o eixo do mal latino-americano - heitor de paola

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7/25/2019 O Eixo Do Mal Latino-Americano - Heitor de Paola http://slidepdf.com/reader/full/o-eixo-do-mal-latino-americano-heitor-de-paola 1/278 HEITOR DE PAOLA EiXO 00 M A l LATINO-AHERtCANO E A NOVA ORDEM MUNDIAL

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  • 7/25/2019 O Eixo Do Mal Latino-Americano - Heitor de Paola

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    HEITOR DE PAOLA

    EiXO 00 MAl

    LATINO-AHERtCANOE A NOVA ORDEM MUNDIAL

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    SUMRIO

    l'RI-1CIO( )lavoJe* Carva lho ............................................................................................. 15

    I N T R O D U O .................................................................................................19

    P R IM E IR A P A R T E - U M A Q U E S T O D E M E T O D O L O G IA

    ( AlM I Ul o I I RR( )S Dl M I:T O I) ( )l O G IA 1)1: AV AL IA O DAS

    I S I k A T K .IAS C O M U N I ST A S C O M I T ID O S PF LO S S F RV I O S D F

    IN 11 I K . N C IA O C IDL N TA 1S ..................... ..................... 51

    1 A nova estratgia sovitica de dominao mundial: retorno ao leninismo.....52

    2 As previses de Anatoliy Golitsyn .................................................................. 54

    3 A crise no mundo sovitico aps a morte de Stalin........................................ 56

    4 0 KGB e a desinformatsiya................................................................ ............57

    V A desinformatsiya em ao..............................................................................59

    As principais operaes de desinformao..................................................... 61

    7 0 declnio da C IA ...........................................................................................62

    8. O movimento pela paz mundial..................................................................... 64

    ( A l i I I I I ( ) II A NLCLSSIDADh DF L IMA NOVA M FT O D O LO C IA

    1)1 A N A IIS I ........................................... 671 Significado da reorganizao do KGB aps a Perestroika.............................. 68

    2 A nova face da guerra......................................................................................72

    3 Diferenas entre um Partido Comunista e os Partidos democrticos............. 74

    4 Algumas normas de avaliao .........................................................................77

    5 A verdadeira meta comunista: a Nova Classe................................................. 82

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    ( A li I U M ) III A kl V< )l U(,A< X I II I IIR A I A M NI< ) ( ,K \M S( I I A

    I S ( ()| A D I I R A N k l t l R I h s

    1. Antonio Gramsci c a Organizao da Cultura ..............................................85

    2. A influncia da Escola dc Frankfurt................................................................. 95

    3. O Triunfo da Revoluo Cultural Gramcista e da Escola de

    Frankfurt no Brasil......................................................................................... 103

    SEGUNDA PARTE - AS RAZES HISTRICAS DO EIXO DOM A L L A T I N O - A M E R I C A N O : A s gra nd es estratgias com u nista s d e

    domnio mundial e suas repercusses na amrica latina

    C A PT U LO IV - PRIMEIRA E SEG UN D A ESTRATGIAS 113

    1. A Primeira Estratgia (1917-1919)............................................................... 115

    2. Segunda Estratgia (1919-1953)................................................................... 115

    CA PTU LO V - OFENSIVAS NA AM RICA LATINA NA

    SFG U N D A ESTRATG IA .............................. .....................117

    1. Primeira Ofensiva (1919-1943).................................................................... 117

    CA PTULO V I - IN T I RR IGN O : A SLCU ND A GUERRA M UN DIAL

    I O HM DA ALIAN A TE U TO -S O V ITIC A 121

    C A PT U LO VII - PL R O D O PS-GU ERRA I A GU ERRA 1RIA. 127

    1. Segunda Ofensiva (Mundial) (1944-1985)...................................................130

    2. Segunda Ofensiva na Amrica Latina........................................................... 138

    3. A Resposta Revolucionria: A Conferncia Tricontinental de

    Havana e a O L A S ......................................................................................... 1444. A Terceira Ofensiva na Amrica Latina: A Luta Armada Revolucionria

    no Continente c no Brasil............................................................................. 147

    5. A luta armada no Brasil................................................................................. 150

    6. A Fbrica de Mitos Produz Conspiraes e Heris...................................... 154

    7. A Participao dos Estados Unidos no Movimento de 6 4 ........................... 154

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    H ( hrlr ( ) ( nlpc iln InKiilcnlo Pinuihct v s Morte do 'I leri

    I\>l>iil.n Allende 157

    ( )pcriio ( oiulor O "Compl Militar Fascista".......................................... 159

    ( AlM I Ul ( ) V III I I l

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    O lll l< )l IM RDM )( ) NA IUR< >PA IX ) I I S I I .22*

    I Al .BA ou URSA L cm marcha........................................................................ 223

    QUARTA PARTE - O E IXO LATINO-AM ERICAN O E A NOVA

    O R D EM M U N D IA L

    C APTLII O XIV - A ESTRATG IA D OS G RA ND I SBI OC OS REGIONA IS ......231

    CA P TULO XV - A "CO M UN IDAD E INTERNAC ION AL E A NOVA

    OR DEM M UN D IAI 237

    1. Teorias de Conspirao - A "Mo Secreta"?................................................. 238

    2. A Implementao...........................................................................................240

    C AP TU LO XVI - UM A ALIAN A IMPR( )V VE l MAS RE A l : 245

    1. O Embrio da Alia na.................................................................................. 247

    2. A Idia de uma Unio dc todas as Naes para a Paz e o

    Governo Mundial..........................................................................................249

    3. Wall Street e a Revoluo Bolchevista.......................................................... 251

    4. A Convergncia das Duas Estratgias........................................................... 254

    5. Elo com o presente: Hammer, Gore & Co.................................................... 256

    CA PTULO XVI I AS PRINCIPAIS O RG AN IZA ES CLO BALISTAS ..........259

    1. Woodrow Wilson International Center for Scho lars................................... 259

    2. Council on Foreign Relations....................................................................... 261

    3. Trilateral Comission..................................................................................... 264

    4. Dilogo Interamericano................................................................................ 266

    5. Association of World Federalists.................................................................. 271

    6. A Sblizhntiena O N U .......................................................................................271

    7. As ON G s globalistas.................................................................................... 273

    REF ERNCIAS BIBLIO GR FIC AS ...............277

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    Grande ou petfueno, moderado ou extremado,

    lodo rebelde anticapitalista, sem exceo,eum farsante no s nas suas atitudes exteriores, mas na base mesma

    da sua personalidade, na raiz do seu estilo de vida.

    Olavo de Carvalho

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    PREFCIOOlavo dc Carvalho

    Se o jornal eletrnico Mdia Sem Mscarano servisse para mais nada, s

    o ter revelado aos leitores brasileiros o analista poltico Heitor de Paola

    j bastaria para justificar sua existncia e torn-la mesmo indispensvel.

    O homem, de fato, no tem equivalente na "grande mdia" nem - at

    onde posso enxergar - nas ctedras universitrias, tal a amplitude do ho

    rizonte de informaes com que lida em seus comentrios e tal a clarida

    de do olhar que ele lana sobre o vasto, complexo e mvel panorama da

    transio revolucionria latino-americana, reduzindo a seqncias cau

    sais coerentes a variedade dos fatos em que seus colegas - digamos que

    o sejam - no enxergam seno um caos fortuito ou a imagem projetada

    de seus prprios sonhos, desejos, preconceitos e temores.

    Na pequena e valente equipe de colaboradores da publicao, remu

    nerados a leite de pato (sim, ns, os ces-de-guarda do capital, no te

    mos capital nenhum, ao contrrio dos pobres e oprimidos que nadam

    em dinheiro dos ministrios e das fundaes estrangeiras), as felizes

    coincidncias acabaram por produzir uma diviso de trabalho na qual

    ningum tinha pensado de incio: se os demais redatores sondam em

    profundidade certos aspectos especiais, ou investigam para trazer ao

    conhecimento do pblico fatos que a mdia comprometida ignora por

    malcia ou por inpcia genuna, no fim vem o Heitor de Paola e articula

    tudo em grandes esquematizaes diagnosticas que resumem o sentidodo jornal inteiro e das quais o jornal inteiro, por sua vez, fornece as

    provas detalhadas. E uma grande alegria para mim ter sido o pai de um

    rgo brasileiro de mdia que, malgrado todas as suas limitaes que

    ningum nega, permanece o nico onde as notcias no desmentem as

    anlises e as anlises no saem voando para longe das notcias.

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    Na verdade o jornal revelou Heitor de Paola ao prprio Heitor de

    Paula, roubando-o em parte aos clientes do seu consultrio de mdico

    e psicanalista e colocando-o diante do caso clnico mais dramtico c

    desesperador que j passou pelo div de um discpulo (no muito fiel)

    do Dr. Freud: um continente neurotizado por um intenso tiroteio cru

    zado de aes camufladas e mentiras ostensivas que ultrapassa imen-

    suravelmente a capacidade de compreenso da inteligncia popular e

    a engolfa num abismo de esperanas ilusrias, terrores sem objeto e

    dios sem sentido.

    Neurose, dizia um outro s da clnica psicolgica, o meu falecido amigo

    Juan Alfredo Csar Mller, uma mentira esquecida na qual voc ain

    da acredita. No s uma figura de linguagem. E o resumo compacto

    de uma ordem causai que a observao clnica confirma todos os dias.

    O processo tem trs etapas: mentir, ocultar a mentira de si prprio e,

    por fim, entregar-se produo compulsiva de pretextos, fingimentos

    e racionalizaes sem fim, os mais postios e contraditrios, para po

    der continuar agindo com base naquilo que se nega e ao mesmo tempo

    defender-se desesperadamente da revelao dos motivos iniciais verda

    deiros que determinaram o curso inteiro da mutao patolgica.Aplicado ao estudo dos processos histrico-polticos, o conceito tem de

    ser ajustado para dar conta de vrias seqncias neurotizantes simult

    neas e sucessivas, que, ao entremesclar-se num caleidoscpio de falsifi

    caes, tornam a forma geral do processo totalmente invisvel massa

    de suas vtimas, ao mesmo tempo do visibilidade hipntica a aspectos

    isolados e inconexos, artificialmente dramatizados como "problemas ur

    gentes", fazendo com que do mero caos mental se passe s aes arbitr

    rias e desesperadas que complicam o quadro da vida real at alucinao

    completa. Diversamente do que acontece na neurose individual, onde

    o autor e a vtima da mentira so a mesma pessoa, as neuroses coletivas

    so produzidas desde fora, por grupos de estrategistas e engenheiros so

    ii .

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    ciais que, ao menos num primeiro momento, imaginam poder control-

    las em proveito prprio, mas que em geral acabam sendo eles mesmos

    arrebatados pelo movimento dc destruio que geraram: nunca houve

    grupo de lderes revolucionrios que no acabasse sendo dizimado pela

    prpria revoluo.

    No meio desse turbilho, alguns indivduos privilegiados conseguemmanter-se tona no mar de destroos e enxergar, mais ou menos, a di

    reo do abismo para onde vai a corrente. No por coincidncia, esses

    observadores realistas so habitualmente recrutados entre aqueles que

    definitivamente no gostam do curso presente das coisas, mas que, por

    absoluta falta de vocao poltica, ou por estarem em minoria infinite-

    simal sem possibilidade de interferir na situao, reagem para dentro,

    intelectualmente, e no produzem planos dc ao, mas diagnsticos da

    realidade, sem os quais a simples inteno de agir j seria apenas uma

    contribuio a mais para a loucura geral.

    Heitor de Paola um desses. No s a experincia clnica que o quali

    fica especialmente para a funo. A inteligncia analtica da qual ele d

    algumas amostras notveis neste livro deve algo militncia revolucio

    nria de juventude que o torna a seus prprios olhos um pouco culpadopor aquilo que na poca no podia prever mas hoje obrigado a ver.

    Tanto melhor. Only tbe wounded can beal,diz um provrbio ingls.

    RlCHMOND, VA, 29 DE MAIO l)F 2008

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    INTRODUO

    O bem stif Jo [xwo tem siJo pa rticularmeu te

    um lthi fuiui os tmwo s

    Albert Camus

    Tendo sido comunista no passado e pertencido a uma das organiza

    es clandestinas, a Ao Popular (AP), entre os anos de 1963 e 1968,

    que abandonei por no concordar com o desencadeamento da "luta

    armada contra a ditadura", inicialmente exultei com o to propalado

    "fim do comunismo" com a queda do Muro de Berlin e a derrocada da

    Unio Sovitica. Mas, conhecedor do sistema por dentro, das formas

    de atuao, das teorias e da ideologia comunista, da crueldade de seus

    mtodos de conquista e manuteno do poder, da capacidade de mani

    pulao de mentes e de sua caracterstica amorfa e protica, restaram-

    me a desconfiana e a perplexidade que cresceram na razo inversa do

    aumento desta crena entre os liberais e das inmeras demonstraes

    de regozijo e manifestaes do triunfo capitalista. O livro de FrancisFukuyama, O Fim da Histria e o ltimo Homem, publicado no Brasil em

    1992, causou-me mal estar e preocupao desde as primeiras pginas.

    O autor comea argumentando que "nos ltimos anos, surgiu no mun

    do todo um notvel consenso sobre a legitimidade da democracia libe

    ral como sistema de governo, medida que ela conquistava ideologias

    rivais como a monarquia hereditria, o fascismo e, mais recentemente,

    o comunismo". Fukuyama deve ter dormido durante os anos a que me

    referirei adiante ou quis aproveitar para faturar alto com o desbara-

    tamento da URSS. Ou pode t-lo escrito em funo de suas ligaes

    com o ( oumil on Fortign Relations', pois seus artigos so regularmente

    ' Ao longo do livro o O R ser extensamente estudado

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    publicados pela Foreign A/Jairse pelo Le Monde Diplomaticjue,duas Bbliasda esquerda mundial.

    Esta viso teleolgica da histria de inspirao nitidamente hegelia-

    no-marxista onde Fukuyama apenas mudou a finalidade do "processo

    histrico": do estabelecimento pleno do comunismo e das benesses da

    mxima marxista de a ida um de acordo com suas capacidades, a cada um de acordocom suas necessidades, a imagem do cu na Terra apenas mudava para o

    pleno estabelecimento da liberdade de pensamento e iniciativa. Nada

    mudara, portanto, no havia nenhum rompimento radical com o pen

    samento marxista, com a noo absurda da existcncia de um "processo

    histrico" com meios e fins a atingir, apenas o mesmo estava sendo uti

    lizado para outras finalidades igualmente fantasiosas c onipotentes. Em

    segundo lugar, a prpria idia de consenso incompatvel com a opo

    por uma sociedade aberta e livre, onde jamais existe consenso c na qual

    a discordncia o alimento essencial do debate. Em terceiro lugar, a

    afirmao era um verdadeiro despropsito num mundo onde mais da

    metade da populao continuava submetida s atrocidades dos regimes

    comunistas da China, Coria do Norte, Vietnam, Cuba e em alguns

    pases do Leste Europeu. Outra grande parcela vivia sob o taco dasbotas de tiranos assassinos, principalmente na frica. E outra ainda, sub

    metida s teocracias islmicas no menos tirnicas. Fukuyama mostrava

    ser mais um intelectual "iluminado" idntico aos marxistas, sem nenhum

    compromisso com a realidade.

    O que mais me impressionou foi exatamente a no ruptura com o es

    quema intelectual marxista. Talvez porque o autor jamais tenha sidocomunista. Quem j o foi, entendeu do que sc trata o comunismo, e saiu,

    no pode menos do que tornar-se um anticomunista radical rejeitando

    inclusive, in totuma concepo materialista dialtica da histria. No resta opo mediana, "deixei de ser comunista, mas no sou anti porque

    seria desconhecer os erros e falhas do capitalismo, da democracia, do

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    laissez faire, que tambm no resolveram problemas graves da humani

    dade como a misria, a pobreza e a desigualdade". Quem pensa assim

    no deu passo algum, sua "sada" da ideologia apenas um aulo-engano,

    continua fisgado pela mesma viso dc mundo que supe ter abandona

    do. O liberalismo jamais prometeu coisa alguma, apenas a liberdade de

    cada ser humano defender seus prprios interesses. S que, ao ser bem

    sucedido, ele beneficia inmeros outros seres. No por ser predestinado,

    mas por simples conseqncia lgica aumenta o nmero dc empregos e

    melhora o padro de vida da coletividade.

    Outro ponto fundamental da minha desconfiana do "fim do comunis

    mo" foi a total ausncia de processos contra os facnoras e assassinos ape-

    ados do poder - com a nica exceo da Romnia, ainda assim dbil - de

    algo como um Tribunal de Nremberg, leis proibindo definitivamente a

    divulgao das idias e publicaes comunistas c banindo seus smbolos

    e bandeiras. Pelo contrrio, as verses marxistas da histria c o revisio-

    nismo so hegemnicas, bandidos do tipo Fidel, Che, Allende, Sandino,

    Lamarca, Marighela e outros so entronizados no altar dos heris latino-

    americanos. como se, ao invs de atacar e destruir a Alemanha, o O ci

    dente tivesse se contentado com "democratiz-la" com a mesma elite daSS e da GEST A PO no poder (Himmler bem que tentou!).

    Camisetas com imagens de Che so vendidas em butiques chics.J imagi

    naram se tivessem a cara de Adolf Hitler? A Sustica foi banida, embora

    seu uso pelos nazistas tenha sido um roubo explcito de antigas tradi

    es - dos ndios Hof>i aos Astecas, dos Celtas aos Budistas, dos Gregos

    aos Hindus - mas a Foice e o Martelo entrelaados, smbolo tipicamentecomunista, permanece e at mesmo a bandeira do Exrcito Russo voltar

    a us-la, sendo que a companhia area russa Aerojlot nunca o eliminou.

    Enquanto sc exulta pela queda das soi disantditaduras militares da Amrica

    I.atina, exalta-se o tirano mor e seus asseclas cubanos. Enquanto a divul

    gao do Holocausto nazista milhares de vezes repetida e ningum ousa

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    dizer que "o nazismo era at uma boa idia desvirtuada pelo hitlerismo",

    o que se escuta do comunismo: uma boa e generosa "utopia", detur

    pada pelo stalinismo. O comunismo ainda no foi atingido e continua

    uma utopia generosa desvirtuada. Os campos de concentrao nazistas

    so expostos e execrados, com justia, enquanto o G U LA G 2 permane

    ce conhecido apenas dos interessados na literatura especfica, se tanto

    nos livros de Solzhenitsyn e outros dissidentes. Hitler, execrado como o

    maior genocida da histria matou uns 20 milhes, Mao matou 60 e Stalin

    uns 50 e so adorados. Pinochet foi responsvel pela morte de uns 3.000,

    largou o poder quando perdeu um plebiscito, Fidel j ultrapassou a cota

    dos 100.000 mortos (em toda a Amrica Latina e na frica, em Cuba

    estimam-se 17.000) e h 2 milhes de cubanos exilados, no obstante

    continua l 49 anos depois.' Quem o execrado? Quem o indmito heri?***

    Uma maneira hipcrita de tentar desmoralizar a opo anticomunista dos

    ex-comunistas afirmar a respeito dos mesmos que eles nada mudaram,

    apenas trocaram de lado. preciso esclarecer isto antes de prosseguir.Como, ao longo do livro ao falar da essncia do comunismo, farei inme

    ras consideraes sobre o assunto, basta aqui citar Viktor Kravchenko.

    Viktor Andreievitch Kravchenko (1905-1966), escreveu suas experi

    ncias como agente sovitico no livro / Cbose Freedotn4. Entrou para o

    2 Do russo Glatmoye Llpravletiiye hpravitelno-trudopykb Lagerey i kolonu, Direo Geral dos

    Campos e Colnias de Correo e Trabalho, do NKVD , Comissariado Popular deNegcios Internos A existncia do G U L A G se tornou conhecida atravs do livro Ar

    quiplago Gulagde Alexander Solzhenitsyn. Embora dissidente de grande importncia

    sua obra c bastante conhecida e acessvel e deixa de ser comentada aqui.

    ' Quando este livro foi para o prelo Castro j havia se licenciado" e assumia seu irmo

    Raul. Tudo como dantes no quartel de Abrantes!

    * Disponvel para download (33 Mb) em http://ia3313l2.us.archive org/0/itcms/icho

    sefreedomtheO 12158mbp/ichosefreedomtheO 12158mbp pdf

    http://ia3313l2.us.archive/http://ia3313l2.us.archive/
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    Partido Comunista cm 1929 e participou do processo dc coletiviza-

    o forada do campo na Ucrnia, na bacia do Don. Inicialmente,

    ele participara ativamente com muito entusiasmo, mas testemunhou a

    morte pela fome de milhes de camponeses em nome dos quais se fez

    a Revoluo ( a Foice do smbolo), o aprisionamcnto do G U L A G ou

    a execuo sumria dos que esboavam alguma oposio ou compai

    xo. Os vveres eram acumulados com exclusividade para os prceres

    do Partido local e os enviados de Moscou. Mostra com crueza o grau

    de degradao moral e tica, alm da corrupo do processo de pen

    sar, que necessrio para um indivduo assistir e aceitar a morte por

    inanio de milhares de semelhantes . . . em nome exatamente da me

    lhora de situao dos seus semelhantes - no futuro. preciso atingir

    um nvel de organizao mental esquizide - dois sistemas mentaisincomunicveis - que impea o indivduo de dialogar consigo mesmo

    e afaste de si as objees morais, ticas ou religiosas que o ameaam

    com sentimentos de culpa, compaixo e empatia, conduzindo cor

    rupo do prprio processo de pensar, o que torna a verdade cada vez

    mais persecutria e temida. Como estes dois sistemas incomunicveis

    no conseguem ser to estanques como seria desejvel, necessrio a

    reafirmao constante por parte do grupo que partilha ardorosamentea mesma mentira. Por isto, um comunista no existe seno em grupo.

    Se algum tenta expressar uma verdade num grupo desses desperta

    imediatamente intenso dio e inveja, e maior coeso do grupo - e

    da mente de cada um em particular que fica ameaada de uma ciso

    terrvel - para reforar o delrio megalomanaco e expulsar o carter

    perturbador da verdade.

    Durante a II Guerra foi nomeado para a Misso Comercial Sovitica

    em Washington, D. C. e em 1943 pediu asilo poltico. Apesar do pedi

    do dc extradio da URSS o asilo foi concedido. A publicao do livro

    gerou intensos protestos por parte de todos os Partidos Comunistas

    do mundo, principalmente pelo Francs que o acusou de mentiroso no

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    semanrio Les Lettres Franqaises.Kravchenko processou-o por difamao.

    No julgamento em 1949, apesar da presso irresistvel dos PCs, con

    seguiu apresentar testemunhas que estiveram presas, como Margrete

    Buber-Neumann que, quando do Pacto Molotov-Ribbentrop foi entre

    gue aos nazistas e internada em Ravensbrck. Kravchenko ganhou a

    causa, vindo a morrer por ferimentos a bala de forma misteriosa, mas

    dada como suicdio.

    Cedo percebi que as organizaes "revolucionrias" no passavam de

    grupelhos dc filhinhos-de-papai com a vida garantidas que estavam le

    vando de roldo operrios e camponeses os quais depois abandonavam

    prpria sorte. Fui o responsvel por dois destes casos. Um operrio

    que "ampliei", e por orientao da AP promoveu uma greve na fbri

    ca na qual trabalhava, foi despedido e no mais conseguiu emprego,

    sua mulher e filhos o abandonaram, comeou a beber cada vez mais e

    foi abandonado por todos os "companheiros", eu inclusive. Uma outra

    s Inmeras reunies dc que participei como Vice Presidente da U N E com o Coman

    do Nacional de AP oram realizadas em manses do Morumbi ou dos Jardins, para

    onde fui levado em carros importados de luxo. Com direito a mordomo e regadas a

    champanhe trances ou usque 25 anos As militantes de uma organizao "co-irm, a

    Organizao Revolucionria Marxista Poltica Operria (P O LO P), eram conhecidas

    como loirssimas, belssimas e riqussimas! Todo sacrifcio pela causa da revoluo

    proletria pouco!!!

    '* Ampliao, este termo se aplicava originalmente ao programa permanente de ampliao dc quadros (aumento do nmero dc militantes) Passou a ser usado nos casos

    particulares c por neologismo sc transformou at cm substantivo: uma 'ampliao''

    era um simpatizante cm fase dc teste dc "pureza ideolgica com vistas a conquist-lo

    para a militncia Alguns nunca chegavam neste ponto e permaneceriam para sempre

    companheiros dc* viagem e sero os primeiros a serem trucidados pelo regime revo

    lucionrio triunfante porque o choque da realidade os tornaria ferozes opositores pela

    pcitrp.io dc lerem sido trados.

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    "ampliao" minha foi um lder campons que tambm abandonou a

    famlia para aderir "luta armada" e do qual nunca mais ouvi falar.

    Todos os militantes eram instigados a abandonar as "noes burguesas

    de moralidade religiosa" submetendo-as aos imperativos revolucion

    rios. Assim eram atingidos os princpios do no roubar, no matar e ser

    sincero nas relaes humanas. Uma das tareias dos militantes era roubarpara a causa qualquer coisa que estivesse ao seu alcance. Como eu es

    tudava medicina fui instrudo a roubar material de primeiros socorros e

    instrumental cirrgico do Hospital Escola, com vistas s futuras necessi

    dades de estabelecer hospitais clandestinos para as aes guerrilheiras -

    idia delirante que jocosamente passei a chamar de el sueno de Sierra Ma-

    estra. Como minha formao moral me impedia de dar este passo fui

    alvo de intensas crticas de desvio ideolgico. Obrigado a uma auto

    crtica tentei argumentar que o Hospital Escola era uma instituio para

    o povo que queramos ajudar. E foi a que eu aprendi algo: jamais tentem

    argumentar com um comunista em termos lgicos! A lgica sempre

    distorcida para justificar, desonestamente, qualquer coisa. O debate

    desigual, pois quem tem limites lgicos para argumentar j parte em

    tremenda desvantagem.

    Um outro fator a influenciar minha deciso foi quando, numa reunio

    do "Comando Zonal Sul - RS" discutia-se o caso de um militante recm

    "ampliado" que, por fora de nosso apoio tornara-se presidente de um

    importante Centro Acadmico e dava mostras de "fraqueza ideolgica"

    e independncia de pensamento. Passou-se a discutir se num processo

    revolucionrio aberto, que estava em preparao, algum teria coragemde matar um "companheiro" ou ao menos dar a ordem para isto. Eu

    disse que teria coragem de dar a ordem. No momento, at a mim mes

    mo pareceu uma bravata, mas, mais tarde, pensando comigo mesmo fi

    quei horrorizado com a possibilidade de chegar a um ponto em que isto

    se tornaria inevitvel: numa situao plenamente revolucionria pode

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    chegar

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    c o m o di/rm 1 1 .i minha U ira . poi porte ira cm que passa boi, passa

    boiada ' ( )u sc c .1 1 foiti ou o abismo c inlimto c catla vez mais a au

    to indulgncia c ncccssria cm doses crescentes No h argumento

    racional, provas cicntlicas da charlatanice marxista, comparao dc

    resultados econmicos, nada - pois todos que esto dentro sabem

    muito bem disto! S vale a indignao moral, e esta exige que se pas

    se a combater o mal do qual se saiu com todas as foras, no admite

    neutralidade nem tolerncia. Chamar esta posio de maniquesta

    outra armadilha do relativismo moral que preceitua que no existe o

    mal nem o bem e que no podemos julgar nossos semelhantes pelas

    suas opes ideolgicas. Podemos sim, sc a conhecermos por dentro

    sabendo do que sc trata. Segundo outro que saiu do inferno, David

    Horowitz, "contra-revolucionrio um nome para a sanidade moral ea decncia humana, um termo de resistncia para a depredao pica

    causada por sonhadores" (Politics of Bad Faith) Quando digo que no

    confio em comunistas sou criticado como intolerante, mas sei muito

    bem que comunista no tem palavra de honra, s palavra de ordem! O

    que dito ou feito o que convm 'causa" naquele momento, o que

    pode mudar qual piuma al vento ("qual pluma ao vento"). sempre misero

    chi a leisaffida, chi le confida. mal cauto il cuore (e tem sempre um destinomiservel aquele que nela confia c\ ingnuo, espera ganhar seu cora

    o") (Verdi, La Donna Mobile - traduo livre).

    Desiludam-se os leitores que acreditam que o comunismo uma utopia,

    muito menos uma utopia generosa, um idealismo quixotesco. No .

    Esta "utopia" s serve para atrair c seduzir simpatizantes - chamados por

    Lenin dc idiotas teis.Suspeito que a substituio no Brasil de idiotas porinocentes teisserve a um propsito: iludir de que algum pode simpatizar

    inocetitementecom um regime comprovadamentc assassino c gcnocida no

    mais alto grau. Nunca encontrei um revolucionrio comunista autntico -

    nem quando eu era um, nem depois - que acreditasse por um segundo

    sequer na tal "utopia" que eles usam - ns usvamos - para enganar os

    27

    I N T R O I ) 11C, A O

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    trouxas e im becis e con vert-los em idiotas teis I em bro mc de co m o

    eram ridicularizados estes idealistas que serviam de excelente massa de

    manobra! Nunca houve esta tal de utopia, ou idealismo utpico - s

    como estratgia de doutrinao.

    A razo principal pela qual a maioria das pessoas se deixa enganar

    pelos embustes comunistas a ignorncia a respeito da essncia docomunismo: ser uma mquina de produo contnua, ininterrupta e

    eterna de mentiras. Mas pessoas inocentes fazem perguntas ingnuas

    c bvias como: se to bom l, porque voc no vai para l? Se o co

    munismo para salvar a humanidade da brutalidade capitalista, porque

    precisam matar tanta gente? Por que as pessoas que vivem nestes para

    sos so proibidas de sair para o exterior* - o que jamais aconteceu nas

    "terrveis ditaduras militares de direita"? Como no h uma resposta

    racional para tais perguntas simples todos os militantes tm, na ponta

    da lngua, um "voc no est entendendo nada" e passam a demonstrar

    como o interlocutor burro, ignorante, tacanho ou est seduzido pela

    ideologia "burguesa". uma das primeiras coisas que o simpatizante

    precisa aprender para ser considerado "amplivel". No, inocentes no

    caem nesta, preciso uma grande dose dc malcia que aos poucos sedesenvolver em m-f.

    O primeiro grande falsificador foi Karl Marx cuja viso fraudulenta da

    Histria, o materialismo histrico', precisava ser provada de qualquer

    maneira sob pena de ruir toda a estrutura charlatanesca que comeara

    a inventar. J de incio o comunismo foi baseado numa grotesca falsi

    ficao de estatsticas feita pelo prprio Marx para justificar sua idia

    de que a Revoluo Industrial c o desenvolvimento capitalista tinham

    * Eu ainda estava escrevendo este livro quando, durante o PAN 2007, vrios atletas

    cubanos | tinham desertado e estavam foragidos ou tinham pedido asilo, repetindo

    monotonamente o que ocorre em todas competies esportivas, congressos cientfi

    cos, turns artsticas, etc. Duvido que algum dos milhares de admiradores de Cuba que

    na abertura tinham aplaudido de p a delegao tenha mudado de idia.

    28

    O I IXO 1)0 MAl I AT IN O AMfcRlC ANO

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    p io i a do . 1 s i l tu. io econ m ica t ios trabalhadores ingleses U m grupo

    dc his tor iadores reunido por Inedr ich von I layek demonstrou cabal

    mente esta deturpao Suas concluses foram publicadas no livro ( \i

    ftiltihsm (inJ tbc Ihsotiinsuma defesa do sistema primitivo de fabricaoe suas conseqncias econmicas e sociais. Re-interpretacs histri

    cas, como O 1h liruttnrio Je Lus lionifHirtedemonstram cabalmente suasintenes. Nesta obra Marx no somente faz uma interpretao dos

    acontecimentos de 1848 na Frana luz de suas idias como, retroa

    tiva e ironicamente, distorce o ocorrido nesta data cm 1799 quando

    o tio de Lus, Napoleo, deu o golpe no Diretrio e tornou-se Impe

    rador. Data desta obra a reinterpretao da falcia hegeliana de que a

    histria se repete: Hegel demonstrou que todos os fatos e personagens

    de grande importncia na histria do mundo ocorrem, por assim dizer,duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como trag

    dia, a segunda como farsa (Marx, 18 lirutttrio).Seria Marx a representao farscsca dc Hegcl?

    O grande arquiteto da desinformao sistemtica foi Fclix Edmundovi-

    tch Dzerzhinsky, criador da primeira polcia secreta sovitica, Tcheka.

    Quando Lenin perguntou, ainda em I9 I8 a Dzerzhinsky, sobre qual aestratgia que deveria ser adotada para influenciar o resto do mundo,

    recebeu como resposta: "diga sempre o que eles querem ouvir, minta,

    minta sempre e cada vez mais. De tanto repetir as mentiras elas acabam

    sendo lomadas como verdades".wA primeira fraude fotogrfica impor

    tante de que tenho notcia foi a supresso da imagem de Trotsky ao lado

    da tribuna de onde Lenin discursava para as tropas na Praa Svierdlov

    em 1920, obra do sucessor de Dzerzhinsky, Lavrenty Pavlovich Bieriasob as ordens de Stalin.

    9 Esta expresso, levemente modificada, foi copiada por Paul Joseph Goebbels, M i

    nistro da Propaganda e do Esclarecimento do Povo do III Rcich a quem foi atribuda,

    erroneamente e provavelmente de m-f. a autoria

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    I N T R O D U O

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    IN I I RI 111)10

    A hora dc sair lora chegara c felizmente o fiz Restou-me a imensa per

    plexidade dc como eu poderia ter sido atrado por tal amontoado de

    mentiras e toliccs propagadas como filosofia e boa cincia econmica.

    E como tantas pessoas se deixavam tambm iludir. Um ano aps sair da

    AP formei-me em medicina e no tive mais tempo para pensar muitosobre isto, pois minha ps-graduao exigia enormes esforos dc estu

    do e pesquisa espccializados, alm de estar recm-casado c precisando

    de uma penca de empregos. Era o tempo do ento chamado "milagre

    brasileiro", que depois do revisionismo histrico c da fbrica de mitos

    dc que tratarei ao longo do livro, veio a ser chamado de "anos de chum

    bo". No parecia scr esta a opinio do atual Presidente da Repblica

    quando era um lder sindical ainda no pervertido pelas idias comunis

    tas, pois disse daquele perodo. "Naquela poca, sc houvesse eleies,

    o Mdici ganhava (...) A popularidade do Mdici no meio da classe

    trabalhadora era muito grande. Ora por qu? Porque era uma poca de

    pleno emprego" (Depoimento a Ronaldo Costa Couto em Memria viva

    do regime militar, citado por Raymundo Negro Torres no livro 1964. A

    Revoluo Perdida). Talvez seja a nica concordncia que eu tenha comSua Excelncia: sobrava emprego, no s para metalrgicos, mas tam

    bm para mdicos c outras profisses e o salrio mnimo era respeit

    vel. Os consultrios viviam cheios dc pacientes particulares cm todas as

    especialidades clnicas, cirrgicas c psicolgicas. Outro autor que no

    pode ser propriamente chamado de admirador do regime militar, Elio

    Gaspari, em A Ditadura Derrotada(pp. 26-27), concorda com Lula - e co

    migo: "Mdici cavalgava popularidade, progresso e desempenho. Umapesquisa do IBO PE realizada em julho de 1971 atribura-lhe 82% de

    aprovao. Em 1972 a economia cresceria 11,9%, a maior taxa de todos

    os tempos. Era o quinto ano consecutivo de crescimento superior a 9%.

    A renda per capita dos brasileiros aumentara 50%. Pela primeira vez na

    histria as exportaes de produtos industrializados ultrapassaram um

    M)

    ( ) F I X O 1) 1) MAI I AT INO A.MIRK AN O

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    bilho dc dolaics D up licara a produ o dc ao c o consu m o dc cncr

    . tr ip licar a a dc veculos, quadruplicara a dc navios A (hoje falccida)

    Bolsa dc Valores do Rio dc laneiro tivera cm agosto uma rentabilidade

    dc 4),4%. No eixo Rio - So Paulo executivos ganhavam mais que seus

    similares americanos ou europeus. Kombis das empresas de construo

    civil recrutavam mo de obra no ABC paulista com alto-falantes ofere

    cendo bons salrios e conforto nos alojamentos. Um metalrgico par-

    cimonioso ganhava o bastante para comprar um fusca novo. Em apenas

    dois anos os brasileiros com automvel passaram de 9% para 12% da

    populao e as casas com televiso de 24% para 34%".

    Certamente estes resultados do "capitalismo abjeto" e da "cruel ditaduraque nos oprimia", sentidos no prprio bolso, e a segurana que se goza

    va no Pas onde "polcia era polcia e bandido era bandido" - ningum

    tinha medo de sair noite cm qualquer cidade do Pas, certa vez, para

    procurar um marceneiro que nos devia um mvel, subimos eu c minha

    mulher uma favela num morro em Olaria, a p! - ajudaram em muito a

    minha "virada" ideolgica, obviamente ainda cm termos exclusivamen

    te prticos.10Mas comecei a perceber algo estranho, que era o motivo

    do regozijo de Giocondo Dias, Secretrio Geral do Partido ComunistaBrasileiro quando dizia que "uma das maiores alegrias de um comunista

    ver na boca dos burgueses, nossos adversrios, as nossas palavras de

    ordem": aos poucos passei a ouvir "os burgueses" usando o linguajar, as

    doutrinas e palavras de ordem comunistas, minhas velhas conhecidas

    dos tempos de ativista. A princpio timidamente, mas logo com rapi

    dez, certas expresses que antes eram usadas por comunistas c execradas

    pelos "burgueses", passaram a ser proferidas pelos ltimos, como igualdade, injustia social, dio aos empresrios e ao lucro. Quanto mais a

    "pequena burguesia" melhorava de vida graas ao "milagre brasileiro"

    10 Critica-se muito a frase cunhada naquele perodo Brasil. Ame-o ou Deixe-o, sem que

    ningum se pergunte se em Cuba isto seria, ainda hoje, possvel, ou se seria substituda

    por Fidel. Ame-o ou Morra!

    II

    I N T R O I H K . O

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    m.m execrava a si mesma, numa reao possivelmente culpada por po

    derem usulruir condies econmicas nunca dantes imaginadas, como a

    possibilidade de compra de casa prpria facilitada pelo hoomimobilirio

    dos anos Mdici.

    A culpa inconsciente pela rpida prosperidade tornava a classe mdia

    presa fcil para a doutrinao invejosa que transforma inicialmente olinguajar e depois as atitudes e atos das pessoas. Inicialmente foram

    acusados e depois passaram a se auto-acusar de "privilegiados" ou "elite

    privilegiada", sem poderem valorizar que o que estavam obtendo era

    fruto de seu trabalho e no de privilgios esprios. Em parte porque

    a busca de satisfaes e prazeres sem as correspondentes obrigaes

    morais a tornava uma classe "postia, desequilibrada, ftil e baseada na

    ingratido radical para com as geraes anteriores, essa forma de vida

    produziu uma tremenda acumulao de culpas inconscientes, as quais,

    no podendo recair sobre os culpados autnticos - que toleram a idia

    de culpas ainda menos que a da morte - so projetadas de volta sobre a

    fonte de seus benefcios imerecidos" (apudOlavo de Carvalho). Os que

    ainda no tinham acesso s boas novas passaram a ser chamados de "des-

    possudos", "oprimidos", "vtimas da injustia social" e da "concentraodc renda nas mos dos privilegiados. Esta, contudo, no era a percep

    o dos operrios tambm beneficiados, mas somente dos filhinhos-de-

    papai - estudantes e intelectuais, o beautijul people da mdia e da moda.

    Este dio ao capitalismo resultado da projeo psictica que, "ao negar

    a realidade manifesta da prosperidade geral crescente, imputa ao capi

    talismo at mesmo a misria dos pases socialistas" (ibid),como atribuir

    a culpa da misria de Cuba no explorao de Castro e sua quadrilha,

    mas ao embargo americano.

    Observe-se a diferena entre algum no possuiraltjoe ser despossudo-,a se

    gunda expresso pressupe uma ao por parte de outro que o "desapossa",

    ou toma posse do que no lhe pertence, para seu prprio usufruto -

    32

    O 11X0 IX > MAI I A7 INC) A Ml' Rl( ANO

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    p o il.m ln d r . ipio pn .i.io md eh ila, dc* lou bo ( ) uso do p arlicip io Min

    bm do v c ib o o p rn n ii pre ssupe- aa o dc* algum que op rim e ( ) que este

    process

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    conservadorismo ivltoifiado Note sc que apesai dc que conservai nao sc|.i

    rctroagir, pelo contrrio, como sinnimo que n esquerda usa as palavras

    conservadore/ou reacionrio. 'Quem domina o passado, domina o presente;

    quem domina o presente, domina o luturo". George Orwell reconheceu

    isto ao criar o Ministrio da Verdade ( i 984).

    O controle do futuro absolutamente necessrio para dar garantia s"profecias" dc Marx cm sua rivalidade com Deus e a Bblia: sua obra

    deveria substitu-la e, portanto, deveria ter suas profecias confirmadas,

    mesmo que custa de centenas de milhes de mortos. Mikhail Bakunin

    dizia que "o Sr. Marx no acredita em Deus, mas acredita profunda

    mente em si mesmo. Seu corao contm rancor, no amor. Ele muito

    pouco benevolente com os homens e sc torna furioso e maldoso quan

    do algum ousa questionar a oniscincia da divindade adorada por ele,

    quer dizer, o prprio Sr. Marx". Pode-se dizer o mesmo dos marxistas

    de todos os tempos: no passam de adoradores de si mesmos e de seus

    delrios dc poder.

    Partindo dc uma observao acurada da mente humana, Marx percebeu -

    consciente ou inconscientemente - a preferncia da Humanidade por

    mentiras agradveis a ter que conviver com verdades por vezes dolorosas.

    Ou pior, a um estado de dvida,o mais temido e rechaado dc todos - embo

    ra o nico que pode levar introspeco e ao verdadeiro conhecimento.

    Substituiu ento o velho lema socialista-a cada um de acordo com seu trabalho-

    por outro mais agradvel - a cada um segundo suas necessidades. Enquanto o

    primeiro inclui necessariamente algum esforo, o segundo acena com

    um estado de coisas paradisaco ou nirvnico no qual todos tero suasnecessidades atendidas. A mudana sutil, mas fundamental. A recusa a

    pensar, a enfrentar as inevitveis dvidas morais que assolam sem cessar

    o ser humano, impede a pessoa de investigar seu interior e o mundo, e

    quanto mais cega sc torna cm relao ao mundo, mais interessada em

    modific-lo sua imagem c semelhana. Ora, exatamente isto que

    34

    O F IX O 1)0 MA I I A TI N O A MF R K A N O

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    N1.it x sngc ic

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    p io do po vo ', por ou ira droga, materialista e supostamente demons

    trvel atravs de meios racionais, mas que, como bem o demonstrou

    Raymond Aron, o pior e mais estupefaciente de todos os pios (O

    pio dos Intelectuais). irnico que tenha sido um poltico a diagnosticar

    o grande mal psicolgico do sculo e no as pessoas que deveriam estar

    mais preparadas para faz-lo: os psicanalistas e psiquiatras. Ronald Re

    agan apontou que o comunismo "no nem um sistema poltico, nem

    econmico - uma forma de insanidade - uma aberrao temporria

    que um dia desaparecer da face da Terra porque contrria natureza

    humana. Imagino quanta misria causar antes de desaparecer" (Reagan

    in bisotrn band).

    UM A AD VERTNC IA NECESSR IA

    Antes de prosseguir necessria uma advertncia. Insisti na indignao

    moral e na introspeco com plena aceitao da culpa porque creio que

    uma outra tentao se apresenta ao nefito do liberalismo: negar as ba

    ses morais e religiosas judaico-crists do liberalismo e cair no extremo

    oposto, deixando-se seduzir por esquemas to amorais quanto o mar

    xismo, como a pseudofilosofia "Objetivista" de Ayn Rand baseada numa

    viso do homem como "um ser herico, com o nico propsito moral de

    conseguir sua prpria felicidade, tendo como sua mais nobre atividade

    ser produtivo e bem sucedido, e a Razo como seu nico Absoluto"11. E

    por nefitos quero dizer no somente aqueles que saram do comunismo,

    mas tambm aqueles que, segundo dizem, "j na adolescncia percebe

    ram que Marx estava errado". A no ser que seja um gnio no entendocomo um adolescente possa ter elementos intelectuais suficientes para

    tal. Estas pessoas tendem a acreditar que o liberalismo fruto da Deu

    sa Razo dos Iluministas e que esta, se bem utilizada, como acreditam

    11www.aynrand.org

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    O r i X O 1)0 MAl I AT IN O AMI RK ANO

    http://www.aynrand.org/http://www.aynrand.org/
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    U* Io lii lo , inos d.ii. i que o m m n cam inh o o liberalism o I nganam sc*

    redo nd am en te, pois a Raz o gerou o com unism o, o nazism o c* todas as

    correntes totalitrias que assolaram os dois sculos passados. A Razo

    desprovida dc* princpios gera, paradoxalmente, a irracionalidade e a in

    sanidade. DesconHo que Fukuyama um desses seres iluminados.

    A desinformao no permite ver que, se o liberalismo amoral em simesmo, ele fruto dc uma moral que o antecede e lhe d forma humana

    sensvel e s pde sc desenvolver a partir dela. Sem o lento desenvolvi

    mento da tradio ocidental judaico-grcco-crist o homem jamais teria

    atingido uma concepo de liberdade individual fundada no "conhece a

    ti mesmo antes de tudo" e no "ama ao prximo como a ti mesmo", que

    a verdadeira liberdade. Um sistema baseado exclusivamente num aspec

    to superficial e parcial da mente humana - o egosmo - no pode menos

    do que sucumbir ao Terror. A negao violenta desta tradio foi o mo

    tivo pelo qual o liberalismo evoluiu para o Terror, na Frana, e foi por

    respeit-la que os Foundin) Fatbersestabeleceram as bases da democracia liberal Americana. Se Adam Smith descreveu desapaixonadamente

    como sc fazem as riquezas das naes,tambm escreveu uma profunda obra

    moral, Teoria dos Sentimentos Moraisque inicia com a belssima afirmao:"Por mais egosta que se suponha o homem, evidentemente h algunsprincpios em sua natureza que o fazem interessar-se pela sorte de ou

    tros, e considerar a felicidade deles necessria para si mesmo, embora

    nada extraia disso seno o prazer de assistir a ela. Dessa espcie a pie

    dade, ou compaixo, emoo que sentimos ante a desgraa dos outros,

    quer quando a vemos, quer quando somos levados a imagin-la de modo

    muito vivo." Esta a base da Razo sadia, propriamente racional, e no

    insana. Acostumamos-nos a denominar as pessoas que assim pensam de

    liberais conservadores.E aos demais de libertrios.

    Ao longo do livro pretendo demonstrar ser exatamente esta falta

    de princpios morais e o desprezo pelos seres humanos que leva

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    I N T R O D U O

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    im pr ov ve l u nio entre os com un istas e os m cl.u . ipi l. il tst.is, term o

    c un had o por ( )lavo dc* C .arvaI l io para des igna r aqueles e m pres rios e

    banqueiros que, tendo utilizado a concorrncia proporcionada pelo

    liberalismo para atingirem uma posio na qual esta no mais lhes

    interessa, querem esmag-la num controle mundial em que evitem

    ameaas s suas posies de fortuna e poder. Basta ver o exemplo

    chins: depois de Fukuyama existem os entusiasmados com o que

    consideram a vitria do capitalismo e do liberalismo na China com

    o programa um pas, doissistemas da reforma dc Deng Xiaoping. So na

    verdade, duas classes,os burocratas governamentais unidos aos novos

    multibilionrios da franja litornea a eles ligados umbilicalmcntc c

    um contingente de mais dc um bilho de escravos que no tm o que

    comer. Chamar este sistema dc liberal s serve para desmoralizar oliberalismo. Desde a dcada de 50 do sculo passado a China um

    continente dc escravos miserveis, mas esta informao vem sendo

    sonegada c a desinformao ativa vinha mostrando os "avanos" so

    cialistas do povo. S agora passam a aparecer, certamente j como

    preparao de um futuro fechamento, com ocorreu com a Nova Pol

    tica Econmica na URSS, atribuindo ao liberalismo a "desigualdade

    que tinha sido suprimida com o maosmo.

    O R EC O M E O

    Contudo, todos estes entendimentos no foram suficientes para que eu

    compreendesse uma nova enxurrada vulcnica que se desenrolava mi

    nha volta. Com o Governo Figueiredo, anistia e redemocratizao vista, o verdadeiro entulho autoritrio marxista que tinha submergido

    na clandestinidade veio rapidamente tona. Perplexo, percebi, inicial

    mente, como a penetrao marxista tinha sorrateiramente infectado as

    sociedades psicanalticas s quais eu pertencia. Congressos profissionais

    passaram a ter como norma o convite a "filsofos" marxistas, cursos de

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    O EIXO 1)0 MAl L A T IN O A MI R IC . A NO

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    pscud* lilosoli.i com I c.uulro Rondeie Carlos Nelson Coutinho lor.im

    oferecidos, colegas lech.ivam seus consultrios para ir ao Calo rccc-

    Ix t o "maior brasileiro de Iodos os tempos", Lus Carlos Prestes!1' Na

    educao de meus lilhos j se infiltravam tambm lemas da Teologia da

    Libertao e interpretaes marxistas da histria.

    C) que acabara no era o comunismo, mas o anticomunismo. Criticar ocomunismo ou os comunistas ficara indelevelmente equacionado com

    defender a "ditadura" e fazia do sujeito um pria. Note-se este pequeno

    extrato de discusso: uma colega recm chegara de um Congresso de

    Psicologia Marxista (o que quer que seja isto!) em Havana, um daque

    les convescotes convocados para atacar algum ou alguma coisa atravs

    de manifestos polticos e onde a cincia passa ao longe. Pois dizia ela

    entusiasmada que haviam "tirado posies" radicais contra a ditadura

    Argentina (gostaria que me explicassem o que isto tem a ver com Psico

    logia). Perguntei como se podia falar mal de uma ditadura emCuba,sede

    da pior ditadura da histria da Amrica Latina. Resposta: ento voc a

    favor do genocdio de 30.000 pessoas na Argentina? Conclu que deve

    ria aprender mais e, j folgado de tempo, esforcei-me por entender que

    coisa era aquela! Alguns fatores ajudaram bastante.At a gesto do Professor Jos Carlos de Almeida Azevedo na Reitoria

    da Universidade de Braslia, o acesso s obras dos autores liberais eram

    muito mais difceis do que hoje - as editoras estavam todas nas mos

    de comunistas como Caio Prado Jnior, Enio Silveira e outros, alm

    de que no havendo Internet era tudo por carta e muito demorado - e

    eu no sabia nem por onde comear. Foi quando aconteceu a chamada

    "crise do Departamento de Filosofia da PUC-RJ". Pipocavam nos jornais

    debates entre Professores no marxistas e a Diretoria do Departamento

    S muito mais tarde vim a saber o porqu de eu no ter percebido nada a tempo:

    alm da necessria discrio destas atividades durante os Governos Militares, eu tinha

    sido dado como agente do SN I j que ora preso em 1965 - declarei isto nas entrevis

    tas de admisso aos cursos - e sara ileso e nunca mais tinha sido molestado.

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    c . Reitoria sobre a perseguio que vmh.1111sofiendo csics Professo

    res O estopim loi a recusa em publicar um trabalho de Miguel Reale

    O episdio loi relatado em livro do Prolessor Antonio Ferreira Paim -

    Liberdade Acadmica e Ofco Totalitria -que ao que eu saiba teve poucas

    edies e teria merecido vrias. A leitura deste debate memorvel,

    como o denominou o autor, causou-me na poca profunda impresso.

    No dia 14/03/1979 o Jornal do Brasil - note-se que a mdia ainda no

    estava dominada, hoje jamais sairia! - publicou uma carta da Profes

    sora Anna Maria Moog Rodrigues endereada ao Chefe do Departa

    mento de Filosofia, na qual protestava contra a censura de um texto

    do Prof. Miguel Reale - A Filosofia como Autoconscincia de um Povo -

    numa coletnea didtica para a Disciplina Histria do Pensamento.

    No dia seguinte o JB publica uma carta-resposta do Diretor do Departamento informando que o texto "no fora includo na apostila oficial,

    face ao carter polmico e controvertido das atividades polticas do

    autor". Dois dias depois, o JB publicava a carta do Reitor justificando

    a atitude do Departamento e qualificando de ridculas as alegaes

    da Professora de haver uma crise na Universidade. Imediatamente a

    mesma pede exonerao e acompanhada pelo autor do livro que di

    zia que, "sendo oficialmente reconhecida a censura, no mais poderiapermanecer no Departamento".

    O debate se estende por muito tempo, incluindo a tomada de posio

    de trs prestigiosos jornais (JB, Globo, O Estado de So Paulo) a favor

    dos demissionrios - bons tempos aqueles em que a imprensa cumpria

    suas funes! S para ter idia dos ttulos: Filosofia Intolerante (JB), Dis

    criminao Ideolgica (O Globo), A Opo Totalitria dos Intelectuais (Estado), etc. Na brilhante anlise que faz da crise, entre outras

    preciosidades, o Prof. Paim pe o dedo na ferida: Reale no tinha sido

    censurado por sua opo integralista de outrora - j que eram aceitos

    os pensamentos dc outros luminares integralistas como Hlder Cmara,

    Alceu Amoroso Lima, Roland Corbisier, ctc. - mas sim pelo culturalismo

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    de Rim Ir qur Yoricspondr mais cabal refutao de todo tipo dr totali

    tansmu", r que "impediu a penetrao, no Brasil, da denominada lilosolia

    da libertao (...) tendo que se conformar em se apresentar (aqui) com

    a forma mais restrita de teologia da libertao". ( ) livro uma verda

    deira aula de como os marxistas tomam de assalto uma Universidade -

    ou qualquer instituio - e expulsam todos os demais.

    A tomada de assalto dos meios de comunicao acabou com esta liber

    dade de publicao. A mdia prolfica, frtil e polmica que tnhamos at

    ento era combatida como "imprensa burguesa" qual se opunham os

    jornais "populares", que ningum lia, a no ser os "adeptos", dada a indi-

    gncia intelectual dos mesmos. Era preciso mudar este estado de coisas

    e como de nada adiantava o combate limpo e aberto, era necessrio

    tomar por dentro, minar a criatividade, substituindo-a paulatinamente

    pela massa amorfa em que a mxima divergncia seja a do "sim" com a

    do "sim, senhor" cm que todos concordem quanto aos slogans funda

    mentais, palavras que perderam todo significado, como "justia social",

    "cidadania", "progressista", "neoliberal" e tantas outras que conhecemos

    muito bem. No tenho dvidas de que a obrigao de estudar jornalis

    mo para ser profissional de imprensa foi um dos golpes mais duros nacriatividade, pois os tais grupos tomaram de assalto as faculdades de jor

    nalismo e passaram a criar uma choldra que nada mais faz do que repe

    tir uns aos outros como temos hoje nos principais rgos de imprensa,

    rdio e T V no Pas.

    Passei a pesquisar outros livros de autor1' e atravs desses entrei em

    contato com a Editora da UnB que estava finalmente publicando livros

    de pensadores liberais e conservadores, da qual me tornei um dos mais

    vidos compradores. Minha introduo no mundo das diferenas en

    tre sociedades totalitrias e livres se deu atravs de Hanna Arendt e,

    principalmente, Karl Popper. No entanto, me sentia bastante solitrio,

    M Bibliografia que pode scr encontrada rm Im p 'www cnsavistas or^lilosnlovW asil/paim /biblio him

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    pois passe i a falar unia lingu agem que nin gum en ten dia , ,ue meus mais

    caros amigos - sabidamente no comunistas - passaram a ine vei como

    paranico, principalmente depois de 89, pois o comunismo acabara,

    todo mundo sabia! A extenso e profundidade da infiltrao gramscia-

    na, como vim mais tarde a descobrir e tratarei adiante, tinha sido to

    grande que a linguagem poltica e social estava totalmente unificada,

    para deleite de Giocondo Dias.

    ***

    Poucos anos depois espocaram em todas as associaes profissionais e

    de ensino movimentos por maior "democracia", fim da hierarquia com

    base no desenvolvimento cientfico e no mrito, igualdade para todos.

    As sociedades de psicanlise foram igualmente afetadas, particularmente

    aquela qual eu pertencia, a Sociedade Brasileira dc Psicanlise do Rio

    de Janeiro. A gerao mais velha passou a utilizar os mais jovens para

    conduzir uma luta que vinha de anos entre eles. O ataque hierarquia

    deveria ser feito contra os Estatutos, considerados autoritrios por esta

    belecerem diferentes nveis nos quadros sociais. Alunos, Membros Associados, Membros Titulares e Analistas Didatas (que so os professores,

    supervisores c analistas dos alunos), progresso baseada estritamente

    em critrios cientficos, mas explorada pela ala marxista, predominante

    na gerao mais velha, como puramente poltica, autoritria e fruto da

    "ditadura". Todos eram ligados direta ou indiretamente ao Partido Co

    munista Brasileiro. Conseguido seu intento, como seria de esperar, os

    alunos passaram a mandar e desmandar, sendo os verdadeiros donos dopoder. Nada mais insano do que a insanidade se instalar no seio das ins

    tituies apropriadas para combat-las. Foi a poca de ouro da esquerda

    marxista que alimentava o dio entre colegas, chegando a afirmar que

    era inadmissvel um psicanalista no-marxista! E que se houvesse algum,

    estava a servio da ditadura militar!

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    ( lu-gou sc tio i uimilo ilc* levar a I lavana um lubalho cm que, deturpan

    do toLilmcntc o conceito dc* considerao pc*lo outro Uomuth), delendia

    a quadrilha dc* narcotraficantes assassinos que* tomou conta dc* Cuba,

    qualificando o regime como uma "experincia enriquecedora, um Estado

    serio e bem orientado" com dirigentes verdadeiramente preocupados

    com a vida e sade fsica e mental de seus reprimidos sditos, permitindo

    que "crianas atendidas fisiolgica e psicologicamente sc desenvolvam

    em adultos sadios". Ficava implcito neste trabalho que o povo, ao no

    reconhecer a bondade extrema dc seus governantes, demonstrava falta

    de gratido, justificando, portanto, indiretamente, a represso. Chega a

    dizer que todas as crianas nascidas aps a tomada do poder por Castro so mental

    mente sadias,justijicando a necessidade de assistncia psicanaltica apenas para os que

    nasceram antes disto!A cincia se transformava em poltica rasteira.14

    Na rea da Psiquiatria a doutrinao antipsiquitrica se deu preponde

    rantemente pelo movimento antimanicomial que foi - e - "macia nas

    escolas de medicina, enfermagem, psicologia e servio social, e em al

    guns meios "intelectuais". Segundo as palavras da Dra. Iraci Schneidern

    "hoje em dia, no imaginrio da maior parte das pessoas, a internao

    psiquitrica sinnimo de tratamento desumano e cruel, e, sobretudoineficaz". "A doena mental, diziam, era uma fico capitalista e burguesa".

    "Na verdade, no existia a loucura, que poderia ser vista como uma re

    ao sadia a um sistema que no tolerava manifestaes individuais de

    liberdade". A loucura era criativa, transgressora, desafiadora do status

    quo. (Michel Foucault era o livro de cabeceira). A loucura, subversiva',

    criadora, 'de esquerda', desafiava o Poder constitudo, representado pelo

    hospital psiquitrico e pela medicao antipsictica, estes de direita'.Freud j estaria superado, entronizava-se Lacan". "A luta antimanicomial

    foi apenas o pretexto, nada mais do que a mesma poltica de tomada do

    14 Mais detalhes em http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=3650 e

    http://www.gradiva.com.br/rhavanahtm.

    15http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php7sid=3649

    43

    I N T R O I H K , O

    http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=http://www.gradiva.com.br/rhavanahttp://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php7sidhttp://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php7sidhttp://www.gradiva.com.br/rhavanahttp://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=
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    poder institucional na rea mdica c|ue ocorria em outias espec lalulades

    e em todos os estados . "No imaginrio das pessoas, psiquiatria, inter

    nao, hospital psiquitrico (fala-se manicmio), tornou-se o local da

    violncia e do horror ".

    A verdadeira razo da "superao" de Freud e da entronizao de Lacan

    est no fato dc que Freud demonstrou que em termos psicolgicos o marxismo incompatvel com a natureza humana. Na XXXV Nova Conferncia

    IntrodutriaFreud fala extensamente das diferenas inconciliveis. Destaco especificamente estes trechos: "(O marxismo) prev que no curso

    de algumas geraes (com as modificaes das condies econmicas)

    a natureza humana ser alterada e a humanidade conviver harmonica-

    mente na nova ordem social'' e ' transfere para outro lugar as restries

    instintivas essenciais sociedade, desvia para fora as tendncias agressi

    vas que ameaam a humanidade e encontram suporte na hostilidade dos

    pobres contra os ricos e dos fracos contra os fortes. Mas uma transfor

    mao da natureza humana como esta altamente improvvel" (p. 180).

    A observao de 15 anos de aplicao prtica destas idias levou Freud

    a complementar: "(o regime) criou tal proibio dc pensamento que

    mais cruel do que as das religies no passado. Qualquer exame crtico dateoria marxista proibido, duvidas sobre sua correo so tratadas como

    heresias (... ) Os escritos de Marx tomaram o lugar da Bblia e do Coro

    como fontes de revelao ( ..)".

    No bastava, entretanto, "superar Freud, tambm era necessrio substi

    tu-lo for um farsante, cujos truques lingsticos foram amplamente de

    nunciados como imposturas por Alan Sokal & Jean Bricmont (ImposturesIntellectuelles), que demonstram claramente que seus fundamentos mate

    mticos no passam de pura fantasia: "...suas analogias entre psicanlise

    e as matemticas so as mais arbitrrias que se podem imaginar (..) sem

    que apresente nenhuma justificao emprica ou conceituai. Finalmente,

    para aqueles que preferem ostentar erudio e de manipular frases sem

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    sen tido , pensam os que seus Icxtos s.io su ficien tem en te el>quentc*s Ao

    mesmo tempo c m uma nova re ligio esotrica , "um 'm istic ismo la ic o ,

    onde o discurso no apela nem razo, nem esttica (...) torna-se

    cada vez mais cr pt ico - caracterstica comum a muitos textos sagra

    dos - onde o jogo de palavras se combina com uma sintaxe fraturada,

    servem de base para uma exegese reverenciai dos discpulos ('iniciados).

    Podemos perguntar, portanto, legitimamente, sc eles no significam a

    estruturao de uma nova religio". Pois toda a obra de Freud hoje

    apresentada, principalmente no Brasil - e parcialmente na Frana - por

    uma traduo lacaniana hermtica que horroriza e alasta as pessoas que

    querem pensar e que mais parece um balbuciar de bebs, permitindo

    que se afirme qualquer coisa. Como este livro no sobre psicanlise

    espero que estas palavras sirvam de demonstrao suficiente. Uma outrainfluncia nefasta sobre os meios intelectuais a da Escola de Frankfurt,

    que ser tratada no Captulo VIII.

    Andava eu em busca de explicaes que satisfizessem minha perplexida

    de quando me caiu em mos um livro, O Imbecil Coletivo", de Olavo

    dc Carvalho. Em seu prlogo o autor diz: "O imbecil coletivo no ,

    de fato, a mera soma de um certo nmero de imbecis individuais. ,

    ao contrrio, uma coletividade de pessoas dc inteligncia normal ou

    mesmo superior que se renem movidas pelo desejo comum dc imbe

    cilizar-se umas s outras. Se desejo consciente ou inconsciente no

    vem ao caso: o que importa que o objetivo geralmente alcanado.

    Como? O processo tem trs fases. Primeiro, cada membro da coletividade

    compromete-se a nada perceber que no esteja tambm sendo perce

    bido simultaneamente por todos os outros. Segundo, todos juram crerque o recorte minimizado assim obtido o nico verdadeiro mundo.

    Terceiro,todos professam que o mnimo divisor comum mental que opera

    esse recorte infinitamente mais inteligente do que qualquer indivduo

    humano de dentro ou de fora do grupo, j que, segundo uma autoriza

    da porta-voz dessa entidade coletiva, "a psicanlise, com o conceito de

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    mconsc icnte, c o marx i smo, com o dc- ideo logia , estabeleceram limites

    intransponveis para a crena no poderio total da conscincia autno

    ma, enfatizando seus limites. Assim, se um dos membros da coletivida

    de mordido por um cachorro, deve imediatamente telefonar para os

    demais c perguntar-lhes se foi de fato mordido por um cachorro. Se lhe

    responderem que se trata de mera impresso subjetiva (o que se dar

    na maioria dos casos, j que altamente improvvel que os cachorros

    entrem num acordo dc s morder as pessoas na presena de uma parcela

    significativa da comunidade letrada), ele deve incontinenti renunciar a

    considerar esse episdio um fato objetivo, podendo porm continuar a

    falar dele em pblico, se o quiser, a ttulo dc expresso pessoal criativa

    ou de crena religiosa. Para o imbecil coletivo, tudo o que no possa ser

    confirmado pelo testemunho unnime da inteligentzia simplesmente noexiste. Compreende-se assim por que o mundo descrito pelos intelec

    tuais to diferente daquele onde vivem as demais pessoas, sobretudo

    aquelas que, imersas na iluso do poderio total da conscincia autno

    ma, acreditam no que vem em vez de acreditar no que lem nos livros

    dos professores da U SP#,.,*

    Logo percebi que no estava s e mais: que o autor que escrevera aquelas palavras tinha experincias parecidas com as minhas, possivelmente

    estivera tambm no mesmo inferno. Eu no me enganara, Olavo fizera

    parte de um nmero restrito de militantes a servio da mesma causa e

    por isto era capaz dc entender o que ocorria.

    "A inteligentzia,palavra russa, convm lembrar, no abrange em seu signi

    ficado todas as pessoas empenhadas em tarefas cientficas, filosficas ou

    artsticas, mas somente aquelas que falam com freqncia umas com as

    outras e se persuadem mutuamente de estar colaborando para algo que

    juram ser o progresso social e poltico da humanidade. (...) caracters

    tico da nossa baixeza intelectual que, quanto menos algum compreende

    O Imbecil Coletivo I, atualidades inculturais brasileiras,p. 49.

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    O I IXO 1)0 MAI l ATI NO AMI RI ( ANO

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    simples cnunciado dc uma idia, mais sc iiilga capacitado a diagnosti

    car os motivos psicolgicos profundos c ate mesmo inconscientes que

    teriam levado o autor a produzi-la. Isso tem a indiscutvel vantagem dc

    desviar a discusso dos terrenos ridos da filosofia, da cincia, etc., para

    as frteis plancies da psicanlise-de-botequim, onde todo brasileiro se

    sente um eXperttanto quanto em tcnica de futebol, economia poltica e

    mecnica de automveis".17

    Tambm ajudou enormemente meu entendimento a seguinte observa

    o: "O mais curioso, a, que as pessoas deixam de ser marxistas, mas

    no sabem ser outra coisa, porque tudo o que leram na vida foi com os

    olhos de Marx. O resultado que esses ex-marxistas continuam racioci

    nando dentro de um quadro de referncia demarcado pelo materialismo

    dialtico, pela luta de classes e por todos os demais conceitos clssicos

    de um marxismo que j no ousa dizer seu nome".

    "Dirijo-me ao que b de melbor no ntimo do meu leitor, no quela sua casca temero

    sa e servil que diz amm opinio frupal por medo da solido. Fazer o contrrio

    seria um desrespeito". Em mim atingiu certamente o que h de melhor.

    Depois de esmiuar a obra de Olavo e seguir seus passos, passei a in

    vestigar por mim mesmo, embora mantendo a colaborao e a amizade que se desenvolveu entre ns. Meus conhecimentos sobre Antonio

    Gramsci eram nulos e sobre a Escola de Frankfurt, escassos. As con

    cluses provisrias destas investigaes que devero se aprofundar

    o que ponho disposio dos leitores a seguir. Pretendo tambm que

    este livro permita aos leitores um contato com bibliografia e publica

    es que no esto traduzidas para nosso idioma nem divulgadas aqui -

    e, provavelmente, nunca sero, em funo da hegemonia editorial e

    miditica esquerdista.

    ***

    17O Imbecil Coletivo. atualidades inculturais brasileiras, p. 46 e 47.

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    liste livro baseado em artigos que escrevi para o |ornal eletrnico Sm

    Mascara (www.midiasemmascara.com.br)IKcom vrios acrscimos e modi

    ficaes necessrios para dar lorma de livro e complementar com informa-

    es mais recentes. Por esta razo algumas repeties foram mantidas para

    no perder o sentido. Como os artigos foram escritos entre 2003 e o primei

    ro semestre de 2007, muito poder estar superado quando da publicao.

    Aos leitores que quiserem ler um livro politicamente neutrorecomendo no

    passarem daqui. Como j mostrei acima, no possvel neutralidade fren

    te ao totalitarismo e ao genocdio. Este um livro contra todas as formas

    de totalitarismo, particularmente a que mais nos ameaa no momento, o

    comunismo. Qualquer crtica neste sentido ser, portanto, ignorada.

    '* A lista desses artigos se encontra no final do livro sob o ttulo Artigos do Autor

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    CAPTULO II RR< >S 1)1 M l K )l)O I.( X ;iA DL AVA I.IA O DAS

    L STR AT L C IAS C O M U N IST A S C O M E T ID O S PE LOS SE R V I O S

    DE INT EL IGN C IA OC IDEN TA IS

    ( J pessoas bondosas acreditam que pessoas ms podem ser transformadas em

    boas se as bondosas derem alguma coisa s ms. principalmente ajuda econ

    mica e uma \olherada de 'compreenso' para adoar sua maldade Um hall da

    infmia (hall of itifamy) poderia ser erguido para acomodar os lderes polticos,

    diplomticos, religiosos, acadmicos e intelectuais que tmfe'em medidas de apazi

    guamento para evitar a guerra, freqentemente se deparando com uma guerra mais

    fiolenbi ainda como resultado de sua ingenuidade

    Cal Thomas

    Hermann Rauschning (1887-1982), alto prccr nazista, ntimo cola

    borador, conselheiro e confidente do Fehrer, tendo atingido o posto

    de Presidente do Senado da Cidade Livre de Dantzig (1933-1934), ao

    perceber o aimo de terrorismo e chantagem internacional que o regi

    me adotara, foge para o Ocidente c escreve The Revolution of Nihilism -

    A Wartting to tbe West.O livro foi publicado na Europa em 1938 logoaps a anexao da SuJelettland,regio da ento Tchecoslovquia compopulao de origem predominantemente germnica, c em 1939 nos

    Estados Unidos. Imediatamente considerado pela imprensa o livro mais

    importante sobre o Nacional Socialismo depois dc Mmt Kampf,mostrou

    ser tambm proftico. Predisse o Pacto Germano-Sovitico (ver Captulo V I) num momento em que a campanha anti-sovitica pela imprensa

    oficial alem estava no seu auge. O Ministro da Propaganda e do Escla

    recimento do Povo, Paul Joseph Goebbels, vociferava pelo rdio e em

    artigos no Voelkiscber lieobachter(rgo oficial do Partido Nazista), contraos comunistas como os maiores inimigos da Vaterlande da construo

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    do nacional socialismo Predisse a mvasao da Polm.i r a ancxaao da

    I )inamarca como um l.siado ttcrc dc Hcrlim l.mbota valorizado pela

    imprensa. os polticos, com exceo dc Churchill, no lhe deram a de

    vida importncia, to hipnotizados estavam pela Paz a qualquer preo,

    que os levava a aceitar as promessas do Fehrer. Movimentos pacifistas

    louvavam Hitler como dirigente pacfico e Churchill como um maldito

    belicista. Os eternos pacifistas achavam como ainda hoje, que podem

    apaziguar os tiranos com promessas e concesses, transformar pessoas

    essencialmente ms e dispostas a matar, em "boa gente". Lenin foi claro

    ao dizer que os liberais do Ocidente, so "idiotas teis" dos quais fac-

    limo esconder os verdadeiros objetivos do comunismo.

    A galeria do hall da infmiasugerido por Cal Thomas j deve preencher

    um edifcio dc vrios andares e cresce dia a dia com os que acreditam

    que entre os comunistas existem pessoas bem intencionadas e que no

    dito socialismo "ate que tem coisas boas". O papel cumprido por Raus-

    chning desta vez coube a alguns dissidentes soviticos ou de outros pa

    ses da Cortina de Ferro. Com o mesmo resultado, como veremos.

    f A NO VA ESTRATGIA SOVITICA DE DO M INA O M UN DIAL

    RETOR NO AO LENINISM O

    Na verdade. eu deixei h muito tempo de dar conselhos a governos de qualquer

    tipo porque aprendi, ao longo dos anos, que isto uma tarefa extremamente frus

    trante e ingrata Goremos so notoriamente incapazes de operar na base de pol

    ticas ou estratgias de longo prazo Seu processo de tomada de decises t, o mais

    das rezes, reativo, quer dizer, eles sempre reagem a ocorrncias do dia anterior

    Vladimir Bukovsky

    Durante muitos anos Bukovsky tentou alertar os governos americanos

    de que sua percepo da Russia sempre foi enganosa. Mas desistiu, pois

    52

    O \ IX O 1)0 MAL l AT INO AMhRl t ANO

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    "os governos n.io querem resolvei pioblemas, querem se livi.u ileles dc

    qualquci maneira, e isto no c minha especialidade! Vladimu kons

    tantinovich Bukovsky um dos mais importantes dissidentes da URSS,

    autor cie vrios livros e estudos e ativista anticomunista. Foi dos primei

    ros a denunciar o uso da priso em hospitais psiquitricos - psikbusbkas -

    de prisioneiros polticos. Ficou 12 anos nas prises soviticas, campos

    de trabalho e sob tratamento forado cm diversas psikbusbkas.Escreveu,juntamente com o psiquiatra e tambm prisioneiro Semyon Gluzman,

    um Meintuil Je Psiquiatria para DissiJetitespara ajud-los nos interrogatrios Em 1971 conseguiu contrabandear para o Ocidente 150 pginas

    de documentos comprovando abusos em instituies psiquitricas por

    razes polticas. Em 1976 foi trocado pelo lder comunista chileno Luis

    Corvaln e deportado.

    Em 1992 foi convidado por Yeltsin para depor no julgamento da Cor

    te Constitucional Russa para determinar se o PC U S tinha sido uma

    instituio criminosa e teve acesso a inmeros documentos secretos e

    escaneou secretamente muitos deles, mandando-os para o Ocidente.

    Desencantou-se quando percebeu que, o que ele imaginara como um

    Julgamento de Nrembcrg, s adotou meias medidas e declarou: Noconseguindo liquidar de forma cabal o sistema comunista estamos

    frente ao perigo de integrar o monstro resultante (destes julgamentos)

    ao nosso mundo. No se chamar mais comunismo, mas ter a maioria

    de suas perigosas caractersticas. At que sc faa um Julgamento de

    Nremberg de todos os crimes cometidos pelo comunismo, ele no

    morrer e a luta no acabar".

    ***

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    C . A I M T U t . O I

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    2 A S l> kl .V IS O B l ) L A N A K ) I I Y ( , ( H .IT SY N

    ( )mundo ( idental ioitto um lodo, r os fitado Lhitiloson lunhiultii. st- fijui

    roaram seriamente sobre a natureza das mudtinits tio muiulo comunista No

    estamos testemunhando a morte do comunismo, mas uma norao/ensira esbatiftca

    de desinformao

    Anatoliy Colitsyn

    Certamente o mais importante de todos os desertores foi Anatoliy

    Colitsyn, agente graduado do KGB, nascido na Ucrnia em 1926. Foi

    membro do Komsomol(Juventude Comunista) desde os 15 anos c tornou-

    se membro do Partido Comunista em 1945, imediatamente absorvido

    pelo K G B onde permaneceu at emigrar para o Ocidente em 1961, aps

    percorrer todos os passos dentro dos servios dc contra-informao. Fez

    parte do chamado KGB Intento, um departamento super secreto de pla

    nejamento estratgico de cuja existncia nem mesmo os agentes ordi

    nrios do KGB tinham conhecimento. Formou-se pela Escola Militar

    de Contra-Espionagem, pela Universidade de Marxismo-Leninismo e

    por correspondncia na Escola de Altos Estudos Diplomticos. Exilado

    nos EUA, passou a estudar atentamente as interpretaes ocidentais dasocorrncias no mundo comunista e verificou que os servios dc infor

    mao, como a CIA e o Ml6 britnico, estavam completamente equivo

    cados, vindo a publicar em 1984, seu primeiro livro Neu> Lies for OU. A

    histria de Colitsyn entre 1961 e o lanamento do livro, que no tem

    tanto interesse para o presente livro, pode ser encontrada no artigo de

    Edward Jay Epstein, Tbrougb tbe Looking Glass. Precisando dc ajuda para

    publicar seu primeiro livro, Golitsyn procurou William F. Buckley, edi-

    1http://www.edwardjayepstein.com/archived/looking.htmtraduzido pela redao de Midia

    Sem Mscara em http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=5909&language=pt

    e http://wwwmdiasemmascara com.br/artigo php?sid=5912&language=pt.

    54

    O L I X O D O M A l L A T I N O A M E R I C . A N O

    http://www.edwardjayepstein.com/archived/looking.htmhttp://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=5909&language=pthttp://www/http://www/http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=5909&language=pthttp://www.edwardjayepstein.com/archived/looking.htm
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    (oi tia revista c ons t rv.u lota Niitioiuil ktvuw e seu p ed ido loi rei usa do '

    I sla recusa por um dos maiore s con servad ores am ericanos quase jogou

    por u rra a po ssibilidade de v ir a ser pu blicado.

    A seguir, escreveu inmeros memorandos para a CIA , denunciando a es

    tratgia comunista que no estava sendo percebida porque o Ocidente

    usava mtodos superados de avaliao. Golitsyn previu inclusive a quedado Muro de Berlin, a "abertura" sovitica e outros eventos. Pelas razes

    expostas por Epstein e porque os servios de inteligncia no podiam

    admitir seus erros, suas informaes foram no geral ignoradas. Como

    os acontecimentos confirmaram suas predies cm 94%, segundo Mark

    Riebling no livro Wedtje. The Secret War hetween the FBI and CIA(Alfred A.Knopf, 1994), publicou em 1990 The Perestroika Deceplion,onde explicao intento secreto por trs da estratgia leninista das falsas reformas e

    progresso em direo democracia dos pases comunistas. Na opinio

    de William F. Jasper, Editor Senior do The New Americane co-Editor doThe Soviet Analyst\Golitsyn provavelmente o mais importante desertorsovitico que j chegou ao Ocidente porque ele revelou os detalhes de

    .uma estratgia de dissimulao^ de longo prazo da qual o Ocidente no

    tinha nenhum conhecimento at ento.Neste livro baseio-me essencialmente nas anlises dc Golitsyn acrescen

    tado outras fontes e minha experincia pessoal, ao aplic-las ao caso do

    Brasil e da Amrica Latina.

    ***

    : Jeffrey Nyquist, Grtwd Dcaption, http //www worldnctdailyxom/mws/arUdc asp?ARTl(.LE_

    ID =24 16 2.

    *http://reformed-theology.org/html/issue07/perestroika_0 1.htrn

    4Existem em Portugus vrias tradues para deception: engodo, fraude, simulao, ar

    dil, fingimento. Em termos militares significa ' provocao proposital de ecos faisos em

    radar inimigo"

    55

    ( A P T U l O I

    http://reformed-theology.org/html/issue07/perestroika_01http://reformed-theology.org/html/issue07/perestroika_01
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    i /\ ( RISl: NO iW UN IH )M )VITI( U X O D O MA l I AT I N O A M KRIC A N O

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    i ( ) K( ,li I. A DIMNI-i )RMATSIYA

    A liderana do K(ili manteve suas posies {aps o sucessor dc uma linhagem de servios secretos (G PU , NVD ,

    N K V D ) que se iniciou pela Tcheka7fundada por Fliks Edmundovitch

    Dzerzhinsky nos albores do regime bolchevista.

    A desinformao, Desinformatsiya, difere da propaganda convencional

    porque suas verdadeiras intenes so secretas e as operaes sempre

    envolvem alguma ao clandestina. O conceito sovitico de desinfor

    mao, desenvolvido dos princpios leninistas, o de que a "desinforma

    o significa a disseminao de informao falsa ou provocativa". Mas

    como praticada pelo KGB, desinforrpao mais complexo e amplo

    do que isto. Inclui a distribuio dc documentos, cartas, manuscritos efotografias forjadas, a propagao de rumores enganosos e maliciosos

    e inteligncia errada, ludibriar os visitantes quando visitando os pases

    comunistas, e aes fsicas para fabricar efeitos psicolgicos. Estas tc

    nicas so usadas de forma variada para influenciar a poltica dos pases

    estrangeiros, romper as relaes entre as naes, minar a confiana das

    populaes em seus lderes c instituies, desacreditar indivduos e gru

    pos que se opem s polticas comunistas, enganar a respeito de suas

    6 Komitet Gosudarstviennoy Biezopasnosti (Comit dc Segurana do Estado) - para his

    trico, ler de Paulo Diniz Zamboni http://www.midiasemmascara.com.br/artigo .

    php?sid= 1688.

    7Das duas letras cirlicas, - | tche] e - [ka] do nome em Russo da Comisso Extraordinria

    Pan-Russa para a Represso da Contra-Revoluo e a Sabotagem

    57

    (. AP TUl O I

    http://www.midiasemmascara.com.br/artigohttp://www.midiasemmascara.com.br/artigo
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    reais intenes e, aos visitantes estrangeiros, escondei as reais condi

    es de vida nos pases comunistas Muitas vezes serve para esconder

    atos destrutivos do prprio KCB.

    As organizaes secretas de inteligncia, desde a Tcheka at 1959,

    possuam um Escritrio de Desinformao. Naquela data, ano da re

    organizao do KC B (ver Captulo II), foi criado um departamentocompleto, conhecido como Departamento D do Primeiro Diretrio

    O primeiro diretor foi o General Ivan Ivanovich Agayants. Asctico,

    solene e puritano, possua um carter cruel. Depois da sua morte passou

    a ser o Departamento A do Diretrio de Assuntos Exteriores c, au

    mentado sensivelmente de tamanho e poder, passou a atuar com mais

    freqncia no exterior.

    Em 1984 o ex-agente do KC B exilado, Yury Biezmenov explicou, em

    entrevista concedida a C. Edward GriffinK que o KGB s empregava

    15% dos seus esforos cm "espionagem" tradicional. O restante era des

    tinado a "medidas ativas" e de "influncia": um processo dc desmorali

    zao e lavagem cerebral dos ocidentais feito de forma to gradual e

    ininterrupta que, ao fim do processo, as pessoas submetidas a elas agiam

    como se fossem agentes anticapitalistas ou ao menos antiamericanos.O processo levava no mnimo trs geraes para dar resultado. O "dar

    resultado" significava cooptar um nmero to grande de simpatizantes

    (conscientes ou no do processo) que, quando esta gerao galgasse

    posies de poder e controle dentro da sociedade, o processo se auto-

    alimentava, criando mais c mais "simpatizantes".1*A profundidade da "es-

    tampagem mental" obtida era tal que, usando as palavras de Biezmenov,

    8 Disponvel em http://la3.blogspot.eom/2007/05/cnando-inimigos-dentro-de-casa-

    ex.html

    Exemplo clarssimo disto foi a vaia recebida pela Delegao Americana ao PAN

    2007 e os aplausos 5 Cubana. Totalmente irracional porque, se fossem perguntados

    em qual dos dois pases prefeririam morar, certamente escolheriam o vaiado, ou

    permanecer aqui

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    O L IX O 1)0 MA l I A TIN O A MI k l ( A N O

    http://la3.blogspot.eom/2007/05/cnando-inimigos-dentro-de-casa-http://la3.blogspot.eom/2007/05/cnando-inimigos-dentro-de-casa-
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    "argumentos, nem mesmo a verdade, serviriam para abrir os olhos destes

    indivduos Mesmo que se mostrasse um campo de concentrao em

    pleno lime ionamento a toda esta gente, eles nem assim iriam (inalmente

    acreditar Conheo muitos indivduos que visitando a URSS, mesmo

    sabendo que todos seus passos eram controlados pela diviso turstica

    do KBG, a httourist,voltaram maravilhados e acreditando piamente que

    tiveram total liberdade de locomoo e que os lugares proibidos o eram

    para "sua segurana pessoal"! Lembro de um meu conhecido, comunista,