o ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede...

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C apítulo 2 O ENSINO DO CRIAQIONISMO NAS AULAS DE CIÊNCIAS: A PERSPECTIVA DOS PROFESSORES DE CIÊNCIAS DA REDE ADVENTISTA DE ENSINO íMayara Farias da SiCva Santos 'W efângton Ç i í (Rodrigues I ntrodução Desde o seu surgimento na segunda metade do século XIX, o darwinismo tem provocado várias polêmicas e uma das principais é a questão do ensino das origens, ou seja, a tão decantada polêmica criação x evolução. Um dos seus principais aspectos é quanto ao status do ensino de criacionismo nas escolas. Há quem defenda que este pode ser considerado ciência e, por isso, merece espaço no currículo na mesma medida dada ao ensino do evolucionismo. Em contrapartida, outros discordam dessa posição, apontando tal ensino como religioso e não científico e, como tal, deve se restringir ao espaço da igreja ou ao momento da aula de religião. Essas polêmicas demonstram a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre o tema. Um grupo especialmente envolvido nessa polêmica é de professores da rede adventista de ensino visto que esta declara ter seu currículo pautado nos princípios bíblico-cristãos e manter firme a postura do ensino do criacionismo em meio a uma comunidade educacional que supervaloriza o conhecimento “científico" em detrimento do que diz a Bíblia. É necessário, contudo, entender o posicionamento específico da educação adventista sobre esse assunto, bem como as concepções dos professores dessa rede a respeito do mesmo e como essas concepções se refletem na sua prática pedagógica. O problema que guia este trabalho é o questionamento: como os professores de ciências da rede

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EM: Criacionismo no século 21, Uma abordagem multidisciplinar - Wellington dos Santos Silva, Ed CePLiB, 2013

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Page 1: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

C a p í t u lo 2

O ENSINO DO CRIAQIONISMO NAS AULAS DE CIÊNCIAS:

A PERSPECTIVA DOS PROFESSORES DE CIÊNCIAS DA REDE ADVENTISTA DE ENSINO

í M a y a r a F a r ia s d a S iC v a S a n t o s

'W e f â n g t o n Ç i í (R o d r ig u e s

In t r o d u ç ã o

Desde o seu surgimento na segunda metade do século XIX, o darwinismo

tem provocado várias polêmicas e uma das principais é a questão do ensino das

origens, ou seja, a tão decantada polêmica criação x evolução. Um dos seus

principais aspectos é quanto ao status do ensino de criacionismo nas escolas.

Há quem defenda que este pode ser considerado ciência e, por isso, merece

espaço no currículo na mesma medida dada ao ensino do evolucionismo. Em

contrapartida, outros discordam dessa posição, apontando tal ensino como

religioso e não científico e, como tal, deve se restringir ao espaço da igreja ou

ao momento da aula de religião. Essas polêmicas demonstram a necessidade de

um estudo mais aprofundado sobre o tema.

Um grupo especialmente envolvido nessa polêmica é de professores da

rede adventista de ensino visto que esta declara ter seu currículo pautado nos

princípios bíblico-cristãos e manter firme a postura do ensino do criacionismo

em meio a uma comunidade educacional que supervaloriza o conhecimento

“científico" em detrimento do que diz a Bíblia. É necessário, contudo, entender

o posicionamento específico da educação adventista sobre esse assunto, bem

como as concepções dos professores dessa rede a respeito do mesmo e como

essas concepções se refletem na sua prática pedagógica. O problema que guia

este trabalho é o questionamento: como os professores de ciências da rede

Livro
Caixa de texto
Em: SILVA, W. S. Criacionismo no século 21, Uma abordagem multidisciplinar. CePLiB: Cachoeira, 2013
Page 2: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

m. tCaplmio2 1 - Mayara Santos e Wellington Rodrigues

adventista relacionam suas perspectivas sobre o criacionismo com a sua prática

do ensino de ciências em sala de aula?

Na próxima seção, estão apresentados, de maneira sucinta, os referenciais

teóricos procedentes da literatura em educação científica, e da filosofia da

educação adventista que subsidiaram esta investigação. Em seguida, encontra-

se explanada a metodologia empregada e os dados obtidos, sendo discutidos à

luz da teoria. Finalmente, discute-se a contribuição que os resultados da pesquisa

têm a oferecer à educação adventista e, mais especificamente, aos professores

de ciências que atuam nessa rede de ensino.

C r ia c io n is mo e s e u s C o n c e it o s

A polêmica já começa sobre o significado do que é o criacionismo.

Trata-se de uma teoria? Uma filosofia? Apenas um modo de pensar? Pode ser

chamado de ciência? Esses e outros questionamentos estão bem presentes

no ambiente das relações entre criacionismo e evolucionismo, entre ciência e

religião e precisam ser discutidos e esclarecidos a fim de proporcionar uma

melhor compreensão do tema.

Alguns há que entendem tanto o evolucionismo como o criacionismo

como ciência. Outros acreditam que o evolucionismo é ciência e o criacionismo,

apenas religião. Outros há, ainda, que acham que nenhum dos dois é ciência,

mas apenas filosofias. E as polêmicas de discussão entre essas duas vertentes

só vêm aumentando cada vez mais.

O Dr. Antonio Zichichi, então presidente da Federação Mundial de

Cientistas, declara que o evolucionismo não pode ser considerado ciência no

sentido estrito do termo, ou seja, ciência empírica. Segundo ele,

[...] a teoria que deseja colocar o homem na mesma árvore genealógica dos símios está abaixo do nível mais baixo de credibilidade cientifica. ... Se o homem do nosso tempo tivesse uma cultura verdadeiramente moderna, deveria saber que a teoria evolucionista não faz parte da ciência galileana. Faltam-lhe os dois pilares que permitiriam a grande virada de 16o0: a reprodução e o rigor. (ZICHICHI, 1999, p. 81 e 82).

Por esse mesmo motivo, Borges (2004) declara que a teoria criacionista

também não pode ser considerada verdadeira ciência galileana, pois a mesma

aponta para a existência de um Deus, um ser divino que transcende a lógica

humana e não pode ser comprovado em testes de laboratório, nem tampouco

através da lógica matemática.

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Page 3: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

D E n s i m ü ü ü C r i a c i g n i s m o m s A u l a s p [ C i ê n c i a s : a p e r s p e c t i v a d d s p r í h s s í m s d e c i ê n c i a s e a o f a í w n t .s i a d f e h s i h u

Ruy Carlos de Camargo Vieira, presidente da Sociedade Criacionista

Brasileira, parece concordar com esse posicionamento ao afirmar que

“fundamentalmente, os modelos' criacionista e evolucionista são duas posições

filosóficas e não científicas, que têm a ver com pressupostos a respeito do

Universo no qual estamos inseridos” (apud Borges, 2004, p. 20).

Por outro lado, Asimov (1981, p. 183) afirma que o evolucionismo pode

ser considerado uma teoria científica ao passo que o criacionismo, não. Para

ele, uma teoria “é uma descrição detalhada de alguma faceta do funcionamento

do Universo que é baseada em longa observação e experimentação e que tem

sobrevivido ao estudo crítico dos cientistas em geral.” Segundo ele, a teoria celular,

da gravitação, a teoria quântica e a da relatividade são bem fundamentadas e

“aceitas como descrições válidas deste ou daquele aspecto do universo. Elas não

são palpite nem especulações. E nenhuma é melhor fundamentada, examinada

mais de perto, mais questionada criticamente e mais largamente aceita do que

a teoria da evolução”.

Nessa perspectiva, os argumentos e descobertas em relação à teoria

evolucionista têm base científica e são verdadeiras, pois partem da lógica humana

e do estudo científico dessa realidade, ao mesmo tempo em que se contrapõe

aos argumentos do criacionismo, ao dizer que este não é uma teoria. Para

Asimov (1981, p. 183), não existe “nenhum indício, cientificamente falando, que

o apoie. O criacionismo, ou pelo menos a variedade particular aceita por muitos

americanos, é uma expressão de uma lenda dos primórdios do Oriente Médio.

Ela é descrita, com justiça, como ‘apenas um mito’.”

De acordo com Engler (2007, p. 83, 84), de modo geral, “o conceito vigente

de ‘criacionismo’ [...] é a crença cristã segundo a qual Deus criou o mundo e

todos os seres vivos conforme ê descrito no livro bíblico do Gênesis".

No entanto, não existe apenas uma descrição de criacionismo. Não é apenas

acreditar que Deus é o criador do mundo que faz de alguém um criacionista,

no sentido estrito da palavra. Existe uma variedade de teorias para defender o

criacionismo e nem todas elas aceitam a interpretação da Bíblia como sendo

literal, no que diz respeito à criação do mundo e da vida. A seguir, encontram-se

alguns quadros que demonstram os principais tipos de criacionismo e o que cada

um deles defende e ensina. Essas descrições baseiam-se em alguns autores, aModelo é uma coisa mentalmente estruturada para tentar reproduzir da maneira mais

aproximada possível a ‘realidade1, o que, para a filosofia é inatingível, visto que nem tudo é mensurável. (VIEIRA, 2004, p. 20)

Page 4: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

ICaiHlulo2 1 - Mayara Santas e Wellington Rodrigues

saber, Freire-Maia (1986), Moreland e Reynolds (2006) entre outros.

Quadro 1 - Tipos de Criacionismo Segundo Freire-Maia (1986)

TIPOS DE CRIACIONISMO DESCRIÇÃO CONCEITUAL

Criacionismo-fixista

Deus criou todos os seres vivos (incluindo 0 homem, os animais domésticos, as plantas cultivadas, as raças geográficas, as variedades, etc.) e, desde 0 início, não nouve mudanças evolutivas, (p. 20 ).

Criacionismo-semifixista

Deus criou 0 homem e todas as espécies de animais e vegetais ditas selvagens, que se mantiveram fixos até hoje; os animais domésticos e as plantas cultivadas, com todas as suas variedades, surgiram, pelo trabalho do homem, a partir de ancestrais selvagens; as raças geográficas (mesmo as humanas) desenvolveram-se por evolução (intra-específica). (p. 20 ). Certa posição dos criacionistas-semifixistas vem senao chamada ae “cria-cionismo científico” , (p. 23)

Criacionismo-evolucionista

Deus criou a matéria com propriedades evolutivas e, as-sim, a evolução ocorre pela ação de fatores naturais, em consequencia daquelas potencialidades. Deus está presente na origem e no destino de tudo. Antes do acaso e da necessidade, frutos das contingências naturais, en-contra-se a onipresença divina. Essa posição está, como bem se vê, intimamente ligada a uma visao religiosa de mundo. (p. 21-2 2 ).

Page 5: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

0 E n s i n c d u C k i a c i o n i ü m u n a s A u i í S 3 : C i ê n c i a s : a p e r s p e c t i v a d g s h r o e e ^ i m s d e c i ê n c i a s d a r e d e a d v e n t i s u d f f n s i n i i

Quadro 2 - Tipos de Criacionismo Segundo Moreland e Reynolds et al

(2006 )

TIPOS DE CRIACIONISMO DESCRIÇÃO CONCEITUAL

Criacionismorecente

Essa teoria, também conhecida como ‘teoria da terra jo -vem’ acredita que as coisas existentes no Universo foram criadas pela ação direta de Deus, durante a semana descrita em Gênesis. Acredita também, que ao sair das mãos de seu Criador, a Terra era perfeita e, com a en-trada do pecado, sofreu uma arande degradação de seu estado original. Esse mal resultou numa atitude, da parte de Deus, ae destruição da Terra por um Dilúvio, sobre-vivendo apenas, uma família para então, povoar nova-mente a Terra.

Criacionismoprogressivo

Esta teoria defende que Deus criou a Terra em uma progressão - uma quantidade de passos, ao longo de um período estendido de tempo, no qual estabeleceu e aperfeiçoou cada estágio do ambiente antes de adicio-nar um estágio mais desenvolvido. Dentro desse tipo de criacionismo se encontram algumas variantes com ideias diferentes entre si:

• teoria do intervalo: o Universo foi criado por Deus num determinado momento e, após algum tempo, a Terra foi destruída por Satanás ("era porém sem rorma e vazia.” Gên. 1:2). Há alguns milhares de anos, Deus iniciou novamente sua criação em seis dias literais, conforme mostra os primeiros capítulos de Gênesis. Essa teoria acredita que o relato de Gênesis refere- se, não à criação do mundo, mas à restauração do planeta Terra feita por Deus. (p. 120).• hipótese do dia-era\ os dias da criação não foram literais, mas correspondem a longos períodos de anos - eras - nos quais, Deus criou o mundo. Muitos são adeptos desse pensamento, tentando conciliar o relato bíblico aos ensinamentos geológicos.• hipótese do dia interminente’. cada dia da criação relatado na Bíblia, corresponde a 1 dia de 24 horas que marca o início de uma era criativa, na qual, foram criados os atributos do Universo - atmosfera, solo, luz, oxigênio, vegetação, etc. 0 sétimo dia ainda não chegou e consiste no descanso a ser dado por Deus para a humanidade, a fim de se deleitarem nos novos céus e na nova terra.

Comparando essas teorias, diferentes entre si, é possível separá-las em

apenas dois grupos: os que têm a interpretação bíblica de Gênesis como literal

e os que não a têm. Apesar de se diferenciarem em relação aos pressupostos

e explicações para a origem do mundo e da vida, as teorias do criacionismo

semifixista, evolucionista e progressivo, apontam para a realidade de um mundo

Page 6: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

I C a p i m i a 2 1 - Mayara Santos e Weilington Radriguss

criado por um ser superior. No entanto, não acreditam que a leitura de Gênesis

deve ser interpretada literalmente, buscando fazer uma conciliação entre o que a

ciência ensina e o que a Bíblia ensina.

Por outro lado, o criacionismo fixista e o recente acreditam que Deus é

o criador do mundo e da vida e que esta criação aconteceu exatamente como

é narrado no primeiro livro da Bíblia, Gênesis. Mesmo com algumas variâncias,

todas possuem a mesma crença nas Escrituras Sagradas como dignas de

plena confiança por se tratar da palavra de Deus (literalismo bíblico). Este é

um aspecto relevante quando se trata do estudo do criacionismo, pois mesmo

entre os cristãos existem muitas visões diferentes acerca da origem da vida e

do Universo e da interpretação do relato bíblico sobre essa questão. Portanto, é

extremamente interessante apresentar como se caracteriza o tipo de criacionismo

conforme entendido pela igreja adventista do sétimo dia.

O C r ia c io n is m o D e f e n d id o p e l a Ig r e j a A d v e n t is t a

d o S é t im o D ia

Esse estudo teve como sujeitos um grupo específico de pessoas:

professores que fazem parte de uma rede confessional de ensino. Esta rede -

adventista - possui uma filosofia e uma crença a respeito desse assunto e faz-se

necessário situar em que tipo de criacionismo está pautada essa filosofia.

Ellen G. White (2007), autora adventista, se posiciona da seguinte

maneira:

[...] a Bíblia não admite longas eras em que a Terra vagarosamente evoiuiu do caos. De cada dia consecutivo da criação, declara o registro sagrado que constituiu de tarde e manhã, como todos os outros dias que se seguiram. No final de cada dia dá-se o resultado da obra do Criador. Faz-se esta declaração no fim do relato da primeira semana: ‘ estas são as origens do céu e da Terra quando foram criados (Gn. 2:4). Mas isto não confere a ideia de que os dias da criação eram diversos de dias literais. Cada dia foi chamado uma origem ou geração, porque nele Deus gerou ou produziu alguma nova porção de Sua obra. (WHITE, 2007, p. 70.. 71).

Esta é uma das várias declarações encontradas nos escritos de Ellen G.

White em relação a este assunto, deixando claro, portanto, que a posição da

Igreja Adventista sobre isso é a de que a criação da Terra aconteceu em 6 dias

de 24 horas, assim como se tem hoje. Essa é uma interpretação literal do texto

de Gênesis e, segundo essa perspectiva, os dias do Gênesis não podem ser

interpretados de outra maneira.

Page 7: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

D E n s i n o m C r i a c i d n i s m d m A d i a s g e C i ê n c i a s : a p e r s p e c t i v a d d s P R P f t S s i M S d e c i ê n c i a s d a b e d e a d v e n t - s t a o e e n s in q

Confirmando isso, o documento oficial das crenças fundamentais da Igreja

Adventista, intitulado Nisto Cremos (2008), declara o seguinte:

Os dias mencionados no relato bíblico da criação representam períodos literais de 24 horas. Típica da forma como o povo do Deus do Antigo Testamento media o tempo, a expressão tarde e manhã (Gn. 1:5, 8, 13, 19, 23, 31) especifica dias individuais, com o dia iniciando no pôr-do-sol (Lv. 23: 32: Dt. 16: 6) Não existe qualquer justificativa para se dizer que a expressão representa um dia literal em Levítico, por exemplo: e um periodo de milhões de anos em Gênesis. [...] A palavra hebraica traduzida por dia em Gênesis 1

é yom. Quando yom se faz acompanhar de um número definido, sempre significa um dia literal de 24 horas [...]. Aqueles que vêm nos dias da criação períodos de milhões ou até mesmo de bilhõesde anos estão questionando a validade da Palavra de Deus, damesma forma como Eva foi levada a fazê-lo, tentada pela serpente, (p. 89, 90).

Portanto, os Adventistas do Sétimo Dia acreditam e defendem que a

criação do mundo aconteceu em 6 dias de 24 horas cada um. No entanto,

estabelecem uma distinção entre a criação do universo (universo antigo) e a

criação da terra.

E v o l u c io n is mo X C r ia c io n is mo : a H is t ó r ia d a C o n t r o v é r s ia

Existem aqueles que defendem que nas aulas de Ciências só há espaço

para o evolucionismo e que criacionismo é assunto para Religião. Há outros que

se opõem a este pensamento, ao defender que ambas as teorias, ou filosofias,

devem ser estudadas nas aulas de Ciências, colocando-as, assim, num mesmo

patamar. Vejamos, então, como se deu essa polêmica ao longo da história.

Desde 1859, quando Charles Darwin publicou seu livro Sobre a Origem

das Espécies por Meio da Seleção Natural, iniciou-se essa polêmica sobre o

ensino das origens do homem e da Terra. Até então, as pessoas tinham uma

visão religiosa das coisas e não havia oposições fundamentadas a respeito desse

assunto (COUTINHO, 2003).

Brum (2004) relata que, em oposição a essa teoria, surge, ao longo

do século XX% na Europa, o Criacionismo, estabelecendo-se, porém, com

maior força, nos EUA. A religião católica e várias igrejas protestantes

defendem que o relato de Gênesis é apenas simbólico e assim deve ser

J Período da massificação da escola pública a qual, ensinava a teoria da Evolução. Em 1890, cerca de apenas 200 mil crianças frequentavam a escola pública nos EUA, passando para aproximadamente 2 milhões em 1920. Isso causou certa preocupação ao grupo de criacionistas, visto que 0 ensino nas escolas se limitava apenas ao evolucionismo. (BRUM. 2004)

Page 8: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

ICapftulo2 1 - Mayara Santas e Wellington Rodrigues

compreendido, porém, alguns fundamentalistasj insistem que a teoria da

evolução é incompatível com o relato bíblico. Sendo assim, surge essa polêmica

que tem como um dos principais cenários de discussões, a sala de aula.

Nos EUA, na década de 20, quatro estados - Oklahoma, Tennessee,

Mississipi e Arkansas - excluíram o ensino de evolucionismo do currículo das

escolas públicas. É nesse contexto que, em 1925, um professor de Tennessee,

John Thomas Scopes, foi julgado por ensinar a teoria da evolução em uma escola

pública. O julgamento, que teve repercussão em toda a América, e posteriormente

no mundo, através de filmes, durou 11 dias e o professor foi condenado a uma

multa de 100 dólares. (BRUM, 2004).

Em 1968, a Suprema Corte dos Estados Unidos declarou que todas as

“leis dos macacos” dos vários Estados eram inconstitucionais, argumentando

que as mesmas serviam para estabelecer uma religião apoiada pelo Estado e

desrespeitavam a separação entre a igreja e o Estado. (Supremo Tribunal dos

Estados Unidos, Epperson v. Arkansas, 1968).

Em 1973, o Estado do Tennessee aprovou uma substituição para a Lei

de Butler. A nova lei, que ficou conhecida como Lei do Tratamento Equilibrado,

declarava que: "Qualquer manual de biologia usado para o ensino nas escolas

públicas, que expresse uma opinião ou trate de uma teoria sobre as origens

ou a criação do homem e do seu mundo, dará igual quantidade de ênfase ao

[...] relato do Gênesis da Bíblia." (Public Acts o f Tennessee [Leis Públicas do

Tennessee], 1973, Capítulo 377, citado em LaFollettw, 1983, p. 80).

Seguindo essa tendência, em 1981, - O Estado do Arkansas aprovou uma

lei, a Lei 590, ordenando que fosse dada à “ciência da criação” nas escolas

públicas o mesmo tempo que era dado à evolução.

Essas leis têm seu fim em 1987, quando o Supremo Tribunal concluiu

que o propósito da “ciência da criação” era “reestruturar o currículo da ciência

para conformá-lo com uma opinião religiosa particular,” (Supremo Tribunal dos

Estados Unidos, Edwards v. Aguilard, 1 987). E assim, todas as leis de “Tratamento

Equilibrado” existentes foram revogadas.

Utilizamos neste trabalho essa expressão para se referir às igrejas protestantes que interpretam o que está escrito na Bíblia ao pé da letra, sem aceitar que sejam símbolos ou metáforas.

Page 9: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

0 E n s i n o o o C r i a c m s m o n a s A u l a s d e C i ê n c i a s : a p e r s p e c t i v a d o s p r o f e s s o r e s d e c i ê n c i a s d a r e d e a d v e n t i s t a o e e n s i n d

A C o n t r o v é r s ia n a s S a l a s d e A u l a d o B r a s i l

Coutinho (2003) descreve que o criacionismo nunca foi muito popular no

Brasil, devido ao grande índice de católicos existentes (70%), visto que esta

igreja não se opõe e nem opina sobre os conteúdos das disciplinas científicas. No

entanto, dados do IBOPE de 2004 apontam uma realidade um pouco diferente.

Foi constatado que 54% da população acredita na evolução, porém, sob o

planejamento e direção de Deus. Sobre o ensino do criacionismo nas escolas,

75% dos depoentes de maior renda concordam que este deve acontecer, assim

como, 89% dos de menor renda.

Em maio de 2004, a então governadora do Rio de Janeiro, Rosinha

Matheus, declarou ao Jornal O Globo ser adepta do criacionismo. Duas semanas

depois, 31 professores de religião da região no Norte Fluminense decidiram incluir

“a teoria criacionista” no currículo escolar. Eles fazem parte do grupo de 793

professores concursados e pagos pelo governo do Estado a fim de ministrarem

aulas de religião confessional no Ensino Fundamental das escolas da rede

pública de ensino, de acordo com a lei sancionada em 2002 pelo governo de

Anthony Garotinho. Lei esta, que previa a oferta de ensino religioso confessional

nas escolas públicas. (FRANÇA; MARTINS, 2004).

Isto teve grande repercussão no meio científico, pois, até então, o ensino

público no Brasil não valorizava ou aceitava o criacionismo por entender que se

trata de religião e não de ciência. Em entrevista à Revista Época (29/12/2004),

o astrofísico Marcelo Gleiser declarou “É um defeito do sistema educacional

[...] Aqui, nos Estados Unidos, e aí, no Brasil, os professores não ensinam as

crianças direito e quando elas crescem começam a acreditar nessas coisas. Está

na hora de a comunidade científica acordar, porque estamos perdendo essa

guerra."

De acordo com Romanini (2009) as escolas brasileiras confessionais

sempre ensinaram o criacionismo. Nos momentos de culto e nas aulas de religião

era abordado esse assunto. Com o tempo, o tema da criação foi ganhando

espaço, inclusive nas aulas de biologia e ciências. Entre essas escolas, destaca-

se a rede adventista de ensino que conta com um grande número de escolas de

Educação Básica e Ensino Superior. Estas escolas defendem o criacionismo e o

têm como conteúdo científico.

Page 10: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

- Mayara Santos e Wellingtan Radriques

Há cinco anos, funciona no Centro Universitário Adventista de São Paulo

(UNASP), o Núcleo de Estudo das Origens (NEO) que visa orientar seus cerca

de 4 mil alunos a respeito do criacionismo. Além disso, dentro do currículo dos

cursos de graduação, há um curso chamado Ciência das Origens que, ministrado

por seis acadêmicos de várias áreas, usa as “teorias científicas para provar e

fortalecer o criacionismo", como diz Euler Pereira Bahia, reitor da universidade.

(FRANÇA; MARTINS, 2004).

Os mesmos autores afirmam que as pesquisas revelam que, mesmo

valorizando e ensinando o criacionismo nas aulas de ciências, as escolas

adventistas estão entre as melhores do país.

O S u r g im e n t o d o C r ia c io n is m o n o P e n s a m e n t o A d v e n t is t a e a s

Im p l ic a ç õ e s n a E d u c a ç ã o A d v e n t is t a

Conforme elucidado anteriormente, a crença da igreja adventista no

criacionismo é bem clara e específica. Suas crenças em relação a esse assunto

são atestadas nos escritos de Ellen White e na declaração das teses fundamentais

defendidas pela igreja. No entanto, é necessário um esclarecimento sobre o

criacionismo enquanto teoria e ciência, no pensamento adventista a partir do

século XX.

Os estudos e discussões sobre o criacionismo no meio adventista iniciaram

com George McCready Price, um adventista do sétimo dia que, após anos de

estudo e investigação profundos, escreveu um livro intitulado The New Geology

[A Nova Geologia], no qual defende que as características geológicas que são

vistas hoje em dia resultaram do Dilúvio bíblico, e não dos processos geológicos

apresentados pelos cientistas. Aponta também, que os fósseis são apenas os

corpos mortos de todos os que não entraram na Arca de Noé, ou seja, animais

e seres humanos existentes na época. (BRUM, 2004).

Price nasceu no Canadá em 1870 e, ainda na infância se tornou membro

da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Concluiu o Ensino Médio aos 15 anos e

casou-se aos 17. Era muito dedicado aos estudos e, com muito esforço,

conseguiu concluí-los e se tornar professor de ensino médio. O trabalho o levou

a morar numa vila de fazendeiros, na qual, conheceu Alfred Corbert Smith que,

por sua vez, ao perceber o posicionamento criacionista de Price, ofereceu alguns

volumes de sua própria biblioteca, com os quais se iniciou uma longa carreira de

pesquisas (DELEPRANI, 2007).

Page 11: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

□ Ensino D D C r i a c i d n i s m d í m s A u l a s j ; C i ê n l i a s : a p l i -í s p e c t i v a d o s p r e i f e s s d r í s d e c iê n c i a s d a r f d í a p i í f i t i s t í n r f n s i n d

Por ser adventista, Price tinha conhecimento da posição da igreja em

relação às origens. Esse posicionamento, como já foi visto anteriormente,

encontra-se embasado na Bíblia e nos escritos de Ellen White. E, apesar de ter

lido sobre outras teorias que defendiam as longas eras de criação, de acordo

com Heeren (2008 ), Price manteve-se firme em suas crenças iniciais e influenciou

criacionistas em outras denominações, como se pode ver na fala abaixo:

Com seus estudos, Price contribuiu para fortalecera crença no relato bíblico

de que a Terra é jovem, contrapondo-se, assim, à ideia de que o planeta existe

a bilhões de anos. Seus argumentos baseiam-se em descobertas geológicas que

apontam para rochas ’supostamente’ antigas contendo fósseis que só poderiam

ser encontrados em rochas recentes. Defende, também, que as rochas, fósseis e

minerais encontrados nas costas marítimas e leitos de diversos rios indicam uma

idade semelhante entre as rochas, negando assim, a possibilidade de longas

eras diferentes de umas e outras.

Price foi o antepassado intelectual dos cientistas criacionistas adventistas,

os quais tem no Geoscience Research Institute (www.grisda.org) o principal

órgão de produção e divulgação de pesquisa científica baseadas no paradigma

criacionista.

M e t o d o l o g ia

O estudo adotou uma abordagem qualitativa. A amostragem foi escolhida

a partir de alguns critérios: ser professor da rede adventista de ensino; lecionar

a disciplina de ciências; ser adventista. A pesquisa foi desenvolvida nas escolas

da rede adventista de ensino que estão localizadas nas cidades de Salvador

e Cachoeira, BA. Do grupo de docentes dessa rede, foram selecionados os

professores de Ciências que têm formação em Ciências e são membros da

Igreja Adventista do Sétimo Dia. Os dados coletados foram analisados através

de reflexões críticas sobre o assunto estudado. O quadro abaixo apresenta o

perfil dos depoentes:

I 57 |

Page 12: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

ICagitulB 2 1 - Mayara Sgntps E Wellmgtnn Rodrigues

Quadro 3 - Perfil Geral dos Entrevistados

Professor Gênero Idade FormaçãoSérie/

Ano que Leciona

Tempo de Trabalho na

Rede Adventista

Tempo de Adventista

E1 M 27 Graduação em Biologia EM 7 anos 18 anos

E2 F 19 Graduação em Enfermagem 5o ao 9o . . . . 9 anos

E3 F 32 Graduação em Biologia 6o ao 9° 1 ano Desde o

nascimento

E4 M -Graduação em

Biomedicina

6o ao 9o e 1° ano do EM

2 anos e meio Desde o nascimento

E5 F 24 Graduação em Matemática 6o ao 9o 1 ano 16 anos

E6 M 34

Graduação em Biologia;

Especialização em Nutrição Humana e

Saúde

EM 5 anos 17 anos

E7 F 26

Graduação em Biofogia;

Especialização em Educaçao e Gestão Am-

bientai

5o ao 7° ano lano 10 anos

Fonte: Pesquisa de campo

Como se pode observar, a amostra foi heterogênea no que se refere ao

gênero, havendo uma mistura de homens (3) e mulheres (4), o que, para os

pesquisadores, não alterou/influenciou nos resultados. A idade do grupo varia

entre 19 e 34 anos o que, inicialmente, também não interfere nos resultados

obtidos. Apesar de a área de formação não ter sido um critério de inclusão/

exclusão, há uma predominância de professores com graduação na área de

ciências naturais (4/2), o que, certamente interfere nos achados da investigação,

visto que esta área proporciona um maior conhecimento das teorias das origens.

Torna-se relevante destacar a série/ano de atuação desses professores. Todos

estão a partir do 5o ano do ensino fundamental e 3 deles, lecionam no Ensino

Médio (EM). Este aspecto é relevante pelo fato de que, em algumas escolas

em que se ensina o criacionismo, este é um assunto apenas para a Educação

Infantil e as séries iniciais do Ensino Fundamental. O tempo de atuação na

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Page 13: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

0 E n s : n q c g C M C i m i S i f f l n a s A u l a s d e C i ê n c i a s : a p e r s p e o i v a d o s p r o e e s s u i j e s d e c ê c i A S q ü r e c e a d o t i s k h e e n s in e ;

rede adventista altera entre 1 e 7 anos, o que pode intervir nos resultados,

já que o fator tempo pode proporcionar uma maior compreensão e aceitação

da filosofia da educação adventista. E finalmente, o tempo de adventista dos

professores (desde o nascimento para alguns) também pode ter influenciado nos

resultados, pois a concepção que eles têm de Deus, do criacionismo e da igreja

é diretamente afetada por este tempo.

A técnica utilizada para a coleta de dados foi a entrevista, as quais foram

gravadas e, em seguida, transcritas para uma análise mais exata dos dados.

As respostas foram classificadas em categorias e subcategorias, a depender

do assunto de que tratava e em seguida, os dados foram explorados à luz da

teoria.

R e s u l t a d o s e D is c u s s ã o

C o n c e i t u a n d o C r ia c io n is m o

Ao serem questionados sobre o conceito de criacionismo, os professores

apresentaram diversas opiniões. Desde um simples “modelo explicativo” até um

"sentido para a existência” , os conceitos se diferenciam, no entanto é perceptível

que a maioria dos entrevistados associa esse conceito à sua crença pessoal em

Deus. Isto pode ser confirmado a partir de algumas declarações:

“Então foi um ser, nosso Deus que criou tudo da maneira perfeita. ”

[ E2].

“Deus criou todas as coisas. ” [E7].

“[...] um ser supremo, criador, onipotente, onipresente e onisciente que

rege todos os fenômenos que acontecem no planeta Terra.” [E1].

Os comentários acima demonstram que o conceito de criacionismo

defendido pelos professores em questão está baseado em sua crença pessoal

em Deus, o que nos leva a questionar até que ponto a ciência e evidências

científicas estão relacionadas ao conceito de criacionismo desses professores.

Entendemos que não se trata apenas de acreditar ou não que Deus é

o criador do mundo. Os conflitos envolvendo o criacionismo não se limitam a

discutir quem criou, mas como criou. Este é o cerne da questão, pois como já foi

visto, há várias vertentes do criacionismo. Não é suficiente apresentar a crença

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Page 14: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

- Mgyarg Santos b Wellingtun Rodrigues

em Deus como o criador das coisas, é necessário se posicionar sobre a maneira

que se deu esse processo de criação. Nesse processo criativo há espaço para a

crença ou conciliação com a evolução? Qual a idade da Terra? O universo e a

Terra têm a mesma idade? O homem surgiu na mesma época dos outros seres

vivos ou é mais recente?

Nisto consiste a discussão a respeito do criacionismo, visto que, hoje em

dia não é tão difícil encontrar quem defenda e acredite em diferentes tipos de

criacionismos e evolucionismos enquanto explicação sobre a origem da vida.

Para os adventistas a principal questão está em escolher, dentre estas muitas

vertentes, qual a que mais se aproxima do que a Bíblia apresenta como verdade.

Sobre essa questão, Nelson e Reynolds (2006) se posicionam defendendo que a

criação da terra se deu em 6 dias literais (de 24 horas) ao afirmarem que a teoria

da criação recente da terra apresenta, dentre outros pressupostos, que Deus

criou todos os organismos fundamentais em seis dias de 24 horas.

Em contrapartida, Collins (2007) se posiciona afirmando que o criacionismo

da terra jovem não é um conceito confiável, ou mesmo, aceitável para os dias de

hoje. O autor se contrapõe a tal teoria defendendo que os cristãos devem buscar

uma integração entre o que a Bíblia diz e o que a ciência defende. Isso pode ser

visto no comentário a seguir:

[...] o Criacionismo da Terra Jovem chegou a um ponto de falência intelectual, tanto em sua ciência quanto em sua teologia. Sua insistência é, assim, um dos maiores enigmas e uma das maiores tragédias de nosso tempo. Ao atacar as bases de praticamente cada ramificação da ciência, ele amplia a ruptura entre as visões de mundo cientifica e espiritual, justamente numa época em que se necessita desesperadamente de um caminho em direção à harmonia, (p. 183).

Apoiando esta posição encontra-se Thomas (1984), que aponta outras

teorias sobre a criação do mundo, conciliando-a com a defendida pela ciência,

a saber, a teoria do grande caos, a dos intervalos, dia-era e dias revelados.

O autor apresenta a concepção literal dos fatos relatados em Gênesis como

sendo “ingênua” e, apesar de não taxar como errada esta opinião, se posiciona

afirmando que tal definição é pouco confiável no meio científico:

2

Page 15: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

Pode-se entender, com base nesses comentários, porque muitos

consideram desnecessário descartar a crença em Deus para acreditar ou aceitar

as ideias evolucionistas. E, concordando com isso encontra-se também o famoso

geneticista brasileiro Newton Freire-Maia (1986) ao declarar que “o evolucionismo

não é contrário ao criacionismo, mas sim, ao fixismo'" (p. 19). Para ele, é muito

possível crer em Deus e, ao mesmo tempo, conceber a ideia de evolução, desde

que não se tenha uma interpretação literal da Bíblia.

Contrapondo-se a essas declarações, Roth (2010 ) afirma que 0 mundo

apresenta evidências de que Deus criou todas as coisas em 6 dias literais. São

muitas, segundo ele, as incoerências em relação ao tempo da Terra defendido

pela ciência - aproximadamente 5 bilhões de anos. Ao considerar a complexidade

de uma simples molécula de proteína - necessária à formação do DNA - e 0

tempo necessário para se originar tal complexidade, Roth (2 0 10) conclui que:

As supostas longuíssimas eras da Terra e do Universo são curtas demais para acomodar os improváveis eventos imaginados pela evolução. Cálculos indicam que os cinco bilhões de anos da Terra são bilhões de vezes curtos demais para a média de tempo exigido para produzir uma única molécula específica de proteína por acaso. Deus parece necessário. [...] Quando se acredita na criação, temos então um Deus onipotente, não limitado pelo tempo, que não necessita de muito tempo para criar. (p. 169 e 249).

Percebe-se, então que, a questão da idade da Terra e o tempo em que ela

foi criada é um dos aspectos que mais suscita discussões, mesmo no meio dos

que acreditam que Deus é 0 criador de todas as coisas. Esse é um dos fatores

que faz com que muitos cientistas critiquem o criacionismo visto que há tantas

contradições e divisões dentro do mesmo grupo.

Apesar de a maioria dos entrevistados não se ater em explicar como as

coisas foram criadas, um dos professores menciona algo sobre isso:

e aí a gente parte para aquela parte como Ele criou e a gente

começa a explicar como foi que Deus começou a criar as coisas, criou

tudo pela paiavra. “ (E3].

O comentário supracitado demonstra que tal professor acredita na maneira

que a Bíblia relata ter acontecido a criação do mundo, ou seja, através da palavra

de Deus. No entanto, conforme discutido anteriormente, essa resposta não

abrange todos os pormenores envolvidos nesse como.

4 Ver definição de fixismo no quadro de conceitos, p. 6.

I 61 I

Page 16: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

- Mayara Santas e Wellinqton Rodrigues

Sendo assim, a partir dessa análise, fica clara a crença pessoal desse

grupo de professores em um Deus que criou todas as coisas, apesar de não se

deterem em explicar como foram criadas. Nota-se que a preocupação maior dos

professores em questão está em defender que Deus existe, que é um Deus de

amor que criou o mundo e tudo o que nele há, que cuida dos seres criados e

mantém o mundo com Seu poder.

C r i a c io n i s m o : C iê n c ia o u R e l i g iã o ?

Algumas questões importantes foram levantadas a respeito do criacionismo

enquanto conhecimento cientifico e, por isso, faz-se necessária uma análise das

opiniões dos professores a respeito desse assunto. A maioria dos professores

considera o criacionismo como ciência. Isso é relevante, pois implica, dentre

outros aspectos, em qual disciplina se deve estudar o criacionismo, se em

ciências ou se em religião. Para tanto, faz-se necessário discutir o que vem a

ser ciência.

Falando sobre esse assunto, Thomas ( 1984) afirma que a ciência que não

admite o criacionismo não se trata de ciência exata, mas de Cientismo, pois,

segundo ele, a ciência reconhece que existem áreas da vida que ela não pode

explicar, por se tratarem de coisas que estão em outros campos do conhecimento,

ao passo que o Cientismo defende que a ciência explica todas as coisas e que

aquelas que não consegue explicar não podem ser consideradas reais. Assim, o

autor explica que, sob este ponto de vista, a ciência/cientismo não pode aceitar

o criacionismo como científico.

O domínio da ciência está limitado ao mundo físico da natureza, sendo pois tão inexperiente como qualquer outra disciplina quando se trata de realidades ou valores espirituais tais como a moral e outras coisas semelhantes. [...] Quando qualquer cientista rejeita a criação divina ou a providência de Deus nos assuntos humanos, simplesmente por não serem científicas, estará então formulando 'a priori" um julgamento filosófico, especulativo e não cientifico. Estará então empregando o Cientismo, já que a ciência não provou nem pode provar que não existe uma providência em ação. (THOMAS, 1984, p. 120).

Para Thomas ( 1984), é preciso que se dê à ciência o lugar que corresponde

a ela, ao mesmo tempo em que deve se dar à fé o seu devido lugar também, pois

são vertentes diferentes do conhecimento humano e ambas, têm suas verdades,

limitações e vantagens.

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Page 17: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

0 E n s i n o ü d C m c i O M S H Q m A u l a s d e D è n u i a s : h p e r s p e c t i v a u u s p r o f e s s o r e s n t c i f N c u s n : k l j e a u v e m i s t a d e e n s in o

Ao serem questionados sobre o que é ciência, os professores deram

algumas respostas que merecem um destaque. Os entrevistados mencionados

abaixo apresentaram um conceito semelhante ao que Thomas (1984) denomina

de Cientismo:

“a ciência como já diz é um estudo geral. A ciência estuda tudo. Ela

quer comprovar o que existe [...]” (E4, grifo nosso).

“é um estudo geral, um estudo sobre tudo que existe e sempre

trazendo questionamento do como surgiu, porque e como esses

mecanismos funcionam do micro para o macro e tudo em gerai'. (E 5,

grifo nosso).

Como se pode observar, essa ideia de que a ciência busca explicar todos

os fenômenos que existem é um tanto perigosa, pois acaba considerando tudo

aquilo que a ciência não o pode explicar como sendo irreal. Porém, esta é uma

definição muito comum, visto que se acredita que o conhecimento científico é

absoluto e comprovado.

Um dos entrevistados menciona o método científico ao falar sobre a ciência,

o que é muito relevante, pois de acordo com Thomas (1984), esse método

possibilita uma melhor compreensão da ciência como sendo exata. A ciência

se utiliza desse método a fim de comprovar seus experimentos e encontrar as

respostas para os questionamentos que surgem sobre os aspectos naturais da

vida.

Para mim, ciência seria a utilização do método cientifico para fazer

alguma descoberta ou para estudar a natureza ou conhecer a

natureza. (E1).

Ao analisar sob este prisma, pode-se ter a ciência como exata e verdadeira,

visto que o método científico deve se basear em experimentos e comprovações.

E é exatamente baseado nessa concepção que Borges (2004) defende que

nem o criacionismo nem o evolucionismo podem ser considerados como teorias

científicas, pois segundo ele, nenhuma das duas é completamente experimentada

e comprovada em laboratório.

E é nesse contexto que surge uma das grandes polêmicas no campo

da ciência e da religião. Pois sendo que o criacionismo não é considerado um

conhecimento científico, como pode ele ser ensinado nas aulas de ciências?

Page 18: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

ICapÉUilo2 1 - Mayara Santas e WEllinqton Rodrigues

E quanto ao status científico do evolucionismo? Defensores do criacionismo

afirmam que, se o criacionismo não pode ser ensinado nas aulas de ciências, a

evolução também não o poderia.

Os professores entrevistados nessa pesquisa afirmaram que concordam

que a criação pode ser considerada conhecimento científico. Sendo assim, é

correto ensinar criacionismo nas aulas de ciências? Este é um aspecto central da

polêmica entre ciência e reügião nas salas de aula de ciências. Veremos, então,

o que os professores opinam sobre isso:

“todas as disciplinas podem falar, revelar sobre o criacionismo e não

somente a disciplina de religião, em especial as disciplinas de biologia

e ciências têm características bem peculiares para ensinar para os

alunos o criacionismo"[Ei].

‘‘deve ser ensinado sim nas aulas de ciências [...] acho que toda aula

de ciências dá para usar o criacionismo” [E3j.

“com certeza deve [ensinar] sim e inclusive a incentivar os alunos a

pesquisarem isso também.” [E4].

“é uma ciência e, como toda ciência, deve ser estudada, sim, na aula

de ciências”[E5].

“é possível. [...] Pode ser ensinado.” [Ee],

Praticamente todos os professores defendem que o criacionismo deve ser

ensinado nas aulas de Ciências, visto que, para eles, o criacionismo pode ser

considerado um conhecimento científico. Isso pode ser explicado pelo fato de

que todos eles acreditam que o criacionismo é uma verdade digna de confiança.

Baseado em Forquin (1993; 2000) Dorvíllé afirma que

[...] o professor enfrenta no seu dia-a-dia, explicitamente ou não, a questão da justificativa do que ensina. Ensinar e aprender são atividades que envolvem custos e esforços de todos os tipos e desta maneira sempre se faz necessário fazer escolhas, priorizando-se determinados conteúdos e não outros. [...] ninguém pode ensinar verdadeiramente se não ensina alguma coisa que seja verdadeira ou válida a seus próprios olhos. Esta noção de valor intrínseco da coisa ensinada, tão difícil de defimr e de justificar quanto de refutar ou rejeitar, está no próprio centro daquilo que constitui a especificidade da intenção docente como projeto de comunicação formadora. É por isso que todo questionamento ou toda critica envolvendo a verdadeira natureza dos conteúdos ensinados, sua pertinência, sua consistência.

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Page 19: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

D E n s i n ü d d C r i a c i o m i s m o n a s A u l a s d e C i ê n c i a s : a p e r s p e c t i v a d o s p r o f e s s d r e s o e c i ê n c i a s c a r e d e a e m m i s i a d l e n s i n o

sua utilidade, seu interesse, seu valor educativo ou cultural, constitui para os professores um motivo privilegiado de inquieta reação ou de dolorosa consciência {DORV1LLÉ, 2010, p. 110).

Isso acontece porque, como já foi visto anteriormente, cada professor,

ao ministrar suas aulas deixa evidenciar a sua crença pessoal. No caso de

professores criacionistas é quase impossível falar sobre a origem da vida e

não mencionar a existência de Deus, pois essa crença faz parte de sua própria

cosmovisão e filosofia de vida.

Por isso, Lourenço (2009 apud DORVILLÉ, 2010) declara que a maior

dificuldade em aceitar o ensino de criacionismo nas aulas de ciências se dá pelo

fato de que há uma tendência em falar em Deus e, para ele, as aulas de ciências

deveriam se limitar em estudar as evidências da criação sem, necessariamente,

apontar para o Criador. Quando se remete ao Criador, deixa de ser considerado

como ciências e passa a ser religião. Nas aulas de ciências deve-se estudar o

criacionismo científico, ou seja, seus aspectos que podem ser considerados fatos

científicos e não os aspectos que envolvem o ser Divino que criou as coisas.

A parte religiosa não é testável. (...) O criacionismo trabalha especificamente nesta questão: ‘É possível provar cientificamente que o mundo foi criado? Sim! 'É possível provar cientificamente quem criou o mundo? Não! [...] Realmente, eu não posso numa aula de biologia - que è uma aula de ciência - ensinar que Deus criou o mundo. Na aula de biologia, eu tenho que ensinar como a vida teria surgido e como ela teria se desenvolvido. Agora, é possível mostrar que a vida foi criada pronta, completa, complexa, com uma capacidade de adaptação básica? Claro que sim. Temos evidência para isso? Claro que sim. Esse é o ponto principal: nós estamos puxando novamente nesta direção. Queremos ensinar o criacionismo científico e não o religioso. (LOURENÇO, 2009 , apud DORVILLÉ, 2010 , P- 124).

Há ainda os que defendem que o criacionismo é tanto ciência como

religião, conforme demonstram os comentários a seguir:

“eu acho que é as duas coisas. [...] Ciência e religião. Eu acho que é

os dois sim.” [E 7].

“ele pode ser considerado cientifico-religioso. Religioso no sentido que

a filosofia aí vai precisar de você crer em algo que não se consegue

medir, contere tudo mais, ele tem essa vertente diferenciada.” [E 6].

Dentre os teóricos e materiais estudados para fundamentar esta pesquisa,

não foi encontrado nenhum que concorde com tal posicionamento. Há quem

apoie a ideia de que o criacionismo é ciência e outros que o defendem como

Page 20: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

I C a p í i i l o 2 1 - Mayara Santps b W^llington Radriques M

religião. No entanto, considerando a ideia de Lourenço (2009), ao mencionar os

dois objetos aos quais o criacionismo pode se direcionar (evidências da natureza

e Criador), conclui-se que ele pode assumir esses dois posicionamentos a

depender do que se está estudando ou da ênfase que se dá.

Ao ponderar todos esses comentários e posições, percebe-se que esse

assunto é um tanto mais polêmico porquanto muitos não compreendem ainda o

que envolve o conceito de conhecimento científico. Vê-se o quanto as posições

e opiniões sobre esse assunto ainda se encontram divididas, e por isso é tão

necessário que o professor tenha uma concepção muito clara de suas crenças e

de como se posicionar em relação a elas já que isso interfere em grande medida

na maneira como ministrará suas aulas sobre esse assunto.

P o s t u r a d o P r o f e s s o r A d v e n t i s t a a o T r a b a l h a r o

C r ia c io n is m o e m S a l a d e A u l a

Os professores entrevistados relataram que, apesar de sua crença pessoal

no criacionismo, buscam ensinar os dois pontos de vista (evolução e criação)

sem promover a crença de um em detrimento do outro, segundo demonstram os

comentários a seguir:

“apesar de eu ser criacionista não é requisito em minha disciplina

todos acreditarem ou entenderem... ou se tomarem criacionistas, eu

tenho alunos que são evolucionistas e que apesar de minhas aulas

aprendem o que é criacionismo e permanecem evolucionistas."[E1].

“eu penso que a evolução é uma coisa que surgiu do nada e vai con-

tinuar do nada. Isso é o que eu penso e não o que eu passo em sala

de aula.” [E3].

“eu acredito, mas a partir do momento que mostro para meu aluno eu

digo a ele o que eu acredito e que a igreja Adventista trabalha dessa

forma. Mas eu sempre procuro deixar o aluno aberto a pensar o que

quiser e procuro ouvir dele o que ele traz, mesmo que em algumas

aulas eu consiga debater com ele, necessariamente “eu não posso

empurrara minha crença goela abaixo’’ eu não gosto disso, não é a

minha prática. ” [E6].

Page 21: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

m.

Esse tipo de posicionamento é apoiado por Roth e Alexander (1997 apud

OLIVEIRA, 2009) ao relatar, fundamentados na ideia de integração entre ciência

e religião, que nenhum dos discursos, seja o da evolução, seja o da criação,

deve ser privilegiado sobre o outro, pois que ambos podem ser aceitos por uma

mesma pessoa sem que conduzam a construções teóricas incoerentes.

Já Bahia (2004) alega que a postura do professor ao abordar o criacionismo

em sala de aula deve ser, primeiramente, inteligente e indica a promoção do

criacionismo ao mencionar que o professor deve conhecer os pressupostos

criacionistas para então poder confrontá-los com o evolucionismo. O autor

completa ratificando que a maioria dos estudantes é oriunda de uma formação

religiosa que acredita no criacionismo e, por isso, não há tanta dificuldade de

aceitação e compreensão desse ensino em sala de aula.

Falando sobre o ensino de criacionismo nas aulas de ciências dos EUA,

Dorvillé (2010) acrescenta que apesar de, legalmente não ser permitido, este

ensino vem ganhando espaço nessas escolas. Dados de 20084 revelam que 25%

dos professores admitiram ensinar o criacionismo em suas aulas de Biologia

e, ainda, defenderam que este pode ser considerado uma alternativa científica

às explicações da evolução das espécies. Dorvillé (2010) aponta como uma

das razões para essa realidade o fato de grande parte dos professores ser

criacionista. Isto confirma a ideia de que as concepções e crenças pessoais do

professor influenciam sobremaneira as suas práticas pedagógicas.

Em pesquisa com alguns professores evangélicos de ciências e biologia,

Dorvillé (2010) constatou posicionamentos diversos em relação à sua postura ao

ministrar aulas sobre as teorias das origens. Alguns professores pontuaram que

buscam separar o conhecimento científico do religioso, ou seja, não falam sobre

criacionismo em aulas de ciências ou biologia, detendo-se, apenas ao ensino do

evolucionismo.

Outros professores demonstraram buscar uma conciliação entre ambos

os conceitos - evolução e criação - apresentando os postulados que os vários

teóricos defendem ao buscar uma integração entre ciência e religião, levando os

alunos a compreenderem que a interpretação bíblica pode, sem prejuízo de sua

crença pessoal, se acomodar às descobertas científicas.

Já uma professora, em especial, revelou um posicionamento muito firme e

um tanto radical, no que diz respeito à crença na Bíblia, pois declara que, o que

' Pesquisa de escala nacional feita por BERKMAN; PACHECO & PLUTZER (2008) com 939 professores do Ensino Médio nos EUA.

I 67 I

Page 22: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

f t . [Capitulo21 - Mayara Santas e WeliinQtan RpdriquES

a Bíblia fala é daquele jeito, não havendo chance nenhuma de erros ou mesmo

interpretação diferenciada das palavras que estão lá escritas. É o que acontece

no caso da história de Josué, quando a Bíblia relata que o Sol parou e hoje, já

se descobriu que quem parou de fato não foi o Sol, mas a Terra, visto que nosso

sistema é heliocêntrico, ou seja, todos os planetas giram em torno do Sol. Para

essa professora, se a Bíblia diz que o Sol parou, há então uma chance de a

teoria do heliocentrismo estar equivocada.

Na literatura adventista, a recomendação é a de que a postura dos

professores deve ser de firmeza quanto a não acomodar a interpretação bíblica

às alegações científicas quando estas vêm se manifestando contra o que defende

a Bíblia. A posição da igreja, conforme discutido anteriormente, é de rejeição

às ideias evolutivas apesar de abrir espaço para a aceitação do processo de

adaptação dos seres vivos. Para o adventismo, a Bíblia é de uma ordem de

conhecimento superior a todos os outros ensinamentos e o professor adventista

precisa assumir uma postura de defesa das verdades deste livro, levando os

alunos a refletirem sobre esses fatos.

M e t o d o l o g ia s p a r a o E n s in o d e C r ia c io n is m o

É unânime, no meio pedagógico, o conhecimento de que deve haver uma

coerência entre os objetivos, a metodologia e os conteúdos do currículo escolar.

Por isso, a necessidade de se esclarecer este aspecto neste trabalho. Questionou-

se como os professores da rede adventista de ensino estão trabalhando o assunto

do criacionismo nas aulas de Ciências? Qual a melhor maneira de se trabalhar

tal conteúdo nas aulas de Ciências? Estas são indagações que necessitam de

respostas significativas e coerentes com a filosofia adventista e é sobre isso que

aborda esta parte do trabalho.

Libâneo (1994) e CUBIASD (2010) concordam que os métodos de ensino

precisam estar pautados sobre determinados princípios. Estes fazem parte da

filosofia do sistema de ensino e norteiam todas as ações educativas. Por isso,

fez-se necessário a elucidação dos princípios metodológicos da pedagogia

adventista, “os quais são diretrizes amplas de sustentação curricular para a

seleção dos métodos e meios de ensino utilizados na sala de aula e demais

espaços educativos.” (CUBIASD, 2010, p. 71).

Ao serem questionados sobre sua prática em sala de aula, os professores

i 68 |

Page 23: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

D E n s i n q g d C r i a c i o n i s m o u a s A u u s a e C i ê n c i a s : h p e r s p e c t i v a d a s p r o f e s s o r e s p f o a r e d e a d v e h t i s t a d e e n s i n o m

citaram algumas metodologias utilizadas por eles para ensinar o criacionismo

imas aulas de ciências.

Ao relacionar as estratégias utilizadas pelos professores com os métodos

fecomendados por Libâneo (1994) e CUBIASD (2010), chega-se à conclusão de

que as estratégias estão voltadas para o método expositivo, no qual o professor

explica os conhecimentos e habilidades para os alunos, seja através de exposição

verbal, demonstração, ilustração ou exemplificação. Este é um dos métodos

usados por Jesus em seu ministério e proporciona condições para a ponderação

e reflexão de determinados assuntos.

Alguns professores mencionaram que se reportam à beleza e à perfeição

do mundo criado, à complexidade dos seres para reafirmar a existência e

perfeição de Deus:

“Quando você fala da célula; quando você fala do

funcionamento do corpo; quando você fala do sistema digestório;

quando você fala de qualquer sistema do corpo, você consegue

introduzir o criacionismo, porque você consegue mostrar como que

Deus fez funcionar Só mesmo um Deus perfeito, só mesmo um ser

perfeito com muita inteligência conseguiria fazer um órgão do nosso

corpo como o cérebro, por exemplo, funcionar de uma maneira tão

perfeita.” [E3j.

“Quando você faia sobre embriologia; como acontece

um milagre do nascimento de um bebê, todo o processo que

acontece, você percebe a proteção, todos os passos para acontecer

corretamente. ” [,E4].

“como nosso organismo é perfeito; como as plantas; a minúcia;

os detalhes de tudo como foi criado e saber que isso tudo não tinha

como ser do acaso. Que existe um Deus, um Criador que pensou,

alguém que projetou para que tudo aquilo desse certo, tudo aquilo

funcionasse com perfeição e se algum sistemazinho, se algum

aparelhinho desses tiver algum defeitinho, algum problema a depender

da situação pode vir a óbito." [Eõ],

Esse é um argumento muito utilizado pelos criacionistas de modo geral,

já que o mundo apresenta tantas evidências de uma ação planejada tendo em

I 69

Page 24: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

- Mayara Santas b WBilinqtan Rodrigues M

vista a complexidade de coisas tão pequenas. No entanto, o perigo de se deter

apenas neste tipo de comentário está nas imperfeições do mundo e dos seres. Se

a evidência que o mundo foi criado por Deus é a perfeição do corpo humano, por

exemplo, como explicar os casos de anomalias, deficiências e demais incidentes

que ocorrem com tantas pessoas?

Outra maneira de introduzir o assunto do criacionismo, mencionada pelos

professores, é através de questionamentos a respeito do evolucionismo. Os

professores afirmaram que fazem perguntas que levam os alunos a refletir sobre

a veracidade da evolução, utilizando expressões que conduzam os alunos a

duvidar do mesmo:

“você pode chegar para o aluno e dizer: gente tem lógica isso

ser um processo de evolução? Você percebe o poder, alguém que

pensou em fazer esse tipo de coisas acontecer e acontecer da forma

que acontece. ” [E4].

“a gente tem assim, já umas palavrinhas mágicas pra usar, [...]

pra deixar aquilo ali: será que realmente, numa explosão, [...] então

como é que o mundo se originou de uma explosão? [...j mas como é

que uma explosão poderia gerar assim um mundo tão perfeito como

a gente vê, né? [...} Se originar um ser e tal, de um macaco, ” então,

a gente sempre coloca, “será?” Deixa aquela interrogação pra eles

chegarem a conclusão que: ‘não! isso aí é besteira, num tem como

acreditar', levar por esse lado, né.” [E7, grifo nosso].

Desta problematização surgem os questionamentos sobre a veracidade

da evolução tomando como base as incoerências existentes neste modelo. Um

professor relata que em suas aulas levanta essas questões para discussão,

levando os alunos a refletir se estas incoerências não podem ser razões para

duvidar da exatidão dos argumentos evolucionistas ao passo que o criacionismo

pode ser mais coerente.

“[...] algo pra despertar no aluno, e dizer assim: opa! O

evolucionismo tá começando a ter alguma falha e criacionismo tá

começando a falar alguma coisa diferente. [...] começo a inserir

pequenos textos, fatos evidências, que possam despertar no aluno ele

fazer essa diferenciação entre uma teoria e outra.” [E6].

Page 25: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

0 E n s i n o d o C r i a c i d w s m o m h m s d e C i ê n c i a s : a p e r s p e c t i v a c -d s P R D - E s s r iH b s d e c i ê ^ i i a s d * r e d e » v e n t i s t a eie [ n s im d

A estratégia de questionamento é muito utilizada por diversos professores

em diversos assuntos e é recomendada uma vez que pode, se corretamente

«utilizada, conduzir o aluno a uma reflexão crítica dos fatos, possibilitando um

Üevantamento de hipóteses, construções, desconstruções e reconstruções de

conceitos e saberes que fazem com que o aluno possa ter um posicionamento

pessoal diante de determinada questão. No entanto, para Dorvillé (2010, p. 202), a

utilização dessa técnica na maioria das vezes demonstra que “O questionamento

revela-se importante não por representar uma oportunidade de construir novas

ideias ou de refazer as antigas, mas como uma chance de reafirmar a precedência

ae sua visão de mundo em relação a todas as outras.”

Ademais, esta é uma das metodologias sugeridas pelos Parâmetros

Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997). Dentre as Orientações Didáticas ali

apresentadas, encontra-se a Problematização que consiste em fazer perguntas

e levantar problemas que levem o aluno a questionar o que já sabem ou o que

está posto, buscando uma nova maneira de conceber certos conhecimentos.

Explica-se quanticamente a estrutura infinitesimal, as microscópicas estruturas de construção dos seres, sua reprodução e seu desenvolvimento. E se debate, com questões existenciais de grande repercussão filosófica, se a origem da vida é um acidente, uma casualidade que poderia não ter acontecido ou se, pelo contrário, é a realização de uma ordem já inscrita na própria constituição da matéria primeva. (BRASIL, 1997, p. 25).

Apesar de o conhecimento científico ser considerado por muitos professores

como completamente objetivo, os PCNs apontam para a necessidade de levar

os alunos entenderem tal conhecimento como subjetivo e sujeito a modificações

já que o conhecimento se constrói ao longo do tempo e em coerência com as

transformações da sociedade. Além disso, essa estratégia desperta no aluno

o senso crítico possibilitando a formação de um cidadão pensante que não se

conforma apenas com respostas prontas, mas que se constituí num construtor de

seu conhecimento. (BRASIL, 1998).

Dentre os princípios metodológicos da educação adventista está a

integração fé e ensino. Com base neste princípio, qualquer que seja o método

escolhido pelo professor, deve-se ter em vista a educação para a eternidade.

Na filosofia adventista não há espaço para contrapor-se ao que a Bíblia ensina.

Qualquer conhecimento que esteja indo de encontro ao que a Bíblia ensina deve

ser questionado fazendo com que os ensinamentos bíblicos sejam reconhecidos

Page 26: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

I C a p i t u l o 2 1 - Maysra Santos b WEllingtpn Rpdrigues

e aceitos como verdadeiros. (CUBIASD, 2010).

Ao conduzir os alunos a uma reflexão sobre os postulados científicos que

estão em desarmonia com os ensinamentos bíblicos, os professores estão em

consonância com o que defende a filosofia da educação adventista, pois estão

contribuindo para a formação de seres pensantes e agentes de seu conhecimento.

“Em vez de pusilânimes educados, as instituições de ensino poderão produzir

homens fortes para pensar e agir, homens que sejam senhores e não escravos

das circunstâncias, homens que possuam amplidão de espírito, clareza de

pensamento, e coragem nas suas convicções.” (WHITE, 2008 p. 18).

J u s t i f ic a t iv a s p a r a o E n s in o d e C r ia c io n is m o n a s A u l a s d e

C iê n c ia s

Todas as ações educativas necessitam de um porquê. É necessário ter

sempre em mente os motivos que conduzem à ação para se fazer uma prática

mais significativa, eficaz e eficiente. Por isso, ao planejar e conduzir suas aulas

de ciências faz-se necessário que os professores compreendam as razões em

trabalhar a temática do criacionismo com seus alunos. Isso contribui para se

obter os resultados mais almejados.

É pertinente registrar que estas justificativas estão no mesmo nível de

aceitação por parte dos professores, ou seja, cada uma delas foi mencionada por

apenas um professor, tendo como exceção apenas duas - 0 fato de ser ciência

e 0 despertar da crença no criacionismo - , pois estas foram apontadas por dois

professores.

Analisando essas respostas, conjectura-se que os motivos para o ensino

do criacionismo nas aulas de ciências estão divididos em duas razões principais:

a) tentativa de igualar, em nível de importância e reconhecimento, o criacionismo

ao evolucionismo (justificativas 1 , 2 e 3); b) os valores espirituais que envolvem

o ensino do criacionismo (justificativas 4 e 5).

Por se tratar de uma pedagogia que tem sua base filosófica centrada

na Bíblia, é comum notar que os professores alegam o fator espiritual como

justificativa para 0 ensino da temática nas aulas de ciências. No currículo da

escola adventista chamado de Integral-restaurador todas as ações devem estar

pautadas numa perspectiva bíblico-cristã, com o objetivo maior de restaurar 0

homem à imagem de Deus.

6 V e r C U B IA S D (20 10 )

Page 27: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

D E h S IN D D D Ç r IA C ID M S H D N A S A ü LAS DE C l È M A S : A P E R S P E C T IV A D O S P E Q F E S S t M S DE C IÊ N C IA S D A R ED E A D V E N T IS T A 3 E E N S IN O

O b j e t i v o s d o P r o f e s s o r A d v e n t i s t a a o T r a b a l h a r o

C r i a c io n is m o n a s A u l a s d e C i ê n c ia s

Um dos elementos mais falados e pensados do currículo são os objetivos.

São eles que norteiam as ações pedagógicas dentro e fora do espaço escolar,

subsidiando as metodologias, os conteúdos e a avaliação. Cada ação docente,

desde o planejamento ao desenvolvimento de suas aulas, precisa estar pautada

em objetivos a serem alcançados, pois a educação não é um processo sem

intencionalidades e finalidades.

É necessário conhecer quais os objetivos dos professores ao trabalhar o

criacionismo nas aulas de ciências e discutir se os tais estão em concordância

com os objetivos da filosofia adventista de educação.

Percebemos a predominância da crença no criacionismo por parte dos

alunos. É significativo considerar que, praticamente os mesmos professores que

apontam como objetivo a compreensão do criacionismo, desejam também, que

seus alunos acreditem no mesmo:

“que ele entenda em primeiro lugar” [E3]

“fazer com que acredite, sim, no criacionismo.” [E3]

“o aluno tem que entender, tem que ter sua opinião e tem que

formar aí para que lado ele vai partir com sua opinião. ” [E2].

“nós temos como propósito que ele acredite.’7[E2].

Nota-se que ao mesmo tempo em que pretende que o aluno entenda para

fazer sua escolha própria, o professor mencionado acima tem um objetivo que o

aluno acredite no criacionismo.

Como já foi mencionado anteriormente, o processo educativo não é neutro,

mas traz as intencionalidades e finalidades nas quais se baseia cada ação e isso

não é diferente na educação adventista, pois que todas as ações pedagógicas

estão pautadas em princípios filosóficos que apresentam objetivos a serem

alcançados. O currículo integral-restaurador é norteado por objetivos que estão

além do mundo natural e físico, pois envolve o mundo espiritual (CUBIASD,

2010 ). O despertar da crença em Deus e em Jesus Cristo também fazem parte

dos objetivos destes professores. E isso está completamente de acordo com os

objetivos da educação adventista.

Page 28: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

ICapilulo21 - Mayara Santos e WEÍIingtan Rodrigues

Percebe-se que os objetivos dos professores entrevistados estão em

harmonia com os objetivos da educação adventista, já que a crença em Deus

faz parte desses objetivos. Ao ministrar suas aulas sobre quaisquer assuntos,

os professores dessa rede precisam ter em vista o principal objetivo que é a

restauração do homem. Para que isso aconteça, é necessário desenvolver uma

prática voltada, acima de tudo, para a promoção do conhecimento e da crença em

Deus e isso é bem viável e possível ao trabalhar a temática do criacionismo.

R e c u r s o s U t i l i z a d o s p a r a o E n s in o d e C r ia c io n is m o n a s A u l a s

d e C iê n c ia s

Além dos métodos de ensino, Libâneo (1997) e CUBIASD (2010) pontuam

os recursos e materiais utilizados na ministração das aulas, aos quais denominam

de meios do ensino. Estes podem ser de uso geral, ou seja, úteis e necessários

para todas as disciplinas (mesa, carteiras, quadro-negro, giz, lousa, etc.) ou

de uso específico de cada disciplina (mapas, enciclopédias, globo terrestre,

discos, dicionários, recursos naturais, etc.). Somados a esses recursos, estão os

equipamentos tecnológicos que, hoje em dia, são bastante utilizados em sala de

aula, proporcionando ainda maior aprendizagem.

Para que as aulas sejam mais atrativas e a aprendizagem mais

significativa, é necessário que o professor seja capaz de selecionar os recursos

mais condizentes com a realidade da turma e com os objetivos que se quer

alcançar com a aula. Dentre os recursos que existem à disposição, os professores

entrevistados selecionaram os seguintes:

Livros paradidáticos que falem sobre o criacionismo;

Livros didáticos editados pela CASA7;

Escritos de Ellen White.

Nota-se que os recursos utilizados pelos professores podem oferecer

subsídios pertinentes ao assunto abordado, já que são bem específicos. Dentre os

paradidáticos, foram citados livros de Michelson Borges, um jornalista adventista

que escreve sobre o assunto:

Casa Publicadora Brasileira, editora dos adventistas do sétimo dia.

Page 29: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

D E n s i n o D E C h iA C iD S IS M B m A L I A S DE C lF H C I f tS : A P E B S P C C T IV A D C S P H G fE S S a R E S q e c i ê n c i a s c a r e d f C J V E N T IS U d e e n s ih d

Eu trabalho com esses livros, o livro "A história da vida”, o livro

“Por que creio”, tenho o livro “Origens” também. [...] alguns livros de

pessoas criacionistas que mostram indícios da natureza, da história do

mundo, do que tem feito que possam apoiar que não foi o acaso. [E6].

Os livros didáticos utilizados na rede adventista são elaborados pela

CASA, que é uma editora adventista e publica, em seus livros didáticos de

ciências, a explicação do criacionismo e a versão evolucionista, comparando-os

e promovendo o criacionismo em detrimento do evolucionismo. Isto também é

apoiado pela educação adventista, pois segundo a CUBIASD (2010), a escolha

e utilização de livros didáticos precisam “levar em conta a concepção filosófica

apresentada.” (p. 85). E, por serem produzidos por uma editora que participa da

mesma filosofia, não encontra problemas quanto à coerência entre a concepção

filosófica do livro e a da educação adventista,

A utilização desses livros proporciona ao professor mais segurança ao

ministrarem suas aulas, pois que oferecem argumentos e posicionamentos que

se adequam à sua própria crença pessoal, como pode ser evidenciado nos

comentários abaixo:

“a gente utiliza os livros da Casa Publicadora, como os colegas

falaram, todos os materiais como fonte de pesquisa e é muito

interessante como 0 livro coloca essa maneira de colocar Deus.” [E3],

“Tudo 0 que passarmos aos alunos nós temos que colocar,

mostrar como Deus, principalmente em biologia, como Deus é

maravilhoso e os livros didáticos da CASA eles trabalham isso também

e isso é muito bom, isso é 0 diferencial da escola adventista.” [E4].

Os escritos de Ellen White foram um dos recursos mais apontados

pelos professores, pois, para eles, são materiais muito úteis por esclarecerem

certas dúvidas que de outra maneira não seria possível, conforme comprovam

os comentários a seguir:

“EGW traz muitas informações mais detalhadas sobre os

escritos bíblicos e isso é utilizado de maneira mais enfática em sala

de aula como sendo um referencial teórico além da Bíblia.” [E1].

Page 30: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

a . - Mayara Santos e Wellinqtgn RadriquEs M

“Eflen White foi uma das maiores escritoras existentes da face

da terra [...] então, a gente iança mão né desses escritos, desses

textos que ela usa para que a gente possa enriquecer a nossa aula."

[E2]

“é impossível não usar [os escritos de EGW], porque ela me

ajuda a entender alguns assuntos que eu não consigo entender em

livros didáticos [...] então tudo isso me ajuda em nível de pesquisa

para eu passar para meus alunos. ” [E3j.

Para esses professores como se trata de uma escola confessional que

tem filosofia própria, não há problema em utilizar esses materiais, já que esta

autora é a principal teórica adventista.

Como se pode perceber, os professores entrevistados têm buscado tornar

suas aulas de criacíonismo significativas e, para isso, procuram trazer materiais

diversos para trabalhar esse assunto. No entanto, outros recursos poderiam

ser acrescentados, como por exemplo, vídeos sobre o criacionismo, imagens,

revistas que tratem do assunto, dentre outros.

C o n s id e r a ç õ e s F in a is

A reflexão na ação docente, nas práticas pedagógicas e no fazer do professor

proporciona crescimento profissional e pessoal. O exercício pedagógico precisa

estar pautado em reflexões constantes sobre as práticas envolvidas no processo

de ensino e aprendizagem. Com isso, entende-se que há uma necessidade de

constantes reflexões sobre as questões que envolvem o currículo.

O professor adventista faz parte de uma filosofia única e especial que busca

um desenvolvimento holístico do indivíduo e visa, acima de tudo, a eternidade.

Por isso, este profissional precisa estar ciente de sua responsabilidade enquanto

agente participante e diretamente ligado à formação dos alunos e condução

destes à restauração da imagem de Deus.

Dentre as diversas questões que perfazem o conhecimento científico está

a origem da vida, do Universo e dos seres humanos. Este é um assunto polêmico

quando se trata da educação adventista porque, no mundo científico há uma

valorização e aceitação do modelo evolucionista em detrimento do criacionista.

Há, portanto o desafio de se posicionar diante desta realidade e manter firme o

I 7 6 I

Page 31: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

□ E n s i n d d d C r í a c i d h i s h d n a s A u i a s d e C i ê n c i a s : a p e r s p e c t i v a d o s p r d e e s s d r e s c e c i ê n c i a s d a r e d e a d y e n t i s í a d e e n s i n l

princípio bíblico, mesmo quando este é desvalorizado e até ridicularizado.

O presente estudo contribuiu significativamente para a reflexão e

a ponderação nesta realidade, fazendo com que compreendamos mais

profundamente os aspectos que estão envolvidos nesse assunto. Além disso,

a investigação evidenciou que o criacionismo é um assunto polêmico, inclusive

entre os adventistas do sétimo dia. Há uma necessidade, entre os professores

da rede adventista, de maior segurança em trabalhar esse conteúdo em sala de

aula. As concepções destes professores sobre essa temática precisam ser mais

firmemente alicerçadas na filosofia adventista a fim de influenciarem positivamente

em sua prática docente.

Este trabalho pretende ser uma contribuição para a rede adventista por

proporcionar uma visão mais profunda sobre aspectos que merecem e precisam

de mais atenção, pois que é um assunto que envolve, acima de tudo, a salvação

dos alunos. Espera-se que os professores de ciências possam levantara bandeira

do criacionismo com mais convicção para exaltar o Criador de todas as coisas,

pois este é o maior objetivo da educação adventista.

Recomendamos, entretanto, mais estudos nessa área, envolvendo uma

quantidade maior de sujeitos para que se tenha uma visão ainda mais real dos

fatos. Ademais, fica o desejo de que este material contribua para uma prática

adventista de educação mais efetiva e celestial e menos terrena.

Page 32: O ensino do criacionismo nas aulas de ciências, a perspectiva dos professores de ciências da rede adventista de ensino

ICapítulo2 1 - Mayara Santos e Wellington Rodrigues

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0 E n S I M n n C r ia C IO M S M D N A S A ü L A S DE C iÉ M C íA S : k P E R S P E C T IV A D O S P R O F E S S O R E S DE C lC W C IftS D A R ED E A D V E N T1S TA ÜE b N S IN D

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Mayara Farias da Sitva Santos

Pedagoga peta Faculdade Adventista da Bahia.

Wellington Git Rodrigues

Mestre em Educação pela Universidade Federal do Maranhão, professor de

Ciência e Religião da Faculdade Adventista da Bahia.