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Cel Av CLÁUDIO LUIZ ROCHA CARNEIRO O DESENVOLVIMENTO DA BASE INDUSTRIAL DE DEFESA COMO FORMA DE INCREMENTO DO PODER NACIONAL. Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Cel R1 Carlos Frederico Affonso Sampaio. Rio de Janeiro 2013

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Cel Av CLÁUDIO LUIZ ROCHA CARNEIRO

O DESENVOLVIMENTO DA BASE INDUSTRIAL DE DEFESA COMO FORMA DE INCREMENTO DO PODER NACIONAL.

Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Cel R1 Carlos Frederico Affonso

Sampaio.

Rio de Janeiro 2013

C2013 ESG

Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG _________________________________

Assinatura do autor

Biblioteca General Cordeiro de Farias

CARNEIRO, Cláudio. O Desenvolvimento da Base Industrial de Defesa como forma de

incremento do Poder Nacional / Cláudio Luiz Rocha Carneiro. - Rio de Janeiro : RJ, 2013.

49 f.: il.

Orientador: Cel R1 Carlos Frederico Affonso Sampaio. Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao

Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2013.

1. Base Industrial de Defesa. 2. Poder Nacional. 3. Poder percebido. I. Título.

Ao meu Deus que em tudo tem me

sustentado, principalmente por Seu

infinito Amor.

À minha amada esposa Ivana e ao meu

amado filho André, a minha gratidão pela

compreensão para com minhas

ausências e dedicação às atividades

correlatas ao presente trabalho.

"Não são as ervas más que afogam a boa semente, e sim a negligência do lavrador."

Confúcio.

RESUMO

O presente trabalho tem por finalidade lançar uma visão sobre a realidade da Base

Industrial de Defesa (BID) brasileira como elemento componente do Poder Nacional,

ao mesmo tempo em que funciona como elemento dissuasório. Nesse sentido,

pretende o pesquisador associar o incremento desse segmento nacional ao Poder

Nacional percebido. A BID brasileira contemplou pujança em períodos recentes de

nossa história, atingindo seu ápice à época dos governos militares. Contudo,

circunstâncias políticas e econômicas vividas no final do século passado impuseram

sérias restrições à indústria de material de segurança e defesa brasileira, levando-a,

praticamente, à estagnação. O final da primeira década do século XXI acenou com

perspectivas alvissareiras para as empresas ligadas à BID. A adoção de uma

Política de Defesa Nacional e de uma Estratégia Nacional de Defesa apontaram

para a imperiosa necessidade de se estruturar o setor, permitindo que o país resgate

suas Forças Armadas da obsolescência de seu material de preparo e emprego. O

Ministério da Defesa vive seus primeiros anos; a consolidação de suas Políticas e

Estratégias ainda carecem de amadurecimento. A adoção de ações de poder brando

pode ser o caminho mais curto para a consecução dos objetivos de governo

propostos pelo Ministério da Defesa, no fortalecimento do Poder Nacional através da

reestruturação de seu parque industrial.

Palavras-chave: Base Industrial de Defesa; Poder Nacional; Poder Percebido.

ABSTRACT

This paper aims to shed insight into the reality of the Defense Industrial Base (DIB)

as Brazilian subsidiary element of national power, while it acts as deterrent. In this

sense, the researcher intends to associate the national growth of this segment to

perceived National Power. The Brazilian DIB contemplated strength in recent periods

of our history, reaching its peak during the military governments. However, political

and economic circumstances experienced by the end of the last century have

imposed serious restrictions on the Brazilian Defense Equipment Industry, practically

bringing it to stagnation. The end of the first decade of this century waved auspicious

prospects for companies linked to the DIB. The adoption of a National Defense Policy

and a National Defense Strategy pointed to the urgent need to restructure the

defense sector, allowing the rescue of their military forces from obsolescence of

material that was procuted submitted. The Defence Ministry is just begun its early

years and the consolidation of its policies and strategies still lack maturity. Adoption

of soft power actions may be the shortest path to achieving the goals of government

proposed, the strengthening of National Power by restructuring its industrial park.

Keywords: Defense Industrial Base; National Power; Perceived Power.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 Os principais Estados importadores e exportadores de armamento

no mundo .........................................................................................15

FIGURA 2 Equações de Teorias do Poder Percebido .......................................23

FIGURA 3 Percentuais de respostas à primeira pergunta do questionário .......35

FIGURA 4 Percentuais de respostas à segunda pergunta do questionário ......36

FIGURA 5 Percentuais de respostas à terceira pergunta do questionário ........37

FIGURA 6 Percentuais de respostas à quarta pergunta do questionário ..........39

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Investimento em Defesa por porcentagem do PIB ................................... 33

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIMDE Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e

Segurança

BID Base Industrial de Defesa

CCEMEFA Centro de Certificação, de Metrologia, de Normalização e de

Fomento Industrial das Forças Amadas

CMID Comissão Militar da Indústria de Defesa

COMDEFESA Departamento da Indústria de Defesa da FIESP

END Estratégia Nacional de Defesa

ESG Escola Superior de Guerra

FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

FA Forças Armadas

ICT Instituições de Ciência e Tecnologia

LBDN Livro Branco de Defesa Nacional

MD Ministério da Defesa

PDN Política de Defesa Nacional

PIB Produto Interno Bruto

PN Poder Nacional

PNEMEM Política Nacional de Exportação de Material de Emprego Militar

PNID Política Nacional da Indústria e Defesa

PRODE Produto de Defesa

RETID Regime Especial Tributário para a Indústria de Defesa

TLE Termo de Licitação Especial

URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 10

2 A BASE INDUSTRIAL DE DEFESA .......................................................... 15

3 O PODER PERCEBIDO. ............................................................................ 20

4 AÇÕES ESTRUTURANTES DA BID ......................................................... 25

4.1 COMPOSIÇÃO DO MINISTÉRIO DA DEFESA (MD) ................................. 27

5 ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................. 31

6 CONCLUSÃO............................................................................................. 40

REFERÊNCIAS .......................................................................................... 44

APÊNDICE A ............................................................................................. 46

10

1 INTRODUÇÃO

Dentre os países periféricos, o Brasil vem despontando com potencial

econômico de tal magnitude que já o habilita a protagonizar diversos eventos

internacionais. Mas é no continente sul-americano que é mais evidente a sua

projeção, tornando clara sua condição de referência sobre as demais nações

vizinhas.

Não obstante seu desenvolvimento econômico, o Brasil também dispõe de

riquezas naturais, das mais diversas origens e tipos, que poderão tornar-se alvo de

cobiça ou de eventual tentativa de apropriação mediante o uso de força.

Essa proeminência já adquirida pelo Brasil caminha lado a lado com a latente

possibilidade de se evitarem eventuais litígios pelo emprego de suas capacidades

dissuasórias.

A preparação da Defesa na proporcionalidade do peso geopolítico brasileiro e

das ameaças que se lhe apresentam é atividade da mais alta relevância para o

Brasil. Contudo, como atingir tal objetivo sem fragilizar nossa capacidade operativa,

subjugando nossas Forças Armadas ao fornecimento de armamento ou

sobressalentes oriundos de indústrias fortemente influenciadas por países centrais?

É por esse motivo que o fortalecimento da Base Industrial de Defesa nacional

apresenta-se como tema de elevada significância para o país.

Não obstante, paradoxalmente, percebe-se a pouca importância que foi

outorgada ao assunto pela sociedade e pela mídia – provavelmente por

desconhecimento – e pela administração federal. Tal vem sendo percebido desde

1985, com uma redução sistemática nos gastos com produtos de defesa, o que

desestimulou o empresariado a investir no setor. É possível que tal cenário tenha

sido decorrente da minimização dos assuntos da Defesa nacional por puro

preconceito, associando-os às questões advindas do período dos governos militares.

Nesse período considerado, o esforço da estrutura militar de tentar sustentar ações

de manutenção do setor produtivo dos itens estratégicos, infelizmente, provocou em

outros segmentos do Estado a percepção de que esses assuntos compunham

agenda exclusivamente militar.

Entretanto, mais recentemente, o despontar do Brasil no cenário internacional

tem chamado a atenção da classe política para os assuntos de defesa. Também tem

aumentado significativamente o entendimento da sociedade de que o

11

desenvolvimento da BID induz o incremento da matriz tecnológica nacional, tornando

o país autossuficiente em recursos específicos, num mercado tecnológico

internacional extremamente competitivo.

A indisponibilidade de material de defesa também é condicionante para o

preparo e o emprego das Forças Armadas (FA) e projeta, de igual forma, limitação

ao Poder Nacional (PN) brasileiro.

Percebe-se, então, uma relação direta entre a estruturação da BID e o PN.

Uma BID fortemente estruturada é ferramenta dissuasória eficaz para o

estabelecimento do Estado brasileiro como referência regional. Na consolidação

desse posicionamento, será necessário que o Brasil se torne um fornecedor efetivo e

contínuo de produtos capazes de assistir às necessidades sul-americanas de

materiais de emprego militar.

O tema proposto no presente trabalho foi o seguinte: A Base Industrial de

Defesa do Brasil e o incremento do Poder Nacional.

O problema a que este trabalho se dispôs analisar foi o seguinte: em que

medida o Estado Brasileiro, em seu arcabouço arquitetônico ou por sua conformação

normativa, é indutor da estruturação e desenvolvimento da Base Industrial de Defesa

(BID), com vistas ao incremento do Poder Nacional (PN)?

Ao passo desse questionamento principal, outras questões derivadas

tornaram-se norteadoras da pesquisa:

a) como se encontra situada a BID atualmente no Brasil?

b) em que medida a atual conformação do Estado brasileiro para o trato dos

assuntos correlatos à BID nacional é suficientemente estruturante desse segmento

que integra o Poder Nacional? e

c) em que medida os atuais atores da BID percebem o suporte

governamental?

A capacidade dissuasória brasileira é fator determinante para seu

posicionamento favorável na atual conformação do bloco sul-americano e no cenário

internacional, em face de suas expectativas de crescimento de importância

geopolítica ou de manutenção de sua soberania.

O uso do Poder Nacional pode evitar confrontos diretos ou desgastes

desnecessários. Mas, para que seja efetivada uma estratégia de dissuasão,

pressupõe que a Expressão Militar possa dispor de material de preparo e emprego

12

tecnicamente atualizado e em quantidade suficiente para atender a suas

necessidades.

Não há como esperar que as indústrias originárias dos Estados Centrais, ou

por eles fortemente influenciados, coloquem-se à disposição das pretensões

legítimas de Estados periféricos, como o Brasil, principalmente nos momentos de

crise.

Para que a estratégia de dissuasão brasileira possa minimamente lograr êxito,

há que se pensar preliminarmente no desenvolvimento das capacidades instaladas

no parque industrial nacional, consolidando uma base eficiente, atualizada e sólida.

A Política de Defesa Nacional (PDN), aprovada pelo Decreto nº 5.484, de 30

de junho de 2005, é balizadora dessa postura do Estado brasileiro:

[...] a persistência de entraves à paz mundial requer a atualização permanente e o reaparelhamento progressivo das nossas FA, com ênfase no desenvolvimento da indústria de defesa, visando à redução da dependência tecnológica e à superação das restrições unilaterais de acesso às tecnologias sensíveis. (BRASIL. PDN, 2005).

A Estratégia Nacional de Defesa (2008) aponta para a reformulação da BID

como um dos seus três eixos estruturantes, para assegurar que o atendimento das

necessidades de equipamentos das FA apoie-se em tecnologias de domínio

nacional.

O trabalho foi desenvolvido considerando a doutrina oferecida pela Escola

Superior de Guerra (ESG) para o Poder Nacional (PN), exarada através de seu

Manual Básico (ESG, 2913). A perspectiva da ESG é bastante abrangente. Contudo,

para conferir pragmatismo ao estudo, foi incorporada à análise a obra de Ray Steiner

Cline (CLINE, 1994), onde o autor propõe uma mensuração da capacidade do Poder

percebido de um Estado, através de uma equação de macrovariáveis.

Tomando por referência a equação proposta por Cline (1994), infere-se uma

proporcionalidade entre o Poder percebido de um Estado e sua necessidade de

definir estratégias que permitam o crescimento sustentado de elementos que, em

última análise, servirão para sustentar esse mesmo Poder.

Essa relação entre o PN e as capacidades nacionais, dele constituintes e dele

mesmo decorrentes, será o principal alvo do trabalho, no estudo de uma melhor

destinação para a BID brasileira.

O objetivo principal da pesquisa foi identificar em que medida o Estado

Brasileiro, em seu arcabouço arquitetônico ou por sua conformação normativa, é

13

indutor da estruturação e desenvolvimento da Base Industrial de Defesa (BID), com

vistas ao incremento do Poder Nacional (PN).

Os seguintes objetivos específicos foram perseguidos:

a) Identificar como se encontra situada a BID atualmente no Brasil;

b) Identificar em que medida a atual conformação do Estado brasileiro para o

trato dos assuntos correlatos à BID nacional é suficientemente estruturante desse

segmento que integra o PN; e

c) Identificar em que medida os atuais atores da BID percebem o suporte

governamental.

O trabalho foi desenvolvido basicamente através de uma pesquisa

bibliográfica e documental, principalmente motivada pelas indicações obtidas no

transcorrer das palestras proferidas durante o Curso de Altos-Estudos de Política e

Estratégia de 2013 e do Primeiro Curso Superior de Defesa, de 2013.

A legislação relacionada ao tema foi consultada e considerada de forma a

prestigiar o nexo entre a estrutura do Estado brasileiro e as ações de

desenvolvimento da BID.

Uma pesquisa foi desenvolvida junto a alguns dos atores da BID, dentre

aqueles de representação industrial inscritos na Associação Brasileira das Indústrias

de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE) e expositores da Feira Internacional

LAAD Defence e Security de 2013, no Rio de Janeiro-RJ. Para tanto, foi utilizado um

formulário do google disponibilizado pela web, enviado de forma eletrônica e

respondido entre os dias 15 de agosto e 10 de setembro de 2013.

Para atingir os objetivos, o presente trabalho foi dividido em seis capítulos,

nos quais foram abordados os temas concernentes às soluções das questões

norteadoras, considerando o referencial teórico e a bibliografia consultada. Das

naturais limitações de tempo disponível para a pesquisa ou acesso à informação

decorreram as limitações observadas nas perspectivas oferecidas neste trabalho.

No segundo capítulo foi estudada a Base Industrial de Defesa, sua

contextualização histórica recente e as decorrências na capacidade instalada no

Brasil, com impactos diretos no Poder Nacional.

No terceiro capítulo, a proposta de Ray Steiner Cline, de mensuração do

Poder percebido do Estado, foi comentada, com vistas a materializar as posteriores

discussões sobre o posicionamento do governo brasileiro em face de sua BID.

14

A estruturação do Estado brasileiro no suporte jurídico-administrativo ao

segmento industrial de defesa foi estudada no quarto capítulo. Ali, foram

consideradas diversas fontes documentais, lançando foco sobre as capacidades

legais do governo para assistir à BID.

No quinto capítulo foram analisados os dados auferidos na enquete oferecida

aos atores da BID, considerando suas principais decorrências, trazendo à tona a

visão do empresariado sobre o cenário atual associado à BID.

As conclusões obtidas neste trabalho foram oferecidas no derradeiro capítulo

deste relatório.

15

2 A BASE INDUSTRIAL DE DEFESA

A BID brasileira já viveu seu apogeu, atravessou muitas barreiras e chegou às

margens de sua total extinção. As maiores dificuldades se deram a partir da

imposição de uma concorrência direta com os produtos oriundos do exterior, com

preços competitivos e tecnologia mais avançada. Mas o cenário vem se modificado

lentamente, não obstante o enorme hiato tecnológico que as empresas brasileiras

percebem em relação às suas concorrentes estrangeiras.

Os Estados Centrais oferecem significativas vantagens às suas indústrias de

material bélico, principalmente no acesso às tecnologias advindas de sucessivos e

constantes investimentos governamentais, canalizados para a produção dos itens

que concorrem no mercado internacional. O SIPRI (Stockholm Internacional Peace

Research Institute)1 (SIPRI, 2013), aponta que Estados Unidos, Rússia, Alemanha,

França e China respondem por 74% do volume de exportações de material bélico no

mundo. Nota-se, na publicação, que o mercado brasileiro sequer consta da análise.

FIGURA 1: Os principais Estados importadores e exportadores de armamento no mundo.

Fonte: SIPRI (2013).

Dos cinco países maiores produtores mundiais de material de defesa, verifica-

se que apenas a China se apresenta entre os cinco maiores consumidores desses

itens no mundo. Ainda, percebe-se que os principais produtores de material de

1 O SIPRI é um instituto internacional independente para investigação a respeito dos problemas da paz e dos

conflitos, especialmente sobre a limitação de armamento e desarmamento. Foi fundado em 1966 para comemorar

os 150 anos de paz ininterrupta vivida pela Suécia.

16

defesa no mundo situam-se em mercados cujas políticas de aquisição desse

material privilegiam suas indústrias nacionais.

Uma significativa parcela dos gastos com material de defesa está associada a

projetos complexos, de longo prazo, que envolvem a pesquisa e o desenvolvimento

de tecnologia crítica, altamente custosa. Dessa forma, a manutenção do foco das

indústrias, dirigido para o setor de materiais de defesa, depende de uma ação

regular de aquisição desse material produzido.

A tecnologia de produtos para emprego tanto militar como civil (conhecida

como tecnologia dual) culmina por prestigiar o desenvolvimento de outros diversos

setores da economia nacional. A contribuição da indústria de defesa norte-

americana, por exemplo, foi fundamental na estruturação de centros de

desenvolvimento tecnológico e de inovação de caráter estratégico, abrangendo

processos e produtos que foram incorporados na fabricação de outros materiais de

uso civil, com grande agregação de valor. Essas mesmas indústrias se

especializaram em fornecer itens em grande escala para suas Forças Armadas sob

a proteção estatal, que considera controles de exportação, de transferência de

tecnologias sensíveis e de política antimonopólios.

Já no continente europeu, principal competidor com a capacidade industrial

norte-americana, as grandes corporações, além de terem percebido apoio estatal,

fortaleceram-se por intermédio de grandes fusões. As unidades fabris localizam-se

principalmente na Inglaterra, Alemanha e França. Os produtores europeus procuram

assistir especificamente as diversas necessidades de cada Estado de origem, o que

promove aquisição de grande volume de tecnologia sensível, conferindo peso em

relação à indústria norte-americana.

As indústrias de material bélico no bloco sul-americano localizaram-se

basicamente no Brasil, na Argentina e no Chile. Políticas de estabelecimento no

âmbito regional, mormente durante a Guerra Fria, aqueceram a procura por material

de defesa, principalmente a partir da década de 60 do século XX. Nessa época, os

governos militares desses países potencializaram as questões de defesa nacional. A

exemplo, o Brasil chegou a figurar como o oitavo país produtor de material de defesa

no mundo. Contudo, após meados da década de 80 do século passado, o cenário foi

paulatinamente alterado. Segundo o SIPRI (2013), com exceção da EMBRAER,

nenhuma outra empresa sul-americana, dentre aquelas que anteriormente

17

apresentavam destaque, consta dentre as cem maiores indústrias de defesa do

mundo.

O cenário posterior à derrocada da União das Repúblicas Socialistas

Soviéticas (URSS) motivou a redução na demanda por material bélico, na proporção

em que se reduziam as pressões advindas da Guerra Fria. O esfriamento do

mercado consumidor acirrou a competição entre as grandes corporações

internacionais e os pequenos polos produtores, como os locados no bloco sul-

americano.

Os principais óbices verificados nos Estados sul-americanos passou (e ainda

passam) pela insuficiência de orçamento a ser destinado à defesa, pela falta de

planejamento estratégico governamental, pelo pouco investimento em pesquisa e

pela necessidade de importação de tecnologia. A opção regularmente escolhida foi a

compra de material de defesa no exterior, desconsiderando a possibilidade de se

desenvolver a produção desses itens nacionalmente.

O Chile vem investindo timidamente no reaparelhamento de suas FA,

utilizando-se recursos advindos das exportações de commodities, como o cobre. A

Argentina, que dispunha de grande potencial belicoso nas últimas décadas do

século passado, enfrenta o sucateamento progressivo do seu acervo de defesa e do

seu parque produtor.

O Brasil adotou historicamente postura passiva em suas relações comerciais

com Estados Centrais, tornado-se alvo fácil do poderoso conglomerado produtor

norte-americano. A dependência do material estrangeiro acentuou-se com a

assinatura do Acordo de Cooperação Militar entre o Brasil e os Estados Unidos da

América, em 1952, que permitiu adquirir material bélico norte-americano a um

baixíssimo custo, ao passo que sujeitava o país às cláusulas restritivas de seu

emprego2. Foi uma época em que os mecanismos internacionais utilizados pelos

Estados Centrais intencionavam controlar a pesquisa de tecnologias para emprego

militar. Essas posturas serviram para elitizar ainda mais os países detentores dessas

capacidades.

As décadas de 70 e 80 do século XX foram caracterizadas pelo maciço

investimento do governo brasileiro em Pesquisa e Desenvolvimento (FERREIRA,

2011). Foi um período de forte desenvolvimento das indústrias de base e dos

2 Ainda em 1975 o acordo foi denunciado pelo Brasil, durante o governo Geisel.

18

segmentos de siderurgia, metalúrgica, bens de capital, mecânica, eletroeletrônica,

material de transporte, química de base e telecomunicações. Os atores da BID

brasileira, nesse período, projetaram, fabricaram e exportaram muitos itens, em

grande parte de alto valor tecnológico agregado. O Brasil acenava com a liderança

dentre os principais exportadores mundiais de armas convencionais, que tinham

como destino, além das FA brasileiras, os países da América do Sul, da África e do

Oriente Médio.

Bem verdade é que, no contexto internacional, as exportações de material

bélico recebiam motivação em virtude dos conflitos ocorridos em várias partes do

mundo. Algumas empresas brasileiras projetaram-se no mercado global (em

estatura bem menor que suas similares concorrentes, dentre as que tinham origem

nos Estados Centrais).

A Política Nacional de Exportação de Material de Emprego Militar (PNEMEM)

pode ser citada como uma das principais ações de governo, nos idos de 1976, para

subsidiar a produção e a exportação de material de defesa fabricado no Brasil. Tal

programa serviu como amálgama de confiança entre o empresariado da BID, as FA

e o governo.

Com o fim da Guerra Fria, em 1991, excedentes de material bélico puderam

ser observados no mercado internacional. O mundo recebeu um significativo afluxo

de armas de baixo custo e alta tecnologia, na contrapartida do material oferecido

pelas indústrias brasileiras. Amarante (2004) acrescenta a este cenário desfavorável

à BID brasileira a condição política e econômica percebida no país àquela época.

Tudo isso apôs um ambiente desfavorável para gastos com armamentos,

provocando uma retração dos atores desse segmento da indústria nacional,

conjuntamente à sensível redução das atividades de pesquisa na área de defesa.

O abatimento da BID perdurou até a primeira década do presente século, com

uma constante ameaça de sucumbência de empresas em face das incipientes ações

de governo para a sua proteção.

É bem verdade que o Brasil persiste com parte de seu potencial de

desenvolvimento de material de defesa, sendo verificadas ainda intactas algumas

das linhas de produção, cujas tecnologias se encontram, infelizmente,

ultrapassadas. Alguns Centros Tecnológicos permanecem em pleno funcionamento,

principalmente os Institutos de Engenharia Militar e cursos afins.

19

A importação de itens de defesa, especificamente os de maior valor

agregado, produz na indústria nacional um distanciamento em relação às indústrias

dos países desenvolvidos, alimentando o ciclo vicioso de dependência tecnológica e

de falta de autonomia nacional no acesso de material estratégico, o que, de alguma

forma, fragiliza as Expressões Militar e Científico-Tecnológica do Poder Nacional.

Assim, a aquisição desses itens estratégicos deve ser encarada como verdadeiro

desafio de governo, na criação de políticas que permitam a transferência tecnológica

ou o desenvolvimento desses itens no mercado doméstico.

Mas, tal vinculação entre o Poder Nacional e seus elementos de constituição

situa-se apenas no campo filosófico ou apresenta alguma proposta de relação fática

mensurável? Propostas para responder tal questionamento permitiriam quantificar

materialmente quais são as conexões dos componentes do Poder e suas

proporcionalidades.

Muitos se empenharam em tais estudos, com diversas teorias. Dentre elas, foi

escolhida a proposta de Ray Steiner Cline, que será discutida no capítulo seguinte.

20

3 O PODER PERCEBIDO

O poder instrumental do Estado nas suas relações internas e externas é

assunto de vastas abordagens. A relevância do tema é tal que não pode mesmo ser

dissociado do planejamento das ações dos governos, em face da satisfação legítima

dos interesses mais íntimos de cada povo.

No corpo deste trabalho, a rápida análise do poder instrumental refere-se tão

somente à vinculação da ideia da importância da capacidade material do Estado em

prover políticas e estratégias públicas de desenvolvimento da BID. Nesse contexto,

as conformidades estruturais entre o Estado brasileiro e os seus segmentos de

sustentação de Poder são aspectos da maior importância nacional.

Vale lembrar que a violência, controlada ou não, vem sendo empregada pelo

Homem desde os primevos anos de sua existência. Inicialmente, com o objetivo de

manter sua sobrevivência, na defesa daqueles de sua espécie em relação às

ameaças, principalmente relacionadas à manutenção da célula familiar ou evitando

os ataques de outros seres humanos ou animais.

Decorrentes dessa necessidade de autoproteção surgiram tribos, que

promoveram novos estais de conformação da manutenção do grupo social. E, a

cada passo de seu desenvolvimento, o Homem vem alterando seu entendimento

acerca dos desafios e das ameaças impostas ao grupo social onde se encontra

inserido.

Nas diversas alterações da percepção humana acerca do modo de

preservação da agremiação de seus semelhantes, o reconhecimento do poder como

ferramenta se forjou como necessidade primeira. O poder permitiu a autonomia de

agremiações sociais, garantindo-lhes locais para o plantio, sua convivência e o seu

desenvolvimento.

As nações organizadas presenciaram diversos períodos e processos nos

quais experimentaram o emprego do Poder com fulcro nos objetivos de conquistar

melhores condições de sobrevivência. Os conflitos eram justificados, quase sempre,

pela luta por mais espaço. A instrumentalização política desses institutos foi se

aperfeiçoando em virtude das contingências de mercados, o que, de alguma forma,

impactou o entendimento de Poder Nacional3.

3 No entendimento lato de Poder Nacional: como poder político de um Estado utilizado no plano internacional.

21

Diversas são as perspectivas conceituais aceitáveis do Poder. Sua

relativização, a exemplo, aponta para uma característica situacional, ou seja, ele se

modifica com o contexto. O Poder deve ser dinâmico, em virtude da constante

mutação das capacidades de cada nação organizada, tais como o crescimento

econômico, científico-tecnológico ou social. Ainda, o Poder deve ser entendido em

suas múltiplas dimensões. É nessa característica que se postula a adequabilidade

do emprego do Poder.

Outro olhar diz respeito às diferenças entre o Poder potencial e o Poder atual

(ou existente), cuja valorização pretende controlar o tempo de reação das suas

Expressões do Poder quando verificadas ameaças à soberania da Nação.

De toda a sorte, o Poder Nacional se reveste de uma realidade palpável. Ele

existe e está disponível para ser usado por cada dirigente governamental. E, por sua

disponibilidade, é mensurável nos seus atributos quantitativos e qualitativos, ainda

que numa perspectiva cuja mensuração seja pautada em parâmetros subjetivos ou

intangíveis, tais como o sentimento de unidade, o reconhecimento da História de seu

povo ou a coesão em torno de um sistema de valores nacionais.

A principal ocupação do governante estatal para satisfazer com êxito os

objetivos fixados por sua administração passa pelo perfeito entendimento das

capacidades de seu país, considerando os recursos naturais e econômicos

disponíveis, seu território, a quantidade de habitantes, o clima, a capacidade

industrial instalada, a capacidade de instrução média da população, sua vontade de

produzir e seu espírito competitivo, dentre outros.

Nesse momento, a disponibilidade de recursos de defesa torna-se

fundamental, principalmente para as ações dissuasórias, evitando confrontos

desgastantes e desnecessários para todos os envolvidos. Então, quais seriam as

capacidades necessárias à preservação dos interesses de um povo? E qual seria a

estatura potencial de um país em face de outros com quem se pretenda relacionar?

A Escola Superior de Guerra entende o Poder Nacional da seguinte forma:

"capacidade que tem o conjunto de homens e meios que constituem a nação para

alcançar e manter os objetivos nacionais, em conformidade com a vontade nacional"

(ESG, 2013, p.31). Pronunciaram-se, nessa Academia, os nomes do General de

Divisão Carlos de Meira Mattos e da Professora Therezinha de Castro.

Dentre os muitos estudiosos estrangeiros da quantificação do Poder Nacional,

Ray Steiner Cline destacou-se por sua proposta de incorporação de elementos

22

qualitativos intranacionais. Em sua visão, o Poder Nacional é identificado pela soma

da "massa crítica" do país (sua população e seu território), do poder econômico e do

poder militar multiplicado pela soma dos objetivos estratégicos e da vontade

nacional. Observa-se, no postulado, a interação de fatores tangíveis e intangíveis.

Essa consideração foi aceita por muito tempo pelo governo norte-americano para

estimar tendências de longo prazo do sistema internacional.

Cline (1994) assenta sua análise nos países desenvolvidos, colocando os

Estados Unidos da América como uma referência. Na contrapartida, alguns Estados,

segundo o autor, não chegaram à condição de confiabilidade, em sua escala de

poderes. São principalmente aqueles cujas Expressões não conferem volume

necessário para que o país tenha projeção mínima no concerto das nações

(FONTOURA, 2012).

A proposta de Cline (1994) é a seguinte: Pp= (C+E+M) x (S+W), sendo "Pp" o

poder percebido; "C" a massa crítica (população+território); "E" a capacidade

econômica; "M" a capacidade militar; "S" a estratégia nacional e "W" a vontade

nacional.

Na análise quantitativa, Cline (1994) atribuiu pontuações proporcionais às

populações dos Estados, numa escala de ordem crescente. Mesma técnica foi

utilizada para a gradação territorial e para as capacidades militares. Sua

consideração acerca da variável econômica foi complexa, em virtude da

multidimensionalidade apresentada pela componente. Optou por trabalhar

indicadores que, no seu entendimento, conseguem mensurar a pujança econômica

de um país.

A análise qualitativa da equação é fator que engloba a adição da avaliação da

Estratégia Nacional (S) e da Vontade Nacional (W). Sua intenção é conferir volume

aos resultados do fator anterior, que apresentam pouca mutação no tempo.

A Estratégia é o instrumento para o alcance dos objetivos definidos pelo

governo por ações que permitam combinar os meios disponíveis.

A Vontade Nacional se faz composta por três outros elementos, quais sejam o

nível da integração nacional, a força da liderança nacional e a coerência entre a

estratégia nacional e o interesse nacional. Ela é atributo que permite a um governo

23

congregar seus meios para dar suporte aos objetivos nacionais. Sua determinação

também é complexa e considera até mesmo antecedentes históricos de um país4.

O valor máximo atingido no primeiro fator (C+E+M) é igual a 500 pontos e o

valor máximo do segundo fator (S+W) é de 2 pontos (1 ponto para cada variável), de

sorte que o Estado mais valorado, no máximo, 1.000 pontos.

Ponderações foram feitas à equação de Cline, tais como o seu

descompromisso com a mensuração do poder real. Também foram observadas

complementaridades à proposta de Cline por outros autores, tais como Nicholas

Spykman, André Beaufre, Wilhelm F. e Clifford German (HENRIQUES;

PARADELLO, 2003).

FIGURA 2: Equações de Teorias do Poder Percebido.

Fonte: (HENRIQUES; PARADELLO, 2003).

Contudo, a grande contribuição da equação de Cline focou-se na perspectiva

de comparação entre poderes e a possibilidade do ajustamento dos fatores

disponíveis para a consecução dos objetivos nacionais.

4 Por exemplo, a convicção de que o domínio territorial vem dos esforços das gerações anteriores, conquistado

com muito sacrifício e lutas. Tal sentimento gera a certeza de que o patrimônio nacional deva ser defendido

veementemente, preservando o direito das gerações futuras.

24

Cline apontou como variáveis de hard power5 as componentes Econômica e

Militar e apresentou como variáveis de soft power6 a Estratégia e a Vontade

Nacionais. Mesmo considerando a subjetividade de sua equação, Cline nos permitiu

o entendimento de que o Poder Nacional é o resultado entre o produto do hard

power e soft power. O estudo da interação desses fatores em face do produto

(classificação comparativa dos Poderes Nacionais dos Estados) torna-se conclusivo,

na medida em que a evolução de algumas dessas variáveis pode apresentar-se

extremamente complexa ou custosa ao país.

Verifica-se também que, pela proposta de Cline, Estratégia e Vontade

Nacionais são, no seu apogeu, multiplicadoras das variáveis de hard power pelo

dobro. O principal gestor dessas variáveis de soft power - com vistas a suas

possíveis maximizações - é a própria administração do Estado, através de sua

estrutura organizacional. É no seio do governo que se pode viabilizar a maximização

do Poder Nacional.

O planejamento estratégico da estrutura militar brasileira, dentro da atual

conformação estatal, é de responsabilidade do Ministério da Defesa. A ele caberia a

coordenação direta ou indireta de todos os atores a quem são endereçadas as

Políticas definidas pelo Poder Executivo, na área de Defesa Nacional, dentre eles as

indústrias nacionais de material de defesa (que compõem a BID).

O contexto atual reflete esse teorema? Há fontes jurídicas de suporte às

ações de governo? Essas perspectivas serão analisadas no próximo capítulo.

5 "Poder duro" proposto por Joseph S. Nye Jr. (NYE, 2002): "O poder de comando assenta-se na coerção ou na

indução." 6 "Poder brando" proposto por Joseph S. Nye Jr. (NYE, 2002): "É mais do que persuasão ou a capacidade de

modificar mediante argumentos; é uma capacidade de atrair e o que atrai tem a capacidade de obter bens."

25

4 AÇÕES ESTRUTURANTES DA BID

Dentre as iniciativas de governo adotadas para o fortalecimento da BID, o

Ministério da Defesa (MD) publicou a Política de Compensação Industrial, Comercial

e Tecnológica (Portaria Normativa nº 764/MD, de 27 de dezembro de 2002), que tem

como objetivo coordenar as atividades que envolvem a utilização da ferramenta

offset em benefício do desenvolvimento industrial, tecnológico e de comércio exterior

da Base Industrial de Defesa (BID) brasileira, a partir da utilização do poder

concedente do Estado, quando das importações de produtos de defesa; o Decreto nº

3.665, de 20 de novembro de 2000, que dá nova redação ao Regulamento para a

Fiscalização de Produtos Controlados (R-105); a Portaria nº 764/MD, de 27 de

dezembro de 2002, que aprova a Política e as Diretrizes de Compensação

Comercial, Industrial e Tecnológica do Ministério da Defesa; a Portaria nº 75/MD, de

10 de fevereiro de 2005, que dispõe sobre a ativação do Centro de Certificação, de

Metrologia, de Normalização e de Fomento Industrial das Forças Amadas

(CCEMEFA) e institui seus sistemas; a Portaria nº 611/MD, de 12 de maio de 2005,

que dispõe sobre a Instituição da Comissão Militar da Indústria de Defesa (CMID); a

Política Nacional da Indústria e Defesa (PNID), aprovada pela Portaria Normativa nº

899/MD, de 19 de julho de 2005, e que tem como objetivo geral o fortalecimento da

Base Industrial de Defesa (BID) brasileira; a Política de Defesa Nacional, a

Estratégia Nacional de Defesa (END) e o Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN),

esses três aprovados pelo Decreto Legislativo nº 373, de 25 de setembro de 2013.

Na mesma linha, o governo federal publicou a Lei nº 10.973, de 2 de

dezembro de 2004, que dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e

tecnológica no ambiente produtivo, incluindo incentivos fiscais e não fiscais, e a Lei

nº 12.598, de 21 de março de 2012, que estabelece normas especiais para as

compras, as contratações e o desenvolvimento de produtos e de sistemas de defesa

e dispõe sobre regras de incentivo à área estratégica de defesa, e, mais

recentemente, o Decreto nº 7970, de 28 de março de 2013, que Regulamenta

dispositivos da Lei nº 12.598.

Verifica-se que o Estado brasileiro já dispõe de base jurídica necessária à

operacionalização de ações que levem a termo as instruções cabíveis nos

documentos da Alta Administração nacional.

26

Não sem muito esforço político, formalizou-se tal arcabouço legal, que

outorga ao Estado brasileiro a função de indutor de pesquisa, produção e inovação

da BID, através de Políticas específicas que consideram subsídios e financiamentos

a projetos de criação ou modernização desse segmento do parque industrial

nacional.

Os documentos tutelam o desenvolvimento da BID através da priorização do

desenvolvimento de tecnologias de uso dual, da redução da sujeição tecnológica e

do domínio de tecnologias sensíveis e da prioridade na aquisição de itens fornecidos

pela indústria nacional.

Contudo, tais fontes carecem de vontade política para a efetivação de seus

intentos. A Defesa Nacional não alcança o merecido destaque na agenda do

governo e, por isso mesmo, não recebe os aportes necessários e oportunos,

compatíveis com a posição pretendida pelo Brasil no cenário internacional.

Quando o aporte de recursos orçamentários é escasso, os empresários

alternam suas produções para itens de maior demanda pelo mercado consumidor,

buscando sua subsistência. Tal movimento provoca um hiato relevante nas

capacidades instaladas no país, oferecendo um flanco de vulnerabilidade aos

recursos mobilizáveis.

Outro aspecto que se fragiliza com a falta de investimentos de governo na

área da Defesa é a aptidão dissuasória do país. Um desnivelamento evidente entre

as capacidades de combate (variável Militar da equação de Cline) promove a

desmotivação dos pretendentes a uma eventual ação agressiva ao Brasil. O círculo

virtuoso dessa lógica deve ser intencionalmente alimentado, caso contrário não se

sustenta por si mesmo. Ocorre que, para concordar com os aportes orçamentários

de governo, a sociedade deverá reconhecer plenamente a importância do trabalho

de suas Forças Armadas, potencializando a Vontade Nacional para as apoiarem

com os investimentos cabíveis. E isso é uma ação ampla de governo, atuando em

todas as Expressões do Poder Nacional.

Ressalta-se que a facilidade de acesso e aquisição de material bélico no

mercado doméstico brasileiro é aspecto dissuasor da maior relevância no contexto

regional e que a contraposição das ameaças por meio da dissuasão passa,

necessariamente, por uma estrutura militar forte e preparada.

No subcontinente sul-americano houve embates recentes - como o conflito

sobre a posse das Ilhas Falklands - em que a disponibilidade de material bélico foi

27

determinante para o resultado final, uma vez que à Argentina foi negada a aquisição

de itens de material bélico fundamentais para a sustentação do combate.

A estrutura de defesa deve dispor de material atualizado, eficiente e

dimensionado tecnologicamente para contrapor a estatura das ameaças sul-

americanas ou que objetivem acesso à plataforma continental brasileira. Mas, acima

de tudo, tal material deve ser produzido com recursos e tecnologia nacionais,

sedimentando a capacidade de acesso desses meios em momentos críticos.

Contudo, a intenção de se alterar a lógica reinante, de situar a BID brasileira

em condições de assistir de maneira sustentada as carências da Defesa nacional na

proporção de sua estatura, é de tal complexidade que suas ações indutivas

demandam que o Estado esteja preparado em sua composição e que disponha de

recursos necessários para levar a termo as Políticas e Estratégias nacionais

relacionadas à indústria nacional de material de segurança e defesa.

4.1 COMPOSIÇÃO DO MINISTÉRIO DA DEFESA (MD)

A criação oficial do Ministério da Defesa deu-se a 10 de junho de 1999.

Contudo, as tratativas para sua criação remontam do século passado. Já na

Constituição de 1946 era citada a criação de um Ministério que congregasse as três

Forças Armadas. Tal, redundou na criação do Estado-Maior das Forças Armadas

(EMFA).

Dentre outras tentativas, foi o Presidente Fernando Henrique Cardoso quem

levou a termo a intenção de criar o Ministério da Defesa, com o objetivo, na sua

visão, de otimizar o sistema de defesa nacional, formalizar uma política de defesa

sustentável e integrar as três Forças, racionalizando as suas atividades. O

Presidente nomeou o senador Elcio Álvares como o ministro Extraordinário da

Defesa (o primeiro a ocupar a pasta), em 1º de janeiro de 1999. Mas apenas em

junho daquele ano o órgão foi oficialmente criado.

Atualmente, o Ministério da Defesa está estruturado conforme o Decreto nº

7.974, de 1º de abril de 2013, e tem a seguinte estrutura organizacional:

I - órgãos de assistência direta e imediata ao Ministro de Estado da Defesa: a)

Gabinete; b) Assessoria Especial de Planejamento; c) Consultoria Jurídica; d)

Secretaria de Controle Interno; e) Instituto Pandiá Calógeras;

28

II - órgãos de assessoramento: a) Conselho Militar de Defesa; e b) Estado-

Maior Conjunto das Forças Armadas;

III - órgão central de direção: Secretaria-Geral: a) Gabinete do Secretário-

Geral; e b) Departamento do Programa Calha Norte;

IV - órgãos específicos singulares: a) Secretaria de Organização Institucional;

b) Secretaria de Produtos de Defesa; c) Secretaria de Pessoal, Ensino, Saúde e

Desporto; d) Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia -

Censipam;

V - órgãos de estudo, de assistência e de apoio: a) Escola Superior de

Guerra; b) Representação do Brasil na Junta Interamericana de Defesa; c) Hospital

das Forças Armadas; e

VI - Forças Armadas.

Em sua estrutura, o segmento que tem por finalidade relacionar-se com a BID

é a Secretaria de Produtos de Defesa (SEPROD), que tem por atribuições:

I - subsidiar o Ministro de Estado da Defesa e o Secretário-Geral nos

assuntos de sua competência;

II - propor os fundamentos para a formulação e atualização da política

nacional de ciência, tecnologia e inovação de defesa, para o desenvolvimento

tecnológico e a criação de novos produtos de defesa, e acompanhar sua execução;

III - propor os fundamentos para formulação e atualização da política nacional

da indústria de defesa e acompanhar sua execução;

IV - propor a formulação e atualização da política de compras de produtos de

defesa e acompanhar a sua execução;

V - propor a formulação e atualização da política nacional de catalogação e

acompanhar a sua execução;

VI - normatizar e supervisionar as ações inerentes ao controle das

importações e exportações de produtos de defesa;

VII - conduzir programas e projetos de promoção comercial dos produtos de

defesa nacionais;

VIII - em articulação com o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas: a)

acompanhar os processos e coordenar os programas e projetos de articulação e

equipamentos de defesa; b) propor diretrizes para a determinação de necessidades

e requisitos, em termos de aproveitamento comum, dos meios de defesa

29

dimensionados pela análise estratégico-operacional; c) coordenar a padronização

dos produtos de defesa de uso ou interesse comum das Forças Armadas; d)

coordenar a integração das aquisições de interesse das Forças Armadas; e e)

propor diretrizes relativas à obtenção e distribuição de bens e serviços;

IX - supervisionar e fomentar as atividades de tecnologia industrial;

X - supervisionar as atividades de ciência, tecnologia e inovação, visando ao

desenvolvimento e à industrialização de novos produtos de defesa;

XI - representar o Ministério da Defesa, na sua área de atuação, perante

outros Ministérios, fóruns nacionais e internacionais nas discussões de matérias que

envolvam produtos de defesa e nos assuntos ligados à ciência, tecnologia e

inovação de interesse da defesa; e

XII - supervisionar as atividades de aquisição de informações de tecnologia

militar, do sistema militar de catalogação e do sistema nacional de catalogação.

Nesse mesmo sentido, a Comissão Mista da Indústria de Defesa (CMID) foi

criada (Decreto nº 7.970, de 28 de março de 2013) com a finalidade assessorar o

Ministro de Estado da Defesa em processos decisórios e em proposições de atos

relacionados à indústria nacional de defesa. Dentre suas atribuições encontram-se:

I - propor e coordenar estudos relativos à política nacional da indústria de

defesa;

II - promover a integração entre o Ministério da Defesa e órgãos e entidades

públicos e privados relacionadas à base industrial de defesa;

III - emitir parecer e propor ao Ministro de Estado da Defesa as classificações

de bens, serviços, obras ou informações nos termos do inciso I do caput do art. 2º da

Lei no 12.598, de 2012, como Produto de Defesa - PRODE;

IV - emitir parecer e propor ao Ministro de Estado da Defesa as classificações

de conjunto inter-relacionado ou interativo de Produto de Defesa como Sistema de

Defesa - SD, nos termos do inciso III do caput do art. 2º da Lei no 12.598, de 2012;

V - propor ao Ministro de Estado da Defesa a classificação de PRODE como

Produto Estratégico de Defesa - PED, nos termos do inciso II do caput do art. 2º da

Lei nº 12.598, de 2012;

VI - propor ao Ministro de Estado da Defesa o credenciamento de Empresa de

Defesa como Empresa Estratégica de Defesa, nos termos do inciso IV do caput do

art. 2º da Lei no 12.598, de 2012;

30

VII - propor ao Ministro de Estado da Defesa políticas e orientações sobre

processos de aquisição, importação e financiamento de que tratam os arts. 3º, 4º e

6º da Lei nº 12.598, de 2012; e

VIII - apreciar e emitir parecer sobre os Termos de Licitação Especial - TLE.

Como pode ser observado, as estruturas do MD responsáveis por compor e

acompanhar as diretrizes de fomento da BID não têm por atribuição a coordenação

direta ou indireta desse segmento. Sendo o MD uma parcela importante da

Administração Federal a se ocupar com essa abordagem, se apresenta uma

excelente oportunidade de melhoria na prestação de serviços do governo à

sociedade brasileira.

Todavia, como é vista essa conformação pelo empresariado das indústrias de

material de segurança e defesa? Qual a percepção deles quanto à assistência

governamental à BID brasileira?

Perguntas como essas serão discutidas no próximo capítulo, ao analisarmos

uma pesquisa feita junto ao empresariado da BID.

31

5 ANÁLISE DOS DADOS

Trazer à análise do tema em pauta a opinião do empresariado ligado à BID se

faz fundamental para o perfeito entendimento dos fatores contribuintes do problema

estudado. A intenção deste pesquisador ao buscar a visão dos atores da BID foi a

de permitir uma reflexão sobre a efetividade das ações estruturantes do Estado

brasileiro, no alinhamento dos resultados esperados pelo governo.

A primeira perspectiva a ser iluminada é a da Federação das Indústrias do

Estado de São Paulo (FIESP), através de seu Departamento da Indústria de Defesa

(COMDEFESA), segmento que atua de acordo com a situação estratégica do Brasil,

a Defesa Nacional e com vistas ao desenvolvimento da Indústria Nacional de

Defesa.

Em sua "Análise do COMDEFESA sobre o orçamento da Defesa Nacional", a

FIESP contextualiza o mercado de produtos de defesa da seguinte forma:

Por ser um mercado altamente restrito devido às suas especificidades, a maioria dos países desenvolve políticas de fomento industrial e tecnológico voltadas exclusivamente à indústria de defesa, uma vez que o interesse em estruturar e manter a indústria forte envolve desde questões técnicas, econômicas até geopolíticas. A questão orçamentária caminha de forma a viabilizar tais ações. Por essa razão, é importante analisar como o Brasil se insere nesse contexto e quais são as principais ações definidas para a condução desse setor no País. Quando analisada no contexto de paz, a Indústria Nacional de Defesa tende a ser deficitária. Mas, como o Estado precisa manter-se permanentemente atento às situações que modificam essa normalidade, a indústria de defesa deve funcionar com capacidade plena a atender tal chamado, se necessário. Ao mesmo tempo, a indústria contribui fortemente com o processo de desenvolvimento do País. O seu principal desafio na atualidade é tornar-se economicamente competitiva, sem desvincular-se das demandas do Estado, seu único cliente. (FIESP, 2013)

Na opinião do COMDEFESA, a baixa intensidade tecnológica nas

exportações brasileiras pode comprometer o desempenho futuro da economia,

projetando um período de desindustrialização mais acentuado. Reforça sua opinião

o fato de que, em 2012, a indústria de baixa tecnologia tenha sido responsável por

38,7% das exportações brasileiras e, no mesmo período, a indústria de alta

tecnologia tenha representado apenas 6,7%.

Em concordância com as fontes bibliográficas consultadas pelo pesquisador,

o COMDEFESA entende que a Defesa é uma alternativa valiosa para reverter a

tendência de desindustrialização, pois possui a capacidade de gerar tecnologias de

ponta, que induzem ao desenvolvimento outros segmentos de produção industrial.

32

Mesmo sendo o Brasil o quinto maior país do mundo em dimensão territorial,

dispor de riquezas naturais valiosas (camada do pré-sal, reservas de água doce em

abundância, biodiversidade privilegiada e outros elementos que colocam o País no

olho do mundo), sabe-se que o país não está preparado adequadamente para se

proteger de ameaças e agressões externas.

Dentre os entraves ao fortalecimento da indústria de defesa nacional, o

COMDEFESA destaca o orçamento público. Informa que o setor produtivo só

consegue estar preparado, ser autossustentável e trabalhar em conformidade com

os objetivos políticos se houver disponibilidade orçamentária e de investimentos

públicos.

Duas são as questões mais significativas oferecidas pela FIESP, em relação

ao setor produtivo de itens de defesa nacional: a dificuldade em obter investimentos

e o descompasso orçamentário. Tal impede um planejamento estratégico adequado

do próprio Governo e das indústrias, promovendo a dependência tecnológica do

País. As questões se juntam quando não há definidos o orçamento, os períodos e a

constância das compras governamentais.

Dessa forma, a BID não se prepara para uma pronta-resposta às

necessidades imediatas. Nem tampouco se motiva para apresentar o padrão de

excelência que dela se espera. A exiguidade de recursos para a defesa prejudica o

desenvolvimento e a conclusão de projetos do mais alto interesse nacional e atrasa

o país na corrida pela geração de conhecimento.

Um exemplo recente foi o contingenciamento expressivo da Defesa na

Execução Orçamentária da União para 2013. Num momento em que o Brasil inicia a

exploração do pré-sal (dentre outros fatos de vulto), o orçamento do Ministério da

Defesa continua sofrendo cortes em custeio e investimentos, justamente onde são

alocados os projetos de tecnologias críticas. Isso torna cada vez mais distante o

objetivo de capacitar a defesa nacional para que tenha representatividade militar

condizente.

O COMDEFESA registra que o orçamento do MD tem aumentado em termos

reais, mas, com relação à arrecadação do País e ao PIB, apresenta uma média de 1

a 2% menor que países como Rússia, Índia e China. E vem reduzindo,

principalmente se analisado o total de investimento no setor.

33

TABELA 1: Investimento em Defesa por porcentagem do PIB.

INVESTIMENTO EM DEFESA POR PORCENTAGEM DO PIB

País 2009 2010 2011 2012

Rússia 4,6 4,3 4,1 4,4

Índia 2,9 2,7 2,6 2,5

China 2,2 2,1 2 2

Brasil 1,6 1,6 1,5 1,5

Fonte: SEORI/MD (FIESP, 2013).

Quando se compara a evolução do orçamento no período de 2001 a 2011

(em relação ao crescimento do PIB nacional) nota-se que, ao longo dos últimos 10

anos, não houve aumento significativo no orçamento (que em 2001 foi de 2,0% do

PIB e caiu para 1,9% em 2002), mantendo-se na média de 1,5% nos últimos anos.

Segundo a FIESP esse é o motivo pelo qual o setor de defesa brasileiro

pleiteia atualmente do governo a garantia dos dispêndios necessários aos projetos

tecnológicos.

A Estratégia Nacional de Defesa (END, 2008) apresenta como eixo

estruturante a reestruturação da indústria brasileira de material de defesa. Essa

diretriz fez com que a leitura do cenário de médio e longo prazo fosse otimista, pela

BID. Nesse mesmo documento, enfatiza-se que ao Estado cabe a revisão de

algumas atividades, tais como dar prioridade ao desenvolvimento de capacitações

tecnológicas independentes; apoiar a conquista de clientela estrangeira; buscar

parcerias com outros países com o objetivo de desenvolver a capacitação

tecnológica nacional; desenvolver os setores espacial, cibernético e nuclear; e

estabelecer regime legal, regulatório e tributário especial.

O COMDEFESA analisa que algumas diretrizes foram operacionalizadas com

a aprovação da Lei nº 12.598, que estabelece um marco regulatório ao criar uma

política de compras que permite ao Governo escolher, trabalhar e desenvolver seus

próprios projetos junto à indústria nacional. O documento também define os produtos

e as empresas estratégicas.

Ainda se aguarda a regulamentação do Regime Especial Tributário para a

Indústria de Defesa (RETID), que estabelece incentivo fiscal para a cadeia produtiva.

Conclui o COMDEFESA que, mesmo com as conquistas da BID, o momento

atual é para se repensar e se aprimorar as ações inadequadas, como é o caso da

porcentagem do PIB destinada à defesa. Muitas mudanças estão sendo conduzidas

34

pelo Ministério da Defesa. Contudo, o atual orçamento, além de não atender aos

projetos contemplados na Estratégia Nacional de Defesa, não faz jus à posição que

o Brasil ocupa atualmente no cenário mundial.

Em complemento à visão da FIESP, uma pesquisa de opinião composta por

quatro perguntas foi oferecida aos associados da ABIMDE - cujos endereços

eletrônicos estão constantes do Catálogo Oficial da LAAD 2013 - por meio de

planilha eletrônica gratuita disponibilizada pela plataforma google, e que foram

respondidas entre os dias 25 de agosto e 10 de setembro de 2013.

Dos cinquenta e cinco questionários enviados para aqueles cujos materiais

produzidos ou serviços fornecidos, na ótica do pesquisador, eram mais relevantes

para a Defesa, responderam quarenta e sete. Os mais de 85% de respostas são

amostragem significativa, que permite a depreensão que essa é uma opinião

aproximada do grupo em tela.

Não obstante a retórica dos questionamentos, a materialização das respostas

alude à uma percepção quase consensual acerca do tema.

Na primeira pergunta, o pesquisador buscou a percepção do empresário

quanto à disponibilidade de recursos públicos para a indústria de material de defesa

nacional. A relevância dessa abordagem se justifica por buscar identificar eventual

contraditório com o que percebe o próprio MD, que entende que os investimentos

orçamentários no setor são adequados para o atendimento das necessidades de

estruturação ou sustentação da BID, conforme palavras do Ministro da Defesa

dispostas na introdução do Catálogo Oficial da LAAD 2013.

A primeira questão foi assim descrita: “O desenvolvimento de qualquer

segmento da sociedade, em específico aqueles ligados às atividades científico-

tecnológicas e de produção industrial, pode ser implementado com investimentos

orçamentários de governo proporcionais aos resultados esperados. Qual a sua

percepção acerca dos atuais investimentos públicos na consolidação da BID

nacional?”

35

As respostas foram assim distribuídas:

a) não há nenhum investimento de recursos públicos na BID nacional; 4%

b) há pouco investimento governamental no desenvolvimento da BID, que se mostram insuficientes para a consolidação do setor;

54%

c) os investimentos públicos no desenvolvimento da BID são regulares e satisfatórios;

34%

d) há um relevante aporte de investimentos do governo nas ações de estruturação da BID nacional;

4%

e) o governo brasileiro assiste totalmente as necessidades orçamentárias dos diversos atores da BID nacional.

4%

FIGURA 3: Percentuais de respostas à primeira pergunta do questionário.

As respostas ao primeiro questionamento indicam a percepção de boa parte

(54%) dos players da BID de que há espaço para maiores e melhores investimentos

públicos na estruturação das atividades produtivas. Contudo, uma parcela (34%) dos

entrevistados já aceita como razoável o aporte orçamentário aplicado atualmente

pelo governo. Essa aceitabilidade parcial dos investimentos públicos pode indicar

que os recursos estão suportando parcialmente alguns atores da BID, em detrimento

de uma quantidade ainda maior de empresas do segmento que demandam ações

estatais mais efetivas.

A segunda pergunta buscou iluminar a percepção do empresariado sobre a

política proposta pelo Estado brasileiro para estruturação da BID nacional. A

abordagem busca entender qual a percepção dos destinatários das Políticas

36

públicas sobre a capacidade do Estado em diagnosticar, enunciar e planejar ações

estratégicas que possibilitem o desenvolvimento sustentável da BID. A questão foi

assim enunciada: “Qual a visão de sua empresa em face da proposta de

amadurecimento de uma política governamental de desenvolvimento da BID

nacional?”

As respostas à segunda pergunta foram assim distribuídas:

a) as políticas públicas são transitórias e historicamente desmerecedoras da confiança da classe empresarial nesse segmento;

6%

b) a vontade política para com o tema é pequena; poucos resultados duradouros podem ser esperados;

47%

c) a administração federal dispõe de capacidade e meios suficientes para implementar uma política pública satisfatória de desenvolvimento da BID;

34%

d) com a capacidade administrativa disponível atualmente e o aporte orçamentário necessário, facilmente se amadurece uma política de Estado para o desenvolvimento da BID nacional;

13%

e) o Estado brasileiro tem plenas condições de perenizar uma política pública de desenvolvimento e sustentabilidade da BID nacional.

0%

FIGURA 4: Percentuais de respostas à segunda pergunta do questionário.

Uma grande maioria (47%) dos entrevistados não acredita que a vontade

política do governo brasileiro, nos seus diversos segmentos e independentemente

do arcabouço jurídico construído nos últimos anos, possibilite uma sustentação da

BID e, em virtude disso, poucos resultados em longo prazo devem ser esperados.

Essa visão sustenta a opção do empresariado da BID, que oscila para a fabricação

37

de outros itens (de pouca ou nenhuma relevância para a defesa) em virtude da

pouca credibilidade em investimentos de longo prazo.

A capacidade de coordenação direta da BID pelo Estado brasileiro, através do

MD, foi o alvo buscado na terceira pergunta do questionário oferecido ao

empresariado da BID. A pergunta foi assim descrita: “Considerando que o Ministério

da Defesa é, na administração pública federal, um dos principais interessados nos

produtos e serviços advindos da Base Industrial de Defesa brasileira, qual sua visão

acerca da atual capacidade do Estado brasileiro na coordenação desse segmento

estratégico de nossa sociedade?”

As respostas foram assim distribuídas:

a) o Estado brasileiro é totalmente incapaz de coordenar os atores da BID a atingir seus objetivos;

2%

b) o Estado brasileiro dispõe de uma estrutura mínima e poucos recursos que o capacitem a coordenar a BID nacional;

49%

c) há estrutura suficiente no Estado brasileiro que lhe permite ações regulares de coordenação da BID nacional;

30%

d) a estrutura de que dispõe o Estado brasileiro é relevante, o que lhe permite ampla coordenação dos atores da BID nacional;

13%

e) o Estado brasileiro é totalmente capacitado às ações de coordenação da BID nacional, executando-as com efetividade e oportunidade.

6%

FIGURA 5: Percentuais de respostas à terceira pergunta do questionário.

Os resultados encontrados traduzem a percepção da maioria dos

entrevistados (49%) de que, muito embora haja uma base jurídica que sustente as

38

ações de governo, a estrutura e os recursos disponíveis no MD não convencem os

empresários de que esses recursos são suficientes para coordenar e supervisionar a

execução das Políticas por ele emanadas.

Um grupo significativo (30%) ainda acredita que os meios disponíveis no MD

são plenamente satisfatórios para sustentar as ações de sua competência.

A quarta e última pergunta analisa a percepção da BID sobre sua própria

capacidade de desenvolvimento e produção de itens de defesa e a concorrência no

mercado com os similares oriundos do exterior. Foi dessa forma enunciada:

“considerando os produtos sensíveis para a Defesa nacional, adquiridos pela

administração pública no mercado internacional, qual a visão de sua empresa?”

Distribuíram-se as respostas da seguinte forma:

a) não podem ser desenvolvidos no mercado nacional em virtude da inépcia das instituições de pesquisas científicas brasileiras em desenvolver tais tecnologias;

0%

b) as instituições científico-tecnológicas brasileiras podem desenvolver tais produtos até certo ponto, mas há limitações qualitativas ou quantitativas na capacidade industrial instalada, com sérios impactos na produção final;

17%

c) as instituições científicas brasileiras têm capacidades satisfatórias para o desenvolvimento das tecnologias de interesse da Defesa e a Base Industrial de assistir as demandas governamentais;

38%

d) o Brasil dispõe de excelentes instituições de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, com capacidades para assistir às necessidades da Defesa no desenvolvimento de produtos sensíveis e de alto valor agregado, oferecendo à indústria os projetos que seriam produzidos no mercado nacional;

30%

e) não há limitações para que as instituições científico-tecnológicas brasileiras venham desenvolver os produtos de interesse da Defesa brasileira, nem tampouco da Base Industrial instalada, que dispõe de elevada capacidade de produção ainda disponível.

15%

39

FIGURA 6: Percentuais de respostas à quarta pergunta do questionário.

A maior parcela dos entrevistados (68%) acredita que o país dispõe de

excelentes ou boas instituições científicas, que poderiam ser empregadas no

desenvolvimento de tecnologia crítica em projetos sensíveis e de elevado interesse

para a Defesa Nacional. É depreendido que tal percepção seja fruto da própria

vivência desses empresários junto a Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT),

permitindo-lhes apor assertiva nesse sentido.

40

6 CONCLUSÃO

O trabalho que ora se conclui teve como objetivo identificar em que medida o

Estado Brasileiro é indutor da estruturação e desenvolvimento da Base Industrial de

Defesa, com vistas ao incremento do Poder Nacional.

As análises contidas nos capítulos da pesquisa buscaram assistir o objetivo

do trabalho, considerando a proposição de Poder Nacional emanada pela doutrina

da Escola Superior de Guerra.

No segundo capítulo, foram apresentados um histórico situacional das

relações de consumo dos itens de defesa pelo Brasil, o apogeu da BID brasileira na

década de 1970 e os motivos de sua decadência após meados da década de 1980.

Também foi visto no capítulo que em outros mercados de destaque mundial, como o

norte-americano e o europeu, a BID daqueles países recebe incentivo direto e a

proteção de seus Estados de origem, o que lhes permite concorrer com empresas de

menor porte em vantagem totalmente assimétrica.

O capítulo terceiro procurou trazer à análise do trabalho a proposta de Ray

Steiner Cline, não obstante diversas outras teorias similares ou complementares,

que buscou, através de uma equação ponderada entre valores tangíveis e

intangíveis, atribuir valor ao Poder de cada Nação. A proposta de Cline, ainda que

tendo sido alvo de diversas críticas, possibilita o entendimento de que o Poder

Nacional é produto das ações de "poder duro" e de "poder brando", essas submissas

ou fortemente influenciadas pelas Políticas e pelas Estratégias definidas pela

administração pública. Em última análise, entende-se que o governo é o ator

principal na intenção do incremento do Poder Nacional.

O capítulo quarto buscou identificar as iniciativas já tomadas pelo Estado

brasileiro para que se criem as condições jurídicas necessárias ao fortalecimento da

BID nacional. Dessa forma, foram apontados diversos diplomas legais, Políticas e

Estratégias governamentais, demonstrando que o assunto vem sendo alvo de

discussões concretas pelos poderes Executivo e Legislativo, tendo como resultado

uma base legal sólida para que as ações de sustentação da BID sejam efetivadas.

No mesmo capítulo, a estrutura do Ministério da Defesa foi comentada, com maior

enfoque para suas atribuições de fomento da indústria de material bélico nacional.

A capacidade de produção autônoma de itens estratégicos para a Defesa

brasileira poderia assistir as pretensões nacionais de projeção e de manutenção da

41

sua estatura geopolítica. Na medida em que o país apontasse para a

autossuficiência em produção de material bélico de qualidade e em quantidade

suficiente para o preparo e emprego operacional de suas FA, uma postura

dissuasória importante seria definida, mormente junto aos países do bloco sul-

americano. Em sua realidade atual, as organizações de produção da BID brasileira

não conseguem competir com as indústrias similares estrangeiras, dentre aquelas

oriundas dos Estados Centrais.

Essa é a resposta encontrada pelo pesquisador para a primeira questão

norteadora7. Contudo, a mudança precisa ser orquestrada, uma vez que a

componente empresarial do processo não pode prescindir de mercado consumidor

para seus produtos. Em face dessa convicção é que os Estados detentores das

grandes organizações produtoras de material de defesa aplicam políticas

protecionistas, dando sustentação às suas bases industriais.

Os Estados Centrais verificaram, há tempos, que a proposição do poder

percebido, a qual relaciona o Poder Nacional com as variáveis de "poder brando" e

"poder duro", sugere quais os melhores caminhos para as ações positivas de

governo: serão tão mais poderosos os Estados que apresentem maior robustez

econômica e investimentos em suas capacidades militares (nelas incluída a BID),

utilizando-se de ações psicossociais que motivem a sociedade em torno de

propostas estratégicas de desenvolvimento.

O acentuado Poder Nacional verificado regionalmente pelo Brasil, na ótica da

proposta de Ray Cline, reside principalmente nas componentes territorial,

populacional e econômica. As demais variáveis conhecidas poderiam ser entendidas

como um conjunto de oportunidades de incremento desse modelo.

Constatou o pesquisador, como resultado auferido na pesquisa e resposta à

segunda questão norteadora8, que o Estado brasileiro está buscando alcançar corpo

suficientemente robusto para dar ensejo às ações de mais alto nível propostas.

Brasileiros labutaram arduamente para estruturar o país jurídica e

administrativamente, com vistas a indutar as condições necessárias ao modelo

desenvolvimentista. E é importante reconhecer as vitórias até então alcançadas.

Mas, de igual forma, é fundamental entender o espaço conquistado como apenas

7 "como se encontra situada a BID atualmente no Brasil?"

8 "em que medida a atual conformação do Estado brasileiro para o trato dos assuntos correlatos à BID nacional é

suficientemente estruturante desse segmento que integra o Poder Nacional?"

42

uma parcela do caminho que deve ainda ser percorrido até que o Brasil atinja uma

conjuntura satisfatória.

Na percepção de que este seja um momento histórico favorável ao comércio

de itens de defesa no mercado internacional, há que se preparar a indústria nacional

para o novo posicionamento, gerando, de igual forma, mercado para que possam

alavancar suas vendas.

Contudo, boa parte do empresariado ainda vê espaço para maior empenho

governamental. Julgam, por depreensão advinda da pesquisa realizada, que, não

obstante as iniciativas já tomadas pela administração federal, os esforços não são

abrangentes ou eficazes, atingindo ainda apenas alguma parcela dos atores. Essa é

a resposta à derradeira questão norteadora9.

Assim, persiste a sensação de que o planejamento de Estado para

desenvolvimento da BID dá-se no sentido das pretensões de adequação da

condição geopolítica do Brasil. Contudo, há uma possível carência de vontade

pública na priorização de ações desenvolvimentistas, principalmente no aporte de

recursos orçamentários compatíveis com as necessidades da estrutura de Defesa ou

na proteção desse segmento estratégico da indústria nacional.

Dessa forma, todas as ações governamentais até então planejadas ou

efetivadas ainda não foram suficientes para, na lógica do poder percebido,

incrementar o Poder Nacional brasileiro.

Uma boa notícia, constatada na pesquisa efetuada, foi a percepção do

empresariado de identificar, nas instituições científico-tecnológicas existentes no

país, capacidade suficiente para a pesquisa e o desenvolvimento da tecnologia

demandada pela indústria brasileira para a produção de itens atualizados com os

padrões internacionais observados. Tal percepção aponta para a possibilidade de

uma futura aproximação da academia com a indústria, na geração de tecnologia

aplicada através de financiamento público ou privado.

O pesquisador, no reconhecimento das sérias limitações impostas ao trabalho

realizado e da contundente importância do tema para a Defesa brasileira, oferece a

possibilidade de que novos estudos possam vir a considerar os aspectos não

observados, a partir das conclusões preliminares oferecidas, amadurecendo a

percepção sobre o assunto e servindo de subsídio para eventuais futuras aplicações

9 "em que medida os atuais atores da BID percebem o suporte governamental?"

43

desses conhecimentos em proveito do desenvolvimento da Expressão Militar do

Poder Nacional.

44

REFERÊNCIAS

AMARANTE, J. C. A. do. Indústria de Defesa. 2004. Disponível em: <http://www.ecsbdefesa.com.br/arq/Art%2056.htm> . Acesso em: 6 out. 2013. BRASIL. Decreto nº 3.665, de 20 de novembro de 2000. Dá nova redação ao Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados (R-105). Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3665.htm>. Acesso em: 7 out. 2013. ______. Decreto nº 5.484, de 30 de junho de 2005. Aprova a Política de Defesa Nacional. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5484.htm>. Acesso em: 7 out. 2013. ______. Decreto nº 6.703, de 18 de Dezembro de 2008. Aprova a Estratégia Nacional de Defesa. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/decreto/d6703.htm>. Acesso em: 7 out. 2013. ______. Decreto nº 7970, de 28 de março de 2013. Regulamenta dispositivos da Lei 12.598, de 22 de março de 2012, que estabelece normas especiais para as compras, as contratações e o desenvolvimento de produtos e sistemas de Defesa. 2013. Disponível em: <http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%207.970-2013?OpenDocument>. Acesso em: 15 set 2013. ______. Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004. Dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo. 2004. Disponível em: <http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2010.973-2004?OpenDocument>. Acesso em: 15 set 2013. ______. Lei nº 12.598, de 21 de março de 2012. Estabelece normas especiais para as compras, as contratações e o desenvolvimento de produtos e de sistemas de defesa; dispõe sobre regras de incentivo à área estratégica de defesa; altera a Lei nº 12.249, de 11 de junho de 2010. 2012. Disponível em: <http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2012.598-2012?OpenDocument>. Acesso em: 15 set 2013. BRASIL. Ministério da Defesa. Portaria Normativa nº 764/MD, de 27 de dezembro de 2002. Institui a Política de Compensação Industrial, Comercial e Tecnológica. Brasília, DF, 2002. ______. ______. Portaria nº 75/MD, de 10 de fevereiro de 2005. Dispõe sobre a ativação do Centro de Certificação, de Metrologia, de Normalização e de Fomento Industrial das Forças Amadas CCEMEFA e institui seus sistemas. Brasília, DF, 2005. ______. ______. Portaria nº 611/MD, de 12 de maio de 2005. Dispõe sobre a Instituição da Comissão Militar da Indústria de Defesa (CMID). Brasília, DF, 2005.

45

BRASIL. Ministério da Defesa. Portaria Normativa nº 899/MD, de 19 de julho de 2005. Aprova a Política Nacional da Indústria e Defesa (PNID). Brasília, DF, 2005. CLINE, Ray S. The Power of Nations in the 1990s: A Strategic Assessment. Lanham, MD: University Press of America, 1994. In: SERRÃO N. T.; LONGO W. P. Disponível em: < http://www.waldimir.longo.nom.br/artigos/130.doc>. Aceso em: 6 out. 2013. FIESP. Departamento da Indústria de Defesa. Análise do COMDEFESA sobre o orçamento da Defesa Nacional. São Paulo, SP, 2013. Disponível em: <http://www.defesanet.com.br/bid/noticia/11296/COMDEFESA----O-Investimento-na-DEFESA-NACIONAL/>. Acesso em: 15 set 2013. ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (Brasil). Manual Básico. Rev., atual. Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: <http://www.esg.br/cursos/estagiarios/>. Acesso em: 6 out 2013. FERREIRA, Marcos José Barbieri; SARTI, Fernando. Diagnóstico: Base Industrial de Defesa Brasileira. Campinas: ABDI, 2011. 54p. FONTOURA, L. O Poder na relação externa do Estado: a equação de Cline. 2012. Disponível em: <http://adelinotorres.com/africa/Luis%20Fontoura_O%20poder%20na%20rela%E7%E3o%20externa%20do%20%20Estado.doc>. Acesso em: 15 set 2013. HENRIQUES, M. C.; PARADELLO, A. Uma Fórmula de Soft Power. 2003. Disponível em: <http://cmomum.rcaap.pt/bitstream/123456789/1110/1/NeD113_MendoCastroHenriques_AntonioParadelo.pdf>. Acessado em: 15 set 2013. NYE, Joseph S. O paradoxo do poder americano. Por que a única superpotência do mundo não pode seguir isolada. São Paulo: Ed. UNESP, 2002. STOCKHOLM INTERNACIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE. Suécia, 2013. Sítio eletrônico SIPRI. Disponível em: <http://www.sipri.org/yearbook/2013>. Acesso em: 6 out 2013.

46

APÊNDICE A - Questionário sobre a Indução da Base Industrial de Defesa

Brasileira

Dirijo-me a Vossa Senhoria em virtude de sua empresa estar disposta no Catálogo

Oficial da LAAD Defense e Security 2013 (ali também descrito o endereço eletrônico

de contato) como integrante da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de

Defesa e Segurança (ABIMDE) e, assim, alvo desta minha pesquisa, cujos

resultados descreverei em meu Trabalho de Conclusão do Curso de Altos Estudos

de Política e Estratégia (CAEPE), da Escola Superior de Guerra (ESG).

A pesquisa tem por finalidade considerar a opinião de sua empresa quanto ao tema

"INDUÇÃO DA BASE INDUSTRIAL DE DEFESA BRASILEIRA".

Sua opinião permanecerá reservada e será utilizada exclusivamente na

consolidação da obra.

Assim, solicito sua ajuda na resposta das perguntas a seguir apresentadas. Desde já

agradeço sua compreensão.

Atenciosamente, Cel Cláudio Carneiro.

1) O desenvolvimento de qualquer segmento da sociedade, em específico aqueles

ligados às atividades científico-tecnológicas e de produção industrial, pode ser

implementado com investimentos orçamentários de governo proporcionais aos

resultados esperados. Qual a sua percepção acerca dos atuais investimentos

públicos na consolidação da BID nacional?

a) não há nenhum investimento de recursos públicos na BID nacional;

b) há pouco investimento governamental no desenvolvimento da BID, que se

mostram insuficientes para a consolidação do setor;

c) os investimentos públicos no desenvolvimento da BID são regulares e

satisfatórios;

d) há um relevante aporte de investimentos do governo nas ações de

estruturação da BID nacional;

e) o governo brasileiro assiste totalmente as necessidades orçamentárias dos

diversos atores da BID nacional.

47

2) Qual a visão de sua empresa em face da proposta de amadurecimento de uma

política governamental de desenvolvimento da BID nacional?

a) as políticas públicas são transitórias e historicamente desmerecedoras da

confiança da classe empresarial nesse segmento;

b) a vontade política para com o tema é pequena; poucos resultados

duradouros podem ser esperados;

c) a administração federal dispõe de capacidade e meios suficientes para

implementar uma política pública satisfatória de desenvolvimento da BID;

d) com a capacidade administrativa disponível atualmente e o aporte

orçamentário necessário, facilmente se amadurece uma política de Estado para o

desenvolvimento da BID nacional;

e) o Estado brasileiro tem plenas condições de perenizar uma política pública

de desenvolvimento e sustentabilidade da BID nacional.

3) Considerando que o Ministério da Defesa é, na administração pública federal, um

dos principais interessados nos produtos e serviços advindos da Base Industrial de

Defesa brasileira, qual sua visão acerca da atual capacidade do Estado brasileiro na

coordenação desse segmento estratégico de nossa sociedade?

a) o Estado brasileiro é totalmente incapaz de coordenar os atores da BID a

atingir seus objetivos;

b) o Estado brasileiro dispõe de uma estrutura mínima e poucos recursos que

o capacitem a coordenar a BID nacional;

c) há estrutura suficiente no Estado brasileiro que lhe permite ações regulares

de coordenação da BID nacional;

d) a estrutura de que dispõe o Estado brasileiro é relevante, o que lhe permite

ampla coordenação dos atores da BID nacional;

e) o Estado brasileiro é totalmente capacitado às ações de coordenação da

BID nacional, executando-as com efetividade e oportunidade.

4) Considerando os produtos sensíveis para a Defesa nacional, adquiridos pela

administração pública no mercado internacional, qual a visão de sua empresa?

a) não podem ser desenvolvidos no mercado nacional em virtude da inépcia

das instituições de pesquisas científicas brasileiras em desenvolver tais tecnologias;

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b) as instituições científico-tecnológicas brasileiras podem desenvolver tais

produtos até certo ponto, mas há limitações qualitativas ou quantitativas na

capacidade industrial instalada, com sérios impactos na produção final;

c) as instituições científicas brasileiras têm capacidades satisfatórias para o

desenvolvimento das tecnologias de interesse da Defesa e a Base Industrial de

assistir às demandas governamentais;

d) o Brasil dispõe de excelentes instituições de pesquisa e desenvolvimento

tecnológico, com capacidades para assistir às necessidades da Defesa no

desenvolvimento de produtos sensíveis e de alto valor agregado, oferecendo à

indústria os projetos que seriam produzidos no mercado nacional;

e) não há limitações para que as instituições científico-tecnológicas brasileiras

venham desenvolver os produtos de interesse da Defesa brasileira, nem tampouco

da Base Industrial instalada, que dispõe de elevada capacidade de produção ainda

disponível.