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 X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                            p.1         ESCOLA: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS      Resumo Este trabalho, de cunho interpretativo e exploratório, objetivou identificar a estrutura e organização dos elementos constituintes das representações sociais de alunos do último ano do Ensino Fundamental sobre escola, tendo por suporte a Teoria do Núcleo Central, proposta e desenvolvida por JeanClaude Abric. A seleção das escolas (2) teve por critério o de integrarem a rede pública de ensino do município (Londrina–PR) e com pontuações extremas no IDEB2011. Participaram 97 alunos da escola com pontuação inferior (2,7) e 161 da escola com maior pontuação (5,8), respondendo a um questionário sociociodemográfico e a um teste de associação de palavras com o indutor “Escola é...”. Análises prototípicas do corpus das evocações iniciais lematizadas e dessas respostas hierarquizadas foram realizadas, além de análises de similitude do corpus das últimas. Os resultados evidenciaram como elementos do provável núcleo central dessa representação os vocábulos: importante, aprendizagem, futuro, estudo e educação. Embora prontamente evocados, os qualificativos chata e legal para escola, não evidenciaram serem importantes para o grupo, e demonstraram pouca força nessa representação: professor e aluno. A literatura pertinente conduziu as conclusões e desdobramentos dos resultados.   Palavraschave: Representações sociais. Escola. Alunos. Ensino Fundamental. Educação.   Selma Rosa [email protected]   Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin Universidade Estadual de Londrina [email protected]  

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.1 

 

 

 

 

    ESCOLA: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS     

 

Resumo Este  trabalho,  de  cunho  interpretativo  e  exploratório, objetivou  identificar  a  estrutura  e  organização  dos elementos  constituintes  das  representações  sociais  de alunos do último ano do Ensino Fundamental sobre escola, tendo por  suporte a Teoria do Núcleo Central, proposta e desenvolvida por  Jean‐Claude Abric. A  seleção das escolas (2)  teve  por  critério  o  de  integrarem  a  rede  pública  de ensino  do  município  (Londrina–PR)  e  com  pontuações extremas  no  IDEB‐2011.  Participaram  97  alunos  da  escola com  pontuação  inferior  (2,7)  e  161  da  escola  com  maior pontuação  (5,8),  respondendo  a  um  questionário sociociodemográfico e a um teste de associação de palavras com o indutor “Escola é...”. Análises prototípicas do corpus das  evocações  iniciais  lematizadas  e  dessas  respostas hierarquizadas  foram  realizadas,  além  de  análises  de similitude  do  corpus  das  últimas.  Os  resultados evidenciaram  como  elementos do provável núcleo  central dessa  representação  os  vocábulos:  importante, aprendizagem,  futuro,  estudo  e  educação.  Embora prontamente evocados, os qualificativos chata e  legal para escola, não evidenciaram serem  importantes para o grupo, e  demonstraram  pouca  força  nessa  representação: professor  e  aluno.  A  literatura  pertinente  conduziu  as conclusões e desdobramentos dos resultados.   Palavras‐chave: Representações sociais. Escola. Alunos. Ensino Fundamental. Educação.  

 Selma Rosa 

[email protected]   

Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin Universidade Estadual de Londrina 

[email protected] 

 

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 ESCOLA: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS   Selma Rosa ‐ Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.2 

 

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Introdução  

A  compreensão  dos  fenômenos  e  os  sentidos  que  os  indivíduos  atribuem  aos 

objetos,  de  modo  geral,  não  costumam  ser  iguais,  uma  vez  que  suas  relações  se 

distinguem em função do espaço‐tempo de seu pertenciamento e de sua história pessoal. 

Como  se diante de uma  janela,  a posição na qual  se  situa o  indivíduo dirige  seu olhar, 

atenção, valorações e sentimentos para diferentes aspectos do que vê e não foi levado a 

ver no que se configura como realidade para cada grupo. Essa peculiaridade de relações, 

grupais e subjetivas, com o mundo, físico e simbólico, é compartilhada pelos efeitos das 

práticas e da comunicação entre os membros de um grupo. Partilha essa que confere ao 

grupo uma  identidade (TAFANI e HAGUEL, 2009), e restringe a um e não a outro campo 

os fenômenos e significados apreendidos  individualmente em processos sociocognitivos 

(MOLINER  e  RATEAU,  2009),  em  um  esforço  contínuo  de  ajustamento  –  individual  e 

coletivo – a esse mundo.  

A  importância da Teoria das Representações Sociais  justifica‐se por clarear essas 

idiossincrasias, definindo os indivíduos como não passivos ao social, porém nele inscritos, 

assim como para explicar as funções das RS. Jodelet (2001, p. 17) pondera: 

Frente a esse mundo de objetos, pessoas, acontecimentos ou ideias, não somos (apenas) automatismos, nem estamos  isolados num vazio social: partilhamos  esse mundo  com  os  outros,  que  nos  servem  de  apoio,  às vezes de  forma convergente, outras pelo conflito, para compreendê‐lo, administrá‐lo ou enfrentá‐lo. Eis por que as representações são sociais e tão  importantes  na  vida  cotidiana.  Elas  nos  guiam  no  modo  de interpretar  esses  aspectos  de  tomar  decisões  e,  eventualmente, posicionar‐se frente a eles de forma defensiva.   

Alunos, um dos atores principais da escola e para os quais ela foi criada, percebem‐

na de acordo com suas experiências no grupo de seu pertenciamento. Sendo as relações 

de  alunos,  como  sujeitos  dessa  instituição, múltiplas  e  complexas  pelas  problemáticas 

que as caracterizam, ganham relevância as significações que circulam nessa  instituição e 

as que lhes são atribuídas por eles. 

Tais  circunstâncias deflagram  inquietações  cotidianas,  sociais e disciplinares, por 

exemplo,  a  sociólogos  (LAHIRE,  2006;  GIMENO‐SACRISTÁN,  2008),  educadores 

(LIBÂNEO,  2007;  SAVIANI,  2012)  e  psicólogos  (ALVES‐MAZZOTTI,  1994; WITTER,  2007) 

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impelindo  pesquisadores  iniciantes,  lugar  de  onde  o  autor  deste  trabalho  fala,  a 

empreender esforços colaborativos com o coautor a  fim de compreender como alunos 

percebem  a  escola,  cientes  de  que  “Para  a  compreensão  de  uma  dada  realidade  é 

necessário  identificar  as  formas  como  a população que  vive determinadas  conjunturas 

reconhece, explica e elabora essa situação” (OLIVEIRA et al., 2004, p.34). O interesse em 

dar voz ao aluno sobre essa  instituição, em um processo de escuta de seus dizeres pela 

análise de suas RS, trespassou a proposição deste trabalho. O estudo das RS é adequado 

a tal propósito, como explica Alves‐Mazzotti (1994, p.61):  

[...] investiga justamente como se formam e como funcionam os sistemas de  referência  que  utilizamos  para  classificar  pessoas  e  grupos  e  para interpretar os acontecimentos da  realidade cotidiana. Por suas  relações com a linguagem, a ideologia e o imaginário social e, principalmente, por seu  papel  na  orientação  de  condutas  e  das  práticas  sociais,  as representações  sociais  constituem  elementos  essenciais  à  análise  dos mecanismos que interferem na eficácia do processo educativo.   

As  raízes  dos  dizeres  sobre  os  objetos  costumam  ter  razões  mais  antigas  e 

profundas do que o indivíduo supõe por elas estarem irremediavelmente comprometidas 

com  seu pertencimento a um dado grupo e com o modo como os objetos  são por ele 

compreendidos e  representados. Assim, as  significações e as  relações de alunos com a 

instituição escolar se apresentam difíceis (nomeadamente as segundas) de observação e 

análise,  pois  marcadas  continuamente  por  pertencimentos  a  grupos,  memórias, 

tradições, cultura e aos tempos dos diferentes alunos. Como sujeitos sociais, estes nem 

sempre  compartilham  as  mesmas  representações  acerca  da  escola,  possivelmente 

porque ela oportuniza distintas experiências de humanização para quem  as  frequenta. 

Por  essas  razões,  investigações  no  campo  das  RS  são  defendidas  com  diferentes 

argumentos,  por  exemplo,  por  Paulo  Freire:  “É  fundamental,  [...],  partirmos  de  que  o 

homem,  ser de  relações e não  só de contatos, não apenas está no mundo, mas  com o 

mundo.”  (FREIRE,  1999,  p.47),  e  por Madeira  (2000,  p.249):  “[...]  as  representações 

sociais permitem  integrar  a um dado objeto pelo  sujeito,  as  relações  complexas que  a 

ambos constitui, em diferentes níveis, vinculando‐os ao dinamismo de uma cultura e de 

uma  história”.  Lembra,  ainda,  Gilly  (2001)  que  para  se  compreender  os  fenômenos 

educacionais  não  basta  uma  perspectiva  macroscópica  (acerca  dos  sentimentos  de 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.4 

 

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pertença,  relações entre grupos  sociais,  atitudes e  comportamentos diante da escola), 

porque as mais microscópicas possibilitam detalhar aspectos do cotidiano e de saberes 

pertinentes à escola.  

Denise Jodelet caracteriza as RS como “[...] ‘um saber prático’ como sistemas de 

interpretações  com  o  mundo  e  com  os  outros  e  organizam  as  comunicações  e  as 

condutas sociais” (JODELET, 2001, p.22).  

Cientes de que “Somos todos aprendizes e ensinantes, numa interlocução com o 

outro,  presente  ou  suposto”  (MADEIRA,  2000,  p.241),  e  por  concordarmos  com  essa 

autora quanto a que “A educação é um processo amplo, que envolve o homem todo e 

todo  o  homem,  no  concreto  de  seu  viver  e  de  seu  fazer,  [que  a  educação]  não  se 

restringe à escola. Esta é um espaço com função social específica” (p.241), situaremos, a 

seguir, nossa posição acerca dessa instituição. 

 

Escola, por uma conversão do olhar  

Entendemos  a  escola  enquanto  espaço  histórico,  social  e  politicamente 

construído  (CHARLOT,  2006;  TEDESCO,  2004;  FILIPAK;  SOHON,  2013),  e  por  isso 

paradoxalmente geradora de insatisfação e de esperança, visto se constituir para muitos 

em “Lugar do projeto e, portanto, do sonho,  [...]  também é o  lugar da  frustração e do 

desânimo, quer estes se manifestam como cínica aceitação dos limites ou como virulenta 

crítica  da  realidade”  (VALLE,  1997,  p.17),  bem  como  “Os  códigos  e  regras  que 

caracterizam a escola, encontram referenciais em suas histórias” (MADEIRA, 2000, p. 241)  

A escola é um lugar privilegiado onde parte dos saberes e fazeres previstos para 

as  novas  gerações  se  acham  encarnados.  Para  Lílian  Valle  (1997,  p.8):  “A  educação  é 

como um espelho fiel que reproduz com clareza o que uma sociedade é, o que ela deseja 

fazer de si e o que ela afirma desejar tanto quanto as enormes distâncias que por vezes se 

criam entre cada um destes termos.”  

A essas considerações soma‐se a propagada diferença entre a  rede pública e a 

rede  privada  de  ensino.  Segundo  Pedro  Demo,  “A  distância  entre  escola  pública  e 

particular no Brasil é considerável, em  favor da escola particular”  (DEMO, 2007, p.181). 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.5 

 

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Para  esse  autor,  em  termos  de  desempenho,  a  escola  particular  está  em  posição  de 

vantagem  pelo  fato  de  ser  administrada  pela  iniciativa  privada  e  pela  consequente 

cobrança  e  pressão  dos  pais  sobre  ela. Diferenças  outras,  por  exemplo,  pertinentes  à 

injustiça  na  escola,  como  informam  Carbone  e  Menin  (2004),  indicam  que  as 

representações de alunos da rede pública e privada não se assemelham.  

Na medida em que “os fenômenos de representação social estão “espalhados” 

por aí, na cultura, nas instituições, nas práticas sociais, nas comunicações interpessoais e 

de massa e nos pensamentos individuais” (SÁ, 1998, p. 21), estimuladas pela realidade que 

se  apresenta  e  pelo  interesse  enquanto  pesquisadoras  e  educadoras  é  que  nos 

propusemos a investigar as RS de escola de alunos da rede pública estadual de ensino. 

Estudos e  reflexões, como os de Alves‐Mazzotti  (1994; 2001) e Madeira  (2000) 

têm destacado a relevância da abordagem das representações sociais nas pesquisas em 

Educação. Conforme Margot Campos Madeira (2000, p. 240): 

Mais que um novo modismo, está em questão o esforço para aprender os problemas da educação no processo que articula o homem concreto, em sua complexidade, à totalidade social, no movimento histórico que os faz e circunscreve em espaços e tempos precisos.  

Desse  modo,  circundados  e  circunscritos  num  tempo  e  espaço  definidos 

encontram‐se  os  sujeitos,  no  caso  alunos,  seus  discursos,  dizeres  e  possibilidades 

interpretativas acerca dos fenômenos que os cercam, que em seu conjunto lhes propicia 

a  dimensão  filosófica  e  social  acerca  de  sua  existência,  situando‐os  enquanto 

protagonistas que vão desenhando marcas para seu papel político, histórico e cultural e 

para a sua busca ontológica do ser mais (FREIRE, 1999). 

De  inegável  relevância  e  complexidade,  a  escola  emerge  nesse  contexto  e 

mantém‐se  sustentada pela  teia de  relações‐ pacíficas e  conflituosas‐ que estabelece e 

alimenta  com  a  diversidade  cultural  de  seu  tempo  e  atores,  não mais  regulados  com 

primazia  pela  tradição  ou  religião,  mas  afetados  por  constantes  e  aceleradas 

transformações e rupturas (JULIA, 2001).  

Para  Zygmunt  Bauman  (2001,  p.10)  “os  tempos  modernos  encontraram  os 

sólidos  pré‐modernos  em  estado  avançado  de  desintegração”  quando  se  refere  ao 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.6 

 

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desafio  e  à  necessidade  humana  de  ceder  ao  velho  e  antigo  para  receber  o  novo.  A 

escola, instituição histórica, tem buscado ressignificações para sua prática, assim afirmam 

Gimeno Sacristán e Pérez Gomes  (2007, p.25): “Na sociedade contemporânea, a escola 

perdeu o papel hegemônico na transmissão e distribuição da informação” lembrando aos 

educadores que “A criança chega à escola com um abundante capital de  informações e 

com poderosas e acríticas pré‐concepções sobre os diferentes âmbitos da realidade”. 

Nesse cenário, a função da escola no exercício de um de seus históricos papéis – 

o de transmissão cultural  ‐ ofusca‐se diante da não mais assertiva decisão de escolha de 

saberes significativos a ensinar e de valores a  resgatar ou manter  (FORQUIN, 1993). Ao 

discurso dessa instituição com problemas se junta o de uma cultura igualmente em crise, 

pois, como assinala Eagleton (2005) “Cultura [...] deixou de ser parte da solução para ser 

parte do problema” (p.61). 

Se as  fronteiras entre escola, cultura e saberes a serem ensinados  tornaram‐se 

aparentemente  flexíveis,  a  educação  ‐  comumente  associada  a  elementos  de  ordem 

imutável  e  atemporal  (VALLE,  1997,  p.11),  não  pode  “temer  o  debate”  (FREIRE,  1999, 

p.104),  omitir‐se  ao  diálogo,  negar‐se  à  busca  constante  de  novos  caminhos  e  ao 

enfretamento de  si.  Fará  isso  se  instrumentalizando para  a execução de outros papéis 

que ainda lhe cabem e a caracterizam: o de fomentar e produzir o novo (VALLE, 1997), o 

de  promover  o  valor  do  conhecimento  na  relação  ensinar‐aprender,  na  dinâmica  do 

individual e do coletivo, de sua cultura e história (MADEIRA, 2000). 

Diante  da  pluralidade  presente  nas  sociedades  contemporâneas  e  no  espaço 

escolar, entendemos ser de profunda relevância conhecer os sistemas de representação 

que  alunos  oriundos  da  rede  pública  compartilham  sobre  a  escola,  verificando  se  os 

modos como a concebem confirmam ou colocam em questão sua relevância. Partimos da 

hipótese  de  que  essas  representações  são  construídas  em  função  das  diferentes 

expectativas em relação: à  função da escola; ao  locus da culpabilização do  fracasso dos 

alunos;  às  práticas  educativas  dos  professores  com  vistas  à  autonomia  de  seus 

aprendizes; à tradição familiar quanto à  importância que atribui à escola; à admissão ou 

não  do  capital  cultural  do  aluno  e  às  novas  relações  que  a  ela  se  impõem  no mundo 

contemporâneo.  

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 ESCOLA: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS   Selma Rosa ‐ Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.7 

 

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A  execução  deste  trabalho  foi  subsidiada  pelas  proposições  da  TRS,  sob  a 

perspectiva da abordagem estrutural, cerne da Teoria do Núcleo Central (TNC) de ABRIC 

(1994). 

 

A Teoria das Representações Sociais 

Sérge Moscovici, em 1961, propôs e demonstrou a pertinência da nomenclatura 

“representação social” para diferenciá‐la de “representações coletivas”, em sua tese de 

doutoramento  acerca  das  representações  de  parisienses  sobre  Psicanálise,  parte  dela 

publicada  posteriormente  na  sua  obra  La  psychanalyse:  son  image  et  son  public 

(MOSCOVICI, 1961/2012). Nas palavras de Denise Jodelet, as representações sociais 

Como  fenômenos  cognitivos,  associam  o  pertencimento  social  dos indivíduos  às  implicações  afetivas  e  normativas,  às  interiorizações  das experiências,  das  práticas,  dos modelos  de  conduta  e  de  pensamento, socialmente  inculcados ou  transmitidos pela comunicação social, que aí estão  ligados.  Por  esta  razão,  seu  estudo  constitui  uma  contribuição decisiva  para  a  aproximação  da  vida  mental  individual  e  coletiva (JODELET, 2001, p. 22).  

Antes desses dizeres,  a  autora  refere RS  como  “fenômenos  complexos  sempre 

ativados e em ação na vida social. [seus elementos] são organizados sob a aparência de 

um saber que diz algo sobre o estado da realidade” (Jodelet,  2001, p.21).  

Quanto ao uso dessa perspectiva  teórica em pesquisas, declarações como as de 

que  “Cada  trabalho  traz  uma  pequena  contribuição  na  sua  delimitação  e  possível 

aprofundamento  conceitual”  (GUARESCHI,  2000,  p.35)  nos  permitiram  adentrar  nesse 

campo por admitirmos como princípio o de que as RS 

podem  ser  compreendidas  como  um  conhecimento  do  senso  comum, socialmente construído e socialmente partilhado, que se vê nas mentes das pessoas e na mídia, nos bares e nas esquinas, nos comentários das rádios  e  TVs.  São  um  conhecimento, mas  diferente  do  conhecimento cientifico,  que  é  reificado  e  fundamentalmente  cognitivo  (GUARESCHI, 2000, p.38).  

Para a TRS, o indivíduo é um sujeito ativo, tecido e simultaneamente tecendo as 

múltiplas  relações  e  situações,  fenômenos,  objetos  com  os  quais  se  relaciona  não 

podendo ser compreendido apenas pela idiossincrasia de suas experiências pessoais: seu 

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 ESCOLA: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS   Selma Rosa ‐ Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.8 

 

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pertencimento  a  um  grupo  legitima  determinadas  cognições,  valores  e  práticas  que, 

como  saberes‐  senso  comum  ‐  constituem  sua  consciência  social.  Esse  entendimento  e 

valoração do senso comum  justificam o volume de  investigações realizadas em distintos 

campos disciplinares, tendo por aporte a TRS. Nesse sentido, Almeida e Santos declaram:  

É nessa perspectiva que o senso comum vai adquirir valor como objeto de estudo, na medida em que deixa de ser considerado meramente como folclore  ou  como  um  pensamento  tradicional  ou  primitivo  para  ser tomado  como  algo moderno, originado,  em parte  da própria  ciência  e que assume formas particulares quando é tomado como parte da cultura (ALMEIDA e SANTOS, 2011, p. 289).  

Assim,  pode‐se  depreender  que  pesquisas  em  RS  cobrem  campos  como  o 

científico,  cultural,  social,  institucional,  da  produção,  ambiental,  biológico,  psicológico, 

educacional (JODELET, 2001), por se aterem aos saberes, produzidos na dinâmica social, 

bem  como  aos  processos  de  apropriação  (ancoragem  e  objetivação)  desses 

conhecimentos por parte dos  indivíduos/grupos. O estudo das RS exige a  implicação na 

busca criteriosa dos conhecimentos, sentimentos e valores construídos pelos  indivíduos 

em suas relações no grupo de seu pertenciamento, tarefa na qual nos empenhamos.  

Identificar as RS inclui, por princípio, o reconhecimento de seu caráter social ‐ de 

sua articulação com uma memória social que se  torna presente em cada  relação  ‐ visto 

que de geração a geração, a transmissão da tradição ressalta o passado  legitimado pelo 

grupo, fazendo que “a construção que o presente faz do passado passa a ser importante, 

na medida  em que  a memória,  considerada  como  sentido plural  é  a  expressão de  um 

sentimento, e modo de compreender e se relacionar no mundo” (MORAES, 2000, p. 95).  

Por conseguinte, o estudo das RS propicia‐nos a possibilidade de ao conhecê‐las 

identificar  os  elementos  que  as  constituem  e  como  estes  se  configuram  em  uma 

determinada teia de conexões, cujos fios se prendem ao passado e se ligam ao presente, 

os  quais,  sob  a  perspectiva  das  TRS  fornecem  sistemas  de  referência  para  que  os 

indivíduos/grupos re/conheçam e interpretem as informações a que têm acesso.  

Sob esse ponto de vista, os conteúdos e conhecimentos dos quais os alunos se 

apropriam não acontecem unicamente pela transmissão de conteúdos curriculares, mas 

também pela rede de relações e interações sociais que compõem as teias da dinâmica do 

grupo de seu pertencimento, entre as quais o da escola, visto que: 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.9 

 

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Os alunos/as aprendem e assimilam teorias, disposições e condutas não apenas  como  consequência  da  transmissão  e  intercâmbio  de  ideias  e conhecimentos  explícitos  no  currículo  oficial,  mas  também  e principalmente  como  consequência das  interações  sociais de  todo  tipo que ocorrem na escola ou na aula. (GOMES‐PÉRES, 2007, p. 17).  

Neste  trabalho,  adotamos  a  abordagem  estrutural  das  representações  sociais 

tendo por aporte a  teoria apresentada por Jean‐Claude Abric, em  1976, em sua  tese de 

doutorado  Jeux,  conflits  e  et  representations  sociales.  Têm  contribuído  para  o 

desenvolvimento da TNC pesquisadores como Claude Flament, Christian Guimelli, Pascal 

Moliner, Pierre Vergès, destacando‐se, no Brasil, Sá (1996; 1998a; 1998b; 2002), pela sua 

produção e divulgação dessa teoria.  

Jean‐Claude Abric destaca a pertinência da abordagem estrutural para contextos 

específicos,  como  o  brasileiro,  por  considerá‐la  “particularmente  útil  para  a  análise,  a 

compreensão e a intervenção sobre os grandes problemas sociais atuais” (SÁ, 2002, p. 9). 

Essa abordagem, segundo Sá  (2002, p.52): “Ela é, de  fato, como não poderia deixar de 

ser,  uma  teoria  menor  do  que  a  grande  teoria,  mas  é  também  uma  das  maiores 

contribuições  atuais  ao  refinamento  conceitual,  teórico e metodológico do estudo das 

representações sociais”. 

Para a TNC uma representação opera e é gerida por dois sistemas: um central, no 

qual se posicionam os elementos do núcleo central (NC), e um  periférico, onde se situam 

e  gravitam  os  demais  componentes.  Toda  representação  encontra‐se  organizada  em 

torno de um NC, determinante para  a  significação e organização dessa  representação. 

Alves‐Mazzotti (2002) esclarece que o NC depende de três fontes/dimensões: natureza do 

objeto representado, relações do grupo com o objeto representado e ideologia‐ valores e 

normas sociais que compõem o cenário/contexto do grupo, e em seu desempenho o NC 

exerce três funções: geradora‐ cria ou transforma uma representação; organizadora– que 

se  refere  à  natureza  das  ligações  presentes  entre  os  elementos  da  representação  e 

estabilizadora – que explica a resistência a mudanças. 

Na  estrutura  de  uma  RS,  se  por  um  lado  o  sistema  central  é mais  estável,  o 

sistema  periférico,  dependente  e  indispensável  ao  sistema  central,  desempenha  “um 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.10 

 

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papel de modulação  individual  sem  colocar em  cheque a  significação  central”  (MENIN, 

2007, p.130). 

Considerando que o NC e seu sistema periférico, constituintes da estrutura dos 

elementos  de  uma  RS,  possuem  características  e  funções  distintas,  porém 

complementares,  lançamos mão de alguns esclarecimentos sobre a  função do núcleo e 

periferia, tendo por suporte a obra de Sá (1996). O primeiro liga‐se à memória coletiva e 

aos aspectos  sócio‐históricos, “é estável,  coerente.  resistente à mudança, assegurando 

assim  a  continuidade  e  a  permanência  da  representação”  (p.22).  Além  disso,  “Suas 

funções  são  gerar  o  significado  básico  da  representação  e  determinar  a  organização 

global de todos os elementos” (p.22). Os demais elementos da representação compõem 

o  sistema  periférico,  o  qual  “[...]  permite  a  integração  das  experiências  e  histórias 

individuais; [...] suporta a heterogeneidade do grupo e as contradições [...]. é evolutivo e 

sensível ao contexto imediato ( p.22). 

Os  elementos  do  NC  se  ligam,  pois,  a  questões  históricas,  sociológicas  e 

ideológicas, memórias e normas do grupo de pertenciamento do  indivíduo. Para que se 

identifique a RS de um grupo é preciso identificar o que é comum e compartilhado. 

 

Metodologia  

Os procedimentos metodológicos deste trabalho ‐ aprovado pelo Comitê de Ética 

da UEL, Parecer no. 261/2013‐ delinearam‐se a partir da TNC, que nos auxiliou a conhecer a 

organização  e  estrutura  dos  elementos  constituintes  das RS  de  escola  partilhadas  por 

alunos. 

Como  pesquisa  exploratória,  de  cunho  interpretativo,  este  trabalho  procurou 

conhecer a estrutura e organização das RS de alunos da  rede pública acerca da escola 

com  o  intuito  de  identificar  quais  concepções  de  escola  prevalecem  entre  alunos  de 

Ensino Fundamental II, matriculados em duas escolas da rede pública estadual de ensino, 

situadas no município de Londrina (PR).  

O  critério  utilizado  para  seleção  dessas  instituições  foi  o  de  terem  obtido 

pontuações extremas nos indicadores do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.11 

 

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(IDEB):  2,7, menor  índice  e  5,8, maior  índice. Doravante,  por  razões  éticas,  as  escolas 

selecionadas  serão  identificadas,  respectivamente,  como  A  e  B,  situadas, 

respectivamente, na região periférica e central do município. 

Contribuíram  para  a  coleta  dos  dados,  258  alunos  matriculados  no  9º  ano  do 

Ensino  Fundamental  II.  Dois  instrumentos  foram  utilizados:  um  questionário 

sociodemográfico  com  30  itens,  para  caracterização  dos  participantes,  e  um  teste  de 

associação de palavras (TAP) com o indutor “Escola é...”, com quatro solicitações: fossem 

escritas  as  palavras  que  de  imediato  completassem  a  frase,  hierarquizassem‐nas, 

justificassem  a  considerada  mais  importante  e  construíssem  uma  frase  relacionando 

escola  à  palavra mais  importante.  Apenas  as  respostas  às  duas  primeiras  solicitações 

foram objeto de análise neste trabalho. 

A condução da coleta de dados ocorreu em duas sessões de cada turma do 9º ano, 

após  a  apresentação  e  esclarecimentos  relativos  à  pesquisa  prestados  à  direção  da 

escola, agendamento da coleta pela coordenadora de cada escola, envio e recebimento 

assinado de um termo de consentimento dos pais referente ao aceite da participação dos 

filhos  na  pesquisa.  Na  aplicação  dos  instrumentos  na  primeira  sessão  foi  aplicado  o 

questionário sociodemográfico e na segunda o do TAP. 

As palavras evocadas e hierarquizadas no TAP foram lançadas em planilhas Excel e 

posteriormente lematizadas. O corpus dessa lematização foi submetido ao software EVOC 

Ensemble  de  Programmes  Permetettantt’s  l’Analyse  des  Evocations,  desenvolvido  por 

Pierre Vergès (2000) para dados obtidos em testes similares. O Randgraf, programa que 

integra  esse  software,  informa  a distribuição  dos  elementos  em  um  quadro de  quatro 

quadrantes. O 1º indicativo dos elementos que constituem o sistema central (provável NC) 

e os demais dos  elementos do  sistema periférico,  assim distribuídos pela  frequência  e 

ordem média (OM) das palavras registradas pelo grupo. As recomendações de Walcheke 

e Wolter  (2011)  foram  seguidas para  a   definição dos  critérios de  corte utilizados para 

rodar o software, isto é, quanto à frequência e ordem média admitidas.  

 

 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.12 

 

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Resultados e Discussão 

De  acordo  com  a  listagem  oficial  de matriculados  por  turma,  concedida  pelas 

escolas,  os  índices  de  participação  dos  alunos  por  escola  foi  superior  a  80%  dos 

matriculados  (88,2% da Escola A; 86,5% da Escola B), conforme pode ser constatado no 

Quadro 1 

                           Quadro 1 – Perfil Geral dos Participantes  

Distribuição por Escola 

Matriculados  Participantes 

Escola A  110  Escola A  97 

Escola B  186  Escola B  161 

Total  296    258 

Fonte: Autoras, 2014. 

 

Dados  do  questionário  sociodemográfico  indicaram  que  mais  da  metade  dos 

participantes são meninas (55,4%), com idades distribuídas no intervalo de 13 (47,6%) a 17 

anos  (0,03%);  27,5%  dos  participantes  informaram  já  terem  reprovado  em  seu  trajeto 

escolar. Quanto à inserção dos pais no mercado de trabalho, constatou‐se que a maioria 

deles  trabalha  fora  de  casa  (65%  das mães;  80%  dos  pais).  Além  de  estudar,  17%  dos 

participantes declararam trabalhar. De modo geral, assistir TV diariamente por mais de 1 

hora é uma prática comum entre eles (22% menos de uma hora; 40% de 3 a 5h; 12,4% mais 

de 5h), possivelmente por ser o suporte de um dos bens culturais selecionados pelos pais 

e  demais  adultos  para  terem  em  casa  e  compartilharem  com  as  crianças 

(MORDUCHOWICZ, 2014). 

Na análise dos dados obtidos na situação OME  (TAP) verificou‐se que o  total de 

respostas (1113) foi reduzido a 207 após a lematização.  

Os  critérios  adotados  para  rodar  o   EVOC  foram:  frequência  mínima=22 

(correspondente  a  10%  dos  224  que  responderam  ao  TAP),  e  intermediária=44,  com 

ordem média (OM) de 3. O quadro 2 sintetiza por quadrante os vocábulos presentes nas 

duas  situações de  resposta  (Evocação  inicial‐ OME, e de Hierarquização das  respostas‐ 

OMI). Os resultados obtidos, com os pontos de corte adotados, indicaram que 14 palavras 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.13 

 

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integram a estrutura da RS Escola dos participantes. A posição de cada uma nas situações 

de evocação inicial (OME) e de hierarquização (OMI) pode ser verificada no quadro 2.  

 

Quadro 2‐ RS Escola: Organização dos Elementos nas situações OME e OMI (N=224) 

Ponto  de corte 

1ª Quadrante (Provável Núcleo Central) 

Vocábulos OME  OMI 

f  OM  f  OM 

Freq>=22 OM<3 

aprendizagem  55  2,236  70  2,000 

chata  65  2,385     

importante  44  2,250  76  1,776 

legal  76  2,342     

educação      53  2,623 

estudo      44  2,545 

futuro      49  2,306 

Freq>=22 OM<3 

2º. Quadrante  (1ª Periferia) 

chata  AUSÊNCIA  DE ELEMENTOS 

85  3,788 

legal  103  3,495 

Freq <22 OM>=3 

3º Quadrante (Zona de Contraste) 

amigos  25  2,760     

cansativa  24  2,250     

divertido  43  2,581     

educação  38  2,447     

entediante  24  2,417     

estudo  30  2,167     

futuro  34  2,088     

boa      29  2,966 

interessante  23  2,391  30  2,733 

Freq<22 OM>=3 

4º Quadrante ‐ 2ª Periferia 

amigos 

AUSÊNCIA  DE ELEMENTOS 

28  3,250 

cansativa  28  3,071 

divertido  41  3,463 

professores  22  3,364 

Fonte: Autoras, 2014 

 

Em  termos semânticos, os elementos constituintes das RS, nas situações OME e 

OMI  permitem  antecipar  algumas  discussões  pela  posição/quadrantes  em  que  se 

localizaram as palavras. Atentaremos a alguns vocábulos em especial. 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.14 

 

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Os adjetivos chata e legal apareceram em situações diferenciadas: no 1º quadrante 

(possível  NC),  na  situação  OME,  foram  altamente  lembrados  pelos  participantes, 

contudo,  na  situação OMI  sequer  figuram,  o  que  sinaliza  a  pouca  importância  para  o 

grupo,  pois  embora  com  considerável  evocação  não  foram  caracterizados  como 

elementos de alto valor cognitivo ao se situarem na  2ª periferia, na condição OMI . 

O  termo  professores  ‐  juntamente  com  amigos,  cansativa,  divertido  ‐  por  sua 

posição  (2ª  periferia)  indica  a  pouca  relevância  atribuída  pelos  participantes  para 

referirem escola, visto os elementos desse quadrante estarem mais sujeitos ao contexto 

do cotidiano, por princípio.  

Aprendizagem,  importante, educação, estudo e  futuro compõem o possível NC da 

RS  escola  para  os  participantes.  Os  elementos  desse  núcleo  indicam  um  alto  teor 

sociocognitivo para o grupo, associando valores, normas e cultura, enfim a memória do 

meio  social  de  pertenciamento  dos  sujeitos.  O  termo  importante  destaca‐se  por  sua 

elevada  OM  (1,776  na  condição  OMI)  permitindo  que  se  afirme  sua  posição  no  1º 

quadrante;  reforça  ainda  o  fato  de  constituir  o  provável NC  sua  ausência  nos  demais 

quadrantes. 

Os elementos  registrados na estrutura do provável NC da RS permitem  inferir a 

importância que alunos do 9º ano atribuem à escola, que os prepara, como  informaram 

no questionário sociodemográfico, para “ser alguém na vida”, “conseguir um emprego” 

e  “se  formar”. Os  termos  –  de  alto  teor  social  e  educacional  ‐  revelam  uma  rede  de 

significações e valores  interiorizados, que o grupo partilha e compartilha. Na revisão de 

literatura, trabalhos como o de Lima et al. (2008)  indicam que tal expectativa é comum, 

particularmente no ambiente familiar: 

os pais tendem a atribuir à escola o papel de traçar a trajetória social de seus  filhos,  desencadeando  possibilidades  de  ascensão  profissional, econômica  e  familiar,  para  que  eles  sejam  incluídos  socialmente  e reconhecidos pela sociedade em que vivem (LIMA et al., 2008, p.32).   

É curioso que ao modo positivo e significativo como a escola é representada pelos 

participantes  contrapõem‐se  alguns discursos pessimistas  sobre o  aluno e  a escola em 

pesquisas afins. Trabalhos, como os de Alves‐Mazzotti (2006; 2008) indicam que o aluno 

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de escola pública é percebido por professores como não tendo apoio da família, pobre, 

carente  de  afeto,  desinteressado,  que  encontra  muitas  dificuldades  e  não  possui 

bagagem cultural suficiente para acompanhar o que a escola precisa ensinar.  

A análise de similitude procura mostrar a “quantidade de  laços ou conexões que 

um dado elemento mantenha com outros elementos da representação” (SÁ,1996, p.123). 

Os  índices  nas  figuras  abaixo  são  representativos  da  força  que  liga  os  elementos 

componentes  das  representações  de  escola  e  nos  permitem  conhecer  os  que  são 

significativos  para  o  grupo,  inferir  acerca  da  importância  da  escola  partilhada  pelos 

participantes e ressignificar os termos chata e legal pelas conexões que estabelecem com 

os mais salientes ‐ frequência e ordem ‐ como evidenciado a seguir nas Figuras 1 e 2. 

 

 

Figura 1 – Força de relações ‐ Escola A (situação OMI)  

Fonte: Autoras, 2014. 

 

 

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Figura 2 – Força de relações ‐ Escola B (situação OMI). 

Fonte: Autoras, 2014 

 

Considerações Finais 

A aparente relação conflitante com a escola  ‐ verificada em termos como chata e 

legal – dá lugar a um profundo senso da relevância dessa instituição para os participantes. 

Os  resultados,  ainda  que  parciais,  permitem‐nos  ratificar  que  aproximações  entre 

participantes  e  escola  costumam  carregar  a  expectativa  das  ressignificações  em  torno 

dos conteúdos relativos às questões educacionais.  

Os caminhos para os quais os elementos do provável NC apontam podem orientar 

o olhar de pesquisadores da Educação em direção a uma análise mais contextualizada da 

escola no exercício de seu papel.  Os dados provocaram questões instigadoras tanto pela 

presença  quanto  pela  ausência  de  alguns  sujeitos  (alunos)  e  papéis  (cidadania) 

relacionados a escola, bem  como para a pouca  força de alguns  termos. Os  resultados, 

mesmo  iniciais e parciais,  instigaram outras reflexões: como a escola  interage com suas 

problemáticas;  por  que  a  escola,  projetada  sociopoliticamente  como  preparo  para  o 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.17 

 

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futuro, é pouco para o presente na voz dos alunos; de onde provêm e qual o porquê dos 

valores e conceitos relacionados à escola e  interiorizados pelos participantes; por que a 

figura do professor possui pouca  força no grupo e por que  a  importância dada  a essa 

instituição  pelos  alunos  não  se  solidifica.  Embora,  em  discursos  oficiais  seja  comum 

indicar  que  a  escola  eduque  para  o  exercício  da  cidadania,  sequer  esse  termo  foi 

registrado pelos participantes deste estudo.  

Diante da expectativa de um futuro melhor que possibilite a todos o exercício de 

uma  cidadania  plena  e  digna,  cabe  à  sociedade,  com  suas  agências  reguladoras, 

nomeadamente,  a  pesquisadores  e  aos  professores  desenharem  o  papel  da  escola  na 

realidade de nosso tempo, visto que “ela não é só o local de transmissão da cultura, mas 

[...],  também,  o  local  onde  se  pensa  sobre  essa  cultura,  sobre  esses  saberes  culturais 

acumulados”  (COSTA,  2007,  p.106).  Se  a  condição  de  realização  com  êxito  no  Ensino 

Fundamental está entre os dispositivos dispostos pelo estado (BRASIL, 2010) tendo por 

apoio a família, a escola tem por tarefa garantir qualidade nesse nível de ensino, visto que 

esse  aluno  “[...]  tem direito  a  formar  sua mentalidade,  seus  valores,  sua  identidade,  a 

formar sua percepção de mundo, da realidade, independentemente de ele ir ou não para 

o ensino médio”(ARROYO, 2007, p.121). 

 

 

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