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Liber sacrilegium

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O fascista aprendiz

Jordan Matheus, o adolescente fascista aprendiz, criado nas mais incipientes alas da classe média, saiu à rua com os amigos para praticar seu delito preferido, que era o de atirar pedras nos transeuntes que encontrava pelo caminho, negros, prostitutas e travestis, de preferência. Só não contava que, justo naquele dia, seus algozes, já conhecedores do veículo em que andava, aguardavam-no em uma emboscada, arrancando-o da janela do carro para depois espancá-lo aos gritos e humilhações, enquanto seus amigos partiam em velocidade e o deixavam abandonado. Já em casa, disse aos pais que tinha sido vítima de um assalto. Indignados, estes lhe propuseram que fossem imediatamente prestar queixa, ao que ele se negou, posto que era um bom evangélico e deveria como tal dedicar-se ao exercício do perdão. Revoltado com a resposta do filho, o pai o interpelou puxando-o pela camisa, gesto que interrompeu somente quando viu a suástica tatuada nas costas do jovem. Depois disso, fez-se um grande silêncio, e todos acharam melhor não retomar aquele assunto.

Thomas Bernhard

A um lírico, amigo de reis e poetas

É das trevas que se compõeOs galhos de Pernambuco.É feito faca a métrica desse Rio.

Evoco o Recife prenhe de elipses,Desfaço cada medida hexagonalDas gotas solitárias de Copacabana.

Antes os pulmões da lâmina caída, aExtensão da caatinga, a sílaba.De resto, cada respirar é um pôr do sol.

Ainda vejo as mãos de solos tão secosA segurar uma cruz. Até breve.Deitou-se em barco tão exíguo,

Tão simplificado. Desceu o mar de terra,Em redondilhas maiores. Adeus, paraNunca mais. A foto, a cerâmica, umaCoroa.

João Cabral de Melo Neto

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A selva que cresce

Minha ex-mulher casou-se com outro ontem. Ou antes de ontem, não sei ao certo. Recebi o convite no telefone e nao li direito. Apenas vi a frase “convidamos você e sua família”, o que não me dá nenhuma referência temporal. Deveria ter lido o resto antes de apagar a mensagem. Ou não. Afinal, era só uma provocação gratuita. É, talvez tenha sido ontem.

Não sei bem por que escolhi vir para a selva. Há quem diga que é pulsão de morte. Ou quem sabe eu quisesse somente um lugar para repouso. Aqui, há silêncio e tranquilidade. Não acredita? Como? Bastam alguns dias e irá compreender. Quando perceber o quanto é agradável, não sairá mais da floresta. Mas claro! isso é uma questão de perspectiva. Para quem não consegue abstrair os gritos dos animais, tudo é perturbação. Porém veja, isso é só um iníquo contratempo. O que são uns sapos perto da gritaria dos automóveis? Ou dos resmungos irritantes dos que passam na rua? Não tenho a menor dúvida de que em breve concordará comigo.

Sim, é verdade. Eu cometi uma falta e estou em fuga. Mas não quer dizer que eu não tenha razão no que digo. A mata é alentadora, você verá. Eu poderia ter ido a inúmeros lugares, mas foi aqui que encontrei meu refúgio. O motivo? Ah, mas como é maçante! Tudo o que interessa aos outros são motivos, as causas primeiras! Pois eu não tenho motivos, os outros é que os têm para perseguir-me. Eu apenas estou acompanhando a música que tocam, sem discutir. O resto são especulações de menor importância.

Cometi um assassinato, não é o que dizem? Pois em minha defesa afirmo que sou inocente, que não cometi crime algum. Um erro sim, mas não um crime. Pois um criminoso é aquele que pratica um gesto com clareza, com consciência assumida. E o que não tive, naquela hora fatídica, foi clareza e consciência. Num momento, estava sentado conversando com os amigos, e, no outro, um corpo se encontrava estirado a minha frente. Certo que a arma era a que trazia na cintura. Mas eu não planejava dar nenhum tiro! Como agora ainda não planejo, Não tenho vocação para esses assuntos. Simplesmente, eu comecei a dançar e ele me esmurrou. levantei-me, não, não mesmo, eu só iria para casa, e de fato já estava no caminho, por onde teria ido, não fosse aparecer, entre seu rosto e a janela, um breve luar, uma luz prateada e fulgurante que atingiu o meu rosto por inteiro.

Foi nesse momento que tudo vacilou. O meu corpo se contraiu por completo e saquei do revólver, e então foi que dei cinco, não quatro, mas cinco batidas na porta da desgraça.

Agora, encontro-me aqui, como um falso penitente. O quê? Claro que não, eu não vejo o menor propósito em entregar-me à justiça dos homens. Esta, se quiser, que venha ao meu encontro. Se olhar bem, vai ver que ela e eu não devemos nada um ao outro. A existência que extingui era completamente desnecessária e inútil. Ele morreu e ninguém o lamentou. Também no mundo nunca recebi nada que pudesse

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chamar de justo. Ao contrário, enquanto agi com retidão, não tive de volta mais do que indiferença. Estamos quites. Sim, pode ser que eu lamente ter de afastar-me de uns e outros. Porém, a cada dia que passa, a selva cresce e não vejo mais a cidade, de modo que o mundo não é mais para mim do que esse doce inferno verde. Quanto a ela, bem, agora é tarde demais. É sempre tarde demais. Felizmente.

Albert Camus

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ClaraPode durar alguns anos ou uma vida inteira, eu disse. Rapidamente ela me olhou assustada, antes seus olhos estavam fixos na estante de livros no fundo da sala, talvez pensasse que nada mais fazia sentido. Uma vida inteira? Como assim uma vida inteira? Parecia, para Clara, que todos os esforços tinham sido malogrados, todo esse tempo e nada de melhorar. Já se passaram dois anos desse jeito, assim não dá, eu venho aqui para me curar disso, doutora. Dois anos, meu Deus. Imagine uma vida inteira! Era difícil analisar Clara, cheia de inconstâncias emocionais, como um vulcão dormente que mais cedo ou mais tarde pode entrar em erupção. Seu olhar era triste e desviante o tempo inteiro. Do riso ao choro, tudo era possível no espaço de apenas um minuto. As olheiras denunciavam a sua insônia, embora eu saiba que ela dormia muito, sim, dormia muito durante o dia. Mas é o mal sono da noite que nos destrói, a hora do lobo, ali entre a meia noite e o amanhecer, onde todas as coisas e pensamentos mais obscuros acontecem. É fatal.Ela perguntou que tipo de doença era essa que não tinha forma nem limite nem nome. Ah, se a gente pudesse controlar... É difícil, eu sei. Você não sabe! E malditos sejam os sonhos que vem sem pedir licença, doutora! Nesses momentos eu queria ter a sua lucidez ou a das minhas amigas, mas não tenho, nunca tive. Qualquer dia o porteiro do meu prédio vai ligar para a minha mãe e dizer que sua única filha. Bom, eu tenho medo de fazer algo de ruim comigo, aquele terraço eu o deixo aberto às vezes e fico olhando de cima, mas aí eu penso na minha mãe, na minha gata, a Tigrela, mas ao mesmo tempo penso nessa doença que talvez nunca se cure. Como viver assim sabendo que a dor é incessante? Ela fixou os olhos em mim como se buscasse uma resposta pronta, em que realmente lhe desse a receita de como viver, ou sobreviver, daquela maneira. É o que estamos tentando descobrir, Clara. Ela me disse o quanto estava perdendo peso, passava horas sem comer e, quando finalmente sentia fome, comia desesperadamente. Ela nunca mais havia frequentado as aulas de dança, tinha perdido o gosto pelos movimentos do corpo, achava seu corpo feio e inútil. Passava mais tempo lendo poesia agora. Mas isso é bom, literatura nos esclarece tanta coisa sobre a vida.Em dois anos dava tempo de ter gerado dois filhos, eles teriam o nome de Carlos e Giovana. Se fossem duas meninas seriam Marcela e Carolina. Sim, só colocaria Giovana se o outro fosse Carlos, combina melhor. Se fossem dois meninos, nem sei, talvez Marcos e Joaquim, gosto de nomes comuns, sabe? Mas, bem, você sabe que estive longe de parir dois filhos. Em dois anos dava tempo de ter viajado pelo Brasil inteiro, ter traçado uma rota pelo litoral do país, ter colhido conchinhas e feito um colar, como aquele que ganhei de presente do meu pai. Poderia ter conhecido um estrangeiro em Florianópolis e ido embora para a Europa, apaixonada. Isso quase aconteceu, mas é caso para outra sessão, não é disso que preciso falar agora, não teve importância. Em dois anos dava tempo de ter aprendido uma língua nova, como o russo, algo diferente assim, e poder ler livros no original como eu sempre quis. Dava tempo de ter tido cento e quatro amantes, se tivesse me deitado com um homem, ou uma mulher, por semana. Mas nada disso aconteceu, não é mesmo? Senão eu não estaria aqui.

Lygia Fagundes Telles

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Réquiem dos ratos

O coração voltou ao ritmo normal, as mãos pararam de tremer e o suor não mais escorria pelo seu rosto. O pavor provocado pelo pesadelo, portanto, começava a se dissipar. Levantou-se então da cama. Em pé, contemplou Berta dormindo. Sentiu-se em paz diante da mulher que amava. Essa paz, porém, teve vida breve, pois foi interrompida pela lembrança do pesadelo que o assombrava, periodicamente, desde que se mudara para a casa na floresta. O pesadelo era sempre o mesmo: via-se andando em uma trilha à noite, onde subitamente se deparava com três ratos amarrados pelo rabo. Os ratos eram grandes como cães da raça Dogo e devoravam uns aos outros. Tal imagem apavorava Estéban, embora este sempre tenha se considerado um homem de coragem.Como que para fugir dos pensamentos, saiu do quarto, dirigindo-se à cozinha. Lá, procurou a chaleira para preparar um café. Encontrou-a. Ao pegá-la, entretanto, sentiu que havia algo estranho dentro dela; algo pesado e que parecia se mover. Por isso ergueu a tampa da chaleira, descobrindo assim a presença de um rato. Imediatamente a jogou no chão, fazendo o roedor correr de seu interior para um buraco na parede.Berta acordou com o barulho da chaleira que caíra no chão. Chamou pelo marido. “Não foi nada, querida. Apenas deixei a chaleira escorregar da minha mão. Volte a dormir”, respondeu ele.Estéban ainda não sabia que o rato da chaleira era apenas o primeiro de vários outros roedores que apareceriam ao longo do dia. Sempre fugidios, passavam ligeiros pela casa, como vultos. O mais audacioso se apresentou após o almoço, na hora da sesta de Estéban. Este acordou com o pequeno andando pelo seu peito.No dia seguinte a infestação piorou. Os ratos haviam devorado as plantações do casal durante a noite. Os venenos que Estéban havia espalhado não diminuíram o quantitativo da praga. A impressão que se tinha é que a cada rato que morria, dois ou três ocupavam o seu lugar.Uma semana depois a situação era tão desesperadora que pensaram em se mudar. Entretanto, não tinham dinheiro para isso. E nem seria possível vender a casa, uma vez que qualquer comprador que entrasse na residência não demoraria a encontrar as criaturas sinistras, o que o faria desistir da aquisição.Adotaram um gato. Resultado: o bichano fugiu.Pobre de Berta e Estéban que não podiam fazer o mesmo. Precisavam encarar todo o estresse daquela situação. Talvez por causa do estresse, ou das doenças transmitidas pelos ratos, Berta adoeceu. Prostrou-se na cama com febre e enjoos. Seu marido fez remédios com ervas, chás e rezas, mas nada restituiu a saúde que se esvaía. Seriam necessários três dias de viagem para chegar à cidade e chamar o médico. Todavia, Estéban não poderia deixar Berta sozinha com os ratos, que se tornavam cada vez mais agressivos, e também não poderia levá-la, posto que, devido ao seu estado, ela não aguentaria a viagem. Então a pobre definhou, até que, cinco dias depois, deu o último suspiro.Estéban a enterrou no quintal. Ornou o túmulo com uma cruz de madeira e flores. Estas não demoraram a serem devoradas pelos ratos.O viúvo agora entrava em uma depressão profunda. Perdera a mulher que amava.

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Berta era tudo para ele. Berta, Berta, Berta, repetia.Amaldiçoou o dia em que se mudara para aquela casa na floresta. Não queria, mas fora um pedido de Berta. Berta, Berta, Berta... Tudo porque ela não aguentava mais viver na cidade após o suicídio do filho. Não adiantava mudar para outra residência próxima, era preciso ir para longe. As ruas lembravam o suicida. Viver lá era como conviver com um fantasma, cuja presença pesava. A solução foi vir para a floresta. Maldito dia... Maldita floresta... Pobre Berta... Berta, Berta, Berta....A depressão se tornou fúria. Fúria contra os pequenos invasores que tomaram a casa. Estéban tinha que os destruir. Tinha que vingar Berta!Num surto de ódio, Estéban pegou um galão cheio de gasolina. Espalhou o combustível pela casa e, fora dela, jogou um fósforo aceso, que desencadeou um incêndio no antigo lar.Estéban fitava o fogo. No farfalhar das chamas, era possível ouvir o barulho dos roedores sendo incinerados. Alguns conseguiram fugir, correndo desesperadamente.Estéban estava em transe perante a combustão de sua moradia. De repente, sentiu algo subir por sua perna. Era um rato. Sacudiu a perna, mas o bicho não desgrudou. Agarrou-o então com a mão. Olhou bem em seus olhinhos assustados. Sentiu pena. Mas mesmo assim o atirou contra o fogo.

Horacio Quiroga

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Eu poderia começar dizendo que era tarde da noite, mas na verdade, era dia. Manhã cedo. Poderia dizer que estava inconsciente de tudo aquilo, mas não, eu me enchi de Baco por demais porque quis. Acreditava em demasia que aquilo era uma contingência ou, na melhor das hipóteses, uma ventura nas mãos dos deuses, mas pelo contrário, fiz o que fiz aceitando as consequênciasMas para além disso, quero mesmo é começar dizendo que o sol lambia meu rosto e não recuava ante o gosto de vômito que eu exalava, enquanto batia com força nas portas podres de lodo do casarão velho berrando por amor, pedindo que alguém me amasse, que fizesse amor comigo, porque eu tinha muito a dar, só não sabia como. Era uma pulsão. Latejava vida no mesmo caldeirão que exigia a morte: esquecer alguém. Mas só o contrário era a favor: quanto mais tentava, mais lembrava; com os olhos cegos, eu via; no meu silenciar, mais intenso era o grito. A dor elevada a potência de três.Alguém suspirou ao meu ouvido que tudo ali era abandono; só o que restara do casarão, além do mato e dos bichos, eram as pichações de abaixo a ditadura. Indagando a voz sobre onde estariam as estrelas alugadas, aquelas que, só a um homem sujo e sórdido como eu, teriam a coragem de entregar farrapos e retalhos de amor, compreensivelmente falsos (a necessidade faz com o que a gente aceite coisas horríveis; ser retirada do céu brilhante e entregue a mim por míseros trocados é um exemplo), o sussurro sugeriu que eu embarcasse no timbre da sua voz e o seguisse até o fim da rua. No vai e vem da voz fanha, e por isso escorregadia, e por isso inseguro, eu titubeava naufragando e batendo minha cara de bêbado no asfalto quase quente, mas no esforço empreendido eu me

suspendia torcendo para que chegásse-mos logo. E chegamos. Uma, duas, três ou tantas quantas Marias, eu poderia escolher qualquer uma. Era meu direito. Olha aquela que tem os olhos grandes como o da minha perdição; essa outra requebra o quadril tão parecida quanto; já aquela outra deve usar tão bem os lábios que eu só poderia pensar na boca carnuda do meu antigo amor. Nada disso, eu me afundei no diametralmente oposto. No antônimo.Entramos num desses quartos quaisquer que fedem a produtos de limpeza e falham miseravelmente na sua função de acalentar o odor de cu boceta pau sangue e suor. Impressionante como pungia forte a sensação de coisas feitas sem querer serem feitas, obrigadas a serem praticadas ou realizadas tão na dúvida que em algum ponto se tornavam cruéis. Eu me dei conta, mas não me importei. Diferente dessas situações o meu caso era banal. Em lençóis mal-amados nos deitamos. O sangue não inundava as cavernas, o rosto desapon-tado ou em intenso tédio denunciava o quanto aquilo de nada adiantava. Sequer sentíamos algum gozo. Em vão eu tentava tirar o fogo da água. Aquelas mãos nunca seriam as que me fizeram feliz, jamais fariam de mim um homem mais completo. E estando ali no lodo, e justamente por isso, pedi o último ato, um desespero, lapsos de desejos, fetiche.Foi um ultraje até mesmo para aqueles a quem ultrajar é um hábito. Sai de cima de mim que eu não faço essas coisas de viado, ela disse enquanto vestia apressadamente a saia com dificuldade por causa da bunda grande. Bateu forte a porta do quarto e eu fiquei lá deitado aproveitando o frio que dezembro traz.(Caio Fernando Abreu)

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condenada a estripador de seios

condenado a empalatamento

condenado Ao berçode judas

absolvida

condenado à rodada tortura

condenado aobalcão da tortura