o feminismo na ibiapaba é como o sol no semiárido, perene e vigoroso

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O Movimento Ibiapabano de Mulheres – MIM nasceu como nasce o sol todas as manhãs, suave e intensamente... Tudo começou em 2004, num dinâmico processo de mobilização rumo a I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres e permaneceu assim, apaixonante e vivo nas duas Conferências subsequentes. Os Sindicatos de Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais, a Pastoral Social da Diocese de Tianguá e o Fórum de Mulheres Cearenses impulsionaram as Plenárias Municipais e Regionais juntamente com setores do poder público, num rico debate sobre violência contra as mulheres, saúde da mulher, trabalho, emprego e renda, juventude, educação e racismo. "Particularmente o MIM representa um espaço que além de pautar e esclarecer sobre as questões políticas atuais é também acolhedor, dinâmico, incentiva e permite a fala sobre os mais diversos assuntos e opiniões, questiona sem excluir ou oprimir. Informa, comunica e nele podemos ficar à vontade para nos posicionar contra toda forma de injustiça ao gênero feminino sem temer ser hostilizada. MIM é sinônimo de conhecimento e liberdade".(Karol Dias*/ESPAF). Depois da I Conferência ficou impossível voltar à “vida normal”. Parte dessas mulheres, vindas de Viçosa do Ceará, Tianguá, Ubajara, Ibiapina, São Benedito, Carnaubal, Guaraciaba e Croatá, permaneceram articuladas, reunindo- se mensalmente para planejar, executar e avaliar suas ações. O MIM é feito por mulheres guerreiras , comprometidas com o bem das "outras", que sempre está à disposição da sociedade. Posso dizer, que o MIM, veio pra somar na minha vida e espero que eu possa permanecer por muito tempo, pois tenho certeza que se continuarmos com um só objetivo, o MIM, nunca vai deixar de existir...” Marteane* – Ubajara. O enfrentamento à violência contra as mulheres impulsionou o MIM nos primeiros passos da caminhada. Daí surgiu a reivindicação por uma Delegacia Especializada de Defesa dos Direitos das Mulheres, até hoje pleiteada. A Escola de Formação Política e Cidadania ESPAF tem oferecido ao MIM meios, espaço e apoio político em todas as suas ações. "É um grande ganho para a Serra da Ibiapaba em termos de organização e tem uma força política muito grande. O que mais destaco no trabalho do MIM é a formação que fazem com o público do bolsa-família em Viçosa. É um trabalho que admiro e nunca ouvi falar que exista em outro lugar do Brasil". (Elviro Bezerra/ESPAF) Somando forças com organizações feministas e outras mistas, como o Território de Identidade Rural da Ibiapaba e o Fórum Microrregional de Convivência com o Semiárido, o MIM vai realizando sua missão organizando as mulheres na defesa de seus direitos, a partir de processos de formação feminista e mobilização social permanentes, incentivando o protagonismo e a autonomia das mulheres na construção de um mundo de igualdade, justiça e liberdade. Em 2013 nasceu mais um raio de atuação do Movimento: a AMIM, Associação do Movimento Ibiapabano de Mulheres, organização feminista, popular, sem propósito político-partidário, o braço jurídico do MIM. Nesses 10 anos de auto-organização das mulheres na Ibiapaba o feminismo vem se consolidando como um sujeito político pela prática subjetiva de mulheres que têm transformado suas vidas, ao mesmo tempo em que transformam o ambiente em que atuam, desconstruindo antigos tabus, superando velhos preconceitos, incorporando teorias feministas e construindo novas concepções de mundo e de pessoa. “Ser do MIM é ter respeito próprio, é principalmente ter orgulho de ser mulher! Ser do Movimento Ibiapabano de Mulheres é ter coragem de colocar a cara a tapa para admitir que é mãe solteira e lésbica e que gosta de sexo! Chega de lavar roupa por obrigação, chega de transar sem vontade, chega de ganhar menos que os homens! Se não fosse o MIM, eu hoje via o mundo machista, cinza e sem graça...Vamos ensinar nossas filhas, que antes de amar alguém devemos nos amar. Hoje tenho certeza que homens e mulheres temos os mesmos direitos e deveres!”. Luzinete* - Ubajara *Integrantes do Movimento Ibiapabano de Mulheres -MIM O Feminismo na Ibiapaba é como Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1835 Outubro/2014 Ibiapaba o sol no Semiárido, perene e vigoroso Realização Apoio: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

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A história dos 10 anos do Movimento Ibiapabano de Mulheres MIM, na Serra da Ibiapaba mostra a força e a criatividade da auto-organização das mulheres, que no campo e na cidade vão se reconhecendo como cidadãs e exercitando sua autonomia e liberdade, ao mesmo tempo em que identificam o processo de opressão, discriminação e exploração em que estão inseridas no contexto histórico do patriarcado e do machismo.

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Page 1: O Feminismo na Ibiapaba é como o sol no Semiárido, perene e vigoroso

O Movimento Ibiapabano de Mulheres – MIM nasceu como nasce o sol todas as manhãs, suave e intensamente... Tudo começou em 2004, num dinâmico processo de mobilização rumo a I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres e permaneceu assim, apaixonante e vivo nas duas Conferências subsequentes.

Os Sindicatos de Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais, a Pastoral Social da Diocese de Tianguá e o Fórum de Mulheres Cearenses impulsionaram as

Plenárias Municipais e Regionais juntamente com setores do poder público, num rico debate sobre violência contra as mulheres, saúde da mulher, trabalho, emprego e renda, juventude, educação e racismo. "Particularmente o MIM representa um espaço que além de pautar e esclarecer sobre as questões políticas atuais é também acolhedor, dinâmico, incentiva e permite a fala sobre os mais diversos assuntos e opiniões, questiona sem excluir ou oprimir. Informa, comunica e nele podemos ficar à vontade para nos posicionar contra toda forma de injustiça ao gênero feminino sem temer ser hostilizada. MIM é sinônimo de conhecimento e liberdade".(Karol Dias*/ESPAF).

Depois da I Conferência ficou impossível voltar à “vida normal”. Parte dessas mulheres, vindas de Viçosa do Ceará, Tianguá, Ubajara, Ibiapina, São Benedito, Carnaubal, Guaraciaba e Croatá, permaneceram articuladas, reunindo-se mensalmente para planejar, executar e avaliar suas ações. “O MIM é feito por mulheres guerreiras , comprometidas com o bem das "outras", que sempre está à disposição da sociedade. Posso dizer, que o MIM, veio pra somar na minha vida e espero que eu possa permanecer por muito tempo, pois tenho certeza que se continuarmos com um só

objetivo, o MIM, nunca vai deixar de existir...” Marteane* – Ubajara. O enfrentamento à violência contra as mulheres impulsionou o MIM nos primeiros passos da caminhada. Daí surgiu a reivindicação por uma Delegacia Especializada de Defesa dos Direitos das Mulheres, até hoje pleiteada.

A Escola de Formação Política e Cidadania ESPAF tem oferecido ao MIM meios, espaço e apoio político em todas as suas ações. "É um grande ganho para a Serra da Ibiapaba em termos de organização e tem uma força política muito grande. O que mais destaco no trabalho do MIM é a formação que fazem com o público do bolsa-família em Viçosa. É um trabalho que admiro e nunca ouvi falar que exista em outro lugar do Brasil". (Elviro Bezerra/ESPAF)

Somando forças com organizações feministas e outras mistas, como o

Território de Identidade Rural da Ibiapaba e o Fórum Microrregional de Convivência com o Semiárido, o MIM vai realizando sua missão organizando as mulheres na defesa de seus direitos, a partir de processos de formação feminista e mobilização social permanentes, incentivando o protagonismo e a autonomia das mulheres na construção de um mundo de igualdade, justiça e liberdade. Em 2013 nasceu mais um raio de atuação do Movimento: a AMIM, Associação do Movimento Ibiapabano de Mulheres,

organização feminista, popular, sem propósito político-partidário, o braço jurídico do MIM. Nesses 10 anos de auto-organização das mulheres na Ibiapaba o feminismo vem se consolidando como um sujeito político pela prática subjetiva de mulheres que têm transformado suas vidas, ao mesmo tempo em que transformam o ambiente em que atuam, desconstruindo antigos tabus, superando velhos preconceitos, incorporando teorias feministas e construindo novas concepções de mundo e de pessoa. “Ser do MIM é ter respeito próprio, é principalmente ter orgulho de ser mulher! Ser do Movimento Ibiapabano de Mulheres é ter coragem de colocar a cara a tapa para admitir que é mãe solteira e lésbica e que gosta de sexo! Chega de lavar roupa por obrigação, chega de transar sem vontade, chega de ganhar menos que os homens! Se não fosse o MIM, eu hoje via o mundo machista, cinza e sem graça...Vamos ensinar nossas filhas, que antes de amar alguém devemos nos amar. Hoje tenho certeza que homens e mulheres temos os mesmos direitos e deveres!”. Luzinete* - Ubajara *Integrantes do Movimento Ibiapabano de Mulheres -MIM

O Feminismo na Ibiapaba é como

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1835

Outubro/2014

Ibiapaba

o sol no Semiárido, perene e vigoroso

Realização

Apoio: Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome

Page 2: O Feminismo na Ibiapaba é como o sol no Semiárido, perene e vigoroso

Conhecer e divulgar a Lei Maria da Penha tem sido um compromisso do Movimento para contribuir com a mudança de mentalidade e de comportamento na região. “O MIM é crescimento e fonte de conhecimento para entender como são nossos direitos... Conhecer a Lei Maria da Penha, como agir no momento de agressão e como funcionam as questões sociais e o feminismo.” Fran* - Ubajara (integrante do MIM e

sobrevivente da violência contra a mulher)

Sob o calor das manifestações e das luzes dos muitos saberes partilhados, a consciência de que, enquanto mulheres, agricultoras, estudantes, servidoras públicas, autônomas, jovens, idosas, brancas, negras, heterossexuais ou lésbicas, todas vivenciam igualmente a opressão, a exploração e diversas formas de violência, foi determinante para consolidar no grupo, uma identidade feminista pessoal e coletiva. “O MIM me ensinou a enfrentar meus medos, e que o doce sabor da liberdade é difícil de se ter, mas não impossível de se conquistar”. Edivânia* - Tianguá

Reuniões, rodas de conversas, seminários, palestras, oficinas, jornadas, muitos encontros e manifestações contribuíram para que a teoria e a prática feminista ganhassem o coração e as mentes dessas mulheres, nos mais diversos campos de luta pela legalização e descriminalização do aborto, contra o racismo, em favor da reforma do sistema político, por uma previdência e seguridade social justa e distributiva, por políticas públicas para as mulheres, pela justiça socioambiental, contra a lesbofobia, alternativas à globalização e pelo fim da violência contra as mulheres, somando forças nas mesmas Frentes de Luta da AMB. “O MIM em Ibiapina transformou a vida de muitas mulheres, através da formação e informação sobre a Lei Maria da Penha” Lucilene* - Ibiapina. .

Desde 2007 o MIM compõe e organiza, juntamente com o STTR de Viçosa, o Grupo de Mulheres da Feira que produz alimentos num processo agroecológico e faz a comercialização gerando igualdade e autonomia para as mulheres. “O MIM é como o ar que eu respiro e que me envolve. Ele renova minhas energias e movimenta minha vida, num turbulento e apaixonante movimento pela justiça, liberdade e igualdade das mulheres!” Liliane* - Viçosa do Ceará

Apoiadas pelo Fórum Cearense de Mulheres – FCM, pelo SOS CORPO e Católicas pelo Direito de Decidir – CDD, o MIM foi aos poucos integrando a Rede

Feminista e hoje compõe a Articulação de Mulheres Brasileiras, atuando na Coletiva de Formação e na Frente pela Legalização do Aborto. “O MIM é a força viva das mulheres feministas na Serra da Ibiapaba, é a certeza que nossas lutas estão lá, e é a certeza de que nosso feminismo anticapitalista, antirracista e antipatriarcal faz sentido em todo lugar onde as mulheres se rebelam contra a opressão”. Carmen Silva - SOS CORPO/AMB.

Em 2013 com a venda em diversos bazares, o MIM criou a “MIMOSA”, um carrinho de picolé adaptado a um carro de som ambulante. Com ela a fala pública das mulheres tem ecoado nas ruas, praças, feiras e nas mais diversas manifestações de mulheres e de outras organizações. “O MIM é pra mim, uma vivência de luta e de reconhecimento dos direitos das mulheres, é uma porta aberta pra luta em busca dos mesmos. Silvanir* - Ibiapina.

A comunicação como Direito tem exigido das mulheres do MIM um esforço renovado e corajoso de autoafirmação feminista,

criativamente exposta em muros, panfletos, na produção e divulgação de spots, no teatro de rua, nas palavras de desordem entoadas nas manifestações, nos programas de rádio, na fala pública na fila do Bolsa Família, nas praças e feiras, nas camisetas, faixas, cartazes, pesquisas, jornais e paródias levando protestos e reivindicações às consciências aprisionadas e olhos turvos, maculados pelo capitalismo, machismo e pelo patriarcado. Uma das paródias mais cantadas e divulgadas nos encontros e manifestações de rua é a da marchinha de carnaval,

Aurora que diz:

Se o caso é violência /Ô, ô, ô, ô MariaLigue logo o 180 / De noite ou de dia!Se hoje ele te bate / E amanhã pede perdão Te leva pro motel / E te promete um carrão!Depois por coisa à toa /Puxa o teu cabelo...Vai continuar o pesadelo!

A parceria com os STTRs da Ibiapaba tem sido fundamental para popularizar o feminismo, principalmente com as trabalhadoras rurais. “O Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Viçosa do Ceará compreende o MIM além de um movimento parceiro, um instrumento de defesa das causas das mulheres e de luta para que os direitos de homens e mulheres sejam respeitados e a igualdade entre todos possa acontecer”. Antonio José (Presidente do STTR de Viçosa).

Articulação Semiárido Brasileiro – CearáBoletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas