o estado novo e a transição para a democracia

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Agrupamento de Escolas Sá Couto Escolas EB 2/3 Sá Couto Departamento de Ciências Sociais e Humanas Grupo Disciplinar de História

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O Estado Novo e a transição para a Democracia

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Page 1: O Estado Novo e a transição para a Democracia

Agrupamento de Escolas Sá Couto Escolas EB 2/3 Sá Couto Departamento de Ciências Sociais e Humanas Grupo Disciplinar de História

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Estado Novo e Transição Para a Democracia

“Toda a História foi um instrumento ao serviço da propaganda”

A propaganda nacionalista do Estado Novo é dominada por uma certa mitificação

da História, e por uma determinada leitura da mesma, enaltecendo determinados

acontecimentos e remetendo outros para o esquecimento.

Aos mitos da Fundação e da Restauração, o Estado Novo aliou o mito da Expansão

de Portugal nos cinco cantos do mundo.

Conceição Meireles

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Estado Novo e Transição Para a Democracia

“Apelo ao passado para legitimar o presente”

Esse passado que o Estado Novo queria fazer lembrar aos portugueses era um passado

de grandeza, quase de heróis.

Conceição Meireles

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Estado Novo e Transição Para a Democracia

Todo o regime se rende ao Presidente do Conselho, um homem venerado como um santo…

Na União do Congresso Nacional, em 1934, António Carnei-ro Pacheco, futuro Ministro da Educação, consagra-o: “A União Nacional, tendo por chefe Salazar, em todos os graus da hierarquia, atingirá o máximo da sua finalidade ideal.” A apologia excede-se em momentos como uma conferência proferida no Palácio de Cristal, no Porto, pelo Professor Fer-nando Pires de Lima: ”Nun’Álvares está no céu! O Príncipe Perfeito morreu! E o Chefe que encarnasse a alma do Con-destável e a força de D. João II? Ele aí está! Eis o Homem! Quem vive? Portugal e a sua História. Quem manda? Sala-zar e o seu génio. Quem vive? Portugal e a sua Raça. Quem manda? Salazar e o seu esforço heróico, estranho, provi-dencial. Salazar, o Chefe, Nun’Álvares do nosso tempo, Príncipe Perfeito da Idade Nova.”

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Estado Novo e Transição Para a Democracia

Os anos 40 são a época da institucionalização do Fado e da sua grande voga. A propaganda do Estado Novo fez dele imagem de Portugal.

“As comédias dos anos 40 misturam alguma fluência narrativa com inúmeras concessões à vulgaridade, mas essa é talvez a razão do seu sucesso …” “Estas fitas são uma pequena parte da explosão do cinema português nos anos 40, em que se produziam 45 longas metragens em comparação com 20 no decénio anterior. Insiste-se nos filmes históricos de exaltação nacionalista e das adaptações literárias.” A Rádio emociona, prende multidões ao aparelho e revolucionou a relação do público com os artistas, criando os primeiros grandes ídolos da canção nacional. Há quem na dança e na música procure outras vias. Nos anos 40 cria-se o grupo Verde Gaio, caracterizado pela dança clássica-folclorista, onde o melhor se traduzia em figuras e cená-rios.

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Cultura ao Domicílio

Sem poder de compra para poder adquirir de uma só vez uma enciclopédia, uma história em volumes ou uma edição de luxo, os Portugueses instruídos (ou que o querem parecer, exibindo encadernações nas estantes) dedicam-se à compre de livros em fascículos, recebidos e pagos em suave ritmo mensal. É um bom negócio praticado por muitas editoras já em anos anteriores e ampliado ao longo da década de 50. Os temas são históricos, culturais, literários, religiosos, artísticos, cien-tíficos ou geográficos. Até a monumental Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, para a qual trabalha o escol da inte-lectualidade nacional, é vendida desta forma desde os anos 30. As capas são fornecidas pelo editor, mas a encadernação fica a cargo do cliente.

VIEIRA, Joaquim – Portugal século XX, Crónica em Imagens 1950-1960. Lisboa: Círculo de Leitores, 1998.

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Estado Novo e Transição Para a Democracia

Lá vamos cantando e rindo

Mocidade Portuguesa Fundada em 1936, sob o nome de Organização Nacional da Mocidade Portuguesa, MP, correspondia ao modelo de militarização juvenil posto em prática pelas ditaduras europeias. A obrigatoriedade de filiação inicial de todas as crianças entre os 7 e os 14 anos fez povoar durante décadas as ruas das cidades com o inconfundível uniforme verde e caqui, sobretudo aos sábados, dias de instrução dos filiados em todo o país. A M.P. estava dividida em 2 grandes secções estanques: a MP propriamente dita, apenas reservada ao sexo masculino e a MPF, para o sexo feminino. O recurso ao uniforme e desfile na via pública, pretendia transmitir uma ideia de disciplina, obediên-cia, força e dominação que estava no centro do sistema autoritário e conservador, característico da Ditadura.

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Estado Novo e Transição Para a Democracia

Na vida familiar, a filiada devia aceitar a autoridade paterna, encarando-a como uma emanação da autoridade de Deus, nas relações com os jovens, devia ser a liberdade como “um bem que o abuso” transformava “em mal”. A jovem “séria” devia, por isso ser prudente, vigiar os seus próprios sentimentos e fazer-se respeitar; o epílogo seria, nesse caso o casamento “o mais sério acto e o mais lindo sonho” a que as jovens podiam aspirar.

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Vêm aí os turistas!

Cartazes, folhetos e brochuras promovem cidades e centros estivais, dan-do-se pela primeira vez projecção a uma região até então ignorada: o Algarve. Funda-se uma rede de pousadas do Estado. Se em 1960 é de 363.000 o número de turistas, em 1969 são já recebidos 2,8 milhões. Primeiro os espanhóis, seguidos dos ingleses, americanos e franceses. Eles introduzem uma informalidade de costumes que nos anos 60 banalizam lá fora, mas que ainda causam espanto em Portugal.

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Produzir e poupar

Estado Novo e Transição Para a Democracia

“ O trigo da nossa terra é a fronteira que melhor nos defende”, afirmava o regime. As políticas governamentais estavam, desde 1899, a contribuir para que o Alentejo consolidasse a imagem do “celeiro de Portugal” que manteve durante todo o século XX. Governo e entidades particulares (desde que autorizadas) lançam-se nas mais variadas campanhas junto da opinião pública. Para consumo de vinho e de fruta (para proteger a agricultura), pela adopção de conservas de peixe na dieta nacional (para proteger a pesca), pela compra de produ-tos portugueses (para proteger a indústria) e por uma série de medidas sanitárias (para proteger as pessoas).

Cartaz concebido para a Exposição de Paris de 1937, exibindo as riquezas por que se distin-guem as cidades e vilas do País.

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Nos anos 30 cerca de um terço da população portuguesa tem menos de 14 anos. O fenómeno deve-se ao aumento da natalidade. A evolução ao nível da situação sanitária e do bem-estar, permite, por exemplo, que a esperança média de vida, em 1930, comparada com a de 1920, tenha subido 9 anos. Os médicos portugueses começam, só neste período, a prestar mais assistência e atenção à mulher grávida e à pri-meira infância. Em 1932, é inaugurada, em Lisboa, a primeira maternida-de – Alfredo da Costa – o primeiro estabelecimento do género adminis-trado pelo Estado. Apesar da grande proporção de crianças na socieda-de, as circunstâncias da vida infantil evoluem de forma muito difícil. Não existem ainda condições económicas e sanitárias para sustentar tantos recém – chegados, razão pela qual, apesar de todos os benefí-cios, a mortalidade infantil se mantém a níveis assustadores em quase todo o país, com excepção dos distritos de Lisboa, Leiria e Faro. Expostos a doenças mortais devido a más condições sanitárias, os menores são envolvidos por campanhas de apoio à Assistência Nacional aos Tuberculosos e outras.

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Nasce a campanha publicitária. Os consumidores são arrasados com as guerras das mar-

garinas, dos detergentes, dos caldos artificiais, sinal de maior poder de compra das clas-

ses médias.

É intensa a promoção dos electrodomésticos, agora que a electricidade abrange as man-

chas urbanas e tudo funciona com esta energia limpa, cómoda e prática.

Estado Novo e Transição Para a Democracia

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Estado Novo e Transição Para a Democracia

Característico do Estado Novo foi o grande investimento na construção de obras públicas. Construíram-se e repararam-se estradas, as redes telefónica e telegráfica conheceram enorme extensão, melhoraram-se alguns portos, construí-ram-se numerosas barragens para irrigação e produção de electricidade. Esta política de construção visava criar condições que per-mitissem o desenvolvimento económico do país e o comba-te ao desemprego, para além deste ter criado uma arma propagandística muito importante dentro e fora de Portugal.

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Durante a tortura do sono, aos presos políticos em Caxias era concedido um pequeno período de “descanso” numa destas salas.

(Armando Vidal) Corredor de celas na parte velha do forte de Caxias (Armando Vidal)

Um posto médico na cadeia de Caxias (Armando Vidal)

Cela de isolamento em Caxias (Armando Vidal)

Trabalhadores Rurais detidos em Montemor-o-Novo são trans-feridos para a capital, sob escolta da GNR. No campo, a guarda colaborou activamente com a PIDE na repressão.

Pode dizer-se que a repressão da PIDE/DGS foi selectiva e que o regime ditatorial português obteve bons resultados com um número exíguo de prisões. Mais de 60% dos presos políticos eram trabalhadores manuais indiferen-ciados das cidades e do campo, quase 20% pertenciam ao sector do comércio e serviços, cerca de 11% eram membros de profissões liberais, estudantes ou profissionais de alto estatuto social. Num universo de 12.385 presos, pouco mas de 4% foram condenados a medidas de segurança, mas, entre estes, 90% cumpriram entre um ano e três anos de cadeia a mais do que o tempo a que haviam sido condena-dos.

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A oposição ao Estado Novo organizou-se em segredo e clandestinamente. Em 1945 formou-se o MUD, (Movimento de Unidade Demo-crática), ao qual pertenciam homens e mulheres comunis-tas, republicanos, monárquicos, socialistas e católicos. O primeiro grande abalo ao regime deu-se em 1958 com as eleições para a Presidência da República. O General Humberto Delgado era o candidato da oposição.

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A Censura impede os portugueses de saber o que se passa nas três frentes de luta: só chegam notícias de heróicas notícias de pacifica-ção e, pela TV, mensagens de Natal e de Páscoa balbuciadas frente às câmaras por soldados inexperientes no uso da palavra pública. Mas os discretos comunicados que quase todos os dias surgem nos jornais, listando os militares caídos, remetem para uma cruel reali-dade de uma guerra a sério contra um inimigo quase invisível, mas mortal. A causa oficial de cerca de metade das mortes é o combate, dividindo-se as restantes por acidentes com armas de fogo, desas-tres de viação e doença. A soma dos mortos do Exército (o mais sacrificado dos três ramos militares), no final da década de 60, já ultrapassa os 5000, sendo os feridos cerca de três vezes mais (números oficiais).

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Ei-los que partem

Por via legal ou clandestina, nada detém mais de 1 milhão de portugueses em busca, no estrangeiro, da prosperidade que o seu país não consegue garantir-lhe. Calcula-se que quase 1,3 milhões de portugueses, o que representa perto de 15% da popula-ção, tenham trocado o seu país por outras paragens, entre 1960 e 1970. O número de habitantes, que registou nas décadas anteriores um crescimento constante, acaba por diminuir ao longo do decénio de 8,85 milhões para 8,82 milhões de habitantes, com todos os distritos a verem a sua população reduzir-se com excepção daqueles onde se verifi-ca um forte de impulso industrial: Aveiro, Braga, Lisboa, Porto e Setúbal. Dá-se um processo de desertificação que causa o despovoamento dos campos e aldeias. Este êxodo, crescente na segunda metade da década de 60, penaliza sobretudo as regiões do interior e contribui para o envelhecimento da população rural. A França é o grande destino dos emigrantes (51% dos legais saídos entre 1960 e 1969). Segue-se o Brasil (11%), os Estados Unidos da América (10%), o Canadá (8%) e a Alemanha Ocidental (7%).

Emigrantes nortenhos aguardam embarque em Lisboa (Março de 1938). Estado Novo e Transição Para a Democracia

Legalizada a situação no estrangeiro, a mulher e os filhos juntam-se ao emigrante.

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1ª senha – o início das operações militares do Movimento dos Capi-tães, nos Emissores Associados de Lisboa às 22h55 do dia 24 de

Abril de 1974

E depois do adeus Quis saber quem sou Quem me abandonou

O que faço aqui De quem me esqueci

Perguntei por mim Quis saber de nós

Mas o mar Não me traz

Tua voz

Em silêncio, amor Em tristeza e fim

Eu te sinto, em flor Eu te sofro, em mim Eu te lembro, assim

Partir é morrer Como amar

É ganhar E perder

Tu vieste em flor Eu te desfolhei

Tu te deste em amor Eu nada te dei

Em teu corpo, amor Eu adormeci

Morri nele E ao morrer

Renasci

E depois do amor E depois de nós O dizer adeus

O ficarmos sós Teu lugar a mais Tua ausência em mim

Tua paz Que perdi

Minha dor que aprendi De novo vieste em flor

Te desfolhei…

E depois do amor E depois de nós

O adeus O ficarmos sós”

Paulo de Carvalho (voz) José calvário (música)

José Niza (letra)

FRANCISCO SÁ CARNEIRO,

um dos membros mais destacados

da Ala Liberal, renuncia ao man-

dato de deputado em Janeiro de

1973.

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Estado Novo e Transição Para a Democracia

Segunda senha – confirma a irreversi-bilidade das operações, transmitida na Rádio renascença às 00h20 do dia 25 de Abril de 1974

“Grândola, vila morena Terra da Fraternidade,

O povo é quem mais ordena Dentro de to, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade

O povo é quem mais ordena Terra da fraternidade Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo

Em cada rosto igualdade Grândola, vila morena Terra da fraternidade

Terra da fraternidade Grândola, vila morena

Em cada rosto igualdade O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira Que já não sabia a idade

Jurei ter por companheira Grândola a tua vontade

Grândola a tua vontade

Jurei ter por companheira À sombra duma azinheira Que já não sabia a idade”

Zeca Afonso

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Estado Novo e Transição Para a Democracia

Bibliografia

MANUEL, Alexandre; CARAPINHA, Rogério et al. (Coordenação) – PIDE – A História da Repressão. Fundão: Jornal do Fundão, Editora, s. d.

PAÇO, António Simões do (Coordenação) – Os Anos de Salazar. Lisboa: Edita. Vols. 1 a 30, 2008.

PIMENTEL, Irene Flunser – Mocidade Portuguesa Feminina. Lisboa: A Esfe-ra dos Livros, 2007.

REIS, António (Direcção) – Portugal Contemporâneo. Lisboa: Publicações Alfa e Selecções do Readers Digest. Vols. 2 e 3, 1996.

VIEIRA, Joaquim – Mocidade Portuguesa. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2008.

VIEIRA, Joaquim – Portugal, Século XX – Crónicas em Imagens. Lisboa: Círculo de Leitores (vols. 1930 a 1980), 1998.

25 DE Abril, 30 Anos, 100 Cartazes. Lisboa: Diário de Notícias, 2004.

Ficha Técnica

Produção

Grupo Disciplinar de História da Escola EB 2/3 Sá Couto

Divisão de Património e Museologia da Câmara Municipal de Espinho

Coordenação: Armando Bouçon

Digitalização: Adriano Ferreira

Design Gráfico: Tiago Castro

Organização

Câmara Municipal de Espinho

Departamento de Ciências Sociais e Humanas da Escola EB 2/3 Sá Couto

Apoio

Fundação Navegar