o ensino da língua portuguesa 1ª aula 04
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O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA
ANTUNES, Irandé. Aula de Português. Encontro & interação. São Paulo: Parábola, 2003.
REFLETINDO SOBRE A PRÁTICA DA AULA DE PORTUGUÊS
Persistência de uma prática pedagógica que, em muitos aspectos, ainda mantém a perspectiva reducionista do estudo da
palavra e da frase descontextualizadas.
Consequências: insucesso escolar, aversão às aulas de português, repetência e evasão escolar.
“É evidente que causas externas à escola interferem, de forma decisiva, na determinação desse resultado.”
“É possível documentar, atualmente, uma série de ações que instituições governamentais, em todos os níveis, têm empreendido a favor de uma escola mais formadora e eficiente.”
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) .
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) – avalia o desempenho escolar de alunos de todas as regiões do país.
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (PCN)
Privilegiam a dimensão interacional e discursiva da língua e definem o domínio dessa língua como uma das condições para a plena participação do indivíduo em seu nível social.
Estabelecem que os conteúdos de língua portuguesa devem se articular em torno de dois grandes eixos: o do uso da língua oral e escrita e o da reflexão acerca desses usos. Nenhuma atenção é concedida aos conteúdos gramaticais, na forma e na sequência tradicional das classes de palavras, tal como aparecia nos programas de ensino de antes.
SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA (SAEB)
Em relação ao SAEB, a orientação não é diferente: os pontos – chamados de descritores – que constituem as matrizes de referência para a elaboração das questões das provas – contemplam explicitamente apenas um conjunto de habilidades e competências em compreensão e nada de definições ou classificações gramaticais.
PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO (PNLD)
Vale ressaltar também o trabalho que é realizado pelo programa, que pelo menos em relação à língua portuguesa, tem oferecido ótimas pistas para a produção de manuais de ensino.
CONSTATAÇÕES SOBRE O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Oralidade Escrita Leitura Gramática
O TRABALHO COM A ORALIDADE
Uma quase omissão da fala como objeto de exploração no trabalho escolar;
Uma equivocada visão da fala, como o lugar privilegiado para violação de regras da gramática;
Uma concentração das atividades em torno dos gêneros da oralidade informal, peculiar às situações da comunicação privada. (predominam os registros coloquiais).
O TRABALHO COM A ESCRITA
A prática de um escrita mecânica e periférica, centrada, inicialmente, nas habilidades motoras de produzir sinais gráficos e, mais adiante na memorização pura e simples de regras ortográficas.
A prática de uma escrita artificial e inexpressiva: exercícios de criar listas de palavras soltas, formar frases.
A prática de uma escrita sem função, destituída de qualquer valor interacional, sem autoria e sem recepção (apenas para exercitar).
A prática de uma escrita que se limita a oportunidades de exercitar aspectos não relevantes da língua. (fixação de exercícios de separação silábica, encontros vocálicos e consonantais...)
A prática de uma escrita improvisada, sem planejamento e sem revisão.
O TRABALHO COM A LEITURA
Uma atividade de leitura centrada nas habilidades mecânicas de decodificação da escrita;
Uma atividade sem interesse, sem função, pois aparece inteiramente desvinculada dos diferentes usos sociais que se faz da leitura atualmente; Uma atividade puramente escolar, sem gosto, sem prazer, convertida em momento de treino, de avaliação ou em oportunidade para futuras cobranças;
Uma atividade de leitura cuja interpretação se limita a recuperar os elementos literais e explícitos presentes na superfície do texto.
Uma atividade incapaz de suscitar no aluno a compreensão das múltiplas funções sociais da leitura (muitas vezes o que se lê na escola não coincide com o que se precisa ler fora dela);
Uma escola “sem tempo para leitura”.
O TRABALHO COM A GRAMÁTICA
Uma gramática descontextualizada, desvinculada dos usos reais da língua escrita ou falada na comunicação do dia a dia.
Uma gramática fragmentada, de frases inventadas, da palavra e da frase isoladas, sem sujeitos interlocutores, sem contexto, sem função; frases para virar lição, para virar exercício;
Uma gramática da irrelevância, com primazia em questões sem importância para a competência comunicativa dos falantes.
Uma gramática voltada para a nomenclatura e a classificação das unidades; portanto, uma gramática dos “nomes” das unidades, das classes e subclasses dessas unidades (e não das regras de seus usos).
EXPLORANDO A GRAMÁTICA
“...toda língua tem sua gramática, tem seu conjunto de regras, independentemente do prestígio social ou do nível de desenvolvimento econômico e cultural da comunidade em que é falada. Quer dizer, não existe língua sem gramática.”
“Aprender uma língua é, portanto, adquirir, entre outras coisas, o conhecimento das regras de formação dos enunciados dessa língua. Quer dizer, não existe falante sem conhecimento de gramática.”
Regras da gramática ≠ regras do uso da gramática
“A escola perde muito tempo com questões de mera nomenclatura e de classificação, enquanto o estudo das regras dos usos da língua em textos fica sem vez, fica sem tempo.”
“...a questão maior não é ensinar ou não ensinar gramática. Por sinal, essa nem é uma questão, uma vez que não se pode falar nem escrever sem gramática. A questão maior é discernir sobre o objeto do ensino: as regras (mais precisamente as regularidades) de como se usa a língua nos mais variados gêneros de textos orais e escritos.”
REPENSANDO O OBJETO DE ENSINO DE UMA AULA DE PORTUGUÊS
Antunes lembra que o professor parece estar acostumado a esperar que lhe digam o que fazer. Ressalta sobre a importância do professor ser visto (inclusive pelas instituições competentes) como alguém que, com os alunos (e não para os alunos), pesquisa, observa, levanta hipóteses, analisa, reflete, descobre, aprende, reaprende.
É POSSÍVEL CONSTATAR QUE AS COISAS ACONTECEM MAIS OU MENOS ASSIM:
Conteúdo: pronome
Seleção das definições e classificações
Escolha de um texto em que apareçam pronomes, para nele identificar suas várias
ocorrências e classificá-las conforme a nomenclatura gramatical.
O texto não é objeto de estudo
MAS DEVEM SER ASSIM:
Estudo, análise e compreensão do TEXTO
Ativação das noções e saberes gramaticais e lexicais que são necessários para a
compreensão.
O texto é que vai condicionar a escolha das atividades pedagógicas.
COMO SERIAM AS AULAS DE PORTUGUÊS?
Seriam aulas de:
Falar Ouvir Ler, e Escrever textos em língua portuguesa.
PARA O DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES DE FALAR E OUVIR, OS ALUNOS, COM A INTERVENÇÃO DO PROFESSOR, PODERIAM:
Contar histórias, inventando-as ou reproduzindo-as;
Relatar acontecimentos; Debater, discutir, acerca dos temas mais
variados; Argumentar(concordando e refutando) Emitir opiniões; Justificar ou defender opções tomadas; Criticar pontos de vista de outros;
Colher e dar informações; Fazer e dar entrevistas; Dar depoimentos; Apresentar resumos; Expor programações; Dar avisos; Fazer convites; Apresentar pessoas etc.
“... Fazer os alunos perceberem as diferenças (lexicais, sintáticas, discursivas) que caracterizam a fala formal e a fala informal, destacando-se assim a variabilidade de atualização que a língua pode receber, de acordo com as diferenças concretas da situação comunicativa.”
PARA O DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA DE ESCREVER, O PROFESSOR PODERIA PROVIDENCIAR OPORTUNIDADES PARA OS ALUNOS PRODUZIREM:
Listas (de materiais, de livros, de assuntos estudados, de eventos realizados etc.);
Pequenas informações aos pais e a outras pessoas da comunidade escolar;
Programações de atividades curriculares e extracurriculares;
Convites; Avisos; Cartas; Anotações de ideias; Pequenas narrativas; Conclusões de debates;
Informações sobre a cidade, o bairro, a escola, lugares visitados, eventos;
Cartazes; Instruções diversas; Projetos de pesquisa; Resultados de consultas bibliográficas, de pesquisa
de campo; Esquemas, resumos, sínteses, resenhas; Relatórios de experiências ou de atividades
realizadas; Solicitações; Requerimentos; Saudações; Atas; Poemas; Mensagens eletrônicas; E outros textos em uso no momento.
É evidente que a escolha desses diferentes gêneros de texto deverá
acontecer, gradativamente, na dependência do grau de desenvolvimento
que os alunos vão demonstrando.
A LEITURA PODERIA ABRANGER TODOS ESSES TEXTOS PRODUZIDOS PELOS ALUNOS, ALÉM DE:
Histórias, com ou sem gravuras e em quadrinhos;
Fábulas; Contos; Crônicas; Editoriais; Comentários ou artigos de opinião; Notícias de jornal; Poemas; Avisos;
Folhetos; Cartazes; Adivinhas; Anedotas; Provérbios populares; Charadas; Mapas, tabelas e gráficos; Anúncios e mensagens publicitárias; Instruções; Esquemas; Resumos; Lições de outras disciplinas etc.