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LINGUAGEM, CULTURA E IDEOLOGIA Livro IV e-book.br EDITORA UNIVERSITÁRIA DO LIVRO DIGITAL Cid Seixas https://issuu.com/ebook.br/docs/linguagem4 O CONTRATO SOCIAL DA LINGUAGEM

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LINGUAGEM, CULTURA E IDEOLOGIALivro IV

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O CONTRATO SOCIALDA LINGUAGEM

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A pesquisa de Cid Seixas,empreendida no final dos anos70 sobre a linguagem, numaperspectiva da cultura e da ide-ologia, contrariando os estu-dos imanentes do estruturalis-mo, antecipou importantesquestões hoje em debate.

Entre as manifestações favo-ráveis ao seu trabalho pioneiro,está a do filólogo Antonio Hou-aiss, como integrante da bancaque avaliaou o seu primeiro tra-balho acadêmico de porte.

“Quero desde o início dei-xar patente minha admiraçãopor várias altas qualidades ma-nifestas, dentre as quais real-ço a sequência nas idéias, a ma-dureza do pensamento, o es-pectro rico da informação eerudição, o inteligente apro-veitamento das fontes e bibli-ografia, e a elegância da expo-sição.

Nutro a esperança de queCid Seixas não abandone a di-reção de estudos que tomou ea prossiga, aprofundando pon-tos que parecem merecer in-dagação mais acurada de suaparte. Afloro, a seguir, algunscom o só fim de espicaçá-lo,mas sem intuitos polêmicosou, muito menos, professoraisou magistrais: será, antes, umdiálogo entre pares de angús-tias e buscas (malgrado – ah! adiferença de nossas idades).”

Antonio Houaiss

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O CONTRARTO SOCIAL DA LINGUAGEM

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Tipologia: OriginalGaramond, corpo 12.Formato: 12 x 19.

Número de páginas: 122.

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Cid Seixas

LINGUAGEM, CULTURA E IDEOLOGIA

Livro IV

e-book.brEDITORA UNIVERSITÁRIA

DO L IVRO DIGITAL

O CONTRATO SOCIALDA LINGUAGEM

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EDITORA UNIVERSITÁRIA DO LIVRO DIGITALLinguagem, Cultura e Ideologia, Livro IV

CONSELHO EDITORIAL:Adriano Eysen

Cid SeixasItana Nogueira NunesFlávia Aninger Rocha

Francisco Ferreira de LimaMoanna Brito S. Fraga

2016

[email protected]

LINGUAGEM, CULTURA E IDEOLOGIA

1 | A natureza ideológica da linguagem2 | A linguagem, origem do conhecimento

3 | Sob o signo do estruturalismo4 |O contrato social da linguagem

5 |A linguagem: do idealismo ao marxismo

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SUMÁRIO

Capítulo IROUSSEAU: O PROCESSOSIMBÓLICO DA LINGUAGEM .......................... 9Linguagens ou semióticas ....................................... 15A origem das línguas ............................................... 22

Capítulo IIA NECESSIDADE CRIADORAE O CONDOMÍNIO DA LINGUAGEM .......... 33O contrato social e a língua .................................... 49

Capítulo IIISEMIÓTICAS PRAGMÁTICAS E ESTÉTICAS:DETERMINAÇÃO SOCIAL .................................. 59A ideologia da linguageme a criação literária ...................................................... 67REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA ...................................... 97O que é a e-book.br ............................................. 120

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Se a língua é um repositório cul-tural, onde se guardam as conquis-tas do homem, nos planos objetivoe subjetivo, ela, ao desempenhar opapel de instrumento de comuni-cação, influencia o ouvinte e parti-cipa ativamente da constituição dasnovas formas da cultura, que são amaterialização da sua memória sim-bólica.

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CAPÍTULO I

Rousseau: o ProcessoSimbólico da Linguagem

O Ensaio sobre a origem das línguas: onde sefala da melodia e da imitação musical terminacom o capítulo “Relações entre as línguas e ogoverno” onde se lê a transcrição do seguintetrecho de Duclos, em Remarques sur lagrammaire générale et raisonnée: “Consistiriamatéria para um exame acentuadamente filo-sófico observar nos fatos e demonstrar pelosexemplos como o caráter, os costumes e osinteresses de um povo influenciam sua língua.”(Rousseau, 1759, p. 473) Foi precisamente essapassagem que sugeriu a Rousseau as reflexõescontidas no Ensaio que, fiel à proposta, anali-sa exclusivamente as influências exercidas pelacultura sobre a língua, deixando de lado a reci-procidade do processo.

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Se a língua é um repositório cultural, ondese guardam as conquistas do homem, nos pla-nos objetivo e subjetivo, ela, ao desempenharo papel de instrumento de comunicação, in-fluencia o ouvinte e participa ativamente daconstituição das novas formas da cultura, quesão a materialização da sua memória simbóli-ca. Formada por um conceito e por um sinal –ou por um significado e um significante –, a lín-gua não pode ser tomada apenas como uma no-menclatura que se limita a relacionar termos aobjetos do conhecimento anteriormente esta-belecidos. Toda teoria da linguagem que subli-nha o sinal como seu objeto, em detrimentodo conceito, parte do pressuposto de que existeum pensamento pré-verbal. Daí a proposiçãochomskyana da estrutura profunda estar com-prometida com a crença na existência de umpensamento inato, que o homem traz de ber-ço, como um dom, independendo, portanto,dos mecanismos fornecidos pela linguagemtransmitida de geração a geração, como resul-tado do acúmulo das experiências coletivas dasquais o indivíduo se faz herdeiro.

Se, pelo contrário, atribuirmos à linguagemverbal, e consequentemente a todas as línguas,uma dupla função quanto à finalidade social,

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não teremos uma simples nomenclatura, masuma semiótica que também é uma língua. Cabea ela, em primeiro lugar, organizar e guardaros materiais do conhecimento, dando-lhes umaforma própria, condicionada pelos processossimbólicos produzidos pela sociedade; e, emsegundo lugar, comunicar ideias, conceitos,sentimentos e ações, provenientes desse mun-do objetivo, que o homem transforma e incor-pora à subjetividade, através do seu próprioidioleto.

O conceito compreende todo sistema e pro-cesso de organização e memória do mundo ob-jetivo transformado em conhecimento, en-quanto o sinal se refere a todo sistema e pro-cesso de comunicação desse conceito. Assimse explica a influência exercida pela linguagemsobre a cultura, uma vez que uma traça os li-mites e configura os contornos da outra, quelhe devolve os conceitos e sinais, por sua vezmodificados e conformados às novas necessi-dades sociais. A língua funciona como umaespécie de filtro ou de lente, projetando namente dos falantes uma imagem cultural empermanente mudança, causada pelos diversose contínuos ciclos do processo. Um momen-to da língua corresponde a um momento da

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cultura, através de uma função de interdepen-dência, que pode ser reconhecida num cortesincrônico.

Feitas essas considerações, vamos nos de-ter no aspecto tratado como principal peloEnsaio: a influência que os demais elementosda estrutura social exercem sobre a língua, suaorigem e seu funcionamento. As reflexões deRousseau, ao contrário do que ele afirma, cons-tituem uma estimulante contribuição para oestudo do problema, retomando as investiga-ções de Locke, no Ensaio acerca do entendi-mento humano, e de Condillac, no Ensaio so-bre a origem dos conhecimentos humanos. Semisolar o estudo linguístico do estudo dos ou-tros componentes da realidade humana, eleexplica a diversidade das línguas e a oposiçãodos seus caracteres com os mesmos argumen-tos utilizados para justificar a diversidade dasestruturas sociais dos povos. A necessidade évista como o fundamento do contrato social,pois esse se origina da consciência do homemde que as forças naturais podem provocar adestruição da espécie, quando as forças indivi-duais não são somadas para a consecução dosobjetivos comuns.

O parágrafo inicial do Ensaio, capítulo I:“Dos vários meios de comunicar nossos pen-

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samentos”, contém o programa desenvolvidoao longo dos 20 tópicos da obra:

“A palavra distingue os homens entre osanimais; a linguagem, as nações entre si –não se sabe de onde é um homem antes deter ele falado. O uso e a necessidade levamcada um a aprender a língua de seu país, maso que faz ser, essa língua, a de seu país e nãoa de um outro? A fim de explicar tal fato,precisamos reportar-nos a algum motivoque se prenda ao lugar e seja anterior aospróprios costumes, pois, sendo a palavra aprimeira instituição social, só a causas na-turais deve a sua forma.” (Rousseau, 1759,p. 429)

Mais adiante, no capítulo IX: “Formação daslínguas meridionais”, p. 450, lemos o seguin-te: “A terra nutre os homens, mas, quando asprimeiras necessidades os dispersam, outrasnecessidades os reúnem e somente então fa-lam e fazem falar de si.”

A proposição inicial peca por não levar emconta a influência dos fatos sociais sobre a lín-gua: preocupado com o problema da origem,Rousseau negligencia as modificações sofridas

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ao longo da história, embora em outras passa-gens do texto admita esse fato. Se a língua seorigina das necessidades humanas, tais neces-sidades ganham nova fisionomia nas diferen-tes sociedades e nos seus diferentes estágios.

Ao contrário de alguns pensadores que atri-buíram a origem da linguagem verbal ao fatode o homem ser dotado de um complexo apa-relho fonador, a teoria de Rousseau percebeuque a aptidão fisiológica de articular as pala-vras interessa menos na formação da lingua-gem que a necessidade de comunicação. Se ohomem não conseguisse produzir sons com aboca, ele procuraria outros meios ou, ainda, sevaleria de linguagens não-verbais. De certa for-ma, Rousseau antecipa na sua obra alguns dospontos de vista defendidos por Marx, paraquem são as contingências históricas e as rela-ções sociais e econômicas que determinam osfatos. As ocorrências verificadas numa língua,ou numa sociedade, não são arbitrárias nemgratuitas, mas estão condicionadas pelas ne-cessidades coletivas. O marxismo parte dopressuposto de que o trabalho do homem écapaz de contribuir para a modificação da pró-pria conformação dos nossos órgãos: foi o tra-balho artesanal desenvolvido através das gera-

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ções que dotou a mão humana das suas carac-terísticas e habilidades presentes. De igualmodo, a experiência demonstra como o usodesenvolve ou atrofia o funcionamento de cer-tos órgãos, tornando o ponto de vista deRousseau perfeitamente admissível, pois acomplexidade do nosso aparelho fonador podeser um resultado, dentre outras causas, do seuuso constante para tais fins.

LINGUAGENSOU SEMIÓTICAS

A utilização de recursos comunicativos pelohomem teria surgido no momento em que essese reconheceu e foi reconhecido pelo outrocomo alguém que pensa, tem sentimentos e ésemelhante a ele próprio. Dessa forma,Rousseau explica a aparição da linguagem, en-tendida como um sistema de signos destina-dos à comunicação, não importando sejam elesde natureza acústica, visual ou táctil. A lingua-gem é para ele um fenômeno abrangente, in-cluindo não apenas as diversas línguas, carac-terizadas pelo uso social da linguagem atravésde signos verbais, mas também as outras for-mas comunicativas utilizadas pelos homens em

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diversas circunstâncias. A orientação do En-saio sobre a origem das línguas insere-se na pers-pectiva filosófica classificada como semiológicaou semiótica, compreendendo a língua comoum entre os vários sistemas simbólicos possí-veis.

Modernamente, a posição de Rousseau, nes-se particular, pode ser comparada com a deFerdinand de Saussure, iniciador dos estudoscientíficos que constituíram a linguística es-trutural, ou com a posição de Louis Hjelmslev,que retomou o pensamento saussuriano. Se,por um lado, Saussure afirma que a linguísticaestá subordinada à semiologia e que as leis des-cobertas por ela serão, também, leislinguísticas, por outro lado, Hjelmslev afirmaque o estudo das línguas não é o único objeti-vo da teoria da linguagem, que se deve ocuparde todas as semióticas.

No item “Lugar da língua nos fatos huma-nos: a semiologia”, do Curso de linguística ge-ral, Saussure afirma que para se descobrir a ver-dadeira natureza da língua é necessário obser-var o que ela tem de comum com todos os ou-tros sistemas da mesma ordem. Os fatoreslinguísticos até então destacados como impor-tantes, a exemplo do funcionamento do apa-

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relho vocal, são considerados de importânciasecundária, servindo apenas para distinguir alíngua dos outros sistemas. Classificando osritos, os costumes, etc., como signos, Saussureprojeta nova luz sobre esses fatos, agrupadosna semiologia:

“A língua é um sistema de signos que ex-primem ideias, e é comparável, por isso, àescrita, ao alfabeto dos surdos-mudos, aosritos simbólicos, às formas de polidez, aossinais militares etc., etc. Ela é apenas o prin-cipal desses sistemas.

“Pode-se, então, conceber uma ciênciaque estude a vida dos signos no seio da vidasocial; ela constituiria uma parte da Psico-logia social e, por conseguinte, da Psicolo-gia geral; chamá-la-emos de Semiologia (dogrego sêmeion, ‘signo’). Ela nos ensinará emque consistem os signos, que leis os regem.Como tal ciência não existe ainda, não sepode dizer o que será; ela tem direito, po-rém, à existência; seu lugar está determina-do de antemão. A Linguística não é senãouma parte dessa ciência geral; as leis que aSemiologia descobrir serão aplicáveis àLinguística e esta se achará dessarte vincu-

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lada a um domínio bem definido no con-junto dos fatos humanos.” (Saussure, 1916,p. 24)

Em outra passagem do Curso, no capítulodedicado à natureza do signo linguístico, eleconsidera a arbitrariedade como o primeiroprincípio do signo, interrogando se a semiolo-gia incluirá no seu campo de estudo os signosnaturais, que não dependam de uma conven-ção. Isso porque o criador da linguística mo-derna acredita que os signos arbitrários reali-zam melhor que os outros o ideal do procedi-mento semiológico. Como a semiologia estu-da os processos simbólicos na sociedade, ossignos naturais não se filiam exclusivamente aessa disciplina, uma vez que a biologia, porexemplo, pode encarregar-se de alguns sinto-mas naturais que, mesmo funcionando demodo sistemático, não deixam de pertencer aoseu domínio.

Esse raciocínio parece-nos coerente, por su-blimar a natureza social dos objetos dasemiologia, o que Saussure fez questão de dei-xar claro, revelando assim as suas ligações como pensamento sociológico de Durkheim. É poresse motivo que ele chega à conclusão de que

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“a Linguística pode erigir-se em padrão de todaa Semiologia, se bem que a língua não seja se-não um sistema particular”. (Idem, p. 82)Estranhamente, por uma dessas contradiçõesda ciência, difíceis de se explicar, uma das ten-dências linguísticas que descarnariam a línguado seu contexto social nasceu do pensamentode Saussure. Enquanto Meillet adotou umaperspectiva que atualmente chamaríamos desociolinguística, outros seguidores de Saussureisolaram os fatos linguísticos como condiçãosine qua non das análises estruturais.

É o caso de Louis Hjelmslev, que constrói asua teoria da linguagem sobre fundamentos ló-gicos e semióticos, deixando de levar em con-ta a proposta saussuriana de uma semiologia so-cial. De certo modo, a semiótica moderna seerigiu dentro dessa tradição estruturalistaimanentemente formal, ou de uma outra tra-dição, neopositivista, como a de Pierce, queidentifica a teoria dos signos com a lógica. Co-incidentemente, enquanto Saussure falava deuma semiologia, de bases sociais, os autores quese preocupam com as bases formais falam deuma semiótica. Talvez este termo pudesse serreservado para designar os sistemas simbóli-cos, ficando o anterior para designar o seu es-

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tudo, como queria Saussure. Mas os estudio-sos da Associação Internacional de Semióticapreferiram ignorar a possibilidade de distin-ção, fazendo prevalecer a expressão de usoanglo-saxônico.

Quando aproximamos Rousseau deSaussure e de Hyelmslev, não levamos em con-ta o fato de Hjelmslev dar à teoria uma orien-tação lógica, mas tão-somente consideramoso problema das relações entre as línguas e osdemais sistemas simbólicos. Por isso, a identi-ficação é mais coerente com Saussure, ou, maisprecisamente, com o Saussure da passagem ci-tada, pois em outros momentos o pensamen-to estruturalista triunfa sobre a sua formaçãodurkheimiana.

O Ensaio sobre a origem das línguas deRousseau estuda as diversas semióticas, obser-vando que o homem pode agir sobre os senti-dos do outro por dois meios – o movimento eo som –, distinguindo assim os sistemas espa-ciais dos sistemas temporais. A complexidadedos sistemas não-verbais foi percebida pelo fi-lósofo:

“Tarquínio, Tarsíbulo, decepando os bo-tões de papoula, Alexandre apondo seu selo

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à boca do favorito, Diógenes passeando di-ante de Zenão não falavam melhor do quecom palavras? Dario, com seu exército naCítia, recebe do rei dos citas uma rã, umpássaro, um rato e cinco flechas. O mensa-geiro entrega silenciosamente o presente, eparte. O terrível discurso foi compreendi-do, e Dario só se preocupou com alcançarcom a maior rapidez possível o seu país.”(Rousseau, 1759, p. 430)

Numa época em que ainda não tinham sidoinventados os meios de comunicação moder-nos, as mensagens verbais só podiam ser trans-mitidas à distância através da escrita. É prová-vel que anteriormente a ela tivessem sido pra-ticados, mais intensivamente ainda, esses mei-os de comunicação visual que se constituíramem verdadeiras linguagens epistolares. Umexemplo curioso é o dos salames, ou conjun-tos de objetos significantes, cujo envio, paraaqueles que conheciam o seu sentido, permi-tia transmitir “sem temor dos ciumentos, ossegredos da galantaria oriental para o interiordos haréns mais bem guardados” (p. 432).Rousseau acredita que se fala melhor aos olhosdo que aos ouvidos, razão pela qual os discur-

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sos verbais mais eloquentes são aqueles quepossuem maior número de imagens, fazendocom que o som atinja, através das ideias trans-postas, efeitos cromáticos.

A ORIGEMDAS LÍNGUAS

Quando enfrenta diretamente o problemada origem das línguas, Rousseau fica indecisoentre atribuir suas causas às necessidades pro-dutivas dos homens ou às paixões. Supõe, en-tão, que as necessidades ditam os primeirosgestos, e o amor, o ódio, a cólera, a piedadeproduzem as primeiras vozes. Embora as ne-cessidades sejam capazes de aperfeiçoar osmeios de expressão, não são apenas elas queproduzem a linguagem, mas um conjunto detraços específicos que tornam os homens di-ferentes dos demais animais. Já vimos comoele recusa a hipótese de que os órgãos fona-dores têm importância preponderante, discu-tindo o problema da linguagem numa perspecti-va semiológica, onde o engendramento de ou-tros sistemas comunicativos denota a capacida-de do homem de convencionar os mais diversossignos e empregar os mais diferentes recursos.

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“Chardin conta que nas Índias os men-sageiros, um segurando a mão do outro emodificando as pressões de um modo queninguém pode perceber, tratam assim, pu-blicamente mas em segredo, de todos osnegócios sem dizer uma só palavra. Supon-do estes mensageiros cegos, surdos e mu-dos – não se entenderiam menos bem, mos-trando tal fato que, dos dois sentidos pelosquais somos ativos, um só bastaria para for-marmos uma linguagem.

“Parece, ainda, pelas mesmas observa-ções, que a invenção da arte de comunicarnossas ideias depende dos órgãos que nosservem para tal comunicação do que de umafaculdade própria do homem que o fez em-pregar os órgãos com este fim e que, casolhe faltassem, o fariam empregar outros ór-gãos com o mesmo fim.” (Idem, p. 432)

Com tais palavras, Rousseau oferece à filo-sofia de Cassirer parte dos argumentos parainferir que a diferença entre o homem e osdemais animais é o fato de o chamado animalsocial ser um animal simbólico. Se o ato de sim-bolizar depende do contrato social, os animaispossuem uma linguagem natural, motivada e

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estática, enquanto o homem, uma linguagemsocial, arbitrária e dinâmica: “A língua de con-venção só pertence ao homem e esta é a razãopor que o homem progride, seja para o bemou para o mal.” (Idem, p. 435)

Partindo do pressuposto de que as paixõesforneceram os principais impulsos para que ohomem falasse, Rousseau considera os troposcomo as primeiras expressões. A linguagempoética seria, portanto, a linguagem primitiva,a linguagem esquecida.

Tentando compreender o ponto de vista doautor do Ensaio, vejamos se um exemplo dosnossos dias pode lhe servir de argumento. Aonos depararmos com certas situaçõeslinguísticas, numa comunidade rural sem a in-terferência das camisas-de-força das culturasdependentemente tecnológicas, que McLuhanchamou de understanding media, como o rá-dio, a televisão etc., temos a sensação de ouviruma elocução poética, e não um discurso prag-mático. As palavras empregadas de um mododesconhecido pela nossa cultura nos soamcomo tropos, enquanto, para quem as empre-ga, o significado deve estar perfeitamente cla-ro, não-figurado, porque estabelecido pela co-munidade falante. Como pertencemos a ou-

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tro grupo dialetal e cultural, desconhecemos aformação dos conteúdos evocada por tais ex-pressões e, em face da vagueza de sentido,estamos diante de tropos, e não diante de umadenotação.

Tomando a linguagem em estado selvagem,isto é, a linguagem poética, como a forma pri-mitiva de expressão, Rousseau associa a im-precisão sugerida pelos signos à imprecisão doconhecimento, ou à indefinição dos limites doconteúdo: “A primeira a nascer foi a lingua-gem figurada e o sentido próprio foi encon-trado por último. Só se chamaram as coisaspelos seus verdadeiros nomes quando foramvistas sob suas formas verdadeiras. A princí-pio só se falou pela poesia, só muito tempodepois é que se tratou de raciocinar.” (Idem,p. 434) Quando o autor do Ensaio usa termoscomo “verdadeiros nomes”, não está supondoque as relações entre o sinal e o conceito se-jam naturais, pois sustenta todo o seu texto nacerteza de que é o contrato social que cons-trói a língua. Com isso ele quer atribuir aostropos a condição de formadores difusos deuma realidade ainda não percebida inteiramen-te, reservando à denotação a propriedade decompreender os objetos sob a forma mais co-

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nhecida. Está criando, portanto, uma depen-dência do processo de conhecimento do mun-do para com a língua, o que já vimos na obrade Locke. Quando o homem não conhece umobjeto, denomina-o de uma forma figurada,ainda em processo de construção; sendo a lín-gua que vai ensinar às gerações a “forma ver-dadeira” do mundo. Talvez tenhamos aí umacompreensão do percurso entre o mito e a ci-ência.

Essa teoria da linguagem original, de Rous-seau, embora a princípio possa parecer anedó-tica, está de acordo com as modernas investi-gações semiológicas. Sabemos que a poesia éum modo original de ver o mundo, um modoque difere dos modos conhecidos e vigentes,propondo um perfil para os objetos do conhe-cimento que não está, necessariamente, deacordo com o contorno estabelecido pela per-cepção, ou pela opinião, coletiva como o per-fil verdadeiro. Aristóteles já admitia isso naPoética, quando enquadrava no âmbito do ve-rossímil o processo mimético, que incide

“num destes três objetos: coisas quais eramou quais são, quais os outros dizem que sãoou quais parecem, ou quais deveriam ser.

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Tais coisas, porém, ele as representava me-diante uma elocução que compreende pala-vras estrangeiras e metáforas, e que alémdisso, comporta múltiplas alterações, queefetivamente consentimos ao poeta.” (Poé-tica, 1460b 8, cap.. XXV)

Aristóteles percebeu que a arte forma seusconceitos do mundo não apenas segundo acrença coletiva, mas também como o artistagostaria que o mundo realmente fosse – “quaisdeveriam ser” –, representando essa formaçãoimprevista através de uma elocução que se des-via igualmente da expressão comum.

No artigo “A falência do estruturalismo oua remissão dos pecados do objeto”, esse pro-blema está tratado do seguinte modo: “No fe-nômeno das artes, o espírito criador não seencontra diante da realidade como um espe-lho a refletir imagens (usamos aqui a figura deHegel); a sua atitude é ativa e dinâmica, há umaparticipação criadora da consciência, da ideo-logia e da forma da expressão na construçãodas imagens, quanto ao seu próprio conteúdoobjetivo: e vice-versa.” (Seixas, 1978b, p. 6)

A arte tenta ir além das fronteiras traçadaspelas convenções linguísticas, ampliando os

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objetos do conteúdo, pois o universo conhe-cido não passa de uma figuração parcial douniverso objetivo, empreendida por uma lín-gua ou por uma cultura – o que corresponde adizer que o conhecimento do mundo é ideo-lógico e simbólico: é uma linguagem.

Mas voltemos a Rousseau e aos seus argu-mentos em favor da compreensão da lingua-gem figurada como forma original:

“Bem sei que, neste ponto, o leitor meinterromperá e me perguntará como podeuma expressão ser figurada antes de ter umsentido próprio, se a figura consiste natranslação do sentido. Concedo-o; mas parame compreenderem será preciso substituira palavra que transpomos pela ideia que apaixão nos oferece – só se transpõe as pala-vras porque se transpõem também as ideias,pois de outro modo a linguagem figuradanada significaria.” (Rousseau, 1759, p. 434)

Um exemplo dado por Rousseau para essetipo de figuração é o do homem primitivo, quefoge amedrontado quando se encontra com umoutro. Não conhecendo o semelhante, o ho-mem é tomado de terror e acredita que o seu

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rival é maior, mais forte do que ele, disformeetc.; para expressar essa visão, vai buscar umaforma também imprecisa, capaz de traduzir aangústia da descoberta. Assim, um conheci-mento imperfeito gera uma linguagem impre-cisa, que será gradativamente estabelecida, emrelação direta com o conhecimento do objeto,até que o conhecimento validado pela conven-ção possibilite um significado definido.

O autor do Contrato social tenta demons-trar como a linguagem figurada surge antes dalinguagem denotativa, quando as paixões, ouas emoções, fascinam o homem, fazendo comque as primeiras ideias, provenientes doalumbramento diante dos objetos, não sejamuma exata reprodução da verdade.

Mais uma vez, o texto de Rousseau nos re-mete a uma reflexão sobre a semiótica poética,em oposição a uma semiótica pragmática comoa língua. Se a linguagem figurada se origina doconhecimento impreciso dos objetos, todaobra de arte se sustenta na figuração – e, porisso, tanto maior será o seu valor quanto maisobedeça a este princípio. Pound chamou osartistas de antenas da raça, pois a arte funcio-na como uma espécie de sistema de alarmepremonitório, antecipando as tendências e as

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conquistas do espírito ainda não reveladasnuma cultura. Segundo McLuhan, a tarefa daarte nos nossos dias consiste em formar a rea-lidade de modo dissonante, estranho ao esta-belecimento.

Sabemos que o universo é percebido e in-corporado pelo homem através dos seus mei-os de simbolizar, das suas linguagens, razãopela qual Wittgenstein afirma que a figuraçãoé um modelo da realidade e proclama: “Os li-mites da minha linguagem denotam os limitesdo meu mundo.” (Tractatus lógico-philosophicus, proposição 5.6.)

A realidade objetiva é o caos semântico dossentidos; e o que dela conhecemos é um cortemais ou menos arbitrário, ou convencional,operado pela nossa inteligência e pela nossasensibilidade: uma espécie de realidade subje-tiva socialmente determinada – objetivada,portanto. Esse universo primeiro, ou essa rea-lidade objetiva, é visto como o caos semânticodos sentidos, pois os objetos existem como taisprivados da formalização imposta pela inteli-gência cognoscente. É a realidade subjetivacompartilhada pelo contrato social, ou a reali-dade simbólica, que vai ordenar a realidadeobjetiva, física, tornando-a acessível à nossa

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percepção cognoscente, baseando esse orde-namento nas conveniências e preferências cul-turais do grupo humano.

O artista, ao tentar transgredir essa realida-de conhecida, para que possa ver além dela eperceber os objetos não-incluídos nas formassimbólicas eleitas pela cultura, nem sempreconseguirá formar com precisão e clareza osconceitos com os quais pretende ver além doslimites da sua gente, construindo para essacultura um universo mais amplo. Enquantoartista, o homem é condicionado pela socie-dade: ao transpor os limites do conhecimentosocialmente compartilhado, o universo queextrapola as convenções culturais pode pare-cer ainda impreciso e não-compreensível. Porisso, a sua linguagem, sendo o instrumento queinvestiga tal espaço de transgressão, só poderáser uma linguagem figurada, conforme a hipó-tese de Rousseau; não chegando a formar umsignificado pronto, estabelecido pelo conhe-cimento convencional, mas um processo deconhecer que pode ser denominado de signifi-cando”.

Em 1977, em comunicação apresentada aoXV Congresso Internacional de Linguística eFilologia Românicas, propúnhamos operacio-

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Cid Seixas

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nalmente substituir o termo “significado” por“significando”, quando se trata do signo poé-tico. No artigo “A subjetividade como elemen-to formativo da linguagem poética”, publica-do em seguida, argumentamos que “o signolinguístico é sincronicamente estável, fruto deum acordo entre os falantes, de cuja aceitaçãodepende qualquer alteração da sua estabilida-de. Natureza oposta caracteriza o signo poéti-co, que é inacabado, aberto e autoconstituídode mobilidade constante.” (Seixas, 1977, p. 7)

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A Necessidade Criadorae o Condomínio da Linguagem

CAPÍTULO II

No Ensaio sobre a origem das línguas, Capí-tulo XV: “De como nossas mais vivas sensa-ções frequentemente agem por meio de im-pressões morais”, o autor demonstra como oético se confunde com o estético, em virtudede o juízo estético ser condicionado pelo cos-tume e pelas circunstâncias que envolvem asrelações sociais. Se o contrato social é vistocomo base sobre a qual a língua repousa, isso éigualmente verdadeiro para as artes, que sãolinguagens de natureza diversa das línguas, masobedecem a um mesmo estatuto semiótico. Ossignos pragmáticos estão estabelecidos pelasociedade de um modo mais rígido que os sig-nos estéticos, mas não se pode negar que es-ses últimos também são condicionados peloscostumes e pelos usos.

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Quando defendemos, em outra passagem,a natureza particular do signo poético, não ig-noramos o fato de o artista engendrar o seuespaço de transgressão a partir das crenças e dosvalores de uma cultura, embora tenhamos pro-curado sublinhar o fato, por si mesmo eviden-te, de que a arte representa uma superação,intencional, dos limites e das fronteiras do es-paço convencional.

A propósito, Jung escolheu como legendada sua investigação uma frase de Schiller: quemnão se arrisca para além da realidade jamaisconquistará a verdade. Os homens que não seadmitem loucos evitam o risco de ir além doque conhecem como os limites do real, reser-vando essa tarefa àqueles que vivem a aventurada transgressão; entre os quais se inscreve oartista, certo de transformar o desventuradoestigma numa peripécia de descobertas. Porisso, ele consegue, nos breves momentos dacriação, viver livre das convenções sociais,muito embora a aceitação da sua arte dependados costumes do público fruidor – o que querdizer que, nesse particular, a ética e a estéticasão uma só.

Não é por outro motivo que cada gruposocial, que cada cultura, escolhe entre as di-

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o contrato social da linguagemCAPÍTULO II

versas formas de arte aquelas da sua preferên-cia. Uma música que desperta sensações deternura ou de melancolia num índio Kamaiurá,do Alto Xingu, dificilmente despertará iguaissentimentos num jagunço da legendária naçãode Canudos, nos sertões da Bahia. Os sons quearrebatam os jovens da periferia das metrópo-les, com o metralhar bombástico das caixasacústicas, roucas e distorcidas, não são os mes-mos que encantam o ouvido dos que vivem naroça escutando o canto dos pássaros. Suas evo-cações obedecem a referências distintas, sus-tentadas na memória cultural de cada grupo.

A partir das propostas de Rousseau, o con-ceito de beleza como categoria universal é pos-to em dúvida quando se considera a diversida-de do seu ideal . O arquétipo de belezatranscendental (essência ou forma apriorísticado belo), ainda hoje defendido pelos sonhosdo idealismo platônico, não existem para umateoria antropológica da arte.

Evocando as noções do realismo aristotélicopodemos dizer que o conceito de beleza éimanente a cada cultura, surgindo e se modifi-cando a partir das próprias contingências dohomem e do seu meio social. Assim como aforma depende da matéria, na Metafísica de

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Aristóteles, a beleza depende de quem a reco-nhece e das relações que engendraram o espí-rito estético. Não se pretende, com essa afir-mação, aceitar a subjetividade nos moldes doidealismo kantiano, mas retirar daí uma hipó-tese conceptual da beleza enquanto elementoparticipante do processo dialético que a cons-trói e determina. O juízo estético não residenas formas apriorísticas da subjetividade, comopropõe o idealismo tradicional, mas no fazerhumano e no ato de perceber as coisas e o uni-verso.

Assim como a função, para a qual são cria-dos ou assimilados pelo homem, atribui senti-do aos objetos – que não valem por si mes-mos, mas pela sua utilidade e relação com osdemais e com o homem –, a beleza não resideneles, mas no seu significado para a comuni-dade receptora. Nos Manuscritos econômicos efilosóficos, Marx reconhece a subjetividade dohomem: “A música mais bela não tem nenhumsentido para o ouvido não musical, pois não épara ele um objeto, porque o meu objeto sópode ser a manifestação de uma das forças domeu ser”. (Marx, 1978, p.120) Não é demaisrepetir que, para o marxismo, a subjetividadepura não existe, pois o homem é socialmente

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determinado. A subjetividade é, portanto, umprocesso dialético que remete o sujeito ao ob-jeto e o objeto ao sujeito.

Nas considerações referentes à melodia e àimitação musical, Rousseau assegura que en-quanto os estudiosos se preocuparem com ossons, unicamente pela excitação causada nosnervos, não alcançarão os princípios da músi-ca. As notas de uma composição “não agemem nós apenas como sons, mas como sinais denossas afeições, de nossos sentimentos”.(Rousseau, 1759, p. 464) Nessa passagem estáclara a noção da música como uma semiótica,onde as sequências musicais são signos de umalinguagem que, ao ser compreendida pelo ou-vinte, transmite mensagens conceituais aber-tas.

Para o filósofo, o estudo dos sons musi-cais sob uma perspectiva física difere do seuestudo associado a um valor moral e estético –do mesmo modo que a moderna linguísticadistingue a fonética, que descreve os fonemasdo ponto de vista articulatório, da fonologia,que se interessa por tal estudo enquanto capazde atingir o plano das significações.

Em outras palavras, ele identifica os sonsmusicais como signos, criando uma identida-

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de entre as línguas e as artes para que possamser estudadas por uma única disciplina filosó-fica. Tal atitude deriva da sua concepção daorigem das línguas, que teriam nascido junta-mente às outras linguagens: os primeiros re-cursos comunicativos do homem teriam sidouma soma de sinais de naturezas diversas, atéque se formaram as semióticas distintas, cadauma utilizando meios pertencentes a um úni-co sentido.

Quando o homem descobriu que podia secomunicar com o outro, não começou por ela-borar uma linguagem gestual ou uma lingua-gem sonora, mas empregou todos os meios deemissão de que dispunha para se fazer enten-der. Somente quando o entendimento alcan-çou um grau mais complexo é que as diversaslinguagens adquiriram seu próprio estatuto.Essa hipótese se aproxima da tese de Rousseausegundo a qual as línguas não nasceram somen-te das necessidades materiais, mas das neces-sidades espirituais, confundindo-se, portanto,com as artes: “Os primeiros discursos consti-tuíram as primeiras canções; as repetições pe-riódicas e calculadas, o ritmo e as inflexõesmelodiosas dos acentos deram nascimento,com a língua, à poesia e à música, ou melhor:

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tudo isso não passava da própria língua”.(Idem, p. 458)

Quando os formalistas russos, que no in-verno de 1914-1915 fundaram o CírculoLinguístico de Moscou, falaram da ciência li-terária e linguística, estavam partindo do pres-suposto de que a literatura e a língua se cons-tituem numa unidade. O manifesto de JuriTynianov e Roman Jakobson “Os problemasdos estudos literários e linguísticos” é umaconsequência desse pensamento que viria fa-zer com que, mais tarde, o estudo da literaturafosse submetido à linguística pelas correntesque aceitaram o argumento de que a poesia nãopassa de uma função da língua. Essa inferênciaposterior já se insere no momento estrutura-lista, mas a teoria da unidade dos objetos “lite-ratura” e “língua” remonta aos estudos sovié-ticos do início do século, quando foram per-seguidas as bases de uma possível semiologia.

O primeiro dos oito itens do texto diz:

“Os problemas imediatos da ciência li-terária e linguística na Rússia necessitam serpostos numa base teórica estável; exigemque abandonemos definitivamente asmontagens mecânicas cada vez mais fre-

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quentes que reúnem os procedimentos danova metodologia e os do velho métodoestéril, que introduzem hipocritamente opsicologismo ingênuo e outras velharias sobuma nova terminologia. Devemos nos se-parar do ecletismo acadêmico, do‘formalismo’ escolástico que substitui a aná-lise pela enumeração da terminologia e quenada faz senão erguer um catálogo de fenô-menos; é necessário cessar de transformara ciência literária e linguística, tomada comouma ciência sistemática, em gênerosepisódicos e anedóticos.” (Tynianov &Jakobson, 1971, p. 95)

Rousseau, que igualmente constrói o seuEnsaio sobre a origem das línguas a partir deuma perspectiva abrangente e semiológica, temo mérito de não ter perdido de vista as impli-cações sociais dos sistemas simbólicos trata-dos. Quando os editores das suas obras, na tra-dução brasileira, incluíram o Ensaio no volu-me das obras políticas, tinham em mira o cará-ter da intercomplementaridade desse textocom relação a um outro, igualmente importan-te, Do contrato social; ou princípios do direitopolítico. Essa lição da filosofia de Rousseau foi

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negligenciada pela semiologia, ao se constituirem ciência, tendo se reduzido a uma“semiótica” (no sentido de Pierce, Hjelmslev,Greimas, etc.) ou a uma lógica interessada emsistemas formais.

Obedecendo aos mesmos impulsos iniciais,as línguas e as artes derivam de um mesmocondomínio social:

“Foram em verso as primeiras histórias,as primeiras arengas, as primeiras leis. En-controu-se a poesia antes da prosa, e have-ria de assim suceder, pois que as paixões fa-laram antes da razão. A mesma coisa acon-teceu com a música. A princípio não houveoutra música além da melodia, nem outramelodia que não o som variado da palavra;falava-se tanto pelos sons e pelo ritmo quan-to pelas articulações e pelas vozes. Segun-do Estrabão, outrora dizer e cantar eram omesmo, o que mostra, acrescenta ele, que apoesia é a fonte da eloquência. Seria melhordizer que tanto uma quanto a outra tiverama mesma fonte e a princípio foram uma únicacoisa. Levando-se em consideração o modopelo qual se ligaram as primeiras socieda-des, pode sentir-se surpreendido pelo fato

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de terem sido as primeiras histórias escri-tas em verso e que se cantassem as primei-ras leis? Será motivo de admiração teremos primeiros gramáticos submetido sua arteà música e serem, ao mesmo tempo, pro-fessores de uma e de outra?”. (Rousseau,1759, p. 548-549)

Em nota ao texto, Rousseau cita a passa-gem em que Quintiliano chama atenção para ofato de os antigos preceptores consideraremtanto a gramática quanto a música como par-tes do seu ofício de ensinar. Fiel à tradição quecultua os valores da Grécia antiga, ele observaque uma língua que tem apenas articulações evozes, como o francês ou o português, temsomente metade da riqueza possível, poistransmite ideias, mas não sugere sentimentose imagens, no fluir do seu discurso. Para queisso aconteça, são necessários os ritmos e ossons que constituem a estrutura melódica dafala. Essas características, no modo de enten-der de Rousseau, estão presentes na língua gre-ga, que possui toda a riqueza necessária aocumprimento das diversas funções da lingua-gem verbal.

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Os modernos estudos de línguas tonais e oconhecimento de culturas não-submetidas aosmodelos das línguas européias atuais não in-validam a identificação pretendida pelo filóso-fo entre a música, a poesia e a língua, mas fun-damentam alguns dos seus pontos de vista que,com os dados da ciência contemporânea, po-dem ser estudados sob novos ângulos.

Roman Jakobson, já citado por submeter osfatos poéticos ao domínio da língua, constataa presença da poesia nas culturas de menor ní-vel de desenvolvimento tecnológico e artísti-co, afirmando que se trata de um fenômenouniversal, do mesmo modo que a linguagemverbal. “Note-se por outro lado que em certassociedades só existe poesia em forma de poe-sia cantada: é o sincretismo primitivo da pala-vra poética e da música”. E logo em seguida,insiste nas relações entre linguística e poética:

“Dizia Santo Agostinho que um homemque não tem em conta a poesia não podearrogar-se à qualidade de gramático. Estouinteiramente de acordo com esta grandeautoridade. Para ser gramático – hoje dize-mos linguista – é preciso conhecer a línguaem todas as suas funções, e a função poéti-

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ca é universal, coexiste sempre. Compare-ce na poesia, onde organiza todas as restan-tes funções (não as elimina: organiza-as), ena prosa, na linguagem corrente, onde setorna subalterna. Em Santo Agostinho nãoestá expressa mas parece implícita uma ver-dade complementar: não nos podemos ocu-par de poesia sem ter em conta a ciência dalinguagem. Decerto, há linguistas que, es-cravos da matéria verbal, não se mostramsensíveis ao valor estético. Esses, porém, sãoos maus linguistas. Adotando uma atitudemecanicista, escapa-lhes a extraordináriaductilidade da linguagem, a grande varieda-de das funções que esta desempenha.”(Jakobson, 1974, p. 8)

Desse modo, somos remetidos novamenteao problema inicial proposto por Rousseau,que não considera uma imagem agradável pe-las suas características internas, mas pelas re-lações entre ela e aqueles que a julgam dessamaneira. O fato de algumas impressões pro-vocarem a sensibilidade de um indivíduo, sen-do nulas para a sensibilidade de outro indiví-duo, de cultura diferente, se afigura aos olhosdo filósofo como uma prova de que as nossas

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sensações mais distintas estão condicionadaspela moral, isto é, pelos costumes. Não ape-nas o julgamento estético, mas também qual-quer tipo de gosto deriva dos hábitos tornadoscomuns à cultura do indivíduo: “Só conheçoum sentido em cujas sensações não se misturanada de moral – é o paladar”. (Rousseau, 1759,p. 465)

No caso das semióticas estéticas, a prefe-rência manifestada por um grupo para comcertas formas de arte é devida à facilidade en-contrada para decodificar o significado: o gostoestético, segundo Rousseau, está ligado à com-preensão daquilo que uma semiótica poéticadiz ou sugere. O homem só é atingido pelasestruturas que lhe são conhecidas ou que lhelembram alguma coisa. A arte de vanguarda,por exemplo, às vezes encontra dificuldade deser aceita pelo público porque opera com for-mas desconhecidas, quer sejam formas de ex-pressão, isto é, referentes ao sinal e aos própri-os recursos sensíveis, como os sons, quer se-jam formas de conteúdo, ou modos de ver omundo e os objetos tratados.

A noção de redundância como requisitobásico para o consumo é outro argumento quepode confirmar o ponto de vista de Rousseau.

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Umberto Eco, ao analisar “O mito do Super-man”, em Apocalípticos e integrados, ressalta ofascínio exercido pelas mensagens iterativassobre as massas: “O esquema é de tal maneiraimportante, que os autores mais célebres fun-dam seu êxito na sua imutabilidade”. (Eco, s.d., p. 265) Ele identifica o prazer da interação,entendida como redundância, como um dosfundamentos da evasão, mecanismo através doqual o indivíduo realiza as suas regressões. Éum modo de fugir à permanente mudança domundo e adaptar a sensibilidade a um tempoestático e cômodo:

“uma estrutura narrativa exprime um mun-do; mas disso nos damos conta ainda mais,revelando que o mundo tem a mesma con-figuração da estrutura que o exprimia. Ocaso do Superman é a confirmação dessahipótese. Se examinarmos os ‘conteúdos’ideológicos das estórias do Superman per-ceberemos que, de um lado, eles se susten-tam e funcionam comunicativamente gra-ças à estrutura da série narrativa; do outro,concorrem para definir a estrutura que osexprime, como uma estrutura circular, estáti-ca, veículo de uma mensagem pedagógicasubstancialmente imobilista” (Idem, p. 271).

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O público gosta que lhe seja contada umahistória conhecida, que lhe sejam ditas coisasque ele já sabe, ou que as coisas novas venhamatravés de recursos velhos. Não é por outromotivo que os programas humorísticos de te-levisão, obedecendo a um esquema que se re-pete todos os dias, onde os personagens agemsempre do mesmo modo, continuam agradan-do aos espectadores. O homem comum gostade se sentir capaz de antecipar o que vai aconte-cer com o seu herói favorito, consistindo nessafamiliaridade a base do seu juízo estético.

Rousseau parece ter compreendido esse fatoagora evidenciado pela teoria da comunicação,quando defende os pontos de vista do Ensaio.A afinação dos instrumentos musicais, queinclui inflexões que não entram no nosso sis-tema, soa desagradavelmente para o públicohabituado aos recursos previstos por esse sis-tema. A necessidade do conhecimento préviodas convenções estéticas se deve ao fato de osmateriais constituintes dos signos – como ossons nas artes temporais e as cores e movimen-tos nas artes espaciais – terem “grande podercomo representações e sinais, porém peque-no, como simples objetos dos sentidos”.(Rousseau, 1759, p. 465) Uma sequência de

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sons agradáveis, suficiente para distrair alguémpor certo tempo, pode cansar o ouvinte, quan-do não consegue dizer nada a ele que provo-que algum tipo de evocação capaz de falar àsua inteligência ou à sua sensibilidade.

Uma sinfonia de Beethoven, onde são des-critas as sensações provocadas por determina-do ambiente ou paisagem, pode não significarnada para um ouvinte de música oriental oupara um espectador de televisão, habituado àlinguagem musical dos cantores mais simpló-rios. As descrições musicais baseiam-se numprincípio de convenção constituído ao longodo desenvolvimento da música européia; cadapeça anteriormente ouvida fornece ao fruidoros dados para a decodificação de novas peças.Uma composição que não pertence a essa tra-dição escapa ao entendimento e ao gosto doouvinte habituado a ela, assim como um ou-vinte filiado a outra tradição tende a se manterimpassível diante dessa música. Se alguém edu-cado para perceber as composições barrocasouve uma fuga de Bach, consegue construir namente uma realidade conceitual próxima àquelaque é experimentada pelos outros ouvintes deformação idêntica. Quando se conhecem osrecursos utilizados por uma arte, pode-se atin-

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gir o significado de combinações que, dessaforma, passam a atuar como signos, e não maiscomo simples elementos de uma cadeia. Por-tanto, se as semióticas estéticas e as línguas sãopercebidas pelos sentidos que, segundoRousseau, só conhecem sensações morais, asconvenções determinam a sua construção e asua decodificação.

O CONTRATO SOCIALE A LÍNGUA

O Ensaio sobre a origem das línguas e Docontrato social são textos que se completam eexplicam mutuamente: alguns conceitos for-mulados no primeiro são aplicados não apenasa questões estritamente linguísticas, mas a ou-tros aspectos da sociedade, assim como asconstatações de ordem sociológica e políticafeitas no Contrato são igualmente válidas paraa língua, que deriva desse consórcio entre oshomens.

As leis a que as sociedades, de um modogeral, e as línguas, em particular, estão subme-tidas obedecem aos mesmos princípios e, emambos os casos, sua compreensão está sujeitaa equívocos parecidos, quando não idênticos.

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Durante muito tempo se entendia que as lín-guas estavam naturalmente submetidas aosprincípios estabelecidos pelos gramáticos, combase em antigas normas de uso erudito. Aindahoje, muitos apocalípticos do idioma cultivama aversão à linguagem integrada à realidade dosfalantes, pois não lhes parece justo que caibaao povo que fala uma língua traçar os seus ru-mos e constituir as suas normas. Por outrolado, a maioria aceita a tese segundo a qual asnações estão sujeitas a leis magnas, baseadasnos cânones da justiça e traduzidas pelos le-gisladores – continuando, assim, a tradição queremonta à crença no direito sagrado dos reis edos poderosos.

Já no século XVIII, Rousseau compreen-dia o caráter convencional dessas instituiçõese dos seus valores, declarando a ilegitimidadede todo princípio de autoridade estranho àvontade daqueles que estão submetidos ao con-trato social.

Como o homem está sujeito a coerções re-sultantes de princípios arbitrários e estanhosà sua vontade, o filósofo observa que ceder àforça constitui um ato de necessidade, ou mes-mo de prudência, o que o leva a proclamar,como axioma do livro Do contrato social; ou

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princípios do direito político: “Desde que sepode desobedecer impunemente, torna-se le-gítimo fazê-lo e, visto que o mais forte temsempre razão, basta somente agir de modo aser o mais forte”. (Rousseau , 1762, p. 22) Comisso o autor do Contrato não está justificandoa violência, mas se opondo à legitimação atri-buída ao poder que não se sustenta na vontadegeral. Chama a atenção para o fato de seremos homens que instituem os princípios atra-vés de convenções, para que possam desfrutarmelhor os bens da natureza e as vantagens daconvivência social. Se nenhum homem temautoridade natural sobre seus semelhantes, alegitimidade de toda autoridade reside no con-trato social, que é a manifestação da vontadecoletiva.

Assim é que define a lei como o registro davontade dos indivíduos associados, não sendodignas de tal denominação as regras impostasa partir de outras bases: “O povo, submetidoàs leis, deve ser o seu autor. Só àqueles que seassociam cabe regulamentar as condições dasociedade”. (Idem, p. 44) Isso se aplica nãosomente à sociedade em geral, mas aos seussistemas particulares, igualmente baseados emconvenções, como a língua.

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Uma leitura atenta do Contrato revela im-portantes reflexões implicitamente linguísti-cas, muito embora o texto não tenha sido ela-borado com tais fins. As colocações aí conti-das são totalmente revalidadas pelas propos-tas dos sociolinguistas ou pelo trabalho de al-guns filólogos que souberam tratar do seu ob-jeto sem ignorar as “incômodas” relações exis-tentes entre as línguas e as culturas dos povos.Como a linguagem é um fato social, os mes-mos princípios que determinam as leis sociaisestão presentes na inferência das leis linguís-ticas. As necessidades do homem, como per-cebeu Rousseau, antes de Marx, orientam edeterminam as suas ações e princípios.

A partir do condicionamento imposto poresse fato, a água e o fogo se teriam constituí-dos nos primeiros motivos de união dos ho-mens: o fogo, nos climas frios, e a água, se-gundo Rousseau, em quase todos os pontosda terra. A origem das primeiras sociedades e,portanto, das primeiras línguas está diretamen-te ligada à necessidade de utilização desses ele-mentos. O homem se aproxima do outro, di-ante de uma fogueira ou de uma fonte, querepresentam dois importantes vínculos para asprimeiras reuniões.

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Desse modo, as áreas de clima agradável eameno, onde existem rios e fontes, deveriamser o berço das primeiras sociedades. Mas osantropólogos sabem que isso não ocorreu,como revelam seus estudos e as descobertasda arqueologia. As sociedades humanas desen-volvem-se nos pontos mais adversos à sua so-brevivência, invalidando qualquer raciocíniomecanicista, nesse sentido. “A abundância deágua pode retardar o estabelecimento da soci-edade entre habitantes de lugares bem irriga-dos. Nas regiões áridas, pelo contrário, tive-ram de se reunir para furar poços e para abrircanais, a fim de dessedentar os animais. Nelas,vêem-se homens associados desde tempos qua-se imemoriais, pois ou a região continuariadeserta ou então o trabalho humano a tornariahabitável”. (Rousseau, 1759, p. 452)

Quando a necessidade reúne os homens,surge a conveniência de se utilizar algum ins-trumento que facilite o entendimento e sejacapaz de manter a união. Se nas regiões férteisos homens encontram meios de viver isolada-mente, nas zonas áridas a oposição do meioambiente exige a colaboração de todos, emforma de associação de forças, como condiçãoessencial à sobrevivência de cada um. Nessas

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regiões, a língua nasceu da necessidade, dosgritos de socorro, das agressões e das adver-tências, diz Rousseau, enquanto nos climasbrandos as línguas nasceram das paixões, “fi-lhas do prazer e não da necessidade”. (Idem,p. 455) Esse fato explica a diferença existenteentre as línguas: umas com maior poder desugestão emocional e outras com proprieda-des totalmente diversas. Embora Rousseaureconheça que as línguas tanto poderiam terse originado do que chama de necessidademorais quanto das necessidades naturais desobrevivência, tende a acreditar que, se os ho-mens tivessem apenas necessidades semelhan-tes às dos animais, poderiam jamais ter falado.

A tentativa de situar o traço distinto entreo homem e os outros animais torna o Ensaiosobre a origem das línguas contraditório, fican-do o seu autor oscilando entre dois tipos decausas. Para explicar a existência de línguasmais próprias para falar ao coração, como disseesse construtor do pensamento romântico, ede outras línguas que se adequam às exigênci-as da razão, ele imagina a passagem de uma vidaquase paradisíaca a uma realidade menos ge-nerosa:

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“A ociosidade, que alimenta as paixões,cedeu lugar ao trabalho, que as recalca. An-tes de pensar em viver feliz, tinha-se de pen-sar em viver. A sociedade só se formou pelaindústria, porquanto a necessidade mútuaunia muito mais os homens do que o teriafeito o sentimento. Sempre presente, o pe-rigo de perecer não permitia que se limitas-sem à língua do gesto, e entre eles a primei-ra palavra não foi amai-me – aimez-moi –mas ajudai-me – aidez-moi”. (Rousseau,1759, p. 456)

Na página anterior, ele observa ainda:

“Com o decorrer dos tempos, todos oshomens se tornam semelhantes, porém é di-ferente a ordem de seu progresso. Nos cli-mas meridionais, onde a natureza é pródi-ga, as necessidades nascem das paixões; nasregiões frias, onde ela é avara, as paixõesnascem das necessidades, e as línguas, tris-tes filhas da necessidade, ressentem-se desua áspera origem.”

Partindo do pressuposto segundo o qual aslínguas, nas suas primeiras manifestações, se

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confundiam com as artes baseadas em signossonoros, como a poesia e a música, Rousseauestabelece uma distinção entre os seus estági-os. As formas originais da linguagem, porquevisavam falar ao sentimento, persuadindo, semconvencer a razão, eram formas por si mes-mas agradáveis e providas de grande poder desugestão. Num estágio moderno, a exatidão eo caráter denotativo substituem os antigosencantos que tanto fascinaram o espírito ro-mântico do filósofo. As línguas deixam detransmitir os estímulos presentes nos seus pró-prios recursos, para comunicar fatos que va-lem pelo seu significado, e não pela sugestãodos meios.

Dessa forma, Rousseau fala de um estágioprimitivo, ou poético, das línguas; de um está-gio político, ou equivalente a um período emque a liberdade se exercia através do discursoe da retórica; e, finalmente, de um estágio dedecadência, onde o silêncio domou o discursoe aprisionou a liberdade do verbo. É o que elechama de degeneração de uma língua e do seupovo, que são submetidos a uma vontade es-tranha à livre escolha da coletividade, valorsupremo do contrato social. “Afirmo ser umalíngua escravizada toda aquela com a qual não

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se consegue ser ouvida pelo povo reunido”.(Idem, p. 437)

Tratando das relações entre língua e poder,ele escreve esta passagem admirável – quecomplementa e é complementada por Do con-trato social, texto que alia a análise filosóficade base científica à beleza peculiar ao discursohumanístico –, encerrando o Ensaio sobre aorigem das línguas (p. 436) com a reafirmaçãodos vínculos indissolúveis entre a sociedade esua manifestação verbal:

“As línguas se formam naturalmente ba-seadas nas necessidades dos homens, mu-dam e se alteram de acordo com as mudan-ças dessas mesmas necessidades. Nos tem-pos antigos, quando a persuasão constituíauma força pública, impunha-se a eloquência.De que serviria hoje, quando a força públi-ca substitui a persuasão! Não se tem neces-sidade nem de arte nem de figura para dizer– assim o quero. Qual é o discurso, pois, queainda resta a fazer ao povo reunido? Ser-mões. E qual o interesse daqueles que osfazem em persuadir o povo, se não é o povoquem distribui mercês? As línguas popula-res tornaram-se, também para nós, tão per-

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Cid Seixas

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feitamente inúteis quanto a eloquência. Associedades tomaram sua última forma: nelanada mais se muda senão com o canhão ecom a moeda, e como nada se tem a dizerao povo, a não ser – dai dinheiro,diz-se pormeio de cartazes nas esquinas ou de solda-dos nas casas. Para tanto não se precisa reu-nir ninguém; pelo contrário, convém man-ter os súditos esparsos – tal a primeira má-xima da política moderna”.

A constatação melancólica de Jean-JacquesRousseau é compartilhada por todos nós,quando seu terrível discurso ganha mais atua-lidade do que nunca (apesar de toda a ironiado poder), e quando só resta a metáfora paté-tica que ele nos atira na cara, irrevidável, comoum soco de luz na escuridão: “Existem línguasfavoráveis à liberdade, são as sonoras, prosó-dicas, harmoniosas, cujo discurso bem de lon-ge se distingue. As nossas são feitas para ossussurros dos sofás”. (Idem, p. 436)

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CAPÍTULO III

Semióticas Pragmáticas e Estéticas:Determinação Social

Definida, para fins operacionais, a semiologiacomo disciplina filosófica que trata das formassimbólicas e dos sistemas e processos de sig-nificação, e semiótica como cada um dos siste-mas e processos particulares de signos e sinais,podemos estabelecer diversos tipos de classi-ficação. Hjelmslev (1943, p. 115) apresentacontribuição de grande importância quandoafirma que “uma língua é uma semiótica na qualtodas as outras semióticas podem sertraduzidas, tanto todas as outras línguas comotodas as estruturas semióticas concebíveis”.Para o mestre de Copenhague, essatraduzibilidade resulta do fato de só as línguasserem capazes de formar todos os conteúdospossíveis. Uma semiótica como a música for-

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ma apenas conteúdos de um tipo, assim comoo código de sinais rodoviários é incapaz deformar conteúdos musicais. Mas uma semió-tica que é uma língua é capaz de formar ou detraduzir os conteúdos de todas as semióticas.Por isso Hjelmslev, valendo-se das palavras deKierkegaard, diz que apenas uma língua podeocupar-se com o inexprimível até que ele sejaexprimido. Podemos assim opor as línguas aoscódigos, reservando o primeiro termo para ossistemas e processos produtivos, ou para assemióticas que são códigos que traduzem có-digos.

Se, por um lado, distinguimos as semióticasque são línguas das que são códigos stricto sensu,por outro lado podemos falar em semióticaspragmáticas e estéticas. Uma semiótica pragmá-tica é um código ou uma língua cuja finalidadeé essencialmente prática.

É a utilidade social que determina tal classi-ficação: a língua portuguesa, o código deMorse, o sistema algébrico etc. são semióticaspragmáticas, pois desempenham um papel prá-tico nitidamente estabelecido. Inversamente,a música, a poesia, a dança etc. não podem seranalisadas quanto à função social do mesmomodo, sendo reservada a esses códigos a de-nominação de semióticas estéticas.

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Constitui importante problema saber se taissistemas e processos estéticos são apenas có-digos ou línguas. Distinguindo os signos dossinais, atribuindo aos primeiros a propriedadede formar a realidade (ou seja, de construir seupróprio conteúdo), em oposição aos sinais, quesão simples representação de um objetopreexistente para a subjetividade do indivíduo,podemos dizer que as línguas operam com sig-nos e os códigos fechados, com sinais. Se acei-tarmos a arte como formadora da realidadepercebida pelo sujeito, do mesmo modo queas línguas sociais, essa não poderá ser reduzi-da à condição de simples código, já que émarcada por uma produtividade que amplia oslimites da própria língua histórica na qual seinsere.

As semióticas pragmáticas, e principalmenteas línguas, que constituem o nosso objeto, as-sumem uma relação com a ideologia, diversadas semióticas estéticas. Enquanto uma línguaé um organismo eminentemente social, a arte,apesar de estar vinculada com a sociedade, é,pela própria natureza, uma forma de transgres-são desse espaço. As funções práticas desem-penhadas pela língua dentro de uma comuni-dade terminam por estabelecer um vínculo

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muito mais rígido que o da arte. De certa for-ma, podemos dizer que a língua comportamenos que a arte a iniciativa individual e a sub-versão dos padrões coletivos. Nessa medida,enquanto a arte está comprometida com a ide-ologia do seu criador, a língua se confunde coma ideologia do grupo falante. São as constan-tes do espírito da coletividade, e não as con-cepções individuais, que vão estabelecer umarelação de reciprocidade com a língua que for-ma e traduz, ao mesmo tempo, a ideologia dacultura. A arte opera com fabulações que seassemelham ao que Lévi-Strauss evocou comomito individual do neurótico e Lacan explicitoucom um enfoque especializado.

É evidente que o artista é fruto da cultura àqual está submetido, mas seu papel é entendi-do como o de um transgressor, que ultrapassaas fronteiras culturais do seu povo, podendoassim fazê-lo para o bem ou para o mal. Nessesentido é que tradicionalmente se costumasublinhar o papel do artista como ampliadordos horizontes do seu tempo e do seu espaço,sendo essa direção (para o bem ou para o mal)que separa a transgressão plenamente artísticade outra puramente patológica. A função so-cial da arte é ampliar os horizontes do homem,

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só cabendo o nome de arte à manifestação quecumpra tal finalidade, sendo excluídas dessacategoria as formas alegóricas da ociosidade doespírito. A transgressão que se esvazia no gri-to de desespero de indivíduos vitimados poruma sociedade decadente não é objeto da es-tética, mas da psicanálise. O artista empreen-de uma transgressão comprometida como ohomem, a cultura e a sociedade, sendo essecompromisso que o vai aproximar ou distan-ciar de outras formas de inadequação à reali-dade estabelecida.

Fernando Pessoa apontou, como um dosequívocos sugeridos pela ideologia romântica,a confusão entre o poeta e o pirado:

“O verdadeiro perigo do romantismo éque os princípios por que se rege ou dizreger são de natureza a que os possa invo-car qualquer [pessoa], para conferir a si pró-prio a categoria de artista. Tomar a ânsia deuma felicidade inatingível, a angústia dossonhos irrealizados, a inapetência ante aação e a vida, como critério definidor dogênio ou do talento, imediatamente facilitaa todo indivíduo que sente aquela ânsia, so-fre daquela angústia, e é presa daquela inape-

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tência, o convencimento de que é uma in-dividualidade interessante, que o Destino,fadando-a para aquelas ânsias, aqueles so-frimentos, e aquelas impossibilidades, im-plicitamente fadou para a grandeza intelec-tual”. (Pessoa, 1976, p. 292)

Para o autor de Mensagem, o entendimentoda natureza da arte é prejudicado por uma fal-sa concepção “que permite que o primeiro his-térico ou o mais reles dos neurastênicos se ar-rogue o direito de ser poeta pelas razões, que,de per si, só lhe dão o direito de se considerarhistérico ou neurastênico”. (Idem, ibidem)

Língua e arte são modos diferentes de per-ceber a realidade, cabendo ao artista o papelde ampliar a percepção que é oferecida ao seupovo pela língua materna. Esse compromissofoi percebido por T. S. Eliot ao identificar alíngua com a própria consciência social:

“Podemos dizer que o dever do poeta,como poeta, é só indiretamente voltado paraseu povo: seu dever direto é para com sualíngua, que lhe cabe em primeiro lugar pre-servar, e em segundo ampliar e melhorar.Ao expressar o que os outros sentem, ele

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está também modificando o sentimento,tornando-o mais consciente: está fazendocom que as pessoas percebam melhor o quesentem, ensinando-lhes, portanto, algo arespeito de si mesmas. Mas ele não é apenasuma pessoa mais consciente do que as ou-tras; é, também, individualmente diferentedas outras pessoas, e também dos outrospoetas, e pode fazer com que seus leitorescompartilhem conscientemente novas sen-sações ainda não vivenciadas. Essa é a dife-rença entre o escritor meramente excêntri-co ou louco e o poeta de gênio. O primeiropode ter sensações únicas mas não parti-lháveis, e, portanto, inúteis; o segundo des-cobre novas variações de sensibilidade quepodem ser utilizadas por outros. E ao ex-pressa-las ele está desenvolvendo e enrique-cendo a língua que fala”. (Eliot, 1972, p. 35)

A primeira reação de um leitor de forma-ção linguística ortodoxamente estruturalista aose deparar com este texto do autor de The WasteLande é censurar expressões como “ampliar emelhorar” ou “desenvolvendo e enriquecen-do a língua”. Tal reação deixa de ter sentidoquando observamos que, para Eliot, a língua

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não se reduz aos sistemas puros, mas é um todo– é a própria consciência do falante.

Retornando ao trecho acima citado, é por-tanto a finalidade do seu trabalho que caracte-riza a atividade do artista; a sua consciência decompromisso para com o homem e, de ummodo geral, a sua ideologia vão representar oponto de partida da criação estética. Toda obrade arte é ideológica, nascendo da consciênciae da responsabilidade do criador.

No caso da língua social ou das semióticaspragmáticas, a ideologia é menos consciente,sendo, portanto, mais difícil a detecção da na-tureza ideológica do discurso. A ideologia in-dividual cede lugar à ideologia coletiva, o quedificulta o seu desmascaramento. RobertoCardoso de Oliveira, estudando problemas deetnia e estrutura social, no artigo “Um con-ceito antropológico de identidade”, afirma que“a identidade social, ela própria é uma ideolo-gia e uma forma de representação coletiva”.(Oliveira, 1976, p. 39)

Se ideologia, identidade social e represen-tação coletiva se confundem, ou, mais preci-samente, se amalgamam, a língua, que é a cons-ciência prática do homem, está comprometidacom a ideologia e a cultura do seu povo.

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A IDEOLOGIA DA LINGUAGEME A CRIAÇÃO LITERÁRIA

A discussão que se inicia com o presentetítulo é uma retomada das ideias desenvolvi-das em artigo publicado com o mesmo nomena revista Encontros com a Civilização Brasi-leira. (Seixas, 1979, p. 153)

A linguagem poética, constituída não ape-nas pelos elementos linguísticos do texto, maspelo conjunto de recursos utilizados na narra-tiva, na descrição ou na representação direta,manifesta maior independência com relação àcultura do grupo social do emissor da mensa-gem que o discurso pragmático ou cotidiano.Enquanto o ato linguístico comunicativo estádiretamente comprometido com a sociedadeem função da qual é elaborado, o discurso lite-rário se processa no sentido de desvincular suaformação dessa base condicionante. Se o dis-curso pragmático, porque visa à comunicaçãoentre os homens, é cada vez mais automatizadopelos processos sociais estabelecidos, o discur-so poético, porque se sustenta na reflexão crí-tica, perde em extensão informativa para seaprofundar na compreensão do objeto ou dosobjetos que constituem o universo humano.

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Aristóteles submete a poética às leis do ve-rossímil, balizando os outros discursos peloplano do verdadeiro: enquanto as ciências seocupam do que acontece, a arte trata do que épossível acontecer, segundo a verossimilhan-ça. Uma semiótica pragmática está presa à rea-lidade tal como é, enquanto uma semiótica es-tética busca o que poderia ser. Para o filósofo,

“não diferem o historiador e o poeta, porescreverem verso ou prosa (pois que bempoderiam ser postas em verso as obras deHeródoto, e nem por isso deixariam de serhistória, se fossem em verso o que eram emprosa), – diferem, sim, em que diz um ascoisas que sucederam, e outro as que pode-riam suceder. Por isso a poesia é algo de maisfilosófico e mais sério do que a história, poisse refere àquela principalmente o universal,a esta o particular. Por ‘referir-se ao univer-sal’ entendo eu atribuir a um indivíduo dedeterminada natureza pensamentos e açõesque, por liame de necessidade e verossimi-lhança, convém a tal natureza; e ao univer-sal, assim entendido, visa a poesia, ainda quedê nomes aos seus personagens; particular,pelo contrário, é o que fez Alcebíades ou oque lhe aconteceu”. (Poética, 1451a 36)

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Segundo diz o estagirita, na mesma passa-gem, “não é ofício do poeta narrar o que acon-teceu; é sim, o de representar o que poderiaacontecer, quer dizer: o que é possível segun-do a verossimilhança e a necessidade.”

Marx e Engels, por outro lado, reconhecema natureza autônoma da literatura, que em al-guns momentos históricos se distancia da so-ciedade que lhe serviu de base material. Comisso, eles não se referem a uma arte alienadado seu tempo e do seu espaço, mas reconhe-cem o papel de modificadora desse tempo edesse espaço, através de uma transgressão doestabelecido.

Os próprios fins do discurso poético exi-gem uma natureza dialética, fazendo com queele não forme o universo do mesmo modo queo discurso pragmático. A necessidade da fala,no trato social, de se referir a objetos sobre osquais há uma concordância estabelecida pelacomunidade, reduz a iniciativa pessoal. Já otexto poético, por se referir ao verossímil evisar o não-estabelecido, não tem um referen-te predeterminado.

No conhecido triângulo de Ogden e Richards,o símbolo se refere ao pensamento ou referên-cia e não ao referente (ou objeto):

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FIGURA: TRIÂNGULO DE OGDEN E RICHARDS

Para os autores de O significado de signifi-cado: um estudo da influência da linguagem so-bre o pensamento e sobre a ciência do simbolis-mo há uma relação entre o símbolo e a refe-rência, e entre essa e o referente; mas entre “osímbolo e o referente não existe qualquer re-lação pertinente a não ser uma indireta, queconsiste em seu uso por alguém para repre-sentar o referente. (Ogden & Richards, 1923,p. 32)

Observe-se que, para esses autores, símbo-lo não é uma função ou um todo formado porexpressão e conteúdo, como o signo de Saussure,que possui um significante e um significado.Símbolo, portanto, não equivale a signo, mas a

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significante. De tal forma, a expressão “androi-de”, por exemplo, não está diretamente asso-ciada a um ser produzido em laboratório, masà ideia que o grupo falante faz desse ser. Deigual modo, a denominação “castanho” estávinculada ao pensamento de um grupo, ao con-ceito que ele tem dessa cor, pois a divisão dascores pode não ter equivalência de uma cultu-ra linguística para outra. Em termos saussuria-nos, a ligação entre o significante e o objeto éarbitrária, mas passa a ser aceita a partir de umaconvenção dos usuários da língua. Se, no casodas semióticas pragmáticas, há a necessidadede uma convenção mais ou menos rígida paraque um significante evoque um objeto deter-minado, compreendido pelo significado, nocaso das semióticas estéticas o significado nãoestá tão definido a ponto de compreender de-terminados objetos. Por isso, é preferível falarde um significando poético, e não de um signi-ficado, termo que responde apenas à língua,enquanto instrumento essencialmente social.“O signo linguístico, é sincronicamente está-vel, fruto de um acordo entre os falantes, decuja aceitação depende qualquer alteração dasua estabilidade. Natureza oposta caracterizao poético, que é inacabado, aberto e autocons-

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tituído de mobilidade constante. Observemosque enquanto o signo linguístico é de criaçãocoletiva – seu conteúdo é formado por unida-des comuns, e sua expressão, por um conjun-to de elementos formado arbitrariamente edenominado significante – o signo poético éde criação individual, particular”. (Seixas, 1977,p. 7) A diferença residiria no modo de formar,no corte dado à realidade: se apreendida atra-vés da língua ou através da arte.

O idealismo deu especial ênfase ao fatorsubjetivo como responsável pela formação dosobjetos do conhecimento; por outro lado, omaterialismo ortodoxo dificultou a percepçãoda atividade humana como prática, cabendo auma forma de materialismo menos rígida, odialético, repensar o problema nos termos atu-almente aceitos. Karl Marx, na primeira dasonze teses sobre Feuerbach, onde antecipa demodo sintético os fundamentos da filosofia dapráxis, critica o materialismo por ter negligen-ciado a parte subjetiva do conhecimento. Parao autor de O capital, o erro fundamental domaterialismo anteriormente pensado reside emsó captar a coisa (Gegenstand), a materialidade,o sensível sob a forma de objeto (Objekt) nãopercebendo essa realidade enquanto atividade

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humana sensível, como prática, isto é, tambémde modo subjetivo.

Atualmente – apesar da revisão crítica edialética do materialismo empreendida tantopor Marx quanto por Engels –, o materialismoradical e outras correntes cientificistas emecanicistas, como parte do estruturalismolinguístico, desconhecem o papel desempenha-do pelas formas da subjetividade no processodo conhecimento. Consequentemente, paraesses cientistas, a ideologia deixa de ser vistacomo constituinte responsável pela formaçãoda realidade no processo do conhecimentohumano através da linguagem.

Muito sintomaticamente, em 1950, Stálinpublicava uma longa entrevista no Pravda, ne-gando a concepção de Yakovlevich Marr e seusseguidores, segundo a qual a língua é um fe-nômeno de classe. Para o ditador, não se podefalar de uma língua da classe burguesa, em opo-sição à do proletariado, pois, para ele, a línguanão é uma superestrutura, mas uma entidadedistinta dos demais elementos constituintes dacultura. Esse ponto de vista contraria frontal-mente a descrição das superestruturas feita porMarx e Engels; e se prende exclusivamente àscircunstâncias e aos objetivos tidos em mira

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por Stálin: a sua intervenção pretendia resol-ver o problema da organização de uma gramá-tica a ser adotada pelos órgãos oficiais de edu-cação sob o regime de força.

Ele confundia a gramática de uma línguacom a gramática expositiva ou normativa ela-borada para fins de uma política ou de umapolícia educacional, terminando ainda por ne-gar as variações que constituem o objeto dosatuais estudos sociolinguísticos. Assim, a in-tervenção de Stálin pode ser defendida do pon-to de vista de “uma política do idioma” – paraadotarmos a expressão de Celso Cunha –, oude uma “polícia do idioma”, como ainda pensaem muitas situações uma parte da esquerda nãodialética, para a qual os fins justificam os mei-os; mas não do ponto de vista linguístico. Umsociolinguista recusaria imediatamente a afir-mação de Stálin segundo a qual “a língua e acultura são duas coisas diferentes. A culturapode ser burguesa ou socialista, enquanto quea língua, como meio de comunicação entre oshomens, é sempre comum a todo o povo”.(Stálin apud Marcellesi & Gardin, 1975, p. 86)Neste livro, Introdução à sociolinguística: alinguística social,estão transcritos alguns tex-tos sobre a linguagem decretados por Stálin,

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sob os títulos “Língua e superestruturas”, “Alíngua, instrumento do povo inteiro”, “Línguae produção”, “Língua e classe” e “A língua e acultura são duas coisas diferentes”.

Dentro de um rigor dialético, como o re-clamado por Engels, para os novos marxistas,após a morte de Marx, a linguagem verbal deveser considerada como constituinte e resultadoda cultura, como super e infraestrutural, aomesmo tempo. Cabe aqui citar as palavras deWilhelm Reich, ao resumir um dos princípiosessenciais do materialismo dialético: “Toda a cau-sa de um determinado efeito é ao mesmo tempoefeito deste último que age como causa. Nãoexiste apenas ação recíproca de fenômenos ni-tidamente separados, mas interpenetração des-tes fenômenos, ação e reação de um sobre oouro.” (Reich, 1977, p. 72)

Como estes princípios não dizem respeitoapenas a um objeto, mas a todos, a língua nãopode ser vista como um fato único, que obe-dece a princípios diferentes daqueles que re-gem os demais fatos verificados pelo homem.Tanto Stálin quanto alguns estruturalistasmecanicistas tratam a língua como um itemisolado do conjunto dos demais fatos sociais,aceitando a possibilidade de ela se nortear por

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outros princípios que não aqueles verificadosnas relações sociais do homem.

A língua está sujeita à dialética, já que nãoexiste nenhuma razão para ela, e apenas ela, serdiferente de tudo o quanto se verifica na soci-edade; logo ela que é a base da condição racio-nal do ser humano. Segundo o mesmo Reich:“A dialética não é apenas uma forma do pensa-mento: existe na matéria independentementedo pensamento; por outras palavras, o movi-mento da matéria é objetivamente dialético”.(Idem, p. 68.)

A antidialética da língua pretendida porStálin se revela em outro momento – citadopor Carlos Vogt, que rejeita o ponto de vistastalinista –, quando o chefe do Partido diz quea língua “permanece, antes e depois de qual-quer revolução, como atributo do homemcomunicante, garantindo-lhe uma naturezacuja história é autônoma e cuja temporalidadeé a da repetição circular de si mesma”. (Stálinapud Vogt, 1977, p. 4) Daí se depreende queele via a língua como um sistema formal fe-chado, mero inventário de nomes e etiquetasatribuíveis aos objetos do conhecimento.

Para maior esclarecimento, convém a leitu-ra do texto de Vogt. Consultamos uma ediçãopolicopiada, destinada a uso acadêmico da

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Unicamp. Tanto aí quanto no livro de Mar-cellesi & Gardin acima citado se encontramalgumas fontes bibliográficas essenciais para oestudo do problema.

A perspectiva de Stálin filia-se a uma con-cepção da língua pouco aceitável e já recusadapor Locke no século XVII numa das suas obrasfundamentais, o Ensaio sobre o conhecimentohumano, da qual todos os onze capítulos dolivro terceiro são dedicados ao estudo da lin-guagem. Esse pensador empirista insiste nofato de as palavras não se referirem aos obje-tos, mas às ideias que as pessoas fazem de taisobjetos, antecipando o postulado de Saussure.Para Locke, o conteúdo de uma palavra nãocontém as qualidades do objeto representado,mas a experiência dos indivíduos falantes emrelação ao mesmo. O significado é construídograças ao saber acumulado da cultura humanae não como depositário da substância ou dasqualidades do objeto que lhe vão atribuir sig-nificado. Essa concepção de Locke se aproxi-ma muito de alguns pressupostos de Hegel ede Marx, funcionando como um bom argu-mento para recusar as ideias linguísticas deStálin, e sublinhar, ao mesmo tempo, os seusrompantes impositivos e o seu desacordo como marxismo nas suas fontes.

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Os homens vão acumulando as palavras denovos traços extraídos da sua experiência. As-sim, por exemplo, o significado de “neve” nãoé o mesmo para um esquimó e para um serta-nejo, como já discutimos em outro capítulodeste livro. A exemplificação dada por Lockepara demonstrar como as palavras são sinaisdas ideias, e não dos objetos, permanece atuale nos auxilia na construção da hipótese da na-tureza ideológica da linguagem:

“Tendo uma criança nada observado nummetal que ouve ser designado de ouro,exceto a brilhante cor amarela, aplica a pa-lavra ‘ouro’ apenas à sua própria ideia dessacor, e nada mais, e portanto denomina a corda cauda do pavão de ouro. Outra que ob-servou melhor acrescenta ao brilhante ama-relo um grande peso, e, então, o som ‘ouro’,quando o usa, significa uma ideia complexade amarelo brilhante e substância de muitopeso. Outra acrescenta a essas qualidadesfusibilidade, e, então, a palavra ‘ouro’ signi-fica um corpo brilhante, amarelo, fusível emuito pesado. Outra acrescenta maleabili-dade. Cada uma dessas usa igualmente apalavra ‘ouro’, quando tem oportunidade

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para expressar a ideia que aplicou a isso, masé evidente que cada uma pode aplicá-la ape-nas à sua própria ideia, e não pode fazer sig-nificar um sinal de uma tal ideia complexaque ela não possui.” (Locke, 1690, Livro III,cap. II, item 3)

Nessa obra, o médico e filósofo empiristaargumenta que nem os princípios nem as ideiassão inatos, tese que vai ocupar o Livro I. Ob-serve-se, a propósito, que a gramática gerativae transformacional, apesar de tentar adotar oempirismo na linguística aplicada, é basicamen-te uma gramática mentalista e, por conseguin-te, parte do pressuposto segundo o qual asideias são inatas. Ao longo deste nosso traba-lho, procuramos sublinhar tais contradiçõesdos estruturalismos linguísticos; tanto o es-truturalismo dos autores ditos saussureanosquanto o de Chomsky, na qualidade de inte-lectual dos mais importantes da transição doséculo XX para o XXI, tanto na linguísticaquanto nas relações culturais.

Acompanhando o raciocínio de John Locke,podemos entender melhor por que se afirmaque conhecer a palavra é, de certa forma, co-nhecer o objeto – razão pela qual o nome das

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coisas exerce tanto fascínio sobre alguns espí-ritos. A outra vantagem dessa concepção é to-mar o objeto do conhecimento linguístico nãoapenas enquanto materialidade, mas como ati-vidade humana sensível, como práxis; tornan-do-se evidente, portanto, a natureza condici-onada e ideológica não só da linguagem comodo próprio conhecimento.

Contrária à redução da língua defendida porStálin, ao negar o seu caráter de classe e ideo-lógico, é a afirmação de Marx e Engels, em Aideologia alemã, segundo a qual a produção deideias e da consciência está diretamente ligadaà atividade material dos homens e às suas rela-ções. Para os autores dessa obra fundamentalpara a constituição do marxismo, não é a cons-ciência que determina a vida, mas sim a vidaque determina a consciência. E, deixando in-teiramente claro que tanto a consciência hu-mana quanto a linguagem são condicionadaspela realidade e pelas circunstâncias às quais ohomem está submetido, Marx e Engels invali-dam nesta passagem os argumentos posterio-res de Stálin, ao defender o caráter “puro”, in-dependente da classe e das condições sociais,da linguagem. Observemos as palavras textu-ais de Marx e Engels:

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“Mas não se trata de uma consciência queseja de antemão consciência ‘pura’. Desdesempre pesa sobre o ‘espírito’ a maldiçãode estar ‘imbuído’ de uma matéria que aquise manifesta sob a forma de camadas de arem movimento, de sons, numa palavra, soba forma da linguagem. A linguagem é tãovelha como a consciência: é a consciênciareal, prática, que existe também para outroshomens e portanto existe igualmente sópara mim e, tal como a consciência, só sur-ge com a necessidade, as exigências doscontactos com os outros homens.” (Marx& Engels, 1845a, p. 36)

Da mesma maneira que Stálin, o idealismomecanicista em que se constitui o estrutura-lismo, por compreender o fenômenolinguístico como mera concretização do siste-ma, terminou por negligenciar o papel desem-penhado pela ideologia enquanto elementoformativo da linguagem. Como a atenção dosestudiosos de algumas tendências estruturalis-tas foi deslocada da práxis, ou do processo, paraas possibilidades sistemáticas – ou do desem-penho para a competência –, os elementos sub-jetivos referentes à atividade humana e socialnão foram devidamente levados em conta.

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O estruturalismo linguístico, na maioria dassuas manifestações – apesar de idealista e pla-tônico, na concepção da forma como essên-cia, independente da matéria e da atividade –,abandona um aspecto importante do idealis-mo filosófico que, graças à influência de Hegel,foi destacado com grande ênfase pelo materi-alismo dialético: o papel da subjetividade, en-quanto fato socialmente determinado e, por-tanto, dialeticamente objetivo, no fazer huma-no. Se considerarmos a forte influência positi-vista do estruturalismo, compreenderemosmelhor essa contradição dos linguistas platô-nicos e cientificistas. Saussure, por exemplo,iniciador da principal linha estruturalista, con-cilia o idealismo com a sua formação neogramá-tica. Sapir, para falarmos também do estrutu-ralismo americano, foi um idealista que se dei-xou influenciar pelo neopositivismo dos lógi-cos e cientistas americanos e ingleses. Pode-mos mesmo dizer que o estrutural ismolinguístico, apesar de ter nascido em condiçõesdiversas e em países diferentes, encontra a suaunidade enquanto resultado de uma crise filo-sófica que gerou o seu caráter contraditório:ser, ao mesmo tempo, platônico, idealista,cientificista, positivista etc. Isso não implica,

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no entanto, que a sua contribuição seja invali-dada, do mesmo modo que a sua enorme im-portância não nos obriga a aceitar as contradi-ções e exageros verificados.

A própria visão de sistema, na concepçãoestruturalista, está comprometida com a par-cialidade, deixando de compreender um todofuncional para se referir apenas a uma abstra-ção, a uma força distinta do processo. Não é oprocesso que contém em si o sistema, mas é osistema que determina o processo; assim pen-sam os linguistas e os filósofos da linguagemestruturalistas, que terminaram por compro-meter a noção de sistema a uma espécie de “so-pro primordial” ou, por outro lado, a uma es-pécie de gramática interiorizada pelo falanteou depreendida pelo observador. Não convémao estruturalismo compreender o sistemacomo um conjunto formado pelo ato linguís-tico concreto e pelas normas (no sentido atri-buído por Coseriu)que possibilitam o orde-namento desses atos.

Assim como o pensamento racionalista deinspiração cartesiana separa o corpo do espíri-to, a linguística estrutural opõe a fala à língua,talvez sem se dar conta de que essa oposição éum tributo pago às suas filosofias inspiradoras.A teoria da linguagem estruturalista, de um

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modo geral, preocupa-se demasiadamente como poder ser, negligenciando as implicações re-ais do ser. Para se fazer coerente com o idealis-mo platônico, entrincheira-se na essência, naforma, deixando de lado o processo concretoe total de realização da linguagem. O conceitode imanência linguística proposto não passa deuma tentativa de redução do objeto à condi-ção de esquema (no sentido hjelmsleviano),considerando transcendente a língua enquantofazer humano real e concreto. Somente com asociolinguística – que, embora adote métodose técnicas estruturais, se opõe frontalmente àorientação contraditória aqui discutida – oconceito de imanência linguística foi amplia-do, permitindo a inclusão de fatos da línguaanteriormente considerados de interesseextralinguístico.

Em vista do que foi discutido – e recolo-cando o problema nos termos atualmente acei-tos, após a análise dos equívocos de certo ma-terialismo (stalinista) e do idealismo meca-nicista –, como então negar a condição ideo-lógica da linguagem sem negar ao próprio ho-mem tal condição; sem alienar o ser humano àproblemática do tempo e do espaço que o cer-cam e o constituem como tal?

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Se o marxismo considera o homem situadoe datado, isto é, determinado pelas relaçõessociais do tempo e do lugar onde vive, a posi-ção defendida por Stálin para negar o caráterideológico e de classe da linguagem se aproxi-ma mais do estruturalismo que dos princípiosfilosóficos do marxismo.

Contrária a esse “estruturalismo stalinista”é a teoria da linguagem de Adam Schaff, querecusa o materialismo vulgar e o realismo in-gênuo, em favor de um pensamento fundamen-talmente dialético – que caracteriza a obra des-se filósofo cuja grandeza ainda é tão poucoreconhecida, inclusive no âmbito do própriomarxismo.

Próxima à concepção de Schaff, que adota-mos neste ensaio, é a de Antonio Gramsci, nolivro originalmente intitulado O materialismohistórico e a filosofia de Benedetto Croce, quan-do afirma:

“Pode-se dizer, eu creio, que ‘linguagem’é essencialmente um nome coletivo: ele nãopressupõe uma coisa ‘única’, nem no tem-po nem no espaço. Linguagem significa tam-bém cultura e filosofia (ainda que no níveldo senso comum) e, portanto, o fato ‘lin-

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guagem’ é, na realidade, uma multiplicidadede fatos mais ou menos organicamente co-erentes e coordenados: no extremo limite,pode-se dizer que todo ser falante tem umalinguagem pessoal e própria, isto é, um modopessoal de pensar e de sentir.” (Gramsci, 1978,p. 36)

Esse filósofo essencial do marxismo na Itáliacritica os pragmatistas, referindo-se particular-mente a G. Vailati, autor de A linguagem comoobstáculo à eliminação de contrastes ilusórios.Concorda, no entanto, com alguns pontos devista do pragmatismo, especialmente quandoafirma, complementando a citação acima:

“A cultura, em seus vários níveis, unificauma maior ou menor quantidade de indiví-duos em estratos numerosos, em contatomais ou menos expressivo, que se enten-dem entre si em diversos graus, etc. São es-tas diferenças e distinções histórico-sociaisque se refletem na linguagem comum, pro-duzindo os ‘obstáculos’ e as causas de ‘erro’das quais os pragmatistas trataram.” (Idem)

O reconhecimento da linguagem como cul-tura e, simultaneamente, como modo pessoal

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de sentir e pensar, a que Gramsci se refere, levaao conceito de idioleto, se não reduzirmos ofenômeno idioletal à simples modificação daexpressão linguística, que não afeta o seu con-teúdo, em relação à unidade língua ou à unida-de dialeto.

Como a língua é frequentemente reduzidapelo estruturalismo a um sistema de denomi-nação dos objetos quando não se reconhece asua função cognoscitiva, a noção de idioletofoi contestada por Jakobson, num informeapresentado à Conferência de Antropólogose Linguistas realizada em 1952, na Universi-dade de Indiana:

“Foi com o costumeiro grande interesseque li o artigo sobre o idioleto, distribuídopelo meu velho amigo C. F. Hockett. Esteartigo confina o idioleto aos hábitos quecaracterizam o falar de um único indivíduonum dado momento e exclui tudo o que,nos hábitos linguísticos deste indivíduo, serefere à compreensão do discurso dos ou-tros. Se todas as minhas comunicações emCambridge por um longo período fossemobservadas e gravadas, jamais me ouviriampronunciar a palavra ‘idioleto’. E agora, en-

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tretanto, como me dirijo aos senhores, eu aemprego, porque me adapto à linguagem demeus adversários potenciais, à de Hockettpor exemplo. E, do mesmo modo, empre-go muitas outras palavras. Quando fala a umnovo interlocutor, a pessoa tenta sempre,deliberada ou involuntariamente, alcançarum vocabulário comum: seja para agradar,ou simplesmente, para ser compreendidaou, enfim, para livrar-se dele, empregam-seos termos do destinatário. A propriedadeprivada no domínio da linguagem não exis-te: tudo é socializado. O intercâmbio ver-bal, como qualquer forma de relação huma-na, requer, pelo menos, dois interlocutores:o idioleto é, afinal, uma ficção algo perver-sa.” (Jakobson, 1971, “A linguagem comumdos linguistas e dos antropólogos”, p. 22-23)

Pensamos aqui em idioleto como uma vari-ação, com relação à linguagem do grupo noqual o indivíduo se insere, no plano da expres-são e no plano do conteúdo (ver Cap. VIII),como expressão e conteúdos próprios de cadaindivíduo.

A ideologia individual formada no (e pelo)idioleto mantém relações de dependência, ou

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de interdependência, com o dialeto e a línguada sua comunidade, sendo, por isso mesmo,de natureza diferente da ideologia da lingua-gem poética. Enquanto a linguagem poéticavisa, intencionalmente, subverter a construçãodo mundo empreendida pela linguagem usual,as formas pessoais de expressão e conteúdolinguísticos não passam de manifestações econcepções do todo social ao qual se filiam.

Como bem observou Karl Mannheim, emIdeologia e utopia, a tese principal da sociolo-gia do conhecimento dá conta da existência demodos de pensamento que não podem ser en-tendidos sem a compreensão das suas origenssociais. Na verdade, apenas o indivíduo é ca-paz de pensar – e não o grupo –, mas não po-demos explicar todas as ideias e todos os pen-samentos do indivíduo se tomarmos apenas assuas experiências pessoais.

É portanto, a sociedade que determina opensamento individual. Segundo Mannheim:

“Da mesma forma, como seria incorretotentar derivar uma linguagem apenas da ob-servação de um só indivíduo, que fala umalinguagem que não é somente dele, mas,antes, é a de seus contemporâneos e prede-

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cessores que para ele prepararam o cami-nho, é também incorreto explicar-se a tota-lidade de uma perspectiva com a referênciaexclusiva à sua gênese na mente do indiví-duo. Somente num sentido muito limitadoo indivíduo cria por si mesmo um modo defalar e de pensar que lhe atribuímos. Ele falaa linguagem do seu grupo; pensa do modoque seu grupo pensa. Encontra à sua dispo-sição somente certas palavras e seus signi-ficados. Estas não apenas determinam emum sentido amplo os caminhos de aborda-gem ao mundo que o envolve, mas igual-mente mostram, e ao mesmo tempo, de queângulo e em que contexto de atividades osobjetos foram anteriormente perceptíveis eacessíveis ao grupo ou ao indivíduo.”(Mannheim, 1986, p. 30)

A natureza da linguagem assegura o seucomprometimento com a ideologia e a culturado grupo falante, submetendo o indivíduo àsua influência. Bacon (1620) destacou os ídolafori, ou ídolos do discurso, como um dos maissérios empecilhos que se colocam entre o ho-mem e o conhecimento objetivo da realidade:as palavras estão de tal forma condicionadas

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por uma ideologia tida como ‘a verdadeira con-cepção do mundo’ que se torna cada vez maisdifícil o seu desmascaramento. O Novumorganum pretende dar ao homem, e principal-mente ao cientista, os meios indispensáveispara a compreensão da natureza, sem a inter-venção desses ídolos que “alteram” o conheci-mento humano.

A arte é um modo de percepção da realida-de oposto à ciência, mas também diverso dapercepção social, através da língua. Quando oartista abandona as formulações práticas da suacultura, está, de certo modo, tentando escaparà influência dos ídola, formando a realidade,não mais de acordo com as semióticas prag-máticas de origem social, e sim através de umasemiótica estética, quer seja o poema, o roman-ce, a escultura, a dança ou outra obra de artequalquer.

Umberto Eco, no ensaio “Do modo de for-mar como compromisso com a realidade”, exa-mina a obra de arte apresentando propostasconceituais que explicitam suficientemente ospontos de vista aqui discutidos. Segundo ele,o artista forja uma nova linguagem quandocompreende que a linguagem existente “alie-nou-se na situação da qual nasceu para servir-

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lhe como meio de expressão” (Eco, 1962, p.272) e acredita que, aceitar essa linguagem, sig-nifica, implicitamente, estar aceitando as for-mas ditadas pela situação que se tenta subver-ter.

Como a linguagem está comprometida como modo de pensar e de formar do grupo falan-te, a elaboração de uma nova linguagem traz amarca ideológica de quem a cria, como se podeverificar no caso específico da obra literária. Aideologia anticlericalista de Alexandre Hercu-lano, por exemplo, nas Lendas e narrativas, estápresente na sua linguagem de narrador ou nasfalas dos personagens, como um sistemasemiológico conotativo. Isso porque as diver-gências do autor de O bispo negro com o clerodeixaram gravadas na escolha vocabular, naampliação ou redução semântica dos termosou nos recursos estruturais da narrativa asmarcas da sua visão de mundo, conflitante comaquela estabelecida e defendida pela Igreja.Outro exemplo facilmente compreensível podeser dado através de um paralelo da linguagemde Mário de Andrade com a de Rui Barbosa,onde duas ideologias opostas conduzem a rea-lizações linguísticas diferentes. A leitura dostextos da Réplica e da Tréplica, de Ernesto

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Carneiro Ribeiro e de Rui, na época da céle-bre contenda gramatical travada entre os doisbaianos, em confronto com as consideraçõesa respeito de problemas linguísticos nos arti-gos de Mário de Andrade, explicita a naturezaideológica das linguagens do jurista e do poe-ta. As ideias teóricas expostas por ambos con-firmam a impressão causada no leitor dos seustextos retóricos e poéticos. Em síntese: quemlê um poema de Mário de Andrade e uma ora-ção de Rui Barbosa flagra, pelo simples uso doidioma, alguns dos pontos de vista dos auto-res, pois a linguagem denuncia a ideologia e avisão de mundo do indivíduo.

Para melhor compreensão desse problema,é conveniente observarmos a afirmação deUmberto Eco, segundo a qual, no momentoem que o artista toma consciência de que osistema comunicativo em vigor é estranho àsituação histórica da qual deseja falar, só po-derá expressá-la através da adoção – ou inven-ção – de estruturas capazes de figurar comomodelo da nova situação. Desse modo, o “ver-dadeiro conteúdo da obra torna-se o seu modode ver o mundo e de julgá-lo, traduzido emmodo de formar”. (Eco, 1962, p. 274)

Mais adiante, na mesma página, Eco obser-va que só é possível discorrer sobre uma situ-

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ação se se penetra nela e adota seus instrumen-tos de expressão. E referindo-se à obra de arte:

“A maneira pela qual ela se formou nãopode deixar de remeter-nos ao mundo cul-tural que nela transparece, exemplificandona medida mais completa e orgânica possí-vel. Onde quer que se realize uma forma,temos uma operação consciente sobre ma-terial amorfo reduzido ao domínio huma-no. Para dominar esta matéria foi precisoque o artista a ‘compreendesse’: compreen-dendo-a, não pode ter-se deixado aprisio-nar por ela, qualquer que seja o juízo sobreela expresso.” (Idem, ibidem)

Podemos dizer então que, paralelo à substân-cia do conteúdo depreendida do texto literário,um outro conteúdo, consubstanciado nas for-mas da obra poética, se impõe à leitura: a ideolo-gia do criador, enquanto forma do conteúdo.

É possível identificar a forma do conteúdo,da qual nos fala Hjelmslev, com a ideologia docriador: as observações de Eco na nota prece-dente tornam a identificação ainda mais sus-tentável. Por outro lado, é possível aceitar aideologia como qualquer coisa de inseparável

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da linguagem, uma vez que toda linguagem tema sua ideologia. A ideologia transgressora daobra literária distingue essa linguagem da lin-guagem falada pelos membros de uma socie-dade. Enquanto toda a gente fala a língua doseu espaço e do seu tempo, a arte busca aintemporalidade ou a universalidade reclama-da por Aristóteles, ao afirmar que a poesia serefere ao universal e a história, ao particular.Por isso, como acrescenta Eduardo Portella,

“a poesia transcende a época, e só a expri-me quando integra a estrutura unitária dotempo, quando é simultaneamente futuro,presente e passado. Veja-se a atualidade dastragédias gregas. Se a palavra poética per-manecesse submetida à época, jamais a ex-pressaria; seria apenas a sua expressão pas-siva – como se a época não fosse também oseu contorno.” (Portella, 1974, p. 130)

A natureza específica da concepção do mun-do pelo artista é, por si mesma, uma recriaçãoda realidade, de modo que podemos identifi-car a ideologia da linguagem como criação li-terária, pois essa ideologia se desvincula dasconcepções estabelecidas e aceitas pela massa.

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E a obra de arte é um modo novo e contradi-tório de ver o mundo, a ideologia da lingua-gem é o elemento básico e essencial do pro-cesso de criação. Por isso, o signo poético nãoé um signo civilizado, mas um signo selvagem.

Existente apenas enquanto processo dialéti-co, o poético recusa qualquer sistema prévio:se completado, esgotado, é incorporado à re-dundância do consumo. Drummond: leitura derelâmpago cifrado, que, decifrado, nada maisexiste. Recusando-se à captura, à aculturação eà condição civilizada, que a todos nós cada vezmais avilta e contagia, a criação poética – últi-ma resistência da liberdade humana – constróipara si e se autoconstrói através do signo sel-vagem. (Seixas, 1978e, p. 133)

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Incluem-se neste item tanto as referências às obras cita-das nos cinco volumes de Linguagem, cultura e ideologia,quanto a bibliografia geral consultada e não referenciada.

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Mais conhecido pelos seus livrose artigos de e sobre Literatura, CidSeixas dedicou-se, nos anos setenta,aos estudos linguísticos como formade compreender a base ou a ossaturado texto literário. É desse período oseu estudo considerado inovador,por alguns estudiosos do porte dofilólogo Antonio Houaiss.

Professor Titular aposentado daUniversidade Federal da Bahia e Pro-fessor Adjunto da Universidade Es-tadual de Feira de Santana, atuou nosprojetos de criação do Mestrado emLiteratura e Diversidade Cultural,bem como da UEFS Editora.

Jornalista e escritor, antes de setornar professor universitário, atuou naimprensa como repórter, copy desk eeditor, trabalhando em rádio, jornale televisão. Fundou e dirigiu um dosmais qualificados suplementos literá-rios dos anos 70, o Jornal de Cultura,publicado pelo Diário de Notícias.

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LINGUAGEM, CULTURA E IDEOLOGIALivro IV

1 | A essência ideológica da linguagem2 | Linguagem e conhecimento

3 | Sob o signo do estruturalismo4 |O contrato social da linguagem

5 |A linguagem no idealismo e no marxismo

O CONTRATO SOCIALDA LINGUAGEM

e-book.brEDITORA UNIVERSITÁRIA

DO L IVRO DIGITAL

A pesquisa de Cid Seixas, empreendida, nofim dos anos 70, sobre a linguagem, numa pers-pectiva da cultura e da ideologia, contrariandoos estudos imanentes do estruturalismo, ante-cipou importantes questões hoje em debate. Éo que testemunha esta série de cinco volumessobre o tema.