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ICTR 2004 – CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Costão do Santinho – Florianópolis – Santa Catarina Realização: ICTR – Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento Sustentável NISAM - USP – Núcleo de Informações em Saúde Ambiental da USP menu ICTR2004 | menu inicial PRÓXIMA O EMPREGO DE CASCALHO ALUVIAL COMO AGREGADO EM CONCRETO Kleber da Silva Mendes Lindolfo Soares

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ICTR 2004 – CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Costão do Santinho – Florianópolis – Santa Catarina

Realização:

ICTR – Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento SustentávelNISAM - USP – Núcleo de Informações em Saúde Ambiental da USP

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O EMPREGO DE CASCALHO ALUVIAL COMO AGREGADO EM CONCRETO

Kleber da Silva MendesLindolfo Soares

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O EMPREGO DE CASCALHO ALUVIAL COMO AGREGADO EM CONCRETO

Objetivo O principal objetivo do trabalho foi viabilizar a utilização do rejeito das minerações de areia do Reservatório de Barra Bonita (cascalho) como agregado graúdo em concreto, através da execução de ensaios tecnológicos usualmente empregados para tal fim, normalizados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e American Society for Testing and Materials (ASTM). Subordinadamente, procedeu-se à avaliação da viabilidade econômica, bem como dos impactos ambientais e sociais relacionados à sua efetiva utilização. Metodologia Para definição dos objetivos elencados, procedeu-se à caracterização tecnológica do agregado, in natura e após tratamento, onde, após a detecção de características nocivas ao emprego inicialmente objetivado, foram efetuados testes para a correção desta característica e definição do ligante a ser utilizado. Após esta definição, desenvolveu-se um estudo comparativo de concretos, através do Método de Dosagens do IPT, elaborando-se quatro dosagens com diferenças marcantes em relação aos percentuais e à natureza dos agregados utilizados. Estabeleceu-se como dosagem padrão para comparação uma mistura elaborada com materiais atualmente empregados na região fornecedora do material objeto de estudo. Resultados alcançados De acordo com a comparação dos resultados obtidos entre as dosagens experimentais e a dosagem padrão, conclui-se pela viabilidade técnica de utilização do mesmo, atestando inclusive sua competitividade comercial para, após passar por um processo simples de beneficiamento, poder ser utilizado sem restrições em massas de concreto. Especial atenção deve ser dada ao tipo de cimento a ser utilizado, notadamente no que diz respeito ao controle das reações expansivas passíveis de ocorrência quando da utilização destes tipos de agregados. Ressalta-se que, em termos ambientais, o emprego do material representa a diminuição e posterior ausência de pilhas de estocagem, reduzindo também os impactos ambientais associados a elas. Palavras-chave rejeitos de mineração, agregados para concreto, reação álcali-agregado

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O EMPREGO DE CASCALHO ALUVIAL COMO AGREGADO EM CONCRETO

Kleber da Silva Mendes1 e Lindolfo Soares2

Resumo: As minerações localizadas às margens do Reservatório de Barra Bonita, porção central do Estado de São Paulo, produzem conjuntamente mais de 100.000 m3 de areia por mês e volumes da ordem de 75 mil m3 anuais de cascalho aluvial que, via de regra, é considerado rejeito das minerações de areia, não possuindo valor agregado algum. Atualmente, o cascalho encontra-se disposto em pilhas a céu aberto, ocupa consideráveis áreas e caracteriza-se como uma fonte potencial de geração de uma série de impactos ambientais. Para verificação de sua competência como agregado em concreto, diversos ensaios de caracterização normalizados foram executados e, após a identificação de um comportamento químico inadequado do material, que induz a ocorrência de reações expansivas do tipo álcali-agregado, procedeu-se à pesquisa de materiais suficientemente capazes de inibir ou minimizar a níveis aceitáveis esta particularidade do material. Definido o tipo de inibidor a ser utilizado (cimento pozolânico), partiu-se então para o desenvolvimento de estudos de dosagens, utilizando-se o cascalho aluvial em substituição à brita de basalto (material tradicionalmente empregado para esta finalidade na região), obtendo-se interessantes resultados em termos técnicos, econômicos e ambientais. Palavras-chave: rejeitos de mineração, agregados para concreto, reação álcali-agregado 1. INTRODUÇÃO A busca por soluções ambientalmente sustentáveis nos diversos setores tecnológicos reflete uma das principais linhas de pesquisa deste início de século, onde não somente o produto deve merecer especial atenção, mas também todos os elementos periféricos associados a seu beneficiamento, tais como o suprimento de matérias-primas e os processos associados à sua obtenção, o circuito industrial e os materiais combustíveis necessários ao processamento do produto, bem como os materiais indesejados oriundos do processo (efluentes líquidos e gasosos, resíduos sólidos, etc.). Cada vez mais a tentativa de se chegar a uma utilização adequada destes materiais, de modo que a sua disposição seja um ato ambientalmente responsável, requer o empenho de profissionais de distintas áreas tecnológicas e, ano a ano, projetos de tratamento, disposição e de utilização deles vêm sendo elaborados, implantados e monitorados. Neste sentido, e observando uma dificuldade de aplicação dos rejeitos (cascalhos) gerados pela indústria de areia na região do reservatório de Barra Bonita é que foi proposto o estudo consubstanciado neste trabalho. Atualmente, o material considerado como rejeito do beneficiamento da areia produzida na região é estocado em pilhas a céu aberto e, muitas vezes, ocupa áreas de estocagem

1 Doutor em Engenharia Mineral, Consultor em Mineração e Meio Ambiente 2 Professor Doutor do Depto. de Engenharia de Minas, Escola Politécnica, USP

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superiores às utilizadas para estocagem do minério beneficiado. Por não apresentarem uma caracterização tecnológica adequada e possuírem uma composição mineralógica favorável à ocorrência de reações expansivas, quando utilizados como agregados em massas de concreto, são sub-utilizados, sendo no máximo, empregados para regularização de acessos internos às minerações e estradas vicinais, fato que restringe sobremaneira a sua efetiva comercialização. Deste modo, pretendeu-se, com o desenvolvimento deste trabalho, viabilizar a utilização destes rejeitos como agregado graúdo em concreto massa através da avaliação de sua competência em termos tecnológicos, da avaliação da viabilidade econômica de sua utilização e de uma discreta análise ambiental dos impactos gerados diretamente pela sua disposição. 2. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO As jazidas estudadas localizam-se no antigo leito do rio Piracicaba, atualmente submerso pelo Reservatório de Barra Bonita, nos municípios de Anhembi, Santa Maria da Serra e Piracicaba (Figura 1), Estado de São Paulo. São delimitadas pelas coordenadas UTM 123.000 a 124.000 N e 7.341.000 e 7.342.000 E.

BRASIL

SÃO PAULO

MINAS GERAIS

MATOGROSSODO SUL

PARANÁ

São Paulo

Reservatório de Barra Bonita

Figura 1 - Localização das jazidas onde foram obtidos os materiais utilizados neste trabalho.

É uma região em franco processo de urbanização e expansão, onde o consumo de agregados para construção civil – especificamente areia e brita – vem crescendo ao longo dos últimos anos. Dados da Associação Nacional das Entidades Produtoras de Agregados para Concreto (1) indicam que o consumo de agregados pode ser indicativo do nível de desenvolvimento econômico de um país, já que em países industrializados este consumo é da ordem de 7 a 12 t/hab ano, ao passo que a média do Estado de São Paulo é de 4 t/hab ano (2).

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3. CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA PRODUTIVO Os equipamentos utilizados atualmente para a lavra de areia no Reservatório de Barra Bonita dizem respeito a embarcações com capacidade de carga variável, desde 50 até mais de 150 m3 de areia, que operam pelo método de dragagem direta por sucção dos sedimentos. A empresa fornecedora do material objeto deste estudo conta com 02 barcos transportadores de 120 e 90 m3 e dois rebocadores para estas embarcações, além de uma draga estacionária, capaz de dragar 100 m3/h, que faz o descarregamento dos barcos. O beneficiamento consiste basicamente na classificação granulométrica e no desaguamento do material. A classificação granulométrica é a etapa responsável pela adequação do material dragado aos limites granulométricos estabelecidos pela norma NBR-7211 – Agregados para Concreto (3), ou seja, entre 4,8 e 0,15 mm. Por sua vez, a etapa de desaguamento é a responsável pela eliminação dos finos, material passante na malha 0,15 mm, indesejável para utilização em concretos convencionais. Sendo assim, a polpa bombeada pela draga estacionária é direcionada a uma peneira de malha +4,8 mm, cujo material retido, cascalho, é direcionado a um silo e posteriormente a uma pilha de estocagem a céu aberto - este material constitui-se basicamente de areia e cascalho. O material passante é direcionado a uma caixa desaguadora que faz a classificação hidráulica da polpa, retendo areia nas frações média e grossa e deixando passar as frações de areia fina e silte. A areia média e grossa é então destinada a pilhas de estocagem e a fração fina (areia + água + finos) é direcionada a um tanque de decantação, cuja água clarificada, após a sedimentação das partículas, é redirecionada ao Reservatório de Barra Bonita. A expedição da areia apta ao comércio é executada diretamente por pás-carregadoras convencionais, através da retomada das pilhas de estocagem, direcionando o material a caminhões de terceiros. 4. CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA DO MATERIAL Prevendo o uso do cascalho como agregado para concreto, diversos ensaios foram executados para averiguação de sua competência, notadamente a determinação da composição granulométrica, a classificação litológica, determinação dos índices físicos e da forma do fragmento, verificação da abrasão Los Angeles, bem como a determinação do seu comportamento químico. Face à análise dos resultados obtidos nestes ensaios, observou-se que o material em estado bruto apresenta uma grande concentração de partículas nas frações –19 +4,8 mm, ou seja, pertencente à graduação 1 e 2, o que facilita o seu processo de aproveitamento, uma vez que estas frações são as mais utilizadas nas estruturas civis às quais se pretende empregar o material. Tal fato é corroborado pela quantidade de materiais deletérios ou potencialmente deletérios observados nas diferentes faixas granulométricas estudadas. É fato que, conforme o decréscimo da granulometria, também decresce percentualmente a quantidade destes materiais nocivos (sílica amorfa) presentes na amostra. Com respeito aos índices físicos do material, à resistência à abrasão Los Angeles e às impurezas presentes nas amostras, não foram obtidos valores impeditivos à utilização do agregado em concretos convencionais. A forma da partícula, importante característica do agregado, face à sua importância tanto para o concreto

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no estado fresco quanto no estado endurecido, apresentou-se como sendo cúbica e também não apresentou restrições ao seu emprego. Desta forma, conclui-se que as características físicas do material são compatíveis e competentes à sua utilização como agregado graúdo para concreto. Entretanto, tal competência não é observada quando se atenta ao comportamento da amostra frente aos ensaios químicos, onde se constatou que, na verdade, o material é extremamente reativo aos álcalis do cimento, sendo portanto, impeditivo o seu uso como agregado para concreto sem que sejam tomadas algumas medidas para frear a ocorrência das reações expansivas, extremamente prejudiciais às obras civis, uma vez que no sexto dia de ensaio o corpo-de-prova já havia alcançado o limite máximo de expansibilidade recomendado pela norma. A ocorrência destas reações pode causar a deterioração do concreto (4) e caracteriza-se pela iteração entre íons hidroxila presentes na água intersticial do concreto e certas formas de sílica microcristalina, causando a formação de um gel expansivo e a posterior ruptura da estrutura. Sabe-se que alguns materiais naturais ou artificiais têm a propriedade de inibir a ocorrência desta reação, dentre elas se destacando as pozolanas. As pozolanas são, por definição, materiais sílico-aluminosos ou silicosos que, ao serem adequadamente moídos, exibem a capacidade de se combinar com o hidróxido de cálcio em meio aquoso e, à temperatura ambiente, proporcionam a formação de novos compostos cimentícios insolúveis em água (5). Adicionalmente, Sabe-se que a utilização do cimento Portland pozolânico aumenta os níveis de resistência do concreto, reduzem a geração do calor de hidratação, aumentam a resistência química aos sulfatos e melhoram a trabalhabilidade do concreto em seu estado fresco (6). Por estas razões, optou-se pela utilização deste tipo de cimento para tentar o controle do caráter reativo do agregado. 5 DEFINIÇÃO DO LIGANTE Para se proceder à definição do ligante a ser utilizado nos estudos de dosagem, testou-se, de acordo com as diretrizes da norma ASTM C1260 (7), dois tipos diferentes de cimentos, respectivamente com teores de 20 e 40% de pozolana, conhecidos no mercado comum como CP-IV. Análises de microscopia eletrônica de varredura foram também desenvolvidas para checagem da micro-estrutura das argamassas ensaiadas, notadamente para verificação de fissuras associadas à ocorrência da reação álcali-agregado (Figura 2). Os resultados obtidos, aliados aos dados de expansão coletados no ensaio executado, que indicou expansões médias calculadas de 0,028 e 0,032%, respectivamente para os teores de 20 e 40% em pozolana, permitiram a escolha do cimento pozolânico a 20% como suficiente para inibir a ocorrência da reação álcali-agregado. Complementarmente, desenvolveu-se um estudo de reatividade pelo método normal, onde as barras de argamassa utilizadas no ensaio foram monitoradas pelo período de um ano e o resultado das medidas de expansão, de 0,006 % também oferece uma relativa tranqüilidade no que diz respeito à inibição da ocorrência da reação álcali-agregado.

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Figura 2 - Aspecto da zona de contato agregado-argamassa relativa aos ensaios com cimento pozolânico a 20% (Aumento de 300x).

6. ESTUDOS DE DOSAGEM 6.1 Método de dosagem escolhido

Por se tratar de um procedimento de cálculo utilizado com sucesso há mais de sessenta anos, foi utilizado o método racional do IPT para os estudos de dosagens desenvolvidos nesta pesquisa, haja vista a comprovação da eficácia e praticidade do método nos trabalhos desenvolvidos por diversos autores (8, 9, 10, 11 e 12), acrescentam que as principais características do método dizem respeito: • à ênfase na experimentação expedita, com os materiais disponíveis na obra; • à possibilidade de adaptação a outros métodos de dosagem, podendo-se ou não

optar por adotar distribuições granulométricas impostas para os agregados; e • ao emprego do diagrama IPT de dosagem ou de suas equações. Por este método, cinco passos são necessários para obter-se um concreto com trabalhabilidade, resistência e durabilidade satisfatórias a uma dada idade predeterminada, onde os dados obtidos são lançados em planilhas de cálculo e de apoio aos trabalhos de laboratório. São eles: 1. Primeiro Passo: estabelecimento da dimensão máxima do agregado 2. Segundo Passo: estimativa da relação água/cimento (x) e do teor

agregado/cimento (m) 3. Terceiro Passo: determinação experimental da proporção argamassa

seca/concreto seco (α) 4. Quarto Passo: confecção dos traços rico, médio e pobre 5. Quinto Passo: execução de ensaios de compressão e traçado do diagrama IPT.

Rompidos os corpos-de-prova às idades desejadas, geralmente de 3, 7 e 28 dias, parte-se para associação dos resultados experimentais aos teores agregado total/cimento, relações água/cimento e consumos de cimento por regressões lineares, através de um logaritmo desenvolvido para computador. De posse dos dados referentes à relação água/cimento e o teor agregado/cimento, calcula-se as resistências de cada uma das dosagens. Usualmente, tais resultados são lançados

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em um gráfico denominado Diagrama de Dosagem IPT.

6.2 Dosagens Experimentais

No total, foram efetivamente executados 04 estudos de dosagem, denominadas genericamente de A, B, C e D, cada qual com três traços diferentes, considerados seqüencialmente rico médio e pobre (notadamente no que diz respeito à relação cimento:agregado utilizada em cada um deles).

DOSAGEM A: basalto + areia natural + cimento (CPII) + água Esta dosagem foi confeccionada para servir como um padrão de comparação com as dosagens experimentais. Elaborada com materiais disponíveis na região, essencialmente brita de basalto nas frações 1 e 2, areia, cimento convencional (CPII-E-32) e água.

DOSAGEM B: cascalho + areia natural + cimento (CPIV) + água Esta dosagem foi elaborada da mesma maneira que a Dosagem A, entretanto, utilizando-se, além do mesmo tipo de agregado miúdo e água, o cascalho como agregado graúdo, em substituição à brita de basalto, e cimento pozolânico (CPIV). Com o emprego desta dosagem, tentou-se simular um corte do material na peneira 25 mm, equivalente à fração brita 2, de modo a obter um Dmáx similar ao da dosagem A.

DOSAGEM C: cascalho + areia natural + areia artificial + cimento (CPIV) + água Nesta dosagem, o material retido na malha 25 mm foi britado e incorporado à fração miúda do agregado, simulando a utilização total das pilhas de rejeito. Também foram adicionados cascalho (agregado graúdo), cimento CPIV e água.

DOSAGEM D: cascalho + areia artificial + cimento (CPIV) + água Nesta dosagem, todo o agregado miúdo foi proveniente da britagem do cascalho retido na malha 25 mm, numa simulação de utilização somente de areia artificial. Adicionalmente, a dosagem foi constituída de cascalho, cimento CPIV e água. Analogamente ao caso da Dosagem C, estima-se consumir com este procedimento todo o material presente nas pilhas de rejeito.

Efetivamente foram moldados 108 corpos-de-prova, que, após, a determinação do abatimento do tronco de cone (13) e da massa específica (14), permaneceram em cura em câmara úmida até as idades de ruptura, respectivamente aos 3, 7, 28, 90, 180 e 360 dias. Ressalta-se que em nenhuma das dosagens foram utilizados aditivos de quaisquer espécie.

6.3 Resultados obtidos

Os resultados coletados ao longo do período de um ano foram lançados nos Diagramas de Dosagem IPT para um fCK = 30 MPa, e são consubstanciados na Tabela 1.

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Tabela 1 - Parâmetros comparativos das dosagens, obtidos a partir dos diagramas IPT de dosagem.

Parâmetros para um Fck = 30 MPa DOSAGEM água/cimento (x) agregado/cimento

(m) consumo de cimento (Cc)

A 0,442 4,24 430 kg/m3

B 0,511 5,27 351 kg/m3

C 0,481 4,89 374 kg/m3

D 0,492 4,18 417 kg/m3

7 ANÁLISE DOS RESULTADOS 7.1 Aspectos técnicos

Os trabalhos desenvolvidos atestaram a viabilidade técnica de utilização dos cascalhos aluviais em concretos elaborados com cimento pozolânico a 20%, uma vez que os parâmetros analisados para o estado fresco, notadamente trabalhabilidade e no estado endurecido (resistência) foram satisfatórios, entretanto algumas considerações devem ser feitas. Comparando-se os valores obtidos em laboratório para a relação água:cimento (Tabela 2), observa-se nitidamente um decréscimo para as dosagens B e C com relação à dosagem A, exemplificando o ganho na trabalhabilidade destas misturas em relação à dosagem executada com basalto britado disponível na região. Tabela 2 - Relação água:cimento para as diferentes dosagens obtidas a partir dos dados coletados em laboratório.

DOSAGEM Relação

água:cimento obtida no laboratório

A 0,429 B 0,414 C 0,392 D 0,479

O mesmo não se pode afirmar da dosagem D (cujo agregado miúdo foi composto essencialmente por cascalho britado e peneirado), onde a relação água:cimento medida foi relativamente maior até mesmo que a dosagem A. Tais resultados corroboram com a observação no laboratório de uma massa caracteristicamente difícil de misturar, extremamente porosa, heterogênea e áspera. Estas características relacionam-se diretamente à forma do agregado miúdo utilizado, uma vez que após o processo de cominuição e peneiramento da fração fina, o cascalho fornece uma partícula angulosa, de superfície rugosa e de formato lamelar, características que restringem em muito a sua utilização como agregado em concreto. Face a tais resultados, classificou-se a dosagem D como tecnicamente

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inviável de ser efetivamente utilizada.

7.2 Aspectos econômicos

Tendo em vista o descarte da dosagem D face às suas características técnicas, a discussão sobre os aspectos econômicos se deu com base nas duas outras dosagens elaboradas, respectivamente B e C, em comparação à dosagem A, determinada como padrão. Ao se comparar somente os custos por metro cúbico de concreto para as diferentes dosagens, percebe-se nitidamente que a utilização do cascalho como agregado graúdo na mistura proporciona uma economia global de 25 e 29 %, respectivamente para as dosagens B e C, cujos valores calculados são de R$ 84,82 e R$ 80,18, em contrapartida ao custo de R$ 112,73 calculado para a dosagem A (valores calculados em janeiro de 2004). Atesta-se assim, que há viabilidade econômica de emprego do material, entretanto, é de extrema importância explicitar que o valor atribuído ao metro cúbico de cascalho utilizado para os cálculos reportou-se somente ao seu custo de produção e não ao seu efetivo preço de venda. Deste modo, há de se considerar que a competitividade do produto cascalho como agregado graúdo, comparativamente à brita de basalto, estaria diretamente ligada à diferença entre o valor por metro cúbico do concreto na dosagem A e os valores para as dosagens B e C, respectivamente. Assim sendo, confirma-se a viabilidade econômica do emprego do material em condições laboratoriais, tendo em vista que os fatores que regem o mercado tanto de insumos para construção civil quanto de outros bens estão sujeitos não somente a tais fatores numéricos.

7.3 Aspectos ambientais A utilização dos cascalhos atualmente dispostos em pilhas de estocagem a céu aberto caracteriza-se como uma tentativa de inserção do projeto no conceito de desenvolvimento sustentado, à medida em que pode proporcionar o consumo de um material até então rejeitado pelo mercado, ampliando a vida útil das jazidas de areia e até mesmo retomando a lavra de algumas porções consideradas estéreis pela grande quantidade de cascalho presente. Pretende-se desta forma, fomentar o desenvolvimento da infra-estrutura local e mitigar os impactos ambientais advindo de sua estocagem, uma vez que, reduzindo-se ou até mesmo extinguindo-se as fontes de emissão, cessam-se os impactos. Considerando-se que o atual estoque de cascalho no empreendimento é da ordem de 200.000 m3, e mantidas as condições de produção e damanda atuais, pode-se estimar que seriam necessários cerca de 02 anos para o consumo total do material como agregado graúdo em concreto.

7.4 Aspectos sociais A implantação de empresas em regiões pouco urbanizadas – caso das grandes minerações de substâncias metálicas, ou em regiões muito urbanizadas, como é o caso das minerações de agregados, podem influenciar em muito o dia-a-dia das comunidades vizinhas, alterando as suas relações internas e externas, interferindo nas formas de lazer e de trabalho, mudando o comportamento e exercendo influências sobre a formação cultural dos indivíduos e grupos sociais. Estas alterações podem ser traduzidas no conceito de Balanço Social (15), termo apropriado à avaliação de uma atividade industrial e seus procedimentos sob o

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ponto de vista do retorno que ela oferece à sociedade ou às comunidades diretamente afetadas pela atividade. Citam ainda que a atividade mineral tem o mérito de canalizar os benefícios gerados pelo pagamento de impostos e salários, investimentos e treinamentos e segurança, para locais muitas vezes distantes dos grandes centros urbanos, promovendo a interiorização do desenvolvimento e diminuindo as desigualdades sociais. Pode-se ainda acrescentar uma série de impactos sociais positivos associados a projetos de mineração, tais como o aumento da demanda por serviços sociais, incremento no preço de produtos e serviços, aumento da diversidade de atividades econômicas em função das necessidades da mineração, aumento da oferta de empregos, incremento na atividade macro-econômica, além da notória qualificação da mão-de-obra (16). Traçando-se um paralelo de tais aspectos positivos associados à mineração com o plano de trabalho desenvolvido nesta pesquisa, pode-se sugerir que, ao se reduzir ou minimizar os impactos causados pela estocagem de cascalho proporciona-se um ganho na qualidade ambiental local. Socialmente, abre-se a possibilidade de contratação de novos funcionários para gerirem um novo circuito de beneficiamento proposto, além da obrigação legal de se recolher uma gama de impostos que até então, com o material simplesmente estocado, não eram passíveis de arrecadação. Por fim, percebe-se também uma motivação profissional muito grande em todos os níveis colaboradores da empresa com os resultados obtidos na pesquisa, desde os funcionários alocados diretamente nos trabalhos braçais até a diretoria da empresa, que vislumbra, através do trabalho conjunto entre a universidade e a iniciativa privada, uma importante oportunidade de agregar valor ao seu rejeito, transformando-o em um produto, além de contribuir significativamente para a melhoria da qualidade ambiental local.

8. CONCLUSÕES

Face a todos os trabalhos desenvolvidos com os rejeitos da mineração de areia produzidos na região do Reservatório de Barra Bonita, quer seja em seu estado bruto, manufaturado ou como agregado em concreto, pode-se concluir que existe a viabilidade técnica de utilização do mesmo, inclusive com competitividade comercial para, após passar por um processo simples de beneficiamento, poder ser utilizado sem restrições em massas de concreto. Especial atenção deve ser dada ao tipo de cimento a ser utilizado, notadamente no que diz respeito ao controle das reações expansivas passíveis de ocorrência quando da utilização destes tipos de agregados. Ensaios preliminares executados também com cimento do tipo CP-II-F, que possuem filler de calcário como aditivo, indicaram resultados satisfatórios no controle do caráter deletério do agregado.

9. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à FAPESP pelo apoio financeiro ao projeto, através do processo 99/07591-5.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (1) ANEPAC (Associação Nacional das Entidades Produtoras de Agregados para

Construção Civil) - 1997 - Desenvolvimento sem produção de areia? Impossível! In: Revista Areia & Brita, nº 1, maio, São Paulo, 3-8.

(2) Valverde, F.M. - 1999 - Mineração de areia e brita e a preservação ambiental. In: II Seminário Desenvolvimento Sustentável e a Reciclagem na Construção Civil, Anais, IBRACON, São Paulo, 87-101.

(3) ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) - 1983 - Norma NBR 7211 – Agregados para concreto.

(4) Hobbs, D.W. - 1988 - The alkali-silica reaction in concrete. Thomas Telford Publications, Telford, 216 p.

(5) Zampieri, V.A. - 1993 - Cimento Portland aditivado com pozolanas de argilas calcinadas: fabricação, hidratação e desempenho mecânico. Tese de Doutoramento, Instituto de Geociências, USP, São Paulo, 233 p.

(6) Pereira, P.N. - 2001 - Estudo das propriedades dos concretos massa e estrutural, utilizando cimento Portland pozolânico. Dissertação de Mestrado, Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Civil, USP, São Paulo, 275 p.

(7) ASTM (American Society For Testing And Materials) - 1994 - Standard Test Method for Potential Alkali Reactivity of Aggregates (Morthar-Bar Method). ASTM C-1260/94.

(8) Priszkulnik, S. & Kirilos, J.P. - 1974 - Considerações sobre a resistência à compressão de concretos preparados com cimentos Portland comum tipos CP-250, CP-320 e CP-400, e a sua durabilidade. In: II Encontro Nacional da Construção (ENCO), Clube de Engenharia / Câmara Brasileira da Construção, Rio de Janeiro.

(9) Tango, C.E.S. - 1977 - Dosagem de concreto. Texto de palestra proferida em 08/11/1977 no Departamento de Engenharia de Construção Civil e Urbana, EPUSP, SP.

(10) Helene, P.R.L. & Terzian, P.R. - 1993 - Manual de dosagem e controle do concreto. PINI, Brasília: Senai, 349 p.

(11) Tango, C.E.S. - 1993 - Mistura sem mistério. In: Téchne, Revista de Tecnologia de Construção, Ano 1, 4, maio/junho, São Paulo, 20-23.

(12) Tango, C.E.S & Saad, V.M.K - 2001 - Incrementos no método de dosagem IPT para concretos com amplo espectro de desempenho. In: 43º Congresso Brasileiro do Concreto, IBRACON, Foz do Iguaçu, Trabalho nº III-029, 10 p.

(13) ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) - 1982 - NBR-7223/82: Concreto – determinação da consistência pelo abatimento do tronco de cone.

(14) ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) - 1987e - NBR-9833/87: Concreto fresco - determinação da massa específica e do teor de ar pelo método gravimétrico.

(15) Lanna, D.S.L. & Aquino, M.J. - 1997 - Como um empreendimento de mineração contribui para melhorar o futuro da população onde se instala. In: VII Congresso Brasileiro de Mineração, IBRAM, Belo Horizonte, IV:17-23.

(16) Sánchez, L.E. - 1995b - Impactos sobre el médio antropico. Curso Aspectos geológicos de protección ambiental, UNICAMP/UNESCO, Montevideo, v.1: 205-211.

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marca_textos2.pdf 30/6/2005 23:00:35marca_textos2.pdf 30/6/2005 23:00:35

Abstract: The mining industries located at the margins of Barra Bonita Reservoir, central region of the State of São Paulo, produce more than 1.200.000 and 72.000 cubic meters of sand and alluvial gravel per year, respectivelly. The alluvial gravel is classified as a waste of the sand mines, doesn’t have a considerable economic value and, it has been used only as ballast in unpaved roads, specifically to provide their stabilization. Nowadays, alluvial gravel is disposed in stock piles which occupie expressive areas and represent a potential source of environmental impacts. To check its efficiency as aggregate for concrete, a series of normalized tests were executed, and after the identification of an innadequate chemical behavior of the material, which induces the ocurrence of alcali-aggregate reactions, the study lead to the research of materials capable of inhibiting or minimizing to acceptable levels this particularitity of alluvial gravel. Once defined the kind of material to be used (pozzolanic cement), a specific study of mixes was developed, using the alluvial gravel as a substitute of crushed basalt (tradicionally used to this function in the region), reaching interestig results in technical, economical and environmental aspects. Key words: mining wastes, alkali-aggregate reaction, aggregates for concrete

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