o ensino de ciências naturais em espaços não formais

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O ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAS EM ESPAÇOS NÃO FORMAIS* Ricardo Moreira de Queiroz 1 Hebert Balieiro Teixeira 2 Thaiany Guedes da Silva 3 RESUMO O presente texto é fruto de uma pesquisa realizada no Parque Municipal do Mindu localizado no perímetro urbano de Manaus, no bairro do Parque Dez de Novembro. O texto Desenvolve-se através da prática educacional, propiciando uma educação científica através dos espaços não formais. Desenha-se um movimento da fenomenologia dos processos/produtos didáticos baseados nas ciências (empíricas e teóricas). Aplicou-se este processo em situação concreta no ensino das Ciências. A conservação dos recursos naturais é imprescindível para uma melhor qualidade de vida e a educação em espaços não formais, vem de contraponto para o conhecimento científico e para conscientização do meio em que vivemos. A utilização desses espaços não formais de Ensino auxilia no processo de ensino e aprendizagem e torna as aulas nestes espaços, motivacionais e inspiradoras devendo o professor assumir o fazer pedagógico com a responsabilidade e de proporcionar ao estudante, o privilégio de construir o conhecimento científico. PALAVRAS-CHAVE: Espaços não formais. Conceitos científicos. Educação científica. Introdução Esta pesquisa abordou o parque do Mindu como um dos recursos naturais e metodológicos para a prática pedagógica do professor na formação do estudante, pois entendemos que o Ensino de Ciências deve privilegiar espaços de ensino não formais, que possibilitem ao estudante a ressignificação de saberes adquiridos no contexto da sua experiência, para um processo de aprendizagem através da junção entre a teoria com a prática. A utilização desses espaços não formais auxilia no processo de ensino e aprendizagem, sendo uma responsabilidade dos professores para com a educação, devendo estes assumir o fazer pedagógico com a responsabilidade de proporcionar ao estudante o privilégio de construir o conhecimento científico de forma prazerosa e signicativa. Pois a partir de uma visão geral do ecossistema o qual Odum (1983), nos fala, esclarecendo que a interação dos ambientes produz os * Trabalho publicado nos anais do I Simpósio de Educação em Ciências na Amazônia. Programada Pós-Graduação em Educação em Ciências na Amazônia. Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, Amazonas, Brasil. 2011. ISSN: 2237-146x 1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia. Bolsista FAPEAM. [email protected] 2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia. Bolsista CAPES. [email protected] 3 Acadêmica do Curso de Pedagogia, da Universidade do Estado do Amazonas. [email protected]

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O ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAS EM ESPAÇOS NÃO FORMAIS*

Ricardo Moreira de Queiroz1

Hebert Balieiro Teixeira2

Thaiany Guedes da Silva3

RESUMO

O presente texto é fruto de uma pesquisa realizada no Parque Municipal do Mindu localizado no

perímetro urbano de Manaus, no bairro do Parque Dez de Novembro. O texto Desenvolve-se

através da prática educacional, propiciando uma educação científica através dos espaços não

formais. Desenha-se um movimento da fenomenologia dos processos/produtos didáticos baseados

nas ciências (empíricas e teóricas). Aplicou-se este processo em situação concreta no ensino das

Ciências. A conservação dos recursos naturais é imprescindível para uma melhor qualidade de vida

e a educação em espaços não formais, vem de contraponto para o conhecimento científico e para

conscientização do meio em que vivemos. A utilização desses espaços não formais de Ensino

auxilia no processo de ensino e aprendizagem e torna as aulas nestes espaços, motivacionais e

inspiradoras devendo o professor assumir o fazer pedagógico com a responsabilidade e de

proporcionar ao estudante, o privilégio de construir o conhecimento científico.

PALAVRAS-CHAVE: Espaços não formais. Conceitos científicos. Educação científica.

Introdução

Esta pesquisa abordou o parque do Mindu como um dos recursos naturais e metodológicos

para a prática pedagógica do professor na formação do estudante, pois entendemos que o Ensino de

Ciências deve privilegiar espaços de ensino não formais, que possibilitem ao estudante a

ressignificação de saberes adquiridos no contexto da sua experiência, para um processo de

aprendizagem através da junção entre a teoria com a prática.

A utilização desses espaços não formais auxilia no processo de ensino e aprendizagem,

sendo uma responsabilidade dos professores para com a educação, devendo estes assumir o fazer

pedagógico com a responsabilidade de proporcionar ao estudante o privilégio de construir o

conhecimento científico de forma prazerosa e signicativa. Pois a partir de uma visão geral do

ecossistema o qual Odum (1983), nos fala, esclarecendo que a interação dos ambientes produz os

* Trabalho publicado nos anais do I Simpósio de Educação em Ciências na Amazônia. Programada Pós-Graduação em

Educação em Ciências na Amazônia. Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, Amazonas, Brasil. 2011. ISSN:

2237-146x 1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia. Bolsista FAPEAM.

[email protected] 2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia. Bolsista CAPES.

[email protected] 3 Acadêmica do Curso de Pedagogia, da Universidade do Estado do Amazonas. [email protected]

sistemas funcionais característicos, e que um sistema consiste em componentes interdependentes

que interagem regularmente e formam um todo unificado.

Entendemos que o professor deve aproveitar mais dos espaços não formais como recurso

metodológico para a produção e ampliação do conhecimento dos estudantes, tendo em vista que é a

partir da interação entre teoria e prática que o conhecimento floresce no estudante de forma mais

eficaz. Assim, podemos perceber a importância dos espaços não formais para melhor aliar seus

recursos aos conteúdos trabalhados em sala de aula, construindo com uma educação científica.

Segundo Rocha e Terán (2010) estes espaços não formai de educação não estão sendo totalmente

explorados, isto é, o professor ao levar seus alunos a este ambiente, não utiliza-se de todo potencial

educativo que ele pode proporcionar.

É saliente informar que, assim como no parque do Mindu, existem outros espaços não

formais que proporcionam a interação entre conhecimento inato, subjacente no estudante, e o

adquirido, pois a partir das bases científicas, o profissional da educação pode auxiliar o estudante a

compreender o que acontece ao seu redor de forma científica explorando o seu meio.

Breve histórico do Parque Municipal do Mindu

O Parque Municipal do Mindu, como local de educação científica, localizado no perímetro

urbano de Manaus, foi criado em 1992 com o objetivo de tornar-se uma área de interesse ecológico.

Administrado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Meio Ambiente – SEDEMA,

voltado às atividades científicas, educativas, culturais e turísticas, possui uma área de 330.000 m²

(33 ha) da mata remanescente dentro do Município de Manaus.

O local onde está instalado o Parque do Mindu é um dos últimos refúgios do sauim-de-

coleira, macaco ameaçado de extinção que existe na região de Manaus, bem como, de outros

animais da biosfera amazônica. Em 1996 a Prefeitura de Manaus implantou toda a infra-estrutura do

parque, através de um moderno projeto arquitetônico, bem integrado à floresta em forma e escala,

permitindo a perfeita interação entre homem e meio ambiente. Com a urbanização das trilhas,

tornou-se possível caminhar, com segurança, através de quatro ecossistemas distintos: mata de

capoeira secundária, mata de terra firme, mata de baixio; e áreas degradadas, que ainda sofreram

com a ação do homem, pois com o passar do tempo o espaço está sendo deteriorado pela própria

população ao poluir as áreas do igarapé. Ultimamente o Parque tem apresentado diversos problemas

estruturais por falta de um investimento em sua manutenção.

O Mindu possui biblioteca com um centro de informações sobre meio ambiente,

estacionamento, anfiteatro (atualmente em reforma) para cerca de seiscentas pessoas, canteiros de

ervas com propriedades medicinais e aromáticas, orquidário, trilha suspensa e sinalização.

A importância da educação científica nos espaços não formais

A prática pedagógica, sob a ótica da educação em espaços não formais, deve desenvolver-

se a partir da capacidade de observação do meio ambiente natural, cultural e artificial, de forma que

os estudantes possam descrever as inter-relações presentes neste ambiente, proporcionando uma

análise do processo desenvolvido no local da prática de campo.

Propomos a metodologia da educação científica em espaços não formais no ensino das

ciências por entendemos que: deve haver no estudante o reconhecimento das principais relações

entre os seres vivos, a compreensão de como ocorrem estas relações de sobrevivência e

dependência dos mesmos, a exploração e a observação deste ambiente, de forma a identificar os

efeitos da ação antrópica no meio ambiente. Esta compreensão na nossa concepção, só se dará

através de uma educação científica com base nos espaços não formais, pois os estudantes poderão

apropriar-se dos conceitos científicos teóricos da sala de aula e percebê-los na sua prática.

A observação deve seguir as orientações do professor, que ao escolher um ecossistema

adequado para o trabalho, levando em conta os conteúdos trabalhados em sala de aula, deve pedir

aos estudantes para observarem e descreverem as principais interações entre os seres vivos em seus

cadernos, relatando as observações realizadas referentes às relações harmônicas e desarmônicas

entre estes seres vivos. A partir daí, buscar entender na prática as relações entre os seres vivos. O

professor neste momento deve agir como mediador nesse processo, pois de acordo com Hard et.ali.

(2010), a função do professor é incentivar a observação, perguntar aos alunos o que eles notaram e

esclarecer dúvidas.

Os resultados de uma educação em espaços não formais

O Parque Municipal do Mindu proporciona ao professor, como ao estudante, a

oportunidade de observação a partir do portão de entrada, pois é um lugar em que podemos

encontrar animais andando normalmente no seu ecossistema. Ao adentrar nas “Trilhas da Vida”,

uma via construída de concreto, ela nos proporciona a oportunidade de sentir as relações

harmônicas e desarmônicas dos seres vivos em todo o percurso da prática educativa.

O processo de urbanização do parque modificou parte específica do ambiente,

caracterizado como um dos vários processos de modificações feitas pelo homem no ambiente

natural, sendo uma ação antrópica. Ainda nesse processo de modificação ambiental, observa-se

infelizmente, vários materiais plásticos como garrafas, entre outros materiais jogados ao redor das

trilhas do parque e nos leitos do igarapé do parque.

É importante que o estudante veja esta situação do parque para que, como nos diz

Cachapuz [et al.] (2005, p. 09), “há uma necessidade de uma educação científica para todos os

cidadãos, [...] propondo um ensino que vá além da tradicional transmissão de conhecimentos

científicos favorecendo deste modo a participação dos cidadãos na tomada fundamentada de

decisões”. É a partir do conhecimento de algo que o estudante poderá tomar as decisões certas para

o futuro.

Observam-se as diversas espécies na descida da “trilha das bandeiras”, percebe-se grande

variedade de biodiversidade. É neste momento, reconhecendo as principais relações entre os seres

vivos e procurando compreender como ocorrem as suas relações de sobrevivência através da

exploração deste ambiente, que o professor deve explorar o estudante para que percebam “os

indivíduos das diferentes espécies de uma comunidade biológica que interagem entre si e com

fatores físicos e químicos do ambiente.” (PROFORMAR, 2000, p.87).

É nesta interação com o meio que o estudante perceberá as sociedades que se caracterizam

pela divisão de trabalho e por uma grande solidariedade entre seus membros, como no caso das

sociedades das abelhas, das formigas, e dos cupins. Para Odum (1983, p. 254), “o habitat de um

organismo é o lugar onde ele vive, ou o lugar para onde ele vive, ou o lugar para onde alguém iria

para procurá-lo”, desta feita, o estudante poderá, na sua prática educativa, compreender que a

relação que ocorre entre os cupins é uma relação de sociedade.

As relações entre espécies existentes no parque

O parque proporciona ao estudante a oportunidade de ver dois tipos de ecossistemas, a

parte de floresta ambrófita (floresta fechada) e uma área de campinas, propiciando um

conhecimento que só pode ser vivenciado na prática.

Sabe-se que em um ecossistema existem várias relações entre indivíduos de espécies

diferentes, a qual o estudante poderá percebê-las com o auxílio do seu professor, como no caso do

mutualismo onde as duas espécies envolvidas são beneficiadas e a associação é necessária para a

sobrevivência de ambas.

Já nas relações de predação, um animal captura e mata outro de espécie diferente para se

alimentar, sendo uma relação ecológica que freqüentemente envolve espécies de diferentes níveis

tróficos e ocorre quando o predador, espécie caçadora, alimenta-se da presa. Normalmente as presas

estão situadas na cadeia alimentar em um nível trófico abaixo do predador.

Na relação da camuflagem, como em todo ecossistema, é usada por vários animais para se

protegerem de animais maiores, ou então, sendo uma estratégia para surpreenderem as presas, como

é o exemplo do jacaré que fica à espreita na água ou no leito do igarapé aguardando sua presa.

No inquilinismo, por sua vez, uma espécie “inquilina” vive sobre ou no interior de uma

espécie que lhe serve de suporte sem prejudicá-la. Este tipo de relação se estabelece entre animais e

indivíduos de espécies diferentes onde apenas uma espécie se beneficia sem, no entanto, prejudicar

a outra espécie associada. O inquilino (espécie beneficiada) obtém abrigo ou ainda suporte no corpo

da espécie não beneficiada.

Na relação harmônica, pode-se observar a relação de Coevolução que ocorre quando as

populações de duas ou mais espécies interagem e cada espécie pode evoluir em resposta àquelas

características da outra que afetam o seu ajustamento evolutivo.

Na prática educativa o estudante poderá também com auxílio do seu professor, observar a

relação de Protocooperação, isto é, uma relação entre indivíduos de espécies diferentes onde as

duas espécies envolvidas são beneficiadas, porém elas podem viver de modo independente sem que

isso possa prejudicá-las.

Além da relação de protocoperação, a relação de Colônia pode ser percebida, sendo

relações entre indivíduos da mesma espécie. Nas colônias os indivíduos são ligados fisicamente

entre si. Aqui, a relação de trabalho pode acontecer ou não.

Na relação de Comensalismo que é uma relação entre indivíduos de espécies diferentes

apenas uma das espécies se beneficia sem, no entanto, prejudicar ou beneficiar a outra espécie

envolvida. Neste tipo de relação, o comensal se alimenta daquilo que é retirado pela outra espécie.

Nesta pesquisa foi observada uma planta que se fixava num tronco de arvore e por isso

compreendemos que seja uma relação de Epifitismo, sendo uma relação que se estabelece entre

vegetais. Um exemplo desse tipo de relação é o das bromélias e orquídeas que se fixam no tronco

das arvores.

Por outro lado, é encontrado no parque as relações desarmônicas que existem entre os seres

vivos, como a relação de competição que é uma relação em que, indivíduos da mesma espécie ou

indivíduos de espécies diferentes, disputam por recursos do meio que não existem em quantidade

suficiente para todos, os indivíduos podem competir por alimento, território, luminosidade, etc.

Pode ser observada ainda uma relação de canibalismo, sendo uma relação entre indivíduos

de mesma espécie. No canibalismo, um animal mata o outro para se alimentar, como o caso dos

jacarés.

Ainda dentro das relações desarmônicas existe também a conhecida como Parasitismo.

Estas acontecem entre indivíduos de espécies diferentes, onde uma espécie é beneficiada e a outra é

prejudicada, mas que infelizmente não foi possível encontrar nesta pesquisa. O Parasitóide é o

termo aplicado às vespas e moscas cujas larvas consomem os tecidos de hospedeiros vivos –

normalmente os ovos, larvas e pupas de outros insetos. Esta estratégia inevitavelmente leva a morte

do hospedeiro, mas não antes que a larva do parasitóide tenha impupado.

Todas essas relações existentes entre os seres vivos podem ser exploradas numa aula

prática educativa com mais eficácia do que em uma aula tradicional e expositiva. O conhecimento a

priori do local a ser realizado na prática, é de suma importância para se alcançar uma educação

científica de qualidade. Os espaços não formais não institucionalizados podem se tornar uma das

mais diversas ferramentas para se construir uma aprendizagem científica por sua interação com o

meio. Diversos educadores, por desconhecer as características dos espaços não formais de sua

comunidade, Estado, País, não utilizam totalmente o seu potencial educativo e acaba por aliar, esta

prática educativa a passeio e recreação deixando escapar a oportunidade de se construir, a partir

daquele instante vivenciado, uma educação científica.

Os impactos ambientais existentes no parque

O art. 225 da Constituição Federal de 1988 diz que “todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as futuras

gerações”. No seu § 3º diz, ainda, que “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio

ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,

independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.

Apesar destas advertências, nem o Estado, nem o Município, através de órgãos próprios,

conseguiram impor serviços de vigilância e normas ambientais severas que possam assegurar o

equilíbrio ecológico do igarapé que corta o Parque Municipal do Mindu.

Os resíduos ambientais, as erosões, poluição do solo e da água, lixo e esgoto a céu aberto,

despejos de dejetos domésticos e industriais nas águas poluídas, são verdadeiros cartões postais de

um dos setores mais belos do parque, as cachoeiras. Este ambiente já foi um dia limpo e possuía

diversos animais, contudo os animais que ali ainda vivem, estão sob forte ameaça de extinção

devido à resíduos sólidos e químicos despejados na água por industrias que se situam próximo ao

parque. Todo este material se espalha pela vegetação que circunda o igarapé, trazidos pela

enxurrada durante o período da cheia. A água contaminada diminui a oxigenação das águas que

impossibilitam a vida de peixes nos rios. Poluição demais acarreta consumo maciço de oxigênio do

curso de água, que mata os peixes, não por toxidade, mas por asfixia” (VERNIER, 2004, p.17), e o

rio poluído, afeta não só os peixes, mas também todo o ecossistema como um todo.

Na época da seca, estes resíduos ficam à mostra, entremeando-se nas matas de igapó,

destacando-se as garrafas pet’s, sacos plásticos, camisinhas, latas de refrigerantes, colchões e

materiais de construção entre outros que formam o conjunto de elementos alheios ao ambiente e que

reclamam por melhoria e recuperação do meio ambiente e proteção à biótica dos seres aquáticos. A

Lei Estadual nº 1532 de 06 de julho de 1982 garante ao meio ambiente um conjunto de condições,

influência e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em

todas as suas formas.

As águas do igarapé do Mindu estão em estado de degradação. A água que flui é de cor

barrenta (água branca), com elevadas quantidades de sedimentos argilosos e espumas que fluem em

suspensão. No seu curso dentro do parque, o igarapé recebe constantemente carga de matéria

orgânica, a diminuição a até a ausência da mata ciliar, a estagnação da água em trechos específicos

do igarapé, contribuem na alternação do metabolismo do sistema aquático, acelerando os processos

de decomposição da matéria orgânica repercutindo, por sua vez, no consumo acelerado e

conseqüentemente depleção de oxigênio dissolvido.

A área ao longo do igarapé do Mindu é coberta por floresta primária de terra firme, mata

de baixo que pode sofrer inundações quando os igarapés apresentam suas vazões aumentadas nas

épocas chuvosas, campinas, capoeira (vegetação secundária) e áreas degradadas. No seu curso

intermediário, a maior parte da vegetação encontrada atualmente é composta por representantes da

floresta secundária, com vários estágios de formação. Podemos relacionar diversas espécies como:

jatobazeiro, muricizeiro, tucumãzeiro, cupiúba, carapanaubeira, embaubeira, marupazeiro, além de

trechos com canaranas e buritizeiros.

Os espaços de educação não formal proporcionam uma maior aproximação do ensino de

ciências à realidade vivida. Ao utilizar os esses espaços urbanos são oportunizados uma educação

científica que aproxime este conhecimento com a realidade do cidadão, como é visto através do

conhecimento adquirido por meio de uma prática educacional em espaços não formais, como é o

caso do Parque do Mindu, o que acarreta a necessidade de inseri-los nos programas das escolas

como complemento ao ensino formal, visto que os espaços das escolas não dispõem de áreas verdes

ou até de mesmo de áreas amplas que permitam aos alunos explorar este contato direto com a

natureza.

Com as observações realizadas durante visita ao Parque Municipal do Mindu, pode-se

constituir uma melhor maneira de delimitar a ecologia moderna, considerando-se o conceito de

níveis de organização e interação dos seres vivos e suas relações harmônicas. São os genes, células,

organismos, comunidades, população, ecossistema e biosfera, termos largamente empregados para

denominar os principais níveis bióticos, mostrados num arranjo hierárquico do maior ao menor.

A interação em cada nível com o ambiente físico (energia e matéria) produz os sistemas

funcionais característicos. Conforme Odum (1983), um sistema consiste em “componentes

interdependentes que interagem regularmente e formam um todo unificado”. Da mesma forma, a

comunidade biótica, inclui todas as populações que ocupam uma dada área. A isto chamamos de

sistema ecológico ou ecossistema, isto é, qualquer unidade (biossistema) que abranja todos os

organismos que funcionam em conjunto (a comunidade biótica) numa dada área, interagindo com o

ambiente físico de tal forma que um fluxo de energia produza estruturas bióticas claramente

definidas e uma ciclagem de materiais entre as partes vivas e não-vivas.

Ecossistema é a unidade funcional básica na ecologia. Já bioma é um termo conveniente,

largamente usado, para denominar um grande biossistema regional ou subcontinental caracterizado

por um tipo principal de vegetação ou outro aspecto identificador da paisagem. Com isso, biosfera

inclui todos os organismos vivos da terra que interagem com o ambiente físico como um todo, para

manter um sistema de estado contínuo, intermediário no fluxo de energia entre a entrada de energia

de origem solar e o dissipador térmico do espaço.

Ademais, o meio ambiente do Parque Municipal do Mindu é dotado de outras estruturas

“integrados pelo conjunto de bens, instrumentos e meios, de natureza material e imaterial, em face

dos quais o ser humano exerce as atividades laborais”. É uma área, conforme a Constituição Federal

de 1988, dividida em físico ou natural, cultural, artificial e do trabalho.

Desta feita, o professor deve utilizar-se deste biossistema para estimular os seus alunos a se

interessar mais sobre o ensino das ciências naturais, pois, é através da prática o aluno aprenda mais

sentindo a natureza e não ensinar os assuntos naturais da mesma forma metódica e tradicional

fazendo com que o seu aluno se desinteresse do conteúdo ministrado pelo professor.

Este trabalho é de grande relevância para o desenvolvimento do aluno, principalmente

quando se trata de uma pesquisa que possibilita a observação e a identificação de diferentes

interações entre seres vivos que habitam o Parque Municipal do Mindu. Desta forma a prática em

espaço educativo como este poderá ampliar os conhecimentos sobre os assuntos trabalhados em

sala, permitindo também estudar as relações harmônicas e desarmônicas no contexto amazônico. A

prática da pesquisa de campo é a oportunidade de vivenciar a teoria na prática podendo ser usado

pelos docentes em sua prática em sala de aula com os seus alunos.

Considerações finais

Numa análise dos procedimentos do ensino desenvolvidos no percurso da experiência de

aprendizagem no campo, verifica-se que um roteiro pré-estabelecido facilita sobremaneira o

desenvolvimento maturacional do estudante concernente ao conhecimento científico. Sabendo que

os parques urbanos de Manaus fazem parte do cotidiano dos habitantes desta cidade, é um erro não

se utilizar destes recursos como metodologia para ensino das ciências naturais.

Após a prática de observação pretendida com a visitação no Parque Municipal do Mindu,

temos a concluir que a relação dos seres vivos do parque do Mindu tem sofrido constante agressões

pelo homem, sendo que, estas ações são contraditórias pois se de um lado a comunidade busca

preservar as relações das espécies ameaçadas de extinção, por outro, se vê um quadro de agressão às

espécies com a poluição dos igarapés e com os lixos no solo. Contudo, esta prática educacional

deve ser realizada com freqüência pelos professores, tendo em vista, que proporcionarão ao

estudante uma visão mais ampla das relações entre os seres vivos de suas mais variadas formas

como as relações harmoniosas e as relações desarmônicas, pois os alunos estarão vivenciando e

observando de perto, estas relações.

Os estudantes após um contato direto com a natureza através das aulas práticas realizadas

em espaço não formal poderá sensibilizar-se sobre a conservação dos recursos naturais,

principalmente florestas, solos e água, tão imprescindíveis para uma melhor qualidade de vida para

todos os seres humanos.

Referências

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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>, Acesso em:

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CACHAPUZ, António. et. al. A necessária renovação do Ensino de Ciências. São Paulo: Cortez,

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HARD, Helen [et. ali]. Ensino de Ciências. 2ª Ed. Cidade: Artmed, 2010,

ODUM, E. P. Ecologia. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A., 1983.

PROFORMAR. Ciências Naturais. Manaus: Universidade do Estado do Amazonas, 2006.

ROCHA, Sônia Cláudia Barroso da. TERÁN, Augusto Fachín. O uso dos espaços não formais

como estratégia para o ensino de ciências. Manaus: Universidade do Estado do Amazonas;

Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia; Mestrado em Ensino

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VERNIER, Jaques. O meio ambiente. 6. Ed. São Paulo: Papirus, 2004.