o debate sobre o sabá

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O debate sobre o sabá: descansar em Cristo é o principal Você está aqui: 1. Home 2. Artigo, Igreja, Ligonier, Santificação, Tabletalk 3. O debate sobre o sabá: descansar em Cristo é o principal A obediência é mesmo um caminho estreito. A desobediência, por outro lado, tem uma vasta gama de opções. Por sermos como os fariseus, nós achamos fácil converter a lei de Deus em diversos pecados de omissão. Somos muito melhores em não fazer o que não devemos fazer do que em fazer o que devemos fazer. Assim, nós reduzimos o sabá a todas aquelas coisas que não nos é permitido fazer. Nós trabalhamos para esmiuçar a definição de “trabalho” de modo a nos certificarmos de não o fazermos no sabá. Ao agir assim, como é de costume, nós erramos o alvo. Se tivéssemos de dividir os Dez Mandamentos não entre

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Page 1: O Debate Sobre o Sabá

O debate sobre o sabá: descansar em Cristo é o principalVocê está aqui:

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3. O debate sobre o sabá: descansar em Cristo é o principal

A obediência é mesmo um caminho estreito. A desobediência, por outro lado, tem uma vasta gama de opções. Por sermos como os fariseus, nós achamos fácil converter a lei de Deus em diversos pecados de omissão. Somos muito melhores em não fazer o que não devemos fazer do que em fazer o que devemos fazer. Assim, nós reduzimos o sabá a todas aquelas coisas que não nos é permitido fazer. Nós trabalhamos para esmiuçar a definição de “trabalho” de modo a nos certificarmos de não o fazermos no sabá. Ao agir assim, como é de costume, nós erramos o alvo. Se tivéssemos de dividir os Dez Mandamentos não entre os deveres para com Deus e os deveres para com os homens, como muitos fazem, mas, em vez disso, se os classificássemos em proibições e ordenanças positivas, o mandamento do sabá estaria entre as ordenanças positivas. Ele diz menos respeito ao que somos proibidos de fazer e mais ao que somos ordenados a fazer.

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Primeiro, acredite ou não, o mandamento do sabá nos ordena a trabalhar. “Seis dias trabalharás” não é um interessante prelúdio planejado para meramente apresentar o contexto do mandamento que está por vir. É um mandamento em si mesmo. Nós devemos estar ocupados com o trabalho que está posto diante de nós. Devemos estar avidamente buscando o reino de Deus. Devemos reconhecer que vivemos no “ainda não” do reino. Nem todos os inimigos foram postos debaixo de seus pés ainda. Nós ainda não exercemos completamente o domínio sobre a criação. O reino de Jesus ainda não é universalmente reconhecido. O Breve Catecismo de Westminster pergunta: “Como exerce Cristo as funções de rei?”, e sua resposta é: “Cristo exerce as funções de rei, sujeitando-nos a si mesmo, governando-nos e protegendo-nos, contendo e subjugando todos os seus e os nossos inimigos”. Enquanto reinamos com ele e debaixo da autoridade dele, este é o trabalho a que somos chamados: buscar o seu reino, tornar manifesto o seu domínio.

Segundo, quando o mandamento do sabá passa a tratar do dia de observância, ele não ordena que evitemos trabalhar – é muito mais profundo: somos ordenados a descansar. Nós pensamos estar guardando o mandamento se corajosamente nos recusamos a fazer todo o trabalho que está acumulado e que tira o nosso sono à noite. Ao invés disso, nós estamos pecando. Descansar não é simplesmente cessar de trabalhar; é também cessar de se preocupar. Isso não é fácil. Com efeito, por assim dizer, descansar, especialmente cessar de se preocupar, é um trabalho árduo. É preciso disciplina e firmeza para se livrar de tudo o que nos deixa preocupados.

Nós não estamos sendo bem-sucedidos ainda que nossas preocupações sejam mais piedosas. Isto é, nós não estamos falhando em guardar o sabá apenas quando nos preocupamos com aquela importante reunião de trabalho na segunda-feira, mas também quando nos preocupamos com a nossa persistente falha em mortificar aquele pecado específico que tanto nos perturba. Preocupação é preocupação e isso não tem lugar na nossa celebração no sabá. O Dia do Senhor é um dia festivo e deve ser tratado como tal.

Nós nos alegramos e deixamos de lado nossas preocupações quando chegamos a compreender que o Dia do Senhor é aquele tempo em

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que deixamos o “ainda não” do reino e entramos no “já”. Não é certo que o elemento definidor da eternidade é a bênção de se aproximar do Deus vivo? Quando nos banqueteamos na Mesa do Senhor, não está ele declarando a sua bênção sobre nós? Não está ele nos abençoando e guardando, fazendo resplandecer o seu rosto sobre nós, tendo misericórdia de nós? Não está ele levantando o seu rosto sobre nós? Não está ele nos dando paz?

Quando nos preocupamos com coisas mais ordinárias, falhamos em atender ao chamado de Jesus, no Sermão do Monte, para deixarmos de lado nossas preocupações e não sermos como os gentios. Somos chamados a, em vez disso, buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça. Quando nos preocupamos com coisas mais espirituais, especialmente com nossos próprios pecados, perdemos de vista o próprio coração de toda a pregação do Dia do Senhor – nós, os que nos arrependemos, somos perdoados em Cristo. Nós, por sua graça soberana, terminamos a nossa busca – já recebemos a sua justiça.

O sabá, então, é shalom, e shalom é sabá. Nós temos descanso porque temos paz. Temos paz porque temos descanso. Temos essas duas coisas porque Jesus é não apenas o Senhor do sabá e o Príncipe da paz, mas é também o nosso Sabá, a nossa Paz.

Há um modo correto de guardar o sabá em nosso contexto. Há uma resposta certa para a questão que nos divide. No final, contudo, seja qual for a posição que tenhamos acerca do sabá – quer creiamos que essa lei foi revogada na nova aliança, quer creiamos que ela foi modificada na nova aliança, quer mantenhamos o ávido compromisso de nossos pais puritanos –, a questão principal diz respeito ao evangelho: estamos nós descansando na obra consumada de Cristo? Aquele que guarda mais fielmente o sabá é, no fim das contas, aquele que guarda mais alegremente o sabá. O sabá, enfim, não é simplesmente algo a ser observado, mas algo a ser celebrado. E nós celebramos não simplesmente um dia longe do trabalho. Nós celebramos a vitória do nosso Rei. Nós estamos cheios de alegria, pois ele venceu o mundo. E nós reinamos com ele.

Observação:

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Este artigo é parte da série “Sabá: O Debate Incansável”, na qual serão publicados artigos defendendo diferentes posições para que nosso leitor tenha uma compreensão mais abrangente sobre o assunto. Sendo assim, a postagem de uma posição específica não indica o posicionamento oficial deste ministério. Veja a lista de artigos sobre o assunto:

1. O debate sobre o sabá (sábado ou sabbath)

2. O debate sobre o sabá: a guarda do sábado, o sétimo dia

3. O debate sobre o sabá: o domingo puritano

4. O debate sobre o sabá: o descanso luterano

5. O debate sobre o sabá: o sábado cumprido em Cristo

6. O debate sobre o sabá: descansar em Cristo é o principal

Por: R.C. Sproul Jr. © 2011 Minsitério Ligonier. Original: The Rest of the Story.

Este artigo faz parte da edição de junho de 2011 da revista Tabletalk.

Tradução: Vinícius Silva Pimentel. Revisão: Vinícius Musselman Pimentel. © 2014 Ministério Fiel. Todos os direitos reservados. Website: MinisterioFiel.com.br. Original: Sabá: um Chamado para Descansar em Cristo.

Veja mais artigos desta revista

Dr. R.C. Sproul Jr. é o fundador do Ministério Highlands e professor parceiro do Ministério Ligonier. Ele é autor do livro e séries Believing God e professor no documentário Economics Has Consequences.

O debate sobre o sabá: o sábado cumprido em CristoVocê está aqui:

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Page 5: O Debate Sobre o Sabá

3. O debate sobre o sabá: o sábado cumprido em Cristo

Cada vez menos cristãos reservam um dia da semana para a adoração e para o descanso de todas as formas de trabalho. Deveríamos nos preocupar com isso? Os adventistas do sétimo dia e os batistas do sétimo dia dizem que sim e sustentam que o dia do sabá deve ser o sábado.

Alguns tipos de presbiterianos e de cristãos reformados, juntamente com outros influenciados pelo legado dos puritanos, respondem “sim” com a mesma ênfase, contudo insistem que o domingo é o sabá cristão. Ainda há aqueles que defendem o princípio de descansar um dia a cada sete, mas não se preocupam com qual seja o dia da semana, uma vez que os pregadores, por exemplo, dificilmente podem descansar no dia em que lideram os cultos de adoração. Alguma dessas três perspectivas está correta? Na verdade, não.

Jesus declarou: “Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir” (Mateus 5.17, NVI). É um contraste incomum. Normalmente, quando alguém diz não estar abolindo alguma coisa, continua e diz estar preservando-a intacta. Mas não é assim que a palavra cumprir é usada na Bíblia. Apenas em Mateus, seu significado mais comum é “realizar aquilo que estava predito” ou “dar o significado pleno a algo que estava apenas parcialmente descoberto” (por

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exemplo, 1.22; 2.15, 17, 23; 3.15; 4.14). Cristãos de todos os tipos reconhecem que não precisam trazer animais à igreja para serem mortos e oferecidos como sacrifícios por seus pecados, muito embora tal prática fosse central a todo o sistema de adoração da antiga aliança. Cristo é de uma vez por todas o nosso sacrifício pelos pecados; assim, o modo como observamos as muitas leis sacrificiais de Levítico hoje é confiando em Jesus para o perdão dos pecados. O Novo Testamento introduz igualmente muitas outras mudanças na lei do Antigo Testamento – todos os alimentos agora são ritualmente puros, de modo que não há problema em comer porco ou camarão (Marcos 7.19). Nós não precisamos ir a um lugar definido para os rituais do templo, porque adoramos em qualquer lugar no qual possamos nos reunir “em Espírito e em verdade” (João 4.24). Homens cristãos não precisam ser circuncidados, muito embora esse fosse um dos mais fundamentais de todos os mandamentos judaicos, precedendo até a entrega da lei no Monte Sinai (Gênesis 17). Em vez disso, hoje Deus aceita igualmente todos os povos com base na “fé que atua pelo amor” (Gálatas 5.6). A lista de mudanças semelhantes é longa.

Mas o que dizer dos Dez Mandamentos? Certamente eles têm algo de especial e são especialmente atemporais de maneiras que o restante da lei da antiga aliança não é. Apesar de uma longa história de pensamento cristão nessa linha, nada na Bíblia jamais afirma isso. Toda a Escritura é vista como uma unidade (Tiago 2.8-11). Os judeus criam que todas as suas leis eram imutáveis. Era isso que tornava tão difícil para muitos deles aceitar Jesus como enviado do céu; ele estava desafiando suas leis eternas. Não importava se ele deixaria muitas delas aparentemente intactas; o seu ensino de que a nova era da história humana, a qual ele estava inaugurando, iria mudar algumas dessas leis deixava muitas pessoas inflamadas. Apenas Deus poderia mudar a lei de Deus. Mas, se Cristo era Deus, então ele tinha esse direito. Se ele não era, seu ensinamento era blasfemo. Os cristãos, contudo, creem que Jesus é Deus. Assim, ainda que uma lei apareça nos Dez Mandamentos, nós não podemos presumir que ela adentra a era do novo pacto sem mudanças. Nós precisamos examinar como Jesus e os apóstolos a trataram antes de podermos entender se ela ainda é obrigatória.

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O que, então, o Novo Testamento ensina acerca da lei do sabá, um mandamento dentre os famosos dez (Êxodo 20.10)? Jesus não responde essa questão tão explicitamente quanto gostaríamos; se o tivesse feito, não estaríamos debatendo este assunto hoje. Porém, em todos os seus encontros com os líderes religiosos do seu povo, ele os reprova por impedi-lo de fazer o bem aos sábados, especialmente no que concerne a curar pessoas. Curiosamente, porém, ele jamais cura alguém cuja vida esteja em perigo iminente. Uma mulher andava encurvada há dezoito anos (Lucas 13.10-11). Um homem estava inválido há trinta e oito (João 5.5, 9).

Podemos imaginar os fariseus argumentando com Cristo: certamente ele poderia esperar mais um dia para curar aquelas pessoas, de modo que não profanasse o sabá divino. Certa vez, os discípulos de Jesus colheram algumas espigas em um campo, no sabá, presumivelmente para comê-las, mas nada implica que eles estivessem à beira da inanição (Marcos 2.23). Contudo, a defesa de Jesus para o seu comportamento apresenta um precedente amplo para mudanças: “O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Marcos 2.27).

Ao curar um homem com uma mão ressequida no sabá, Jesus ensina que é lícito fazer o bem no sabá (Marcos 3.4). Qualquer comportamento que ajude alguém, que embeleze o mundo, que faça avançar a vontade de Deus, que promova o trabalho honesto ou que proveja recreação ou prazer ao povo de Deus é considerada “boa” na Bíblia e é, portanto, lícito realizá-lo no sabá. Essa é a atitude que deu à primeira geração de cristãos a liberdade de transferir o culto do sabá judaico no sétimo dia para o domingo, o primeiro dia da semana (Atos 20.7; 1Coríntios 16.2). Foi isso que os conduziu a chamar o domingo de “o Dia do Senhor” (Apocalipse 1.10).

Mas os cristãos de modo algum transferiram tudo o que havia no sabá judaico do sábado para o domingo. Os crentes gentios, que compreendiam a maior parte da igreja da metade do primeiro século em diante, não tinham em suas comunidades um dia semanal para o descanso. Gregos e romanos tinham diversos feriados mensais, de acordo com os diversos calendários religiosos festivos que seguiam. Porém, a menos que algum desses feriados caísse num domingo, os

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cristãos gentios tinham que trabalhar o dia inteiro no primeiro dia da semana e encaixar a adoração e a comunhão ou na manhã do domingo, antes do amanhecer, ou na noite do sábado ou do domingo, após o anoitecer. Foi apenas depois de Constantino tornar-se o primeiro imperador cristão, no início do quarto século, que o domingo foi legalizado como um dia santo (e portanto feriado) no Império Romano.

Muitos dos escritores cristãos do segundo e do terceiro séculos até mesmo falavam da guarda do sabá como uma prática “judaizante” – que levava de volta ao legalismo que Cristo viera abolir. Aquilo provavelmente era uma reação exagerada, a menos que as pessoas que guardassem o sabá, seja no sábado ou no domingo, estivessem tentando obrigar outros a segui-los. Afinal, em Romanos 14.5, Paulo escreveu: “Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente”. Esse mandato é dado no contexto do descanso no capítulo 14, no qual Paulo aborda questões que estavam dividindo os cristãos em Roma. No coração do debata estava o sabá e outros dias festivos, bem como as leis alimentares, acerca das quais Paulo diz, em poucas palavras: parem de julgar uns aos outros (v. 13).

Colossenses 2.16 é ainda mais claro: “Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo”. Aqui nós vemos a costumeira tríade judaica de dias santos – festas anuais como a Páscoa, Tabernáculos ou o Dia da Expiação; dias festivos mensais e o sabá semanal. Os cristãos são livres para celebrá-los ou não, e os outros cristãos não devem julgá-los por suas escolhas. A encarnação de Cristo é a realidade que os dias santos preanunciavam. Os seguidores de Jesus vêm a ele e recebem descanso “24 por 7”, como dizemos hoje, porque o seu jugo é suave e o seu fardo é leve (Mateus 11.28-30). Nossa vida inteira é um descanso sabático, preanunciando o nosso descanso eterno (Hebreus 4.9-11).

Estou dizendo, então, que o culto e o descanso são opcionais para os cristãos? De modo algum. Nós precisamos de ambos e precisamos deles com frequência. O que estou dizendo é que o Novo Testamento

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insiste que não nos atrevamos a legislar ou exigir um dia em sete para essas coisas. O corpo de cada pessoa é diferente, assim como são suas exigências de trabalho, suas oportunidades de se reunirem com outros crentes e suas necessidades espirituais em geral. Em um mundo viciado em trabalho, que com tanta frequência fragmenta famílias e igrejas, tenhamos o descanso que nos for necessário e cultuemos com frequência juntamente com o povo de Deus. E que as igrejas criem mais cultos, no sábado à noite ou em outros dias da semana, para aqueles que não podem vir ou não vêm aos domingos. Com efeito, sejamos cada vez mais criativos em como alcançar os desigrejados e os que precisam de salvação. Mas não podemos fingir que a panaceia para os nossos problemas na igreja e na sociedade esteja em retornar a um sabá supostamente idílico que, antes de tudo e em grande parte, foi uma invenção dos puritanos.

Nota:

[1] N.E.: Sabá é a transliteração em português do termo em hebraico. Alguns textos usam sábado ou sabbath (transliteração em inglês). Optamos por sabá por ser um termo em português e distinto do dia da semana. Contudo, não se deve confundir com a rainha de Sabá de 1 Reis 10:4.

Observação:

Este artigo é parte da série “Sabá: O Debate Incansável”, na qual serão publicados artigos defendendo diferentes posições para que nosso leitor tenha uma compreensão mais abrangente sobre o assunto. Sendo assim, a postagem de uma posição específica não indica o posicionamento oficial deste ministério. Veja a lista de artigos sobre o assunto:

1. O debate sobre o sabá (sábado ou sabbath)

2. O debate sobre o sabá: a guarda do sábado, o sétimo dia

3. O debate sobre o sabá: o domingo puritano

4. O debate sobre o sabá: o descanso luterano

5. O debate sobre o sabá: o sábado cumprido em Cristo

6. O debate sobre o sabá: descansar em Cristo é o principal

Por: Craig L. Blomberg. © 2014 Minsitério Ligonier.

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Este artigo faz parte da revista Tabletalk.

Tradução: Vinícius Silva Pimentel. Revisão: Vinícius Musselman Pimentel © 2014 Ministério Fiel. Todos os direitos reservados. Website: MinisterioFiel.com.br. Original: O Sabá Realizado.

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Dr. Craig Blomberg é um renomado professor de Novo Testamento no Denver Seminary em Littleton, Colorado, EUA. É o autor de Jesus e os Evangelhos (Edições Vida Nova), Questões cruciais do Novo Testamento (Editora CPAD) e Nem pobreza nem riqueza: as posses segundo a teologia bíblica (Editora Esperança).

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3. O debate sobre o sabá: o descanso luterano

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De início, eu tenho de reconhecer que as questões de quando e como se deve observar o sabá não têm despertado muita atenção dos luteranos ao longo dos anos. Até o presente, os luteranos são em grande parte guiados pelo modo como Martinho Lutero, o reformador protestante do século XVI, interpretou o mandamento do sabá em seus Catecismos Breve e Maior.

No Breve Catecismo, Lutero traduz o texto bíblico assim: “Santificarás o dia do descanso” (para os textos dos catecismos de Lutero, ver oLivro de concórdia: as confissões da igreja evangélica luterana [N.T.: publicado em português pela Editora Sinodal em conjunto com a Editora Concórdia e a Editora da Ulbra]). Como você pode ver, ele aparece um pouco diferente de como talvez estejamos acostumados a ler. A fim de melhor compreender a visão luterana do dia do sabá, precisamos considerar tanto a sua história como o seu entendimento atual.

O evangelho e o sabá

Toda tradição é moldada pela era formativa na qual emergiu. Isso também é verdade quanto ao luteranismo. Quando Lutero redescobriu o evangelho, ele arrancou, uma por uma, as camadas encrustadas de regulações legalistas que obrigavam os cristãos a alcançarem a sua

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justiça por seus próprios méritos. Do século XVI em diante, a preocupação central e primordial dos luteranos era, como é, o evangelho de Jesus Cristo. Este evangelho anuncia que Deus nos considera justos, pela graça, em virtude de Jesus Cristo, pela fé somente. Este evangelho dá toda a glória a Cristo e traz pleno conforto aos pecadores aflitos. A fim de preservar a história do evangelho enquanto história do evangelho, os luteranos foram, e continuam a ser, vigilantes em se opor a qualquer coisa que possa apontar na direção do legalismo e de uma justiça meritória, na medida que essas coisas solapam o evangelho.

Assim, Lutero traduziu o mandamento do sabá de modo a rejeitar as interpretações legalistas que eram tão comuns em seu tempo. Inicialmente, ele teve de lutar com o legalismo, encontrado na igreja medieval, concernente a diversas regulações que a igreja estabelecera sobre como o dia deveria ser observado. Depois, ele também reputou necessário rejeitar as tentativas de restabelecer o sabá do sétimo dia como algo “legalmente” obrigatório aos cristãos na era do Novo Testamento.

Os paralelos entre o legalismo que Jesus encontrou entre os líderes religiosos de seu tempo e aquele que Lutero encontrou em seus dias são claros. Em várias ocasiões, os evangelhos relatam como Jesus resistiu às exigências quanto ao sabá feitas por seus oponentes. O sabá foi feito para o homem, não o homem para o sabá. “De sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado” (Marcos 2.23-28). Em outro lugar, Jesus acrescentou que ele e o seu pai continuavam a trabalhar até aquele dia (João 5.10-17). Paulo desenvolve esse ponto ao sustentar que Jesus é o cumprimento da lei da antiga aliança e, assim, o fim dessa lei (Romanos 10.4).

Outra passagem central para o entendimento luterano acerca da aplicabilidade continuada das exigências do Antigo Testamento é Colossenses 2.16-23:

Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo. […] Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis

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no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade.Isso significa que nenhuma das leis da antiga aliança dadas distintamente a Israel são obrigatórias aos cristãos. Os luteranos creem que as leis da antiga aliança permanecem válidas para os cristãos na medida que elas concordem com a lei natural, isto é, estejam entrelaçadas no tecido da criação e escritas em nossos corações (para uma boa introdução a este assunto, ver J. Budziszewski, Written on the heart: the case for natural law [Downers Grove, Illinois, EUA: IVP Academic, 1997] [N.T.: Escrita no coração: em defesa da lei natural, sem tradução em português]). Todas as outras podem ser apropriadas na medida que sejam úteis e sirvam a um bom propósito, mas não podem ser tidas por obrigatórias.

A versão de Lutero

Contra esse pano de fundo, podemos considerar as explicações de Lutero acerca do mandamento do sabá tal como encontrado em Êxodo 20.9-11. O texto completo diz o seguinte:

Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou.Lutero encontrou a sua pista para a interpretação no versículo 11. Ao fazê-lo, ele concentrou-se no “descanso” e na palavra divina de “benção”.

Primeiro, Lutero traduz a palavra sabbath como “dia do descanso”. Deus descansou e “tomou alento” no sétimo dia (Êxodo 31.17). A igreja medieval havia frequentemente interpretado sabbath com o significado de “dias de festa” ou “dias santos”. Esses eram os dias

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designados pela igreja como dias santos ou separados para especial observância. Obviamente, isso incluía os domingos, mas não exclusivamente. Então, uma série de regulações era imposta, as quais tornavam a observância do mandamento mais um fardo do que uma bênção. Em um sermão pregado em dezembro de 1528, Lutero observou que os homens e os animais necessitam, igualmente, de um tempo para descansarem e tomarem alento. Uma pessoa não pode trabalhar 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano, sem parar. O fato de se descansar é mais importante do que quando se descansa. Então, se não pode ser no domingo, então descanse em algum outro dia.

Segundo, como alguém santifica (torna santo) o dia do descanso? Aqui Lutero toma o tema de Êxodo 20.11, que diz: “o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou”. Em outras palavras, a palavra de bênção proferida por Deus tornou o dia santo. Novamente, isso contrastava com a tendência da igreja medieval de considerar santo o espaço de uma igreja pelo fato de, abaixo do altar, estarem enterrados os restos mortais de algum santo. Contra esse pano de fundo, Lutero reivindicava que apenas a Palavra de Deus torna todas as coisas santas. A Palavra realiza aquilo que ela diz. Quando Deus diz: “haja luz”, há luz. Quando Deus diz: “eu o perdoo”, você está perdoado. Então como nós tornamos santo o dia de descanso? Atendendo à Palavra de Deus. A Palavra tornou o dia santo, assim como nos tornou santos. Não se pode fazer nada melhor do que separar algum tempo e ocupar-se com a Palavra de Jesus Cristo.

E hoje?

Toda tradição é moldada pela época que deu origem à sua história e aos seus valores. Isso certamente é verdade com respeito à minha própria tradição luterana. A redescoberta do evangelho por Lutero e sua desavergonhada rejeição das amarras do legalismo continua a moldar a abordagem da minha tradição quanto à lei e às regulações humanas. Há mais a ser dito? Certamente. Em particular, penso que o relato do sétimo dia da criação em Gênesis provê algumas proveitosas diretrizes sobre como nós pensamos acerca de nós mesmos, de nosso lugar na narrativa da criação e da renovação final da criação em Jesus Cristo.

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De várias maneiras, o sétimo dia marca o término e a culminação da criação. Todas as coisas conduzem a ele. Deus gostou do que havia feito e se deleitou na criação (ver o útil trabalho de Norman Wirzbs,Living the Sabbath [Grand Rapids: Brazos Press, 2006] [N.T.: Vivendo o sábado, sem tradução em português]). Ele nos convida, nós que fomos feitos à sua imagem, a fazermos o mesmo. Como é óbvio, em Adão nós bagunçamos as coisas. Deus prometeu restaurar o seu povo e a sua criação. Jesus veio endireitar as coisas. Ele veio reivindicar e restaurar a sua criação. Ao morrer, ele suportou a maldição. Ao ressuscitar, a nova criação irrompeu do meio da primeira criação.

Não é de admirar, então, que a igreja primitiva tenha considerado o domingo – o dia da ressurreição de Jesus – como o oitavo dia da criação. A ressurreição de Cristo não deixa para trás a primeira criação e, com ela, o sétimo dia do descanso. Em vez disso, a primeira criação e o seu sabá são, agora, alcançados na ressurreição de Cristo e encontram o seu cumprimento na nova criação. Assim como Deus nos convocou a compartilhar do seu deleite sobre a criação original, ele agora nos convoca a compartilhar do seu deleite sobre a nova criação que se revelará, de modo completo e definitivo, quando Cristo retornar em glória. Naquele dia, nós entraremos no eterno descanso sabático (ver Hebreus 4.4-11), no qual haveremos de nos alegrar por tudo o que Deus fez.

Nesse meio tempo, precisamos redescobrir a importância e o valor do descanso sabático. Temos separado tempo para descansar nosso corpo e nossa mente? Temos separado tempo para nos deleitarmos e satisfazermos na feitura de Deus? Com muita frequência, em nossa sociedade viciada em trabalho, nós corremos pela vida cegos para as muitas maravilhas da criação divina. Falhamos em observar tudo o que Deus fez. A redenção nos restaura para Deus, uns para os outros e para a criação. O sabá nos convida ao deleite em tudo o que Deus fez (a criação e a sua renovação) e, assim, a tomarmos alento.

Nota:

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[1] N.E.: Sabá é a transliteração em português do termo em hebraico. Alguns textos usam sábado ou sabbath (transliteração em inglês). Optamos por sabá por ser um termo em português e distinto do dia da semana. Contudo, não se deve confundir com a rainha de Sabá de 1 Reis 10:4.

Observação:

Este artigo é parte da série “Sabá: O Debate Incansável”, na qual serão publicados artigos defendendo diferentes posições para que nosso leitor tenha uma compreensão mais abrangente sobre o assunto. Sendo assim, a postagem de uma posição específica não indica o posicionamento oficial deste ministério. Veja a lista de artigos sobre o assunto:

1. O debate sobre o sabá (sábado ou sabbath)

2. O debate sobre o sabá: a guarda do sábado, o sétimo dia

3. O debate sobre o sabá: o domingo puritano

4. O debate sobre o sabá: o descanso luterano

5. O debate sobre o sabá: o sábado cumprido em Cristo

6. O debate sobre o sabá: descansar em Cristo é o principal

Por: Charles P. Arand. © 2014 Minsitério Ligonier.

Este artigo faz parte da revista Tabletalk.

Tradução: Vinícius Silva Pimentel. Revisão: Vinícius Musselman Pimentel © 2014 Ministério Fiel. Todos os direitos reservados. Website: MinisterioFiel.com.br. Original: O Sabá Luterano.

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Dr. Charles P. Arand é professor e catedrático do Departamento de Teologia Sistemática no Concordia Seminary em Saint Louis, Missouri, EUA. Ele é coautor do livro The Genius of Luther’s Theology: A

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Wittenberg Way of Thinking for the Contemporary Church [N.T.: O gênio da teologia de Lutero: o modo Wittenberg de pensar para a igreja contemporânea, sem tradução em português].

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3. O debate sobre o sabá: o domingo puritano

Desde o tempo da Reforma até meados do século XX, a grande maioria dos cristãos protestantes mantinha uma visão bem estrita acerca da observância do domingo. Com a intromissão do liberalismo, o surgimento do dispensacionalismo e a presença ubíqua da televisão, essa prática declinou de tal modo que, hoje, apenas uma pequena minoria de cristãos no Ocidente mantém essa posição.

A maioria dos cristãos sustenta que o domingo é um dia de adoração, mas, uma vez que o mandamento do sabá [1] servia como sinal da aliança apenas para Israel (Êxodo 31.13ss.), o cristão não está obrigado a observá-lo.

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O papel do sabá, contudo, não era peculiar à experiência de Israel; ele fora instituído por Deus antes da queda, em Gênesis 2.1-3. Ao lado do trabalho (Gênesis 1.28; 2.15) e do casamento (Gênesis 2.18-25), Deus instituiu o sabá para governar a vida de toda a humanidade. Assim como as ordenanças do trabalho e do casamento são permanentes (e estão incorporadas aos Dez Mandamentos), assim também acontece com a ordenança do sabá. Com efeito, observe que Deus fundamentou o mandamento do sabá na ordenança criacional do sabá (Êxodo 20.11).

Deus instituiu a celebração do sabá tanto por seu exemplo como por suas palavras de instituição. Primeiro, ele estabeleceu o princípio da guarda do sabá ao descansar no sétimo dia: “E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito” (Gênesis 2.2). O termo sabá é derivado da palavra “descansou” no versículo 2. Ao descansar no sétimo dia, o próprio Deus estabeleceu o princípio e a prática da observância do sabá. A fim de compreender a ordenança do sabá, é preciso primeiro considerar por que Deus descansou.

Primeiro, ao descansar, Deus declarava que a sua obra como criador estava completa: Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército” (Gênesis 2.1). As palavras céus, terra e exércitoincluem todos os resultados da obra criativa de Deus entre os dias primeiro e sexto.

O descanso de Deus, contudo, não era uma cessação de todo trabalho (João 5.17), pois ele continua a trabalhar enquanto governa os processos da vida e todos os aspectos da sua ordem criada. Ele também trabalhou ao efetuar a redenção e continua a trabalhar ao chamar o seu povo para si mesmo e santificá-los. Uma vez que ele continua a trabalhar, por que essa ênfase no descanso? Quando Deus descansou da obra da criação, ele declarou que havia completado perfeitamente a obra da criação e ordenou que a humanidade o adorasse como Criador dos céus e da terra.

Segundo, o descanso de Deus expressava o seu deleite na criação. Moisés amplificou esse conceito em Êxodo 31.17: “Entre mim e os filhos de Israel [o sabá] é sinal para sempre; porque, em seis dias, fez

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o SENHOR os céus e a terra, e, ao sétimo dia, descansou, e tomou alento”. (Observe a relação entre a observância do sabá por Israel e a ordenança criacional.) O que significa dizer que Deus “tomou alento”? Certamente Deus não precisava de descanso. O alento de Deus no sétimo dia era uma expressão da sua alegria ao contemplar a beleza e perfeição de toda a criação terminada no sexto dia (Gênesis 1.31). Assim como alguém recua para contemplar com prazer alguma coisa construída ou realizada, Deus “recuou” para contemplar a sua obra com prazer. Ao descansar no sabá, Deus refletiu acerca da beleza e glória de sua obra completa, alegrando-se nela.

Terceiro, ao descansar no sétimo dia, Deus ilustrava o descanso prometido (vida eterna) que ele providenciaria para o seu povo. Ele ofereceu vida (descanso eterno) a Adão e aos seus descendentes. Se Adão não houvesse caído em pecado, ele haveria entrado naquele descanso sem passar pela morte. Deus graciosamente não cancelou a oferta de descanso após a queda; em vez disso, ele renovou a promessa de vida, não por meio da obediência de Adão, mas por meio de um Redentor. Conforme o eterno propósito de Deus, o dia do descanso se tornou uma promessa e um lembrete semanal aos pecadores de que ele providenciaria redenção e descanso.

Ao descansar, portanto, Deus declarou que havia acabado a sua atividade criadora, assim mostrando ser ele o Criador todo-poderoso que tem autoridade e poder para governar a sua criação. Ele contemplou com alegria a obra terminada da criação. Ele chama as pessoas a buscarem o seu descanso nele, à medida que elas contemplam a sua bondade na beleza da criação e a sua misericórdia na oferta graciosa de redenção. Ele concede um antegozo do descanso eterno que pertence ao seu povo e promete a realidade da entrada em seu descanso eterno. Ao guardarem o sabá, os cristãos celebram que as obras de Deus na criação e na redenção foram acabadas. Eles contemplam a complexa beleza de suas obras, tomam alento na comunhão com Deus e antecipam a vida eterna com ele.

Havendo demonstrado essas verdades por seu próprio descanso, Deus explicitamente consagrou o sétimo dia para que o homem guardasse o sabá: “E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera”

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(Gênesis 2.3). Nessa dupla ação de abençoar e santificar o dia, Deus instituiu o padrão de seis dias de trabalho e um sétimo dia de descanso.

Alguns sugerem que Deus abençoou o seu descanso eterno, não o sétimo dia. No mandamento do sabá, contudo, Deus especificamente abençoou o sétimo dia no ciclo semanal, estabelecendo a responsabilidade dos crentes de santificarem o sétimo dia na sua bênção do dia do sabá: “por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou” (Êxodo 20.11).

Ao abençoar o dia, Deus atribuiu o seu propósito especial. Quando Deus abençoou alguma coisa no relato da criação, ele estabeleceu o seu propósito e dotou a coisa criada da habilidade de cumprir aquele propósito. Por exemplo, quando Deus abençoou os animais em Gênesis 1.22, ele estabeleceu o seu propósito de que eles multiplicassem e enchessem a terra e os dotou da inclinação e da habilidade de procriar, de modo que eles pudessem cumprir tal propósito. A mesma coisa é evidente na bênção de Deus sobre o homem (Gênesis 1.28). Por semelhante modo, quando Deus abençoou o sétimo dia, ele lhe deu propósito e a habilidade de cumprir aquele propósito.

Além disso, ele prometeu àqueles que seguissem o seu exemplo de descanso a cada sétimo dia que os abençoaria. Assim, ao abençoar o dia, ele fez do dia uma bênção para o homem. Certamente Cristo tinha essa bênção em mente ao dizer: “E acrescentou: O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Marcos 2.27). Para uma lista das bênçãos vinculadas ao sabá, veja Isaías 58.13-14.

O propósito de Deus em abençoar o dia fica mais claro quando se entende o significado de ele “santificar” o dia. Quando Deus santifica algo, ele separa aquilo de seu uso ordinário para um uso religioso especial conectado à sua adoração e ao seu serviço. Por exemplo, ele declarou sagrada ou santa a veste do sacerdote, o altar, o santuário, e toda a mobília e os utensílios usados primeiro no tabernáculo e, depois, no templo. Em virtude dessa santificação, essas coisas

Page 21: O Debate Sobre o Sabá

deveriam ser usadas apenas para os propósitos sagrados da adoração (Êxodo 30.37-38).

Como então os cristãos devem aplicar essa santificação do sétimo dia? A Bíblia requer que os cristãos observem um dia em sete ou são todos os dias iguais? Deve o domingo ser observado de acordo com o mandamento ou estão os cristãos livres para passar o dia como lhes agrade, contanto que cultuem? Eles podem sensatamente assumir que, do mesmo modo como Deus separou certas coisas para o seu uso e serviço especiais, ele separou o sétimo dia para o propósito especial da adoração e do culto. Isso não significa negar que os outros seis dias sejam santos e devam ser usados para a glória de Deus; os cristãos devem glorificar a Deus em tudo na vida. Contudo, ele estabeleceu o sétimo dia como um dia santo, separado para propósitos especiais.

Ao abençoar e santificar o dia, Deus comunicou a Adão e Eva, e por meio da Escritura a toda a humanidade, o princípio da guarda do sabá. Os cristãos devem tratar como santo aquilo que Deus declara santo, concluindo que a observância de um dia em sete é uma obrigação moral perpetuamente em vigor, por causa dessa ordenança criacional. O Novo Testamento demonstra que Deus mudou o dia do sétimo para o primeiro dia da semana (Colossenses 2.16-17; Atos 20.6-7; 1Coríntios 16.1-2; Apocalipse 1.10). Embora Deus tenha mudado o dia, a obrigação e o privilégio permanecem.

Portanto, o mandamento do sabá não é senão a extensão e a aplicação da ordenança criacional. Assim como as responsabilidades morais do casamento e do trabalho permanecem, a responsabilidade moral de guardar santo um dia em sete também permanece.

Nota:

[1] N.E.: Sabá é a transliteração em português do termo em hebraico. Alguns textos usam sábado ou sabbath (transliteração em inglês). Optamos por sabá por ser um termo em português e distinto do dia da semana. Contudo, não se deve confundir com a rainha de Sabá de 1 Reis 10:4.

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Observação:

Este artigo é parte da série “Sabá: O Debate Incansável”, na qual serão publicados artigos defendendo diferentes posições para que nosso leitor tenha uma compreensão mais abrangente sobre o assunto. Sendo assim, a postagem de uma posição específica não indica o posicionamento oficial deste ministério. Veja a lista de artigos sobre o assunto:

1. O debate sobre o sabá (sábado ou sabbath)

2. O debate sobre o sabá: a guarda do sábado, o sétimo dia

3. O debate sobre o sabá: o domingo puritano

4. O debate sobre o sabá: o descanso luterano

5. O debate sobre o sabá: o sábado cumprido em Cristo

6. O debate sobre o sabá: descansar em Cristo é o principal

Por: Joseph A. Pipa Jr.. © 2014 Minsitério Ligonier.

Este artigo faz parte da revista Tabletalk.

Tradução: Vinícius Silva Pimentel. Revisão: Vinícius Musselman Pimentel © 2014 Ministério Fiel. Todos os direitos reservados. Website: MinisterioFiel.com.br. Original: O Sabá Puritano.

Veja mais artigos desta revista

Dr. Joseph A. Pipa Jr. é presidente e professor de teologia sistemática e histórica no Greenville Presbiteryan Theological Seminary em Greenville, Carolina do Sul, EUA, e é autor do livro The Lord’s Day [N.T.: publicado em português pela Editora Os Puritanos sob o título O Dia do Senhor].

O debate sobre o sabá: a guarda do sábado, o sétimo diaVocê está aqui:

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3. O debate sobre o sabá: a guarda do sábado, o sétimo dia

Corretamente entendido e observado, sabá[1] do sétimo dia (sábado) é uma dádiva preciosa de Deus. Milhões de cristãos na minha comunidade de fé o experimentam como tal. Na criação, “abençoou Deus o dia sétimo e o santificou” (Gênesis 2.3); o mandamento do sabá ecoa, “o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou”(Êxodo 20.11).

O sabá é também o sinal escolhido por Deus da criação e da redenção: “para que saibais que eu sou o SENHOR, que vos santifica” (Êxodo 31.13); assim, corretamente entendido e observado, o sabá permanece como um antídoto perpétuo tanto para a teoria da evolução naturalística como para o legalismo. Finalmente, o sabá é odia designado por Deus para o descanso e o culto, “o sábado do descanso solene, santa convocação” (Levítico 23.3). A Escritura nunca atribui nenhum desses pronunciamentos sagrados, tampouco confere qualquer significado, a qualquer outro dia da semana além do sabá do sétimo dia.

O Novo Testamento confirma os Dez Mandamentos, incluindo o sabá do sétimo dia, como a vontade de Deus para o seu povo. Referências

Page 24: O Debate Sobre o Sabá

e alusões aos Dez Mandamentos abundam no ministério de Jesus e no restante do Novo Testamento (por exemplo, Mateus 5.17-19; Marcos 2.27-28; 7.9-13; 10.17-22; Lucas 23.56; Romanos 2.21-22; 7.7; 1Coríntios 6.9-11; Efésios 6.1-3; Hebreus 4.4; Tiago 2.10-12). Era o “costume” de Jesus e dos apóstolos observar o sabá da maneira que seria esperada daqueles que acreditassem em sua universalidade e permanência (Lucas 4.16; Atos 17.2). Jesus cumpriu a lei atribuindo um significado mais profundo aos mandamentos, sem destruir a sua aplicação original (Mateus 5.17-20; 11.28-12.8). O livro de Apocalipse é permeado de alusões diretas e indiretas a, pelo menos, sete dos Dez Mandamentos, incluindo o mandamento do sabá. João recebeu a sua visão no “dia do Senhor” (Apocalipse 1.10).

O Dia do Senhor é a designação da Escritura para o sabá do sétimo dia: “o sábado do SENHOR, teu Deus” (Êxodo 20.10); “meus sábados” (Levítico 19.3); “meu santo dia […] santo dia do SENHOR” (Isaías 58.13); o dia do qual Jesus se disse “senhor” (Lucas 6.5). Se Deus houvesse dado essas designações ao domingo ou a qualquer outro dia, isso não seria citado como evidência para a sua santidade e sua reivindicação exclusiva de ser o “dia do Senhor”? A alusão, em Apocalipse 11.19, à entrega dos Dez Mandamentos no Sinai sugere que as referências subsequentes aos “mandamentos de Deus”, os quais o povo de Deus do último dia obedece em amor por meio da fé em Jesus, incluem os Dez Mandamentos (12.17; 14.12). O apelo escatológico para que se adore “aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (14.7) toma linguagem emprestada diretamente do mandamento do sabá. A evidência escriturística me parece clara e convincente de que os Dez Mandamentos, inclusive o sabá do sétimo dia, são permanentes e universais.

O Novo Testamento jamais muda o mandamento do sabá. As oito referências ao “primeiro dia” nos evangelhos se referem, exclusivamente, ao próprio dia em que Jesus ressuscitou e apareceu aos crentes para lhes assegurar que ele estava vivo, ou ao domingo imediatamente subsequente, quando ele apareceu para convencer o duvidoso Tomé. Os intérpretes que advogam a sacralidade do domingo baseados na referência de Atos 20.7 ao partir do pão no primeiro dia precisam ignorar que os crentes primitivos “partiam o pão” diariamente (2.46; 27.35). Renomados estudiosos de diversas

Page 25: O Debate Sobre o Sabá

tradições protestantes (as referências estão citadas em meu ensaio no livro Perspectives on the Sabbath: Four Views [N.T.: Sem tradução em português]):

Consideram que o apelo de 1Coríntios 16.1-2 acerca da “coleta para os santos” no

domingo não tem relação com um culto de adoração corporativa;

Apresentam evidências de que a repreensão de Gálatas 4.8-11 quanto à observância de

dias especiais se refere aos dias sagrados pagãos, não ao sabá do Decálogo;

Ensinam que os “dias” sobre cuja observância cada um deve ter “opinião bem definida em

sua própria mente” se referem aos dias judaicos de jejum (“assuntos controvertidos”, 14.1,

NVI), e não ao sabá do Decálogo;

Concluem que a referência a “dias de sábado” (NVI) ou “sábados” (ARA) em Colossenses

2.16-17 não afasta a existência de um sabá do Novo Testamento e apresentam forte

evidência de que os sábados sombrios dessa passagem, cuja substância veio em Cristo,

são na verdade os sábados cerimoniais do Antigo Testamento, e não o sabá do sétimo dia

do Decálogo (cf. Hebreus 10.1-4).

Os judaizantes certamente teriam resistido a qualquer tentativa de mudar o sabá do Decálogo com ainda maior intensidade do que lutaram contra a revelação do Espírito Santo de que a circuncisão, a qual não era uma ordenança da criação nem um dos Dez Mandamentos, não mantinha nenhuma significância espiritual na era do Novo Testamento (Atos 15). Mas nenhum traço de semelhante controvérsia acerca do sabá existe em Atos ou no restante do Novo Testamento. Muito pelo contrário: “A circuncisão, em si, não é nada; a incircuncisão também nada é, mas o que vale é guardar as ordenanças de Deus” (1Coríntios 7.19).

Os dispensacionalistas sustentam que o sabá era exclusivamente para Israel e passou juntamente com a antiga aliança. Se fosse o caso, o mesmo seria verdade acerca dos outros nove mandamentos do Decálogo. Mas, embora de fato Deus tenha escolhido o sabá como o sinal do pacto entre Si mesmo e o “povo de Israel” (Êxodo 31.17), ele também estabeleceu a nova aliança exclusivamente com “a casa de Israel”, a descendência espiritual de Abraão, todos aqueles que “são da fé” (Hebreus 8.8, 10; Gálatas 3.7, 29; ver Isaías 56). Uma vez que tanto a nova aliança quanto o sabá, o sinal da aliança de Deus, foram dados a Israel, se o sabá se aplicasse exclusivamente a Israel, então o mesmo ocorreria com a nova aliança. Contudo, assim como a nova aliança especificamente firmada com a “casa de Israel” se aplica a todos aqueles que “são da fé” (Gálatas 3.7), também o sabá – o

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“sinal” escolhido por Deus entre Si mesmo e Israel – do mesmo modo se aplica, universal e permanentemente, a todos aqueles que “são da fé”.

Hebreus 4.9 dispõe explicitamente: “Portanto, resta um repouso [no grego, sabbatismos] para o povo de Deus”. Sabbatismos “denota a observância ou a celebração do sabá” (A.T. Lincoln, From Sabbath to the Lord’s Day, p. 213 [N.T.: publicado em português pela Editora Cultura Cristã sob o título Do Shabbath para o Dia do Senhor]). Nunca na Escritura a palavra sabbatismos ou o seu verbo cognato sabbatiz?se referem ao domingo ou a alguma experiência espiritual nebulosa. O “descanso sabático” que “resta […] para o povo de Deus” em Hebreus 4.9 é o sabá instituído na criação, tal como explicitamente indicado apenas quatro versículos antes (Hebreus 4.4, citando Gênesis 2.2): “E descansou Deus, no sétimo dia, de todas as obras que fizera”.

Com efeito, Efésios 5 e Hebreus 4 tratam de modo semelhante o casamento e o sabá do sétimo dia, ambos ordenanças da criação, ao:

Afirmarem sua origem na criação (Efésios 5.31; Hebreus 4.4),

Atribuírem a cada um deles santidade e significado mais profundos, com base no

ministério expiatório de Jesus e na sua relação com o crente (Efésios 5.32; Hebreus 4.6), e

Afirmarem a aplicação do casamento e do sabá como ordenanças que permanecem no

Novo Testamento (Efésios 5.33; Hebreus 4.9).

O sabá do sétimo dia está indissoluvelmente ligado a Jesus. Jesus, o arquiteto da criação (João 1.1-3), descansou no sétimo dia em celebração à sua obra concluída (Gênesis 2.2) e, como o “Autor e Consumador da fé” (Hebreus 12.2), descansou no túmulo no sabá entre a Sexta-feira Santa e o Domingo de Páscoa, na consumação do seu ministério terreno de redenção (Lucas 23.52-24.2). Como a Rocha espiritual que acompanhava Israel em suas jornadas (1Coríntios 10.4), Jesus anunciou os Dez Mandamentos ao seu povo (Deuteronômio 4.12-13), gravou-os em pedra com o seu dedo (êxodo 31.18) e os escreve no coração do seu povo pelo seu Espírito, em cumprimento à promessa da sua nova aliança (Deuteronômio 30.6, 11-14; Salmo 40.8).

Então, Jesus podia corretamente declarar-se o único legítimo “Senhor até mesmo do sábado” (Marcos 2.28, NVI). Naquela mesma ocasião ele declarou: “O sábado foi estabelecido [no grego, egeneto] por

Page 27: O Debate Sobre o Sabá

causa do homem [anthropos]” (Marcos 2.27). Egeneto (literalmente, “veio à existência”) ocorre vinte vezes na história da criação em Gênesis 1 e três vezes em João 1.3, o que revela Jesus como o único por meio de quem todas as coisas foram “estabelecidas” ou criadas.Anthropos é o termo genérico grego para a humanidade. Assim, Jesus afirmou a origem criacional e o caráter universal do próprio sabá do qual ele é Senhor.

Assim como Jesus é o foco da nossa adoração sabática hoje, assim também ele o será na nova terra. Nos “novos céus e [na] nova terra […] De uma lua nova a outra [seria melhor traduzir “de um mês a outro”; para referências acadêmicas, ver Perspectives on the Sabbath: Four Views] e de um sábado a outro, toda a humanidade virá e se inclinará diante de mim, diz o Senhor” (Isaías 66.22-23, ênfase acrescida). A referência aos “novos céus e nova terra” em Isaías 65-66 ecoa Gênesis 1-2, vislumbrando a restauração por Deus da terra a condições edênicas. No Éden e na nova terra:

Aos homens são dadas oportunidades recompensadoras de trabalho (Gênesis 1.26, 28;

2.15; Isaías 65.21),

Aos animais são dadas plantas por comida (não uns aos outros) (Gênesis 1.30; Isaías

65.25),

O sabá do sétimo dia é o tempo designado por Deus para descanso e adoração (Gênesis

2.3; Isaías 66.23).

Assim, a observância do sabá do sétimo dia “resta […] para o povo de Deus” (Hebreus 4.9), de modo universal e permanente, como o sinal da aliança e Deus com a sua igreja, demonstrando que ele é o nosso Criador, o nosso verdadeiro descanso e o nosso Redentor – “para que saibais que eu sou o SENHOR, que vos santifica” (Êxodo 31.13). Eu convido você a experimentar o sabá do sétimo dia por si mesmo e ver se a variedade de significados que Deus lhe atribui, assim como as bênçãos da comunhão com Deus que ele oferece na sua observância, não enriquecerão a sua vida e aprofundarão a sua caminhada com Jesus – o seu Criador, Redentor e Senhor.

[1] N.E.: Sabá é a transliteração em português do termo em hebraico. Alguns textos usam sábado ou sabbath (transliteração em inglês). Optamos por sabá por ser um termo em português e distinto do dia da semana. Contudo, não se deve confundir com a rainha de Sabá de 1 Reis 10:4.

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Observação:

Este artigo é parte da série “Sabá: O Debate Incansável”, na qual serão publicados artigos defendendo diferentes posições para que nosso leitor tenha uma compreensão mais abrangente sobre o assunto. Sendo assim, a postagem de uma posição específica não indica o posicionamento oficial deste ministério. Veja a lista de artigos sobre o assunto:

1. O debate sobre o sabá (sábado ou sabbath)

2. O debate sobre o sabá: a guarda do sábado, o sétimo dia

3. O debate sobre o sabá: o domingo puritano

4. O debate sobre o sabá: o descanso luterano

5. O debate sobre o sabá: o sábado cumprido em Cristo

6. O debate sobre o sabá: descansar em Cristo é o principal

Por: Skip MacCarty. © 2011 Ligonier Ministries. Original: O debate sobre o sabá: a guarda do sábado, o sétimo dia.

Este artigo faz parte da edição de junho de 2011 da revista Tabletalk.

Tradução: Vinícius Silva Pimentel. Revisão: Vinícius Musselman Pimentel. © 2014 Ministério Fiel. Todos os direitos reservados. Website: MinisterioFiel.com.br. Original: O Sabá do Sétimo Dia.

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O Dr. Skip MacCarty é pastor auxiliar de evangelismo na Pioneer Memorial Church em Berrien Springs, Michigan, EUA, e o autor do livro In Granite or Ingrained: What the Old and New Covenants Reveal about the Gospel, the Law, and the Sabbath [N.T.: Sem tradução em português].

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3. O debate sobre o sabá (sábado ou sabbath)

A questão da observância do sabá[1], historicamente, tem provocado muitos debates e controvérsias que envolvem distintos problemas. O primeiro grande debate acerca do sabá é se, como uma ordenança do Antigo Testamento particularmente enfatizada na aliança mosaica, ele ainda é obrigatório no contexto do cristianismo da nova aliança. Agostinho, por exemplo, acreditava que nove dos Dez Mandamentos (a assim chamada “lei moral” do Antigo Testamento) permaneciam intactos e recaíam como obrigação sobre a igreja cristã. Sua única exceção era o mandamento concernente ao dia do sabá. Uma vez que Paulo falara sobre guardar ou não guardar o sabá como uma questão adiáfora (indiferente), Agostinho estava convencido de que a lei do sabá do Antigo Testamento fora abrogada. Outros têm sustentado que, por não ter sido originalmente instituído na economia mosaica, mas na criação, o sabá mantém seu caráter de lei moral enquanto a criação estiver intacta.

A segunda principal controvérsia é a questão acerca do dia da semana em que o sabá deve ser observado. Alguns insistem que, uma vez que o sabá foi instituído no sétimo dia da semana, quando Deus descansou de sua obra, e uma vez que os israelitas do Antigo

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Testamento celebravam o sabá no sétimo dia da semana, que é o sábado, nós deveríamos seguir esse padrão. Outros têm insistido que o Novo Testamento mudou o sabá para o primeiro dia da semana, por causa da significância da ressurreição de Jesus naquele dia. Eles também apontam a prática neotestamentária dos cristãos de se reunirem no domingo, o Dia do Senhor, para cultuar. A discussão diz respeito a se o sabá é um mandamento cíclico que exige culto e descanso num dia a cada sete, ou se deve ser observado num dia da semana em particular. João Calvino sustentava que seria legítimo ter um sabá em qualquer dia, se houvesse consenso de todas as igrejas, porque o princípio em vista seria o ajuntamento regular dos santos para adoração corporativa e para a observância do descanso.

Na tradição reformada, a controvérsia mais importante que surgiu durante os séculos é a questão de como o sabá deve ser observado. Há duas posições proeminentes na tradição reformada acerca dessa questão. Para simplificar, referiremo-nos a elas como a visão continental do sabá e a visão puritana do sabá. Ambas as visões reconhecem que o sabá continua em vigor. Ambas as visões concordam que o sabá é um período para adoração corporativa. Ambas concordam que o sabá é um dia de descanso em que os crentes devem se abster de comércios desnecessários. Mas há duas áreas de disputa entre as duas escolas e a mais importante delas é a questão da recreação. Será a recreação uma forma legítima de gozar o descanso, ou será a recreação algo que arruína a santa observância do dia do sabá?

A visão puritana argumenta contra a aceitabilidade da recreação no dia do sabá. O texto mais comumente citado para sustentar essa visão é Isaías 58.13-14, que diz: “Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do SENHOR, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então, te deleitarás no SENHOR. Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai, porque a boca do SENHOR o disse”.

O ponto crucial dessa passagem é a repreensão profética às pessoas que cuidavam de seus próprios interesses no dia do sabá. A

Page 31: O Debate Sobre o Sabá

presunção que muitos estabelecem nesse texto é que cuidar dos próprios interesses se refere à recreação. Se for esse o caso, o profeta Isaías está acrescentando novas dimensões à lei do Antigo Testamento concernente à guarda do sabá. Enquanto o resto do Antigo Testamento virtualmente silencia a respeito da recreação, esse texto em Isaías é citado para indicar uma revelação adicional de Deus acerca da observância do sabá – uma proibição de recreação.

Há um outro modo de entender Isaías 58, contudo, seguindo o pensamento daqueles que mantêm a visão continental do sabá. A distinção em Isaías 58 é entre fazer o que agrada a Deus e fazer o que agrada a nós mesmos em oposição àquilo que agrada a Deus. Presumivelmente, o que está em questão na repreensão do profeta é o julgamento de Deus contra os israelitas por violarem a lei mosaica com respeito ao dia do sabá, particularmente em relação ao envolvimento no comércio. Havia israelitas que desejavam poder comprar e vender sete dias por semana, não apenas seis dias por semana. Portanto, eles violavam o mandamento do sabá ao buscarem seus próprios interesses, que consistiam em fazer negócios no sabá em vez de fazer o que era agradável a Deus. De acordo com essa visão, o texto nada diz, direta ou indiretamente, acerca da recreação no dia do sabá.

Há uma antiga história, talvez apócrifa, de que quando John Knox veio a Genebra visitar João Calvino em sua casa, no sabá, ele teria se espantado ao encontrar Calvino participando de um jogo de bocha. Se for verdadeiro, o evento pode indicar que o teólogo mais devotado à guarda do sabá na história, Calvino, não considerava a recreação uma quebra do Dia do Senhor, mas uma parte do descanso ou da recreação que deve ser parte desse dia. A recreação nunca seria aceitável para Calvino se interrompesse ou suplantasse o tempo dedicado ao culto no sabá.

Um outro ponto de debate permanece entre os dois lados dessa polêmica. Ele diz respeito às obras de misericórdia realizadas no sabá. O exemplo de Jesus é citado para afirmar que, no sabá, ele se envolvia não apenas em culto e descanso, mas também em obras de misericórdia. Tais obras o puseram em conflito com os fariseus acerca da questão da guarda do sabá. Alguns têm chegado à conclusão de

Page 32: O Debate Sobre o Sabá

que, uma vez que Jesus realizou obras de misericórdia no sabá, o cristão está obrigado a fazer o mesmo. Contudo, o fato de que Jesus fez obras de misericórdia no sabá, embora claramente revele que é lícito fazê-lo, não nos obriga a fazer tais obras no sabá. Em outras palavras, o exemplo de Jesus nos ensina que nós podemos fazer obras de misericórdia no sabá, mas não que nós devemos fazer tais obras no sabá.

Todas essas questões continuam a ser examinadas e debatidas à medida que a igreja busca compreender como Deus é mais honrado nesse dia.

Notas:

[1] N.E.: Sabá é a transliteração em português do termo em hebraico. Alguns textos usam sábado ou sabbath (transliteração em inglês). Optamos por sabá por ser um termo em português e distinto do dia da semana. Contudo, não se deve confundir com a rainha de Sabá de 1 Reis 10:4.

Observação:

Este artigo é parte da série “Sabá: O Debate Incansável”, na qual serão publicados artigos defendendo diferentes posições para que nosso leitor tenha uma compreensão mais abrangente sobre o assunto. Sendo assim, a postagem de uma posição específica não indica o posicionamento oficial deste ministério. Veja a lista de artigos sobre o assunto:

1. O debate sobre o sabá (sábado ou sabbath)

2. O debate sobre o sabá: a guarda do sábado, o sétimo dia

3. O debate sobre o sabá: o domingo puritano

4. O debate sobre o sabá: o descanso luterano

5. O debate sobre o sabá: o sábado cumprido em Cristo

6. O debate sobre o sabá: descansar em Cristo é o principal

Por: R. C. Sproul. © 2011 Ligonier Ministries. Original: Defining the Debate.

Este artigo faz parte da edição de Junho de 2011 da revista Tabletalk.

Page 33: O Debate Sobre o Sabá

Tradução: Vinícius Silva Pimentel. © 2014 Ministério Fiel. Todos os direitos reservados. Website: MinisterioFiel.com.br. Original: Sabá: Definindo o Debate.

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R. C. Sproul nasceu em 1939, no estado da Pensilvânia. É ministro presbiteriano, pastor da igreja St. Andrews Chapel, na Flórida. É fundador e presidente do ministério Ligonier, professor e palestrante em seminários e conferências, autor de mais de sessenta livros, vários deles publicados em português, e editor geral da Reformation Study Bible.