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Departamento de Ciência Política e Políticas Públicas O desempenho organizacional no setor público sob a ótica das capacidades organizacionais: um estudo de caso no âmbito da Rede Federal de Educação no Brasil Valdinei Cecilio Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Administração Pública Orientador: Doutor Francisco Nunes, Professor Auxiliar, ISCTE Business School ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa Junho, 2016

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Departamento de Ciência Política e Políticas Públicas

O desempenho organizacional no setor público

sob a ótica das capacidades organizacionais:

um estudo de caso no âmbito da Rede Federal de Educação no Brasil

Valdinei Cecilio

Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de

Mestre em Administração Pública

Orientador: Doutor Francisco Nunes, Professor Auxiliar, ISCTE Business School

ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa

Junho, 2016

i

Autor desconhecido

ii

Agradecimentos

Penso que o êxito de uma jornada, por mais solitária que pareça ser, depende daqueles que

"caminham" ao nosso lado. Assim, ao finalizar esta dissertação, só me resta agradecer

àqueles que direta ou indiretamente contribuíram para que eu chegasse até aqui, em especial:

A Deus, por mostrar as oportunidades na vida e por tornar real mais este sonho.

Ao professor Dr. Francisco Nunes, pela disponibilidade e orientação, por partilhar seus

conhecimentos e experiências e por ter mostrado o caminho a ser trilhado.

Ao professor Dr. Tomás de Aquino Guimarães, pela atenção dispensada na primeira fase

deste trabalho e por estimular um olhar mais crítico sobre as escolhas do caminho.

Aos meus pais, pelo exemplo e pelos princípios e valores transmitidos ao longo da minha vida,

estes pautados sempre pela honestidade, lealdade e respeito. E, também, por não darem

sempre tudo o que eu queria, mas sim tudo o que eu precisava, como o amor incondicional.

A minha esposa, pela compreensão, carinho e amor nesta fase especial de nossas vidas.

A minha família e amigos, pelo apoio e torcida e por entenderem minha “loucura” de ficar dois

anos longe de todos.

Ao Instituto Federal Catarinense e ao Campus São Francisco do Sul, pela disponibilidade,

acessibilidade e incentivo, e aos funcionários do IFC que gastaram seu precioso tempo para

responder ao questionário, tornando viável a realização da investigação.

A todos vocês, meu muito obrigado!

iii

Resumo

Este trabalho tem como objetivo analisar o desempenho organizacional percebido pelos

funcionários do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense (IFC), sob a

ótica da ambidextria contextual, aprendizagem organizacional, clima de serviço, força da

identidade e integração da visão, com base nas respetivas teorias de Birkinshaw e Gibson

(2004), Marsick e Watkins (2003), Schneider et al. (1998), Kreiner e Ashforth (2004) e Kohles

et al. (2012). Para tanto, apresenta-se uma breve revisão da literatura sobre as

especificidades do setor público, com foco na área educacional brasileira, e o contexto de

inserção e desafios atuais das organizações públicas, bem como a delimitação do tema

desempenho organizacional e os conceitos fundamentais, características e aplicações das

capacidades supracitadas. E, por fim, analisam-se os resultados da pesquisa empírica,

realizada em abril de 2016, por meio de questionário online direcionado aos técnico-

administrativos e professores do IFC, cuja amostra obtida foi de 173 participantes (10,5% da

população estudada). Os resultados sugerem a ambidextria contextual como principal preditor

direto do desempenho organizacional e a identidade organizacional como importante preditor

indireto da performance.

Palavras-chave: desempenho organizacional; ambidextria contextual; aprendizagem

organizacional; clima de serviço; identidade organizacional.

iv

Abstract

This research aims to analyze organizational performance perceived by employees of the

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense (IFC), from the perspective

of the contextual ambidexterity, organizational learning, service climate, strong identity, and

vision integration, based in the respective theories by Birkinshaw and Gibson (2004), Marsick

and Watkins (2003), Schneider et al. (1998), Kreiner and Ashforth (2004), and Kohles et al.

(2012). It presents a brief review the literature of the public sector specifics, with focus on the

Brazilian educational field, and the context and current challenges of public organizations, as

well as the delimitation of the organizational performance construct, and the basic concepts,

features and application of the above capabilities. And finally, we analyze the results of

empirical research, conducted in April 2016, by online questionnaire to teachers and

administrative employees, in a grand total of 173 participants (representing 10.5% of the

population). The results suggests the contextual ambidexterity as the main predictor of the

organizational performance, and the organizational identity as important indirect predictor of

the performance.

Keywords: organizational performance; contextual ambidexterity; organizational learning;

service climate; organizational identity.

v

Índice

Índice de Quadros .............................................................................................................................. vii

Índice de Figuras ............................................................................................................................... viii

Glossário de Siglas ............................................................................................................................. ix

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 01

CAPÍTULO I - ENQUADRAMENTO TEÓRICO ..................................................................... 05

1.1 ESTADO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: TEORIAS E REFORMAS ....................................................... 05

1.1.1 A evolução do Estado: conceitos, estruturas e funções ....................................... 06

1.1.1.1 As origens do Estado moderno ......................................................................... 06

1.1.1.2 O Estado de direito ............................................................................................ 08

1.1.1.3 O Estado-providência ........................................................................................ 10

1.1.2 A administração pública no contexto das funções do Estado ............................. 14

1.1.2.1 A Administração Pública Clássica ..................................................................... 15

1.1.2.2 A New Public Management ............................................................................... 17

1.1.2.3 A New Public Governance ................................................................................ 20

1.2 O DESEMPENHO ORGANIZACIONAL NO SETOR PÚBLICO ............................................................... 24

1.2.1 A avaliação da performance organizacional: níveis e dimensões ....................... 26

1.2.2 Por que medir o desempenho e o que medir? ........................................................ 27

1.2.3 A importância da qualidade como critério de desempenho ................................. 30

1.3 A INFLUÊNCIA DAS CAPACIDADES NO DESEMPENHO DAS ORGANIZAÇÕES ..................................... 31

1.3.1 A ambidextria contextual .......................................................................................... 33

1.3.1.1 Contexto e conceitos de ambidextria ................................................................ 33

1.3.1.2 A ambidextria contextual como resultado do contexto organizacional ............. 34

1.3.2 A aprendizagem organizacional ............................................................................... 36

1.3.2.1 Níveis e processos de aprendizagem organizacional ....................................... 37

1.3.2.2 As dimensões da cultura de aprendizagem organizacional .............................. 39

1.3.3 O clima de serviço ..................................................................................................... 42

1.3.3.1 Pressupostos: cultura, clima e comportamento organizacional ........................ 42

1.3.3.2 O clima de serviço e seus antecedentes e consequentes ................................ 45

1.3.4 A força da identidade e a integração da visão ........................................................ 47

1.3.4.1 Força da identidade e identificação organizacional .......................................... 48

1.3.4.2 A integração da visão organizacional ............................................................... 51

1.4 MODELOS TEÓRICOS DA INVESTIGAÇÃO ..................................................................................... 53

vi

CAPÍTULO II - MÉTODO ................................................................................................ 55

2.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA ................................................................................................ 55

2.2 A ORGANIZAÇÃO ....................................................................................................................... 57

2.3 MEDIDAS ................................................................................................................................... 59

2.3.1 O desempenho organizacional percebido .............................................................. 59

2.3.2 A ambidextria contextual .......................................................................................... 60

2.3.3 A aprendizagem organizacional ............................................................................... 60

2.3.4 O clima de serviço ..................................................................................................... 61

2.3.5 A força da identidade e a integração da visão ........................................................ 61

2.4 PROCEDIMENTOS PARA RECOLHA DE DADOS .............................................................................. 62

CAPÍTULO III - RESULTADOS ........................................................................................ 63

3.1 ANÁLISE FATORIAL .................................................................................................................... 63

3.2 ANÁLISE DESCRITIVA E CORRELACIONAL .................................................................................... 65

3.3 ANÁLISE DE REGRESSÃO COM AS VARIÁVEIS DE CONTROLO ........................................................ 66

3.4 ANÁLISE DOS MODELOS TEÓRICOS ............................................................................................. 67

CAPÍTULO IV - DISCUSSÃO .......................................................................................... 71

4.1 DISCUSSÃO DAS HIPÓTESES E IMPLICAÇÕES PRÁTICAS ............................................................... 72

4.2 LIMITAÇÕES E SUGESTÕES PARA INVESTIGAÇÕES FUTURAS ........................................................ 75

CONCLUSÃO ............................................................................................................... 77

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 79

ANEXOS ........................................................................................................................ I

ANEXO A – AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA NO IFC .....................................................I

ANEXO B – QUESTIONÁRIO APLICADO E MÉDIAS DAS RESPOSTAS ........................................................II

CURRICULUM VITAE ..................................................................................................... V

vii

Índice de Quadros

Quadro 1.1 – Elementos centrais dos principais modelos de gestão pública ............................. 14

Quadro 1.2 – Oito propósitos para a medição do desempenho organizacional ......................... 28

Quadro 1.3 – Sete critérios de desempenho organizacional ......................................................... 29

Quadro 1.4 – As sete dimensões da cultura de aprendizagem ..................................................... 40

Quadro 2.1 – Caracterização da amostra ......................................................................................... 56

Quadro 2.2 – Número de servidores do IFC por unidade de trabalho .......................................... 58

Quadro 3.1 – Resultados de confiabilidade e validade do modelo de mensuração ................... 64

Quadro 3.2 – Médias, Desvios Padrão e Correlações .................................................................... 65

Quadro 3.3 – Resultados da análise de regressão com as variáveis de controlo ...................... 67

viii

Índice de Figuras

Figura 1.1 – Tipos de contexto organizacional ............................................................................... 35

Figura 1.2 – A aprendizagem organizacional como um processo dinâmico ............................... 38

Figura 1.3 – Antecedentes e consequentes do clima de serviço .................................................. 46

Figura 1.4 – Contexto da identificação organizacional .................................................................. 50

Figura 1.5 – Processo de integração da visão ................................................................................ 52

Figura 1.6 – Modelo teórico da investigação ................................................................................... 54

Figura 1.7 – Modelo teórico alternativo ............................................................................................ 54

Figura 2.1 – Localização da Reitoria e Campi do IFC ..................................................................... 57

Figura 3.1 – Resultados do modelo teórico ..................................................................................... 68

Figura 3.2 – Resultados do modelo teórico alternativo ................................................................. 69

ix

Glossário de Siglas

ACP Análise de Componentes Principais

AVE Average Variance Extracted

CECOM Coordenação de Comunicação do IFC

CFI Comparative Fit Index

DF Degrees of Freedom

DLOQ Dimensions of the Learning Organization Questionnaire

Gespública Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização

IFC Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

NPG New Public Governance

NPM New Public Management

NPS New Public Service

RBV Resource-Based View

RH Recursos Humanos

Saeb Sistema de Avaliação da Educação Básica

SCP Structure-Conduct-Performance

Sinaes Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior

SPSS Statistical Package for the Social Sciences

SRMR Standardized Root Mean Square Residual

TAEs Técnico-Administrativos em Educação

TICs Tecnologias de Informação e Comunicação

TLI Tucker-Lewis Index

- 1 -

INTRODUÇÃO

Nas sociedades democráticas do final do século XIX e início do século XX, a exemplo do

Brasil nos anos de 1930, o Estado acaba por tornar-se responsável por áreas antes pouco

exploradas, como a das práticas sociais (Bresser-Pereira, 1996). É nesse contexto que se

desenvolve uma administração pública mais prestadora, onde o Estado passa a responder de

forma mais efetiva às necessidades dos cidadãos, buscando assegurar os interesses e

direitos individuais, bem como a prestação de serviços nas áreas da educação, saúde e

segurança pública (Caupers, 2006). A partir daí, os desafios e as necessidades de reformas

da administração pública têm sido um processo sistemático e permanente para os governos

ocidentais, com grande intensificação nas últimas décadas, em função da necessidade de

melhorar o desempenho e a legitimidade do setor público (Araújo, 2000).

Assim, a partir da década de 1980, o desempenho das organizações públicas passa a

ser tratado de uma forma mais sistemática, embora num primeiro momento, apenas como

símbolo e indicador de economia e eficiência, mais preocupado com a responsabilidade

financeira do que com os resultados dos serviços prestados aos cidadãos. Já num segundo

momento, ressalta-se a importância da medição da performance organizacional como uma

ferramenta de gestão capaz de fornecer, ao governo e aos gestores, as informações

necessárias à implementação de novos instrumentos para o aperfeiçoamento da gestão e

melhoria do desempenho das organizações públicas (Modell, 2004).

O caso da educação brasileira, como função do Estado e foco desta pesquisa, ocupa

um espaço específico no que se refere às experiências de avaliação de desempenho. Apesar

da existência do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e do Sistema Nacional de

Avaliação da Educação Superior (Sinaes), preocupados em promover a qualidade da

educação básica e superior brasileira, o que se percebe é que estas avaliações, por meio de

exames unilaterais de larga escala, pouco representam para a performance das escolas e

universidades. Assim, devido à ausência de um sistema de gestão do desempenho

organizacional, os gestores públicos e líderes acabam por não se preocupar tanto com os

- 2 -

resultados da organização, uma vez que não serão responsabilizados ou recompensados,

respetivamente, pelo mau ou bom desempenho.

De acordo com Yang et al. (2004), o caminho para a melhoria do desempenho

organizacional é altamente complexo e, muitas vezes, as organizações públicas precisam de

ferramentas para ajudá-las a descobrir onde estão, onde precisam estar e o que precisam

fazer para chegar lá. Sendo assim, um importante passo é a análise do contexto

organizacional, pois como defende Misoczky e Vieira (2001: 165), “o termo desempenho

expressa uma certa percepção do mundo e certas normas socioculturais, sendo, portanto, o

resultado de uma rede de significados que muda de um grupo social para outro”.

Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo diagnosticar o contexto

organizacional do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense (IFC), do

ponto de vista da influência da ambidextria contextual, aprendizagem organizacional, clima de

serviço, força da identidade e integração da visão no desempenho percebido pelos

funcionários. Para efeito neste estudo, estas capacidades organizacionais estão relacionadas

à gestão estratégica, integrada e coordenada dos comportamentos dinâmicos e dos recursos

organizacionais, atividades e capacidades comuns ou operacionais (Zollo e Winter, 2002;

Helfat e Winter, 2011), e visam auxiliar as organizações a enfrentar os desafios externos que

implicam mudanças nas suas rotinas e estratégias, seja por que a melhoria do desempenho

organizacional implica algum tipo de mudança ou, ainda, no caso das organizações públicas,

por que a tomada de decisões políticas pode afetar as práticas organizacionais.

Não obstante às diversas discussões sobre este assunto em diferentes áreas, como

inovação tecnológica, gestão do conhecimento, design e rotinas organizacionais, gestão

estratégica, etc. (Raisch e Birkinshaw, 2008), o destaque aqui vai para o importante papel dos

líderes e gestores públicos, na utilização estratégica dos recursos e capacidades

organizacionais, para a melhoria do desempenho da organização ou unidade de trabalho.

Como comprovam os resultados desta investigação, o desenvolvimento e aperfeiçoamento

das capacidades organizacionais pode ser um caminho promissor, pois, apesar da cultura da

administração pública não ser assim tão favorável à inovação e mudança, sua inércia já não

é mais tolerável diante das rápidas transformações no mundo atual e perante a necessidade

- 3 -

de atender às expectativas de uma sociedade cada vez mais exigente e consciente de seus

direitos como cidadãos.

Enfim, de acordo com o propósito do presente trabalho, este encontra-se estruturado

da seguinte forma: o primeiro capítulo aborda as questões teóricas, desde as mais

abrangentes – onde o período mais sistemático da administração pública será analisado com

mais detalhes, de maneira a facilitar a perceção dos desafios atuais do setor público e o

contexto de inserção e modernização das organizações públicas ao longo dos últimos tempos

– até as questões mais específicas, preocupadas em conceituar e delimitar os constructos em

estudo, com destaque para o desempenho organizacional no setor público e a relevância das

capacidades organizacionais para a performance das organizações.

O segundo capítulo trata do método, quantitativo do tipo inferencial, escolhido em

função da natureza deste estudo, com destaque para a amostra, a organização (objeto da

pesquisa), as medidas utilizadas e, também, os procedimentos para a recolha de dados, que

se deu por meio de questionário online, aplicado aos funcionários do IFC.

O terceiro capítulo descreve os resultados da investigação empírica, onde os modelos

de mensuração e estruturais (teste das hipóteses) são analisados por meio da técnica de

modelagem de equações estruturais.

No quarto capítulo, discutem-se os resultados (descritos no terceiro capítulo) em

comparação às respetivas teorias e elementos contextuais a disposição do investigador, com

foco nos resultados das hipóteses da investigação e suas implicações práticas. Também são

elencadas as principais limitações do estudo e algumas sugestões para investigações futuras.

E, por fim, a conclusão contempla as considerações finais sobre o trabalho como um

todo, além de ressaltar as contribuições gerenciais para o IFC.

- 4 -

- 5 -

CAPÍTULO I - ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.1 ESTADO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: TEORIAS E REFORMAS

Ao longo das diversas épocas que nos antecedem, as mais variadas sociedades e suas

instituições têm passado constantemente por processos de mudanças. Assim, historicamente,

as funções e estruturas da administração pública têm sido influenciadas por essas instituições,

a exemplo da hierarquia, normas e valores da Igreja Católica, do legado militar e jurídico do

Império Romano, do espaço institucional e administrativo criado pelo Estado moderno, dentre

outras. Neste sentido, a administração pública é vista como “uma instituição que se adapta,

transforma e acompanha a evolução do conjunto da sociedade e das suas instituições, por

um lado, e como uma entidade com estrita relação com o Estado ou modelo de Estado com

o qual coexiste, por outro” (Mozzicafreddo e Gouveia, 2011: 5).

O Estado, por sua vez, também é resultado do processo histórico, político e social,

inerente a cada sociedade em seu tempo e espaço. No início do século XVIII, desenvolvem-

se as principais estruturas políticas características do Estado moderno, como podem ser

encontradas na base da maioria dos Estados atualmente (Strayer, 1986). É neste contexto

que se desenvolvem o Estado de direito, as constituições liberais e, posteriormente, a

democracia (Gomes, 2010; Canotilho, 1999) e, assim, são garantidos os direitos de cidadania

civil e política. Já no início do século XX desenvolve-se o Estado-providência, preocupado em

assegurar também os direitos sociais incorporados ao Estado. Porém, não obstante à

importância do Estado-providência na garantia dos direitos de cidadania no decorrer do século

passado, pelo menos nas últimas três décadas, as consequências negativas do compromisso

histórico assumido são sentidas, seja na incapacidade de redução das incertezas sociais e

económicas ou na dificuldade da partilha dos valores de regulação com base no interesse

público (Mozzicafreddo, 2008).

Com a consolidação do Estado moderno no início do século XX, as estruturas e

funções do Estado (confiadas aos poderes legislativo, executivo e judiciário) tornam-se cada

vez mais complexas e, desde então, as necessidades de reformas da administração pública

- 6 -

têm sido um processo sistemático e permanente. Assim, há o surgimento de novas teorias e

modelos de gestão e organização da administração pública, a exemplo da teoria da

organização económica e social, com a construção de um tipo “ideal” de burocracia, idealizada

por Max Weber no início do século XX (Pitschas, 2007); da teoria gerencial defendida pelo

modelo da New Public Management (NPM) a partir das décadas de 1970/80; e da New Public

Governance (NPG), modelo teórico de um novo processo de gestão e governação (Bevir,

2013) enraizado na teoria institucional das redes e preocupado com as complexas relações,

interesses e valores da sociedade no século XXI (Castells, 2004).

Assim, por meio de uma perspetiva teórica, a seguir são analisadas algumas

especificidades do Estado e da administração pública, no contexto da história ocidental, com

ênfase na trajetória mais recente e sistemática da administração pública. Desta maneira,

procura-se compreender a essência dos caminhos percorridos, com o objetivo de perceber

melhor o contexto e os desafios atuais das organizações públicas, especialmente no que se

refere ao desempenho organizacional e à qualidade na prestação dos serviços públicos, face

à necessidade de atender às expectativas da sociedade atualmente.

1.1.1 A evolução do Estado: conceitos, estruturas e funções

1.1.1.1 As origens do Estado moderno

Hoje quando se fala do Estado e suas estruturas – muito se reclama de suas exigências e do

alto preço pago pela sua manutenção – é como se ele sempre tivesse existido. Porém, houve

épocas em que o ser humano tinha poucas opções até para a sua própria sobrevivência,

sendo servo ou escravo, não fazia parte do grupo religioso dominante e não tinha vínculo com

a comunidade local e, muitas vezes, com a própria família, sem falar na sua segurança e

oportunidades, praticamente inexistentes. Os valores dessa época mudaram muito até os

tempos atuais, mas as necessidades humanas continuam a ter um importante papel na

sociedade. Sempre houve um forte sentimento de obrigações mútuas e de ajuda ao próximo,

mas a sociedade era incapaz de se organizar de maneira a extrair o melhor proveito dos

- 7 -

recursos disponíveis para o seu benefício. Assim, surgem os primeiros sinais do nascimento

do Estado moderno, como sinónimo de uma forma de organização que veio para satisfazer

as necessidades da população de um modo geral (Strayer, 1986).

Strayer (1986) lista os três principais sinais que levam ao surgimento do Estado. O

primeiro deles é o da continuidade no tempo e no espaço, criado pelo trabalho em conjunto

feito por um longo tempo e pelo estabelecimento de instituições e territórios permanentes. O

segundo refere-se à criação de instituições políticas, de caráter impessoal, com condições de

sobreviver a situações adversas, como a alteração de lideranças e a falta de cooperação entre

os diversos grupos de interesse, possibilitando assim, o fortalecimento de uma identidade

política com a comunidade. O terceiro sinal diz respeito à lealdade integral ao Estado e seus

interesses, que devem estar acima de todos os outros. Portanto, a sua preservação passa a

ser considerada o maior bem social, prevalecendo à família, à organização religiosa e à

comunidade local. Levando em consideração que estas mudanças se dão de forma lenta e

gradual, não é possível afirmar com exatidão o referido tempo em que a lealdade ao Estado

se tornou dominante, nem quando a preservação do Estado passou a ser vista como um bem

supremo pela maioria dos súditos. Porém, ainda nos séculos XII e XIII, na Europa Ocidental,

já era possível identificar os sinais e elementos básicos do Estado moderno.

Já durante os séculos XIV e XV, devido às diversas guerras ocorridas, o processo de

constituição do Estado foi retardado, para não dizer interrompido. Porém, apesar de todos os

transtornos registados no final da Idade Média, as estruturas administrativas básicas do

Estado foram preservadas e aprendeu-se muito com as crises ocorridas, que acabaram por

evidenciar as deficiências do funcionamento e da organização do Estado, aspetos de total

relevância para as reformas que viriam a seguir. O desejo de paz, segurança e estabilidade

eram latentes e o apoio ao governo começou a crescer, de uma maneira geral, vindo de todas

as classes, culminando assim, com o sucesso e consolidação do Estado no século XVI. No

século seguinte, os governos centrais atingiram uma certa eficácia na tomada de decisões e

no controlo sobre os condados e províncias, ainda que com certa fragilidade e sutileza, devido

as distintas necessidades. Já no início do século XVIII, apesar do Estado estar longe de ser

uma democracia, viu-se implantar e desenvolver as principais estruturas políticas

características do Estado moderno, tal como podem ser encontradas na origem de grande

- 8 -

parte dos estados atualmente, com destaque para a organização burocrática e a importante

relação entre políticos e burocratas. Enfim, o governo passou a ter de justificar e explicar as

suas decisões à classe dominante e seguir as determinações legais do Estado e, a partir daí,

já não era mais possível pensar no mundo sem a instituição do Estado (Strayer, 1986).

1.1.1.2 O Estado de direito

Sem se deter aos precedentes históricos, além do exposto acima, cabe citar apenas mais três

por serem antecedentes relevantes e importantes para desenvolvimento do Estado de direito.

É o caso do Reino das Leis de Aristóteles e a Politeia Ideal de Platão1, o Pensamento Medieval

da Liberdade de Direito2 e o Estado de Polícia como Poder Ilimitado do Monarca3. É nesse

último contexto que, no século XVIII, a burguesia reage contra o Estado de Polícia e contra

os desmandos do príncipe, decorrentes do seu poder discricionário e ilimitado, que

ocasionavam a falta de previsibilidade e segurança, além de constrangimentos individuais. As

exigências de autonomia e autorregulação da vida económica, de publicidade nos negócios

do Estado e de uma participação mais efetiva da sociedade nas discussões acerca das

questões nacionais de seu interesse, além de reivindicações da liberdade individual, levaram

a um processo de racionalização do Estado, cuja limitação e personalização jurídica tornou-

se fundamental para a construção do Estado de direito. “O monarca, que até então se

identificava com o Estado, passa a ser apenas um dos órgãos da pessoa jurídica Estado, ao

mesmo tempo que os seus anteriores direitos senhoriais se convertem em faculdades

orgânicas, definidas e limitadas pela Constituição” (Novais, 2006: 44).

1 Segundo Novais (2006), a incompatibilidade do Estado grego com o Estado de direito se dá

principalmente por causa do poder ilimitado daquele, mesmo diante dos homens livres, sem falar na

legitimidade da escravidão, considerado um instituto legal à época.

2 Na Idade Média não encontramos os direitos fundamentais do homem como uma esfera

independente, pois o direito era tratado apenas como privilégio (Novais, 2006).

3 Considerado como uma segunda fase do Estado Absoluto, este é considerado um anti modelo, ou

ainda, um Estado acima do direito, onde cabia ao príncipe alcançar os fins do Estado (Novais, 2006).

- 9 -

O poder soberano viu-se submisso ao direito, e com o reconhecimento dos direitos

naturais do homem e a divisão funcional do poder, de acordo com o discurso teórico do

liberalismo, a limitação jurídica do Estado acabou por impor os limites, o âmbito e a base de

ação da própria administração pública, por meio das leis e instrumentos de controlo

jurisdicional. Esta é uma situação completamente nova, onde o direito de propriedade

claramente evolui e os novos direitos naturais dos indivíduos atingem um alcance universal.

Direitos estes que se veem refletidos nas diversas declarações de direito, a exemplo da

Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776), Declaração Francesa de Direito do

Homem e do Cidadão (1789) e, posteriormente, nas Constituições liberais do século XIX

(Gomes, 2010).

O século XIX ficou marcado pelos movimentos e ideias liberais na Europa e na

América, contexto histórico de luta política em que se desenvolve o Estado de direito, com a

pretensão de racionalizar o Estado e obter a proteção dos direitos dos indivíduos. Como efeito,

surgem diversas expressões que, apesar de se fundamentarem em culturas e valores

distintos, exprimem o mesmo projeto de fundo, como o Estado de direito (Rechtsstaat) na

Alemanha, o Império do direito (Rule of Law) na Inglaterra e o Estado constitucional (État

Constitutionnel) na França e (Government Under Law) nos Estados Unidos (Novais, 2006).

Para Hespanha (2009), o modelo de Estado e direito, legado do liberalismo político

clássico ocidental, ainda está a fazer parte do mundo do direito e da política, embora esteja a

mudar rapidamente devido ao atual processo de globalização. Esse legado se reflete na

própria estrutura do Estado, com o poder legislativo unilateral e a sua ligação com o direito, o

interesse público como objetivo fundamental do direito e também na relação exclusiva de

pertencimento entre território, indivíduo, direito e Estado.

Neste sentido, o Estado de direito é uma criação jurídica da cultura política do

Ocidente, cujas dimensões fundamentais e princípios básicos se refletem num governo de

leis, na divisão de poderes, com supremacia do legislador, na criação de tribunais

independentes, no pluralismo político, na constituição de mecanismos jurídicos para o

exercício do poder, num sistema estadual submisso aos princípios do controlo e

responsabilidade e na valorização de garantias, liberdades e direitos. Para legitimar estes

princípios e valores o Estado de direito precisa ter instituições, ações e procedimentos que

- 10 -

visem a efetivação de um poder democrático e a consequente promoção da liberdade e

igualdade dos cidadãos, de segurança e proibição da discriminação individual e coletiva e da

responsabilização dos membros do poder pelos seus atos praticados (Canotilho, 1999).

Ao longo da história, para alcançar os seus princípios e valores, o Estado de direito

acabou por se deparar com algumas transformações, como visto acima, primeiro de um

Estado de direito para um Estado constitucional de direito e, a seguir, para um Estado

constitucional, de direito e democrático. Nesta última dimensão, a democracia acrescenta às

regras do Estado constitucional, uma ordem de domínio legitimada pelo povo, ou seja, o poder

do Estado deve ser organizado e exercido democraticamente, levando em consideração a

relação entre o Estado constitucional, o poder e o direito. Mas, cabe ressaltar que nem sempre

essa relação foi bem vista e aceita, houveram muitas controvérsias a serem explicadas acerca

da associação entre Estado de direito e democracia. Há quem considere apenas modos

diferentes de conceber a liberdade, porém, não seria plausível falar em liberdade sem falar

em legitimidade, seja ela referente ao exercício do poder político, ao processo de legislar ou,

ainda, aos direitos fundamentais. E estes foram os elementos (democráticos) que faltavam ao

Estado constitucional e que, de certa forma, vieram para garantir o princípio da soberania

popular, aqui identificado como um ponto de encontro entre o Estado de direito e o Estado

democrático. Enfim, pode-se dizer que a teoria sobre o Estado democrático de direito centra-

se em duas ideias principais: a limitação do Estado pelo direito e a legitimação do poder

político pelo povo (Canotilho, 1999).

1.1.1.3 O Estado-providência

Mozzicafreddo (2000) sintetiza a evolução do Estado-providência, ou welfare state, de acordo

com a sua atuação e o seu papel na sociedade, de modo a diferenciar suas estruturas

institucionais e funcionais. Numa primeira fase, no final do século XIX, se estabelecem as

primeiras medidas sociais, ainda que de forma residual, com características ideológicas

humanitárias e assistenciais. Já na primeira metade do século XX, desenvolve-se a segunda

fase do Estado-providência, onde são implementados, de forma universal e redistributiva,

- 11 -

alguns dos mais importantes sistemas sociais. Este período ficou marcado também pela forte

recessão da economia e pela fragmentação das estruturas sociais, o que levou o Estado a

intervir no mercado económico e na sociedade, caracterizando deste modo um Estado mais

protetor. Na terceira fase, entre 1945 e a década de 1980, pode-se dizer que o Estado-

providência viveu o seu auge. Foi um período de consolidação de sua estrutura, de

consistência universal, contínua e articulada de ação social, de modo a responder as

exigências e as necessidades sociais dos cidadãos. Um forte avanço intervencionista na

economia e na política também era percetível, assim como o pleno desenvolvimento dos

direitos de cidadania. Porém, a partir dos anos 1975/80 a realidade começa a mudar,

consideravelmente, para um sistema institucional ancorado na redistribuição da renda, com

um Estado mais regulatório e estruturado de maneira mais pluralista, onde há a instituição de

esquemas sociais diversificados, considerável autonomia da esfera privada e uma forte

regulação da economia no seu nível macro.

Para perceber melhor o nascimento do Estado-providência, é importante pensar no

surgimento do cidadão, visto aqui pela ótica das relações do Estado com os indivíduos ao

longo do tempo. Sendo assim, segundo Silva (1997), a constituição da cidadania divide-se em

três elementos, concebidos ao longo da história como forma de legitimar a autoridade do

Estado e a sua relação com a sociedade. O primeiro elemento assegurado, entre o século

XVIII e início do século XIX, foi o da cidadania civil, expresso pelo direito à justiça e às

liberdades individual, de pensamento, de expressão e de religião e surge como resposta às

ameaças à vida, à identidade e à propriedade. O segundo elemento consiste na cidadania

política, conquistada entre o final do século XIX e início do século XX, onde nasce o direito à

participação democrática e ao exercício do poder político. Aqui o cidadão passa a ser eleitor

e/ou eleito e esta fase está relacionada com o Estado democrático, já mencionado, onde

aparecem os partidos políticos, parlamentos representativos e órgãos de poder local. Por fim,

o terceiro elemento diz respeito à cidadania social e traz à tona os direitos sociais e

económicos, do acesso à segurança social ao padrão de vida do cidadão. Cabe então ao

Estado-providência, como instituição formal, intervir sempre que necessário para assegurar e

garantir os direitos sociais incorporados ao Estado, assim como os direitos civis e políticos.

- 12 -

Nos Estados modernos essa relação é concebida de três formas distintas, a primeira

tem a ver com o monopólio do Estado na execução da lei, a segunda tem o indivíduo como

criador e depositário da soberania e a terceira refere-se à dependência dos indivíduos às

provisões do Estado, no que compete ao fornecimento de bens e serviços públicos. De acordo

com o pensamento de Claus Offe, grande sociólogo político, são essas dimensões que

consolidam o estatuto de cidadão, indo de encontro com a perspetiva de Marshall, sobre o

desenvolvimento do estatuto da cidadania. Assim, o surgimento do cidadão tem a ver com o

resultado do progresso da sociedade industrial, com a evolução da estrutura do Estado e da

maneira com que este lida com as relações sociais (Silva, 1997).

Porém, cabe ressaltar que a constituição da cidadania apresenta um grande contraste

entre suas realizações e suas limitações. Em termos legais, quando se aceita que todas as

pessoas são iguais diante da lei, sem privilégios de qualquer natureza, pode significar que o

estatuto de cidadão não está ao alcance de todos aqueles que o deveriam possuir. Ou seja,

quando a cidadania é concebida sem levar em consideração as desigualdades de classes

sociais, por exemplo, os desfavorecidos geralmente ficam excluídos da devida participação

comunitária, na prática. E é esta exclusão, aliada aos direitos de cidadania formais apenas,

que leva à ineficácia da posse da cidadania (Barbalet, 1989).

A eficácia dos direitos sociais de cidadania, principal foco do Estado-providência, só é

alcançada na medida em que o padrão de vida do cidadão for liberto da dependência do

mercado e, assim, garantido independente do seu desempenho económico individual. Para

isso é fundamental a harmonização entre crescimento económico e políticas sociais e a

existência de uma coesão e integração social, e que estas sejam sustentáveis, visando a

inserção plena do indivíduo na sociedade e conferindo-lhe um sentimento de pertença a ela

(Silva, 1997).

Assim, o Estado-providência, além de um modelo de intervenção e correção das

desigualdades, torna-se um importante “sistema estratificador”, ou seja, “o seu funcionamento

contribui, pela ação política, para uma relativa alteração da estratificação social nas

sociedades, não apenas naquilo que Marshall denominou a lógica da cidadania e a promoção

da igualdade de oportunidades mas, sobretudo, reorganizando as relações sociais e a

- 13 -

situação social dos indivíduos” (Mozzicafreddo, 2000: 23). Na prática, este sistema concretiza-

se com a redistribuição de renda, mobilidade social e correção das disfunções do mercado.

Porém, com o avanço das políticas sociais e o crescimento da complexidade das

atividades estatais a partir do último quarto do século XX, o Estado-providência tem se

mostrado incapaz de garantir uma coesão nacional, sobretudo, pela sua incapacidade de

conferir o estatuto de cidadão a todos os indivíduos. E com o despontar do século XXI, as

exigências de modernização e de um novo conceito funcional para o Estado estão a ficar cada

vez mais evidentes. Torna-se cada vez mais difícil para o Estado moderno acomodar as

demandas da sociedade num mercado globalizado, onde a dinâmica da “sociedade em rede”

é, atualmente, incompatível com a lenta capacidade de constituição e adaptação do direito e

das estruturas do Estado para o atendimento de novas exigências. Se, por um lado, o

processo de globalização estimula uma realidade sempre em mutação, por outro, a rigidez

demasiada da regulação normativa tradicional torna a relação entre Estado e mercado cada

vez mais fria e conflituosa (Hespanha, 2009).

Assim, um dos paradigmas da evolução do Estado, na pós-modernidade, está na ideia

da descentralização e redistribuição das responsabilidades entre Estado, mercado e

sociedade, no que diz respeito a uma gestão conjunta e global para o desenvolvimento local,

nacional e internacional. E para isso, será fundamental a integração e cooperação entre

instituições políticas, nacionais e transnacionais, bem como, entre os setores público e

privado, alinhados a um controlo democrático que consiga atender os diversos interesses e,

acima de tudo, o interesse público (Pitschas, 2007).

Enfim, é visto que a realidade atual tem sido um grande desafio ao Estado e seu papel

regulador da sociedade, seja pelas dificuldades de reforma e modernização do setor público

ou pela falta de respostas às expectativas da sociedade, sem falar nas novas relações que

tem a gerir num mundo cada vez mais complexo. O Estado está a perder sua legitimidade e

é nesse contexto que surge a necessidade, mais do que nunca, de se repensar o seu papel

na sociedade, com vistas a enfrentar os complexos desafios da atualidade.

- 14 -

1.1.2 A administração pública no contexto das funções do Estado

Como já referido, o Estado e a administração pública passam por um período de grandes

desafios, porém, cabe ressaltar que ao longo dos últimos tempos os desafios e as

necessidades de reformas da administração do Estado têm sido um processo sistemático e

permanente para os governos ocidentais, com grande intensificação nas últimas décadas.

Enquanto a administração pública clássica confiava, sobretudo, na capacidade de auto

estruturação das organizações burocráticas para melhorar o seu desempenho, a

administração contemporânea, baseada nos princípios da NPM, introduziu novas formas de

resolver seus problemas, com alterações significativas na sua própria estrutura institucional,

bem como, em suas normas, crenças e valores (Araújo, 2000). Mas talvez tenha chegado a

hora de olhar ainda mais à frente, para uma nova forma de conceber a administração pública,

em conformidade com a complexidade da sociedade de hoje. Neste caso, as diretrizes da

NPG tendem a ser uma saída para a reforma do setor público e superação dos desafios atuais.

Talvez seja muita pretensão querer sintetizar num simples quadro o contexto de cada

modelo ou reforma proposta ou implementada em diversos países, porém, o quadro a seguir

Quadro 1.1 – Elementos centrais dos principais modelos de gestão pública

Administração

Pública Clássica

New Public

Management

New Public

Governance

Raízes teóricas Ciência política e

políticas públicas

Teoria da escolha

pública e gerencial

Teoria institucional e

de rede

Natureza do Estado Unitário Regulatório Plural e pluralista

Foco O sistema político A organização A organização em seu

ambiente

Ênfase

Criação e

implementação

de políticas

Desempenho

organizacional e

gestão dos recursos

Negociação de valores,

desejos e relações

Mecanismo de

alocação de

recursos

Hierarquia

Mercado e

contratos clássicos ou

neoclássicos

Redes e contratos

relacionais

Natureza do

sistema de serviços Fechado Racional aberto Flexível

Base de valores Caráter do setor

público

Eficácia da

concorrência e do

mercado

Dispersa e contestada

Fonte: Adaptado de Osborne (2010: 10)

- 15 -

possibilita uma visão mais ampla dos principais modelos de gestão pública. De maneira

resumida e introdutória, o quadro 1.1 mostra algumas das principais características das

grandes teorias que têm orientado as reformas no setor público pelo mundo, ao longo do

século passado e início deste. Na sequência, este período mais sistemático da administração

pública será analisado com mais detalhes, sob um olhar crítico acerca dos caminhos trilhados,

com o objetivo de perceber melhor os desafios atuais da administração pública e o contexto

de inserção das organizações públicas.

Assim, a propósito deste trabalho e não obstante a complexidade da relação entre os

papéis da Constituição, interesse público, mercado económico e soberania do Estado, a

administração pública é aqui definida como o “uso de teorias, práticas e processos gerenciais,

políticos e legais para cumprir as funções legislativa, executiva e judicial do Estado na

condução das funções governamentais de regulação e prestação de serviços" (Rosenbloom

et al., 2009: 5).

1.1.2.1 A Administração Pública Clássica

Nas sociedades democráticas, a exemplo da Europa ocidental no final do século XIX, dos

Estados Unidos da América no início do século XX e do Brasil nos anos de 1930 (Bresser-

Pereira, 1996), o Estado acaba por tornar-se responsável por áreas antes pouco exploradas,

como a das práticas sociais. É nesse contexto que se desenvolve uma administração pública

mais prestadora, onde o Estado passa a responder às necessidades dos cidadãos, seja na

prestação de segurança social, assegurando interesses e direitos individuais, como na

prestação de serviços nas áreas da saúde, educação e segurança pública (Caupers, 2006).

Assim, o conceito e as estruturas da administração pública, até então de natureza

jurídico-institucional, são complementadas por uma racionalidade mais política e social,

aspetos fundamentais para a consolidação do Estado moderno e legitimação da função

administrativa perante o Estado de direito, o sistema democrático e a cidadania. Com isso, a

administração pública precisou adequar-se à nova realidade e acaba por assim o fazer através

de uma grande reforma na maneira de administrar e trabalhar, face a necessidade de

- 16 -

procedimentos e organizações mais profissionais e impessoais, resultante do contexto de

mudança política, económica e social e, particularmente, do desenvolvimento industrial e do

nascimento das sociedades de massas (Mozzicafreddo e Gouveia, 2011).

De acordo com Pitschas (2007), é nesse contexto que nasce a teoria da organização

económica e social, com a construção de um tipo ideal de burocracia, idealizada por Max

Weber (também chamada de organização profissional weberiana). Influenciado pela

administração pública europeia, esse modelo de organização não refletia integralmente a

realidade da época, pois foi concebido como um modelo ideal para contrapor às deficientes

práticas administrativas vigentes. Mas logo a organização profissional weberiana acaba por

apresentar as suas vantagens, a exemplo do êxito das autoridades na coordenação e

comando das atividades administrativas, garantia de uniformidade e controlo jurídico, melhoria

na eficiência e produtividade administrativa (graças à especialização funcional) e ainda há o

tratamento impessoal e imparcial dos cidadãos, que propicia maior igualdade no atendimento.

Porém, se de um ponto de vista mais político e generalista este modelo apresenta suas

vantagens, numa visão mais gerencial e singular muitas de suas características se revelam

disfuncionais. A centralização na tomada de decisões acaba por promover o frequente

bloqueio à participação dos cidadãos e iniciativas individuais dos funcionários; o sistema muito

rígido de regras e regulamentos, muitas vezes, gera procedimentos e formalismos

administrativos inúteis e desnecessários; e a impessoalidade e imparcialidade nos

relacionamentos acaba por se mostrar um problema, pois impossibilita a devida atenção às

necessidades individuais e específicas (Pitschas, 2007).

Enfim, a organização profissional weberiana, como expoente máximo da

administração pública clássica e como modelo gestionário promotor de uma visão impessoal

dos indivíduos e orientado para os valores tradicionais de gestão (economia, eficiência e

eficácia), foi aos poucos perdendo seu espaço, especialmente com o grande crescimento do

welfare state. Porém, o modelo “burocrático” ainda é visto como um valioso instrumento e até

mesmo indispensável ao Estado e à administração pública, seja pelo importante papel na

promoção do desenvolvimento económico ou por ser um dos grandes responsáveis pelo

funcionamento das infraestruturas sociais, técnicas e estruturais (Pitschas, 2007).

- 17 -

1.1.2.2 A New Public Management

Não obstante as especificidades histórica, política, económica ou social de cada país, é a

partir da década de 1970 que o mundo vê nascer uma administração pública mais

conformadora, sobretudo nos países desenvolvidos, como resposta aos problemas gerados

pelo crescimento exponencial do Estado-providência e a necessidade de redefinição das

funções do Estado e da sua burocracia. Assim, o Estado passa a inserir-se menos na posição

de prestador e mais na posição de regulador e criador de condições favoráveis para a

prestação indireta de assistência e serviços à sociedade (Caupers, 2006).

Contudo, a implementação de reformas no setor público, com base na teoria gerencial

(managerialism) e como resposta à crise do Estado-providência e à globalização da

economia, só se dá efetivamente a partir da década de 1980, a exemplo da criação das

agências executivas (Next Steps) na Grã-Bretanha em 1987, do programa National

Performance Review nos EUA em 1993 (baseado na ideologia do Reinventing Government,

de Osborne e Gaebler) e da reforma gerencial da administração pública no Brasil a partir de

1995, por meio do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, que culminou com a

emenda constitucional da reforma administrativa, em 1998 (Bresser-Pereira, 2000). Estas

reformas ficaram marcadas pelo ataque ao modelo burocrático, refletidas na tendência de

descentralização do poder, que, por um lado, dá mais autonomia e flexibilidade aos gestores

públicos e, por outro, aumenta a responsabilidade pela gestão e a cobrança por melhores

resultados (Pitschas, 2007).

Desta forma, influenciada pelo novo institucionalismo económico e pela teoria

gerencial, com a adoção de práticas do setor privado, a New Public Management (nova gestão

pública), surge como um modelo gestionário que objetiva solucionar os problemas de uma

estrutura burocrática ineficiente e problemática, agravada pelas crises económicas em muitos

países, pela limitação dos recursos públicos e pela necessidade de adaptação à economia

internacionalizada e ao novo direito (New Right) voltado para o mercado. Assim, “orientados

pela teoria da Públic Choice, e atraídos pela ideia de introduzir critérios de economia e

eficiência nos serviços públicos, os governos desenvolveram um intensivo programa de

- 18 -

reformas. A finalidade era introduzir instrumentos de gestão e, através da privatização, reduzir

a dimensão do setor público” (Araújo, 2000: 42).

Pelo menos ao longo dos últimos 30 anos, os padrões, princípios e ferramentas da

NPM têm sido gradativamente introduzidos nas organizações públicas. Assim, baseado na

literatura e nas práticas vigentes nos países da OCDE, é possível identificar três padrões de

reformas com base na nova gestão pública, a saber: o primeiro, chamado de eficiente ou de

mercado; o segundo, denominado downsizing, descentralização e flexibilidade; e o terceiro,

modelo de excelência ou qualidade. Com base nestes modelos é possível extrair um grande

número de princípios comuns, como resultado das tendências da NPM, que direcionam a

prioridade das ações para determinados objetivos, como a melhoria na prestação dos serviços

públicos, a modernização dos processos (tornando-os mais flexíveis e adaptáveis), a

clarificação dos objetivos a serem alcançados, a definição sistemática de critérios de

avaliação de desempenho coletivo e individual e, ainda, o desejo de se obter economia

através do aumento da produtividade organizacional (Giauque, 2003).

Quanto aos efeitos da introdução das novas medidas e ferramentas de gestão nas

organizações públicas, não era de se esperar que uma organização estruturada de forma

altamente hierárquica viesse a funcionar de maneira flexível, da noite para o dia, apenas com

a implementação de uma determinada medida ou ferramenta, portanto, estas têm sido

aplicadas progressivamente durante o processo de mudança, em maior ou menor grau de

acordo com a realidade de cada país. Ainda assim, no âmbito das reformas da administração

pública com base na NPM, tendo em conta fatores administrativos, políticos e técnicos, Peters

(2001) destaca um padrão geral inerente à maioria dos países da OCDE, no que se refere às

abordagens e ao ciclo da mudança, nomeadamente, em seus aspetos estruturais, de

capacitação, processual, de desregulamentação e de equiparação ao mercado.

As mudanças estruturais são identificadas, principalmente, com a redução de escalões

hierárquicos e a transferência de poderes dos governos centrais e ministérios para governos

locais e novas organizações, estas comumente chamadas de agências. A capacitação, por

sua vez, é usada como instrumento para atribuir poder aos funcionários de baixo escalão e

até mesmo aos “clientes” do setor público, envolvendo uma lógica mais democrática de

participação. Quanto à reformulação processual, faz-se necessária na medida em que os

- 19 -

processos precisam adaptar-se às novas estruturas do setor público e de tomada de decisões.

Já a desregulamentação vem suprir a demanda de maior flexibilização, seja na gestão dos

funcionários públicos como nos contratos públicos e orçamentos. E, por fim, a mudança em

direção à equiparação ao mercado se dá, em função da necessidade de redução de custos

dos serviços públicos e melhoria na sua prestação aos cidadãos, por meio da concorrência

entre instituições, novas formas de recrutamento de pessoal e de remuneração por

desempenho (Peters, 2001).

É evidente que a tendência internacional da administração pública, baseada nos

princípios da nova gestão pública, se dá em grande escala no sentido de implementar um

modelo mais empresarial de gestão. Entretanto, ao tempo que ainda é parcial a adoção dos

seus instrumentos, em grande parte das nações, já se questiona a consistência e efetividade

deste modelo para a resolução dos atuais problemas de legitimidade da administração

pública. O que se está a questionar, entre outros aspetos, é até que ponto é possível e viável

se estruturar o setor público como o setor privado, sobretudo pela diferença de suas funções

e interesses, seja no tratamento do cidadão como cliente ou pela adaptação ao modelo de

mercado. E, ainda, pelas inconsistências organizacionais e procedimentais já apresentadas,

no que diz respeito ao elevado custo e complexidade na coordenação das atividades

descentralizadas, assim como a dificuldade de responsabilização dos cidadãos diante de sua

autorregulação e dos gestores e funcionários públicos pelos resultados (Pitschas, 2007).

Enfim, "nem que seja do ponto de vista simbólico, pode-se afirmar que a Nova Gestão

Pública foi um sucesso. As organizações internacionais e os governos abraçaram a retórica

que a caracterizou e tomaram decisões segundo os seus preceitos" (Carvalho, 2009: 41).

Porém, apesar do predomínio atual deste modelo, proposto como ideal para o Estado e sua

administração no mundo globalizado, sua crise já é anunciada, com destaque para alguns dos

seus grandes erros. Entre eles, a confusão entre a gestão nos setores público e privado, a

tentativa de omissão do poder político e a exaltação dos princípios da economia, eficiência e

eficácia em detrimento dos demais princípios subjacentes ao próprio Estado e à administração

pública (Carvalho, 2009). Assim, diante desta problemática e do surgimento de uma nova

estrutura social no século XXI, o que se discute a seguir são os novos rumos que a

- 20 -

administração pública deve seguir, para resolver as deficiências e os paradoxos apresentados

pela NPM e para atender às novas demandas da sociedade.

1.1.2.3 A New Public Governance

A gestão pública tem como principal desafio encontrar equilíbrios em domínios sujeitos a

uma potencial contestação e a um permanente escrutíneo, pelo que não basta fazer a

defesa da eficiência; há que saber conjugá-la, por exemplo, com a eficácia, a transparência

e a accountability, reconhecendo a teia complexa de relações, interesses e valores em

que se desenrola a ação das organizações da administração pública (Carvalho, 2009: 43).

Quanto à teia complexa de relações, interesses e valores, supracitada, são

características de uma nova estrutura social, que Castells (2004) chama de “sociedade em

rede”. Desenvolvida a partir do processo revolucionário das tecnologias de informação e

comunicação (TICs), no final do século XX, com a invenção do microprocessador, do

computador pessoal, do comutador digital e da internet, a sociedade em rede atinge sua

plenitude no início deste século. Como resultado tem-se o crescimento vertiginoso do uso de

equipamentos portáteis, com seus meios de comunicação sem fios, permitindo que os

indivíduos e organizações ao redor do mundo possam interagir a qualquer hora e de qualquer

lugar que disponha de uma infraestrutura mínima para tal. Portanto, é nesse contexto de uma

nova organização social, baseada nas novas TICs e enraizada dentro da teoria institucional

das redes, que surge a New Public Governance (nova governança pública), modelo de um

novo processo de governação, com foco na constituição de novas relações entre governos,

cidadãos e stakeholders, nos níveis local, nacional e global (Bevir, 2012).

Apesar da utilização do termo “governança” em outros tempos e contextos, o foco aqui

será a análise da NPG como um modelo ou instrumento fundamental para a compreensão da

complexidade, pluralista, do Estado no século XXI e dos desafios atuais enfrentados pela

administração pública. Desta forma, para melhor entender a abrangência e as preocupações

da NPG, Osborne (2010) divide-a em cinco perspetivas distintas: a governança sócio-política,

preocupada com as relações institucionais mais amplas dentro da sociedade, com o objetivo

- 21 -

de criar e implementar políticas públicas adequadas; a governança das políticas públicas,

voltada para as relações interativas entre comunidades políticas e redes, onde destacam-se

os processos de orientação e controlo dos efeitos de transferência do poder; a governança

administrativa, preocupada com a efetividade da administração pública face a complexidade

do Estado contemporâneo; a governança contratual, direcionada para o funcionamento

interno das organizações e para o controlo das relações contratuais na prestação de serviços

públicos; e, por fim, a governança da rede, preocupada com a auto-organização das redes

interorganizacionais, sobretudo, no fornecimento indireto de serviços públicos.

Diante destas perspetivas teóricas é possível compreender a abrangência deste

modelo e a sua preocupação com as pressões externas, que podem possibilitar ou dificultar

a implementação de políticas e a prestação de serviços públicos. Assim, percebe-se que um

dos grandes focos desta teoria é a governança de processos e redes, voltado para as relações

interorganizacionais e para o resultado dos serviços ofertados, estes dependentes de uma

maior interação com o ambiente externo às organizações públicas (Osborne, 2010).

Neste sentido, pode-se dizer que enquanto a NPM voltou sua atenção para a

mensuração dos resultados individuais e organizacionais, a NPG volta-se para a avaliação do

processo de governança e das relações entre as pessoas e organizações envolvidas na busca

dos resultados desejados pelos cidadãos e stakeholders. Em outras palavras, para a nova

governança pública, o que realmente importa vai além daquilo que o setor público faz, o

essencial é saber como as pessoas se sentem sobre aquilo que está a ser feito (Bovaird e

Löffler, 2005b). Em metáfora, Bovaird e Löffler (2003) diriam que o importante não é apenas

construir um bom piano, mas garantir que bons pianos toquem boas músicas, ou seja, por

mais que seja necessário se ter os meios adequados para a prossecução dos objetivos, o

mais importante é a garantia de que os resultados sejam alcançados da maneira esperada.

Assim, ressalta-se a necessidade e a importância da avaliação da qualidade do

concerto, quer dizer, da governança. Mas esta etapa do processo não é tão simples quanto

parece, pois quando se está a lidar com expectativas e satisfação pode-se incorrer na tentativa

de querer quantificar o que não é quantificável. As questões que se colocam no caso da

avaliação da governança são, justamente, o que será avaliado e por quem. Bovaird e Löffler

(2003) destacam a importância da melhoria na medição dos resultados, de acordo com os

- 22 -

princípios da boa governança (abertura, participação, responsabilização, eficácia e coerência)

e com o envolvimento dos cidadãos e stakeholders, capazes de influenciar positivamente nos

processos e resultados da governança e das políticas públicas, assim como no desempenho

do setor público e na qualidade dos serviços prestados e, consequentemente, na qualidade

de vida dos cidadãos.

Ainda, na perspetiva dos serviços públicos, é importante destacar o contributo do New

Public Service (NPS) para a melhoria da qualidade na prestação dos serviços. Idealizado por

Janet e Robert Denhardt, este modelo teórico defende a legitimação da relação entre a

sociedade e o poder político por meio da administração pública e seus funcionários. Seus

princípios fundamentais baseiam-se no papel dos funcionários públicos no atendimento ao

cidadão e aos interesses comuns; no dever dos gestores públicos na criação de uma noção

coletiva de interesse público e responsabilidades compartilhadas; na eficácia das políticas

públicas construídas por meio de esforços coletivos e processos colaborativos; na construção

de relações de confiança e colaboração entre cidadãos e funcionários públicos (estes que

devem atender os interesses dos cidadãos mas também os valores da comunidade, os

padrões profissionais, a lei e as normas políticas); no funcionamento das organizações

públicas e suas redes (baseadas no respeito às pessoas e operadas por meio de processos

de colaboração e liderança estratégica); e no facto de que o interesse público é melhor

compreendido pelos funcionários e cidadãos do que pelos gestores-empreendedores

(Denhardt e Denhardt, 2003).

Assim, a NPG e NPS surgem como possíveis soluções para as disfunções

apresentadas pela NPM e para a reorganização administrativa de um Estado-providência em

crise, que precisa se reinventar. Muito se tem discutido sobre novos modelos de organização

e prestação de serviços, uma combinação de plataformas partilhadas, descentralização,

transparência, responsabilidade e accountability, bem como, maior controlo e participação dos

cidadãos sobre os serviços e processos. Porém, na prática, estes princípios ainda não figuram

de maneira efetiva nos processos de reformas da administração pública, com raras exceções,

a exemplo de alguns processos isolados de participação direta da sociedade na tomada de

decisões políticas e da utilização do e-government ou governo eletrónico (uso das TICs pelo

governo) para uma maior aproximação com os cidadãos e para a prestação de alguns

- 23 -

serviços. Diante dos riscos e incertezas, tem-se optado por meios mais seguros, onde o novo

é adicionado ao velho, o que acaba por dificultar ainda mais a perceção quanto ao

desempenho de novos programas e ações (Mulgan, 2006).

Enfim, diante do exposto e não obstante aos diversos graus de intensidade das

reformas administrativas e às especificidades de cada país, é possível extrair o essencial para

perceber o contexto de inserção das organizações públicas ao longo dos últimos tempos. E

quanto à preocupação com o desempenho organizacional no setor público, pode-se dizer que

a administração pública clássica teve um importante papel, com sua organização burocrática,

na melhoria da eficiência e produtividade administrativa, assim como na racionalização dos

procedimentos e na defesa da imparcialidade das organizações públicas. Porém, somente

com a NPM o desempenho das organizações públicas passou a ser tratado de uma maneira

mais sistemática, embora, num primeiro momento, apenas como símbolo e indicador de

economia e eficiência, mais preocupado com a responsabilidade financeira do que com os

resultados dos serviços prestados aos cidadãos. Já num segundo momento, a Nova Gestão

Pública acabou por ressaltar a importância da medição da performance organizacional como

uma ferramenta de gestão capaz de fornecer ao governo, e aos gestores públicos, as

informações necessárias à implementação de novos instrumentos para o aperfeiçoamento da

gestão e, assim, melhorar o desempenho das organizações públicas (Modell, 2004).

Porém, atualmente, devido ao declínio da confiança dos cidadãos nas instituições

públicas, aumenta a necessidade de avaliação da relação das organizações públicas com a

sociedade, a exemplo da medição da qualidade dos serviços prestados e sua contribuição

para a melhoria do bem-estar e qualidade de vida dos cidadãos (Bouckaert e Dooren, 2005).

Esta é uma das preocupações da NPG e, neste sentido, Denhardt e Denhardt (2003), por

meio da teoria do NPS, defendem também o papel essencial das organizações públicas para

a articulação e satisfação dos interesses comuns dos cidadãos, em vez de tentar controlar ou

guiar a sociedade. Assim, diante do exposto até aqui e levando em consideração a

importância do trabalho dos funcionários públicos na melhoria da performance das

organizações, discute-se a seguir algumas especificidades e conceitos do desempenho

organizacional aplicados à administração pública.

- 24 -

1.2 O DESEMPENHO ORGANIZACIONAL NO SETOR PÚBLICO

“O termo desempenho expressa uma certa percepção do mundo e certas normas

socioculturais, sendo, portanto, o resultado de uma rede de significados que muda de um

grupo social para outro” (Misoczky e Vieira, 2001: 165). Assim, uma definição rigorosa do

termo desempenho é praticamente inviável, sem que antes sejam analisadas as motivações

ideológicas e políticas envolventes, os métodos e sistemáticas utilizadas para a medição da

performance (Misoczky e Vieira, 2001) e o foco mais específico dado ao termo, a exemplo do

desempenho organizacional, como resultado das características da organização, do ambiente

de trabalho, das relações interpessoais e das competências individuais (Brandão e

Guimarães, 2001).

Sob o enfoque dos serviços públicos, o conceito de desempenho organizacional está

ligado aos resultados alcançados pela organização, de acordo com suas estratégias, objetivos

e metas, cujo foco principal deve estar voltado ao atendimento das necessidades dos

cidadãos, funcionários, fornecedores, governo e sociedade (Resende Jr. e Guimarães, 2014).

E, neste sentido, parece correto inferir que desempenho tanto pode representar uma perceção

(subjetiva) a respeito de um produto ou serviço (Misocsky e Vieira, 2001), como dados reais

(objetivos) relacionados com os resultados alcançados levando em conta as metas

estipuladas (Resende Jr. e Guimarães, 2014). No caso dos serviços públicos, é bastante

razoável que a perceção a respeito da qualidade do serviço prestado (e recebido pelo usuário)

esteja sempre relacionada com o desempenho da organização.

Em 1995, o Brasil deu um importante passo ao introduzir, por meio do Plano Diretor

da Reforma do Aparelho do Estado, as bases de uma administração pública mais voltada para

a qualidade dos serviços prestados aos cidadãos e, nessa medida, focada no desempenho

desses serviços. Entre as diversas ações do Plano, ressalta-se a criação do Programa da

Qualidade no Serviço Público, com o objetivo de sensibilizar as organizações públicas sobre

a necessidade de melhorar a gestão e o desempenho organizacional. “No entanto, o baixo

uso de indicadores de desempenho pela alta administração no processo de tomada de

decisão e a ausência de práticas sistemáticas de monitoramento de metas constituem-se em

pontos frágeis da implementação do Programa” (Galvão, 2002: 1).

- 25 -

Já em 2005, visando superar os desafios gerenciais enfrentados pelo setor público

brasileiro, acontece o lançamento do Programa Nacional de Gestão Pública e

Desburocratização (Gespública), com o objetivo central de implantar um modelo de excelência

em gestão pública, focado nos resultados e orientado para as necessidades dos cidadãos.

Porém, mais de dez anos se passaram e o que se percebe é que muito pouco mudou na

realidade das organizações públicas e na sua relação com a sociedade. Um dos motivos de

insucesso do programa é o seu caráter voluntário de adesão, que fez com que poucas

organizações tenham aderido (nenhuma na área educacional). Além disso, alguns aspetos

revelaram-se contraditórios na prática organizacional, como a defesa da proposta de

desburocratização e simplificação de processos ao mesmo tempo em que se almeja maior

controlo sobre as organizações públicas. Sem falar nas dificuldades de se implantar um

modelo gerencial num sistema de valores e práticas ainda altamente burocrático, com pouco

comprometimento das lideranças, baixa capacitação e motivação dos funcionários para este

fim e, ainda, com pouco ou nenhum investimento financeiro para a implementação de

sistemas de qualidade (Paula, 2015).

Como foco desta pesquisa e função do Estado brasileiro, a educação ocupa um

espaço específico no que se refere às experiências de avaliação de desempenho e qualidade.

Apesar da existência do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e do Sistema

Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes)4, preocupados em promover a

qualidade da educação básica e superior brasileira, o que se percebe na prática

organizacional é que estas avaliações, por meio de exames de larga escala, pouco ou nada

representam para a realidade das escolas e universidades, quanto a performance

organizacional em si. Assim, devido a ausência de um sistema de gestão do desempenho

organizacional, os gestores públicos e líderes acabam por não se preocuparem com os

resultados da organização, uma vez que não serão responsabilizados ou recompensados pelo

seu mau ou bom desempenho, respetivamente. Isto posto, para um melhor entendimento do

que envolve a avaliação do desempenho nas organizações públicas, de um modo geral, a

seguir são discutidas algumas das suas especificidades.

4 Mais informações em: http://portal.inep.gov.br/saeb e http://portal.inep.gov.br/superior-sinaes

- 26 -

1.2.1 A avaliação do desempenho organizacional: níveis e dimensões

Apesar da preocupação com o desempenho nas organizações ter uma longa história, é

somente no final do século passado que o conceito de gestão do desempenho (como um

processo mais abrangente e sistemático de avaliação, monitoramento e planeamento)

desenvolve-se e é aplicado às organizações públicas como um instrumento de gestão. Assim,

o desempenho organizacional passa a ser avaliado em diversos níveis, a saber: o corporativo

(estratégico), que aspira à sustentabilidade da organização como um todo; o divisional ou

funcional (tático), que visa a eficácia organizacional; e o grupal (operacional) e pessoal

(individual), que têm em vista a qualidade dos bens e serviços ofertados (Brandão e

Guimarães, 2001).

Quanto às dimensões da avaliação do desempenho, Galvão (2002) defende um

sistema de medição balanceado, baseado em três medidas: a financeira e não-financeira, a

medida com foco no cliente/utente e a sistémica. Enquanto a preocupação da dimensão

financeira recai sobre o sistema contábil e o controlo dos custos de produção e prestação de

serviços, a não-financeira preocupa-se, sobretudo, com o processo de inovação e qualidade

dos serviços prestados, a qualidade de vida no trabalho e, também, com o atendimento ao

público. Já a dimensão com foco nos clientes volta sua atenção para a obtenção de novos

clientes e a sua retenção, ou no caso da maioria das organizações públicas, devido à falta de

concorrência, o esforço deve voltar-se para a lealdade e satisfação das expectativas dos

utentes. E, por fim, a medida sistémica visa avaliar o equilíbrio entre os componentes do

sistema organizacional, em especial no que se refere aos insumos (ex.: orçamento disponível

para uma escola), processos (ex.: ensino-aprendizagem), produtos (ex.: alunos formados) e

resultados (ex.: conhecimentos ensinados e competências adquiridas), com destaque para a

avaliação dos processos que, geralmente, se preocupam com os níveis tático e operacional,

e as medidas de resultados, que trazem uma visão mais global referente ao desempenho e a

estratégia organizacional.

Um sistema de medição de desempenho eficaz deve fornecer informações suficientes

para uma organização planear, monitorar e avaliar a gestão organizacional. Porém, a medição

de desempenho só tem realmente valor se for seguida por uma ação de gestão, levando em

- 27 -

consideração que as informações obtidas durante o processo de avaliação podem ser

utilizadas para diferentes fins. Assim, é necessário estar atento às armadilhas e lições sobre

a gestão do desempenho, que podem pôr em risco toda a validade do processo. Primeiro,

pela falta de interesse dos políticos, cidadãos e/ou funcionários, havendo a necessidade de

se encontrar um meio adequado para propiciar e incentivar o envolvimento e a efetiva

participação destes. Segundo, pela imprecisão e ambiguidade dos objetivos e metas

estabelecidas, que podem levar à irracionalidade política e ocasionar conflitos entre os

stakeholders, sejam de interesses, valores ou expectativas. E, por fim, não se deve esquecer

que tudo isso pode ser um “jogo”, infelizmente, onde cada grupo/organização tem seus

próprios interesses e anseios e, nesse sentido, é comum a manipulação dos dados ou

relatórios. Assim, a avaliação do desempenho pode perder sua fiabilidade ou simplesmente

não ser efetiva naquilo que se propunha, da mesma forma que uma escola pode ensinar

visando somente a preparação para um determinado teste, sem levar em conta os demais

aspetos necessários a uma formação integral do aluno (Bouckaert e Dooren, 2005).

1.2.2 Por que medir o desempenho e o que medir?

O facto da medição do desempenho não ter um fim em si mesmo talvez seja o principal motivo

para a baixa preocupação com a avaliação da performance nas organizações do setor público,

mas quando se percebe a importância deste instrumento, para a melhoria do desempenho

organizacional, é que a questão do porquê medir o desempenho começa a fazer sentido. São

várias as razões, propósitos ou finalidades para que uma organização comece a medir seu

desempenho, entre eles, melhorar seu planeamento estratégico, auxiliar na tomada de

decisões, fazer modificações de programas, definir melhor suas metas, conhecer e comparar

sua performance, informar seus stakeholders, promover a accountability, etc. Porém, os

líderes e gestores públicos podem incluir estes objetivos, entre outros, em oito fins gerenciais

específicos (conforme mostra o quadro 1.2), com o intuito de promover a melhoria global de

sua estratégia de gestão e, assim, o próprio desempenho organizacional (Behn, 2003).

- 28 -

Quadro 1.2 – Oito propósitos para a medição do desempenho organizacional

Fonte: Adaptado de Behn (2003: 588)

Como dito acima, o principal propósito para a medição do desempenho é este último,

a melhoria. Os outros sete são, de certa forma, os meios para se atingir a melhoria da

performance organizacional. Cabe aos líderes e gestores públicos escolher com cuidado os

propósitos prioritários e utilizar as medidas específicas apropriadas para cada finalidade. Por

exemplo, se o objetivo for a prestação de contas à sociedade, os propósitos podem ser a

avaliação, o controlo e a motivação, pois os cidadãos precisam saber, respetivamente, como

está a performance da organização, como está a qualidade na prestação de um serviço e o

que eles podem fazer para ajudar a melhorar o desempenho da instituição. Infelizmente, não

existe uma medida única adequada aos oito propósitos e, sendo assim, antes de mais nada

os gestores precisam definir os fins gerenciais pretendidos, pensando nas possíveis

contribuições da medição do desempenho e, por fim, decidir o que deve ser medido e

implementar as medidas necessárias (Behn, 2003).

Uma vez assimilado a importância da medição do desempenho para a melhoria da

performance organizacional, a pergunta seguinte que os gestores devem fazer é: o que

medir? Assim, como mostra o quadro 1.3, “com base nas áreas de resultado especificadas

por Peter Drucker e nos critérios de excelência de Peter e Waterman, Sink (1985) selecionou

sete critérios de desempenho organizacional a serem mensurados” (Galvão, 2002: 3).

Propósito A pergunta que o gestor público deve fazer

Avaliação Como está a performance da minha organização?

Controlo Como posso garantir que os funcionários estão fazendo a coisa certa?

Orçamento Em quais programas, pessoas ou projetos devo investir o dinheiro público?

Motivação Como posso motivar os funcionários, gestores intermédios, colaboradores e

cidadãos para que façam o que for necessário para melhorar a performance?

Promoção Como posso convencer os políticos, legisladores, jornalistas, cidadãos e

demais interessados de que a organização está fazendo um bom trabalho?

Comemoração Que realizações são dignas de um importante ritual para celebrar o sucesso?

Aprendizagem Por que o trabalho está (ou não) a funcionar como deveria?

Melhoria O que deve ser feito de diferente para melhorar o desempenho?

- 29 -

Quadro 1.3 – Sete critérios de desempenho organizacional

Critério Conceito

Eficácia Realização do propósito, objetivos, metas e atividades em quantidade,

qualidade e prazo adequado.

Eficiência Razão entre os recursos estimados e os realmente consumidos na

consecução dos objetivos, metas e atividades.

Qualidade Produtos e serviços realizados em conformidade com as especificações

identificadas como oportunidade de satisfação dos clientes/utentes.

Produtividade Relação entre os outputs produzidos por um sistema organizacional num

determinado período de tempo e os inputs requeridos para a produção.

Qualidade de vida

no trabalho

Pessoas são responsáveis pelo sucesso na realização de objetivos e no uso

eficaz dos recursos. À organização cabe proporcionar às pessoas

oportunidades no trabalho e desenvolver um sentido maior de satisfação,

controlo e propriedade. O objetivo é assegurar-se de que os funcionários

estejam satisfeitos, tranquilos, seguros, etc.

Lucratividade Relação entre o total de receitas e o total de custos e despesas.

Inovação

Processos criativos para gerar novos e melhores produtos, serviços,

processos, estruturas, etc., em resposta às pressões internas e externas, às

demandas dos stakeholders e mudanças ambientais.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Galvão (2002: 3)

Estes critérios podem ser aplicados a qualquer tipo de organização,

independentemente da sua natureza ou tamanho, levando em consideração, é claro, as

especificidades das organizações públicas e/ou não governamentais cuja natureza não está

vinculada ao critério lucratividade. Ademais, ressalta-se que as medidas tradicionais

(financeiras e contábeis), por si só, há muito tempo deixaram de fornecer as informações

necessárias e suficientes para a tomada de decisões, para uma liderança estratégica e para

a avaliação do desempenho organizacional, motivo pelo qual as organizações devem se

preocupar, também, com os esforços dos funcionários, com a sua capacidade de resposta

aos anseios da sociedade e, sobretudo, com a qualidade dos serviços prestados e a

satisfação dos seus clientes ou utentes (Galvão, 2002).

- 30 -

1.2.3 A importância da qualidade como critério de desempenho organizacional

Bovaird e Löffler (2005a), defendem que a avaliação do desempenho no setor público deve

ser em função da qualidade dos serviços prestados, mas ressaltam que é improvável que a

qualidade seja o único parâmetro de julgamento da excelência de uma organização pública.

Para estes autores, uma organização pública de alta qualidade não só deve ser capaz de

satisfazer os seus utentes, mas também de construir a confiança na administração pública,

por meio de processos e prestação de contas transparentes e através do diálogo aberto e

democrático, pois é desta forma que o setor público pode resolver os problemas resultantes

da necessidade de atender as mais variadas expectativas dos cidadãos e muitas vezes

interesses divergentes, uma vez que, ao contrário do setor privado, a maioria das

organizações públicas não têm a faculdade de escolher os seus “clientes”.

Corroborando com este pensamento, Fadel e Regis Filho (2009) argumentam que a

qualidade de um serviço deve ser definida pelos clientes/utentes, mas deve levar em

consideração aspetos do ambiente e das relações humanas inerentes ao contexto, pois a

reação de um cidadão pode ser diferente de outro mesmo diante de igual tratamento recebido,

ou seja, a perceção da qualidade varia de pessoa para pessoa ou mesmo numa única pessoa

em momentos ou situações diferentes. Assim, devido às expectativas dos cidadãos, a

intangibilidade dos serviços e, muitas vezes, sua produção e consumo simultâneos, pode-se

dizer que o processo de prestação de um serviço pode ser mais importante que os resultados

obtidos e refletirá diretamente na qualidade dos serviços prestados. Portanto, é essencial que

as organizações e os processos sejam flexíveis, de maneira a atender com efetividade e

agilidade as necessidades dos usuários.

Porém, segundo Pires e Macêdo (2006), em geral a realidade das organizações

públicas ainda é pouco favorável às transformações e inovações necessárias e impostas pelo

mundo contemporâneo. Apesar das organizações públicas possuírem basicamente as

mesmas características gerais de outras organizações, quando se trata de organização

interna, algumas diferenças básicas (a exemplo do paternalismo nas relações, da

supervalorização da hierarquia e do apego ao poder, às regras e rotinas) merecem especial

atenção, pois “são importantes na definição dos processos internos, na relação com

- 31 -

inovações e mudança, na formação dos valores e crenças organizacionais e políticas de

recursos humanos” (Pires e Macêdo, 2006: 96). Assim, na luta entre o velho e o novo, entre

o burocrático e o flexível, entre o político e o técnico, ainda há muito a se fazer para a obtenção

de melhores estratégias para o setor público e, desta forma, atingir o que deveria ser o

principal objetivo das organizações públicas prestadoras de serviço: a prestação de serviços

de qualidade e a consequente satisfação dos cidadãos.

Enfim, estas preocupações, por sua vez, estão relacionadas às diversas capacidades

que as organizações podem desenvolver com o objetivo de melhorar o seu desempenho

organizacional, conforme discute-se a seguir.

1.3 A INFLUÊNCIA DAS CAPACIDADES NO DESEMPENHO DAS ORGANIZAÇÕES

Num mundo em constante transformação, as organizações acabam por ter que lidar

constantemente com desafios externos que implicam mudanças nas suas atividades, rotinas

e estratégias, seja por que a melhoria do desempenho organizacional implica algum tipo de

mudança ou, ainda, no caso das organizações públicas, por que a tomada de decisões

políticas podem afetar as práticas organizacionais e, muitas vezes, os gestores públicos não

estão preparados para lidar com estes problemas de adaptação. Segundo Winter (2003),

estes problemas podem ser empurrados para o modo de “combate a incêndios” ou resolução

de problemas ad hoc, onde cada caso será resolvido de acordo com a oportunidade do

momento e com uma certa dose de criatividade. Porém, a maioria dos problemas ocasionados

pela necessidade de mudança podem ser resolvidos, ou até mesmo evitados, por meio de

uma gestão estratégica, integrada e coordenada dos comportamentos dinâmicos e dos

recursos organizacionais, atividades e capacidades comuns (Zollo e Winter, 2002).

Desta forma, são apresentadas nesta secção algumas capacidades organizacionais

que, de acordo com a literatura, tendem a impactar direta ou indiretamente no desempenho

das organizações de um modo geral. Porém, devido a complexidade deste assunto, faz-se

necessário elencar algumas teorias subjacentes para ajudar a entender melhor o contexto da

abordagem utilizada neste trabalho.

- 32 -

Porter (1985), defende a perspetiva teórica Structure-Conduct-Performance (SCP),

onde o desempenho é determinado pela estrutura e estratégia organizacionais, portanto,

relacionados a fatores externos ao ambiente organizacional. Por sua vez, Barney (1991)

ressalta, através da teoria Resource-Based View (RBV), a importância dos recursos

estratégicos internos para a criação de uma vantagem competitiva sustentada, com foco nas

competências organizacionais como base para um desempenho superior. E, com base na

RBV, Teece et al. (1997) propõem a teoria das capacidades dinâmicas, voltada para o modo

como as organizações utilizam seus recursos e competências, com foco no aperfeiçoamento

dos processos tecnológicos, gerenciais e de marketing como o principal caminho para a alta

performance organizacional em contextos de rápidas mudanças.

Já Zollo e Winter (2002) defendem que as capacidades dinâmicas agem sobre as

capacidades comuns ou operacionais. Para estes autores, as capacidades dinâmicas estão

relacionadas às atividades (e padrões aprendidos e estáveis), por meio das quais a

organização desenvolve e adapta suas rotinas operacionais, de maneira sistemática e

relativamente previsível. Assim, enquanto as capacidades comuns incidem sobre a eficiência

na realização das atividades diárias, com base na melhor tecnologia e pessoas qualificadas

(Winter, 2003), as capacidades dinâmicas voltam-se para a melhoria da eficácia

organizacional, de modo a alinhar as rotinas operacionais ao ambiente externo e objetivos

mais amplos da organização (Zollo e Winter, 2002).

Esta distinção entre capacidades comuns e dinâmicas é relevante para a análise do

do desempenho das organizações públicas, devido a tensão existente entre a estabilidade e

a mudança, esta última necessária à melhoria e efetividade dos serviços prestados e aquela

fundamental para o funcionamento das operações atuais. Porém, apesar dos propósitos

divergentes, na prática, a linha divisória entre as capacidades operacionais e dinâmicas não

são assim tão claras, o que leva Helfat e Winter (2011) a defenderem a existência de

capacidades de dupla finalidade, ou seja, capacidades que visam integrar e coordenar as

atividades operacionais e dinâmicas em conjunto. De acordo com este ponto de vista, o

presente trabalho sugere que o desempenho no setor público é perseguido através de um

conjunto de capacidades que abrangem esta integração, e podem ser desenvolvidas por meio

da gestão e liderança estratégicas.

- 33 -

Neste contexto, a seguir, o desempenho organizacional é analisado sob a ótica das

seguintes capacidades: a ambidextria contextual (Gibson e Birkinshaw, 2004), preocupada

com a gestão do contexto organizacional; a aprendizagem organizacional (Marsick e Watkins,

2003), voltada para a gestão sistemática dos conhecimentos gerados pela organização; o

clima de serviço (Schneider et al., 1998), focado na gestão do clima organizacional; e a força

da identidade (Kreiner e Ashforth, 2004) e a integração da visão (Kohles et al., 2012), ligadas

à gestão da imagem e da identidade organizacional.

Sendo assim, em oposição às perspetivas mais funcionalistas, a abordagem aqui

utilizada não está preocupada com a identificação de fatores objetivos e nem procura por

normas padrões do funcionamento organizacional, mas volta-se para o facto de que uma

cultura organizacional devidamente orientada pode tirar proveito das suas próprias

capacidades e rotinas para promover um melhor desempenho (Nunes e Vala, 2002).

1.3.1 A ambidextria contextual

1.3.1.1 Contexto e conceitos de ambidextria

Ao longo das últimas décadas, as organizações de um modo geral têm enfrentado uma

constante necessidade de mudanças e melhorias para se manter no mercado com sucesso.

Para isso, por um lado, devem evoluir no sentido de aumentar o alinhamento entre sua

estratégia, estrutura e cultura, no curto prazo e, por outro lado, a longo prazo, muitas vezes

são obrigadas a fazer revoluções, por vezes até destruir o bom alinhamento e a estabilidade

conquistada, para adaptar-se às mudanças ocorridas no ambiente externo e manter sua

competitividade. Estas são as principais características das organizações ambidextras, que

buscam melhorar o seu desempenho por meio do equilíbrio entre o seu alinhamento e a sua

adaptabilidade (Tushman e O’Reilly, 1996).

Para Raisch et al. (2009), quando se fala em ambidextria, desempenho e

sustentabilidade organizacional é o mesmo que falar do equilíbrio entre exploitation e

exploration, ou seja, a capacidade de aproveitar os recursos e competências existentes na

- 34 -

organização, assegurando assim a sua viabilidade atual (exploitation) e explorar novas

oportunidades visando a sua viabilidade futura (exploration). Em outras palavras, O’Reilly e

Tushman (2013) diriam que a ambidextria é a capacidade de ser eficiente, ter segurança,

controlo e variância reduzida, ao tempo que deve ser flexível e apostar em pesquisas,

inovação e novas maneiras de melhorar. Porém, o grande desafio está em conseguir o

equilíbrio necessário, ou esperado, uma vez que devido às questões de segurança e sucesso

a curto prazo, a exploitation é quase sempre mais valorizada que a exploration, visto que esta

representa uma maior tendência à falhas e erros.

Segundo Birkinshaw e Gibson (2004), é deste contexto que emerge a ambidextria

estrutural, onde o alinhamento e a flexibilidade/adaptabilidade são alcançados por meio de

equipas ou unidades distintas. A tomada de decisões é prerrogativa da gestão de topo, que

define as estruturas e sistemas necessários ao equilíbrio entre as diferentes unidades que,

por sua vez, têm funções e papéis claramente definidos e, em geral, contam com especialistas

em seu quadro de colaboradores.

1.3.1.2 A ambidextria contextual como resultado do contexto organizacional

Como meio de melhorar seu desempenho, as organizações têm cada vez mais desejado e

buscado a capacidade de ser ambidextra, mesmo que num contexto largamente associado

apenas à separação estrutural das atividades e iniciativas. Porém, para além da sua relação

com as estruturas organizacionais, a ambidextria também é concebida como uma capacidade

que emerge do contexto organizacional, onde o alinhamento e a adaptabilidade podem ser o

resultado das atividades de uma equipa, divisão ou unidade. As decisões são tomadas por

níveis hierárquicos mais baixos, onde o principal papel dos gestores de topo é o

desenvolvimento do contexto organizacional, num ambiente com papéis e funções

relativamente flexíveis e colaboradores mais generalistas (Birkinshaw e Gibson, 2004).

Assim, a ambidextria contextual pode ser definida como a capacidade comportamental

de uma determinada unidade de trabalho, equipa ou organização, que consegue atingir o

equilíbrio entre o alinhamento e a adaptabilidade, onde o alinhamento está relacionado à

- 35 -

coerência entre as diversas atividades desenvolvidas e a interação entre os processos de

trabalho das unidades ou setores e a adaptabilidade, por sua vez, refere-se à capacidade de

reconfiguração rápida das atividades de cada unidade para atender novas demandas e

necessidades do ambiente interno e externo (Gibson e Birkinshaw, 2004).

Como defendem Birkinshaw e Gibson (2004), uma das maiores preocupações da

ambidextria contextual diz respeito às pessoas e seus comportamentos dentro de uma

organização. Neste sentido, os autores identificam quatro comportamentos pessoais que

descrevem coletivamente indivíduos ambidextros. Estes comportamentos são percebidos

quando o funcionário toma iniciativas e está atento às oportunidades para além das suas

funções, é negociador e está sempre procurando construir ligações internas, é cooperativo e

procura unir esforços com os outros e, ainda, tem habilidade para executar mais de uma tarefa

em simultâneo. A essência da ambidextria contextual, de uma maneira geral, está no

comportamento destes funcionários, que acabam por agir de acordo com os interesses mais

amplos da organização, incentivam ações voltadas para novas oportunidades, desde que

alinhadas à estratégia global, e estão sempre informados e motivados, independentemente

da visão dos seus superiores.

Porém, estas capacidades individuais podem ser facilitadas ou restringidas, conforme

a realidade do contexto organizacional, que pode ser dividido em quatro tipos principais, em

função do contexto de suporte social e do contexto de gestão do desempenho, como mostra

a figura 1.1. Quanto maior for a ênfase ao suporte social e à gestão do desempenho, mais

Figura 1.1 – Tipos de contexto organizacional

Fonte: Adaptado de Birkinshaw e Gibson (2004: 51)

- 36 -

alinhados e adaptáveis serão as pessoas e equipas e, consequentemente, melhor será a

performance da organização (Birkinshaw e Gibson, 2004).

O contexto organizacional pode ser criado e aperfeiçoado por meio de uma liderança

estratégica, de modo a melhorar a ambidextria que, por sua vez, pode proporcionar a alta

performance. Porém, deve-se estar atento às disfunções apresentadas pelos contextos do

tipo burnout e country club. Causado pela supervalorização da gestão do desempenho em

detrimento do suporte social, o tipo burnout é caracterizado pela disciplina e tensão, que

muitas vezes provoca o mal-estar relacionado ao trabalho, a exaustão emocional e a

despersonalização dos indivíduos. Já o country club ou “clube de campo” é o resultado da

valorização excessiva do suporte social e desatenção à gestão do desempenho, que acaba

por promover um ambiente onde trabalha-se pouco e o baixo desempenho é tolerado. Este

contexto é caracterizado pelo sentimento de apoio e confiança e é uma característica inerente

a muitas organizações e agências estatais, a exemplo das universidades públicas (Birkinshaw

e Gibson, 2004). Sendo assim, um dos maiores desafios das organizações públicas está na

busca pelo equilíbrio entre os elementos da gestão do desempenho (apoio e confiança) e

suporte social (disciplina e tensão) tendo em vista a melhoria do contexto organizacional e,

consequentemente, da ambidextria contextual e do desempenho da organização.

Assim, com base nas informações acima, na teoria de Gibson e Birkinshaw (2004) e

conforme os modelos teóricos propostos nas figuras 1.6 e 1.7, este estudo propõe testar a

seguinte hipótese:

H1 – A ambidextria contextual está positivamente relacionada com o desempenho

organizacional percebido.

1.3.2 A aprendizagem organizacional

Apesar da existência de estudos anteriores sobre a aprendizagem organizacional, de acordo

com Argote (2011), é a partir do final da década de 1980 que a literatura sobre o tema acaba

por se preocupar com questões como a mudança no conhecimento organizacional, ocorrida

em função das experiências no trabalho e sua interação com o ambiente, a exemplo do

- 37 -

pensamento sistémico de Senge (1990 apud Yang et al., 2004), da perspetiva estratégica de

Garvin (1993 apud Yang et al., 2004) e de uma perspetiva mais integradora de Watkins e

Marsick (1993 e 1996 apud Yang et al., 2004). Esta última, aqui defendida, enfatiza os níveis

do sistema organizacional e a aprendizagem contínua, para fins de gestão do conhecimento

e seus resultados, promovendo desta forma a melhoria do desempenho global da

organização.

Embora ainda haja muitas divergências acerca de uma definição para o termo

aprendizagem organizacional, segundo Argote (2013), alguns aspetos comuns do ciclo de

aprendizagem podem ser identificados em grande parte dos estudos, nomeadamente a

relação entre experiências, contextos e processos de aprendizagem e sua influência na

criação, acumulação e transferência de novos conhecimentos. Essa relação acaba por formar

um ciclo, onde a experiência é acumulada na medida em que a organização executa suas

tarefas, que são influenciadas pelo ambiente organizacional interno (como a estrutura, cultura,

tecnologia, identidade, objetivos, incentivos e estratégia) e externo (a exemplo da

concorrência, clientes/utentes, governo, etc.). Assim, o conhecimento gerado pelas

experiências acumuladas, e adquirido por meio da aprendizagem organizacional, pode ser

incorporado ao contexto ativo (das redes formadas por pessoas, ferramentas e tarefas) por

meio de rotinas e processos.

1.3.2.1 Níveis e processos de aprendizagem organizacional

O ciclo de aprendizagem, citado acima, ocorre em diferentes níveis dentro de uma

organização, que vai do individual ao organizacional, passando pelo grupo ou equipa. Assim,

Crossan et al. (1999), ao defenderem a aprendizagem organizacional como o principal meio

para a renovação estratégica, desenvolvem um quadro sistemático de aprendizagem (figura

1.2) envolvendo as relações entre os três níveis organizacionais e quatro processos sociais e

psicológicos, a saber: a intuição, a interpretação, a integração e a institucionalização (4Is).

Este quadro mostra os três níveis através do qual a aprendizagem ocorre e os processos que

interligam toda a estrutura formando um ciclo, onde se vê a ocorrência dos processos de intuir

- 38 -

e interpretar no nível individual, interpretar e integrar no nível de grupo e integrar e

institucionalizar no nível organizacional.

Figura 1.2 – A aprendizagem organizacional como um processo dinâmico

Fonte: Traduzido de Crossan et al. (1999: 532)

A primeira constatação a ser feita é que nem todo processo ocorre em todos os níveis,

a exemplo do processo de intuir que é um atributo exclusivo do nível individual, inerente às

experiências pessoais. Uma organização não intui, assim como não interpreta, no sentido de

aperfeiçoar e desenvolver perceções. A interpretação pode ocorrer no nível individual, porém

é no grupo de trabalho que este processo ganha força e promove o processo de integração,

este caracterizado pela compreensão partilhada e medidas coordenadas pelos integrantes do

grupo, onde as ações consideradas eficazes serão repetidas. Ações que, por vezes, são

incorporadas à rotina e tornam-se regras e procedimentos formais e, assim, o processo de

institucionalização acaba por ocorrer, no nível organizacional. Uma vez institucionalizadas, as

regras e rotinas passam a existir independente dos indivíduos e grupos, apesar destes serem

afetados por aquelas (Crossan et al., 1999).

- 39 -

A segunda constatação é que, apesar da figura 1.2 mostrar um ciclo de aprendizagem

organizacional de certa forma sequencial, a realidade pode não ser assim tão simples, devido

às tensões resultantes dos processos de feed forward e feedback. Enquanto o processo de

feed forward foca nas oportunidades de melhorias futuras e se dá por meio de ideias e

sugestões para o aperfeiçoamento, o processo de feedback está preocupado com a melhoria

do desempenho atual, por meio do retorno sobre aquilo que se aprendeu com o passado.

Assim, enquanto no processo de feed forward os conhecimentos são transmitidos do indivíduo

para o grupo e para a organização, no processo de feedback os grupos e indivíduos são

afetados pela aprendizagem institucionalizada pela organização, por meio de seus sistemas,

estruturas, procedimentos e estratégias (Crossan et al., 1999).

E por fim, em resumo, pode-se dizer que os fundamentos do quadro acima (figura 1.2)

e a sua proposição central, de que “os 4Is estão relacionados em processos de feed forward

e feedback através dos níveis”, são apoiados por quatro premissas básicas, segundo Crossan

et al. (1999: 523):

Premissa 1: A aprendizagem organizacional envolve uma tensão entre assimilar novas

aprendizagens (exploration) e usar o que foi aprendido (exploitation).

Premissa 2: A aprendizagem organizacional é multinível: individual, grupo e organização.

Premissa 3: Os três níveis de aprendizagem organizacional estão ligados por processos

sociais e psicológicos: intuição, interpretação, integração e institucionalização.

Premissa 4: A cognição afeta a ação (e vice-versa).

1.3.2.2 As dimensões da cultura de aprendizagem organizacional

Levando em consideração os níveis em que a aprendizagem ocorre, Marsick e Watkins (2003)

reforçam estudos anteriores que identificam sete dimensões inter-relacionadas da cultura de

uma organização que aprende, conforme o disposto no quadro 1.4, a saber: oportunidades

para a aprendizagem contínua e questionamento e diálogo (nível individual); colaboração e

aprendizagem em equipa (nível de grupo); e sistemas para capturar e compartilhar a

aprendizagem, capacitação das pessoas para uma visão coletiva, conexão da organização

- 40 -

com o ambiente e estímulo à liderança estratégica para a aprendizagem (nível

organizacional).

Quadro 1.4 – As sete dimensões da cultura de aprendizagem

Dimensão Definição

Oportunidades para a

aprendizagem contínua

A aprendizagem é projetada, no trabalho, para que as pessoas

possam aprender enquanto trabalham; oportunidades são

fornecidas para educação e crescimento contínuos.

Questionamento e diálogo

As pessoas ganham habilidades de raciocínio produtivo, para

expressar seus pontos de vista, e a capacidade de ouvir e investigar

as opiniões dos outros; a cultura é alterada para apoiar o

questionamento, o feedback e a experimentação.

Colaboração e

aprendizagem em equipe

Por meio dos grupos, o trabalho é projetado para acessar diferentes

modos de pensar; espera-se que os grupos aprendam e trabalhem

em conjunto; a colaboração é valorizada pela cultura e

recompensada.

Sistemas para capturar

e compartilhar a

aprendizagem

Ambos os sistemas, de alta e baixa tecnologia, são criados e

integrados ao trabalho para que a aprendizagem seja compartilhada;

o acesso é fornecido; e os sistemas são mantidos.

Capacitação das pessoas

para uma visão coletiva

Pessoas estão envolvidas na criação e implementação de uma visão

conjunta; as responsabilidades são distribuídas, por meio da

delegação de poderes, para que as pessoas sejam motivadas a

aprender e para que elas sejam responsabilizadas por isso.

Conexão da organização

com o ambiente

As pessoas são levadas a ver os efeitos do seu trabalho em toda a

organização; pessoas analisam o ambiente e utilizam as

informações para ajustar as práticas de trabalho; a organização está

ligada a sua comunidade.

Estímulo à liderança

estratégica para a

aprendizagem

Líderes modelam, defendem e apoiam a aprendizagem; a liderança

usa a aprendizagem, estrategicamente, para os resultados do

negócio.

Fonte: Traduzido de Marsick e Watkins (2003: 139)

Estas dimensões da cultura organizacional, voltada para a aprendizagem, acabam por

integrar os dois principais componentes interativos de mudança e desenvolvimento de uma

organização, as pessoas e a estrutura. Assim, por meio destas dimensões, é possível

perceber as mudanças na cultura, clima, estrutura e sistemas organizacionais e suas

implicações para a aprendizagem individual, esta normalmente promovida pelos gestores de

recursos humanos, através da aprendizagem contínua dos funcionários. Porém, apesar da

aprendizagem no nível individual ser necessária, ela não é suficiente para influenciar

- 41 -

mudanças significativas no desempenho do conhecimento. Por isso, para que a

aprendizagem seja efetiva e possa ser utilizada para a melhoria do desempenho

organizacional, intencionalmente, ela deve ser inserida também nas estruturas, sistemas e

práticas vigentes (Marsick e Watkins, 2003).

Neste sentido, o papel dos líderes é essencial na tarefa de criar oportunidades para a

inserção da aprendizagem na cultura organizacional, pois geralmente eles aprendem com a

própria experiência, além de influenciar a aprendizagem dos outros e promover um ambiente

de expectativas que irá sustentar os resultados desejados (Marsick e Watkins, 2003). Porém,

outros fatores também podem auxiliar ou, pelo menos, favorecer a criação de uma cultura de

aprendizagem organizacional. Vista como o resultado de um processo interativo e

interdependente, a aprendizagem pode ser prejudicada e/ou estimulada pelo ambiente interno

e externo à organização, a exemplo da alta rotatividade de pessoal, acumulação do

conhecimento (pelos funcionários que sentem que a partilha pode prejudicar o seu próprio

sucesso), “uma nova norma, um novo concorrente, mudanças no mercado, novas tecnologias,

insatisfação por parte de clientes, novas demandas e exigências ou outra mudança qualquer

que altere o status quo da organização” (Menezes et al., 2011: 8).

Ainda assim, é preciso ressaltar que estes estímulos e pressões são apenas o impulso

inicial para que a organização passe a se preocupar mais com o devido apoio, incentivo e

melhor uso da sua capacidade de aprender, necessários à construção de uma verdadeira

cultura de aprendizagem, de acordo com as sete dimensões supracitadas em seus respetivos

níveis. Em outras palavras, pode-se dizer que “uma organização que aprende é aquela que

tem incorporada a capacidade de se adaptar ou responder com rapidez e de novas maneiras,

enquanto trabalha para remover as barreiras à aprendizagem” (Marsick e Watkins, 2003: 136).

Assim, com base nas informações acima, na teoria de Marsick e Watkins (2003) e

conforme os modelos teóricos propostos nas figuras 1.6 e 1.7, este estudo propõe testar a

seguinte hipótese:

H2 – A aprendizagem organizacional está positivamente relacionada com o

desempenho organizacional percebido.

- 42 -

1.3.3 O clima de serviço

1.3.3.1 Pressupostos: cultura, clima e comportamento organizacional

Para uma melhor compreensão do conceito de clima de serviço, faz-se necessário analisar,

previamente, o seu contexto e seus principais pressupostos, a começar pela diferenciação

entre clima e cultura organizacional. Em termos históricos pode-se dizer que o interesse pelos

estudos da cultura e do clima interno das organizações surge ainda na primeira metade do

século XX (Schneider et al., 2006 e Nakata et al., 2009). Porém, a intensificação deste debate

se dá apenas a partir das décadas de 1950/60 e vem atestar a importância da cultura (Schein,

2004) e do clima organizacional para a performance e o sucesso das organizações (Hong et

al., 2013). Apesar destes dois conceitos ainda apresentarem muitas inconsistências e, por

vezes, definições difusas na literatura ou, ainda, serem usados como sinónimos (Wallace et

al., 1999), para os fins aqui pretendidos, segue-se os conceitos defendidos por Schein (1983

e 2004), Schneider et al. (2006) e Schneider et al. (2013).

Segundo Schein (1983), a formação de uma cultura organizacional começa quando o

fundador estabelece, de acordo com a sua personalidade, as bases e os objetivos da

organização. A partir daí o que se percebe é a interação de um grupo de pessoas,

selecionadas para a realização destes objetivos. Portanto, é desta relação que nasce uma

cultura organizacional, como um “padrão de pressupostos básicos partilhados, inventados,

descobertos ou desenvolvidos por um determinado grupo ao aprender a lidar com os seus

problemas de adaptação externa e integração interna” (Schein, 1983:14), ou seja, um padrão

de atitudes, consideradas boas o suficiente, para ser ensinado aos novos integrantes do grupo

como a forma correta de agir face a realidade daquele ambiente. Porém, a cultura

organizacional não se reflete nos comportamentos ou artefactos observados numa simples

visita à empresa, muito menos nos valores e filosofia do fundador, mas sim no resultado dessa

interação, entre o estabelecido lá no início pelo fundador e aquilo que o grupo aprendeu ao

longo do tempo, por experiência própria.

Assim, resumidamente, a cultura organizacional está mais voltada aos aspetos gerais

que caracterizam a relação dos funcionários de uma organização e, consequentemente, a

- 43 -

própria organização, como os valores comuns, mitos, histórias e crenças, enquanto o clima

organizacional preocupa-se, sobretudo, com as atividades, eventos e comportamentos. Desta

maneira, o clima refere-se ao significado dos sinais percebidos pelos trabalhadores sobre o

foco dado às suas energias, ou seja, os estímulos encontrados no trabalho, a exemplo das

práticas, procedimentos e comportamentos esperados, suportados e recompensados naquele

ambiente (Schneider et al., 2006).

Com o passar do tempo e o aumento das pesquisas sobre o clima organizacional, suas

dimensões também sofreram uma proliferação, o que levou Benjamin Schneider, ainda em

1975, a defender uma utilidade estratégica mais específica para o clima nas organizações. O

que se está a dizer nada mais é do que dar ênfase a um determinado aspeto prático para a

pesquisa do clima, a exemplo do foco no serviço, segurança, ética, justiça, inovação, etc.

Assim, uma organização passa a ter várias opções para análise das diversas formas do clima

organizacional, de acordo com suas prioridades, possibilitando a compreensão e prevenção

de resultados mais específicos, como a qualidade de um serviço e a lealdade e satisfação do

cliente se o foco for a criação de um clima para o serviço (Schneider et al., 2013).

Não obstante, outro importante pressuposto do clima de serviço é o comportamento

organizacional. De acordo com Schneider (1987 apud Schneider et al., 2006), quando se ouve

o termo comportamento organizacional, logo se pensa numa empresa fazendo alguma coisa,

mas deve-se ressaltar que quem faz algo são as pessoas que ali estão e não a organização

em si. Portanto, se quiser compreender o comportamento organizacional é imprescindível

perceber o comportamento dos indivíduos e grupos e o que os motiva a dar o melhor de si no

ambiente de trabalho. O foco deve ser tanto os indivíduos e equipas como suas relações e

interações resultantes do contexto e da estrutura organizacional existente, seja ela formal

(constituída por meio de organograma ou design) ou informal (resultado das diversas relações

no ambiente de trabalho). Desta forma, conhecer os impactos do comportamento, das

pessoas e grupos, torna-se fundamental para compreender e intervir na dinâmica

organizacional.

O comportamento das pessoas pode ser estimulado e impulsionado para

determinados fins, mas para isso é necessário compreender como os funcionários processam

as informações relacionadas aos estímulos encontrados no seu ambiente de trabalho, ou seja,

- 44 -

o que os motiva a fazer um bom trabalho. Apesar da complexidade deste assunto e dos

diversos estudos e teorias existentes, ressaltamos aqui dois aspetos considerados relevantes

para uma análise mais aprofundada da influência do comportamento organizacional no clima

de serviço, a saber: as pessoas são movidas por fatores externos e internos; e algumas

dimensões da personalidade estão diretamente relacionadas com o desempenho individual

no trabalho (Schneider et al., 1998). Portanto, ter conhecimento destes aspetos torna-se

fundamental às organizações que buscam melhorar sua performance, produtividade ou

qualidade dos serviços.

O termo motivação tem sido usado com os mais variados significados, mas quase

sempre giram em torno de duas premissas básicas, a motivação externa e a motivação

interna. Porém, segundo Bergamini (1990), a motivação vem do interior de cada um,

descartando a possibilidade de existir uma motivação externa. Como defende a autora, o que

há na verdade são fatores externos que podem estimular o comportamento motivacional das

pessoas e, assim, gerar a motivação ou o contrário, a desmotivação. Todavia, pesquisas no

campo comportamental têm demonstrado que, na realidade, o que se pode conseguir por

meio da influência de fatores externos (decorrentes do ambiente e das características

organizacionais) são apenas alterações superficiais no comportamento dos indivíduos, motivo

pelo qual as organizações devem se preocupar também, e sobretudo, com os fatores internos

de motivação pessoal, estes decorrentes da personalidade de cada um.

De acordo com a teoria ou modelo dos cinco fatores (Five-Factor Model ou Big Five),

podemos dividir a personalidade em cinco grandes dimensões, nomeadamente, o

neuroticismo/estabilidade emocional, a extroversão/introversão, a abertura para experiências,

a amabilidade e a conscienciosidade. Destas dimensões, também chamadas de

competências sócio-emocionais, destacam-se três que, de acordo com 41 estudos analisados

por Schneider et al. (2006), têm maior relevância para o desempenho individual nos serviços,

a saber: a estabilidade emocional (por vezes marcada pelo seu oposto, o neuroticismo, cuja

natureza é essencialmente negativa), que refere-se à consistência e previsibilidade emocional

e resulta em baixos níveis de mudança de humor; a amabilidade (em oposição ao egoísmo),

que está relacionada à felicidade, onde os indivíduos amáveis têm maior motivação para

relações interpessoais e, com isso, geram melhores níveis de bem-estar ao grupo; e a

- 45 -

conscienciosidade, cuja tendência é a organização, o esforço e a responsabilidade e

relaciona-se diretamente com a satisfação pessoal no trabalho, o que acaba por elevar a

probabilidade de obtenção de recompensas, tanto formais, a exemplo de melhores salários e

promoções, quanto informais, como o sentimento de realização pessoal e o reconhecimento

e respeito do grupo (Judge et al., 2002).

Enfim, estes são os principais pressupostos relacionados ao clima de serviço de um

ambiente organizacional e, portanto, fundamentais para o estudo, diagnóstico ou avaliação

do clima organizacional. Assim, tendo em conta a possibilidade de melhoria ou criação de um

clima orientado para os serviços e levando em consideração as evidências encontradas, por

Schneider et al. (1998), de que o clima de serviço existente na organização também é

compartilhado pelos clientes/utentes atendidos, no que segue refletir-se-á um pouco sobre o

contexto da criação de um clima para o serviço e as condições e instrumentos necessários

para que o trabalho dos funcionários seja refletido de maneira positiva na perceção dos

usuários sobre o atendimento recebido e qualidade dos serviços prestados.

1.3.3.2 O clima de serviço e seus antecedentes e consequentes

Levando em consideração que um clima de serviço forte e positivo pode ser criado, que este

tem grande importância estratégica para as organizações e, ainda, para um melhor

entendimento de como o clima de serviço influencia a performance organizacional, faz-se

necessário a análise dos seus principais antecedentes e consequentes.

De acordo com a teoria de Schneider et al. (1998), pode-se dizer que os principais

antecedentes do clima de serviço e potenciais geradores de um clima favorável à prestação

de serviços são, de uma maneira geral, as práticas de recursos humanos (RH) e a liderança.

Já os principais consequentes são a atitude dos funcionários e o desempenho do serviço,

estes altamente responsáveis pela satisfação dos clientes/utentes, a refletir também na

performance organizacional, conforme mostra a figura 1.3, modelo teórico resultante da meta-

análise de Hong et al. (2013).

- 46 -

Figura 1.3 – Antecedentes e consequentes do clima de serviço

Fonte: Adaptado de Hong et al. (2013).

De acordo com esta meta-análise, 58% dos estudos identificados utilizaram a escala

de Schneider et al. (1998). Esta escala foi desenvolvida para avaliar e medir aspetos gerais e

específicos da vinculação entre o clima de serviço e a perceção dos usuários sobre a

qualidade dos serviços e baseia-se em três constructos, nomeadamente, questões

fundamentais, clima para o serviço e perceção da qualidade do serviço pelos clientes/utentes.

Quanto às questões fundamentais, referem-se a forma como as unidades de uma

organização servem umas às outras e as condições gerais que facilitam o trabalho, a exemplo

da liderança, formação, participação, suporte tecnológico, etc. Já o constructo clima para o

serviço fornece um resumo do clima de serviço na organização e avalia os serviços práticos

e o ambiente de trabalho, incluindo aspetos como a orientação para o cliente, as práticas de

gestão e o feedback dos clientes. E, por fim, a perceção da qualidade do serviço pelos

usuários envolve a perceção do cliente sobre o serviço em geral, sobre a eficiência,

segurança, competência e o relacionamento estabelecido, este direcionado às relações

criadas, à recetividade e ao atendimento pessoal (Schneider et al., 1998).

Os dois principais aspetos das questões fundamentais, referidos por Hong et al.

(2013) como o apoio geral fornecido pela organização, além da adequada infraestrutura, são

as práticas de RH e a liderança. As práticas de RH por comunicar o foco estratégico aos

funcionários e estabelecer aquilo que é esperado, apoiado e recompensado na organização,

além de capacitar e motivar os funcionários e desenvolver as habilidades necessárias para

um alto desempenho. E a liderança por ser responsável pela garantia de um bom clima de

serviço, orientado para as boas atitudes e comportamentos dos funcionários, uma vez que,

- 47 -

ao contrário da produção de bens, a precisão do controlo, acompanhamento e avaliação no

processo de prestação de um serviço são praticamente impossíveis.

Assim, as consequências de um forte clima de serviço tem reflexo nos resultados para

os funcionários e pode ser percebido pelas suas atitudes, a exemplo do comprometimento e

satisfação com o trabalho e, também, no desempenho do serviço, expresso através de

comportamentos adequados e da qualidade dos serviços prestados. Estes aspetos estão

diretamente relacionados aos resultados para os clientes/utentes e, assim, ligados também à

sua satisfação e lealdade. E ao final deste processo de produção, entrega e consumo de um

serviço o que se vislumbra é uma alta performance organizacional, conforme mostrado na

figura 1.3 (Hong et al., 2013).

Enfim, como defendem Schneider et al. (2006: 113), “a impressão que se tem é que

as organizações têm focado excessivamente no cliente e têm ignorado a importância da

organização interna para cumprir os objetivos dos usuários”. Assim, o excessivo foco no

cliente/utente também se torna um problema e, para isso, a solução encontrada pelos autores

baseia-se no alinhamento da organização interna e na criação de um forte clima para o

serviço, alcançados por meio das práticas de RH e liderança estratégica orientadas para a

qualidade e efetividade dos serviços prestados.

Assim, com base nas informações acima, na teoria de Schneider et al. (1998) e

conforme o modelo teórico proposto na figura 1.6, este estudo propõe testar a seguinte

hipótese:

H3 – O clima de serviço está positivamente relacionado com o desempenho

organizacional percebido.

1.3.4 A força da identidade e a integração da visão

Normalmente as organizações definem a sua identidade, ou quem são, por meio de

declarações de valores e estabelecimento de sua missão e visão. Assim, tendo em conta que

esta identidade, em maior ou menor grau, orienta as ações dos funcionários e é construída

de maneira dinâmica, por meio de interações sociais, afiliações e identificações (Machado,

- 48 -

2003), este estudo volta-se para a análise da força que a identidade organizacional exerce

sobre seus membros (Kreiner e Ashforth, 2004) e para a importância do envolvimento destes

indivíduos no processo de implementação e integração da visão (Kohles et al., 2012). Sendo

assim, para um melhor entendimento acerca destes constructos, a seguir são discutidas as

especificidades destas capacidades.

1.3.4.1 Força da identidade e identificação organizacional

Estudos sobre a identidade organizacional têm sido desenvolvidos pelo menos nos últimos 30

anos, porém, ainda hoje o seu conceito é bastante complexo e disperso e a sua abordagem

é, por vezes, multifacetada e de difícil articulação entre os níveis pessoal, social e

organizacional. Enquanto “a identidade pessoal está ligada a uma construção individual do

conceito de si, a identidade social trata do conceito de si a partir da vinculação da pessoa a

grupos sociais” (Machado, 2003: 53) e, assim, se relacionam com a identidade organizacional,

que abrange os processos e as atividades através dos quais a organização torna-se única na

mente de seus membros e reforça a crença do que é central, de certa forma duradouro e o

que a distingue das outras organizações (Ashforth et al., 2008).

Por sua vez, a identificação organizacional é compreendida como “o grau no qual um

indivíduo define a si próprio pelos mesmos atributos que ele acredita definir a organização"

(Dutton et al., 1994: 239). Já o processo de identificação, segundo Pratt (1998), pode se dar

por dois caminhos distintos, o da afinidade (autorreferencial), quando indivíduo e organização

partilham valores semelhantes, e o da emulação (autodefinido), quando o indivíduo acaba por

mudar seu autoconceito para que seus valores e crenças tornem-se mais parecidos aos da

organização.

Para Nunes et al. (2014: 52-53), “a teoria da identidade e da identificação

organizacional adequa-se ao desenvolvimento de um quadro de referência que contemple as

características organizacionais, a relação estabelecida entre os indivíduos e a organização e

as suas orientações comportamentais”. Assim, as condições básicas para uma maior

identificação e cooperação dos membros com o grupo estão no facto da organização

- 49 -

proporcionar ao indivíduo a manutenção de sua identidade pessoal, a melhoria da sua

autoestima e a sua distinção perante os demais. E como consequência de uma identificação

forte, entre indivíduos e organização, é possível perceber uma maior motivação intrínseca,

aumento da partilha de informações, melhor desempenho e ações mais coordenadas, além

da promoção da lealdade, resultante desta relação de pertença ao grupo.

Assim, a identificação organizacional tem sido vista como um aspeto desejável tanto

pelos indivíduos quanto pelas organizações, devido as suas importantes implicações a nível

individual, de grupo e organizacional, especialmente neste último, quando associado a

comportamentos de desempenho e cidadania organizacional. Porém, assim como a falta de

identificação, ou desidentificação, pode ser um problema para indivíduos e organizações, a

supra identificação também pode acarretar sérias disfunções, como a perda do senso de

identidade pessoal e a diminuição da capacidade de ver e/ou apontar as falhas da organização

(Kreiner e Ashforth, 2004). Não obstante, estes autores defendem um modelo expandido de

identificação organizacional, com quatro dimensões, a saber: a identificação, que consiste em

conectar as características da organização ao indivíduo; a desidentificação, caracterizada

pela desconexão dos aspetos da organização a partir do indivíduo (geralmente este indivíduo

é visto como indesejável); a identificação ambivalente, onde o indivíduo identifica-se com a

organização ao tempo que está comprometido com uma causa contrária à identidade

organizacional; e a identificação neutra, em que o funcionário mantém-se indiferente em

relação à missão, metas e valores organizacionais e, por isso, é menos provável que se sinta

envolvido e contribua com a organização.

Enfim, da revisão feita por Ashforth et al. (2008), acerca das questões fundamentais

sobre a identificação, ressaltam-se aqui as várias formas de abordagem da identificação

organizacional, desde as mais amplas que envolvem as relações comportamentais até as

formulações relativamente mais estritas de autodefinição e adesão organizacional, defendidas

neste trabalho, a exemplo de Ashforth e Mael (1989), Dutton et al. (1994) e Kreiner e Ashforth

(2004).

Como mostra a figura 1.4, o núcleo da identidade serve como base para a identificação

e é caracterizado pela autodefinição (quem sou eu?), pelo que considero importante (o que

eu valorizo?) e pelo significado afetivo/emocional (o que eu sinto?). Assim, a identificação é

- 50 -

percebida pela união ou pertença a um determinado grupo, construída por meio da afetividade

(afinidade) ou da cognição (emolução, onde o indivíduo aprende a valorizar a identidade

organizacional). Por sua vez, o conteúdo da identidade, nomeadamente, os valores, objetivos

e metas, crenças, padrões e competências (conhecimentos, habilidades e atitudes) são os

atributos centrais, mais ou menos duradouros e que distinguem uma organização das demais.

Figura 1.4 – Contexto da identificação organizacional

Fonte: Traduzido de Ashforth et al. (2008: 330)

Desta maneira, a incorporação destes atributos pelo indivíduo o tornam, de certa

forma, um protótipo da organização e de suas regras. Porém, ao contrário dos elementos do

núcleo da identidade, que são altamente interligados, os elementos do conteúdo são mais

independentes e, muitas vezes, estes atributos não fazem parte da identidade organizacional

ou estão desarticulados ou não são claros o suficiente para que os indivíduos consigam

identificar-se com eles. Por outro lado, quanto mais forte for a identidade, mais a identificação

irá envolver os elementos do conteúdo e a organização estará mais preocupada com aquilo

que lhe importa, quer, acredita, geralmente faz e, ainda, pode fazer. E, por fim, as formulações

mais amplas abordam, também, o comportamento da identidade, ou seja, aquilo que faço,

- 51 -

ressaltando a importância do comportamento para a construção social da identificação, de

modo a propiciar as ações necessárias para a conceção da identificação, além de pensar e

sentir o caminho percorrido (Ashforth et al., 2008).

Assim, com base nas informações acima, na teoria de Kreiner e Ashforth (2004) e

conforme o modelo teórico proposto na figura 1.6, este estudo propõe testar a seguinte

hipótese:

H4 – A força da identidade está positivamente relacionada com o desempenho

organizacional percebido.

1.3.4.2 A integração da visão organizacional

Em sua relação com a identidade organizacional, de uma maneira mais idealista, a visão

retrata um estado futuro desejado (onde se quer chegar), porém, a visão não diz como chegar

lá e é por isso que ressalta-se aqui o papel da estratégia e da liderança na orientação dos

comportamentos dos colaboradores para a consecução do estado visionado ou desejado. Por

sua vez, este caminho deve ser percorrido em estreita relação com a missão organizacional

que, de uma maneira mais abstrata, abrange o motivo pelo qual a organização existe e, ainda,

deve levar em consideração os valores defendidos pela organização (Kohles et al., 2012).

De acordo com O’Connell et al. (2011), o processo de desenvolvimento da visão está

conectado aos resultados individuais, de grupo e organizacionais e pode ocorrer de quatro

formas distintas: um líder cria a visão e comunica aos seguidores; um dos principais líderes

ou grupo de gestores de topo criam e comunicam a visão; a visão é criada por um líder e seus

seguidores num processo de construção dos significados e sentidos; e, por fim, a visão pode

ser criada e assimilada em processo de cooperação e colaboração que envolve toda a

organização como um grande grupo. Entre outros aspetos, os autores destacam, ainda, a

importância da comunicação para o processo de articulação da visão entre organização e

indivíduos. Neste processo, o uso de imagens inspiradoras, linguagem inclusiva, objetivos e

tarefas devidamente especificados e uma visão clara e desafiadora são os principais

articuladores. Já a ausência de uma comunicação eficaz pode relegar a visão organizacional

- 52 -

ao mero formalismo, sem impacto e potencialmente responsável pelo baixo desempenho

individual e organizacional.

Para além do desenvolvimento e comunicação da visão, o foco deste trabalho está na

importância do processo de integração da visão organizacional, cujos resultados são

melhores níveis de satisfação no trabalho, comprometimento organizacional e desempenho,

conforme defendido por Kohles et al. (2012), de acordo com modelo constante na figura 1.5.

Figura 1.5 – Processo de integração da visão

Fonte: Traduzido de Kohles et al. (2012: 478)

Enfim, este modelo defende que a visão deve ser clara e conhecida por todos e pode

ser adotada e integrada às decisões e comportamentos dos funcionários no ambiente de

trabalho, por meio da comunicação entre líderes e seguidores, seja de cima para baixo (top-

down), por meio da designação de tarefas em conformidade com a visão organizacional, ou

o contrário (bottom-up), incluindo sugestões, perguntas e preocupações dos seguidores

referente à aplicação da visão. Porém, o mais provável é que a integração entre a visão e os

comportamentos seja realmente alcançada por meio de uma comunicação bidirecional,

envolvendo um processo mais interativo. E, assim, quanto mais integrada for a visão, maiores

serão os benefícios tanto para os seguidores, a exemplo de uma maior satisfação no trabalho,

- 53 -

quanto para a organização, que terá funcionários mais comprometidos com os seus valores

e dispostos a contribuir para o sucesso da organização e resultados de performance mais

elevados (Kohles et al., 2012).

Assim, com base nas informações acima, na teoria de Kohles et al. (2012) e conforme

o modelo teórico proposto na figura 1.6, este estudo propõe testar a seguinte hipótese:

H5 – A integração da visão está positivamente relacionada com o desempenho

organizacional percebido.

E, por fim, com base nas informações teóricas acima e nos resultados da análise do

modelo de mensuração, resolve-se estabelecer um modelo teórico alternativo com a intenção

de avaliar a importância indireta da identidade organizacional (formada pela força da

identidade e integração da visão) na performance, quando mediada pela ambidextria

contextual e pela aprendizagem organizacional, conforme proposto na figura 1.7. Sendo

assim, este estudo propõe testar ainda as seguintes hipóteses:

H6 – A identidade organizacional está positivamente relacionada com a

ambidextria contextual.

H7 – A identidade organizacional está positivamente relacionada com a

aprendizagem organizacional.

1.4 MODELOS TEÓRICOS DA INVESTIGAÇÃO

De acordo com o referencial teórico apresentado nas subsecções anteriores e para permitir

uma melhor análise visual, apresentam-se a seguir de forma esquemática os dois modelos

teóricos/estruturais propostos para esta investigação.

- 54 -

Figura 1.6 – Modelo teórico da investigação

Figura 1.7 – Modelo teórico alternativo

- 55 -

CAPÍTULO II – MÉTODO

2.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

O propósito de uma amostragem é a obtenção de informações sobre uma determinada

população que, por sua vez, é definida pelas características comuns a um determinado grupo

ou conjunto, neste caso os funcionários do IFC. Dessa maneira, a seleção da amostra feita

para este trabalho se deu de maneira aleatória simples, onde cada elemento da população

teve a chance real de participar e a escolha do tipo amostral teve como objetivo poder

generalizar os resultados obtidos, estes representativos da população ou universo estudado

(Carmo e Ferreira, 2008).

Neste sentido, a amostra seguinte é resultado dos dados recebidos online, com as

respostas ao questionário aplicado, num total de 173 participantes, que resulta numa taxa de

respostas de 10,5%, relativo à população de 1.646 indivíduos. Assim, considerando uma

diversidade populacional de 50%, obtém-se um nível de confiança de 90% e uma margem de

erro de 6%, de acordo com os cálculos estatísticos (teorema central do limite)5, caracterizando

assim a devida validade geral e representatividade da amostra.

Conforme os dados do quadro 2.1, destaca-se que a maioria dos respondentes são do

género feminino (51,4%) e que a idade média geral foi de 38 anos, com um desvio padrão de

9, sendo que a maioria dos inquiridos (63,6%) possuem menos de 40 anos. Destaca-se, ainda,

o alto índice de pós-graduados (79,2%), que pode ser justificado pelo facto de se tratar de

uma instituição de ensino e, também, devido aos incentivos financeiros à qualificação. Quanto

ao tempo de serviço, ressalta-se que quase a metade dos respondentes (46,8%) ainda estão

em estágio probatório (menos de 3 anos) e que apenas 15% possuem mais de 7 anos, ou

seja, faziam parte do quadro de funcionários dos antigos colégios agrícolas e escolas

agrotécnicas que inicialmente formaram o IFC. Ressalta-se, ainda, que apenas as duas

menores unidades (Aberlardo Luz e São Bento do Sul) não participaram da pesquisa e as

unidades que apresentaram maior representatividade foram São Francisco do Sul (32,3%),

5 O instrumento utilizado para esta medição foi o seguinte: http://www.netquest.com/

- 56 -

Reitoria (25,9%) e Brusque (20,6%) e, por fim, a amostra foi formada em sua maioria por TAEs

(69,4%) e por não ocupantes de cargo ou função de confiança (65,3%).

Quadro 2.1 – Caracterização da amostra

Variáveis Características Respondentes Porcentagem

Género Masculino Feminino

84 89

48,6 51,4

Idade De 18 a 29 anos De 30 a 39 anos De 40 a 49 anos De 50 a 64 anos

39 71 43 20

22,5 41,1 24,8 11,6

Escolaridade Ensino Médio Curso Superior Especialização Mestrado Doutorado

7 29 63 52 22

4,0 16,8 36,4 30,1 12,7

Tempo de serviço Menos de 1 ano Entre 1 e 3 anos Entre 3 e 5 anos Entre 5 e 7 anos Mais de 7 anos

18 63 29 37 26

10,4 36,4 16,8 21,4 15,0

Categoria Docentes TAEs

53 120

30,6 69,4

Unidade de trabalho Reitoria Araquari Blumenau Brusque Camboriú Concórdia Fraiburgo Ibirama Luzerna Rio do Sul Santa Rosa do Sul São Fco do Sul Sombrio Videira

30 18 10 7

13 13 4

10 15 10 8

21 6 8

17,3* 10,4*

5,8* 4,0* 7,5* 7,5* 2,3* 5,8* 8,7* 5,8* 4,6*

12,1* 3,5* 4,6*

25,9** 9,7**

12,7** 20,6** 5,7** 6,7** 7,5**

16,4** 17,0** 5,4** 5,6**

32,3** 9,2** 5,9**

Cargo ou função de confiança Sim Não

60 113

34,7 65,3

* Porcentagem relativa ao total de participantes (n=173).

** Porcentagem relativa ao total de servidores por unidade (conforme quadro 2.2).

Fonte: Dados dos questionários recebidos

- 57 -

2.2 A ORGANIZAÇÃO

A organização, objeto deste estudo, é o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia

Catarinense (IFC), uma autarquia federal pertencente à Rede Federal de Educação

Profissional, Científica e Tecnológica brasileira. Criado pela Lei 11.892, de 29 de dezembro

de 2008, o IFC teve sua origem na integração das escolas agrotécnicas de Concórdia, Rio do

Sul e Sombrio e dos colégios agrícolas de Araquari e Camboriú e, atualmente, possui 15

campi distribuídos pelo Estado de Santa Catarina (ver figura 2.1), nas cidades de Abelardo

Luz (2), Araquari (3), Blumenau (4), Brusque (5), Camboriú (6), Concórdia (7), Fraiburgo (8),

Ibirama (9), Luzerna (10), Rio do Sul (11), Santa Rosa do Sul (12), São Bento do Sul (13),

São Francisco do Sul (14), Sombrio (15) e Videira (16), além da Reitoria instalada na cidade

de Blumenau (IFC, 2016).

Figura 2.1 – Localização da Reitoria e Campi do IFC

Fonte: IFC (2016)

- 58 -

Com o objetivo de “promover o desenvolvimento do país por meio da oferta à

população de ensino, pesquisa e extensão, em sintonia com as demandas dos arranjos

produtivos locais”, os 38 Institutos Federais, presentes em todos os Estados brasileiros, a

exemplo do IFC, têm como missão a oferta de educação gratuita e de qualidade com foco na

formação de professores, para suprir a carência de profissionais habilitados para a educação

básica, sobretudo na área de ciências, além da formação de “técnicos, tecnólogos e

engenheiros em áreas específicas, de modo a contribuir para o desenvolvimento de setores

estratégicos da economia nacional” (Tavares, 2012: 10).

Para desenvolver suas atividades administrativas e pedagógicas, o IFC conta

atualmente com um quadro total (população) de 1.646 funcionários/servidores em exercício,

divididos em duas categorias, técnico-administrativos em educação (TAEs) e

professores/docentes, lotados na Reitoria e nos 15 campi, conforme detalhes apresentados

no quadro a seguir.

Quadro 2.2 – Número de servidores do IFC por unidade de trabalho

Unidades Docentes TAEs Total

Reitoria 10 106 116

Campus Abelardo Luz 3 3 6

Campus Araquari 109 77 186

Campus Blumenau 47 32 79

Campus Brusque 15 19 34

Campus Camboriú 141 86 227

Campus Concórdia 99 94 193

Campus Fraiburgo 26 27 53

Campus Ibirama 39 22 61

Campus Luzerna 47 41 88

Campus Rio do Sul 102 82 184

Campus Santa Rosa do Sul 67 75 142

Campus São Bento do Sul 4 8 12

Campus São Francisco do Sul 36 29 65

Campus Sombrio 41 24 65

Campus Videira 80 55 135

Total 866 780 1646

Fonte: Dados oficiais informados pelo IFC em abril de 2016

- 59 -

2.3 MEDIDAS

Levando em consideração a necessidade de testar as hipóteses elencadas no primeiro

capítulo (ver figuras 1.6 e 1.7), as medidas a seguir são utilizadas para avaliar a variável

dependente, nomeadamente, o desempenho organizacional, e as variáveis independentes: a

ambidextria contextual, a aprendizagem organizacional, o clima de serviço, a força da

identidade e a integração da visão. Estas variáveis são medidas, de acordo com a perceção

dos funcionários do IFC, por meio de instrumentos (com escalas do tipo Likert de 7 pontos)

desenvolvidos e validados por seus autores (e amplamente utilizados por outros

pesquisadores em diversos países) e, neste caso, traduzidos e adaptados para atender às

variações linguísticas e a realidade da população estudada. São analisadas, também, as

variáveis de controlo constantes no questionário aplicado (Anexo B, secção 1), com destaque

para os controlos demográficos de género, idade, escolaridade, tempo de serviço e categoria

profissional, além da unidade de lotação e o exercício de cargo ou função de confiança.

2.3.1 O desempenho organizacional percebido

A medida utilizada para avaliar o desempenho organizacional, de acordo com a perceção dos

funcionários, foi o instrumento desenvolvido por Gibson e Birkinshaw (2004), onde é solicitado

aos servidores do IFC que expressem o seu grau de concordância (de discordo totalmente à

concordo totalmente) em relação às afirmações do questionário (ver Anexo B, secção 2,

questões 1 à 4). Estas afirmações estão relacionadas ao potencial atingido pela unidade de

trabalho, ao nível de satisfação dos funcionários com o desempenho da sua unidade, com o

trabalho feito no sentido de satisfazer os usuários do serviço e quanto às oportunidades e

incentivos encontrados pelos funcionários no ambiente de trabalho para que possam dar o

melhor de si na realização de suas atividades.

- 60 -

2.3.2 A ambidextria contextual

Para a avaliação da ambidextria contextual foi utilizado, também, o instrumento desenvolvido

e validado por Gibson e Birkinshaw (2004). Aos servidores do IFC, é solicitado que expressem

o seu grau de concordância (de discordo totalmente à concordo totalmente) em relação às

afirmações do questionário (ver Anexo B, secção 2, questões 5 à 10). A ambidextria contextual

é entendida como o resultado da interação de duas outras capacidades, o alinhamento

(questões 5 à 7) e a adaptabilidade (questões 8 à 10). A medida do alinhamento refere-se à

coerência dos sistemas de gestão, no sentido de apoiar os objetivos gerais da organização,

de não desperdiçar recursos em atividades improdutivas e oferecer metas claras e não

conflitantes. E a medida da adaptabilidade, por sua vez, volta-se para a flexibilidade e

influência dos sistemas de gestão no encorajamento dos funcionários a desafiar as práticas e

tradições obsoletas, para responder rapidamente às mudanças externas e adequar-se às

mudanças de prioridades da organização.

2.3.3 A aprendizagem organizacional

O instrumento utilizado para a avaliação da aprendizagem organizacional chama-se

Dimensions of the Learning Organization Questionnaire (DLOQ), sistematizado por Marsick e

Watkins (2003), por meio do qual é solicitado aos servidores do IFC que indiquem a frequência

(de nunca a sempre) com que acontecem os factos elencados na secção 3 do Anexo B. A

escala utilizada, em sua versão reduzida, é composta por sete afirmações que correspondem

as sete dimensões da cultura de aprendizagem, a saber: oportunidades para a aprendizagem

contínua; questionamento e diálogo; colaboração e aprendizagem em equipa; sistemas para

capturar e compartilhar a aprendizagem; capacitação das pessoas para uma visão coletiva;

conexão da organização com o ambiente; e estímulo à liderança estratégica para a

aprendizagem.

- 61 -

2.3.4 O clima de serviço

O clima de serviço é medido por meio da escala de Schneider et al. (1998), que foi

desenvolvida para avaliar e medir os aspetos gerais e específicos da vinculação entre o clima

de serviço e a perceção dos usuários sobre a qualidade dos serviços. Aos servidores do IFC,

é solicitado que avaliem (de muito mau a excelente) a preocupação que existe, na sua unidade

de trabalho, com a prestação de um serviço de qualidade (ver Anexo B, secção 4). Este

instrumento baseia-se em três constructos, nomeadamente: questões fundamentais,

referente à maneira como as unidades de uma organização servem umas às outras e as

condições gerais que facilitam o trabalho; clima para o serviço, que fornece um resumo do

clima de serviço na organização e avalia os serviços práticos e o ambiente de trabalho; e

perceção da qualidade do serviço pelos usuários, relativo à perceção do cliente sobre o

serviço em geral, à eficiência, segurança, competência e ao relacionamento estabelecido.

Porém, para os fins pretendidos neste estudo, são avaliados apenas os sete aspetos

relacionados ao clima para o serviço.

2.3.5 A força da identidade e a integração da visão

As medidas utilizadas para avaliar a força da identidade e integração da visão organizacional

são, respetivamente, aquelas desenvolvidas por Kreiner e Ashforth (2004) e Kohles et al.

(2012). Aos servidores do IFC, é solicitado que pensem na organização como um todo (em

sua missão, visão e valores) e expressem o seu grau de concordância (de discordo totalmente

a concordo totalmente) em relação às afirmações do questionário (ver Anexo B, secção 5).

As questões 1 à 4 estão relacionadas à força da identidade, que consiste na intensidade da

conexão das características da organização ao indivíduo. Já as questões 5 à 9 dizem respeito

à integração da visão, ou seja, o grau em que a visão organizacional é utilizada e afeta as

decisões e comportamentos no ambiente de trabalho.

- 62 -

2.4 PROCEDIMENTOS PARA RECOLHA DE DADOS

Os procedimentos para a recolha de dados foram sistematicamente organizados em três

etapas. Num primeiro momento, com o propósito de verificar a adaptabilidade do questionário

à população estudada, procede-se um teste com uma das variáveis independentes

(ambidextria contextual) e a variável dependente (desempenho organizacional), além das

variáveis de controlo supracitadas. Este teste foi feito numa das unidades do IFC, em junho

de 2015, e seus resultados podem ser conferidos em Cecilio (2015). Já num segundo

momento, no mês de abril de 2016, é feito um levantamento de dados oficiais junto à

organização, a resultar nas informações demográficas necessárias à prossecução do estudo.

E, paralelamente, após a devida autorização da Reitoria do IFC (Anexo A), procede-se a

aplicação do questionário (Anexo B) que ficou disponível durante todo o mês de abril de 2016.

O questionário online, desenvolvido através da plataforma Google Form, foi enviado

para o e-mail institucional de cada um dos 1.646 servidores do IFC, no dia 1º de abril, pela

Coordenação de Comunicação (CECOM – Reitoria). Por questão de controlo das respostas,

o acesso ao questionário só foi autorizado por meio de login com o e-mail institucional,

assegurando assim, a participação exclusiva e única dos voluntários. Porém, apesar da

necessidade de login e do caráter pessoal das questões, a equipa de pesquisa não teve

acesso a estes dados e os respondentes não foram identificados. Desta maneira, foram

garantidos o anonimato dos participantes e a confidencialidade das respostas, que jamais

serão analisadas individualmente.

Assim, ressaltam-se os esforços éticos despendidos durante a realização desta

pesquisa e a responsabilidade com que ela foi conduzida. E, ainda, em consonância com as

normas da comunidade científica buscou-se respeitar, além da originalidade, individualismo e

independência, os princípios do comunismo (com o devido compartilhamento das descobertas

e informações da pesquisa), do universalismo (por meio da utilização de critérios impessoais

para o julgamento das informações empíricas), do desinteresse (visando o avanço do

conhecimento em detrimento de interesses próprios) e do ceticismo organizado (com a

submissão dos dados ao escrutínio sistemático e de validação) (Coontz, 2008).

- 63 -

CAPÍTULO III – RESULTADOS

3.1 ANÁLISE FATORIAL

Por meio da análise fatorial confirmatória, através da técnica de modelagem de equações

estruturais6, com a utilização do método de estimativa por máxima verossimilhança,

estandardizada, verifica-se que o modelo de mensuração não está a descrever

apropriadamente os dados7 (índices de ajustamento: χ2/DF=2,75 (p=0,00); CFI=0,85;

TLI=0,84; SRMR=0,18) e, sendo assim, faz-se necessário uma depuração da escala, com o

objetivo de eliminar os itens (variáveis observadas) com baixa carga fatorial (grandes erros

ou desvios), para que a confiabilidade e validade do modelo não sejam comprometidas (Hair

Jr. et al., 2014). Por isso, após a devida ponderação sobre o contéudo das variáveis

observadas e suas relações com os constructos teóricos, são removidos os seguintes itens

(ver anexo B): ambidextria contextual (item 10), aprendizagem organizacional (item 3), clima

de serviço (itens 3, 5 e 7) e integração da visão (itens 7 e 8). Assim, o modelo de mensuração

fica com 26 variáveis observadas e passa a apresentar valores de ajustamento adequados

(χ2/DF=2,38 (p=0,00); CFI=0,91; TLI=0,90; SRMR=0,05).

Após as alterações acima, verifica-se o nível de confiabilidade das escalas utilizadas,

por meio da análise do Alfa de Cronbach, que apresenta valores bastante expressivos

(ambidextria contextual: α = 0,92; aprendizagem organizacional: α = 0,90; clima de serviço:

α = 0,89; força da identidade: α = 0,93; integração da visão: α = 0,93; e desempenho

6 Esta análise e as seguintes foram feitas com o auxílio dos softwares estatísticos IBM SPSS Statistics

e Amos (versão 22).

7 Índices de ajustamento comumente aceitáveis: χ2/DF<3,00 (p<0,05); CFI>0,90; TLI>0,90;

SRMR<0,08, onde: “χ2/DF” refere-se ao qui-quadrado sobre os graus de liberdade e serve para

avaliar o ajuste global do modelo; “p” diz respeito ao nível de probabilidade e significância; “CFI” é o

índice de ajuste comparativo e considera a complexidade do modelo; “TLI” é o índice de Tucker-Lewis,

também chamado de índice não normalizado; e “SRMR” é a raiz quadrada média residual

padronizada e indica o valor médio dos resíduos das covariâncias (Kline, 2011; Marôco, 2010; Hu e

Bentler, 1999).

- 64 -

organizacional: α = 0,91), evidenciando a boa consistência interna dos itens propostos para

medir cada uma das variáveis latentes ou fatores (Chavda, 2008; Pestana e Gageiro, 2008).

São analisadas, também, as validades convergente e discriminante. A convergente

mede a extensão em que as variáveis observadas se correlacionam e convergem para um

determinado fator e pode ser comprovada através da média das variâncias extraídas (AVE –

Average Variance Extracted), cujos valores devem ser positivos e significativos, acima de 0,5

(Hair Jr. et al., 2014). Neste caso, os resultados mostram valores entre 0,67 e 0,84 (ver quadro

3.1) e, portanto, comprovam a validade convergente.

Quadro 3.1 – Resultados de confiabilidade e validade do modelo de mensuração

Variáveis latentes α AVE 1 2 3 4 5

1. Ambidextria contextual

2. Aprendizagem organizacional

3. Clima de serviço

4. Força da identidade

5. Integração da visão

6. Desempenho organizacional

0,92

0,90

0,89

0,93

0,93

0,91

0,76

0,67

0,71

0,81

0,84

0,75

0,62*

0,58*

0,21*

0,21*

0,77*

0,86*

0,18*

0,34*

0,64*

0,20*

0,28*

0,61*

0,15*

0,17*

0,19*

* Estes valores representam o quadrado das correlações.

Já a validade discriminante envolve a comparação das correlações entre os

constructos do modelo e o grau de distinção entre eles. Assim, de acordo com o critério de

Fornell e Larcker, analisa-se a validade discriminante através do quadrado das correlações

entre as variáveis latentes, sendo que os valores obtidos devem ser menores que os valores

das respetivas AVEs (Hair Jr. et al., 2014). Conforme exposto no quadro 3.1, a validade

discriminante é obtida para a maioria das relações, exceto em duas situações: entre a

ambidextria contextual e o desempenho organizacional (r² = 0,77) e entre a aprendizagem

organizacional e o clima de serviço (r² = 0,86). Sendo assim, procede-se uma avaliação dos

conteúdos destes fatores e, no primeiro caso, devido a pequena margem necessária para a

validade e, ainda, por tratar-se de uma variável independente e outra dependente, decide-se

pela manutenção destes constructos. Quanto ao segundo caso, apesar da indicação de que

- 65 -

as variáveis aprendizagem e clima estão a medir um único fator, os constructos teóricos não

carregam similaridade que justifique uma união entre elas e, neste caso, opta-se por testar

um modelo teórico alternativo (figura 1.7) sem a variável clima de serviço, que apresentou

menor força explicativa sobre o desempenho (ver figura 3.1).

E, enfim, com o objetivo de avaliar a variância do método comum, pelo facto de todas

as respostas terem sido coletadas de uma mesma fonte e ao mesmo tempo, realiza-se a

análise fatorial exploratória, por meio do método ACP (Análise de Componentes Principais),

que revela a presença de mais de um fator com autovalor superior a 1,00. Além disso, a

análise fatorial confirmatória, do modelo de fator único, comprova a existência de pouco efeito

de variância do método comum, ou seja, os riscos de variância do método comum não são

motivo de preocupação, como sugerem os índices de ajustamento (que são inaceitáveis):

χ2/DF=5,04 (p=0,00); CFI=0,70; TLI=0,70; SRMR=0,10 (Podsakoff et al., 2003).

3.2 ANÁLISE DESCRITIVA E CORRELACIONAL

Por meio da estatística descritiva e de correlação, procura-se fornecer um resumo dos dados

da pesquisa e as correlações apresentadas entre as variáveis latentes em estudo, levando

em consideração os ajustes feitos no modelo de mensuração, conforme subsecção anterior.

Quadro 3.2 – Médias, Desvios Padrão e Correlações

Variáveis Média DP 1 2 3 4 5

1. Ambidextria contextual

2. Aprendizagem organizacional

3. Clima de serviço

4. Força da identidade

5. Integração da visão

6. Desempenho organizacional

4,14*

4,18*

4,69*

3,81*

4,27*

4,15*

1,64

1,44

1,37

1,59

1,86

1,64

0,79**

0,76**

0,46**

0,46**

0,88**

0,93**

0,42**

0,58**

0,80**

0,45**

0,53**

0,78**

0,39**

0,41**

0,44**

* As variáveis foram medidas em escalas tipo Likert de 7 pontos.

** Todas as correlações são significativas no nível p<0,001.

- 66 -

Assim, com o objetivo de resumir as respostas apresentadas pelos respondentes,

utiliza-se a média como medida de tendência central e o desvio padrão como medida de

dispersão. Com base nas relações apresentadas no quadro 3.2, percebe-se uma maior

homogeneidade nos dados quando trata-se da perceção do clima de serviço (desvio padrão

de 29% (1,37) da média de 4,69) e uma heterogeneidade maior sobre a integração da visão

(desvio padrão 43,5% (1,86) da média de 4,27).

Ao realizar a análise correlacional, encontram-se associações estatísticas

significativas em todas as correlações, com p<0,001, que significa que menos de 0,1% das

associações observadas tem a probabilidade de ser devida ao acaso e não aos fatores

estudados, ou seja, é praticamente certo que os valores obtidos através da amostra são

representativos da população no “mundo real” (Alm e Mason, 2008). Além disso, por meio da

correlação entre as variáveis e de acordo com a classificação de Pestana e Gageiro (2008),

identificam-se valores de correlação significativa muito alta entre a aprendizagem e o clima

de serviço (r = 0,93) e correlação alta entre ambidextria e desempenho (r = 0,88), desempenho

e aprendizagem (r = 0,80), aprendizagem e ambidextria (r = 0,79), desempenho e clima de

serviço (r = 0,78) e clima de serviço e ambidextria (r = 0,76). Encontram-se, também, valores

de correlação significativa moderada entre as variáveis força da identidade/integração da

visão e todas as demais variáveis, respetivamente, ambidextria (r = 0,46 e r = 0,46),

aprendizagem (r = 0,42 e r = 0,58), clima de serviço (r = 0,45 e r = 0,53) e desempenho

(r = 0,41 e r = 0,44). E, enfim, valores de correlação significativa baixa entre a força da

identidade e a integração da visão (r = 0,39).

3.3 ANÁLISE DE REGRESSÃO COM AS VARIÁVEIS DE CONTROLO

Para avaliar a influência das variáveis de controlo sobre o desempenho organizacional

percebido, realiza-se a análise de regressão linear múltipla, cujos resultados são

apresentados no quadro 3.3.

- 67 -

Quadro 3.3 – Resultados da análise de regressão com as variáveis de controlo

Variável Dependente:

Desempenho organizacional

Variáveis de Controlo:

Género*

Idade

Escolaridade*

Tempo de serviço

Categoria profissional*

Cargo ou função de confiança*

-0,04

0,04

-0,04

-0,05

-0,07

-0,27

∆R

F

∆F

0,08

0,08

2,41**

2,41**

* Estas categorias (nominais e ordinais) foram codificadas, conforme segue:

Género: 0 = masculino e 1 = feminino; Escolaridade: 0 = com pós-graduação e 1 = sem pós-graduação;

Categoria profissional: 0 = técnico e 1 = docente; Cargo ou função de confiança: 0 = sim e 1 = não.

** p<0,05.

De acordo com a análise do quadro acima, constata-se que as variáveis de controlo

não são significativas [F(6, 166) = 2,41; p<0,05] para o desempenho do IFC e explicam apenas

8% da variância do desempenho organizacional percebido (R² = 0,08).

3.4 ANÁLISE DOS MODELOS TEÓRICOS

Após os devidos ajustes no modelo de mensuração (conforme subsecção 3.1), analisam-se

os resultados dos modelos estruturais/teóricos, com o objetivo de testar as hipóteses da

investigação (ver figuras 1.6 e 1.7) e aferir a importância relativa de cada variável para o

desempenho organizacional percebido. Estes resultados são obtidos por meio da modelagem

de equações estruturais, método de estimação por máxima verossimilhança, porém, para não

tornar as figuras abaixo muito complexas, são omitidos os indicadores de cada constructo.

Ambos os modelos, teórico (figura 3.1) e teórico alternativo (figura 3.2), apresentam índices

de ajustamento adequados, porém este último é o que apresenta melhor qualidade do ajuste.

- 68 -

Figura 3.1 – Resultados do modelo teórico

Índices de ajustamento: χ2/DF=2,33 (p=0,00); CFI=0,91; TLI=0,90; SRMR=0,05.

De acordo com o modelo teórico (figura 3.1), apenas a ambidextria contextual tem

significância estatística (p<0,05) e, portanto, rejeita a hipótese nula, enquanto as demais

variáveis não apresentam significância estatística (p>0,05), motivo pelo qual a hipótese nula

não pode ser descartada. Assim, a ambidextria contextual revela-se como um importante

preditor do desempenho, pois, além de ser a única a ter significância estatística, é a variável

que tem maior força explicativa (β = 0,67; p<0,001) no modelo, confirmando a hipótese 1 (H1),

de que existe uma relação positiva entre a ambidextria contextual e o desempenho percebido.

Quanto às hipóteses 2 (H2) e 3 (H3), apesar da aprendizagem organizacional (β = 0,23;

p=0,40) e o clima de serviço (β = 0,07; p=0,77) estarem positivamente relacionados com o

desempenho organizacional percebido, estas capacidades não apresentarem influência

significativa sobre o desempenho, em especial o clima de serviço, além de não apresentarem

significância estatística neste modelo. Já as hipóteses 4 (H4) e 5 (H5) não se sustentam, pois

a influência das variáveis força da identidade (β = –0,02; p=0,72) e integração da visão

(β = –0,02; p=0,72) sobre o desempenho são negativas, não significativas e sem significância

estatística, ou seja, estas variáveis não estão a contribuir diretamente para o desempenho

organizacional do IFC. Porém, isto não significa que estas capacidades não sejam

importantes, pois elas têm grande influência como preditoras da ambidextria e aprendizagem

e, assim, acabam por influenciar indiretamente a performance, como mostram os resultados

do modelo teórico alternativo (figura 3.2).

- 69 -

Figura 3.2 – Resultados do modelo teórico alternativo

Índices de ajustamento: χ2/DF=1,99 (p=0,00); CFI=0,94; TLI=0,94; SRMR=0,05.

Devido aos problemas de validade discriminante (ver subsecção 3.1), opta-se por

testar este modelo alternativo sem a presença da variável clima de serviço e com a criação

de uma variável latente de 2ª ordem, denominada identidade organizacional (formada pelas

variáveis latentes de 1ª ordem força da identidade e integração da visão), como sugere o

respetivo referencial teórico. Neste modelo, todas as relações apresentam significância

estatística e, portanto, rejeitam-se as hipóteses nulas. Assim, 88% da variância do

desempenho organizacional percebido pode ser explicado pelas variáveis ambidextria

contextual (β = 0,68; p<0,001) e aprendizagem organizacional (β = 0,29; p<0,01), quando

estas estão sob a influência da identidade organizacional. Por sua vez, a identidade

organizacional apresenta uma relação positiva e altamente significativa com a ambidextria

(R² = 0,82; β = 0,91; p<0,001) e com a aprendizagem (R² = 0,92; β = 0,96; p<0,001),

sustentando assim as hipóteses 6 (H6) e 7 (H7). E, por fim, de acordo com os resultados

apresentados na figura 3.2, as hipóteses H1a e H2a também são confirmadas e o modelo

teórico alternativo revela-se como o mais adequado (em termos de ajuste) e significante

(estatisticamente) para esta investigação.

- 70 -

- 71 -

CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO

Com a intenção de auxiliar o IFC no seu caminho para a alta performance, a seguir são

discutidos os resultados desta investigação, que teve como objetivo diagnosticar o contexto

organizacional do IFC, do ponto de vista da influência das capacidades organizacionais no

desempenho organizacional percebido pelos funcionários. Assim, o desempenho é analisado

sob a ótica da ambidextria contextual, preocupada com a gestão do contexto organizacional;

da aprendizagem organizacional, voltada para a gestão sistemática dos conhecimentos

gerados pela organização; do clima de serviço, focado na gestão do clima organizacional; e

da força da identidade e integração da visão, ligadas à gestão da identidade organizacional.

Assim, levando em consideração o que Helfat e Winter (2011) chamam de

capacidades de dupla finalidade, os resultados deste trabalho incidem tanto sobre a eficiência

na realização das atividades diárias, com base nos recursos organizacionais, quanto na

melhoria da eficácia organizacional, de modo a alinhar as rotinas operacionais ao ambiente

externo e objetivos mais amplos da organização (Zollo e Winter, 2002).

Não obstante às diversas discussões sobre este assunto, em diferentes áreas, como

inovação tecnológica, gestão do conhecimento, design organizacional, gestão estratégica,

etc. (Raisch e Birkinshaw, 2008), o que se busca aqui é discutir o papel dos líderes e gestores

públicos na melhoria do desempenho de sua organização ou unidade de trabalho, por meio

do desenvolvimento das capacidades organizacionais, tendo em vista que, de um modo geral,

a cultura da administração pública não é assim tão favorável à inovação e mudança, mas, por

outro lado, sua inércia já não é mais tolerável diante das rápidas transformações no mundo

atual e perante a necessidade de atender às expectativas de uma sociedade cada vez mais

exigente e consciente de seus direitos como cidadãos.

Ao destacar a importância do papel dos gestores e líderes na promoção das

capacidades organizacionais, não pode-se esquecer dos funcionários públicos e de sua

fundamental importância para o bom desempenho das organizações. De acordo com Kim

(2005), as agências governamentais tendem a ser mais bem sucedidas quando valorizam

seus servidores e os veem não como um custo, mas como uma fonte de vantagem

- 72 -

estratégica. E, assim, com o objetivo de criar as condições necessárias à alta performance,

passam a valorizar as práticas de gestão centradas nas pessoas, de maneira a promover a

satisfação no trabalho, o comprometimento organizacional, a motivação para o serviço público

e o comportamento de cidadania organizacional.

4.1 DISCUSSÃO DAS HIPÓTESES E IMPLICAÇÕES PRÁTICAS

De acordo com o referencial teórico apresentado no primeiro capítulo e após a análise do

modelo de mensuração e diversos testes estatísticos de modelos alternativos, dois deles se

revelaram imprescindíveis para esta investigação. O primeiro (figura 3.1), estabelecido desde

o início do projeto em função das respetivas teorias, que sugeriam a importância relativa de

cada capacidade no desempenho organizacional, apesar de algumas indicarem a existência

de mediadores, cujas ausências acabaram por ser um problema neste modelo. Já o segundo

modelo (figura 3.2), foi escolhido em função da sua significância estatística e, principalmente,

pelos indícios de que esta relação seria possível e válida tanto em termos teóricos quanto

empíricos, devido a importância indireta da identidade organizacional na performance, quando

mediada pela ambidextria contextual e aprendizagem organizacional.

Sendo assim, o teste das hipóteses confirma as constatações de Gibson e Birkinshaw

(2004), de que quanto maior for o nível de ambidextria contextual maior será o nível de

desempenho sustentável, alcançado por meio do equilíbrio entre o alinhamento, voltado para

o desempenho no curto prazo, e a adaptabilidade, relacionada à melhoria do desempenho a

longo prazo. Os resultados deste estudo indicam que as unidades de trabalho do IFC podem

de facto atingir os dois em simultâneo, pois estas variáveis apresentam um alto valor de

correlação entre si, e com o desempenho organizacional, apesar da média do alinhamento

(4,05) estar um pouco abaixo da média da adaptabilidade (4,27), merecendo uma atenção

especial por parte dos gestores do IFC, de maneira a evitar maiores problemas e tensões.

Assim, ressalta-se que a fragilidade do alinhamento pode estar ligada a fatores como

a baixa interação entre as atividades e processos de trabalho e a não convergência dos

objetivos e metas perseguidos por todos, enquanto a adaptabilidade pode ser fortalecida por

- 73 -

meio da agilidade na tomada de decisões, flexibilidade de gestão para atendimento de novas

demandas, melhoria na divulgação dos conhecimentos gerados, promoção das melhores

práticas e, ainda, mais incentivo à inovação (Birkinshaw e Gibson, 2004). Estes autores

ressaltam, ainda, que uma organização ambidextra pode ser desenvolvida seguindo-se um

caminho que passa pelo diagnóstico do contexto organizacional, pelo estabelecimento de

suas prioridades de ação, pela qualidade da comunicação interna e disseminação de

mensagens claras e consistentes, pelo equilíbrio entre a estrutura e o contexto organizacional

e, por fim, pela liderança estratégica, focada nos indivíduos ambidextros capazes de criar um

contexto favorável para a tomada de decisões em todos os níveis da organização.

Por fim, percebe-se que a essência da ambidextria contextual está no comportamento

dos funcionários ambidextros, cujas capacidades individuais podem ser facilitadas pelo

contexto organizacional e por uma liderança estratégica, voltada para a gestão do

desempenho e suporte social. O contexto organizacional é caracterizado por sistemas,

controlos e incentivos que resultam em estímulos e pressões, muitas vezes impercetíveis, que

motivam as pessoas a agir de um determinado modo e não de outro (Ghoshal e Bartlett, 1996).

Assim, as quatro características principais de suporte social e gestão do desempenho (apoio,

confiança, disciplina e tensão) são identificadas como elementos essenciais do contexto

organizacional, devido a sua capacidade de influenciar as iniciativas individuais, a cooperação

mútua e a aprendizagem coletiva nas organizações. E, desta forma, a chave para o

desenvolvimento da ambidextria contextual está na capacidade da organização assegurar,

por meio da liderança, o equilíbrio entre estes quatro elementos, pois ao tempo que a

disciplina é necessária, ela deve ser compensada pelo devido apoio, assim como a tensão

deve ser sustentada pela confiança (Birkinshaw e Gibson, 2004).

O teste das hipóteses confirma, também, que as dimensões de uma cultura de

aprendizagem explicam alguma variância do desempenho organizacional percebido. Marsick

e Watkins (2003) defendem a aprendizagem organizacional como preditora dos resultados

organizacionais (conhecimento e desempenho financeiro) e esta pesquisa comprova,

também, que o desempenho global será melhorado na medida em que as dimensões da

cultura de aprendizagem forem fortalecidas. Assim, destaca-se a importância de estimular as

oportunidades para a aprendizagem contínua (média = 3,84), no nível individual, e a

- 74 -

colaboração e aprendizagem em equipa (média = 3,97), no nível de grupo, pois estas variáveis

apresentam valores abaixo da média (4,00), de acordo com a perceção dos funcionários do

IFC. Destaque-se, ainda, a nível organizacional, a boa perceção dos estímulos à liderança

estratégica para a aprendizagem (média = 4,48), uma vez que os líderes são os principais

envolvidos na modelagem e defesa da aprendizagem como antecedente dos resultados

organizacionais (mais detalhes no quadro 1.4 e no anexo B).

Ainda assim, apesar da aprendizagem organizacional apresentar uma certa influência

no desempenho da organização, acredita-se que a sua maior contribuição está na gestão dos

conhecimentos, gerados por meio das experiências cotidianas e incorporados ao contexto

organizacional por meio das rotinas e processos, que envolvem os níveis individual, de grupo

e organizacional e os processos de intuir, interpretar, integrar e institucionalizar (ver figura

1.2). Assim, se o objetivo for melhorar o desempenho e a gestão do conhecimento, por meio

da aprendizagem organizacional, a organização terá que aumentar a sua capacidade de

aprender, começando pela adaptação de suas estratégias, estruturas, ideologia e sistema de

negligência, bem como pela alteração dos padrões e dinâmicas subjacentes à necessidade

de mudar, como as regras, valores, memórias e relações (Marsick e Watkins, 2003).

Já os resultados desta pesquisa não comprovam uma relação significativa entre o

clima de serviço e a performance, apesar desta capacidade ter apresentado a melhor

avaliação (média = 4,69; DP = 1,37), de acordo com a perceção dos funcionários do IFC, o

que sugere a existência de um bom clima de serviço na organização. Uma possível explicação

para a falta de ligação direta com o desempenho, pode estar no facto desta relação estar a

ser mediada pela atitude dos funcionários, desempenho do serviço e satisfação dos

clientes/utentes, como defendem Schneider et al. (1998). Assim, reforçam-se as evidências

de que o clima de serviço existente na organização também é compartilhado pelos usuários

dos serviços públicos e, só então, afeta a performance, de maneira indireta. Porém, neste

caso, estas evidências só poderiam ser confirmadas por meio de uma nova investigação.

Quanto à força da identidade e à integração da visão, apesar destas capacidades não

terem força explicativa junto à performance organizacional, elas apresentam uma forte

influência sobre a ambidextria e a aprendizagem e, portanto, tornam-se essenciais como

preditoras indiretas do desempenho. Ao analisar a identidade organizacional (força da

- 75 -

identidade: média = 3,81; DP = 1,59; e integração da visão: média = 4,27; DP = 1,86), os

resultados sugerem a existência de uma razoável integração da visão organizacional, porém,

percebe-se que a missão não está a ser comunicada de maneira efetiva ou não é clara o

suficiente para gerar um sentimento forte de unidade e um propósito comum partilhado entre

os servidores. Assim, os gestores do IFC devem preocupar-se, sobretudo, com as gestões

simbólica e substantiva da identidade organizacional. Simbólica no sentido de melhorar a

maneira como a organização é retratada, a exemplo de uma maior clareza em sua missão e

visão e da efetiva comunicação bidirecional entre líderes e seguidores. E substantiva,

referente às mudanças materiais nas práticas cotidianas, onde a missão, a visão e os valores

organizacionais devem ser considerados como guias para a tomada de decisões em todos os

níveis hierárquicos, com ênfase na qualidade dos serviços prestados e no apoio aos

funcionários, de maneira a criar melhores níveis de satisfação no trabalho e comprometimento

organizacional (Kreiner e Ashforth, 2004; Kohles et al., 2012).

Por fim, não obstante a especificidade de cada constructo aqui estudado, ressalta-se

que a construção de uma capacidade organizacional, segundo Ambrosini et al. (2009), pode

se dar de três formas distintas: a incremental, com a melhoria contínua dos recursos (tangíveis

e intangíveis) existentes, porém, apenas com ajustes e adaptações na base de recursos, sem

grandes transformações; a renovação, que ocorre quando a melhoria se dá pela atualização

ou ampliação da base de recursos; e a regeneração, que está relacionada a maneira pela

qual a organização cria, amplia e modifica sua base de recursos e, geralmente, se dá quando

as capacidades incrementais e de renovação não produzem os efeitos e impactos esperados.

Em outras palavras seria como dizer que a organização precisa ser capaz de ter a capacidade

de modificar as suas capacidades dinâmicas atuais de maneira distinta da utilizada

anteriormente.

4.2 LIMITAÇÕES E SUGESTÕES PARA INVESTIGAÇÕES FUTURAS

Além das limitações mais específicas já expostas no decorrer deste trabalho, também,

foram encontradas algumas limitações mais gerais, como o viés de fonte única, pois

- 76 -

apenas os funcionários do IFC foram inquiridos. Assim, pesquisas futuras podem, por

exemplo, focar na perceção dos usuários dos serviços públicos, de modo a complementar os

resultados aqui obtidos.

Outra limitação encontrada foi a ausência de trabalhos similares ou que utilizassem a

mesma abordagem e contexto, motivo pelo qual não foi possível fazer comparações com os

resultados obtidos. Portanto, pesquisas futuras podem utilizar esta abordagem e comparar

organizações públicas, na área da educação. Além disso, podem considerar analisar os dados

por departamentos, níveis hierárquicos, categoria profissional, tempo de serviço,

escolaridade, etc. Devido ao volume de dados obtidos e o propósito deste trabalho, não seria

razoável realizar, neste momento, estas análises.

- 77 -

CONCLUSÃO

As transformações ocorridas no mundo atualmente apontam para significativos desafios e

mudanças de paradigmas no setor público, com novos enfoques, a exemplo da transparência,

desburocratização, descentralização, flexibilidade de gestão, agilidade na tomada de

decisões, prestação de contas pelos resultados, valorização das competências, foco no

cidadão, participação, maior legitimidade e qualidade dos serviços públicos, dentre outros.

Assim, os resultados desta investigação destacam a importância da gestão das

capacidades organizacionais para ajudar a enfrentar estes desafios. Porém, ao tempo que o

desenvolvimento e aperfeiçoamento destas capacidades parece ser uma tarefa simples,

implementar essas mudanças no contexto organizacional, com sucesso, pode ser uma meta

complicada e aparentemente inatingível. Isto deve-se, em parte, na área da educação, por

que a gestão de topo é composta em sua maioria por lideranças políticas e grande parte dos

gestores intermédios não tem competências em gestão. De um modo geral, essa realidade

acaba por realçar ainda mais a falta de integração entre teoria/pesquisadores e

prática/profissionais na gestão das organizações públicas.

Enfim, para além de contribuir com o debate teórico e empírico, este trabalho

representa uma importante contribuição para os gestores do IFC, no sentido de estar a

conhecer melhor o contexto organizacional e poder planear e tomar decisões de acordo com

os preceitos aqui discutidos. Neste sentido, acredita-se que o diagnóstico apresentado é um

importante passo para a análise do contexto organizacional no IFC e pode ser utilizado como

base para o desenvolvimento e aperfeiçoamento das suas capacidades e para a melhoria

constante do desempenho organizacional.

- 78 -

- 79 -

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I

ANEXOS

ANEXO A – AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA NO IFC

II

ANEXO B – QUESTIONÁRIO APLICADO E MÉDIAS DAS RESPOSTAS

Seção 1

As perguntas abaixo são essenciais para que possamos classificar a amostra e tratar os dados da

pesquisa. Assim, com base em suas informações pessoais e profissionais, pedimos que responda as

seguintes questões:

1. Gênero:

2. Idade:

3. Grau de Escolaridade:

4. Pertence a qual categoria?

5. Há quanto tempo trabalha no IFC?

6. Qual é a sua lotação (unidade) atual?

7. Exerce algum cargo ou função de confiança?

Seção 2

A seguir, vamos apresentar-lhe um conjunto de características que podem descrever a sua unidade de

trabalho. Indique, por favor, em que medida concorda ou discorda com cada uma delas (1 = discordo

totalmente; 7 = concordo totalmente):

a b c d e f g h i j k l m n **

Desempenho Organizacional* 3,95 3,68 3,43 3,89 3,87 4,08 3,81 4,90 4,08 4,03 5,56 4,63 3,29 5,09 4,15

1. Esta unidade está atingindo o seu

pleno potencial. 3,73 3,33 3,00 3,57 3,31 3,92 3,00 4,80 4,20 3,50 5,50 4,24 3,00 5,38 3,89

2. As pessoas com funções

semelhantes às minhas estão

satisfeitas com o desempenho da

unidade.

3,57 3,33 3,00 3,71 3,46 3,85 3,75 5,10 4,00 3,90 4,75 4,48 3,00 4,75 3,88

3. Esta unidade satisfaz plenamente

os seus utentes/usuários. 4,17 4,06 3,50 4,00 4,08 4,31 4,00 5,10 3,93 4,80 5,88 4,81 3,50 5,00 4,35

4. Nesta unidade eu tenho a

oportunidade e o estímulo para fazer

o melhor trabalho que sou capaz.

4,33 4,00 4,20 4,29 4,62 4,23 4,50 4,60 4,20 3,90 6,13 5,00 3,67 5,25 4,47

Ambidestria Contextual* 3,90 3,89 3,72 3,81 4,12 4,40 3,38 4,85 4,17 3,98 5,35 4,56 3,33 5,50 4,21

5. Esta unidade tem processos de

trabalho claros e conhecidos por todos. 4,20 3,83 3,70 3,86 4,54 4,38 3,50 4,90 4,27 3,80 4,88 4,62 3,50 5,25 4,27

6. O trabalho está organizado de tal

modo a não desperdiçar tempo ou

esforço em tarefas não produtivas.

3,43 3,67 3,30 3,29 3,46 4,15 3,00 4,60 3,93 3,40 5,25 4,24 2,83 5,50 3,86

7. As pessoas têm orientações claras

sobre o que têm que fazer e sobre a

melhor forma de fazer seu trabalho.

3,63 4,11 3,10 3,29 3,62 4,31 3,00 4,90 3,67 4,60 5,38 4,24 3,33 5,25 4,02

8. Os servidores são encorajados a

questionar a maneira como as coisas

são feitas.

3,80 3,89 3,60 3,43 4,00 4,85 3,75 4,00 4,07 4,00 5,63 4,76 4,00 5,13 4,19

9. Os processos de trabalho são

flexíveis, de maneira a que

possamos responder rapidamente as

solicitações especiais.

3,90 3,78 4,50 4,14 4,31 4,15 3,50 5,60 4,47 3,90 5,38 4,62 3,33 5,75 4,34

10. Esta unidade mostra capacidade

de inventar soluções adequadas e

dar respostas rápidas aos usuários.

4,43 4,06 4,10 4,86 4,77 4,54 3,50 5,10 4,60 4,20 5,63 4,86 3,00 6,13 4,58

III

Seção 3

Mantendo ainda uma perspectiva global sobre a sua unidade de trabalho, indique, por favor, com que

frequência considera que os seguintes fatos acontecem (1 = nunca; 7 = sempre):

a b c d e f g h i j k l m n **

Aprendizagem Organizacional* 3,72 4,03 3,99 3,92 4,02 4,23 5,32 4,33 4,28 3,50 4,79 4,71 3,31 4,77 4,15

1. Nesta unidade os servidores são

recompensados por aprender. 3,27 3,67 3,80 4,29 3,62 3,46 6,00 3,90 4,07 3,30 4,38 4,57 2,83 4,50 3,84

2. As pessoas despendem tempo

para ganhar a confiança umas das

outras.

3,50 4,39 4,60 4,14 4,00 3,69 5,25 4,80 4,20 4,40 3,63 4,67 3,50 4,38 4,15

3. As equipes reveem a sua forma de

pensar como resultado das

discussões em grupo ou das

informações recolhidas.

3,40 3,72 3,80 3,43 3,92 4,62 5,00 3,70 4,27 3,10 4,50 4,71 3,50 4,50 3,97

4. Aquilo que se aprende é

disponibilizado aos demais

servidores.

4,07 3,94 3,90 3,14 4,08 4,08 5,25 4,10 4,20 2,50 4,38 4,57 3,00 5,13 4,05

5. Esta unidade valoriza as pessoas

que tomam iniciativa. 3,80 3,83 3,90 4,29 4,38 4,15 5,00 4,20 4,20 3,80 5,75 4,90 3,50 4,75 4,24

6. Esta unidade trabalha em conjunto

com a comunidade para satisfazer as

necessidades mutuas.

3,90 4,22 4,00 4,14 3,77 4,77 5,25 4,70 4,47 3,40 5,63 4,62 3,33 5,25 4,31

7. Nesta unidade os líderes

procuram continuamente

oportunidades para aprender.

4,13 4,44 3,90 4,00 4,38 4,85 5,50 4,90 4,53 4,00 5,25 4,90 3,50 4,88 4,48

Seção 4

Pense agora na preocupação que existe, na sua unidade de trabalho, com a prestação de um serviço

de qualidade. Avalie o trabalho desta unidade nos seguintes aspectos (1 = muito mau; 7 = excelente):

a b c d e f g h i j k l m n **

Clima de Serviço* 4,20 4,37 4,01 4,10 4,38 4,37 5,68 4,96 4,45 4,11 4,98 4,82 3,83 5,43 4,48

1. O conhecimento e competência

dos servidores para prestarem um

serviço de qualidade superior.

5,10 4,83 4,20 4,57 5,15 5,38 5,75 5,00 5,27 5,10 5,50 5,43 4,33 5,63 5,10

2. Os esforços feitos para medir e

acompanhar a qualidade do trabalho

e do serviço.

4,33 4,28 4,20 4,00 4,38 4,46 5,25 4,70 4,20 4,00 4,88 4,76 3,83 5,63 4,45

3. O reconhecimento e recompensas

recebidas pela prestação de um

serviço de qualidade superior.

3,20 4,00 3,40 4,14 3,46 3,92 5,75 4,40 4,07 3,60 4,25 4,48 3,17 5,25 3,93

4. A qualidade geral do serviço

prestado por esta unidade. 4,93 4,67 3,90 4,29 4,85 4,92 6,00 5,20 4,73 4,70 5,38 5,33 4,17 5,50 4,89

5. O trabalho do(s) gestor(es) desta

unidade no sentido de apoiar a

promoção da qualidade do serviço.

4,17 4,83 4,10 4,43 4,54 4,38 6,25 5,10 4,60 4,30 5,00 4,86 3,50 5,38 4,59

6. Os esforços de comunicação do(s)

gestor(es) desta unidade com os

servidores e usuários.

4,00 4,56 4,40 3,71 4,08 4,23 5,50 4,90 4,40 3,60 5,00 4,33 3,67 5,13 4,32

7. Os instrumentos, tecnologias e

outros recursos dados aos

servidores para suportar a prestação

de um serviço de elevada qualidade.

3,67 3,39 3,90 3,57 4,23 3,31 5,25 5,40 3,87 3,50 4,88 4,52 4,17 5,50 4,07

IV

Seção 5

Pense agora não sobre a sua unidade de trabalho mas sobre a organização (IFC) como um todo, em

especial a missão, visão e valores que orientam as suas atividades. Por favor, diga em que medida

está de acordo com as seguintes afirmações (1 = discordo totalmente; 7 = concordo totalmente):

a b c d e f g h i j k l m n **

Força da Identidade* 3,03 3,72 3,40 4,43 3,13 4,02 4,31 4,70 4,10 3,45 4,31 4,14 3,63 4,97 3,81

1. Nesta organização (IFC) existe um

propósito/objetivo comum partilhado. 3,60 4,44 3,70 5,14 3,92 4,54 4,25 5,50 4,53 4,30 5,13 4,48 4,17 5,25 4,37

2. Esta organização tem uma visão

clara e única. 3,00 3,50 3,40 4,29 3,08 4,15 4,50 4,80 4,13 3,50 4,13 4,19 4,00 5,50 3,83

3. Existe um forte sentimento de

unidade nesta organização. 2,47 3,39 3,00 3,86 2,54 3,54 3,75 3,80 3,87 2,90 3,63 3,71 2,67 4,13 3,28

4. Esta organização tem uma missão

própria partilhada pelos seus

servidores.

3,07 3,56 3,50 4,43 3,00 3,85 4,75 4,70 3,87 3,10 4,38 4,19 3,67 5,00 3,76

Integração da Visão* 3,95 4,52 4,06 4,66 4,72 4,35 5,45 4,66 4,79 4,78 5,33 5,26 4,33 5,25 4,63

5. O meu chefe direto fala comigo de

modo a articular a visão da

organização com as decisões que

tomo e com aquilo que faço no meu

dia-a-dia.

3,70 4,28 3,30 4,43 4,62 4,00 4,75 4,30 4,60 4,30 5,00 5,00 3,33 4,88 4,29

6. O meu chefe direto dá sugestões

de como utilizar a visão da

organização para orientar as

decisões que tomo e aquilo que faço.

3,30 3,83 3,50 4,43 4,00 3,85 4,75 4,30 3,93 3,90 4,75 4,86 3,17 4,63 4,00

7. Eu tomo a iniciativa de falar com o

meu chefe direto para articular a

visão da organização com as

decisões que tomo e com o que faço.

4,63 5,33 4,10 5,43 5,31 4,77 6,00 5,20 5,07 5,60 6,00 5,71 5,33 5,88 5,20

8. Eu dou ideias ao meu chefe direto

sobre como utilizar a visão da

organização para orientar as

decisões que tomo e aquilo que faço.

4,23 5,11 4,80 5,00 5,31 5,00 6,00 5,20 5,33 5,40 5,63 5,57 5,17 5,75 5,12

9. O meu chefe direto e eu

conversamos para articular a visão

da organização com as decisões que

tomo e com aquilo que faço.

3,90 4,06 4,60 4,00 4,38 4,15 5,75 4,30 5,00 4,70 5,25 5,14 4,67 5,13 4,52

* No questionário aplicado, estes conceitos teóricos foram suprimidos.

** Média geral por questão, considerando a escala do tipo Likert de 7 pontos.

As letras do alfabeto (a-n) correspondem às unidades do IFC que participaram, conforme segue:

a. Reitoria

b. Campus Araquari

c. Campus Blumenau

d. Campus Brusque

e. Campus Camboriú

f. Campus Concórdia

g. Campus Fraiburgo

h. Campus Ibirama

i. Campus Luzerna

j. Campus Rio do Sul

k. Campus Santa Rosa do Sul

l. Campus São Francisco do Sul

m. Campus Sombrio

n. Campus Videira

V

CURRICULUM VITAE

INFORMAÇÃO PESSOAL Valdinei Cecilio

Rua Armazém, 121 - 89240-000 São Francisco do Sul (Brasil)

(+351) 91 054 41 10

[email protected]

EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO

26/08/2011–Presente Técnico Administrativo em Educação

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense (IFC), São Francisco do Sul (Brasil)

- Gestor de Contratos Públicos

- Coordenador de Licitações e Contratos

- Diretor de Administração e Planejamento Substituto

- Membro da Comissão Permanente de Planejamento do Campus São Fco. do Sul

- Membro da Comissão de Elab. dos Planos de Gestão de Logística Sustentável

- Membro da Comissão de Elaboração do Planejamento Estratégico do IFC

15/02/2003–24/08/2011 Agente Universitário

Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Guarapuava (Brasil)

- Encarregado da Seção de Expediente e Documentação

- Encarregado da Seção Administrativa

- Chefe da Divisão de Recursos Audiovisuais

- Chefe da Divisão de Serviços Gerais e Manutenção

- Membro da Comissão de Elaboração do Plano Diretor do Campus Santa Cruz

- Representante dos Agentes Universitários no Conselho Administrativo do Campus

15/09/2014–Presente Mestrando em Administração Pública

ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, Lisboa (Portugal)

Unidades Curriculares Concluídas:

- Direito da Administração Pública

- Estado, Administração e Políticas Públicas

- Métodos e Técnicas de Investigação em Administração Pública

- Responsabilidade na Administração Pública

- Sociedade da Informação e do Conhecimento

- Gestão Pública

- Organização e Liderança na Administração Pública

- Política Económica e Programas Públicos

- Sistemas de Administração Pública Comparada

- Modernização Administrativa e Modelos de Gestão Pública

- Administração Pública, Justiça e Qualidade da Democracia

- Recursos Humanos na Administração Pública

VI

COMPETÊNCIAS PESSOAIS

30/09/2011–23/08/2012 MBA em Administração Pública e Gerência de Cidades

Centro Universitário Internacional (UNINTER), Curitiba (Brasil)

- Desenvolvimento Gerencial

- Direito Administrativo e Direito Municipal e Urbanístico

- Orçamento e Finanças Públicas

- Planejamento e Sustentabilidade Urbana

- Elaboração, Gestão e Avaliação de Políticas Públicas

- Estratégias e Desenvolvimento Sustentável

- Gestão de Pessoas e Gestão de Serviços e Obras Públicas

- Modelos de Gestão e Gestão por Projetos

- Contabilidade Pública, Controle Externo e Controle Interno

- Política Urbana

- Responsabilidade Fiscal

- Trabalho Final: "A eficiência na prestação de serviços públicos em educação"

17/02/2003–06/12/2006 Licenciatura em Arte-Educação

Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Guarapuava (Brasil)

Língua materna português

Outras línguas COMPREENDER FALAR ESCREVER

Compreensão oral Leitura Interação oral Produção oral

inglês B2 B2 B2 B2 B2

Intermediate General English, from 01/03/2010 to 18/06/2010, at St. Giles Vancouver (Canada)

Níveis: A1 e A2: Utilizador básico - B1 e B2: Utilizador independente - C1 e C2: Utilizador avançado

Capítulo de livro publicado Cecilio, Valdinei (2015), "Ambidestria Contextual e Desempenho Organizacional: um estudo de caso no âmbito do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense", em Elisângela Chaves et al. (orgs.), Gestão pública: a visão dos técnicos administrativos em educação das Universidades Públicas e Institutos Federais - Volume 2, Salvador, Editora Pontocom.

Curso ministrado no IFC Gestão Pública e Educação - Compras, Licitações e Contratos no âmbito da Administração Pública Federal (2014)

Cursos realizados - Coaching: o perfil do novo líder (2009)

- Técnicas para um atendimento eficiente e eficaz (2010)

- Excelência pessoal e profissional (2010)

- Tópicos do Regime Jurídico Único e reforma da Previdência (2011)

- Procedimentos fiscais relacionados aos órgãos públicos (2012)

- Formação para dirigentes (2013)

- Elaboração de editais, termos de referência e projetos básicos (2013)

- Gestão estratégica e empreendedora (2013)

- Compras públicas sustentáveis (2013)

- Controle social (2015)

- Gestão estratégica com foco na Administração Pública (2015)

- Orçamento público (2015)

- Publicação de dados abertos (2015)

- Deveres, proibições e responsabilidades do servidor público federal (2016)

VII