o existencialismo de sartre

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Existencialismo Introdução. O Existencialismo difundiu-se como o pensamento mais radical a respeito do homem na época contemporânea. Surgiu em meados do século XIX com o pensador dinamarquês Kierkegaard e alcançou seu apogeu após a Segunda Grande Guerra, nos anos cinqüenta e sessenta, com Heidegger e Jean-Paul Sartre. A corrente existencialista assimilou ainda uma influência da fenomenologia cuja figura principal, Husserl, já citado, propõe a descrição dos fenômenos tais como eles parecem ser, sem nenhum pressuposto de como eles sejam na verdade. Para o existencialismo, a fenomenologia de Husserl significou um interesse novo no fenômeno da consciência. Reunindo as sínteses do pensamento de cada um desses filósofos podemos listar os postulados principais dessa corrente filosófica que são: 1. A primeira é o ser humano enquanto indivíduo, e não com as teorias gerais sobre o homem. Há uma preocupação com o sentido ou o objetivo das vidas humanas, mais que com verdades científicas ou metafísicas sobre o universo. Assim, a experiência interior ou subjetiva - e aí está a influência da fenomenologia - é considerada mais importante do que a verdade "objetiva", um fundamento igual à da filosofia oriental. 2. O homem não foi planejado por alguém para uma finalidade, como os objetos que o próprio homem cria, mediante um projeto. O homem se faz em sua própria existência. 3. O mundo, como nós o conhecemos, é irracional e absurdo, ou pelo menos está além de nossa total compreensão; nenhuma explicação final pode ser dada para o fato de ele ser da maneira que é; 4. A falta de sentido, a liberdade conseqüente da indeterminação, a ameaça permanente de sofrimento, da origem à ansiedade, à descrença em si mesmo e ao desespero; há uma ênfase na liberdade dos indivíduos como a sua propriedade humana distintiva mais importante, da qual não pode fugir Kierkegaard. O dinamarquês Soren Aabye Kierkegaard (1813-1855), encontra sua posição filosófica ao insurgir-se contra posições aristotélicas remanescentes na filosofia, o que faz opondo-se à filosofia de Hegel (1770 - 1831). Kierkegaard não só rejeitou o determinismo lógico de Hegel (tudo está logicamente predeterminado para acontecer) como sustentou a importância suprema do indivíduo e das suas escolhas lógicas ou ilógicas. Kierkegaard contribuiu com a idéia original do existencialismo de que não existe qualquer predeterminação com respeito ao homem, e que esta indeterminação e liberdade levam o homem a uma permanente angústia.

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Page 1: O Existencialismo de Sartre

Existencialismo

Introdução. O Existencialismo difundiu-se como o pensamento mais radical a respeito do homem na época contemporânea. Surgiu em meados do século XIX com o pensador dinamarquês Kierkegaard e alcançou seu apogeu após a Segunda Grande Guerra, nos anos cinqüenta e sessenta, com Heidegger e Jean-Paul Sartre.

A corrente existencialista assimilou ainda uma influência da fenomenologia cuja figura principal, Husserl, já citado, propõe a descrição dos fenômenos tais como eles parecem ser, sem nenhum pressuposto de como eles sejam na verdade. Para o existencialismo, a fenomenologia de Husserl significou um interesse novo no fenômeno da consciência.

Reunindo as sínteses do pensamento de cada um desses filósofos podemos listar os postulados principais dessa corrente filosófica que são:

1. A primeira é o ser humano enquanto indivíduo, e não com as teorias gerais sobre o homem. Há uma preocupação com o sentido ou o objetivo das vidas humanas, mais que com verdades científicas ou metafísicas sobre o universo. Assim, a experiência interior ou subjetiva - e aí está a influência da fenomenologia - é considerada mais importante do que a verdade "objetiva", um fundamento igual à da filosofia oriental.

2. O homem não foi planejado por alguém para uma finalidade, como os objetos que o próprio homem cria, mediante um projeto. O homem se faz em sua própria existência.

3. O mundo, como nós o conhecemos, é irracional e absurdo, ou pelo menos está além de nossa total compreensão; nenhuma explicação final pode ser dada para o fato de ele ser da maneira que é;

4. A falta de sentido, a liberdade conseqüente da indeterminação, a ameaça permanente de sofrimento, da origem à ansiedade, à descrença em si mesmo e ao desespero; há uma ênfase na liberdade dos indivíduos como a sua propriedade humana distintiva mais importante, da qual não pode fugir

Kierkegaard. O dinamarquês Soren Aabye Kierkegaard (1813-1855), encontra sua posição filosófica ao insurgir-se contra posições aristotélicas remanescentes na filosofia, o que faz opondo-se à filosofia de Hegel (1770 - 1831). Kierkegaard não só rejeitou o determinismo lógico de Hegel (tudo está logicamente predeterminado para acontecer) como sustentou a importância suprema do indivíduo e das suas escolhas lógicas ou ilógicas.

Kierkegaard contribuiu com a idéia original do existencialismo de que não existe qualquer predeterminação com respeito ao homem, e que esta indeterminação e liberdade levam o homem a uma permanente angústia.

Segundo Kierkegaard, o homem tem diante de si várias opções possíveis, é inteiramente livre, não se conforma a um predeterminismo lógico, ao qual, segundo Hegel, estão submetidos todos os fatos e também as ações humanas. A verdade não é encontrada através do raciocínio lógico, mas segundo a paixão que é colocada na afirmação e sustentação dos fatos: a verdade é subjetividade. A conseqüência de ser a verdade subjetiva é que a liberdade torna-se ilimitada. Consequentemente não se pode, também, fazer qualquer afirmativa sobre o homem. O pensamento fundamental de Kierkegaard, e que veio a se constituir em linha mestra do Existencialismo, é este: inexiste um projeto básico, para o homem verdadeiro, uma essência definidora do homem porque cada um se define a si mesmo e assim é uma verdade para si. Daí o moto conhecido que sintetiza o pensamento existencialista: "no homem, a existência precede a essência"

No caminho da vida há várias direções, vários tipos de vida a escolher, dentro de três escolhas fundamentais: o modo de vida estético, do indivíduo que não busca senão gozar a vida em cada momento; o modo ético, do indivíduo que é maquinalmente correto com a família e devotado ao trabalho, e o modo religioso dentro de uma consciência de fé.

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A liberdade, segundo ele, gera no homem a angústia que pode levá-lo, de várias formas, ao desespero Então, cada decisão é um risco, o que deixa a pessoa mergulhada na incerteza, pressionada por uma decisão que se torna angustiante. Como no modo de vida estético, ele escolhe fugir dessa angústia e do desespero através do prazer e de buscar a inconsciência de quem ele é. Outra forma de fuga é ignorar o próprio eu, tornar-se um autômato, apegar-se a um papel, como no modo de vida ético.

Heidegger. O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) declarou-se um investigador da natureza do Ser. Heidegger contribuiu com seu pensamento sobre o ser e a existência, de onde o nome dado à corrente filosófica de "Existencialismo".

A angustia tem, no pensamento de Heidegger, origem diversa da liberdade. Para ele a angústia resulta da falta da precariedade da base da existência humana. A "existência" do homem é algo temporário, paira entre o seu nascimento e a morte que ele não pode evitar. Sua vida está entre o passado (em suas experiências) e o futuro, sobre o qual ele não tem controle, e onde seu projeto será sempre incompleto diante da morte inevitável.

Como uma filosofia do tempo, o existencialismo exorta o homem a existir inteiramente "aqui" e "agora", para aceitar sua intensa "realidade humana" do momento presente. O passado representa arquivos de experiências a serem usadas no serviço do presente, e o futuro não é outra coisa que visões e ilusões para dar ao nosso presente direção e propósito.

Portanto, no homem, o ser está relacionado ao tempo e está dado, - existe -, em três fenômenos, três "existenciais" que caracterizam como as coisas do passado, do presente e do futuro se manifestem para o homem e a unidade desses três fenômenos constitui a estrutura temporal que faz a existência inteligível, compreensível. São a afetividade, com que se liga ao passado pelo seu julgamento; a fala, com que se liga ao presente, e o entendimento, que é a inteligência com que lida com o seu futuro, com a angústia de sua predestinação à morte. Não podemos nos submeter a condicionamentos de nosso passado; não podemos permitir que sentimentos, memórias, ou hábitos se imponham sobre nosso presente e determinem seu conteúdo e qualidade. Nós também não podemos permitir que a ansiedade sobre os eventos futuros ocupem nosso presente, tirem sua espontaneidade e intensidade. Não podemos permitir que nosso "aqui e agora" seja liquidado

Na angústia, o homem experimenta a finitude da sua existência humana. Todas as coisas supérfluas em que estava mergulhado se afastam deixando-o a nú, como uma liberdade para encontrar-se com sua própria morte (das Freisein für den Tod), um "estar preparado para" e um contínuo "estar relacionado com" sua própria morte (Sein zum Tode). Essa visão existencial do homem, em que ele se conscientiza das estruturas existenciais a que está condicionado e que o tira da superficialidade em que desenvolve seus conflitos tornou-se sedutora para a psiquiatria.

A angústia funciona para revelar o ser autêntico, e a liberdade (Frei-sein) enseja o homem a escolher a si mesmo e governar a si mesmo.

Sartre. Heidegger e Sartre foram os dois mais importantes filósofos da corrente existencialista. Ambos foram profundamente influenciados pela filosofia de Edmund Husserl, a fenomenologia, e desenvolveram um método fenomenológico como base de suas respectivas posições filosóficas. Sartre contribuiu com mais pensamentos sobre a liberdade e chefiou dentro do movimento uma corrente ateísta.

Para Jean-Paul Sartre (1905-1980), a idéia central de todo pensamento existencialista é que a existência precede a essência. Não existe nenhum Deus que tenha planejado o homem e portanto não existe nenhuma natureza humana fixa a que o homem deva respeitar. O homem está totalmente livre é o único responsável pelo que faz de si mesmo. E são para ele, assim como havia colocado Kierkegaard, esta liberdade e responsabilidade é a fonte da angústia,

Sartre leva o indeterminismo às suas mais radicais conseqüências. Porque não há nenhum Deus e portanto nenhum plano divino que determina o que deve acontecer, não há nenhum determinismo. O homem é livre. Não pode desculpar sua ação dizendo que está forçado por circunstâncias ou movido pela paixão ou determinado de alguma maneira a fazer o que ele faz.

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O pensamento de Sartre, contido em seus romances e peças de teatro e em escritos filosóficos influenciou fortemente os intelectuais franceses, entre eles Gabriel Marcel, que desenvolveu sua filosofia no âmbito do catolicismo romano, tornando-se um expoente do existencialismo cristão.

Gabriel Marcel. Apesar do precursor do existencialismo, Soren Kierkegaard, ser profundamente cristão, os principais filósofos que o desenvolveram e divulgaram, Martin Heidegger e Jean-Paul Sartre, eram ateus, com uma filosofia materialista, bastante pessimista e atéia. Surgiu porém uma corrente existencialista cristã, sendo o principal filósofo dessa corrente o filósofo Gabriel Marcel.

A psicanálise e a terapia existencial. Ao definir causas de estados mentais como a angústia e o desespero, Kierkegaard criou um elo com a psicologia Este elo prevaleceria e se fortificaria no futuro, com as posições de Sartre e sua crítica à psicanálise, com as posições de Gabriel Marcel e finalmente com a adesão a essas duas linhas, respectivamente, de psiquiatras ateus e psiquiatras cristãos. A partir das idéias filosóficas existenciais, psicoterapeutas como Ronald David Laing, na corrente materialista de Sartre, e Viktor Emil Frankl, na corrente religiosa de Gabriel Marcel, propuseram práticas psicoterápicas originais.

O existencialismo de Sartre

A distinção entre essência e existência corresponde a distinção entre conhecimento intelectual e conhecimento sensível. Os sentidos põem em contato com os seres particulares e contingentes, únicos que realmente existem, ao passo que a inteligência permite aprender as idéias ou essências, gêneros e espécies universais, meras possibilidades de ser, em si mesmas inexistentes. Sabe-se, no entanto, desde Sócrates, que o objeto da ciência é o universal e não o particular, quer dizer a essência e não a existência. Platão tenta resolver essa contradição hipostasiando as idéias, atribuindo-lhes a realidade, no mundo supra-sensível ou topos ouranoú (lugar do céu). Poder-se-ia dizer que é em nome da existência que Aristóteles critica a teoria platônica das idéias, sustentando que as idéias, ou essências, não estão fora mas dentro das próprias coisas, as quais, feitas de matéria e de forma, contem, em si mesmas, o universal e o particular, a essência e a existência.

Em oposição às filosofias que se poderiam chamar ‘essencialistas’, as filosofias existencialistas partem do pressuposto de que a existência e anterior a essência, tanto ontológica quanto epistemologicamente ,quer dizer tanto em relação ao ser, ou à realidade, quanto em relação ao conhecimento. Na perspectiva do existencialismo, as idéias, ou as essências, não são anteriores às coisas, pois não se acham previamente contidas nem na inteligência de Deus nem na inteligência do homem. As idéias, ou essências, são contemporâneas das coisas, são as próprias coisas consideradas de determinado ponto de vista, em sua universalidade e não em sua particularidade. Síntese do universal e do particular, o indivíduo existente é redutível ao pensamento, ou inteligível, na medida em que contem o universal, a essência humana, por exemplo, nesse homem determinado, e irredutível, enquanto particular, esse homem com características que o distinguem de todos os demais e o tornam único e insubstituível.

A afirmação da anterioridade ou do primado da existência em relação a essência, entendida aqui como existência humana, implica uma série de teses que distinguem o existencialismo das filosofias essencialistas. O primado da liberdade em relação ao ser, subjetividade, em relação a objetividade, o dualismo, o voluntarismo, o ativismo, o personalismo, o antropologismo, seriam algumas das características desse tipo ou modalidade de filosofia. O existencialismo não é nem uma teologia, ou filosofia de Deus, nem uma cosmologia, ou filosofia do mundo, da natureza. O existencialismo é, fundamentalmente, uma antropologia, quer dizer, uma reflexão filosófica sobre o homem, ou melhor, sobre o ser do homem enquanto existente.

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Na perspectiva antropológica, surgem os temas ou problemas característicos do pensamento existencial. A finitude, a contingência e a fragilidade da existência humana; a alienação, a solidão e a comunicação, o segredo, o nada, o tédio, a náusea, a angústia e o desespero; a preocupação e o projeto, o engajamento e o risco, são alguns dos temas principais de que se tem ocupado os representantes do existencialismo. Para essa filosofia, a angústia e o desespero, por exemplo, deixam de ser sintomas mórbidos, objetos da psicopatologia, para se tornarem categorias ontológicas que propiciam acesso á essência da condição humana e do próprio ser.

A idéia de existência, como já se observou, não é nova. Com a mesma palavra, ousía , Platão designa a essência e a existência, e a crítica de Aristóteles ao idealismo platônico pressupõe o hilomorfismo, ou teoria do ser entendido como existente, feito de matéria e de forma. Platão, sem dúvida, é idealista, mas é uma experiência existencial, a vida e a morte de Sócrates, que o leva a filosofar.

A existência precede a essência, por Jean-Paul Sartre

"Quando concebemos um Deus criador, esse Deus idenficamos quase sempre como um artífice superior; e qualquer que seja a doutrina que consideremos, trate-se duma doutrina como a de Descartes ou a de Leibniz, admitimos sempre que a vontade segue mais ou menos a inteligência ou pelo menos a acompanha, e que Deus, quando cria, sabe perfeitamente o que cria.

Assim, o conceito do homem, no espírito de Deus, é assimilável ao conceito de um corta-papel no espírito do industrial; e Deus produz o homem segundo técnicas e uma concepção, exatamente como o artífice fabrica um corta-papel segundo uma definição e uma técnica. Assim, o homem individual realiza um certo conceito que está na inteligência divina.

No século XVIII, para o ateísmo dos filósofos, suprime-se a noção de Deus, mas não a idéia de que a essência precede a existência. Tal idéia encontramo-la nós um pouco em todo o lado: encontramo-la em Diderot, em Voltaire e até mesmo num Kant. O homem possui uma natureza humana; esta natureza, que é o conceito humano, encontra-se em todos os homens, o que significa que cada homem é um exemplo particular de um conceito universal - o homem; para Kant resulta de universalidade que o homem da selva, o homem primitivo, como o burguês, estão adstritos à mesma definição e possuem as mesmas qualidades de base. Assim, pois, ainda aí, a essência do homem precede essa existência histórica que encontramos na natureza. (...)

O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente. Declara ele que, se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem ou, como diz Heidegger, a realidade humana.

Que significará aqui o dizer-se que a existência precede a essência? Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para a conceber.

O homem é, não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência; o homem não é mais que o que ele faz. Tal é o primeiro princípio do existencialismo. É também a isso que se chama a subjetividade, e o que nos censuram sob este mesmo nome. Mas que queremos dizer nós com isso, senão que o homem tem uma dignidade maior do que uma pedra ou uma mesa? Porque o que nós queremos dizer é que o homem primeiro existe, ou seja, que o homem, antes de mais nada, é o que se lança para um futuro, e o que é consciente de se projetar no futuro. (...)

Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsablidade da sua existência. E, quando dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens."

Jean-Paul Sartre

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"A existência precede a essência". Eis a frase fundamental do existencialismo. Para melhor compreender o significado dela, é preciso rever o que quer dizer essência. A essência é o que faz com que uma coisa seja o que é, e não outra coisa. Por exemplo, a essência de uma mesa é o ser mesmo da mesa, aquilo que faz com que ela seja mesa e não cadeira. Não importa que seja de madeira, fórmica ou vidro, que seja grande ou pequena; importa que tenha as características que nos permitam usá-la como mesa.

No famoso texto O existencialismo é um humanismo, Sartre usa como exemplo um objeto fabricado qualquer, como um livro ou um corta-papel: neles a essência precede a existência; da mesma forma, se imaginarmos um Deus criador, o identificamos a um artífice superior que cria o homem segundo um modelo, tal qual o artífice fabrica um corta-papel. Daí deriva a noção de que o homem tem uma natureza humana, encontrada igualmente em todos os homens. Portanto, nessa concepção, a essência do homem precederia a existência. Não é essa, no entanto, a posição de Sartre ao afirmar que a existência precede a essência: "Significa que o homem primeramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para a conceber. O homem é, não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência; o homem não é mais que o que ele faz. Tal é o primeiro princípio do existencialismo".

Sua preocupação é de que o homem, diante de suas ínumeras escolhas assuma a responsabilidade de uma opção. Para Sartre o existencialismo é uma doutrina que torna a vida humana possível, por outro lado declara que toda a verdade e toda a ação implicam um meio e uma subjetividade humana, o homem existe, se descobre, surge no mundo e só depois se define, ou seja, não é mais do que faz.

Essa responsabilidade é que gera a angústia, pois cada indivíduo está pronto a escolher tanto a si como a humanidade, não escapa a essa situação.

Apesar da mistura de valores deste século, apesar do homem viver sozinho e sem ajuda nessa confusão, ele é livre e responsável pela sua liberdade. Somos livres para dar sentido a qualquer coisa, mas temos que dar sentido a alguma coisa.

A fenomenologia é usada como método de análise das situações existenciais em sua evolução mostra-se fiel ao concreto existencial.

O ato de assumir o ser, caracteriza a realidade humana, existir é assumir o ser, portanto a realidade humana é sempre um eu que compreende a si próprio fazendo-se humano por tal característica.

O princípio de Sartre é a não existência de Deus, o homem não tem ao que se apegar. Somos livres, sós e sem desculpas.

Chega a conclusão de que nada justifica a existência, o tédio dos dias e das noites, caminhos obscuro e deserto, o cotidiano. Mas isso não o livra da liberdade e da responsabilidade, que são da essência do homem, uma liberdade sem conteúdo se torna amargura, náusea.

Um conjunto de valores intermediários entre Deus e o homem que morreram para Sartre, e não "Deus que esta morto" como diz Nietzsche.

Tudo é gratuito, o homem se encontra na consciência da liberdade, e na possibilidade de forjar nossa própria vida.

Uma vez não tendo essência, a liberdade deve-se fazer, se criar. A consciência se lança no futuro se distanciando do passado.

A necessidade de escolha deve sempre se impôr, ou seja, deve sempre estar dentro dos meus projetos.

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O cumprimento, mas ao mesmo tempo o entrave à minha liberdade, é a existência do outro para quem me torno objeto. Sartre vê duas atitudes possíveis:

Fenômeno amor: reconhecendo e admitindo o amado como sujeito livre, porém o outro me olha como objeto. O esforço de todos os meios para conquistar o amado, mas se não há reciprocidade vem o fracasso e isso nunca se concretizará. Desejo sexual: que é voltar-se para o outro usando-o como instrumento e ferindo sua liberdade, não é vontade de obter prazer, nem corpo e sim desejo de possuir a consciência, a liberdade do outro, que alimente o desejo sexual.

A qualquer momento pode haver a paralisação do objeto pelo outro, surgindo o ódio, o conflito e luta, não há a tolerância da liberdade do outro, o que acontece é aniquilação do outro, mas isso não muda o fato de que um dia ele existiu e fez de mim objeto de meu projeto.

Sartre considera que o materialismo aniquila o homem, o espírito se relaciona com a matéria, mas não o é. O trabalho dá sentido à matéria, a capacidade de imaginar que as coisas poderiam ser diferentes que torna o homem capaz de ir além da situação particular em que se encontra no momento. E aí que o indivíduo se torna objeto e contribui para a história.

O papel do existencialismo é insistir na especificidade de cada acontecimento.

Para Sartre o desespero significa que o homem se limita a contar com o que depende de sua vontade ou com o conjunto de probabilidades que tornam possível a ação. Agir sem esperança é agir sem contar com os outros homens, que além de desconhecidos, são livres, pois não há ‘natureza humana’ na qual seja possível agarrar-se.

O ponto de partida do existencialismo sartriano, como já havia sido dito, é a subjetividade, o cogito cartesiano, que apreende a verdade absoluta da consciência na intuição de si mesma. Na subjetividade existencial, porém, o homem não atinge apenas a si mesmo, mas também aos outros homens, como condição de sua existência. O que o cogito revela é a intersubjetividade, na qual o homem decide o que é e o que são os outros.

Não há natureza, mas condição humana. O homem é sempre "situado e datado", embora o conteúdo de sua situação varie no tempo e no espaço. A liberdade não se exerce no abstrato, mas na situação.

Sartre também discute a questão da morte, diferente de Heidegger, ele acha que a morte tira o sentido da vida, ou seja, ela é a "nadificação dos nossos projetos, é a certeza de que um "nada" total nos espera". Sartre conclui: "se nos temos de morrer, a nossa vida não tem sentido porque os seus problemas não recebem qualquer solução e porque até a significação dos problemas permanece indeterminada.

O conceito de "náusea", usado no romance de mesmo nome, difere-se a esse sentimento experimentado diante do real, quando se toma a consciência de que ele e desprovido de razão de ser, absurdo. Roquetim, a personagem principal do romance, numa celebre passagem, ao olhar as raízes de um castanheiro, tem a impressão de existir à maneira de uma coisa, de um objeto, de estar aí, como as coisas são. Tudo lhe surge como pura contingência, sem sentido.

O homem não é um "em si" ele é um "para si", que a rigor não é nada. A consciência não tem conteúdo e, portanto, não é coisa alguma. Esse vazio é a liberdade fundamental do " para si". É a liberdade, movendo-se, através das possibilidades, que poderá criar-lhe um conteúdo. Eis o que o homem, ao experimentar essa liberdade, ao sentir-se como um vazio, experimenta a angústia da escolha. Muitas pessoas não suportam essa angústia, fogem dela aninhando-se na má fé.

A má fé é a atitude característica do homem que finge escolher, sem na verdade escolher. Imagina que seu destino está traçado, que os valores são dados; aceitando as verdades exteriores, "mente para si mesmo", que é o autor dos seus próprios atos. Não se trata propriamente de uma mentira, pois esta supõem os outros, para quem mentimos. A má fé se caracteriza pelo fato de o indivíduo dissimular para si mesmo, a fim de evitar fazer uma escolha, da qual

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possa se responsabilizar. Torna-se salaud (‘safado’, ‘sujo’). O homem que recusa a si mesmo aquilo que fundamentalmente o caracteriza como homem, ou seja, a liberdade. Nesse processo recusa a dimensão do "para si", torna-se um "em si", semelhante as coisas. Perde a transcedência, reduz-se a facticidade.

Sartre chama esse comportamento de espírito de seriedade. O homem sério é aquele que recusa a sua liberdade para viver o conformismo e a "respeitabilidade" da ordem estabelecida e da tradição. Esse processo e exemplificado no conto "A infância de um chefe". Um tipo de má fé descrito por Sartre é do garçom que age não como um "para si", mas como um "ser para o outro", comporta-se como deve se comportar um garçom, desempenhando o papel de garçom, de tal forma que ele se vê com os olhos dos outros. É assim que Sartre descreve em "O ser e o Nada": " consideremos esse garçom de café. Tem um gesto vivo e apurado, preciso e rápido, dirige-se aos consumidores num passo demasiado vivo, inclina-se com demasiado zelo, sua voz e seus olhos experimentam um interesse demasiado cheio de solicitude para o pedido do freguês (...), ele representa, brinca. Mas representa o que? Não é preciso observa-lo muito tempo para perceber: ele representa ser garçom de café".

Outro tipo de má fé é o da mulher que, estando com um homem, dissimula para si mesma o caráter sexual do encontro, deixando-se "seduzir" por ele.

Em L’Être et le néant, essai d’ ontologie phénomenologique (1943; O ser e o Nada, ensaio de ontologia fenomenológica), propõe Sartre a sua filosofia, baseado na ontologia existencialista de Martin Heidegger. O ponto de partida é o "projeto" de vida do indivíduo, que se choca com os projetos dos outros. Como afirma o título de um escrito posterior, L’Existencialisme est um Humanisme (1946, O existencialismo é um humanismo) o existencialismo é humanista. Como humanismo, filosofia em cujo centro se encontra o homem, o existencialismo de Sartre tem o projeto de dominar o mundo. Mas esse mundo esta cheio de elementos maus; para domina-los, também é preciso arriscar o mal. A liberdade da decisão inclui a liberdade de fazer o mal. Só a decisão é humana e é livre.

Não existe a humanidade, a não ser como característica dos indivíduos humanos que embora diferentes todos uns dos outros, são humanos porque contém a humanidade ou dela participam. O indivíduo, enquanto tal, naquilo que apresenta de particular, é o objeto de percepção sensível e não de apreensão intelectual. Dizer-se de determinada flor que é uma rosa vermelha, é designar o particular por meio do universal, pois os termos rosa é vermelha não convém apenas à flor atualmente percebida, no entanto, é o fato de essa e nenhuma outra, de existir aqui e agora , como conteúdo ou objeto da percepção. A menos que dela se fizesse uma pintura, ou que se fotografasse, não há palavras para exprimir ou representar a sua particularidade. Essa razão pela qual, Aristóteles dizia que o indivíduo é "inefável" ( o que não pode ser dito), o que eqüivale a dizer que a realidade é irredutível ao conceito ou a existência irredutível à essência.

Conclui-se que o existencialismo é uma moral da ação, porque considera que a única coisa que define o homem é o seu ato. Ato livre por excelência, mesmo que o homem esteja sempre situado num determinado tempo e lugar. Não importa o que as circunstâncias fazem do homem, "mas o que ele faz do que fizeram dele".

Mas vários problemas surgem no pensamento sartriano, desencadeados pela consciência capaz de criar valores, ao mesmo tempo que deve se responsabilizar por toda a humanidade, o que parece gerar uma contradição indissolúvel.

Sartre se coloca nos limites da ambigüidade, pois se de um lado a moral é impossível porque o rigor de um princípio leva à sua destruição, por outro lado a realização do homem, da sua liberdade, implica um comportamento moral. Sempre prometeu fazer um livro sobre moral, mas não realizou seu projeto. Uma tentativa nesse sentido foi levada a efeito por Sime de Beauvoir no livro Moral da Ambigüidade.

O Existencialismo Básico

Muitas pessoas fazem uma ligação entre a falta de fé ou crenças com ideais existenciais. O existencialismo pouco tem a ver com fé. Segundo Walter Kauffmann, "Certamente, o existencialismo não é uma escola de pensamentos. Os três escritores que sempre aparecem em toda lista de existencialistas - Jaspers, Heidegger e Sartre - não

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concordam em sua essência. Considerando Rilke, Kafka e Camus, fica claro que a característica essencial compartilhada por todos é o seu individualismo exagerado."

Para entender o significado de existencialismo, é preciso entender que a visão americana do existencialismo derivou das obras de três ativistas políticos, não puristas intelectuais. A América aprendeu o termo existencialismo depois da II Guerra. O termo foi criado por Jean-Paul Sartre para descrever suas próprias filosofias. Até 1950, o termo era aplicado a várias escolas divergentes de pensamento.

Apesar das variações filosóficas, religiosas e ideologias políticas, os conceitos do existencialismo são simples:

A espécie humana tem tem livre arbítrio; A vida é uma série de escolhas, criando stress; Poucas decisões não têm nenhuma conseqüência negativa; Algumas coisas são absurdas ou irracionais, sem explicação; Se você toma uma decisão, deve levá-la até o fim.

Além dessa curta lista de conceitos, o termo existencialismo é aplicado amplamente. Até esses conceitos não são universais dentro das obras existencialistas. Blaise Pascal, por exemplo, passou os últimos anos da sua vida escrevendo em apoio da predeterminação. Os homens acham que têm livre arbítrio apenas quando tomam uma decisão.

Temas comuns entre os existencialistas

Por causa da diversidade de posições associadas com o existencialismo, o termo é impossível de ser definido com precisão. Certos temas comuns, no entanto, podem ser identificados. O termo por si só sugere o tema principal: a angústia na existência individual concreta e, conseqüentemente, na subjetividade, liberdade individual e escolha.

Individualismo moral - A maioria dos filósofos, desde Platão, tem afirmado que o mais alto bem ético é o mesmo para todos; enquanto alguns aproximam-se da perfeição moral, alguns parecem indivíduos moralmente perfeitos. No século XIX, o dinamarquês Kierkegaard, que foi o primeiro pensador a se chamar existencial, reagiu contra essa tradição insistindo que o mais alto bem par o indivíduo é achar a sua própria vocação. Como ele escreveu em seu artigo, "Eu preciso encontrar a verdade que é verdadeira para mim... a idéia pela qual eu vivo ou morro." Outros existencialistas têm repetido a tese de Kierkegaard que diz que cada um precisa escolher seu próprio caminho sem o auxílio de padrões universais.Contra a visão tradicional de que a escolha envolve um julgamento objetivo do certo e errado, os existencialistas têm argumentado que nenhuma base racional ou objetiva pode ser encontrada nas decisões morais. No século XIX, o filósofo alemão Nietzsche afirmou que o indivíduo precisa decidir que situações incluir como situações morais. Subjetividade - Todos os existencialistas têm seguido Kierkegaard em enfatizar a importância da ação individual em decidir questões de moralidade e verdade. Eles têm insistido, conseqüentemente, que a experiência individual e a ação de acordo com as suas próprias convicções são essenciais para se chegar à verdade. Assim, a compreensão da situação por alguém envolvido nessa situação é superior à de um observador imparcial. Essa ênfase na perspectiva do indivíduo também tem feito com que os existencialistas suspeitem do raciocínio sistemático. Kierkegaard, Nietzsche e outros existencialistas têm sido deliberadamente anti-sistemáticos quando expõem suas filosofias, preferindo expressar-se em diálogos, parábolas e outras formas literárias. Ao invés da sua posição anti-racionalista, no entanto, a maioria dos existencialistas não podem ser considerados como irracionalistas no sentido de negar toda a validade do pensamento racional. Eles têm afirmado que a claridade racional é desejável onde quer que seja, mas a mais importante questão na vida não é acessível à razão ou ciência. Além disso, eles têm argumentado que até a ciência não é tão racional como se supõe. Nietzsche, por exemplo, afirmou que a suposição científica de um universo ordenado é, na maior parte, uma ficção útil. Escolha e compromisso - Talvez o principal tema no existencialismo seja a escolha. A principal distinção da humanidade, no ponto de vista dos existencialistas, é a liberdade de escolha. Os pensadores têm afirmado que os seres humanos não têm uma natureza, ou essência, fixa, como os outros animais e plantas; cada ser

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humano toma decisões que criam sua própria natureza. Para Sartre, a existência precede a essência. A escolha é, portanto, o centro da existência humana, é inevitável; até a recusa da escolha é uma escolha. A liberdade de escolha acarreta no compromisso e na responsabilidade. Porque as pessoas são livres para escolher seus próprios caminhos, os existencialistas têm argumentado que eles precisam aceitar o risco e a responsabilidade de seguir seu compromisso, aonde quer que ele leve.

Horror e angústia - Kierkegaard afirmou que é espiritualmente crucial reconhecer que cada um experimenta não apenas o medo de objetos específicos, mas também um sentimento de apreensão generalizado, o que ele chama de horror. Ele interpretou isso como uma maneira que Deus encontrou de chamar cada indivíduo para marcar um compromisso com um modo de vida pessoal válido. A palavra angústia (do alemão, angst) tem, similarmente, um papel crucial no trabalho do filósofo alemão do século XX Heidegger; a angústia leva ao confronto do indivíduo com o nada e com a impossibilidade de encontrar justificativas para as escolhas que ele ou ela devem fazer. Na filosofia de Sartre, a palavra náusea é usada para o reconhecimento do indivíduo da gratuidade das coisas, e a palavra angústia é usada para o reconhecimento da total liberdade de escolha que confronta o indivíduo a cada momento.

Definindo o impreciso

Com muitas das instâncias quando tentamos agrupar indivíduos, falhamos quando definimos quem os existencialistas eram. A filosofia desses homens e mulheres são freqüentemente contraditórias. Não apenas os pensadores se contradizem uns aos outros, mas cada um tende a contradizer suas próprias definições, tanto em livros como em ações.

Tendo estabelecido que o existencialismo é um termo aplicado livremente em uma variedade de filosofias, existem temas que são comuns em todos as obras. Dicionários e textos de filosofias oferecem definições simples de existencialismo:

"A doutrina que diz que a existência precede a essência e que o homem é totalmente livre e responsável pelos seus atos. A responsabilidade é a fonte do medo e da angústia persegue a espécie humana." - Webster’s New World Dictionary, Second College Edition; William Collins Publishers, inc.; Cleveland, Ohio, 1979.

"A filosofia que enfatiza a unicidade e o isolamento da experiência individual em um universo hostil e indiferente, considera a existência humana como inexplicável e força a liberdade de escolha e responsabilidade pelas conseqüências de nossos atos." - American Heritage Dictionary of the English Language, Third Edition © 1992 by Houghton Mifflin Complany.

Não há uma ou duas frases que resumem o que mais de uma dúzia de pessoas famosas ou não ponderaram. A única coisa comum parece ser a discórdia.

A grade que acompanha, ilustra a quantidade de ideais expressados pelos maiores existencialistas. Nem todos os pensadores seguem uma linha perfeita na grade. Particularmente, suas linhas políticas são mais variadas que as três categorias listadas.

A primeira linha pode representar a obra de Blaise Pascal, especialmente no final da sua vida quando ele tentou defender suas crenças religiosas desesperadamente, incluindo suas contradições inerentes. A última linha representa Jean-Paul Sartre, se não suas próprias idéias.

Como definido previamente, unificando esses homens e mulheres nessa matriz de conceitos é desanimador. Seus pensamentos são ligados pela crença de que a vida é uma luta praticamente inútil contra forças alinhadas em oposição ao indivíduo.

Fé e Existencialismo

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Como mencionado anteriormente, o existencialismo não é uma simples escola de pensamento, livre de qualquer e toda forma de fé. Ajuda a entender que muitos dos existencialistas eram, de fato, religiosos.

Pascal e Kierkegaard eram cristãos dedicados. Pascal era católico, Kierkegaard, um protestante radical e defensor dos ensinamentos de Lutero. Nietzsche, apesar da famosa frase "Deus está morto", também parecia acreditar em um criador, mesmo desprezando religiões organizadas como uma ferramenta de manipulação e controle de massas. Dostoievsky era greco-ortodoxo, a ponto de ser fanático. Kafka era judeu; Hegel era muito muito religioso, acreditando que nenhum poder era obtido sem o consentimento do criador.

Sartre era o único que realmente não acreditava em força divina. Sartre não foi criado sem religião, mas a II Guerra Mundial e o constante sofrimento no mundo levou-o para longe da fé, de acordo com várias biografias, incluindo a de sua amante, Simone de Beauvior. Curiosamente, Sartre passou seus últimos anos de vida explorando assuntos de fé e dedicação com um judeu ortodoxo. Apenas podemos imaginar suas conversas, já que Sartre não as registrou.

Para os existencialistas cristãos, a fé defende o indivíduo e guia as decisões com um conjunto rigoroso de regras. Para os ateus, a ironia é a de que não importa o quanto você faça para melhorar a si ou aos outros, você sempre vai se deteriorar e morrer. Muitos existencialistas acreditam que a grande vitória do indivíduo é perceber o absurdo da vida e aceitá-la.

Resumindo, você vive uma vida miserável, pela qual você pode ou não ser recompensado por uma força maior. Se essa força existe, por que os homens sofrem? Se não existe, por que não cometer suicídio e encurtar seu sofrimento? Essas questões apenas insinuam a complexidade do pensamento existencialista.

O Indivíduo versus a Sociedade

O existencialismo representa a vida como uma série de lutas entre o indivíduo e tudo. O indivíduo é forçado a tomar decisões; freqüentemente, qualquer escolha é uma escolha ruim. Nas obras de alguns pensadores, parece que a liberdade e a escolha pessoal são as sementes da miséria. A maldição do livre arbítrio foi de particular interesse dos existencialistas teológicos e cristãos. Dando o livre arbítrio, o criador estava punindo a espécie humana na pior maneira possível.

As regras sociais são o resultado da tentativa dos homens de limitar suas próprias escolhas. Ou seja, quanto mais estruturada a sociedade, mais funcional ela deveria ser. A adoção dessa teoria antropológica pode explicar porque os existencialistas tendem a ser favoráveis ao autoritarismo ou a formas rígidas de governo, como o comunismo, socialismo e facismo. Com apenas um partido político, um líder forte, uma única direção, é muito mais fácil alcançar a funcionalidade.

Os existencialistas explicariam porque algumas pessoas se sentem atraídas pelas carreiras militares baseando-se no desafio de tomar decisões. Seguir ordens é fácil; requer pouco esforço emocional fazer o que lhe mandam. Se a ordem não é lógica, não é o soldado que deve questionar. Deste modo, as guerras podem ser explicadas, genocídios de massa podem ser entendidos. As pessoas estavam apenas fazendo o que lhe foi dito.

Como pode um filósofo que enfoca o indivíduo abraçar uma teoria social tão anti-indivíduo? De fato, Sartre e Heidegger acreditavam que foram libertados de decisões básicas, sobre como obter comida, abrigo e segurança, para concentrar-se em decisões mais importantes. Heidegger e Sartre, partidários de Hitler e da União Soviética, respectivamente, viram em governos autoritários a promessa da liberdade individual para exercer a arte, ciência, etc. Quando a utopia fosse alcançada e as pessoas estivessem fazendo o que melhor sabiam fazer, o indivíduo seria beneficiado, assim como a própria sociedade.

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Os Existencialistas

As pessoas listadas representam os maiores pensadores existencialistas. Este gráfico está em ordem filosófica, não na de publicação ou vida.

História

O existencialismo é um movimento filosófico e literário distinto pertencente aos séculos XIX e XX, mas os seus elementos podem ser encontrados no pensamento (e vida) de Sócrates, na Bíblia e no trabalho de muitos filósofos e escritores pré-modernos.

Culturalmente, há dois grupos principais de existencialistas: Alemão-Dinamarquês e Anglo-Francês. Além desses, as culturas judaica e o russa também contribuíram com a filosofia. O movimento filosófico agora conhecido como existencialismo pode ser traçado de 1879 até 1986, quando Simone de Beauvoir morreu. Após ter experienciado vários distúrbios civis, guerras locais e duas guerras mundiais, algumas pessoas na Europa foram forçadas a concluir que a vida é inerentemente miserável e irracional.

Alemanha

Toda a história da Alemanha pode ser vista como uma contribuição à evolução do pensamento existencialista. Folheando um bom livro de história, torna-se claro que a Alemanha tem sido atacada e tem atacado. Sua cultura é formada pela guerra; é no período de 1871 até a II Guerra Mundial que se mais se formou o pensamento existencialista.

A seguinte linha do tempo representa apenas uma fração dos eventos que ocorreram na Alemanha. A pessoal mais responsável pelos seus altos e baixos é Otto von Bismarck. Para controlar a Alemanha de 1862 até 1890, ele primeiramente encontrou inimigos em outras nações. Quando acreditou que o país tinha uma razoável quantidade de terras, ele encontrou liberais e socialistas para perseguir. Para muitos, Bismarck não teve ideais políticos reais, apenas a ilusão de que ele e apenas ele poderia governar a Alemanha.

Como você pode observar na linha do tempo, Nietzsche e Kierkegaard experienciaram a ascensão da cultura alemã. Bismarck realmente trouxe prosperidade à Alemanha, seja através da guerra ou de políticas de comércio, penalizando a importação em um mercado mundial que queria os produtos alemães. A idéia de Nietzsche de um super-homem, um homem dirigindo a vida com um desejo puro de poder e excelência, foi formada pela Alemanha de Bismarck. Mais tarde, Hitler perverteria o ponto de debate filosófico em um sistema de convicções.

França

A II Guerra Mundial é o evento definitivo da história do existencialismo francês. Antes da II Guerra, os franceses se orgulhavam de seu país como uma potência mundial. Como colônias em expansão, uma rica história e uma final vitorioso da I Guerra Mundial, os franceses consideravam seu país a salvo e seguro.

Um resumo da história Francesa-Alemã poderia ser: França invade Alemanha, Alemanha reage com raiva, os franceses exigem uma posição dura... E esse ciclo continua por várias centenas de anos.

Quando a I Guerra terminou, os franceses exigiram que a Alemanha fosse severamente punida. O que o governo e a população da França não entendeu foi que eles seriam responsáveis pela instabilidade na Alemanha que gerou a ascensão de Adolf Hitler. De fato, os pedidos franceses no Tratado de Versalhes causaram uma pressão irracional na economia alemã e na recém-formada democracia.

O existencialismo francês foi moldado pelas experiências e emoções da Resistência Francesa. Sartre e outros filósofos já eram socialistas. Sartre não era tão ativo politicamente quanto outros estudantes e professores que conhecia. O período estudantil de Sartre não foi usado em atividades políticas, por padrões franceses. Camus foi

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muito mais político que Sartre. Em parte, isso se deve às diferentes formações familiares. A guerra temporariamente fez dos membros da Resistência iguais.

Posteriormente, a guerra alinhou o famoso existencialismo francês com o Partido Comunista Soviético. Enquanto a União Soviética era eventualmente vista como o império do mal pelos Estados Unidos, o público francês nunca aceitou totalmente a idéia. O exército russo manteve o alemão em seu lugar; qualquer inimigo para a Alemanha não seria tão ruim assim.

As linhas do existencialismo

Há duas linhas famosas de existencialistas. A primeira, de Kierkegaard, Nietzsche e Heidegger é agrupada intelectualmente. Esses homens são os pais do existencialismo e dedicaram-se para estudar a condição humana. A segunda, de Sartre, Camus e Beauvoir, era uma linha política, até Sartre e Camus provarem que brigas mesquinhas e orgulho não podem ser sustentadas pela filosofia. Enquanto outras pessoas entraram e entraram nesses grupos, esses seis indivíduos definiram o existencialismo.

Metafísicos

As potências intelectuais por trás do existencialismo concentraram suas obras na metafísica. Esses homens perguntaram-se se havia um Criador. Se sim, qual é a relação entre a espécie humana e esse criador? As leis da natureza já foram pré-definidas e os homens têm que se adaptar a elas? Esses homens estiveram tão dedicados aos seus estudos que tornaram-se anti-sociais, enquanto se preocupavam com a humanidade.

Kierkegaard, Nietzsche e Heidegger são os primeiros existencialistas intelectuais e metafísicos. Os dois primeiros se preocupavam com a mesma questão: o que limita a ação de um indivíduo? Kierkegaard chegou à possibilidade de que o cristianismo e a fé em geral são irracionais, argumentando que provar a existência de uma única e suprema entidade é uma atividade inútil. Ele acreditou que o mais importante teste de um homem era seu compromisso com a fé apesar do absurdo dessa fé.

Nietzsche, freqüentemente caracterizado como ateu, foi mais precisamente um crítico da religião organizada e das doutrinas de seu tempo. Ele acreditou que a religião organizada, especialmente a igreja católica, era contra qualquer poder de ganho ou auto-confiança sem consentimento. Nietzsche usou o termo rebanho para descrever a população que segue a igreja de boa vontade. Ele argumentou que provar a existência de um criador não era possível nem importante.

Políticos

Pode ser um pouco injusto chamar os existencialistas franceses de políticos, mas eles eram politicamente ativos e, freqüentemente, motivados. A França foi o centro do existencialismo político. Os filósofos alemães, até a II Guerra, estavam isolados das brigas políticas diárias. Até mesmo durante das duas guerras mundiais, eles apenas podiam imaginar os horrores dos campos de concentração. A Resistência Francesa, por outro lado, era o refúgio de alguns dos maiores pensadores franceses.

Sartre e Camus, eventualmente reconhecidos como os dois existencialistas mais influentes; ambos eram ativos na Resistência Francesa. Camus tinha sido um politicamente ativo na Algéria, sua terra natal, tendo nascido na pobreza, o que resultou na sua participação em grupos socialistas na faculdade. Sartre foi mais político depois da II Guerra. Sua família, de uma alta posição social, o manteve longe dos assuntos políticos. A guerra transformou esses dois homens em ativistas. Sartre tornou-se um líder defensor da União Soviética, enquanto que Camus promoveu o que ele chamava de "socialismo humanista" ou socialismo com compaixão.

Ambos eram partidários do marxismo e usaram sua fama de escritores de ficção para promover suas idéias. Os metafísicos não teriam considerado tal auto-promoção. Camus aceitou o Prêmio Nobel da Literatura em 1957, julgando-o como uma ferramenta para argumentar pelos direitos humanos. Curiosamente, Sartre, que amava ser o

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centro das atenções, recusou-se a receber o prêmio em 1964. Essa recusa pública provavelmente atraiu muito mais atenção para ele!