o desafio da evangelização - 3º tri. de 2016 claudionor de andrade

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Todos os di rei tos reservados . Copyright © 2016 para a l íngua portuguesa daCasa Publ icadora das Assembleias de Deus . Aprovado pelo Conselho deDoutrina.Preparação dos origina is : Daniele Perei raCapa e projeto gráfico: Wagner de AlmeidaEditoração: Anderson LopesConversão para ePub: Cumbuca Studio CDD: 220 – Comentário Bíbl icoISBN: 978-852631322-4ISBN eletrônico: 978-85-263-1413-9 As ci tações bíbl icas foram extra ídas da versão Almeida Revis ta e Corrigida,edição de 1995, da Sociedade Bíbl ica do Bras i l , sa lvo indicação emcontrário. Para maiores informações sobre l ivros , revis tas , periódicos e os úl moslançamentos da CPAD, vis i te nosso s i te: http://www.cpad.com.br. SAC — Serviço de Atendimento ao Cl iente: 0800-021-7373 Casa Publ icadora das Assembleias de DeusAv. Bras i l , 34.401, Bangu, Rio de Janeiro – RJCEP 21.852-002 1ª edição: 2016Tiragem: 45.000

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Prefácio

Eu tinha 16 anos, quando saía evangelizar o Montanhão.Nesse recanto ermo e aindaselvagem de São Bernardo do

Campo, na Grande São Paulo, vim a compreender o valor de uma açãoevangelística. Naquele domingo de julho de 1971, acordara antes dohorário habitual e, na companhia de meu amigo, José Licínio, partira rumoao desconhecido. Eu não sabia quantas pessoas encontraríamos naquelaincursão que mais parecia aventura. Certamente, entre as clareiras daquelamata cerrada e cheia de animais peçonhentos, haveria alguém ansioso porouvir falar de Jesus Cristo.

Depois de muito andarmos, encontramos um casebre habitado por umcasal de idosos. Eles deveriam ter entre 70 e 75 anos. Isolados do mundo edaquilo que chamamos de civilização, iam eles tocando a vida com toda atranquilidade. No quintal, que não chegava a ser uma chácara, haviagalinhas e porcos. Naquele dia, falamos-lhes longamente de Cristo, comose o tempo, naquele tempo, não carecesse de tempo algum. A vida nãotinha a pressa nem a urgência de hoje.

No domingo seguinte, voltamos a encontrar nossos anciãos. Tímida ediscretamente, aquele casal fazia questão de resguardar um amor outonal,

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mas ainda romântico, na poesia e no bucolismo daquele lugar. Nãoprecisamos de muitos argumentos para levá-los aos pés de Jesus. Aoprimeiro apelo, aceitaram o Salvador.

Mais adiante, descobrimos outras casas e pessoas espalhadas pela regiãoque, hoje, segundo me disseram, serve de trilha ecológica. Mas para nós,naquela década já distante e memorial, não havia trilha nem ecologia, masuma aventura vivamente evangelística. Desde então, 44 anos já sepassaram. Casei-me, z-me pai e tornei-me avô. Todavia, jamais deixei deaventurar-me pelas sendas da evangelização. Adoro ouvir relatosevangelísticos e missionários.

Não sei quantas almas já ganhei para Jesus. Mas uma coisa não deixo defazer: evangelizar a tempo e fora de tempo. Às vezes, falo de Cristo numa

la de banco; outras, num táxi; e, ainda outras, num leito hospitalar. Nemsempre tenho condições de explanar todo o Plano da Salvação. Todavia,deixo bem claro ao meu interlocutor que Jesus Cristo é a única esperançapara esta geração confusa, deprimida e sem horizontes. Sempre é possívellivrar alguém do lago de fogo.

Minha intenção, neste livro, é despertar o ardor evangelístico do povode Deus. Se não falarmos de Cristo, que esperança restará a um mundo quejaz no maligno?

Neste livro, contei com a ajuda de minha esposa, Marta Doreto, e demeus lhos, Gunar Berg e Karen Bandeira. Todos eles atuam na área dasLetras, da Educação e da Comunicação Bíblica, e auxiliaram-me napesquisa e nas reflexões.

Agradeço ao diretor da CPAD, irmão Ronaldo Rodrigues de Souza, que,além de suas atribuições administrativas, dedica-se ao estudo e à exposiçãoda Palavra de Deus. É um grande estudioso da Bíblia Sagrada.

Minha oração é que esta obra desperte o fervor missionário,evangelístico e pentecostal dos crentes no Brasil, na América Latina e nomundo. Jesus em breve virá.

Amém. Outono de 2016.

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Sumário

1. O que ÉEvangelização

2. Deus, o Primeiro Evangelista

3. Igreja, Agência Evangelizadora

4. O Trabalho e Atributos do Ganhador de Almas

5. A Evangelização Urbana e suas Estratégias

6. A Evangelização dos Grupos Desafiadores

7. O Evangelho no Mundo Acadêmico e Político

8. A Evangelização dos Grupos Religiosos

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9. A Evangelização das Crianças

10. O Poder da Evangelização na Família

11. A Evangelização das Pessoas com Deficiência

12. A Evangelização Real na Era Digital

13. A Evangelização Integral nesta Última Hora

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O que É Evangelização

Introdução Acabo de assistir a outra

reportagem sobre os refugiados sírios, que não param de chegar à Europa.Sãos milhares de adultos, jovens e crianças que, na bagagem, trazemapenas fome, angústia e um restinho de esperança. A maioria desembarcaapenas com a roupa do corpo. Outros nem chegam a pisar o solo europeu;naufragam no Mediterrâneo e, ali, longe da pátria querida, são sepultados.Diante da maior tragédia humanitária, desde a Segunda Guerra Mundial,não podemos sufocar a pergunta: “O que temos feito em favor dessagente?”.

Não os vejamos apenas como muçulmanos. Antes de tudo, são almaspreciosas por quem Jesus morreu. Todo esse campo missionário vem aténós em busca não só de asilo, mas também de refúgio espiritual. Nãopodemos ignorá-los, nem tapar os ouvidos ao seu clamor. Sem o saber, elesanseiam por um encontro pessoal com Deus por intermédio de Cristo.

Ainda que em menor quantidade, o Brasil também é procurado porrefugiados de várias partes do mundo. Em São Paulo, não é pequeno onúmero de haitianos, africanos e sírios. Diante da urgência da GrandeComissão, descruzemos os braços e proclamemos-lhes a mensagem da

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cruz.Neste capítulo, veremos que a evangelização é a tarefa mais urgente da

Igreja de Cristo. Além dos exilados que nos vêm de longe, aqui mesmo,bem pertinho de nós, há alguém suspirando pelo evangelho que salva,transforma e reconcilia-nos com o Pai.

I. Evangelho, as Boas-Novas de Salvação William Gurnall (1616-1679) descreve com rara beleza a in uência das

Boas-Novas de Cristo na alma do pecador: “O evangelho é a carruagemcom a qual o Espírito des la em triunfo quando entra no coração doshomens”. O admirável escritor britânico sabia que somente o evangelho,por ser o poder de Deus, tem a virtude su ciente para transformarradicalmente a alma humana.

1. Evangelho, uma palavra graciosa. O termo “evangelho”, oriundo

do vocábulo grego , signi ca literalmente “boa-nova”. Apalavra é formada por dois vocábulos gregos: , bom, e , anúncio.Trata-se de uma expressão antiquíssima da língua grega. O poeta Homeroutilizou-a, no século oitavo a.C., com o sentido de “recompensa por umaboa notícia”. Quando da tradução do Antigo Testamento, do hebraico parao grego, os Setenta utilizaram-na, por exemplo, em 2 Reis 18.20,22,25.

A palavra, contudo, só viria adquirir a conotação com que, hoje, aconhecemos a partir do advento de Cristo. Após o seu batismo, o Senhorapresentou-se a Israel com o evangelho do Reino. Ao descrever a açãoevangelizadora de Jesus, ressalta-lhe Mateus não somente as palavras, masnotadamente os atos: “E percorria Jesus todas as cidades e aldeias,ensinando nas sinagogas deles, e pregando o evangelho do Reino, ecurando todas as enfermidades e moléstias entre o povo” (Mt 9.35).

O Senhor Jesus veio para transmitir, em sua plenitude, o evangelho deDeus. Se, por um lado, proclamou a redenção da alma, por outro, nãodeixou de anunciar a cura do corpo. Em seus lábios, a palavra “evangelho”adquire um signi cado novo, profundo e dinâmico. O termo grego, agora,não se refere mais à mera recompensa a quem traz uma boa notícia. Apartir daquele instante, a graciosa palavra caminha em sentido inverso.Generosamente, contempla os que nada merecem. Basta crer na

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mensagem, a m de entrar no Reino que Deus preparou aos seus lhosdesde a fundação do mundo (Mt 25.34; Ef 2.8).

Ao longo do Novo Testamento, o evangelho recebe diversasdesignações: evangelho de Deus, evangelho do Reino de Deus, evangelhoda graça de Deus, evangelho eterno, meu evangelho e outro evangelho.

2. Evangelho de Deus. Jesus Cristo apresentou-se a Israel com o

evangelho de Deus (Mc 1.14). Ele deixou bem claro à sua audiência,constituída também por escribas e fariseus, que a sua mensagem, emboranova, não trazia qualquer inovação. Antes, era o cumprimento do queanunciara o Antigo Testamento. Logo, os doutores da Lei poderiamconstatar-lhe a veracidade se zessem uma releitura da Lei, dos Escritos edos Profetas. Aliás, assim haviam procedido os rabinos a quem Herodesindagara quanto ao lugar do nascimento do Messias (Mt 2.1-6).

O evangelho de Deus é o cumprimento das promessas que o Senhorzera ao mundo, por meio de Israel, no Antigo Testamento. Não se trata

de um rompimento com o Velho Pacto, mas um el cumprimento deste naNova Aliança, que tem como base o sangue de Jesus (1 Co 11.25).

3. O evangelho de Cristo. Paulo fazia questão de enfatizar aos crentes

gentios que o evangelho que anunciava era o de Cristo. Na mais teológicade suas epístolas, declara à igreja em Roma: “De sorte que tenho glória emJesus Cristo nas coisas que pertencem a Deus. Porque não ousaria dizercoisa alguma, que Cristo por mim não tenha feito, para obediência dosgentios, por palavra e por obras; pelo poder dos sinais e prodígios, navirtude do Espírito de Deus; de maneira que, desde Jerusalém e arredoresaté ao Ilírico, tenho pregado o evangelho de Jesus Cristo” (Rm 15.17-19).

A teologia paulina era geogra camente ampla. De Jerusalém à Itália, oapóstolo patenteava que o evangelho não era um apêndice do judaísmo,mas o cumprimento messiânico das promessas do Antigo Testamento.Portanto, não era o evangelho de Israel, mas o evangelho de Cristo paraIsrael e o mundo.

4. O evangelho do Reino de Deus. É a proclamação mais escatológica

do evangelho de Cristo. De maneira plena, cumpre a aliança que Deusrmara com a Casa de Davi (2 Sm 7.16). Logo no primeiro versículo do

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Novo Testamento, o evangelista destaca a eternidade da linhagem de Jesséna pessoa e no ministério de Cristo, lho de Davi, lho de Abraão (Mt1.1). Não foi por mero acaso que Mateus cita o rei antes do patriarca, poisJesus é mais conhecido como lho de Davi do que como lho de Abraão(Mt 15.22).

Quando os apóstolos indagaram-lhe acerca do estabelecimento do reinoa Israel, tinham em vista, apenas, o aspecto escatológico e futuro doevangelho, e não a sua urgência presente e evangelística. Para realçar apremência da Grande Comissão, o Senhor prometeu-lhes a vinda doEspírito Santo (At 1.18). O evangelho do Reino de Deus enfatiza omistério daquela minúscula semente que, geminando no coração dohomem, fruti ca a transformação da sociedade e do mundo. Além dosefeitos presentes, trará a instalação do Milênio com a apresentação deJesus como o Rei dos reis e Senhor dos senhores.

5. O meu evangelho. Não encontramos na Bíblia um evangelho

segundo Paulo. Não obstante, o apóstolo refere-se ao evangelho como sefora a sua propriedade (Rm 2.16; 16.25; 2 Tm 2.18). Ele recebera-odiretamente do Senhor em, pelo menos, duas ocasiões especiais (2 Co12.1-4; Gl 1.17,18). Quer nos ermos da Arábia, quer no paraíso do terceirocéu, Paulo aprendera, diretamente do Senhor, os mistérios do evangelho.

Portanto, anunciava a todos, judeus e gentios, o evangelho de Cristoque, como fundamento, tinha a graça de Deus. Por isso, combatia semqualquer trégua o outro evangelho, que por ava em anular a graça divinapor meio dos rudimentos da lei mosaica.

6. O outro evangelho. Os judaizantes, empenhando-se por

desconstruir o evangelho de Paulo, ensinavam que, sem as obras da Lei,ninguém será salvo. Contra tal ensinamento, Paulo insurge-se e denunciaa primeira heresia evangélica:

Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos

chamou à graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro,mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelhode Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncieoutro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.

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(Gl. 1.6-8) Hoje, além dos outros evangelhos, temos os evangelhos dos outros. Na

luta para cevar o marketing pessoal, os falsos mestres vão acrescentando,ao evangelho de Cristo, desde as bijuterias mais nas aos penduricalhosmais esdrúxulos. Alguns apresentam o evangelho da prosperidade; outrosvêm com o evangelho social; e ainda outros, ostentam o evangelho místicoe sincrético. Por essa razão, estejamos atentos para apresentar a mensagemda cruz em sua simplicidade e pureza.

II. O Evangelho de Cristo e o Cristo do Evangelho Como separar de Cristo o seu evangelho? Não podemos fazê-lo, porque

o evangelho é Cristo e Cristo é o evangelho. É por isso que o NovoTestamento não se preocupa em biografar Jesus. Antes, glori ca-lhe otriunfo na cruz.

1. Jesus, o imbiografável. Os quatro evangelistas são assim chamados

por haverem narrado, sob a inspiração do Espírito Santo, a encarnação, oministério, a morte e a ressurreição do Filho de Deus. Os seus livrospoderiam ter recebido outras designações, como por exemplo, a biogra ade Jesus segundo Mateus. Entretanto, como descrever a trajetória do Pai daEternidade? Nesse sentido, quem mais aproximou-se de uma obrabiográ ca foi João. Em três pequenos versículos, o discípulo amadoresume a revelação do Salvador: “No princípio, era o Verbo, e o Verboestava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus.Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez”(Jo 1.1-3).

Não se pode biografar quem não teve início, nem terá m. A Moisés, oEterno apresentou-se como o “Eu sou” de Abraão (Êx 3.14). De igualmodo, identi cou-se o Pai da Eternidade aos judeus: “Eu sou o caminho, ea verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6).

O objetivo dos quatro Evangelhos não é biografar Jesus, mas ressaltar-lhe a obra evangelística. Mateus mostra-o como o Rei almejado por Israel.Marcos destaca-lhe o espírito manso e servidor. Lucas sublima-lhe ahumanidade. Quanto a João, teologizando-o, apresenta-o como o

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Unigênito do Pai. É por isso que nenhum evangelista preocupou-se comos seus dezoito anos de silêncio. Aliás, nem o minucioso Lucas ocupou-sedesse período tido, pelos historiadores, como obscuro e sincrético.

Jesus fez a sua primeira declaração evangélica aos 12 anos no SantoTemplo. Ansiosamente buscado por José e Maria, respondeu-lhesgentilmente: “Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convémtratar dos negócios de meu Pai?” (Lc 2.49). A partir daquele momento,tinha início os seus dezoito anos de preparo silencioso, que somentehaveria de ser quebrado quando o Pai declara ao mundo o seu amor eternopelo Filho: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17).O silêncio, começado pelo Filho, é quebrado pelo Pai. Em pleno Jordão,era inaugurada a proclamação oficial do evangelho do Reino de Deus.

A m de proclamar as Boas-Novas do Reino, Jesus exerceu plenamenteos três ofícios messiânicos: profeta, sacerdote e rei. Nenhum personagem,entre todos os santos do Antigo Testamento, teria condições de revelar oevangelho de Deus, em sua plenitude, como Ele o fez. Davi entrou para aHistória Sagrada como rei e profeta, mas não era sacerdote. Samuelnotabilizou-se como sacerdote e profeta, mas nunca usou a coroa real.Quanto a Moisés, o maior dos profetas, não era sacerdote nem rei.Portanto, só o Senhor Jesus, sacerdote eterno segundo a ordem deMelquisedeque, rei de Salém, estava habilitado a desvendar a Israel e aomundo a e cácia do evangelho. Em seu ministério, Jesus mostrou que oevangelho é profético, sacerdotal e real, por incluir estes três elementos:proclamação, intercessão e almejo pela vinda do Reino de Deus. Faltandoum desses elementos, o evangelho jaz incompleto. É impossível, pois,separar o evangelho de Cristo e o Cristo do evangelho.

III. Evangelismo ou Evangelização O escritor britânico John Blanchard descreveu perfeitamente como deve

ser a evangelização: “Não podemos levar o mundo todo a Cristo, maspodemos levar Cristo a todo o mundo”. Tendo em vista essa teologiasimples, mas bastante clara da obra evangelizadora da Igreja, vejamos adiferença entre evangelismo e evangelização.

1. Evangelismo. Não são poucos os obreiros que desprezam o

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evangelismo, alegando que, neste momento, carecemos mais de ação doque de ismos. Todavia, para sermos bem-sucedidos no ministérioevangelístico, precisamos de um bom respaldo teológico. Doutra forma,não saberemos como nos comportar no campo de batalha.

Ao realçar a necessidade doutrinária do evangelista, a rmou J. I.Packer: “Em última análise, só há uma forma de evangelização: oevangelho de Cristo explicado e aplicado”. Isso signi ca que oevangelismo é uma disciplina indispensável à igreja comprometida com aGrande Comissão.

É claro que não devemos car apenas no campo teórico, pois o Mestrerequer ação urgente e prioritária de cada um de seus discípulos.Observemos que, antes de enviar os setenta em missão pelas cidades daJudeia, Ele instruiu-os devidamente (Lc 10.1-11). Sem o evangelismo, aação evangelizadora daquele grupo seria inócua.

A igreja comprometida com a evangelização não despreza oevangelismo, pois sabe que sempre haverá de precisar de homens emulheres, adultos e crianças, que cumpram com amor, zelo e sabedoria aGrande Comissão. Evangelismo não é teoria; é aprendizado.

2. Evangelização. Antigamente, as igrejas não se preocupavam em

formar equipes de evangelização, porque toda a congregação eraevangelizadora. Mas, com o esfriamento espiritual e a consequentedepartamentalização eclesiástica, começaram a aparecer equipesespecializadas em alcançar os diversos segmentos sociais. Acho louvávelsemelhante iniciativa. Entretanto, com o surgimento de tais grupos, aevangelização leiga praticamente desapareceu. Isso não é saudável nem àigreja, nem à sociedade. É urgente, pois, retornarmos à laicização dotrabalho evangelístico. Quando isso acontecer, a tarefa de ganhar almasnão será vista apenas como um trabalho do ministério, mas uma obrigaçãode todo o povo de Deus.

O escritor americano Richard C. Halverson descreve a evangelizaçãocomo atividade indispensável do povo de Deus: “Parece que aevangelização nunca foi um problema em o Novo Testamento. Isso querdizer que não encontramos os apóstolos recomendando, exortando,repreendendo, planejando e organizando programas evangelísticos. Aevangelização simplesmente acontecia! Emanando sem esforços da

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comunidade de crentes como a luz emana do sol, era automática,espontânea, contínua, contagiante”.

A história da Assembleia de Deus no Brasil, fundada em 18 de junho de1911, realça a veracidade das palavras de Halverson. Quando lemos anarrativa que Emílio Conde faz de nossa igreja, temos a impressão de que,no início, todos os pentecostais eram evangelistas. Aonde chegava umassembleiano, aí chegava um evangelista que, não demorava, abria umponto de pregação. Em breve, este se fazia congregação e, mais adiante,uma próspera e robusta igreja.

Infelizmente, a burocratização denominacional acabou por minar aespontaneidade evangelística e missionária da igreja. Hoje, em muitoslugares, a proclamação do evangelho foi reduzida a um evento distante edesvinculado das urgências da Grande Comissão. Destacando ocompromisso dos primeiros crentes com a visão evangelística, escreve opastor Roy Joslin: “Para os primeiros cristãos, a evangelização não era algoque eles isolavam das outras áreas da vida cristã a m de nela seespecializar, para analisá-la, teorizá-la e organizá-la. Eles simplesmente apraticavam!” O irmão Joslin, autor do livro [ColheitaUrbana], sabia muito bem que, para se conquistar uma cidade para Cristo,era urgente envolver toda a igreja local em cada estágio da cruzada.

Se carmos apenas na área teórica, jamais cumpriremos a nossaobrigação evangelística. O tempo rapidamente passará e as oportunidadesque ainda temos não demorarão a esvair-se. Por isso, trabalhemosenquanto é dia, pois a noite escatológica já começa a cobrir o mundo,levando milhões de preciosas almas a perderem-se para sempre.

No encerramento deste tópico, vale citar a observação bastante oportunade Roland Allen: “O que lemos em o Novo Testamento não é um apeloansioso para que os cristãos disseminem o evangelho; vemos uma notaaqui e outra ali que demonstra como o evangelho estava sendo divulgado.Durante séculos a Igreja Cristã continuou a expandir-se por sua vontadeinerente e produziu um suprimento incessante de missionários semqualquer exortação direta”.

IV. Os Fundamentos da Evangelização O trabalho evangelístico requer um sólido alicerce bíblico-teológico,

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para que seja plenamente efetivado. Eis os três principais fundamentos daevangelização: a Bíblia, a experiência e a história eclesiástica.

1. A Bíblia. Quem sai a evangelizar tem de saber que está cumprindo

uma ordenança urgente de Cristo (Mt 28.19,20). Além disso, o conteúdoda mensagem a ser proclamada, quer individual, quer coletivamente, há dere etir a mensagem da cruz em sua inteireza, conforme aprendemos comPaulo:

E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de

Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nadame propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este cruci cado. E euestive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor. A minhapalavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas desabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder. (1 Co2.1-4)

Que o evangelista seja bíblico em sua vocação, no exercício de seu

ministério e na mensagem que proclama. Se fugir à Palavra de Deus, numdesses itens, seu trabalho estará fadado ao fracasso.

2. A experiência. A experiência básica do evangelista é a sua

experiência pessoal com o Senhor Jesus. Paulo só transmitia umensinamento depois de havê-lo experimentado. Ao introduzir a doutrinada Santa Ceia na igreja em Corinto, disse-lhes: “Porque eu recebi doSenhor o que também vos ensinei” (1 Co 11.23). Como, pois, haveráalguém de falar de Cristo se nenhuma experiência pessoal tem com oSenhor? Também não é possível falar de salvação estando ainda perdido ecaminhando a passos acelerados e largos para o inferno.

A segunda experiência básica do evangelista é o batismo com o EspíritoSanto. Stanley Jones a rmou que a vida cristã tem início no Calvário, maso trabalho e ciente, no Pentecostes. Se Deus o chamou a evangelizar, nãodeixe de buscar o poder do alto. Sem a assistência do Espírito, nãopoderemos anunciar, eficazmente, o evangelho de Cristo.

No capítulo referente ao evangelista, voltaremos a tratar maislargamente sobre os requisitos essenciais ao exercício desse glorioso

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ministério. 3. A História da Igreja Cristã. A Igreja de Cristo tem um

compromisso inadiável e orgânico com a evangelização do mundo. É oque nos mostra a História. Se avivada, a igreja evangeliza, faz missões eestende as fronteiras do Reino de Deus. Mas, caída, faz cruzadas, promoveguerras e empreende conquistas. Haja vista o que aconteceu em 1095.Nesse ano, durante o Concílio de Clermont, o Papa Urbano II exortou osbarões franceses a libertar Jerusalém do jugo muçulmano. Dessa forma, aguerra instalou-se novamente nas terras de Israel, levando o nome deCristo ao descrédito.

O evangelista deve conhecer bem a história e a tradição eclesiástica, am de não cometer os erros do passado. Ele tem de saber que a missão é

difundir o cristianismo, não a cristandade visível e eivada de erros. Conclusão Se cremos no poder do evangelho, saiamos a falar de Cristo.

Comecemos por nossa casa. E, assim, haveremos de constatar quenenhuma porta resistirá ao impacto da Palavra de Deus. De fato, Jesus nãonos obriga a converter o mundo. Todavia, constrange-nos a espalhar a suamensagem até aos confins da terra.

O evangelista iugoslavo Josip Horak a rmou no auge do comunismoem seu país: “Quando nosso Senhor envia-nos a testi car em seu nome,não nos coloca contra uma parede. Pelo contrário, dá-nos uma portaaberta para a evangelização, uma porta que nenhum homem pode fechar”.

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Deus, oPrimeiro Evangelista

Introdução Sendo Deus o primeiro evangelista da História Sagrada, toda a sua

palavra é amorosamente evangelizadora. É por isso que a Bíblia, aocontrário de outros livros tidos como sagrados, é lida e relida, sem jamaisdeixar de ser apaixonante. Embora concluída há mais de dois mil anos, elaé repleta de manchetes que, todas as manhãs, surpreendem-nos por suagraça, misericórdia e alvíssaras. Do Gênesis ao Apocalipse, temos umaproclamação evangelística que, tendo início na criação, vai até aconsumação de todas as coisas, inaugurando o Novo Céu e a Nova Terra.

Deus se compraz em comunicar o evangelho. Quer pessoalmente, querpor intermédio de seus arautos, Ele conclama-nos à salvação. Até mesmoem seus juízos, entrevemos o inexplicável amor, que o constrangeu aentregar o Unigênito a morrer em nosso lugar. Que ninguém o acuse deinjustiça, pois a sua natureza leva-o a proclamar a todos, em todo o tempoe lugar, as Boas-Novas de seu Reino. O Pai anseia por incluir-nos em seusdomínios eternos.

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Neste capítulo, re etiremos acerca da ação evangelística pessoal dopróprio Deus. Surpresos, constataremos que Ele evangeliza até mesmoquando está em silêncio.

I. As Primeiras Notas Evangélicas de Deus Se lermos atentamente a Bíblia Sagrada, constataremos que, quando o

universo ainda não existia, o Plano da Salvação já estava esboçado noespírito de Deus.

1. O Cordeiro Morto na eternidade. Em Apocalipse, o Espírito Santo

revela a João que o Senhor Jesus, para redimir-nos, não morreu apenas notempo. Na presciência divina, o Cordeiro de Deus já estava morto antesmesmo dos eventos registrados em Gênesis (Ap 13.8). Nossa redenção, poresse motivo, transcende o tempo e os eventos da criação; é eterna (Hb9.12). Portanto, quando ainda não havia pecado, ou pecadores, o amorosoDeus já tinha estabelecido as bases da nossa salvação.

A morte do Cordeiro, na presciência de Deus, foi a primeira notaevangélica da História Sagrada. Se Cristo morreu na eternidade, naeternidade também fomos eleitos (1 Pe 1.2). Eis porque, conformeveremos mais adiante, quando Adão pecou, Ele não se mostrou surpreso.Na sentença sobre o pecado, anuncia a redenção do pecador (Gn 3.15).Antecipadamente, prega o evangelho do Unigênito à humanidade,representada, ali, no primeiro ser humano. Antes mesmo que houvessetempo, proclamou a salvação eterna. Era como se Deus, num tabernáculovazio, chamasse os pecadores, que ainda não existiam, ao arrependimento.Parece loucura? A pregação do evangelho tem peculiaridades que só oamor divino é capaz de operar (1 Co 1.21).

2. Deus evangeliza trabalhando. Na criação dos céus e da terra,

quando Deus montava o cenário para o drama de nossa redenção, seusanjos, antegozando o triunfo do Calvário, louvam-no exaltadamente (Jó38.7). Eles sabiam que o nosso planeta não seria mais uma esfera entreoutras esferas, mas o círculo que, na plenitude do tempo, haveria de sefechar com a morte de Cristo. Por isso, os santos anjos ensaiavam, naqueleinstante da obra divina, para celebrar o nascimento do Filho de Deus em

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Belém (Lc 2.13.14).A proclamação do evangelho evoca cânticos de júbilos. Ao descrever o

regozijo dos exércitos celestes na conversão de um pecador, declarouJesus:

Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se

arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitamde arrependimento. Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, seperder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca comdiligência até a achar? E, achando-a, convoca as amigas e vizinhas,dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida.Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por umpecador que se arrepende. (Lc 15.7-10) 3. Deus evangeliza proclamando. Deus evangeliza tanto trabalhando

quanto proclamando. Ninguém melhor do que Ele sabe usar as palavras,pois a nossa linguagem nEle nasceu e nEle se desenvolve. Ele cria o mudoe o eloquente (Êx 4.11). Por intermédio de seu Espírito Santo, inspirou oLivro dos livros (2 Tm 3.16). E, pela boca de seus servos, narra as históriasmais belas, declama as poesias mais sublimes, anuncia as promessas maisescondidas e consola-nos, diariamente, com o cajado do Bom Pastor.

A Bíblia não se limita a conter a Palavra de Deus. Ela é a Palavra deDeus que evangeliza e redime o pecador, guiando-o às regiões maiscelestes (Ef 2.6). Todas as vezes que a Sagrada Escritura é lida, ouve-se opróprio Deus evangelizando. Por isso, quem rejeita o Filho, rejeita o Pai.

II. O Proto-Evangelho de Deus Na queda de Adão, temos a mentira que aprisiona, a verdade que liberta

e a promessa da semente que, lançada no Éden, germinaria no Calvário,trazendo a salvação a todos os homens.

1. A mentira que aprisiona. O discurso com que Satanás enredou a

queda de Adão era lógico e filosofante. Nem mesmo Aristóteles seria capazde armar silogismos como aqueles. O Inimigo mentiu, fazendo-se amigo;distorceu a verdade, levando-a a parecer mentira. Desevangelizando Adão

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e Eva, induziu toda a humanidade à rebelião contra Deus. E, assim,aprisionou nossos pais.

A queda de nossos primeiros genitores chocou os seres angelicais. Atéali, homens e anjos formavam uma mesma grei, apesar de estaremseparados por uma barreira dimensional. Mas, agora, com o pecado,éramos tão inimigos de Deus quanto Satanás. O Senhor dos céus e da terra,contudo, não tardaria a proclamar o proto-evangelho que, no Calvário,desfaria a inimizade que separa a criatura do Criador.

2. A verdade que liberta. O que parecia a desgraça da raça humana

acabaria por revelar a maravilhosa graça do Pai Celeste. Ao ver a queda deseu lho, Adão, tão precocemente pródigo, mas também tão precocementearrependido e choroso, Deus não o deixou prostrado. Antes, providenciou-lhe um inesperado acolhimento, que só os pais são capazes deproporcionar aos filhos mais ingratos e rebeldes.

Ainda no Jardim do Éden, o Senhor recebe-os com amor e misericórdia.Substituindo os andrajos de gueira, dá-lhes a pele de um animal vicáriocomo roupa. Não bastasse tanto cuidado e afeição, juntamente com o juízo,anuncia-lhes o proto-evangelho. Deus em nada diferia do pai daquelepródigo descrito por Jesus.

3. O proto-evangelho. No Éden, Deus age como o Juiz da raça

humana. Mas, como a sua misericórdia sempre triunfa no juízo, não tardaem predizer a redenção da espécie adâmica. O Juiz faz-se Evangelista, eproclama, ali mesmo, o proto-evangelho: “E porei inimizade entre ti e amulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tulhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15).

O juízo sobre a raça tem, como exórdio, uma nota lindamenteevangélica. Antes mesmo de o Juiz sentenciar-nos os pais, evangeliza-os.Eles, de fato, seriam duramente punidos. Se, por um lado, eram expulsosdo Éden terrestre, por outro, haveriam de ser introduzidos, por meio dasemente da mulher, no Paraíso celeste.

A partir de um evangelho tão sucinto e tão econômico nas palavras, aredenção da humanidade começa a ganhar feições. Com menos de trintavocábulos, o Senhor, eloquentemente, anuncia a chegada de Jesus Cristo,nosso amado Salvador.

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III. O Evangelho de Cristo a Abraão De Adão, o primeiro homem, a Abraão, o primeiro patriarca dos

hebreus, temos um interregno de aproximadamente dois mil anos. Nesseperíodo, o Reino de Deus parecia engolido pelo império de Satanás.Todavia, o Evangelista Eterno estava apenas preparando o caminho de seuFilho que, decorridos mais dois milênios, haveria de nascer em Belém deJudá.

1. Abraão, o gentio. Ao ser chamado por Deus a peregrinar numa terra

desconhecida e mui distante, Abraão não passava de um gentio como eu evocê. Era um caldeu entre os caldeus. O idioma que falava não era ohebraico, mas a língua aramaica que, nascida em Damasco, estendia-se atéas fronteiras com a Índia. Mas aprouve a Deus evangelizá-lo, separando-odentre as gentes, para, por meio dele, levar o mundo a uma surpreendenterealidade espiritual.

De tal forma converte-se Abraão ao Deus Único e Verdadeiro que, anteo seu chamamento, deixa uma cidade segura e confortável para andejar umchão ermo e cheio de sobressaltos. Suas experiências com o Senhor sãoprofundas; faz-se amigo de Deus (Is 41.8). Não demora para que o seunome seja mudado, indicando uma nova dimensão em sua vida espiritual.Dantes, era Abrão: grande pai. Mas, agora, é Abraão, que em hebraicosigni ca pai de uma multidão não somente étnica, mas destacadamenteespiritual (Gn 17.5). Logo, o patriarca hebreu torna-se o nosso pai na fé(Tg 2.21). O cristianismo e o judaísmo são religiões abraãmicas.Semelhante designação é reivindicada também pelo islamismo. Todavia,ao ler o Corão, não pude encontrar, em nenhuma de suas suratas, algo queme levasse a identificar a fé islâmica com a crença do patriarca hebreu.

2. O evangelho de Deus a Abraão. Em sua belíssima teologia da

justi cação pela fé, Paulo, depois de condenar energicamente o falsoevangelho anunciado nas regiões da Galácia, escreve:

É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado

como justiça. Sabei, pois, que os que são da fé são lhos de Abraão.

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Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justi car pela fé osgentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas asnações serão benditas em ti. De sorte que os que são da fé sãobenditos com o crente Abraão. (Gl 3.6-9) Aos israelitas, que ainda não haviam recebido o Cristo de Deus, a

chamada de Abraão era mais étnica do que espiritual. O apóstolo, porém,iluminado pelo Espírito Santo, viu, atrás daquela narrativa, uma das maisprofundas teologias do Novo Testamento. Em Gênesis, escondia a essênciado Evangelho:

Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, e da tua parentela,

e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei umagrande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tuserás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoareios que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias daterra. (Gn 12.1-3) Se nos detivermos a analisar a vocação do patriarca hebreu,

encontraremos a mais bela síntese da mensagem cristã. Em primeiro lugar,Deus individualiza a chamada de Abraão, a m de universalizar aconvocação de todas as nações a crer em Jesus Cristo.

Deus, emprimeiro lugar, intima Abraão a deixar a sua nacionalidade: “Sai-te da tuaterra”. A fé no Deus Único e Verdadeiro não pode circunscrever-se a umanacionalidade. Seu caráter reivindica seja ela proclamada a todos, em todoo tempo e lugar, por todos os meios. Por esse motivo, não sou favorável auma igreja o cial, como a anglicana, pois sempre estará a serviço doEstado. A Igreja, por ser Igreja, não pode ser trancada na burocraciaestatal, pois a sua natureza leva-a a forçar todas as portas, inclusive as doinferno.

Israel jamais poderia ter restringido a sua fé a um território, a umacidade, a um santuário e a um objeto sagrado. Infelizmente, foi o queaconteceu. Embora fundassem uma terra santa, não foram su cientementezelosos para santi car os povos além de suas fronteiras. Ao elegeremJerusalém como a cidade santa por excelência, não saíram, a partir dela, a

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proclamar a Palavra de Deus até aos con ns da terra como fez o profetaJonas. Quanto ao Santo Templo, achavam que Deus estava restrito àquelacasa e que, de lá, jamais sairia. E, para completar o seu exclusivismoreligioso, zeram da arca sagrada um totem. Supunham que, tendo-a porperto, nenhum mal viria a alcançá-los. O Senhor mostrou-lhes, porém, queaquele objeto tão belo e tão cobiçado viria a perder-se um dia (Jr 3.16).

En m, os israelitas, ao contrário de Abraão, não conseguiramtranscender a própria nacionalidade na divulgação da verdadeira fé. Logo,o Deus de Israel é também o Deus de todos os povos, porque sua é a terra ea sua plenitude. Até mesmo os apóstolos demoraram a entender o alcanceuniversal do evangelho de Cristo. Fez-se necessária a convocação de umconcílio, para que, iluminados pelo Espírito Santo, autorizassem Paulo eBarnabé a prosseguirem o seu ministério junto aos gentios.

Deus ordenou também aAbraão que deixasse a sua parentela, pois o chamava a ser o pai de todos osque creem. Então, como haveria ele de con nar-se à etnia hebreia, se omais ilustre de seus descendentes haveria de morrer por todos os povos? Osisraelitas, porém, ignorando a natureza de sua chamada universal, isolam-se nacionalmente.

A m de arrancar os apóstolos a esse exclusivismo, o Senhor concede aPedro a visão global do evangelho. No lençol descido do céu, o galileucontempla toda sorte de animais imundos e repulsivos. Em seguida, ouvedo próprio Jesus: “Não faças tu comum ao que Deus puri cou” (At 10.15).A partir daquele momento, a Igreja de Cristo, ainda majoritariamentejudaica, internacionaliza-se até alcançar os povos mais inalcançáveis.

A grandeza de Israel, portanto, não está em sua nacionalidade, nem emsua etnia; reside em sua herança espiritual.

Abraão foi chamadoainda a deixar a casa de seu pai, pois a família que dele sairia não sefundaria em laços de sangue, mas numa aliança espiritual. É claro que, aosolhos de Deus, a família é muito importante. Precedendo o Estado e atémesmo a Igreja, ela é a base tanto daquele quanto desta. Mas, pela fé emJesus Cristo, lho de Abraão, surge um povo mais forte que a própriafamília.

Certa vez, perguntou o Senhor Jesus: “Quem é minha mãe? E quem são

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meus irmãos?”. Ato contínuo, destacando seus discípulos, responde: “Eisaqui minha mãe e meus irmãos; porque qualquer que zer a vontade demeu Pai, que está nos céus, este é meu irmão, e irmã, e mãe” (Mt 12.49,50).

A família, para Abraão, teria um fundamento mais forte que osanguíneo. A fé no Deus Único e Verdadeiro seria capaz de unir, nummesmo corpo, em Jesus Cristo, todos os povos da Terra. Todos os que oaceitam, portanto, são chamados para fora de sua nacionalidade, etnia efamília, a m de formar um só organismo espiritual. Assim é descrita aIgreja de Cristo pelo apóstolo Paulo: “Porque todos sois lhos de Deuspela fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo jávos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nemlivre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”(Gl 3.26-28).

No evangelho que Deus pregoua Abraão, havia uma terra estratégica, larga e espaçosa. Disse-lhe o Senhor:“para a terra que eu te mostrarei”. Portanto, Abraão é chamado para forade sua nacionalidade, de sua etnia e de sua família, com o objetivo depossuir uma terra que ele ainda não via. Assim, movido por uma féjustificadora, começa o patriarca a ver o invisível. Naquele exato momento,deixando para trás o sedentarismo confortável, faz-se nômade. E, de oásisem oásis, peregrina até chegar a uma terra que, profeticamente, já era sua,mas, historicamente, ainda estava em poder de gentios aguerridos,profanos e inimigos de Deus.

Por que Canaã, e não Ur dos caldeus? Por que a terra do amorreu e dojebuseu, e não Padã-Arã? Ambas as cidades eram mais importantes que oterritório cananeu. Todavia, não eram estrategicamente localizadas para adifusão do conhecimento divino a toda a Terra. Somente Israel serviriacomo a localização exata para o Senhor Jesus iniciar a expansão do Reinode Deus. Os evangelistas, partindo de Jerusalém, alcançariam toda aJudeia, a região de Samaria e, finalmente, os confins do globo.

A igreja católica, sob o comando de Urbano II, reuniu-se em cruzada,para retornar a Jerusalém. Mas a Igreja Primitiva, impulsionada peloEspírito Santo, partiu de Jerusalém para conquistar o mundo para Cristo.Temos aí o verdadeiro signi cado de . Ou seja: à cidade e aomundo com um só alvo: proclamar a Palavra de Deus.

Quanto àquela terra, não há dúvida. Pertence a Israel.

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Na promessa que o Senhor lavra ao seuamigo, há uma nota paradoxal: “E far-te-ei uma grande nação”. Se Abraãofosse o pai da China, ou dos Estados Unidos, não haveria, aí, contradiçãoalguma. De seus lombos, porém, saiu uma das menores nações do mundo.Por mais que se multiplique, a demogra a de Israel jamais chegará aonível da chinesa ou da americana. Não obstante, não há povo tão in uente,espiritual e moralmente, do que o hebreu.

Nenhuma outra escritura é tão lida quanto a Bíblia. Nenhum profeta écitado como Moisés. Quanto a Jesus Cristo, nosso Senhor, nenhum serhumano é tão evocado quanto Ele. Verdadeiro Homem e Deus Verdadeiro,o Nazareno reúne, em torno de seu nome, povos de todas asnacionalidades que, vinculados pela fé, tratam-se como irmãos. Essa é agrandeza de Israel.

No evangelho que Deuspregou a Abraão, há dois mandamentos especí cos. Se o primeirorepresentou di culdades geográ cas e logísticas, o segundo representaráum grande desa o espiritual e teológico. Na segunda ordenança, diz-lhe oSenhor: “e tu serás uma bênção”. Se na versão corrigida de Almeida omandamento parece profecia, já na tradução atualizada, a promessa soacomo um mandamento bastante claro: “Sê tu uma bênção” (Gn 12.2).

Abraão teria de ser uma bênção à sua família e a todas as nações daTerra. Ele abençoou-nos com os profetas, com as Escrituras Sagradas ecom o Cristo. Jamais poderemos retribuir-lhe as bênçãos que, de seusdescendentes, recebemos. Por isso, cabe-nos abençoá-lo. Hoje,abençoamos Israel não somente mantendo vínculos amistosos com oEstado judeu, mas curvando-nos ao evangelho que nos veio porintermédio da família hebreia.

Conclusão Do proto-evangelho, no Éden, ao evangelho de Cristo, no Calvário,

todas as nações foram abençoadas no patriarca Abraão. O interessante éque, em ambos os eventos, Deus fez-se presente para atestar o seu amorpela humanidade caída. Ele criou o mundo em seis dias. No sétimo, veio adescansar de seu trabalho. Todavia, quando da queda de nossos pais, oSenhor recomeçou o seu labor não apenas preservando a sua criação, mas

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também evangelizando seus filhos rebeldes e apostatas.Jesus a rmou, certa vez, que o Pai trabalha até agora. Por essa razão, o

Filho continuava o seu labor. Mas qual o trabalho do Pai? Não é criar,porque tudo quanto havia de ser criado, já o foi. Todavia, a evangelizaçãosempre haverá de ser um trabalho incompleto, por mais que nosesforcemos.

Neste momento, Deus não mais anuncia pessoalmente o evangelho,como fez no Éden e ao patriarca Abraão. Entretanto, não cessa de abrirportas, abençoar missões e missionários. Por intermédio de mim e de você,Ele estende as fronteiras de seu Reino. Paulo dizia-se imitador de Deus,porque se sentia na obrigação de proclamar-lhe a Palavra a tempo e fora detempo.

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Igreja, AgênciaEvangelizadora

Introdução Alguém a rmou, certa vez, que

a Igreja de Cristo não é um clube de iates, mas uma frota de pesqueiros. Oautor anônimo, de maneira sutil e delicada, deixa bem claro que aprincipal tarefa da Igreja é a evangelização. Na entrelinha de sua assertiva,deixa ele bem patente que a Igreja, por sua natureza e vocação, é a agênciapor excelência de evangelismo e missões. Se não evangeliza, deixa de serum organismo divino para apequenar-se numa organização humana falidae já em vias de apagar-se.

Neste capítulo, realçaremos a Igreja que se faz conhecida peloevangelho que proclama, pela doutrina que ensina e pelo discipulado queemprega na formação de novos crentes. Que Deus nos abençoe naobservância dos mandamentos do Senhor Jesus quanto à evangelização domundo.

I. Igreja, Comunidade de Proclamação O mártir alemão Dietrich Bonhoeffer (1906-1945) declarou que a Igreja

é Cristo existindo em comunidade. Todavia, Jesus não almeja apenas

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existir entre nós, mas atuar por meio de nós. É para isso que Ele instituiu asua igreja.

1. Igreja, de nição que desa a. A Igreja já foi de nida como uma

assembleia dos que foram chamados para fora. Se aceitarmos essade nição, veremos que a etimologia do termo grego é bastanteemblemática. Nesse vocábulo, temos duas palavras distintas: , quesigni ca “de” ou “para fora”, e , que traz o signi cado de serchamado, ou convocado.

Nesse sentido, a grega era a assembleia de cidadãos intimadospara fora de suas casas, a m de tratar de algum assunto de interessepúblico. Tendo em vista a natureza e a missão da “igreja” grega, aprouveao Senhor Jesus usar o mesmo termo para nomear a sua universalassembleia de homens e mulheres provenientes de todas as nações.

2. Igreja, um organismo peculiar. Ao ouvir a declaração de Pedro,

sobre a qual fundou a sua Igreja, Jesus poderia ter dito: “Sobre esta pedra,fundarei a minha sinagoga”. Mas, se o zesse, estaria limitando a atuaçãode seus discípulos, pois os judeus, numa cidade gentia, não eram chamadospara fora, mas convocados para dentro. E, ali, na sinagoga, congregavam-se, a m de adorar o Deus da nação de Israel, e não para anunciar o Deusde todos os povos. Além do mais, para se formar uma congregação israelitaeram necessários nove homens adultos.

O Senhor, porém, simpli cou o estabelecimento da Igreja. Agora, não émais imperioso que se reúna uma novena de varões. Bastam duas pessoascongregarem-se sob a invocação de Cristo, para que Ele se manifeste entreelas e, por intermédio delas, aja salvadoramente (Mt 18.20). Um únicosanto não constitui uma igreja, mas um testemunho. Mas dois ou três,invocando o nome do Senhor, perfazem um número su ciente para que setenha uma comunidade proclamadora.

A Igreja de Cristo é superior à assembleia grega e mais sublime que asinagoga judaica. Ela, por ser Igreja e pertencer a Cristo, jamais deixará deser um organismo, ao passo que estas nunca hão de transcender os limitesda organização.

3. A Igreja sempre será chamada para fora. Ainda que a etimologia

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da palavra “igreja” seja, às vezes, questionada, os discípulos de Cristosempre serão chamados para fora, a m de proclamar o evangelho. Nossotestemunho, portanto, não cará emparedado, nem aprisionado pelaburocracia eclesiástica. Se somos Igreja, agiremos como Igreja. Sairemos aevangelizar e a fazer discípulos até a fronteira final deste globo.

A Igreja, em virtude de sua natureza, não se deixa aprisionar por umaagenda que não tenha a evangelização como a prioridade máxima.Evocamos, aqui, o exemplo das Assembleias de Deus. Embora nãohouvesse ainda nascido o cialmente, apregoava o novo nascimento semimpedimento algum. Naqueles idos, o campo era um mundo semfronteiras. Todos os que se convertiam eram chamados para fora,apregoando que Jesus salva, batiza com o Espírito Santo e cura os males docorpo. A chama pentecostal ardia continuamente.

Há uma diferença substancial entre a chamada de Israel e a da Igreja.No Antigo Testamento, os israelitas partiam dos extremos de Israel, paraadorar em Jerusalém. Assim também agiam os prosélitos. Haja vista arainha de Sabá e o eunuco de Candace, soberana dos etíopes. O SenhorJesus, contudo, ao estabelecer a Igreja, não tinha como alvo atrairninguém à Cidade Santa. Mas, a partir de Jerusalém, tinha como alvo aconquista do mundo através de seus discípulos. A missão de Israel,portanto, era centrípeta; atraía a todos ao centro judaico de adoração, quetinha como emblema o Santo Templo. Quanto à missão da Igreja, éfortemente centrífuga; desde Jerusalém, pôs-se a proclamar o evangelhoaté às fronteiras mais extremas da Terra.

II. A Igreja de Cristo e o Cristo da Igreja João Calvino (1509-1564), ao discorrer sobre a natureza da Igreja, foi

preciso e coerente: “Onde quer que vejamos a Palavra de Deus pregada eouvida com pureza, ali existe uma igreja de Deus, mesmo que ela estejarepleta de falhas”. Portanto, não há o que se discutir. A Igreja de Cristosubsiste pela proclamação do evangelho de Cristo e pelo ensino dadoutrina dos profetas e dos apóstolos.

1. Sua natureza proclamadora. Cristo estabeleceu a Igreja em cima de

uma proclamação breve, mas profundamente teológica e profética. Ao

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indagar de seus discípulos acerca da opinião de Israel quanto à sua pessoa,ouviu de Pedro a maior declaração que alguém poderia fazer sobre o seumessiado: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16). Tala rmação, embora sucinta, era tão forte e marcante, que somente alguéminspirado pelo Espírito Santo poderia emiti-la. Foi o que reconheceu opróprio Senhor: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foicarne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que está nos céus” (Mt 16.17).

Em seguida, o Senhor revela aos discípulos que, sobre a assertiva dePedro, fundaria Ele a sua Igreja. Portanto, o alicerce da assembleia doNovo Testamento é uma declaração que, em nove palavras, revela aessência dos profetas que, desde Moisés, profetizaram até Malaquias. Ora,se a natureza da Igreja de Cristo é a proclamação, ela haverá de peregrinarde proclamação em proclamação até que o Senhor a venha buscar.

2. Sua missão proclamadora. Se a igreja evangeliza e faz missões, é

verdadeira. Mas se vive pela liturgia, não passa de uma casa de espetáculos.As igrejas católicas e orientais são ostensivas e doentiamente formais.Algumas missas ortodoxas chegam a durar três horas. Se espremermos,porém, todos esses missais, cânones e rubricismos, não lograremos umaúnica gota do verdadeiro evangelho. Infelizmente, os evangélicos, apesarde suas reuniões vivazes e barulhentas, estão caindo no mesmo pecado. Aformalidade também se manifesta informalmente. Qualquer culto,portanto, que não cultue verdadeiramente a Deus, é formalismo, ainda quetraga um ostensivo rótulo carismático.

João Wesley (1703-1791), após a sua experiência pentecostal, começoua ter uma visão mais bíblica sobre a tarefa do corpo de Cristo: “A Igrejanada tem a fazer, a não ser salvar almas. Portanto, deve gastar e ser gastanesta obra. Não lhe é requerido falar tantas vezes, mas salvar tantas almasquanto puder, levar ao arrependimento tantos pecadores quanto possível”.O evangelista inglês diz-nos, entre outras coisas, que a evangelização temde voltar a ser a nossa primazia. Caso contrário, jamais seremosreconhecidos como discípulos daquEle que, durante todo o seu ministério,outra coisa não fez senão proclamar a Palavra de Deus com a vida e pormeio da própria morte.

III. O Cristo da Igreja e a Igreja do Cristo

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Na região da Galácia, havia uma atividade evangelizadora tão intensa,

que chegava a ser febricitante. Todavia, o evangelho de Cristo era ignoradoe o Cristo do evangelho era desprezado por aqueles obreiros de Satanás.Portanto, não basta falar de Cristo. É urgente que voltemos a proclamar oCristo do Novo Testamento.

1. Cristo, o Filho de Deus. A primeira grande verdade proclamada

sobre Jesus, em o Novo Testamento, é que Ele é o Filho do Deus Vivo (Mt16.16). Se pregarmos um Cristo que não procede de Deus, jamaisconvenceremos o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Por esse motivo,o Senhor ordena que os convertidos sejam batizados em nome do Pai, doFilho e do Espírito Santo (Mt 28.19).

Recentemente, li o Corão, o livro tido como sagrado pelos muçulmanos.Naquelas longas e, às vezes, repetitivas suratas, Jesus é citado amiúde.Apesar do respeito com que Ele é tratado pelo fundador do Islamismo, édifícil ver, naquelas descrições, o Cristo de Deus. Antes de tudo, porque,em nenhum lugar, Ele é considerado o Filho de Deus. Mas, sempre queMaomé cita-o, faz questão de ressaltar-lhe a liação mariana. Dessa forma,o Corão apresenta o Filho de Deus como lho de Maria. Aos olhos deMaomé, Jesus foi o mais puro dos muçulmanos. Todavia, o Cristomaometano jamais libertará o homem das garras de Satanás.

Cabe-nos evocar, aqui, o belíssimo pronunciamento de C. S. Lewisacerca do messiado de Jesus Cristo:

Um homem que fosse só homem e dissesse as coisas que Jesus disse não

seria um grande mestre de moral. Seria um lunático no mesmo nível deum homem que diz ser um ovo cozido ou então seria o próprio diabo. Cadaum de nós precisa tomar a sua decisão. Ou este homem era, e é, o Filho deDeus, ou então um louco, ou algo pior. Mas não venhamos com nenhumargumento complacente que diga que ele foi um grande mestre humano.Ele não nos deu esta escolha. Nunca pretendeu fazê-lo.

Concluindo, o primeiro tópico de nosso sermão evangelístico tem de

apresentar, obrigatoriamente, a liação divina de Jesus Cristo. Se não oapresentarmos como Filho de Deus, poderemos até apresentar uma bela

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peça de oratória, mas jamais uma autêntica pregação evangélica. 2. Cristo, o Cruci cado de Deus. Se Jesus não passou de um mero

pensador como Sócrates, que efeito tem a sua morte sobre a nossaeternidade? Ao considerar a questão, respondeu Jean Jacques Rousseau(1712-1778): “Se a vida e a morte de Sócrates são as de um lósofo, a vidae morte de Jesus Cristo são as de um Deus”. O sábio suíço não careceucursar teologia para chegar a uma conclusão tão óbvia e certeira. Háteólogos, porém, que, apesar de sua erudição, ainda não atinaram que Jesusmorreu como Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus. Por conseguinte, osegundo tópico de nossa mensagem evangelística é apresentar Jesus Cristocomo o Crucificado de Deus.

Ao dirigir-se à intelectual Corinto, apresentou Paulo uma mensagemsimples, mas e caz. Se os coríntios aguardavam um discurso semelhanteao de Demóstenes, decepcionaram-se, pois o Doutor dos Gentios, entreeles, tratou de um único assunto, como ele faz questão de frisar:

E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o

testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou desabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a JesusCristo e este cruci cado. E eu estive convosco em fraqueza, e emtemor, e em grande tremor. A minha palavra e a minha pregação nãoconsistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas emdemonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não seapoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus. (1 Co 2.1-5) Embora o apóstolo fosse um dos maiores acadêmicos de seu tempo, não

se deixou aprisionar pela loso a, mas transcendeu Platão e Aristóteles.Sua mensagem não se resumia a uma mera peça de oratória. Quando sepunha a falar de Cristo, encenava o drama do Calvário de tal forma, queseus ouvintes tinham a impressão de estar ao pé da cruz. Foi o que ele,tomado por uma ira santa e compreensível, declarou aos gálatas queestavam prestes a apostatar da fé: “Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinoupara não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem JesusCristo foi já representado como crucificado?” (Gl 3.1).

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A Igreja tem de encenar, tanto para si mesma quanto para o mundo, odrama do Calvário. A palavra usada pelo apóstolo, para descrever como elepregara a crucificação de Cristo aos gálatas, não era desconhecida do teatrogrego. O vocábulo signi ca pintar, ou retratar vivamente, umacena perante olhos exigentes e críticos. Paulo jamais foi in el aoproclamar a mensagem da cruz. Ele não era um ator, mas sabia comorepresentar a obra de Cristo ante um mundo que jaz no maligno.

3. Cristo, o Ressurreto de Deus. Se proclamarmos a morte de Jesus,

mas lhe omitirmos a ressurreição, nossa pregação será incompleta.Quando os apóstolos reuniram-se, antes do Pentecostes, para escolher osubstituto de Judas Iscariotes, zeram questão de frisar que teria de seralguém apto a testemunhar a ressurreição do Filho de Deus (At 1.22). Aescolha, como sabemos, recaiu sobre Matias que, a partir daquelemomento, tinha como tarefa prioritária anunciar a Israel e ao mundo queJesus, de fato, erguera-se de entre os mortos.

Urge, pois, que a Igreja volte à pregação completa do evangelho. Opecador tem de saber que Jesus não cou preso à cruz, nem detido nosepulcro, mas que, no terceiro dia, ressurgiu com poder e glória. Pareceque os crentes de Corinto não estavam bem seguros quanto à ressurreiçãode Cristo. Por isso, interveio Paulo, a rmando-lhes com toda a energia deseu apostolado:

Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem

alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? E, se não háressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristonão ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.(1 Co 15.12-14) Que cada pecador saiba que Jesus morreu, ressuscitou e acha-se vivo,

intervindo no mundo e governando a sua Igreja, por meio do EspíritoSanto.

4. O Cristo que intervém. Na Declaração de Cesareia, Pedro foi

inspirado a a rmar que Jesus é o Filho do Deus Vivo (Mt 16.16). Nessacurta, mas profunda assertiva, vemos um Deus que não se esconde em sua

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transcendência, mas se revela, amorosamente, em sua imanência. Por isso,o Pai intervém na história do universo por meio do Filho.

Quando pregamos que Jesus, além de ressuscitar, acha-se no governo detodas as coisas, tiramo-lo do panteão onde jazem os fundadores dereligiões e seitas, para entronizá-lo como o Rei dos reis e Senhor dossenhores (Ap 19.16). Ele não é um entre outros fundadores de religiões,mas o fundamento da religião única e verdadeira. Maomé, por exemplo,em que pese o dogma de sua ascensão, jaz no sepulcro e lá permanecerá atéo Juízo Final. Cristo, porém, ressurgiu da morte. Por essa razão, declarou:

É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto, ide, ensinai

todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e doEspírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vostenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até àconsumação dos séculos. Amém! (Mt 28.18) Quando a Igreja apregoa o Cristo Vivo, serenamo-nos, pois sabemos

que Ele está no controle do universo, da História e de nossa vida. A nal,somente aquEle que vive para todo o sempre pode tornar-se o Deusconosco.

5. Cristo, o Deus pessoal. Ao anunciar a conceição virginal de Maria, o

profeta Isaías deixa transparecer que o Filho, à semelhança do Pai, será umDeus pessoal: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um lho, e ele seráchamado pelo nome de Emanuel. (Emanuel traduzido é: Deus conosco)”(Mt 1.23). Semelhante detalhe não pode faltar à mensagem evangelísticada Igreja de Cristo. Os que suspiram por um encontro pessoal com o PaiCeleste não podem ver o Filho apenas como uma gura histórica edistante. como se Ele, o Divino Emanuel, não passasse de um mero acervomuseológico. Que Ele existiu, não há dúvida. Maomé e Buda tambémexistiram, mas são incapazes de transformar vidas. Que em cadaproclamação, pois, mostremos que Jesus, além de estar vivo, almeja rmarum relacionamento pessoal, profundo e íntimo com cada um de seusfilhos.

Mas em determinados círculos acadêmicos, o Salvador acha-se tãodistante dos perdidos, que ninguém mais logra encontrá-lo em meio às

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monogra as, teses e ensaios. Não me re ro apenas à erudição secular.Infelizmente, a que lida com o texto sagrado acha-se também a debater noterreno movediço da incerteza e da incredulidade. Por isso, não noscurvemos, acriticamente, à crítica textual. Diante do aparato crítico dealgumas edições da Bíblia Sagrada, indaga o miserável pecador: “A nal,Jesus fala ou não a minha língua?”. Não nos esqueçamos de que a erudiçãoé serva do evangelho e escrava da Palavra de Deus. Sua tarefa é transmitir,de geração em geração, os oráculos divinos em sua pureza e integridade.Ela tem de estar ao pé da cruz, e não encimando a cabeça do Cordeiro deDeus.

Que o pecador saiba que Jesus não é apenas o Deus conosco, mastambém o Deus comigo e o Deus contigo. Ele é tão pessoal que podemosadorá-lo com todo o nosso ser, pois a sua presença permeia-nos o corpo, aalma e o espírito.

IV. Igreja, a Mestra da Palavra Entre outras símiles, Paulo destaca a Igreja de Cristo como a coluna e o

baluarte da verdade (1 Tm 3.15). Tal comparação revela a natureza docorpo de Cristo, cuja missão é pregar o evangelho, ensinar os desígniosdivinos e atuar como a voz profética de Deus.

1. A pregação do evangelho. A Igreja de Cristo, como já vimos, foi

constituída, a m de proclamar o evangelho a todos, em todo tempo elugar, por todos os meios. O que universaliza uma igreja, portanto, não é oseu título, nem as suas pretensões, mas a sua atividade evangelística emissionária. Se nos fecharmos, como poderemos alcançar os con ns daTerra? Mas, se nos abrirmos localmente, universalmente cumpriremos atarefa que nos confiou o Senhor da Seara.

A Igreja sempre será chamada para fora, para apregoar a Palavra deDeus. Toda vez que isso ocorre, fazemo-nos luz do mundo e sal da terra.Num primeiro momento, iluminamos as trevas com a exposição daverdade divina. Em seguida, preservamos os tecidos sociais maiscomprometidos, proclamando a vontade de Deus profeticamente.Portanto, quem ganha almas muda a sociedade, transforma a cultura edissemina a ética cristã.

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2. O ensino da Palavra. A academia não pode substituir a Igreja noensino da Palavra de Deus, nem na produção teológica. Toda vez que issoocorre, uma nova heresia nasce, uma verdade é distorcida e umacongregação local é destruída. Não quero, aqui, estabelecer uma relaçãodualista entre o ministério cristão e a academia.

Se a academia é cristã, não se afastará da Igreja, nem há de se arvorarcontra o ministério eclesiástico. Por que um dualismo entre ambas?Portanto, assim como não devemos separar a vida pública da particular,também não podemos separar as atividades intelectuais das espirituais,pois o Espírito Santo quer santi car-nos por inteiro: “O mesmo Deus dapaz vos santi que em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejamconservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor JesusCristo” (1 Ts 5.23, ARA).

A verdadeira teologia é produzida no âmbito da Igreja, pois os donsministeriais são concedidos ao seu ministério, e não à academia, conformeressalta o apóstolo:

E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e

outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendoo aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, paraedi cação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade dafé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida daestatura completa de Cristo. (Ef 4.11-13) A Igreja de Cristo, pois, acha-se devidamente aparelhada, pelo Espírito

de Deus, para ensinar a verdadeira doutrina e produzir a melhor teologia.Ela precisa de seus acadêmicos, mas estes não devem prescindir dacomunhão dos santos. Além do mais, a teologia que produzimos só teráalgum valor diante de Deus se frutificar na salvação de almas, na edificaçãoda Igreja e no fortalecimento da voz profética da Bíblia Sagrada.

Conclusão Sendo a Igreja de Cristo a coluna e o baluarte da verdade, não haverá de

imiscuir-se com o poder secular, pois o seu Reino é eterno. Isso nãosigni ca, porém, que devemos ignorar o mundo, porquanto nele vivemos.

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Todavia, jamais nos conformaremos com o seu sistema. Nossa missão étransformá-lo pela proclamação do evangelho de Cristo. Quanto maisfalarmos de Cristo à nossa geração, mais faremos ouvir a voz de Deus.

Por meio da proclamação evangélica, mostraremos a todos que JesusCristo é a única esperança para a nossa geração. Evangelizar é a missãomais importante da Igreja.

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O Trabalho eAtributos do Ganhadorde Almas

Introdução O evangelista é um precioso dom de Cristo à sua Igreja. Sem o

ministério da proclamação, o evangelho teria morrido em Jerusalém. Mas,por intermédio de obreiros como Filipe, a mensagem da cruz,ultrapassando as fronteiras da Judeia, chegou a Samaria. E, desse recantogentio tão desprezado, as Boas-Novas não demoraram a chegar aos con nsda Terra.

O evangelista assemelha-se ao bandeirante que, jamais temendo odesconhecido, sai a falar de Cristo aos povoados mais remotos eestressantes. O seu retorno, porém, é jubiloso. De maneira sacri cal,apresenta preciosas almas ao Senhor. Seja falando a uma única pessoa, sejapregando às multidões, o seu amor pelos que perecem é o mesmo.Proclamar o evangelho é a sua missão.

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Neste capítulo, enfocaremos o evangelista como o agente das Boas-Novas. Veremos que ele é essencial à expansão do Reino de Deus. Paulodestaca o seu ministério como um dos mais importantes da Igreja. Ele é osemeador que saiu a semear.

I. Evangelista, um Dom de Deus Leighton Ford, ao descrever a chamada do evangelista, a rmou:

“Devemos evangelizar não porque seja agradável, fácil, ou porquepodemos ter sucesso, mas porque Cristo nos chamou. Ele é o nosso Senhor.Não temos outra escolha senão obedecer”. O ministério evangelístico nãose limita a uma opção pessoal; firma-se numa intimação do próprio Cristo.

1. Evangelista, uma feliz de nição. A palavra “evangelista” provém

do vocábulo grego , e signi ca aquele que traz boas-novas.Trata-se de um termo que, usado na Grécia Clássica, designava o queportava uma notícia agradável. Em suma, era o mensageiro do bem. Apartir da fundação da Igreja de Cristo, no Pentecostes, a palavra passou adesignar aquele que proclama o evangelho.

A palavra “evangelista” é constituída por dois vocábulos gregos: ,bom, e , anjo ou mensageiro Se considerarmos a sua etimologia,concluiremos que o evangelista, sendo o “anjo” do bem, tem de estarsempre a postos a transmitir a Palavra de Deus. Eis porque, no Apocalipse,os responsáveis pelas igrejas da Ásia Menor foram assim nomeados peloSenhor. Enquanto pastores, eram compelidos pelo Espírito Santo a fazer otrabalho de um evangelista.

2. Evolução do ministério evangelista. Se o ministério diaconal foi

constituído formalmente por um concílio, o evangelístico não precisou deformalidade alguma para sobressair. Os dois primeiros evangelistas daIgreja Primitiva, a propósito, surgiram dentre os sete diáconos. Logo apósser consagrado ao diaconato, Estêvão começou a destacar-se comoevangelista. Sua palavra fez-se tão irresistível, que levou o clero judaico acondená-lo à morte traiçoeiramente (At 8.1,2).

Estêvão morreu, mas a evangelização reavivou-se com as incursões deFilipe. Ao deixar Jerusalém, proclamou, entre os gentios de Samaria, um

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evangelho autenticamente pentecostal. Sua palavra era acompanhada demilagres, sinais e maravilhas; era simplesmente irresistível. Lucas bem quepoderia ter cognominado o capítulo 8 de seu segundo livro como “Atos deFilipe”.

Mais tarde, quando da conclusão da terceira viagem missionária dePaulo, encontraremos novamente Filipe, dessa vez em Cesareia. Lucas, quefazia parte da equipe do apóstolo, reconhece-lhe o ministério, tratando-ocomo evangelista. Era a primeira vez na História da Igreja Cristã que umobreiro recebia semelhante distinção.

3. Mais que um título, um dom. Em algumas igrejas, o evangelista é

visto mais como investidura eclesiástica do que, propriamente, como domministerial. Vejamos, porém, o que diz Paulo acerca desse tão importanteofício sagrado:

E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e

outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendoo aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, paraedi cação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade dafé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida daestatura completa de Cristo. (Ef 4.11-13) Conclui-se que somente deve ser reconhecido como evangelista o que

foi agraciado com semelhante dom. Doutra forma, teremos um cleroin ado de evangelistas que, em vez de ganhar almas para Cristo,desgastam-se emocional e espiritualmente, aguardando uma eventualpromoção ao pastorado. A hierarquização eclesiástica, nesse sentido, émais do que nociva ao crescimento saudável do corpo de Cristo; é deletériae mortal. Que sejamos criteriosos na escolha daqueles que sairão pelomundo a proclamar a mensagem do evangelho.

II. O Evangelista no Antigo Testamento Embora constituído para apregoar o conhecimento de Deus entre os

gentios, Israel recolheu-se em seu legado sacerdotal e real, descumprindo asua missão evangelística.

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1. Os patriarcas evangelizam. Abraão foi o primeiro santo do Antigo

Testamento a ser agraciado com o título de profeta (Gn 20.7). Apesar denão possuir o encargo de Isaías, nem a missão de Ezequiel, o patriarca, pormeio de um testemunho corajoso e monoteísta, mostrou aos cananeus arealidade do Deus Único e Verdadeiro.

Em suas peregrinações, quer entre os egípcios, quer entre os listeus, opai de Israel evidenciava a todos que, longe de ser um nômade aventureiro,era o amigo de Deus. Informalmente, esse mensageiro do Senhor espalhoua esperança messiânica entre os antigos. Somente a eternidade para revelarquantas almas o crente Abraão conduziu ao Reino dos céus. O mesmodiremos de Isaque e de Jacó. Quanto a José, o que acrescentar?Administrando uma das crises mais agudas de todos os tempos, mostrou atodo o Oriente que o Deus de seus pais sabe como intervir tanto naHistória Universal quanto na biogra a de cada uma de suas criaturasmorais.

2. Os profetas evangelizam. Ainda que Isaías seja cognominado o

evangelista do Antigo Testamento, quem mais se aproximou do exercíciodesse ministério foi Jonas. Intimado por Deus a proclamar um severíssimojuízo contra Nínive, o profeta, apesar de sua relutância inicial, fez-seevangelista e missionário. Ao chegar à grande cidade, percorreu-a durantetodo um dia, com uma mensagem simples, mas e caz: “Ainda quarentadias, e Nínive será subvertida” (Jn 3.4).

O sermão de Jonas não parece teológico, nem profético. Isolado, ématemático, geográ co e meteorológico. Evoca um número, uma cidade euma situação. Mas, no contexto do juízo divino, é mais do que teológico; éintensamente profético. Em sete palavras, descreve rigorosamente a justiçadivina. Apesar de não mencionar o arrependimento, leva o Império daAssíria a curvar-se diante do Deus de Israel. Em nenhum momento, exortaaqueles impenitentes a jejuar. Mas, diante da urgência e da gravidade desua proclamação, todos, do rei ao mais humilhado dos súditos, abstêm-sede pão e de água.

Se Jonas saiu a evangelizar, Isaías evangelizou sem sair. De sua amadaJerusalém, o profeta descreveu o Messias com detalhes surpreendentes eimpressionantes. Ele falou de sua concepção virginal, de sua morte vicária

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e de seu Reino glorioso. Se alguém pretende fazer o retrato falado de Jesus,basta ler em voz alta o capítulo 53 de Isaías. Ali, em cores fortes, está oCristo de Deus, entregando-se por mim e por você.

3. Os reis evangelizam. Apesar de nem todos os reis de Israel serem

recomendáveis, alguns deles, como Davi, Salomão e Ezequias, muitozeram pelo anúncio da Palavra de Deus entre os gentios. Nos dias de

Salomão, muitos potentados estrangeiros deixavam suas terras para ouvir osapientíssimo rei de Israel. E, ali, na corte hebreia, glori cavam oPoderoso de Jacó. Haja vista a rainha de Sabá, que, do extremo sul docontinente, veio constatar não só a glória de Salomão, mas a presençadivina na terra que manava leite, mel e a sabedoria divina.

Salomão, porém, não demorou a desprezar a glória do Senhor. Em vezde comissionar sacerdotes a apregoar a verdadeira fé entre os gentios,envia sua frota mercante a trazer, de Társis, pavões e macacos (1 Rs 10.22).Apesar de tantos desencontros com a sua real vocação, Israel logroucumprir a parte essencial de sua missão, pois legou-nos os profetas, asalianças, as Sagradas Escrituras e o Salvador do mundo.

III. A Missão do Evangelista O evangelista George Sweazey a rmou com muito acerto: “A

evangelização é uma tarefa sempre perigosa, embora não seja tão perigosacomo a falta de evangelização”. O que teria levado o irmão Sweazey achegar a tal conclusão? Provavelmente, referia-se à tarefa do evangelistaque, ao contrário do que muita gente supõe, é desa adora e complexa, massempre gloriosa.

1. Proclamar o evangelho. Para se proclamar o evangelho de Cristo

com e cácia, requer-se, antes de tudo, uma experiência real e marcantecom o Cristo do evangelho. Além disso, deve o evangelista aprofundar-seno conhecimento de Deus, a m de apresentar em sua inteireza, tanto aomundo quanto à Igreja, todos os desígnios divinos. Foi o que Paulodeclarou ao presbitério de Éfeso: “Portanto, no dia de hoje, vos protestoque estou limpo do sangue de todos; porque nunca deixei de vos anunciartodo o conselho de Deus” (At 20.26,27).

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O evangelista, embora proclame uma mensagem simples e direta, nãohá de conformar-se com uma teologia rasa. Antes, aprofundar-se-á naPalavra da Verdade, para que venha a manuseá-la com destreza eoportunidade. Ao jovem Timóteo, recomenda Paulo: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, quemaneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15). Sua mensagem, portanto,será simples, mas jamais simplória, porquanto Deus o chamou a falar ajudeus e a gregos, a sábios e a ignorantes, a servos e a livres.

Quem ouve Billy Graham, observa duas coisas em seus sermões:simplicidade e profundidade. Munido dessa fórmula, saiu ele a pregar nospaíses mais distantes e escondidos, mostrando a todos a e cácia damensagem da cruz. Em seus livros, porém, deparamo-nos com um teólogoque nada ca a dever à academia mais exigente. À semelhança de Paulo, oevangelista americano nada se propunha saber, a não ser Cristo e estecrucificado.

Então, que o evangelista se empenhe por manusear, destramente, aPalavra da Verdade, pois quem ganha almas sábio é. Não é nada fácildesconstruir as mentiras de Satanás, no coração do pecador. Mas overdadeiro evangelista, com sabedoria e paciência, reconstrói na almaimpenitente a verdade que liberta, salva e leva para o céu. O que omensageiro de Deus obtém, nenhum lósofo, pedagogo ou psicólogologra conseguir. Estes falam apenas à razão, mas aquele brada ao coração, àalma e até mesmo à mente menos razoável.

2. Fortalecer a Igreja. O evangelho não deve ser pregado apenas ao

mundo. Às vezes, temos de anunciá-lo também à Igreja. Era o que Paulopretendia fazer, ao anunciar a sua visita aos romanos: “E assim, quanto estáem mim, estou pronto para também vos anunciar o evangelho, a vós queestais em Roma” (Rm 1.15). Depreende-se que os irmãos de Roma, apesarde sua sinceridade, ainda não haviam compreendido, plenamente, aorigem, o processo e a efetivação da fé salvadora em Jesus Cristo. Por isso,era urgente que o apóstolo descesse aos alicerces do Plano da Salvação,para que eles viessem a subir aos andares mais elevados do conhecimentodivino.

Assim como o pastor tem de fazer o trabalho de um evangelista, deve oevangelista, por seu turno, empenhar-se pastoralmente na edi cação

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doutrinária das ovelhas. Hoje, mais do que ontem, os evangélicos, atémesmo os de igrejas tradicionais e históricas, carecem de fundamentosdoutrinários. Ora, que rmeza terão os crentes se boa parte dos pastoresacham-se firmados em teologias movediças?

É chegado o momento de evangelizarmos também os que, presumindo-se evangélicos, acham-se tão distantes do evangelho quanto os católicos.Se estes têm ídolos, aqueles possuem deuses. Não raro, nossos deuses sãomais deletérios do que os ídolos. Pelo menos, os ídolos católicos têm boca,mas nada falam, ao passo que os deuses evangélicos abrem a bocarra paradizer o que Deus jamais diria. Se os ídolos romanos levam para o inferno,os deuses do evangelho midiático a ninguém conduz para o céu. Que todossaibam que somente o Senhor Jesus salva.

3. Fazer discípulos de Cristo. O trabalho de um evangelista não se

resume em trazer alguém à luz de Cristo, mas também acompanhar o novocrente, até que este venha a iluminar o mundo com o seu testemunho. Se,num primeiro momento, o evangelista é o amoroso obstetra, no seguinte,ele haverá de ser o pediatra atento à evolução do convertido.

O objetivo principal do discipulado é formar autênticos seguidores deCristo. A partir daí, teremos cristãos testemunhais e exemplares. Mas, senão dermos importância à formação espiritual dos que recebem a Cristo,encheremos a igreja de crentes vazios, de cientes e rasos na fé. É o quevem ocorrendo em muitos arraiais que, tidos como evangélicos, dasovelhas querem apenas a gordura e a lã.

A essa altura, uma pergunta ganha pertinência: “Até quando deve duraro discipulado?” Se levarmos em conta as reivindicações apostólicas, odiscipulado, na vida de um crente, inicia-se com a sua conversão, e há deperdurar até que seja ele recolhido pelo Senhor. Quanto ao discipulado donovo convertido, em si, que persista até que ele venha a parecer-se em tudocom Jesus Cristo. Somente um discipulado genuinamente bíblico fará adiferença entre o cristão e o não cristão.

4. Defender o conhecimento divino. Escrevendo aos lipenses, Paulo

abre-lhes o coração, e mostra-lhes ter sido chamado não somente aproclamar o evangelho, como também a defendê-lo: “Como tenho porjusto sentir isto de vós todos, porque vos retenho em meu coração, pois

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todos vós fostes participantes da minha graça, tanto nas minhas prisõescomo na minha defesa e con rmação do evangelho” (Fp 1.7). De queforma, porém, o apóstolo saiu a defender as Boas-Novas no mundo greco-romano?

A apologia de Paulo era diferente da nossa; era viva, dinâmica erelevante. Ele não se afadigava a provar a existência de Deus, pois todos, deuma forma ou de outra, sabiam que o Criador existia, pois a sua presençana criação é inegável. Antes, mostrando a relevância da mensagem da cruzaos gregos e romanos, o apóstolo deixava-lhes bem patente que Deus nãosomente existe, mas intervém na História do universo e na biogra a decada ser humano.

Paulo também não se estressava em mostrar o Jesus Histórico,porquanto a existência do Filho de Deus já se achava, àquela altura,subscrita nas crônicas romanas. Mas, aproveitando cada oportunidade, oapóstolo realçava o Cristo Kerigmático que, ao vencer a morte, recebera doPai todo o poder nos céus e na terra. A História a ninguém traz à vida, masa mensagem da cruz de Cristo é su ciente para levar multidões ao novonascimento.

Em suas cruzadas pelo Mediterrâneo, o apóstolo não se afadigou emmostrar a este sábio, ou àquele lósofo, que as Sagradas Escrituras são, defato, a Palavra de Deus. Todavia, ao pregar na unção do Espírito Santo,convencia o incrédulo mais convicto de que havia, por exemplo, uma

agrante diferença entre Moisés e Aristóteles. O primeiro falou em nomede Deus e por Deus, trazendo esperança a Israel e ao mundo. Quanto aosegundo, não foi além de uma descoberta óbvia e esperada. Em suaignorância, o sábio grego limitou-se a dizer que Deus é o motor imóvelque move o mundo. Mas o apóstolo demonstra que Deus, além de mover omundo, move-se entre os seus filhos, operando o impossível.

O apóstolo não se agastou em convencer a Grécia de que o pecado éuma ofensa ao Santo de Israel, pois os gregos, mesmo não conhecendo osDez Mandamentos, sabiam estar a violar cada uma das ordenanças divinas.Eles viviam para pecar e pecavam para viver. Por essa razão, Paulo não selimitou a denunciar-lhes o pecado; em Jesus Cristo, apontou-lhes ocaminho da pureza e da justificação pela fé.

Em sua apologia, Paulo perfazia um caminho inverso do nosso. Nósdefendemos o evangelho de modo raso e periférico. Ele, porém, advogava-

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o de forma essencial, mostrando-lhe o poder e a graça transformadora. 5. Fazer teologia. O evangelista, à semelhança do apóstolo, também foi

constituído a fazer teologia, pois sem teologia a evangelização éimpossível. Em sua primeira carta ao jovem Timóteo, faz-lhe Paulo umresumo de seu currículo: “Para o que (digo a verdade em Cristo, nãominto) fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios, na fé ena verdade” (1 Tm 2.7).

Uma coisa é fazer teologia entre os teólogos. Outra, é teologizar entre osinimigos de Deus. Mas é justamente nesse ambiente hostil, e cercado defalsos silogismos e lógicas aparentes, que o evangelista é intimado a exporo tema prioritário da verdadeira teologia: Jesus Cristo e este cruci cado.Foi o que Paulo fez ao evangelizar os gregos.

No Areópago, os lósofos epicureus e estoicos consideraram o discursodo apóstolo um raro despropósito. Àqueles varões intelectualmenteorgulhosos, só um louco ousaria a rmar que um homem teve de morrer,numa cruz, para que os demais viessem a cruzar os portais da vida eterna.En m, àquele seleto grupo, o evangelho era uma loucura. Mas foi ali, entreos gregos, e, mais tarde, entre os romanos, que Paulo lavrou a mais sublimeteologia do Novo Testamento.

O evangelista é o teólogo ambulante, cuja missão é proclamar oevangelho completo de Cristo. Isso signi ca fazer a mais alta, a maisprofunda e a mais bela teologia, pois a mensagem da cruz possui todasessas características.

IV. O Preparo do Evangelista Paulo foi um dos homens mais cultos de seu tempo. Ele transitava com

desenvoltura por três ambientes culturais: o judaico, o grego e o romano.Aliás, até mesmo entre os bárbaros foi ele bem-sucedido, pois a todos seachava devedor. Tendo em vista o seu preparo singular, o apóstolo veio arealizar um trabalho igualmente singular.

1. Bíblico-Teológico. Antes mesmo de converter-se, Paulo já era um

erudito nas Sagradas Escrituras, pois fora instruído aos pés do rabino maissábio de seu tempo. Em sua defesa perante os judeus de Jerusalém, oapóstolo fala, em língua hebreia, de sua herança judaica e de seu

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aprendizado na Cidade Santa: “Quanto a mim, sou varão judeu, nascidoem Tarso da Cilícia, mas criado nesta cidade aos pés de Gamaliel,instruído conforme a verdade da lei de nossos pais, zeloso para com Deus,como todos vós hoje sois” (At 22.3).

É claro que, antes de sua conversão, Paulo estava mais preso à letra doque ao espírito do texto sagrado. Era mais erudito que teólogo; maisacadêmico que espiritual. O seu aprendizado, porém, não foi inútil.Quando do seu encontro com o Senhor Jesus, eis que o véu é retirado deseus olhos, possibilitando-lhe contemplar a glória divina no Cruci cado(2 Co 3.15,16).

2. Hermenêutico e homilético. Sem Gamaliel, não teria Paulo a

mínima condição de expor o evangelho com tanta maestria eprofundidade aos crentes de Roma. E, assim, trazendo o AntigoTestamento ao Novo, veio a produzir a epístola mais teológica da IgrejaCristã. A nal, tinha o alicerce hermenêutico necessário para mostrar, à luzda Lei, dos Profetas e dos Escritos, o messiado de Jesus Cristo e a sua obravicária no Calvário.

O apóstolo não sabia apenas interpretar as Escrituras; sabia, de igualmodo, aplicá-las às mais diferentes situações da Igreja. Ele demonstrava,na prática, que a Palavra de Deus era, de fato, a regra áurea e infalível docristão.

Que o evangelista se prepare com amoroso esmero, pois a sua missãorequer teologia, hermenêutica e homilética. Todas essas demandas podemser resumidas nesta recomendação que o apóstolo encaminha a um jovempastor, que se re nava no trabalho evangelístico: “Procura apresentar-te aDeus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, quemaneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15). Eu gostaria que osseminários e institutos bíblicos tivessem, como divisa, essa queridaexortação paulina. Se levada a sério, haverá de produzir evangelistas decomprovada excelência.

3. Cultural e linguístico. Paulo, conforme já adiantamos, podia

transitar com desenvoltura por três culturas distintas: a hebraica, a grega ea latina. Providencialmente, ele nascera e fora criado numa cidade que,embora romana, era dominada pela cultura helena. Naquela metrópole

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universitária, aprendera o grego e, mui provavelmente, o latim. A nal,estamos falando de um cidadão romano ciente de seus direitos econsciente de seus deveres.

No livro de Atos, vemos o apóstolo comunicando-se tanto em hebraicoquanto na língua grega. Ao pedir autorização ao centurião para falar aosjudeus de Jerusalém, ouviu do o cial romano uma indagação que lhequestionava o preparo cultural: “Sabes o grego?” (At 21.37). Em seguida,ante os seus acusadores, pôs-se a falar no idioma sagrado dos judeus: “E,quando ouviram falar-lhes em língua hebraica, maior silêncio guardaram”(At 22.2).

Hoje, com a cosmopolização de nossas cidades, sugere-se que oevangelista, além de expressar-se com e ciência e correção em português,que também se comunique em, pelo menos, mais duas línguas: inglês eespanhol. A nal, de vez em quando, recebemos eventos e certamesinternacionais. Eis uma excelente oportunidade para se falar de Cristo aum campo missionário que, mesmo sem ser convocado, vem até nós. Nemsempre a seara vem ao ceifeiro. Então, que essas oportunidades não sejamdesperdiçadas.

O preparo cultural do evangelista contempla dois campos interligados: ainformação acerca de outros povos e a habilidade linguística para se falar atodos, em todo o tempo e lugar, por todos os meios possíveis.

4. Psicológico e sociológico. O evangelista não precisa ser psicólogo,

nem sociólogo, para anunciar Jesus Cristo. Todavia, é imprescindível queconheça o ser humano e a sociedade que o cerca. Doutra forma, será umestranho entre estranhos. O apóstolo Paulo sentia-se à vontade nos maisestranhos e variados ambientes. Entre os judeus, judeu. Falando aosgregos, grego. Doutrinando os romanos, romano. Acolhido pelosbárbaros, bárbaro. Se entre os sábios, sábio. Expondo Cristo aosignorantes, ignorante, ainda que, em Cristo, tudo soubesse.

Na proclamação do evangelho, o apóstolo agia como amorosopsicólogo, aconselhando; e, como gentil e compreensivo sociólogo,visitando as nações mais distantes e desconhecidas. Que o evangelistaconheça e ame o povo a que almeja alcançar.

V. A Ética do Evangelista

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Acabo de ler o testamento espiritual de Billy Graham. Pelo menos, foi a

impressão que me passou o seu derradeiro livro. Em ,o evangelista americano faz um balanço de sua vida e confessa estaransioso (e preparado) por encontrar-se com o Pai Celeste. Apesar de seus98 anos, demonstra ele uma lucidez e discernimento singulares, e aindareúne forças para exercer os ofícios de um amoroso pastor: aconselha osjovens, orienta os anciãos e não deixa de fazer o que sempre fez desde queo Senhor o chamou à sua Obra: evangelizar.

Ao repassar aquelas páginas, não pude ignorar a elevada ética quesempre o caracterizou. Ele conclui um ministério de quase sete décadassem qualquer pecha moral. Por isso, a pergunta faz-se inevitável: Qual osegredo de Billy Graham?

Na verdade, não há segredo algum. O que existe é um fortecomprometimento com a Palavra de Deus e um fundamento ético e moralbem sólido. Já no início de sua carreira, em 1948, ele e sua equipe,reunidos na cidade de Modesto, no Estado americano da Flórida,redigiriam um compromisso de quatro pontos, que haveria de nortear-lheso ministério evangelístico. O documento, que caria conhecido como aDeclaração de Modesto, trata dos seguintes assuntos: informações,dinheiro, sexo e relacionamento eclesiástico.

O protocolo, hoje, serve de modelo aos que buscam desenvolver umministério itinerante que glori que a Deus por sua ética e compromissocom a Bíblia Sagrada. De acordo com o referido documento, o primeiroponto a ser observado por um pregador é a delidade aos relatos einformações.

1. Ética na informação. Reza o ditado velho e matreiro: “Quem conta

um conto, aumenta um ponto”. Na arena evangelística, até que poderiahaver um provérbio semelhante: “Quem ganha algumas ovelhas, sempreacaba se ufanando de haver conquistado um rebanho”. Buscando evitarexageros nos relatos de suas campanhas, a Associação Evangelística BillyGraham é enérgica. A primeira cláusula da Declaração de Modestoestabelece uma ética rígida sobre as informações a serem transmitidas aosórgãos eclesiásticos e à imprensa:

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Fica decidido que nenhuma comunicação à mídia e à igreja seráexagerada ou presunçosa. A dimensão da assistência e o número deconversões não serão alterados, a fim de nos promover. Nos Estados Unidos, quando se quer exagerar algum fato, usa-se como

exórdio este advérbio: “Evangelisticamente falando”. Em seguida,descarrega-se o exagero. Já no Brasil, utiliza-se outra expressão paraalcunhar o pregador que se dá às hipérboles e às grandezas: evangelástico.Ora, por que redimensionar os resultados de uma campanha se basta aconquista de uma única alma para pôr os céus em festa? Consideremos,ainda, que a missão primordial de um evangelista não é a conversão depecadores, mas a proclamação do evangelho. Se esta for efetuada a tempo ea fora de tempo, as colheitas não faltarão.

Quando um pregador maquia os resultados de seu trabalho, busca entreoutras coisas o incremento do marketing pessoal, a seletividade da agendae a valorização dos honorários. Esquece-se ele, porém, que a verdadeaumentada jamais será verdade; será sempre mentira. O sábio americanoBenjamin Franklin (1706-1790) é incisivo quanto à veracidade dos fatos:“A meia-verdade é frequentemente uma grande mentira”. Porconseguinte, como pode um pregoeiro da justiça comprometer-se com afalsidade? Se avaliarmos super cialmente os resultados do semeador daparábola, constataremos não terem sido muito bons. Apenas um quinto desuas sementes logrou germinar. Todavia, foi o su ciente para que o Reinode Deus frutificasse em toda a terra.

Em Atos dos Apóstolos, Lucas busca a precisão e a dedignidade emtodas as informações que transmite a Teó lo (At 1.1-3). No Dia dePentecostes, por exemplo, lemos que, como resultado do sermão de Pedro,quase três mil pessoas se converteram (At 2.41). Mas, na casa de Cornélio,as conversões talvez não chegassem a uma dezena, e nem por isso onúmero deixou de ser expressivo ao Reino de Deus.

Não exageremos os resultados de nosso trabalho. Na exposição dosfatos, nada de retórica; a verdade basta. Então, por que inventar milagrespara glori car a Deus? Sua glória é incompatível com a mentira. Sejamos

éis e verdadeiros nos relatórios e informações. Se fantasiarmos nossosfeitos e façanhas, mais adiante seremos desmascarados. Quem ganha almasnão é somente sábio; é verdadeiro e modesto.

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2. Ética nanceira. Se, por um lado, temos muitos pregadores que

primam pela excelência do ministério, por outro, há não poucos que sódemonstram uma única preocupação — o sucesso pessoal e o recebimentode seus honorários. Por isso, a Associação Evangelística Billy Graham foiobjetiva e clara no segundo artigo da Declaração de Modesto:

Fica decidido que questões nanceiras serão submetidas a

uma comissão de diretores para revisão e simpli cação dos gastos.Toda cruzada local manterá uma política de ‘livros abertos’ epublicará um registro de onde e como o dinheiro é gasto. Nessa questão, temos de ser equilibrados e justos. De uma parte, somos

obrigados a criticar os pregadores que fazem da fé um mero negócio. Mas,de outra, não podemos louvar as igrejas que não reconhecem o labor dequem lhes expõe a Palavra de Deus. Ao falar sobre o trabalho dos mestres edoutores da Igreja, recomenda Paulo a Timóteo: “Devem ser consideradosmerecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem,com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (1 Tm 5.17,ARA). O texto é claro e não demanda maiores exegeses: o expositor daPalavra de Deus deve ser honrado não apenas com menções elogiosas, mascom um digno reconhecimento financeiro.

O pregador, por seu turno, contentando-se com o combinado, jamaisfará apelos emocionais, visando angariar maiores recursos. As ofertas edízimos são da igreja local. Se ele for realmente ético, nem falará emdinheiro durante as suas prédicas. E que não haja negociata entre o pastore o evangelista, com vistas à divisão de oferendas especiais arrecadadas nocalor das emoções e sob um clima de promessas irrealizáveis e ameaçasaterrorizantes. Não espoliemos os santos; respeitemos o povo de Deus.Sejamos éticos e transparentes em todas as transações financeiras.

Evangelista, além de ético, seja precavido. Não deixe de pagar aprevidência e, se possível, faça um plano de aposentadoria. O tempo passae a velhice não demora a chegar. Aja com sabedoria e temor a Deus.

3. Ética sexual. Já na década de 1940, não eram poucos os pregadores

americanos que escandalizavam a igreja devido às suas incursões sexuais.

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Para que isso não viesse a ocorrer com os seus membros, a AssociaçãoEvangelística Billy Graham, na Declaração de Modesto é particularmentesevera:

Fica decidido que os membros da equipe agirão com toda

prudência, a m de se resguardarem de tentações na área sexual. Porisso, jamais carão sozinhos com uma mulher. E, mutuamente,responsabilizar-se-ão uns pelos outros. Eles também informarão suasesposas acerca de suas atividades ao longo das viagens, para que elassintam-se participantes das cruzadas. O ideal seria que os pregadores itinerantes viajassem acompanhados de

suas esposas. Infelizmente, não são muitas as igrejas que concordam emarcar com mais essa despesa. A maioria acha que só deve ressarcir os gastosdo obreiro consigo mesmo. E se este quiser levar a esposa, que pague dopróprio bolso. Tal postura é contraproducente, pois fragiliza o obreiro,expondo-o a riscos espirituais e morais. Não disse o próprio Deus que nãoé bom que o homem esteja só?

Caso o pregador viaje desacompanhado, deve tomar uma série decuidados para não cair em armadilha alguma.

• Evite dar aconselhamentos a pessoas do sexo oposto. Isso é

competência (e dever) do pastor local. Sua função é ministrar àcongregação, e não dar clínicas pastorais. Se o zer, que estejaacompanhado de outro obreiro.

• Não receba nenhuma mulher no saguão do hotel e muito menos noquarto. Diante do pecado, não há super-homens. A recomendaçãodo apóstolo é taxativa: “Fugi da prostituição. Todo pecado que ohomem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra oseu próprio corpo” (1 Co 6.18). Lembre-se: homens mais fortes emais santos do que nós caíram; portanto, tomemos muito cuidado.

• Não saia para almoçar com pessoas do sexto oposto. Como homens deDeus, devemos evitar a aparência do mal.

• Exija ser hospedado em lugares que não lhe comprometam areputação. Recuse motéis e hotéis de alta rotatividade.

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Tais cuidados são necessários, pois é muito fácil ao pregador cair nasastutas ciladas do Diabo. Por esse motivo, que a igreja zele por suasegurança espiritual e moral. E, sempre que possível, nancie também avinda da esposa do pregador. A nal, quem ministra precisa ser devida eduplamente honrado.

4. Ética no relacionamento eclesiástico. A Declaração de Modesto

também instrui os membros da Associação Evangelística Billy Graham aagirem com ética no relacionamento com pastores e igrejas:

Fica decidido que os membros de nossa equipe jamais proferirão

palavras negativas a respeito de outros líderes e pregadores,independentemente de suas denominações e posições teológicas, poisa missão do evangelismo inclui fortalecer o corpo de Cristo bemcomo edificá-lo na Palavra de Deus. Que jamais usemos o púlpito a m de caluniar outros pregadores,

denegrir rebanhos ou agir com indiscrição acerca de faltas alheias. Seestamos de pé, agradeçamos a Deus por sua in nita misericórdia. Quantoàs igrejas de outras persuasões, por que denegri-las? Nossa igreja acha-setambém num contínuo processo de aperfeiçoamento. E, até a volta deCristo, constataremos haver muitas imperfeições em nosso rebanho.Imperfeições estas, aliás, que revelam o quanto dependemos doperfeitíssimo Deus.

Por conseguinte, que esta seja a nossa linha de conduta no púlpito: • Que jamais venhamos a aviltar nossos líderes. No púlpito, mesmo que

oficiosamente, somos os seus representantes.• Não nos imiscuamos em política, quer eclesiástica, quer partidária.

Não fomos chamados para ser homens do povo, mas homens deDeus.

• Jamais incitemos a igreja contra o seu pastor, nem busquemos seduzirrebanhos alheios. Nossa missão é transmitir com delidade todo oconselho divino.

• Condenemos energicamente o pecado, mas sejamos amáveis paracom o pecador. O que nos teria acontecido se o Pai não nos tivesse

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tratado tão amorosamente?• Não falemos mal das outras religiões, mas exponhamos com

autoridade as virtudes do evangelho de Cristo. En m, ajamos corretamente no púlpito. O que todos esperam de nós é

uma conduta digna de um verdadeiro homem de Deus.Não há honra tão elevada quanto proclamar o evangelho de Cristo.

Todavia, grande é nossa responsabilidade. Por isso, roguemos a Deus quejamais venhamos a escandalizar-lhe o nome. Que a nossa conduta sejasempre digna do Rei dos reis. E que o exemplo de Billy Graham caleprofundamente em nossa alma. A Declaração de Modesto, posto quesimples, é objetiva e prática. Se lhe seguirmos as diretrizes, poderemosconcluir o nosso ministério com honra tanto diante de Deus quanto diantedos homens. Que o senhor nos guarde de tropeçar.

Conclusão Não sei quantas almas já ganhei. Mas uma coisa não deixo de fazer:

evangelizar pessoalmente. Às vezes, falo de Cristo numa la de banco;outras, num táxi; e, ainda outras, num leito hospitalar. Nem sempre tenhocondições de explanar todo o Plano da Salvação. Todavia, deixo bemclaro, ao meu interlocutor, que Jesus Cristo é a única esperança para estageração confusa, deprimida e sem horizontes. Com poucas palavras, vocêpode livrar alguém do lago de fogo.

Então, esmere-se no exercício do ministério evangelístico, pois quemganha almas sábio é.

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AEvangelizaçãoUrbana e suasEstratégias

Introdução Simônides de Céos (556-468 a.C.) a rmou que a cidade é a grande

mestra do ser humano. Não sei em que sentido o poeta grego referia-se aocaráter pedagógico da metrópole. Acredito que tanto no bom quanto nomau sentido. Na cidade, apreendemos a fazer o bem e a solidarizar-nos nasemergências e tragédias. Ela, porém, dá-nos a impressão de que jamaisdeixa de ser emergente e trágica, pois leva-nos a ver o mal em cada uma desuas praças e logradouros.

Que alternativa nos resta?A natureza gregária da alma humana prende-nos ao espírito urbano.

Logo, não podemos fugir à cidade. Se nos voltarmos, porém, à BíbliaSagrada, constataremos que ainda é possível ser feliz numa megalópolecomo São Paulo; a bênção divina não cobre apenas o campônio, mas

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também o citadino. Confortando os israelitas prestes a deixar onomadismo para se tornarem gregários, promete-lhes o Senhor: “Benditoserás tu na cidade e bendito serás no campo” (Dt 28.3).

O que nos ensina a promessa divina? Antes de tudo, que Deus tem umplano especí co para a sua cidade, querido leitor, visando à irradiação doevangelho para regiões longínquas e desconhecidas. A evangelização domundo, a propósito, teve Jerusalém como ponto de partida. E,centrifugando-se da Cidade Santa, veio a alcançar os confins da Terra.

I. A Cidade e o Instinto Gregário do Ser Humano Se o mundo é criação divina, a cidade é invenção humana. Ela surgiu da

necessidade social de Adão que, embora haja vindo à existência no Éden,logo demandou a presença de um ser que lhe fosse semelhante. Sem Eva, ojardim jamais seria um paraíso. Observando o isolamento do homem,declarou o Pai Celeste que a solidão não é nada boa. Lançava-se, ali, entreos rios Tigre e Eufrates, a semente que germina a família, oresce a cidadee frutifica o Estado.

1. De nindo os limites da cidade. Quando Aristóteles (384-322)

a rmou que o homem é um animal político, não se referia apenas àpolítica partidária que, tanto em Atenas quanto em Brasília, divide nossosrepresentantes em agremiações e siglas. A expressão grega (animal político) denota, em primeiro plano, o instinto gregário do serhumano; sem a cidade, a política é impossível.

A palavra “cidade” origina-se do vocábulo grego . E, deste, provémo nome que, há quase três milênios, emprestamos ao ofício que deveriapromover o bem comum de toda a sociedade. Re ro-me à velha e malcompreendida política. Embora ciência e arte, ela não parece, às vezes,nem humana, nem exata e muito menos bela. Por isso, requerem-se, dequem a exerce, algumas virtudes indispensáveis: amor a Deus e aopróximo, moral irretorquível e comprovada vocação para administrar acoisa pública.

Já em latim, a palavra “cidade” vem do vocábulo , do qualnasceram dois importantes termos que, ainda, não foram devidamenteincorporados ao nosso cotidiano: civismo e civilidade. Logo, a vida numa

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cidade só é possível quando cumprimos nossos deveres e usufruímos dosdireitos fundamentais da cidadania.

é outra palavra latina para cidade. Temos, aqui, um termo quedescreve a metrópole não propriamente como fenômeno político, mascomo a comunidade racionalmente organizada e sustentável. É por issoque denominamos a ação evangelizadora, na cidade, de evangelismourbano. Nossa estratégia contemplará a de forma racional eplanejada, visando à proclamação da Palavra de Deus em todas asestratificações da região metropolitana.

2. A primeira cidade. Arguido por Deus quanto ao assassinato de

Abel, seu irmão, supunha Caim restar-lhe apenas uma alternativa: ser umnômade naquela vastidão ainda inexplorada. Por essa razão, queixa-se aoJusto Juiz: “Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua face meesconderei; e serei fugitivo e errante na terra, e será que todo aquele queme achar me matará” (Gn 4.14). Seu impulso gregário, porém,constrange-o a xar-se em Node, na banda oriental do Éden, ondeconstrói a primeira cidade humana.

Naquele ermo, não muito longe de Adão, o homicida se casa com umade suas irmãs, gera lhos e lhas, e dá continuidade à cultura da terra. Aexpansão de sua família faz surgir uma aldeia, que não demoraria a tornar-se uma cidade dinâmica e produtiva. Em homenagem ao seu lho, chama ainíqua metrópole pelo nome de seu filho, Enoque.

Os enoquianos prosperam, expandem a agropecuária e desenvolvemtecnologias e artes. O autor sagrado, ao denunciar a poligamia deLameque, sumaria os avanços científicos e artísticos daqueles citadinos:

E tomou Lameque para si duas mulheres; o nome de uma era Ada, e o

nome da outra, Zilá. E Ada teve a Jabal; este foi o pai dos que habitam emtendas e têm gado. E o nome do seu irmão era Jubal; este foi o pai de todosos que tocam harpa e órgão. E Zilá também teve a Tubalcaim, mestre detoda obra de cobre e de ferro; e a irmã de Tubalcaim foi Naamá. (Gn 4.19-22)

Com o avanço da cidade de Enoque, chegam a intolerância e a

violência. Numa con ssão que mais parece um poema épico, Lameque

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gaba-se de suas façanhas homicidas às suas esposas: “Ada e Zilá, ouvi aminha voz; vós, mulheres de Lameque, escutai o meu dito: porque eu mateium varão, por me ferir, e um jovem, por me pisar. Porque sete vezes Caimserá vingado; mas Lameque, setenta vezes sete” (Gn 4.23,24).

A partir do marco zero daquela cidade, a impiedade alastra-se por toda asociedade adâmica e contamina, inclusive, os descendentes de Sete que, aocontrário dos lhos de Caim, ainda por avam em buscar o Senhor. Mas,àquela altura, a metrópole caimita já estava condenada a desaparecer naságuas do Dilúvio.

3. A última cidade. Desde a cidade de Enoque, muitas metrópoles

surgiram e desapareceram. Algumas, como Babilônia, zeram-seorgulhosas e imperiais. Outras, à semelhança de Nínive, tornaram-sesanguinárias e genocidas. Mas, uma a uma, vêm caindo diante do Senhorde toda a Terra. Até a capital do Império Romano, que está para ressurgir,experimentou a derrota, a vergonha e a humilhação.

Na consumação da História e do Tempo, o Senhor revelará a JerusalémCeleste, na cronologia divina, derradeira. Ela, porém, já existia em seuespírito antes que o universo fosse criado. Na ilha de Patmos, o evangelistaJoão veio a contemplá-la como que descendo de Deus, para inaugurar oNovo Céu e a Nova Terra. Como descrevê-la? Perseveremos até o m, paraque entremos por seus átrios com louvor e ações de graças. Esta é a Cidadede Deus.

II. Cidade, um Lugar Estratégico As cidades sempre foram estratégicas à obra de Deus. Ele usou até

mesmo a capital do Império Romano para expandir o seu Reino. Por essarazão, trabalhemos o evangelho de Cristo urbanisticamente, visandoalcançar o mundo através de nossas metrópoles.

1. Babel, a cidade do antievangelho. Após o Dilúvio, repete Deus a

Noé a ordem que, no princípio, dera a Adão: “Fruti cai, e multiplicai-vos,e enchei a terra” (Gn 9.1). Os lhos do patriarca, todavia, ao deixarem aregião do Ararate, concentraram-se na planície de Sinear, e, ali, puseram-se a construir uma cidade à prova d’água, cuja torre haveria de arranhar o

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céu. Por isso, o Senhor resolve confundir a língua da segunda civilizaçãohumana (Gn 9.7).

Daquela cidade, que entraria para a História Sagrada como sinônimo deapostasia e confusão, os descendentes de Noé são espalhados pelos maisdistantes e desconhecidos continentes. Agrupando-se de acordo com seustroncos linguísticos, os jafetitas concentram-se na Europa, os camitas, naÁfrica e partes de Canaã, e os semitas, desde Aram, espraiam-se peloOriente Médio.

Ao dispersar a raça a partir de Sinear, o Senhor preservou-nos a espécie,pois nenhum ajuntamento, quer humano quer animal, sobrevivefechando-se em guetos. Se aqueles antigos pretendiam, com a sua torre,arranhar o céu, vieram a tocar os alicerces do inferno.

A lição de Babel é emblemática e não será ignorada pela Igreja. Aordem de Cristo é que, a partir da cidade, alcancemos as regiões maisremotas da Terra. Se a Igreja é a assembleia de Deus chamada para fora desuas paredes, não haverá de concentrar-se em torres. Concentrando-se,jamais arranhará os céus. Mas, saindo de seu comodismo, andará com oSenhor nas regiões celestiais.

Não são poucas as igrejas que, hoje, extinguem-se em confusões edesinteligências, pois já não saem a evangelizar, pois querem evangelizarsem sair. A evangelização, contudo, é dinâmica. Evangelizar e sair sãoverbos geminados. Quem evangeliza, sai; quem sai, evangeliza. Por isso, aordem do Senhor é clara: “Ide”. Ela também poderia ser traduzida como“indo”. O evangelista jamais deixa de ir; sai dia e noite, pois a suasementeira não conhece tempo nem estação.

Faça como o evangelista da parábola. Jesus garante que ele saiu, mas nãodiz se ele voltou.

2. Jericó, a cidade das grandes conquistas. Josué foi divinamente

inspirado a iniciar a conquista de Canaã a partir de Jericó (Js 2.1). Elepoderia ter escolhido outra cidade, quer aquém, quer além do Jordão, masnenhuma era tão estratégica a Israel como a metrópole das palmeiras.Subjugando-a, os israelitas teriam condições de neutralizar as demais vilase aldeias de Canaã.

Josué, como servo do Senhor dos Exércitos, iniciou a sua campanhajustamente por Jericó. E, dali, teve condições de manter uma guerra sem

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quartel nem trégua, até que o povo de Deus estivesse instalado segura econfortavelmente naquela terra boa e ampla.

De igual modo, agirá a Igreja em sua obra evangelizadora. Não podemossimplesmente comissionar evangelistas e missionários, sem dispormos deum plano mestre de evangelismo e missões. É urgente conhecermos otempo, o terreno a ser conquistado e a estratégia a ser empregada numempreendimento evangelístico.

A obra evangelizadora assemelha-se a uma operação de guerra. Por essemotivo, precisamos da ajuda do Senhor dos Exércitos. Aquele que ajudouJosué a sitiar e a tomar Jericó não nos faltará com o seu auxílio nummomento de tanta urgência como este.

3. Jerusalém, a cidade da grande comissão. Se o Reino de Jesus fosse

secular e mundano, teria Ele ordenado a construção de igrejas e catedrais,para eternizarem-lhe a mensagem e a obra. Uma igreja imortalizar-lhe-iao primeiro milagre; outra, o Sermão do Monte; e, ainda outra, amultiplicação dos pães. Em Jerusalém, mandaria erguer pelo menos quatrocatedrais. A primeira lembraria a sua entrada triunfal na cidade, a segundarecordaria o seu julgamento diante de Pilatos, a terceira evocar-lhe-ia amorte vicária e a quarta, mais imponente e grandiosa, haveria deperenizar-lhe a ressurreição dentre os mortos.

O Reino de Deus não necessita de palácios e castelos para rmar-se. Aevangelização é su ciente para espalhá-lo de um hemisfério a outro. Porisso mesmo, o Senhor Jesus ordenou aos seus discípulos que iniciassem aconquista do mundo, tendo como marco zero Jerusalém: “Mas recebereis avirtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhastanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos con ns daterra” (At 1.8). A Cidade Santa, por conseguinte, apesar de todo o seusignificado para a História Sagrada, não era o objetivo final de Jesus, mas oponto de partida, por meio do qual seus discípulos, já devidamenteinstruídos, chegariam aos confins da Terra.

De igual modo, a cidade onde nos congregamos não pode serconsiderada a meta derradeira de nossas atividades evangelísticas. Nela, eatravés dela, estabeleçamos um plano de ação que inclua, desde as áreasmais carentes até os avanços transculturais mais ousados. Que a igrejalocal seja vista como um quartel-general, de onde são elaboradas

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estratégias, para se proclamar o evangelho de Cristo até a última fronteirado planeta.

4. Antioquia, a igreja missionária. Jerusalém é a cidade da Grande

Comissão, mas Antioquia, a cidade missionária por excelência. Se nosvalermos do registro de Lucas, constataremos que a congregaçãoantioquina estava mais do que aparelhada para avançar evangelisticamentealém de suas fronteiras nacionais e culturais. Entre os seus ministros, haviaapóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres (At 13.1,2). Era umrebanho agraciado com todos os dons do Espírito Santo. Além dosespirituais, dispunha dos ministeriais e de serviço.

Lucas, o maior historiador de seu tempo, assim descreve o dinamismo daigreja síria:

Na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e

doutores, a saber: Barnabé, e Simeão, chamado Níger, e Lúcio,cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, eSaulo. E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo:Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado.(At 13.1,2) Qual o segredo de Antioquia? Na verdade, não havia segredo algum

entre os crentes daquela cidade, pois eles, desde o princípio, semprepor aram por uma vida espiritual de comprovada excelência. Mas seprecisamos de algum mistério que estimule uma igreja local auniversalizar-se, apontaremos alguns fatores que levarão também a suaigreja, querido leitor, ao mesmo patamar da congregação antioquina.

Antes de tudo, considere o ensino persistente da Palavra de Deus. Osque evangelizaram os crentes antioquinos cuidaram também de seudiscipulado. Firmados na doutrina dos apóstolos, os novos convertidoslogo amadureceram na fé, e passaram a andar como Jesus andava. Eleseram tão parecidos com Cristo, que não demoraram a ser conhecidos comocristãos (At 11.26). Aliás, foi a primeira vez que os seguidores de Jesuseram assim chamados; nem mesmo os crentes de Jerusalém obtiveram talhonra. Portanto, o segundo fator de excelência da igreja em Antioquia erao testemunho vivo e contagiante, que insta toda a cidade a ver, em cada

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cristão, o rosto de Cristo.O terceiro fator do padrão de excelência de Antioquia era a sua vida de

profunda comunhão com Deus: “Então, jejuando, e orando, e pondo sobreeles as mãos, os despediram” (At 13.3). Mesmo ouvindo a voz do EspíritoSanto, por meio de uma profecia, a congregação antioquina pôs-se a orar ea jejuar até que o Senhor confirmasse a chamada de Paulo e Barnabé.

As demais igrejas sírias, a exemplo de Antioquia, eram realçadas pelaexcelência. Por essa razão, o Senhor enviou para lá o iracundo Saulo, que,compungido pela visão celestial, cou sob os cuidados de Ananias (At9.10-18). Não temos muitas informações acerca desse obreiro que, naHistória Sagrada, é chamado simplesmente de discípulo. Todavia, eraalguém capacitado, inclusive, para instruir o apóstolo que, em breve, seriaconhecido como o doutor dos gentios.

O que mais diremos de Antioquia? Era uma igreja tão excelente, quenão precisou de nenhuma carta de exortação ou de correção doutrinária. Àsemelhança de Bereia, era fortemente comprometida com a Palavra deDeus.

5. Filipos, a pioneira da Europa. Deus jamais deixou de ser o Senhor

dos Exércitos. Se no Antigo Testamento, instruiu Josué a conquistar asterras de Canaã, em o Novo Testamento, suas estratégias continuaminfalíveis. Por isso, impulsionou os apóstolos e evangelistas a irem decidade em cidade até que fossem alcançados os limites mais extremosdaquele mundo. O trabalho evangelístico semeado em Jerusalém e

orescido em Antioquia fruti caria, agora, em terrenas europeias. Essaimportantíssima fase da obra missionária da Igreja Cristã teve início comuma visão.

Paulo encontrava-se em Trôade, região ocupada hoje pela Turquia,quando teve uma visão. Eis que lhe aparece um varão macedônio, rogando-lhe com insistência: “Passa à Macedônia e ajuda-nos” (At 16.9). Oapóstolo entendeu imediatamente a urgência do chamamento divino, poisnão se tratava apenas da evangelização de uma cidade, ou de uma região,mas de um novo continente.

À equipe de Paulo, junta-se Lucas. A missão seria árdua, desa adora ecrivada de provações. O Médico Amado fala do espírito voluntário daequipe paulina: “E, logo depois desta visão, procuramos partir para a

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Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmoso evangelho” (At 16.10).

Deixando Trôade, que alguns imaginam ser a Troia de Eneias, Pauloruma em direção ao Ocidente. Atravessando a Samotrácia e Neápolis, aequipe apostólica chega a Filipos, a principal cidade da Macedônia. Aocontrário de Eneias que, segundo Virgílio, fundara a cidade que deuorigem ao Império Romano, o apóstolo tem uma tarefa mais ousada eduradoura. Agora, fundaria as bases de uma obra evangelística que, tendocomo base a Macedônia, chegaria a Roma, atravessaria o canal da Mancha,enfrentaria o Atlântico até alcançar a mim e a você, querido leitor.

As di culdades, em Filipos, não foram pequenas. O apóstolo foi preso,sua equipe dispersou-se e a nova igreja não pôde ser devidamentedoutrinada. Não obstante, aqueles aparentes fracassos redundariam, maistarde, num avanço extraordinário do Reino de Deus por toda a Europa.Filipos entraria à História Sagrada como a igreja mantenedora, porexcelência, do ministério paulino, conforme ressalta o apóstolo: “Porqueos irmãos que vieram da Macedônia supriram a minha necessidade; e emtudo me guardei de vos ser pesado e ainda me guardarei” (2 Co 11.9).Portanto, se Antioquia envia e Filipos sustenta, a cidade de Jerusalémdedica-se, agora, à intercessão. Em Atos, por conseguinte, há um planodivinamente estabelecido para se evangelizar o mundo a partir de cidades-chave.

6. Roma, o escritório missionário de Paulo. Se o apóstolo Paulo foi

chamado à obra missionária por meio de uma profecia, e se necessitou deuma visão para evangelizar a Europa, agora, será levado a Roma àsexpensas imperiais. Ao apelar para César, o apóstolo garantia uma viagemgratuita e até certo ponto, segura, à capital do Império Romano. Levando-se em conta as di culdades e provações que lhe marcariam a trajetória deCesareia, na Judeia, à presença de César, em Roma, o Senhor o assistiu emtodas as coisas. Essa foi, sem dúvida, a sua última e mais importante viagemmissionária registrada na Bíblia.

Nesse sentido, Cesareia pode ser apontada como uma das cidades maisestratégicas na evangelização do mundo subjugado pelo Império Romano.

Já em Roma, Paulo desenvolve um ministério diferente, mas de igualmodo dinâmico e e caz. Em vez de ir às pessoas, as pessoas iam até ele,

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para ouvir o evangelho de Cristo. Da casa que alugara, evangelizava,discipulava, escrevia e testemunhava acerca da ressurreição de Cristo. Foinessa cidade, sob a vigilância romana, que o apóstolo completou a sua obrateológica, solidi cando as igrejas, quer ocidentais, quer orientais, naPalavra de Deus.

Sua detenção em Roma foi divina e providencial. Doutra forma, nãoacharia tempo para escrever as cartas que viriam a ser conhecidas como asepístolas da prisão. Quem trabalha sob a orientação do Espírito Santo,ainda que detido, livremente evangeliza. Na obra de Deus, nem sempreatividade representa produtividade. Às vezes, corremos de um lado para ooutro sem qualquer objetivo. Por isso, estejamos atentos à voz do Mestre.Se a coluna de fogo se detiver, não continuemos; humilde eobedientemente, recolhamo-nos. Quando ela se puser em movimento,prossigamos. Até mesmo para uma pausa requer-se uma cidade estratégica.

Antioquia enviou o apóstolo às missões. Filipos manteve-o no campomissionário. Quanto a Roma, deu-lhe a tranquilidade necessária para quedoutrinasse as igrejas de Deus e, ali, testemunhasse sem impedimentoalgum.

7. Belém do Pará, as Boas-Novas vêm do Norte. Divinamente

orientados, Daniel Berg e Gunnar Vingren escolheram a cidade de Belém,no Pará, como ponto de partida para a sua missão no Brasil. Logo em suachegada, em 19 de novembro de 1910, constataram que a capital paraenseera geogra camente estratégica para se alcançar o país em todas asdireções.

No livro , MartaDoreto destaca como o trabalho foi executado pelos missionários suecosna capital paraense, e como, de lá, saíram a evangelizar outras cidades eregiões:

A dupla de missionários achava-se em Belém havia cerca de dois

anos, e cada rua já fora percorrida por Daniel Berg. Cada morador játivera a oportunidade de comprar uma Bíblia e ouvir as boas novas dasalvação. No coração daqueles que aproveitaram a oportunidade, asemente da Palavra estava germinando e crescendo. Eles já haviambatizado nas águas quarenta e um novos convertidos, e quinze deles

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já tinham recebido o batismo no Espírito Santo.Percebendo que o seu trabalho de distribuir Bíblias em Belém

chegara ao m, o jovem Daniel sentiu que deveria semear, agora,noutros campos. Enquanto Gunnar Vingren caria pastoreando aigreja na cidade, ele seguiria a Estrada de Ferro Belém-Bragança,vendendo Bíblias nas cidadezinhas do interior. [...] Levando nasmãos a mala de Bíblias, e no coração a chama pentecostal, omissionário encaminhou-se ao primeiro povoado à beira da ferrovia.[...] de longe, Daniel Berg avistou o teto das primeiras casas deBragança. Seus pés cansados retomaram o ritmo acelerado, e seuslábios rachados pelo sol votaram a murmurar a canção: ‘A semente éboa para semear. A semente boa, não pode falhar. A semente e boa,foi Deus quem mandou. Vamos irmãos, unidos, trabalhar para oSenhor!’.

A cidade de Bragança era a última etapa da longa jornada desemeadura da Palavra de Deus. Em toda cidadezinha ou vila por ondeDaniel passara, havia pelo menos um novo convertido lendo a Bíbliae ajudando a espalhar a boa semente. A partir de Belém do Pará, o evangelho não demorou a chegar a outras

regiões e estados da federação brasileira. Por essa razão, escolhamos commuito cuidado a cidade a partir da qual planejamos evangelizar um país,ou mesmo um continente. Daniel Berg e Gunnar Vingren, orientadospelo Espírito Santo, souberam como chegar aos con ns de nosso país.Foram do Norte ao Sul, sem impedimento algum, apesar dos desa os queencontravam pelo caminho.

III. Os Desafios da Evangelização Urbana Na evangelização urbana, há desa os e imprevistos que podem ser

convertidos em oportunidade. 1. Incredulidade e perseguição. Num tempo em que o evangelho é

desgastado por falsos pregoeiros, anunciemos a Cristo com sabedoria,poder e e cácia (2 Tm 4.17). Nossa mensagem não pode ser confundidacom a dos mercenários e falsos profetas (Rm 6.17). Preguemos a

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mensagem da cruz na virtude do Espírito Santo (1 Co 1.18).Se formos perseguidos, não desistamos. Jesus também o foi em sua

própria cidade, mas levou a sua missão até o fim (Lc 4.28-30). 2. Enfermos. As áreas urbanas acham-se tomadas de enfermos e

doentes terminais. No tempo de Jesus, não era diferente. Ao entrar emJericó, Ele deparou-se com um cego que lhe rogava por misericórdia (Lc18.35). E, às portas de Naim, encontrou o féretro do lho único de umaviúva (Lc 7.11-17). Ungido pelo Espírito Santo, curou o primeiro eressuscitou o segundo.

Só o evangelho genuinamente pentecostal para impactar as cidades (Mc16.15-18). Desenvolva a capelania hospitalar; não deixe de visitar osenfermos e moribundos.

3. Endemoninhados. Quem se dedica à evangelização urbana deve

estar preparado, também, para casos difíceis de possessão demoníaca.Muitos são os gadarenos espalhados pela cidade (Mt 8.28-34). Então, ore,jejue e santifique-se (Mc 9.29).

Não faça da libertação dos oprimidos um espetáculo. Mas, no poder doEspírito Santo, cure, ressuscite os mortos e liberte os cativos de Satanás(Mt 10.8).

IV. Como Fazer Evangelismo Urbano A evangelização urbana só será bem-sucedida se tomarmos as seguintes

providências: treinamento da equipe, estabelecimento de postos-chave,acompanhamento do trabalho, e estabelecimento de círculos e núcleosevangelizadores.

1. Treinamento da equipe. Antes de chegar à Macedônia, o apóstoloPaulo já podia contar com uma equipe altamente quali cada paraimplantar o evangelho na Europa. Primeiro, tomou consigo a Silas e,depois, o jovem Timóteo (At 15.40; 16.1,2). Acompanhava-os, também,Lucas, o médico amado (At 16.11). Com esse pequeno, mas operoso grupo,o apóstolo levou o evangelho a Filipos, a Tessalônica e a Bereia, até que aPalavra de Deus, por intermédio de outros obreiros, chegasse à capital doImpério Romano (At 16.12; 17.1, 10).

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Portanto, forme a sua equipe com oração e jejum (Lc 6.12,13). Se soubercomo treiná-la, o êxito da evangelização urbana não será impossível.

2. Estabelecimento de postos-chave. Sempre que chegava a uma

cidade gentia, Paulo buscava uma sinagoga, de onde iniciava aproclamação do evangelho (At 17.1-3). Embora o apóstolo, na maioria dasvezes, fosse rejeitado pela comunidade judaica, a partir daí expandia suaação evangelística urbana até alcançar os gentios.

Encontre os postos-chave para a evangelização urbana. Pode ser a casade um crente, ou a de alguém que está se abrindo à Palavra de Deus (At16.15; Fm 1.2). Na evangelização, as bases são muito importantes.

3. Acompanhamento do trabalho. Finalmente, acompanhe o

progresso da nova frente evangelística. Ao partir para uma nova áreaurbana, deixe alguém responsável pelas igrejas recém-implantadas, comofazia o apóstolo Paulo (At 17.14). E, periodicamente, visite-as até queamadureçam o suficiente para caminhar por si próprias (At 18.23).

Não descuide dos novos convertidos. Fortaleça-os na fé, na graça e noconhecimento da Palavra de Deus. Quem se põe a evangelizar as áreasurbanas deve estar sempre atento. Por isso mesmo, tenha uma equipeamorosa, competente e disponível.

4. Estabelecimento de círculos e núcleos evangelizadores. A

verticalização das metrópoles impede-nos que evangelizemos de porta emporta, como acontecia há 50 ou 60 anos. Por isso, crie um círculo derelacionamentos. Não podemos entrar em um condomínio, mas um novoconvertido que ali reside há de estabelecer um núcleo de evangelização,por meio do qual alcançaremos outras famílias.

O evangelho de Cristo não muda. Todavia, os métodos de evangelizaçãodevem ser periodicamente avaliados, para que o nosso trabalho não setorne improdutivo. Use as redes sociais. Seja criativo. Não desperdiceoportunidade alguma.

Conclusão A Igreja de Cristo nasceu na Cidade Santa. De lá, espalhou-se por todas

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as regiões do globo. Por esse motivo, sejamos prudentes e sábios naescolha das áreas metropolitanas que pretendemos evangelizar, pois, seestratégicas e bem localizadas, teremos condições de atingir não só umdistrito, mas todo um país.

Nenhuma cidade será esquecida de nossa ação evangelística, pois oSenhor Jesus nos ordena que alcancemos a todos, em todo o tempo e lugar,por todos os meios. Todavia, consideremos a estratégia em cada planoevangelístico e missionário que estabelecermos.

Que Deus nos ajude. Ele quer abençoar-nos tanto na cidade como nocampo em nossos empreendimentos evangelísticos.

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AEvangelizaçãodos GruposDesafiadores

Introdução

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– Gunar Berg Dentre seus muitos efeitos, a evangelização tem a propriedade de

constranger-nos. A nal, ela é o nosso maior compromisso com Deus, aprincipal das nossas obrigações, o mais elevado dos nossos deveres.Evangelizar é o chamado, a grande comissão das nossas vidas. Falar deJesus ao pecador é a tarefa pessoal e intransferível que recebemos dopróprio Cristo, e, se temos em nós o Espírito Santo, é o que faremosincansavelmente, por maiores que sejam os desafios a vencer.

I. Galhos Secos, o Desafio de Pregar aos Viciados

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– Gunar Berg 1. O desafio de todos nós. O envolvimento das Assembleias de Deus na

evangelização de dependentes químicos é bem recente. Salvo casosexcepcionais, passamos a cuidar desse problema espiritual e socialsomente a partir dos anos 1970.

Uma das primeiras reportagens sobre o tema chegou aos leitores dojornal em 1989, quando o pastor Nemuel Kesslervisitou o Desa o Jovem de Piracicaba, no interior paulista, para noticiar omilagre ocorrido na vida da jovem Leia de Oliveira. A moça fora um dosprimeiros casos de cura da AIDS em nossa igreja — comprovando oimenso interesse de Deus na alma dos viciados.

O responsável por aquele trabalho era o evangelista Vanderlei Guidelli,que já tivera a sua própria experiência de libertação. Uma vez liberto, eleabraçou como poucos o desa o e, amorosamente, tem-se dedicado a cuidardas almas destruídas pelos vícios. Depois de Piracicaba, o pastor Vanderleifoi transferido para Cravinhos, e agora se acha em Sertãozinho. Por ondepassou, ele fundou trabalhos para a recuperação de dependentes químicos.Eu gostaria de poder dizer que a dedicação desse servo de Deus levou todaa igreja a interessar-se e envolver-se nesta causa, mas, infelizmente,testemunhos como o dele são pontos fora da curva, exceções quecon rmam uma triste regra: como Noiva do Cordeiro, reconhecemos ovalor da alma dos viciados; como instituição, escolhemos concentrar-nosem irrelevâncias.

2. Encarando com amor esse grupo desa ador. O maior desa o para

evangelizar os grupos desa adores está em nós mesmos. Nossa agenda estásempre repleta de eventos extenuantes e onerosos, enquanto famíliasperdem tudo, inclusive a si mesmas, para as drogas. Embora o vício, paraalguns, não seja contagioso, a sua destruição o é. Parecem-lhe fortes eprovocativas estas palavras? Eu alertei, no início do capítulo, que aevangelização tem a peculiaridade de constranger-nos em virtude de suaprioridade e urgência.

Clássicos como , do saudoso evangelista DavidWilkerson, ou , de Nick Cruz, deixam claro que somente

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a salvação em Cristo, incluindo a experiência pentecostal, possibilita umavitória retumbante sobre o vício.

Nas casas de desintoxicação particulares e estatais, os internos sãotratados apenas clinicamente; espiritualmente, não recebem qualquerassistência. Seus curadores acham que qualquer tratamento para a almaserve. Dessa forma, igualam o evangelho de Cristo ao espiritismo, aoislamismo ou a outra manifestação religiosa qualquer. Conclui-se, pois,que não podemos ausentar-nos das clínicas onde são tratados os viciadosem drogas.

– Gunar Berg 3. Galhos secos à procura de vida. Nos anos 1970, ainda adolescentes,

os irmãos Osny (falecido em 2007) e Osvary Agreste compuseram umacanção chamada “Galhos Secos”. Por algum motivo, o hino tornou-se ocântico das casas evangélicas de recuperação de drogados. De norte a sul,onde houver um centro cristão de recuperação de viciados, a música éentoada pelos internos com a pouca força que lhes restou após anos dedestruição. Diz a inspirada e doce composição:

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Os irmãos Agreste não sabiam que a experimentação musical da sua

puberdade era quase profética, pois descreve o sentimento de homens emulheres que, num último ato de coragem e lucidez, buscam reaver o queSatanás lhes roubou pelo vício. Nas UTIs espirituais, que são as casascristãs de reabilitação, os dependentes passam os dias entre cultos,recreações e crises de abstinência, sentindo-se lenhos secos, onde só oCriador consegue enxergar vida. Mas as ores têm brotado, para nossaalegria. E, também, para nossa vergonha, pois as libertações ocorridasnesses lugares fazem lembrar algo que muitos crentes já esqueceram: aPalavra tem poder para transformar o pior dos pecadores, o mais destruídodos seres humanos.

É desa ador falar de Cristo aos drogados? Sem dúvida. Mas é tambémsurpreendentemente recompensador, porque onde o pecado abundou, agraça superabundou. Para nossa alegria.

II. Tempos Trabalhosos, a Evangelização de Homossexuais

– Gunar Berg 1. Um tempo de grandes provações. Na década de 1980 — anos que

conduziram meus lhos à adolescência, havia uma doce inocência nosjovens. Nas palestras sobre namoro, noivado e casamento, não se falava emhomossexualismo. Não era necessário. Mas o tempo passou, levandoconsigo toda a ingenuidade. Um novo tempo chegou e, com ele, veio a

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primeira geração da história a querer fazer da exceção a regra, doesdrúxulo a norma, do estranho a lei.

O homossexualismo, que a pós-modernidade teima em taxar dehomossexualidade, tem uma história tão longa quanto a queda do serhumano. Haja vista as cidades de Sodoma e Gomorra. Homossexuais sãocontados entre lósofos e soldados da civilização greco-romana. Talprática, porém, nunca foi considerada digna de ser equiparada aomatrimônio, pois ninguém jamais duvidou de que o casamento tem a vercom espécie, gênero e número. Só há casamento entre seres humanos(espécie). Bichos formam pares; seres humanos, casais. E só se forma casalcom homem e mulher (gênero), pois é do que se precisa: um macho e umafêmea. Exatamente dois; este é o número. Basta dizer “casal” para que,instintivamente, nosso cérebro visualize um homem e uma mulher.Portanto, a lógica gay é contrária ao casamento instituído pelo Criador.

2. O pior dos tempos. O movimento gay assumiu uma tática que vai

muito além da tradicional “luta pelos direitos dos homossexuais”. Nessaguerra contra a família tradicional, eles querem asociedade à força.

Um dos melhores trabalhos já escritos a respeito do assunto é o dopastor Louis Sheldon. No livro , ele conta como os líderesgays têm atiçado suas hostes contra as famílias, as igrejas e as crianças (asvítimas mais vulneráveis dessa investida satânica). Em nosso país, oalvoroço homossexual é incontrolável. Vivemos o pior dos tempos. Noentanto, a Igreja de Cristo não cará impassível ante o desa o daevangelização dos homossexuais, porque Jesus também morreu por eles.Em vez de os olharmos com ódio e rancor, devemos expor-lhes o plano dasalvação, porque eles não são piores nem melhores do que os demaispecadores. Deus os ama e quer trazê-los ao seu Reino, libertando-os dopecado e da escravidão do Diabo.

3. O desa o da evangelização dos homossexuais. Muitos crentes

acreditam que os homossexuais estão sendo usados pelo Diabo paracapitanear uma perseguição sistemática contra a Igreja. Essa, porém, éapenas uma causa secundária. Na verdade, os homossexuais buscamimpedir a ação evangelizadora da Igreja, porque não ignoram o evangelho,

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que é o poder de Deus para a salvação de todo o que crê, seja eleheterossexual, seja ele homossexual. A verdade liberta o homem de todo equalquer pecado.

– Gunar Berg A televisão mostra os heróis do universo gay discursando

in amadamente nas comissões do Congresso Nacional. Mas, ao m deseus pronunciamentos, deixam rapidamente o plenário, pois recusamouvir as verdades que tanto os incomodam. Eles fogem dos debates,principalmente quando notam, entre os debatedores, a presença de algumpastor. Isso signi ca que temem ouvir o evangelho de Cristo, pois dianteda mensagem da cruz ninguém há de ficar indiferente.

Por conseguinte, a solução para ganhar os homossexuais para Cristo éuma só: o amor de Deus em nós e por meio de nós. Deus nos ordena que osamemos e que oremos por eles. É... Como tenho dito, a evangelizaçãoconstrange, pois exige coisas que nem sempre estamos dispostos a dar ou afazer. Não somos inimigos dos gays. Eles, todavia, nos veem comoadversários. Por isso mesmo, devemos mostrar-lhes nosso amor, falando-lhes aberta e francamente do evangelho de Cristo. Eles precisam saber queJesus também morreu por eles.

III. A Mentira mais Antiga do Mundo e o Desa o de Evangelizar

quem se Prostitui Você já deve ter ouvido alguém dizer que a prostituição é o ofício mais

antigo do mundo. Jazem aí duas mentiras. A primeira é factual: o trabalhomais antigo do mundo é a agropecuária, seguida pela indústria de

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transformação. O segundo erro, pior que o primeiro, é conceitual:prostituição não é profissão, mas ofensa contra Deus.

1. Quem vende sexo não resiste ao amor. No município de Itaperuna,

no interior uminense, havia um prostíbulo explorado por uma cafetinabem folclórica. Numa contingência sofrida por uma família de uma igrejarecentemente aberta, o pastor viu-se obrigado a entrar naquele local depecado, transgressão e medo. A cena que ele descreveu, ao contar ahistória, foi de um realismo impressionante. No ambiente sujo epromíscuo, homens e mulheres, seminus, deitavam-se por todos os cantos.Finalmente, alguém observou que ele, de nitivamente, não pertenciaàquele lugar.

Depois de um reboliço, aparece diante dele uma mulher envelhecidapelo pecado e tornada feia pelo “negócio” que geria. Era a Valesca, a donado prostíbulo. De cara fechada, e com um ódio que lhe acentuava aindamais as bochechas pronunciadas, ela lhe perguntou: “Você veio aqui porquê?” A resposta do pastor foi divina e certeira: “Estou aqui por causa dasua alma!”. Aquelas palavras penetraram fundo no coração da mulher. Araiva de seus olhos cedeu lugar às lágrimas. O rancor de seus lábios foisubstituído pelos pedidos de desculpas, repetidos à exaustão. Valesca foitocada pelo evangelho.

Ainda foi necessária alguma insistência e muita oração, até que a velhacafetina se convertesse a Cristo. Mas, en m, chegou o dia em que ela foiintimada a decidir o que faria de Jesus. O pastor lhe disse: “Eu a quero emnossa igreja, no próximo domingo”. “Não”, retrucou a mulher. “Não possoir. O que as pessoas vão dizer?” A resposta do amoroso pastor que invadirao prostíbulo fê-la estremecer: “Se a senhora não for, trarei os irmãos aquipara fazer o culto!” Não foi preciso. A dona do bordel compareceu à igrejae aceitou Cristo como Salvador. Naquela noite, a cidade descobriu que overdadeiro nome de Valesca era Maria de Jesus.

2. O desa o de falar de Cristo às prostitutas. O desconforto de falar

de Cristo aos que se prostituem é patente e até compreensível, porque nemtodos estão aptos a levar adiante tal ministério. Há, porém, váriasassociações dedicadas a evangelizar prostitutas e prostitutos. Os melhoresexemplos vêm da Europa, onde, em alguns países, os que vivem da

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prostituição moram todos no mesmo setor da cidade. As organizaçõescristãs procuram marcar presença nessas localidades, com apoio médico,psicológico e, claro, espiritual. Trata-se de um trabalho evangelísticodifícil e que exige amor e muita coragem. Boa parte desses obreiros écomposta por homens e mulheres que já estiveram na prostituição e foramresgatados por Jesus.

– Gunar Berg Conclusão Quando falamos na evangelização de grupos desa adores, imaginamos

que o desa o são os grupos. Não é verdade, o desa o está em nós e emnossa resistência em falar-lhes de Cristo. Nós os evitamos, mas nemsempre eles nos rejeitam. Fugimos dos drogados, desprezamos os gays erepudiamos os que se prostituem. Mas, por favor, não apequene meusargumentos concluindo que estou nos autoacusando de preconceito. Issonão é verdade, nem sobre o que digo e nem a respeito de nós. Não temospreconceito; temos, sim, um conceito muito bem estabelecido do que écerto e do que é errado. Do que é pecado e do que não é. Entretanto, aindanão dominamos a arte espiritual, na qual Cristo era Mestre: separar opecado do pecador. E este nem é o maior dos nossos desa os. Pior que esteé a apatia em que vivemos.

Achamo-nos mergulhados na mesmice. Não nos esforçamos o bastantepara fugir à rotina, a m de ganhar uma pessoa para Cristo. A situação

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complica-se quando essa pessoa é drogada, homossexual ou vive daprostituição. Evangelizar tais grupos é um trabalho solitário e desa ador.Leva-nos às ruas vazias e aos becos assustadores. Não é tarefa que requeiraigrejas suntuosas, mas demanda instalações adequadas e adaptadas.De nitivamente, tal missão não é para obreiros engravatados e com anéisde doutores; é obra para quem não se importa de sujar as roupas e as mãoscom o pecador caído na sarjeta. O desa o de ganhar esses grupos paraCristo não será vencido por pregadores de multidões, mas por pescadoresde homens.

Este é o nosso trabalho.

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O Evangelhono MundoAcadêmico ePolítico

Introdução A academia pós-moderna é um edifício majestoso e belo, mas

construído a partir da incerteza. Desorientada em meio a tantasmonogra as e teses, ninguém, ali, logra a rmar coisa alguma. Ela abre aboca às perguntas, mas cerra os ouvidos às respostas. Seus membrosabominam fechar as questões mais comesinhas e tolas. Altivos earrogantes, alegam que ninguém pode ter certeza de nada. Tal alegação,porém, é autodestrutiva. Se ninguém pode ter certeza de nada, comopodem ter certeza de que a incerteza é tudo?

Quando nos refugiamos no evangelho de Cristo, pomo-nos a trilhar ocaminho da fé. Vendo já o invisível, ela gera convicções e demonstra,cabalmente, que existem, sim, verdades absolutas. Eis porque há umgrande abismo entre a incerteza acadêmica e a certeza evangélica. Tão

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largo e profundo é esse abismo que só pode ser transposto pela cruz doCordeiro de Deus.

A intenção deste capítulo não é desconstruir a academia. Mas,alicerçado na Bíblia Sagrada, mostrar a possibilidade de se reconstruirvidas que se acham arruinadas pela velha mentira de Satanás. Comecemos,pois, mostrando a origem e a utilidade da academia.

I. A Origem do Mundo Acadêmico A academia, em si, não é deletéria nem letal à verdadeira fé. Desde o

início da História, vem ela prestando relevantes serviços à humanidade.Ela gera conhecimentos, produz metodologias e referenda descobertas einvenções. No entanto, o Diabo, o pai das mentiras mais sutis e dasinverdades mais delicadas, tudo faz por imiscuir-se em seu ambiente,visando torcer-lhe os resultados e conclusões.

1. Uma de nição certa. A palavra “academia” provém do vocábulo

grego , que, por seu turno, lembra a escola de loso a quePlatão fundou em Atenas, em 387 a.C., junto a um jardim dedicado aAcademo, uma das muitas divindades da Grécia. Ali, o pensador gregoreunia os pupilos para ensiná-los a pensar de forma metódica, sistemáticae produtiva.

2. Preservação do conhecimento humano. A partir de então,

academias surgiram em várias partes do mundo. No século 15, PompônioLeto fundou a Academia Romana, que, além da loso a, dedicava-se aoestudo das ciências, das artes, da arqueologia e da gramática. Assim, elasvieram a assumir um papel referencial na de nição do conhecimentohumano. Sua palavra era su ciente para esclarecer dúvidas, fundamentarcertezas e iluminar os que iam e vinham em busca do verdadeiro saber.

Hoje, as academias são mais especí cas. Esta se dedica à História;aquela, às Artes; aqueloutra, à Filoso a; e, ainda esta, às Letras. Cada uma,d e , consagra-se à preservação de uma área particular doconhecimento humano.

3. A postura agnóstica da academia. Criado pelo romancista

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americano Dan Brown, o professor Robert Langdon é um retrato el doacadêmico pós-moderno. A certa altura do lme , oprofessor de Harvard é questionado, por um funcionário do Vaticano,quanto à existência de Deus. O intrigante Langdon, uma espécie de alterego de Brown, responde de maneira orgulhosa e furtiva que, enquantoacadêmico, não havia sido preparado a responder àquela pergunta.

A resposta de Langdon é um re exo da academia, que, indiferente aDeus, faz-se hostil ao evangelho. Jesus Cristo, contudo, tem de serapregoado nesse ambiente inamistoso e in uenciado por Satanás. Nossatarefa, repito, não é destruir a academia, mas usá-la como instrumento àexpansão do Reino de Deus.

II. Jerusalém versus Atenas Tertuliano (160-220), considerado o pai da teologia cristã ocidental, fez

uma declaração que realça a superioridade da fé evangélica em relação àloso a grega. Exaltando a força do evangelho, a rmou: “O que tem

Jerusalém a ver com Atenas?”. Vejamos, pois, em que consistem oconhecimento de Atenas e a sabedoria de Jerusalém.

1. Atenas, a capital da loso a. Atenas foi a mais importante cidade

da Grécia Clássica. Sua idade áurea situa-se entre 500 e 300 a.C., períodoem que oresceram as artes, as ciências e, principalmente, a loso a. SeEsparta era a metrópole da guerra e da conquista territorial, Atenasdestacava-se por outro motivo. Ela era a cidade de Sócrates, de Platão e doestagirita Aristóteles. Seu alvo não era a hegemonia territorial, mas oalargamento das fronteiras intelectuais.

Atenas era a cidade do homem natural. Em seus termos, a religião,embora ainda forte e in uente, já não conseguia satisfazer as necessidadesde um povo que idolatrava a razão e endeusava a cultura. Nesse sentido, ohomem ateniense era um perfeito re exo da deusa a quem elegera comopadroeira. Protegendo as artes e as ciências, Atenas era também a senhorado conhecimento.

O povo ateniense, porém, jamais logrou a paz em suas conquistasintelectuais. Por essa razão, acabaria por eleger o Deus Desconhecido, aquem consagraria um vistoso altar, como a sua derradeira esperança. Se

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fôssemos acrescentar mais alguma coisa sobre Atenas, diríamos que acidade toda era uma grande e orgulhosa academia. Não obstante, quandoda visita de Paulo ao Areópago, viu-se impotente para compreender abeleza e a veracidade da ressurreição de Cristo.

2. Jerusalém, a cidade da paz e da verdadeira sabedoria. Apesar dos

con itos que enfrentou ao longo de sua história, Jerusalém é conhecidacomo a Cidade da Paz. Mas poderia ser considerada, também, o berço doverdadeiro conhecimento, pois as Sagradas Escrituras têm-na como a suareferência máxima. Foi na mais amada das metrópoles, que Deus semanifestou plenamente a Israel, intimando-o a educar o mundo noconhecimento divino, conforme destaca o profeta Miqueias:

Mas, nos últimos dias, acontecerá que o monte da Casa do Senhor

será estabelecido no cume dos montes e se elevará sobre os outeiros, econcorrerão a ele os povos. E irão muitas nações e dirão: Vinde, esubamos ao monte do Senhor e à Casa do Deus de Jacó, para que nosensine os seus caminhos, e nós andemos pelas suas veredas; porque deSião sairá a lei, e a palavra do Senhor, de Jerusalém. (Mq 4.1,2) Quanto mais o tempo passa, mais vai Jerusalém adquirindo importância

espiritual, cultural e política perante o mundo. Nenhuma outra cidade étão relevante quanto a capital de Israel. No auge da História, segundo aprofecia, as nações correrão à morada da paz, pois assim se traduz o seunome, em busca do verdadeiro conhecimento. Ao contrário de Atenas,cuja sabedoria não passava, às vezes, de especulação estéril e vazia,Jerusalém educará os povos, conduzindo-os à verdadeira paz. Ponti candoo governo do Messias de Israel e Salvador do mundo, escreve aindaMiqueias:

E julgará entre muitos povos e castigará poderosas nações até mui

longe; e converterão as suas espadas em enxadas e as suas lanças emfoices; uma nação não levantará a espada contra outra nação, nemaprenderão mais a guerra. Mas assentar-se-á cada um debaixo da suavideira e debaixo da sua gueira, e não haverá quem os espante,porque a boca do Senhor dos Exércitos o disse. (Mq 4.3,4)

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O conhecimento emanado de Jerusalém resulta em redenções de vidas.

É por isso que a Bíblia Sagrada é o livro mais lido, mais pesquisado e maisdebatido. Nenhuma outra literatura, mesmo as que se presumem sagradas,exerce uma influência tão poderosa na vida do mundo.

Foi de Jerusalém que saiu o evangelho de Cristo, que, não se limitando alançar as bases do mundo atual, vem redimindo milhões de pessoas aoredor do planeta. Portanto, não há o que se comparar. Atenas, embora hajaensinado o mundo a pensar, não logrou redimir nem a si mesma. Quanto aJerusalém, proporcionou a mensagem que ensina o homem não somente apensar corretamente, mas também a agir com piedade, ética e amor. Oevangelho de Cristo é inigualável. Por essa razão, indaga Tertuliano: “Oque Jerusalém tem a ver com Atenas?”.

III. José, o Primeiro Acadêmico de Deus Deus não abomina as academias, nem odeia os intelectuais; entre seus

profetas e servidores, há notáveis acadêmicos. Neste tópico, destacaremosJosé, lho de Jacó, que, arrebatado de um ambiente campesino, viria agovernar o Império do Egito e, de forma tão providencial, salvar doextermínio a nação israelita.

1. O aprendizado teológico de José. Em companhia de seu pai, Jacó,

aprendeu José a relacionar-se com o Deus Único e Verdadeiro. Naqueledescampado imenso, veio a entender que o Altíssimo não se esconde emsua transcendência, mas revela-se amorosamente em sua imanência. Eispor que o Criador é conhecido, entre as nações, como o Deus de Abraão,de Isaque e de Jacó.

Sem aquele curso teológico informal, o jovem hebreu jamais poderiagovernar um império tão vasto e tão complexo como o egípcio. Issosigni ca que a academia, na vida de nossos lhos e netos, tem de serprecedida pela capela familiar. Doutra forma, serão subvertidos pelacultura mundana. Já devidamente preparado espiritualmente por Jacó, foiJosé conduzido por Deus ao Egito.

2. O aprendizado na casa de Potifar. As escolas pelas quais José

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passou eram tão informais quanto o estilo de vida dos hebreus. Nãoobstante, proporcionaram-lhe uma sólida formação humana, literária,econômica, política e, acima de tudo, espiritual. Interpretandoteologicamente suas tribulações e agruras, ele sabia que fora subtraído àcasa paterna por um motivo soberano. Por isso, aproveitou cada prova eprovação, a fim de graduar-se no serviço divino.

Na casa de Potifar, aprende um novo idioma, o demótico. E,consagrando-se aos afazeres daquela grande propriedade, inteira-serapidamente do sistema econômico e nanceiro do Egito. Ao buscar aexcelência em tudo o que fazia, torna-se um grande administrador (Gn39.5).

Mas, ali, aprenderia também o valor de uma vida incorruptível e santa.Tentado por sua senhora, manteve-se el ao Senhor. Ele sabia que, seviesse a ceder aos encantos daquela mulher, a sua carreira terminaria comoa dos outros escravos que o antecederam. Infelizmente, a academia pós-moderna nenhum valor dá à ética e à moral. Eis porque o nosso paísencontra-se numa situação tão calamitosa.

Potifar bem que poderia ter executado a José. No entanto, contentou-seem mandá-lo à prisão real, pois sabia que um jovem como aquele não sedeixaria corromper nem pelo sexo, nem pelo dinheiro, ou pela vanglóriado poder.

3. O doutorado na prisão. A um jovem a quem Deus destinara agovernança do Egito, não havia academia mais adequada do que a prisãoreal. Ali, teria oportunidade de aprender outro idioma: o hierático, faladopelos sacerdotes e pela classe política. Assim, não demorou a expressar-se

uentemente na nova língua. A essas alturas, sua educação literária jáestava completa.

No cárcere, aprenderia também o funcionamento do Estado egípcio.Cada encarcerado era-lhe um professor. Ali, atrás daquelas grades,concentrava-se a nata política e cultural da corte faraônica. Com estepreso, aprendia economia. Com aquele, diplomacia e política. Comaqueloutro, história e ciência. E, com o padeiro e o copeiro mores, aprendea lidar com um rei divinizado e cheio de caprichos e arbítrios.

Foi assim que Deus capacitou o jovem hebreu a governar a nação maispoderosa da terra naquele tempo. Que ele tinha um sonho, todos o sabiam.Mas entre o sonho e a sua realização, há que se ter muita disciplina, estudo,

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trabalho e oração. Se os nossos jovens se espelharem em José, lho de Jacó,teremos grandes e poderosos arautos de Cristo nas mais elevadas enevrálgicas esferas da sociedade.

IV. Daniel, o Acadêmico por Excelência Na biogra a de Daniel, temos a destacar dois fatos muito importantes.

Se, por um lado, Deus entregou Jerusalém nas mãos de Nabucodonosor,por outro, entregou Nabucodonosor nas mãos de um dos mais ilustres

lhos de Jerusalém. Educado na academia babilônica, Danieltransformou-a por meio do conhecimento divino. Dessa forma, conduziuo rei da Babilônia ao Deus Único e Verdadeiro.

1. Na academia da Babilônia. Por volta do ano 606 a.C.,

Nabucodonosor sitia Jerusalém, e leva cativa à Babilônia a elite dasociedade judaica. Entre os prisioneiros, achavam-se os jovens Daniel,Hananias, Misael e Azarias (Dn 1.6). Eles já eram notáveis por suaeducação, cultura e distinção pessoal. E, pelo que se depreende do textosagrado, já tinham cursado a academia de Jerusalém, onde haviam sidoinstruídos na Palavra de Deus.

Constrangidos a frequentar a academia babilônica, tinham ao seu disporuma série de regalias e confortos. Com sabedoria e graça, porém,recusaram as iguarias reais, preferindo alimentar-se de legumes e água,pois haviam proposto, em seu coração, permanecer éis ao Deus de Israel(Dn 1.8). Em virtude de sua delidade, o Senhor abençoou-os de tal formaque acabaram por sobressair em todas as áreas de sua vida. Eles tinhamcomo divisa a excelência divina.

2. A excelência do testemunho. Os funcionários da corte não

demoraram a perceber que Daniel e seus companheiros não eram como osdemais jovens que frequentavam a Universidade de Babilônia. Mesmooptando por uma dieta frugal e modesta, foram avaliados como maissaudáveis do que os outros (Dn 1.15,16). Mesmo sem emitir uma únicapalavra sobre o Deus de Israel, levaram seus tutores a compreender que, defato, o Deus dos hebreus achava-se sobre todos os povos.

Que os universitários cristãos iniciem o seu testemunho público por

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meio de uma vida santa e irrepreensível. Estarão, dessa forma, aevangelizar seus colegas e mestres, evidenciando atitudes cristãs em todasas instâncias do A eloquência de um testemunho não se encontrana força ou na beleza das palavras; acha-se na formosura de um viver que,mesmo emudecido, fala e convence pela santíssima fé ressaltada em obrasboas e meritórias.

Universitário evangélico, não se entregue às loso as mundanas, aoativismo inconsequente e anticristão, ao sexo pecaminoso e às drogas.Diante do politicamente correto, não tema optar pela vontade de Deus.

3. A excelência da vida acadêmica. O testemunho excelente de Daniel

e seus três companheiros não cou restrito à conduta pessoal; ressaltou-seainda nas atividades acadêmicas. No nal do curso, foram todos aprovadoscom louvor máximo, conforme registra o autor sagrado:

Ora, a esses quatro jovens Deus deu o conhecimento e a

inteligência em todas as letras e sabedoria; mas a Daniel deuentendimento em toda visão e sonhos. E, ao m dos dias em que o reitinha dito que os trouxessem, o chefe dos eunucos os trouxe diante deNabucodonosor. E o rei falou com eles; e entre todos eles não foramachados outros tais como Daniel, Hananias, Misael e Azarias; porisso, permaneceram diante do rei. E em toda matéria de sabedoria ede inteligência, sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou dez vezesmais doutos do que todos os magos ou astrólogos que havia em todo oseu reino. (Dn 1.17-20). Na avaliação dos jovens, tomou parte o próprio rei que,

internacionalista e detentor de um vasto saber, cou admirado doconhecimento e da sabedoria dos jovens hebreus. A partir daquelemomento, Nabucodonosor começa a perceber que o êxito daqueles rapazesia além dos limites humanos; era algo que só os céus podiam explicar.

Na universidade, que o jovem cristão evangelize também com suas notase conquistas acadêmicas. Nas monogra as e teses, seja verdadeiro e nãoabjure a sua fé. Fuja do politicamente correto. Não faça o jogo dosprofessores que, aprisionados pelas esquerdas extremas e ateias, põem-secontra Deus e a sua palavra. Por isso, redija com excelência cada trabalho.

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Pesquise com esmero. Evite o plágio. Seja autêntico em cada palavra, frasee parágrafo. Sua oração deve permear todas as suas atividades acadêmicas.

4. A excelência pro ssional. Já engajados na Academia da Babilônia,

Daniel e seus três companheiros dão início à sua vida pro ssional,misturados aos outros sábios do império. Todavia, uma crise estava para serdeflagrada, que os levaria a se destacar como servidores, não de um rei, masdo Rei dos reis e Senhor dos senhores. O testemunho cristão não teme ascrises. Antes, tem-nas como oportunidade para ponti car o conhecimentodivino em todas as instâncias da vida particular e pública.

No segundo ano de seu reinado, Nabucodonosor teve um sonho acercados últimos dias da História. Ele adormeceu preocupado com o seuimpério, e despertou com uma visão acerca do Reino de Deus. Quem seangustiava por entender os movimentos cíclicos na história de Babilônia,agora, entra em crise por ver a linearidade da História Sagrada resultar nodomínio do Deus de Israel sobre todas as coisas.

Como nenhum de seus sábios fosse capaz de evocar-lhe o sonho, ou deinterpretá-lo, o rei ordenou o extermínio de toda a Academia daBabilônia. Daniel, então, convoca seus companheiros, para que roguem osocorro divino. O profeta, recebendo a revelação do Deus de Israel, mostraa Nabucodonosor o que há de acontecer, no mundo, nos derradeiros diasda História. No preâmbulo de sua exposição, o jovem hebreu apresenta aorei uma proposição teológica que, apesar de simples, deitava por terra todoo panteão daquela cidade idólatra e entregue aos demônios: “Mas há umDeus nos céus, o qual revela os segredos; ele, pois, fez saber ao reiNabucodonosor o que há de ser no fim dos dias” (Dn 2.28).

A partir daquele momento, Daniel passa a mentorear espiritualmente orei, levando-o a reconhecer que somente o Senhor é Deus. Eis o que opróprio Nabucodonosor confessa acerca de seu encontro com o Deus deIsrael: “Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo, e exalço, e glori co ao Reidos céus; porque todas as suas obras são verdades; e os seus caminhos,juízo, e pode humilhar aos que andam na soberba” (Dn 4.37).

Muito pode fazer um acadêmico nas mãos de Deus. Por meio de seutrabalho sincero, levará o testemunho de Jesus Cristo aos escalões maisaltos da sociedade e do governo. A nal, somos instados pelo Senhor aproclamar o evangelho a todas as criaturas, inclusive aos ricos e poderosos.

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V. O Testemunho de Daniel entre os Políticos Daniel já era um ancião, quando Belsazar convocou-o a ler o escrito

divino na parede de seu palácio. Desprezando as honrarias e presentes queo rei lhe oferecia, o profeta, fugindo ao politicamente correto, interpretou-lhe a sentença, indicando-lhe o m de seu império. Neste momento, oSenhor requer de nossos homens públicos que ajam com a mesma isençãoe coragem.

1. Daniel, o político. Deus não precisa de políticos meramente

pro ssionais. O que Ele requer são testemunhas éis, que atuem nasdiversas esferas de poder, a m de que o evangelho não que apenas nosopé da pirâmide, mas que venha alcançar o topo mais inatingível. Por essemotivo, deve o político cristão, vocacionado para esse mister, agir comoporta-voz de Cristo ante os poderosos deste mundo.

A política, em si, não é um mal; de seus ofícios, todos carecemos. Semela, a vida em sociedade seria impossível, uma vez que a sua nalidade é apromoção do bem comum. Além do mais, não são poucos os servos deDeus, quer no Antigo, quer em o Novo Testamento, que atuarampoliticamente. Um dos exemplos mais notáveis é o próprio Daniel.

2. Os atributos de um político cristão. Tendo como espelho a vida

pública de Daniel, apontaremos alguns atributos, sem os quais o políticocristão não poderá servir como testemunha de Jesus. Se Deus, de fato, ochamou à vida pública, você não terá di culdade alguma para agir comisenção, incorruptibilidade e coragem.

Chamado à presença de Belsazar, agiu Daniel com isenção e prudência.Embora honrasse o rei, não lhe faltou com a verdade. Sua palavra não tinhadois pesos, nem duas medidas. Com a mesma franqueza que exortava ospequenos, repreendia os grandes. Se com os fracos mostrava-se forte, comos fortes erguia-se ousadamente. Em momento algum, faltou com o devidorespeito.

Diante dos presentes e honrarias que lhe oferecia o rei, Daniel mostrou-se íntegro e incorruptível: “As tuas dádivas quem contigo, e dá os teuspresentes a outro; todavia, lerei ao rei a escritura e lhe farei saber a

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interpretação” (Dn 5.17). A nal, por que receberia ele dádivas ouhonrarias? Não se deixando corromper, dá um testemunho público dajustiça do Deus de Israel.

Que os nossos políticos espelhem-se em Daniel, e não se deixem seduzirquer pelo ouro, quer pelas honrarias mundanas. Lembre-se: mais cedo oumais tarde, Deus trará todas as coisas à luz.

Por m, Daniel agiu corajosamente. Diante de um rei pasmo, lê einterpreta a escritura divina estampada na parede. Naquela mesma noite, oImpério de Babilônia cai ante os medos e persas. Quanto ao profeta, aindaserviria a dois outros monarcas até que, ditosamente, fosse recolhido aodescanso eterno.

Conclusão Instruamos nossos lhos e netos a servirem a Cristo no

universitário. O desa o não é pequeno, mas os resultados hão de sergrandes e compensadores ao Reino de Deus. Que eles demonstrem aossábios deste mundo que somente a mensagem da cruz é capaz de redimirtanto o individuo quanto a sociedade.

No que tange aos nossos políticos, que eles se mantenham éis à éticacristã e jamais negociem a sua integridade nem a santíssima fé. Nomomento em que escrevo estas linhas, o Brasil é transtornado pelo maiorescândalo de sua história. Homens que deveriam ser o exemplo àsociedade já não servem como referencial às novas gerações. Mas graças aDeus pelos homens públicos que, colocando o evangelho acima de todas ascoisas, encorajam-se a prestar excelente con ssão de sua crença em JesusCristo.

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AEvangelizaçãodos GruposReligiosos

Introdução Embora estejamos num século indiferente a Deus, o ser humano nunca

se acercou de tantos ídolos, mitos e divindades. Até mesmo os ateusaferram-se aos seus deuses, pois temem não o porvir, mas o presente. Osque se opõem a Jesus incensam falsos messias e salvadores. Quanto aosirreligiosos, o que diremos? Têm eles as suas religiões, nas quais buscamrefugiar-se nas tempestades da vida. Infere-se, de todo esse quadro, que ohomem moderno continua a ser o mesmo descoberto pelaantropologia nas sociedades tidas como primitivas e atrasadas.

O homem, por sua vocação, jamais deixará de ser religioso. Que o digamos santuários, capelas e templos espalhados pela cidade e encravados nocampo. Por essa razão, o evangelista há de preparar-se, a m de expor amensagem da cruz até mesmo aos que, presumindo-se evangélicos, jamais

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experimentaram o poder do evangelho. Somente Jesus Cristo conduz àverdadeira religião.

I. Religião, Necessidade ou Invenção A nal, o que é a religião? Invenção divina? Ou necessidade humana? Se

partirmos do pressuposto de que Deus, como o Criador de todas as coisas,nada precisa inventar, concluiremos que a verdadeira religião não éinvencionice divina, mas a expressão máxima do amor que levou o PaiCeleste a enviar o Filho a morrer em nosso lugar. O homem, porém, aoafastar-se de Deus, endeusou-se, e pôs-se a inventar as mais absurdas seitase as mais esdrúxulas religiões.

1. Religião, religar ou reler. A palavra hebraica traduzida ao português

como “religião” é , que, entre outras coisas, signi ca trabalho eadoração. Se formos ao grego do Novo Testamento, constataremos que otermo , usado por Tiago, não traz a ideia de uma religiãomeramente formal, mas evoca a adoração que Deus requer de cada um denós (Tg 1.26). A religião, portanto, não deve circunscrever-se à liturgia,mas ampliar-se no serviço que a criatura tem de prestar continuamente aoCriador. É por isso que, no inglês, a palavra “culto” é traduzida pelovocábulo

Examinemos agora o mesmo termo em latim. O vocábulo éinterpretado de duas formas que, embora distintas, são harmônicas.Buscando o étimo exato do referido termo, o orador romano Marco TúlioCícero (106-43 a.C.) explica que provém do verbo latino ,que ostenta este signi cado: reler. Mas que leitura deve o homem retomar?Sem dúvida, daquilo que Deus nos inscreveu na alma, para que jamais oesquecêssemos. Não é uma explicação despropositada, pois ainda quemortal, a criatura traz no espírito a eternidade do Criador. Ouçamos osábio de Israel: “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôsa eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obrasque Deus fez desde o princípio até ao fim” (Ec 3.11).

Sem a eternidade que nos vai na alma, a religião seria impossível. Mas,posto que lá se encontre, insta-nos a deixar o tempo para comungarmoscom o Eterno. Eis por que Cícero, apesar de desconhecer os profetas

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hebreus, interpretou tão bem o signi cado da religião. Todas as vezes quelemos o que Deus nos escreveu no coração, somos tomados de um almejomuito grande por sua companhia.

Agostinho (354-430) dá outra interpretação à palavra Noentender do grande doutor da Igreja Cristã, o termo não signi capropriamente reler, mas religar. Essencialmente, porém, não há diferençassubstanciais entre a sua acepção e a de Cícero, porque ambas remetem-nosao encontro pessoal que a criatura almeja ter com o Criador. Conclui-se,pois, que a religião verdadeira é serviço, adoração, releitura da alma e umreligar entre a criatura e o Criador. Mas tudo isso só é possível porintermédio de Jesus Cristo, o único medianeiro entre o homem e Deus,porquanto Ele é Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus.

2. Religião, necessidade universal. Ao chegar a Atenas, deparou-se

Paulo com uma metrópole entregue aos ídolos e aprisionada à idolatria.Naquela cidade, era mais fácil encontrar um deus do que um homem. Emtodas as esquinas, havia um nicho; em cada praça, um santuário; em cadalogradouro, um templo. O apóstolo observou também que, entre todosaqueles altares, havia um consagrado ao Deus Desconhecido.

Tendo como ponto de partida aquele insólito objeto de culto, Pauloutilizou-o, a m de mostrar aos lósofos epicureus e estoicos as bases daverdadeira religião. Ele deixou-lhes bem claro que o sentimento religioso,que é universal, deve ser centrado apenas no Deus Único e Verdadeiro.Ouçamos o apóstolo:

Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos;

porque, passando e observando os objetos de vosso culto, encontreitambém um altar no qual está inscrito: Ao Deus Desconhecido. Poisesse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vosanuncio. O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo eleSenhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãoshumanas. Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisaprecisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudomais; de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a faceda terra, havendo xado os tempos previamente estabelecidos e oslimites da sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura,

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tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós;pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns dosvossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração. Sendo,pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade ésemelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte eimaginação do homem. Ora, não levou Deus em conta os tempos daignorância; agora, porém, noti ca aos homens que todos, em todaparte, se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há dejulgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou eacreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos. (At17.22-31, ARA) Esse belíssimo discurso, que em nada ca a dever aos mais celebrados

oradores gregos e latinos, faz um resumo do verdadeiro conhecimentodivino e da nalidade da religião. O apóstolo, sem condenar diretamente areligião da Grécia, mostra indiretamente a supremacia da religião de Israelque, fundamentada na pessoa de Cristo, é tão única e verdadeira quantoVerdadeiro e Único é Deus.

Conclui-se, pois, que o anseio religioso é universal. Não há povo, naçãoou raça que viva à parte de cultos e devoções. Tal anseio, porém, tem de sercarreado a Deus, e não aos ídolos e aos demônios, pois o Senhor nãopartilha sua glória com ninguém.

3. Religião, separação e invenção. Deus não apenas é o criador da

verdadeira religião, mas a verdadeira religião em si. Toda a nossaadoração, serviço e culto devem ter, como alvo supremo, glori car-lhe onome. Por isso, Ele ordena ao seu povo, Israel, no preâmbulo dos DezMandamentos:

Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da

servidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para tiimagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cimanos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Nãoas adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o Senhor, teu Deus,Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos lhos até à terceira equarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até

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mil gerações daqueles que me amam e guardam os meusmandamentos. (Êx 20.2-5, ARA) Mas o homem, descumprindo as ordenanças divinas, inventou, a partir

de si e para si, as mais estúpidas e abomináveis religiões, conforme Pauloescreve aos romanos:

A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão

dos homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que deDeus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhesmanifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eternopoder, como também a sua própria divindade, claramente sereconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meiodas coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso,indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não oglori caram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaramnulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coraçãoinsensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram aglória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homemcorruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis. Por isso, Deusentregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seupróprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; pois elesmudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo acriatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até asmulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas poroutro, contrário à natureza; semelhantemente, os homens também,deixando o contato natural da mulher, se in amaram mutuamenteem sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, erecebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro. (Rm1.18.27, ARA) Nessa passagem, Paulo mostra como evoluiu a religião humana. Ao

ignorar o Criador, os gentios puseram-se a adorar a criação. E, de formaabominável, rebaixaram-se a servir à madeira, à pedra e ao metal. Haviadeuses inclusive de ouro, como aquela imensa estátua erguida por

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Nabucodonosor. Como um abismo sempre chama outro abismo, eis que asgentes, principalmente as cananeias, lançaram-se aos atos mais hediondos.Os adoradores de Baal-Peor despojavam-se na permissividade. Quanto aosdevotos de Moloque, não se conformando em incensar o horrível ídolocom as práticas mais licenciosas, punham-se a queimar seus lhinhos, afim de aplacar a ira daquele deus tão assassino quanto seus adoradores.

II. Mitos sobre a Religião Sendo o homem um ser religioso, vem ele cristalizando, ao longo de sua

romaria espiritual, alguns mitos em torno da religião. Tais mitos, naverdade, não passam de subterfúgios, que o levam a esconder-se da facedivina. Isso signi ca que, frente à nossa vocação religiosa, há tão somenteduas alternativas: ou adoramos ao Deus Único e Verdadeiro ou não oadoramos. Se não o adoramos, a quem estamos cultuando? A nós mesmosou a Satanás?

1. Mito um: todas as religiões são boas. Se há tão somente duas

religiões, como podemos a rmar que todas as religiões são boas. Como jádissemos, ou servimos a Deus, ou prestamos cultos a nós mesmos e aSatanás. Mas partamos do princípio de que todas as religiões são boas.Vejamos, por exemplo, o caso de Moloque. Em sua adoração, os amonitasqueimavam suas criancinhas (Lv 18.21; Jr 32.35). E, no culto a Baal-Peor,divindade venerada por midianitas e moabitas, os desregramentos sexuaisnão tinham limites (Os 9.10). Em consequência desses cultos vergonhosos,o Senhor castigou severamente a Israel (Nm 25; Jr 32.35). Vê-se, pois, quenem todas as religiões são boas.

Levemos em conta, também, o islamismo que, para expandir-se, apregoauma guerra tida como santa. Aos olhos dos radicais, todos os povos,acreditando ou não em suas narrativas e proposições, têm de se curvar aMaomé. Tal religião não pode ser boa, pois se impõe pelo terror e pelomedo. Sei que não devo generalizar, mas o Estado Islâmico é o resultadodo livro que, em nenhum momento, declara que Deus é amor. Aqui,devemos incluir o cristianismo sem Cristo da igreja católica de Urbano II,que, na recaptura de Jerusalém, derramou muito sangue inocente.

2. Mito dois: todas as religiões levam a Deus. Com base nos casos

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mencionados nos tópicos anteriores, como podemos alegar que todas asreligiões levam a Deus? No tempo de Paulo, a civilização greco-latinadava-se ao culto aos demônios (1 Co 10.20,21). Hoje, não é diferente.Muitos são os que sacri cam animais e víveres aos ídolos. E, nos últimosdias, a humanidade adorará a Besta, o Falso Profeta e o Dragão (Ap 13.4).Tais religiões não conduzem o homem a Deus, mas ao Diabo. Não nosesqueçamos daqueles que, declaradamente, prestam culto a Satanás.

3. Mito três: nenhuma religião é verdadeira. Conforme já vimos, a

Bíblia declara que existe, sim, uma religião verdadeira que é descrita, porTiago, como pura e imaculada (Tg 1.27). Por conseguinte, não podemosnivelar, por baixo, a religião que nos foi concedida pelo Senhor por meiode seus santos profetas e apóstolos.

A religião verdadeira é a revelação que Deus fez de si mesmo através dasEscrituras Sagradas, para que o adoremos como o Único e VerdadeiroSenhor, e ao seu Unigênito, Jesus Cristo, como o nosso Único e Su cienteSalvador. Em sua oração sacerdotal, o Senhor Jesus descreve a verdadeirareligião (Jo 17).

Já não resta dúvida alguma. Há somente duas religiões: a divina e a nãodivina. Logo, é a nossa obrigação pregar a Cristo aos religiosos, mesmoque estes sejam rotulados, às vezes, de evangélicos.

4. Mito quatro: há muitas religiões. Do que acima dissemos,

concluímos haver apenas duas religiões: a divina e a não divina. Aprimeira é descrita por Tiago como sendo pura e imaculada, pois, além dereconhecer a Deus como o Pai dos que recebem Jesus Cristo, traduz-se porobras meritórias e boas como evidências de uma fé verdadeira e santa (Tg1.27).

Por conseguinte, o apóstolo denota existirem apenas duas religiões: aimaculada e pura e a impura e maculada. A primeira é a religião dospatriarcas, dos profetas e dos apóstolos, tendo como fundamento aencarnação, a morte vicária e a ressurreição do Filho de Deus. Quanto àsegunda, é a religião que, tendo como alicerce a mentira que Satanáscontou primeiro a si mesmo e, depois, a nossos pais, no Éden, vemdesdobrando-se em seitas que, rapidamente, ganham foros de religião.

Diante de nossa responsabilidade espiritual, enfatizo, existem apenas

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duas alternativas: ou adoramos a Deus, que é a religião pura e imaculada;ou adoramos a nós mesmos e ao Diabo, que é a religião impura e maculadapela mentira, pelo pecado e por uma rebelião interminável contra o DeusÚnico e Verdadeiro.

III. Como Evangelizar os Religiosos Tendo como exemplo a ação evangelística de Jesus, vejamos como

expor o Evangelho aos religiosos. 1. Não discuta religião. Ao receber Nicodemos, na calada da noite, o

Senhor Jesus não perdeu tempo discutindo os erros e desacertos dojudaísmo daquele tempo. De forma direta e incisiva, falou àquele príncipejudaico sobre o novo nascimento (Jo 3.3). Sua estratégia foi certeira. Maistarde, Nicodemos apresenta-se voluntariamente como discípulo doSalvador (Jo 7.50; 19.39).

Em vez de contender com os religiosos, exponhamos-lhes que Cristo é aúnica solução à humanidade caída e carente da glória de Deus.

2. Não deprecie religião alguma. Em seu encontro com a mulhersamaritana, Jesus não depreciou a religião de Samaria, nem sublimou a deIsrael, mas ofereceu-lhe prontamente a água da vida (Jo 4.10). A partir daconversão daquela religiosa, houve um grande avivamento na cidade,repercutindo pentecostalmente em Atos (At 8.5-14).

Se depreciarmos a religião alheia, não teremos tempo para falar deCristo, pois a evangelização exige ações rápidas e efetivas.

3. Mostre a verdadeira religião. Sem ofender a religiosidade de seus

ouvintes, mostre, em Jesus Cristo, a verdadeira religião. Foi o que Paulo fezem Atenas. Tendo como ponto de partida o altar ao Deus Desconhecido,anunciou-lhes Cristo como o único caminho que salva o pobre e miserávelpecador (At 17.26-34).

Se agirmos assim, teremos êxito na evangelização dos católicos,espíritas, judeus, muçulmanos, ateus e desviados.

IV. Ateu, Sim, Graças a Deus

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Como evangelizar alguém que diz não acreditar em Deus? Antes detudo, não percamos tempo em provar-lhe a existência do Criador, pois nãohá criatura moral que ignore a presença divina na criação. Por isso,adotaremos os seguintes passos na evangelização de um ateu.

1. Fale de Cristo, em primeiro lugar. O problema do ateu não é a

descrença na existência de Deus, mas a sua crença em Jesus Cristo. Via deregra, quem se deixa enganar pelo ateísmo destaca Jesus como um líderreligioso, mas o ignora como o fundamento da verdadeira religião. Poresse motivo, proclame Jesus, logo de início, como a única esperança quetem o homem neste mundo. Evite discussões acadêmicas, pois taisesterilidades jamais levarão o incrédulo aos pés de Cristo.

Se bem evangelizado, o ateu saberá que está em perigo. Conscientize-o,então, de que a sua descrença quanto à existência de Deus não o livrará doJuízo Final. Seja direto e claro na exposição da mensagem da cruz.

2. Veja o ateu como alguém que precisa de Cristo. Na evangelização

de um ateu, temos a tendência de olhá-lo como um pecador diferenciado,em razão de sua loquacidade. Na verdade, trata-se de um pecador como osdemais. Seu aparente intelectualismo é um verniz tão no, que não resisteao primeiro golpe da espada do Espírito. Mesmo que não venha aconverter-se, a marca do evangelho tornar-se-á indelével em sua alma.

Não nos preocupemos em fazer-lhe a apologia da existência divina,porquanto o evangelho, em si, já demonstra cabalmente a realidade de umDeus bom, justo e amoroso; a verdade quanto ao pecado e à condenação dopecador; a e cácia da obra de Cristo; e o destino dos que rejeitam o Filhode Deus. Logo, seja amoroso, mas rme, na exposição da mensagem dacruz.

V. Católicos, Cristãos à Procura do Cristianismo Embora nominalmente cristãos, os católicos acham-se presos à

idolatria, ao misticismo e, boa parte deles, a um perigoso sincretismo. Porisso, em sua evangelização, não ofenda Maria, nem os santos veneradospor eles. Evite apontar a igreja evangélica como superior à católica. Antes,exponha-lhes Jesus como o caminho, a verdade e a vida (Jo 14.6; Hb 13.8).

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Na evangelização de um católico, observe os seguintes pontos. 1. Apresente Jesus como o único mediador entre Deus e os homens.

Se soubermos como expor-lhe Jesus como o único medianeiro entre opecador e o Deus amoroso, porém justo, nem precisaremos falar sobre ainutilidade dos ídolos (1 Co 8.4). Mostre-lhe que o Filho é o únicocaminho que nos leva ao Pai.

No entanto, se o seu interlocutor arguir-lhe a respeito da idolatria, nãobusque uma resposta socialmente correta; seja verdadeiro. No ato daevangelização, a verdade é o diferencial entre a salvação e a perdição deuma alma.

2. Não fale mal de Maria, mãe de Jesus. Por mais de quatrocentos

anos, Maria foi vista pelos cristãos como a Bíblia no-la apresenta: serva deDeus e mãe de Jesus Cristo. Fugindo à divinização, ela se confessanecessitada do Salvador, que trazia no ventre (Lc 1.46-56). Por ela, Jesustambém morreu. Portanto, se lhe fôssemos escrever a biogra a, usaríamosapenas nove palavras: Maria foi a cristã mais exemplar da HistóriaSagrada.

A partir do quinto século, a imperatriz consorte do Império Romano doOriente dá início ao culto mariolátrico, que viria comprometer a teologiade boa parte da cristandade. Élia Pulquéria muito se empenhou para queMaria fosse reconhecida como Em grego, a expressão significamãe de Deus. Por meio desse subterfúgio, guindava-se Maria a umaposição superior a do próprio Deus.

Desde então, o culto de Maria toma conta da igreja católica e até doislamismo. Aliás, Maria é mais citada no Corão do que em o NovoTestamento. Por esse motivo, na evangelização de um católico, não ofendaa mãe de Jesus que, por sinal, foi salva como também o fomos. Antesmostre o Filho de Maria como o único mediador entre Deus e os homens.Para os católicos, Maria é mãe; para nós, uma irmã em Cristo que, noarrebatamento da Igreja, experimentará os poderes da ressurreição.

3. Não apresente a igreja evangélica como superior à católica.

Lembre-se, não estamos promovendo uma guerra religiosa, mas falandodo amor de Cristo a um grupo que, embora se declare cristão, está longe do

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verdadeiro Cristo. Por isso mesmo, não mostre a igreja evangélica como sefora superior à católica. Mas não deixe de convidar os adeptos doromanismo a visitar a sua igreja.

VI. Espíritas, a Eternidade Presa no Tempo Na evangelização dos espíritas e dos adeptos dos cultos afros, não os

ofenda, dizendo que tais religiões são demoníacas e inspiradas porSatanás. Mas, com amor e sabedoria, convença-os, pela Bíblia, de que aoshomens está ordenado morrerem uma única vez, e que o sacrifício de JesusCristo é su ciente para levar-nos ao Pai (Hb 9.27; 1 Pe 3.18). Considere,ainda, estes pontos:

1. Valorize a fé, mas não desquali que as boas obras. O espiritismo

notabiliza-se por entidades lantrópicas por todo o Brasil. Por isso,quando formos evangelizar um de seus adeptos, sejamos prudentes aofalar-lhe sobre a salvação pela fé. Mostre-lhe que as obras, em si, sãoinsu cientes para salvar-nos. Acrescente, porém, que, pela fé em JesusCristo, fomos chamados às boas obras, pois estas evidenciam a con ançaque depositamos em Deus.

Evite discussões e contendas, pois estas nos afastam de nosso verdadeiroalvo: levar o evangelho de Cristo a todos, em todo tempo e lugar, por todosos meios.

2. Não ofenda as religiões espíritas e africanas. Todos sabemos quetanto o espiritismo quanto os cultos afros não provém de Deus. Seusadeptos, porém, não o sabem. Por isso, não devemos desmerecer-lhes ascrenças, dizendo que eles servem aos demônios. Se formos habilidosos naexposição da Palavra Deus, eles não demorarão a concluir o óbvio.

3. Não tenha medo dos espíritas e dos adeptos dos cultos afros. Há

crentes que, apesar de já haverem experimentado os poderes do mundovindouro, ainda demonstram um pavor injusti cado quanto às práticasespíritas e aos cultos afros. Tal medo, porém, impede-nos de evangelizar osdiscípulos de Alan Kardec e os herdeiros da mitologia africana que, emnosso país, espalham-se de norte a sul. Por esse motivo, deixemos de ladoesses temores, e, com amor e prudência, falemos de Cristo a todos, sem

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marginalizar este ou aquele grupo.Respeitosamente, mas de maneira clara, objetiva e bíblica, levemos a

mensagem da cruz a esses grupos religiosos que, supondo adorarem aDeus, afastam-se cada vez mais do Amado Senhor.

VII. Muçulmanos, uma Seita que se Fez Religião Aquele meteorito poderia ter caído na Pérsia, no Japão ou em

Jacarepaguá, onde moro. Ironicamente, veio a chocar-se no chãoextremoso e quente de Meca. O evento causou muita estranheza e temor.Aturdidos, indagavam os lhos de Ismael: “O que é isso? Um mimo dosdeuses? Mas de qual deles?”. Pois, na cidade, sobravam deuses e faltavagente. Ao todo, 360. Um para cada dia do ano lunar. Havia inclusive umaltar a Al-Ilah, o Deus Desconhecido dos árabes.

Como ninguém sabia de qual deus proviera a tal rocha, se deste, sedaquele, os moradores de Meca houveram por bem venerar a todos. Emredor do sidéreo, ergueram um nicho para cada um de seus deuses.Imaginavam eles que, desse jeito, não haveria ciúme, nem desavença nopanteão. Parece que o arranjo deu certo.

1. A displicência cristã ante o fenômeno muçulmano. Os cristãos de

Meca nenhuma importância deram ao fenômeno. A nal, não era aprimeira vez que um meteorito despencava do céu. Se houvesse, porém,algum discernimento entre aqueles crentes, todo o sistema idolátrico deMeca teria vindo ao chão. Infelizmente, tinham eles outras prioridades.

Se os leigos nada zeram, onde estavam os teólogos? Enquanto osárabes de niam-se religiosamente, os doutores da igreja ainda se achavaminde nidos quanto à natureza de Cristo. Atentemos a um fato curioso eprosaico. Foi entre os dois concílios eclesiásticos, que tiveram por sede acapital do Império Bizantino, que o Islã foi semeado, orescendorapidamente pelo Oriente Médio, até frutificar às portas de Bizâncio.

2. O descaso dos concílios. No Segundo Concílio de Constantinopla,

reunido em 553, os teólogos mais destacados da Igreja condenaram adoutrina de Orígenes e os escritos de Nestório. Só não condenaram aprópria inércia. Virgílio, apesar de sua proeminência, nenhuma atenção

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deu à evangelização daqueles gentios. Ele bem que poderia ter sugerido oenvio de missionários à Península Arábica. E, dessa forma, evitar que oIslã achasse um berço tão promissor. Maomé ainda não era nascido; areligiosidade de Ismael, porém, já havia sido dada à luz.

Passados 127 anos, os chefes da Igreja voltam a reunir-se emConstantinopla. A essas alturas, o islamismo já fronteirava a sé cristã doOriente. Mais uma vez, nenhuma menção é feita ao novo e incontrolávelfenômeno religioso. A impressão que se tem é que aqueles teólogos, apesarde sua proverbial erudição, viviam à margem da história. Solenementecongregados, limitaram-se a dogmatizar as duas naturezas de Cristo, e acondenar o monotelismo. Que a medida fosse urgente, não se discute.Discutível era a sua postura missionária, pois a verdadeira teologia sempreresulta na salvação de almas.

Agatão, a gura de proa desse concílio, nada fez para evangelizar osárabes. Antes, desperdiçou o seu ponti cado em amenidades. Aparou asfarpas do clero inglês, elevou o bispado da Irlanda, fortaleceu o papado,entre outras fatuidades. O Taumaturgo, como era conhecido, poucaimportância deu à obra missionária.

3. A expansão do Islã. Se os teólogos cristãos ainda se debatiam quanto

à dupla natureza de Cristo, os árabes já não tinham qualquer dúvida sobreos dogmas do Islã. Para eles, Maomé já era um profeta maior que Jesus.Dessa forma, o meteorito, que poderia ter servido de contato para seapregoar o evangelho às tribos ismaelitas, converteu-se numa pedra detropeço para o cristianismo.

De Meca, o astuto Maomé arrancou os nichos de todos os deuses,inclusive do Deus desconhecido. Jeitosamente, plasmou Al-Ilah à suaimagem e semelhança, dando-lhe a alcunha de Alá. Quanto ao meteorito,em vez de ir parar num museu de história natural, ei-lo na Kaabah, o maiorcentro da peregrinação islâmica.

Em Atenas, deparara-se Paulo com uma situação semelhante. Havia, ali,um retiro para cada divindade do Olimpo e um altar consagrado ao DeusDesconhecido. A partir desse elo, o apóstolo acorrenta os gregos com oevangelho de Cristo. Nem os lósofos deixaram de ouvir a proclamação daPalavra de Deus. Paulo soube como fazer teologia entre os que seagarravam à mitologia.

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4. A dormência da academia evangélica. O que muitos acadêmicos

evangélicos fazem, hoje, não é a teologia salvadora. Reúnem-se paradiscutir temas periféricos, que nenhuma edi cação trazem. O problemaagrava-se quando se ajuntam, a m de realçar suas posições doutrinárias.Nesses encontros, que mais parecem uma Babel e em nada lembram oCenáculo, os evangelistas não têm vez, nem voz. Enquanto isso, as forçasdo mal vão a galope conquistando terrenos que antes pertenciam à Igrejade Cristo.

Conta-se que, enquanto os comunistas tomavam a Rússia, o cleroortodoxo discutia a indumentária de seus padres. Entretidos, não orarampela nação, não expuseram o evangelho, nem se congregaram em vigília.Veio, então, o comunismo, levando muitos padres, rabinos e pastores àmorte. Diante do martírio, viram-se eles constrangidos a reconhecer aveleidade de seus concílios.

5. O triste exemplo de Bizâncio. Não podemos agir como Bizâncio.

Em suas digressões teológicas, veio a ignorar as almas que, diariamente,despencavam no inferno. Para o clero bizantino, a mensagem da cruznenhum valor tinha. O resultado não poderia ter sido mais trágico. No anode 1453, os turcos otomanos, empunhando a bandeira do Islã, entram emConstantinopla e subjugam a cidade que abrigara concelhos, mas que jánão tinha conselho algum aos éis. Hoje, as paredes da Igreja de SantaSo a expõem a vaidade de um clero que, diante do clamor do mundo,ainda se digladiava quanto à cristologia simples, porém e caz do NovoTestamento. Sim, algo tão singelo que qualquer criança da EscolaDominical define com mestria e largueza.

Quando não pregamos, as pedras clamam. E, às vezes, de forma violenta.6. Cristo aos refugiados muçulmanos. Enquanto escrevo estas linhas

(22 de março de 2016), recebo a notícia de que a Europa acaba de sofrermais um ataque do Estado Islâmico. Segundo as últimas notícias, homens-bombas explodiram-se no aeroporto de Bruxelas, matando e ferindoindistintamente adultos e crianças.

Ao mesmo tempo, continuam a chegar, aos países europeus, refugiadosda Síria, do Iraque, do Paquistão e da Líbia. São milhares de pessoasdespojadas de sua nacionalidade, cultura, língua e lar. E, como a maioria

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delas é muçulmana, passam a ser vistas com suspeição onde, depois demuito esperar, talvez encontrem algum refúgio.

No Brasil, principalmente em São Paulo, o número de refugiadosmuçulmanos não é pequeno. Por isso, temos de vê-los como um campomissionário que veio até nós. Se agirmos com amor e oportunidade,haveremos de ganhar muitos desses exilados para Cristo. E, mais tarde,voltarão eles aos seus países de origem como missionários. O momentonão pode ser desperdiçado. Os muçulmanos necessitam tanto de Cristocomo os religiosos de outros grupos e etnias.

VIII. Evangélicos sem o Evangelho de Cristo É chegado o momento de evangelizarmos um grupo que, embora se

identi que como evangélico, acha-se, por um lado, distanciado doevangelho; e, por outro, distante do verdadeiro evangelho. Re ro-me aosdesviados, aos desigrejados e aos que frequentam a maioria das igrejas que,de evangélicas, têm apenas o rótulo.

1. Desviados, ovelhas que se desgarram de seu pastor. Boa parte dos

evangélicos que, pejorativamente, chamamos de desviados, jamais foramintegrados plenamente à igreja visível. No ato de sua conversão, foramrecebidos imediatamente pela Igreja Invisível. E, invisíveis, permaneceramentre nós à espera de uma inclusão que não veio. Por isso, deixaram o“nosso rebanho”, a fim de se agregarem a outros apriscos.

Sim, já é hora de buscarmos a centésima ovelha que, a essas alturas, jádeve ser a milionésima, pois, todos os dias, milhares de preciosas almasdeixam nossos redis, e não o percebemos. Cristo as ganha; nós asperdemos.

2. Desigrejados, ovelhas que não querem um pastor. Cresce o

número de evangélicos que, apesar de amarem a Cristo, vieram a desamar aigreja local. São pessoas que se decepcionaram com o lado visível do povode Deus. Não é fácil contatá-las, nem trazê-las de volta ao redil. Todavia,não podemos deixá-las sem o calor de nossa comunhão, pois, com otempo, esfriar-se-ão na fé.

Dediquemos atenção e tempo a essas ovelhas que, amando o Bom

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Pastor, ainda não aprenderam a amar-lhe o rebanho. Se as convidarmos aestar conosco, em breve hão de desfrutar de nossa afeição. Não será difícilencontrá-las; seus nomes acham-se nos róis de nossas igrejas.

3. Evangélicos sem o evangelho, ovelhas sem pastor. As igrejas

evangélicas midiáticas acabaram por gerar um tipo de crente vazio deCristo, mas cheio de fórmulas mágicas. Doutrinado a contribuir em buscade um favor divino, apega-se ao terreno, como se a sua vida fora perpetuar-se no tempo, sem nenhuma perspectiva da eternidade.

Desprovidos do evangelho, os tais evangélicos são tão idólatras quantoos católicos. Se estes têm os seus santos, aqueles santi cam de tal forma osseus estimados e infalíveis líderes, que os colocam acima do próprio Deus.Sem esboçar a mínima reação, são submetidos a uma lavagem cerebral que,num primeiro momento, despoja-os de seus bens; num segundo, de suavontade; e, num terceiro, da própria alma. Além dessa idolatria, essasovelhinhas são sincréticas em sua boa fé. Em vez de atuarem como o sal daterra, contentam-se elas com o sal grosso vendido a preço de ouro.

Recuando às práticas mais trevosas e medievais, os evangélicosnominais praticam uma fé alicerçada em fórmulas mágicas, relíquias eindulgências. Para eles, a fé não é apenas um ópio, mas uma droga que osmantém afastados da realidade divina e alienados quanto à verdadeira fé.

É hora de evangelizarmos os que, dizendo-se crentes, ainda não creemcomo devem crer; identi cando-se como salvos, ainda nãoexperimentaram a alegria da salvação em Cristo; presumindo-se nascidosde novo, sequer foram gerados pelo Espírito; e, achando-se pentecostais,perdem-se num perigoso e nefasto misticismo. A esses, pois, apregoemosque Jesus, e tão somente Jesus, salva, batiza com o Espírito Santo, cura asenfermidades e que, em breve, há de voltar para levar-nos a estar com Elepara sempre.

Conclusão Aproveitemos, pois, as oportunidades. Anunciemos a Cristo a tempo e

fora de tempo. Ao nosso redor, há muitos pontos de contato que podem seraproveitados para falarmos do amor de Deus ao vizinho, ao colega detrabalho, ao companheiro de estudos e ao transeunte que, atribulado e semdireção, perambula por nossas ruas.

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Se proclamarmos o evangelho conforme o Senhor nos ordena, em brevealcançaremos os con ns da Terra com a mensagem de salvação. Cristo, aRocha Eterna que desceu do céu para fazer-nos subir ao Pai.

Deixemos bem claro, principalmente aos que se dizem religiosos, quesomente o Senhor Jesus, o autor e fundamento da verdadeira religião, éque pode salvar-nos da perdição eterna.

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AEvangelizaçãodas Crianças

Introdução Conta-se que, após um evento evangelístico, alguém indagou a Dwight

L. Moody quantas vidas ele ganhara para Cristo naquele dia. “Duas emeia”, respondeu o famoso evangelista. A pessoa sorriu e disse: “Entendo,o senhor quer dizer dois adultos e uma criança”. “Não”, replicou Moody.“Foram duas crianças e um adulto.”

O que o fervoroso evangelista estava dizendo é que, ao trazer duascrianças a Cristo, ganhara duas vidas inteiras para o serviço do Senhor, aopasso que o adulto, talvez na metade de seus anos, podia dedicar-lheapenas meia vida.

I. Por que Evangelizar Crianças Se há um departamento na igreja que demanda gastos e esforços é o

Departamento Infantil. Será que vale a pena? Por que investir tanto naevangelização de crianças? Existem bases bíblicas para o evangelismo

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infantil? Sim, todo esforço e investimento são válidos para trazer a Cristoos pequeninos por quem Ele deu a própria vida.

1. É ordem divina. Desde os tempos do Antigo Testamento, o

doutrinamento infantil mereceu especial atenção de Deus e de seussacerdotes e profetas. A ordem era que se incutisse na criança oconhecimento de Deus. Em o Novo Testamento, não são poucas aspassagens que ordenam a evangelização dos pequeninos, e a maioriadessas ordens partiu do próprio Senhor.

Todo crenteestá pronto a recitar o “Ide” de Jesus: “Ide... pregai o evangelho a todacriatura” (Mc 16.15). Poucos, porém, já pensaram no signi cado de “todacriatura”. A maioria se esquece de que a criança é também criatura de Deuse está incluída nessa ordem, juntamente com os adolescentes, jovens,adultos e idosos.

“Deixai vir a mim ospequeninos” (Mc 10.14, ARA). Juntamente com o convite aos pequenos,estava a ordem do Mestre para que não fossem impedidos de se aproximar.Quase posso ver os discípulos, que antes proibiam a abordagem dascrianças, agora lhes abrindo passagem na multidão. Imagino Pedrotomando, em suas mãos rústicas de pescador, a mãozinha gorducha de ummenininho e trazendo-o ao Salvador.

Estamos fazendo assim em nossas igrejas? Estamos abrindo caminhopara os pequeninos, oferecendo-lhes as melhores salas da EscolaDominical, bons professores e material didático? Não fazer isso seriaembaraçá-los em seu caminho para Cristo.

Pastores e líderes, tomemos os pequeninos pelas mãos e levemo-los aoSalvador. Como? Projetando os templos de modo a oferecer espaço aoaprendizado infantil, investindo na especialização de obreirosinteressados na salvação de crianças, adquirindo material apropriado aoevangelismo infantil, e realizando programações especiais voltadas a essafaixa etária.

Sigamos o modelo de Jesus. Nas sinagogas, no Templo, nas aldeias e nasresidências, as multidões o cercavam. Pobres e enfermos o buscavam,famintos de suas palavras. Sábios e incultos ouviam com avidez a sua

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doutrina. Doutores da Lei o questionavam. Publicanos, escribas, sacerdotese governantes queriam ouvir-lhe a opinião. Contudo, o Mestre dos Mestresnão se esquecia dos pequeninos. ordenava ele,pegando-os no colo, abençoando-os, e garantindo que o Reino do céu lhespertencia (Mc 10.13-16). Penso que eram as crianças quem mais vibravamcom as parábolas do Mestre. Quanto não se emocionaram com a históriada ovelhinha perdida! Parece que as vejo olhando o céu, acompanhando ovoo das andorinhas, ou admirando o colorido dos lírios, enquanto oSenhor as ensinava a descansar no cuidado do Papai do Céu. Retornandoàs suas brincadeiras, levavam no coraçãozinho a certeza de que, para Deus,valiam mais que as ores e os pássaros. E que surpresa deliciosa terem sidotomadas como exemplo para os adultos, que deveriam tornar-se humildescomo elas para herdarem o Reino dos céus! (Mt 18.1-6).

“Assimtambém não é vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um destespequeninos se perca” (Mt 18.14). Sim, a vontade de Deus é que todas sesalvem e venham ao conhecimento da verdade (1 Tm 2.4). Para isso, Eleenviou o próprio Filho Jesus.

2. Prevenção da rebeldia nas gerações vindouras.

Não os encobriremos aos seus filhos, mostrando à geração futura oslouvores do Senhor [...] Porque ele [...] ordenou aos nossos pais que a

zessem conhecer a seus lhos, para que a geração vindoura asoubesse, e os lhos que nascessem se levantassem e a contassem aseus lhos; para que pusessem em Deus a sua esperança [...] e nãofossem como seus pais, geração contumaz e rebelde... (Sl 78.4-8) A ordem de Deus era que o seu conhecimento fosse transmitido às

crianças, e estas, quando crescessem, o zessem a outras. Esse era, e aindaé, o modo de se prevenir o declínio espiritual das gerações vindouras.Atente para a possibilidade que havia de o povo de Deus seguir nas pisadasin éis de seus antepassados. Se o conhecimento de Deus não for bemcimentado na presente geração, para que esta o comunique à próxima, asgerações futuras serão contumazes e rebeldes (v. 8).

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II. Criancinhas Podem Crer em Jesus e Recebê-lo como Salvador Uma dúvida de muita gente, inclusive de pessoas que trabalham com

crianças é: Uma criança pode crer em Cristo e ser salva? Sim. A Bíblia nosmostra, e a experiência o comprova, que os pequeninos crer em Cristo, e recebê-lo como Salvador. Sobejam os testemunhos devalorosos servos de Deus, que tiveram um encontro real com Cristo em suainfância e permaneceram éis ao longo de suas vidas, fazendo grandescoisas para o Reino de Deus.

Quem não se emociona, por exemplo, com a história de AmyCarmichael, a missionária irlandesa que serviu ao Senhor na Índia, e quelivrou do paganismo hindu centenas de pequeninos? Com apenas cincoanos, Amy compreendera sua necessidade de um Salvador que a livrasse dopecado, e reconhecera em Cristo esse Salvador, recebendo-o em seucoração. Sua experiência fez com que jamais desprezasse uma conversãoinfantil. Ao contrário, empenhou-se na salvação de crianças e, apóstestemunhar tantas almas infantis rendendo-se a Cristo, escreveu: “Até ospequeninos podem crer no Filho de Deus e recebê-lo como Salvador”.

É a Bíblia, porém, que garante a salvação de crianças. 1. Os pequeninos creem em Cristo. “E Jesus, chamando uma criança, a

pôs no meio deles e disse: [...] Mas qualquer que escandalizar um destespequeninos que creem em mim...” (Mt 18.2,6). O Senhor, que sondamentes e corações, e conhece a fé e a con ança das crianças, estavatestemunhando a capacidade dos pequeninos de crerem nEle. E pelo queobservamos no relato de Marcos, a criança que Jesus tomou para exemploera pouco mais que um bebê, porque foi pega no colo. “E, lançando mãode uma criança, pô-la no meio deles e, , disse-lhes...” (Mc 9.36, grifo nosso). Era um menino, ou quem sabe uma menina,ainda na primeira infância, mas a sua tenra idade não foi obstáculo paraque cresse em Cristo.

2. As crianças das cartas bíblicas O apóstolo Paulo inicia a epístola

aos Efésios saudando os “ que estão em Éfeso e ” (Ef 1.1, grifo nosso). E ao nal, após haver admoestado os cônjuges,

recomenda às crianças: “Vós, lhos, sede obedientes a vossos pais” (Ef

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6.1). A carta destinava-se também às crianças, e estas foram chamadas, naintrodução, de e .

João, em sua primeira missiva, não apenas se lembra dos pequeninoscomo ainda dá testemunho de seu relacionamento com Deus: “Filhinhos,eu vos escrevi, porque conheceis o Pai” (1 Jo 2. 14, ARA). “Filhinhos”, dogrego , signi ca criança muito nova, infante, nenê. Quem aindaduvida de que uma criança possa experimentar a regeneração?

3. Outros exemplos bíblicos. Encontramos na Bíblia crianças que

aceitaram a salvação e permaneceram rmes na fé. Um grande exemplo éo menino Timóteo, que, pequenino ainda, aprendeu, com a mãe e a avó, assagradas letras que o tornaram sábio para a salvação. Ao ouvir o evangelhopor intermédio de Paulo, aceitou prontamente Cristo, tornando-se útil aoReino de Deus (2 Tm 1.5; 3.14,15). No Antigo Testamento, encontramoscrianças como Samuel, que serviu ao Senhor desde que fora desmamado (1Sm 2.11,18,26), além de Miriã, irmã de Moisés, e a escrava de Naamã.

Ao entrar triunfalmente emJerusalém, o Mestre foi aclamado pelas crianças que gritavam “Hosana aoFilho de Davi!” (Mt 21.9,15). Questionado pelos indignados sacerdotes eescribas, o Senhor Jesus contestou: “[...] nunca lestes: Pela boca dosmeninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor?” (Mt 21.16).

“Naquele tempo,respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra,que ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aospequeninos” (Mt 11.25). Ao longo desses anos de evangelismo infantil,vimos muitas crianças a quem as verdades eternas foram reveladas antes deo serem aos seus pais. São muitos os lares onde as crianças são as primeirasa compreender e a receber o mistério oculto de Deus — Cristo, que agorafoi manifesto aos santos (Cl 1.26; 2.2). Depois, com oração e testemunhopessoal, elas trazem a Jesus os pais e os irmãos mais velhos.

III. Sem Jesus, a Criança Perder-se-á Cremos na salvação de crianças, e cremos igualmente em sua perdição.

Sabemos que uma criança pode reconhecer-se pecadora, crer em Jesus

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como salvador, recebê-lo pela fé e ser salva, porque o próprio Jesus fala dospequeninos que creem nEle. Mas sabemos também que uma criança podeperder-se, porque:

1. A criança nasce em pecado e herda uma natureza pecaminosa

“[...] todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23).Todos, sem distinção de sexo, raça ou idade, estão igualmente separados deDeus, aquém da perfeição divina. Pelo pecado de Adão no Éden, todos jánascemos propensos ao mal; herdamos uma natureza moral corrupta, compropensão a seguir o próprio caminho egoísta, indiferentes a Deus e aopróximo (Rm 3.10-12).

2. O coração do homem é mau desde a infância. Davi reconhece isso

em Salmos 51.5, quando declara “Eis que em iniquidade fui formado, e empecado me concebeu minha mãe”. E em Salmos 58.3, ele corrobora a ideiade que o coração do homem é desviado desde o ventre: “Alienam-se osímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, proferindomentiras”.

3. A alma da criança está em perigo. “[...] não é da vontade de vosso

Pai celeste que pereça um só destes pequeninos” (Mt 18.14, ARA). Por queJesus diria isso se não houvesse a possibilidade de os pequeninos seperderem? Sua declaração leva-nos a crer que a alma infantil está emperigo.

Alguém, pensando naquele bebê lindo e angelical, dirá: Sim, ele é inocente. Mas

apenas no sentido de que ainda não tem consciência do pecado, por sermental e moralmente incapaz de reconhecê-lo. Embora portador dopecado original, ainda não tem o pecado experimental. Dizemos, por isso,que a criança está na “idade da inocência”, fase em que se acha amparadapela graça de Deus, pois conforme Atos 17.30, “não levou Deus em contaos tempos da ignorância” (ARA). Se ela vier a morrer ainda nesse estado,irá para o céu — não porque não peca, mas porque a graça divina lhe dácobertura. Todavia, a partir do momento em que passa a distinguir entre obem e o mal, torna-se culpada de seus erros e enquadra-se no restante doversículo: “[...] agora, porém, noti ca aos homens que todos, em toda

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parte, se arrependam” (At 17.30, ARA). A pergunta mais frequente aotratarmos deste assunto é:

A resposta é . Algumascrianças evoluem mentalmente mais cedo; outras demoram mais. Não sepode prever quando uma criança terá consciência do certo e do errado.

Entretanto, temos observado sinais de rebeldia e agressividade emcrianças bem pequenas ainda. Quem já não viu um pequerrucho enfrentara mãe com a mãozinha levantada? Ou atacar o amiguinho com chutes emordidas? Ainda rimos de nosso neto Filipe, que, com um ano e meio, aoser contrariado pela mãe, atirou longe um carrinho de minha coleção e

cou esbravejando: “Vovozinho tisti! Vovozinho tisti!” A sua intenção eraclara: se a mãe não lhe permitisse fazer o que queria, ele faria algo paradeixar triste o avô. Noutra ocasião, ele foi mais longe: rasgou e jogou aochão o desenho que pintara na Escola Dominical, gritando: “Papai do Céutisti!” Ah, pecadorzinho de nascença!

Mas como saber se o pequenino que assim procede está apenasexpressando seus sentimentos, sem intenção malé ca, ou se temconsciência de que está sendo mau? Uma das evidências mais claras de quea criança já faz distinção entre o certo e o errado é quando ela começa aocultar dos pais os seus atos. Com apenas três anos, a nossa pequena Karenlevava beliscões do irmão, fazendo carinha de anjo — quando estávamospor perto. Mal virávamos as costas, porém, ela revidava com tapas e puxõesde cabelo.

Nosso dever, portanto, é encaminhar nossos lhinhos a Jesus o maiscedo possível, pois se um deles, conhecedor do bem e do mal, morrer semque haja recebido Cristo como Salvador, estará partindo sem salvação.

IV. A Infância É Solo Propício“E Jesus, chamando uma criança, a pôs no meio deles e disse: Em

verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos zerdes comocrianças, de modo algum entrareis no Reino dos céus” (Mt 18.2,3). Porque o adulto deveria tornar-se como criança para ser salvo? Não seria porque o coração infantil é terra virgem e fértil, livre de pedregulhos e ervasdaninhas? É solo propício ao plantio.

1. A sensibilidade e a humildade infantis. Ao contrário do adulto, que

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tem o coração calejado, endurecido pelo engano do pecado (Hb 3.13), acriança é sensível. Seus olhos e ouvidos estão mais atentos às coisasespirituais que os de um adulto envolvido com as lides deste mundo.Minha esposa já viu crianças derramando lágrimas enquanto lhes expunhao plano da salvação. Elas sentem mais facilmente a sua condição depecadora e comovem-se com o gesto redentor de Cristo. E em suahumildade, não se envergonham de reconhecer os próprios pecados,confessar-se pecadoras e abraçar a salvação oferecida pelo Papai do Céuem Cristo Jesus.

2. A con ança infantil. Naturalmente crédula, a criança acredita com

facilidade naquilo que lhe ensinamos. (Portanto, cuidado: não ensinemosnada que precise ser desacreditado mais tarde, ou ela perderá a con ançaem nós.) Em Romanos 10.10, lemos: “[...] com o coração se crê para ajustiça, e com a boca se faz con ssão para a salvação”. É assim que acriança crê — , não apenas com o intelecto.

Lembro-me de quando fomos visitar um vizinho enfermo. Levamos-lheuma Bíblia e falamos-lhe de Jesus, o único caminho para o céu. Oh,quantos argumentos losó cos e mediúnicos tivemos de ouvir! Doeu-noso coração ver aquele pobre homem, temeroso de enfrentar a morte,preocupado em reunir méritos para apresentar-se perante Deus, quandoseria tão fácil e simples crer em Jesus Cristo e aceitar a salvação pelosméritos dEle! Uma criança não teria essa di culdade, porque o seu coraçãoainda é livre das doutrinas falsas, sedimentadas ao longo de umaexistência. Por isso ela crê facilmente no Filho de Deus, e o recebe semquestionamentos.

3. A liberdade infantil. Quem já não ouviu um adulto queixar-se:

“Gostaria de ser crente, mas não consigo deixar o vício”? Quem já não viuadultos comoverem-se com a mensagem da cruz, reconhecerem suanecessidade de salvação, mas não terem coragem de dar um passo paraCristo, por causa de sua situação matrimonial ilegal? Não que Deus não osrecebesse; ao contrário, Deus está pronto a salvar aqueles que se lheachegam (At 2.21). Todavia, a própria pessoa está tão enleada emcaminhos tortuosos que não se decide a sair deles. Outros não vêm a Cristoporque temem ser rejeitados em seu círculo social. A criança está livre

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desses embaraços que estorvam a conversão do adulto. V. Onde Evangelizar Crianças A evangelização infantil pode ser feita em qualquer lugar onde haja

crianças. Podemos alcançá-las promovendo eventos que reúnam milharesdelas, ou pessoalmente, onde quer que se encontrem. Na rua, no ônibus,em ambientes fechados ou ao ar livre, a criança está sempre pronta a ouvira maravilhosa história do amor de Deus.

1. No lar. Conforme enfatizado no capítulo 10, o lar é o primeiro e mais

importante campo evangelístico, onde os pais devem, o quanto antes, levarao Salvador cada um de seus lhos. Esta é uma grande responsabilidade eum glorioso privilégio.

2. Na igreja. Os pequeninos podem ser evangelizados em trabalhos

especí cos, como as Escolas Bíblicas de Férias, os cultos infantis e asclasses da Escola Dominical apropriadas à sua faixa etária. Todos essestrabalhos reúnem crianças com o objetivo de evangelizá-las e admoestá-lasna Palavra. Entretanto, o mais e caz desses trabalhos é a EscolaDominical. Ela acontece todas as semanas, evitando que o professor percade vista as suas crianças. Como bem de niu o Pr. Antonio Gilberto, aEscola Dominical é a maior agência ganhadora de almas do Reino deDeus. E é no Departamento Infantil que vemos mais acentuada essacaracterística. O bom professor não descuida do fato de que, em sua classe,há dois tipos de aluno: o salvo e o não salvo — o que já se decidiu porCristo e o que é apenas lho de crente. Ele sabe que o ensino bíblicoministrado às crianças tem como nalidade primordial salvar-lhes a almae, então, fazê-las crescer na graça e no conhecimento de Deus. Por isso, oprofessor el sempre incluirá em suas lições o plano da salvação e oconvite para receber Cristo.

Contudo, além das atividades especí cas às crianças, os pastores nãodevem esquecer-se delas nas outras reuniões da igreja. Por mais quepareçam buliçosas no banco ou desatentas no colo da mãe, elas estãoouvindo e aprendendo, seja pela pregação da Palavra, seja através doscânticos. O pastor que ama Jesus sempre se dirigirá ao coração dos

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cordeirinhos, a quem Ele mandou apascentar (Jo 21.15) 3. Nas escolas e creches. Há poucos anos, tínhamos, em nosso país, a

liberdade de anunciar o evangelho em escolas e creches, por meio das“aulas de religião”. Era possível, tratando-se previamente com a direçãoescolar, xar um dia na semana para uma aula bíblica. Ouso dizer quemilhares de crianças foram livradas do inferno por cristãos amorosos quese dispuseram a dedicar parte de seu tempo e de seus talentos, trazendo-asa Jesus. Esses piedosos irmãos souberam aproveitar a janela daoportunidade.

Hoje, infelizmente, em nome da “liberdade religiosa”, esse campoevangelístico praticamente deixou de existir. Mas ainda há diretores queresistem às imposições da chamada “pátria educadora” e, se não promovemabertamente o ensino bíblico em suas escolas, ao menos fazem vista grossaaos professores que se dispõem a semear a boa semente. Conhecemosprofessoras valentes que, com sabedoria e respeito, ministram, junto com oensino secular, preciosas doses da verdade divina. Uma delas, por exemplo,apresentou à sua classe de Jardim de Infância o plano da salvação atravésdas cores do Livro sem Palavras. Questionada pela diretora, não titubeou:“Estamos trabalhando as cores, senhora”. A diretora limitou-se a sorrir emenear a cabeça.

Que Deus abençoe essas corajosas evangelistas e lhes faça bem, como ofez às parteiras hebreias, que livraram da morte os bebês israelitas.

E que Deus nos acorde e nos desembarace para que tenhamos nossaspróprias escolas, onde não apenas as nossas crianças estariam abrigadas dadoutrinação do mal, como outros pequeninos poderiam ser alcançadospara Jesus.

4. Orfanatos e hospitais. Visitas a orfanatos, acompanhadas de

doações materiais, ou programações recreativas, são outra forma dealcançar crianças que, talvez, jamais venham a frequentar uma igreja ououvir falar do Salvador. Nos hospitais, em uma visita rápida e bemplanejada, é possível apresentar Jesus a crianças que estão sofrendo e,assim, impedir que partam deste mundo sem salvação. Além do mais,poderemos orar, rogando ao Pai que, se for da sua vontade, cure-as de suasenfermidades.

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Lembramos que essas visitas só podem ser feitas com permissão dosresponsáveis.

Conclusão O problema da alma infantil é o mesmo da alma adulta: o pecado que a

separa de Deus. O caminho da salvação para ela é o mesmo apontado atodo pecador: Jesus Cristo, o Filho de Deus, morto em nosso lugar eressurreto dos mortos (1 Co 15.3,4). E quem a convencerá de seu pecado eoperará nela o novo nascimento é o mesmo Espírito Santo que age noscorações adultos.

No entanto, a exemplo de Jesus, que tinha uma fala especial a cadagrupo de ouvintes, poderemos chegar mais facilmente ao coração infantilse empregarmos uma linguagem simples e clara, à altura de suacompreensão. Além disso, contamos com recursos didáticos criativos ee cazes na comunicação do evangelho aos pequeninos. A CPAD dispõede amplo material evangelístico infantil, desde histórias ilustradas afolhetos, que podem ser usados no evangelismo pessoal quanto nocoletivo.

Semeemos a boa semente nos corações infantis, antes que o mal sejaneles disseminado, e ela terá maior probabilidade de germinar e fruti carpara Deus.

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O Poder daEvangelizaçãona Família

Introdução Na noite de um domingo comum, um menininho adormece no sofá ao

som da televisão. Aos poucos, deixa a mamadeira escorregar e sucumbe aocansaço do m de semana. Sua família acabou de voltar da igreja. Todosestão cansados e famintos. Tudo o que querem é fazer uma refeição rápida,tomar banho e dormir. A lha adolescente encosta a Bíblia a uma pilha deoutras coisas em seu quarto e vem juntar-se aos pais, diante da televisão,enquanto comem. Eles não se reúnem à mesa. Não agradecem a Deus peloalimento. Não conversam. Pouco depois, o pequenino é posto no berço, jáadormecido. A garota dá um beijo nos pais, antes de se recolher, mas nãolhes pede a bênção.

Na segunda-feira de manhã, como de costume, o pai sai de casaapressado. Lê, sozinho, uma passagem bíblica aleatória, faz uma oraçãocurta e despede-se do lho e da esposa. Como a lha está pronta, ele a levaà escola. Talvez conversem no trajeto, porém é mais certo que elamantenha os olhos na tela do celular, e que ele empreste os ouvidos ao

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programa de rádio, que fala do clima e do trânsito.Em casa, a mãe corre com uma série de afazeres. Ela tem poucas horas

para arrumar a bagunça, e não terá tempo para o bebê, que lhe exigirá todaa atenção. Ela não conseguirá cantar para ele, ou contar-lhe umahistorinha. O dia terminará da mesma forma. E assim será na terça-feira, ena quarta...

I. A Família É uma Igreja A família acima retratada é como muitas que frequentam nossas igrejas.

Uma família normal, dentro dos padrões: pai, mãe e filhos. Todos se achamplenamente familiarizados ao linguajar dos crentes, comportam-se deforma apropriada, amam-se mutuamente, não escandalizam a vizinhançacom gritos e brigas, mas são apenas isto: uma família. Todo o seucristianismo está contido nas paredes físicas do templo onde congregam,quando deveria acompanhá-los aonde quer que fossem, a ponto de fazer-lhes da casa uma igreja — um local onde Deus é adorado, onde a Bíblia éconsultada, onde existe graça e perdão, e para onde correm os vizinhosincrédulos quando precisam de ajuda.

Para que a família cristã funcione como uma congregação doméstica,deve seguir a mesma dinâmica de uma igreja. A igreja tem um líder, que éo pastor. Dele as ovelhas recebem instrução e cuidados. Os membros daigreja, reunindo-se regularmente para cultuar a Deus, promovem açõesevangelísticas, visando integrar outras vidas ao corpo de Cristo. Nostópicos a seguir, veremos como a família cristã atuará para ser, também emcasa, uma igreja evangelizadora.

1. O marido ensina a esposa. Ao contrário do que muitos pensam, a

submissão da esposa ao marido não é um conceito ultrapassado; émandamento bíblico. Deus fez o homem e a mulher com distinções quevão além das que podemos ver na anatomia masculina e feminina. Quantoaos sentimentos e às estruturas psicológicas, o homem e a mulher tambémdiferem. Em 1 Pedro 3.7, vemos a mulher ser descrita como “vaso maisfraco”. Deus criou o homem e a mulher, macho e fêmea (Gn 1.27), paraque formassem a família. E, dentro dessa organização, todos desempenhamum papel muito importante.

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Em Efésios 5.23, o apóstolo Paulo a rmou que a liderança da famíliacompete ao pai: “porque o marido é a cabeça da mulher, como tambémCristo é a cabeça da igreja”. Isso não signi ca que o líder da família estejanuma posição privilegiada, ou que possa esbravejar ordens à esposa e aos

lhos, suscitando-lhes a ira. Contudo, ser o líder, ou , implicaresponder por todos os membros da família.

O chefe da casa tem o dever de ensinar a Palavra de Deus à esposa: “Asmulheres estejam caladas nas igrejas, porque lhes não é permitido falar;mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprenderalguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque éindecente que as mulheres falem na igreja” (1 Co 14.34,35).

Esse versículo de Coríntios não foi deixado à igreja para evitar que asmulheres cooperem ensinando, mas para acentuar que a responsabilidadede seu discipulado cabe antes ao marido que ao pastor. Em troca, a mulherdeve obedecer a Cristo, sujeitando-se à orientação do esposo.

Na função de chefe do lar, o marido ensinará também os lhos a trilharos caminhos do Senhor e será, ele próprio, um exemplo. Os lhos devemobedecer a Jesus submetendo-se à autoridade paterna.

O maior serviço que um homem pode ofertar ao Senhor é o bomgoverno de sua casa. Ao discorrer sobre os deveres dos bispos e dosdiáconos, Paulo advertiu: “Que governe bem a sua própria casa, tendo seus

lhos em sujeição, com toda a modéstia (porque, se alguém não sabegovernar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?)” (1 Tm3.4,5). Nessa mesma carta, disse o apóstolo: “Mas, se alguém não temcuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é piordo que o infiel” (1 Tm 5.8).

2. Os pais ensinam os lhos. O cuidado primordial de todo pai e mãe

para com os lhos deve ser o de ensiná-los no caminho em que devemandar (Pv 22.6).

. Nesta conhecida passagem deDeuteronômio, temos instruções bem claras aos pais:

Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás,

pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, ede todo o teu poder. E estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu

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coração; e as intimarás a teus lhos e delas falarás assentado em tuacasa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por testeirasentre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuasportas. (Dt 6.4-9) Sabemos que os ensinamentos básicos da fé são transmitidos pelas

igrejas. Entretanto, conforme acabamos de ler, devem ser , ou, aos lhos, pelos pais. Amar a Deus de todo coração tem de ser

uma prática indissociável da rotina do lar cristão. Os princípios bíblicosdevem habitar no coração dos pais de tal forma que uam naturalmente desua boca aos ouvidos dos filhos.

. Em um dia normal, a família dispõe deinúmeras oportunidades de falar com Deus, ou de conversar sobre Ele. Afamília pode orar: ao acordar, antes de cada refeição, antes de sair de casa,antes de dormir, ou ao trazer alimentos do mercado. Essas pequenas precespodem ser facilmente ensinadas às criancinhas, que crescerão con andoem Deus e dependendo dEle.

Além das preces vinculadas aos afazeres, a família reservará momentosespeciais para fazer orações especí cas de súplica ou de ações de graças.Esses pedidos, ou agradecimentos, poderão ser feitos nos cultos diários dafamília, conhecidos como “cultos domésticos”.

O culto doméstico deve abranger toda a família e adequar-se à rotina decada lar. Algumas famílias preferem realizá-lo logo pela manhã; outras, ao

nal do dia, ou nos minutos que antecedem a hora de dormir. Oimportante é que esse momento de comunhão seja agradável e envolva atodos. Para tanto, os pais levarão em conta a idade dos lhos e o seudesenvolvimento escolar. Crianças de até seis anos apreciam ouvirpequenas narrativas bíblicas e entoar cânticos infantis. As que já sabem lergostam de participar da leitura alternada de um capítulo da Bíblia. O cultodoméstico pode, ainda, ser enriquecido com a leitura em voz alta de livrosdevocionais, biografias de pessoas piedosas, ou relatos missionários.

Além de agradar a Deus, a devoção em família permite aos paisacompanharem a caminhada espiritual dos lhos, ajudando-os aaprofundar o relacionamento com o Senhor. A responsabilidade de falarde Jesus às crianças cabe primeiramente aos pais e, depois, à igreja. Mesmo

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as que nasceram em lares evangélicos devem ter a oportunidade deconfessar a sua fé em Cristo como o único Salvador. O que o salmista dissesobre si aplica-se a todos, incluindo lhos salvos: “Eis que em iniquidadefui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5).

A preocupação que o apóstolo Paulo tinha pelos seus lhos espirituaisserve de inspiração para que, da mesma forma, ansiemos por vê-losfruti car: “Meus lhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, atéque Cristo seja formado em vós” (Gl 4.19).

Já não seguimos, como os israelitas, omandamento de escrever a lei nos umbrais e portas da casa. Mas podemoster versículos escritos em quadros, espelhos, porcelanas decorativas emesmo utilizáveis. Eles estarão lá, ao alcance dos olhos e da mente, comoum lembrete do bem e da santidade do Senhor. A família acabará pormemorizá-los, e o Espírito Santo os aplicará ao coração de cada um, nomomento oportuno.

Bons lmes evangélicos e música de adoração a Deusdevem fazer parte do repertório de lazer da família. Por meio deles, amensagem de salvação é anunciada e a edificação cristã é solidificada.

II. A Família Evangelista Sinto-me feliz em minha igreja. Os irmãos e irmãs com quem congrego

são realmente povo de Deus. Tenho a alegria de ir com minha família auma igreja onde as pessoas são capazes de rir e chorar juntas. E sabe o queseria perfeito? Tê-los como vizinhos. Imagine um bairro cheio de crentes!As crianças brincariam livres, só haveria rostos alegres pelas ruas ecumprimentaríamos o porteiro do condomínio com a paz do Senhor! Masas coisas não são assim. Pelo contrário! Veja como Paulo descreveu, em 2Timóteo 3.1-5, as pessoas dos últimos dias:

Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos

trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos,presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães,ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores,incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores,

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obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos deDeus, tendo aparência de piedade, mas negando a e cácia dela.Destes afasta-te. Como seguir o conselho do apóstolo, se a nossa rotina em casa e no

trabalho leva-nos à convivência com pessoas que não servem a Deus? Oque quer realmente dizer? A resposta está no Salmo 1: “Bem-aventurado o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem sedetém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dosescarnecedores” (Sl 1.1).

A família cristã deve estar convicta de sua missão na vizinhança: 1) darbom testemunho de Cristo; 2) aproveitar as oportunidades para falar deJesus; e 3) demonstrar o amor de Deus socorrendo os vizinhos em suasnecessidades. Quando os membros da família cristã compreendem que oseu papel na vizinhança não é ser íntimo dos vizinhos, mas evangelizá-los,torna-se mais fácil manter uma postura íntegra e contrastante ao estilo devida mundano.

1. A família evangelista é cortês e cumpre as regras. Ser cortês, ou

afável, é seguir as normas básicas da boa educação. É importante saber onome dos vizinhos e, se você mora em um condomínio, conhecer osfuncionários e cumprimentá-los diariamente. De que adianta a vizinhançatoda ver que a família vai e volta dos cultos com a mesma cara emburrada, ecom os mesmos maus hábitos?

Quanto ao cumprimento das normas, a família cristã deve: manter suacalçada limpa, não colocar o lixo à frente do portão dos vizinhos, não sujaro condomínio, guardar o silêncio nos horários estabelecidos, não piratearsinal de televisão ou de internet, pagar as contas em dia e evitar gritos. E,por que não, ser misericordiosa e fazer o bem aos que nos aborrecem,oferecer a outra face, emprestar ovos ou açúcar, sem esperar em troca umpedaço de bolo (Lc 27.36)?

2. A família evangelista é seletiva e consistente. Ninguém pode

escolher os vizinhos que tem. Mas pode, sim, escolher o relacionamentoque terá com eles. A família evangelizadora será educada, amistosa ereceptiva. Mas haverá momentos em que terá de provar a consistência de

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seu relacionamento com Deus dizendo não a determinados convites. Ofato de gostarmos dos nossos vizinhos não é desculpa para participarmosde bailinhos de carnaval, de festas juninas ou de . Ao sermosconvidados a esses eventos, respondamos gentilmente, em nome de toda afamília, e não inventemos desculpas para a nossa ausência: “Estamosfelizes em receber o convite. Entretanto, a nossa família serve a Jesus e nãoparticipa dessa festa”. Ao recusar um convite desses, não devemos seragressivos, nem atacar a religião dos vizinhos.

A postura seletiva e consistente da família cristã evitará a assimilaçãodos maus costumes e dos valores corrompidos de seus vizinhos. Em Êxodo23.24,25, vemos que esta era uma preocupação de Deus. Ele conhecia orisco que os israelitas corriam de adotar as práticas idólatras dos povosadjacentes. Além disso, a nossa rme decisão de não nos contaminarmos éexatamente o que os vizinhos esperam de uma família proclamadora doevangelho.

3. A família evangelista socorre os vizinhos e leva-os a Jesus. Admita:

Os seus vizinhos parecem tão felizes e realizados, que você já chegou apensar que eles não precisam de Jesus? Que engano terrível! Todosprecisam ouvir as Boas-Novas da salvação, pois todos pecaram e estãoseparados de Deus (Rm 3.23). Embora não exista família perfeita, nementre os crentes, existe uma diferença entre o lar que serve a Cristo eaquele que não o conhece como Salvador: a presença redentora de Jesus.

Em Marcos 2.1,2, lemos: “E, alguns dias depois, entrou outra vez emCafarnaum, e soube-se que estava em casa. E logo se ajuntaram tantos, quenem ainda nos lugares junto à porta eles cabiam; e anunciava-lhes apalavra”. Observe: a vizinhança soube que Jesus estava em casa, e por issoajuntou-se. Dentre aqueles que encheram os cômodos e até o quintal,certamente havia pessoas deprimidas, injustiçadas, com vícios, enfermas einfelizes. Em nossa vizinhança também é assim. E além dos problemasmencionados, também há, entre os nossos vizinhos, gente que pensa estarno caminho certo e que se sente razoavelmente satisfeita com as respostasobtidas na religião que professa. Seja qual for o problema que enfrentam,ou a religião que seguem, todos precisam de Jesus e correrão em buscadEle, tão logo saibam que Ele está em nossa casa. Além do bomtestemunho cristão, a família salva pode evangelizar de forma intencional.

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Considere as sugestões a seguir e pense em outras maneiras de falar deJesus aos vizinhos:

.Prepare uma história bíblica atraente e adequada à idade das crianças.Apresente-lhes, de forma simples, o plano da salvação e pergunte sedesejam aceitar Jesus. Ore com a criança que se decidir. Encerre a reuniãocom brincadeiras e um lanche simples.

Aproveite aniversários e outrasdatas comemorativas para dar cartões, livros e CDs que comuniquem amensagem da salvação. Ao oferecer à família ao lado um pedaço de bolo,entregue junto um folheto evangelístico.

Ao cumprimentar os vizinhos, indague:“Como vai?” A resposta a essa pergunta corriqueira pode surpreender vocêe abrir-lhe uma grande oportunidade evangelística. Escute o problema deseu vizinho e mostre-lhe que achará descanso ao entregar a vida a Cristo.

A maioria não aceitará esse convite, e porisso você precisará repeti-lo diversas vezes. Uma boa tática é aproveitar oscultos de Páscoa, ou natalinos. Em vez de chamar os vizinhos para o culto,convide-os para “assistir a uma apresentação do coral”, ou “uma peçateatral”.

III. A Igreja Vazia Você já entrou em uma igreja vazia? Já teve a oportunidade de percorrer

a nave e a galeria fora do horário dos cultos? Tudo ca diferente. Qualquerpalavra que você diz, por mais que tente cochichar, propaga-se pelo temploe ganha volume graças ao eco. Os passos também podem ser ouvidosenquanto você caminha em direção ao altar. Os bancos reservados aospastores estão vazios. Não há ninguém para ministrar a Palavra. A Bíbliaestá no púlpito, e você pode abri-la se quiser.

Se olhar à direita, verá os bancos do coral. Todos vazios. A acústica daigreja é boa. Você pode arriscar um solo, mas sabe que ninguém se unirá avocê para criar uma harmonia. À esquerda estão os instrumentos. Sem osmúsicos, eles não oferecem acompanhamento. Você tenta um acorde ou

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outro ao piano, bate de leve nas caixas da bateria, e sai pela porta lateral. Opátio da igreja está deserto. Não há crianças correndo, e a cantina estáfechada. Subindo as escadas, você chega a um corredor com muitas portas.São as salas de Escola Dominical. Você não avança porque sabe que asclasses estão trancadas e as luzes, apagadas. De volta à nave da igreja, vocêsente a presença de Deus. Mas você está sozinho, sem amigos paracumprimentá-lo, sem um professor para ensiná-lo, sem um conselheiro,sem um pastor. Você está sozinho na igreja.

Abrimos este capítulo defendendo o conceito do lar como igreja — o larcomo um lugar de adoração, comunhão, cura e salvação. Mas é possívelfazer do lar uma congregação quando você é o único em sua casa que serveao Senhor? Você pode ser um chefe de família crente, mas sua esposa e

lhos não o acompanham em sua jornada cristã. Ou você é a esposa salvade um homem iníquo, ou o lho convertido de pais incrédulos. Seja comofor, a sua igreja, não a que você frequenta, mas o seu lar, está vazia. Osbancos estão lá, esperando que os seus familiares os ocupem. Masenquanto isso não acontecer, você terá de assumir todas as funções:evangelista, recepcionista, professor, pastor, conselheiro, intercessor,cantor e, dependendo do estado em que se encontre a família, ainda fará alimpeza do templo.

Parece que alguns dos novos convertidos de Corinto enfrentavam umasituação semelhante. Em 1 Coríntios 7.12-15, lemos:

Mas, aos outros, digo eu, não o Senhor: se algum irmão tem mulher

descrente, e ela consente em habitar com ele, não a deixe. E sealguma mulher tem marido descrente, e ele consente em habitar comela, não o deixe. Porque o marido descrente é santi cado pelamulher, e a mulher descrente é santi cada pelo marido. Doutra sorte,os vossos lhos seriam imundos; mas, agora, são santos. Mas, se odescrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã,não está sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz. A sensação de estar sozinho, ou o desejo de servir melhor a Cristo, pode

levar o único convertido de uma casa a pensar que deve afastar-se dafamília. O apóstolo Paulo, porém, deixa claro que essa não é a decisãosábia a tomar. O conselho de Paulo a esses crentes concorda com Gênesis

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2.24 e com Marcos 10.2-12, onde Jesus a rma que “qualquer que deixar asua mulher e casar com outra adultera contra ela. E, se a mulher deixar aseu marido e casar com outro, adultera” (Mc 10.12).

1. Instruções ao esposo salvo. O marido convertido, ou a esposa crente,

não deve repudiar os laços matrimonias que estabeleceu antes de aceitarCristo. Contudo, pode se alegrar em saber que a sua presença santi ca ocônjuge e coloca os filhos sob a bênção de Deus.

O marido crente deve amar a esposa conforme instrui a Bíblia:

Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou aigreja e a si mesmo se entregou por ela, para a santi car, puri cando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmoigreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, massanta e irrepreensível. Assim devem os maridos amar a sua própriamulher como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher ama-se asi mesmo. Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne;antes, a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja; porquesomos membros do seu corpo. Por isso, deixará o homem seu paie sua mãe e se unirá à sua mulher; e serão dois numa carne. Grande éeste mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja. Assimtambém vós, cada um em particular ame a sua própria mulher como asi mesmo, e a mulher reverencie o marido. (Ef 5.25-33) 2. Instruções à esposa salva. A esposa crente deve respeitar o marido e

edificar o lar:

Vós, mulheres, sujeitai-vos a vosso marido, como aoSenhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristoé a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorteque, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também asmulheres sejam em tudo sujeitas a seu marido. (Ef 5.22-24)

Toda mulher sábia edi ca a sua casa, mas a tola derriba-a com assuas mãos. (Pv 14.1)

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Além disso, deve zelar por sua conduta, ciente de que o bomcomportamento faz-se mais eloquente que as palavras:

Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas ao vosso próprio

marido, para que também, se algum não obedece à palavra, peloprocedimento de sua mulher seja ganho sem palavra, considerando avossa vida casta, em temor. (1 Pe 3.1,2) 3. Instruções ao lho salvo. O lho convertido pode ganhar os pais

para Cristo honrando-os e portando-se com sabedoria. O fato de nãohaverem aceitado Jesus não dá ao lho o direito de desobedecer-lhes. Aautoridade que os pais exercem sobre os lhos foi estabelecida por Deus. Aquebra desse princípio é pecado e descumpre um dos mandamentos:“Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terraque o Senhor, teu Deus, te dá” (Êx 20.12).

4. Exemplos bíblicos da e cácia da evangelização doméstica. Diante

da salvação de nossos familiares e vizinhos, não podemos agir comdisplicência. Se nos aplicarmos à evangelização doméstica, colheremosexcelentes frutos, como mostram os seguintes exemplos bíblicos:

Jesus Cristo, o missionário porexcelência, não restringiu o seu ministério às multidões. Em Gadara,preferiu investir na salvação de um homem, pois sabia que os habitantesdaquela região, majoritariamente pagãos, não formariam um grandenúmero para ouvi-lo ensinar, nem se disporiam a segui-lo na esperança dever milagres. A estratégia de Jesus para ganhar Gadara foi salvar “umhomem com espírito imundo, o qual tinha a sua morada nos sepulcros, enem ainda com cadeias o podia alguém prender” (Mc 5.2,3).

Ao experimentar a salvação e ao ver-se liberto daqueles demônios, ohomem, revigorado e exultante, quis acompanhar Jesus, segui-lo por ondefosse. Tenho certeza de que, se Cristo lho pedisse, ele percorreria as terrasjá descobertas para partilhar a transformação operada pelo evangelho.“Jesus, porém, não lho permitiu, mas disse-lhe: Vai para tua casa, para osteus, e anuncia-lhes quão grandes coisas o Senhor te fez e como tevemisericórdia de ti” (v. 19).

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A salvação que alcança toda a casa graças a umcrente também é observável no Antigo Testamento. Naamã, general doexército do rei da Síria, era um homem valente, mas leproso (2 Rs 5.1). Emsua casa, vivia uma menina cujo nome não sabemos. Ela fora levada doterritório de Israel pelo exército sírio, e fora feita serva da esposa deNaamã.

Conforme o tempo passou, a menina pôde observar a rotina da família,os modos de sua ama e a forma pela qual cultuava tantos deuses. Quecontraste entre a família de Naamã e essa pequena serva! Como deveria serchocante, para ela, presenciar a idolatria dentro das paredes que aabrigavam. Mas a menina era serva, e era obediente também.

Um dia, a jovem ousou falar. Ela não foi insolente, não quebrou osídolos de sua ama, nem lhe insultou a fé. Sabendo que Naamã era leproso,“disse esta à sua senhora: Tomara que o meu senhor estivesse diante doprofeta que está em Samaria; ele o restauraria da sua lepra” (2 Rs 5.3).

Sendo o único membro da igreja em seu lar, talvez você seja obrigado aver os seus queridos adorando outros deuses, ou até tenha de suportarcomentários e escárnios. Contudo, a história da serva de Naamã ensina quea postura honrosa e obediente é que produzirá cura e salvação. Na horacerta, a menina soube apresentar à ama a solução que, embora parecessesimples demais, por m levou Naamã a reconhecer: “Eis que tenhoconhecido que em toda a terra não há Deus, senão em Israel” (v. 15).

Conclusão A evangelização doméstica, ou a pregação do evangelho no lar, ocorre

quando a rotina familiar é impregnada pela mensagem da salvação,fazendo com que o lar espelhe o que é ser salvo pela fé em Jesus. Em umacasa onde Cristo é o centro, existe alegria, cura, perdão, salvação ecomunhão. O bom testemunho também caracteriza a família que serve aDeus.

O evangelismo doméstico ocorre mesmo quando apenas um familiar ésalvo. Através de seu viver controlado pelo Espírito, os demais moradoresda casa têm a oportunidade de ver o que é servir a Jesus e de conhecer ocaminho da salvação.

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AEvangelizaçãodas PessoascomDeficiência

Introdução Isaías descreve uma época em que “se abrirão os olhos dos cegos, e se

desimpedirão os ouvidos dos surdos; os coxos saltarão como cervos, e alíngua dos mudos cantará” (Is 35.5,6, ARA). O profeta, ao realçar o amorinclusivo de Deus, mostra que nem mesmo as pessoas com de ciênciamental terão di culdades em atinar com o caminho divino: “E ali haverábom caminho, caminho que se chamará o Caminho Santo; o imundo nãopassará por ele, pois será somente para o seu povo; quem quer que por elecaminhe não errará, nem mesmo o louco” (Is 35.8, ARA).

Ainda que a visão do profeta seja sobre o Milênio, a cura e o refrigériofísico, mental e espiritual podem ser experimentados, hoje, por todo aquele

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que vem a Cristo. A profecia revela o interesse de Deus por todas aspessoas, inclusive pelas que trazem deficiências e limitações.

O amor de Deus é inclusivo. Ele não admite que ninguém que de fora,mas “quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento daverdade” (1 Tm 2.4). A evangelização que não inclui as pessoas comdeficiência é incompleta e não expressa plenamente o amor de Deus.

Neste capítulo, fui buscar a assessoria de minha lha, a professora KarenBandeira, que estudou com carinho a educação inclusiva, a m de adaptá-la à evangelização das pessoas com deficiência.

I. Pessoas com Deficiências também Carecem da Salvação A inclusão de pessoas com de ciência não deve ser vista apenas como

política pública, mas como a maior expressão do amor de Deus. Porque oPai Celeste, amando-nos como nos ama, enviou o seu Filho ao mundo,para que todos viéssemos experimentar a salvação em sua plenitude.Iniciaremos este tópico, buscando uma de nição que descrevacorretamente a pessoa com deficiência.

1. De nição. Pessoa com de ciência é a que se acha privada quer de

seus sentidos, quer de seus movimentos, ou do pleno uso de suasfaculdades mentais. Nessa de nição acham-se os cegos, mudos, surdos,paraplégicos e tetraplégicos, os autistas e os que têm a síndrome de Down.Deveríamos incluir, também, os que se encontram acometidos pela doençade Alzheimer. Aliás, com o envelhecimento da população, cresce onúmero de idosos que, mais cedo ou mais tarde, poderão apresentar algumtipo de de ciência. Por isso, estejamos atentos aos anciãos, entre os quaisfaremos preciosas colheitas para a Seara do Mestre.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, “de ciência é o termo usadopara de nir a ausência ou a disfunção de uma estrutura psíquica,fisiológica ou anatômica”.

2. Nem inaptos nem desculpáveis. No que tange à salvação das pessoas

com de ciências, ou limitações, há pelo menos dois posicionamentoserrados. O primeiro é o que não as contempla como alvo do evangelho eaptas a servirem a Deus. Simplesmente não se ocupa delas e não as

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incluem nos projetos evangelísticos. O segundo é o que as vê comodesculpáveis e já santificadas pelo sofrimento.

No passado, certos enfermos suscitavam compaixão e chegavam a serchamados de “santinhos”. E, para reverenciá-los, algumas pessoastocavam-nos como se deles pudessem receber alguma virtude.Enganosamente, muitos veem como não condenáveis os indivíduos comde ciências, ou limitações, como se a entrada no céu lhes fosse franqueadaem compensação das dificuldades enfrentadas na vida terrena.

Mas a Palavra de Deus é clara: “Porque todos pecaram e destituídosestão da glória de Deus” (Rm 3.23). Com ou sem de ciências, todosnascemos pecadores e estamos “debaixo do pecado, como está escrito: Nãohá um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não háninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se

zeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só” (Rm 3.10-12). Infelizmente, achar que os indivíduos mental ou sicamentelimitados não carregam, em si, a natureza de Adão é mais cômodo, porquelibera a igreja da tarefa de evangelizá-los e integrá-los espiritual esocialmente ao corpo de Cristo.

Eis, portanto, um desa o que enfrentaremos com amor e prontidão. Seique a tarefa não é fácil, pois a evangelização das pessoas com de ciênciarequer esforços concentrados e especí cos. No entanto, temos de falar deCristo aos que não ouvem, mostrar as belezas da vida cristã aos que nãoveem, apontar o caminho da salvação aos que não conseguem andar ediscorrer sobre a razão da nossa fé aos que não logram pensar com clareza.Esta é a nossa missão: tornar o evangelho acessível a todos, inclusive aosque trazem alguma de ciência. Ajamos, pois, como seus olhos, ouvidos,boca e pernas, pois assim agiu o Senhor Jesus em seu ministério terreno.

3. Carentes e ao alcance da graça. A verdade é que todos precisam ser

alcançados pelas Boas-Novas: os que enxergam bem, os que veem pouco eos que nada veem; os que escutam e falam, os que não ouvem nem falam;os que aprendem rápido e os que precisam de mais tempo para aprender;os que caminham com as próprias pernas e os que usam cadeiras de rodas,próteses ou muletas; os autistas, aqueles com síndrome de Down, comdislexia, com Transtorno de Dé cit de Atenção e Hiperatividade, comparalisia cerebral, epilepsia... Todos devem ser conscientizados de sua

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situação perante Deus, por causa do pecado, e saber que podem ser“justi cados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em CristoJesus” (Rm 3.24).

Nesse sentido, cabe-nos uma re exão. Se o governo, com suas políticasine cazes e, às vezes, fundamentadas em ideologias contrárias aocristianismo, busca integrar as pessoas com de ciência à sociedade, porque deixaríamos nós, a Igreja de Cristo, de cumprir nossa obrigação? Alémdo mais, o Senhor Jesus adverte-nos seriamente a respeito de nossa inérciaevangelística: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder emmuito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus” (Mt5.20, ARA). O que isso signi ca? Antes de tudo, que devemos fazer umtrabalho de comprovada excelência; um trabalho que venha a exceder, emmuito, ao que o Estado diz realizar.

II. A Tarefa da Igreja A tarefa de trazer os de cientes a Jesus cabe a mim e a você. Por meio de

uma didática apropriada, podemos incluir os de cientes no Plano daSalvação, ensinando-lhes a Palavra de Deus. Somente assim, poderão elesvir a superar todos os seus limites espirituais, emocionais e sociais.

1. A singularidade e a preciosidade de cada indivíduo. A triste

verdade é que as igrejas dão-se por satisfeitas em poder atender a maioriadas pessoas, quando Jesus quer que todas sejam incluídas. Ele não veiopara a maioria, mas para “toda a criatura”, para “todo aquele que nelecrê” e para “todo aquele que invocar o nome do Senhor” (Mc 16.15; Jo3.16; Rm 10.13). Mas “como crerão naquele de quem não ouviram? Ecomo ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm 10.14). Ainda que em nossacomunidade haja apenas uma única pessoa que demande atenção especial,é bíblico que façamos o necessário para acolhê-la e discipulá-la.

Nas parábolas de Lucas 15, ao mostrar a preocupação do pastor por umaúnica ovelha desgarrada, o desvelo da mulher por uma única moedaperdida e a solicitude do pai por um lho distante, o Senhor destacou aunicidade e a preciosidade de cada indivíduo ao coração de Deus. A Igrejadeve ter essa mesma visão e não se contentar enquanto lá fora houver umaalma perdida. E se essa alma for alguém com uma deficiência que demande

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investimento humano e nanceiro, a Igreja não deverá encolher-se nopensamento mesquinho de que só valeria a pena se fosse um grupo inteiro.

Alguém, ao discorrer sobre a graça divina, a rmou que, se todas aspessoas do mundo fossem justas, com exceção de apenas uma, Jesus Cristoainda assim desceria do céu, para morrer por essa única pessoa. PorqueDeus não nos ama apenas coletivamente. Ele nos ama também individual eparticularmente. Portanto, ninguém cará de fora de nossas atividadesevangelísticas, principalmente os que não podem ver, ouvir, falar,locomover-se ou atinar com a razão.

2. Tempo determinado e paciência. Um dos argumentos daqueles que

são contrários à inclusão de pessoas com de ciência, principalmente nasescolas, é que a presença delas retardaria o aprendizado das outras. Noentanto, a experiência tem mostrado que, quando se procura fazer ainclusão, todos aprendem, cada um dentro do seu tempo, e conforme a suacapacidade.

Mesmo numa classe de Escola Dominical, frequentada por alunos semqualquer de ciência, nem todos conseguirão memorizar o nome das dozetribos de Israel, ou dizer com perfeição a sequência dos livros da Bíblia.Alguns adultos nem conseguirão discorrer acerca dos atributos de Deus.No entanto, todos poderão vir a crer, se bem evangelizados e discipulados,que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Infere-se, pois, que o evangelho exige ecomporta a inclusão de todos, pois o Espírito Santo trabalha, em cadacoração, as verdades que nos conduzem à salvação.

Na igreja, acolher e incluir pessoas com de ciência não signi ca criarum espaço separado para que, ali, elas aprendam a Bíblia. Assim comotodas as ovelhas cam dentro do aprisco para serem cuidadas pelo pastor, apessoa com de ciência deverá ser ensinada junto aos demais crentes e,juntamente com eles, tomar parte no culto de adoração. A inclusão depessoas com de ciência faz parte da comunhão perfeita entre os membrosdo corpo de Cristo.

III. Mudar para Receber Para ser inclusiva, a igreja deve: a) possibilitar o acesso de pessoas com

de ciência ao templo e facilitar o trânsito por suas dependências, como

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salas de Escola Dominical, banheiros e cantina; e b) apresentar amensagem evangelística levando em conta as limitações da audiência e osdiferentes estilos de aprendizagem. Cada igreja, conforme a sua realidade,deve adaptar-se a m de cumprir o que diz a lei dos homens (Lei 13.146,de 6 de julho de 2015) e a do Reino (Mc 16.15-18).

Existem inúmeros recursos que auxiliam a inclusão. Abaixo,destacamos os principais:

1. Rampas, elevadores e barras. Estes recursos destinam-se àqueles

que usam cadeira de rodas. A inclinação das rampas seguirá as normasestabelecidas por lei. As portas dos elevadores, e também as demaispassagens do templo, serão largas o bastante para possibilitar o trânsitodos cadeirantes. Todos os acessos da igreja serão sinalizados com oSímbolo Internacional de Acesso. Nenhuma área de circulação seráobstruída com móveis. Nos banheiros, o lavatório terá altura apropriada, eao menos um box com mobília adequada (vaso sanitário próprio e barraslaterais).

2. Sinalização em relevo. São os pisos e mapas táteis que alertam as

pessoas com de ciência visual quanto à topogra a do ambiente. Ao sentir,com as mãos ou com os pés, as informações em relevo, o indivíduo poderácircular com maior segurança e independência pelos recintos. Essasinalização adverte, entre outras coisas, quanto à presença de degraus,rampas, elevadores, portas, janelas e telefones públicos.

3. A Bíblia em Braile. O braile é um sistema de leitura e de escrita para

pessoas com de ciência visual. Foi inventado pelo francês Louis Brailleem 1827.

No Brasil, a primeira Bíblia em Braile foi lançada em 30 de novembrode 2002 pela Sociedade Bíblica do Brasil. Essa Bíblia é composta por váriosvolumes e está disponível na Nova Tradução na Linguagem de Hoje.Pessoas, bibliotecas e instituições de apoio podem se cadastrar nosprogramas sociais da SBB e receber os volumes gratuitamente.

4. A linguagem brasileira de sinais, ou Libras. É um sistema

linguístico que comunica fatos, conceitos e sentimentos por meio de

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gestos, expressões faciais e linguagem corporal. Essa língua, que possuiregras gramaticais próprias, é a usada pela maioria das pessoas comdeficiência auditiva no Brasil, com pequenas variações regionais.

Na igreja, os cultos e aulas de Escola Dominical podem ser facilmentetraduzidos à linguagem brasileira de sinais por um obreiro treinado. Açõesevangelísticas em hospitais e centros de apoio às pessoas com de ciênciaauditiva também podem ser realizadas de forma mais proveitosa se oscrentes enviados souberem transmitir as Boas-Novas em Libras.

O acesso ao aprendizado das Libras felizmente é facilitado pela internet.É possível achar bons manuais, dicionários de Libras e vídeo-aulasgratuitos. A professora Siléia Chiquini, da Assembleia de Deus emCuritiba, vem desenvolvendo um grande trabalho junto aos surdos, pormeio do Ministério Mãos Ungidas. Na internet, ela compartilha seutrabalho e experiência com os que desejam fazer a voz divina bem audívelaos que não podem ouvir a voz humana.

5. O professor mediador. A m de que o ensino bíblico seja inclusivo,

as classes de Escola Dominical não devem agrupar, em uma sala à parte, aspessoas com de ciência, ou com transtornos que di cultem oaprendizado. Entretanto, os alunos com de ciência precisam, em suamaioria, de maior atenção e cuidados. Nesse processo, o professormediador é o responsável por adaptar à realidade do aluno com de ciênciao conteúdo que o professor regente transmite à classe e as atividadesrealizadas pelos demais educandos.

O mediador deve considerar a limitação do aluno especial, o seu ritmo eestilo de aprendizagem. Esse pro ssional também é responsável porfacilitar a interação social do aluno com de ciência, evitando que queisolado dos demais. Se o nosso objetivo é incluir a todos, devemosestimular e treinar pedagogos, didatas e obreiros a que se dediquem a esseministério. É uma tarefa que demanda não apenas conhecimentos bíblicos,mas igualmente instruções pedagógicas, didáticas e psicológicasespecí cas. Hoje, graças a Deus, contamos com pro ssionais competentesentre os membros de nossas igrejas, que muito poderão ajudar-nos nocumprimento dessa missão. Portanto, ninguém cará de fora do Plano daSalvação.

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IV. Exemplos Bíblicos de Inclusão Por toda a Bíblia, encontramos personagens com algum tipo de

de ciência. No entanto, é maravilhoso observar a obra divina na vida decada um deles, restaurando-lhes a dignidade, salvando-os e atérestabelecendo-lhes plenamente a sanidade física e mental. Vejamosalguns deles. Ao conhecer melhor suas histórias, concluiremos que épossível, sim, incluir a todos no Reino de Deus, pois o Pai Celeste nãodeseja que ninguém fique de fora.

1. A inclusão de Me bosete. Neto de Saul, Me bosete cou coxo aos

cinco anos quando sua ama, tentando salvar-lhe a vida, deixou-o cair (2Sm 4.4). No capítulo 9, a reação de Me bosete ao chamado de Davi revelao que ele pensava de si mesmo, talvez por sua condição física: “Quem é teuservo, para tu teres olhado para um cão morto tal como eu?” (v. 8). Ao serbene cente para com Me bosete, Davi restaurou-lhe a autoestima.Me bosete não viveria mais como um indivíduo qualquer e semimportância. Todos os dias ele comeria pão à mesa de Davi, como se foraum príncipe.

Segundo a Lei de Moisés, o jovem Me bosete não poderia exercer osacerdócio, por causa de sua de ciência física. Todavia, Deus o honrou detal forma, que veio a estar à mesa de Davi. O Pai Celeste não discrimina anenhum de seus lhos. Ao aceitarem Jesus como Salvador, as pessoas comde ciência passam a ser lhos de Deus, “logo, herdeiros também,herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo” (Rm 8.17).

2. Parábola das bodas. Em Mateus 22.1-14, Jesus conta a história

de “um certo rei que celebrou as bodas de seu lho”. Ele enviou os seusservos a chamar os convidados que, pretextando afazeres diversos,ignoraram-lhe o convite. Novamente o rei enviou os servos a trazer osconvidados, porém “eles, não fazendo caso, foram, um para o seu campo, eoutro para o seu negócio; e, os outros, apoderando-se dos servos, osultrajaram e mataram” (vv. 5,6). O rei, então, decidiu trazer às bodas todoaquele que seus servos encontrassem pelo caminho, “e a festa nupcial coucheia de convidados” (v. 10).

O rei poderia ter ordenado aos servos que fossem “às saídas dos

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caminhos” e distribuíssem, a todos quantos encontrassem, o jantarpreparado, os bois e cevados já mortos. Contudo, preferiu trazer “ospobres, e os aleijados, e os mancos, e os cegos” ao seu palácio (Lc 14.21).Graças à sua inclusão, a cerimônia ganhou vida, alegria e muita beleza.

3. Acenos e uma tábua de escrever. O sacerdote Zacarias, ao receber

de Gabriel a notícia de que sua esposa daria à luz um lho, não creu. Porisso, cou mudo até o dia em que se cumpriram as coisas anunciadas peloanjo. Observe, em Lucas1.21-23, que a mudez de Zacarias não oimpossibilitou de comunicar-se com as pessoas que estavam no Templo.Por acenos, o sacerdote conseguiu fazer-se entender. Alguns versículos àfrente, vemos mais um recurso usado por Zacarias: “E, pedindo ele umatabuinha de escrever, escreveu...” (v. 63).

O que se conclui da narrativa sagrada? Todos, apesar de suas limitações,podem receber a comunicação do evangelho e, assim, experimentar a vidaeterna. Se naquele tempo já era possível aos mudos se comunicar, hoje,com os recursos didáticos e tecnológicos de que dispomos, podemosintegrar mais facilmente as pessoas com deficiência.

4. Uma gueira no lugar certo. Em Lucas 19, lemos sobre o encontro

de Zaqueu e Jesus. “E, tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando. E eisque havia ali um homem, chamado Zaqueu... E procurava ver quem eraJesus e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. E,correndo adiante, subiu a uma gueira brava para o ver, porque havia depassar por ali. E, quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima,viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque, hoje, me convém pousarem tua casa” (vv. 1-5).

Zaqueu estava em desvantagem, pois era de baixa estatura. Se a gueiranão estivesse exatamente naquele lugar, ele não teria conseguido ver Jesus,por mais que se esticasse, ou casse na ponta dos pés. Assim como Zaqueu,muitas pessoas com de ciência querem ver a Jesus, e certamentefrequentariam nossas igrejas se soubessem que os templos foramdevidamente preparados para recebê-las.

5. Quatro amigos esforçados. Lemos, em Marcos 2.1-12, sobre a boa

vontade de quatro homens em conduzir um paralítico a Jesus. Esse

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quarteto não apenas era esforçado, mas tinha fé. Eles sabiam que Jesus eratudo o que o paralítico precisava (v. 5). Por isso, “descobriram o telhadoonde estava e, fazendo um buraco, baixaram o leito em que jazia oparalítico” (v. 4).

Esses homens nos ensinam que não basta ter um templo adaptado. Épreciso ter fé e força de vontade o bastante para, literalmente, buscar aspessoas e levá-las ao local onde a salvação está.

V. Os Velhos Terão Sonhos “O ornato dos jovens é a sua força; e a beleza dos velhos, as cãs” (Pv

20.29). Que versículo maravilhoso. A Palavra de Deus é tão inclusiva, quevê os cabelos brancos não como decadência, mas como beleza, honra etriunfo. O Pai Amado nos inclui desde o berço à sepultura, pois nos amacom um amor inexplicável e eterno. E, quando nossa vida, aqui, cessar,não seremos esquecidos, pois Ele nos receberá em suas mansões.

1. As Boas-Novas aos idosos. A mensagem da Salvação deve ser

pregada aos idosos nos asilos, hospitais, praças públicas e, também, pormeio do bom testemunho de seus lhos e netos que, em vez de olhá-loscomo peso morto, hão de vê-los como lembrança viva de um tempo quenão precisa ir embora. No entanto, a fragilidade da vida e a iminência deseu término devem impulsionar-nos a evangelizar os idosos “a tempo efora de tempo” (2 Tm 4.2), não os admoestando asperamente, mas “comoa pais” e “como a mães” com todo amor e devoção (1 Tm 5.1,2).

Não somente a alma dessas pessoas de cabelos brancos é preciosa aDeus, mas também o seu trabalho. Em sua velhice, elas podem fazer oReino de Deus avançar, anunciando a esta geração e a todos os vindouros,as maravilhas do Senhor, sua força e poder (Sl 71.17,18).

2. Alzheimer e demais doenças relacionadas à idade. Como falar de

Cristo a pessoas que já não se lembram dos seus familiares e nem de simesmas? Como fazê-las entender o Plano da Salvação e levá-las a Jesus, selhes falta autonomia para alimentar-se, tomar remédios, ou banhar-se?Diante de tal cenário, resta à igreja ter fé su ciente para obedecer à ordemde Jesus ao pé da letra: pregar “a toda criatura”. E, novamente, os

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conselhos de Paulo a Timóteo aplicam-se: “a tempo e fora de tempo”, comamor e paciência, não sendo ásperos, mas “como a pais” e “como a mães”.

Ao expormos a mensagem de salvação às pessoas com Alzheimer, épreciso crer que “a fé vem pelo ouvir” (Rm 10.17). Com paciência,devemos esperar o que não vemos, e confiar na obra do Espírito Santo:

Porque, em esperança, somos salvos. Ora, a esperança que se vê não

é esperança; porque o que alguém vê, como o esperará? Mas, seesperamos o que não vemos, com paciência o esperamos. E da mesmamaneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque nãosabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmoEspírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele queexamina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele quesegundo Deus intercede pelos santos. E sabemos que todas ascoisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amama Deus, daqueles que são chamados por seu decreto. (Rm 8.24-28) Mesmo em sua ausência da realidade, os idosos, ou pessoas com

demência, devem ser honradas: “Diante das cãs te levantarás, e honrarás aface do velho, e terás temor do teu Deus. Eu sou o Senhor” (Lv 19.32).

No episódio narrado em Gênesis 9.20-27, Noé não estava doente, nemsofria de demência. Contudo, ao embebedar-se, tornou-se mentalmentevulnerável e inclinado a agir fora da razão. Por isso, “descobriu-se no meiode sua tenda” (v. 21). Quando Noé despertou do vinho e soube o que seu

lho menor lhe zera, o amaldiçoou. A atitude jocosa de Cam alerta-nos asermos respeitosos para com os idosos, mesmo que eles ajam de formacontrária a um comportamento socialmente aceitável.

Conclusão No ano de 2014, quei internado por um espaço de dois meses. Nesse

período, minha esposa, Marta Doreto, teve oportunidade de evangelizardiversos anciãos no Hospital Barra D’Or, no Rio de Janeiro. Algunsdaqueles velhinhos já estavam em estado terminal; seus momentos delucidez eram raríssimos. Sabendo disso, minha esposa orou, pedindo aJesus que eles despertassem, ainda que por alguns poucos minutos, para

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que ela lhes pregasse o evangelho.Foi assim que minha esposa conseguiu ganhar alguns daqueles anciãos

para Jesus. Alguns se comunicavam apenas mexendo as pálpebras,respondendo a rmativamente às perguntas: “O senhor crê no que euacabei de ler na Bíblia, que Jesus, o Filho de Deus, morreu e ressuscitoupara salvá-lo de seus pecados? Quer recebê-lo como seu Salvador? Desejaque eu faça uma oração em voz alta, confessando Jesus como Salvador,enquanto o senhor a repete com o coração?”.

Um desses queridos velhinhos era um judeu de 103 anos e, segundoinformaram à minha esposa, aquelas três leves piscadas às suas indagaçõesforam os únicos sinais de comunicação dele em muito tempo. Um mêsdepois, ele foi para o céu com Jesus.

Não podemos ver os cabelos brancos como empecilhos à pregação damensagem da cruz, mas como a derradeira oportunidade que um anciãoainda tem de receber Jesus como seu Salvador pessoal. Por isso, incluamosa todos em nossas ações evangelísticas, a m de que todos, a tempo e a forade tempo, recebam Jesus.

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AEvangelização Real na EraDigital

Introdução

O mundo está mudando rapidamente. Você já pensou nisso? Tenho

certeza de que sim. Mas até aí, nada de novo, pois tudo vem mudandodesde que o mundo é mundo. As culturas são vivas e estão em constantetransformação. As sociedades acomodam-se, invariavelmente, a novasdemandas e condições. Logo, a mudança, em si mesma, nem de longe éuma surpresa. Por conseguinte, o sobressalto dos nossos dias não é atransformação, mas a velocidade com que ela acontece.

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– Gunar Berg I. Velocidade e Angústia O tempo presente tem sido chamado de a era da informação. Apesar de

adequado, a nomenclatura exige alguma re exão. Se esta é a era dainformação, seria correto supor que já houve uma era de desinformações?Alguém pode pensar que sim, mas não existiu. Nem mesmo durante aIdade Média, que entrou para o imaginário histórico como o período dastrevas, houve desinteligência. A grande diferença entre o presente e ostempos idos é a velocidade com que as informações se multiplicam e se

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propagam. São duas, portanto, as principais características da era dainformação: o conhecimento e a celeridade (esta é o nosso grande desafio).

O principal fruto da rapidez das informações não é a facilidade, mas aangústia. É tão forte o incômodo pelo imediatismo que, no Japão, écomum os adolescentes serem humilhados virtualmente pelos amigos, casodemorem em responder-lhes às mensagens instantâneas via celular —pois, se são instantâneas, por que a demora? Alguns simplesmente nãoresistem à pressão e suicidam-se.

A sanha pela presteza é tal que aquilo que, há bem poucos anos, eraconsiderado o suprassumo das comunicações tornou-se praticamenteinútil. O e-mail, como sabemos, nasceu com os dias contados. Semcerimônia, ele desbancou as tradicionais cartas para, em seguida, serpisoteado pelo e sepultado pelo ; a pá de cal nãodemora a chegar. Estes e muitos outros recursos, embora úteis, têm-semostrado nocivos. Apesar de não serem intrinsecamente maus, nãodeixam de causar-nos algum mal.

A angústia pela velocidade está roubando-nos a noção de tempo. Antesdos transportes mecânicos ultravelozes, preocupávamo-nos não com otempo, mas com as distâncias. Os viajantes que seguiam a pé, ou noslombos de alguma montaria, planejavam suas viagens em quilômetros,pois não tinham como tornar mais rápidos os passos dos animais ou osseus próprios passos. Mas tão logo os trens, os automóveis modernos e osaviões supersônicos começaram a dominar essas e outras rotas, as viagenspassaram a ser planejadas não pela extensão, mas pelo tempo — apergunta mudou de “Qual a distância?” para “Quanto tempo até chegar?”.

1. Ser sem estar presente. Depois de relativizar os quilômetros de uma

jornada, a velocidade chegou nalmente à informação e à comunicação. Apartir do tráfego de dados na rede mundial de computadores, até mesmo osentido de foi mudado. Isso ca bastante fácil de compreender emnosso idioma, pois a língua portuguesa distingue o e o . Asvideoconferências permitem-nos ser presentes sem estar presentes.Converso quase todos os dias com meu lho, eu no Rio de Janeiro, e elesem Paulínia, separados por 600 quilômetros. Ele me vê e também a casaem que morou. As pessoas e os lugares mais distantes estão próximos denós tanto quanto os dedos estão perto da tela de um . E como

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foi que isso mudou a noção de tempo a que nos habituamos?Durante os tempos do Brasil colônia, uma viagem entre Portugal e o

Novo Mundo durava, em média, 60 dias, dependendo dos ventos, dascalmarias, das tempestades e do que mais pudesse haver. Mesmo durante acrise que ameaçou o reinado de Dom João VI (ele no Brasil e o problemalá na corte em Lisboa), as cartas iam e vinham em ritmoperturbadoramente lento para a urgência de um império como oportuguês. Há alguns anos, o tempo de correio não era contado em meses,mas em dias — ainda assim, um exercício de paciência.

E então, de repente, você escreve um recadinho para alguém no outrolado do globo, e essa pessoa responde com um áudio, e tudo isso nãodemora mais que o tempo necessário de escrever ou falar. É claro que isso éextremamente vantajoso, porque ninguém gosta de esperar, e há coisas quenão podem mesmo aguardar. O problema não é, entretanto, não precisaresperar, mas não aceitar que se deva esperar por algo. É por isso que asociedade comprometeu a sua noção de tempo e de importância. Se osminutos escoam é porque não sabemos como administrar as informaçõesinesgotáveis que passam por nós. Se eles se arrastam é porque não sabemoso que fazer sem os milhares de informações que deveriam voar diante denós.

2. Uma geração de ineditismos. Não se deixe enganar pelas palavras.

Dizer que nossa geração comete ineditismos é muito diferente de a rmarque somos uma geração de pioneiros. Pioneirismo tem a ver com nobrezae altruísmo; ineditismo, porém, signi ca apenas fazer alguma coisa,qualquer coisa, pela primeira vez (e isso não é necessariamente bom).Somos, por exemplo, a primeira geração da história a dormir menos doque o necessário, e também a primeira a comer mais do que o aceitável. Asituação piora quando se descobre que somos os primeiros a destruir, porprazer, as coisas das quais precisamos para sobreviver. Essecomportamento tem nome: hipoteca do tempo futuro, e é provocado pelaangústia causada pela velocidade da informação e a sua abundância.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman apontou a imprevidência de sehipotecar o futuro quando, ao abusarmos do presente, vivemos comexcessos, acima dos limites ou das necessidades. Estamos fazendo saquesantecipados do futuro, e não há como saber se conseguiremos pagar essa

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promissória. Mas como esse é o comportamento padrão das sociedades deconsumo, ele é considerado normal. Mas não é! Aliás, aprendamos algo:normal não é sinônimo de comum. Normal é aquilo que segue a norma, aregra. Comum é apenas algo recorrente. Logo, é cada vez mais comum aspessoas sacarem antecipadamente o tempo que ainda não viveram,hipotecando o futuro. Embora comum, esse comportamento é anormal,pois não foi assim que Deus planejou a nossa vida.

II. Pecadores Digitais Até os anos 2000, ouvíamos dizer que, ao se desligar o televisor, uma

janela se fechava ao pecado. Agora, carregamos pequeninas basculantesque fazemos questão de manter abertas. Nossos celulares são,potencialmente, frestas pessoais e intransferíveis às tentações econcupiscências. Isso mostra que, na era da informação, há umasuperexposição ao pecado. O Senhor Jesus alertou-nos que, por semultiplicar a iniquidade, o amor de muitos viria a esfriar-se.

1. Íntimo e sigiloso. As situações que favorecem o pecado são sempre

íntimas e sigilosas. Foi assim que Davi perpetrou um adultério e umassassinato (2 Sm 11). O caso de Amnom e Tamar também é bastanteemblemático (2 Sm 13). Alguém perguntará: Se ambos os exemplos sãotão antigos, em que a era da informação é mais perigosa? Seu risco está emmultiplicar as possibilidades dessa mistura letal: intimidade e sigilo.

Primeiro, com os computadores pessoais e, agora, de forma irresistível,com os e celulares. Isso formou uma geração de usuários que viveseus dias na intimidade e no sigilo dos aparelhos eletrônicos. Escondidasatrás das telas, as pessoas sentem-se mais seguras em transgredir as leis e osmandamentos do Deus que tudo vê.

2. O pecado viral. Os mesmos recursos que, rapidamente,

proporcionam conhecimentos e saberes também possibilitam pecados eapostasias em tempo real. Se uma informação, ou evento, populariza-se nainternet, os especialistas dizem que é um , algo que se espalha tãorápido como um vírus, ou como o pecado. Comportamentos pecaminososdisseminados nas redes sociais são velozmente imitados (Gn 18.20).

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3. O conhecimento de enciclopédia. Alguns alunos acostumaram-se

tanto aos recursos de pesquisa pela internet que não se dão ao trabalho deproduzir suas próprias pesquisas e chegar às suas próprias conclusões. Elesapenas reproduzem. Esse é o paradoxo da era do conhecimento: asinformações estão disponíveis em tal quantidade, que poucos sabem o quefazer com elas. Logo, o conhecimento moderno não está contribuindopara o avanço moral e ético da sociedade. A única forma dedesenvolvimento que temos experimentado é de quantidade, não dequalidade. Nunca o homem conheceu tanto sobre si e tão pouco sobreDeus! (Os 4.1). Por esse motivo, temos de concentrar-nos a falar de Cristoa uma geração que só conhece a rapidez e o instantâneo.

III. Como Pregar o Evangelho à Geração Fast “Quando procuro um vídeo, não perco tempo com nada que tenha mais

que três minutos!” “Quem não consegue se expressar com sete palavrasnão merece dizer setenta.” “Uma ideia em cento e quarenta caracteres.”Andando pelos corredores dos shoppings, caminhando pelos calçadões docomércio, nas conversas com os alunos nos seminários ou com os irmãosda igreja, aqui e ali, sempre escuto frases assim. Sentenças que têm a vercom pressa, velocidade, expectativas imediatas. Elas são o retrato de comoestá o mundo: com cada vez menos tempo e cada vez mais coisas a fazer.

1. Falar de Cristo em poucos minutos. Por outro lado, ainda não

aprendemos a falar de Cristo em alguns poucos minutos. Uma mensagembem elaborada requer, no mínimo, cinquenta minutos. Mas quem, aonavegar pela internet, pararia para ouvir, durante meia hora, um sermãoacerca da necessidade de uma vida de renúncias? A coisa está difícil atépara os anunciantes de bens de consumo que, para conseguir a atenção daaudiência da internet, sempre livre e independente, obrigam osnavegantes a assistir, ao menos, cinco segundos de seus comerciais nossites de vídeos e notícias — se essas propagandas não fossem obrigatórias,ninguém as veria! Se quem vende sonhos de consumo enfrenta taldi culdade, como agirá aquele que ensina ser Jesus Cristo a únicaesperança para esta geração? O que devemos fazer?

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2. O que dá certo na era da informação? Em plena era da informação,eu cultivo um antigo hábito: ouvir rádio. E foi escutando noticiários queouvi um professor de tecnologia, cujo nome não consigo lembrar-me,dizer algo interessante. Segundo ele, o rádio, apesar de antigo, possui ascaracterísticas indispensáveis que fazem as coisas dar certo na era dainformação: tem qualidade e é gratuito. Se você tem o costume de escutarrádio, sabe do que o professor estava falando. Se algo é bom e de graça,provavelmente dará certo na era da informação instantânea. Diante dessare exão, disse a mim mesmo: “Tá fácil para nós! O evangelho é bom egratuito!”. Como diz a geração da internet: “É isso, só que não”.

A mensagem que pregamos é antiga como o mundo (Gn 3.15) porque éabsolutamente tudo de que o mundo precisa. Só compete a nós fazermos asua anunciação da forma correta. O problema, portanto, não é o quepregamos, mas como o pregamos e se, de fato, o estamos pregando.

Essa equação não está fechando, e a culpa é nossa. Infelizmente, não hágratuidade nem qualidade em boa parte dos púlpitos e na maioria dosprogramas evangélicos radiofônicos e televisivos. Uma rápida zapeadapelos canais de televisão mostra dezenas de apóstolos, um sem número debispos e pastores pedindo dinheiro, solicitando ofertas, requerendodoações, clamando por ceifeiros, colaboradores e sócios que possam dar,dar e dar.

Numa emissora de rádio, descobri um pastor agastando-se numapregação que não tinha m. Durante quarenta minutos, aquele homem,nem por uma vez, disse algo sobre a santidade, ou o pecado, ou anecessidade de arrependimento. Ele já estava falando quando liguei orádio do carro, e deve ter continuado, por algum tempo ainda, depois queestacionei o veículo. Ele falou somente nas bênçãos que viriam na formade bônus para quem desse as maiores ofertas. Ao ouvi-lo, logo conclui:estamos pregando coisas ruins e cobrando muito caro por isso. Esse tipo deevangelho não tem como dar certo na era da informação. Aliás, forampregações mercenárias e dinheirosas como essa que provocaram a reaçãode Martinho Lutero no século XVI.

Para pregar o evangelho na era da informação, carecemos apenas deuma coisa: pregar o evangelho! É tão simples. Alguns de nós é queinsistem em fazer o errado!

Com o surgimento das redes sociais, muitos cristãos diziam que os seus

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per s tinham a nalidade de falar de Jesus. Mas não foi exatamente isso oque aconteceu. A maioria dos crentes está transferindo para o virtual osseus maus hábitos reais. Não há evangelização, não há pregação e não hátestemunhos. Só vejo brigas, contendas e testemunhos duvidosos. Logo, aestratégia para ser um arauto virtual não é montar um per l de pregador,de cantor ou de qualquer outro tipo de celebridade gospel. O que importa éser crente real com um perfil santo e também real e imediato.

Não basta postar vídeos com meditações e apelos evangelísticos, oupublicar frases de esperança. Nada disso terá qualquer efeito se a sua vida(dentro e fora das redes) for contrária à mensagem que você está tentandoanunciar.

3. Somos evangelistas analógicos e ultrapassados? Na era da

informação, é urgente responder a uma série de perguntas, visandodinamizar a prática evangelística da igreja. A pregação precisa de um novoformato? O evangelismo que praticamos é antiquado?

Mateus 24.35 a rma que a Palavra de Deushá de durar para sempre, ao passo que o mundo é efêmero e muipassageiro. Portanto, o evangelho de Cristo não muda. Logo, o seuconteúdo não precisa ser alterado para adequar-se à era da informação. Oque era desde o princípio continua válido até hoje.

A mensagem da salvação possui características exclusivas que a fazemcomunicável a qualquer grupo em qualquer situação. Ela é imutável eresiste às mais repentinas transformações sociais. É ilimitadamentetransformadora, porque tem o poder de mudar a vida do mais vil pecador(Rm 1.16).

Muitos evangelistasargumentam que o modelo bíblico de evangelização deve ser revisto, poisnão está à altura dos desa os da era da informação. Isso não é verdade.Nosso modelo evangelizador é divinamente perfeito. Foi exempli cadopelo Senhor Jesus em seu ministério terreno. O que deve ser revisto são osrecursos (2 Tm 4.2,3).

Nosso modelo de evangelismo éfundamentado no amor às almas. O evangelismo, segundo Cristo, atrai opecador pelo amor. Não que a graça seja irresistível, mas não há como

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negar que ela é atrativa. O modelo de Cristo para ganhar almas é, portanto,orientado pelo amor ágape que só o Espírito Santo nos pode comunicar.Isso signi ca que não evangelizamos por causa de alguma preferência,mas apesar de qualquer coisa. Cristo vê no pecador não o que ele é, masquem ele pode vir a ser.

IV. Ganhando Almas na Era da Informação Está se popularizando, em muitas igrejas, um novo tipo de trabalho: o

Departamento de Mídias. Em linhas gerais, os cooperadores dessa novaseara operam os recursos de áudio e vídeo durante os cultos e, nos casosmais expoentes, transmitem-nos ao vivo pela internet. Faz parte dessatarefa a criação e a manutenção de sites com recursos visuaisimpressionantes. Mas isso é tudo?

1. Uma rede para pescadores de homens. A atenção de quem navega

pela internet é seletiva. Na rede mundial de computadores, ninguém perdetempo com o que não deseja. Então, por mais que as igrejas marquempresença nesse território, devemos levar em conta que, mais importanteque um templo (ou um site), é um missionário que pode ir até onde aigreja não pode chegar.

Cristo comissionou pescadores de homens. Isso tem a ver com o caráterrazoavelmente solitário da tarefa evangelística, cujos resultados sãocontados alma a alma. É assim que a internet funciona! Uma simples fraseevangelística que, embora despretensiosa, é compartilhada centenas devezes pelos membros da congregação, atingirá muitos mais pecadores doque o lindo site da igreja procurado apenas pelos que já são crentes.

2. Você é o que você publica. Jesus disse em Mateus 12.34 que “a boca

fala do que está cheio o coração” (ARA). Logo, as nossas postagenscotidianas, nas redes sociais, têm muito mais poder testemunhal do que asfrases intencionalmente evangelísticas, pois somos o que publicamos.

Admiradas, as pessoas indagavam acerca da fonte da autoridade daspregações de Jesus. Todas elas, porém, sabiam que Ele ensinava comautoridade, e não como os escribas e fariseus (Mc 1.22). O Mestre, antes detudo, vivia estritamente por suas palavras. O seu discurso intencional

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concordava com as suas ações. Conclui-se que uma mensagemevangelística, perdida entre centenas de postagens inconvenientes,pecaminosas e mundanas, será tão destrutiva quanto o pior dos vírus decomputador.

3. Crie uma FanPage. A FanPage é diferente do per l. Este serve para

pessoas; aquela, para empresas e instituições. A sua igreja, seu grupo dejovens e adolescentes, ou qualquer outro departamento de suacongregação, pode ter uma FanPage. É absolutamente gratuito e muitofácil de usar. Na verdade, o FaceBook encarrega-se de orientar o usuárionas postagens. Além disso, os relatório da FanPage (todos fornecidosautomaticamente pelo FaceBook) permitem-lhe monitorar a repercussãodas postagens.

4. Desenvolva um canal no YouTube. Como já dissemos, na internet

apenas as iniciativas excelentes e gratuitas sobrevivem. Por isso mesmo, épossível usar alguns serviços excepcionais, na rede, sem gastar nenhumcentavo. Haja vista os canais do YouTube. Um canal é como um álbum de

gurinhas, só que elas têm movimento e som. Você pode postar vídeoscurtos (para ns evangelísticos, eles não podem ter duração superior a umminuto) ou palestras e pregações. Mas é importante que você tenha algoem mente: ninguém acessa ou assina um canal para fazer de você umacelebridade digital. As pessoas só assistem àquilo que as interessa; nainternet, ninguém é obrigado a nada. Então, seja criativo e relevante;busque a sabedoria do alto.

5. Crie uma lista de transmissão no WhatsApp. O Brasil tem mais

aparelhos telefônicos ativos que pessoas! E se você possui um celular,provavelmente tem WhatsApp. Esse aplicativo caiu no gosto dosbrasileiros de tal maneira, que o nosso país é a maior audiência dele forados Estados Unidos. Mas com o WhatsApp veio a perturbadora mania dosgrupos. É grupo de mocidade, das irmãs, da classe da Escola Dominical, dafaculdade e do pessoal do trabalho. E o que era para ser um fórum paraassuntos ligados aos interesses comuns tornou-se um meio de divulgaçãode piadas, vídeos bizarros e imagens satíricas. Para ns evangelísticos,portanto, um grupo é uma coisa inútil. O que fazer?

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A solução pode estar nas listas de transmissão. Com essafuncionalidade, você pode enviar uma mensagem redigida em linguagemdireta não para um, mas para todos os seus contatos. Ela será visualizadapelos destinatários como sendo um recado pessoal seu para eles, para cadaum pessoalmente, mas sem o trabalho de redigir um texto para cadacontato. Então, faça uma lista de transmissão apenas para os seus contatosnão crentes. Veja como é fácil: Abra o aplicativo WhatsApp; vá atéConversas > Menu > Nova Transmissão; escolha os nomes dosdestinatários; e, finalmente, confirme e toque em Criar.

Conclusão O mundo jamais viveu um avanço cientí co, industrial ou acadêmico

como este. Sem exageros, o conhecimento produzido no último século ésuperior a tudo o que foi escrito, descoberto ou criado anteriormente. Masisso não deve surpreender-nos. Primeiro, por que está previsto nasEscrituras (Dn 12.4) e, segundo, por que o saber não é essencialmentedanoso (Pv 2.6). Ao contrário, bene ciamo-nos tanto da medicina quantoda tecnologia atual de telecomunicações. Entretanto, a era da informação,apesar das óbvias vantagens que oferece, é um desa o evangelístico, poisnão houve outro momento com mais distrações ou concorrências àpregação do evangelho do que o atual.

A maioria de nós não é nascida no ambiente virtual da era dainformação. Ao contrário, tivemos de aprender a viver neste período. Masas necessidades dos seres humanos continuam as mesmas: o homem aindaprecisa de Deus e da salvação em Jesus Cristo. Você pode não entendertodos os recursos da modernidade, mas conhece o modelo ideal paraganhar almas. Então, fale de Cristo.

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AEvangelizaçãoIntegral nestaÚltima Hora

Introdução Hoje, durante o almoço, um convidado ilustre, dispensando exórdios e

etiquetas, perguntou-me: “Qual o maior desa o da igreja evangélica?” Apergunta não chegou a surpreender-me, porque eu já vinha maturando oassunto. Não tive, por isso, di culdades em responder-lhe: “Nosso maiordesa o, hoje, é voltar a ser Igreja”. Como não tinha tempo para costuraroutras considerações, generalizei umas coisas aqui, especi quei outras ali.E calei-me sobre muitas. Não sei se o meu interlocutor deu-se porsatisfeito. Mas, naquele momento, era tudo o que eu podia dizer-lhe.

Gostaria de haver explicado àquele homem gentilmente culto que, àmedida que nos robustecemos como organização, debilitamo-nos comoorganismo. E, se ganhamos alguma coisa em quantidade, já começamos aperdê-la por falta de qualidade. O futuro? Só Deus sabe. Infelizmente, o

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que tanto temíamos acabou por acontecer: o nominalismo já é umaepidemia entre nós. Por isso, é-nos bastante apropriado o diagnóstico queo Senhor fez de Sardes: “Conheço as tuas obras, que tens nome de quevives e estás morto” (Ap 3.1, ARA).

I. O Perigo da Autossuficiência

Tornamo-nos ricos, poderosos, in uentes. Bastamos a nósmesmos. Hoje, não precisamos mais evangelizar para crescer. Oaumento vegetativo é su ciente para manter-nos a pujança dosnúmeros. Então, por que gerar lhos espirituais se os bebês, apesar deraros, ainda nos incham os róis e as estatísticas? Nessa dormênciaespiritual, crescemos para dentro e minguamos para fora. Nossasdemandas internas são tão urgentes, que já não temos tempo paratratar de coisas importantes como evangelismo e missões.

Florescemos como império; murchamos, todavia, como Reino deDeus. Os passos encurtaram-se e diminuíram; os paços, porém,alongaram-se e zeram-se mais suntuosos. E os nossos pés? Dantes,calejados e formosos; agora, mais delicados que os da esposa deCantares. E, nem por isso, fizeram-se mais limpos.

Antes, éramos arrolados entre os mártires, agora, enrolados com osricos e famosos. Outrora pobres, enriquecíamos a muitos. Nopresente, temos ouro e prata, porém já não temos autoridade paradeclarar: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda”(At 3.6). Sim, de nada temos falta. Mas a nossa miséria espiritual jánão pode ser disfarçada. Como se não bastasse, orgulhamo-nos deuma visão administrativa que vê tudo, menos o Reino de Deus namanjedoura. II. O Amor do Mundo e ao Mundo Ontem, o mundo nos odiava, porque éramos biblicamente corretos.

Hoje, o seu príncipe nos bajula, por estarmos entre os política esocialmente conformados. Ganhamos in uência junto aos palácios ecâmaras, mas já não temos ousadia junto ao trono daquEle cuja soberanianão deve ser ignorada.

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No início, a igreja era evangelizadora. Agora, meramente evangélica. Seno passado fazíamos história, no presente, nem históricos somos. Já nãotemos perspectiva quanto ao futuro. Perdemo-nos no tempo, e já nãotemos noção de eternidade.

Sim, há exceções e não são poucas. No entanto, zemo-nos conhecidosnão pelas exceções, mas pela regra geral. Se as exceções fazem ocristianismo invisível e militante, a regra geral dá corpo e forma àcristandade visível e já bem acomodada a este século. Se não podemosarrancar o cristianismo da cristandade apóstata, que pelo menos lheestanquemos as apostasias.

Ontem, o joio entre o trigo. Hoje, o trigo entre o joio. E, pouco a pouco,vai a erva daninha sufocando a boa semente.

III. Crescimento sem Profundidade O que aconteceu conosco? John Stott foi buscar três palavras simples e

modestas para descrever a igreja evangélica de nossos dias: “Crescimentosem profundidade”. O seu diagnóstico é preciso e doloroso. O teólogobritânico referia-se não somente à igreja de seu país, mas também à doBrasil, pois não deixamos de ser um re exo do que acontece no universoevangélico europeu e norte-americano.

Antes, a espiritualidade da igreja era aferida pela Bíblia. Hoje, peloIBGE. Regozijamo-nos com estatísticas e grá cos. Será que a lição de Davinão é su ciente? O lho de Jessé, mais preocupado com o seu império doque com o Reino de Deus, ordenou a Joabe que levantasse o censo deIsrael. Julgado pelo Senhor, aprendeu: Deus não precisa de multidões paraestar entre o seu povo. Bastam-lhe três santos, e em nosso meio estará parasempre.

Por falta de senso, recorremos ao censo. Os recenseamentos, porém, nãonos medem o cristianismo; limitam-se a aferir-nos a cristandade. Se aqueleé pouco, esta é muita. É por isso que nos alegramos quando promovemosum político, mas não externamos a mesma alegria quando um missionáriosai ao campo.

IV. A Mornidão Espiritual

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Neste reino de indiferença e mornidão, a pergunta faz-se império:“Como a igreja voltará a ser Igreja?” Em primeiro lugar, que nos voltemosao cristianismo e fujamos à cristandade. Esta jamais deixará de ser visível evistosa. Mas aquele, posto que invisível, que ressurja com as propriedadestodas do sal e da luz. Assim recomenda o Senhor: “Assim brilhe também avossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras eglorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.16, ARA).

Em seu livro , John Stott é incisivo:

O que então devemos fazer? Devemos assumir um compromissopessoal com o Senhor Jesus, de coração e de mente, alma e vontade,entregando nossas vidas a ele, sem reservas. Devemos nos humilhardiante dele. Devemos con ar nele como nosso Salvador e nossubmetermos a ele como nosso Senhor; para então assumirmosnossos lugares como membros éis da igreja e cidadãos responsáveisdentro da comunidade. V. O Resgate do Termo Evangélico Diante do exposto, urge resgatarmos o termo “evangélico”. Desgastado

midiaticamente, tornou-se um sinônimo mero e ordinário de riqueza,sucesso, atrevimento e blasfêmia. Não me atrevo a apontar culpados; todossomos responsáveis pelo que vem acontecendo. Contudo, jamais havereide isentar a famigerada teologia da prosperidade que, com a sua açãopreferencial pelos ricos, transformou a igreja evangélica num arremedoteológico. Seus proponentes, sempre tão gabarolas e fanfarrões,substituíram a excelência da vida cristã pelo êxito de uma existência cheiade vazios.

Não quero a destruição da igreja evangélica, mas espero que ela sejatambém evangelizadora. Anseio que ela seja mais cristianismo quecristandade, que aumente como Reino e diminua como império. E que,crescendo, não venha a inchar. Ela não precisa minguar em quantidade,mas é urgente que venha a crescer em qualidade. Para que isso aconteça, épreciso que eu e você avivemo-nos pela Palavra de Deus. Que talcomeçarmos a reaver o evangelismo integral?

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VI. Evangelismo Integral No Pentecostes, a Igreja saiu de Jerusalém para evangelizar o mundo.

Mas a apostasia logo chegou a galope sob a proteção de Constantino, oGrande (272-337). A igreja agora, mais romana que universal, voltaria àJudeia não para falar de Cristo aos muçulmanos. Instigada por Urbano II(1042-1099), voltava para retomar uma cidade que nunca lhe pertencera eque, ainda hoje, angustia-se por ser santa. Em vez de empunhar a Espadado Espírito, desembainhou o aço de sua ganância para matar o corpo edesevangelizar a alma dos que ansiavam ouvir a mensagem da cruz.

Em vez da cruz de Cristo, a cruzada de uma cristandade apóstata eimperial.

Evangelizar não é expandir impérios, ainda que estes exibam títuloseclesiásticos e igrejeiros. O evangelizar autêntico e pentecostal é maissemeadura que colheita, é mais chorar que rir, é mais pregar queteologizar. Que exemplo o semeador da parábola! O Mestre disse que elesaiu, mas calou-se quanto ao seu retorno, pois a evangelização integral tema ver com o sair, e não com o retornar.

A evangelização bíblica compreende a proclamação simultânea denossa casa, do bairro onde moramos, da cidade na qual plantamos a nossaárvore genealógica, do país que nos concedeu nacionalidade e cidadania e,igualmente, do mundo que o Pai entregou ao Filho por herança. Saiamos,pois, a semear, mas não nos preocupemos com a volta. Se Ele encarregou-se de nossa saída, há de cuidar de nosso retorno.

VII. Pentecostes com o Espírito Santo Onde começa a vida cristã? No Calvário. Mas onde tem início a

semeadura e ciente? No Cenáculo. Naquele recanto humilde deJerusalém, apóstolos e discípulos aguardaram, em oração e ordem santa, oderramamento do Espírito Santo. Até mesmo Maria, a mãe do Senhor, aliestava à espera do Consolador que, na plenitude do Pentecostes, haveria dedescer e revestir a todos com o poder do alto.

A partir daquele instante, a Igreja foi chamada para fora, a m deganhar o mundo no poder do Espírito. Chamada para fora do Cenáculo,evangelizou Jerusalém. Chamada para fora de Jerusalém, inundou a Judeia

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com a Palavra de Deus. Chamada para fora da Judeia, chegou a Samaria, aAntioquia e a Roma. De cidade em cidade, alcançou os confins da Terra.

No Pentecostes, todos somos chamados para fora, a m de proclamar oevangelho de Cristo. Por essa razão tão santa, anunciemos que Jesus salva,batiza com o Espírito Santo, cura as enfermidades do corpo, da alma e doespírito, opera sinais e maravilhas e, em breve, há de voltar para levar-nos àJerusalém Celeste.

No poder do Espírito, falaremos de Cristo sem impedimento algum.Infelizmente, há igrejas pentecostais, quer entre as neos, quer entre as

históricas, que, apesar do título que ostentam, já não têm o Espírito Santo.São místicas, mas não espirituais. Sincréticas, mas não bíblicas. Em vez deevangelizar, delizam clientes que se escravizam a um cristianismodivorciado de Cristo e a um pentecostes sem o Espírito Santo.

VIII. Uma Igreja com as Feições do Cristo Houve tempo em que nós, pentecostais, recebíamos os mais abençoados

epítetos. Em São Paulo, éramos alcunhados de crentes, pois fazíamosquestão de alardear a santíssima fé no poder do evangelho. Já no Rio deJaneiro, apelidavam-nos de bíblias, porque não escondíamos nosso apegoà Palavra de Deus. Noutros lugares, as alcunhas oscilavam entre o elogio ea calúnia. Os católicos mais romanos chamavam-nos de quebra-santos,porquanto ensinávamos que há um só mediador entre Deus e os homens,Jesus Cristo, o Homem Perfeito. Na verdade, jamais incentivamos aintolerância e o desrespeito às religiões alheias. Mas, em momento algum,faltamos com a verdade.

O tempo passou. As coisas mudaram. Quanto à nossa postura, evoluiuaté tornar-se social e politicamente correta. Hoje, somos conhecidos porum agnome elegante e chique: evangélicos. Já não nos tratam de crentes,nem de bíblias, ou de quebra-santos. E, como evangélicos, fomosassociados à prosperidade, ao luxo e à luxúria. Se continuarmos assim,logo perderemos também o nome de cristãos.

Nossas feições foram des guradas pelo mundo. Hoje, quem nos olhacomo evangélicos, já não nos vê como cristãos. É hora de resgatarmosnossa identidade como servos de Deus para que, à semelhança dos crentesantioquinos, sejamos conhecidos como autênticos discípulos de Cristo. Se

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a Igreja é santa, basta a sua pureza e integridade para convencer o mundodo pecado, da justiça e do juízo. Mas se é mundana, ao invés deevangelizar, desevangeliza.

IX. Uma Igreja Santa que Produz Santos Criticamos a igreja católica pelos santos que ela, contrariando a Palavra

de Deus, apensa às paredes de seus templos e capelas. Mas onde estãonossos santos? Por não pregarmos mais a santidade, permitimos ao mundoadentrar o rebanho e, vorazmente, destruir aqueles que por avam por umavida íntegra perante Deus e diante dos homens.

A santi cação não será vista, nestes últimos dias da Igreja sobre a Terra,como um adereço em sua teologia ou em seus atos litúrgicos. Se nosvoltarmos à Bíblia Sagrada, constataremos que a santi cação é a doutrinainsubstituível à peregrinação daqueles que, renunciando ao presenteséculo, apegam-se a eternidade. Sem a santi cação ninguém verá oSenhor. É o que nos adverte o apóstolo em sua epístola aos crentes hebreus.

Se não retornarmos a uma vida santa, como haveremos de pregar oevangelho integral? Certa vez, um evangelista da Idade Média convocou osseus discípulos e ordenou-lhes: “Vão e preguem o evangelho. Se fornecessário, usem as palavras”.

X. Uma Igreja à Espera de Jesus Até o início dos anos 1980, o mundo evangélico era movido por uma

onda escatológica que, partindo dos Estados Unidos, rebatia na Europa eespraiava-se no Brasil. Mas o tempo passou. E com este, a expectativa deum arrebatamento iminente da Igreja de Cristo.

Em lugar da escatologia, demos guarida à teologia da prosperidade comtodas as suas quinquilharias, slogans e fetiches. Antes, as últimas coisas;agora, nem as primeiras, pois nos habituamos ao presente século. Então,por que nos ocupar com a eternidade? Em lugar do eterno, o temporal. Aoinvés do divino, o humano com todas as suas mundanidades. E, em vez docéu, a terra.

Na perspectiva divina, porém, esse jogo de palavras não é tãoinconsequente. Em lugar do eterno, não contemos com o temporal, mas

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com o castigo que não tem m. Ao invés do divino, não esperemos ohumano, mas o diabólico que nos torna tão adversários de Deus quantoSatanás. Em vez do céu, não aguardemos a terra, mas o lago que arde comfogo e enxofre.

Por esse motivo, não tão literário, busquemos o Reino de Deus e a suajustiça. Se assim procedermos, viremos a esquecer de nossos impérios eninhos que, em nossa mornidão espiritual, construímos num mundo quejaz no maligno.

Estejamos, pois, apercebidos. Em breve virá Jesus arrebatar-nos àsregiões celestiais.

Conclusão Eu gostaria de ter dito tudo isso ao meu interlocutor durante o almoço

de hoje. Mas tive pouco tempo. Já em minha sala, agradeci a Deus pelapergunta que me fez aquele homem. Num momento como este, asindagações são mais necessárias que as respostas, pois levam aoarrependimento e às respostas que somente Deus pode dar-nos.

Como herdeiros espirituais de Daniel Berg e Gunnar Vingren, nãofujamos à mensagem simples, mas e caz, do evangelho: Jesus Cristo salva,batiza com o Espírito Santo, cura, opera sinais e maravilhas e, brevemente,levar-nos-á para o céu.

Que a igreja seja Igreja!

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