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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU AVM FACULDADE INTEGRADA O ENSINO DE CÁLCULO 1 NOS CURSOS DAS ÁREAS TECNOLÓGICA, DE ECONOMIA E DE ADMINISTRAÇÃO E SUAS DIFICULDADES Por: Eduardo Wagner Orientador Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho Rio de Janeiro 2015

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Page 1: O ENSINO DE CÁLCULO 1 NOS CURSOS DAS ÁREAS …€¦ · 70%. O mesmo professor observou que na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) o desempenho dos alunos em Cálculo

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

AVM FACULDADE INTEGRADA

O ENSINO DE CÁLCULO 1 NOS CURSOS DAS

ÁREAS TECNOLÓGICA, DE ECONOMIA E DE

ADMINISTRAÇÃO E SUAS DIFICULDADES

Por: Eduardo Wagner

Orientador

Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho

Rio de Janeiro

2015

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

AVM FACULDADE INTEGRADA

O ENSINO DE CÁLCULO 1 NOS CURSOS DAS

ÁREAS TECNOLÓGICA, DE ECONOMIA E DE

ADMINISTRAÇÃO E SUAS DIFICULDADES

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Gestão do Ensino Superior

Por: Eduardo Wagner

Rio de Janeiro

2015

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AGRADECIMENTO

À Helena Giolito, que apontou o

caminho.

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RESUMO

O presente trabalho aborda o problema da reprovação na disciplina de

Cálculo 1 nas áreas tecnológica, de economia e de administração das

faculdades e universidades brasileiras e procura mostrar que esse problema

acarreta outros subsequentes como o da evasão de alunos, da dificuldade na

gestão da continuidade do curso e também o da perda da autoestima do aluno

reprovado logo no primeiro semestre do curso superior. O problema da

reprovação em Cálculo 1 está conectado com as dificuldades no ensino e

aprendizagem dessa matéria por alunos e professores e, um dos objetivos

deste trabalho, foi o de identificar as diversas causas que tornaram esse

problema visível e relevante para comunidade acadêmica e para as

coordenações dos diversos cursos em que a matéria é ministrada. Uma

primeira pesquisa mostrou que o problema é real, ou seja, não está

relacionado com o que apenas algumas pessoas “acham”. Em seguida o

trabalho procurou identificar quais são as dificuldades para o ensino dessa

matéria e, nesse item pesquisou quais são as principais dificuldades

intrínsecas da matéria, as dificuldades dos alunos no aprendizado e as

dificuldades dos professores no ensino. Em paralelo, foi feita uma extensa

pesquisa para detectar as iniciativas que diversas universidades estão

realizando para diminuir o problema da reprovação nessa matéria. Após

analisar todas as informações coletadas de diversos cursos de várias

universidades brasileiras e, percebendo que o que uma instituição faz não é

(em geral) conhecido pelas outras, este trabalho conclui com as

“Considerações finais” onde são feitas recomendações baseadas nas atitudes

de maior sucesso obtidas pelas instituições pesquisadas.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada foi a da busca a artigos publicados em revistas

universitárias e em revistas de Educação matemática sobre o tema, e também

entrevistas com professores universitários que ministram essa matéria,

entrevistas com alunos que cursaram Cálculo 1 recentemente, entrevista com

um coordenador pedagógico de um curso de economia e reportagens sobre o

assunto em diversos periódicos e sites da internet.

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SUMÁRIO

Introdução .............................................................................................. 7

1. O problema é real ......................................................................... 9

2. As dificuldades do ensino, dos alunos e dos professores

2.1. Dificuldades gerais e atitudes que não ajudam .................... 16

2.2. Dificuldades da matéria e do ensino ............................... 18

2.3. Dificuldades dos alunos .................................................... 20

2.4. Dificuldades dos professores ......................................... 23

3. O processo seletivo para o curso superior

3.1. A influência do processo seletivo ..................................... 26

3.2. O processo seletivo se modificou e influenciou o ensino ....... 29

4. O que algumas faculdades e universidades estão tentando fazer

4.1. Pré-requisitos ........................................................................ 33

4.2. Pré-Cálculo ........................................................................ 34

4.3. Avaliação diagnóstica ................................................... 34

4.4. Conscientizar os alunos ................................................... 35

4.5. Monitoria ........................................................................ 36

4.6. Uso do computador ............................................................. 37

4.7. Estudo à distância ............................................................. 38

Considerações finais ........................................................................ 40

Referências .................................................................................. 42

Anexos ............................................................................................ 46

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INTRODUÇÃO

O nosso país necessita, cada vez mais, de desenvolvimento em áreas

chamadas de técnicas ou de exatas, como todas as engenharias, matemática,

física, computação, desenho industrial e também de economia, administração

e várias outras e, para isso, necessita de profissionais qualificados em

quantidade cada vez maior. Porém, para dar um exemplo motivador, segundo

o relatório sobre educação divulgado pela Organização para Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE) em setembro do ano passado, apenas

11% dos brasileiros entre 25 e 65 anos de idade possuem curso superior

enquanto que, por exemplo, no Japão essa porcentagem é de 46%.

O objetivo deste trabalho é o de examinar um problema concreto que

ocorre nas faculdades e universidades brasileiras, logo no primeiro semestre e

que contribui fortemente para a evasão de alunos no curso superior: a

reprovação em Cálculo 1, matéria que derruba tradicionalmente cerca de um

terço dos calouros.

O Brasil precisa muito formar, cada vez mais, pessoas qualificadas e,

para isso, as universidades existentes, públicas e privadas, precisam trabalhar

com máxima eficiência. Entretanto, não é isso o que está ocorrendo

atualmente e, uma das razões para essa menor eficiência está no alto índice

de evasão dos cursos na área de exatas (ou área tecnológica). É claro que a

evasão dos alunos dos cursos universitários significa prejuízo tanto no âmbito

pessoal, quanto também, para o país. São muitas as razões dessa evasão,

mas algumas causas importantes podem ser sugeridas e, algumas delas serão

identificadas neste trabalho.

O problema tem sido abordado em simpósios e congressos, e diversos

artigos foram publicados relatando as dificuldades pontuais de cada instituição.

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As queixas de alunos e professores possuem semelhanças, mas as tentativas

de cada instituição para reduzir o problema possuem diferenças. Neste

trabalho, além de diagnosticar com clareza as dificuldades com o ensino e

aprendizagem de Cálculo 1, vamos mostrar as causas, ou melhor, as origens

do problema e as ações que diversas instituições estão tomando para diminuir

as taxas de reprovação.

O trabalho possui quatro momentos igualmente importantes, que

constituem os quatro capítulos. No primeiro, demostramos que o problema que

foi descrito e será analisado existe mesmo e é de alta relevância. No segundo

capítulo trataremos das diversas dificuldades: dificuldades intrínsecas da

matéria, dos alunos e dos professores. No terceiro capítulo faremos uma

análise da diversidade do processo seletivo para o curso superior, mostrando

sua interferência no ensino médio através dos seus programas e sua influência

na admissão de alunos, nem sempre adequadamente capacitados para o

curso superior. No quarto capítulo descreveremos vários métodos que

faculdades estão utilizando para diminuir a gravidade desse problema.

O trabalho se encerra não com a tradicional “Conclusão” uma vez que,

pela abrangência e generalidade do tema, não há possibilidade de enunciar

qualquer conclusão definitiva, mas sim com o que chamei de Considerações

Finais. Essa parte final contém reflexões sobre todo o material exposto e

desenvolvido sobre o tema e aponta caminhos, aponta alternativas para que os

professores possam experimentar, na tentativa de melhorar o ensino e diminuir

a reprovação nessa matéria.

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CAPÍTULO I

O PROBLEMA É REAL

Os alunos do Ensino Médio que estão se preparando para o curso

superior na área tecnológica, ouvem dos seus preocupados professores a

advertência que eles precisam estudar mais, pois na faculdade, a história é

outra e cada um deverá cuidar de si. Os professores da faculdade ficam, em

geral, distantes dos alunos e não estão sempre disponíveis para tirar as

inevitáveis dúvidas deles, muito pelo contrário; dão aula e desaparecem. As

matérias são difíceis e, principalmente em Cálculo 1 a reprovação é enorme,

costumam dizer os professores da terceira série do Ensino Médio. Mas, será

isso verdade? Há quem diga que é apenas um recurso para incutir algum

medo nos alunos para fazer com que estudem mais. Entretanto, de acordo

com o título do capítulo, pudemos verificar que as dificuldades que os alunos

possuem na disciplina de Cálculo 1 estão presentes em quase todas as

faculdades, de forma independente da época e de sua localização geográfica

no país, como mostrarão os exemplos a seguir.

Na UNIVASP (Universidade Federal do Vale do São Francisco) segundo

Leite (2007), no ano de 2006 os índices de reprovação em Cálculo 1 foram de

60% no curso de Engenharia Elétrica, de 65% no curso de Engenharia de

Produção e de 80% no curso de Engenharia Civil. Esses índices são altos

demais e já sinalizam que há algo errado ou, no mínimo, algo que não está

bem. Se apenas 20% dos alunos de engenharia civil passam para o segundo

semestre do primeiro ano, com o decorrer da vida universitária quantos destes

chegarão ao final do curso? Provavelmente muito poucos exibindo um

lamentável desperdício de esforço e recursos públicos. Terá sido este um

exemplo isolado? Infelizmente não.

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Na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) a taxa média de

reprovação em Cálculo 1 foi de 44% no período de 1995 a 1997 como relata

Lopes (1999) sendo que, em alguns cursos, a taxa de reprovação chegou a

70%. O mesmo professor observou que na UFRGS (Universidade Federal do

Rio Grande do Sul) o desempenho dos alunos em Cálculo 1 é muito

semelhante ao da UFMG e que na USP (Universidade de São Paulo) grandes

variações no índice são visíveis já que, por exemplo, observando apenas o

curso de Engenharia, os alunos do primeiro semestre de 1996 tiveram índice

de reprovação em Cálculo 1 de 35% enquanto que os alunos que entraram no

segundo semestre do mesmo ano tiveram índice de reprovação de 67%. Esse

último fato é interessante, pois imaginando que a USP forneça cursos de

Cálculo 1 no mesmo nível, os alunos que entraram no segundo semestre

possuem desempenho muito pior que os que entraram no primeiro semestre e

já podemos imaginar a explicação para esse fato. Os alunos que passaram

para o segundo semestre foram os que se situaram na parte de baixo da lista

de classificação e, portanto, com desempenho inferior no ingresso,

apresentaram maiores dificuldades.

Segundo Santos Junior (2014) a UFRPE (Universidade Federal Rural de

Pernambuco) oferece anualmente 17 cursos de graduação, 11 dos quais

contêm, em sua grade curricular, a disciplina de Cálculo 1 e reconhece sua

importância por ser pré-requisito para várias outras disciplinas e pelas suas

diversas aplicações. Entretanto, uma pesquisa realizada na própria

universidade entre os 923 alunos que cursaram Cálculo 1 em algum dos onze

cursos citados, apenas 20% declararam que entendiam as aulas na maior

parte do tempo e 80% declararam que entendiam pouco (algumas vezes) ou

nada entendiam. Esses preocupantes números fizeram com que os

professores iniciassem um esforço conjunto no sentido de melhorar a relação

dos alunos com a disciplina. Os alunos deveriam buscar os pré-requisitos para

melhorar o entendimento da matéria e, aos professores, a diversificação da

metodologia de trabalho em sala de aula. De fato pudemos verificar que, em

várias faculdades, muitos professores de Cálculo 1, sobretudo os com menos

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experiência, se mostraram surpresos com o mau resultado dos alunos e

buscaram fazer alguma coisa nos períodos seguintes para melhorar os

resultados. Essas tentativas são bastante variadas e estarão relatadas no

capítulo 4.

No Rio de Janeiro a situação não é diferente. Segundo Alexandre

Cardoso, secretário de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro no período de

2007 a 2010 em entrevista ao jornal O Globo (ver [11]) a evasão dos alunos de

engenharia e arquitetura chega a 50% e o índice de reprovação em Cálculo

atinge 70% em várias universidades. O professor Cardoso não economiza

palavras e atribui essa evasão à má qualidade do ensino de Matemática no

Ensino Médio. Podemos perceber certo exagero nas palavras do professor

Cardoso. É preciso lembrar que, no Ensino Médio, uma escola não pode

pensar em preparar todos os seus alunos para carreiras da área tecnológica

oferecendo aulas de Matemática em número e nível suficientes para que o

curso de Cálculo 1 no primeiro semestre da vida universitária seja percorrido

sem grandes dificuldades. A escola deve atender a todos igualmente e,

certamente, aulas mais fortes e exigentes de Matemática irão aborrecer os

alunos que se dirigem às áreas biomédica e humanas pois, para estes, um

nível alto de Matemática no Ensino Médio é inútil para suas futuras profissões.

Constata-se, portanto, que o atual ensino médio no Brasil, com a sua

diversidade de matérias e a consequente e relativa pouca exigência em cada

uma delas não pode preparar adequadamente os alunos para o curso superior,

sobretudo, na área Tecnológica e nas áreas de Economia e Administração.

Ainda no Rio de Janeiro, na UFF (Universidade Federal Fluminense),

pudemos constatar o mesmo problema, mas com facilidade maior na obtenção

de dados. A UFF mantém o site “Consulta Pública” (ver [2]) que pode ser visto

abaixo e permite verificar quais são as disciplinas que mais reprovam em cada

curso e em cada semestre de cada ano.

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Fonte: sistemas.uff.br/consultapublica

O site é bastante rico e permite visualizar quais são as matérias mais

difíceis em cada um dos cursos da UFF, tanto no campus de Niterói quanto no

de Macaé. Mostramos a seguir dois cursos da UFF da área tecnológica (ou de

exatas) com suas maiores reprovações.

Fonte: sistemas.uff.br/consultapublica

Apesar de termos relatado apenas alguns exemplos, verificamos que

problema é real e atinge a grande maioria das faculdades. Neste trabalho,

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estaremos analisando a questão da reprovação em Cálculo 1, mas esse

problema vai mais além, continuando nos dois próximos semestres, quando os

sobreviventes em Cálculo 1 irão cursar Cálculo 2 e, os vitoriosos desta vez irão

cursar Cálculo 3. Nos dois cursos subsequentes ao Cálculo 1, os índices de

reprovação são um pouco menores do que no primeiro em todas as

faculdades, mas não desprezíveis. Assim, para que se tenha ideia das

consequências desse problema inteiro do Cálculo, vamos imaginar que, em

certa faculdade, os índices de reprovação nas três matérias de Cálculo sejam

de 40%, 30% e 20%, respectivamente. Esses números não são exagerados,

muito pelo contrário, apenas refletem a média do que ocorre em nosso país

nas últimas duas décadas. Como mero exercício intelectual imaginemos que,

em certa faculdade, 100 alunos novos ingressem no curso de Cálculo 1.

Desses, 40% são reprovados e, então, apenas 60 alunos ingressarão do curso

de Cálculo 2, realizado no segundo semestre. Entretanto, 30% desses alunos

serão reprovados e, portanto, 70% deles passarão adiante. Como 0,7×60 = 42

temos que, 42 alunos (dos 100 iniciais) deverão iniciar o curso de Cálculo 3 no

primeiro semestre do segundo ano. Porém, ao final, 20% deles serão

reprovados, ou seja, 80% deles estarão aptos a continuar a jornada

universitária. Como 0,8×42 é aproximadamente igual a 34 concluímos que,

inevitavelmente, apenas 1/3 dos alunos ingressantes na faculdade sobrevive

aos cursos de Cálculo e estarão aptos a continuar o caminho até o final. É,

portanto, claro e preocupante o prejuízo que esse problema causa ao país.

Grande parte dos reprovados mais de uma vez desistem do curso

universitário e, para enfatizar a importância do problema que estamos

analisando, o site da UFF mostra que, dos 50 alunos que entraram na

universidade e começaram a cursar Engenharia Civil em 2009, somente 22 se

formaram.

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UFF – Engenharia Civil

Fonte: site da UFF (sistemas.uff.br/consultapublica)

É claro que a desistência dos alunos podem ter tido causas diversas, mas o

impacto do primeiro semestre na disciplina de Cálculo 1 tem grande relação

com as evasões.

Entretanto, há um fato intrigante que será examinado no decorrer deste

trabalho. No site de notícias da UNB (Universidade de Brasília) como se vê em

[9], a partir do Censo da Educação Superior do Ministério da Educação, a CNI

(Confederação Nacional da Indústria) fez um levantamento mostrando que dos

105.000 alunos que ingressaram em 2007 nos cursos de engenharia, 57% não

se formaram, desistiram no meio do caminho, o que está exatamente de

acordo om o que acabamos de mostrar. Porém, no IME (Instituto Militar de

Engenharia) e no ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) a evasão durante

o curso de Engenharia não chega a 5% e a reprovação em Cálculo 1, segundo

o professor Branco (em [E2]) praticamente não existe. O contraste existente

entre essas duas únicas instituições e todas as outras permitirá um

interessante estudo comparativo.

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Pelo que foi relatado não há dúvidas que, na maioria das faculdades e

universidades, essa matéria apresenta para os alunos sérias dificuldades e,

por ser dada no início do curso e de forma obrigatória, a grande reprovação

acarreta um efeito cascata ao longo de todo o curso, diminuindo o número de

alunos em sala, desmotivando muitos e, certamente, desperdiçando dinheiro e

esforço dos professores e das instituições de ensino.

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CAPÍTULO II

AS DIFICULDADES DOS ALUNOS E DOS

PROFESSORES

2.1. Dificuldades gerais e atitudes que não ajudam

A matéria de Cálculo é de inegável importância, mas segundo Leite

(2007) tem-se observado “uma alta deficiência pela maioria dos alunos ao

entrar na faculdade, oriunda da sua formação anterior, prejudicando, com isso,

seus desempenhos nas etapas seguintes”. Além disso, o referido professor

chama a atenção ao fato de que a metodologia de ensino utilizada no Ensino

Médio difere da utilizada no Curso Superior, o que certamente causa

insegurança no aluno dificultando sua adaptação ao novo mundo em que se

inseriu. As provas, inclusive, são de natureza diferente. No Ensino Médio e no

vestibular as provas são, quase sempre, de múltipla escolha enquanto que no

curso de Cálculo são inteiramente discursivas.

Na mesma linha de raciocínio Garzella (2013) afirma que a própria

dinâmica de ingresso na universidade já interfere no emocional do estudante

juntando-se a isso ao ambiente distante da família, a convivência com novas

pessoas, a diferença da natureza dos assuntos estudado no Ensino Médio são

componentes que dificultam a aprendizagem de Cálculo 1 por parte do aluno

ingressante. Afirma então a pesquisadora: “É possível assumir que o sucesso

do aluno na aprendizagem dos conteúdos de Cálculo 1 depende, em grande

parte, da qualidade da mediação desenvolvida em sala de aula pelo professor”.

De fato, muitos professores acham, equivocadamente, que ensino e

aprendizado são processos independentes cabendo ao professor ensinar e ao

aluno aprender e, em caso de desempenho não satisfatório, a

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responsabilidade é reputada prioritariamente no aluno. Infelizmente há muitos

professores – não só de Cálculo, mas de outras matérias do ciclo básico das

universidades – que não questionam seus métodos de ensino ou suas

relações com os alunos considerando, talvez por comodidade, que estão

sempre certos e, em caso de fracasso, o aluno é quem está errado. Como

observaram Belli e Bittencourt (2006) esse tipo de docente costuma medir o

Ensino pelos índices de aprovação/reprovação, sem buscar ferramentas

adequadas para o nível do grupo. Frequentemente, continuam os

pesquisadores podem-se ouvir depoimentos como: “Sou bom professor,

reprovo 50% dos alunos” ou ainda, “Só os melhores passam”, mostrando que

fatores pedagógicos ou metodológicos não são considerados. Enfatizando, o

professor universitário Claudio de Moura Castro (PUC-RJ), especialista em

educação aponta o fenômeno enraizado na cultura acadêmica: o alto índice de

repetência é visto como sinal de qualidade na área de exatas e muitos

acreditam que, se a disciplina não for difícil, o professor é ruim” (relatado em

[5]).

Segundo Giolito (relatado em [E4]) deve-se também levar em conta que

muitos jovens entram para a faculdade com poucas informações a respeito das

carreiras e dos pré-requisitos para a jornada universitária. Como pedagoga e

coordenadora do Núcleo de Apoio aos Alunos da FGV-RJ, Helena Giolito diz

que diversos alunos entrevistados por ela e ingressantes ao curso de

Administração, simplesmente não sabiam que, nesse curso, há uma forte

carga de Matemática. Esses alunos se desmotivam logo no primeiro semestre

por não estarem preparados e não desejarem se esforçar para cursar todas as

cadeiras que envolvem Matemática, matéria que não gostavam ou não tinham

afinidade no Ensino Médio. Eles aceitam quase passivamente a reprovação

como forma de justificar a evasão subsequente. Outros alunos sabem que no

curso superior que escolheram há várias matérias de Matemática, mas acham

até de forma ingênua, que a faculdade é uma continuação do Ensino Médio,

que os professores vão ter toda a paciência em expor a matéria, que vão

resolver muitos exercícios, que toda matéria nova começa do zero, e assim por

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diante. Um engano, naturalmente. Ao perceber que, no curso superior, o estilo

é outro, o ritmo é outro e que ninguém vai cuidar deles, muitos sentem a

pancada justamente na matéria de Cálculo 1.

O que está nos parágrafos acima, já constitui amplo material para

reflexão e para o planejamento de atividades de professores, coordenadores e

orientadores educacionais, que possam diminuir a repetência no primeiro

semestre da faculdade e a possível evasão posterior.

2.2. Dificuldades da matéria e do ensino

O Cálculo é a primeira matéria de Matemática do curso superior e

possui dificuldades próprias e naturais. Como explica Lopes (1999) o Cálculo

requer a utilização de certo tipo de raciocínio elaborado (que os alunos

egressos do Ensino Médio não estão acostumados) que permite o

desenvolvimento da habilidade de resolver problemas de forma criativa e,

continuando a explicação, a razão fundamental porque o estudante está sendo

reprovado em Cálculo não é que o estudante não está sendo ensinado de

maneira correta pelos professores dos diversos Departamentos de

Matemática, mas, principalmente, porque o estudante, ao ingressar na

universidade, não tem o amadurecimento matemático necessário para obter a

aprovação num curso de Cálculo com o atual nível de exigência.

Segundo Silva (2011) alunos bons em Matemática do Ensino Médio

costumam entrar para a universidade com a esperança que o curso de Cálculo

não possua obstáculos em seu aprendizado, mas mesmo eles, sentem as

dificuldades que são intrínsecas à matéria. Causam impacto as novas ideias

como o infinito, as aproximações, os limites, as indeterminações, a

incomensurabilidade, o infinitamente pequeno, etc. Como essas ideias ocorrem

no início do desenvolvimento da matéria, os alunos que se esforçam e

conseguem entender essas sutilezas intrínsecas do Cálculo terão certa

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facilidade em continuar sua jornada, mas os que simplesmente pularem essa

dificuldade não poderão entender quase nada do que virá a seguir. Alguns

alunos desse tipo ainda tentarão decorar procedimentos, mas não irão muito

longe. Decorar sem entender leva, inevitavelmente, ao fracasso.

O Cálculo possui, portanto, dificuldades inerentes relativas aos novos

conceitos que constituem a passagem da Matemática escolar – quase sempre

muito concreta – para a Matemática superior, com alto nível de abstração nos

seus conceitos, mas com fortíssimas aplicações no mundo real. Entretanto,

além das dificuldades inerentes à matéria existem questões de contorno que,

segundo Marin e Penteado (2011) contribuem para aumentar a preocupação

com a repetência nessa disciplina. Algumas delas são:

• O Cálculo é uma disciplina de transição entre o ensino médio e o ensino

superior.

• O Cálculo, por ser uma disciplina que, em muitas universidades, está no

primeiro semestre possui grande número de alunos em sala de aula.

• O aluno vem com uma formação precária do ensino médio, o professor tenta

sanar algumas dificuldades e acaba condensando os conteúdos que devem

ser ministrados na disciplina porque a carga horária é insuficiente, com isso,

compromete esta e outras disciplinas que dependem do Cálculo.

• A grande quantidade de matéria a ser exposta faz com que a aula siga um

ritmo acelerado, havendo pouco espaço para o aluno investigar, pensar e

questionar.

De fato, o aluno mal preparado no ensino médio que busca uma

faculdade de engenharia, por exemplo, e se depara com as situações descritas

acima não tem boas chances de sucesso.

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2.3. Dificuldades dos alunos

Além das dificuldades de adaptação ao novo ambiente, da diferente

metodologia de ensino e do ritmo também, mais acelerado em relação ao que

estava acostumado no Ensino Médio, o aluno sente as dificuldades intrínsecas

do Cálculo que são agravadas se sua formação anterior possui lacunas ou

imperfeições. Como relata Jesus (2011) em sua experiência como professor de

Cálculo 1 da Universidade Federal de Ouro Preto em 2010, os alunos os

alunos, em seu curso, apresentaram dificuldades ou nem dominavam certos

conhecimentos básicos, o que acabou dificultando o desenvolvimento do

conteúdo central que era o Cálculo. O referido professor observou que os

alunos possuíam dificuldades nas operações com frações, na simplificação e

nas operações envolvendo expressões algébricas além de outras, o que

mostra quanto se faz necessária uma boa formação básica. Parece difícil de

acreditar, mas tive observei relatos semelhantes em outras faculdades. Alunos

conseguem entrar para um curso de Engenharia ou Economia, por exemplo e

mostram que não sabem operar com frações ou manipular corretamente as

expressões algébricas.

A professora Lilian Nasser, do Instituto de Matemática da UFRJ é ainda

mais precisa quando cita uma pesquisa (Nasser, 2013 apud Irias et al, 2011)

em que constataram, por meio da análise das avaliações e de entrevistas com

professores que os alunos mostram fragilidades em conceitos básicos e, as

dificuldades iniciais dos alunos estão em:

• Funções: na construção de gráficos e na descrição do domínio e da imagem;

• Manipulação algébrica;

• Interpretação de dados.

O professor Antônio Branco (FGV, relatado em [E2]) concorda com a

professora Lilian e observa que o que está listado acima são as dificuldades

nos conteúdos iniciais. Além disso, relata o professor, a grande maioria dos

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alunos possui deficiências em trigonometria o que dificulta o trabalho com

limites e, sobretudo, no cálculo de integrais. Segundo o professor Branco, a

trigonometria tem sido ensinada no Ensino Médio de forma cada vez mais

superficial, pois ela é, apenas, uma pequena parte da Matemática que, por sua

vez é uma das muitas matérias que o aluno precisa aprender para seu

vestibular. De fato, conclui o professor, somente cerca de 15% dos alunos do

Ensino Médio tem como objetivo alguma carreira da área tecnológica – que

contém Cálculo 1 no primeiro semestre – e, por isso, a falta de preparação

adequada dos alunos em trigonometria já deve ser esperada pelas faculdades

no curso de Cálculo 1 e aulas de nivelamento nessa parte, e nas outras

também, devem ser planejadas.

Na pesquisa feita na Universidade Federal de Pernambuco relata o

professor Valdir Bezerra dos Santos Junior, que as respostas para a pergunta

sobre as dificuldades dos alunos em Cálculo 1 foram várias e que diversas já

eram esperadas como “As aulas são difíceis de assimilar”, ou “A metodologia

do professor não é adequada”, mas uma resposta foi bastante significativa e

merece reflexão. Muitos alunos declararam “O livro texto é difícil de

compreender” (Santos Júnior, 2014). Os livros de Cálculo modernos são

aperfeiçoados com frequência e, cada um deles, procura descrever a matéria

da forma mais clara possível. Se o aluno declara que não entende o livro texto,

podemos concluir que, ou o aluno tem sérias deficiências de conteúdo do

Ensino Médio ou, simplesmente, nunca leu antes um livro de Matemática. Essa

última hipótese é a opinião de Thales do Couto do Colégio Santo Inácio que

afirmou que, na maioria das escolas, os livros são abertos quase somente na

parte dos exercícios e que, em diversas escolas são usadas apenas apostilas

com resumos, macetes e listas de exercícios (relatado em [E3]). Se um

professor do ensino médio não utiliza realmente o livro de Matemática e faz

com que os alunos o leiam, esses alunos chegarão, naturalmente, ao ensino

superior sem saber como aprender lendo um livro. Essa dificuldade é mais

uma que tem causa em deficiências do Ensino Médio, não tanto de conteúdo,

mas sim em metodologia e postura do professor.

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Essas dificuldades dos alunos não têm origem neles e sim no sistema

escolar do nosso país. Como observou o professor da UFF, Pedro Ivo

Camacho (relatado em [E5]), as escolas estão cada vez mais focadas no

Enem e, portanto, “conteúdos importantes para o currículo do curso superior

estão sendo deixados de serem administrados”. Além disso, o raciocínio do

aluno em Matemática fica direcionado para a solução rápida de um problema

fazendo com que ele não tenha tido a experiência de abordar um problema

mais complexo, onde necessite identificar várias etapas e elaborar uma

estratégia de solução. Exatamente nessa linha de pensamento, a professora

Leila Maria Figueiredo da USP (Universidade de São Paulo) acredita que

“ a maior dificuldade dos alunos é a de não serem preparados para pensar em cada problema. Parece que eles gostariam de que todos os problemas pudessem ser resolvidos do mesmo modo. Eles sempre perguntam: “é sempre assim que faz?” (relatado em [E6])

‘Os alunos não têm culpa’, diz a professora Figueiredo; eles foram

simplesmente mal preparados. Muitos não sabem argumentar, não conseguem

expor suas ideias e, muito menos, fazer demonstrações (relatado em [E6]).

De fato, as dificuldades dos alunos são muitas, mas basicamente de

dois tipos: as dificuldades devidas a deficiências de conteúdo e as dificuldades

devidas à (falta de) metodologia ou atitudes inadequadas por parte de certos

professores em muitas escolas.

2.4 Dificuldades dos professores

Não é fácil ser professor de Cálculo 1 como se pode perceber pelo que

foi relatado até agora. Quando esse professor entra pela primeira vez na turma

composta pelos alunos que acabaram de entrar para a faculdade, ele não tem

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23

a menor ideia do que esses alunos sabem, ou não, de Matemática. Ele

simplesmente começa a ensinar o primeiro capítulo do livro de Cálculo adotado

pela faculdade, pois esse é o trabalho para o qual foi designado, e imagina que

todos podem entender o que vai ensinar. Garzella (2013) cita uma reflexão

inspirada de seu orientador, o professor Sérgio Antônio da Silva Leite, da

Faculdade de Educação da Unicamp: “O processo de aprendizagem de

conteúdos complexos como aqueles de Cálculo 1 exige fundamentalmente o

domínio de uma série de conhecimentos básicos. No ensino superior,

entretanto, parte-se do falso pressuposto de que, se passou no vestibular, o

aluno tem todos os pré-requisitos necessários para a disciplina. Contudo, um

olhar sobre o conhecimento matemático dos calouros indicaria que uma

parcela detém o domínio, outra apresenta uma série de deficiências, e outra

sequer tem o mínimo necessário para frequentar as aulas.” (Leite, 2007).

A grande maioria dos professores de Cálculo 1 nas universidades não é

realmente um professor de Matemática no sentido estrito do termo.

Dependendo da faculdade, esse professor de Cálculo pode ser um engenheiro,

um arquiteto, um economista, ou um pesquisador, mas, quase sempre, sem

nenhum embasamento pedagógico. O fato do professor de Cálculo ser doutor,

por exemplo, gera (talvez de forma inconsciente) o uso de uma linguagem

científica muito apurada o que pode dificultar a aproximação entre o professor

e o aluno. De acordo com Belli e Bittencourt (2006) a pesquisa realizada em

2005 no Centro de ciências Tecnológicas da Universidade do Estado de Santa

Catarina que relacionava reprovação com titulação do professor mostrou que,

no ensino de várias matérias e em diversos semestres que, os doutores

reprovam mais que os mestres e estes, por sua vez, reprovam mais que os

professores especialistas. Por exemplo, no primeiro semestre de 2005 os

doutores aprovaram 67% dos alunos (em média), os mestres aprovaram 76%

e os especialistas aprovaram 84% dos alunos.

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Fonte: Belli e Bittencourt, 2006

(http://www.abenge.org.br/CobengeAnteriores/2006/artigos/2_215_932.pdf)

Isso mostra que, independente da matéria, os professores doutores são os que

reprovam mais e isso não é difícil de entender. Principalmente em Cálculo 1,

os professores doutores dedicam-se à pesquisa e, por não terem nenhuma

formação em pedagogia ou experiência no ensino, não conseguem

relacionamento e interação fáceis com os alunos, o que constitui uma grande

dificuldade para o trabalho do professor. O professor-doutor-pesquisador que

ministra disciplina do primeiro semestre da faculdade de engenharia ou

economia, não conhece o passado dos alunos e não sabe o que eles sabem

ou não. Esse professor, em Cálculo 1, terá reais dificuldades para ensinar

porque não tem formação pedagógica necessária para ser um professor

qualificado e não conhece nem consegue, muitas vezes, bom diálogo ou

relacionamento com seu público quase ainda adolescente. Citando literalmente

Bitencourt (2006, p. 101):

“... o perfil profissional influencia nos resultados e podem estar relacionados à sua alta qualificação o que implica a

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necessidade de ajustar essa qualificação não para a pesquisa ou para a instituição, mas para a ação docente. O trabalho de requalificação profissional, que nem sempre é atingido com sucesso, seria mais viável para preparar esses professores para o ato de ensinar na sua visão mais ampla.”

As dificuldades dos professores descritas nos parágrafos anteriores não

ocorrem, naturalmente, em todos os lugares, nem a todos os professores.

Muitos, mesmo não tendo cursado cadeiras de pedagogia transformaram-se

em professores bons e eficientes através da experiência e da dedicação do

trabalho em sala de aula.

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CAPÍTULO III

O PROCESSO SELETIVO PARA O CURSO SUPERIOR

3.1. A influência do processo seletivo

Não é exagero dizer que metade dos alunos que ingressam em

faculdades de engenharia, economia ou outra de área técnica possui reais

dificuldades em Cálculo 1. Uma parte deles consegue superar as dificuldades

conseguindo aprovação na matéria e, outra parte será reprovada. A pergunta

que importa responder é: por que metade dos alunos ingressantes no curso

superior tem dificuldades em Matemática? Grande parte dos professores

universitários e coordenadores dizem que uma fração considerável dos alunos

que entram na faculdade não possuem conhecimentos adequados e

suficientes para cursar a matéria de Cálculo 1 e, portanto, é natural voltar a

atenção para o processo seletivo dos alunos para o acesso à universidade. Se

o processo seletivo for eficiente, os alunos que entrarem para a universidade

terão os pré-requisitos necessários em Matemática para compreender sem

problemas a nova matéria. Ao contrário, se o processo seletivo não for

eficiente, universidade acolherá certamente alunos despreparados em

Matemática e que, portanto, serão fortes candidatos a integrarem o grupo dos

reprovados logo no primeiro semestre. Infelizmente, é exatamente isto o que

se vê atualmente em nosso país. Por exemplo, em pesquisa realizada na

UNIVASP, de acordo com Leite (2007), cerca de 85% dos docentes apontam a

seleção deficiente no vestibular como uma das causas da grande reprovação

em Cálculo 1.

Em todos os vestibulares o sistema é classificatório, ou seja, todas as

vagas oferecidas são preenchidas pelos candidatos em ordem decrescente de

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pontuação, independente da verificação do que eles realmente sabem de

Matemática ou não. Para as faculdades de engenharia, economia e as demais

da chamada área tecnológica, não existe o critério de atribuir uma “nota

mínima em Matemática” no processo seletivo para a aprovação do candidato

(às vezes um edital informa apenas que a nota do candidato deve ser diferente

de zero). Assim, por exemplo, para ingressar em um curso de engenharia em

uma universidade federal o aluno deve fazer o Enem e, se fizer uma boa

redação e tiver desempenho médio em diversas matérias, poderá conseguir

com muita facilidade sua aprovação sem saber quase nada de Matemática, e

aí está um outro candidato ao grupo dos reprovados no primeiro semestre.

Segundo Lopes (1999) se, no vestibular da UFRGS fosse exigida a nota

mínima 6,0 (sobre 10,0) na prova de Matemática, apenas 22% das vagas

seriam preenchidas, o que um dado preocupante, mas que explica bem a

relação entre a falta de preparo do estudante a possibilidade de reprovação em

Cálculo 1. Em sua interessante pesquisa, o professor Lopes mostra outros

dados que relacionam fortemente o processo seletivo da universidade com a

reprovação em Cálculo 1. No vestibular da UFRGS, antes do Enem, a prova de

Matemática consistia em 35 questões de múltipla escolha e a nota mínima

para passar era de 9 acertos, ligeiramente acima do acerto totalmente casual

que é de 7 acertos. Ingressando na universidade o aluno de Cálculo 1 é

submetido a diversas avaliações ao longo do curso e seu conceito final é dado

pelos conceitos: A, B, C, D ou R de acordo com a tabela abaixo.

Fonte: Lopes, 2009

Conceitos

Notas

A 9,0 a 10,0

B 8,0 a 8,9 C 7,0 a 7,9 D 6,0 a 6,9

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A pesquisa mostrou que alunos que no vestibular fizeram de 31 a 35

acertos têm probabilidade nula de reprovação e têm 60% de probabilidade de

terminar o curso com conceito A. Por outro lado, alunos com 9 e 10 acertos no

vestibular têm probabilidade reprovação de 75% e probabilidade nula de tirar

conceito A e, de forma geral, os alunos considerados fracos, com 15 acertos

ou menos no vestibular têm cerca de 50% de probabilidade de serem

reprovados em Cálculo 1.

Não há dúvida, portanto, que o processo seletivo que visa apenas

preencher as vagas dos cursos universitários sem exigir pré-requisitos mínimos

nas matérias básicas para o ingresso em cada curso, permite que alunos

despreparados ocupem as carteiras e que, quando derrotados, desistam,

liberando um precioso espaço. Segundo Mello (2001) os cursos de engenharia

passaram a aumentar a oferta de vagas em parte pelos altos níveis de evasão,

aliado ao fato do concurso vestibular não ter nota mínima para aprovação.

Continuando, o professor João Carlos Mello (professor da UFF) diz que esse

fato contribuiu para que alunos ainda menos preparados ingressassem na

Universidade provocando, consequentemente, o aumento do índice de

reprovação. Segundo ele, na Universidade Federal Fluminense “chegou-se ao

ponto de haver mais turmas de alunos repetentes em Cálculo 1 do que turmas

de novos alunos”. O problema é complexo, pois se uma nota mínima for

exigida, as vagas só serão preenchidas parcialmente como já foi demonstrado

e o Brasil não pode suportar um curso superior em Universidades públicas com

salas semivazias.

Nada do que disse acima se aplica a duas famosas instituições

brasileiras, o IME (Instituto Militar de Engenharia) e o ITA (Instituto Tecnológico

da Aeronáutica). Essas duas intuições de ensino de alta qualidade não estão

submetidas ao MEC, oferecem vagas reduzidas e possuem processos

seletivos próprios. Os programas de Matemática são próprios, densos e ricos

em conteúdo, as provas do vestibular são muito difíceis e, além disso, são

exigidas a nota mínima 4,0 em cada prova discursiva, e média mínima de 5,0.

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Por isso, o aluno que deseja ingressar em uma dessas instituições precisa

fazer um curso preparatório especializado e, os que existem em diversas

cidades do país, submetem os alunos a uma extensa programação diária de

aulas e atividades. Com isso, os alunos que ingressam no IME e no ITA

possuem bagagem matemática muito superior a dos demais alunos do Ensino

médio e estão muito mais bem preparados tanto em conteúdo quanto em

disciplina para o estudo. Assim, os alunos do primeiro semestre dessas duas

instituições possuem reprovação zero em Cálculo 1 e apenas 5% de

desistência ao longo do curso (ver [3]). Os professores de Matemática que

desejarem mais dados sobre os programas do IME e do ENEM podem

examinar o Anexo 2 e constatar as enormes diferenças entre os conteúdos.

Está clara, portanto, a relação entre o processo seletivo para a

admissão à faculdade e o índice de reprovação em Cálculo 1. A questão,

porém vista desse ângulo, não possui solução em tempo visível. Como já se

demonstrou, introduzir no processo seletivo uma nota mínima em Matemática

que garanta aos que passarem um bom desempenho em Cálculo 1 faz com

que, inevitavelmente, as vagas não sejam todas preenchidas. O fato é que “o

Ensino Médio nacional não está produzindo alunos competentes em

Matemática em quantidade suficiente para preencher as vagas dos diversos

cursos da área de tecnologia” (Carvalho, 2015).

3.2. O processo seletivo mudou e influenciou o ensino

A partir do final da década de 1970 mudanças radicais na forma de

acesso ao curso superior começou a ocorrer. Antes, havia vestibulares por

área de conhecimento e, depois começaram a aparecer os vestibulares

unificados resultado do novo conceito de Ensino Médio (na época, ensino do

2º grau) que não tinha mais a divisão por áreas. Segundo Mello (2001, p. 9)”:

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Esse processo obrigou os alunos a serem “especialistas em generalidades”, já que tornou-se impossível aprenderem com profundidade todas as matérias que lhe eram apresentadas. Como consequência, passaram a chegar ao curso de Engenharia alunos sem todos os conhecimentos de Matemática com que era costume chegarem.

O professor Melo comenta ainda que os vestibulares unificados, em

especial o promovido pela Fundação Cesgranrio no Rio de Janeiro passaram a

adotar as questões de múltipla escolha como forma única de avaliação.

Esse fato teve reflexo imediato nas escolas.

Como o MEC não tinha um programa nacional obrigatório de

Matemática (nem de outras matérias) as escolas ensinavam no segundo grau

(hoje ensino médio) a Matemática que constava nos programas dos

vestibulares das universidades mais próximas. Como relatou o professor

Antonio Branco (ver [E2]) as escolas do Rio de Janeiro ensinavam o conteúdo

de “vetores” porque esse tema estava presente nos programas dos

vestibulares da UFRJ, UERJ, UFF e PUC-RJ, mas as escolas de São Paulo

jamais ensinaram “vetores” porque esse tema não constava de nenhum

vestibular de qualquer universidade paulista, e este é apenas um exemplo de

muitos que poderiam ser citados. No Rio de Janeiro, em particular, o vestibular

da UFRJ teve grande influência no nível de ensino de Matemática das boas

escolas. A partir de 1987 o vestibular da UFRJ passou a ser inteiramente

discursivo. De acordo com Kasprzykowski (2014, p. 20) no edital para o

vestibular de 2009 aparecem os seguintes objetivos da prova de Matemática:

Avaliar a capacidade do candidato de interpretar enunciados lógicos e gráficos, de expressar seu raciocínio, seja em linguagem matemática ou em linguagem corrente, e de utilizar a Matemática como instrumento de interpretação, análise e solução de problemas reais.

Nessa época, com esses objetivos aliados a um programa denso de

conteúdos, os alunos aprovados no vestibular da UFRJ tinham, naturalmente,

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mais facilidade no trato com a Matemática, tinham experiência em resolver

questões discursivas, por vezes longas, e tinham a base necessária para

enfrentar um curso de Cálculo 1 sem grandes dificuldades.

Na primeira década do século 21 o Enem começa a ganhar força

nacional e, começa a se transformar de uma avaliação do desempenho dos

alunos do Ensino Médio a um processo seletivo para o acesso ao curso

superior e, atualmente, todas as universidades federais o adotam como única

forma de ingresso. Segundo Carvalho (em [E4]), o Enem é constituído apenas

de questões de múltipla escolha, cada uma com resposta razoavelmente

rápida a partir da interpretação do enunciado, e é aliado a uma lista de

“Objetos do Conhecimento” pobre de conteúdos matemáticos. O aluno que se

prepara para essa prova e é classificado para um curso de engenharia, por

exemplo, ingressa no curso superior com menos conteúdos e, sobretudo, com

quase nenhuma experiência na elaboração de raciocínios longos e

encadeados. Dessa forma o contraste entre a Matemática do ensino médio e a

do ensino superior ficou muito grande, as dificuldades de adaptação

aumentaram e a repetência também aumentou. Em 2011 a UFRJ adotou o

Enem como única forma de ingresso e hoje é visível a falta de base em

Matemática dos alunos de Cálculo 1 em vários cursos. Em pesquisa realizada

na internet (ver [10]) respondida por mais de 900 alunos o resultado foi o que

está abaixo:

Fonte: http://vestibular.uol.com.br/enquetes/enquete.jhtm?id=10391

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Como se vê, a maioria dos estudantes da UFRJ não gostou da mudança. No

vestibular antigo, o aluno deveria “escrever”, expor suas ideias, mesmo que

não conseguisse terminar com sucesso uma questão. Não há dúvida que esse

procedimento é infinitamente mais rico do que marcar uma letra de uma opção

em uma questão de múltipla escolha. No processo anterior, era possível

conhecer bastante da competência e das ideias de cada aluno através das

suas soluções, ou ainda, das suas tentativas de solução de uma questão. No

caso da seleção pelo Enem, a universidade nada saberá acerca das

competências dos calouros.

O processo seletivo dos alunos de uma universidade tem muita

influência no ensino médio da região próxima dela e na qualidade dos alunos

que recebe. Entretanto, tudo o que foi relatado de muitos professores tem

efeito apenas de esclarecimento, pois a escolha sobre a forma do processo

seletivo que a universidade adotará não depende, em geral, dos professores

que ministram as aulas. A influência do processo seletivo de uma universidade

no ensino das escolas se dá da seguinte maneira. Na realidade, se uma escola

percebe que a grande maioria dos seus alunos tem como finalidade fazer o

Enem, então o ensino nessa escola nos três últimos anos estará direcionado

para esse objetivo. Por exemplo, nessa escola o assunto de “números

complexos” não será dado, pois esse tema não faz parte dos Objetos do

Conhecimento do Enem. Por outro lado, se uma escola de São Paulo perceber

que a maioria dos seus alunos vai prestar vestibular na Fuvest, então deverá

organizar o currículo de Matemática dos três últimos anos de forma a estar

afinado com o programa da Fuvest. Essa é a realidade nacional.

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CAPÍTULO IV

O QUE ALGUMAS UNIVERSIDADES ESTÃO TENTANDO

FAZER

As dificuldades no ensino de Cálculo 1 nas diversas faculdades e

universidades brasileiras são grandes e diversificadas como visto

anteriormente. Por isso, não é possível pensar em uma solução global, mas é

importante conhecer o que diversas faculdades e universidades estão tentando

fazer para amenizar essas dificuldades, ajudar os alunos e,

consequentemente, diminuir a reprovação em Cálculo 1.

4.1 Pré-requisitos

Em geral, as coordenações dos cursos universitários reconhecem que,

grande parte dos alunos que ingressam na universidade possuem deficiências

de conteúdo em Matemática e diversas oferecem, de alguma forma, aulas de

revisão dos tópicos do ensino médio que são fundamentais para o bom

desempenho em Cálculo.

A URRPE, como esclarece o professor Valdir Bezerra dos Santos Júnior

(ver Santos Júnior, 2014) oferece um curso opcional de “pré-requisitos”

para os alunos ingressantes na universidade. Entretanto, é curioso observar

que grande parte dos alunos não faz o curso, pois não reconhece suas

próprias deficiências, não estão conscientes dessa necessidade, talvez

achando que a matéria do ensino médio é coisa do passado. Fica claro então

que, reconhecer que muitos dos alunos ingressantes possuem deficiências de

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conteúdo e oferecer cursos de pré-requisitos em caráter opcional não

funcionou.

4.2 Pré-Cálculo

Segundo Lopes (1999) uma opção é a de oferecer aos alunos calouros

um curso de pré-Cálculo para os alunos que

tenham mostrado desempenho insuficiente na prova

do vestibular, mas que isso depende das vagas e

horários dos professores e da política implementada

por cada universidade. Na UFRGS, onde trabalha o

professor Lopes, o curso de pré-Cálculo é oferecido

semestralmente e é composto pelos assuntos de

Funções reais, Geometria analítica, Polinômios e

Trigonometria.

Fonte: http://livraria.ufrgs.br/produto/15156/pre-calculo

Ainda, para manter o cronograma oficial da universidade, os cursos de pré-

Cálculo são realizados antes do início das aulas, ou seja, em janeiro e

fevereiro para os calouros do primeiro semestre e em maio e junho para os do

segundo semestre (ver [12]). É notável o esforço da universidade nesse

aspecto como mostra o livro especialmente escrito para esse curso, hoje na

sua terceira edição.

4.3 Avaliação diagnóstica

Atualmente, como o ingresso em muitas das universidades brasileiras é

feito pelo Enem, não existe mais a figura da “prova de matemática do

vestibular” e, dessa forma, ninguém sabe o que os calouros sabem ou não de

Matemática. No modelo de acesso anterior, o desempenho dos alunos na

prova de matemática era analisado e suas conclusões forneciam um quadro,

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mesmo que não completo, das principais deficiências dos alunos. Hoje não.

Por isso, de acordo com Garzella (2013), muitos sugerem a realização de uma

avaliação diagnóstica para que se conheçam previamente os conhecimentos

dominados pelos estudantes e as lacunas de aprendizagem para, a partir

disso, definir o ponto de partida do processo de ensino. Segundo ela, tal

providência simples poderia aumentar as possibilidades de aprendizagem dos

alunos que, apoiados em conhecimentos anteriores teriam condição de

avançar na compreensão de novos saberes e, consequentemente, poderia

colaborar decisivamente para mudar o quadro desolador de reprovações e

evasões. É claro que a avaliação diagnóstica é recomendada, pois permite

conhecer melhor os calouros, mas também é claro que apenas ela nada

resolve. Com base nessa avaliação será necessário planejar as ações

subsequentes para sanar as deficiências dos alunos que foram detectadas.

4.4 Conscientizar os alunos

Há muitas tentativas de iniciativas pessoais de professores de Cálculo 1.

Segundo Santos Júnior (2014) uma das possibilidades é a de um trabalho de

conscientizar os alunos da necessidade de buscar os conhecimentos

anteriores para cursar a disciplina com melhor aproveitamento possível e

também a formação de grupos de discussão sobre o tema com os alunos.

Nasser (2013) relata que tem investigado o desempenho de alunos de Cálculo

1 desde 2009 e constatou que as dificuldades deles se devem, principalmente,

à falta de preparação prévia e sugere ações (que ela mesmo executou) como o

desenvolvimento de estratégias de ensino apropriadas, enfatizando exercícios

sobre transformação nos gráficos básicos. A professora Lilian Nasser (UFRJ)

relata ainda que esse procedimento facilitou a identificação de diversas

superfícies estudadas em Cálculo III. Analogamente ao item anterior, a

conscientização pelos alunos de suas dificuldades deve vir acompanhada de

ações tanto dos alunos quanto da instituição, na direção de aumentar o

interesse e melhorar o desempenho dos alunos.

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4.5 Monitoria

Em várias faculdades se utiliza o recurso da monitoria. Segundo o

professor Antonio Branco da FGV-RJ a monitoria em Cálculo 1 é utilizada nas

turmas de Administração com bastante sucesso. Relata o professor (ver [E2])

que nesse curso o monitor ou os monitores são alunos dos anos superiores

que tiveram ótimo desempenho e que ajudam os alunos em horários extras na

explicação de conceitos e na resolução dos exercícios recomendados pelo

professor da matéria. Na FGV a matéria de Cálculo 1 possui 6 aulas semanais

com o professor e os alunos ainda têm disponíveis 3 horas semanais com o

monitor. Relata ainda o professor Branco, que o bom rendimento do processo

se deve bastante ao relacionamento do monitor com o professor, o primeiro

relatando as dificuldades dos alunos sentidas por ele e, o segundo,

aconselhando pela experiência, as melhores formas de trabalhar o conteúdo

para conseguir bom rendimento dos alunos. Na mesma linha, Jesus (2011)

descreve a atividade de monitoria de Cálculo 1 no IFMG (Instituto Federal de

Minas Gerais) em parceria com a UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto)

onde 3 monitores, orientados pelo professor ajudaram os alunos do semestre

anterior com sérias dificuldades. Segundo o professor Jesus, foi importante o

fato de que os monitores puderam escolher a metodologia de trabalho, às

vezes com atendimento individual, outras com atividades em grupo. Também

ajudou muito o fato de que os monitores eram alunos mais graduados da

UFOP o que propiciou um ótimo relacionamento entre monitores e alunos e,

consequentemente, o interesse e a participação foram altos. Apesar de que os

resultados com a monitoria parecem promissores, Jesus não vê nesse

processo a solução para a questão da reprovação em Cálculo 1. Ele imagina

que somente a partir de uma mudança na concepção do ensino e

aprendizagem que leve em conta não somente os conteúdos, mas também as

pessoas envolvidas e o processo como um todo. Também são relevantes os

dados relatados por Leite (2007) em pesquisa na UNIVASP. Após constatar no

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primeiro semestre que 2006 uma reprovação de mais de 60% em Cálculo 1 (e

em geometria Analítica também) a coordenação procurou encontrar as causas

e uma enquete foi feita entre os alunos perguntando que motivos eles

consideravam para a reprovação alta nessas disciplinas. E é significativo que,

entre vários motivos encontrados, 80% dos alunos responderam: ausência de

monitoria.

4.6 Uso do computador

A Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) que já faz parte da

vida cotidiana neste mundo atual também está sendo usada como recurso

extra para uma aprendizagem mais efetiva em Cálculo. Segundo Marin e

Penteado (2011) o uso do computador em sala de aula do curso

universitário, embora possa facilitar o estudo de diversos conteúdos, é ainda

restrito, pois os professores mais antigos não possuem, em geral, formação

técnica em computação que permita utilizar os softwares disponíveis de forma

eficiente. Entretanto, continuam os pesquisadores, as propostas diversas de

uso da TIC para auxiliar o ensino de Cálculo têm conseguido bons resultados.

Na USP foram introduzidas atividades no laboratório de informática com o

propósito de permitir ao estudante usar recursos gráficos permitindo a melhor

compreensão das funções. Na UFSCar desenvolveu-se um trabalho coletivo

com a utilização do computador na disciplina de Cálculo para que os alunos

pudessem formular e elaborar modelos matemáticos a partir de situações

reais. Na PUC-RS foi desenvolvido um trabalho por professores e alunos com

o propósito da utilização da TIC para sanar as dificuldades encontradas pelos

alunos em compreender e visualizar conceitos de Matemática, ensinados nas

disciplinas de Cálculo.

Mesmo reconhecendo que ainda há resistências ao uso da TIC nos

cursos de Cálculo percebe-se que elas estão diminuindo e que a informática

está ganhando espaço no ensino universitário sendo que, em alguns cursos,

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ela está inteiramente integrada. Segundo Branco (em [E2]) nos cursos de

Economia, Administração e Matemática Aplicada da FGV-RJ os recursos

computacionais estão inteiramente conectados com os diversos conteúdos de

Cálculo e Geometria Analítica, são utilizados em todas as aulas e também

pelos alunos nos trabalhos de casa. Diz ainda o professor que, há uma

década, quando esses recursos não eram disponíveis, grande parte do

entendimento das situações dependia principalmente da imaginação e agora,

mesmo reconhecendo que a imaginação continua importante, os recursos

computacionais permitem ao aluno ver realmente, com todos os detalhes a

situação que se apresenta. O professor Branco não tem dúvidas que os

recursos computacionais, usados por professores com competência na

utilização desses recursos, propiciam aos alunos um entendimento muito

melhor da matéria e consequentemente uma aprendizagem mais segura e

completa.

4.7 Estudo à distância

Outra tentativa notável é a que está sendo implementada na UFF

(universidade Federal Fluminense). Desde o ano passado, o aluno não só da

UFF como de qualquer outra universidade que sentir dificuldades no Cálculo 1

e conseguir identificá-las, poderá estudar à distância os conteúdos que tiver

deficiência através dos slides preparados pelo professor Humberto Bortolossi

(ver [13]). Neles o aluno encontra arquivos com material impresso, material

interativo e grande quantidade de filmes de aulas gravadas por professores

consagrados. Um pedaço de uma das transparências pode ser visto abaixo.

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Fonte: http://www.professores.uff.br/hjbortol/disciplinas/2010.2/gma00116/

O ensino à distância está realmente sendo oferecido e ampliado em todos os

setores. Entretanto, para ser eficiente, ele necessita de muita disciplina pelo

usuário. Em primeiro lugar é necessário que o aluno tenha consciência de suas

dificuldades, em segundo lugar é necessário que o aluno consiga identificar

quais são suas deficiências e, em terceiro lugar consiga encontrar os sites e as

aulas que deverá assistir para aprender e resolver suas dúvidas. Neste caso, a

iniciativa é excelente, mas a recuperação das lacunas de conteúdo fica apenas

a cargo do aluno.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme o que foi relatado, as dificuldades no ensino e aprendizagem

de Cálculo no primeiro semestre das faculdades são reais e as causas foram

bem determinadas. Por um lado, a quantidade dos alunos ingressantes na

universidade com bom preparo em Matemática básica é muito menor do que o

desejável pelas instituições e, por outro, o processo seletivo adotado permite

que alunos com deficiências em Matemática ingressem nos cursos da área

tecnológica, de economia e de administração. Apesar de que este trabalho

permitiu obter uma boa visão sobre essas causas, não há como propor

nenhuma ação sobre elas uma vez que, pela enorme dimensão, dependem de

políticas governamentais para qualquer modificação. Entretanto, adotando a

atitude de aceitar a realidade do ensino médio atual e do processo seletivo

atual é possível realizar ações com a finalidade de diminuir a reprovação em

Cálculo 1, nesse período crítico do primeiro semestre do curso superior.

Relatamos sete iniciativas diferentes que instituições experimentaram ou estão

experimentando obtendo resultados razoáveis. Essas iniciativas não são

naturalmente comparáveis, mas acreditamos que um subconjunto delas,

atuando de forma coordenada, poderá fornecer expressivos resultados na

melhoria do aprendizado.

Se o acesso ao curso superior é feito pelo Enem, por exemplo, ninguém

saberá quanto e o que cada calouro sabe de Matemática. Por isso,

recomendamos uma avaliação inicial com questões simples, mas que possam

avaliar a capacidade de manipulação algébrica do aluno e conhecimentos

básicos nos amplos temas de funções, polinômios e trigonometria. Com o

resultado dessa investigação, é possível planejar as ações subsequentes e, o

que parece mais adequado é um pequeno curso de pré-cálculo com o material

necessário para desenvolver com segurança pelo menos o início da matéria de

Cálculo. Esse início é muito importante. O aluno que vai bem no início da

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matéria, ganha segurança e interesse e tem mais possibilidades de continuar

com bom desempenho.

O professor, por outro lado, deve manter atenção constante, não só no

conteúdo da matéria como nos alunos. Seria adequado que o cronograma do

curso de Cálculo tivesse alguma flexibilidade para que, quando o professor

detectar alguma insegurança nos alunos, pudesse parar a matéria de Cálculo e

dedicar-se a complementar as lacunas de conteúdo, para depois, continuar.

Nesse aspecto, o bom relacionamento do professor com a turma faz toda a

diferença. O professor correto, mas frio, inibe as perguntas dos alunos e deixa

de perceber as dificuldades deles.

A presença, mesmo que semanal, de um monitor com assessoria do

professor e a utilização de recursos computacionais com a devida competência

são também fatores que também ajudam, mas não podem se tornar mais

relevantes que o trabalho do professor com sua turma. A consciência do

professor na condição de líder do processo de ensino e aprendizagem é fator

decisivo para o sucesso dos alunos e a sensibilidade em perceber que, por

vezes uma pequena mudança na metodologia pode fazer grande diferença.

Finalmente, alunos e professores não devem aceitar a grande reprovação em

Cálculo 1 como fato normal que acontece historicamente em todas as

universidades, mas devem lutar, cada qual com seus meios disponíveis para

aumentar as chances dos calouros de ultrapassar com sucesso o primeiro

semestre do curso superior.

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REFERÊNCIAS

1. Artigos

2. Sites e reportagens

3. Entrevistas

1. Artigos Almeida, Helber R.F.L. – O uso das Tecnologias da Informação e Comunicação na Aula de Cálculo 1 a Distância – XVII Encontro Nacional de Estudantes de Pós-Graduação em Educação Matemática, Vitória, 2013 (http://www.rc.unesp.br/gpimem/downloads/artigos/autores/almeida_ebrapem2013.pdf) Belli, J.I.R.; Bittencourt, E. – A Reprovação da Titulação Docente no Ensino de Engenharia de Produção – Congresso brasileiro de ensino de engenharia de produção, XXXIV: Empreender e Preservar, Passo Fundo, RS 2006 (http://www.abenge.org.br/CobengeAnteriores/2006/artigos/2_215_932.pdf) Beltrão, Maria E.P.; Igliori, Sonia B.C. – Modelagem Matemática e Aplicações: Abordagens para o Ensino de Funções – Educação Matemática Pesquisa, São Paulo, v.12, n.1, pp.17-42, 2010 (http://revistas.pucsp.br/index.php/emp/article/view/2171) Cury, Helena N. – Estilos de aprendizagem de alunos de engenharia – XXVIII Congresso brasileiro de ensino de engenharia, Ouro Preto, MG 2000 (http://faculdadebarretos.edu.br/v3/faculdade/imagens/nucleo-apoio-docente/ESTILOS%20DE%20APRENDIZAGEM%20ALUNOS%20ENG.pdf) Garzella, Fabiana C. – A disciplina de Cálculo 1: a análise das relações entre as práticas pedagógicas do professor e seus impactos nos alunos – Jornal da Unicamp, outubro/novembro, 2013, “Disciplina com alto índice de reprovação é tema de pesquisa”. (www.unicamp.br/unicamp/ju581/) Jesus, Cristiano S. et al. – Reflexões dobre o ensino de Cálculo diferencial e integral 1: UFOP e IFMG-OP numa parceria pela busca da diminuição do

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índice de reprovação na disciplina – Revista da Educação Matemática da UFOP, Vol 1, 2011 – X Semana da Matemática e II Semana da Estatística. (http://www.cead.ufop.br/jornal/index.php/redumat/article/view/328/286) Kasprzykowski, André G. – Análise comparativa da Prova de Matemática do Enem e do vestibular da UFRJ – Profmat UFRJ 2014. Leite, Télio Nobre, et al. – Análise dos índices de reprovações nas disciplinas de Cálculo 1 e Geometria Analítica nos cursos de engenharia da UNIVASP – XXXV Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia – COBENGE 2007. (www.abenge.org.br/CobengeAnteriores/2007/) Lopes, Artur – Algumas reflexões sobre a questão do alto índice de reprovação nos cursos de Cálculo da UFRGS – Matemática Universitária números 26/27, junho/dezembro 1999, pp.123-146, UFRGS. (http://matematicauniversitaria.ime.usp.br/Conteudo/n26_n27/n26_n27_Artigo05.pdf) Marin, Douglas; Penteado, Miriam G. – Professores que utilizam tecnologia de informação e comunicação para ensinar Cálculo – Educação Matemática Pesquisa, v.13 n.3, São Paulo 2011. (http://revistas.pucsp.br/index.php/emp/article/view/7057) Mello, João Carlos C.B.S., et al. – Mudança no ensino de Cálculo 1: histórico e perspectivas – Universidade Federal Fluminense, COBENGE 2001. (www.uff.br/decisao/cobenge02.pdf) Nascimento, Jorge L. – Uma proposta metodológica para a disciplina de Cálculo 1 – VI Encontro de Educação em Engenharia – UFRJ, Rio de Janeiro 2000. (www.dee.ufrj.br/VIIEEE/VIEEE/artigos/4/04.doc) Nasser, Lilian et al. – A transição do ensino médio para o superior: dificuldades em problemas de taxas relacionadas – XI Encontro Nacional de Educação Matemática, Curitiba, julho 2013. (http://sbem.esquiro.kinghost.net/anais/XIENEM/pdf/1421_814_ID.pdf)

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Santos Júnior, Valdir B. – Os obstáculos no processo ensino-aprendizagem nos curos de graduação da UFRPE: A disciplina Cálculo 1 – Universidade Federal Rural Pernambuco 2014. (http://www.sbembrasil.org.br/files/ix_enem/Poster/Trabalhos/PO19453574449eT.doc.) Silva, Benedito A. – Diferentes dimensões do ensino e aprendizagem do Cálculo - Educação Matemática Pesquisa, v.13 n.3, São Paulo 2011. (http://revistas.pucsp.br/index.php/emp/article/view/7101)

2. Sites e reportagens [1] G1 Educação – julho de 2013 http://g1.globo.com/educacao/noticia/2013/07/so-44-dos-alunos-de-engenharia-da-ultima-decada-terminaram-o-curso.html [2] Consulta Pública – Universidade Federal Fluminense Disciplinas que mais reprovam por Curso https://sistemas.uff.br/consultapublica/disciplinas_que_mais_reprovam?utf8=✓&curso=37&periodo=20131 [3] O Globo – Por que reprova-se tanto em Cálculo no ensino superior? http://extra.globo.com/noticias/educacao/vida-de-calouro/por-que-reprova-se-tanto-em-calculo-no-ensino-superior-saiba-como-evitar-13356046.html [4] Engenharia do Futuro http://engdofuturo.com.br/desistencia-do-curso-de-engenharia/ [5] Profissão: físico Revista Amanhã, jan/fev 2006 http://www.fisica.net/fisico/por_que_e_quase_impossivel_nao_reprovar_em_exatas.php [6] Vivamundo http://www.viva-mundo.com/pt/noticia/post/paises-mais-educados-do-mundo/ [7] O Globo – Caderno de Economia, 23 / julho / 2011 http://cepuerj.uerj.br/desc_noticia.aspx?noticia=9

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[8] IME – Instituto Militar de Engenharia – Programa de Matemática do Vestibular http://www.ime.eb.br/vestibular/cfg-ensino-medio/programa-do-concurso-de-admissao-para-o-cfg.html [9] UNB – Universidade de Brasília – UnB Clipping – agosto 2013 http://www.unb.br/noticias/unbagencia/cpmod.php?id=95313 [10] UOL – Vestibular - Enquetes http://vestibular.uol.com.br/enquetes/enquete.jhtm?id=10391 [11] CEPUERJ – Governo do estado investe na formação de engenheiros (http://www.cepuerj.uerj.br/desc_noticia.aspx?noticia=9) [12]UFRGS – Curso de pré-Cálculo http://www.ufrgs.br/precalculo/ [13] Uff – Pré-Cálculo http://www.professores.uff.br/hjbortol/disciplinas/2010.2/gma00116/

3. Entrevistas (completas no Anexo 1) [E1] Antonio Luiz Pereira – USP – fev. 2015 [E2] Branco, Antonio C.S. – FGV – fev. 2015 [E3] Thales do Couto – Colégio Santo Inácio – fev. 2015 [E4] Helena Giolito – FGV – mar. 2015 [E5] Camacho, Pedro Ivo – UFF – mar. 2015 [E6] Figueiredo, Leila – USP mar. 2015

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ANEXOS

Anexo 1 – Entrevistas .................................................................. 46

Anexo 2 – Programas de Matemática para o curso superior........ 58

Anexo 1 – Entrevistas Entrevista 1 Perguntas – Cálculo1 As perguntas buscam detectar as dificuldades dos alunos e professores no curso de Cálculo 1 em vários cursos de diversas instituições. Professor: Antônio Luiz Pereira Instituição: Instituto de Matemática e Estatística - USP Curso: Cálculo 1 1) Nos últimos anos quais são os índices aproximados de reprovação em Cálculo 1? Resp: Por volta de 25%. 2) Existem ações com o objetivo de diminuir esse índice? Resp: Não. 3) Que carga horária possui o curso de Cálculo 1? Resp: 6 horas semanais 4) Que dificuldades os professores relatam em ministrar o curso? Resp: Falta de preparo e desinteresse dos alunos. 5) Grande parte dos alunos do primeiro período tem reais dificuldades em Cálculo 1. Por que, na sua opinião? Resp: O nível do Ensino Médio está muito baixo em Matemática.

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A preparação dos alunos é inadequada, a motivação não é suficiente e Cálculo I é difícil. 6) Algum comentário adicional? Resp: Não. Entrevista 2 Perguntas – Cálculo1 As perguntas buscam detectar as dificuldades dos alunos e professores no curso de Cálculo 1 em vários cursos de diversas instituições. Professor: Antônio Carlos Saraiva Branco Instituição: EBAPE-FGV Curso: Cálculo 1 para Administração 1) Nos últimos anos quais são os índices aproximados de reprovação em Cálculo 1? Resp: Por volta de 30%. 2) Existem ações com o objetivo de diminuir esse índice? Resp: Sim. A FGV oferece monitores para ajudar os alunos. Como o monitor trabalha conectado comigo ele pode trabalhar bem com os alunos, até com uma intimidade maior. Durante as três horas semanais que fica com os alunos interessados ele tem tempo de trabalhar os exercícios com toda calma e atender as dificuldades individuais. O resultado tem sido muito bom. 3) Que carga horária possui o curso de Cálculo 1? Resp: 6 aulas semanais de 50min cada 4) Que dificuldades os professores relatam em ministrar o curso? Resp: Aqui na FGV não temos dificuldades em ministrar o curso de Cálculo 1.

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5) Grande parte dos alunos do primeiro período tem reais dificuldades em Cálculo 1. Por que, em sua opinião? Resp: Os alunos trazem deficiências da Matemática do ensino médio. Concordo com a professora Lilian Nasser que relatou as dificuldades iniciais e acrescento as deficiências que os alunos possuem em trigonometria. Por isso, o trabalho com limites e com o cálculo de integrais fica bastante difícil. É sempre necessário rever os conteúdos de trigonometria e aprofundar um pouco para conseguir que os alunos entendam bem os limites, derivadas e integrais. Mas isso é esperado porque a trigonometria tem sido ensinada no Ensino Médio de forma cada vez mais superficial. De fato, ela é, apenas, uma pequena parte da Matemática que, por sua vez é uma das muitas matérias que o aluno precisa aprender para seu vestibular. Além disso, somente cerca de 15% dos alunos do Ensino Médio tem como objetivo alguma carreira da área tecnológica. 6) Os vestibulares influenciam o ensino nas escolas? Resp: Claro. Por exemplo, as escolas do Rio de Janeiro ensinavam o conteúdo de “vetores” porque esse tema estava presente nos programas dos vestibulares da UFRJ, UERJ, UFF e PUC-RJ, mas as escolas de São Paulo jamais ensinaram “vetores” porque esse tema não constava de nenhum vestibular de qualquer universidade paulista, e este é apenas um exemplo de muitos que poderiam ser citados. No Rio de Janeiro, em particular, o vestibular da UFRJ teve grande influência no nível de ensino de Matemática das boas escolas. A partir de 1987 o vestibular da UFRJ passou a ser inteiramente discursivo o que gerou provas excelentes e influenciou realmente a última série do Ensino Médio em trabalhar questões desse tipo. Foi muito bom e os alunos da área tecnológica ganharam grande experiência que, certamente, foi muito útil para eles no curso de Cálculo 1 da faculdade. Porém, veio o Enem e essa influência mudou de rumo. 7) Em todas as faculdades o índice de reprovação em Cálculo 1 é sempre alto? Resp: Em geral sim. Entretanto, no IME e no ITA praticamente não há reprovação. Eu fui aluno do IME e na minha turma todo mundo passou em Cálculo. Até hoje é assim. Ocorre que os vestibulares do IME e do ITA são tão difíceis que somente os alunos que fazem uma preparação especial para essas provas têm chance de passar. Compare o programa de Matemática do IME com o do Enem. A diferença é enorme, absurda. Assim, os alunos que fazem cursos preparatórios, às vezes dois ou mesmo três anos, preparando-se para enfrentar o vestibular do IME ganham uma experiência enorme em

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Matemática. Os que passam no IME ou no ITA não terão absolutamente nenhuma dificuldade em Cálculo. Entrevista 3 Perguntas – Cálculo1 As perguntas buscam detectar as dificuldades dos alunos e professores no curso de Cálculo 1 em vários cursos de diversas instituições. Professor: Thales do Couto Instituição: Colégio Santo Inácio, RJ Curso: Ensino Médio, 1ª, 2ª e 3ª séries 1) Na sua escola existe um livro didático de Matemática adotado oficialmente? Resp: Sim, cada série possui seu livro de Matemática. 2) Isso ocorre nas escolas brasileiras? Resp: Nem sempre. Há escolas que não adotam livros, e distribuem apenas apostilas ou listas de exercícios. A matéria é dada pelo professor em sala de aula, os alunos copiam no caderno e esse é o material principal para estudo dos alunos. Além disso, as demonstrações dos fatos matemáticos ficam frequentemente intocadas no livro e, por sua vez, o caderno dos alunos fica repleto de regras e “macetes” para serem decorados. 3) As escolas públicas têm livros do PNLD. Resp: De fato têm. Entretanto, percebo com tristeza que muitos livros sequer são abertos. Em Matemática, vejo professores utilizarem o livro apenas na parte dos exercícios. Não vejo muito nas escolas públicas a utilização do livro como a fonte de transmissão do conhecimento. O professor e a aula no quadro ainda são preponderantes. 4) O senhor quer dizer que o aluno tem o livro mas não o lê? Resp: Exatamente. O professor, geralmente, não estimula a leitura do livro, não obriga a leitura do livro. 5) Por que? Resp: Por pura comodidade. Ele sabe que, se pedir para os alunos lerem a teoria de certo capítulo no livro para que possam discutir o assunto na aula seguinte, alguns alunos vão ler, mas muitos não vão ler, o que tornará a discussão da aula seguinte uma atividade sem sentido. De fato, uma discussão sobre um tema que muitos sequer tomaram conhecimento é perda de tempo, e eu concordo. Assim, o professor não utiliza a teoria do livro e expõe, ele

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mesmo, a matéria na aula e no quadro. Quero dizer ainda que isso o que disse não ocorre somente nas escolas públicas, mas nas escolas particulares também. Mesmo no Colégio Santo Inácio, onde trabalho e sou coordenador, o livro adotado não é tão bem utilizado como poderia ser. 6) Se um aluno no Ensino Médio nunca leu devidamente um livro de Matemática como será sua vida no curso de Engenharia, por exemplo, na matéria de Cálculo? Resp: Sua vida não será boa. Ele terá inúmeras dificuldades, e de todos os tipos. Ele não terá mais professores preocupados com ele. Ele não terá mais um professor de Matemática disponível todo o tempo para tirar suas dúvidas. A metodologia de ensino é diferente da que está acostumado. Agora, ele estará sozinho e seu professor de Cálculo será um ser distante e que, frequentemente, não poderá compreender. Só lhe restará o livro como fonte segura do que deve aprender. Entrevista 4 Perguntas – Cálculo1 As perguntas buscam detectar as dificuldades dos alunos e professores no curso de Cálculo 1 em vários cursos de diversas instituições. Pedagoga: Helena Giolito Instituição: Fundação Getúlio Vargas – FGV Área de atuação: Núcleo de Apoio Pedagógico da Graduação 1) A matéria de Cálculo 1 é obrigatória em diversos cursos da FGV. Em qual dos cursos a reprovação é maior? Resp: No curso de Administração. Há reprovação expressiva também no curso de Economia, porém menor. 2) Os cursos de Cálculo 1 na Administração e na Economia são dados no mesmo nível? Resp: Não. No curso de Administração exige-se um conhecimento amplo de todas as matérias, inclusive nas de Matemática, mas no de Economia é

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necessário um aprofundamento maior para que possam entender as teorias econômicas que estão fortemente fundamentadas em Matemática. 3) Na sua opinião, por que muitos alunos são reprovados em Cálculo 1? Resp: A resposta fácil é dizer o óbvio. O aluno reprovado não aprendeu a matéria e, a causa principal deve ter sido a sua deficiência em diversos conteúdos de Matemática do Ensino Médio. A matéria de Cálculo 1 depende muito de uma base sólida da Matemática da escola. Entretanto há outros fatores como a motivação. 4) Quais são esses outros fatores? Resp: Eu atendo vários calouros com dificuldades de adaptação ao ambiente do curso superior. Os pais obrigam certas crianças a prestarem vestibular para “alguma coisa” e assim elas fazem. Eventualmente passam no vestibular e começam a viver o ambiente da faculdade, com suas novidades e exigências. Entretanto, muitos entram com poucas informações a respeito do curso e da carreira em si. Tenho atendido diversos alunos ingressantes ao curso de Administração que, simplesmente não sabiam que nesse curso, há muitas matérias ligadas à Matemática. Eles pensavam ao contrário, que o curso teria somente matérias ligadas aos procedimentos de administração, história, metodologia, finanças, legislação, e que o único curso que teria números seria o de contabilidade. Esses alunos que percebem o engano e constatam as muitas matérias de Matemática que deverão cursar, se desmotivam logo no primeiro semestre por não estarem preparados e não desejarem se esforçar para cursar todas as cadeiras que envolvem Matemática, matéria que não gostavam ou não tinham afinidade no Ensino Médio. Eles aceitam quase passivamente a reprovação como forma de justificar a evasão subsequente.

Outros alunos sabem que no curso superior que escolheram há várias matérias de Matemática, mas acham até de forma ingênua, que a faculdade é uma continuação do Ensino Médio, que os professores vão ter toda a paciência em expor a matéria, que vão resolver muitos exercícios, que toda matéria nova começa do zero, e assim por diante. Um engano, naturalmente. Ao perceber que, no curso superior, o estilo é outro, o ritmo é outro e que ninguém vai cuidar deles, muitos sentem a pancada justamente na matéria de Cálculo 1. Uma boa notícia é que a maioria desses alunos, aqui na FGV, fazem Cálculo 1 pela segunda vez, são aprovados e continuam sua jornada.

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Entrevista 5 Perguntas – Cálculo1 As perguntas buscam detectar as dificuldades dos alunos e professores no curso de Cálculo 1 em vários cursos de diversas instituições. Pedagoga: Pedro Ivo Camacho Instituição: UFF Curso: Economia

1) Você teve dificuldades no curso de Calculo 1 que fez na graduação? Resp: Sim 2) Quais foram essas dificuldades? Resp: Dificuldades de conhecimentos a priori, os quais deveriam ser passados no segundo grau, como por exemplo, conceito de funções compostas, funções trigonométricas, e implícitas. 3) Você lembra se muitos alunos da sua turma também acharam o curso difícil? Resp: Acredito que não, o nível de aprovação foi elevado em comparação com as estatísticas que já vi, por exemplo, quando estava no departamento de matemática aplicada da UFRJ. 4) A matemática que você aprendeu na escola foi suficiente para encarar o curso de Cálculo 1 ou você acha que o desnível entre a terceira série do colégio e o primeiro semestre do curso universitário é grande demais. Resp: Essa pergunta vai ao encontro da minha resposta no item 2. Acredito que o currículo do ensino médio está cada vez mais focado em questões do tipo ENEM. Logo, conhecimentos importantes para o currículo do ensino superior estão sendo deixados de serem administrados. 5) A reprovação em Cálculo 1 é grande na maioria das faculdades. Você pode imaginar algumas causas para essa ocorrência? Resp: O descompasso do currículo do segundo grau que diminui com o tempo, e um currículo superior que visa inserir o aluno em um universo

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científico, que por definição é mais abrangente, compõe grande parte do problema. Além do mais, alunos cada vez mais imaturos, indisciplinados e com baixa capacidade de concentração estão ascendendo ao ensino superior, pois apresentam uma capacidade de raciocínio rápida condizente com a prova do ENEM. Porém, não apresentam a faculdade da disciplina acadêmica. 6) Se uma instituição desejar diminuir o índice de reprovação, qual seria, na sua opinião, a ação mais adequada seletiva aos alunos e aos professores? Resp: Uma boa abordagem é unificar as provas. Dessa forma, como já foi feita na UFRJ e na PUC, retira do professor a responsabilidade pela confecção da prova, apenas de vetor do conhecimento. Sendo assim, os alunos sabem que se não aprenderem irão ser reprovados, independentemente do aproveitamento da turma. A literatura sobre desempenho escolar eleva o impacto do peer efect (influência do grupo) no aprendizado do aluno. Ou seja, turmas mais homogêneas, e alinhadas ao bom aprendizado acabam afetando positivamente alunos desmotivados. Logo, premiação para a melhor turma, como bolsas em cursos de extensão, visitas guiadas à empresas e etc., condicionadas ao bom desempenho da turma, podem promover uma maior coesão e esforço do grupo. Entrevista 6 Perguntas – Cálculo1 As perguntas buscam detectar as dificuldades dos alunos e professores no curso de Cálculo 1 em vários cursos de diversas instituições. Professora: Leila Maria Vasconcelos Figueiredo Instituição: USP – Escola politécnica Curso: Engenharia 1) Nos últimos anos quais são os índices de reprovação em Cálculo 1? Resp: 30%. 2) Existem ações com o objetivo de diminuir esse índice?

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Resp: Não há ação oficial da universidade, mas há iniciativas pessoais. Nesse ponto, cada um que tem uma turma mais fraca procura ajudá-los de alguma forma. Às vezes conseguimos um monitor, um aluno mais adiantado e que tem bom relacionamento com os calouros. 3) Que carga horária possui o curso de Cálculo 1? Resp: 6 horas por semana. 4) Que dificuldades os professores relatam em ministrar o curso? Resp: Não há dificuldade, a disciplina é muito bem aceita na POLI. 5) Grande parte dos alunos do primeiro período tem reais dificuldades em Cálculo 1. Resp: Acredito que a maior dificuldade dos alunos é a de não serem preparados para pensar em cada problema. Parece que eles gostariam de que todos os problemas pudessem ser resolvidos do mesmo modo. Eles sempre perguntam: “é sempre assim que faz?” Deve ser reflexo do Ensino Médio. Há professores que dizem exatamente isso: “façam sempre dessa forma para não errarem, não inventem.” Há livros que também procedem dessa forma, quase adestrando o aluno a determinados procedimentos e induzindo o aluno a não pensar. É lamentável. Eles entram para a universidade com essa atitude em relação à Matemática. Não que tenham culpa, foram simplesmente mal preparados. Além disso, eles não são preparados também para argumentar, expor suas ideias e, muito menos fazer demonstrações. A própria palavra “demonstração” não é bem compreendida por eles no início. 6) Algum comentário adicional? Tenho ensinado cálculo na poli...Talvez lá seja um mundo diferente, pois grande parte dos alunos são bem preparados e gostam de Matemática...

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Anexo 2 – Programas de Matemática para o ensino superior

Programa do Vestibular do IME

Matemática

1. Teoria de Conjuntos: Noções elementares da teoria dos conjuntos. Subconjuntos. Operações: união, interseção, diferença e complementar. Conjunto universo e conjunto vazio. Domínio e contradomínio. Conjuntos numéricos: naturais, inteiros, racionais e irracionais, reais e complexos.

2. Funções: Conceito de funções. Funções injetoras, sobrejetoras e bijetoras. Funções inversa e composta. Funções pares e impares. Funções periódicas. Relações. Funções do 1º grau, quadrática, modular e máximo inteiro. Equações e inequações. Mínimo e máximo de uma função quadrática. Gráficos de uma função. Princípio da indução finita. Redução por absurdo. 3. Número Complexos: Representação: forma algébrica e trigonométrica. Operações fundamentais. Conjugado e módulo. Potencialização e radiciação. Extração de raízes. Fórmulas de Moivre. Resolução de equações binomiais e trinomiais. 4. Polinômios: Definição. Grau. Operações fundamentais. Identidades. Divisão por binômio de primeiro grau. Divisão de polinômios. Regra de Briot Ruffini. Raízes de polinômios. Relação entre coeficientes e raízes. Regra de Descartes. Teorema fundamental da álgebra. Fatoração e produtos notáveis. Máximo divisor comum de polinômios. Fórmula de Tayor. 5. Equações e Inequações Algébricas: Definição. Cálculo de raízes. Multiplicidade e número de raízes. Cálculo de raízes comuns e raízes múltiplas. Transformações aditiva e multiplicativa. Equações recíprocas. Teorema de Bolzano. Relação entre coeficientes e raízes. 6. Trinômio do 2º Grau: Decomposição em fatores do 1º grau. Sinais do trinômio. Inequações de 2º grau. 7. Progressões aritméticas e geométricas: Definição. Propriedades. Expressão do termo geral. Soma dos termos e produto dos termos. Interpolação

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aritmética. Interpolação geométrica. Progressão geométrica infinita. 8. Análise Combinatória, Probabilidade e Binômio de Newton: Princípio fundamental da contagem. Arranjos. Permutações. Combinações. Permutações com elementos repetidos. Probabilidade. Eventos e espaço amostral. Espaços amostrais contínuos e discretos. Lei da adição. Lei da multiplicação. Probabilidade condicional. Regra da probabilidade total. Binômio de Newton. 9. Matrizes, Determinantes e Sistema de Equações Lineares: Definição de matrizes e determinantes. Operações. Propriedades de matrizes e determinantes. Matriz inversa e transposta. Matrizes equivalentes. Matriz elementar e não singular. Matriz associada a um sistema de equações lineares. Resolução e discussão de sistemas lineares. Redução Gaussiana. Regra de Cramer. Teorema de Rouché-Capelli. 10. Logaritmos e Função Exponencial: Definição. Propriedades. Mudança de base. Característica e mantissa. Cologarítimos. Equações e inequações logarítmicas e exponenciais. 11. Trigonometria: Propriedades de ângulos e arcos. Conceito de arco e ângulo. Relações trigonométricas. Fórmula de adição, subtração e bissecção de arcos. Transformação de soma em produto. Redução ao primeiro quadrante. Funções trigonométricas e funções trigonométricas inversas. Equações e inequações trigonométricas. Sistemas de equações e inequações trigonométricas. Resolução de triângulos. 12. Geometria Analítica: Coordenadas cartesianas. Ponto. Distância entre pontos. Equação da reta. Paralelismo e perpendicularismo. Ângulo entre retas. Distância entre ponto e reta. Circunferência. Eixo radical. Elipse, parábolas e hipérboles. Lugares geométricos e interpretações de equações de 2° grau. Intercessões entre figuras geométricas. 13. Geometria Plana: Polígonos. Circunferências e círculos. Semelhança de triângulos. Relações métricas nos triângulos, polígonos regulares e círculos. Congruência de figuras planas. Áreas de polígonos, círculos, coroas e setores circulares. Lugares geométricos. Elipse, parábola e hipérbole. Linha poligonal. 14. Geometria Espacial: Retas, planos e suas posições relativas. Poliedros. Prismas, pirâmides e respectivos troncos. Cilindros. Cones. Esferas. Áreas e volumes. Projeções. Sólidos de revolução. Lugares geométricos.

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Objetos do conhecimento do ENEM

Matema ́tica e suas Tecnologias

• Conhecimentos numéricos – operações em conjuntos numéricos (naturais, inteiros, racionais e reais), desigualdades, divisibilidade, fatoração, razões e proporções, porcentagem e juros, relações de dependência entre grandezas, sequências e progressões, princípios de contagem.

• Conhecimentos geométricos – características das figuras geométricas planas e espaciais; grandezas, unidades de medida e escalas; comprimentos, áreas e volumes; ângulos; posições de retas; simetrias de figuras planas ou espaciais; congruência e semelhança de triângulos; teorema de Tales; relações métricas nos triângulos; circunferências; trigonometria do ângulo agudo.

• Conhecimentos de estatística e probabilidade – representação e análise de dados; medidas de tendência central (médias, moda e mediana); desvios e variância; noções de probabilidade. • Conhecimentos algébricos – gráficos e funções; funções algébricas do 1.o e do 2.o graus, polinomiais, racionais, exponenciais e logarítmicas; equações e inequações; relações no ciclo trigonométrico e funções trigonométricas.

• Conhecimentos algébricos/geométricos – plano cartesiano; retas; circunferências; paralelismo e perpendicularidade, sistemas de equações.