarina, respectivamente. Neste sentido, em 5 de

Outubro de 1930, praticamente um mês antes da deposição de Washington Luiz, o Major

Plínio Alves Monteiro Tourinho já havia nomeado governador provisório do Paraná o seu

próprio irmão, o General Mario Alves Tourinho.63

O novo Governador-tenentista Provisório do Paraná era então um militar que já havia

servido no Cerco da Lapa, na Campanha do Contestado, e na perseguição aos revoltosos de

1924 em São Paulo.64 A vitória deste movimento político/militar provocou, de início, uma

abertura no modo de recrutamento das elites políticas, representando assim uma militarização

dos cargos públicos.

Neste sentido, muitos outros militares ingressaram na política, como foi o caso do

Coronel Joaquim Pereira de Macedo, Prefeito Revolucionário de Curitiba e Deputado

Estadual em 1935 pelo PSN - Partido Social Nacionalista. As primeiras medidas tomadas por

decreto imediatamente atestam a esperada reorganização dos quadros políticos, mas, também

demonstram a tentativa de compressão de despesas num momento de crise também

econômica.

O primeiro decreto do governo estadual provisório unificava as três secretarias de

estado sob o antigo nome de Secretaria Geral do Estado. Este decreto na verdade anulava a

Lei nº 2.502, de 25 de fevereiro de 1928, a qual havia desdobrado tal Secretaria em três:

Secretaria de Estado de Interior, Justiça e Instrução Públicas; Secretaria de Estado de

Fazenda, Indústrias e Comércio, e Secretaria de Estado de Agricultura, Viação e Obras

Públicas. Nesta mesma data foi nomeado pelo decreto de nº 2 o Secretário Geral do Estado,

Dr. João Ribeiro de Macedo Filho.65

Além das exonerações para substituições de nomes em cargos de destaque político,

muitos outros auxiliares do governo foram dispensados por medidas de economia. Isto foi o

63 OLIVEIRA (1997), op. cit., p. 49. 64 Inserido no contexto da Revolução Federalista, também iniciada no Rio Grande do Sul, o Cerco da Lapa, cidade paranaense, foi o nome com o qual o episódio foi constituído como marco histórico. Foi o confronto armado entre as tropas federalistas, contrárias à política centralizadora do Marechal Floriano e as tropas republicanas legalistas por este enviadas, pelas quais o Gal. Mário Tourinho havia combatido. Para ver mais sobre o assunto: CARNEIRO, David. O Cerco da Lapa e seus heróis. Rio de Janeiro: Ravaro, 1934; PEREIRA, L. F. Paranismo: o Paraná inventado: cultura e imaginário no Paraná da Primeira República. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1997; PESAVENTO, S. J. A Revolução Federalista. São Paulo: Brasiliense, 1983. 65 DIÁRIO OFICIAL, 14 de Outubro de 1930, p. 1 -2.

33

que se alegou no decreto de nº 94, de 13 de Outubro de 1930, pelo qual foram demitidos os

auxiliares da Diretoria Geral de Saúde. Seu Diretor, Dr. Alceu Ferreira já havia sido nomeado

em 6 de Outubro de 1930.66 Ainda no mês de dezembro deste mesmo ano a Secretaria Geral

do Estado foi desdobrada novamente em duas secretarias: Secretaria dos Negócios da Fazenda

e Indústrias e Secretaria dos Negócios do Interior e Obras Públicas.

Seus secretários foram respectivamente: Antônio Augusto de Carvalho Chaves,

político antigo e Presidente do Comitê Central da Reação Republicana, o qual foi também

eleito Deputado Estadual pelo Partido Social Democrático em outubro de 1935; e João David

Pernetta, engenheiro civil e político antigo do Partido Republicano, o qual na última

dissidência deste extinto partido havia rompido com a situação dominante.

Contudo, apesar de sua origem e da ligação por laços de parentesco a famílias

tradicionais do Paraná, o interventor revolucionário não conseguiu atender a todas as

ambições exaltadas neste momento de reorganização dos quadros políticos. Enfrentando forte

oposição política, inclusive dos setores militares, o General Mário Alves Tourinho renunciou

no dia 29 de dezembro de 1931. Assim a administração da Interventoria Estadual foi

substituída provisoriamente por João David Pernetta, seu Secretário do Interior e Obras

Públicas, e também tradicional político da Primeira República, até 31 de janeiro de 1932.

O Sistema de Interventorias foi acionado após a vitória dos “revolucionários” de 1930,

como mecanismo político-institucional. Pelo Código dos Interventores, nome dado ao

decreto nº 20.340, de agosto de 1931, Getúlio Vargas visava, sobretudo, regulamentar o

controle por ele exercido sobre as interventorias estaduais.

Desta maneira, através deste sistema era estabelecido um poderoso instrumento de

controle do poder central sobre a política local. No Paraná, como em muitos outros estados, o

primeiro momento de nomeação dos interventores, a maioria militares subordinados

diretamente a Getúlio Vargas e sem ligações políticas locais provocou crises, as quais seriam

amainadas com concessões às forças locais.67

Segundo Campello de Souza, “as crises estaduais do período deviam-se quase

sempre, (...) à imposição de interventores demasiado desconhecidos da política local, que

não puderam ou quiseram estabelecer com ela um razoável modus vivendi (grifo da autora)68.

66 DIÁRIO OFICIAL, 14 E ? de Outubro de 1930, p. 2. 67PANDOLFI, Dulce Chaves. Os anos 1930: as incertezas do regime. In FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília, A. M.(Orgs). O Brasil Republicano: O tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. (vol. 2) Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 68

SOUZA(1976), Maria do Carmo Campello de Estados e Partidos Políticos no Brasil (1930 a 1964), p. 88.

34

Foi este o contexto no qual o primeiro interventor do Paraná não se sustentou no poder e foi

substituído por Manoel Ribas, aparentemente um indivíduo bem vindo entre seus pares, visto

que descendia de famílias históricas do Paraná. O novo interventor federal assumiu a

Interventoria em 31 de janeiro de 1932, permanecendo no poder pelos treze anos que se

seguiram até a deposição de Vargas em fins de 1945.

Pressupomos, todavia, que a nomeação dos Interventores, peças chave desse processo

centralizador e autoritário em seus primeiros passos, não transcorreu sem problemas em parte

alguma. Focos permanentes de crise política pululavam o país devido, em parte ao ostracismo

a que foram relegados muitos membros de tradicionais forças políticas locais, as quais

entraram logo em choque com as novas autoridades constituídas, mas também devido ao

abuso de poder destas mesmas autoridades recém instituídas.

Administrar a ambição de inúmeros políticos em dominar ou manter a dominação da

nova máquina administrativa que ia se montando, era tarefa que demandava energias no

sentido de confrontar, desarticular e até mesmo compor com as situações dominantes. No

dizer de Ricardo Costa de Oliveira a nomeação do novo interventor, “conseguia reunir a

confiança de Vargas e o apoio de importantes setores das classes dominante e trabalhadoras

do Paraná.” 69

Manoel Ribas descendia das famílias históricas do Paraná, base social da classe

dominante do Estado em sua formação. Pertencia, também ao “núcleo duro, o centro de

gravidade da classe dominante do Paraná.” 70

, um reduzido grupo que contava com três

troncos genealógicos dentre as sete grandes formações genealógicas das quais emergiu o

poder político do Estado em sua formação. Embora fizesse parte da elite campeira, Manoel

Ribas era também representante dessa classe política dominante cujos herdeiros políticos de

1930 até o final do século XX ainda sairão de suas fileiras. 71

Este mesmo ambiente propício à acomodação do novo interventor e de sua aceitação

pode ser percebido também nas páginas do livro Manoel Ribas, o mito que ficou.72 Mario

Marcondes de Albuquerque, o memorialista que produziu esta biografia elogiosa de Manoel

Ribas, nos permite conferir a ligação por laços de parentesco do novo interventor com nomes

69, OLIVEIRA (1997), op. cit., p. 49. 70 OLIVEIRA, Ricardo Costa de (2001) O Silêncio dos vencedores: genealogia, classe dominante e estado no

Paraná, p. 269. Curitiba: Moinho do Verbo, 2001. 71 Como é o caso também dos governadores Bento Munhoz da Rocha Neto, Ney Braga e Pedro Viriato Parigot de Souza, pertencentes a um dos três troncos genealógicos centrais , segundo análise de OLIVEIRA (2001), op.

cit., p. 269. 72 ALBUQUERQUE, Mario Marcondes de. Manoel Ribas o Mito que ficou, p. 20-23. s. ed. 1994.

35

de importantes famílias da tradição política paranaense. Estes nomes também foram

colocados em destaque por Oliveira73, e são eles: Lupion, Rocha, Fontana, Macedo, Hauer,

Erichsen, Lacerda, Maciel, Oliveira Franco, entre outros.

Com certeza foi fácil a verificação destes laços de parentesco nos nomes de

personagens políticas importantes neste período. Porém, não é difícil perceber também que,

de um modo geral, alguns destes nomes estão presentes na composição das três tendências

políticas que neste momento estão disputando o poder.

É o caso do nome Macedo, por exemplo: o prefeito deposto, era Joaquim Pereira de

Macedo, prócer do Partido Social Nacionalista, e se elegeu Deputado pelo Partido Social

Nacionalista em 1934; a União Republicana Paranaense, agremiação partidária que reunia

personagens importantes do extinto Partido Republicano Paranaense, elegeu dois Macedo: o

Deputado Laertes de Macedo Munhoz, e o Deputado Carlos Ribeiro de Macedo; o Deputado

Oscar Borges de Macedo Ribas elegeu-se Deputado pelo Partido Social Democrático, o

partido do Interventor.

Para entendermos a importância da trajetória política de Manoel Ribas diante das

exigências da conjuntura histórica que ora analisamos, necessitamos pensar sua trajetória

social de vida. Não pretendemos neste trabalho registrar todo o conjunto das posições

simultaneamente ocupadas por um indivíduo biológico socialmente instituído, o que Bourdieu

denomina superfície social.

Neste sentido, interessa-nos perceber “o conjunto das relações objetivas que uniram o

agente considerado ao conjunto de outros agentes envolvidos no mesmo campo e

confrontados com o mesmo espaço dos possíveis” 74

. O que não podemos fazer sem antes

extrapolarmos as balizas temporais já estabelecidas.

Manoel Ribas descendia das famílias históricas do Paraná. Seu bisavô materno, o

Capitão Manoel Gonçalves Guimarães, além de militar era dono de muitas terras e

personagem de destaque na ocupação da região. Sua progênie paterna não era diferente: o

Brigadeiro Manoel Ferreira Ribas, além de militar e dono de muitas terras foi também

tropeiro, Diretor Geral dos Índios e deputado provincial.

Nascido em Ponta Grossa, no dia 6 de março de 1873, Manoel Ribas foi o primogênito

dos dez filhos do casamento do Comendador Augusto Lustoza de Andrade Ribas. Deputado

73 OLIVEIRA, Ricardo Costa de (2004). Notas sobre a política paranaense no período de 1930 a 1945, p. 20. 74 BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica, p. 190. In: FERREIRA; AMADO (orgs.). Usos e abusos da

história oral. Rio de Janeiro: FGV, 1996.

36

de prestígio em Ponta Grossa, seu pai casara-se com dona Pureza da Conceição Branco de

Carvalho, a qual também pertencia à família de importância histórica.75

Fez seus preparatórios escolares em Castro, no mesmo colégio pelo qual passou Rocha

Pombo, o prestigiado intelectual paranaense. Para continuar seus estudos deveria seguir para

Curitiba, mas como conta seu biógrafo, Manoel Ribas pertencia a uma família numerosa e

sem muitos recursos visto que as muitas terras àquela época tornaram-se num “patrimônio de

pouca conversibilidade”. 76

De fato, a História do Paraná aponta este período como um momento de

“desagregação da sociedade tradicional” 77. Este era um período no qual o Brasil passava

por transformações relacionadas às mudanças no regime de trabalho, ocasionada pela pressão

externa pela extinção do tráfico escravo.

Segundo Magnus Roberto de Mello Pereira, a demanda por braço cativo pela

cafeicultura paulista em fraca expansão, num período de declínio econômico dos Campos

Gerais tornou atraente o preço de revenda de mão-de-obra escrava, o que estimulou “a

transferência de uma grande parcela de escravos para São Paulo, alterando o panorama

demográfico paranaense”. 78

Ademais, no contexto de recente emancipação política da Província, 1853, ocupar o

território com imigrantes estrangeiros era uma questão política atrelada também às novas

idéias de modernidade e progresso. Neste sentido, a política imigratória como projeto das

elites brancas, estava “destinada a tonificar o organismo nacional abastardo por vícios de

origem e pelo contato que teve com a escravidão”. 79

Na década de 1870, em especial na administração de Lamenha Lins, um dos

Presidentes de Província que mais se empenhou em povoar os vazios, foram desenvolvidos

programas oficiais de assentamentos de imigrantes. No parecer desta citada administração,

com o apoio do governo os imigrantes, além ocupar a vasta região dos campos da província,

poderiam aproveitar as terras férteis da região para a produção da agricultura de subsistência.

75 ALBUQURQUE, op. cit., p. 19-20. 76 ALBUQUERQUE, op. cit., p. 24. 77BALHANA, Altiva Pilati, MACHADO, Brasil Pinheiro, WESTPHALEN, Cecília Maria. História do Paraná,

p. 153. Curitiba: Editora Grafipar, 1969. 78PEREIRA, Magnus Roberto de Mello. Semeando iras rumo ao progresso. Ordenamento jurídico e econômico

da sociedade paranaense, 1829-1889, p. 57-58. Curitiba: Editora da UFPR, 1996. 79Conforme Relatório do Presidente de Província Miranda Ribeiro 1888:26, citado por NADALIN, Sérgio Odilon. Paraná: ocupação do território, população e migrações, p. 72. Curitiba: SEED, 2001.

37

No dizer de Lamenha Lins, citado por Balhana, Pinheiro Machado e Westphalen, era

necessário a vinda de colonos morigerados, “conhecedores de processos mais acabados, e

habituados ao uso de instrumentos mais vantajosos ao maneio e cultura das terras, (...) cuja

prodigiosa fertilidade abrange todo o gênero de produção agrícola”.80

Segundo apontavam os Presidentes de Província, a economia da região dos “campos

gerais”, atual município de Ponta Grossa, encontrava-se por este período em estado de

decadência. Nesta administração citada acima, o apoio do governo provincial para dinamizar

a economia se deu no sentido de demarcar os lotes e contribuir financeiramente com o

transporte de imigrantes.81

Nesta conjuntura de declínio econômico dos Campos Gerais Manoel Ribas nasceu e

permaneceu até os 24 anos. Ali se casou com Zenilda Fonseca, e também “desempenhou

atividades junto ao setor ferroviário, pendor que o iria encaminhar para o Rio Grande do

Sul, em circunstâncias sempre ligadas a esse ramo e em conjunto com a criação de gado,

desempenhando ele próprio o serviço de tropeiro”.82

Em 1897, ele muda-se para o Rio Grande do Sul a convite de seu cunhado Gustave

Vauthier, o engenheiro belga e diretor da empresa concessionária das ferrovias rio-

grandenses. Em Santa Maria Manoel Ribas trabalhou primeiramente como “distribuidor de

mantimentos aos turmeiros”. 83

Foi também diretor do armazém de fornecimento de

mantimentos aos funcionários, de uma espécie de associação mútua que antecedeu a

Cooperativa dos Funcionários da Viação Férrea de Santa Maria, fundada em 1913.

Nesta cooperativa, da qual foi um dos fundadores, Manoel Ribas desempenhou a

função de gerente até 1920, e daí em diante foi seu diretor geral, tornado-se mais tarde, no

dizer de seu biógrafo, “um expert em cooperativismo”.84 Foi também o criador da Escola

Técnica de Artes e Ofícios para os filhos dos ferroviários, além de um Hospital da

Cooperativa.

Segundo Márcio Alex Biavaschi, Manoel Ribas, enquanto diretor da Cooperativa de

Consumo dos Ferroviários destacou-se como “elemento ferroviário aliançado à política

dominante perrepista santa-mariense”.85 Para ele “convergiam os coronéis que pretendiam

80 BALHANA et al, op. cit., p. 162. 81 BALHANA et al, Op. Cit, p. 177- 181. 82 ALBUQUERQUE, Op. Cit., p. 24. 83 ALBUQUERQUE, Op. Cit., p. 25. 84 ALBUQUERQUE, Op. Cit., p. 25. 85 BIAVASCHI, Márcio Alex Cordeiro (2003). A árvore e a floresta: uma contribuição metodológica de Pierre

Bourdieu acerca da História Regional, p. 129

38

ter o apoio do eleitorado ferroviário” grupo de pressão que além de representar um entrave

ao controle local por parte do PRR – Partido Republicano Rio-Grandense, “servia como

constante ponto de atrito entre os coronéis locais”.86

Na condição de representante do eleitorado ferroviário, sua liderança e capacidade de

arregimentar grande número de eleitores foram bastante prestigiadas por Borges de Medeiros,

chefe político perrepista rio-grandense. Em 1926, em meio ao escândalo político que

desencadeou o processo de cassação de um Intendente santa-mariense, Manoel Ribas faz parte

da comissão executiva do Partido Republicano Rio-Grandense de Santa Maria, cuja instalação

pretendeu e consegui desprestigiar uma facção do PRR local, que não interessava ao borgismo

naquele momento.

Como nos mostra Biavaschi, “a escolha dos membros que compuseram esta comissão

baseou-se na posição social e na capacidade de liderança dos indivíduos (...), preocupados

em manter seus postos de prestígio a nível local”. 87

Em 1927 Manoel Ribas foi eleito para o

cargo de intendente municipal e em 1930 foi “nomeado o primeiro prefeito municipal de

Santa Maria, cargo que ocupou até 1932, quando foi nomeado interventor do estado do

Paraná”.88

A partir de 23 de Janeiro de 1932, quando foi nomeado Interventor Federal do Estado

do Paraná, até o fim do primeiro governo Vargas, Manoel Ribas permaneceu à frente da

administração do Governo do Estado. O relato de sua gestão de governo, cobrindo o primeiro

período interventorial e o período constitucional, objeto de nossa pesquisa, pode ser conferido

no Relatório de Governo datado de março de 1939. Assinado já no retorno do período de

discricionarismo político, tal documento traduziu o esforço de relatar as atividades do

governo, e, ao mesmo tempo, dar sentido ao encaminhamento político destas.

Para o período de retorno ao regime constitucional, quando em Maio de 1935 foi

instalada a 1ª Legislatura da Segunda República, podemos contar também com duas

Mensagens do Governador à Assembléia Legislativa. Tais documentos são dirigidos a um

fórum eminentemente político, qual seja, os representantes do povo com os quais Manoel

Ribas governou.

Para além da exposição dos atos de sua administração, podemos perceber nelas o

esforço do executivo para um bom relacionamento entre este e o legislativo. São, portanto,

86 Idem. 87 BIAVASCHI, Márcio Cordeiro (2005). Escândalos políticos, borgismo e coronelismo em Santa Maria, p.27. 88 BIAVASCHI (2003), Op. Cit., p. 130.

39

documentos a partir dos quais foi possível conhecer o discurso do poder sobre as práticas

gerenciais do campo político correspondente.

Conforme foi registrado no Relatório de Governo acima citado, Manoel Ribas foi alvo

da confiança de Getúlio Vargas, porém iria “exercer o alto e espinhoso cargo de Interventor

Federal” num momento em que “a situação econômica e financeira do Estado era de

verdadeira insolvência”.89 Além da crise política que com sua indicação Getúlio Vargas

tentava controlar, o novo interventor enfrentaria a grave crise financeira pela qual passava o

Estado. Seu plano de governo foi pautado por políticas públicas que visaram primeiramente

“por em ordem o caos financeiro e promover o ressurgimento das forças elaboradoras de

riqueza”.90

Neste sentido, pudemos perceber em todos os documentos oficiais o discurso acerca de

uma obra construtora de riquezas para o Paraná como fio condutor das principais orientações

políticas da administração Manoel Ribas deste período aqui. Para esta obra construtora era

imperativo seguir à risca as diretivas político administrativas do governo federal, pois, no dizer

do Interventor, dele provinha a “assistência moral e material”.91

Do governo Federal também vinha a orientação para a constituição de um Conselho

Consultivo, órgão previsto no Código dos Interventores em meados de 1931, e instituído no

Estado em dezembro do mesmo ano. A todos que haviam tomado ali assento o governador

eleito agradecia a “maneira desinteressada e patriotica com que se dignaram a servir os altos

designios do Estado”. 92

Muitos dos auxiliares do governo Ribas passaram primeiro por este cargo, ou ocuparam

cargos políticos importantes antes de 1930, o que, no nosso entender, denota a mesma política

de Vargas, a qual procurou “acomodar as forças regionais aos interesses de planejamento e

dirigismo político e econômico da política no plano nacional”.93 Neste sentido, não

concordamos com o parecer de Pinheiro Machado94 ao falar de uma elite política local frágil

em fazer valer seus projetos.

Se um dos problemas principais a serem enfrentados pelo governo federal era o cuidado

com o crédito do país, no plano estadual não era diferente. As dívidas internas e externas do 89 PARANÁ (1940), Governo: Relatório de Governo 1932- 1939, apresentado ao Governo Federal em março de 1940, p. 3. 90 Ibidem. 91 Ibidem. 92 PARANÁ (1935), Mensagem. Op. Cit., p. 21. 93 MAGALHÃES, Marion. Brepohl de. Paraná Política e Governo, p. 48. Curitiba: SEED, 2001. 94 PINHEIRO MACHADO, Brasil. Sobre a Política Paranaense, p. 5-24. In: IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Curitiba, 1989.

40

Estado eram enormes. O serviço de pagamento de juros e resgates de apólices estava suspenso

juntamente com as demais obrigações do Tesouro e o pagamento do funcionalismo público

estava atrasado em 9 meses.95 Esta situação de colapso financeiro foi certamente agravada

pelos efeitos catastróficos, de alcance mundial, provocados pela quebra da bolsa de Nova

Iorque em 1929.

Por outro lado, a economia do Estado, baseada principalmente na extração de madeira e

na extração e indústria da erva mate, passava por grandes dificuldades. A produção ervateira,

que desde o período colonial representava importante papel econômico, passara por diversas

crises provocadas pela crescente oferta do produto no mercado exterior pelos produtores da

região do Prata. A indústria da madeira, além de enfrentar dificuldades no mercado interno,

geradas por questões fiscais, sofria também a concorrência externa.

Em fins da década de 1920, a pouco diversificada economia paranaense sofria também

as conseqüências de um precário aparato infra-estrutural, elementos estes que determinaram

um retrocesso econômico.96 Com o colapso econômico veio a conseqüente queda das

arrecadações e o empobrecimento do Estado enquanto máquina administrativa. No contexto da

Primeira República, salientava o Relatório, a prática usual era a dos empréstimos para cobrir

déficits financeiros, os quais na verdade cresceram ainda mais devido as onerosas obrigações

impostas.

Desta maneira, apesar das agitações políticas de 1932, e do ano eleitoral em 1933 e

1934, como visto no capítulo 1 desta pesquisa, nos primeiros anos de interventoria o governo

estadual procurou “Intensificar por todos os meios a lavoura e a pecuaria”, o que no seu

dizer, é o mesmo que “conduzir o Estado á sua grandeza”. 97

. Assim, sem descuidar das

culturas já estabelecidas, cogitava o, agora já Governador, “ampliar todas as demais

[culturas], quer fazendo distribuição de sementes, quer decretando medidas indispensaveis ao

seu desenvolvimento”98

.

Até o ano de 1936 o Estado vinha trabalhando com uma verba orçamentária baixa. A

partir daí a política econômica da gestão Ribas procurou incentivar a iniciativa privada através

95 Segundo consta no Relatório de Governo, p. 5, em 1932 havia ainda em circulação 12. 853.870 francos, dos empréstimos contraídos em 1905, 1913, 1917, conhecidos como empréstimos franceses, cujo valor em circulação em fins de 1939 caiu para 12.292.275 francos. Em 1932 estavam circulando também 951.500 libras e 4.642.000 dólares dos empréstimos contraídos em 1928, cujos valores em 1939 foram reduzido para 569.100 libras e 3.026.000 dólares. As dívidas, interna e externa, eram de 124.432:280$317 e 82.608:713$310 contos respectivamente (Relatório de Governo 1932-1939, p.3). 96 PADIS, P. C. A formação de uma economia periférica: o caso do Paraná, p. 75. São Paulo: Hucitec,1981. 97 PARANÁ (1935), Governo: Mensagem do Governador à Assembléia Legislativa, p. 31. 98 PARANÁ (1935), Mensagem. Op. Cit., p. 31-32.

41

do fomento à agricultura e à pecuária. Para tanto foi instituído pelo Departamento da

Agricultura um Registro Geral de Lavradores e Criadores99, através do qual eram distribuídos

os recursos.

Dentro da política cooperativista da época, a venda ou empréstimo de máquinas e

equipamentos, a distribuição de sementes e outros elementos necessários para a promoção do

tão almejado desenvolvimento de um parque industrial, privilegiava os inscritos no referido

Registro. As medidas de fomento à produção vegetal trouxeram resultados satisfatórios às

várias culturas. Assim, podemos perceber pelo relatório que nos exercício de 1931 a 1933

ainda predominou a erva-mate como principal fonte de riqueza, produto que foi daí para frente

perdendo espaço para uma economia que ia se diversificando a partir da madeira, café, gado,

algodão, trazendo o esperado crescimento das receitas.

Em meados de março de 1932 o cooperativismo era representado na Gazeta do Povo,

reproduzindo a fala dos criadores de Guarapuava, dos plantadores de café no nordeste, dos

plantadores de banana de Morretes, dos madeireiros e outros setores da economia que

buscavam cooperativar-se, como o meio de ligar diretamente produtores e consumidores. A

união cooperativa iria “defender a produção, diminuir despesas, melhorar o preço (...)” e

Manoel Ribas era, no dizer destes que se intitulavam como “classes trabalhadoras do

Paraná”, o governo que “se revelou de energia, de lealdade, de objetivos práticos para salvar

o Paraná”.100

O cooperativismo, para o qual o novo interventor se mostrou “compenetrado na

sua missão coordenadora” 101

, significava a organização em moldes modernos das associações

de classes. Seu interesse não era fazer política, mas defender a classe.

Segundo o Relatório, o aumento das receitas que foi se tornado realidade no governo

estadual a partir então, não era resultado de majoração de impostos, muito pelo contrário, em

abril de 1932 o interventor já havia nivelado com os outros estados as taxas fiscais de

exportação, atendendo assim à antiga aspiração dos ervateiros. Também não era devido apenas

ao incentivo à produção.

Concorria para este sucesso a revisão do sistema tributário e uma eficiente fiscalização

da arrecadação de rendas, que neste período contou com cursos para habilitação de

funcionários. Neste sentido, pôde ser percebida, através das fontes, uma racionalização

99 PARANÁ (1940), Relatório. Op. Cit., p. 32. 100 GAZETA DO POVO, Curitiba, 17 de Março de 1932, p. 1. 101 GAZETA DO POVO, Curitiba, 30 de Março de 1932, p. 1.

42

burocrático/administrativa que além da austeridade orçamentária contou também com a

demissão de muitos funcionários.

Parece que esta tarefa para Manoel Ribas não foi difícil, visto que, a partir de 1930

foram sendo implementadas inúmeras mudanças na administração pública brasileira, como a

exigência de padronização e fiscalização do horário de trabalho e o ingresso no serviço público

por concurso. A carga horária do funcionário público foi mudada no início de 1932, de 4 horas

para 7 horas diárias, distribuídas em dois turnos, o que suscitou muitas manifestações de

desagrado e também outras sugestões.102

Sobre as reivindicações de fusão deste horário em 6 horas corridas, Manoel Ribas só se

manifestou no ano de eleição dos Deputados que em seguida o elegeriam Governador

Constitucional. Desta maneira, prometia através do jornal a Gazeta do Povo, estudar o

estabelecimento de um novo horário, sendo a favor de uma possível fusão, desde que não

prejudicasse a administração pública.103 Tal caso foi resolvido por portaria da interventoria

fixando o horário nos sábados, das 08h30min às 12h00min, e durante a semana das 12h00min

às 18h00min. 104

O discricionarismo do governo no que diz respeito às demissões de funcionários

públicos foi reclamado em várias ocasiões neste período estudado. Já em março de 1932 foi

realizada na sede da Organização dos Advogados do Estado uma reunião para tratar da

reintegração dos funcionários públicos demitidos a partir de outubro de 1930. Com respeito às

admissões mediante concurso público, com certeza neste momento também se fez exceções, e

a nomeação de funcionário sem concurso, dependendo dos interesses que estivessem por trás

da contratação continuou sendo praticada.105

Uma questão importante para prover o Estado de uma infra-estrutura necessária ao

futuro desenvolvimento econômico do Estado foi a questão viária. De início foi posto em

prática um plano rodoviário de urgência, o qual consistiu primeiramente na reforma e

aparelhamento da antiga rede rodoviária.

Mas também foram construídas novas estradas de primeira classe, as quais foram

articuladas no plano viário organizado em seguida. Consta deste período o início da

construção da famosa Estrada do Cerne, interligando a capital com o norte pioneiro. A

prioridade era ligar a capital do Estado e os portos de mar aos principais centros produtores.

102 GAZETA DO POVO, Curitiba, 18 de Fevereiro de 1932, p. 1. 103 GAZETA DO POVO, Curitiba, 19 de Julho de 1934, p. 1. 104 GAZETA DO POVO, Curitiba, 28 de julho de 1934, p. 1. 105 GAZETA DO POVO, Curituba, 24 de Março de 1935, p. 2.

43

Neste sentido, o Relatório pedia também a continuidade na ampliação da rede de

estrada de ferro. Segundo o exposto, a estrada de Ferro São Paulo/Rio Grande do Sul, “cobria

uma região de dimensões quase insignificantes do território do Estado, não tendo assim

finalidades de grande vulto”.106 Além disso, a via férrea não tinha sido construída para atender

os interesses do Paraná, por isso as regiões mais importantes economicamente não haviam sido

contempladas. Mas com a construção do ramal do Paranapanema, pelo governo federal e da

linha-tronco Ourinhos/Guaíra, pelo governo do estadual, “um largo passo na viação férrea

estadoal” 107

já havia sido dado.

O aparelhamento do Porto de Paranaguá foi outra questão importante para a

administração Ribas, de cujo Relatório percebe-se que as obras de aparelhamento portuário

vão sendo executadas ao longo do período aqui privilegiado. Sendo o atendimento portuário

precário, foi firmado o primeiro contrato para a execução de novas obras em 1933, o qual foi

concluído em 1934. Porém em 1935 o movimento do Porto já havia aumentado pedindo assim

novas benfeitorias, as quais foram imediatamente atacadas pelo Governo do Estado.

É interessante notar que pela Fiscalização das obras, como rezava a cláusula 26ª do

contrato com a Cia Christiani & Nielsen, o Estado pôde negociar com a referida companhia

materiais existentes no Almoxarifado, adquirindo também daquela empresa outros materiais.108

Estas e outras medidas atendiam não apenas aos antigos anseios do empresariado paranaense,

contemplavam também as expectativas de um governante necessitado do aumento da

arrecadação num momento de grandes tensões políticas e transformações econômicas e sociais

geradoras de novas necessidades.

No tocante a Educação, questão também essencial do governo Vargas, a prioridade foi

dada ao ensino profissional. Desta maneira, haviam sido construídas, ou estavam em fase de

acabamento, neste período 8 escolas de trabalhadores rurais. As Escolas de Trabalhadores

Rurais localizaram-se: 2 em Curitiba, 2 em Paranaguá e as demais nos municípios de Castro,

Palmeira, Ponta Grossa e Rio Negro. Porém muitos outros edifícios escolares foram

construídos visto que, “excluindo-se alguns prédios de real valor em Curitiba, Ponta Grossa e

Paranaguá, nada mais havia em todo o vasto território do Estado”.109

Conforme consta na Mensagem do Governador à Assembléia Legislativa, as novas

escolas eram criadas, dentro das possibilidades orçamentárias, em atendimento a demanda

106 PARANÁ (1940), Relatório, op. cit., p. 12. 107 PARANÁ (1940), Relatório, op. cit., p. 12. 108PARANÁ (1935), Mensagem. Op. Cit., p. 25. 109 PARANÁ (1940), Relatório. Op. Cit., p. 8.

44

gerada pelo aumento da população infantil. Sob a orientação de Gaspar Duarte Velloso,

Diretor da Inspetoria Geral de Instrução Pública, todas as escolas primárias eram providas do

material e professores necessários, e no ano de 1935 foi criado o cargo de Instrutor de Cultura

Physica110 dos estabelecimentos de ensino. Para a fiscalização da subvenção às escolas

federais foi designado o Inspetor José Augusto Gomy. Foi também neste período que foi

construído o prédio da Escola de Aprendizes Artífices, hoje Universidade Tecnológica Federal

do Paraná.

Foram construídas também “Colônias Correcionais, para a reclusão de jovens

delinqüentes”.111

No dizer do governo Ribas, o problema com a infância desprotegida que

vinha sendo enfrentado desde 1935, podia ser resolvido de forma “racional e proveitosa para

nossa economia” 112

. Desta maneira as diversas escolas de trabalhadores rurais ofereciam,

além do ensino prático, o curso primário, e depois transferiam seus alunos para a Escola de

Trabalhadores Rurais Dr. Carlos Cavalcanti em Curitiba, onde estes receberiam o ensino

profissional, o qual visava a “a formação de um Auxiliar Prático de Agrônomo, com

conhecimentos gerais em agricultura e pecuária”.113

A preferência na matrícula era dada aos órfãos e aos menores desamparados pelos pais,

podendo também aceitar matriculas de filhos de lavradores, dependendo dos recursos dos

mesmos. A Escola Agronômica do Paraná, além de ter aumentada a subvenção, recebeu do

governo uma granja modelo para a ministração da parte prática de seus cursos. Tratava-se da

Granja do Canguiri, local onde eram realizados, entre outros, estudos sobre as possibilidades

de desenvolvimento de novas culturas.

É interessante notar que o ensino agrícola era defendido como base da educação de

crianças do interior. Neste sentido, o engenheiro civil Souza Mello Júnior, fazendo referência

aos estudos de Alberto Torres sobre a índole do povo brasileiro, critica um edital da

interventoria sobre a obrigatoriedade do ensino primário.

Diz o artigo, que deveria ser colocado de lado o “espírito de liberdade que tanto mal

causa na campanha educacional”. Tal reclame, reproduzido na Gazeta do Povo, dizia respeito

ao fato de que se espalhavam pelo interior do Estado escolas primárias, as quais tinham,

segundo o reclamante, professores de “pequena cultura”.114 Delas os alunos saíam meio

110 PARANÁ (1935), Mensagem. Op. Cit., p. 20. 111 PARANÁ (1935), Mensagem. Op. Cit., p.20. 112 PARANÁ (1940), Relatório. Op. Cit., p. 39. 113 Id. 114 Id.

45

alfabetizados e sem conhecimento agrícola. Para o articulista, “a educação natural das

crianças, principalmente a do interior, é o primeiro passo na organização racional para

garantir o futuro” (grifo nosso). 115 Parece claro que para este indivíduo educação deveria

continuar sendo instrumento de discriminação social.

Acreditamos que tais políticas educacionais devem ser compreendidas como uma

leitura singular do movimento educacional de caráter renovador que acontecia na primeira

metade da década de 1930. Levada a cabo pelo governo estadual, as políticas educacionais

parecem estar marcadas por uma idéia em voga neste período, qual seja, a pretensão de ser o

Estado do Paraná o celeiro do Brasil.

O movimento que ficou conhecido como Manifesto dos Pioneiros da educação nova de

1932 116

, foi sintetizado na obra redigida neste mesmo ano por Fernando Azevedo, o

intelectual da educação que encabeçava o movimento. Entre seus 26 signatários figuravam

personalidades de vulto, tais como Anísio Teixeira, Cecília Meireles, entre outros.

Consagrando-se na defesa formal da democratização escolar, o texto apontava também

a necessidade de combater o empirismo dominante. Para tanto, deveria ser criado, através de

planos político-sociais que entrelaçassem reformas econômicas e educacionais, um programa

educacional à altura das necessidades modernas e das necessidades do país.

Sob a ótica destes intelectuais, a educação era um instrumento de reconstrução da

democracia, visto que possibilitava a integração dos diversos grupos sociais. Nesse sentido, o

manifesto defendia também uma escola única e comum, a qual não deveria ignorar as

características regionais de cada comunidade, mas também não deveria servir a interesses de

classe nem privilegiar uma minoria economicamente diferenciada.

Conferindo visibilidade às contradições do processo de escolarização no Brasil e

estimulando o debate em torno da democratização do acesso à educação, o documento

defendia a educação como uma função essencialmente pública, cujo ideal deveria ser

profundamente humano, de solidariedade e cooperação. Não é necessário, depois do acima

exposto, tratarmos dos desvios do ideário da educação nova no Paraná, as políticas

educacionais por si falam.

115 GAZETA DO POVO, Curitiba, 01 de Maio de 1934, p. 2. 116Para estas informações foram acessados os sites educabrasil, e CPDOC-FGV disponíveis em http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp, acessado em 10 de setembro de 2008, e http://www.cpdoc.fgv.br/nav_jk/htm/o_brasil_de_jk/Manifesto_dos_pioneiros_da_educacao.asp, acessado em 10 de setembro de 2008, respectivamente.

46

Mas é necessário apontar a opinião de intelectuais paranistas a respeito dos internatos

que eram as escolas rurais, para entendermos o grau de articulação entre atores sociais

importante e os projetos da administração pública deste período. No dizer de Romário Martins

“o Sr. Manoel Ribas, pela sua penetrante visão de administrador, e com sua comprovada e

inteligente audácia construtiva procura resolver agora mesmo o problema demográfico,

nacionalista e econômico (...), é a revolução, no sentido cívico e cultural do termo” 117

Outra questão premente da gestão Ribas foi o tratamento dado a colonização. Em 1932

o Estado cumpria apenas o papel de fiscal no que diz respeito à colonização, cujos serviços

estavam sendo totalmente administrado por companhias particulares. Com exceção da

Companhia Brasileira de Viação e Comércio, cuja concessão já havia caducado pelo decreto

nº. 300, de novembro de 1930, as demais companhias e colonizadores ainda estavam

administrando as terras devolutas do Estado. Em meados de 1934 outras concessões foram

declaradas caducas, o que fez reverter ao Estado mais de dois milhões e trezentos mil hectares

de terras.

Permaneceu no serviço de colonização por contrato com o Estado apenas a

“Companhia de Terras Norte do Paraná e o Engenheiro Francisco Gutierrez Beltrão, os

quais localizaram entre 1932 e 1939, mais de cinco mil famílias”.118

Segundo o Relatório, o

trabalho de colonização realizado diretamente pelo governo já havia localizado mais de oito

mil famílias de agricultores nas colônias organizadas nos municípios de Londrina, Tibagi,

Paranaguá, Guarapuava, Reserva, Morretes, Clevelândia, Palmas, entre outros. Desta maneira

o Estado implementava, mais especificamente a partir de 1939, uma nova política agrária de

colonização fundiária, o que veremos com mais vagar na nossa próxima pesquisa.

No que concerne às políticas industrializantes o destaque é o empreendimento da

Indústria Klabim, de papel e celulose, a qual começou a construir um impressionante parque

industrial que em 1934 chamava a atenção da população com o movimento de transporte do

maquinário. As terras da fazenda Monte Alegre, onde estava sendo instalada a ndústria, foram

adquiridas do Estado, por intermédio do Banco do Estado do Paraná.

No mês de dezembro deste mesmo ano, em meio à campanha política para a eleição

indireta para o governo do estado, as cláusulas do contrato com o Estado foram colocadas sob

suspeita. Mas em manchete do periódico Gazeta do Povo a Klabim se dizia surpresa com a

117 GAZETA DO POVO, 28 de novembro de 1934, p. 6. 118 PARANÁ (1940), Relatório, op. cit., p. 23.

47

celeuma e se prontificava a rever o contrato aceitando as ditas “propostas mais vantajosas

para o Estado”119

, se elas existissem.

É interessante notar as reflexões afetas ao trabalhador, geradas no contexto do mês de

Maio deste mesmo, o ano eleitoral de 1934. Frederico Faria de Oliveira, o futuro Deputado do

partido do interventor, transcreve trechos do manifesto do Partido dos Proletários, o qual diz

que “a desorganização social assenta-se na desigualdade imperativa da exploração do

homem pelo próprio homem” 120

, e apela para que se possam transpor “as barreiras que

impedem a investida das vanguardas proletárias nas conquistas das reinvidicações

sociais”.121

Comentando a organização da primeira concentração em praça pública do Partido

Proletário, diz o articulista que estes estavam tocados pelo desejo de servir a coletividade. O

que Frederico traduzia para os trabalhadores como “não fazer o jogo dos aventureiros e

demagogos, cujo objetivo é turvar as águas para que a pescaria se desenvolva no melhor dos

mundos”. 122

Tal partido, segundo Frederico, se apresentava “com um colorido vermelho das

reivindicações”, mas dentro da ordem. Os proletários, no dizer do articulista, deveriam reagir

“contra os elementos que os exploram em nome de falsas conquistas utópicas”. Deveriam

também, em nome de um “trabalhismo patriotico”, manter sua tendência, a qual sempre

convergiu para o equilíbrio construtivo do espírito de cooperação, dizendo não aos

“pescadores de águas turvas”, os quais tentam disseminar idéias vãs. A proposta do articulista

para o Partido era a de “tomar as formas que a oportunidade da ação recomendar”.123

Questão crucial para o entendimento de Manoel Ribas com a elite política local foi o

“aproveitamento dos moços”. Seu quadro de auxiliares administrativos, bem como a

arregimentação partidária por ele organizada, contou com uma renovação dos quadros

políticos. Não em termos de posição social, pois nos quadros políticos ainda figuravam

indivíduos ilustres por sua posição social e econômica. Contudo no quadro do Partido Social

Democrático figuravam novos nomes para a política paranaense e também mais novos em

idade.

119 GAZETA DO POVO, Curitiba, 19 de dezembro de 1934, p. 1. 120 GAZETA DO POVO, Curitiba, 01 de Maio de 1934, p. 1. 121 Idem. 122 Idem. 123 Idem.

48

Dentre os vinte Deputados Estaduais eleitos em 1934 pelo Partido Social Democrático,

apenas dois eram veteranos na política paranaense. Antônio Augusto Carvalho Chaves era

bacharel em direito e havia sido anteriormente Deputado Estadual na legislatura 1906 -1907, e

Deputado Federal na legislatura 1903 -1914. Havia também ocupado cargo importante no

período revolucionário como Secretário da Fazenda entre 1930 e 1931, e era também

comerciante.124

Outro veterano da política paranaense era Caio Gracho Machado de Lima. Ele era

irmão de Antônio Jorge Machado Lima, fundador do Jornal A Tarde, e um dos representantes

do Paraná eleito pelo PSD em 1933 para a Assembléia Nacional Constituinte. Ambos eram

filhos de Vicente Machado, um importante político paranaense. Caio estudara Ciência

Política em Paris e havia sido Deputado Estadual nas legislaturas de 1908 -1909 e 1929 -

1930. Em 1930 se encontrava na dissidência do Partido Republicano do Paraná. Ele foi

também jornalista e diretor do jornal O Dia.

Quatro dos Deputados eleitos pelo PSD em 1934 eram tenentistas revolucionários: os

militares do Exército: Major Djalma Rocha Al Chueyr, articulador revolucionário em 1930 e

vinculado à Aliança Nacional Libertadora; o Tenente Agostinho Pereira Alves, participante

do levante de 1922 e de 1930 e o Tenente Raul Gomes Pereira, participantes do movimento

político militar de 1930 e 1932, ao lado de Vargas125. Ovande Ferreira do Amaral era

tenentista civil e participou da Aliança Liberal no Sul do Estado e também do movimento de

1930.126

Pudemos perceber que além das profissões de advogado e médico, praxe comum na

escolha dos selecionáveis para o cargo político até então, havia neste momento a presença

grande de militares, industriais, comerciantes e jornalistas. O que denota que o processo de

recrutamento para a arena política estava em processo de transformação, mas também aponta,

principalmente, para uma bem pensada e articulada arregimentação política por parte de

Manoel Ribas, o qual em janeiro de 1933 havia convocado “todos os moderados que apóiam

o governo provisório”127

, para a organização de um novo Partido.

Este foi, em linhas gerais, o encaminhamento da administração política de Manoel

Ribas, e suas principais políticas públicas encabeçadas neste primeiro momento da

administração. Como interventor ele administrou o Estado de janeiro de 1932 até janeiro de

124 OLIVEIRA (1997), Op. Cit., p. 51. 125 OLIVEIRA (1997), Op. Cit., p. 52. 126 Idem. 127 GAZETA DO POVO, Curitiba, 07 de Janeiro de 1933, p. 1

49

1935. Como Governador Constitucional, eleito pelos Deputados que compunham a

Assembléia Legislativa do Paraná, ele permaneceu até novembro de 1937.

Quando do golpe de Estado Novo voltou a funcionar o sistema de interventorias.

Manoel Ribas continuou no cargo de Interventor, mas este é um período para posterior

pesquisa. Seu maior mérito, no sentido de contribuir para o estabelecimento de um sistema de

relações político/sociais deveu-se ao fato de ter articulado uma nova e estratégica

arregimentação política, no interior da qual havia os elementos-chave responsáveis por sua

positiva representação. Mas disto trataremos no capítulo seguinte.

50

CAPÍTULO 3: A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA FIGURA PÚBLICA DE MANOEL

RIBAS

O que prevalecia no Paraná da Primeira República era o “relacionamento de um grupo

oligárquico visivelmente parental, desaparecendo qualquer traço de partido”.128 Como

mostra Samuel Guimarães da Costa, Carlos Cavalcanti era cunhado de Caetano Munhoz da

Rocha, que era sogro de Affonso Alves de Camargo, que era ... Segundo Ricardo Oliveira, o

que se revelou com o perfil das novas autoridades constituídas a partir de outubro de 1930, na

verdade, foi “a continuidade de tradicionais grupos e famílias no poder”. 129

Desta maneira, o imbricamento do nome Ribas numa rede de parentesco aponta, sem

sombra de dúvidas, para um padrão de continuidade dos grupos tradicionais da classe

dominante no poder local. Contudo, tal fato não é elucidativo da sua continuidade no poder,

nem da vitória do projeto centralizador e autoritário nas eleições de 1934, visto que este

mesmo padrão social pode ser observado nos outros dois projetos que disputaram

efetivamente o controle da máquina estatal.

Partimos do pressuposto de que a implementação do Sistema de Interventorias, o qual

foi aperfeiçoado no Estado Novo, fez parte de uma determinada proposta de modernização do

Estado enquanto máquina administrativa, e da própria sociedade brasileira como um todo.

Mesmo que não podemos dizer que havia um projeto de antemão definido, como sinalizam

alguns autores aqui consultados, é impossível deixar despercebido um movimento crescente

em direção ao escancarado autoritarismo do Estado Novo.

No Estado do Paraná, cuja inserção político/econômica no cenário nacional era ainda

bastante tímida, este processo também se desenvolveu em meio a marchas e contramarchas

políticas que colocaram em jogo uma luta travada no campo da representação. Tal embate,

evidenciado pelos jornais, explicitou os meios pelos quais uma determinada concepção de

mundo, de valores e comportamentos, funcionou como signo de afirmação de um grupo neste

espaço social.

Vimos naqueles testemunhos que apontam a continuidade do padrão social, certa

cumplicidade e conivência da elite política local com as novas diretrizes impostas. Porém,

noutro depoimento a respeito da nomeação de Manoel Ribas e sua acomodação no cenário

128 COSTA, Samuel Guimarães da. História da Assembléia Legislativa , p. 281. Curitiba: Editora da Assembléia Legislativa do Paraná, 1994. 129 OLIVEIRA (1997), Op. Cit., p. 49.

51

político paranaense, pesa o fato de que não houve necessidade do estabelecimento de alianças

entre as elites políticas locais e o novo interventor. Foi este o parecer de Brasil Pinheiro

Machado, um dos Deputados Estaduais eleitos pelo PSD– Partido Social democrático em

1934. Segundo Pinheiro Machado a indicação de Manoel Ribas alcançou sucesso, por um

lado, pelo fato de que este rapidamente conquistou a liderança política, e, por outro lado, pela

fragilidade dos grupos políticos em imporem seus projetos locais. 130

Para além destas questões que podem ser apreendidas através da bibliografia, existem

outros aspectos deste momento histórico que merecem nossa atenção. Optamos então pelo uso

da fonte jornalística por nos permitir conhecer através das representações ali registradas, não

apenas os embates travados em meio a tal disputa pelo controle do poder no Estado, mas a

visão de mundo destes agentes nela envolvidos. Para a construção dos conhecimentos deste

capítulo os documentos fonte foram, principalmente, os vários exemplares do periódico

Gazeta do Povo já citado anteriormente.

Nestes documentos estivemos atentos às representações sociais do poder que foram ali

reproduzidas visto que estas, como nos mostra Jodelet, concorrem para “a construção de uma

realidade comum a um grupo social”.131

Ao mesmo tempo em que as representações provem

de universos reificados, vindos de diferentes papéis ou categorias sociais, elas são a matéria

prima para a construção de realidades consensuais. É, pois, esta construção de uma realidade

consensual que possibilitou a ação comum entre Manoel Ribas e demais atores sociais

importantes nesta pesquisa que procuramos observar nas fontes.

O periódico O Cruzeiro foi utilizado apenas através da citação de outro autor, por nos

informar acerca da representação desta figura pública no momento de sua entrada na cena

política do Paraná. Pensamos tais documentos como instrumentos de conhecimento e

construção do mundo objetivo, através de seus jornalistas colocados “entre o universo dos

senhores e dos dominados”.132

Neste sentido, como “correias de transmissão de uma cultura, de um saber” 133

, os

jornalistas desempenharam papel importante como construtores dos fatos que veicularam nas

páginas dos jornais. Os bens de significados colocados em circulação através destes veículos

de comunicação nos permitem conhecer também sua visão de mundo.

130 PINHEIRO MACHADO, Brasil Pinheiro. Sobre a Política Paranaense, p. 5-24. In: IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Curitiba, 1989, citado por MAGALHÃES, Marion. Brepohl de. Paraná Política e Governo, p. 48. Curitiba: SEED, 2001. 131 JODELET, op. cit., p. 22. 132 VOVELLE, Michel. Ideologias e mentalidade, p. 216. São Paulo: Brasiliense, 1 991. 133 Idem.

52

A função que os jornalistas desempenharam, portanto, contribuiu para a transmissão e

cristalização do imaginário daqueles aos quais representavam. Ao desenharem os contornos

da representação social de Manoel Ribas se mostraram verdadeiros locutores políticos,

reproduzindo, adaptando, e transformando bens de significado de acordo com as exigências

do momento. Buscamos observar através da leitura das fontes, a produção, circulação e o

consumo de bens de significado utilizados quando da representação da figura pública de

Manoel Ribas.

Tais bens de significado fazem parte de uma “estrutura complexa de designação, de

integração de significante, de valores, um código coletivo e interiorizado "134

. Pertencem ao

arsenal de designações implicados na vida coletiva como um todo. Porém, sua evocação na

legitimação de objetivos, na ampliação dos valores propostos à ação comum, como nos

mostra Pierre Ansart, faz parte de um trabalho ideológico.

O verdadeiro locutor político, no dizer de Ansart, é aquele que melhor manipula estes

bens de significados, ora reproduzindo formas, ora transformando-as de acordo com a

situação. Um trabalho que vem sendo produzido e acumulado ao longo do tempo, e cuja

investigação pode levar a um novo questionamento da idéia de consenso político, “com

demasiada freqüência confundida com a dominação política em razão da negligência com

que se encaram as suas condições produtivas”.135

Nossa leitura esteve atenta às aparições públicas de Manoel Ribas, aos comentários

sobre sua administração e outros assuntos correlatos que foram noticiados. Interessou-nos o

tratamento que se lhes era dispensado e os bens de significados colocados em operação

quando da representação que fizeram do poder. Dados estes que puderam contribuir para

nossa tentativa de interpretação tanto da representação que o jornal fez desta figura pública

em questão, como da relação desta representação com o cenário político local.

No processo de comunicação social estabelecido no seio da sociedade por meio do

jornal, de caráter indireto e mediato, os jornalistas mobilizam um conjunto de conceitos,

afirmações e explicações que são as representações sociais. Para tais conceitos e explicações

contribuíram julgamentos valorativos vindos de fontes e experiências diversas, e no dizer de

Moscovici, devem ser consideradas como verdadeiras teorias do senso comum.

Consistindo assim numa forma de conhecimento cuja finalidade é atender às

necessidades de interpretar e mesmo construir as realidades sociais, ele é continuamente

134 ANSART, Op. Cit., p. 21. 135 ANSART, Op. Cit., p. 1.

53

acionado. Há, no dizer de Moscivici, “uma necessidade contínua de re-construir o “senso

comum” ou a forma de compreensão que cria o substrato das imagens e sentidos, sem a qual

nenhuma coletividade pode operar”. 136

Nesse sentido, podemos dizer que o nosso periódico-fonte, enquanto categoria, é

portador de uma espécie de “senso comum” sobre a variedade dos assuntos e objetos sociais

ali veiculados. As representações, material com o qual os fatos ou fenômenos sociais são

construídos enquanto tal, e veiculados no periódico, são constituídas como objetos de

conhecimento psicossocial.

Conseqüentemente elas não devem ser reduzidas a um evento intra-individual,

tampouco devem ser diluídas como forma de um pensamento social. Elas estão embasadas no

contexto e na própria vivência dos sujeitos nelas envolvidos. No dizer de Jodelet, as

representações sociais são “uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada,

tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um

conjunto social”. 137

Segundo Moscovici, as representações sociais se estruturam a partir de duas faces

pouco dissociáveis, a face figurativa e a simbólica. Ou seja, são construídas a partir de dois

processos básicos: “objetivação e ancoragem, ambas (...) transformam o não familiar em

familiar”138

. Pelo processo da objetivação somos capazes de dar uma forma específica ao

conhecimento acerca de determinado objeto, podemos atribuir palavras e significações às

coisas. De modo geral, o processo de objetivação tira conceitos e imagens para juntá-los e

“(...) reproduzi-los no mundo exterior para fazer as coisas conhecidas a partir do que já é

conhecido [...]”.139

O processo de ancoragem “transforma algo estranho e perturbador, que nos intriga,

em nosso sistema particular de categorias e o compara com um paradigma de uma categoria

que nós pensamos ser apropriada” 140. Desta maneira o sujeito pode transferir novas idéias

para o seu contexto familiar, e, baseando-se em conhecimentos prévios pode classificar e

nomear o que lhe está sendo apresentado.

136

MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social, p.48. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2003. 137 JODELET, op. cit., p. 22. 138 MOSCOVICI, op. cit., p. 61. 139 MOSCOVICI, op. cit., p.78. 140 MOSCOVICI, op. cit., p. 61.

54

No dizer de Moscovici, pelo processo de objetivação e ancoragem, informações novas

são integradas e transformadas em um conjunto de conhecimentos estabelecidos numa rede de

significados socialmente disponíveis para interpretar um objeto. Sejam estes objetos idéias,

pessoas, acontecimentos, relações, etc. A partir deste momento o objeto passa a ser

reincorporado na qualidade de categorias, as quais orientarão novas integrações, compreensão

e ação.

No contexto político paranaense, as representações sociais da figura pública de

Manoel Ribas foram capazes de proporcionar várias imagens, idéias, crenças, atitudes,

valores, relacionadas à prática política, aos objetivos políticos, dentre outros. Elas oferecem a

possibilidade de compreender o processo de construção social da realidade em questão. Nesse

sentido, as representações sociais criadas podem ocultar ou mesmo elaborar imagens de uma

realidade objetiva. E porque são compartilhadas, elas também podem proporcionar

estabilidade entre os membros de um grupo.

Neste sentido, nossa fonte jornalística nos permitiu ressaltarmos três momentos

simbólicos distintos, importantes para a construção da representação da figura pública de

Manoel Ribas no Paraná: o primeiro momento, quando “prudência e fortaleza” são

qualidades invocadas em um paranaense, para que no cumprimento dos ideais revolucionários

“o morbo da política, doença maléfica (...) não venha transtornar as melhores intenções” 141;

um segundo e mais rico momento de sua representação, quando da campanha política para o

pleito eleitoral outubro de 1934; e por fim, o momento do retorno ao regime constitucional

quando as dissidências no interior do próprio partido do interventor ameaçam a harmonia

conquistada até então. As vicissitudes deste momento político parecem exigir então um

esforço maior na produção dessas representações.

No momento de sua entrada na cena política do Estado a indicação de Manoel Ribas

foi acompanhada no Cruzeiro, o qual fazia menção ao seu passado histórico de “homem de

ação e empreendimento... administrador seguro... que soube impor-se por suas realizações

como prefeito Municipal na cidade de Santa Maria”. 142

Vale ressaltar também o acento dado

pelo periódico ao seu “propósito altruístico em favor dos proletários”.143 Em seu discurso

durante o almoço em sua homenagem, como ressaltou o periódico, mostrou o novo

141 O CRUZEIRO, Curitiba, 01de janeiro de 1932, apud LIMA: 1997 p.26. 142O CRUZEIRO, Curitiba, 13 de janeiro de 1932, apud LIMA: 1997 p. 26. 143 O CRUZEIRO, Curitiba, 20 de janeiro de 1932, apud LIMA: 1997 p. 28.

55

interventor paranaense que se empenharia na solução do problema que o proletário do Paraná

enfrentava.

Solucionar estes problemas, no dizer do interventor, começava com a organização

destes em cooperativas, mas prometia também o “melhoramento gradativo das condições dos

seus lares, o auxilio para proporcionar aos seus filhos, em estabelecimentos apropriados,

educação profissional gratuita e tudo que atender ás legítimas aspirações sociais dos

proletários”. 144

Tal discurso, proferido no Rio de Janeiro e reproduzido em periódico local,

descrevia Manoel Ribas como aquele que viria cooperar “para a solução, nos moldes

cristãos, do problema operário tão em evidência” 145

Pudemos perceber que, com exceção do artigo do Cruzeiro, a disposição local desses

construtores de fatos se mostrou um tanto tímida no momento da nomeação do novo

interventor. Uma resistência que foi em breve vencida, quando as primeiras ações do governo

inspiraram a “boa impressão e confiança” 146

das classes conservadoras representadas pelo

periódico Gazeta do Povo. O periódico comentava, na ocasião, o rebaixamento dos impostos.

Mas a mudança de ânimo dos jornalistas da Gazeta do Povo é mais notória depois de uma

visita do Interventor à sede da Associação Paranaense de Imprensa, onde proferiu uma

palestra para um grupo de jornalistas.147

Creio que somos autorizados a entender que, tanto a portaria baixada pela

interventoria em meados de fevereiro de 1932, dando liberdade de ingresso no Palácio aos

jornalistas, 148 quanto a já mencionada palestra de Manoel Ribas na Associação Paranaense de

Imprensa, em abril do mesmo ano, contribuíram para uma maior aproximação entre o

interventor e a mídia local. Assim vemos o Diretor da Gazeta do Povo, Acir Guimarães e o

jornalista Frederico Faria de Oliveira ingressando neste momento na política, e elegendo-se

Deputados pelo partido do Interventor em 1934.

Quando da estréia de Manoel Ribas no cenário político paranaense, foram relevantes e

revestiram-se de significado as inúmeras representações que de Manoel Ribas foram sendo

divulgadas no periódico. Foi o interventor representado neste momento como trabalhador e

apolítico. Em entrevista dada ao correspondente da Gazeta do Povo no Rio de Janeiro,

144 Idem. 145 O CRUZEIRO, Curitiba, 20 de janeiro de 1932, apud LIMA, op. cit., p. 28. 146 GAZETA DO POVO, Curitiba, 30 de abril de 1932, p.1. 147 GAZETA DO POVO, Curitiba, 17 de abril de 1932, p. 1. 148 GAZETA DO POVO, Curitiba, 14 de fevereiro de 1932, p. 1.

56

Manoel Ribas diz que só aceitou o cargo porque não precisava fazer política, vinha para o

Paraná trabalhar.149

Tais afirmações de um “apoliticismo de Manoel Ribas”, que a princípio deixou

“desolado” o redator principal da Gazeta do Povo, Frederico Faria de Oliveira, foi um bem

de significado importante. Ele foi colocado em circulação quando das escolhas dos nomes

para comporem o novo quadro de auxiliares administrativo e no silêncio quanto à política

nacional. Destacava-se seu “apoliticismo”, pela sua distância da “ambiência intolerável do

disse-me- disse tão do agrado de determinadas almas”.150

No andar dos acontecimentos este bem de significado foi adaptado ao propósito de

afastar a figura do interventor da imagem desgastada do político profissional que os

“revolucionários” teoricamente desprezavam, para aproximá-lo da figura do trabalhador.

Quando das reuniões para organização do programa do Partido Social Democrático, se

expressou assim seu locutor político acima mencionado: que a reunião “foi realizada num

ambiente de fé e serena confiança”, que o novo partido “não é núcleo de políticos

profissionais (...), quer trabalhar pelo povo e cumprir o programa revolucionário” 151

Em meio aos embates por reconstitucionalização do país que agitaram o cenário

político nacional, Manoel Ribas mantém-se em silêncio acerca da política. Na sua volta de

viagem da Capital Federal, traz a ajuda material necessária para dar continuidade às obras da

administração paranaense e declara à imprensa não ter tomado “conhecimento dos casos da

política nacional (...) [seu] interesse é no Paraná” o qual pretende “administrar modesta e

honradamente”. 152 Noutros momentos esta questão de ser apolítico, do Sr. Manoel Ribas,

também aparece e pode ser observada no mesmo periódico, quando o redator afirma que

Manoel Ribas se mantém “alheio aos reboliços da politicagem nos cobiçados postos”. 153

Em janeiro de 1933, depois de noticiado pelo jornal Gazeta do Povo uma possível

exoneração de Manoel Ribas, o Conselho Consultivo do Estado foi reorganizado. Tal órgão

foi instituído pelo Código dos Interventores em agosto de 1931, mas havia sido instalado no

Estado apenas em Dezembro deste mesmo ano.154

Entraram para o Conselho nesta ocasião, um dos fundadores do periódico citado, o

advogado e professor da Faculdade de Direito do Paraná, Benjamin Lins de Albuquerque, e o

149 GAZETA DO POVO, Curitiba, 13 de janeiro de 1932, p.1. 150 GAZETA DO POVO, Curitiba, 19, e 17 de abril de 1932, respectivamente p.1 151GAZETA DO POVO, Curitiba, 08 de janeiro de 1933, p. 1 152 GAZETA DO POVO, Curitiba, 19 de março de 1932, p. 1 153 GAZETA DO POVO, Curitiba, 09 de abril de 1932, p. 1. 154 PARANÁ (1935), Mensagem. Op. Cit., p. 21.

57

fundador do Jornal A Tarde, Antônio Jorge Machado Lima.155 Este último havia sido Diretor

Geral do Ensino no período de Mário Tourinho, e além de Conselheiro do Estado foi também

membro fundador do PSD, pelo qual se elegeu Deputado Constituinte em 1933.156

O segundo e mais rico momento de sua representação, ocorreu no período de

campanha política para o pleito eleitoral outubro de 1934. Houve 5 concentrações pessedistas,

sendo que a primeira foi realizada em Ponta Grossa, em junho de 1934, seguida pela

concentração de Jacarezinho, norte do Estado, no mesmo mês. As outras duas ocorreram em

Paranaguá e União da Vitória, nos meses de julho e agosto, respectivamente.

A quinta concentração pessedista foi realizada no município de Jaguariaíva, em

setembro de 1934. Tanto este município, quanto o município de Jacarezinho se localizavam

perto da divisa com o Estado de São Paulo, região por onde escoava a produção paranaense e

as divisas em impostos do Estado. Os necessários ramais da estrada de ferro São Paulo/Rio

grande do Sul estavam em construção e precariedade das estradas de rodagem impedia a

integração destas regiões com o Porto exportador de Paranaguá.

Articulador de uma estratégica arregimentação política, Manoel Ribas atraiu para a

composição do Partido Social Democrático indivíduos importantes para o seu sucesso político

no Estado, como já mostramos. Durante a campanha política de 1934 dentre estes novos

nomes que ingressavam na política muitos concorreram ao Legislativo Estadual, sendo

inclusive os mais votados. Foram estes indivíduos que trataram de “fazer” o nome Ribas

através das páginas do jornal a Gazeta do Povo.

Na condição de Chefe de Partido e, ao mesmo tempo à frente do Executivo Estadual, o

Interventor paranaense foi comparado a um “exímio empinador de pandorgas”. 157

As

pandorgas, no dizer do articulista da Gazeta do Povo e responsável por este epíteto com o qual

caracterizou Manoel Ribas enquanto político eram aqueles indivíduos que ao promoverem a

positiva representação de Manoel Ribas, ao ”fazer” o nome Ribas, “faziam” seus nomes

também. Porém, ao tomar o impulso dos ventos favoráveis, eles não deveriam esquecer que

“se o fio arrebentar era uma vez a glória e o prazer das alturas”. 158

Queria Rodrigo de Freitas advertir os incautos a respeito da habilidade de Manoel

Ribas em controlar seu espaço de ação política. Mas esta analogia é bastante significativa da

relação de simbiose política entre o PSD e Manoel Ribas. Deveriam ser evidenciados nestas

155 GAZETA DO POVO, Curitiba, 05 de janeiro de 1933, p. 1. 156 OLIVEIRA(1997), Op. Cit., p. 50. 157 GAZETA DO POVO, Curitiba, 26 de outubro de 1934, p. 1. 158 Ibid.

58

campanhas pessedistas os candidatos a Deputado Estadual, eleição que ocorreu em outubro

deste mesmo ano. Porém, o que se procurou mostrar em todas as concentrações citadas foi a

administração de Manoel Ribas, quer seja através de seus feitos, quer seja pela proposta de

encaminhamento de administração posterior.

Ao desenhar os contornos da figura pública do interventor, ao fazer sua representação,

esse discurso ligava sempre suas qualidades às questões técnicas importantes como

rebaixamento e nivelamento de impostos, construção de estradas, de escolas, aparelhamento

portuário, entre outras questões que dariam condições ao desenvolvimento das forças

produtoras de riquezas. O que interessou àqueles indivíduos estrategicamente posicionados foi

dar a conhecer o perfil empreendedor de Manoel Ribas, que via no desenvolvimento das

forças produtivas o progresso do Estado, e, conseqüentemente do país.

Para alcançar tal objetivo para o qual foi apresentado como preparado, não pouparia

nem sacrifícios pessoais. Assim vemos seus locutores políticos apresentarem a possível

candidatura de Manoel Ribas ao governo do Estado: “Manoel Ribas há de quebrar a

resistência do seu desejo de deixar o governo e a atividade política em nosso Estado”.159

Segundo o periódico, o impedimento que o fazia cogitar a idéia de deixar o governo dizia

respeito a problemas de saúde provenientes da incompatibilidade com o clima. Porém, diziam

seus locutores políticos, o interventor “fará o sacrifício de prejudicar-se para o bem da

coletividade”. 160

Neste contexto até um nome importante do meio político-intelectual paranaense vemos

figurar no periódico fazendo coro com os políticos, e locutores políticos de plantão. Este

procurou representar Manoel Ribas como “a garantia para a tranqüilidade dos espíritos

desejosos da salvação e progresso do Estado”. 161

Trata-se de um comentário de Romário

Martins, no qual noutro momento faz votos de êxito a Manoel Ribas o “notável

administrador paranaense”.162

A representação que foi veiculada no jornal Gazeta do Povo, colocou Manoel Ribas

em posição privilegiada e à grande distância em relação aos “políticos profissionais”, locução

bastante usada para designar os políticos depostos em 1930. Representado também como o

“administrador mais enérgico, consciente, probo, e criterioso” que o Paraná jamais teve, e

159 GAZETA DO POVO, Curitiba, 08 de agosto de 1934, p. 1. 160 Idem. 161 GAZETA DO POVO, Curitiba, 18 de agosto de 1934, p. 1. 162 GAZETA DO POVO, Curitiba, 13 de outubro de 1934, p. 6.

59

outros tantos adjetivo e superlativos que foram acionados como bens de significado para a

construção de sua figura pública.

Neste sentido, o interventor também foi desenhado no periódico como o salvador do

Paraná, “o nosso messias, o São Manuel”. Tal articulista, dizendo-se não jornalista,

reivindicava para si mais autoridade para propalar tais qualidades e afirmar que, “se todos os

estados tivessem um Manuel Ribas o Brasil seria a maior nação do mundo”.163

Por fim, o momento do retorno ao regime constitucional quando as dissidências no

interior do próprio partido do interventor ameaçam a harmonia conquistada até então. As

vicissitudes do momento político parecem exigir então um esforço maior na produção dessas

representações. Este é o contexto no qual um artigo assinado por Eroni Teixeira Pinto, vai

apresentar Manoel Ribas como “homem do povo (...) o esperado de nossa terra, o messias da

tão decantada terra dos Pinheirais, (...) impregnado pelo só rutilo da operosidade e

franqueza”.164

As ameaças de dissídio partidário enfraqueceriam o PSD no momento da eleição dos

Deputados que elegeriam o novo Governador Constitucional. Frederico comenta neste

momento a falta de harmonia ideológica da Aliança Liberal. Segundo ele “os revoltosos

teriam esquecido de organizar um programa uniforme que consolidasse objetivos e ideais

políticos”165 . No dizer de Frederico, foi a falta de uma pregação que servisse de padrão aos

diversos setores que se articulavam que teria acarretado a confusão que se instalou depois da

vitória dos revoltosos, a qual deu lugar aos “pescadores de águas turvas”166.

Então, temeroso das ameaças de um fortalecimento dos adversários políticos Frederico

faz um apelo contra as intrigas que estavam provocando dissidências no interior de seu

partido. Dizia ele: “O perrepismo não compreende que o povo paranaense forma um pedestal

de corações gratos a revolução que os livrou da turba insana que os ia devorando” 167

A leitura do periódico/fonte, o jornal Gazeta do Povo nos permitiu também dizer que

perseguiu o PSD uma constante ameaça de aliança entre o interventor Manoel Ribas e

Caetano Munhoz da Rocha. Mas lá estava Francisco de Oliveira exprimindo em primeira

página, e compartilhando com os demais leitores suas preocupações, e a de seus futuros

163 GAZETA DO POVO, Curitiba, 03 de agosto de 1934, p. 3. 164 GAZETA DO POVO, Curitiba, 15 de novembro de 1934, p. 3. 165 GAZETA DO POVO, Curitiba, 04 de outubro de 1934, p. 1. 166 Idem 167 GAZETA DO POVO, Curitiba, 04 de outubro de 1934, p. 1.

60

correligionários com “os pruridos de perrepismo” os quais, no dizer do articulista, “são

como apunhaladas no coração”.168

O temor de que o “delegado do Governo Provisório” pactuasse com os “adversários

de ontem”, devia-se, naquele momento, ao fato de que na escolha de seus auxiliares figurava

o nome de Clotário de Macedo Portugal, prócer do extinto Partido Republicano indicado para

ocupar o cargo de Desembargador do Estado. Se as escolhas dos nomes dos auxiliares de

Manoel Ribas são elogiadas, faltava, porém, “a homogeneidade necessária à verdadeira

atuação revolucionária”.169

Este ex-presidente de Estado presidiu a União Republicana do Paraná, coligação que

elegeu 1 Deputado Federal Constituinte em 1933, e, contando com ele, 5 Deputados Estaduais

em 1934. Para os próceres do PSD Munhoz da Rocha representava tudo o que eles diziam ter

deixado para traz. Contudo, no período de vigência do Estado Novo tal político proeminente

ocupará um cargo de importância vital, qual seja, a presidência do Departamento de

Administração do Estado.

A representação do interventor, que ia sendo construída pelo periódico político-

partidário contribuiu para que seu nome alcançasse guarida ao responder aos anseios,

principalmente, da classe dominante e da emergente, imbuídas de um ideário liberalizante, as

quais ansiavam pelo incremento no ritmo de acumulação de capital sem, contudo encontrar

meios para alcançá-lo. Distanciado de tudo o que representava o político profissional e

aproximado de tudo o que representava um administrador eficiente, o nome de Manoel Ribas

foi sendo construído no imaginário político paranaense.

Sua capacidade de liderança também foi importante, pois possibilitou uma

arregimentação partidária de peso: foram eleitos 20 Deputados Estaduais pelo Partido Social

Democrático, somando 22.441 votos, enquanto que os outros dois partidos, União

Republicana Paranaense e o Partido Social Nacionalista elegeram apenas cinco Deputados por

legenda, cuja soma de votos destes dois partidos juntos computou 17.415 votos 170 . Quando

sua administração se achava ameaçada Manoel Ribas não titubeou em trazer para o seu lado

nomes que representavam a “velha ordem” que dizia repudiar, com a qual, como nos mostrou

a bibliografia consultada, esteve profundamente envolvido.171

168GAZETA DO POVO, Curitiba, 17 de abril de 1932, p. 1. 169 GAZETA DO POVO, Curitiba, 11 de fevereiro de 1932, p. 1. 170 ALBUQUERQUE. Op. cit. p. 44 171 BIAVASCHI, Op. Cit., p.29-30.

61

Mas o fortalecimento de seu nome no cenário político local não aconteceu sem a

resistência da classe política, a qual ficou dividida neste momento entre os três Partidos que

elegeram seus representantes para a Assembléia Constituinte Estadual. A União Republicana

Paranaense (URP), partido que reunia os políticos do extinto Partido Republicano,

identificados, pelo periódico mencionado, com tudo o que representava as práticas políticas

de um passado que a “Revolução” deveria extirpar.

O Partido Social Nacionalista (PSN) era uma agremiação política cuja principal figura

era o comandante paranaense das forças revolucionárias de 1930, e reunia a dissidência

varguista. O Partido Social Democrático (PSD), do qual era chefe político o próprio

Interventor, reunia os moderados de 1930. Estes constituíram o fórum eminentemente político

com o qual Manoel Ribas teve que governar quando eleito governador constitucional em

janeiro de 1935.

Evidência desta resistência pode ser constatada no periódico acima mencionado,

através das ameaças de dissidência no interior do próprio PSD. Mas também no acento dado a

necessidade de harmonia entre o poder Executivo e o Legislativo são elementos que apontam

a dificuldade de relacionamento entre os poderes constituídos.

Seu apelo à “cooperação de todos” para que “em completa harmonia de vista possam

ser vencidas as dificuldades que tentam embaraçar o desenvolvimento de nossa terra”, se

repete na Mensagem dirigida à Assembléia reunida em sua Segunda Sessão da Primeira

Legislatura. Lembrava em seu discurso, que da “harmonia sempre mantida entre essa

Assembléia e o Governo (...) indispensável a colaboração que visa atender, com

superioridade de vista, aos desejos da comunhão”(...) resultava também “o realce e o valor

das medidas tomadas, com a vitória dos interesses superiores do Estado sobre paixões

pessoais ou partidárias”172

Seus locutores políticos tinham consciência de seu trabalho ideológico, tanto é que em

meio a acirrada disputa eleitoral entre os candidatos à Presidência da República, em meados

de 1937, Acir Guimarães, Diretor da Gazeta do Povo e também Deputado do PSD, sugere que

a oposição “faça” o nome de Armando Sales, como eles haviam feito o nome de Manoel

Ribas. No dizer do diretor da Gazeta do Povo, a União Democrática Brasileira (UDN), chapa

criada para disputar as eleições presidenciais, estava mais empenhada em ofuscar o nome de

Manoel Ribas do que de fazer o nome de Armando Sales de Oliveira. Tal postura

172 As citações referem-se, respectivamente a Primeira (16.05.35) e a Segunda (01.09.36) Mensagem do Governador à Assembléia Legislativa.

62

demonstrava, segundo Guimarães, o seu temor de que “a fascinação do ‘VOTAR COM

MANOEL RIBAS’ conduza o eleitorado para a vitória da candidatura José Américo”.173

173 GAZETA DO POVO, Curitiba, 08 de julho de 1934, p. 1.

63

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decurso dos últimos governos presenciamos no Brasil um movimento deliberado

por parte dos nossos presidentes e representantes políticos, no sentido de modernização do

aparelho do Estado através de reformas estruturais econômicas, da previdência, e da

administração pública, entre outras. Tais mudanças não mais teriam como objetivo o

fortalecimento do Estado, como nos anos 30, ou o desenvolvimentismo dos anos subseqüentes,

períodos nos quais uma discussão radical sobre modernidade e atraso apontou impositivamente

para um Estado forte, intervencionista e nacionalista, como expressão da almejada

modernidade.

As ditas reformas teriam como foco a acomodação do Estado como regulador,

submetido aos imperativos do mercado internacional. Neste contexto foram definidos novos

parâmetros para modernidade, entre os quais “Estatismo, nacionalismo e intervencionismo,

manifestação de uma fase ultrapassada, seriam estigmatizados e o pólo moderno passaria a

ser representado pela trilogia mercado, livre iniciativa e intercionalismo”.174

Portanto, a partir

dos anos 1980, um movimento pendular de retorno ao Estado necessário se processava no

nível mundial, e esta era a tendência política para o papel a ser desempenhado pelo Estado.

No parecer do Professor de Ciência Política e Administração Pública da Universidade

de Brasília, João Paulo M. Peixoto, essa “busca da racionalidade quanto à adequada dimensão

do Estado encontrar[ia] em políticas públicas pragmáticas uma âncora segura para o desempenho

eficiente de sua tarefa precípua, e razão de sua existência, que é a promoção do bem comum.175

Tais políticas estariam eqüidistantes do fundamentalismo de mercado e do coletivismo

soviético.

Este discurso que invoca racionalidade e pragmatismo em detrimento de ideologia com

certeza não é novo, tampouco sua linguagem está isenta de ideologia. Desde o início do século

dezenove, momento da formulação da linguagem política, tanto o discurso liberal, quanto a

crítica socialista, seu contraponto, revestiam-se do mesmo entusiasmo racionalista. O

pensamento liberal na sua origem já pregava o advento de uma prática racional, que ao fim e

174 DINIZ, Eli. A busca de um novo modelo econômico: padrões alternativos de articulação público/privado,

p.7. 175

Paper integrante do painel “Reformas estruturais: o legado de FHC e os desafios de Lula” – apresentado no VIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administracíon Pública: Statecraft:

o legado do governo Fernando Henrique e os desafios de Lula. Professor João Paulo M. Peixoto Unb. Panamá, 2003.

64

ao cabo, faria declinar, na época, as “alienações religiosas”.176 Os intelectuais socialistas

contrapunham com um socialismo científico, o qual deveria ser instaurado a partir do

conhecimento prático e racional das leis sócio-econômicas. Assim as grandes ideologias

políticas, ambas, reduziram o fenômeno ideológico a um “fenômeno aberrante, que o futuro

eliminaria no triunfo da razão”. 177

Segundo Pierre Ansart, uma e outra ideologia política desconheciam o imaginário

como agente formador do mundo social. “Ignorava-se assim a dimensão essencial de toda a

sociedade política que é a constituição e a renovação de um imaginário coletivo, através do

qual a comunidade aponta a sua identidade, as suas aspirações e as linhas gerais da sua

organização”.178

Neste sentido, entendemos que o sucesso da nomeação de Manoel Ribas como

Interventor federal em Janeiro de 1932, e também como Governador Constitucional em

Janeiro de 1935, não se compreende em função da inexistência de mudanças substantivas em

termos de estrutura de classe. Ou seja, não foi por descender de famílias históricas, ou por

ligar-se em parentesco a um conjunto de nomes de tradição política no Paraná que sua posição

foi estabelecida.

Sua permanência também não se deveu ao respaldo da elite política local. Aliás, esta

mesma elite só não conseguiu impedir sua eleição como governador constitucional, porque o

número de deputados eleitos pelo partido do interventor era o dobro da soma dos deputados

eleitos por seus opositores, o que dificultou tal tentativa. Tampouco sua acomodação no

cenário político paranaense pode ser explicada em termos de uma rápida liderança

conquistada por Manoel Ribas, o que lhe permitiu não estabelecer alianças com a elite

política, “frág[il] em fazer valer seus projetos locais”179

.

O bom êxito desta nomeação tem relação direta com um imaginário político

trabalhado objetivamente neste momento, mas também já sensibilizado pelos mesmos

elementos com os quais esta figura pública foi representada. Se observadas à luz do contexto

histórico dos anos 1930, tornam-se relevantes e revestem-se de significado as inúmeras

representações que de Manoel Ribas foram se divulgando.

Representá-lo como apolítico, em um momento no qual se reclamava por moralidade

na política, produzia um efeito no imaginário dos consumidores destas representações capaz

176ANSART, Pierre. Ideologias, conflitos e poder, p. 11. 177 ANSART, Op. Cit., p.13. 178 Idem. 179 PINHEIRO MACHADO, Brasil. Sobre a política paranaense: entrevistas, p. 5-24.

65

de afastar o interventor, de tudo o que simbolicamente representava a velha ordem. Desta

maneira, ao reproduzirem, adaptarem e/ou transformarem bens de significado implicados na

vida social, os jornalistas desempenharam papel importante no sentido de transmitirem uma

visão de mundo e posicionamento político capaz de mobilizar energias em favor novo

interventor.

Ao refletirem as diferenciações próprias do mundo social como instrumentos de

conhecimento e construção deste mundo objetivo, os jornalistas deram a conhecer a dinâmica

social subjacente ao processo de implantação deste projeto de modernização e construção do

Estado brasileiro que foi se desenhando e estruturando aos poucos.

Entendemos, outrossim, que o sucesso da indicação de Manoel Ribas deveu-se, em

primeiro lugar, a sua incondicional fidelidade ao dirigismo político central de Getúlio Vargas,

para o qual ele foi durante todo o período um homem de confiança, “o fiel obreiro e executor

dos seguros planos com que o Presidente Vargas norteia os rumos da causa pública”.180 Em

segundo lugar, mas não menos importante, nossa investigação aponta o trabalho de locutores

políticos realizado por jornalistas do periódico fonte desta pesquisa.

Alguns destes eram elementos do Partido Social Democrático - PSD, a meticulosa e

estratégica arregimentação política articulada por Manoel Ribas. Foram eles também os

responsáveis pelo sucesso de sua nomeação. Tais elementos se encontravam em posições

estratégicas e desenvolveram um trabalho de suma importância para o desenvolvimento de o

sistema de relações político-sociais que foi estabelecido.

Saber impor-se politicamente por realizações, administrar a coisa pública

honestamente, prometer administrar a questão do proletariado e contribuir técnico-

administrativamente através de sua experiência respondia às questões mais caras que estavam

sendo colocadas neste momento. Podemos dizer também que atendia a reclames de todas as

classes sociais. Não significava, e é bom lembrar, que seu plano de governo - que se traduzia

em acatar fielmente a orientação vinda do Catete - contemplaria estas ainda atuais e justas

reclamações na mesma medida em que estas foram colocadas por outros grupos também

portadores de um projeto político-social neste momento.

O que propusemos observar nesta pesquisa foi o trabalho da linguagem política na

produção, circulação e consumos destes “bens de significado” implicados na vida coletiva

180 DAGOSTIM, Maristela Wessler. O imaginário político paranaense na “era Vargas”: uma reflexão sobre o

interventor Manoel Ribas, o fiel obreiro. Texto apresentado no 14º Evento de Iniciação Científica da UFPR: Outubro de 2006.

66

como um todo. Sua evocação na legitimação de objetivos, na ampliação dos valores propostos

à ação comum, deve ser observada à luz do contexto histórico do qual emerge. Como nos

mostra Pierre Ansart, é um trabalho ideológico que vem sendo produzido e acumulado ao

longo do tempo. Neste momento de reconstrução econômica pelo qual passava não apenas o

Paraná, mas o próprio país, tal discurso deve ser relacionado com os conflitos sociais por

resolver.

No dizer de Ansart, é no imaginário social, como um conjunto de representações

através das quais uma sociedade se designa, fixando simbolicamente suas normas e valores,

que a linguagem política trabalha. Se, por um lado, a criação das justificativas, as

racionalizações, a ampliação de valores propostos à ação comum participavam da necessidade

de atribuir sentido à ação e aos projetos de seus agentes sociais, por outro lado, o sentido

visado neste momento pode também ser compreendido dentro da ideologia reformista 181 cuja

pretensão é a reconciliação das classes.

Para pensarmos nas conseqüências e na relação desta linguagem ideológica que

identificamos nas fontes, nos alerta Ansart182 que o imaginário não pode ser reduzido

simplesmente a linguagem que observa suas próprias leis, ou a instância epifenomenal, ou

ainda a força de dominação imposta a sujeitos alienados. Sua importância prévia na análise da

linguagem ideológica de um período reside justamente na imanência do imaginário nas

praticas sociais, na urgência de um sentido para a realização de atividades comuns a um

determinado grupo ou sociedade.

Nos jornais, instrumentos de conhecimento e construção do mundo objetivo, os

jornalistas desempenham a função de contribuir para a transmissão e cristalização do

imaginário daqueles para os quais se fizeram representantes. Ao sacarem de bens de

significado para veicularem suas representações, podem se mostrar verdadeiros locutores

políticos, reproduzindo, adaptando e transformando bens de significado implicados na vida

social.

Portanto não podemos dissociar os bens de significado colocados em situação, os

quais integram o arsenal de valores que moldam o comportamento social, da ação política do

momento. Neste sentido estamos empregando o conceito de ideologia também como "visão

de mundo" que tem como objetivo assinalar o significado das práticas coletivas e das

representações, bem como o modelo de sociedade. Manoel Ribas e seus locutores políticos

181 ANSART, Op. Cit., p. 38. 182 ANSART, Op. Cit., p. 21-30.

67

não eram ideólogos, mas tinham certa “visão de mundo” marcada pela ideologia reformista de

1930.

No dizer de Ansart, “o ideólogo induz um conjunto de conseqüências simbólicas e

práticas, das quais procura fazer seu inventário” 183

, e o “verdadeiro locutor político” é

aquele que “sabe reproduzir as formas, transformando-as de acordo com as situações”. 184

O momento de finalização deste trabalho de pesquisa coincide com uma crise

financeira cujas proporções, conforme alguns comentaristas beiram à crise mundial de 1929.

Talvez seja este o momento da iminência de uma nova versão do debate em torno do binômio

modernidade/atraso, o qual vinha apontando desde os anos 1980 para o retorno da perspectiva

liberal desaprovadora de tudo quanto naquela conjuntura se dizia moderno. Quiçá esse debate

fosse frutífero no sentido de encontrarmos um caminho que nos levasse a um mundo

verdadeiramente de justiça social, tão continuamente protelado.

183 ANSART, Op. Cit., p. 19. 184 ANSART, Op. Cit., p. 16.

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FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Jornal Gazeta do Povo de Curitiba: 1932 a 1937;

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3 – Memória:

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4 – Entrevista:

PINHEIRO MACHADO, B. Sobre a Política Paranaense. Entrevistas In: IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Curitiba, 1989. 5 – Perfil e repertório biográfico:

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7 – Obras e artigos:

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