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O CONTROLE INTERNO E A CORRUPÇÃO:
UMA NOVA MATRIZ
Gersino José dos Anjos1
Mário de Souza Martins2
RESUMO
Este texto pauta sobre a corrupção e o controle interno na administração pública. O tema passou a ser uma preocupação nacional. O Brasil possui vários organismos como os Tribunais de Contas, Poder Legislativo, Ministério Público, e Conselhos em quase todas as funções de governo. O cidadão brasileiro, sindicatos, associações, entre outros, amparados pela Constituição Federal podem ser agentes denunciantes. Apesar de todo esse aparato o fenômeno da corrupção está presente e graça solto na Administração Pública como assinala diuturnamente os meios de comunicação. Também no mundo, a corrupção está despertando o surgimento de muitos institutos e convenções voltados à resolução de tão grave problema. Pesquisas bibliográficas analisadas no decorrer desse trabalho demonstram as causas que levam o cidadão a praticar a fraude e qual o perfil do fraudador. O leitor vai perceber que a ferramenta mais eficaz para combater a corrupção é um Sistema de Controle Interno adequadamente estruturado. No Brasil, é ainda incipiente e o que se constata é que os gestores ainda não entenderam a valia dessa ferramenta no seu aspecto de conformidade legal e ferramenta de gestão. O objetivo deste artigo é oferecer ao gestor um protótipo de uma nova matriz de controle interno e de risco que adequadamente associada a outros institutos oportunamente nominados reduzirá significativamente o cometimento de erros e a prática de ação dos fraudadores. Palavras-chave: Corrupção. Sistema de Controle interno. Fraudes. Auditoria interna. INTRODUÇÃO
Aborda-se neste artigo o intrincado problema da corrupção na Administração
Pública que assola o Brasil. Há várias instituições como os Tribunais de Contas, o
Poder Legislativo nas três esferas de governo, o Ministério Público Federal, Estadual
e Municipal, Conselhos nos três níveis, além do controle constitucionalmente
1 Bacharel em Ciências Contábeis e Administração de Empresas, Especialista em Administração de
Empresa para Executivo, pós graduando em Gestão Pública com ênfase no controle externo. Analista de Controle Externo.
2 Prof. Orientador Professor Doutor em Ciências Econômicas e Sociais da FACINTER, UNITER. (Artigo orientado e revisado pelo Prof. Dr. Mário).
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permitido ao cidadão, sindicatos e associações, entre outros. Apesar disso, a
corrupção continua crescente. A situação está despertando o interesse pela solução
do problema e extrapola os limites territoriais ganhando notoriedade na ordem do
dia. Essa preocupação, que é mundial, está dando origem a vários organismos e
convenções de estudiosos comprometidos com o tema e em busca de mecanismos
mais eficazes na erradicação dessa doença que já tem a alcunha de câncer.
O objetivo deste artigo, com base em pesquisa bibliográfica e documental, é
propor ao gestor público um protótipo de uma nova matriz de controle interno e de
risco para minimizar as oportunidades de erros e fraudes.
1 PESQUISA Constitui base da pesquisa, entre outros documentos, “A Fraude no Brasil –
Relatório 2009”, da KPMG3 com 16 escritórios no Brasil e presente em 144 países.
Essa empresa enviou questionário no final de 2008 para mais de 1000
organizações dos mais variados segmentos da indústria. Os entrevistados incluíram
diretores-presidentes, diretores-financeiros, diretores de compliance, auditores
internos, chefes de departamentos e outros integrantes da alta administração
Outra fonte foi o TCU que “Em estudo realizado por unidade técnica no seu
âmbito, constatou que, em 77% das tomadas e prestações de contas, não havia
discordância dos pareceres do controle interno dos órgãos auditados; ou seja, o
TCU só agregou valor de 23% dos processos” 4. Destaca-se aqui a importância que
apresenta o controle interno principalmente com relação ao respaldo que pode dar
ao controle externo.
2 UM PERFIL DA CORRUPÇÃO NO MUNDO E NO BRASIL
A literatura mundial é rica em pesquisa, fatos e temas que aborda a corrupção
e as medidas de controle. Há um número significativo de autores que pesquisaram o
tema que remonta aos tempos bíblicos como Bribes, por exemplo, do Prof. John T.
3 São a iniciais dos donos da empresa: Klynvel, Peat, Marwick e Goerdeler 4 Trecho extraído do livro “Gastos Públicos Eficientes – proposta para o desenvolvimento do Brasil".
Organização Marcos Mendes. Cap. 12 O Tribunal de contas da União, por C. Alexandre Amorim Rocha.
3
Noonan Jr., da Universidade de Berkeley, Califórnia, que faz uma profunda reflexão
a respeito do suborno. Na França, onde o Tribunal de Contas foi primeiramente
instituído, a corrupção vicejou e estendeu suas raízes de tal forma que os franceses
custaram a acreditar. No Brasil, Leite (1987) um dos pioneiros no assunto, editou
Sociologia da Corrupção e entre os mais modernos Romano (2009) e outros que
enaltecem sobretudo a cidadania e a ética.
O cenário sombrio da corrupção começou assustar o mundo e muitas
medidas para frear a situação foram tomadas, principalmente nos Estados Unidos,
que entre outras elaborou-se o Código de Conduta para os Funcionários Federais.
Dittenhofer (1972) se tornou um estudioso das fraudes na administração pública.
É importante salientar que os principais institutos internacionais mostram
que, nos últimos dez anos, o Brasil não melhorou seu desempenho no combate à
corrupção.
O indicador do Banco Mundial, com dados coletados em mais de 200 países
revela que o nível de combate à corrupção no Brasil manteve-se praticamente
estável de 1998 até os dias de hoje. Os indicadores têm um papel fundamental e
ajudam a balizar os esforços de cada país.
A Transparência Internacional (TI), recentemente constatou em pesquisa
realizada em 86 países, que em termos globais, 56% dos entrevistados acham que a
corrupção aumentou, inclusive para os brasileiros. Numa amostra de mil pessoas
consultadas em diferentes cidades do país 54% dos brasileiros acreditam que as
ações do governo contra a corrupção são ineficientes.
Romano (2009) comenta o fenômeno da corrupção no Brasil, sua distribuição
e tentativas de controle entre os três poderes do Estado e atribuiu a causa à
excessiva centralização no poder federal como fatores que facilitam a pratica da
corrupção aqui.
Afirma (Gilman, 2009), que o rápido desenvolvimento econômico do país é
uma "benção que também traz maldições". O país cresce, mas as instituições
fiscalizadoras não acompanham o ritmo e isso cria novas oportunidades para a
prática da fraude. A corrupção precisa ser tratada como um crime especial, um dos
piores crimes, em qualquer lugar do mundo, pois representa uma forte violência
4
contra instituições e pessoas. A final de contas, o dinheiro da corrupção vem de
construções mal feitas, de livros didáticos que desapareceram das escolas e de
remédios que não foram distribuídos. Há poucos crimes com tanto impacto, sobre
tantas pessoas, como a corrupção afirma Gilman.
Outro fator facilitador da corrupção no Brasil é a falta de auditores. As nações
que têm o maior número de auditores e fiscais formados e treinados por habitante
conseguem deter a corrupção no nascedouro ou quando ainda é pequena.
Segundo levantamento da consultoria Crowe Horwath RCS (2010), o Brasil é
uma das nações com a menor taxa de auditores por habitante, na comparação com
outros 20 países desenvolvidos e em desenvolvimento na América e Europa. O
rombo no Banco Pan-americano (2011), por exemplo, revela a fragilidade da
auditoria interna.
Por isso, no Brasil, a corrupção tanto pública como privada só é detectada
quando chega a milhões de dólares e na maioria das vezes quando há denúncia de
alguém que se sentiu prejudicado.
Holanda 900 habitantes/auditor
Inglaterra 1.300 habitantes/auditor
Canadá 1.500 habitantes/auditor
EUA 2.300 habitantes/auditor
França 4.300 habitantes/auditor
Alemanha 4.500 habitantes/auditor
Chile 8.700 habitantes/auditor
Argentina 13.200 habitantes/auditor
Brasil 24.600 habitantes/auditor
* Fonte: Crowe Horwath RCS.
Quadro 1 - Relação habitantes por auditor
A demora na apuração e no julgamento (ônus da prova), a impunidade dos
corruptos, a imunidade parlamentar, o foro privilegiado constituem, ato de
solidariedade á corrupção. O Tribunal de Contas encontra as irregularidades, forma
processo, instrui e quando vai a julgamento o fruto do roubo já sofreu descaminho. O
réu já até morreu. Torna-se difícil a aplicação justa da pena. O tempo torna-se
inimigo da lei e do bem comum. O prejuízo é incalculável. O Estado além de gastar
com a manutenção do preso na cadeia, não consegue reaver os ativos desviados.
5
Estudo da fundação Getúlio Vargas mostra que o Brasil perde 5% do PIB a
cada ano por causa da corrupção pública, o que equivale a 130 bilhões. O país
deixa de crescer cerca de 2% ao ano por causa desse mal (Azevedo de Souza,
2011). A corrupção come 20% dos investimentos e menos de 1% é revertido para a
instituição lesada (Quadros, 2007).
Dados do escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crimes (UNODC),
que anualmente patrocina a campanha contra a corrupção indicam que soma
astronômica é paga em subornos em todo o mundo, contribuindo para a pobreza
global, atrapalhando o desenvolvimento e afugentando investimentos.
Um dos objetivos deste artigo é propor às entidades de fiscalização superior
(EFS) um novo modelo de controle para eliminar esses gargalos, como por exemplo,
o afastamento imediato do infrator da administração pública e a adoção da inversão
do ônus da prova para agilizar a obtenção da materialidade das provas.
Felizmente começa a surgir no Brasil instituições que já se preocupam com a
erradicação dessa doença como a criação de órgãos de controle: a Controladoria-
Geral da União e o Conselho Nacional de Justiça. É o caso da ONG Associação dos
Amigos de Ribeirão Bonito (Amarribo), dirigida por Lizete Verillo. “É tão fácil, tão
comum culturalmente a corrupção que quase todos os prefeitos fazem algo errado.
É a institucionalização da corrupção” (Verillo, 2009).
A implantação de um controle eficiente e eficaz, não deve preocupar apenas
os controles institucionais, mas cada cidadão no papel de agente de mudança como
controle social (kpmg, 2009).
A abordagem desses fatos deve chamar a atenção do cidadão e das
instituições quanto à necessidade de se investir nos institutos de controle. Uma das
medidas urgentes é dinamizar a atuação do DRCI (Departamento de Recuperação
de Ativos e Cooperação Internacional do Ministério da Justiça) aparelhando-o para
dar mais celeridade aos acordos de repatriamento dos ativos.
3 POR QUE PRATICAM FRAUDES? O PERFIL DO FRAUDADOR.
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Segundo o manual de Deterrence do Fraud5 da lei Sarbanes-Oxlei/2002
(SOX) a detenção da fraude é baseada na premissa que a fraude não é uma
ocorrência aleatória; ela ocorre onde as circunstâncias são propícias para que
aconteçam. É o que se chama de triângulo da fraude:
1) Motivo – Necessidade financeira, estilo de vida acima da capacidade
financeira do fraudador, diferença entre a necessidade financeira e a remuneração
auferida, complexo de superioridade e ganância;
2) Oportunidade – Fraqueza nos controles internos. O fraudador acredita ser
possível lograr êxito e permanecer encoberto. O risco da fraude depende de uma
multiplicidade de razões, mas a principal delas é a ausência de mecanismos de
controle de natureza preventiva. Dos entrevistados, 64% apontaram que o fator
facilitador preponderante para a perpetração do ato fraudulento é a insuficiência de
controles internos.
3) Racionalização – Constitui o diálogo interno dos fraudadores que oferece a
autojustificativa para suas ações. As facilidades do cargo de sobrepujar os controles
internos, o acesso a informações confidenciais da empresa que acompanham a
posição gerencial, criam um risco de ocorrência de atos fraudulentos. Defeito na
formação do caráter.
Além do referido triângulo, Dittenhofer (1972), por meio de pesquisa chegou
à dedução de que as causas das fraudes são além das mencionadas no triângulo,
também essa: todos os funcionários têm o potencial para cometer a fraude
(Dittenhofer apud Féder, 1997).
Por outro lado, é Importante frisar que Gaard (1994), no seu livro “A
Corrupção sobre Controle” narra que nas Filipinas um juiz conseguiu reduzir os
índices de corrupção aplicando o recurso da inversão do ônus da prova.
Os dados abaixo são importantes para compor uma matriz de risco. A KPMG
(2009) levantou várias causas para o crescimento dos atos fraudulentos como:
Perda de valores sociais e morais; Insuficiência dos sistemas de controle;
Impunidade. 81% dos fraudadores são tipicamente homens, com faixa etária de 25 a
5 Dissuasão da fraude. É a identificação pro-ativa e remoção dos fatores causais e habilitação de fraude.
Quebrar pelo menos um dos elementos do triângulo da fraude já reduz significativamente a probabilidade de
ato fraudulento.
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40; com renda mensal de R$ 1.000,00 a R$ 3.000,00. A maioria das fraudes relatada
pelos respondentes foi cometida por funcionários com mais de dois e menos de
cinco anos na empresa; 65% dos funcionários são a maior fonte de ameaça,
incluindo a alta administração; 49% são pessoal de suporte; 14% prestadores de
serviço; 13% fornecedores; 8% clientes; e 4% outros. Levando em consideração a
posição hierárquica o maior risco de fraude é da gerência com 22%; a chefia 21% e
o Staff, 53%.
4 REAÇÃO À CORRUPÇÃO
Depois que países como a França, Alemanha, Japão, Itália e os Estados
Unidos perceberam que a corrupção não era só de países de regime totalitário ou
burocracias subdesenvolvidas e sim, uma ameaça às democracias modernas e às
em via de modernização, começaram a se organizar. A USAID, Banco Mundial, o
PNUD criaram linha de ação e alocou recursos para projetos da área do controle da
corrupção. Em 1993 criou-se para auxiliar no combate à corrupção, a ONG
Transparência Internacional (TI) e hoje está presente em mais de 180 países. Ela
passou a elaborar o Ranking mundial da corrupção. O Banco Mundial contribuiu
decisivamente para o aperfeiçoamento do diagnóstico da corrupção em vários
países e também para a elaboração de ferramentas para o seu combate. Desde
1993, a TI tem papel decisivo na organização das IACCs (Conferência Internacional
Contra a Corrupção), cujo foco principal é pesquisar sobre a corrupção nos serviços
prestados pelo poder público aos cidadãos, a chamada pequena corrupção.
A Assembleia Geral da ONU passou a tratar da corrupção e suborno em
transações comerciais internacionais; a convenção internacional da OEA sobre
corrupção, a convenção da OCDE sobre o combate ao suborno de funcionários
públicos no exterior; convenção do Conselho Europeu da área criminal sobre a
corrupção, e outras. Em 2001 foi realizado o segundo fórum global sobre corrupção
na Holanda e em 2003 foi na Coreia.
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A corrupção passou a ser, também, preocupação do Fundo Monetário
Internacional – FMI. Wolfenson (2005) chegou a dizer que: A corrupção é um
câncer.
Com o ideal transacional de combatê-la, diversos organismos tratam de
debater sobre a questão, tendo em perspectiva o aprimoramento do controle.
Merecem destaques o INTOSAI, o COSO, o PNUD, OLACEFS, AICPA, FCPA entre
outros, e as diversas Cortes de Contas e Controladorias espalhadas pelo mundo6.
No Brasil com a CF/88, os Tribunais de Contas, como Instituição de controle
foram fortalecidos, inclusive com a oportunidade de o cidadão lhe formular denúncia
e a nação entraria em uma nova etapa em sua atividade administrativa que passaria
a ser pautada por maior austeridade. Faz 22 anos de sua promulgação e as
dificuldades dos Tribunais de Contas de reprimirem as irregularidades se mantêm
como anteriormente, submetidos a um complexo processo que longe de combater a
corrupção, termina por estimulá-la.
Analisando os últimos acontecimentos de corrupção ocorridos quase que
diariamente no Brasil, chega-se à conclusão que a impunidade aumenta não só por
falta de previsão de punições, mas pela dificuldade que se tem de chegar até as
provas materiais. Por isso, o Brasil está tentando fechar o cerco aos amigos do
alheio tornando-se signatário ativo em convenções transnacionais a exemplo da
convenção ONU, OEA, OCDE e IBAS7.
Mudança importante é que estudos dos países desenvolvidos começam focar
mais os resultados dos programas de governo, abandonando a simples verificação
da legalidade e regulamentos, agindo de forma prospectiva com análise dos riscos
que por ventura possam vir afetar os resultados e metas pretendidos. No Brasil, a
CF/88 e LRF/00 já apontam para essa realidade, incipiente, mas crescente. O
controle interno começa a assumir o papel não apenas de controle de conformidade,
mas de ferramenta de gestão, o que é um grande avanço.
5 O CONTROLE
6 Todas as siglas serão especificadas no glossário anexo.
7 Todas as siglas serão traduzidas no glossário anexo
9
A preocupação com o aperfeiçoamento do instituto do controle na
administração pública extrapola os limites territoriais, e está refletida nas diversas
nações. O tema controle em nome do ambiente de mudanças pelo qual vem
passando as estruturas organizacionais, sobretudo quando se aponta o combate à
corrupção, ganha notoriedade e espaço na ordem do dia.
O esquema da corrupção empresarial que levou à falência a ERON em 2002
e as fraudes em relatórios contábeis em empresas norte-americanas demonstraram
a fragilidade dos sistemas de controle internos. Isso motivou a edição da Lei
Sarbanes-Oxley (SOX), publicada em 2002, alcançando inclusive companhias
brasileiras com ações nas bolsas daquele país. Com espeque nessa lei criou-se o
COSO Report (1992) evoluído para o COSO ERM8 (2003) que concebeu um plano
de estrutura integrada firmada em três categorias fundamentais: a) eficácia e
eficiência das operações; b) confiabilidade dos relatórios financeiros; e c)
cumprimento de leis e regulamentos aplicáveis.
Esse modelo tornou-se referência para diversos países, e perpassam por oito
elementos estruturantes e inter-relacionados:
Componentes: Definição:
1) Ambiente Interno. É a expressão da consciência de controle da entidade, sua cultura
de controle assimilada pelas pessoas;
2)Definição dos objetivos. Os objetivos devem existir antes que a gerência de risco possa
identificar os eventos potenciais que afetam sua realização.
3)Identificação dos eventos. Os eventos internos e externos afetam a realização dos objetivos de
uma entidade, devendo ser identificado, distinguindo entre riscos e
oportunidades.
4)Avaliação e
gerenciamento de riscos.
É a identificação e análise dos riscos (mapa de riscos) associados
ao não cumprimento das metas e objetivos operacionais, de
informação e de conformidade. É uma ação proativa do
gerenciamento de risco.
8 Ver tradução e significado no glossário, anexo.
10 5) Resposta ao risco A gerência seleciona respostas do risco desenvolvendo um jogo das
ações para alinhar riscos com as tolerâncias do risco da entidade e o
apetite do risco9.
6) Atividade de controle. As políticas e os procedimentos são estabelecidos e executados
para ajudar assegurar as respostas aos riscos realizados
eficazmente. Atividades de prevenção e detecção;
7)informação/comunicação. Tratam do fluxo com que as informações se transmitem dentro de
uma organização, que deve fluir em todas as direções horizontais e
verticais. A informação relevante é identificada, capturada, e
comunicada em meio adequado que permita pessoas realizar a sua
responsabilidade.
8) Monitoramento.
É a avaliação dos controles internos, que se tem como o melhor
indicador para saber se eles estão sendo efetivos ou não; se são
adequados.
A totalidade da gerência de risco da empresa é monitorada e
modificações são feitas se necessárias.
Fonte: Adaptado de COSO, 2006
Quadro 2 – Componentes do modelo de gerenciamento de risco COSO ERM:
No Brasil o controle interno tem abordagem constitucional nos artigos 31, 70 e
74 da CF/88) e legal no DL 200/67, na Lei 4.320/64 e LC 101/00) e reflete nos três
ambientes de controle: o externo exercido pelo Poder Legislativo auxiliado pelo
Tribunal de Contas; o interno no âmbito de cada ente, órgão ou instituição e o social
exercido pela sociedade (imprensa, ONG,s e outros).
A constituição Federal nos artigos 31, 70 e 74 e a Lei complementar nº 101/00
(LRF) nos artigos 54, IV, parágrafo único e 59 determinam a instituição do Sistema
de Controle Interno no âmbito dos Três Poderes. O artigo 74 da constituição inova
de várias maneiras:
1 – Determina que cada um dos Poderes tenha um sistema de controle interno;
2 – Prevê que este sistema seja exercido de forma integrada entre os três poderes;
9 O apetite de risco é o desejo de uma organização em assumir riscos versus potencial de retorno.
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3 – Estabelece a responsabilidade solidária dos responsáveis pelo controle quando,
ao tomarem conhecimento de irregularidade, deixarem de dar ciência ao Tribunal de
Contas. O art.74 da CF/88, expressa as duas dimensões do controle interno:
a) A de conformidade legal; e
b) A de ferramenta de gestão.
5.1 MEDIDAS PESQUISADAS PARA EVITAR ATOS FRAUDULENTOS:
a) Medidas conjugadas:
1 Melhoria dos controles internos 93%;
2 Elaboração de um manual de comportamento profissional 57%;
3 Treinamentos dos funcionários 50%;
4 Investigação especial pela auditoria externa ou terceiros 34%;
5 Sensibilização da gerência 31%;
6 Aumento dos recursos no departamento de revisão/auditoria interna 24%;
7 Rodízio de funcionários 12%.
Fonte: KPMG
Quadro 3 – Avaliação pelos pesquisados
b) Medidas éticas.
A fraude e má-conduta corporativa continuam a ser uma ameaça constante
para as organizações e têm aumentado nos últimos anos, com uma tendência
progressiva (KPMG, 2009).
Frequentemente os controles internos estão mais voltados aos riscos dos
erros dos atos administrativos e poucos deles realmente operam como controle
antifraude.
A inferência da KPMG, com base na leitura das respostas dos questionários,
é que as organizações precisam instituir controles para detectar e coibir fraudes
especificamente. Além disso, uma organização deve tentar incluir valores éticos e
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práticas saudáveis de negócios, para permitir aos funcionários apontar casos de
condutas impróprias cometidas por outros funcionários. A empresa pode ser traída
pelos próprios funcionários, assessores ou auxiliares direto, como a própria pesquisa
apontou. É preciso somatizar esta máxima: o Controle Interno é o anjo da guarda do
gestor.
c) Medidas jurispolíticas10:
a) Inversão do ônus da prova;
b) Restrição à imunidade parlamentar;
c) Restrição ao sigilo bancário, fiscal e telefônico e;
d) Extinção do foro privilegiado.
As medidas jurispolíticas dependem de lei especial e de vontade política. O
agente político desenvolve uma função pública. Ele é pago com dinheiro público. Por
isso, os seus atos de gestão devem atender ao princípio da transparência. “Não
basta que seja honesto, há também de parecer honesto”, aplicando aqui o prolóquio
da mulher de César. Não deve servir-se da imunidade como sinônimo de
impunidade. Não deve servir-se do foro privilegiado que não passa de uma licença
para a delinquência. Portanto, quem aspira a um cargo público deve abrir mão
previamente desses privilégios. Pesquisa de prevenção contra espionagem:
1 Restrição ao acesso físico às áreas sensíveis 56%
2 Restrição ao acesso sensível às informações da empresa 78%;
3 Acesso limitado de visitantes ao escritório da empresa 30%
4 Destruição de qualquer informação documentada em papel 14%
5 Esforços contínuos na construção da lealdade em relação à empresa 46%
6 Background cheks para novos funcionários, fornecedores, e prestadores de
serviços que trabalham com informações periódicas e eletrônica para detectar
falhas e problemas
31%;
10 Trata-se de um neologismo do autor. Um termo para conjugar ações pendentes de lei e vontade
política.
13 7 Programa de compliance para prevenir práticas de corrupção:
8 Treinamento sobre leis anticorrupção e código de ética 19%;
9 Auditorias periódicas de compliance 35%;
10 Ambos 46%
Fonte: KPMG
Quadro 4 - Prevenção contra a espionagem corporativa: pesquisa KPMG
É quase intrínseco à natureza humana, que enquanto houver negócios e
dinheiro haverá fraude. Todavia, pode-se reduzir o risco delas aplicando controles
internos rigorosos e adequadamente estruturados, adotando a gestão de riscos de
fraudes. 65% dos entrevistados (KPMG, 2009) consideram que o sistema de
controle interno é o principal responsável pelos controles antifraudes em suas
organizações.
d) Medidas de responsabilização:
- Editar lei que exija autorização prévia para aplicar as medidas jurispolíticas
àqueles que se propõem assumir uma função pública, com base na supremacia do
interesse coletivo e no princípio da publicidade e da transparência.
- Emendar a Lei 10.028/2000 e as leis orgânicas dos Tribunais de Contas, leis
orgânicas municipais, para aplicação da pena de rejeição das prestações de contas
e de multa de 30% dos vencimentos anuais aos que negligenciarem a efetivação do
controle interno;
e) Medidas proativas:
- Fomentar, por meio de políticas públicas, a implantação da educação
integrada perpassada pela ética desde a mais tenra infância. Não basta escolarizar,
mas educar.
- Selecionar o controlador, com perfil profissiográfico compatível, pertencente
ao quadro efetivo de pessoal, com função gratificada compatível com o cargo e
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posição hierárquica adequada, exercido sob a forma de mandato assegurado por
lei11; e,
- Desenvolver software de controle em tempo real, passo a passo, dos atos
de gestão, priorizando os atos levantados pela matriz de riscos.
Pesquisa de detecção de erros e fraudes:
1 auditoria externa 2%;
2 investigações especiais 15%;
3 revisão/auditoria interna 19%;
4 informações anônimas 21%;
5 informações de terceiros 22%;
6 informações de funcionários 24%;
7 controles internos 25%.
Fonte: KPMG
Quadro 5 - Grau de detecção de erros e fraudes pelos controles
7 NOVA MATRIZ DO CONTROLE INTERNO
A nova matriz proposta por este artigo, fundada no estudo acima
desenvolvido, busca realinhar o modelo COSO ERM às medidas conjugadas, éticas,
jurispolíticas, de responsabilização e proativas, propostas. Se operacionalizada de
forma adequada inibirá com maior eficácia a ação dos fraudadores, tanto da
pequena corrupção (segundo o IACC) como da grande corrupção (crimes do
colarinho branco), maquinada por conluios, quadrilhas e máfias e a corrupção dos
funcionários públicos estrangeiros (FCPA) e no Brasil a Lei nº 10.467/2002 sobre a
corrupção ativa em transação comercial internacional.
Denomina-se nova matriz porque conjugará de forma sistêmica e sinérgica, o
modelo COSO ERM ás medidas propostas neste artigo, com o fito de assegurar à
gestão pública um modelo mais eficaz e seguro de controle.
11 O cargo de controlador para garantir a sua sustentabilidade e autonomia deve ser criado por lei e exercido sob
a forma de mandato por funcionário do quadro efetivo, remuneração adequada e perfil profissiográfico
condizente com a função definido e regulamentado por resolução ou decreto.
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O sistema de controle interno de conformidade e de gestão, bem estruturado,
poderá inibir acima de 77% dos atos de corrupção gerados dentro da instituição, de
acordo com estudo do TCU, citado inicialmente. Aqueles que escaparem ao cerco
técnico e forem levados ao indiciamento deverão ter como instrumento de celeridade
na obtenção das provas materiais e do julgamento a aplicação das medidas
jurispolíticas.
7.1 Quem não mede não gerencia. Quem não gerencia não melhora.
(Juran, 2008)
Essa nova matriz reforça a concepção mundial de controle interno que passa
a incorporar além dos princípios da administração pública da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (LIMPE), os princípios da
gestão responsável orientada pelos princípios da eficiência, eficácia, economicidade
e efetividade (EEEE) ou gestão dos 4 E´s.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O controle interno é eficaz porque age prévia e concomitantemente. É um
entendimento mais coerente e profícuo adotar o controle pela biópsia que pela
autópsia12.
O cenário da corrupção no Brasil e no mundo é grave e os prejuízos
causados por ela são incalculáveis. Constatou-se neste artigo que organismos
internacionais pesquisaram e concluíram que a melhor maneira de combatê-la é por
meio da efetivação de um controle interno adequadamente estruturado e
operacionalizado. Que a preocupação hodierna não é mais só com a prevenção e
detecção de erros e fraudes, mas com resultados proativos eficazes e efetivos dos
atos de gestão. O Brasil, também, começa a caminhar nessa direção. Há, porém,
ainda muitos entraves como a falta de vontade política de instituir e efetivar os
controles, mesmo que constitucional e legalmente definidos. Curiosamente a lei não
12 É um jargão utilizado pela critica quando as auditorias são feitas muito depois da ocorrência dos fatos. É
como se dissecar um cadáver para saber do que ele morreu.
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tipifica penas para os gestores indiferentes aos ditames da lei. Outro obstáculo é a
demora na apuração dos fatos e das provas materiais que dão sustentação ao
julgamento do fraudador. Estudo relatado neste artigo demonstra alguns institutos
causadores desse entrave e aponta como antídoto as medidas jurispolíticas.
Verificou-se, também, que há óbices como a centralização do poder na
distribuição das verbas federais e até o crescimento súbito estrangula os controles e
facilita os desvios. O Brasil é um país pouco auditado e a prática da cultura da
prevenção pelo controle sistemático ainda é pouco adotado.
Configurado o quadro das possíveis brechas no sistema de controle interno
que favorecem a ação dos fraudadores arquitetou-se uma nova matriz de controle
composta pelo modelo COSO ERM já internacionalmente testado que realinhado às
novas medidas aventadas neste estudo poderá prevenir em torno de 77% dos erros
e fraudes, conforme estudo do próprio TCU. Os 23% que escaparem ao cerco
técnico e legal, terão julgamentos mais céleres se as medidas jurispolíticas forem
efetivadas.
Enfim, adotar políticas públicas de educação integrada a médio e longo prazo
que valorize os princípios éticos e os bons costumes.
Educar mais que escolarizar é uma das alternativas para contornar o
triângulo da fraude.
REFERÊNCIAS
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