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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA O DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA NA EDUCAÇÃO INFANTIL CARAUBAS - RN 2017

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

O DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

CARAUBAS - RN

2017

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MARIA GERLANDIA DE PAIVA

O DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Artigo apresentado à disciplina Trabalho de

Conclusão de Curso da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, como requisito

parcial para obtenção do título de graduada em

Pedagogia.

Profª Orientadora: Ms. Rúbia Kátia Azevedo

Montenegro.

CARAUBAS - RN

2017

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O DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Maria Gerlândia de Paiva

1

Rúbia Kátia Azevedo Montenegro2

RESUMO

O trabalho tem como objetivo enaltecer a importância do desenvolvimento da escrita na

educação infantil, destacando aspectos importantes na educação, refletindo sobre as

brincadeiras, o jogo, o brinquedo e o lúdico, considerando o currículo na educação infantil e

as visões de vários autores que reforçam que o desenvolvimento da escrita é importante na

educação infantil, pois constrói a identidade da criança e promove a interação com o mundo

letrado e com os adultos mais próximos, o destaque é que a escrita faz parte da cultura

produzida e vivida pela criança dentro da realidade em que a mesma está inserida, claro cada

criança com sua singularidade, sua história e de maneira natural. Este trabalho permitiu

conhecer o pensamento teórico de Ferreiro (2003), Vygotsky (1987), Piaget (1976), e dentre

outros relatados, e as DCNEI (2013) que foram primordiais para conceituar partes

significativas do processo da escrita no ensino-aprendizagem infantil.

Palavras-chave: Escrita. Infantil. Cultura.

THE DEVELOPMENT OF WRITING IN CHILD EDUCATION

ABSTRACT

The objective of this work is to emphasize the importance of writing development in child

education, highlighting important aspects of education, reflecting on play, the game, the toy

and the playful, considering the curriculum in child education and the views of several authors

that reinforce that writing development is important in child education, because it builds the

child's identity and promotes interaction with the literate world and with the close adults, the

highlight is that writing is part of the culture produced and lived by the child within the reality

in which it is inserted, of course each child with its singularity, its history and in a natural way

This work allowed to know the theoretical thinking of Ferreiro (2003), Vygotsky (1987),

Piaget (1976), and others reported, and DCNEI (2013) that were primordial to conceptualize

significant parts of the writing process in children's teaching-learning.

Keywords: Writing. Child. Culture

1 Graduanda em Pedagogia pela UFRN – [email protected]

2 Orientadora Mestre em Ciências da Educação, Especialista em Mídias na Educação e Psicopedagogia

Institucional e Graduada em Letras – [email protected]

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1 INTRODUÇÃO

Na educação infantil a criança desenvolve várias habilidades inclusive a escrita, a

escrita é importante na construção da criança como sujeito do saber, a criança é detentora do

saber, por viver no mundo totalmente letrado ao qual facilita a aquisição da escrita. Para

desenvolver a escrita na educação infantil é preciso enaltecer os pilares: educar, cuidar e

brincar e também a ludicidade que são importantíssimos no desenvolver da escrita. A escrita é

um processo sistemático, singular e educacional, onde inicia-se na educação infantil.

Conforme aponta Barbosa (1992, p. 73) “a Psicogênese da Língua Escrita, defendida

por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, pressupõe uma criança cognoscente sujeito que constrói

ativamente o saber”. É na educação infantil que inicia-se a alfabetização, e a alfabetização

engloba o desenvolvimento da escrita, oralidade e a leitura. O letramento infantil leva ao

avanço de hipóteses, construção da identidade, valorização da cultura, interação social,

concebendo a língua escrita como representação da linguagem, onde a alfabetização passa a

ser um domínio de uma técnica e uma aprendizagem conceitual.

Concordando com Emília Ferreiro, entendemos que o processo de alfabetização deve

proporcionar situações nas quais os alunos sejam colocados em contato com as práticas

sociais de leitura e de escrita, onde o professor que lida com a alfabetização, prioritariamente,

conheça a psicogênese da língua escrita para entender a forma e o processo pelos quais a

criança se apropria do ler e do escrever.

O objetivo deste trabalho é mostrar a importância do desenvolvimento da escrita na

educação infantil, sabemos que é desenvolvido sim, na educação infantil, mas não é

primordial, cabe as escolas terem um olhar mais abrangente e reflexível acerca dessa temática,

pois além de ser direito da criança é uma realidade cada dia mais presente nas instituições

educativas, através da mediação do pedagogo a conquista da escrita prontamente acontece nos

anos iniciais, há casos de crianças desenvolverem a escrita em sua casa com os pais ou

familiares, a escrita é o saber essencial na aprendizagem.

Para organizar e ponderar o trabalho foi necessário uma pesquisa bibliográfica e de

cunho qualitativo, baseado nas afirmações de autores com autonomia e estudo sobre a escrita,

a fim de analisar e revisar a literatura buscou-se as informações em diversos materiais

bibliográficos: livros, revistas, artigos científicos, dissertações, teses, relatórios de estágio,

tanto impressos como em base de dados virtuais Scielo, Google Acadêmico, repositórios de

instituições universitárias e páginas oficiais do Ministério da Educação e Cultura (MEC).

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O tema é bastante abrangente e importante para ser estudado, pois o enfoque são as

crianças que tem cada dia tornado um ser social com direitos, deveres e com uma

aprendizagem cada dia mais aguçada, com um cognitivo desperto para adicionar

conhecimentos sobre sua escrita nesse mundo tão letrado.

Muitos pesquisadores abordam para a temática da escrita nos primeiros anos de estudo

infantil, os autores trazem conceitos e propõem uma metodologia construtivistas sobre a

importância da escrita nas series iniciais, mostrando o quanto é indispensável o trabalho

pedagógico que deve ser pautado em planejamento de atividades que envolvam brincadeiras e

o lúdico.

Segundo os trabalhos de Ferreiro (1999), do ponto de vista construtivo, a escrita

infantil segue uma linha de evolução surpreendentemente regular, através de diversos meios

culturais, de diversas situações educativas, e de diversas línguas.

Ao contrário, a apropriação da linguagem escrita da pela criança, se faz no reconhecimento, compreensão e fruição da linguagem que se usa para

escrever, fazendo-se presente em atividades prazerosas, em situações

comunicativas diversas, onde as crianças possam comunicar-se, conversar, ouvir histórias, narrar, contar um fato, brincar com palavras, refletir e

expressar seus próprios pontos de vista, diferenciar conceitos, ver

interconexões e descobrir novos caminhos de entender o mundo por meio da linguagem escrita (DCNEI, 2013, p. 94)

Ao considerarmos que a educação infantil tem a finalidade do desenvolvimento

integral da criança em seus aspectos, físicos, psicológicos, intelectuais e sociais e esta etapa

deve proporcionar a criança experiências e saberes, desde da valorização dos patrimônios,

culturais ambientais, artísticos, tecnológicos e científicos que possa contribuir com sua

formação como sujeitos históricos, a linguagem escrita é entendida como um bem cultural,

centrada na decodificação do escrito.

Em relação à primeira dimensão específica da alfabetização – a compreensão da base

alfabética da escrita, podemos dizer, a partir dos estudos de Emília Ferreiro (1986) que a

criança precisa, a partir do momento em que reconhece que a escrita é uma representação (que

onde há marcas gráficas escritas há algo sendo dito), compreender o que a escrita representa e

ainda como ela representa, ou seja, construir esses conhecimentos que são conceituais, são

conceitos.

Portanto, a criança se apropria da base alfabética da escrita quando compreende os

princípios que regem o funcionamento da representação escrita alfabética, ou seja, da relação

entre a escrita e os sons da língua falada, bem como de outros elementos inerentes ao sistema

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(letras – formas e valores sonoros, aspectos fonoaudiólogos, direcionalidade, alinhamento,

segmentação e regras ortográficas básicas).

Ferreiro (2001) afirma que a escrita é importante na escola porque é importante fora

dela. O processo de ensinar/aprender a língua escrita deve permitir que as crianças se

apropriem desse objeto de conhecimento e possam responder aos apelos de uma sociedade

grafocêntrica, usufruindo das possibilidades da língua no âmbito de sua cultura. Muito mais

do que aprender um sistema fechado, a aquisição da escrita deve estar a serviço da formação

de sujeitos críticos, capazes de expressar e compreender o mundo.

2 EDUCAÇÃO INFANTIL E A INFÂNCIA

A educação infantil é uma etapa básica do ensino que nasceu diante da necessidade

dos pais ou responsáveis, precisarem se deslocar de suas casas para o trabalho e não tendo

com quem deixar os filhos surge então a escola para as crianças, mas não com a função de

educar e sim do cuidar.

Desde o nascimento até os dias atuais, a educação infantil passou por transformações

relevantes para o ensino, com o pensamento não só de cuidar como também de educar e

ensinar através do brincar. Assim para a Educação Infantil as DCNEI - Diretrizes Curriculares

Nacionais para Educação Infantil (2009, p. 01) afirmam, em seu art. 5°, que:

A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, é oferecida em

creches e pré-escolas, as quais se caracterizam como espaços institucionais

não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período

diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por

órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social.

É importante ressaltar que a educação na educação infantil teve um crescimento no

final do século XIX, além do cuidar as instituições passaram a ver as crianças como sujeitos

importantes na sociedade, às creches e pré-escolas por lei e obrigatoriamente fazem o

atendimento as crianças de 4 e 5 anos, também existem instituições privadas que têm

aumentado a demanda de vagas em seus berçários, creches e pré-escolas.

A instituição de educação infantil deixou de ser pensada como assistencialista e

começa a ser pensada como um ambiente de educação, que proporciona o bem-estar infantil.

A educação infantil passa a ser prioridade de investimento juntamente com o ensino

fundamental, ligada ao ministério da educação. As instituições educativas o trabalho deve ser

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amplo do que o cuidar e o educar, pois devem estar presentes de forma integrada. A

instituição passa a mediar o conhecimento das crianças.

Através de muita pesquisa e estudo comprova-se que o conhecimento já está

internalizado na criança logo ao nascer e que passa a desenvolver no decorrer dos tempos,

com a evolução do pensamento e aprimoramento do conhecimento. Podemos notar que as

crianças pequenas de atualmente tem mais privilégio no campo educacional com um trabalho

voltado para o cuidar, o educar e o brincar diferente quando se originou no século XVIII na

França, a educação infantil era apenas como assistencialista, com o objetivo de cuidar das

crianças enquanto os pais trabalhavam nas grandes indústrias.

As DCNEI (2009, p. 01), em seu art. 3°, definem currículo da Educação Infantil

como:

Um conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes

das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural,

artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade.

É na primeira infância que as crianças adquirem suas habilidades cognitivas, físicas e

emocionais. É na infância que as crianças se apropriam de culturas advindas dos adultos,

sejam familiares ou adultos com quem convivem. Com tudo é na infância que as crianças

passam a descobrir o mundo que as rodeiam.

Segundo Delgado (2004) “nossas conceituações sobre infância estão submersas em

visões de adultos que tiveram suas infâncias em outros tempos e espaços”. Vários conceitos

sobre a infância reforçam que é na infância que as crianças formulam suas ideias e iniciam

seus processos cognitivos sempre inspirados pela cultura adulta mais próxima.

Para Kramer (2003) sentimento de infância não significa o mesmo que afeição pelas

crianças; corresponde, na verdade, à consciência da particularidade infantil, ou seja, aquilo

que a distingue do adulto e faz com que ela seja considerada como um adulto em potencial,

dotada de capacidade e desenvolvimento.

As crianças na infância passam a conviver com os adultos para absolver todo

conhecimento, mas não deixa sua infantilidade, passa conviver com os maiores mesmo sendo

menores ficando legitimado todo ser infantil, com suas brincadeiras e suas descobertas.

Em relação a infância esclarece Javeau (2005, p. 385) “uma população ou conjunto

de população com plenos direitos científicos, com seus traços culturais, seus ritos, suas

linguagens, suas imagens e ações”. O importante que a criança tem suas próprias

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características e que a convivência com adultos fazem com que agreguem aprendizagens,

culturas, linguagens porem sem perder a essência da infância.

O autor Javeau destaca (2005, p. 382) “construiu-se um objeto abstrato, a criança,

destinado a passar por níveis diversos e sucessivos de aquisição de competências, cada um

deles constituindo uma etapa na fabricação da personalidade dos indivíduos”. A preocupação

com a infância, com a criança passa a se estender por todas as esferas sociais, históricas,

políticas e familiares, dando ênfase não só ao cuidar como o brincar e o educar na construção

como ser social.

Essa construção social da criança remete à categoria a que Dahlberg, Moss e Pence

(2003) referem-se:

Na construção da criança como reprodutor de conhecimento, identidade e

cultura, a criança pequena é entendida como iniciando a vida sem nada e a partir de nada – como um vaso vazio ou tábula rasa. Pode-se dizer que esta é

a criança de Locke. O desafio é fazer que ela fique “pronta para aprender” e

“pronta para a escola” na idade do ensino obrigatório. Por isso, durante a

primeira infância a criança pequena precisa ser equipada com os conhecimentos, com as habilidades e com os valores culturais dominantes

que já estão determinados, socialmente sancionados e prontos para serem

administrados – um processo de reprodução ou transmissão –– tem também de ser treinada para se adaptar às demandas estabelecidas pelo ensino

obrigatório. (DAHLBERG, MOSS & PENCE, 2003, p. 65).

Podemos levar em consideração que a criança é sim um ser social, com sua condição

de criança, com suas habilidades adquiridas para se tornarem produtoras da sua própria

história de vida, histórias essas que vão diferenciar de acordo com o tempo, espaço, região. A

educação infantil veio aprimorando não exclusivamente para proteger e enaltecer a criança e

sim com a preocupação que tipo de adultos terá no futuro, todavia os pilares na educação

infantil surgem, como segurança em atender as crianças sem que elas, sejam transformadas

em pequenos adultos, as crianças precisam de liberdade para criarem seu mundo de fantasia,

para viverem suas brincadeiras, tudo de maneira natural, obedecendo os principais pilares da

educação: Cuidar, Brincar e Educar.

2.1 PRIMEIRO PILAR: cuidar

Sabemos que a educação infantil surgiu nos primórdios dos tempos com a função de

cuidar das crianças, e passou a se destacar quando o cuidar passou a estabelecer o educar, os

dois caminham lado a lado. O cuidado com as crianças era uma responsabilidade somente dos

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familiares, com o surgimento de creches e pré-escolas a responsabilidade do cuidar passou a

ser também dos professores e do poder político que buscam avançar no âmbito de cuidar para

educar, para assim criar sujeitos reflexivos, compromissados com o desenvolvimento do

mundo que estão inseridos.

Deve-se dar ênfase ao termo cuidar que significa preservar, proteger, acolher e amar,

mantendo sempre o bem estar infantil. As crianças precisam se sentirem seguras para respeitar

o outro, construir sua identidade, ampliarem a linguagem, para que se sintam desafiadas e

felizes, para construir de maneira prazerosa sua formação ética-social.

Lima (2001, p. 11) define os atos de educação e cuidado são portanto “situações

privilegiadas de interação que envolvem afetos e significam para criança oportunidades de

socialização e aprendizagem das formas culturais de toque e de cuidado com o corpo”. O

cuidado com as crianças é imprescindível para o desenvolvimento, cognitivo e corporal, uma

criança bem cuidada, tem a liberdade para mostrar suas habilidades e aperfeiçoá-las. É no

cuidar que as crianças criam afetividade, constroem sua identidade tornando-se autoras de

suas ações, apropriando-se de valores e culturas da sociedade.

O profissional da educação infantil deve ser o mediador da construção da criança

como sujeito ativo, autônomo, afetivo e com a ideia de interagir com o meio e alcançar as

múltiplas linguagens que são os sistemas simbólicos construídos para se expressar.

Quando as crianças participam de várias atividades dos adultos, se apropriam de

saberes e conhecimentos informais, passando a sistematiza-los no decorrer do tempo e das

vivencias.

De acordo com Lima (2006), com base na invenção de sistemas simbólicos de

registro, de corrente da evolução cultural da humanidade, os saberes criados nas ciências e nas

artes foram sendo sistematizados, percebe-se a necessidade de se criar um espaço e um tempo,

separados na vida cotidiana da espécie e ampliação da experiência humana.

Na educação infantil a aprendizagem deve ser continua, processual e coletiva, com

objetivo do saber ser ministrado sequencialmente e conduzido da melhor forma possível com

um cuidado todo especial para educar, pois com o cuidar especifico os sujeitos aprendizes

educam e aprendem de uma só vez.

2.2 SEGUNDO PILAR: educar

A criança não era vista como sujeito importante na sociedade, ou seja, não tinha-se

preocupação com o educar das crianças pequenas, após estudo sobre o desenvolvimento

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humano, constatou-se que a criança além de ser cuidada também pode ser educada, segundo a

DCNEI (2009) A palavra educar significa orientar, ensinar, proporcionar conhecimentos que

favoreçam o indivíduo a aprender cada dia mais sobre si próprio e o mundo.

No Currículo da educação infantil (2013) diz que deve-se abranger principalmente o

lado cultural, com experiências que facilitem a compreensão da criança de sua vivencia no

mundo, o trabalho do educar na IEI, consistem em criar possibilidades de autoconhecimento e

de encontro com cada realidade infantil.

O currículo da educação infantil é pensado e elaborado dentro das perspectivas de

seus direitos e deveres, todo o currículo é organizado para que a criança desenvolva suas

habilidades vivendo experiências da sua vida e sempre dentro de uma concepção pedagógica.

Os direitos básicos para as crianças dizem respeito à alimentação, moradia, proteção,

e higiene. Tornando-se importante o brincar, o movimentar, as linguagens, as culturas e o

contato com a natureza. A partir dos direitos básicos a educação infantil organizou o currículo

da educação infantil (2013), definindo suas diretrizes e os pressupostos do campo de

experiências.

Como afirmar Moreira (2004, p. 45):

Nós aprendemos e ensinamos em meio as experiências, em meio as relações que estabelecemos na escola, tudo isso tem que ser organizado, pensado,

planejado, não é algo que acontece de qualquer jeito. A ideia da experiência

do aluno fazendo, do professor também trabalhando, planejando e desenvolvendo praticas também está presente.

No educar as experiências tem a função de formadora, em que as crianças formam

suas identidades e aprendem sobre várias culturas.

2.3 TERCEIRO PILAR: Brincar

O brincar é parte essencial para o aprendizado infantil, através do brincar a criança,

estabelece relações com o mundo, é a partir da brincadeira que as habilidades surgem sem

mesmo percebe-las, o indivíduo passa criar autonomia, a obedecer regras e estimular

afetividade. Vale lembrar que a brincadeira é o trabalho da criança, trabalho que a própria

desenvolve caminhos para sua liberdade de expressão, o brinquedo é parte essencial do

brincar, pois é no brinquedo que as crianças começam dar significados e a desenvolver

simbologias. Mas para que haja realmente uma aprendizagem, a brincadeira precisa de

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planejamento, espaço, tempo e os materiais necessários, é importante ressaltar que a

brincadeira vem sendo discutida desde primórdios dos tempos.

Para Vygotsky (1987), ao brincar a criança assume papeis e aceita as regras próprias

da brincadeira, executando, imaginariamente, tarefas para as quais ainda não estão aptas, ou

não sente como agradáveis para a realidade. Ou seja se faz necessário todo um contexto para

criança estimular seu imaginário e que é preciso que esteja dentro da realidade da criança. As

brincadeiras precisam serem orientadas para que o ensino-aprendizagem aconteça.

Sobre o brincar como atividade livre e espontânea da criança, Froebel foi o primeiro

a apontar como suporte para o ensino, o que permitiu classificar o tempo e um tipo de

atividade para a recreação e outro para o ensino. Trata-se das atividades livres e as atividades

orientadas. Ferrari (2006, p. 60) define que:

as técnicas utilizadas até hoje em Educação Infantil devem muito a Froebel

para ele, as brincadeiras são o primeiro recurso no caminho rumo à

aprendizagem. Não são apenas diversão, mas um modo de criar representações do mundo concreto com a finalidade de entendê-lo. Com base

na observação das atividades dos pequenos com jogos e brinquedos, Froebel

foi um dos primeiros pedagogos a falar em autoeducação, um conceito que

só se difundiria no início do século 20, graças ao movimento da Escola Nova, de Montessori (1870-1952) e Freinet (1896-1966), entre outros.

A brincadeira é um recurso fundamental para aprendizagem, que a criança passa a se

divertir e aprender mesmo sem ter a intencionalidade de aprender, com a utilização das

brincadeiras, do brinquedo e do jogo a imaginação flui, a criatividade expande e o

aprendizado multiplica-se. A partir do brincar que a criança passa a decodificar, a dar

significado a sua existência no mundo.

Hoje, se entende que desde muito cedo é importante a ingressão da criança na escola,

pois é no princípio que ela começa a se adaptar com esse novo mundo da educação e começa

a desenvolver seus primeiros passos para um futuro promissor, é na educação infantil que os

mesmos vão aprimorando seus conhecimentos e vão se descobrindo e buscando alcançar seu

melhor, tentando sempre superar seus limites.

A partir do momento em que uma criança ingressa na escola ela vai ter um total

apoio e acompanhamento dos profissionais da escola, sendo assim os professores tem como

dever de planejar aulas que estimulem a criatividade de cada aluno, mas sempre respeitando o

limite de cada um. E as brincadeiras e jogos são atividades recomendadas como fundamentais.

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Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da

identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo, pode se

comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde representar determinado

papel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas

brincadeiras, as crianças podem desenvolver algumas capacidades

importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação.

Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da

interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais.

(BRASIL, 1998, p. 21).

Os jogos e brincadeiras, além de se concretizarem como tarefas alegres, divertidas e

que chamam a atenção dos alunos, são regidas por regras, limites que auxiliam na educação

das crianças. Conta-se também com a ideia de que a criança tem uma melhor facilidade em

aprender quando a aula se torna mais prazerosa. Sendo assim, jogos e brincadeiras acabam

proporcionando um melhor desempenho e aprendizagem tanto para o educando quanto para o

educador. Piaget (1976) ele descreve quatro estruturas básicas de jogos infantis, que vão se

sucedendo e se sobrepondo nesta ordem: jogo de exercício; jogo simbólico/dramático; jogo de

construção e; jogo de regras.

Em torno dos 2-3 e 5-6 anos (fase pré-operatória) nota-se a ocorrência dos jogos

simbólicos, que satisfazem a necessidade da criança de não somente relembrar o mentalmente

acontecido, mas também de executar a representação. Em um período posterior surgem os

jogos de regras, que são transmitidos socialmente de criança para criança e por consequência

vão aumentando de importância de acordo com o progresso de seu desenvolvimento infantil,

já que as crianças quando jogam assimilam e podem transformar a realidade.

Pacagnam (2013) sintetiza essas informações sobre os jogos de regras, afirmando que

se pode analisar por traz das respostas das crianças, informações sobre seus conhecimentos e

conceitos que podem ser classificados como: motor, egocêntrico, cooperação e codificação de

regras e são paralelas ao desenvolvimento da criança.

Nesses conceitos observam-se Motor: Nível apresentado nos primeiros anos de vida e

se estende até o estágio pré-operacional a criança não apresenta nenhuma compreensão de

regras. O prazer da criança vem do controle motor e muscular e não há atividade social nesse

nível. Egocêntrico: Em geral, essa fase de dá dos 2 aos 5 anos, a criança adquire a consciência

da existência de regras e quer jogar com outras crianças, havendo socialização, mas algumas

querem jogar sozinhas, sem tentar vencer, revelando uma atividade cognitiva egocêntrica.

Cooperação: Acontece aos 7 e 8 anos. Há compreensão das regras do jogo e a vitória é o

objetivo. Codificação das regras: Por volta dos 11 a 12 anos, as crianças entendem que as

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regras são feitas pelo grupo, podendo modificá-las, mas nunca ignorá-las, as regras são

importantes para o jogo.

Segundo Piaget (1976, p. 160):

O jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-

motor e de simbolismo, uma assimilação da real à atividade própria,

fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades do eu. Por isso os métodos ativos de educação das crianças

exigem a todos que fornecem às crianças um material conveniente, afim de

que, jogando, elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais e que, sem

isso, permanecem exteriores à inteligência infantil.

As brincadeiras são essenciais para que as crianças desenvolvam algumas

capacidades que são consideradas como importantes. Trata-se da atenção, a imitação, a

memória, a imaginação. Também influencia no desenvolvimento da socialização, porque

trabalha com regras, papéis sociais e promove interação.

Pode-se compreender através de Vygotsky que a criança vem construindo sua

aprendizagem ano pós ano, dentro de sua zona de desenvolvimento proximal acrescentando

saberes advindos do brinquedo, do jogo e do brincar.

3 O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

O Lúdico é um processo importante no desenvolvimento cognitivo infantil, por isso é

essencial a brincadeira, o jogo e o brinquedo por meio deles o lúdico é estimulado e

expressado. O imaginário surge com a contação de histórias, cantigas de roda, brinquedos

cantados, musiquinhas, e o próprio brinquedo.

A criança passa a ter um comportamento baseado das pessoas do seu convívio, ou

seja, dos pais, dos professores ou de pessoas que estão próximas, agregando suas culturas e

seus comportamentos. Na educação infantil o professor tem que ser o principal incentivador

do lúdico, sabemos que não necessariamente o aprendizado acontece de uma única vez é

preciso ser feito um planejamento bem elaborado dentro da realidade da criança para que se

torne prazerosa e satisfatória.

Segundo Vygotsky (1987), a ação numa situação imaginária ensina a criança a dirigir

seu comportamento não somente pela percepção imediata dos objetos ou pela situação que a

afeta de imediato, mas também pelo significado dessa situação.

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Vê-se que a ludicidade, oficialmente já é uma exigência curricular da Educação

Infantil. Portanto, é algo que deve ser oferecido à criança como aporte para o seu

desenvolvimento. E nesse contexto da Educação Infantil, brincar se torna fundamental para

desenvolver a identidade e da autonomia. Brincando, as crianças, desde muito pequenas,

emitem sons, fazem gestos e mais adiante isso serve para representar os papéis na brincadeira.

Além disso, é algo que propicia o desenvolvimento da imaginação (BRASIL, 1998).

Observa-se que brincar é fantasiar, inventar, criar, destruir, imaginar. A criança

retira de sua vida os conteúdos da brincadeira através de impressões e sentimentos que

vivencia, dos conhecimentos que aprende e das histórias e músicas que escuta, dos jogos que

participa. Isto ocorre por que

A fantasia do real revela-se no faz de conta, no jogo simbólico por meio dos

quais a criança constrói sua visão de mundo e os significados do mundo natural e social. A imaginação é vista também como uma forma de superar

contextos difíceis e até dolorosos, e também auxilia na criatividade e na

aproximação com situações e personagens favoritos (RICCI et al, 2013, p,

851).

Para uma melhor compreensão a ludicidade é um campo de aprendizagem amplo que

desenvolve tanto naturalmente quanto socialmente, onde traz a fantasia para a realidade, e que o

ambiente é promissor para o conhecimento infantil. Na concepção de Kishimoto (1994, p. 111) “é

a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras do jogo, ao mergulhar na ação

lúdica. Pode-se dizer que é o lúdico em ação”. Quando a criança brinca com o brinquedo ela

está realizando uma atividade, a criança desenvolve seu lúdico, brinca de faz de conta, brinca

de mamãe e filhinha, sempre envolvendo uma ação imaginária.

Para Wallon, os adultos estão equivocados ao pensarem assim sobre a ludicidade.

O adulto batizou de brincadeira todos os comportamentos de descoberta da

criança. Os adultos brincam com as crianças e é ele inicialmente o

brinquedo, o expectador ativo e depois o real parceiro. Ela aprende, a

compreender, dominar e depois produzir uma situação específica distinta de

outras situações (WALLON, 2004, p. 98).

É importante enfatizar que mesmo que o adulto não instigue o lúdico, o próprio

acontece de forma naturalmente, mas com a mediação adequada o lúdico se amplia e

desenvolve através do brincar. Com base na teoria de Piaget (1976), o lúdico é de suma

importância no processo de ensino-aprendizagem, como também no desenvolvimento

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cognitivo do ser humano. Jean Piaget priorizou o caráter construtivo, isto é, as construções

realizadas pelo ser humano. O jogo passa a ser definido como próprio da infância e do

universo da criança, independente até mesmo do funcionamento da inteligência. Nisso, trata-

se de uma atividade importante para o desenvolvimento da infância sob o enfoque da teoria

construtivista interacionista, segundo Piaget (1976).

A criança que interagem com os adultos passam a construir sua aprendizagem

pautada na sua própria infância e o convívio social, criando o seu mundo imaginário dentro de

universo simbólico, sendo capaz de desenvolver suas habilidades na linguagem oral e escrita e

partindo para uma leitura imaginaria, é bem interessante quando a criança pequena faz a

leitura de imagens e afirma que ler, e que na realidade a criança fazendo a leitura das imagens,

o lúdico faz tudo acontecer no mundo infantil.

4 O DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A escrita não é um produto escolar, mas sim um objeto cultural, resultado do

esforço coletivo da humanidade. Como objeto cultural, a escrita cumpre

diversos funções de existência. (Ferreiro, 2001, p. 43)

Afirma o currículo da educação infantil (2013, p. 134) que a linguagem escrita é um

sistema de representação com símbolos, sinais e normas, criado pelo homem, de início para

suprir a necessidade do comercio e desenvolvido dentro de cada contexto histórico e cultural.

Posteriormente seus usos e funções foram se modificando e ampliando dentro de uma

perspectiva metodológica.

Afirma Rego (1985) “as crianças descobrem sobre a língua escrita antes de aprender a

ler”. A autora afirmar com convicção devido a interação da criança na brincadeira que inicia

com a criança no berçário. Na educação infantil a linguagem escrita nasce através da

brincadeira, do jogo e do brinquedo ou seja da sua identidade, da sua ludicidade, da sua

produção cultural.

Segundo Grando (2006, p. 44) “atualmente, com a evolução dos estudos sobre o

desenvolvimento infantil, sabe-se que o jogo é fundamental para a construção do pensamento

da criança e para a aquisição da leitura, escrita e do raciocínio lógico-matemático”. A criança

vive numa sociedade letrada, onde todos os lugares tem símbolos, letras, músicas e diversos

recursos, que são incentivos para que a criança internalize esses saberes e venha a desenvolve-

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los de maneira sistêmica, e a escola é a principal fonte para o desenvolvimento da linguagem

infantil.

De acordo com Wajskop e Abramowicz (1999) até com as palavras as crianças podem

brincar. Por isso, na escola, isso pode ser utilizado como princípio para se trabalhar com

atividades relacionadas ao desenvolvimento da linguagem oral e escrita porque, ao mesmo

tempo em que brincam elas usam a linguagem mudando a entonação das palavras, o timbre de

voz, o sentido das frases; com os objetos, mudando seu uso convencional; com personagens,

pessoas ou animais, mudando sua identidade através da linguagem ou utilizando-se de

fantasias e objetos simbólicos, assumindo outras identidades através da manipulação de

bonecos, fantoches, ouvindo e recontando uma história; com os espaços, modificando-os,

pintando-os, cobrindo com panos, lenços. E também com o desenho, desenhando, contando

histórias, criando personagens.

A brincadeira é o mecanismo produtor da cultura da criança, em meio à brincadeira a

criança passa a relacionar, a codificar, a contar e a decodificar. No início a sua escrita é

representada através de rabiscos, desenhos, e pinturas, daí surgi hipóteses da escrita de uma

maneira natural. Os estudos da psicogênese da leitura e da escrita Ferreiro e Teberosky (1985)

nos mostraram como as crianças formulam hipóteses para explicar o funcionamento desse

sistema, sobretudo porque elas se interessam em conhecê-lo e desejam dele se apropriar.

Crianças que ainda não dominam o sistema de escrita alfabética brincam imitando a escrita,

criando histórias a partir de textos verbais e visuais.

Sintetiza as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (2009) a seguinte

abordagem:

Também a linguagem escrita é objeto de interesse pelas crianças. Vivendo

em um mundo onde a língua escrita está cada vez mais presente, as crianças

começam a se interessar pela escrita muito antes dos professores a apresentarem formalmente. Contudo há que se apontar que essa temática

não está sendo, muitas vezes, adequadamente compreendida e trabalhada na

Educação infantil. O que se pode dizer é que o trabalho com a língua escrita, com crianças pequenas, não pode decididamente ser uma prática mecânica,

desprovida de sentido e centrada na decodificação do escrito. Sua

apropriação pela criança se faz no reconhecimento, compreensão e fruição

da linguagem que se usa para escrever, mediada pela professora e pelo professor, fazendo-se presente em atividades prazerosas de contato com

diferentes gêneros escritos, como a leitura diária de livros pelo professor, a

possibilidade da criança desde cedo manusear livros, revistas e produzir narrativas e “textos”, mesmo sem saber ler e escrever. (BRASIL, CNE/CEB,

Parecer,2009)

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Vale salientar que é na educação infantil que começa o processo da alfabetização ou

pode acontecer até mesmo antes do ingresso na escola, mas a criança na escola passa

conhecer uma variedade de textos, de narrativas, revistas e com toda cultura letrada, é bem

verdade que a cultura letrada desenvolve na escola, mas é no cotidiano que a criança conhece

o mundo, o mundo letrado. Nas instituições educativas cabe a equipe pedagógica e ao

professor proporcionar atividades que instiguem a linguagem escrita. Goulart (2006) reforça

as concepções sobre o trabalho com a leitura e a escrita na educação infantil. Para essa autora,

o letramento contribui para o desenvolvimento do pensamento na medida em que possibilita

aos sujeitos lidar com textos, lendo-os, comentando-os, comparando-os, julgando-os. Enfim,

esses sujeitos se tornam competentes para participar de uma determinada forma de discurso,

envolvendo-se em uma cultura letrada.

Devemos compreender que letramento e alfabetização tem significados que precisam

serem entendidos e compreendidos e que o importante é alfabetizar letrando. Ainda segundo

Soares (1998, p. 47 “alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao

contrário, o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja, ensinar a ler e a escrever no contexto das

práticas sociais da leitura e da escrita”.

Alfabetizar letrando é contextualizar a aprendizagem infantil para que aconteça

sistematicamente e dentro da realidade de cada criança.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise sobre a importância da escrita na educação infantil, realizada com estudo

bibliográfico, mostra que a escrita é tão quão importante aos pilares da educação infantil, a

proposta curricular tem atualizado e desenvolvido inúmeras experiências realizadas com as

crianças que enaltecem a escrita na educação infantil. As leituras de textos acerca deste

trabalho conclusivo tem sido primordial, para pratica em sala de aula, e para obter o melhor

entendimento sobre o assunto.

A escrita na educação infantil é desenvolvida através das experiências das crianças,

com as brincadeiras, os jogo, os brinquedos, e com as experiências vivenciadas por adultos e

pessoas do seu convívio as quais as crianças observaram e imitam.

Para Vygotsky (2003) nos remete a uma importante consequência pedagógica. Se

quisermos proporcionar a uma criança uma base suficientemente sólida para sua atividade

criadora, devemos ampliar a sua experiência. Quanto mais a criança vê, ouve e experimenta,

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quanto mais aprende e assimila, quanto mais dispõe de elementos reais, mais ampla será sua

atividade criadora.

No entanto a criança pequena passou ser reconhecida como um ser social, quando foi

capaz de expandir suas experiências cotidianas de uma forma inovadora e baseada na sua

cultura, a infância passa ser construída juntamente com as experiências adquiridas no dia-a-

dia com os adultos, professores ou familiares, com essa vivencia a criança cria sua identidade

e torna-se autônoma no desenvolver da sua escrita.

O direito de ter acesso ao mundo da linguagem escrita não pode descuidar do direito

de ser criança e que há muitas maneiras de se respeitarem as duas coisas. Reforça Vygotsky

(2003) “Se ignorarmos as necessidades da criança e os incentivos que são eficazes para

colocá-la em ação, nunca seremos capazes de entender seu avanço de um estágio de

desenvolvimento para outro, por que todo avanço está conectado com uma mais acentuada

nas motivações tendências e incentivos”.

O mundo infantil deve ser desenvolvido através do brincar com brinquedos e com

brincadeiras contextualizadas com a aprendizagem, para isso é necessário a mediação do

pedagogo que deve ser dinâmico, criativo que estimule a construção do conhecimento com a

elaboração de planejamentos adequados com a realidade infantil, e enfatizando os pilares do

cuidar, educar e brincar.

Segundo Vygotsky (1988), no brincar a criança está acima de sua idade média, acima

de seu comportamento diário. Assim, na brincadeira de faz de conta, as crianças manifestam

certas habilidades que não seriam esperadas para sua idade. Nesse sentido, a aprendizagem

cria a zona de desenvolvimento proximal. Nas instituições de educação infantil, torna-se

fundamental a discussão do tempo e do espaço das brincadeiras, visto que o brincar tem sido

cada vez mais reduzido no contexto institucional.

Os jogos e as brincadeiras devem ser introduzidos na rotina institucional como

estratégias fundamentais no processo de aprendizagem das crianças pequenas e não

meramente como atividades para “ocupar” um determinado espaço de suas rotinas.

Dessa forma a escola, as instituições infantis, creches devem oferecer espaços, com

bastante cores, letras, formatos, segurança para que a aprendizagem seja multiplicada em

todas partes, e que a escola seja um espaço que a criança vai aprender brincando, e com

espontaneidade.

Enaltece Vygotsky (2003) atribui relevante papel ao ato de brincar na constituição do

pensamento infantil. Ao brincar a criança constrói seu pensamento, desenvolve suas ações e

fica perceptível a tudo que está ao seu redor.

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De acordo com Vygotsky (1984, p. 97) “A brincadeira cria para as crianças uma “zona

de desenvolvimento proximal” que não é outra coisa senão a distância entre o nível atual de

desenvolvimento determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema,

e o nível atual de desenvolvimento potencial, determinado por meio de resolução de um

problema sob a orientação de um adulto ou com a colaboração de um companheiro mais

capaz”.

Portanto, a criança começa a descobrir o mundo letrado, com suas experiências com

outras pessoas de seu convívio, passando a desenvolver com autonomia seus conhecimentos e

suas habilidades psicomotoras.

Em síntese, o que se propõe é, a necessidade de reconhecimento da especificidade da

alfabetização, entendida como processo de aquisição e apropriação do sistema da escrita,

alfabético e ortográfico e como decorrência, a importância de que a alfabetização se

desenvolva num contexto de letramento – entendido este, no que se refere à etapa inicial da

aprendizagem da escrita, como a participação em eventos variados de leitura e de escrita, e o

consequente desenvolvimento de habilidades de uso da leitura e da escrita nas práticas sociais.

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