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Rita Horta Anadia 12 de Dezembro de 2003 1 “O FUTURO DO SECTOR VITIVINÍCOLA” CONSEQUÊNCIAS DAS NEGOCIAÇÕES DA OMC E DO ALARGAMENTO NO SECTOR DOS VINHOS RITA HORTA Museu do Vinho da Bairrada – Anadia 12 de Dezembro de 2003 Organização do Centro de Informação e Animação Rural da Beira Litoral, em parceria com a DRABL, com o apoio do Gabinete do Parlamento Europeu em Portugal

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Rita Horta Anadia 12 de Dezembro de 2003

1

“O FUTURO DO SECTOR VITIVINÍCOLA”

CONSEQUÊNCIAS DAS NEGOCIAÇÕES DA OMC E DO ALARGAMENTO NO SECTOR DOS VINHOS

RITA HORTA

Museu do Vinho da Bairrada – Anadia

12 de Dezembro de 2003

Organização do Centro de Informação e Animação Rural da Beira Litoral, em parceria com a DRABL, com o apoio do Gabinete do Parlamento Europeu em Portugal

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CONSEQUÊNCIAS DAS NEGOCIAÇÕES DA OMC E DO ALARGAMENTO NO SECTOR DOS VINHOS

1 - A VITICULTURA EUROPEIA TEM UMA DIMENSÃO MUNDIAL 2 -O IMPACTO POSSÍVEL DE UM ACORDO OMC 3 - OS ACORDOS BILATERAIS 4 - A UNIÃO EUROPEIA E OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

5 - OS NOVOS ESTADOS MEMBROS PRODUTORES

6 - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Nota Prévia

O documento agora apresentado foi elaborado no pressuposto duma possível concretização do actual ciclo de negociações da OMC, o denominado “Ciclo de Doha para o Desenvolvimento”, num exercício que nos parece mais teórico que real na actual situação das negociações, após o falhanço da reunião Ministerial de Cancun, em Setembro passado. Contudo, independentemente da sua concretização, e porque tal nos foi pedido, parece-nos que tem alguma utilidade o exercício em questão para uma melhor compreensão do sector e do seu enquadramento no contexto mundial.

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1 - A VITICULTURA EUROPEIA TEM UMA DIMENSÃO MUNDIAL

• 45% da superfície mundial • 65% da produção mundial • 57% do consumo mundial • 70% das exportações mundiais

Além disso, a EU lidera igualmente o mercado mundial em termos de qualidade, tradição, conhecimento e reputação.

SUPERFÍCIE VITÍCOLA EM PRODUÇÃO EM 2000

SUPERFÍCIE PRODUÇÃO (1000 hl)

PAÍS HECTARES

% DO TOTAL

DA ÁREA MUNDIAL

CLASSIFICAÇÃO PRODUÇÃO

% DO TOTAL DA

PRODUCÃO MUNDIAL

CLASSIFICAÇÃO

Espanha 1 174 000 14.9 1 41 692 15.1 3

França 917 000 11.6 2 57 541 20.9 1

Itália 908 000 11.5 3 51 620 18.7 2

USA 413 000 5.2 5 23 300 8.4 4

Argentina 209 000 2.7 10 12 538 4.5 5

Chile 174 000 2.2 11 6 419 2.3 10

Austrália 140 000 1.8 12 8 064 2.9 7

África Sul 117 000 1.5 17 6 949 2.5 8

Portugal* 252 709 3.2 .. 6 694 2.4 9

Fonte: OIV * DG Agricultura A UE é o primeiro produtor, exportador e importador mundiais. As maiores capitações encontram-se nalguns Estados Membros, apresentando a actual União uma capitação média de 34,5 litros.

CONSUMO PER CAPITA EM 2001

PRODUTOS DESTILADOS VINHO

PAÍS LITROS CLASSIFICAÇÃO PAÍS LITROS CLASSIFICAÇÃO

Rússia 6,30 1 Luxemburgo 64,40 1

Lituânia 5,50 2 França 56,90 2

Roménia 4,50 3 Portugal 50,00 3

Eslováquia 4,40 4 Itália 50,00 4

USA 1,90 18 Argentina 34,00 7

Chile 1,60 24 Austrália 20,00 17

Austrália 1,20 35 Chile 16,00 25

África Sul 0,90 42 África Sul 9,20 31

Argentina 0,30 50 USA 7,60 34 Fonte: WORLD DRINK TRENDS 2003

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O sector do vinho tem grande importânçia no valor da produção final agrícola nalguns Estados membros: em 1997 representava 7,98 % em Portugal1; 13,95 % em França; 8,82 % na Itália; 5,19 % em Espanha. Mas a sua importância é sobretudo determinante ao nível regional e local, onde estes valores podem subir ràpidamente para 20% , 30% ou mesmo, nalguns casos, para 50% (Languedoc-Roussillon). Além da componente económica e social, também a vertente ambiental tem vindo a ser reconhecida. A política comunitária para o sector sofreu grandes alterações desde a sua fundação. Começou por ser de natureza liberal, sem quaisquer restrições à plantação e acompanhada duma política de escoamento da produção. O consequente aparecimento de excedentes levou a uma alteração radical com a proibição de novas plantações a partir de 1974/75, acompanhada da destilação obrigatória. Nos finais de 80, reforçou-se a política de redução do potencial vitivinícola com medidas de apoio ao arranque da vinha. Esta política teve como consequência uma diminuição das superfícies, passando de 4,5 em 1976 para 3,4 milhões de hectares actualmente. Contudo, esta diminuição foi realizada de modo desigual, tendo sido, por exemplo, maior na Grécia, Espanha e França, e mantido-se estável em Portugal. A aplicação dos Acordos do Uruguai Round e a consequente dimuição da protecção externa, a diminuição das superfícies e um maior equilíbrio do mercado, a evolução duma procura com maior exigência de qualidade, o aparecimento dos novos produtores mundiais, estes e outros determinantes levaram a uma reforma da política comunitária, no contexto da Agenda 2000. Priviligiou-se, entre outras, as políticas que promovessem uma maior qualidade da produção para maior adaptação à procura e aumento da competitividade externa: medidas para a renovação e reestruturação, prolongamento da interdição de novas plantações mas com flexibilidade através da criação de novos direiros de plantação, supressão da destilação como um mercado alternativo, entre outras.

2 - O IMPACTO POSSÍVEL DE UM ACORDO OMC A OCM do vinho é das mais completas e complexas, regulamentando o sector desde a plantação até ao consumidor. É uma organização comum de mercado, OCM, que tem uma forte componente de regulamentação: regulação das plantações, classificação dos vinhos, práticas enológicas, etiquetagem, etc. Os instrumentos clássicos de apoio aos preços e mercados, como a destilação de crise e as restituições à exportação dirigem-se exclusivamente aos vinhos de mesa. O mercado assume, assim, um papel determinante na formação dos preços e rendimentos do sector. Estamos, pois, num quadro de funcionamento que se diferencia do da maior parte dos sectores agrícolas apoiados pela PAC e, por conseguinte, também o impacto possível de um novo acordo das negociações multilaterais é particular.

1 Fonte DG Agri, para 1997. Segundo ainda esta fonte, no ano de 1996 este indicador foi de 16,8% para Portugal.

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A aplicação do Acordo Agrícola do Uruguai Round de 1994 (anexo I) alterou substancialmente o regime de trocas com países terceiros. Anteriormente, a protecção era assegurada pela exigência de respeitar um preço mínimo de importação, denominado preço de referência, acrescido do direito aduaneiro e, eventualmene, duma taxa compensatória. A partir de 1995 o preço de referência foi suprimido e os direitos aduaneiros foram reduzidos ao longo de 5 anos, atingindo hoje valores pouco significativos que, em média, serão aproximadamente equivalentes a 7/8 % duma taxa ad valorem. Na perspectiva do acesso ao mercado, estes direitos aduaneiros têm, por conseguinte, uma importância diminuta nas trocas. No quadro actual das negociações, as várias propostas (anexo IV) apresentadas apontam para nova redução. O impacto na protecção comunitária deverá, por conseguinte, ser pouco significativo dado o seu nível actual. O mercado comunitário é um mercado aberto e atractivo às importaçõs de países terceiros, quer pelo seu nível de preços, quer pelo poder de compra dos seus consumidores e, naturalmente, pela tradição de consumo. O mesmo não acontece com muitos países terceiros. De facto, existe uma grande discrepância de direitos aduaneiros a nível mundial, podendo estes, por vezes, atingir valores exorbitantes. Em grande número de casos a protecção dos respectivos mercados internos é também feita por barreiras não tarifárias como monopólios de venda, por taxas de IVA de montantes muito variáveis, por taxas especiais por serviços obrigatórios e, naturalmente, pela aplicação dos denominados impostos ao consumo, cujas negociações (reduções) escapam ao domínio agrícola ou mesmo a qualquer acordo mais global. Na óptica de acesso aos mercados são os acordos bilaterias que têm tido um papel determinante, promovendo a abertura para os seus membros em detrimento, naturalmente, dos não membros. A maior abertura do mercado comunitário pode ser constatada através da mais que duplicação das importações comunitárias: entre 1994 e 2002 passaram de 3 862 milhões para 9 064 milhões de hectolitros. No que respeita às exportações comunitárias, se bem que mantendo-se relativamente estáveis em termos de volume, com valores próximos dos 12 500 milhões de hectolitros, em termos de valor assistiu-se a um aumento importante, de 3 244 milhões de € em 1997 para 4 450 milhões em 2002: o valor de exportação do litro de vinho comunitário passou de 2,6 €/litro em 1997 para 3,45 €/l em 2002, ou seja, uma valorização de 33%, o que só pode significar um aumento qualitativo do vinho exportado. Os nossos principais destinos de exportação são os Estados Unidos, a Suiça, o Canadá, o Japão, que encabeçam esta lista sistemàticamente. As principais origens das importações são a Austrália, África do Sul, Estados Unidos, Chile. Com uma parte menos importante temos ainda importações da Nova Zelândia, da Argentina, da Hungria, da Bulgária.

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Relativamente ao apoio interno, contabilizado através das diversas “caixas” (ver anexo I), para o sector do vinho foi calculado um apoio total de 2052,3 milhões de €. As ajudas à reestruturação e reconversão têm a natureza de ajudas do tipo “caixa verde”, enquanto as ajudas à armazenagem privada e as diversas destilações são do tipo caixa amarela, ou seja, ajudas que deverão ser reduzidas ao longo de um período de tempo. Neste caso, se a obrigatoriedade de redução for aplicada sector a sector, e não globalmente, poderemos estar perante uma decisão com impacto negativo directo para alguns produtores de vinhos de mesa. Em relação às restituições à exportação, e no seguimento do Acordo do Uruguai Round, os limites máximos que a EU pode conceder são: em valor 39,2 milhões de €; em quantidade 2 304 700 hl. Na campanha 2000/2001, a Comissão comunicou para Genebra (sede da OMC) um montante global de 23,7 milhões de € para uma quantidade de 2 278 900 hl. Ou seja, se em termos orçamentais estivemos abaixo do máximo autorizado, em termos de volume esteve-se próximo do limite. O montante de exportações subsidiadas representou, nesse ano, 19,6 % do total das exportações em volume mas menos de 0,6% em valor. No passado recente as restituições têm tido grandes oscilações, em função das condições das colheitas, com um pico de 59,7 milhões de € em 1997. Em termos da negociação do “Doha Round”, qualquer acordo final deverá passar por uma redução dos subsídios à exportação, mais ou menos substancial em função do contexto global da negociação. Não nos esqueçamos que este tema é um dos mais sensíveis e dos mais criticados pelos países terceiros em relação à política comunitária, que a pressão para a sua supressão é enorme, com os EUA a liderar esta posição. Assim, a sua redução, maior ou menor, deverá ter impacto nas exportações de vinhos de mesa para certos mercados de exportação com pouco poder de compra, aonde o preço é um factor determinante. Se o impacto para esse subsector pode ser importante, já do ponto de vista global, e em termos de valor, ele poderá ser diluido. Resta, portanto, no quadro das actuais negociações, as questões relativas às indicações geográficas. Estas têm sempre constituido, na maior parte dos casos, uma das zonas de conflito nas relações da UE com os países terceiros produtores, quer por situações de litígio em termos de usurpações, quer especialmente aquando de negociações de acordos bilaterais pelo não reconhecimento dalgumas denominações comunitárias mais conhecidas e, naturalmente, da respectiva abolição (exemplo: Austrália, África do Sul, EUA). As indicações geográficas, IG’s, inserem-se nos denominados aspectos não-comerciais que a EU tem vindo a defender insistentemente como devendo fazer parte de qualquer novo acordo (ver anexo III) , e que se podem resumir como o reconhecimento do direito de manter um modelo de agricultura (agricultura multifuncional) que tenha em conta as preocupações da protecção do ambiente, do desenvolvimento rural, a segurança alimentar (aplicação do princípio de precaução), do bem estar animal e uma melhor protecção para os produtos regionais de qualidade, as indicações geográficas. Em coerência com esta posição, e em particular no que respeita às IG’s, a UE aprovou uma lista de 41 IG’s originárias da UE, das quais 22 dizem respeito a vinhos e bebidas

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espirituosas, onde se encontram as relativas aos vinhos Madeira e Porto (anexo V). Pretendia a Comissão obter resultados em três áreas:

• O estabelecimento multilateral de um registo das indicações geográficas, formalmente inserido no ADPIC – Acordo sobre os Direitos da Propriedade Intelectual e do Comércio.

• A extensão da protecção prevista para os vinhos e espirituosos a outros produtos,

igualmente matéria do ADPIC.

• A recuperação de certas IG’s agrícolas da UE, usurpadas à escala mundial.

Após o insucesso da reunião ministerial de Cancun, a UE decidiu mostrar maior flexibilidade em relação ao primeiro ponto, tendo tomado esta posição no Conselho de Ministros dos Assuntos Gerais de 9 de Dezembro de 2003. Ou seja, sobre a criação de regras para o registo multilateral das IG’s, a posição antes de Cancun apontava para a criação do registo juridicamente obrigatório, inserido no Acordo ADPIC. A flexibilidade agora apresentada parte duma avaliação feita pelo Comissário Lamy que considera esta questão “provàvelmente irrealista” no contexto actual das negociações, e em que a EU estará disposta a recuar para uma forma de registo não-obrigatório, mas que deveria evoluir para a obrigatoriedade inicialmente proposta, através duma cláusula evolutiva. Trata-se duma matéria que tem poucos simpatizantes a nível dos membros da OMC2, cuja inserção nas próprias negociações é contestada, mesmo que, para produtos que não o vinho, por exemplo, a UE tenha tido o apoio de alguns influentes membros como a Índia (interesses no arroz Basmati, chá Darjeeling), mas que nos parece manifestamente pouco. As IG’s já estão regulamentadas desde o Acordo do Uruguai Round, no ADPIC, artigos 22, 23 e 24, estes dois últimos exclusivamente para os vinhos e bebidas espirituosas. Contudo, se o artigo 23 prevê os princípios gerais e as condições em que as IG’s se sobrepõem às marcas comerciais, o artigo 24 prevê um conjunto de derrogações às regras definidas no artigo 23, isto é, à supremacia das IG’s sobre as marcas comerciais. Este artigo prevê ainda quais os princípios a seguir em futuros acordos bilaterias. Este articulado, sendo um claro avanço em relação à total ausência de qualquer regulamentação neste domínio, é insuficiente para evitar as usurpações às denominações comunitárias. Foi o acordo possível naquele altura e, naturalmente, representa o resultado das

2 Por exemplo, em Julho deste ano, na reunião da OMC em Montreal, o Secretário de Estado Americano para o Comércio, Robert Zoellick, criticou da seguinte forma a posição comunitária sobre esta matéria: “Os países europeus passaram 500 anos a colonizar-nos e agora que conseguimos libertarmo-nos, querem que nós paguemos pelos “seus nomes”. Sobre a lista dos 41 produtos apresentada pela Comissão, disse: ”Também reparei que alguns dos nomes estavam em inglês, e eu pensava que esta era a minha língua, não a deles” (Sherry, apresentado em versões anteriores da lista, que foi substituido pela versão espanhola Jerez). Retirado de “Gain Report” nº E 23165, de 28/8/2003.

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forças negociais em questão. Ou seja, foi redigido de tal forma que não põe em causa as políticas e os interesses instalados nos outros membros da OMC. O passado não é abrangido, ou melhor, é isentado da aplicaçao do princípio geral, só se aplicando o mesmo, na sua íntegra, para situações futuras. O que é o mesmo que dizer que os contenciosos com o Porto, Champagne, Grappa, etc, continuaram. E daí a necessidade de continuar com negociações bilaterias: tentar resolver caso a caso as zonas de litígio, mas igualmente alargar o âmbito das regras, como já se referenciou, a domínios tão importantes como as práticas enológicas, rotulagem, certificação, etc. De tudo o que dissemos, poderemos concluir que, para a globalidade do sector do vinho, e na perspectiva dos efeitos directos sobre os mecanismos da regulamentação comunitária do sector, o impacto das negociações multilaterias da OMC são relativamente pouco determinantes para o desenvolvimento futuro do sector: a possível diminuição dos direitos aduaneiros, das restituições às exportações e das ajudas do tipo destilação obrigatória afectam directamente uma parte do sector, a dos vinhos de mesa, e num grau que nos parece de importância menor face à evolução do sector nos últimos anos. A área de maior importância é a relativa às IG’s, onde qualquer avanço será sempre positivo, mas onde a possibilidade de o alcançar nos parece limitada. Assim, para o sector do vinho, no que resppeita às questões do comércio mundial, os acordos bilaterias predominam e são mais importantes do que as regras da OMC.

3 - OS ACORDOS BILATERAIS

A importância dos acordos bilaterias neste sector é particularmente determinante, como já se disse, constituindo estes, neste momento, a grande e pràticamente única forma de organização do comércio a nível internacional. Os acordos realizados pela UE são ou específicos para o sector dos vinhos, como é o caso do acordo com a Austrália, México, ou são globais com um capítulo específico para os vinhos. A nível mundial assiste-se a uma proliferação de acordos, específicos, globais, sob a forma de zonas de comércio livre ou de organizações mais alargadas, um pouco por todas as regiões do globo: nas Américas, entre o norte e o sul e entre cada uma delas, na Ásia ao nível das várias sub-regiões, no sul da África. A EU contribui igualmente para este movimento, através do seu próprio alargamento e dos múltiplos acordos em que participa ou onde está em negociação3.

3 De entre estes realçamos o do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) pela importância de dois grandes produtores, a Argentina e o Brasil, países que têm um potencial vitícola enorme no curto e médio prazo. A UE mantém negociações bilaterias com o Mercosul desde Junho de 1999, para a concretização de um Acordo de Associação cuja finalização está prevista para Outubro de 2004. A UE é o principal parceiro comecial do Mercosul representando 25 % do seu comércio total e 50% das suas exportações agrícolas.

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Esta situação tem por efeito criar sub-regiões onde as barreiras ao comércio tenderão a desaparecer no seu interior, com a natural discriminação face ao resto do mundo... Como já se disse, a UE tem vindo a realizar acordos bilaterias com uma parte dos países terceiros com os quais tem relações comerciais importantes. Em linhas gerais, estes acordos baseiam-se no reconhecimento recíproco das denominações geográficas respectivas, através de listas positivas exaustivas. Incluem igualmente a aceitação comum das práticas enológicas permitidas bem como todas as outras questões directamente relacionadas com as trocas e mecanismos de gestão do acordo. De todos os acordos assinados, nem todos se podem considerar completos ou acabados, como é o caso da Austrália relativamente à determinação da data limite para a supressão da utilização de algumas IG’s comunitárias, nomeadamente relativas ao vinho do Porto. Alguns dos principais acordos bilaterais assinados até esta data sobre o sector do vinho:

• Austrália: 94/184/CE - Decisão do Conselho de 24 de Janeiro de 1994 relativa à celebração do Acordo entre a Comunidade Europeia e a Austrália sobre o comércio do vinho.

• Hungria, Bulgária e Roménia: Regulamento (CE) nº 678/2001 relativo à

celebração dos respectivos acordos respeitantes a concessões em matéria de trocas comerciais preferenciais recíprocas de certos vinhos e bebidas espirituosas, e que altera o Regulamento (CE) nº 933/95.

• México: 97/361/CE: Decisão do Conselho de 27 de Maio de 1997 relativa à

conclusão do Acordo entre a Comunidade Europeia e os Estados Unidos Mexicanos sobre o reconhecimento mútuo e a protecção das denominações no sector das bebidas espirituosas.

• Suiça: Acordo entre a Comunidade Europeia e a Confederação Suíça relativo ao

comércio de produtos agrícolas, Jornal Oficial nº L 114 de 30/04/2002) ( anexos 7 e 8, respectivamente vinhos e bebidas espirituosas).

• África do Sul: 2002/53/CE e 2002/54/CE - Directivas do Conselho, de 21 de

Janeiro de 2002, relativas à aplicação provisória dos Acordos entre a Comunidade Europeia e a República da África do Sul sobre, respectivamente, o Comércio de Vinho e o Comércio de Bebidas Espirituosas.

• Chile: Acordo sobre o Comércio de Vinhos - Anexo V referido no artigo 90º do

Acordo de Associação entre a Comunidade Europeia e os seus Estados-Membros e a República do Chile, Jornal Oficial de 30/12/2002.

• Canadá: Acordo sobre os vinhos e bebidas espirituosas, assinado em 16 de

Setembro de 2003 mas ainda não ratificado nem publicado.

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4 - A UNIÃO EUROPEIA E OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

O mercado americano não é só o primeiro mercado de exportação da EU, 1 934 milhões de € em 2002, ou seja, 43,5 % do total das nossa exportações, mas também aquele de maior valor acrescentado. A EU exporta para os EUA cerca de cinco vezes mais do que importa, em valor, daí a extrema importância dum acordo neste sector. Mas, o seu impacto não se limita só aos aspectos económicos, o mercado americano é considerado igualmente importante devido à sua capacidade inovadora a vários níveis (produtos novos, novas embalagens, marketing de vinho) bem como à sua capacidade de influência no resto do mundo. O valor das exportações americanas rondou os 549 milhões de dólares em 2002, face aos 508 milhões em 2001(ver quadro seguinte). A UE representa o seu principal mercado exportador, embora estejam bastante concentradas no Reino Unido, o maior importador indivividual de vinhos americanos, representando 189 milhões de dólares em 2002, um crescimento de 13% face aos 167 milhões de 2001.

Principais exportações e importações americanas de vinho em 2001

Destino das exportações

Origem das importações

País

Valor (milhões $)

%

País

Valor (milhões $)

%

1-Reino Unido 2-Canadá 3-Países Baixos 4-Japão 5-Bélgica/Lux Total 3 EM Total

167 85 69 50 27 263 508

32,9 16,7 13,6 9,8 5,3 51,7 100

1-França 2-Itália 3-Austrália 4-Chile 5-Espanha Total 3 EM Total

809 610 345 137 109 1520 2 200

36,8 27,7 15,7 6,2 5

69,7 100

Fonte: Department of Agriculture, Foreign Agricultural Services Em 1983 a União Europeia e os EUA celebraram um acordo, sob a forma de troca de cartas, que regulamentou as práticas enológicas, o qual expirou em 1986. Desde então as duas partes estão num processo de negociação sem que, contudo, tenha sido possível chegar a um acordo até esta data. Várias questões de fundo as têm vindo a opôr, entre as mais importantes salientamos as práticas enológicas, um sistema de certificação simplificado e, naturalmente, o “eterno” problema do reconhecimento dalgumas

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denominações de origem comunitárias, consideradas “semi-genéricas”, e ainda as menções tradicionais. Relativamente aos “semi-genéricos”, o Congresso americano aprovou, pouco tempo depois do Acordo do Uruguai Round, uma lista de 15 denominações que classificou como “semi-genéricos” (“Lei D’Amatto” do nome do seu proponente) e que constituem usurpações de denominações comunitárias: Angelica, Burgundy, Claret, Chablis, Champagne, Chianti, Malaga, Marsala, Madeira, Moselle, Port, Rhine, Sauterne, Sherry e Tokay. Estas denominações são consideradas protegidas nos termos do artigo 24 do ADPIC e, claro, tidas como intocáveis pelos americanos. A regulamentação comunitária não permite, naturalmente, que sejam importados vinhos com estas denominações bem como referências a menções tradicionais. A contestação a esta legislação está, nesta data, em análise ao nível da OMC, que foi chamada a pronunciar-se sobre a sua compatibilidade com as regras da OMC (ADPIC) pela Austrália, acção que, naturalmente, os EUA apoiam... E assim iremos acompanhar mais um diferendo entre as marcas comerciais e as IG’s, agora ao nível da OMC, enquanto a UE e os EUA tentam estabelecer pontes de entendimento. De salientar ainda, no actual quadro de negociações com os EUA, a inclusão de matérias do âmbito das negoiações OMC como os direitos aduaneiros (adopção duma posição comum de redução máxima); (supressão) as restituições à exportação; e redução do apoio interno, nomeadamente as ajudas à reestruturação e reconversão. Na ausência de qualquer acordo, as exportações de vinhos americanos para a EU só são possíveis com a derrogação de algumas práticas enológicas comunitárias e aceitação do sistema de certificação americanos, e para as quais regularmente é necessário tomar uma decisão comunitária (a actual derrogação consta do Regulamento do Conselho nº 1037/2001, e termina a 31/12/2003). O último ciclo de negociações, que se iniciou em 1999, deverá terminar antes de 31 de Dezembro deste ano. As actuais negociações continuam a encontrar fortes pontos de desacordo que incidem, naturalmente, sobre as eternas clivagens de fundo. Mas, como os números indicam de forma clara e inequívoca, a UE não pode dar-se ao luxo de perder o seu maior e mais interessante cliente...E, portanto, na ausência de um acordo, tal como no passado, ir-se-á muito provavelmente proceder à renovação das derrogações para que as trocas não sejam interrompidas. Num quadro negocial desta natureza, com a EU usufruindo de um excedente extaordináriamente importante no mercado americano, é evidente que os graus de liberdade da negociação são muito poucos.

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5 - OS NOVOS ESTADOS MEMBROS PRODUTORES

De entre os dez novos estados membros, a partir de 1 de Maio de 2004, e os 3 países candidatos, provavelmente com entrada em 2007 para a Roménia e Bulgária, o sector do vinho está representado de forma muito desigual.

Embora quase todos tenham áreas de cultivo da vinha (na Polónia e Estónia não há registro de vinhas) a sua dimensão nalguns casos é insignificante. Os maiores produtores e exportadores líquidos são a Hungria, a Roménia e a Bulgária, com produções que rondam os 5 500 000 hl para os dois primeiros e um pouco mais de 2 000 000 hl para o último. A Eslovénia e as Repúblicas Checa e Eslováquia também têm pequenas produções, mas são sobretudo países importadores, tal como os restantes. Para os três mais importantes produtores, a evolução das superfícies de produção mostra uma tendência para a diminuição, com excepção da Roménia aonde se verificou um aumento da plantação de híbridos.

Do ponto de vista da organização interna do mercado, são produtores que já tinham um modo de funcionamento semelhante ao comunitário, quer em relação às práticas enológicas quer à classificação dos vinhos, com denominações de origem reconhecidas. A partir de 1 de Maio de 2004, a sua integração nas regras de funcionamento da OCM comunitária deverá ser completa.

São mercados que se apresentam relativamente fechados às importações com excepção das regiões ou países com os quais estabeleceram acordos prévios. É o caso da UE, que estabeleceu acordos de associação, prévios à adesão, e outros países de leste limítrofes. Para estas regiões se dirigem as suas exportações e se realizam as suas importações em condições preferenciais, normalmente com baixas ou nulas barreiras ao comércio. Esta situação tem vindo a permitir algum desenvolvimento das suas exportações para o mercado comunitário, com destino prioritário para a vizinha Alemanha e o Reino Unido. Este fluxo é tanto mais importante quanto se constata uma diminuição global das suas exportações nos últimos anos.

Importações de vinho na EU (1000 Euro)

1997 1998 1999 2000 2001 2002 Bulgária 72 572 66 331 73 442 49 865 43 004 34 477 Hungria 46 485 53 443 56 605 58 359 42 865 43 403 Roménia 21 240 23 297 18 279 14 165 19 516 14 520 Total UE 1 033 315 1 251 038 1 66 267 1 823 049 2 235 548 2 254 064

Fonte: Comex, Eurostat

A Roménia e a Bulgária foram grandes exportadores na década de 70 e 80, mas o envelhecimento das suas vinhas, a sua desadequação aos novos gostos dos consumidores e a concorrência dos novos produtores, em particular da África do Sul, no mercado comunitário, tem vindo a que a sua importância diminua.

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Esta situação é particularmente visível no caso da Bulgária, que passou de segundo exportador, em volume, para o mercado comunitário, em 1997, com 711 666 000 hl, para sétimo lugar, em 2002, com 232 125 000 hl. Para a Bulgária, como para os restantes, as quotas de exportação para a UE encontram-se, pois, subutilizadas.

O acesso a estes novos membros deverá ser melhorado para os países terceiros a partir da data da adesão uma vez que se deverá proceder à harmonização da tarifas aduaneiras respectivas que, nalguns casos, atingem valores de 70 e 80% de taxa ad valorem. A aplicação da regulamentação comunitária directamente em vez de regras diferentes segundo cada país e, por vezes, menos transparentes, também deverá facilitar a vida aos exportadores. Resta ver se a evolução do poder de compra dos seus consumidores o permite.

Os novos produtores têm merecido a atracção de um número importante de investidores comunitários, introduzindo melhorias importantes a nível estrutural, inseriodas em programas de modernização.

No que respeita às exportações europeias, só dois novos membros aparecem na lista dos primeiros 11 mais importantes destinos dos vinhos comunitários quando contabilizadas em volume: a República Checa e a Polónia. Este último país é um importante exportador para a Rússia e outros países de leste. Esta importância é reduzida quando se trata de medir as exportações em valor, já que os vinhos comunitários exportados rondam os 40 a 50 cêntimos por litro.

6 - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os EUA sairam da OIV e, quase em simultâneo, participaram na criação do World Wine Trade Group, WWTG, ao qual a EU não pertence. Em Dezembro de 2001, juntamente com a Austrália, o Canadá, o Chile e a Nova Zelândia, assinaram o denominado Mutual Acceptance Agreement (MAA), Acordo de Reconhecimento Mútuo. A Argentina assinou-o em Julho de 2002, devendo ser em breve seguida pela África do Sul. O Brasil e o Uruguai poderão igualmente aderir a esta organização.

A aceitação do Acordo MAA implica o reconhecimento automático das regras e práticas enológicas de cada uma das partes. Cada membro autoriza a importação de vinhos de qualquer dos outros membros desde que os vinhos sejam fabricados de acordo com a legislação interna de cada membro relativa à produção e práticas enológicas. O Acordo MAA aceita o reconhecimento de diferentes práticas enológicas baseadas nas condições locais, nas diferenças climáticas, nas diferentes tradições. Aceitam igualmente que os métodos de produção e as práticas enológicas estejam em constante evolução.

Esta linha de orientação pressupôe uma posição crítica em relação àquilo que consideram ser a utilização abusiva das práticas enológicas como entrave ao comércio.

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Este sistema automático de reconhecimento mútuo das práticas enológicas diferencia-se substancialmente do comunitário e daquilo que tem sido a regra geral de estabelecimento de acordos nesta área.

Os EUA, à semelhança de outros, têm vindo igualmente a participar no actual movimento de proliferação de zonas de comércio livre, ZCL. Assim, este ano estabeleceram uma ZCL com o Chile e outra com Singapura. Mantém negociações com a SACU, South Africa Customs Union, Austrália e Marrocos, para além das negociações em curso para a criação da ZCLA, Zona de Comércio Livre das Américas, que reune os 34 países de toda a América (Cuba excluida). Os mercados asiáticos também estão nesta procura de melhoria de acesso às suas exportações, nomeadamente na APEC, Asia-Pacific Economic Cooperation.

Estes são os produtores que concorrem com a UE num mercado aonde o seu peso e a sua qualidade começa a deixar marcas. O mercado comunitário é atractivo pelos seus níveis de preços. Se se complementar com estratégias agressivas de comercialização, estão preenchidas as condições para o aumento das importações. Assim, a concorrência destes produtores faz-se em duas frentes: no mercado mundial e no próprio mercado comunitário.

Em conclusão, temos diferendos no que respeita as IG’s (e menções tradicionais); temos abordagens diferentes em termos de práticas enológicas; em termos de organização institucional, não existe um forum internacional comum: de um lado, a OIV sem os EUA; do outro o WWTG sem a UE. Exitem países produtores com potencais produtivos no curto prazo (Argentina) e médio prazo (Brasil) que podem introduzir alterações importantes no sector. E poderíamos continuar com esta enumeração e completá-la com aquilo que dissemos no início: a UE tem o sector vitivinícola mais importante a nível mundial! Mas, o modelo europeu para o sector do vinho está cada vez mais a ser confrontado com o modelo dos novos produtores, com uma lógica de organização e funcionamento completamente diferentes, que o tornam atractivo aos grandes investidores mundiais do sector, unidos por uma lógica industrial e independente da origens e nacionalidades. Neste, como noutros sectores, haverá que saber definir linhas estratégicas de orientação que se enquadrem numa realidade em rápida mutação mas sem esquecer que a agricultura europeia é também um modelo de sociedade.

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ANEXO I

O Acordo Agrícola (AA) do Uruguai Round em 1994

Maior inserção do comércio agrícola nas regras e obrigações do comércio internacional. Conversão das medidas de natureza não tarifária em direitos aduaneiros normais, introdução de quotas à importação (tarificação); redução dos subsídios à exportação e dos apoios internos (ajudas) que distorcem o comércio.

Exportações

Direitos

Apoio Interno Valor Quantidades

Países Desenvolvidos 1995-2000

-36%

-20%

-36 %

-21%

Países em Desenvolvimento 1995-2004

-24%

-13%

-21 %

-14%

Apoio interno - as “Caixas” Caixa verde – ajudas internas que não distorcem, ou só minimamente, o comércio, e que, em consequência, estão isentas da obrigação de redução. Caixa azul – ajudas directas inseridas em programas de limitação da produção, excluídas da obrigação de redução. Cobrem as ajudas comunitárias da reforma de 1992, que estão parcialmente ligadas à produção, “geladas” pela utilização de períodos de referência históricos. Caixa amarela – inclui todas as ajudas não incluídas nas outras caixas e que estão sujeitas à obrigação de diminuição. Concorrência na exportação – Cobre todas as formas de incentivos ou apoios à exportação (subsídios, restituições e créditos à exportação, políticas fiscais, preços diferenciados, empresas de estado, abusos na ajuda alimentar, etc.). Contudo, no Acordo Agrícola, só as restituições à exportação estão sujeitas a um controlo e redução. Cláusula de Paz - Artigo 13 do AA: restringe as partes contratantes de agir contra as ajudas concedidas por outras partes, desde que as mesmas façam parte das caixas verde ou azul, não podendo ultrapassar o nível concedido em 1992 (UE: reforma de 1992) Multifuncionalidade – papel complementar da agricultura para além da produção: contribuição para o desenvolvimento sustentável, protecção do ambiente, vitalidade sustentada das zonas rurais e diminuição da pobreza. Princípio de precaução – instrumento para gestão do risco. Para a Comissão, a UE tem o direito de níveis de protecção adequados para cobrir casos onde evidência científica é insuficiente, inconclusiva ou uma avaliação preliminar indica riscos de efeitos perigosos sobre o ambiente, pessoas, animais ou plantas, não consistentes com o nível de protecção definido

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ANEXO II

OMC – AS NEGOCIAÇÕES DO “DOHA ROUND” – “A AGENDA PARA O DESENVOLVIMENTO”

Calendário

WTO UE 1999 – Novo Ciclo Comercial, Seattle 2000 – Início negociações agrícolas Dezembro 2000- Primeira Posição UE Novembro 2001- Declaração “DOHA” 2001/2002 –Várias propostas específicas e fixação calendário 27 Janeiro 2003 –Nova Posição União 31 Março 2003 – data limite fixação modalidades e fórmulas 26 Junho 2003 –Decisão reforma PAC

28 Agosto 2003-Posição conjunta EU/USA 10/14 Setembro 2003 – Falhanço da reunião Ministerial, Cancun 9 Dezembro 2003 – Nova posição da UE 12 Dez 2003 - Braília:G 20+EU+DG OMC 15 Dezembro 2003 – Genebra 1 Janeiro 2005 – data final negociações ?? Objectivos gerais da União:

• obtenção de uma maior liberalização das trocas numa base equitativa e equilibrada (“A UE relembra que o processo de reforma tem como objectivo uma melhoria dos padrões de vida através duma maior liberalização com base num processo equitativo e equilibrado ”)

• Aspectos não-comerciais: o direito de manter um modelo de agricultura (agricultura

multifuncional) que tenha em conta as preocupações da protecção do ambiente, do desenvolvimento rural, a segurança alimentar (aplicação do princípio de precaução), do bem estar animal; melhor protecção para os produtos regionais de qualidade (indicações geográficas)

• Promoção dos países em desenvolvimento e dos menos desenvolvidos no sistema de

comércio internacional, através duma política activa.

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ANEXO III

POSIÇÃO DA UE - 27 JANEIRO 2003 I - Acesso ao mercado

• Redução adicional de 36 % dos direitos à importação, com um mínimo de 15 % por linha tarifária. Condições mais favoráveis para os países em desenvolvimento (PVD) e os menos desenvolvidos (PMD).

• Todos os países desenvolvidos e todos os países em desenvolvimento avançados deverão garantir acesso total aos seus mercados – isenção total de direitos e de quotas à importação – aos países menos avançados: PVD e PMA. Estas medidas deverão representar, pelo menos, 50 % do total das suas importações agrícolas.

• Contingentes à importação: regras e disciplinas para garantir maior transparência. • Cláusula Especial de Salvaguarda: continuar com mesmo tipo de instrumento. • Indicações Geográficas: para além do ADPIC (Acordo sobre os direitos de

propriedade intelectual relativos ao comércio), garantir, no contexto agrícola, a protecção contra o abuso das denominações de produtos com IG’s (Indicações Geográficas), através do estabelecimento duma lista de produtos reconhecida por todos.

II - Concorrência à exportação • Redução das despesas com os subsídios à exportação de 45 % em média, na condição

desta redução ser aplicada igualmente a todas as outras formas de subsidiação da exportação: créditos à exportação, ajuda alimentar sob a forma de produtos, empresas de comércio estatais (subsidiação cruzada, etc.).

• Diminuição gradual (supressão) das restituições comunitárias para certos produtos (cereais, oleaginosas, azeite e tabaco) se todas as outras partes contratantes igualmente suprimirem todas as formas de subsidiação à exportação.

III - Apoio interno • Redução de 55 % do total dos subsídios que distorcem o comércio (“caixa amarela”),

medidos através da “MGA”- Medida Global de Apoio. • Manutenção da “caixa azul” • Manutenção da “Cláusula de Paz”

IV - Questões não comerciais (condicionante das propostas apresentadas) • Segurança alimentar: definição precisa para o uso do princípio da precaução • Rotulagem obrigatória: interpretação comum dos critérios e orientações • Ambiente: medidas de apoio devem ser incluídas no Acordo sobre Agricultura (AsA) • DR: medidas de apoio à agricultura (multifuncional): inclusão no AsA • Bem estar animal: isenção (caixa verde) para ajudas à compensação dos custos

adicionais.

POSIÇÃO DA UE - 9 DEZEMBRO 2003

Após evolução para uma tomada de posição conjunta, antes de Cancun, com os EUA, a posição da EU pode ser resumida da seguinte forma: reduções dos apoios da caixa amarela, continuação da caixa azul embora dentro de certos limites, e manutenção actual da formulação da caixa verde. Redução dos direitos aduaneiros numa fórmula combinada entre o “método UR e a fórmula suiça” (redução linear combinada com maior diminuição para os direitos mais elevados). A eliminação de subsídios à exportação só para produtos considerados sensíveis para os PVD, como o algodão, por exemplo.

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ANEXO IV

OMC - O CICLO DE “DOHA”- NEGOCIAÇÕES

Comparação das propostas EU(Janeiro 2003) e “Harbinson”*

Questões

Proposta Harbinson

Proposta UE

Taxas à importação Acesso ao mercado via quotas (TRQ) PMA’s Subsídios à exportação Cláusula de Paz Indicações Geográficas Caixa verde Caixa azul Questões não comerciais

3 níveis de redução: <90% : 60% redução média 90%<15%: 50% redução média <15% : redução média 40% Aumento 10% do Consumo em volume Sem obrigação redução DA Importações sem direitos nem quotas base voluntária Diminuição progressiva até eliminação após 5 ou 9 anos Sem referência Não tratado Manutenção: modificações substanciais para reforçar Máximo 1999/2001 para reduzir 50% em 5 anos Não tratado (a ver posteriormente ??)

Fórmula linear (UR) : redução de 36% com mínimo de 15% Não tratado Acesso total sem direitos nem restrições quantitativas (Iniciativa “EBA”) Diminuição média de 50%. Supressão para alguns produtos Manutenção Melhorar protecção: publicação de lista Manutenção + Bem estar animal Manutenção A tratar em ligação com “TBT” e “SPS”

*Proposta apresentada pelo Secretário Geral da OMC, Sr, Harbinson

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ANEXO V

Lista das Indicações Geográficas originárias das Comunidades Europeias

Vinhos e Bebidas Espirituosas Beaujolais

Bordeaux Bourgogne

Chablis Champagne

Chianti Cognac

Grappa di Barolo, del Piemonte, di Lombardia, del Trentino, del Friuli, del Veneto, dell'Alto Adige

Graves

Liebfrau(en)milch Malaga

Marsala Madeira

Médoc Moselle

Ouzo Porto

Rhin

Rioja

Saint-Emilion Sauternes

Jerez, Xerez

Outros produtos Asiago Azafrán de la Mancha Comté

Feta Fontina

Gorgonzola Grana Padano

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Jijona y Turrón de Alicante

Manchego Mortadella Bologna

Mozzarella di Bufala Campana Parmigiano Reggiano

Pecorino Romano Prosciutto di Parma

Prosciutto di San Daniele Prosciutto Toscano

Queijo São Jorge Reblochon

Roquefort