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O EDITO DE GALIENO: ALGUNS APONTAMENTOS
ANTIQUEIRA, Moisés (FFLCH/USP)
Ao remeter-se à época em que Galieno (253-268) governou o Império romano, o
historiador Sexto Aurélio Vítor1 sublinhou que
Certamente aos senadores, além do mal-estar geral do mundo romano, os incitava o ultraje à sua própria ordem, pois aquele [isto é, Galieno] foi o primeiro que, por medo de sua própria indolência e de que o poder imperial passasse para as mãos dos nobres mais distintos, proibiu os senadores de seguirem a carreira militar e servirem ao exército (Aur. Vict. De Caes. 33, 33-34, grifo nosso).
Na seqüência da narrativa, o autor acrescentaria que o mencionado veto imposto aos
senadores decorreu de um edito promulgado por Galieno (Gallieni edictum).2 Não obstante a
exigüidade e a carência de um exato balizamento cronológico, o relato confeccionado por
Aurélio Vítor atesta com clareza que Galieno lançou mão de um instrumento jurídico a fim de
afastar os membros do Senado das fileiras militares. Logo, o “edito de Galieno” comportaria
uma ruptura face à tradicional prerrogativa, que repousava nas mãos dos senadores, de
comando das legiões imperiais.
Entretanto, faz-se oportuno destacarmos que, uma vez que a obra de Aurélio Vítor
corresponde à única evidência à supracitada interdição, dentre as fontes literárias em língua
latina ou grega, pairam sobre a informação contida na História dos Césares as dúvidas mais
prementes. Tampouco as compilações jurídicas organizadas em Constantinopla ao tempo de
Teodósio II (408-450) e Justiniano (527-565) exibem resquícios ou alusões a tal medida.
Logo, a questão envolvendo a facticidade do edito suscitou uma gama de distintos pontos de
1 Sexto Aurélio Vítor nasceu no norte da África, provavelmente nos inícios da década de 320 e faleceu por volta de 390, pouco após ter exercido o prestigioso cargo de prefeito da cidade de Roma durante alguns meses do ano anterior (BIRD, 1994, p. XI). Autor de uma abreviada história do Império romano, modernamente denominada por De Caesaribus (História dos Césares), cuja narrativa inicia-se a partir de Augusto (27 a.C.-14 d.C.) após a Batalha do Ácio e estende-se até o momento em que a compunha, isto é, o ano 360, como se vislumbra em Aur. Vict. De Caes. 42, 20, sob o reinado de Constâncio II (337-361). 2 Ver Aur. Vict. De Caes. 37, 5. Esta alusão se insere, no interior do relato, no âmbito do reinado de Tácito (275-276) cuja ascensão teria resultado de uma escolha do Senado, de acordo com a perspectiva transmitida pelo historiador tardo-imperial. Este último, desta maneira, contemplava o governo de Tácito como equivalente a uma “restauração senatorial”, pois que aquele teria assumido a púrpura apoiado tanto pela Cúria quanto pelo exército e, por conseguinte, os senadores teriam retomado um efetivo papel na condução dos assuntos públicos.
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vista por parte da moderna crítica historiográfica, posto que derivava de um autor antigo
julgado, não raro, como inconsistente (ROMAN, 2001, p. 416).
Sendo assim, pretendemos expor alguns aspectos relativos ao tempo em que Galieno
esteve à frente do governo imperial, ou seja, o contexto histórico em que a eventual proibição
teria florescido, visando conferir a pertinência da proposição de Aurélio Vítor, cotejando-a
com dados de natureza prosopográfica apresentados por Hans-Georg Pflaum (1976), André
Chastagnol (1992) e Yves Roman (2001). Neste sentido, nosso foco se voltará para o período
imediatamente posterior à morte de Valeriano (253-260),3 pai de Galieno e com quem este
último partilhava o poder, a fim de delinearmos quais teriam sido as medidas empregadas
diante da crise político-militar que caracterizava o momento.4 Por seu turno, estabelecer-se-á
um balanço referente às discussões entre os historiadores que se dedicaram ao tema desde os
meados do século passado, o que permitirá elencar as diferentes perspectivas no que se refere
à historicidade do edito de Galieno e salientar nosso posicionamento diante do tema.
A captura e o falecimento de Valeriano representaram um ponto de inflexão no
desenrolar da história romana no século III, pois impulsionaram um desmantelamento das
estruturas do poder imperial, manifestado pela proclamação de determinados oficiais por parte
das legiões que comandavam (CHASTAGNOL, 1985, p. 40). Adicione-se a isto os avanços
promovidos, nos anos 259-261, por alamanos, jutungos e francos na fronteira reno-danubiana,
bem como o incessante temor causado pelos persas sassânidas no Oriente.
Destaquemos, dentre os movimentos de usurpação à púrpura, a rebelião liderada em
260 por Póstumo, governador da Germânia Inferior, cujo objetivo imediato seria restabelecer
as defesas romanas situadas às margens do Reno, uma vez que Galieno as desarticulou no ano
anterior ao enviar boa parte das guarnições postadas na região para sanar as necessidades
3 As tropas persas do rei Sapor I invadiram as províncias romanas da Síria e da Mesopotâmia em 259. Visando rechaçá-los, Valeriano se deslocou até a região, porém foi feito prisioneiro pelos inimigos nos arredores de Edessa, cidade da Mesopotâmia, na primavera ou início do verão do ano seguinte (CHRISTOL, 1975, p. 820) e acabou por falecer em cativeiro, algo inaudito no que concernia a um imperador romano. 4 Asseveramos que o período em que Galieno governou após a morte de Valeriano é identificado como o ápice da comumente denominada “crise do século III”. Embora saibamos que este processo apresente diversas faces e matizes, nos ocuparemos tão-somente em traçar algumas considerações de natureza político-militar, visto os objetivos do trabalho. No entanto, isto não significa que ignoremos, à guisa de ilustração, que as lutas intestinas pelo poder imperial, associadas às invasões do território romano por parte sobretudo dos povos germânicos e dos persas redundaram na desarticulação da produção e do abastecimento de víveres, bem como no despovoamento de dadas cidades ou áreas. Para além, a crise afetou sobremaneira certas regiões da Gália e da Germânia, a Itália setentrional, as províncias danubianas e a Ásia Menor, ao passo que áreas como a Bretanha vivenciaram uma prosperidade econômica jamais vista nos séculos anteriores (CIZEK, 2004, p. 28).
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militares de seu pai no Oriente e, conseqüentemente, expôs as Germânias e as Gálias às
infiltrações dos alamanos e dos francos (BURNS, 2003, p. 259).
No mesmo ano, assistiu-se nas Panônias o levante encabeçado por Ingênuo,
comandante das legiões ali estacionadas que, não obstante, revelou-se assaz breve, uma vez
que Galieno rapidamente suprimiu a revolta, derrotando Ingênuo na localidade de Mursa.
Pouco depois, Regaliano, um possível membro da ordem senatorial, igualmente foi aclamado
pelas tropas e pelos habitantes da região. Esta escalada de levantes refletia, a nosso ver, a
incapacidade do poder central em salvaguardar a região do Alto Danúbio, que sofria com os
avanços dos quados e dos sármatas roxolanos que, inclusive, foram os responsáveis pelo fim
de Regaliano.
Na fronteira oriental, o imperador viu-se impelido a se sustentar nas forças reunidas
por Odenato, rei de Palmira,5 a fim de manter a estabilidade na região. Visto que se deparava
com o governo autônomo de Póstumo em parte considerável das províncias ocidentais, bem
como havia a presença dos germanos, em especial dos alamanos, que haviam rompido o limes
na junção entre os Campos Decumates e a Récia, Galieno se encontrava incapaz de assumir
em pessoa a defesa das províncias orientais face ao avanço persa.
Por outro lado, Odenato conseguiu eliminar Balista, antigo prefeito do pretório de
Valeriano que havia articulado em setembro de 260 uma revolta, associado a um oficial do
exército de nível eqüestre, Fúlvio Macriano, que redundou na proclamação dos filhos deste
último, Macriano Junior e Quieto. Estes foram reconhecidos como imperadores em várias
regiões do Oriente e no Egito até o momento em que foram derrotados, no outono do ano
seguinte. Ademais, os palmiranos revelaram-se bem-sucedidos ao defender as fronteiras
romanas dos ataques perpetrados por Sapor I e recuperaram o controle sobre a Mesopotâmia.
Porém, assumiram uma posição cada vez mais independente em relação a Roma, cindindo
ainda mais o território do Império.
Neste contexto de centrifugação do poder, marcado pela desarticulação dos laços que
envolviam o imperador ao centro e os militares nas franjas do Império e galvanizado pela
seqüência de incursões de povos externos rumo às fronteiras romanas, a autoridade de 5 Aliada de Roma, a cidade de Palmira constituía um reino quase autônomo postado às margens da província da Síria, caracterizado por uma intensa atividade comercial, dada sua privilegiada localização (a meio caminho de distância entre o Mediterrâneo e o Eufrates). Ao longo da década de 250, tendo em vista que o número de soldados romanos não se mostrava suficiente para atuar em diversos e simultâneos palcos de guerra, Valeriano apoiou-se cada vez mais em Odenato a fim de conter a pressão exercida por Sapor I sobre a Síria e a Mesopotâmia romanas. Portanto, os palmiranos configuravam importantes peças no jogo militar que envolvia a manutenção do territorial imperial naqueles tempos.
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Galieno resumia-se a algumas áreas, sobretudo a Itália e o Norte da África, assim como partes
da Ásia Menor e, a duras penas, a Ilíria. Desta feita, a crise político-militar resultou em uma
operacionalização do poder fracionada em três regiões geográficas. Assim, as Gálias e demais
províncias limítrofes, como as Hispânias, as Germânias e a Bretanha, compunham a esfera
sob o controle de Póstumo e ao leste do Império (Síria, Mesopotâmia e grande parcela da Ásia
Menor) situava-se o raio de ação dos palmiranos, exceto o Egito, mantido sob a potestade de
Galieno. Se este resistiu no trono imperial em um momento tão delicado, foi ao preço, logo,
da secessão das províncias ocidentais – que configurariam o chamado Império Gálico (260-
274) – e de tênues compromissos assumidos no Oriente que propiciaram o fortalecimento do
reino de Palmira.
Portanto, a necessidade de fazer frente a um estado quase permanente de guerra
conduziu o imperador Galieno a modificar em parte as estruturas do exército romano,6
apropriadas a um quadro institucional previsto para tempos de paz ou somente para ataques
externos de curta duração, locados em uma ou no máximo duas frentes. Até aquele momento,
as defesas romanas caracterizavam-se por serem estáticas, ou seja, as legiões permaneciam
estacionadas ao longo de uma linha fortificada (o limes, por definição) ou, quando preciso,
recuavam em conjunto. Esta configuração, no entanto, resultava em forças fragmentadas e
isoladas entre si, inferiores numericamente em relação aos invasores em muitos pontos desta
linha. Para além, ressalte-se o tempo gasto pelas forças romanas em marcha, quando uma ou
mais legiões tinham que se deslocar de seu posto original a fim de reforçar a defesa em
determinada altura do limes. Tendo o inimigo rompido algum ponto, alcançaria o interior das
províncias indefeso, podendo saqueá-lo sem grandes problemas (PFLAUM, 1976, p. 109).
Sendo assim, as simultâneas invasões ocorridas a norte e a leste, combinadas às guerras civis
e usurpações, expuseram a inerente fragilidade da estrutura militar romana.
Neste ensejo, a mobilidade transformou-se em um imperativo. Para tanto, Galieno
voltou-se para as forças de cavalaria que integravam o exército, até então empregadas em
menor escala, se cotejadas à infantaria, enquanto arma de combate por parte dos romanos.7
Robert Saxer (1967 apud DE BLOIS, 1976, p. 27) assinala que Galieno extraiu cavaleiros
junto às tropas auxiliares montadas, incorporando-os em brigadas de cavalaria separadas.
6 Rememoremos que as medidas preconizadas por Galieno abrangiam, obviamente, apenas a parcela do Império que se encontrava sob seu controle. Logo, não concerniam à totalidade do mundo romano em si. 7 Trajano (98-117) e Septímio Severo (193-211) lançaram mão de forças independentes de cavalaria nas respectivas guerras que empreenderam. Porém, somente ao tempo de Galieno tais forças foram agrupadas sob as ordens de um único comandante (TOMLIN, 2002, p. 108), como veremos abaixo.
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Estes destacamentos teriam sido constituídos por “dálmatas” e “mouros”, embora seja
provável que o imperador os formasse igualmente a partir dos corpos de cavalaria que
integravam as legiões, cujo efetivo girava em torno de 120 homens.
Os efetivos da nova força de cavalaria instituída por Galieno foram concentrados em
entroncamentos viários no interior das províncias, a partir dos quais poderiam ser acionadas
para contrapor-se aos assaltos dos inimigos que se espalhavam território romano adentro com
proporcional celeridade. Ou seja, os deslocamentos destas unidades eram operados através do
bem organizado complexo de estradas que recortava todo o Império. Lukas de Blois (1976, p.
27-8) sustenta que esta formação particular teria sido reunida entre 254 e 258, a fim de
confrontar os povos germânicos na fronteira renana, talvez reavivando uma experiência
similar àquela de Maximino, o Trácio (235-238) na Germânia em 235, quando a utilização de
cavaleiros originários da Osroena mostrou-se eficaz no embate contra os alamanos.
Iniciada a década de 260, a maioria das tropas montadas permaneceu acampada em
Milão, visto a ameaça de uma invasão perpetrada por Póstumo, do lado ocidental, e dos
alamanos que já controlavam os Campos Decumates e, portanto, se encontravam bem
próximos da Itália do Norte (DE BLOIS, 1976, p. 28). Compunham assim um corpo de
cavalaria agrupado em torno do imperador e, em razão da grande mobilidade que dispunham,
poderiam intervir com rapidez em diversas frentes. Para além, esta força de cavalaria
constituía a espinha dorsal de um exército de campanha centralizado, sob os cuidados do
próprio imperador ou de um oficial próximo a ele, formando uma reserva estratégica
localizada atrás das legiões, ainda acantonadas junto às fronteiras.8 Foi por meio deste
exército de campanha que Galieno repeliu, dentre outras, as incursões promovidas por
alamanos e hérulos ao longo dos anos 260.
Detalhe importante, as forças móveis espalhadas pelas províncias seriam lideradas
apenas por oficiais de carreira, promovidos dentre os centuriões e os primipilos (PFLAUM,
1976, p. 111).9 Ora, tratava-se de indivíduos que, usualmente, eram filhos de soldados e, pois,
traziam consigo uma familiaridade com a vida na caserna desde a infância. Ressaltemos,
ademais, que esta limitação do comando das unidades de cavalaria nos permite estabelecer
8 Michael Grant (1999, p. 37) estipula em torno de 30 mil o efetivo deste exército móvel de Galieno e lembra que se tratava de uma instituição bastante custosa, visto que à alimentação diária dos soldados somava-se uma equivalente manutenção dos animais, agravando o peso do exército no cômputo das finanças imperiais. 9 O comando do conjunto destas unidades em determinada região ficava a cargo dos duces, preconizando um novo patamar para a ascensão de oficiais regulares que, amiúde, ingressavam na ordem eqüestre.
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uma ponte entre as mudanças efetuadas por Galieno na esfera militar e a hipotética proibição
imposta aos senadores, como quer Aurélio Vítor.
Por sua vez, Galieno encorajou o crescimento de um grupo de oficiais, os chamados
protectores, que serviam próximos a ele no seio do exército central de campanha. De acordo
com Stephen Williams (1997, p. 25-26), o imperador confiava a estes oficiais as mais diversas
tarefas, incluindo funções administrativas e financeiras, indicando-nos que o ingresso neste
seleto conjunto representava um veio relevante de acesso a altos postos civis e militares.
Tais práticas exprimem um dos efeitos mais significativos das alterações perpetradas
por Galieno no âmbito das estruturas do exército, ou seja, fortaleceu-se um mecanismo
independente para a ascensão social dos membros do exército, possibilitando-lhes competir
com a aristocracia senatorial pelo poder (BURNS, 2003, p. 307). Doravante, os soldados não
dependiam dos senadores para avançarem em sua carreira, o que assinalaria, inclusive, a
sobreposição política dos elementos provinciais – notadamente aqueles originários das
províncias danubianas – à frente do Império, algo ilustrado pela aclamação de comandantes
como Cláudio, o Gótico (268-270), Aureliano (270-275), Probo (276-282), Caro (282-284) e
Diocleciano (284-305), que sucederiam a Galieno.
O estabelecimento de uma força de cavalaria central permitia, ao concentrar um
contingente considerável de soldados ao lado do imperador, que este se opusesse rapidamente
a qualquer rebelde que se sublevasse, como o atestaria a vitória sobre Ingênuo em 260. Tal
exército transfigurou-se, assim, em um símbolo de afirmação do poder legítimo contra a
usurpação (CHRISTOL, 1975, p. 826). No entanto, esta nova estratégia militar carregava em
seu bojo um risco político, uma vez que, se houvesse a necessidade de delegar o comando
sobre esta força, como ocorrera várias vezes, tal comandante tornar-se-ia por tabela o
indivíduo dotado de maior poder – e, logo, o mais perigoso – dentre os súditos do imperador.
Auréolo ilustrará tal proposição, ao levantar-se contra o imperador em 268.
Deste modo, dada as alterações promovidas por Galieno, há de avaliarmos se teriam
sido igualmente acompanhadas por um efetivo veto aos senadores de integrarem o exército e
comandarem as tropas, como exposto em Aur. Vict. De Caes. 33, 33-34. O debate em torno
da questão resulta bastante controverso, justamente porque, como indicamos acima, o edito
foi relatado apenas por Aurélio Vítor em sua abreviada obra. Logo, as conclusões quanto à
historicidade do mesmo dependem em grande medida de uma análise das poucas inscrições e
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papiros que atestam a evolução das carreiras militares de determinados indivíduos durante o
século III.
Tradicionalmente, o comando das legiões ao longo do Principado concentrava-se nas
mãos da ordem senatorial. O legado senatorial (legatus legionis) era o encarregado de
encabeçá-las, seguido pelo tribuno militar laticlavo, função essa dotada de menor
responsabilidade e de limitado valor formativo, exercida por senadores em início de carreira.
Ao comando da legião, o prosseguimento da carreira de um senador poderia efetuar-se sob a
forma de um governo proconsular ou outro cargo dotado de similar relevância, como
preconizava a concepção greco-romana de que “o homem público devia exercer indiferente e
alternadamente cargos civis e comandos militares” (PETIT, 1989, p. 92). Logo, não eram
soldados em tempo integral; porém, a eles estavam reservados os principais postos de
comando do exército imperial. As condições do período, como visto, desnudaram a
inadequação do sistema militar romano e demandavam homens com maior experiência
prática, isto é, os soldados regulares que advinham dos mais baixos estratos sociais.
Neste sentido, as evidências epigráficas caminhariam na direção sinalizada por
Aurélio Vítor quanto à proibição de Galieno. O fato essencial é que não se tem notícia,
efetivamente, da presença de tribunos laticlavos de legião a partir da segunda metade do
reinado de Galieno. Um dos últimos por nós conhecidos data de maio do ano 249: trata-se de
“Júnio Tiberiano, jovem claríssimo, tribuno militar laticlavo da décima legião Gemina Pia
Fidelis Deciana”,10 estacionada na Panônia Superior. Contudo, André Chastagnol (1992, p.
209) recorda que existem outras inscrições, não datadas de maneira expressa, mas que talvez
remontem às décadas de 250 e 260, que registram a existência de tribunos laticlavos. Estes, de
todo modo, foram substituídos em seu ofício por tribunos angusticlavos, ou seja, indivíduos
provenientes da ordem eqüestre.
Mais importante ainda, o último legado de legião que se conhece é Júlio Salústio
Saturnino Fortunaciano, segundo consta de uma inscrição proveniente da província da
Numídia que se remonta aos anos 260-262.11 Deste momento em diante, os legados
senatoriais cederam lugar aos prefeitos eqüestres de legião,12 provavelmente os antigos
10 Ver Corpus Inscriptionum Latinarum, vol. III, n. 4558 (apud ROMAN, 2001, p. 416). 11 “Júlio Salústio Saturnino Fortunaciano, legado propretor da província da Numídia e da terceira legião Augusta Galliena (...)”. Ver Corpus Inscriptionum Latinarum, vol. VIII, n. 2797 (apud PFLAUM, 1976, p. 113). 12 Ressalve-se que esta prática de substituição se delineava há algum tempo. À época de Septímio Severo, foram criadas três novas legiões e, ao contrário de todas as demais legiões então existentes (à exceção do Egito), foram
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praefecti castrorum (“prefeitos dos acampamentos”), suplantes naturais dos legados. Sendo
assim, conclui-se que a partir dos inícios da década de 260, não se encontravam mais
comandantes militares de origem senatorial, momento este que coincide com as mudanças
empreendidas por Galieno no exército imperial e que, por tabela, forneceriam substância à
observação postulada por Aurélio Vítor.
Pois bem, à luz do material epigráfico, podemos licitamente balizar à época de
Galieno o desaparecimento dos comandantes laticlavos de legião. Em assim sendo, resta
considerar se tal ausência resultou de um pronunciamento oficial do imperador, como
estipulou Aurélio Vítor. A análise do discurso costurado por aquele sedimenta a conclusão de
Bengt Malcus (1969 apud DE BLOIS, 1976, p. 40). As cores moralizantes com as quais
Aurélio Vítor traçou a emergência da proibição emitida por Galieno indicariam, no entender
de Malcus, que a informação não deveria ser levada tão a sério e, por conseguinte,
dificilmente poderia constituir as bases para uma discussão adequada. Partindo desta
perspectiva, Michael T. W. Arnheim (1972, p. 37) exprime que o “edito de Galieno” jamais
existiu, configurando, em verdade, meramente uma ferramenta por meio da qual Aurélio Vítor
procurar iluminar um longo processo histórico, qual seja, o enfraquecimento político da
ordem senatorial.
Para além, a principal objeção, a nosso ver, lançada à historicidade da passagem de
Aurélio Vítor decorre da comparação estabelecida entre o texto do historiador e outras fontes
latinas versadas em história do século IV, especialmente o Compêndio de História Romana de
Flávio Eutrópio, composto em 369 e a História Augusta, obra de autoria incerta e escrita em
meados da década de 390, em que pese todas compartilharem uma apreciação deveras
negativa no que diz respeito a Galieno. De fato, tais obras traçaram um retrato deste
imperador em conformidade ao arquétipo do tirano, sinônimo de governante cruel e
moralmente corrompido.13
instituídas sob as ordens de um prefeito (praefectus legionis), usualmente um oficial dotado de vasta experiência, selecionado dentre os primipilos, e não um legado advindo da ordem senatorial (TOMLIN, 2002, p. 107). 13 Para tanto, basta citar alguns exemplos, como os versículos de Aurélio Vítor que suscitaram o presente debate, isto é, De Caes. 33, 33-34 (ver acima), em que se denota que veto imposto aos senadores decorre do caráter indolente e indistinto do príncipe, do que resultou uma medida vil e ultrajante à nobreza senatorial. Em suma, o mundo romano vivenciaria um momento caracterizado como de “desespero dos ânimos” (Aur. Vict. De Caes. 33, 5). Eutrópio (Brev. IX, 8, 1), por sua vez, afirma que Galieno “durante muito tempo foi plácido e tranqüilo, logo depois se abandonando a todo tipo de lascívia, soltou as rédeas do governo por desídia e desesperança”. Já nas páginas da História Augusta (SHA Gall. 16, 1), lê-se que o imperador em questão “(...) desperdiçou seus dias e noites no vinho e na devassidão e permitiu que o mundo fosse devastado por usurpadores em número de vinte, ao ponto de até mesmo mulheres governarem melhor que ele”.
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Desta feita, de acordo com Luca de Regibus (1959, p. 234-236), a inexistência de
alusões ao edito em outras obras, especialmente àquelas vinculadas à tradição histórica
senatorial (tal como os autores supracitados) poria em xeque a afirmativa de Aurélio Vítor,
uma vez que uma medida tão ignominiosa deveria ser elencada como um dos itens que
comprovariam o caráter dissoluto do imperador, como transmitido por Aurélio Vítor, Flávio
Eutrópio e pela História Augusta. Assim, a inverídica fala do primeiro seria desvelada e, pois,
jamais um edito desta natureza teria sido emitido.
Também Gèza Alföldy (1989, p. 181) nega a facticidade do edito de Galieno,
atribuindo-o a um deslize nos interstícios da tradição absorvida pelo historiador tardo-
imperial. Leandro Polverini (1975, p. 1022), por sua vez, crê ser flagrante o equívoco contido
na tradição propagada por Aurélio Vítor, a qual inventou igualmente uma possível revogação
do edito à época de Tácito (275-276), algo que findaria por confirmar – de um modo
singularmente vicioso – ambas as falsificações.
Não obstante, postular que a noção de um edito proferido por Galieno derivava de
um erro no interior da tradição histórica absorvida por Aurélio Vítor enfatizaria,
indiretamente, a individualidade do próprio autor. Sabe-se que, tanto a obra deste último
quanto o Compêndio de História Romana e a História Augusta se assentam sobre algumas
bases em comum, capitaneadas possivelmente pela Kaisergeschichte (História imperial)
proposta por Alexander Enmann em 1884 (SYME, 2001, p. 106).14 Ora, na medida em que
somente a História dos Césares menciona o edito, aventamos que o silêncio das demais
fontes destaca o traço individual da obra de Aurélio Vítor, sua inventio, em suma,
independentemente da historicidade da proibição. Assim, restariam duas possibilidades, a
saber: ou Aurélio Vítor propagou uma noção derivada de um material alheio ao conhecimento
dos demais autores latinos15 ou concebeu-a por conta própria, conferindo uma roupagem
14 Podemos desconsiderar, no presente trabalho, uma comparação com outras fontes históricas que também teriam utilizado a História Imperial preconizada por Enmann, como o Breviário de Festo (datado por volta de 370) e a Epítome de Caesaribus, elaborada no início do século V (SYME, 2001, p. 105), posto ambas exporem uma imagem menos desfavorável e ainda mais sucinta acerca de Galieno. 15 No âmbito da elaboração/transmissão da tradição historiográfica latina e não-cristã no século IV, há mais um ponto a se considerar. Mais de trinta anos separavam o livro de Aurélio Vítor da composição da História Augusta e o ignoto autor desta última conhecia a obra do primeiro, como ilustra Ronald Syme (2001, p. 107) a respeito de detalhes circunstanciais acerca de Dídio Juliano em 193 e Filipe, o Árabe (244-249), vislumbrados apenas em Aurélio Vítor e retomados na História Augusta. Desta feita, ainda que o primeiro tivesse empregado um material diverso daquele comumente consultado por ambos, o autor da História Augusta tomaria contato com a informação do edito justamente por intermédio da leitura da História dos Césares. Sendo assim, caberia perguntar quais teriam sido os motivos que levaram o anônimo autor da História Augusta a desconsiderar a nota de Aurélio Vítor referente à eventual proibição efetuada por um imperador tão desprezado como Galieno.
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jurídica à rememoração de uma prática desenrolada no reinado de Galieno, qual seja, a
ausência dos senadores do meio militar.
Neste caso, vale sublinhar que a atividade jurídica dos imperadores congrega um dos
aspectos para o qual Aurélio Vítor demonstra particular interesse, como um dos signos que
exprimem uma idéia de “romanidade”, no pensamento do autor. Para tanto, vemos que Tito
(79-81), “tão logo assumiu o poder”, escreveu o historiador, “assegurou por meio de um
edito” aquilo que seus antecessores haviam concedido a particulares (Aur. Vict. De Caes. 10,
2), assim como se pode ler que Severo Alexandre (222-235) mostrava grande interesse pela
justiça, favorecendo igualmente os juristas Domício Ulpiano e Júlio Paulo, inclusive
revogando o exílio que Heliogábalo (218-222) impôs àquele último (Aur. Vict. De Caes. 24,
6). Em vista disto, sugerimos que a perspectiva de um veto aos senadores de ingressarem no e
comandarem o exército por meio de um ato, factível ou não, que denota a capacidade
legiferante do imperador, coaduna-se aos elementos que atraem a atenção de Aurélio Vítor ao
caracterizar o exercício do poder por parte dos imperadores e, pois, salienta os interesses
pessoais do autor face à história imperial que constitui o objeto da narrativa.
Por outro lado, os elementos de natureza prosopográfica que noticiam a evolução das
carreiras dos senadores no que tangia ao exército romano no século III16 fomentaram
pareceres mais favoráveis à historicidade do edito. Lukas de Blois (1976, p. 39) advoga que o
desaparecimento dos legados e tribunos militares laticlavos relacionar-se-ia a alguma medida
postulada por Galieno, porém não há modo de determinarmos com exatidão se tal decorreu
por meio de um edito oficial ou outro ato de natureza similar, ou se concernia meramente a
uma repentina alteração na política de preenchimento dos quadros de comando das legiões.
Por seu turno, diz André Chastagnol (1992, p. 209) que “a medida teve notáveis
conseqüências administrativas, em especial a substituição em muitas províncias de
governadores de nível senatorial por cavaleiros”. Desta forma, se costura uma relação de
causa e efeito entre um concreto edito pronunciado por Galieno e a evolução observada no
tocante à administração das províncias imperiais ao longo dos anos 250-280.17 Assim, as
províncias imperiais pretorianas, dotadas de apenas uma legião, foram todas confiadas a
praesides da ordem eqüestre, em substituição aos legados senatoriais (legati Augusti pro
16 Ver acima os exemplos de evidências epigráficas que sustentam tais estudos. 17 Tendo em vista que as legiões lotadas em dada província permaneciam sob a autoridade do governador da área, concluir-se-ia que a exclusão referente aos comandos militares afetaria em algum grau a indicação de senadores para a administração provincial.
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praetore). As províncias imperiais consulares, que concentravam um número variado de
legiões, apresentariam um grau maior de complexidade, donde se notaria uma alternância
entre legados e praesides. Entretanto, ainda que os governadores de nível senatorial
estivessem à frente destas províncias, limitar-se-iam ao exercício das funções administrativas
e judiciais, enquanto que a iniciativa militar concentrar-se-ia nas mãos dos prefeitos eqüestres
de cada legião (CHASTAGNOL, 1992, p. 209-210).
Analogamente, Eugen Cizek (2004, p. 68-69) corrobora a tese proposta por
Chastagnol, asseverando a existência do edito. Contudo, no entender de Michel Christol
(1975, p. 827), embora as transformações observadas no que tangia à administração das
províncias a partir de 260 conduzissem à comprovação da medida citada por Aurélio Vítor,
existiria ainda um bom número de alterações anômalas que colocariam em dúvida o caráter
sistemático de uma proibição imposta aos senadores à época do reinado de Galieno.
Entretanto, Hans-Georg Pflaum (1976, p. 109) considera que o edito dizia respeito
somente aos comandos militares, tal como pontuou Aurélio Vítor e, portanto, a proibição de
Galieno não se estenderia à administração provincial. Prova disso se vislumbraria no que
tangia à Celessíria, estratégica província sob o prisma da logística militar, pois se avizinhava
do território sassânida, para a qual se atestam senadores encabeçando a administração mesmo
na década de 280 (PFLAUM, 1976, p. 113). De maneira semelhante, Yves Roman (2001, p.
414) defende que o edito de Galieno concernia a um ato eminentemente técnico, que visava
garantir maior eficiência às ações militares e destinado a assegurar a sobrevivência de Roma
e, neste sentido, de modo algum concebido deliberadamente em oposição à ordem senatorial.
Diante de quadro tão incerto, ajuizamos que resulta impossível determinarmos a
existência objetiva de um instrumento jurídico emitido por Galieno, por meio do qual a ordem
senatorial foi alijada do exército imperial, posto a inexistência de outras evidências diretas
que comprovem a assertiva de Aurélio Vítor. Todavia, julgamos que tal constatação não
inviabiliza por completo a proposição do historiador, visto ilustrar uma realidade social de
meados do século III, qual seja, a ausência de senadores no comando das legiões e, com
efeito, se coaduna ao sentido evocado pelas mudanças postuladas pelo imperador. Logo,
parece lícito empregar o termo “edito” para se referir a tais transformações, posto que, como
ensina Leandro Polverini (1975, p. 1034), configura um modo de exprimir o cerne de um
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processo de subtração dos fundamentos, sobretudo o militar, que sustentavam a autoridade
política dos senadores, em curso ao longo do século III.18
Além disso, grande parcela dos senadores mostrava-se inapta para a vida militar, pois
a formação que adquiriam era sobremaneira ligada às letras e à retórica e desinteressada pelo
árduo ofício das armas19 e, acrescente-se, havia a preocupação de se afastar tais indivíduos
dos postos de comando do exército a fim de evitar as derrotas no campo de batalha, assim
como o retorno a uma situação análoga àquela observada em 238, isto é, prevenir que ricos
senadores construíssem laços estreitos com parte das forças armadas de uma maneira tal que
reunissem condições de escolher os imperadores (DE BLOIS, 1976, p. 206).
A substituição dos legados senatoriais por prefeitos eqüestres no comando das
legiões configura, tenha sido fruto de um edito ou não, um elemento que se integra às
transformações das estruturas políticas imperiais,20 ladeando-se ao incremento expressivo da
quantidade de praesides à cargo da administração das províncias, ao passo que ilumina a
flexibilidade das instituições romanas, moldadas às novas condições sociais do século III.
Feita estas considerações, asseveramos que a medida não corresponderia a uma
manifestação premente de hostilidade perante o Senado por parte de Galieno que, vale
salientar, era oriundo daquele. As fissuras provocadas a partir da captura de Valeriano
expuseram a debilidade do poder imperial que, por seu turno, exigiram a adoção de novas
práticas que garantissem a manutenção do Império ou, ao menos, da parcela que repousava
sob a autoridade de Galieno. Para tanto, o imperador teria de submeter à disciplina os
soldados do Ilírico, que compunham o grosso do exército de Galieno e quiçá impor limites à
ambição propriamente política dos oficiais à frente daqueles soldados e, assim, canalizar a
energia militar dos ilíricos a fim de velar, preferencialmente, pela defesa da península itálica
(GAGÉ, 1975, p. 831) e, por conseguinte, de Roma e suas tradicionais instituições.
Isto não significou, entretanto, que os senadores aquiescessem insensivelmente com
as mudanças que fundamentam a perspectiva do edito de Galieno, na medida em que 18 Seria, entretanto, um equívoco apreciarmos que esta evolução aniquilou a influência do Senado no interior da sociedade imperial. Enquanto grupo social, os senadores desfrutavam de grande prestígio e possuíam imensa riqueza, sobretudo fundiária, a garantir-lhes uma ascendência em relação às demais camadas sociais. 19 O edito, neste caso, corroboraria um processo que remontava às décadas anteriores. Como indica Thomas S. Burns (2003, p. 296), boa parte dos integrantes da aristocracia senatorial já havia se eximido da carreira militar em fins do século II, ao passo que os próprios soldados não teriam interesse em seguir como líderes indivíduos com os quais estavam pouco familiarizados e que tampouco se importavam com o cotidiano de suas vidas. 20 De acordo com Eugen Cizek (2004, p. 70), “as repercussões desta medida de Galieno foram imensas para o devir do Império, para a hierarquia social e militar e para a evolução das mentalidades. Galieno, talvez sem intenção, foi a chaga aberta de uma ampla transformação do exército. Os novos governadores e generais de nível eqüestre eram ambiciosos, mas de modo algum ligados aos antigo sistema de valores”.
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afetavam o orgulho, o “amor-próprio” da ordem senatorial, ciosa dos valores marciais que
compunham o mos maiorum, do qual emergiam como os representantes por excelência. Sendo
assim, os senadores jamais aceitariam a situação de incapacidade manifestada por ocasião da
política adotada por Galieno, posto que afrontava diretamente à dignitas daqueles e, logo,
tornou-se mesmo imperativa a condenação do homem odioso responsável por tal desfeita.
Neste caso, a imagem de Galieno confeccionada por Aurélio Vítor e outrem exprime o
inconformismo aflorado no âmago da elite senatorial: na batalha travada no campo da
memória histórica, os senadores fizeram ecoar a aversão que nutriam pelo filho de Valeriano.
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