o ensino do ritmo musical e a prática musical coletiva na escola

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Edição Nº. 5, Vol. 1, jan./dez. 2015. Inserida em: http://www.uel.br/revistas/lenpes-pibid/

O ENSINO DO RITMO MUSICAL E A PRÁTICA MUSICAL COLETIVA NA ESCOLA:

UMA PROPOSTA METODOLÓGICA

Eric Gomes do Carmo1

Resumo O presente artigo relata a experiência de Educação Musical, vivenciada na Escola Municipal Norman Prochet em Londrina-Paraná. Trata-se do Estágio Supervisionado realizado durante o ano de 2014. O trabalho foi realizado no 3º ano do curso de Licenciatura em Música da Universidade Estadual de Londrina. Semanalmente as crianças de 8 e 9 anos referente ao 3º ano do Ensino Fundamental I frequentaram aulas de música. Neste relato procuro trazer as reflexões sobre o processo de desenvolvimento da relação do movimento corporal na construção do conceito de ritmo a partir de um trabalho de prática musical coletiva, abrangendo os seguintes momentos: a) Movimento rítmico-corporal e pulso; b) Representação gráfica do ritmo; d) Prática musical em grupo: a construção da performance, partindo dos pressupostos de Dalcroze e Lucas Ciavatta. Palavras chave: Movimento; Ritmo; Percepção.

Introdução

O desenvolvimento da Educação Musical no Brasil tem sido um assunto

intensamente debatido nos meios acadêmicos nas últimas décadas. As propostas para a

educação musical oferecidas por autores como Émile Jacques-Dalcroze (Suíça,1865-

1950), Zoltán Kodály (Hungria, 1882-1967), Carl Orff (Alemanha, 1895-1982), Edgar

Willems (Suíça, 1890-1978) e Shinichi Suzuki (Japão, 1898-1998), estão presentes na

educação musical brasileira.

Cada um desses autores desenvolveu um trabalho com características peculiares,

voltado para objetivos próprios e com determinada ênfase e atuação bem específica em

1 Eric Gomes do Carmo é formado no curso de Licenciatura em Música na Universidade Estadual de Londrina, formado em Educação Física também pela UEL, cursando a especialização em Educação Musical na Universidade Estadual de Maringá. Contato: [email protected]

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determinados grupos, como é o caso do método Suzuki para instrumentos e o de

Dalcroze na dança e teatro.

Embora esses autores tenham fundamental importância para a formação do

pensamento pedagógico musical do educador contemporâneo, é necessário considerar

as mudanças ocorridas no contexto social das últimas décadas, onde vários fatores como

a globalização cultural e a tecnologia tem transformado a maneira de pensar do homem

pós-moderno.

Metodologia

As propostas de Educação Musical das últimas décadas se abriram a diversas

metodologias, derivadas de conceitos e métodos tradicionais e estilos musicais. Essas

metodologias se utilizam de elementos, sons e estilos presentes no contexto sócio

cultural, dando espaço ao que não é tradicional na formação cultural.

Essas propostas não se limitam ao ensino específico de música, mas promovem

também a integração da música a outras disciplinas e áreas de conhecimento,

destacando o fazer e a criação musical como base essencial no processo.

Para Gainza (1990), a manipulação ativa da realidade que a rodeia através do

jogo espontâneo e educativo, a criança adquire novas experiências e com isso desfruta

de uma crescente compreensão e capacidade de manipular tanto esta realidade como

seu mundo interior.

A Educadora acrescenta ainda que o jogo musical e a improvisação promovem a

absorção de novos materiais e estruturas mediante a exploração e manipulação criativa

dos objetos que produzem sons.

No pensamento didático musical de Koellreutter, o professor deve orientar e guiar

o aluno, porém não obriga-lo a sujeitar-se à tradição, valendo-se do diálogo e do debate.

Para Brito (2012, p.102), em relação ao pensamento pedagógico-musical de

Koellreutter, em vez de sistemas padronizados que se ocupam em repetir o mesmo,

precisamos nos valer da música em sua condição de jogo da arte, conectado com a vida,

com as capacidades de criar, de transformar, de realizar e de provocar – sempre – o

movimento.

Se faz necessário questionar o quanto o ensino de música tem sido relevante

para o aluno na sua prática escolar. É no ambiente escolar que a prática musical coletiva

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pode ser mais motivadora, no momento em que cria a oportunidade de experimentação

para o aluno que vê a música como algo ainda muito distante.

Identificação do Problema

O interesse em formular uma metodologia para o ensino da percepção rítmica se

deu pela identificação da dificuldade pessoal nos estudos de ritmo, e também da

constatação de que muitos sãos os que têm dificuldade em entender o que é pulsação,

além de confundirem o entendimento do ritmo com o andamento em música.

De fato, percebemos que para a prática musical é fundamental a percepção da

pulsação, pois é a partir da clara identificação da mesma que é possível fazer as relações

de divisão e subdivisão rítmica.

O ponto de partida para o nosso trabalho foi o “método” de Dalcroze e o trabalho

desenvolvido pelo professor Lucas Ciavatta2 que utilizou a prática da percussão corporal

e um novo tipo de leitura rítmica. A proposta se apoia no fluxo do tempo/contra tempo, e o

espaço físico e musical onde eles acontecem.

Para Dalcroze a música deve passar pelo ouvido e se tornar significativa na

mente e no corpo. “Dalcroze observou que a marcha, devido à sua regularidade,

funcionava como um ‘metrônomo natural’, fornecendo ao caminhante ‘um modelo perfeito

de medida e divisão do tempo em partes iguais’” (MADUREIRA, 2008: 64-65).

O Passo nos mostra que, sem a participação ativa e efetiva do corpo, processos,

normalmente associados apenas à mente, tais como a leitura e a escrita simplesmente

não pode acontecer (Cursos O Passo – Música e Educação). Propõe que cada evento

musical, rítmico ou melódico, seja identificado, compreendido e escrito, oral, corporal e

graficamente.

Proposta Metodológica

Como proposta metodológica, no primeiro momento a decisão foi a de iniciar as

aulas com atividades que estimulassem o movimento, o deslocamento e a percussão

corporal. Com a estimulação muscular através do movimento rítmico-corporal e a

estimulação visual através da representação gráfica do ritmo, pretendemos construir a

performance musical em grupo.

2 Lucas Ciavatta, músico formado pela UNIRIO e Mestre em Educação pela UFF, é o criador do método de Educação Musical O Passo e diretor do grupo de percussão e canto BLOCO DO PASSO.

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A pesar de não utilizarmos a notação proposta por Ciavatta, foi através de sua

ideia principal que nos apoiamos e fundamentamos nosso pensamento de construção da

metodologia utilizada.

Começamos com uma visão de trabalho, partindo do geral para o específico, dá

pratica coletiva musical para uma apresentação teórica posterior mais detalhada. Desta

forma o aluno desenvolveria o interesse e a prática musical antes de qualquer coisa,

enfim, fazendo música.

Na elaboração de nossa proposta, fizemos primeiramente uma adaptação gráfica

visual, afim de, podermos introduzir a notação musical, cujo objetivo foi o de facilitar o

aprendizado da leitura rítmica. Começamos utilizando o material em nossas aulas, porém

percebermos que ainda poderíamos usar uma sequência pedagógica mais clara e

eficiente.

Para o trabalho de pulsação e introdução a ideia de subdivisão ritmica, utilizamos

a figura da “carinha sorrindo” e para as pausas um “traço” que dispomos em quadros

conforme nossa intensão de frase ritmica. Em cada carinha e traço colocamos um

“pezinho” para indicar que o movimento do caminhar deveria estar presente o tempo todo.

O passo seguinte dentre as várias atividades ritmicas que fizemos, foi a

introdução da ideia da métrica em música quando mostramos quatro figuras limitadas por

barras.

Os alunos entenderam que cada barra signifca um tempo no compasso; que os

“pés” significam a marcação do pulso através do movimento; as “palmas” o som, e a

ausência das mesmas a pausa.

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Poderíamos ter continuado utilizando esse material, mas não queríamos que isso

significasse um maior distanciamento posterior do nosso objetivo, que era o de chegar a

escrita e leitura musical tradicional. Então inserimos as figuras musicais de mínima,

semínima e colcheia no lugar das barras.

Em nossa prática nas aulas, esse método estava funcionando muito bem e

concluímos que poderíamos tirar as barras e deixar somente as figuras. Porém ao

chegarmos nas cocheias percebemos um retrocesso na capacidade de solfejo das

crianças, pois identificamos a dificuldade de entender a parte fraca do tempo.

Provavelmente se intensificaria essa dificuldade quando mostrássemos as semicolcheias.

Nessa altura do estágio não poderíamos correr o risco de terminar o ano letívo

sem que as crianças pudessem tocar em grupo utilizando-se da leitura ritmica. Foi então

que tivemos a ideia de relacionar palavras com as figuras ritmicas.

PÃO PÃO PÃO PÃO

Com este recurso e as atividades ritmicas realizadas durante o estágio,

finalizamos com os alunos realizando a leitura ritmica de ostinatos relativamente bem e

uma composição ritmica; com grupos realizando ostinatos diferentes ao mesmo tempo.

Considerações Finais

Este trabalho nos possibilitou testar e experimentar maneiras de ensinar música

para crianças no ambiente escolar. A maioria das atividades foram realizadas numa sala

de aula pequena para os vinte alunos da turma. Mesmo em atividades de caráter lúdico,

era grande a dificuldade de consentração e disciplina com relação ao respeito mútuo

entre os alunos.

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Ao longo do processo identificamos a necessidade do domínio da noção de pulso

musical e que não poderíamos avançar na prática coletiva do solfejo ritmico antes que as

crianças demosntrassem bom reconhecimento do pulso em váriadas músicas e atividades

musicais. Desta forma realizamos diversas atividades lúdicas com ênfase na pulsação.

Embora tenhamos utilizado a dança juntamente com uma canção, na nossa

percepção, poderiamos ter explorado muito mais a movimentação corporal livre, assim

como brincadeiras de roda, com a utilização de bolas, bastões e etc., que estimulassem a

sensação do pulso, como Dalcroze propôs.

Concluímos que a metodologia que inclui a utilização da movimento corporal, da

representação gráfica da pulsação e do ritmo musical, são ferramentas excelentes para

promover as relações psicomotoras do ritmo na prática musical coletiva.

Nesta metodologia previmos a continuação do processo, avançando para o

entendimento das pausas de semínima, colcheia e semicolcheia, assim como as figuras

de som semibreve e a mínima, porém nosso ano letivo terminou e não conseguimos

continuar. Acredito que esse trabalho possa contribuir para o ensino de música na escola

com a utilização dos recursos propostos.

Referências

BRITO, Teca Alencar de. Koellreutter educador: o humano como objetivo da educação musical. São Paulo: Editora Fundação Peirópolis, 2001. BRITO, Teca A. de. Hans-Joachim Koellreutter: por quê? In: Gisele Jordão, Sergio Molina. (Org.). A Música na Escola. São Paulo: Editora Allucci & Associados Comunicações, 2012, v.1. Disponível em: <http://www.amusicanaescola.com.br/pdf/Teca_Brito.pdf> Acesso em: 02 junho 2014. GAINZA, Violeta Hemsy de. A improvisação musical como técnica pedagógica. Cadernos de Estudo - Educação Musical Nº1 - Agosto de 1990. MADUREIRA, José Rafael. Émile Jaques-Dalcroze: Sobre a Experiência Poética da Rítmica - uma exposição em 9 quadros inacabados. 2008. 209 p. Tese (Doutorado em Educação Área de Concentração: Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte). Faculdade de Educação. UNICAMP. Campinas - SP. O PASSO. Disponível em: http://www.opasso.com.br/portugues/opasso.htm. Acesso em: 10 jan. 2013.