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O GOLPE DE 1964 E A RERESSÃO AOS SINDICATOS E LIDERANÇAS TRABALHISTAS EM PARNAÍBA-PI Francisco José Leandro Araújo de Castro 1 O trabalho em questão, parte da pesquisa que desenvolvo atualmente no Doutorado em História, da Universidade Federal Fluminense 2 e tem como norte analisar os efeitos repressivos produzidos pelo Inquérito Policial Militar, aberto em 1964, a partir da nomeação dos trabalhadores sindicalizados e lideranças políticas na cidade de Parnaíba-PI, como elementos "agitadores", “subversivos” e “comunistas”. Pretendo evidenciar as perseguições políticas como cassação de mandatos no legislativo, mas aqui sobretudo a repressão sobre os grupos ligados ao trabalhismo petebista em Parnaíba, bem como aos sindicatos urbanos. Dando visibilidade também a repressão às recentes experiências das associações de trabalhadores rurais, que começam a ganhar corpo no final dos anos 1950, nos povoados ao redor da cidade de Parnaíba que questionam a posse de terra, a expulsão de camponeses da região, bem como as condições degradantes de vida a que estavam submetidos os trabalhadores neste momento. No ano de 2014, o Brasil, ao menos do ponto de vista de algumas instituições universitárias, foi protagonista de uma série de eventos que tinham como eixo central discutir a implantação da ditadura civil-militar, passados 50 anos do golpe 3 , seus impactos e desdobramentos ainda visíveis no âmbito de nossas relações políticas, jurídicas e sociais. Sob a ótica dos próprios militares e/ou de segmentos mais conservadores da sociedade, o evento 1 O autor é doutorando pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense. Na linha de História contemporânea II. Bolsista CAPES/CNPq. E-mail: [email protected] 2 Colocar título do projeto. 3 No espaço piauiense participei como debatedor e coordenador de simpósio temático, dentre outros eventos universitários, da VII SEMHPI. A Semana de História de Picos. Sobre o tema Brasil: “50 anos do golpe. Memória, Cultura e Poder”. Bem como de algumas mesas de discussão propostas pelo Projeto “Cinema Pela Verdade”, colocando em evidência outras leituras possíveis sobre o regime militar brasileiro por meio de documentários. Participei da Mesa Redonda: “A imagem é minha arma: arte e contestação juvenil no r egime militar”, entre outras atividades dentro e fora da academia entre 2014, 2015 e 2016.

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Page 1: O GOLPE DE 1964 E A RERESSÃO AOS SINDICATOS E … · Sá Em guarda contra o “perigo vermelho”. O anticomunismo no Brasil (1917-1964). São Paulo, Perspectiva/FAPESP, 2002. plurais

O GOLPE DE 1964 E A RERESSÃO AOS SINDICATOS E LIDERANÇAS

TRABALHISTAS EM PARNAÍBA-PI

Francisco José Leandro Araújo de Castro1

O trabalho em questão, parte da pesquisa que desenvolvo atualmente no Doutorado

em História, da Universidade Federal Fluminense2 e tem como norte analisar os efeitos

repressivos produzidos pelo Inquérito Policial Militar, aberto em 1964, a partir da nomeação

dos trabalhadores sindicalizados e lideranças políticas na cidade de Parnaíba-PI, como

elementos "agitadores", “subversivos” e “comunistas”. Pretendo evidenciar as perseguições

políticas como cassação de mandatos no legislativo, mas aqui sobretudo a repressão sobre os

grupos ligados ao trabalhismo petebista em Parnaíba, bem como aos sindicatos urbanos.

Dando visibilidade também a repressão às recentes experiências das associações de

trabalhadores rurais, que começam a ganhar corpo no final dos anos 1950, nos povoados ao

redor da cidade de Parnaíba que questionam a posse de terra, a expulsão de camponeses da

região, bem como as condições degradantes de vida a que estavam submetidos os

trabalhadores neste momento.

No ano de 2014, o Brasil, ao menos do ponto de vista de algumas instituições

universitárias, foi protagonista de uma série de eventos que tinham como eixo central discutir

a implantação da ditadura civil-militar, passados 50 anos do golpe3, seus impactos e

desdobramentos ainda visíveis no âmbito de nossas relações políticas, jurídicas e sociais. Sob

a ótica dos próprios militares e/ou de segmentos mais conservadores da sociedade, o evento

1 O autor é doutorando pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense. Na

linha de História contemporânea II. Bolsista CAPES/CNPq. E-mail: [email protected] 2 Colocar título do projeto. 3 No espaço piauiense participei como debatedor e coordenador de simpósio temático, dentre outros eventos

universitários, da VII SEMHPI. A Semana de História de Picos. Sobre o tema Brasil: “50 anos do golpe.

Memória, Cultura e Poder”. Bem como de algumas mesas de discussão propostas pelo Projeto “Cinema Pela

Verdade”, colocando em evidência outras leituras possíveis sobre o regime militar brasileiro por meio de

documentários. Participei da Mesa Redonda: “A imagem é minha arma: arte e contestação juvenil no regime

militar”, entre outras atividades dentro e fora da academia entre 2014, 2015 e 2016.

Page 2: O GOLPE DE 1964 E A RERESSÃO AOS SINDICATOS E … · Sá Em guarda contra o “perigo vermelho”. O anticomunismo no Brasil (1917-1964). São Paulo, Perspectiva/FAPESP, 2002. plurais

assumira um caráter “revolucionário”4, pois teria livrado o país de uma possível “ameaça

comunista”, prestes a ganhar corpo. De um outro ponto de vista, o evento de 1º de abril de

1964, seria uma “contra-revolução”5, serviu para estancar uma situação pré-revolucionária no

Brasil. As divergências, pois, em torno da nomeação dos eventos ocorridos em 1964, ainda

pairam em muitos debates dentro e fora da academia.

Essas efemérides sempre são interessantes no sentido de se repensar alguns

marcadores discursivos para os eventos políticos, sobretudo para aqueles ainda encontram

grandes pontos e interpretações dissonantes nos debates e ainda estão recentes nas memórias

sociais, pois, além de próximos, do ponto de vista temporal, ainda não foram superados seus

efeitos, quando, a partir de um distanciamento, se poderia vislumbrar novas problemáticas,

novas formas de ler os acontecimentos, os personagens envolvidos e o lugar que ocupam na

trama histórica.

O texto em questão, pretende lançar uma breve reflexão sobre o golpe civil-militar de

1964 e o progressivo silenciamento das memórias dos atingidos pela “operação limpeza”, em

meados de abril de 1964 na cidade de Parnaíba-PI. Na pesquisa que desenvolvo no âmbito do

Doutorado em História, parto do princípio de que se constituiu, ao longo do tempo, na

“memória oficial” de Parnaíba, uma noção determinante de que os efeitos e impactos do golpe

civil-militar não tiveram ressonância na cidade, por conta do dito “caráter ordeiro” da mesma.

Além disso, busco perceber as formas de organização de trabalhadores, por meio de sindicatos

e a ampliação das demandas dos sindicalizados, a partir da presença de figuras ligadas ao

P.T.B local, partido de presença marcante na cidade, sobretudo na segunda metade dos anos

1950, com a reformulação do mesmo no âmbito nacional, assumindo um caráter mais

reformista6 e a consequentemente da ampliação dos quadros do partido nesta cidade.

Na pesquisa que desenvolvo, busco compreender o processo de nomeação por parte

dos militares e setores ligados à UDN local, das atividades trabalhistas enquanto subversivas

e como ameaça à ordem vigente. A pesquisa se propõe a lançar um olhar sobre a constituição

4 Essa visão é comum ainda, por parte de inúmeros militares, seus familiares. Por parte da direita conservadora

brasileira. Uma análise dos jornais piauienses de maior circulação, é possível evidenciar que estes falam em

“Revolução Democrática de 1964”, no sentido de se legitimar a tomada de poder pelos militares. 5 Esse é o caso de leituras como de: GORENDER, Jacob. Combate nas trevas. São Paulo, Ática. 1989. 6 Ver: D’ARAÚJO, Maria Celina. Sindicatos, carisma e poder. O PTB de 1945-65. Rio de Janeiro, Ed. da

Fundação Getúlio Vargas, 1996. DELGADO, Lucília de Almeida Neves. PTB. Do getulismo ao reformismo.

1945-1964. São Paulo, Marco Zero, 1989.

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dos movimentos trabalhistas na cidade e sobre o quadro político e social parnaibano nas

décadas de 1950/1960. Essa análise está sendo feita no sentido de compreender as nuances do

sindicalismo local, bem como suas implicações políticas, para dar projeção às diversas

atividades que foram, logo após o golpe, nos princípios de abril de 1964, repreendidas pelos

militares ligados ao 25º Batalhão de Caçadores do Piauí, sediado em Teresina. Além disso, é

necessário compreender a participação de outros grupos ligados, por exemplo à Capitania dos

Portos, bem como dos grupos civis envolvidos no processo de perseguição aos trabalhadores,

após o golpe e a sua posterior tentativa de legitimação por meio da mídia impressa, ligada aos

grandes proprietários locais. Neste sentido, também para perceber as “memórias

subterrâneas”7 dos trabalhadores e demais atingidos em 1964, estão sendo feitas entrevistas

com familiares dos perseguidos pelo golpe.

O processo de acusação feito aos trabalhadores e todos os citados na documentação

que serve como base empírica da nossa pesquisa, dá conta da possível tomada de poder e

derrubada do regime “democrático-representativo” e a posterior implantação de uma “ditadura

síndico-comunista” à maneira de Cuba e outros “países de igual sistema político”. O processo

em questão frisa a participação de trabalhadores parnaibanos no comício da SUPRA, em 13

de março de 1964, cita correspondências de alguns deles trocadas com Leonel Brizola e João

Goulart, adverte sobre a organização de uma passeata de apoio ao governo de Goulart, logo

após os eventos de 31 de março e 1º de abril, na cidade de Parnaíba.

O tema em questão passa pela análise problemática dos eventos em torno da

implantação do regime civil-militar, mais especificamente seus desdobramentos na cidade de

Parnaíba. Também é preciso compreender a progressiva nomeação dos atos e sujeitos ligados

ao sindicalismo na cidade enquanto práticas ligadas ao “comunismo” e à “subversão”. A

temática dessa pesquisa em questão pode ser articulada previamente com o campo de

produção da Nova História Política, (BERNSTEIN, 1994; RÉMOND, 1994) pois a análise

compreende os fenômenos relacionados ao poder em suas ramificações cotidianas, além de

7 Tomo essa expressão de POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos. Rio de

Janeiro, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989. No sentido de que é possível perceber a memória opera a partir de um processo

seletivo e pode se tornar uma arma política contra as vítimas de processos como as perseguições sofridas em

contextos de regimes de exceção, em que o esquecimento estabeleceu sua hegemonia.

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buscar compreender as diferentes culturas políticas (MOTTA8, 2009.) em disputas em um

cenário de confrontos ideológicos

Pude evidenciar, ao longo do desenvolvimento da pesquisa, que existe um interesse

visível, em tudo aquilo que diz respeito ao golpe de 1964 e seu desdobramento imediato: o

regime civil-militar brasileiro. Sobretudo se nos reportarmos para as recentes manifestações

de rua ocorridas nos anos seguintes a 2014, mas também as que levaram – inclusive nos dias

correntes de 2018 – às ruas grupos de saudosistas do regime militar, empunhando bandeiras

pedindo “intervenção das forças armadas na política”9, bem como dos recentes movimentos

em torno da crise política, onde se levantam pautas conservadoras, dentre elas a defesa de um

legado positivo dos militares. O tema adquire uma potencialidade histórica a partir desse

cenário de crise na política brasileira, entre grupos políticos e interesses divergentes,

sobretudo nos últimos 05 anos.

Portanto, no meu entendimento, os discursos do anticomunismo10, o ódio dos setores

ligados aos grupos tradicionais contra qualquer tentativa de ampliação de direitos sociais, são

marcas presentes, ainda não superadas em nosso país. Não superamos também, os entraves

sociais colocados em disputa e os efeitos políticos que levaram os militares ao poder em 1964,

bem como nunca se praticou um mea culpa por parte das forças armadas, referentes aos crimes

de Estado cometidos no período ditatorial. Portanto, a tese, tem como contributo trazer uma

reflexão sobre o golpe civil-militar de 1964, bem como da tradição conservadora que o apoia,

para além dos grandes centros urbanos do país, percebendo como em outros espaços se

processaram as medidas repressivas referentes ao golpe.

Sob este aspecto, devo enfatizar no trabalho a atualidade do tema, apontando como o

golpe de 1964, adquire uma nuance local marcada pelo conservadorismo dos grupos políticos

tradicionais, contra as formas e propostas políticas emergentes nos anos 1950 e 1960, como o

trabalhismo, que encontrou viabilidade eleitoral, em fins dos anos 1950, integrando grupos

8 MOTTA, Rodrigo Patto Sá (Org.). Culturas políticas na História: novos estudos. BH: Argumentum, 2009. 9 É possível acompanhar, especialmente em matérias retiradas de portais e sites na internet, que existe um forte

sentimento, cada vez mais presente, de crise da democracia, ou crise de representatividade, que leva, por seu

lado, largos setores da população a apoiarem iniciativas autoritárias. Sobre isso ver:

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2018/06/pesquisa-do-governo-mostra-que-23-da-

populacao-querem-militares-ou-diretas

ja.shtml?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=compfb 10 Para uma melhor compreensão sobre o anticomunismo no Brasil ver: MOTTA, Rodrigo Patto. Sá Em guarda

contra o “perigo vermelho”. O anticomunismo no Brasil (1917-1964). São Paulo, Perspectiva/FAPESP, 2002.

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plurais da sociedade local, mas que incomodou os setores tradicionais, justamente por trazer

para a legenda petebista as figuras dos arrumadores, marítimos, estivadores, trabalhadores

urbanos e rurais os mais diversos. O golpe, portanto, adquire um forte caráter político-

partidário, a nosso ver, ao buscar inviabilizar um projeto político ligado às massas de

trabalhadores e a grupos políticos não tradicionais, caracterizando-os genericamente como

“comunistas”, pois, segundo acusação, pretendiam instaurar uma “ditadura síndico

comunista” no Brasil, junto ao presidente João Goulart, como indica o IPM investigado.

Esta narrativa vai ser coerente com a lógica dos grupos conservadores brasileiros, que

por meio de uma longa tradição anticomunista, junto a setores do exército, derrubam um

regime democrático. Usamos, portanto, o IPM, instaurado em 1964 e jornais de circulação

local – tais como Gazeta do Piauí, O Paladino, Jornal do Piauí, etc. – que falam sobre as

batidas policiais nos sindicatos, na Estrada de Ferro Central do Piauí, nas residências dos

trabalhadores, etc. no sentido de perceber as nuances políticas envolvidas no quadro histórico

do golpe de 1964 em um âmbito local. O trabalho é relevante pelo seu pioneirismo na cidade

de Parnaíba, bem como por apontar questões relegadas ao esquecimento ao longo do tempo,

pela memória política local.

Do ponto de vista dos documentos que utilizo, nos últimos anos, sobretudo a partir da

criação da Comissão da Verdade, pela presidente Dilma Rousseff, e pela divulgação do projeto

Brasil Nunca Mais (BNM), dirigido pelo Conselho Mundial de Igrejas e pela Arquidiocese de

São Paulo, o contexto histórico que culminou com a queda do governo João Goulart, dando

início à ditadura civil-militar no país, rompendo um curto período de democracia, volta a ser

intensamente debatido por setores da sociedade brasileira. Será esse debate que pretendo me

utilizar, bem como trazer para o cenário norte piauiense as questões referentes ao processo de

repressão política, amparado nos documentos digitalizados pelo projeto Brasil Nunca Mais.

Do ponto de vista historiográfico, considero relevante mencionar uma obra lançada no

ano de 2014, em alusão aos 50 anos do golpe de 1964 e que aponta novas possibilidades de

interpretação extremamente pontuais para as pesquisas que se constroem atualmente sobre o

golpe. A obra de Jorge Ferreira e Ângela de Castro Gomes (2014) é importante nesta pesquisa

para a compreensão de vários aspectos que envolvem a nossa temática e, acima de tudo,

porque nos possibilita empreender uma análise historiográfica pensada a partir do presente,

percebendo as ressonâncias da tomada de poder pelos militares, pois, entre outras questões,

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os autores nos indicam que os efeitos do golpe, fazem parte de uma memória ainda em disputa.

Esse evento é marca de um “passado sensível”, uma vez que é um tema ainda aberto a novas

abordagens por parte dos historiadores e que acima de tudo deve ser encarado, pois:

[...] Seus graves desdobramentos estão ainda bem longe de serem

inteiramente sanados. O golpe civil-militar de 1964 é um bom exemplo de

um acontecimento que demarca um “passado sensível”; um passado que

ainda não passou. Por isso exige que o Estado e a sociedade o enfrentem

corajosamente, em nome de um futuro que não tema o conhecimento desse

passado e que em seu nome abra arquivos e permita o acesso a informações

existentes, mas não disponibilizadas ao público de pesquisadores e cidadãos

do país. [...]11

Outro trabalho importante no sentido de uma compreensão sobre a complexidade que

envolve o contexto histórico do golpe, é o de Caio Navarro de Toledo, por exemplo, ao nos

apontar o quadro político nacional como permeado por “constantes crises político-

institucionais; ampla mobilização política das classes populares (as classes médias, a partir de

meados de 1963, também entram em cena); fortalecimento do movimento operário e dos

trabalhadores do campo; crise do sistema partidário e um inédito acirramento da luta

ideológica de classes”12. Estas, dentre outras observações do historiador, estão sendo

empreendidas na pesquisa no sentido de perceber as tensões no âmbito da política em meados

dos anos iniciais da década de 1960 e as implicações que levaram ao golpe de 1964.

Ao longo do desenvolvimento da pesquisa, do levantamento empírico para o

andamento do trabalho, ao ter acesso aos arquivos digitalizados do “BNM”, um em particular

está sendo utilizado na pesquisa: o processo de número 349, que versa sobre o Inquérito

Policial Militar (IPM), instaurado na cidade de Parnaíba, estado do Piauí, logo após 31 de

março, data que oficializa a efetivação do golpe civil-militar de 1964 no Brasil. De imediato

desperta um interesse sobre o “discurso de acusação” que afirma:

[...] A instalação em breve no Brasil de uma ditadura síndico comunista à

maneira de Cuba e de outros países de igual regime político, segundo os

11 FERREIRA; GOMES, 2014, p. 19. 12 TOLEDO, Caio Navarro de. 1964: o golpe contra as reformas e a democracia populista. Revista de Sociologia

e Política, Curitiba, n.2, jun. 1994.

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acusadores com a participação de vários representantes de sindicatos

classistas e políticos da progressiva urbe de Parnaíba articulados com os

respectivos representantes classistas da Guanabara contando ainda com o

apoio, prestígio e intimidade do presidente João Goulart, instalariam para

sempre no Brasil um governo totalitário e impiedoso como na Rússia13

Parnaíba, nesse contexto, era uma cidade que ainda respirava os ventos de uma

progressiva ampliação de suas atividades produtivas, implementada pelo ciclo do extrativismo

vegetal da primeira metade do século XX, quando foi alçada a categoria de principal cidade

do estado, apesar de não ser a capital14. O que se pode apontar, como resultado de um contato

com as fontes (jornais e poucos livros de memória), é que a participação e organização de

atividades políticas em fins dos anos 1950 e início da década seguinte, na cidade, é algo

marcante, apesar de pouco estudado, inclusive suplantando em alguns pontos o centro

político-administrativo de Teresina, como, por exemplo, com a presença política do P.T.B,

que a partir da década de 1950, contava com duas sedes no estado, uma na cidade de Parnaíba

e outra na capital, Teresina. A primeira, de Parnaíba, por estar localizada no litoral piauiense,

era vista como possuidora de uma maior força representativa, uma vez que nessa região havia

um número expressivo de trabalhadores sindicalizados, em virtude da zona portuária.

A partir de uma leitura mais apurada das fontes, além do levantamento das produções

locais sobre o contexto, pude perceber que existe um ineditismo do tema em questão, pois não

fora produzido trabalho algum, em âmbito de Mestrado ou Doutorado, sobre os impactos do

golpe civil-militar de 1964 na cidade de Parnaíba15. Pude ainda perceber que existem diversos

pontos a serem resolvidos no âmbito político da cidade, quanto à participação de alguns atores

no que se refere às perseguições mencionadas. Sobretudo a partir de algumas entrevistas

13 BRASIL NUNCA MAIS. Brasil Nunca Mais Digit@l. BNM nº 340, 1964. Disponível em:

<http://www.prr3.mpf.gov.br/bnmdigital/>. Acesso em: set. 2016. 14 De acordo com José Luís Lopes Araújo, Parnaíba, por ser a cidade que mantinha contato mais direto com o

exterior, constituiu-se, no período, no principal centro comercial do Estado. Praticamente todas as grandes

empresas, quer industriais, quer de prestação de serviços, nacionais ou estrangeiras, estavam ali representadas,

uma vez que o mercado consumidor lhes era bastante compensador. Em Parnaíba comprava-se de tudo, e o

Parnaíba estava ali pronto para servir de via de transporte das mercadorias para a vasta área dela dependente.

Sua influência econômica extrapolava o Meio-Norte atingindo até Goiás. Parnaíba e o rio Parnaíba estavam para

o Meio-Norte, assim como Amsterdã e o Reno estavam para a Europa. ARAÚJO, José Luís Lopes de. O rastro

da carnaúba no Piauí. In: Revista Mosaico, v.1, n.2, p.198-205, jul./dez., 2008, p. 200 15 As poucas experiencias de pesquisa referentes ao uso dos inquéritos instaurados, se resumem a apresentação

de um trabalho e um seminário organizado por um grupo de estudo marxista (GEMPI), em Parnaíba, porém, com

análises pouco aprofundadas e caindo na lógica maniqueísta típica de um materialismo pouco estruturado

conceitualmente.

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incipientes que pude realizar, percebi uma prática adesista de grupos políticos locais, que

depois de implantado o golpe se beneficiariam politicamente de seus efeitos.

No que diz respeito à caracterização e perfil dos atingidos pelo golpe, o IPM nos

esclarece que:

A quase totalidade dos réus deste processo é constituída de dirigentes

sindicais do Estado do Piauí – estivadores, ferroviários, bancários,

servidores públicos, trabalhadores rurais, da construção civil, dos transportes

fluviais, etc. Alguns são acusados de promoverem greve, apoiarem a

SUPRA, fundarem sindicatos e Ligas Camponesas, terem vínculos com as

centrais sindicais da Europa, estarem ligados ao CGT, serem brizolistas,

etc16

Um dos pontos a ser analisado na pesquisa em questão é perceber as articulações

políticas e os grupos envolvidos com o processo da chamada “operação limpeza”, no cenário

piauiense de 1964, mais particularmente em Parnaíba, onde, apesar de existir um certo silêncio

sobre os eventos referentes ao golpe de 1964, se pode perceber, a partir do processo do BNM,

que se instaurou na cidade, bem como em Teresina, uma repressão fortíssima sobre os

considerados “subversivos”17. Sob este ponto empreendo uma análise dos grupos políticos e

familiares no poder no âmbito local, bem como estou analisando o papel dos veículos de

comunicação, no sentido de uma legitimação do processo de perseguição dos grupos de

trabalhadores no cenário piauiense, como é o caso do jornal O Estado do Piauí que, no calor

das prisões e Inquéritos Policiais Militares, divulga um resumo dos acontecimentos da dita

“revolução de 31 de março”, dando evidência às prisões em Teresina e Parnaíba:

Em consideração à opinião pública de nossa terra, publicamos um resumo

dos acontecimentos relacionados com a revolução de 31 de março de terras

piauienses e dos trabalhos patrióticos e estafantes executados por figuras

ilustres do Exército Nacional que compõem no Piauí o Estado Maior18

16 BRASIL NUNCA MAIS. Brasil Nunca Mais Digit@l. BNM nº 340, 1964. Disponível em:

<http://www.prr3.mpf.gov.br/bnmdigital/>. Acesso em: set. 2016. 17 O processo dá conta da prisão, interrogatório, de mais de 30 sujeitos. Como mencionado, em sua grande parte

ligados ao sindicalismo local. Sobre esse tema existe um verdadeiro silêncio. Muitos dos perseguidos pelo golpe,

guardam absoluto sigilo quanto às suas prisões, ou interrogatórios. Portanto, a pesquisa em questão, apesar de

falar de um tema “tabu” na cidade, pretende dar uma contribuição no sentido de projetar, lançar luz às memórias

dos trabalhadores acossados pela repressão militar 18 Jornal O Estado do Piauí, 18/06/1964, p. 02.

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A partir do levantamento de possíveis atividades “subversivas” nesta cidade, dá-se

início à perseguição aos seus envolvidos. Destaco que a prática repressiva atuou, sobretudo,

nos sindicatos locais e, a partir disso, as operações foram sendo veiculadas na imprensa local,

caracterizadas como uma forma de “livrar” a cidade de Parnaíba do perigo da “infiltração

comunista”, que ameaçava a ordem dessa “progressiva urbe”. Ainda em matérias do Estado

do Piauí vê-se:

As batidas em sindicatos considerados suspeitos foram efetuadas nos

seguintes sindicatos: Sindicato dos Estivadores no Estado do Piauí;

Federação dos trabalhadores em Transportes Fluviais no Estado do Piauí;

Sindicato dos Foguistas Fluviais no Estado do Piauí; Sindicato dos Operários

e Carpinteiros Fluviais no Estado do Piauí; Sindicato dos Empregados em

Estabelecimentos Bancários de Parnaíba; Federação dos Trabalhadores nas

Indústrias do Estado do Piauí; Sindicato dos Contra-mestres, Marinheiros,

Moços e arrumadores Fluviais no Estado do Piauí; Sindicato dos oficiais de

Máquinas, Motoristas e Condutores em Transporte Fluviais no Estado do

Piauí; Sindicato dos Trabalhadores em Oficinas Mecânicas de Parnaíba;

Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Preparação de Óleo Vegetal e

Animal de Parnaíba; Sindicato das Indústrias de Construção e do Mobiliário

do Estado do Piauí; Sindicato dos Contabilista do Estado do Piauí19

Aponto, a partir dessas questões, que a relevância acadêmica desta pesquisa em

andamento, se refere à possibilidade de perceber, como aponta Carlos Fico, “que o golpe não

foi um evento banal, decidido com uma ‘batalha de telefonemas’ e sem violência. Houve

mortes, prisões em massa e muita violência”20. E isso, não apenas nos grandes núcleos de

poder político e econômico do Brasil, como Rio de Janeiro e São Paulo, mas também em

cidades de médio e/ou pequeno porte como Parnaíba, onde um processo instaurado, levou à

prisão de inúmeros líderes dos sindicatos (ferroviários, marítimos, industriais etc.) todos

aqueles que foram, naquele momento identificados – pelos segmentos mais conservadores e

pelos militares – com a subversão e o comunismo. Ainda de acordo com as indicações de

Carlos Fico, é possível pensar que “a abordagem do tema fora do eixo Rio/São Paulo

19 Estado do Piauí, 02/07/1964, p. 03 20 FICO, Carlos. 50 anos do golpe: balanço. Nov/2014. Texto retirado do site Brasil Recente.

http://www.brasilrecente.com/2014_11_01_archive.html. Acesso em 10/09/2016.

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certamente vai gerar uma historiografia mais completa sobre o período”21. A partir desses

pontos destacados, indico ainda a importância da pesquisa, de acordo com o levantamento de

depoimentos das famílias dos trabalhadores, no sentido de perceber suas memórias, e com

isso dar evidência aos efeitos da política repressiva dos militares no espaço parnaibano.

A pretexto de perceber os efeitos de silenciamento produzidos nesta cidade por grupos

políticos, indico que quando menciono que a “memória oficial” da cidade colocou à margem

as organizações dos trabalhadores, os contatos de sindicalistas parnaibanos com figuras

ligadas ao presidente João Goulart e a Brizola, as inúmeras atividades trabalhistas e a tentativa

de organizar uma ramificação das Ligas Camponesas em localidades próximas ao perímetro

urbano de Parnaíba, me refiro a falas como a de uma figura ligada à política local, disputando

cargos eletivos, médico atuante na cidade: Dr. Cândido Athayde. Quando, em entrevista

concedida junto à Fundação CEPRO22, localizada no levantamento para esta pesquisa, este,

quando perguntado sobre como a cidade viu o golpe de 1964, responde:

Àquela época todo mundo estava motivado pelas idéias que apareciam lá no

Rio de Janeiro, mas não refletia aqui. No nosso meio, não tinha repercussão

nenhuma aquele governo e aquelas ideias que o Jango andou deixando que

aqueles soldados e aqueles sargentos, aqueles cabos, fizessem aquele

movimento. Aquilo foi que assombrou os proprietários, os industriais no sul.

Não chegou até nós! [grifo nosso]23

Ao apontar que “essas ideias” não chegaram até nós, o médico indica que em Parnaíba,

não se sentiu o reflexo das organizações sindicalistas, de que não foram perceptíveis na cidade

os impactos de toda a política de mobilização dos trabalhadores às vésperas do golpe de 1964.

Para o médico, Parnaíba passou incólume aos efeitos do golpe civil-militar de 1964, pois esta

cidade seria indiferente aos eventos políticos do centro-sul: “Há um problema interessante; o

parnaibano é muito introvertido”(ATHAYDE, 1984.). É preciso, portanto, colocar em

evidência as “memórias subterrâneas”. Dar voz aos trabalhadores que, em um contexto de

ampliação das formas de organização sindicalistas, influenciadas pela possibilidade de uma

21 FICO, 2014. 22 Trata-se da Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí – CEPRO. Localizada em Teresina,

que possui acervo de entrevistas gravadas com personagens do quadro político piauiense 23 ATHAYDE, Cândido de Almeida. Entrevista concedida ao Núcleo de História Oral da Fundação Centro de

Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí - CEPRO. Em 17 de janeiro de 1984

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reforma profunda nas estruturas produtivas no Brasil, as ditas “Reformas de Base” ousaram

se mobilizar e dar corpo às suas pautas políticas. Marceneiros, pintores, estivadores, operários

dos “Moraes”, trabalhadores das mais diversas atividades urbanas, bem como das

comunidades rurais que circundam Parnaíba, pagaram caro por sonhar tão alto, com uma

melhor distribuição de renda e trabalho. O preço foi a repressão que se abateu sobre estes,

logo após a efetivação do golpe de 1964 no Brasil.

REFERENCIAS:

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http://www.prr3.mpf.gov.br/bnmdigital/

BRASIL NUNCA MAIS. Brasil Nunca Mais Digit@l. BNM nº 185, 1964. Disponível em:

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>. Acesso em: 12 dez. 2015.

FICO, Carlos. 50 anos do golpe: balanço. Novembro de 2014. Texto retirado do site Brasil

Recente. http://www.brasilrecente.com/2014_11_01_archive.html. Acesso em 10/09/2016

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DELGADO, Lucília de Almeida Neves. PTB. Do getulismo ao reformismo. 1945-1964. São

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POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos. Rio de Jeneiro, v.

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Entrevistas:

ATHAYDE, Cândido de Almeida. Entrevista concedida ao Núcleo de História Oral da

Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí - CEPRO. Em 17 de janeiro de

1984.

Jornais:

Jornal Estado do Piauí, Teresina-PI, edições: (1961, 1963);

Jornal Folha da Manhã, Teresina-PI, edições: (1960-1964);

Jornal Gazeta do Piauí. Parnaíba-PI, edições: (1955-1965)

Jornal do Comércio, Teresina-PI, edições: (1960-1964);

Jornal do Piauí Teresina-PI, edições: (1955, 1957, 1961- 1962, 1968-1969);

Jornal O Dia, Teresina-PI, edições: (1959-1964)

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Jornal O Norte. Parnaíba-PI, edições: (1944-1964)