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O EFEITO DAS PROPRIEDADES FONOLÓGICAS DO SEGMENTO EM TAREFAS DE CONSCIÊNCIA SEGMENTAL 1 _________________________________________________ Dina Caetano Alves Universidade de Lisboa/CLUL; Escola Superior de Saúde Egas Moniz e Relicário de Sons Isabel Hub Faria Universidade de Lisboa/CLUL Maria João Freitas Universidade de Lisboa/CLUL 1. Introdução Nas últimas décadas, são significativos os estudos desenvolvidos sobre a consciência fonológica em crianças e em adultos (Brady & Shankweiler 1991, Morais & Kolinsky 1994, Adams et al. 1998, Castro- -Caldas & Reis 2000, Morais 2003, Veloso 2003, entre muitos outros). Muitos destes estudos têm sido desenvolvidos no âmbito da psicologia cognitiva e da psicologia educacional, debruçando-se sobre a capacidade explícita de isolar unidades fonológicas numa sequência da fala. Geral- mente, os resultados são interpretados na sua relação com o processo da literacia (Alves Martins 1996, Alves Martins & Niza 1998, Hogal, Catts & Little 2005, Morais 1991, Scliar-Cabral 2003, Silva 2003, Sim-Sim 1998, Sim-Sim, Duarte & Ferraz 1997, Sim-Sim, Ramos & Santos 2006, 1 Neste trabalho, o termo consciência segmental é usado em vez de consciência fonémica. A substituição de fonémico por segmental visa apenas a adopção de uma forma mais genérica de referência às propriedades dos segmentos, que permite não excluir os aspectos fonológicos e os fonéticos desta unidade linguística. Avaliação da consciência linguística: aspectos fonológicos e sintácticos do Português, Lisboa, Edições Colibri, 2010, pp. 19-43.

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O EFEITO DAS PROPRIEDADES FONOLÓGICAS DO SEGMENTO EM TAREFAS

DE CONSCIÊNCIA SEGMENTAL1 _________________________________________________

Dina Caetano Alves Universidade de Lisboa/CLUL; Escola Superior de Saúde

Egas Moniz e Relicário de Sons

Isabel Hub Faria Universidade de Lisboa/CLUL

Maria João Freitas Universidade de Lisboa/CLUL

1. Introdução

Nas últimas décadas, são significativos os estudos desenvolvidos sobre a consciência fonológica em crianças e em adultos (Brady & Shankweiler 1991, Morais & Kolinsky 1994, Adams et al. 1998, Castro--Caldas & Reis 2000, Morais 2003, Veloso 2003, entre muitos outros). Muitos destes estudos têm sido desenvolvidos no âmbito da psicologia cognitiva e da psicologia educacional, debruçando-se sobre a capacidade explícita de isolar unidades fonológicas numa sequência da fala. Geral-mente, os resultados são interpretados na sua relação com o processo da literacia (Alves Martins 1996, Alves Martins & Niza 1998, Hogal, Catts & Little 2005, Morais 1991, Scliar-Cabral 2003, Silva 2003, Sim-Sim 1998, Sim-Sim, Duarte & Ferraz 1997, Sim-Sim, Ramos & Santos 2006,

1 Neste trabalho, o termo consciência segmental é usado em vez de consciência

fonémica. A substituição de fonémico por segmental visa apenas a adopção de uma forma mais genérica de referência às propriedades dos segmentos, que permite não excluir os aspectos fonológicos e os fonéticos desta unidade linguística.

Avaliação da consciência linguística: aspectos fonológicos e sintácticos do Português, Lisboa, Edições Colibri, 2010, pp. 19-43.

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20 Avaliação da Consciência Linguística

Sucena & Castro 2008, Ventura, Kolinsky, Brito-Mendes & Morais 2001, Yopp & Yopp 2000), confrontando-se desempenhos escolares em tarefas de leitura e escrita com o desenvolvimento específico dos níveis de cons-ciência fonológica testados: consciência da palavra, do acento, da sílaba, dos constituintes silábicos e dos segmentos.

Assumindo-se que o desenvolvimento da consciência fonológica nas crianças é crucial para o sucesso da aprendizagem da leitura e da escrita, poder-se-á considerar que a pesquisa nesta área estabelece pontes quer com a linguística educacional, sobretudo nos casos em que variáveis lin-guísticas são tidas em consideração na avaliação e na estimulação desta capacidade (Treiman & Zukowski 1991, Treiman 1997, Snowling & Hulme 2007, Veloso 2003, Freitas, Alves & Costa 2007, Duarte 2008, Alves, Castro & Correia 2010), quer com a linguística clínica, dado que o trabalho sobre consciência fonológica é frequentemente desenvolvido em contexto clínico de diagnóstico e intervenção, por parte de terapeutas da fala ou de profissionais do ensino especial.

A referência às várias áreas do conhecimento (psicologia cognitiva, psicologia educacional, linguística educacional e linguística clínica) mos-tram-nos que a consciência fonológica implica um tratamento multidisci-plinar, tendo particular impacto no início da actividade escolar das crian-ças, pelo que nos centraremos, no presente estudo, na fase inicial do processo de aprendizagem da leitura e da escrita (início do 1.º Ciclo do Ensino Básico).

Embora consciência fonológica e desenvolvimento fonológico se desenvolvam nos primeiros anos de vida da criança, a relação entre ambos os aspectos no sistema cognitivo infantil não tem sido muito explorada. Recrutando informação disponível na literatura sobre desen-volvimento fonológico infantil e confrontando-a com os resultados obti-dos na investigação que aqui se relata, o presente estudo2 debruçar-se-á sobre a identificação de uma possível interface entre estes dois processos, contribuindo, deste modo, para a discussão sobre a interacção entre mecanismos envolvidos no desenvolvimento fonológico e na consciência fonológica, no contexto mais alargado do desenvolvimento cognitivo da criança. Mais especificamente, centrar-nos-emos nas propriedades seg-mentais relativas ao ponto de articulação (PA) e ao modo de articulação (MA) das consoantes do Português Europeu (PE) (Mateus e Andrade 2000; Mateus, Falé & Freitas 2005), no sentido de testar o seu efeito em contexto de avaliação da consciência segmental. Consideraremos os pon-

2 O presente estudo integra-se num projecto mais amplo, actualmente em curso, sobre

avaliação da consciência segmental em crianças portuguesas (Alves, em prep.).

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tos de articulação representados pelos traços distintivos labial (bilabiais e labiodentais), coronal (dentais, alveolares e palatais) e dorsal (velar e uvular), contidos na tabela 1:

Tabela 1 – Relação entre caracterização articulatória do PA

e sua representação em traços distintivos

Coronal Labial [+anterior] [-anterior]

Dorsal

bilabial labiodental

[p, b, m, f, v]

dental alveolar

[t, d, s, z, l, n, R]

palatal [S, Z, ¥, ¯] velar uvular

[k, g, R]

Cada um destes pontos de articulação será avaliado na relação com

os modos de articulação oclusivo (oral e nasal), fricativo e líquido, repre-sentados em função dos traços distintivos [+/-contínuo], [+/-soante] e [+/--nasal] (veja-se a tabela 2): Tabela 2 – Relação entre caracterização articulatória do MA e sua representação em

traços distintivos

[-soante] [+soante] [-contínuo] [+contínuo] [-contínuo, +nasal] [+contínuo, -nasal]

oclusivas [p, b, t, d, k, g]] fricativas [f, v, s, z, S,

Z]

consoantes nasais

[m, n, ¯]

líquidas [l, ¥, R, R] Vários estudos têm disponibilizado dados sobre a ordem de aquisi-

ção das propriedades segmentais em várias línguas do mundo, durante o processo de desenvolvimento fonológico infantil. No que diz respeito ao ponto de articulação, os resultados relativos ao desenvolvimento fonoló-gico de crianças portuguesas (Costa 2003, Costa 2010) e de crianças bra-sileiras (Hernandorena 1990, Lamprecht et al. 2004) espelham os identi-ficados por estudos sobre o desenvolvimento fonológico infantil em outras línguas (Levelt 1994, Bernhardt & Stemberger 1998, Fikkert & Levelt 2008, Fikkert 2007, Johnson & Reimers 2010). Em particular na

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periferia esquerda da palavra, contexto que nos ocupará neste estudo, regista-se uma preferência por labial e coronal e uma maior dificuldade na estabilização de dorsal. Quanto ao modo de articulação, os resultados para o PE indicam que as oclusivas orais e as oclusivas nasais constituem as primeiras classes naturais do MA a serem disponibilizadas no sistema das crianças portuguesas (Freitas 1997, Costa 2010), surgindo posterior-mente as fricativas e, por fim, as líquidas (embora a emergência das líquidas possa preceder a das fricativas, em algumas crianças). Esta ordem de aquisição do modo de articulação espelha genericamente a registada para a aquisição de outras línguas do mundo, embora, em alguns casos, as oclusivas orais precedam as nasais (Fikkert 1994 & 2007, Bernhardt & Stemberger 1998, Johnson & Reimers 2010).

O principal objectivo do presente estudo é o de verificar o efeito das propriedades segmentais (PA e MA) no desempenho de tarefas de cons-ciência segmental por parte de crianças em processo de aprendizagem da leitura e da escrita. Para tal, definimos os seguintes objectivos específi-cos: (i) identificar, a partir dos desempenhos numa tarefa de consciência segmental (prova do intruso), o padrão de emergência da consciência segmental, com base nas propriedades fonológicas das consoantes do PE (PA e MA), em grupos de crianças com diferentes desempenhos na leitu-ra/escrita; (ii) comparar os resultados obtidos com informações disponí-veis na literatura sobre o desenvolvimento fonológico, nomeadamente sobre a ordem de aquisição do modo e do ponto de articulação dos seg-mentos consonânticos.

Como referimos, a investigação efectuada no âmbito do desenvolvi-mento fonológico relata a aquisição precoce das consoantes oclusivas (orais e nasais) no PE, seguida da aquisição das fricativas e das líquidas. A literatura refere também a preferência pelas consoantes labiais e coro-nais na periferia esquerda da palavra (estrutura testada na prova do intru-so usada neste estudo, como se verá na secção 2), despromovendo, assim, a estabilização das consoantes dorsais. Com base nos factos citados, colocamos as seguintes hipóteses:

Hipótese 1: A identificação de segmentos consonânticos na periferia

esquerda da palavra intrusa é promovida quando o PA é labial ou coronal e despromovida quando o PA é dorsal.

Hipótese 2: A identificação de segmentos consonânticos na periferia esquerda da palavra intrusa é promovida quando o MA é [-contínuo] (oclusivas orais e nasais) e despromovida quando o MA é [+contínuo] (fricativas ou líquidas).

Para testar as hipóteses formuladas, foi observado o comportamento

da amostra perante estímulos linguísticos com variação dos segmentos

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consonânticos posicionados na periferia esquerda da palavra, controlados em termos dos traços fonológicos relativos ao PA e ao MA consonântico. Na secção que se segue, serão fornecidos detalhes sobre a metodologia usada para testar as hipóteses formuladas.

2. Metodologia

Nesta secção, forneceremos informação sobre os vários aspectos relativos aos procedimentos metodológicos adoptados no presente estudo, que se define como descritivo dadas as características da amostra, os pro-cedimentos e os instrumentos utilizados. No que diz respeito à metodolo-gia e ao tipo de análise dos dados, o estudo é quantitativo, visto os dados da recolha serem quantificáveis. Trata-se, ainda, de um estudo compara-tivo pelos objectivos referentes à verificação de diferenças significativas na comparação do desempenho das crianças aquando do processamento de diferentes pontos e modos de articulação em tarefas de consciência segmental. A recolha da amostra é realizada num único momento de ava-liação e numa determinada amostra, o que confere ao estudo um carácter transversal.

Definição da Amostra

Para este estudo, foram avaliadas crianças a frequentar os 1.º e 2.º anos de escolaridade. Para definir a população alvo deste estudo, foram pré-determinados critérios para a selecção da amostra. Desta fizeram parte crianças de ambos os géneros, a frequentar o Ensino Básico no Externato Colégio Campo de Flores, em Lazarim, Almada (zona da Grande Lisboa).

Foram estabelecidos critérios de inclusão, tendo sido incluídas crian-ças em idade escolar, falantes nativas do PE, que tivessem frequentado o jardim-de-infância e que apresentassem a declaração de autorização de participação no estudo, assinada pelos encarregados de educação. Estas não poderiam apresentar perturbações da comunicação/linguagem (sem acompanhamento, presente ou passado, em Terapia da Fala), nem défices cognitivos e/ou auditivos associados, e não deveriam apresentar dificul-dades nos testes de rastreio aplicados para a selecção da amostra (testes de discriminação auditiva e de articulação). Estas crianças encontrar-se--iam em idade escolar, a frequentar o 1.º Ciclo, nomeadamente em fase inicial do processo de alfabetização (1.º e 2.º anos) e estariam/teriam estado sujeitas ao mesmo método de ensino (método fónico). Foi elabo-rada uma ficha modelo de caracterização sociodemográfica, com o objec-tivo de verificar se cada perfil se enquadrava nos critérios definidos.

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No projecto de investigação descrito em Alves (em prep.), foram avaliadas 71 crianças de ambos os sexos, sendo que 22 frequentavam o 1.º ano, 28 o 2.º ano e 21 o 4.º ano de escolaridade, (cf. tabela 3). No pre-sente estudo, serão avaliadas apenas 13 crianças dos 1.º e 2.º anos de escolaridade.

Tabela 3 – Caracterização da amostra consoante a

escolaridade e o sexo

Escolaridade 1.º ano 2.º ano 4.º ano Total masculino 10 17 8 35 Sexo feminino 12 11 13 36

Total 22 28 21 71 A amostra foi intencional e disponível, uma vez que foram estabele-

cidos critérios de inclusão das crianças, encontrando-se estas no local de recolha anteriormente mencionado e reunindo todas as condições para completar a amostra.

As crianças foram agrupadas de acordo com a sua performance, medida em termos de níveis de competência de leitura e de escrita (tabela 4) e apurada pela aplicação de testes de escrita e de leitura de palavras e pseudopalavras (dissílabos com formato paroxítono: ‘CV.CV) construí-dos especificamente para o projecto descrito em Alves (em prep.)3. No presente estudo, observaremos apenas os resultados relativos aos grupos G1 e G2.

Tabela 4 – Grupos identificados com base na performance

em testes de leitura e escrita

Grupo 1

G1 (n=8)

Grupo 2 G2

(n=5)

Grupo 3 G3

(n=12)

Grupo 4 G4

(n=46)

Resultados dos testes de ortografia/escrita

32 – 86 (10% – 28%)

137 – 227 (44% – 73%)

234 – 286 (75% – 92%)

288 – 310 (93 – 100%)

Ano 1.º 1.º / 2.º 2.º / 4.º 4.º Média (idade) 06;07 07;04 09;00 09;10

3 Para mais informação sobre estas provas, consulte-se Alves (em prep.).

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Variáveis

Foram considerados dois tipos de variáveis, dependente e indepen-dente, determinadas de acordo com os objectivos do estudo e definidas do seguinte modo: (i) a variável dependente remete para o desempenho das crianças em tarefas de consciência segmental, tendo em conta as diferen-tes propriedades fonológicas estudadas (PA – labial, coronal e dorsal; MA – nasal, oclusivo, fricativo e líquido); (ii) as variáveis independentes, isto é, não alvejadas no presente estudo embora controladas, remetem para a escolaridade, a idade, o sexo, o nível de conhecimento em testes de leitura e de escrita (grupos de sujeitos), as propriedades morfológicas dos estímulos (a categoria gramatical, o género e o número), as propriedades semânticas dos estímulos (pseudopalavras / palavras e, nestas, o seu grau de concretismo e de imaginabilidade), outras propriedades fonológicas dos estímulos (extensão da palavra, acento e estrutura silábica), a fre-quência das palavras e a imageabilidade.

Material e Estímulos

Para este estudo experimental, recorreu-se a uma tarefa de avaliação da consciência segmental, designada por prova do intruso. Esta consiste na apresentação pictográfica de uma série de três estímulos, em represen-tação de três palavras que, entre si, constituem pares mínimos. Em cada série, duas palavras diferem nos segmentos presentes na periferia esquer-da e outras duas diferem nos segmentos vocálicos constantes na primeira sílaba da palavra. Por exemplo, na série <bata; bota; mota>, o par <bota; mota> constitui par mínimo e difere apenas nas consoantes constantes na periferia esquerda de ambas as palavras [p/m]; o par <bata; bota> consti-tui par mínimo e difere apenas no segmento vocálico constante na primei-ra sílaba [a/ç]. Assim, nesta série, a palavra intrusa a identificar é <mota> dado diferir no primeiro som comparativamente às restantes com as quais compete. Na tabela 5, estão patentes todas as séries apuradas a integrar no desenho experimental do presente estudo.

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Tabela 5 – Estímulos integrados na prova do intruso

MA PA Nasal Oclusiva Fricativa Líquida

Lateral e Vibrante

– Pilha Folha Filha

Filha Palha Pilha

Labial Mota Bata Bota

Mala Vala Vela

Bola Mola Mala

Bala Vala Vela

Vala Bala Bola

Vala Mala Mola

– Taco Saco Soco

Serra Terra Turra

Coronal Nota Bota Bata

NataLata Luta

Nave Chave Chuva

Data Nata Nota

DadoFado Fada

Data Lata Luta

Zorro Gorro Garra

ChaveNave Neve

ChuvaLuva Lava

Lata Nata Nota

Lupa Chupa Chapa

Lata Bata Bota

Capa Chapa Chupa

Chave Cave Couve

Dorsal – Gato Jacto Jota

Galo Ralo Rolo

Jarra Garra Guerra

Jacto Rato Rota

Ralo Galo Golo

Rota Jota Jacto

Todas as palavras das séries testadas apresentam o mesmo formato

fonológico: trata-se sempre de palavras dissilábicas com formatos silábi-cos CV e acento fonológico na penúltima sílaba (dissílabos paroxítonos do tipo ‘CV.CV), assegurando-se a ocorrência de todas as consoantes do PE na posição inicial de palavra4, a fim de se testar o efeito das proprieda-des fonológicas relativas ao PA e ao MA na periferia esquerda da palavra.

Em algumas circunstâncias, os critérios referidos para a construção dos estímulos foram violados por limitações linguísticas, para-linguísticas e/ou extra-linguísticas, levando ao apuramento de séries de palavras que não obedecem estritamente aos critérios previamente definidas.

4 Não foram testadas as consoantes [¥, ¯, R] por não ocorrerem na periferia esquerda

de palavras em PE (Mateus & Andrade 2000).

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Procedimento

Os estímulos foram apresentados às crianças no ecrã de um compu-tador e as respostas foram registadas numa caixa de respostas em madeira adaptada ao teclado do PC portátil, constituída por três “botões tweety” alinhados com as três imagens/palavras de cada série (ver exemplo da figura 1).

Figura 1 – Exemplo de série usada na Prova do Intruso

Na sequência <bata,mota,bota>, representada acima na figura 1, a

criança teria de excluir a palavra intrusa, isto é, a palavra que começa com um som diferente, pressionando o “botão tweety” correspondente à imagem da palavra intrusa. As respostas e os tempos de reacção respecti-vos foram automaticamente registados através do programa E.Prime, ver- são 1.0. Antes de se iniciar a prova, era realizado um treino com cada criança, com recurso a dois exemplos, visando a compreensão da tarefa solicitada.

3. Resultados

Tal como referido atrás, todos os desempenhos apurados na prova do intruso foram analisados de acordo com o agrupamento dos sujeitos efec-tuado em função do desempenho manifestado em termos de domínio da leitura e da escrita, na realização dos testes de leitura e de escrita de pala-vras e pseudopalavras especialmente concebidos para o estudo. Estes resultados levaram, assim, à divisão da amostra em grupos, sendo anali-sados no presente estudo apenas os resultados dos grupos G1 e G2.

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3.1. Resultados do Grupo 1

No sentido de testar as hipóteses formuladas na secção 1, sobre o efeito do PA e do MA em tarefas de consciência segmental, procedemos à avaliação dos desempenhos dos sujeitos na prova do intruso, usada no presente estudo. Começámos pela avaliação do impacto do PA na per-formance das crianças avaliadas (hipótese 1).

A figura 2 apresenta valores de sucesso relativos à identificação de palavras intrusas iniciadas por labial, coronal ou dorsal, por parte das crianças incluídas no G1.

Grupo 1 - Valores para PA (%)

38% 37%

23%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Labial Coronal Dorsal

Figura 2 – Valores globais de PA (% acertos)

Como se pode observar pelos dados registados na figura 2, os resul-

tados do G1 sugerem que palavras intrusas com segmento dorsal inicial são mais difíceis de identificar do que as que começam com segmento labial ou coronal; vejam-se os resultados globais de sucesso na identifica-ção da palavra intrusa (38% de sucesso para as labiais e 37% para as coronais, por oposição aos 23% de sucesso para as dorsais). Através da análise inferencial, é possível afirmar que as diferenças encontradas são significativas relativamente às dorsais por oposição às labiais e às coro-nais (p-valor=0,014, apurado pela aplicação do Teste de Friedman), demonstrando-se que as crianças do G1 identificam de forma significati-vamente diferente as palavras intrusas em função do tipo de PA presente da consoante que ocorre na periferia esquerda da palavra.

Contudo, pela descrição mais detalhada dos resultados, parece observar-se a possibilidade de o produto final resultar de um efeito con-junto do ponto e do modo de articulação. A figura 3 disponibiliza infor-mação relativa às palavras intrusas com segmentos labiais oclusivos e fri-cativos na periferia esquerda da palavra ([p, b, m, f, v]), não incluindo labiais líquidas por não existirem no inventário segmental do PE.

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Grupo 1 - Valores para labiais (%)

Acertos, 46%Acertos,

33%

Erros, 54%

Erros, 67%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Oclusivas Fricativas

Figura 3 – Valores de oclusivas e fricativas labiais

(% acertos/erros)

De acordo com a figura 3, a percentagem de erro na identificação do

intruso apurada para as oclusivas labiais (67%) é mais alta do que a apu-rada para as fricativas labiais (54%), mostrando diferenças na execução das tarefas propostas à criança quando os estímulos labiais diferem em termos do MA ([p, b, m] versus [f, v]). Contudo, a análise inferencial permite-nos afirmar que não existem diferenças significativas no desem-penho das crianças na identificação de palavras intrusas quando o seg-mento na periferia esquerda da palavra é uma oclusiva labial ou uma fri-cativa labial (p-valor=0,257, identificado pelo teste de Wilcoxon).

Um efeito similar é observado na figura 4, que fornece informação sobre a identificação de palavras intrusas com segmentos coronais oclusi-vos ([t, d, n]), fricativos ([s, z, S, Z]) e líquidos ([l]) na periferia esquerda da palavra.

Grupo 1 - Valores para coronais (%)

Erros, 67%

Erros, 54%

Erros, 73%

Acertos, 33%

Acertos, 46%

Acertos, 27%

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Oclusivas Fricativas Líquidas

Figura 4 – Valores das coronais oclusivas,

líquidas e fricativas (% acertos/erros)

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30 Avaliação da Consciência Linguística

Os valores globais dos erros com líquidas (73% para [l]) são mais altos do que os relativos às oclusivas (67% para [t, d, n]) ou às fricativas (54% para [s, z, S, Z]), mostrando que é mais fácil identificar constritivas nas tarefas propostas no presente estudo (figura 4). Não obstante, a infe-rência estatística permite afirmar que não existem diferenças significati-vas nos resultados obtidos para as três classes do MA (p-valor=0,508, a partir do teste de Friedman).

A figura 5 regista informação relativa à identificação das palavras intrusas com segmentos dorsais oclusivos ([k, g]) e líquidos ([R]) na perife-ria esquerda da palavra, não estando as fricativas incluídas na descrição por não existirem dorsais nesta classe do MA, no inventário segmental do PE.

Grupo 1 - Valores para dorsais (%)

Acertos, 17%

Acertos, 31%

Erros, 83%

Erros, 69%

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Oclusivas Líquidas

Figura 5 – Valores das oclusivas e líquidas dorsais

(% acertos/erros)

De acordo com a figura 5, os erros para dorsal na classe das oclusi-

vas (83% para [k, g]) são mais elevados do que na das líquidas (69% para [R]). Neste caso, a análise inferencial demonstrou que as diferenças exis-tentes são significativas (p-valor=0,046, a partir do teste de Wilcoxon).

Em suma, o efeito do PA registado na figura 2 (labial e coronal ver-sus dorsal) parece decorrer não estritamente do ponto de articulação mas também da interacção entre PA e MA: (i) há um efeito claro do MA nas dorsais (é mais difícil identificar [k, g] (83%) do que [R] (69%), sendo sobre as oclusivas dorsais que incide o valor mais alto de insucesso no G1 (cf. figura 5)); (ii) contrariamente, a líquida dorsal ([R]) é a que apresenta o grau de sucesso mais elevado (cf. figuras 3, 4 e 5).

Tendo cruzado todos os PA com os possíveis MA no inventário segmental do PE, e dados os resultados acima descritos, procedemos com a prospecção dos dados no sentido da avaliação da hipótese 2 formulada

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na secção 1, sobre o efeito do traço [+/-contínuo] no desempenho dos sujeitos observados.

Considerando os dados disponíveis na literatura sobre o desenvolvi-mento fonológico, a hipótese 2 aponta para que seja mais fácil identificar segmentos iniciais quando são [-contínuo] (oclusivas orais e oclusivas nasais) do que quando são [+contínuo] (fricativas e líquidas). Os resulta-dos globais de sucesso para o G1 estão representados nas figuras 6 (valo-res de sucesso para [+contínuo] e [-contínuo]) e 7 (valores de sucesso para os modos fricativo, oclusivo e líquido).

Grupo 1 - Valores para [+/- cont] (%)

26%

40%

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

[-cont] (Ocl.) [+cont] (Fric. e Líq.)

Grupo 1 - Valores para MA (%)

26%

48%

33%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Oclusivas Fricativas Líquidas

Figura 6 – Valores para [+/- cont] Figura 7 – Valores para MA (% acertos) (% acertos)

Contrariamente ao predito pelos dados da aquisição, os resultados do

G1 sugerem que os segmentos [+contínuo] são mais fáceis de identificar do que os [-contínuo]: os segmentos [+contínuo] (fricativas e líquidas) apresentam 40%, de sucesso enquanto os [-contínuo] (oclusivas orais e nasais) apresentam 26% de sucesso (cf. figura 6). A figura 7 desdobra a análise dos segmentos [+contínuo] pelas classes que integram este traço, apresentando um desempenho bem sucedido de 48% para as fricativas e de 33% para as líquidas, mantendo os 28% apurados para as oclusivas na figura 6. Ambas as figuras (6 e 7) apresentam resultados com diferenças significativas pela aplicação do Teste de Friedman e do Teste de Wilco-xon, sendo que, para a diferença [+/-contínuo] na figura 6, o p-valor apu-rado é de 0,035 e, para os três MA na figura 7, o p-valor é de 0,044.

Finalmente, e com o objectivo de avaliar o efeito do MA isolado do efeito do PA, observou-se apenas a taxa de sucesso na identificação de coronais nas várias classes do MA, por ser este o único PA presente em todas as classes do MA (cf. figura 8).

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32 Avaliação da Consciência Linguística

Grupo 1 - Valores para coronais (%)

Acertos, 33% Acertos,

24%

Acertos, 31%

Acertos, 55%

Acertos, 27%

Erros, 67% Erros,

76%

Erros, 69%

Erros, 45%

Erros, 73%

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Oclusivasnasais

Oclusivas orais Fricativas[+ant]

Fricativas [-ant] Líquidas(laterais)

Figura 8 – Valores para a identificação das coronais

em todos os MA (% acertos/erros)

Considerando o PA coronal para todos os MA, os valores registados

oscilam entre os 45% e os 76% de insucesso, sendo as fricativas palatais [S, Z] as mais fáceis de identificar, com 55% de sucesso (fricativas [-anterior]), por oposição às oclusivas orais [t, d], com 24%. Contudo, as diferenças observadas na figura 8 não são estatisticamente significativas (p-valor=0,050, tendo em conta os resultados da aplicação do teste de Friedman).

Em suma, os resultados apurados para o G1 apontam para um efeito do PA na identificação da palavra intrusa na tarefa de consciência segmen-tal aplicada, sendo esse efeito potenciado pela relação com o MA. Os dados permitem, assim, a confirmação da hipótese 1. No entanto, os valo-res relativos a este mesmo G1 infirmam a hipótese 2, observando-se um efeito de [contínuo], sim, mas oposto ao registado na hipótese, construída com base nos dados do desenvolvimento linguístico: os segmentos com MA [+contínuo] são mais fáceis de identificar do que os de MA [-contínuo]. Estes resultados serão retomados na secção 4.

3.2. Resultados do Grupo 2

Tal como na secção 3.1, iniciamos a apresentação dos dados do G2 em função do conteúdo da hipótese 1, sobre o efeito do PA na identifica-ção de palavras intrusas na prova de consciência segmental aplicada à amostra deste estudo. Considerando os resultados do desenvolvimento fonológico, a previsão é a de que seja mais fácil para as crianças identifi-car os segmentos iniciais quando são coronais ou labiais do que quando são dorsais (cf. figura 9).

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O Efeito das Propriedades Fonológicas 33

Grupo 2 - Valores para PA (%)

75%68%

53%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Labial Coronal Dorsal

Figura 9 – Valores globais para PA (% acertos)

Os resultados para o G2 mostram que palavras com segmento dorsal

em posição inicial são mais difíceis de identificar do que palavras com segmento inicial labial ou coronal. Os resultados globais de sucesso representados na figura 9 apontam para 75% de sucesso para as labiais, 68% para as coronais e 53% para as dorsais. A análise inferencial (teste de Friedman) demonstrou, no entanto, não existirem diferenças signifi-cativas entre os PA considerados (p-valor=0,549).

Tal como no G1, observámos no G2 o potencial efeito da relação PA/MA no desempenho da tarefa proposta à amostra. Assim, a figura 10 fornece informação sobre o PA labial nas oclusivas e nas fricativas, não se fazendo referência às líquidas pelo facto de o PA labial não estar representado nesta classe do MA.

Grupo 2 - Valores para labiais (%)

Acertos, 73%

Acertos, 76%

Erros, 27%

Erros, 24%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Oclusivas Fricativas

Figura 10 – Valores para labiais oclusivas e fricativas

(% acertos/erros)

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34 Avaliação da Consciência Linguística

Os valores globais do sucesso para as oclusivas e para as fricativas são de 76% e de 73%, respectivamente (figura 10) e a análise inferencial indica que não existem diferenças significativas (p-valor=0,715, com base no teste de Wilcoxon).

Um efeito similar é observado na figura 11, que apresenta valores relativos às palavras intrusas com segmentos coronais na periferia esquerda da palavra nos três MA (oclusivo, fricativo e líquido).

Grupo 2 - Valores para coronais (%)

Erros, 46%

Erros, 34%

Erros, 13%

Acertos, 54%

Acertos, 66%

Acertos, 87%

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Oclusivas Fricativas Líquidas

Figura 11 – Valores para as coronais oclusivas,

líquidas e fricativas (% acertos/erros)

Os valores globais de erro para as oclusivas e para as fricativas são de

46% e de 34%, respectivamente, o que contrasta com os 13% obtidos para as líquidas (figura 11). Este facto mostra que, no que diz respeito ao PA coronal, é mais fácil identificar líquidas do que fricativas ou oclusivas, sen-do estas últimas as de mais difícil detecção e registando-se influência da relação PA/MA na execução da tarefa de consciência segmental aplicada. Apesar destas diferenças, a estatística inferencial não aponta para signifi-cância (p-valor igual a 0,311, após aplicação do teste de Friedman).

A figura 12 representa os resultados obtidos para as palavras intrusas com segmentos dorsais nas classes das oclusivas e das líquidas (como já referimos, as fricativas não são contempladas pelo facto de esta classe não conter segmentos dorsais no PE).

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O Efeito das Propriedades Fonológicas 35

Grupo 2 - Valores para dorsais (%)

Acertos, 53%

Acertos, 73%

Erros, 47%

Erros, 27%

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Oclusivas Líquidas

Figura 12 – Valores para as dorsais – oclusivas e líquidas

(% acertos/erros)

Mediante a leitura da figura 12, conclui-se que os erros nas oclusivas

(47%) são mais frequentes do que nas líquidas (27%). A análise inferen-cial não permitiu, porém, identificar diferenças significativas nos desem-penhos das crianças relativamente à identificação de palavras intrusas que apresentem segmentos dorsais oclusivos ou líquidos na periferia esquerda (p-valor=0,414, após aplicação do teste de Wilcoxon).

Em suma, apenas se registaram dois efeitos facilitadores na relação PA/MA: (i) um efeito da associação entre PA coronal e MA líquido (segmento [l]; cf. figura 11) e (ii) um efeito da associação entre PA dorsal e MA líquido (segmento [R]; cf. figura 11). O MA líquido parece, assim, facilitar a tarefa de identificação do intruso no G2.

Considerando a informação disponível na literatura sobre desenvol-vimento fonológico, a hipótese 2 prevê que seja mais fácil as crianças identificarem segmentos iniciais [-contínuo] do que [+contínuo], dado as crianças portuguesas começarem por adquirir as oclusivas orais e nasais ([-contínuo]), antes de adquirirem as fricativas e as líquidas ([+contí-nuo]). As figuras 13 e 14 apresentam valores do G2 relativos à identifica-ção dos segmentos em função do contraste [+/-contínuo].

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36 Avaliação da Consciência Linguística

Grupo 2 - Valores para [+/- cont] (%)

63%

74%

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

[-cont] (Ocl.) [+cont] (Fric. e Líq.)

Grupo 2 - Valores para MA (%)

63%68%

80%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Oclusivas Fricativas Líquidas

Figura 13 – Valores para [+/- contínuo] Figura 14 – Valores de MA (% acertos) (% acertos)

Os resultados obtidos apontam para a manutenção do efeito do con-

traste [+/-contínuo] identificado no G1, uma vez que os resultados glo-bais de sucesso representados na figura 13 apontam para um sucesso dos segmentos [+ contínuo] (fricativas e líquidas) de 74% e de 63% para os segmentos [-contínuo] (oclusivas orais e nasais). A figura 14 desdobra a análise dos segmentos [+contínuo] pelas classes que integram este traço, apresentando resultados globais para os diferentes MA. Assim, as crian-ças obtiveram 80% de sucesso nas líquidas, 68% nas fricativas e 63% nas oclusivas, começando, portanto, a ser mais fácil, neste grupo, identificar palavras intrusas com líquidas na periferia esquerda do que com fricativas ou com oclusivas. Contudo, em ambas as situações, a análise inferencial mostra que não existem diferenças significativas nos desempenhos das crianças tendo em conta o contraste [+/-contínuo] (p-valor=0,577, teste de Wilcoxon) e o MA (p-valor=0,211, teste de Friedman).

O facto de diferentes MA exibirem diferentes inventários de PA tor-na opaca a aferição do efeito de MA nos dados recolhidos. Contudo, tal prospecção é parcialmente concretizável se observarmos o PA coronal, que se encontra presente em todas as classes de MA, tal como fizemos para o G1. Assim, a figura 15 apresenta os resultados obtidos relativa-mente à identificação das palavras intrusas com segmentos coronais na periferia esquerda, distribuídos pelas várias classes de MA.

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O Efeito das Propriedades Fonológicas 37

Grupo 2 - Valores para coronais (%)

Acertos, 56%

Acertos, 64%

Acertos, 50%

Acertos, 72%

Acertos, 87%

Erros, 44%

Erros, 36% Erros,

50%

Erros, 28%

Erros, 13%

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Oclusivasnasais

Oclusivas orais Fricativas[+ant]

Fricativas [-ant] Líquidas(laterais)

Figura 15 – Valores para as coronais em todos os MA

(% acertos/erros)

A figura 15 regista o efeito promotor da classe das líquidas na identi-

ficação do PA coronal (87% de sucesso). Tal como para o G1, as fricati-vas [-anterior] ([S, Z]) também favorecem a identificação da palavra intru-sa, contrastando com as suas contrapartidas [+anterior] ([s, z]). As oclusivas continuam a apresentar piores resultados do que as restantes classes (fricativas e líquidas). Apesar destas diferenças, a análise inferen-cial indicou que não existem diferenças significativas no desempenho das crianças do G2 na identificação de palavras intrusas com PA coronal em função do MA (p-valor=0,669; teste de Friedman).

4. Considerações Finais

Como referimos na secção 1, os dados do desenvolvimento fonológico em várias línguas do mundo mostram que as labiais e as coronais são as primeiras classes do PA a estabilizarem no sistema fonológico infantil, em particular na periferia esquerda da palavra, como é o caso da estrutura tes-tada no presente estudo; contrariamente, as dorsais constituem o PA mais tardiamente adquirido (Levelt 1994; Fikkert & Levelt 2008; Costa 2010).

Os resultados obtidos a partir do desempenho da prova do intruso proposta aos dois grupos da amostra, a qual implica o processamento das diferenças segmentais do PA inerentes à consoante na periferia esquerda da palavra, permitiram verificar que, quando o PA é avaliado isoladamente:

(i) no G1, as diferenças encontradas são significativas relativamente às dorsais (23%), por oposição às labiais (38%) e às coronais (37%)

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38 Avaliação da Consciência Linguística

(p-valor=0,014, apurado pela aplicação do Teste de Friedman). Em ter-mos de grau de dificuldade crescente na detecção da palavra intrusa, a ordem encontrada para o G1 é: labial; coronal >> dorsal;

(ii) no G2, continuam a registar-se diferenças entre os valores apura-dos para as dorsais (53%), para as coronais (68%) e para as labiais (75%), identificando-se um efeito despromotor do PA dorsal no desempenho da tarefa proposta. No entanto, neste caso, as diferenças detectadas não são estatisticamente significativas (p-valor=0,549, apurado pela aplicação do Teste de Friedman).

Assim, e retomando a hipótese 1, formulada com base nos dados do desenvolvimento fonológico (A identificação de segmentos consonânti-cos na periferia esquerda da palavra intrusa é promovida quando o PA é labial ou coronal e despromovida quando o PA é dorsal), podemos afir-mar que a hipótese é claramente confirmada no G1. Nota-se uma tendên-cia idêntica no G2 (dorsal com efeito despromotor), embora os valores apurados neste último grupo não sejam estatisticamente significativos.

Tal como referido na secção inicial do presente trabalho, a investiga-ção na área do desenvolvimento fonológico infantil tem revelado um claro efeito do modo de articulação na aquisição dos inventários segmentais das línguas do mundo: as oclusivas orais são universalmente a primeira classe do MA a ser disponibilizada, seguindo-se-lhe a das oclusivas nasais, a das fricativas e a das líquidas, podendo algumas crianças produzir líquidas antes de fricativas (Fikkert 1994; Bernhardt & Stemberger 1998; Lam-precht et al. 2004, entre muitos outros). No caso específico do PE, as oclu-sivas orais e as oclusivas nasais estão já disponíveis nos primeiros enuncia-dos das crianças portuguesas, seguindo-se-lhes as fricativas e as líquidas, podendo a ordem de emergência destas duas últimas classes ser invertida (Freitas 1997; Costa 2010). Assim, regista-se um claro efeito de [-contínuo] no desenvolvimento fonológico infantil, uma vez que oclusivas (orais e nasais), sendo [-contínuo], emergem antes das fricativas e das líquidas, ambas caracterizadas como [+contínuo]. Estes factos da aquisição das lín-guas estiveram na base da formulação da nossa hipótese 2 (A identificação de segmentos consonânticos na periferia esquerda da palavra intrusa é promovida quando o MA é [-contínuo] (oclusivas orais e nasais) e des-promovida quando o MA é [+contínuo] (fricativas ou líquidas)).

Os resultados obtidos após a aplicação da prova do intruso aos dois grupos da amostra, com processamento induzido das diferenças de MA inerentes à consoante na periferia esquerda da palavra, permitiram verifi-car que, quando o contraste [+/-contínuo] é avaliado isoladamente:

(i) no G1, verifica-se que os segmentos [+contínuo] são mais facil-mente detectáveis (40%) do que os segmentos [-contínuo] (26%), sendo as diferenças entre estes valores estatisticamente significativas;

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O Efeito das Propriedades Fonológicas 39

(ii) no G2, continua a verificar-se que os segmentos [+contínuo] são mais facilmente detectáveis (74%) do que os segmentos [-contínuo] (63%), embora não se tenham apurado diferenças estatisticamente signi-ficativas. Se confrontarmos os valores obtidos para as oclusivas (63%), para as fricativas (68%) e para as líquidas (80%), constatamos que as duas primeiras classes têm valores muito próximos, o que pode ilustrar o papel reduzido do contraste [+/-contínuo] no G2, contrariamente ao que sucede no G1.

Os factos acima sumariados quanto ao MA não espelham a ordem identificada pelos trabalhos sobre o desenvolvimento fonológico, verifi-cando-se a ordem exactamente inversa no G1: fricativas; líquidas >> oclusivas. Face aos resultados, podemos verificar que a hipótese 2 é infirmada tanto no G1, dado o efeito promotor de [+contínuo] no desem-penho da prova de detecção do intruso, como no G2, dada a ausência de efeito do contraste [+/-contínuo] no desempenho da amostra.

Assim, os padrões fornecidos pela investigação na área do desenvol-vimento fonológico relativamente ao PA revelaram-se bons preditores do desempenho da amostra na prova de consciência segmental aplicada no presente estudo (prova do intruso). O mesmo não se pode afirmar se tivermos em consideração os padrões de desenvolvimento fonológico relativos ao MA, nomeadamente no que diz respeito ao contraste [+/--contínuo]. Detectou-se, neste trabalho, um paralelismo entre desenvol-vimento fonológico e consciência fonológica no que diz respeito ao proces-samento do PA, não se tendo detectado relação directa entre os dois tipos de conhecimento fonológico (conhecimento implícito e consciência fono-lógica) no processamento do MA. Estes resultados serão explorados em Alves (em preparação), em função do confronto entre os resultados obtidos para todas as provas aplicadas aos quatro grupos de sujeitos testados.

Observemos, por fim, a relação entre PA e MA nos dois grupos, sumariada na tabela 6 (valores de sucesso em %):

Tabela 6 – PA e MA em ambos os grupos

labial coronal dorsal G1 G2 G1 G2 G1 G2 oclusiva 33 76 33 54 17 53 fricativa 46 73 46 66 líquida 27 87 31 73

Na tabela acima, identificamos relações entre PA e MA que simpli-

ficam (valores a negrito) e outras que dificultam (valores sublinhados) o processamento segmental na prova aplicada. Verificamos que, no G1, a

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40 Avaliação da Consciência Linguística

relação dorsal/oclusiva ([k, g]) é a que mais dificulta o desempenho da tarefa em estudo, sendo a relação labial;coronal/fricativa ([f, v, s, z, S, Z]) a que mais a facilita. No G2, a relação mais complexa consiste em com-binar coronal;dorsal/oclusiva ([t, d, k, g]) e a relação promotora é coro-nal/líquida ([l]). Na passagem do G1 para o G2, verificamos que a rela-ção mais complexa para o G1 se mantém no G2; neste último grupo, verificamos que coronal pode ainda ser problemático mas apenas se asso-ciado a [-contínuo]. A mudança dá-se nas relações promotoras dos desempenhos, que favorecem a líquida coronal no G2, colocando-a acima das fricativas (labiais e coronais), as mais simples para o G1. Os dados mostram que a identificação dos factores que simplificam ou que com-plexificam o processamento segmental no desempenho de tarefas de consciência segmental devem considerar não só as classes do ponto e do modo de articulação, isoladamente, mas também a co-ocorrência de tra-ços de ambos os tipos de classes naturais dentro de um mesmo segmento (Levelt & Oostendorp 2007; Clements 2009; Volcão 2009).

Por fim, se considerarmos os resultados para coronal (figuras 8 e 15), único PA que se manifesta em todas as classes do MA e que é consi-derado como o PA não marcado no PE (Mateus & Andrade 2000) e nas línguas do mundo, verificamos, uma vez mais, a importância da co--ocorrência de traços na identificação do grau de complexidade dos seg-mentos em tarefas de consciência segmental:

(i) no G1, o MA fricativo na relação com o PA coronal [-anterior] ([S, Z]) é o contexto que mais favorece a execução da tarefa proposta (55%); a coronal líquida ([l] com 27%) e a nasal ([n] com 24%) são as estruturas segmentais mais problemáticas;

(ii) no G2, o MA fricativo na relação com o PA coronal [-anterior] mantém-se como estrutura promotora do desempenho das crianças obser-vadas (([S, Z]) com 72%); é, porém, a líquida coronal que apresenta valo-res mais altos de sucesso ([l] com 87%).

Pelos resultados expostos no presente estudo, concluímos sobre o

impacto dos aspectos relativos à estrutura interna dos segmentos (neste caso, ponto de articulação e modo de articulação) no desempenho da tare-fa de consciência segmental aplicada à amostra. Ao explorarmos poten-ciais relações entre o processamento fonológico inerente ao desenvolvi-mento linguístico infantil e o inerente ao desempenho de tarefas de consciência fonológica, verificámos ser adequada a predição feita para o ponto de articulação mas não a construída para o modo de articulação. Por outras palavras, o PA labial e o coronal são os primeiros a serem adquiridos e favorecem a execução de tarefas de consciência segmental,

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O Efeito das Propriedades Fonológicas 41

por oposição ao PA dorsal; identifica-se, assim, um paralelismo entre desenvolvimento fonológico e consciência fonológica. Pelo contrário, os modos de articulação [+contínuo] favorecem o desempenho em contexto de aplicação de uma prova de consciência fonológica, o que invalida a predição feita com base nos dados do desenvolvimento fonológico, durante o qual os MA [-contínuo] são os primeiros a emergir. Finalmente, demonstrámos a necessidade de considerar a co-ocorrência de traços na identificação de uma escala de complexidade para o inventário de seg-mentos a integrar em tarefas de consciência segmental (ou fonémica) para o Português Europeu.

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