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  • Theoria - Revista Eletrnica de Filosofia

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    O CETICISMO PIRRNICO

    E A CLASSIFICAO DAS FILOSOFIAS POSSVEIS

    Edgard Vincius Cacho Zanette1

    RESUMO: O presente trabalho procura mostrar como o ceticismo pirrnico reduz todas as possibilidades de filosofar a trs modos que so contraditrios entre si. Cada modo de filosofar considerado por Sexto Emprico organizaria sua prpria investigao procurando alcanar, com a descoberta de alguma verdade, a vida feliz e a tranquilidade do esprito. A filosofia, neste sentido proposto pelos cticos, a busca pela verdade em proveito da felicidade humana e no o seu contrrio. Mas se o objetivo da investigao filosfica a busca pela verdade como exerccio do conforto e da felicidade do esprito, os cticos seguidores de Pirro denunciam que as demais formas de filosofar no alcanam nem a verdade e muito menos a felicidade. Por no conseguirem defender as suas pretensas verdades dos argumentos cticos, os dogmticos e os acadmicos terminam por trazer desconforto e infelicidade aos seus seguidores, o que contraria o prprio sentido da busca pela verdade. Desse modo, defenderemos que ao contrrio do que muitas vezes erroneamente se pensa da perspectiva pirrnica, ela no fechada ou intransigente, mas ao contrrio, um modo de filosofar coerente segundo suas prprias razes, e que procura, sobretudo, alcanar pela filosofia a tranquilidade do esprito e a vida feliz. Palavras-chave: Ceticismo. Pirro. Ataraxia. ABSTRACT: This paper attempts to show how the skepticism Pyrrhonian reduces any possibility of tinkering with three modes that are mutually contradictory. Each mode of philosophizing considered by Sextus organize your own research trying to achieve, with the discovery of some truth, happy life and peace of mind. The philosophy in this sense proposed by skeptics, is the search for truth in favor of human happiness and not its opposite. But if the goal of philosophical inquiry is the search for truth as an exercise in comfort and happiness of the spirit, the skeptics Pirro complained that followers of other forms of philosophy or do not reach the truth, much less happiness. For failing to defend their alleged truth of skeptical arguments, the dogmatic and academics end up bring discomfort and misery to their followers, which contradicts the very meaning of the search for truth. Thus, we will hold that contrary to what is often mistakenly think Pyrrhonic's perspective, it is not closed or intransigent, but rather is a way of philosophizing consistently follow its own reasons, and seeks above all to achieve the philosophy peace of mind and happy life. Key words: Skepticism. Pirro. Ataraxia.

    1 Mestrando em Filosofia pela Unioeste-Campus de Toledo. Bolsista da CAPES.

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    Consideraes iniciais

    No presente artigo iremos apresentar um incurso sobre o livro I das Hipotiposis

    Pirronianas2

    1. Busca pela verdade e ceticismo na Filosofia Grega

    discutindo a compreenso dos cticos pirrnicos sobre o sentido do filosofar.

    Para os seguidores da Skpsis, a pergunta originria sobre a verdade absoluta remonta a uma

    outra questo que a justifica, que a satisfao decorrente desta busca pela verdade. Se a

    busca pela verdade o grande sentido filosfico da filosofia, os cticos pirrnicos

    constataram que a grande maioria daqueles que se lanam sobre essa busca sofrem por

    constante insatisfao pelos resultados alcanados. Sobre esta controversa questo que

    atravessa a histria da filosofia, iremos apresentar alguns elementos essenciais postura

    pirrnica sobre dois pontos de vista: 1) Em sua face negativa, dialtica e antidogmtica; 2)

    Em sua face positiva, enquanto filosofia da vida prtica cotidiana, lidando com o mundo das

    aparncias e da vida comum.

    Desde Parmnides e Herclito podemos considerar que o problema fundamental da

    filosofia a busca pela verdade. Mas essa investigao no se remete a um nada de

    significado, mas envolve uma pergunta originria sobre o que o ser? Esta pergunta

    ontolgica originria se define mais precisamente nos filsofos gregos Plato e Aristteles,

    que ao longo de seus escritos a formularam de vrios modos, mas que podemos delimitar da

    seguinte forma: Buscar a verdade a procura filosfica por explicar com preciso como

    possvel que os entes, ou as coisas, possuam identidade e determinao?

    Explicar como os entes so o que so a proposta originria da filosofia. Ou seja,

    tudo o que se manifesta de algum modo, manifesta-se sendo. Por isso o Ser tudo aquilo que

    . Nessa proposta, por intermdio do pensamento a filosofia quer descobrir e abarcar o

    significado de tudo. Podemos perceber que os filsofos clssicos gregos confiam na busca

    pela verdade tendo certa viso otimista, acreditando que no instante em que se responder

    2 Adotamos a traduo espanhola do livro I das Hipotiposis Pirronianas para as breves anlises e reflexes sobre as teses do ceticismo pirrnico. Para facilitar a citao desta obra, conforme a praxe, usamos a sigla HP, seguida do nmero romano que corresponde ao livro especfico das Hipotiposis Pirronianas. Na bibliografia tambm consideramos a traduo inglesa das obras de Sexto Emprico da coleo The Classical Library, que mais completa que a traduo espanhola. Consultamos a traduo inglesa em algumas dvidas e investigaes que tivemos que realizar acerca das outras obras de Sexto Emprico. Contudo, para o presente trabalho citamos somente a traduo espanhola do livro I das HP.

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    satisfatoriamente acerca da pergunta originria sobre o Ser, se alcanar, por conseguinte, a

    resposta sobre o que a verdade absoluta de todas as coisas. Em certo sentido, Ser e Verdade

    so um e o mesmo para o pensamento grego clssico.

    Scrates (470-399 ac.) formulou a pergunta clssica: S sei que nada sei. E com

    ela acreditava que ao admitir a prpria ignorncia estaria abrindo o caminho para uma

    adequada busca pela verdade. Aps este primeiro passo, apresentou uma outra importante

    questo, o conhece-te a ti mesmo. Com esta mxima o filsofo grego considerava que a

    filosofia no mais iniciaria suas questes a partir do Ser, mas partindo do prprio humano e de

    suas aspiraes. Scrates foi o primeiro grande filsofo clssico a propor este privilgio do

    pensar filosfico para o mbito do humano. O que Scrates fez foi mostrar que antes de saber

    sobre as coisas, sobre o Cosmos, sobre o Ser, necessria a reflexo: o que sou eu? Como

    resposta a esta indagao, Scrates desenvolveu a Dialtica como o mtodo, ou seja, como o

    caminho prprio da filosofia. J a Ironia e a Maiutica seriam os modos prprios de operar a

    dialtica.

    O mtodo socrtico defendia a busca pela verdade, mas j em sua poca Scrates

    enfrentou severas crticas de grandes opositores, os Sofistas. Os sofistas eram educadores e

    sbios itinerantes que geralmente cobravam certo valor para ensinar retrica e filosofia, e so

    considerados os primeiros a questionar radicalmente a validade da busca pela verdade. Por

    serem mestres no uso da palavra e da persuaso, para os sofistas o melhor discurso aquele

    que ganha a adeso da maioria. Todo discurso no busca a verdade, mas o ato de convencer,

    de persuadir. Afirma o grande sofista Protgoras: Sbio aquele capaz de mudar os aspectos

    das coisas. Por conseguinte, no h fixidez ontolgica e tampouco princpios vlidos por

    natureza. Sendo assim, tudo flui, levando essa mxima que de Herclito s ltimas

    consequncias.

    Alm das crticas dos sofistas temos um outro modo de atacar a tradicional confiana

    na busca pela verdade, este modo o dos cticos. O ceticismo retoma e inverte o caminho

    socrtico, vejamos:

    Modelo Socrtico:

    1) S sei que nada sei.

    2) Conhece-te a ti mesmo.

    Concluso: Abertura da investigao filosfica.

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    Modelo Ctico:

    1) Conhece-te a ti mesmo.

    2) S sei que nada sei.

    Concluso: Ceticismo.

    O ceticismo defende a ideia de que mesmo que tenhamos muitas crenas,

    efetivamente, sabemos muito pouco, ou quem sabe nada, acerca da verdadeira natureza das

    coisas tal como elas so em si mesmas. E mesmo que saibamos algo, sabemos muito menos

    do que temos a falsa pretenso de saber. O ceticismo equivalente ao que os gregos

    chamavam de Skpsis, ou o modo de vida daquele que se prope a investigar, questionar.

    2. O Ceticismo Pirrnico e sua classificao das posturas filosficas

    O ceticismo pirrnico um modo de filosofar que remonta ao filsofo grego Pirro de

    lis (364-275 ac.). Acredita-se que Pirro nada escreveu e considerado pela tradio como o

    primeiro a dedicar-se totalmente postura ctica, Skpsis. Por este fato Pirro comumente

    considerado o grande impulsionador do ceticismo. Mas como Pirro nada escreveu, o legado

    ctico foi transmitido por seus discpulos e temos como um dos principais Sexto Emprico

    (sc. II e I ac.), que escreveu nas Hipotiposes Pirronianas trs livros basilares sobre o modo de

    argumentar ctico. No primeiro livro encontram-se a exposio geral, as caractersticas da

    postura pirrnica. Nos outros dois livros esto os argumentos que so direcionados s

    filosofias dogmticas. Existem outros onze livros que so chamados por Contra os homens de

    cincia (Advesus Mathematicos- AM). Delimitando a proposta ctica grega buscando melhor

    compreender as bases filosficas do ceticismo, vejamos rapidamente a partir do que est

    retratado no livro I das Hipotiposis Pirronianas (HP) de Sexto Emprico, como os cticos

    gregos seguidores de Pirro acreditavam que existem trs questes que organizam toda e

    qualquer investigao filosfica, que ao serem respondidas proporcionariam a vida feliz, so

    elas:

    1) Sobre as coisas, qual a sua verdadeira natureza.

    2) Em que situao ns estamos a respeito dessas coisas.

    3) O que podemos esperar que se siga dessa situao.

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    Na busca por alcanar a vida feliz como todos os outros o ctico tambm investigou

    muito visando descoberta de uma verdade absoluta que explicitasse a verdadeira natureza

    das coisas. Os cticos perceberam que quando tinham um argumento que parecia

    momentaneamente imbatvel, logo em seguida, ao se investigar com seriedade e

    determinao, aparecia outro argumento de igual fora de tal modo que anulava o primeiro.

    Este o princpio bsico da disposio ctica (HP, I, Cap. VI. p. 91). Ou seja, que de cada

    razo se ope outra razo equivalente (equipolncia), pois da os cticos acreditavam que se

    segue o no dogmatizar. O incessante cuidado por no dogmatizar parte da afirmao de

    Sexto Emprico (HP, I, Cap. I. p. 83) de que ao buscarmos a verdade absoluta de todas as

    coisas podemos chegar a trs concluses nas quais so expressas trs compreenses de

    filosofia:

    1) Ou, afirmamos ter encontrado a verdade, havendo neste caso a necessidade de

    continuamente firmar esta descoberta, defendendo-a de outras filosofias ou

    questionamentos cticos das mais variadas espcies. Estes so os dogmticos, tais

    como: aristotlicos, epicreos, esticos, etc.

    2) Ou, afirmamos que toda investigao que busca a verdade das coisas tais como elas

    so em si v e despropositada. Neste caso, concluem na negao do descobrimento

    ao mesmo tempo em que defendem que o mesmo incognoscvel. Esses so os

    acadmicos, tais como: Clitmaco e Carnades, etc.

    3) Ou, afirmamos ser possvel e justificada a busca pela verdade que se orienta na

    necessidade de prosseguir na investigao. Sendo assim, o sentido da investigao

    filosfica firmar-se nessa busca, prosseguindo a indagao: Esses so os cticos.

    O ctico assim denominado por dedicar-se investigao por seu af de investigar e

    indagar (HP, I, Cap. I. p. 83). Ao encontrar e se utilizar continuamente de argumentos cticos

    conclui que h uma equivalncia (equipolncia) entre coisas e argumentos opostos.

    justamente nesta equipolncia que eles creem no dogmatizar. Na sequncia dessa situao o

    ctico suspende o juzo Epokh, a respeito de qualquer assunto (HP, I, Cap. III. p. 84). A

    suspenso do juzo o estado da mente em que nem se rejeita e nem se admite coisa alguma.

    Assim como os dogmticos e os acadmicos, os cticos inicialmente esperavam alcanar a

    imperturbabilidade descobrindo a verdadeira natureza das coisas. Porm, ao no conseguirem

    suspenderam o juzo, o que pouco a pouco e fortuitamente, ocasionou a Ataraxia, o estado de

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    tranquilidade ou imperturbabilidade do esprito, tal como a sombra segue o corpo (HP, I,

    Cap. VII. p. 92)3

    Para os seguidores de Pirro de Elis, por exemplo, uma vida de felicidade ou tranquilidade devia ser a recompensa da renncia pessoal s aparncias, e do abandono de toda crena a respeito de como so as coisas. A suspenso do juzo era uma forma de liberar-se das ansiedades e preocupaes que inevitavelmente conduz busca pela verdade [absoluta]

    .

    4 e de no enfrentar, todavia, o conflito entre as coisas que cada um se sente forado a crer (Barry Stroud, 1991, p. 8).5

    Aparncias

    Sexto Emprico explica que todo discurso ctico deve ser narrativo (HP, I, Cap. VII. p.

    93). A narrao filosfica descreve o que aparece sem qualquer pretenso de enunciar o que as

    coisas so em si mesmas. Diferente do discurso enunciativo que se caracteriza pela busca da

    objetividade, acreditando que as coisas em si podem ser acessadas, que so cognoscveis e

    passveis de determinao. A estratgia ctica a de alcanar a Epokh e, por conseguinte, a

    Ataraxia, pela seguinte contraposio:

    6

    Aparncias X Aparncias: A mesma torre aparece cilndrica de longe e quadrangular de perto.

    X Juzos: Conclui-se pela existncia da providncia a partir da

    ordem celeste. Como muitas vezes os bons so desditos e os maus afortunados,

    conclumos no existir ordem celeste.

    Juzos X Juzos: Anaxgoras se opunha ao argumento a neve branca dizendo que a neve gua congelada.

    Nas HP, Sexto emprico explicita muito detalhadamente que o objetivo da filosofia

    ctica se assenta no combate s filosofias teleolgicas, no caso, as dogmticas e as

    acadmicas, que se orientam em um fim predisposto na natureza das coisas, fim este que seria

    cognoscvel e passvel de ser alcanado pelos homens.

    3 Podemos perceber que apesar de haver uma proximidade e at mesmo vrias semelhanas entre ambos, o ceticismo filosfico difere do ceticismo pirrnico. O ceticismo filosfico defende que aspirar ao conhecimento seja em toda parte ou com relao a certos aspectos de fato bem amplos inerentemente problemtico (Michael Williams, in Compndio de Epistemologia, p. 69). Por sua postura negativa com relao possibilidade do conhecimento o ceticismo filosfico se aproximaria e at mesmo parece ser uma retomada contempornea do ceticismo acadmico. J o ceticismo pirrnico apesar de combater os dogmas e as filosofias dogmticas, assim como o ceticismo filosfico, sua proposta voltar-se vida comum com a aquisio da tranquilidade do esprito e no a afirmao categrica e negativa de que o conhecimento impossvel, tal como fazem os acadmicos. 4 Nosso colchete e nossa interpolao. 5 Essa e as demais tradues do espanhol so nossas. 6 Aparncias: Provm do grego phanomai, que significa mostrar-se, aparecer. o que aparece, o que se mostra, o ato imediato de perceber, o evidente. Diferente de algumas outras correntes filosficas o ceticismo considera que as aparncias so fundamentais ao processo de conhecimento: A sensao passiva nos conduz involuntariamente ao assentimento, isso so as aparncias. (HP, I, Cap. VII. p. 93)

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    Pois quem estima que algo por natureza bom ou mal se inquieta por tudo: quando no possui aquilo que julga bom, se cr atormentado pelo naturalmente mal e persegue o que supe naturalmente bom, mas, quando o obtm, se agita ainda em maior medida, por causa de um irracional e imoderado desejo e , em seu temor de mutao da fortuna, se desvia por completo a fim de evitar a perda do que cr bom. Pelo contrrio, quem nada estima bom ou mal por natureza nem rene e nem persegue coisa alguma, com o qual se mantm imperturbvel. (HP, I, Cap. VII. p. 92).

    A estratgia dos seguidores da Skpsis no afirmar que as teses e os critrios usados

    pelos dogmticos ou pelos acadmicos sejam falsos. Considera o ctico que elas so to

    plausveis quanto as suas, que nenhuma delas ilusria e que na verdade, ambas ao se

    contraporem, mostram ser equipolentes. Justamente por isso que o ceticismo pirrnico

    compreendido por esta disposio antittica, na busca por mostrar que argumentos que se

    contrapem possuem igual foa. A recusa do pirronismo em aceitar as outras formas de

    filosofias como vlidas concentra-se na sua acusao dirigida a elas, de que estas se fiam na

    autoridade de suas pretensas verdades, na arrogncia de ter somente o saber para si, no

    sofrimento que lhes causam o no alcance de suas vs intenes de verdade.

    Consideraes Finais

    A partir do exposto podemos distinguir duas concepes de finalidade vistas sob duas

    posturas filosficas distintas, a do ctico e a das demais filosofias. Para o ctico fim aquilo

    em vista do qual tudo se faz ou se pensa (HP, I, Cap. VII. p. 91). Neste caso, todo fim parte

    sempre do humano e suas aspiraes e no das coisas em sua objetividade, tal como

    consideram os dogmticos e os acadmicos. Sobre essa orientao metodolgica de partir

    sempre do humano e suas aspiraes, Oswaldo Porchat mostra em seu livro Vida Comum e

    Ceticismo que no interior do percurso desenvolvido pelos cticos pirrnicos existem duas

    estruturas de investigao que se complementam:

    1) Em sua face negativa, dialtica e antidogmtica.

    2) Em sua face positiva, enquanto filosofia da vida prtica cotidiana, lidando com o

    mundo das aparncias e da vida comum.

    Estas duas perspectivas esto interligadas, pois a perspectiva prtica assume o

    percurso aportico que a primeira perfaz. A perspectiva ctica inicia-se por um problema

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    terico (descobrir a natureza das coisas) que visa satisfazer uma necessidade da vida prtica

    (alcanar a vida feliz). Ao se lanar a esta investigao, a face terica ganha uma dimenso

    negativa ao continuamente concluir em suas indagaes uma equipolncia entre todo e

    qualquer aparecimento, o que levou os cticos a suspender o juzo - Epokh; como a melhor

    forma para lidar com os problemas tericos terminando com a inquietao do esprito. Como

    o ctico no mbito terico utilizou continuamente todos os seus esforos para combater os

    dogmas ele concluiu pela suspenso do juzo. E a partir deste estado, por uma feliz

    coincidncia, alcanou a Ataraxia, a tranquilidade do esprito, que por consequncia, leva a

    uma vida feliz. Os cticos pirrnicos acreditam ser esta coincidncia o coroamento de sua

    investigao da verdade Zetsis. Mas seu af de indagar continuar e no se apagar, mas

    estar sempre tendo a disposio esse porto seguro estabelecido pela Ataraxia disponvel

    quando lhes aprouver.

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