o caso da urna 40. um estudo sobre cultura politica

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1 UNIVERSIDADES DO ESTADO DA BAHIA UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS XIV COLEGIADO DE HISTÓRIA ANA QUÉRCIA COSTA DOS SANTOS "O CASO DA URNA 40: Um estudo sobre cultura política" Conceição do Coité 2011

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Page 1: O caso da urna 40. um estudo sobre cultura politica

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UNIVERSIDADES DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XIV

COLEGIADO DE HISTÓRIA

ANA QUÉRCIA COSTA DOS SANTOS

"O CASO DA URNA 40: Um estudo sobre cultura política"

Conceição do Coité 2011

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ANA QUÉRCIA COSTA DOS SANTOS

"O CASO DA URNA 40: Um estudo sobre cultura política"

Monografia apresentada ao Departamento de Educação, campus XIV, Curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual da Bahia (UNEB), como instrumento da avaliação final para obtenção do grau de licenciada a Ana Quércia Costa dos Santos. Orientadora: Prof. MS. Eduardo Borges.

Conceição do Coité 2011

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TERMO DE APROVAÇÃO

ANA QUÉRCIA COSTA DOS SANTOS

"O CASO DA URNA 40: Um estudo sobre cultura política"

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de licenciada em

História, Departamento de Educação – DEDC, Campus XIV – Conceição do Coité,

Universidade do Estado da Bahia – UNEB, pela seguinte banca examinadora:

Conceição do Coité, ___ de ___________ de 2011

.

Banca:

_______________________________________________________

Prof.º Ms. Eduardo José Santos Borges

Universidade do Estado da Bahia – UNEB (Orientador)

_______________________________________________________

Prof.º

Universidade do Estado da Bahia – UNEB (Convidado)

_______________________________________________________

Prof.º

Universidade do Estado da Bahia – UNEB (Convidado)

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Eu vejo o futuro, repetir o passado, Eu vejo um museu de grandes novidades,

O tempo não para... (Cazuza, O tempo não para)

A humanidade, porém, não conhece uma só experiência de aperfeiçoamento democrático que não consista em sua prática. (AMARAL e CUNHA, 2002, p. 3)

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AGRADECIMENTOS Todas as pessoas que passaram ou fazem parte da minha vida me ajudaram de

alguma forma, então gostaria de aqui de agradecer a todos que à sua maneira

contribuíram para a minha formação enquanto pessoa.

Lucas, meu filho, tudo aconteceu na hora certa e jamais pensei ser capaz que o

amor atingisse essa amplitude.

Meu companheiro, Diego, há uma década eu aprendi o que ter alguém para lhe

amparar nos momentos difíceis. E você me mostrou que rindo as coisas são bem

mais fáceis.

A meus pais, minha mãe por ter me dado a liberdade de pensar, algo valoroso e

meu pai, meu exemplo vivo de que existem sim, políticos honestos, de quem eu

herdei uma de minhas maiores paixões.

A meus avós, vovó Édite e vovô Agenor (in memorian), vovó Laura e vovô Mateus

(in memorian), minha madrinha Vilma e padrinho Zé, meus exemplos morais e

afetivos.

A minha irmã, amiga Érica e meus irmãos Marcelo e Júnior, amo muito vocês.

A minha sobrinha Aiala, minha princesinha, linda, meu sobrinho Mateus, meu fofuxo,

minhas sobrinhas Maria Eduarda e Ana Lívia, a meu afilhado Felipe (Tózi), Dindi te

ama! vocês moram no meu coração.

A Lara, Tassy, Néo, que me ajudaram tanto na minha correria louca de todo dia.

A Gê (in memorian), amiga, irmã, colega, de escola, faculdade, eternidade, não

houve um só dia, desde o 5 de Novembro que eu não pensasse em você.

Preciso agradecer em especial àquelas pessoas que apesar de todos os

compromissos do dia-dia me emprestaram um pouco de seu tempo e atenção, mais

de uma vez, na maioria dos casos, para a construção deste trabalho, se

empenhando em falar de assuntos que nem sempre lhes são tão agradáveis, a

meus entrevistados, ás pessoas que não deram entrevista em si, mas que sentaram

conversaram, discutiram posições, situações comigo de modo formal e informal, sem

vocês esta etapa não seria concluída.

A todos os colegas que compartilharam comigo os quatro anos de estudo, foi um

prazer diferenciado estar com cada um de vocês. Carleila, você entrou mais tarde,

mas isso só te tornou mais especial para nós, obrigado pelas dúvidas tiradas e o

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apoio nos momentos incertos. Um agradecimento especial às amigas irmãs Kenya,

Dai e Marcela, nosso grupo era ótimo!

Um super obrigado a todos os professores, Rogério, Aldo, Eide, Sheila, Carlos,

Augusto Cézar, Marluce, Adriana, Cláudia, Jorge, Normando, Cezarela, Elizângela

suas particularidades foram essenciais na formação da coletividade, ainda que nem

sempre estivéssemos em comum acordo sobre diversas situações, cada um de

vocês tem um valor singular em nossas vidas acadêmicas.

Agradeço em especial a meu professor/doutor/orientador Eduardo Borges, pela

paciência e compreensão, nem sempre é fácil ser uma aluna aplicada, você tornou

essa caminhada acadêmica mais consistente.

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DEDICATÓRIA

In memorian à Gérzia Pinho dos Santos, Igual a nossa amizade, nunca mais...

Suas sementes de ternura e perseverança, Vão estar sempre presentes em minha vida.

É tão estranho, os bons morrem antes,

Assim parece ser quando me lembro de você... Que acabou indo embora, cedo demais...

(Afternoon, Legião urbana)

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RESUMO Este trabalho visa o debate sobre eleições no Brasil, utilizando a prática e os mecanismos empregados pelo governo e pelo povo como meio de refletir os problemas ligados a participação ou falta dela, pela população. Utilizo como objeto de estudo as eleições de 1982 em Santa Luz, no que ficou conhecido como o “caso da urna 40”, como exemplo de mudança promovida pelo posicionamento positivo da população frente à dominação política. Partimos da pesquisa bibliográfica sobre a história das eleições no Brasil, as estruturas de poder criadas a partir destas e cultura política, culminando na análise sobre a ação popular frente os meios democráticos de participação, o que pode ser enriquecido através das fontes orais, impressas e iconográficas do período estudado. Palavras-chave: Eleições. Participação. Urna 40.

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ABSTRACT This work aims at debate on the elections in Brazil, using the practice and the mechanisms employed by the government and people as a means of reflecting the problems or lack of participation by the population. Used as objects of study the 1982 elections in Santa Luz, in what became known as the "case of the urn 40" as an example of change promoted by the positive attitude of the population against the political domination. From the research literature on the history of elections in Brazil, the structures of power created from these and political culture, culminating in the analysis of popular action against the democratic means of participation, which can be enriched through oral sources, printed and iconography of the period studied. Keywords: Elections. Participation. 40 Urn.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÂO .......................................................................... 11

CAPÍTULO 1 ELEIÇÕES NA HISTÓRIA DO BRASIL ................................. 15

1.1 Da Colônia à República ......................................................... 15

1.2 A prática do Sistema Eleitoral .................................................. 29

CAPÍTULO 2 DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO POLITICA NO BRASIL .... 35

2.1 Uma ideia de cultura política no Brasil ...................................... 35

.

CAPÍTULO 3 ELEIÇÕES E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA EM SANTA LUZ ... 43

3.1 O fazer político em Santa Luz de 1935 a partir de sua emancipação ..............................................................................

43

3.2 Eleições em 1982: Um estudo de caso ...................................... 48

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................... 59

REFERÊNCIAS .......................................................................... 62

FONTES ..................................................................................... 66

ANEXOS .................................................................................... 68

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INTRODUÇÃO

A história das cidades do interior do Brasil ainda é um campo de estudo

pouco explorado, isto deve-se a diversos fatores, entre eles a carência de fontes

bibliográficas, a falta de colaboração por parte das repartições públicas, além da

péssima conservação de seus patrimônios históricos, tornando a tarefa do

pesquisador árdua e por vezes desestimuladora. Contudo faz-se necessário que nos

aventuremos por esses campos inexplorados, a fim de trazer a luz uma série de

acontecimentos e personagens desconhecidos, que nos levam a compreender

diversas nuances de períodos que marcaram a história brasileira.

Assim neste trabalho proponho o debate sobre eleições, tendo como foco a

participação popular e utilizando como objeto de estudo a cidade de Santa Luz,

tomando como referência as eleições que ocorreram em 1982, conhecido na cidade

como o “caso da urna 40”.

Santa Luz é uma cidade hoje conta com 33.838 habitantes, segundo o censo

de 2007 realizado pelo IBGE, localizada na região conhecida como semiárido

baiano, que se caracteriza por climas secos e baixos níveis de desenvolvimento

socioeconômicos, tem sua origem em fins do século XIX quando a então Fazenda

Santa Luzia, pertencente a família Lopes é cortada pela estação Ferroviária Leste

Brasileira, iniciando o povoamento do então arraial pertencente a Queimadas.

Ainda neste período se estabeleceram na cidade algumas famílias, como os

Leitões, Góes e Cardoso da Costa, que são essenciais para a compreensão dos

mecanismos de alternância de poder que se iniciariam com a emancipação política,

perdurando até o ano de 1988.

Em 18 de Julho de 1935 é emancipada e elevada a categoria de cidade em

1938 recebendo o nome de Santa Luzia, o primeiro prefeito empossado foi Ezequiel

Cardoso da Costa, filho de um coronel e importante proprietário de terras da cidade,

iniciando uma linha de governantes que a população iria ver se alternar no poder,

sempre ligados a alguma das famílias citadas no parágrafo anterior, estas tinham

como fonte de poder a posse da terra e as patentes militares.

A cidade de Santa Luz como passa a se chamar a partir de 1943, nasce sob

predomínio do coronelismo, o qual se entende, segundo José Murilo de Carvalho

como sendo “um sistema político, uma complexa rede de relações que vai desde o

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coronel até o presidente da República, envolvendo compromissos recíprocos, (...)

baseado em barganhas entre o governo e os coronéis”. (CARVALHO, 1997). O que

explica alguns dos aspectos que serão refletidos ao longo deste estudo acerca da

participação política da população.

No primeiro capítulo me detive em fazer um breve histórico das eleições no

Brasil, o que possibilitou observar de maneira geral todo o processo de construção

do exercício do poder político no Brasil desde sua fase como colônia de Portugal e,

portanto refletindo sua condição de espaço dependente, passando pela conjuntura

pós-independência que vivenciou uma fase de consolidação do novo Estado que se

formava, chegando à Republica com a responsabilidade de definir-se entre a

ruptura e a continuidade. Em todos os momentos analisados, percebe-se que o

“povo” esteve alijado do seu direito à intervenção, mesmo nos períodos ditos

democráticos pelos quais viveu e vive o país. A prática política nunca se pode

classificar por satisfatória e sim excludente, tendo seus principais veículos sempre

monopolizados nas mãos de uma pequena classe privilegiada economicamente,

fenômeno presente desde as micro esferas de poder até as mais amplas. Pontuando

as modificações sofridas ao longo do tempo no que concerne a forma, de realização

das eleições no Brasil, iniciando na colônia, se estendendo até República.

Neste mesmo capítulo, buscamos esboçar também uma descrição do fazer

político nas eleições a partir da identificação e analise do funcionamento do sistema

eleitoral brasileiro em sua evolução histórica. A intenção é o de refletir sobre a

essência, ou seja, de que forma se dá a interação entre povo e fazer político.

Partindo do pressuposto de que, a participação política constitui-se um dos campos

mais férteis de análise pelo fato de permitir diversas interpretações acerca dos

problemas em torno da mesma, gerado pela complexidade de analisar grupos, que

agem em conjunto, forças individuais, comportamentos que tem certa aceitação em

determinado local, enquanto que outros nem tanto, tornando este um tema com uma

infinidade de propostas para ser trazida a luz pelo historiador.

No segundo capítulo antecipamos o debate em torno do conceito de cultura

política cuja aplicação pratica será resgatado no terceiro capítulo. Tema, hoje, dos

mais relevantes entre os historiadores que optaram em analisar o processo histórico

pela ótica da esfera política, o estudo da cultura política de um determinado período

ou sociedade favorece ao historiador uma ampla e diversificada percepção das

relações de poder ali instituído. Partimos do conceito proposto por Almond e Verba

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de “orientações especificamente políticas, às atitudes com respeito ao sistema

político, suas diversas partes e o papel dos cidadãos na vida pública” (Apud BORBA

2005, p. 6) na busca da problematização da participação, não limitando esta ao

simples ato de votar, mas de intervir, participar, interagir, opinar, observando alguns

grupos especificamente “esquecidos na história”, como mulheres, analfabetos e

sindicatos.

No terceiro e último capítulo se faz presente nosso objeto central de estudo

cuja discussão gira em torno das eleições e participação política em Santa Luz,

focando a analise na atuação dos movimentos sociais, sindicatos e eleitor em geral,

ao passo que refletimos a pratica política da elite da cidade na eleição de 1982, na

busca de compreender os acontecimentos atípicos que a caracterizaram.

A escolha por esta eleição foi feita em função da importância e atenção que a

população da cidade deu aos fatos que se desencadearam, uma vez que foi

marcada por ataques a cidadania e a própria integridade pessoal dos cidadãos, além

de ser um marco no sentido em que alterou toda a ordem política estabelecida até

então, ecoando mais vozes, dentre as que gritavam país afora contra a repressão da

ditadura e o esgotamento dos grupos políticos que os apoiavam. A preferência dos

grupos em questão não foi feita de forma aleatória, mas sim pensando no que está

presente no lócus de estudo, ainda que não estruturem-se como frente organizada

de militância.

A necessidade de conservação da memória local foi uma das forças que me

impulsionaram na estruturação deste trabalho, a carência de fontes escritas já foi

aqui descrita, então o uso de entrevistas foi um dos meios que encontrei para

remontar a história da “urna 40”, que está marcada fortemente na memória dos mais

velhos da cidade, mas a população mais jovem pouco sabe, assim faz-se necessário

a conservação desta e de outras histórias mais.

Além das fontes escritas utilizadas para a construção desta análise, recorri ao

enriquecimento único permitido pelas entrevistas de quem vivenciou os fatos

analisados, tendo em vista que

“Muitas decisões são tomadas através da comunicação oral, das articulações pessoais; o número de problemas resolvidos por telefone ou pessoalmente não para de crescer. Para suprir essas lacunas documentais, os depoimentos orais revelam-se de grande valia.” (FERREIRA, 1994 p. 7)

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Portanto buscamos ir além das questões puramente políticas, mergulhando

nas vivências, na cultura dos atores responsáveis pela construção do caso da urna

40.

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Capítulo 1

1. ELEIÇÕES NA HISTÓRIA DO BRASIL

“Nas favelas, no senado, Sujeira pra todo lado,

Ninguém respeita a constituição, Mas todos acreditam no futura da nação

Que país é este?” (Que país é este? Legião Urbana)

1.1 Da Colônia à República

Mesmo sendo reconhecida internacionalmente por possuir um dos mais

avançados sistemas eleitorais do mundo, ao longo de toda a sua história as eleições

brasileiras configuram-se como forma de extensão do poder de poucos dominantes

econômica e socialmente também ao campo político. Segundo renomados autores

como Faoro e José Murilo de Carvalho o processo eleitoral brasileiro pode ser

caracterizado como elitista e excludente, configurando-se como uma forma de

assegurar às classes dominantes a manutenção de sua influência sobre a

sociedade, tendo em vista que muda-se os atores e o período, mas nunca a

dinâmica. O mesmo pensamento pode ser encontrado em Cunha e Amaral no seu

manual das eleições, que já no seu início coloca a interferência abusiva do poder

econômico no processo eleitoral brasileiro, afirmando que este chega a ameaçar a

“frágil democracia brasileira” (2002, p. 3).

Ao povo em praticamente toda a história brasileira vai ser relegado a posição

de mero figurante, neste cenário onde os atores principais não querem e não

admitem qualquer interferência que venha a perturbar a ordem estabelecida. Com a

exceção de raros e rápidos momentos de cidadania o „povo‟ acostumou-se ao papel

coadjuvante. A fim de compreender de que atores estamos falando é necessário

perceber de que forma foi estruturado o aparelho burocrático do Estado brasileiro.

Muitos leigos acreditam que o sistema eleitoral é uma característica

unicamente de sistemas democráticos e que a participação cidadã resume-se ao

exercício pleno do voto, assim partindo desta concepção nega-se a cidadania a

períodos da história em que o país não viveu em regime democrático, o que acaba

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por ser um grave erro, já que mesmo em momentos em que o benefício do sufrágio

universal não era garantido a todos pode-se perceber atitudes cidadãs nas

populações de diversos períodos.

Desde quando Cabral desembarca no Brasil, já era conhecido em toda a

Europa a descoberta pelos espanhóis de terras longínquas, paraísos a serem

desbravados, habitados por pessoas na sua mais primitiva forma de organização

que viviam no que Chauí descreve como estado “pré-social” utilizando a definição de

Rousseau como sendo “estado de natureza,” em que “os indivíduos vivem isolados

pelas florestas, sobrevivendo com o que a natureza lhes dá, desconhecendo lutas e

comunicando-se pelo gesto, pelo grito e pelo canto, numa língua generosa e

benevolente.” (2000, p. 220), carentes de humanidade já que aproximavam-se mais

de animais que de “gente”, cabia aos “civilizados” europeus tira-los da barbárie, ao

passo que lhes garantiria a posse sobre riquezas inimagináveis.

Assim já no primeiro contato entre portugueses e a terra brasileira fica

notória a esperança de se encontrar as ditas riquezas, explicitada na carta que Pero

Vaz de caminha envia ao rei português, que descreve o que de imediato poderia ser

extraído, despertando mesmo com todas as dificuldades o interesse na exploração

da dita colônia. Contudo as extensões encontradas não poderiam ser exploradas

sem que houvesse algum tipo de organização, a fim de policiar as novas terras, mas

Portugal esbarraria num entrave prático, sua população na época não passava de

cerca de 1 milhão de habitantes, além das imensas despesas que geraria ao tesouro

real a empreitada. Não restando alternativa senão buscar apoio na iniciativa privada,

concretizada nas Capitanias Hereditárias, que de acordo com Faoro vão acabar por

demonstrar-se insuficientes para o projeto de colonização e ocupação brasileira, ao

mesmo tempo a coroa ainda não havia encontrado as grandes riquezas almejadas

em somas de ouro, prata e pedras preciosas, embora tenha retirado altas somas a

partir da exploração do pau-brasil.

Ainda que obtivesse lucro com a exploração da madeira de lei o projeto

colonial ia mal, alguns dos homens mais ricos de Portugal tinham ido a falência na

tentativa de fazer as Capitanias prosperarem é então que em 1548 é criado e em

1549 instalado em Salvador o sistema dos Governos Gerais que tinha por finalidade

a centralização do poder que encontrava-se disperso nas mãos dos donatários, por

outro lado fazia parte também das responsabilidades do governador cuidar “da

defesa contra o gentio e contra o estrangeiro” além de “controlar a entrada para o

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sertão” (FAORO 2001, p. 168). Numa tentativa de controlar tudo o que saia da

colônia; paralelamente ao sistema de Capitanias desenvolveu-se também a doação

de sesmarias, estas distribuídas às pessoas mais abastadas do reino luso, a fim de

que tivessem condições de explorá-las, Faoro reconhece aí a raiz do que viria a ser

um dos maiores problemas socais brasileiro, que é a limitação de acesso a terra às

mãos de poucos e a formação do latifúndio, até os dias atuais marca maior da

disparidade econômica no país. Aos colonos pobres que se aventuravam vir por

conta própria, restava estar a mercê dos grandes proprietários, de acordo Prado Jr,

abaixo:

A pequena propriedade não encontrou terreno favorável para se desenvolver na economia da colônia. Impelidos pelas circunstâncias se vão os pequenos proprietários aos poucos desfazendo de suas posses em beneficio dos grandes domínios. Depois de tal processo de eliminação da pequena propriedade, vai-se afinal fundar toda a economia agrária da colônia unicamente no grande domínio rural. É, portanto no campo que se concentra a vida da colônia, é a economia agrícola a sua base material. (PRADO JR.,1999, p. 18-19)

Os mesmos grandes proprietários de terra impostos à colônia por parte da

metrópole, como grandes senhores proprietários, seriam os gestores políticos nos

momentos permeados pela descentralização, que não foram poucos principalmente

durante o período colonial, mas a Coroa portuguesa não iria correr o risco de

precisar “amoldar-se às novas, imprevistas e perigosas circunstâncias brasileiras”

(FAORO, 2001, p. 171), assim ainda que se tratasse de uma nova realidade, num

lócus distante do europeu com uma nova sociedade a se formar, a estrutura

burocrática brasileira montada no período colonial resumia-se a simples e completa

imitação das estruturas políticas e administrativas portuguesas, como pode ser

observado em Faoro e retomado por Laura de Melo e Souza:

A ordem pública portuguesa, imobilizada nos alvarás, regimentos e ordenações, prestigiada pelos batalhões, atravessa o oceano incorrupta carapaça imposta ao corpo sem que as medidas deste a reclamem. O Estado sobrepôs-se, estranho alheio, distante à sociedade, amputando todos os membros que resistissem ao domínio. [...] Ao sul e ao norte, os centros de autoridade são sucursais obedientes de Lisboa: o Estado, imposto à colônia antes que ela tivesse povo, permanece íntegro, reforçado pela espada ultramarina, quando a sociedade americana ousa romper a casca do ovo que a aprisiona. (SOUZA, Laura de Melo e. apud FAORO, 2006, p. 32)

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Demonstrando uma verdadeira falta de interesse por parte do Estado

português na adequação de seu aparato político-administrativo o qual chegou a

nova terra montado e definido, de acordo com Caio Prado Jr. “órgãos diferentes e

adaptados a condições peculiares que não se encontravam no reino”, gerando uma

verdadeira incongruência entre a realidade vivida pelos colonos em terras

tupiniquins e o estado de direito que os regia, além da impessoalidade gerada por

ser administrado por um rei longínquo, por um período de três séculos, o que

acabava por tornar os senhores de terra seus representantes legais e autoridade

sobre o restante da população, como pode ser visto em Antonil "o senhor de

engenho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser servido, obedecido

e respeitado de muitos" (2007, p. 79), configurando o início da população do país e

sua relação com os fazeres políticos.

Com isso pode-se reconhecer que desde o início da formação brasileira,

houve a intenção da não-participação e do afastamento de todos aqueles que não

fizessem parte da classe privilegiada, já que a escolha de cargos e doações por

parte do rei perpassava o âmbito econômico, deixando todo o “resto” dos colonos

excluídos, a priori, de qualquer participação na vida política do país e estes por sua

vez não possuíam meios de contornar tal situação;

Ainda que se reconheça que no período não haja tempo hábil, muito menos

a união necessária para a formação do pensamento característico de classe,

pensamento que enquanto doutrina só passará a existir em meados do século XIX,

até mesmo na Europa, embora a união, como a dos mestres de corporações da

Idade Média, já desponte algum tipo de pensamento coletivo, logo busca-se não

cair em um pecado cometido por muitos estudiosos quando se propõe a relacionar

épocas distintas que é o anacronismo, uma vez que, se tem consciência de que a

Europa vivia regida pelo Antigo regime e em Portugal este atravessava seu período

áureo, que de tal forma conseguiam estender sua influência até mesmo sobre as

pequenas vilas que se formavam no Brasil, estas, origem dos atuais municípios, que

tinham como inspiração os antigos concelhos portugueses, embora o sentido dos

municípios criados no Brasil e os existentes em Portugal sejam divergentes em

muitos aspectos.

Entenda-se município português a partir da consolidação do reino

relativamente diferente da definição de município que se conhece hoje, estes se

organizavam politicamente buscando a autonomia das localidades diante domínio

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dos senhores feudais na Idade Média, segundo Cunha sua estrutura foi transferida

para o Brasil, com sentido diferenciado do aplicado em Portugal, levando em conta

as conjunturas discrepantes entre os países e se estruturavam politicamente da

seguinte forma:

Esses concelhos eram dirigidos por uma câmara composta, no mínimo, por um juiz-presidente, que poderia ser o ordinário ou de fora, por dois vereadores, um procurador e por outros oficiais camaristas não remunerados. Todos eram eleitos localmente e confirmados pela coroa ou pelo senhor da terra, exceto o juiz de fora, indicado pelo rei. Eram eleitos por um ano, conforme as Ordenações Filipinas. Entre os oficiais não remunerados estavam os almotacés, que .tinham ao seu cuidado um conjunto de atribuições importantes para a vida local, tais como a fiscalização do abastecimento de gêneros e a fixação de preços. Existiam oficiais que eram obrigados a saber escrever - os escrivãos - providos pela coroa ou pela câmara local. Essa forma de organização local, por intermédio de concelhos, ou municípios, é a mesma aplicada no Brasil até o fim do Antigo Regime. (CUNHA, 2003. p. 19)

O mesmo sentido dado aos municípios portugueses pode ser encontrado em

Faoro, no contexto do antigo regime, como um apoio, uma vez que permitia que o rei

tivesse relativa autonomia com relação ao clero e a nobreza, de acordo com trecho a

seguir:

Temerosa do domínio autônomo das camadas que a apoiavam – o clero e a nobreza – a realeza deslocou sua base de sustentação, criando as comunas e estimulando as existentes no incremento da realidade capaz de lhe proporcionar suporte político, fiscal e militar. Buscava o trono a aliança, submissa e servil, do povo – o terceiro estado. (FAORO, 2001, p. 22)

Enquanto que no Brasil este modelo será imposto, como forma de

colonização e na prática terá uma funcionalidade diferenciada da que se encontra no

molde português, este via-se preso as obrigações com a monarquia, perdendo o

sentido autônomo reconhecido com sua aplicação em Portugal.

“[...] O município não criava nenhum sistema representativo, nem visava à autonomia que depois adquiriu, abusivamente aos olhos da Coroa. A base urbana era o desmentido à entrega de poder aos latifundiários, base urbana era o desmentido à entrega do poder aos

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latifundiários, base mais tarde alargada em movimento oposto às suas aspirações originais. O município, como as capitanias e o governo geral, obedecia no molde de outorga de poder público, ao quadro da monarquia centralizada do século XVI, gerida pelo estamento cada vez mais burocrático. (FAORO, 2001. p. 171,172)

O autor Edmundo Zenha demonstra uma visão que se afasta da difundida

por Faoro, na medida em que concebe que o município “desempenhou um papel

relevante na questão política defendendo o indivíduo, tornando-se a entidade

pioneira das reivindicações populares, sendo seu único palanque, do qual a voz do

povo se fez ouvir” (ZENHA, 1948. p. 23). O fato é que apesar de ser inegável que o

modelo de município brasileiro é distinto do modelo português, perdendo na sua

ideia básica de formação que é a de autonomia das localidades, as vilas ou

municípios surgidos no período colonial, ainda que sob controle de latifundiários, irão

se tornar o primeiro viés de participação política da população brasileira, mesmo que

sob tutela monárquica é nesse ambiente que irá florescer debates, discussões, além

das eleições em si, que durante muito tempo será a maneira mais próxima dos

habitantes coloniais de interagir e se relacionar com o mundo político.

A primeira eleição que se reconhece como oficial data de 1532, quando a

então capitania de São Vicente necessitava de representantes para o Conselho

Municipal. Logicamente tais eleições não se realizaram nos parâmetros

democráticos atuais, esta foi regida por uma legislação de Portugal: O livro das

Ordenações, pode-se perceber tanto em Ferreira quanto em Faoro, que estas, por

terem sido criadas no fim da Idade Média visavam diminuir o poder dos senhores

feudais e como consequência conferiam maior autonomia e poder às Câmaras ou

Concelhos Municipais.

No Brasil visavam basicamente a organização da colônia para viabilizar uma

administração mais fácil por parte da metrópole, assim como também vai lançar as

bases das estruturas políticas que vigorariam no país até meados do século XVII,

que devido as dificuldades administrativas da coroa portuguesa e as longas

distâncias do novo território, seriam caracterizadas pelo forte poder local, os quais

tinham sua estrutura montada basicamente a partir do que conhecemos hoje por

“Câmaras dos homens bons”. Estas reuniam os principais donos de terras, na maior

parte deles vindos de Portugal, por terem recebidos doações régias, ou os

descendentes destes, agrupando aí, em estado germinativo, o que viria a ser a

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futura elite de poder brasileira, sempre tendo como fonte de poder a posse sobre a

terra, como afirma Prado Jr. “da simplicidade da infraestrutura econômica – a terra

única força produtiva, absorvida pela grande exploração agrícola - deriva a da

estrutura social: a reduzida classe de proprietário, e a grande massa que trabalha e

produz, elaborada e oprimida” (1999, p. 29).

Como citado acima um dos elementos que favoreciam a concentração de

poder nas mãos de pequenos grupos durante o período colonial, além da

propriedade da terra, era a dificuldade trazida pelas grandes proporções territoriais

da colônia, na medida em que, durante os primeiros anos de colonização diversas

formas de controle administrativo e político foram tentados pela coroa, como as

doações conhecidas por sesmarias, as capitanias hereditárias e por fim os governos

gerais, contudo, todas as opções em que o poder ficava concentrado na figura de

uma única pessoa, acabava por demonstrar-se problemático, como nos casos dos

juízes que precisavam deslocar-se grandes distancias de norte a sul do país para

julgar os crimes cometidos, mas este deslocamento tornava-se tão demorado e

penoso, que muitas vezes quando chegavam ao seu destino os “homens bons”

locais já haviam dado a sua sentença. Fortalecendo o poder e influência destes

sobre a população mais pobre.

Boxer (Apud SOUZA, Laura de Melo e. 2006 p. 42) reconhecia estas

instituições, as Câmaras, metropolitanas na colônia como algo positivo e segundo

ele, o que permitiu a existência do império português por muito tempo, tendo em

vista que não era uma característica somente em território brasileiro, como também

das colônias portuguesas na África e na Ásia, afirmando ainda que os membros

destas instituições “provinham de estratos sociais idênticos ou semelhantes, e

garantiam até certo ponto, elites coloniais”. Por conseguinte, ao relacionar as

afirmações de Prado Jr e Boxer pode-se constatar que estes homens que formavam

as Câmaras tinham seu poder ligado e sustentado pela posse da terra, a qual lhes

diferenciaria do restante da população colonial e a eles garantiria o status de elite

econômica e política, o que não agradava a coroa, devido a autonomia gerada por

essas estruturas aos colonos, embora Faoro afirme que estas nada mais eram do

que a extensão da metrópole, “o município como as capitanias e o governo geral,

obedecia no molde de outorga de poder público, ao quadro da monarquia

centralizada do século XVI, gerida pelo estamento cada vez mais burocrático”

(FAORO, 2001. p. 172).

Page 22: O caso da urna 40. um estudo sobre cultura politica

22

Até o século XIX a estrutura política brasileira praticamente não sofre

alterações, as câmaras locais eram eleitas pelos senhores de terras e a massa de

analfabetos, mulheres e escravos encontrava-se marginalizada dos fazeres políticos

no sentido restrito da palavra, embora estes tenham participado ativamente das

pressões realizadas ao governo régio por melhorias nas condições de subsistência e

por seus direitos, a exemplo da Revolta dos Malês, ocorrida em 1835, que contou

tanto com a participação ativa de negros e mulatos, quanto a de mulheres, como

Luiza Mahin, rebelião que buscava romper com a ordem social vigente e

consequentemente buscava a subversão da ordem política existente:

A dimensão social é também indiscutível, pois tratava-se de rebeldes na sua maioria escravos e uma minoria de libertos que visavam, não apenas a emancipação, mas a tomar o poder, onde o social se mistura também com o político. (FERNANDES E BARROS, p. 8)

Contudo, todas as tentativas de subversão da ordem política ocorridas

durante o período colonial foram violentamente sufocadas, algumas como a citada

acima não chegaram nem a se concretizar, na maioria dos casos seus líderes

quando das classes mais baixas tinham como pena a execução, mas quando

ligados a classe dominante tinham penas mais amenas, como a extradição ou a

perda de seus direitos políticos, como o célebre exemplo da Inconfidência Mineira.

Durante o Império a Igreja Católica interferia de forma direta no processo

eleitoral, sempre auxiliando Portugal no processo de colonização, chegou a realizar

votações dentro das Igrejas, aproveitando-se do status e poder que esta tinha sobre

os fiéis, principalmente os de classe mais baixa.

Em 1821, foram eleitos deputados para integrar a Corte de Lisboa, estas

eleições aconteceram sob os moldes da Constituição espanhola; data de 19 de

Junho de 1822 a criação da primeira Lei eleitoral brasileira, denominadas Instruções,

que restringia o voto, como nunca havia ocorrido até então no país.

“Considerando a estrutura econômico-social da época, conclui-se que o voto era privilégio dos proprietários de terras, engenhos, etc. Isso, não obstante a sua extensão aos guarda-livros e primeiros caixeiros das casas comerciais, criados da casa real (de hierarquia superior) e administradores de fazendas e fábricas. De qualquer modo o exercício do voto, direto, político, assentava-se sobre bases econômicas.” (FERREIRA, 2001 p. 130)

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23

O sufrágio até então universal, acaba tornando-se restrito a poucos, como

afirma Ferreira, este não se caracterizava como um fenômeno novo, muito menos

restrito ao Brasil, já que grandes estudiosos da política afirmavam que o poder

político advém da propriedade econômica, “(...) de Aristóteles, até Locke, filósofo

inglês do século XVII, constituía preocupação dos que se dedicavam ao estudo das

doutrinas políticas.” (FERREIRA, 2001 p. 130)

Em 25 de Março de 1824 é elaborada a primeira Constituição brasileira, que

no tocante a política e acesso as vias do poder se mostra tão excludente e

problemática quanto as Instruções de 1822, Ferreira considera um paradoxo o fato

de que no Brasil, enquanto era colônia portuguesa, todos, sem restrição, tinham

direito ao voto, o que vai ser alterado radicalmente após a conquista da

independência.

“Até 1822, o povo votava em massa, sem limitações, sem restrições. Ao ganhar o Brasil sua independência política, o povo perdeu o direito que teve, durante três séculos, de votar, pois o voto tornou-se também um privilégio. O Brasil ganhou sua independência política e, ao mesmo tempo, o povo perdeu os seus direitos políticos (de votar em massa. Curioso paradoxo esse. (FERREIRA, 2001 p. 91)

Logo, percebe-se que a estrutura política brasileira sofreu fortes alterações

com a independência, além do tocante ao voto, as próprias estruturas de

organização e divisão de poderes foi modificada houve a repartição dos poderes:

Art. 9. A Divisão, e harmonia dos Poderes Politicos é o principio conservador dos Direitos dos Cidadãos, e o mais seguro meio de fazer effectivas as garantias, que a Constituição offerece. Art. 10. Os Poderes Politicos reconhecidos pela Constituição do Imperio do Brazil são quatro: o Poder Legislativo, o Poder Moderador, o Poder Executivo, e o Poder Judicial. Art. 11. Os Representantes da Nação Brazileira são o Imperador, e a Assembléa Geral. Art. 12. Todos estes Poderes no Imperio do Brazil são delegações da Nação. (Trecho da Constituição de 1824)

E limitava de acordo com a renda, religião e condição social dos cidadãos a

sua inserção na vida política do país, tanto como eleitor, quanto como representante

legislativo:

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24

Art. 94. Podem ser Eleitores, e votar na eleição dos Deputados, Senadores, e Membros dos Conselhos de Provincia todos, os que podem votar na Assembléa Parochial. Exceptuam-se I. Os que não tiverem de renda liquida annual duzentos mil réis por bens de raiz, industria, commercio, ou emprego. II. Os Libertos. III. Os criminosos pronunciados em queréla, ou devassa. Art. 95. Todos os que podem ser Eleitores, abeis para serem nomeados Deputados. Exceptuam-se I. Os que não tiverem quatrocentos mil réis de renda liquida, na fórma dos Arts. 92 e 94. II. Os Estrangeiros naturalisados. III. Os que não professarem a Religião do Estado. (Trecho da Constituição de 1824)

Durante o Império o Brasil conheceu diversas legislações e emendas

eleitorais, não necessariamente uma anulava a outra, mas segundo Ferreira, uma

completava o que faltava na anterior, por exemplo, a Lei eleitoral de 1824 não

discute as eleições locais, que como vimos anteriormente, durante o período em que

o Brasil foi colônia contava com grande participação popular, mas para sanar esta

falha outra Lei é expedida em 01 de Outubro de 1828, que vai alterar a forma como

as eleições eram realizadas e enumerar diretrizes para as eleições das Câmaras

locais. O mesmo pode-se dizer das leis criadas em 1842 e 1846, as quais iam sendo

criadas e deixavam brechas ou passagens passíveis de dúvidas quanto a forma de

realizar as votações, sua apuração e quem podia votar e ser votado.

A preocupação nessas leis só começou a amadurecer a partir dos 28 artigos

lançados em 1849, segundo Ferreira (2001, p. 190), [...] já a esta altura, não se

cuidava mais tanto da forma, mas sim da sua essência, do modo de proceder às

eleições. Mudança que ele atribui a dois fatores, primeiro ao fato de estarem a trinta

anos tentando aperfeiçoar o sistema político brasileiro e há vinte anos da criação

dos partidos políticos.

O sistema de agrupamentos em partidos foi criado com o advento da

revolução Francesa e no Brasil somente se iniciam em 1831, principalmente diante

da abdicação de D. Pedro I, Ferreira identifica que de acordo com a posição diante

deste fato foram criados, “os primeiros partidos: Restaurador, Republicano e Liberal”

(2001, p. 167) em 1870 já existiam Liberal, Conservador, Progressista, Liberal-

Radical, um outro agrupamento Liberal e os Republicanos. Nesta época não existia

alistamento de eleitores, como também não existia de partidos. O autor chama

Page 25: O caso da urna 40. um estudo sobre cultura politica

25

atenção de que “era comum deputados desligarem-se dos seus partidos e

passarem-se para os partidos adversários.” (2001, p. 211). Mas os programas

partidários eram mantidos, independente da adesão deste ou daquele deputado de

outra orientação partidária.

Assim como a criação dos partidos as próprias leis eleitorais brasileira foram

bastante influenciadas pelas leis francesas, como a Lei dos Círculos, de 1855.

A partir de 1860 iniciou-se ampla discussão a respeito dos sistemas diretos e

indiretos de votação, que vai encontrar defensores ferrenhos como o Bacharel Dr.

Herculano de Souza Bandeira, que criticava ainda a falta de lealdade dos deputados

brasileiros com seus partidos.

“Ou o Brasil tão novo ainda, tem tocado já ao último grau de corrupção à vista da rapidez com que se tem sucedido tantas formas improfícuas, ou o sistema de eleições, que temos até hoje seguido, é realmente absurdo, inconveniente e inexequível. Mas, não; não é na desmoralização do povo brasileiro que convém procurar a justificação dessa multiplicidade de tentativas; o absurdo sistema de eleições indiretas é que está concorrendo poderosamente para a corrupção deste povo e o que tem por tantas vezes arrastado aos horrores da anarquia.” (BANDEIRA, Apud, FERREIRA, 2001 p. 199)

Deve-se salientar que as regras eleitorais durante o período imperial eram

alteradas ao sabor da necessidade, uma vez que as eleições eram controladas pelo

Imperador, sempre que fosse preciso garantir maioria nas urnas as regras poderiam

ser modificadas. Uma modificação importante ocorreu em 1881, quando a Lei

Saraiva afastou totalmente a Igreja do processo eleitoral e estabeleceu , eleições

diretas e deixou a cargo dos juízes as etapas preparatórias para a realização das

eleições.

A preocupação com o elemento popular aparece no discurso de Ruy

Barbosa no momento em que este apresenta à Câmara o texto da Lei Saraiva,

demonstrando preocupação por esta lei não contemplar as classes menos

abastadas. Esta excluía todas as leis criadas até aqui. E perdurará até o advento da

República.

Segundo Ferreira, o Império chega ao fim, com “uma legislação eleitoral

perfeita. A Lei saraiva foi a culminância de um processo evolutivo que durou 67

anos, desde os primeiros dias da independência”. Embora deva-se salientar que

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26

esta legislação excluía mulheres e homens com renda anual inferior a 200$000, “por

bens de raiz, indústria comércio ou emprego”. (2001 p. 285)

Contrária a visão de Ferreira, que se limita a análise das leis eleitorais,

Carvalho afirma que o único avanço notório conseguido durante o Império teria sido

o fim do regime de escravidão, para quem “a abolição incorporou os ex-escravos

aos direitos civis” (2002, p. 17)

A Proclamação da República, ocorrida em 15 de Novembro de 1889, é um

dos períodos que mais acumulam estudos historiográficos, em razão do forte poder

exercido pelas oligarquias da época, através de políticas como a “dos governadores”

em que o presidente da república apoiava os candidatos dos governadores nas

eleições estaduais e estes por sua vez garantiriam a vitória dos indicados dos

presidentes nas eleições nacionais. Fortalecendo o poder dos “coronéis”,

caracterizando o chamado coronelismo da época, entendido por José Murilo de

Carvalho por “um sistema político, uma complexa rede de relações que vai desde o

coronel até o presidente da República, envolvendo compromissos recíprocos” e que

ao mesmo tempo deixava a população carente cada vez mais dependente desta

classe. O que gerou o aparecimento, no nordeste, por exemplo, do chamado

“banditismo social”, que nada mais era do que uma reação de uma população

castigada e oprimida aos desmandos de seus representantes.

Ferreira afirma que “a República daria o mau exemplo que seria seguido

durante quase meio século, origem dos nossos males políticos durante todo esse

interregno: as leis eleitorais feitas para ganhar eleições”. (2001, p. 285) Período que

Amaral e Cunha (2002, p. 4), descrevem como “assentado no ‟coronelismo‟, nos

„currais‟ eleitorais, na compra de voto, na privatização do erário, no abuso do poder

econômico, na fraude eleitoral”.

A primeira Lei Eleitoral criada na República brasileira data de 1890 e instituía

o sufrágio universal a homens maiores de 21 anos. Em 1891, foi promulgada a

primeira Constituição da República, que dava uma profunda autonomia eleitoral aos

estados, fortalecendo interpretações individuais, o que favoreceu o poder das

oligarquias, ideia defendida tanto por Faoro quanto por Carvalho conforme pode ser

visto abaixo:

Mais de 85% eram analfabetos, incapazes de ler um jornal, um decreto do governo, um alvará da justiça, uma postura municipal.

Page 27: O caso da urna 40. um estudo sobre cultura politica

27

Entre os analfabetos incluíam-se muitos dos grandes proprietários rurais. Mais de 90% da população vivia em áreas rurais, sob o controle ou a influência dos grandes proprietários. Nas cidades, muitos votantes eram funcionários públicos controlados pelo governo. (CARVALHO, 2002 p. 32)

Esta colocação de Carvalho reflete bem o espírito da primeira República e a

população oprimida e analfabeta encontrou no banditismo social, um meio de

intervenção.

A Revolução Constitucionalista de 1932 alterou o cenário oligárquico

dominante até então rompendo com a política café-com-leite, introduzindo as elites

de outros estados a exemplo do Rio Grande do Sul que se viam afastados das

decisões políticas do país. A principal política neste sentido foi a adoção imediata

das interventorias estatais.

O Executivo federal nomeava para a chefia dos governos estaduais indivíduos que, embora nativos dos estados, e mesmo identificados em suas perspectivas ideológicas aos grupos dominantes, eram ao mesmo tempo “marginais”, isto é, desiludidos de maiores raízes partidárias; indivíduos com escassa biografia política ou que, se possuíam alguma, a fizeram até certo ponto fora das máquinas

partidárias tradicionais nos estados. (SOUZA, Maria do Carmo Campello de. 1976 p. 87/88)

A autora cita ainda que para o governo da Bahia foi nomeado Juracy

Magalhães, que não se adaptou facilmente ao poder recebido e seu processo de

acomodação aconteceu apenas com a aliança realizada com os Mariani,

“constituindo aí o embrião da futura UDN no estado”. (SOUZA, Maria do Carmo

Campello de. 1976 p. 87/88)

Em 1932, frente a reinvindicações populares foi instituído o voto feminino,

secreto, para maiores de 18 anos e obrigatório para homens, acontece a por Getúlio

Vargas, o mesmo presidente que em 1937 daria um golpe de estado, inaugurando o

período do Estado Novo, as eleições aconteceriam de forma indireta e o mandato de

presidente teria seis anos, o que durou até 1945, quando diante das pressões

nacionais e internacionais Vargas passou o poder a Dutra, por meio de eleições

diretas.

De 1945 a 1964 as eleições ocorreram embora a democracia em diversos

momentos estivesse seriamente ameaçada. Este período ficou marcado pela

constante instabilidade de presidentes. Nesses dezenove anos citados acima,

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28

somente dois presidentes terminaram seus mandatos, Eurico Gaspar Dutra de 1945-

1950 e Juscelino Kubistchek de 1956-1961, sendo que este último foi eleito a após o

suicídio de Getúlio Vargas, em 1954 e o breve governo de Café Filho (de caráter

temporário), enfrentou uma tentativa de golpe antes mesmo de sua posse, liderada

pela UDN, tendo como partícipes Carlos Lacerda, Café Filho e o então presidente da

Câmara dos Deputados Carlos Luz. Contudo o golpe não se concretizou graças a

uma manobra realizada pelo General Lott, através do chamado golpe de Legalidade.

Mesmo o largo período de normalidade constitucional democrática, de 1946 e 1964, foi perturbado por seguidas crises institucionais, como repercussões óbvias na vida política: um presidente se suicidou, no auge de crise político-militar; dois presidentes foram declarados impedidos por um Congresso animado pelo cerco das tropas militares; um presidente enfrentou dois levantes militares; um renunciou e outro foi depostado. Em vários episódios e por largos períodos vivemos em estado de sítio. (AMARAL e CUNHA, 2002, p. 5)

A década de 60 é varrida por uma verdadeira epidemia de regimes

totalitários se espalhou pela América Latina, reflexo do momento em que o mundo

atravessava com a Guerra Fria e todo o medo gerado diante de uma possível guerra

nuclear entre duas superpotências, Estados Unidos e União Soviética, era

necessário estar sob uma liderança forte que conduzisse a população a um caminho

seguro.

Deflagrado no Brasil no ano de 1964, sob o golpe de 1º de Abril deste ano,

através do qual os militares brasileiros depunham o então presidente João Goulart e

instauravam os anos de recessão em lugar da jovem democracia no país. Uma vez

que a república não significou necessariamente que o país vivia sob regime

democrático, partindo do pressuposto de democracia apresentado por Michel Neil

Trindade Francisco:

A democracia é um sistema que pode ser analisado como forma e como meio (conteúdo). Democracia como forma é de simples análise ou o sistema é ou não é democrático. Já a democracia como meio deve ser levada em consideração para discutir a qualidade do sistema (Baquero, 1996), de que forma o sistema democrático vem atuando junto ao estado e seus cidadãos, e qual a percepção destes em relação ao sistema. (FRANCISCO, 2006, p. 23)

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29

Contudo a ditadura militar brasileira diferenciou-se em muitos aspectos das

ditaduras vividas pelos demais países sul-americanos, embora a tortura, a violência,

a censura, a repressão armada, a supressão das liberdades individuais fossem as

mesmas que os demais locais, no Brasil o sistema militar foi “maquiado” em diversos

aspectos, como as própias eleições em regime direto a nível local e indireto, nos

colégios eleitorais a nível federal.

Gradualmente foi acontecendo a abertura política no país, em 1976 a

restauração do sistema pluripartidarista, favoreceu as discussões que possibilitaram

em 1985 a restauração do sistema democrático, que teve como resultado a

elaboração de uma nova Constituição em 1988 e eleições diretas para presidente no

ano seguinte. Todo o processo se deu conforme havia sido previsto por Geisel, de

forma “lenta, gradual e segura”, os militares saem do poder, mas sua influência não

se encerra totalmente.

A década de 90 é marcada pelo liberalismo político de FHC e pela forte

influência que a mídia passa a ter na escolha dos candidatos. A eleição de Lula

marca o início de uma nova forma de se conceber política, o que leva a inúmeras

comparações entre este e o ex-presidente Getúlio Vargas por sua forte influência

nas massas, caráter diferenciado da sua sucessora Dilma Roussef. Mesmo no

sistema democrático as práticas eleitorais estão sempre sendo revistas e

reelaboradas.

1.2 A prática do Sistema Eleitoral

As eleições realizadas de 1532 até 1821 seguiam basicamente o modelo

das ordenações do reino, que estabelecia que as eleições brasileiras fossem

realizadas nos padrões das que aconteciam em Portugal. Segundo Ferreira, estas

regras geriam as votações para a escolha dos conselhos ou governos municipais até

1828.

O voto era universal e indireto. O “povo” ia até o escrivão e dizia seis nomes,

sem que ninguém mais ouvisse, os seis escolhidos, no geral homens mais velhos e

respeitados, da localidade, por sua vez escolheriam os oficiais representantes da

Câmara. Que eram vereadores, juízes, escrivães, almotacéis, procurados,

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30

tesoureiros, enfim toda a equipe que iria compor o quadro administrativo da vila ou

cidade.

Por fim os nomes eram entregues ao juiz mais antigo, o qual fazia um

juramento de guardar segredo sobre os nomes selecionados até que chegasse a

hora de assumirem seus cargos. No processo que ficou conhecido por “apurar a

pauta” o juiz iria colocar os nomes enfileirados por ordem de ano de posse daqueles

que iriam ocupar os cargos nos próximos anos.

“O juiz diante de um máximo de 27 nomes para vereadores (caso de três vereadores num conselho), teria de escolher nove nomes, dividindo-os de três em três, para cada ano de mandato. E, ao escolher três, deveria fazê-lo de tal maneira que não fossem inimigos entre si, nem fossem todos bisonhos, etc., tudo isso „para que a terra seja melhor governada;‟ dessa maneira o juiz observava para cada cargo de oficial da câmara. Ficava então a pauta organizada. „E esta pauta será assinada pelo juiz, cerrada e selada‟.” (FERREIRA, 2001 p. 47)

Os mandatos dos oficiais tinham a duração de um ano, embora estas

eleições só se realizassem a cada três anos, por isso em cada votação eram

escolhidos os corpos administrativos dos próximos três anos. Estes nomes ficavam

selados e guardados e só eram abertos em público para que não deixasse dúvidas

de que seu conteúdo não havia sido violado.

Em 1821 foram realizadas as primeiras eleições Gerais no Brasil, portanto,

as regras necessitavam de alterações, pois eram pensadas à nível local, tornando-

as inviáveis para eleições daquele porte. A fim de escolher as Cortes de Lisboa, os

deputados seriam votados pelo povo de Portugal, Algarve e Estado do Brasil. Adota-

se a Lei Eleitoral estabelecida pela Constituição espanhola de 1812, com pequenas,

que sofre pequenas alterações devido às particularidades do Império lusitano.

De acordo com Ferreira o Brasil deveria eleger 77 deputados, não se falava

em partidos, já que estes não existiam ainda no Brasil. E a escolha se daria em

quatro graus:

“O povo em massa escolhia os compromissários; estes, escolhiam os eleitores da Paróquia, que por sua vez, escolhiam os eleitores da comarca; finalmente, estes últimos procediam à eleição dos deputados.” (FERREIRA, 2001 p. 101)

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Essas eleições demonstraram-se extremamente demoradas e acabaram

elegendo somente 72 deputados.

Através das Instruções de 1822 a votação continuaria indireta e em 2 graus:

“o povo escolhia os eleitores, os quais, por sua vez, iriam eleger os deputados”

(FERREIRA, 2001 p. 121), não existia registro dos eleitores de primeiro grau,

apenas dos de segundo, estes que não poderiam ser assalariados, com exceção de

guarda livros, primeiros caixeiros de casas comerciais e empregados da casa real (

de alto escalão).

Os eleitores recebiam as listas ou cédulas, onde deveriam ser escritos o

nome dos seus escolhidos e sua assinatura, os que não sabiam escrever iam até a

mesa e sopravam ao secretário em quem dava seus votos, e as cédulas eram

marcadas com um cruz. Os eleitores de primeiro não precisavam apresentar

nenhum documento de identificação, quem deveria atestar sua identidade eram os

padres.

A Lei de 01 de Outubro de 1828, estabelecia que as Câmaras das cidades

deveriam ter 9 membros e das vilas 7, mais um secretario, e as eleições deveriam

ocorrer de 4 em 4 anos, com a mesma duração para os mandatos, aqueles que

poderiam votar, podiam também ser votados, esta lei traz algumas inovações

interessantes como a solicitação de que os párocos afixassem na porta das Igrejas

quinze dias antes das eleições o nome de todos que estavam aptos a votar; além da

votação em um grau apenas, na medida em que os eleitores receberiam duas

cédulas numa colocariam seus votos para vereadores e na outra para juiz e

suplente, aquele que não pudesse comparecer poderia mandar seus votos em

cartas fechadas, que seriam depositadas na urna. Através desta lei, analfabetos

tinham direito ao voto, já que as cédulas não precisavam ser assinadas.

A apuração dos votos para os cargos de juízes e suplentes eram apurados

na hora em que terminasse a votação, já os vereadores só seriam apurados quando

enviados ás Câmaras, entre os vereadores eleitos o mais votado seria o presidente

da casa.

Segundo Ferreira (2001, p. 169), as eleições ocorriam de forma direta a nível

local e indireta (nos colégios eleitorais) para senadores e deputados.

Em 1842 foi abolida a votação por procuração, mas os eleitores continuam

sem títulos eleitorais.

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32

A lei de 1846 iniciou o processo de eleições simultâneas, estas, em todo o

império deveriam ocorrer no mesmo dia, os párocos também deixam de integrar as

mesas de votação, passando a ser consultados somente quando houvesse dúvidas

com relação a identidade do eleitor.

Em 1855 a Lei dos Círculos retoma a eleição em dois graus “o eleitor de 1º

grau elegia os eleitores de paróquia (2º grau), e estes, reunidos na cabeça dos

distritos elegiam três deputados (FERREIRA, 2001 p. 197)”.

Com a lei do terço de 1876, instituía-se a necessidade de alcançar

coeficiente partidário, embora nem sempre estivesse muito claras as condições em

que se elegiam as maiorias e minorias.

Desde 1822 já existiam títulos eleitorais para votantes em 2º grau, a partir de

1875 passou a existir também para os eleitores de 1º grau e com a Lei Saraiva

grandes inovações foram introduzidas nas práticas eleitorais do Brasil, a exemplo da

regulamentação das eleições por oficiais de justiça, excluindo de uma vez o

elementos religiosos, principalmente no que concerne a práticas como a realização

de missas entre as etapas eleitoreiras, o voto era secreto e as eleições

aconteceriam de forma direta.

Em 1891, após a Proclamação da República, foi excluído o voto censitário,

ou pecuniário, estabelecido desde a Constituição de 1824, porém ainda não podiam

votar analfabetos, mulheres e homens menores de 21 anos, e o voto deixava de ser

secreto, tornando o terreno fértil para a prática do voto cabresto.

Carvalho destaca um personagem, no mínimo folclórico que passaram a atuar

nas eleições:

Aí entrava outro personagem importante: o "fósforo". Se o alistado não podia comparecer por qualquer razão, inclusive por ter morrido, comparecia o fósforo, isto é, uma pessoa que se fazia passar pelo verdadeiro votante. Bem-falante, tendo ensaiado seu papel, o fósforo tentava convencer a mesa eleitoral de que era o votante legítimo. O bom fósforo votava várias vezes em locais diferentes, representando diversos votantes. Havia situações verdadeiramente cômicas. Podia acontecer aparecerem dois fósforos para representar o mesmo votante. Vencia o mais hábil ou o que contasse com claque mais forte. (CARVALHO, 2002 p. 34)

Carvalho ainda alude ao perigo que se tornou o ato de votar durante a

Primeira República, o cidadão deveria depositar uma cédula na urna, assinar outra,

Page 33: O caso da urna 40. um estudo sobre cultura politica

33

esta que seria rubricada pelo mesário, muitas das vezes diante dos capangas dos

chefes locais.

O Presidente Wenceslau Brás, foi o responsável pela sanção da Lei n. 3.139,

de 1916 que dava ao Poder Judiciário o preparo do alistamento eleitoral, este ato

pode ser visto como resultado dos ajustes feitos pela lei Saraiva.

A partir de 1932, foi instituído no Brasil o voto das mulheres, o sistema de

representação proporcional, o voto voltava a ser secreto, um avanço ímpar foi a

criação da Justiça eleitoral. Em 1934 a maioridade eleitoral caia de 21 para 18 anos,

interessante frisar que até este ano os menores de 21 anos casados, magistrados

ou com cargos públicos podiam votar. Essas medidas tinham o intuito de

acompanhar as mudanças mundiais, como a questão das mulheres e por fim as

falcatruas características da chamada 1ª República.

O golpe de 1937 fez com que os brasileiros ficassem oito anos sem votar, a

constituição foi reformulada, esta de cunho extremamente autoritário, interrompendo

de forma abrupta a prática eleitoral no Brasil, que somente seria retomada em 1945.

O ano de 1955 após um período conturbado da política brasileira foram

implementadas duas novidades nas eleições: “Uma lei determinou que o título fosse

vinculado a uma seção eleitoral e voltou a exigir foto do votante – idéia prevista já no

código de 1932”. (NETO, 2006)

Em 1964 por meio do golpe militar foi suprimido o voto direto a presidente,

senador e prefeito. As eleições de 1972 a 1988 aconteciam de forma direta a nível

local, e indireta no âmbito federal, ou seja, brasileiros, maiores de 18 anos, sem

distinção entre os sexos e alfabetizados votavam através de chapa em seus

candidatos a prefeito, vereador, deputados e senadores, estes por sua vez através

de colégios eleitorais elegiam os presidentes da República.

A Constituição cidadã, como passa a ser chamada segundo Carvalho a

Constituição de 1988, institui o voto para maiores de 16 anos e analfabetos (estes

tinham adquirido o direito ao voto desde 1985), sendo que estes últimos juntamente

com os maiores de 70 anos e jovens de 16 a 18 anos tem caráter facultativo.

Em 1996 as urnas eletrônicas começam a ser utilizadas em Sergipe e no

Distrito Federal e no ano 2000 todo o Brasil passa a ter eleições informatizadas, o

primeiro país do mundo a promover este tipo de votação, o que agilizou todo o

processo eleitoral, desde tornar mais rápida a votação até apurar em questão de

segundos milhares de urnas, as eleições de 2008 na cidade de Santa Luz que

Page 34: O caso da urna 40. um estudo sobre cultura politica

34

contava com aproximadamente 21.000 votantes distribuídos entre zona rural e zona

urbana, teve a votação encerrada às 17:00 horas às 18:00 já havia sido apurado o

resultado para prefeito em praticamente todas as urnas e estavam decididas as

vagas 8 das 9 vagas para vereadores.

Contudo o sistema eleitoral eletrônico já recebe muitas críticas, uma delas é

com relação a segurança, pensando nisso desde as eleições de 2010 o TSE vem

implementando o sistema de identificação biométrico, a fim de evitar fraudes, mais

de 1 milhão de eleitores já utilizaram deste avanço e o TSE estima que em 2012 já

terá habilitado mais de 10 milhões de eleitores.

O eleitor brasileiro já acompanhou diversas mudanças desde seu alistamento

eleitoral até a prática em si da votação, todas essas experiências acumuladas ao

longo do tempo, ainda que marcada por períodos de recessão das liberdades

individuais são positivas apenas, quando tende a elevar a prática cidadã brasileira e

o amadurecimento político no país.

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35

2- DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO POLITICA NO BRASIL

Não parece haver mais motivos Ou coragem pra botar a cara pra bater

Um silêncio assim pesado Nos esmaga cada vez mais

Não espere, levante Sempre vale a pena bradar

É hora Alguém tem que falar

(Todos estão mudos, Pitty)

2.1 Uma ideia de cultura política no Brasil

O ser humano é essencialmente social, ou seja, ele tem a necessidade de

viver em sociedade e para que esta convivência aconteça de forma harmônica é que

surge a política, como forma de gerir e permear as interações entre o homem e o

meio em que vive. Parte-se então da ideia de que o homem é um ser social e

necessita em suas relações cotidianas do fazer político para integrar-se ao meio ao

qual pertence. O espírito desta ideia está presente no seio da sociedade desde a

fundação da democracia grega, onde a política aparecia como uma forma natural de

relação entre os homens, ideias amplamente difundidas por grandes filósofos

gregos, a exemplo de Aristóteles e Platão, assim como ao longo de toda história.

Mas por que então esta fórmula aparentemente bem resolvida, não se aplica

com facilidade a sociedade brasileira? Por que cada vez com mais frequência as

pessoas se abstém de seus fazeres políticos, já que é uma necessidade inata ao ser

humano? Por que os cidadãos cada vez sentem-se mais desiludidos com as práticas

políticas, mesmo em épocas de relevante liberdade?

Para elucidar as questões acima, recorreremos antes a análise acerca do

termo cultura política e do próprio sentido de democracia; utilizando a definição de

cultura política deixada por Almond e Verba (Apud BORBA 2005, p. 6), define-se

pelas “orientações especificamente políticas, às atitudes com respeito ao sistema

político, suas diversas partes e o papel dos cidadãos na vida pública”. Partindo desta

concepção qualquer atitude do cidadão para com a sociedade trata-se de uma

atitude política, desde quando se observa as contas públicas, ou até mesmo quando

Page 36: O caso da urna 40. um estudo sobre cultura politica

36

se posiciona contra ou a favor as transformações da sociedade em que vive e expõe

estas ideias, desde as rodas informais como as conversas de esquina, até os

círculos apropriados de discussão como a Câmara de vereadores, por exemplo.

Contudo quando este se posiciona sozinho ou somente em meios informais,

tende a relativizar suas queixas, enquanto que quando se posiciona juntamente com

um grupo tende a tornar essas reivindicações mais fortes, mais incomodas logo a

opinião deste mais influente. Além do fato de que quando o homem integra um

agrupamento desenvolve neste o sentimento de pertencimento, o que é favorável à

participação e esta por sua vez essencial para a concretização e o fortalecimento da

democracia.

Enquanto que se entende por democracia, o governo da supremacia do povo,

a soberania popular superior que o próprio Estado e toda burocracia de uma forma

geral, ao menos é este o sentido dado nos tempos de Péricles na Grécia Antiga,

entretanto torna-se demagogia falar em soberania popular uma vez que, a

participação do povo na vida política do país, acontece de forma tímida e

desarticulada, tornando vazias democracias em que os índices de cultura política da

população não compreende uma parcela considerável da população a exemplo do

Brasil e outros países mais. E quais mecanismos seriam necessários para garantir o

exercício da democracia de forma coerente pelo povo?

Vivemos na era do consumismo desenfreado, onde o ter cada vez mais ocupa

o lugar do ser, uma parcela da população tem o que quer, necessita e ainda muito

do que não precisa, enquanto que outra imensa parcela, vive ou melhor sobrevive

do que lhe resta da divisão desigual de riquezas no planeta. Assim, a esta camada

miserável, que são a maioria, as preocupações políticas não tem muito espaço, já

que o problema diário de suprir suas necessidades básicas e da família é assunto

suficiente para lhe ocupar todo o escasso tempo. E quando a política entra de

alguma forma no cotidiano dessas pessoas a necessidade de garantir uma

existência de forma mais tranquila do ponto de vista material é mais gritante do que

a preocupação de garantir o bem estar da comunidade na qual está inserido.

“A busca do bem-estar material pode ocupar o lugar da ação política, e em vez de termos indivíduos preocupados com os assuntos políticos da comunidade, teremos indivíduos egoístas e apáticos, sem nenhuma preocupação com o outro.” (ROSENFIELD, p.21)

Page 37: O caso da urna 40. um estudo sobre cultura politica

37

Assim, para se falar em participação popular e democracia torna-se

impossível dissociar esta discussão do caráter econômico, como também não há

como garantir o exercício da democracia sem que esteja garantido o acesso da

população as riquezas produzidas pela nação. José Murilo de Carvalho (2000),

divide a cidadania, como sendo a expressão de três direitos básicos: “civis, políticos

e sociais” (p. 9) esta somente chegaria a seu apogeu com a satisfação plena de

todos eles. O primeiro se caracterizaria pela promoção das liberdades individuais,

teria sido uma necessidade decorrente após o surgimento do capitalismo, tenderia a

tornar a justiça acessível e igual a todos. O segundo concretiza-se no ato de

participar no governo da sociedade, poder reunir-se, opinar, reivindicar, votar e ser

votado. Por fim o último, seria a garantia de que todos os indivíduos da sociedade

tem acesso a educação de qualidade, lazer, saúde, alimentação, enfim, “garantem a

participação na riqueza coletiva” (2000, p. 10)

Somente com a efetiva contemplação de tais direitos é que se pode falar,

segundo Carvalho em cidadania, podemos dizer que o último é o mais distante da

sociedade brasileira, uma vez que a maior parte da população vive em estado de

miséria, numa constante privação dos meios básicos de sobrevivência

Aí temos a germe de muitos problemas que assolam o cenário público no

país, como os incontáveis casos de corrupção, de auto beneficiamento, nepotismo,

dentre outras práticas ilícitas utilizadas contra os cofres públicos. Alguns podem

alegar que muitos dos problemas citados são recorrentes em políticos que não se

encontram neste patamar econômico, integrantes de uma classe privilegiada,

detentora tanto do poder político, quanto do econômico, enraizada fortemente desde

os primórdios da formação administrativa da sociedade brasileira, Faoro os

reconhece como descendentes dos latifundiários que foram beneficiados com o

recebimento de terras na germe da formação brasileira, que através de manobras

político-econômicas conseguem se manter no poder.

Para tal, além da influência econômica, usa como artifício de sustentação as

bases conseguidas a partir de pequenas esferas de poder, como a conquista do

máximo de relações possíveis, desde as zonas geograficamente mais próximas à

sua área de atuação até as mais distantes. Desse modo as complicadas redes de

relações políticas vão se firmando, sustentadas por interesses mútuos, que

enquanto um busca aumentar seu nível de poder, o outro vê neste um alicerce para

galgar favores, cargos, elevando ao mesmo tempo seu próprio status político.

Page 38: O caso da urna 40. um estudo sobre cultura politica

38

Durante o processo de consolidação do reino português, no século XIV, como

afirma Faoro (2001) o rei se via obrigado a sustentar com cargos oficiais uma

nobreza parasitária, que cultivava o ócio a fim de expandir sua esfera de poder a

esta classe, se vendo obrigado a gastar grande parte do seu soldo real com o

pagamento de ministros e servidores, que em contrapartida representariam a

extensão de sua rede de ligações ainda mais. Este tipo de relação vai ser

transportado ao Brasil, ainda que apresentasse aspectos extremamente conflituosos

devido à falhas como, a corrupção gerada pela troca favores, o fato de ser muito

dispendioso, em função da grande quantidade de dependentes que relações deste

tipo podem gerar.

Assim, apesar dos aspectos negativos decorrentes, como a perpetuação do

patrimonialismo, que segundo Faoro (2001, p. 38) define-se por prender os

servidores numa rede patriarcal na qual eles representam a extensão da casa do

soberano, sendo o soberano capaz de conduzir a economia do país como se fosse

sua; e a utilização do mandonismo, estes acordos continuaram permeando o fazer

político brasileiro, é fácil encontrar inúmeros acontecimentos que atestam que

mesmo séculos após o rompimento das relações entre Brasil e Portugal estas

estruturas herdadas ainda se fazem presentes no âmbito político nacional,

evidenciado principalmente no decorrer dos processos eleitorais e nos resultados

dele gerados.

Práticas que continuam enraizadas no seio da sociedade brasileira, limitando

a poucos privilegiados, econômica e socialmente, ativos e participativos, conscientes

em todo o processo político brasileiro, a uma minoria paradoxal ao restante da

população, que mesmo estando em um Estado Democrático encontra-se excluída

de diversas formas dos fazeres políticos, desde os direitos mais básicos garantidos

pela Constituição de 1988 até os que exigem dos cidadãos algum conhecimento

técnico.

Amaral e Cunha (2002) vêem na sucessão de leis do direito eleitoral brasileiro

o principal entrave na questão da inserção do povo neste processo, leis

categorizadas pelos mesmos como, tendenciosas a modificação, conforme a

necessidade e contrárias a tradição democrática, na medida que mostram-se

regulamentadoras e cerceadoras.

Então, quais as formas de participação possíveis no Brasil?

Page 39: O caso da urna 40. um estudo sobre cultura politica

39

Participar significa fazer parte, tomar parte, ser parte de um determinado todo. Mais especificamente, poderíamos dizer que participar pressupõe a existência de um sujeito politicamente capaz de influenciar e intervir em processos de construção e afirmação pública e coletiva de direitos, identidades e práticas de emancipação social. (ARAÚJO; CARVALHO; SAMPAIO E DIAMANTINO, 2004)

Certamente outras respostas a este questionamento seriam plebiscitos,

reuniões (da Câmara, senado, dos partidos, de bairros, comunidades rurais),

agremiações, debates, o acompanhamento das prestações de contas públicas e por

fim o voto. Porém, ao investigarmos a fundo quais destas formas de participação

citadas acima nós comumente nos utilizamos veremos que o voto é praticamente o

único meio, sem nunca desmerecer o seu valor, que segundo Rosenfield, constitui-

se numa “forma de validar periodicamente os princípios e valores, nos quais a

sociedade está assentada” (2003, p. 61), mas o cidadão não pode valer-se apenas

dele, já que esta significa a “validação”, o que pressupõe que houve várias etapas

anteriores a ele. Justamente neste sentido a ideia de cerceamento provocado pelas

leis, proposto por Amaral e Cunha, encontram bom acolhimento, já que torna-se

difícil que a população tenha “consciência” de sua importância, uma vez que, os

meios legais a privaram desta prática, demonstrando claramente de que forma se dá

o controle social por meio do estado, conforme a prerrogativa Durkheimiana.

Portanto, partindo do princípio que o voto é a cristalização, o resultado de

algo, entende-se que foi necessá

rio percorrer um caminho até chegar a ele, caso contrário o voto também fica

sem significado. E esta construção deve estar presente no cotidiano, em coisas

fáceis, simples e acessíveis a maior parte da população, como o que foi citado

anteriormente.

Uma das explicações dadas para que o “povo” não trilhe este caminho é a do

desinteresse, contudo, não aceitamos aqui uma suposição deste tipo sem questioná-

la, quais motivos tornam a política desinteressante para o cidadão brasileiro?

Quando conversamos sobre este assunto florescem espontaneamente

inúmeras soluções a esta dúvida, a primeira delas é a corrupção que se acompanha

diariamente nos noticiários. Todos os dias somos bombardeados com escândalos

públicos que levam a população a noção de que políticos e corrupção são

sinônimos, ou que um completa o sentido do outro, como demonstram os dados da

pesquisa abaixo:

Page 40: O caso da urna 40. um estudo sobre cultura politica

40

A mesma pesquisa demonstra dados alarmantes quando questionada a

eficiência dos políticos, grande parte dos entrevistados 38,8% acredita que políticos

honestos não sabem governar, contra 55,4% que discorda disso e 39,6% acredita

que é melhor um político que faça muitas obras ainda que roube um pouco,

demonstrando o ponto de alienação a que se encontra a sociedade atualmente,

explicitando pouca, ou nenhuma preocupação com o comprometimento daqueles

que conduzem a vida pública do país e que são escolhidos para representar os

interesses do cidadão.

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41

Page 42: O caso da urna 40. um estudo sobre cultura politica

42

A divulgação de estudos como este demonstra que o problema, não está

somente na corrupção dos políticos, mas também no fazer e pensar política da

população, ainda que seja inegável o caráter destruidor da corrupção na sociedade,

conseguimos ver aí algo ainda mais grave, a passividade popular, que reconhece

um problema deste âmbito e o aceita, pior, acredita que este é um mal que

consegue conviver. Matizando teses como a de Amaral e Cunha, de procurar um

culpado para todo o mal, no caso deles, algoz são as leis eleitorais, que, por um lado

nunca favoreceram a real participação, contrárias a tradição democrática e por outro,

“as leis vão para onde querem os reis” (2002, p. 11), numa prerrogativa da

corrupção iniciando-se pela transmutação do que deveria ser a garantia dos

cidadãos frente a mandos e desmandos dos que detêm o poder nas mãos.

A passividade nos remete a outro problema, o fator educacional, Francisco

(2006) aponta ideias divergentes com relação a este indicativo, já que, os altos

índices de escolaridade nem sempre condizem com uma sociedade participativa,

“em países como os EUA, onde nem se pensa em medir o nível de escolaridade em

por taxa de alfabetização e sim por tempo de escolaridade” (p. 16) a população

mostra-se apática diante dos mecanismos de intervenção, ao mesmo tempo

reconhece que a situação do Brasil é indubitavelmente diferenciada, já que, há um

grande número de analfabetos, modificando o direcionamento da discussão.

Carvalho (2002) suscita uma reflexão semelhante quanto discorre que a cidadania

surgiu no contexto da revolução industrial, quando grande parte da população

londrina era formada por analfabetos e o governo viu a necessidade de escolarizá-

los para que estes soubessem interagir com as novas formas de governo

participativas que surgiam no seio da sociedade capitalista.

Ainda segundo Carvalho (2002), este teria tornado o cidadão inglês diferente

do cidadão brasileiro, que não se vê amparado pelo que é direito social, levando a

criação de uma sociedade que pouco reflete, intefere e opina.

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3- ELEIÇÕES E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA EM SANTA LUZ

“É da criatividade, da capacidade de inventar novas formas de expressão,

do fortalecimento de valores como solidariedade e identidade

que depende o sucesso da participação e, em última instância,

a construção de uma sociedade melhor” (ARAÚJO, CARVALHO, SAMPAIO, DIAMANTINO,

Construindo a participação política no Brasil)

3.1 O fazer político em Santa Luz a partir de sua emancipação

Santa Luz teve sua emancipação política em 1935, quando deixou de

pertencer ao Município de Queimadas, embora mesmo antes de tornar-se autônoma

a cidade já tivesse conhecido a força e influência da política dos “coronéis”. Os

primeiros são os registros da instalação da família Leitão no então arraial, esta que

chega a ser citada por Oleone Fontes em seu livro o treme-terra, quando narra a

passagem do “corta cabeças”, como era chamado o General Moreira César, pela

estação ferroviária do arraial de Santa Luzia, e o mesmo pergunta aos populares se

“é por aqui que vive um tal Coronel José Leitão” e quando recebe resposta

afirmativa, diz que ao regressar tem contas a acertar com o mesmo, fato que nunca

ocorreu por ter sido morto em combate.

O fato é que a família Leitão, juntamente com outras, que tinham seu status

ligado a posse de terra ou das patentes militares, a exemplo, da Góes, Lopes e

Cardoso da Costa vão iniciar um longo período em que o poder da cidade estava

restrito às mãos de poucos, iniciando-se em 1935 com sua emancipação e tendo

seu desfecho nas eleições de 1988, com a posse pela primeira vez de um candidato

que não tinha vínculo algum nem com as famílias, nem com seus apadrinhados.

A primeira eleição realizada em 1933 elegeu Ezequiel Cardoso da Costa

como prefeito do distrito, seu pai ostentava um cargo do exército, além de serem

proprietários de terra; é concedido a Ezequiel o mérito de ter iniciado a plantação de

sisal na cidade, o que iria torná-la nos anos 70 e 80 uma das maiores exportadores

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44

de sisal do Brasil, a família contava ainda com diversos imóveis espalhados pela

cidade.

As eleições neste ano foram realizadas de acordo coma legislação vigente,

mulheres já podiam votar, embora, segundo relatos, ainda fossem uma parcela

mínima e era vetada a participação de analfabetos.

Durante alguns anos as famílias Cardoso da Costa e Góes se revezaram no

poder, contudo, os sucessores dos primeiros integrantes das famílias não

conseguiram sustentar-se no poder, fato que segundo relato da Sra. Lourdes deve-

se a muitas sucessoras do sexo feminino, que não receberiam boa aceitação como

candidatas, o que estas nem tentaram e os homens que havia na família foram

“perdendo gosto pela política” cedendo espaço para a família Leitão. Como já citado

anteriormente estes gozavam de um status elevado na cidade, além da tradição

militar, contavam com muitas posses de terra, além de se constituir numa família de

“doutores”, já que muitos deles eram formados em medicina ou bacharéis em direito,

o que os levava a uma posição satisfatória, já que naquela época não era

interessante entrar em conflito com um desses doutores, já que eram os únicos de

formação na cidade.

Após sucessivas eleições vencidas pela família, foi lançado por eles mesmos

como candidato a prefeito em 62 o seu afilhado político Nilton Oliveira Santos, este

que mais tarde acabou rompendo com seus mentores e formou um grupo próprio,

suplantando o poder que antes era da família Leitão.

Segundo os entrevistados Joelcio Martins da Silva, Orlando Batista e Samuel

Hedene Macedo, Nilton tratava-se de uma figura ambígua, todos lhe atribuem

qualidades como a organização da cidade, no ponto de vista de calçamentos de

ruas, construção de praças, entre outras obras que beneficiavam a população, mas

por outro lado, todos descrevem-no como um homem extremamente autoritário e

que não poupava o uso da força a fim de manter a “ordem”.

Por todos eles descrito como o representante de Antônio Carlos Magalhães

em Santa Luz, tinha grande influência nas decisões que vinham da capital do

Estado, o que vai explicar, em partes os acontecimentos decorrentes das eleições

de 82, controlou o cenário político luzense de 1962 a 1988, a pulsos firmes. Todos

os prefeitos eleitos durante este período foram fruto de sua indicação.

À época os mecanismos de luta eram escassos e os riscos muito altos, o que

levava a muitos se absterem da participação, em contrapartida estes mesmos

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empecilhos eram a motivação de outros poucos. Os analfabetos não podiam votar,

as mulheres não formavam grupos organizados de frentes de luta, embora, existisse

algumas corajosas que integravam o grupo de oposição da cidade, o sindicato que

existia era o dos “patrões” onde se agrupavam os fazendeiros locais, os mesmos

que controlavam a política, com o intuito da formação de um fundo de

aposentadoria, então com seus interesses já bem assistidos pelo grupo político no

poder da época.

Assim, restava o movimento de jovens e estudantes, como única frente, de

fato oposicionista na cidade. Devemos observar que esses não eram oriundos das

classes mais baixas, pelo contrário a maioria dos que lutavam contra a opressão a

partir dos anos 60 e 70 eram filhos de fazendeiros e comerciantes, com algumas

exceções.

Em verdadeiros atos de coragem e desafio buscavam formas distintas de

chamar atenção da população, um exemplo, é o primeiro comício público organizado

pelo grupo, segundo relato de Samuel, Nilton estava realizando um discurso em

praça pública, com grande concentração de pessoas, quando os jovens que na

época contavam com poucas adesões ao MDB pararam um caminhão do lado

oposto da rua e começaram a chamar no “corpo a corpo” os integrantes da plateia

do então prefeito, dizendo a estes “ouviram o discurso, agora venham escutar a

verdade...”.

O ato chamou a atenção como era de se prever, embora muitos ainda

tivessem medo de se expor participando do comício da oposição, além de expor

totalmente os membros do grupo, que passaram a receber fortes ameaças, algumas

delas concretizadas. De acordo com relato de Joelcio, além de muitos

espancamentos que se tornaram frequentes, era comum também a prática da

fabricação do flagrante, que acontecia da seguinte forma:

Os policiais muitas vezes para não chamar atenção às arbitrariedades cometidas, jogavam sua própria arma no chão e afirmavam que os integrantes da oposição eram os portadores, as prisões eram efetuadas na sexta-feira e os indivíduos eram soltos no domingo a noite, ou simplesmente, presos numa noite e soltos na manhã seguinte, a intenção era mesmo evitar que estes se reunissem, estas prisões não eram nem sequer registradas. (Joelcio, entrevista 26/07/2011)

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46

Outra forma de chamar a atenção da população, era a fabricação e circulação

do folhetim “linguarudo”, produzido pelos estudantes oposicionistas da época, que

levava sempre a ideia de denúncia dos atos do governo da época. Criticavam desde

o prefeito, até o presidente, mas mantinham sua identidade em sigilo, temendo mais

perseguição, e segundo Samuel, temendo pela própria vida.

A primeira rádio legalizada da cidade surgiu a partir do ano 2000, não existia

rede de TV local, jornal e revista escritos eram somente os que circulavam da

capital, a rádio mais próxima, que tinha grande aceitação por parte da população era

a Sisal de Conceição do Coité, contudo, segundo Joelcio as portas desta sempre

estiveram fechadas para o MDB, posteriormente PMDB de Santa Luz, já que era

controlada pelo grupo apoiado por ACM, logo esta era favorável somente ao PDS.

Um dos artifícios utilizados para o PMDB conquistar público era a visitação às

casas, prática conservada até hoje durante as campanhas por todos os partidos.

Joelcio conta que nas primeiras visitas deu muitas vezes “com a cara na porta”, uma

vez que era grande o temor de ser visto recebendo um integrante da oposição em

sua casa, o que se tornou um obstáculo, mas que foi aos poucos quebrado com a

abertura política que ia acontecendo em todo o país.

A eleição de 82, que será retratada no próximo tópico, transformou a forma de

interação do povo com o ato de votar. As campanhas tornaram-se mais

participativas, percebe-se um acirramento maior entre grupos opostos. A população,

ainda que de maneira pouco ideológica, escolhia um lado e o defendia a todo custo.

A revista panorama de 1983, cita a reação provocada pela nova eleição realizada na

urna 40 na população. Quando muitos aplaudiam, outros vaiavam os eleitores que

chegavam para votar, a participação era imensa, muitos que antes se escondiam por

medo, pareciam agora perceber um outro valor do ato de votar.

Some-se a isto o fato de que um único voto fazia a diferença, o que tocava os

eleitores em sua individualidade. Francisco (2006) afirma a importância da inserção

do cidadão em grupos para a efetivação da participação e para que os anseios de

cidadão sejam atendidos, o caso de Santa Luz caminha na contramão desta ideia, já

que foi a individualidade exacerbada conseguida pela situação que ampliou a

participação e os debates políticos na cidade, o ex-prefeito Joelcio vê neste exemplo

um dos diferenciais da população luzense para a população das demais cidades da

região, o mesmo cita Santa Luz como um caso em que a população interage com a

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política, o que pode ser atestado devido a uma dinâmica maior nas eleições quando

comparada a cidades vizinhas.

Devemos apontar que esta participação elevada é mais motivada pelas

paixões de grupo do que pela consciência política propriamente dita, o que não

diminui a relevância da interação política-indivíduo, tendo em vista que se reconhece

a prática como única forma de se chegar ao aperfeiçoamento, de acordo com

Amaral e Cunha.

A década de 90 foi controlada pelo PMDB, tendo dois mandatos de Joelcio

Martins da Silva e um de Zenon Nunes, também integrante do partido, mas que

acabou rompendo com o mesmo durante seu mandato; o grupo se sustentou no

poder durante 16 anos, acompanhando as mudanças trazidas pela Constituição de

1988 e a abertura democrática que vinha acontecendo desde 1985, essas

transformações modificaram também a forma de conceber participação política.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. [...] Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular. (Trecho da Constituição de 1988)

Novas formas de intervenção se tornaram palpáveis a partir do que era

garantido pela Constituição, em Santa Luz surgiram os sindicatos, como da pedra,

dos trabalhadores rurais, dos professores, entre outros, meios que tendem a

aumentar a interação do cidadão com a sociedade, além de terem crucial

importância, na medida em que possam ser meios, quando utilizados da maneira

correta, de levar o indivíduo, segundo Rosenfield, a pensar no social, “já vivemos

num mundo tão individualista”. (p. 27, 2003) A associações ganharam forma e força,

apontando novos candidatos, saídos das próprias comunidades, principalmente

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após o ano de 2002, com a ascensão de Lula à presidência, embora sua existência

seja anterior a isto.

O movimento de mulheres é outro que a partir do ano 2000, ganhou

notoriedade, principalmente na zona rural, onde já existem diversas cooperativas e

associações promovidas pelas mesmas. Houve ainda a fundação e legalização de

uma Rádio Comunitária Municipal que serve aos interesses da população,

democratizando as notícias da cidade até os povoados mais distantes. Marcando um

novo ciclo na política luzense, mas que não pretendemos abordar neste trabalho,

que tem como intuito de no próximo item refletir sobre a participação nas eleições de

1982.

3.2 Eleições em 1982: Um estudo de caso

Durante os anos de recessão das liberdades individuais no Brasil as eleições

se davam de duas formas, a nível local, ou seja, para a escolha de prefeitos,

vereadores, deputados e governadores era utilizado o sistema de voto direto, onde o

eleitor ia às urnas e escolhia seus candidatos. Após a primeira etapa direta, os

governantes escolhidos pelo voto popular, elegiam o presidente da República,

coexistindo o sistema direto e indireto de votação. Quanto aos partidos, durante os

primeiros anos de ditadura existia o sistema bipartidarista, contando com o partido

do governo, Arena e o MDB, que funcionava teoricamente como oposição, acusado

por muitos de atuar mais como um partido de fachada, que servia para mascarar o

“alijamento” democrático vivido no país.

Em 1968, o presidente Costa e Silva decretou o Ato Institucional número 5, o AI-5, que deu plenos poderes ao governo. O Congresso foi fechado e diversos parlamentares tiveram seus direitos cassados. Partidos políticos foram extintos e o bipartidarismo foi adotado no País: foram criados a Arena, que reunia partidos do governo, e o

MDB, que aglutinava as "oposições". (CÂMARA. Anos 60 e 70: ditadura e bipartidarismo)

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Mesmo assim, os que estavam no poder buscavam meios de assegurar que

os candidatos do MDB não ganhassem espaço suficiente ao ponto de que pudesse

de alguma forma ameaça a ordem vigente. De acordo com Fábio Wanderlei Reis o

MDB consegue, principalmente, nas eleições de 1974, grande adesão devido ao

apelo que seus candidatos faziam em relacionar a imagem do grupo, à ideia de

partido dos “pobres”, dos “trabalhadores”, enquanto que o Arena era relacionado à

elite, imagem que ganha aceitação em parte, devido a “desinformação com respeito

a certos aspectos da conjuntura político-econômica do país. (1975, p. 148/149)

Mesmo após a restauração do pluripartidarismo e consequente início de uma

lenta abertura política que viria a se concretizar nos anos seguintes, a ARENA, que

passou a se chamar PDS, continuou com práticas que tinham por finalidade limitar o

acesso dos políticos de oposição ao poder. Para tal, uma de suas estratégias, era o

fortalecimento de suas bases eleitorais, dos chamados “currais eleitorais” nas

pequenas cidades do interior, utilizando de todos os meios, muitos deles ilícitos, a

fim de ampliar e solidificar a rede de relações políticas do partido e de seus chefes

estaduais, fortalecendo consequentemente o poder central.

Essa situação de explosão eleitoral nas eleições legislativas em favor do MDB não pode ser extrapolada legitimamente para as eleições municipais, onde o âmbito do jogo político perde o caráter de confronto estadual ou nacional e se circunscreve à disputa local, dentro da qual torna-se clara a dependência do município com relação ao governo federal ou estadual. (TRINDADE, 1975 p. 176)

Pode-se tomar como exemplo as eleições municipais do ano de 1982 na

cidade de Santa Luz, cidade localizada no semiárido baiano, a 258 Km da capital

Salvador, que no ano contava com pouco mais de 10 mil votantes, mas que sentiu

de perto a força de um Estado patrimonialista, sedimentado através de práticas

ilícitas, embora corriqueiras durante os anos de ditadura militar, como o autoritarismo

e mandonismo.

Mapa extraído do google/imagens

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50

No início da década de 80 existiam três partidos em Santa Luz: O PP (Partido

Progressista), que encontrava apoio principalmente na classe média, tendo

integrantes que eram padeiros, pequenos produtores de sisal e pequenos

comerciantes locais, o PMDB, como passou a se chamar o MDB depois da

restauração do sistema pluripartidarista em 1979, que foi fundado e era controlado

por líderes estudantis locais que se auto intitulavam “vanguarda” e despontavam

como oposição mais atuante ao partido do governo na cidade, este que era

controlado por fazendeiros e pessoas de forte influência na sociedade luzense,

como os donos das “batedeiras de sisal”, principal fonte de renda da cidade na

época, a exemplo do Sr. Nilton Oliveira Santos, uma vez prefeito e inúmeras vezes

presidente da ARENA, posterior PDS, e segundo o depoimento de diversos

populares, representava a própria lei na cidade de Santa Luz. Todo este prestígio

provinha da “amizade” entre este e o Sr. Antônio Carlos Magalhães, figura central da

política a partir dos anos oitenta, cujo poder advinha de sua explicita adesão ao

regime militar.

A relação de apadrinhamento político de ACM com Nilton, a utilização da

máquina pública em favorecimento próprio e de seu grupo, além da perpetuação do

mandonismo e autoritarismo por pelo menos mais quatro anos tornaram-se

sinônimos dos acontecimentos que se desenrolaram durante as eleições de 82/83

em Santa Luz, assim como, em contramão dos acontecimentos a mudança de

posicionamento da sociedade luzense diante do ato de votar.

O PP e o PDS coexistiam em relativa ordem, os integrantes do PP eram mais

moderados, enquanto o PDS governava, o que incendiou os ânimos foram as

manifestações promovidas pelos criadores do PMDB em Santa Luz, Samuel

Macedo, Milton Secundino, entre outros. Atitudes provocativas, como o episódio do

primeiro comício público citado no item 3.1 deste trabalho, atos que chamaram

atenção de membros do PP até então moderados, levando-os a realizar uma fusão

com o PMDB, numa manobra política, onde muitos membros pediram ao mesmo

tempo, conforme pode ser observado em ofícios que foram expedidos com datas

muito próximas no ano de 1981, desligamento de sua filiação e automaticamente

realizavam sua adesão ao PMDB, dando o gás necessário para o lançamento da

candidatura a chapa majoritária ao cargo de prefeito concretizada na eleição de

1982.

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51

A campanha eleitoral de 82 já se iniciou marcada por corrupção, fraudes,

prisões, compra de voto e tráfico de influência. Em meio a este cenário o pleito para

a escolha de prefeito e vereadores veio a ocorrer em 15 de Novembro de 1982,

tendo como chapas majoritárias as candidaturas de Antônio Carlos Dias, apoiado

por Nilton, representando o PDS e Joelcio Martins da Silva, representando o PMDB,

o resultado deu a vitória ao candidato do PDS pela diferença de 1 voto, este

assumiu o mandato, mas governou por poucos meses tendo a eleição anulada por

se constatar que uma eleitora havia votado duas vezes, uma delas em sua seção e

outra na urna de número 40 no Colégio Nilton Oliveira Santos, onde esta era

mesária. Os peemedebistas há muito pediam pela anulação da eleição pela

diferença irrisória, o que não impediu a posse de Antônio Carlos Dias, esta anulação

só veio a acontecer quando o tio da eleitora, então com 19 anos denunciou o ato. A

eleitora, reconhecidamente vinculada ao PMDB, acabou sofrendo um processo por

seu ato e foi convocada uma nova eleição somente na urna 40.

No depoimento de três entrevistados, houve a repetição de um relato que me

chamou atenção, descrevem que diante da pressão exercida pelos pedidos de

anulação da votação por parte dos peemedebistas em função da diferença irrisória

da votação e da denúncia de fraude por parte do tio da eleitora que havia votado

duas vezes, com a determinação de uma nova eleição somente para a urna, Antônio

Carlos Magalhães teria chamado o então candidato do PMDB derrotado nas

eleições de 1982 para uma “conversa”, este compareceu com alguns de seus

companheiros de partido, onde ACM teria dito que não haveria a necessidade de

realização de uma nova eleição e que os mesmos poderiam resolver ali mesmo o

resultado, desde que o PMDB se aliasse a ele para governar a cidade. O grupo

decidiu não ceder ao pedido do mesmo.

Além do que foi citado do parágrafo anterior, outras situações, no mínimo

curiosas se desenrolaram a partir da anulação da eleição, a exemplo da posse do

secretario de administração. Segundo a lei, uma vez impugnado o prefeito e o vice,

deveria assumir a prefeitura, o presidente da Câmara de vereadores da cidade, fato

que não aconteceu. De acordo com Orlando Batista o presidente da Câmara não

inspirava confiança em Nilton, que utilizando-se de sua influência não permitiu que

este assumisse o cargo, conta que bastou uma ligação e o indicado por Nilton veio a

assumir provisoriamente o cargo de prefeito da cidade. O novo “prefeito”

empossado, ninguém menos do que o próprio secretário de administração, e nosso

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entrevistado Orlando, que nunca havia se candidatado a nenhum cargo eletivo, mas

era de inteira confiança do PDS. Esteve a frente da prefeitura por três meses tempo

hábil para a realização de um novo pleito. Esta situação declarou de forma

escancarada que o prestígio junto aos figurões e a necessidade de uma base forte

por estes mandatários, chegava a suplantar de forma abertamente a Lei.

Evidenciando que não havia limites a influência dessa elite local quando o quesito

era garantir que se conservasse as estruturas de poder vigentes, cauterizando toda

uma rede de poder que se iniciava nas bases, “nos currais eleitorais”, como o caso

de Santa Luz até o topo, passando pelos deputados, governador, senadores e

finalmente presidente, todos dependentes dessa sustentação.

O ato que desencadeou a anulação foi provocado por uma jovem militante o

que evidencia entre outros fatos, como foi notória a participação das mulheres nesta

eleição, de acordo com todos os entrevistados. A sra. Maria de Lourdes lembra aos

risos das estratégias praticadas pelas mulheres, que promoviam reuniões em praça

pública, onde costumavam entoar paródias como: ele é o candidato da pobreza; ele

é quem leva temos certeza; deixa as aguas rolar, as aguas vão rolar...;¹ Na tentativa

de conscientizar a população através de letras engraçadas, cantaroladas pelas

integrantes do movimento, além da visitação maciça às casas de populares, já que

estas muitas vezes conseguiam entrada mais fácil do que os componentes

masculinos do grupo.

Éramos muito meninas ainda e não tínhamos muita consciência, apesar de que todas participávamos das reuniões do PMDB, que eram bem animadas, eu era muito amiga de S (a menina que votou duas vezes), ela ficou com muito medo, precisou se esconder durante muitos dias, hoje não vive mais aqui e não gosta nem que toque neste assunto. (MATOS, 2010)

Visualizamos aqui dois posicionamentos diferenciados diante da intervenção

durante a realização da eleição, por um lado a Sra. Lourdes, comerciante, mãe de

família, divorciada, que conta que em muitas ocasiões que esteve com seu comércio

ameaçado por Nilton, por ser oposição e via na necessidade de mudança um meio

de garantir sua subsistência e de seus filhos, comprovando o que discutimos no

segundo capítulo deste trabalho, onde de acordo com Rosenfield numa sociedade

que a garantia material não se vê completamente saciada a democracia tende a se

enfraquecer, já que há dois caminhos, ou tornar-se apático diante da política, levado

¹ Paródia criada a partir da marchinha de carnaval “saca-rolha” de autoria de Alberto Ribeiro e João de Barro, em 1948.

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pela busca cotidiana de sustento familiar ou ver nesta uma forma de garantir acesso

a uma existência material mais tranquila. Enquanto que o depoimento de Matos

demonstra outra faceta tão problemática quanto à primeira, quando aparece aí a

participação sem conscientização, segundo a entrevistada elas iam “mais pelo

movimento” o caracteriza um verdadeiro esvaziamento ideológico e total falta de

preocupação com a sociedade por parte dessas jovens que pertenciam à classe

média.

A segunda eleição veio a realizar-se em 1983 e a demonstrar-se ainda mais

fraudulenta e problemática que a de 82, sendo necessária a chegada de “reforços

policiais” a pedido, logicamente do PDS, para que tudo corresse “dentro da ordem”.

Nos três meses que antecederam a nova eleição os grupos políticos em

questão passaram a percorrer a casa dos votantes desta seção, com promessas

como a doação de cargos de confiança, dinheiro e vantagens de uma forma geral,

ao mesmo tempo o cerco policial acirrava-se contra os militantes do PMDB que

quando encontrados nas ruas, bares ou reuniões tinham seus líderes detidos sob a

acusação de fazerem baderna, geralmente sendo soltos na manhã seguinte ou

passavam o fim de semana (conforme já citado), sem nem sequer serem “fichados”.

“A outra face do filhotismo é o mandonismo, que se manifesta na perseguição aos adversários: „para os amigos pão, para os inimigos pau”. As relações do chefe local com seu adversário raramente são cordiais. O normal é a hostilidade. Além disso, como é óbvio, sistemática recusa de favores, que os adversários, em regra geral, se sentiriam humilhados de pedir.” (LEAL, p. 39, 1975)

Durante este período, segundo BATISTA foram distribuídas 250 máquinas de

costura, enviadas pelo próprio ACM, além de inúmeras remessas de dinheiro a

construção da memória popular é um processo interessante, muitos afirmam que

vinham sacos de dinheiro trazidos pelo trem, fato que nosso entrevistado não

confirma. ACM juntamente com João Durval e representações regionais como o Sr.

Hamilton Rios, líder político de Conceição do Coité chegaram a vir a cidade durante

a realização desta segunda votação.

Meu pai era homônimo de um senhor que era eleitor da urna 40, ele mesmo chegou a num primeiro momento, pensar que votaria, nos contava que vieram diversas pessoas procura-lo prometendo mundos e fundos, desde bens como móveis, até cargos públicos para ele a família, no início ele se calou com relação ao fato de não

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ser o eleitor verdadeiro, depois diante das pressões ele teve que se sair dessa, contando a verdade, dizendo que havia se enganado. Ele deve ter temido a reação dos poderosos... (EUDE SILVA, 2011)

Como este relato, encontramos inúmeros outros, de eleitores da urna que

contava com 209 votantes, e chegaram a de fato receber o que lhes era ofertado,

alguns aceitavam e não votavam, outros por receio ou mesmo por simpatizar com

um dos grupos recebiam e faziam o que lhes era pedido. Há uma senhora que

reclama ter sido a única eleitora a não receber nada pela votação, o que hoje para

ela é motivo de desagrado e injustiça, demonstrando que os eleitores em muitos

casos não tinham clareza de que seu voto não deveria ser barganhado e mais uma

vez levando a confusão da necessidade imediata, ser superior às necessidades da

cidade como um todo.

Corrupção é o corolário direto do abuso de poder econômico ou poder político [...] ação de “dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber para si ou para outrem, dinheiro, dádiva ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita”. Corrompe-se a vontade do eleitor, através do oferecimento de vantagens, viciando sua liberdade, mais da vez pela necessidade sua em relação à dádiva ofertada. (COSTA, 2000, p. 373/374)

O abuso do que se configura por corrupção era escancarado aos olhos do

povo, que não tinha a quem recorrer, já que havia uma grande parcela que temia a

votação e participar dela, lembram que quando um grupo de pedintes de votos saia

da sua casa imediatamente outro entrava, às visitas do PDS eram mais cedo já que

não tinham o que temer e os peemedebistas chegavam iam mais tarde, na

clandestinidade.

BATISTA relata que nas últimas semanas que antecederam a 2ª eleição era

comum os eleitores dormirem nas casas dos líderes dos grupos, ele próprio chegou

a abrigar três em sua residência durante alguns dias. O mesmo descreveu ainda o

episódio em que representantes do PMDB lhe procuraram em sua residência com

uma quantia em dinheiro que hoje seria equivalente à em média R$ 30.000,00,

somente para que este não se manifestasse, não buscasse eleitores e não os

abrigasse em sua residência, ele respondeu negativamente ao pedido, pois segundo

este seu respeito por Nilton não lhe permitia aceitar a proposta.

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A revista Panorama de 15 de Dezembro de 1983, descreve o clima que a

segunda eleição havia deixado na cidade, descrevendo um casal, unidos há 35 anos

que se divorciaram, por ele na condição de eleitor fervoroso do PMDB não admitir

que ela votasse no PDS, esta explica que acompanhava e sustentava esta posição

em defesa de seu filho, Adalberto Oliveira Carneiro, então delegado da cidade e

seguidor fervoroso do PDS, tanto os entrevistados, quanto a revista, descrevendo

uma acusação dos peemedebistas culpam o delegado de “corromper, coagir e

sequestrar eleitores, a fim de garantir vantagens aos pedessitas” (PANORAMA,

1983 p. 41). De fato o casal, jamais voltou a se unir.

Outros casos um tanto exóticos ainda são descritos na revista como o casal

de eleitores naturais do Ceará e que viviam em São Paulo, e vieram à cidade

somente votar, era o Engenheiro industrial Cézio Santiago Filho e sua esposa Maria

Nazaré de Oliveira Freire, ele relatou que após regressar da África, residiu durante

um ano em Santa Luz e a justiça eleitoral teria lhes dado seis meses para revalidar

seus títulos, quando questionados pelo repórter em quem votaram disseram que

preferiam não declarar, mas a própria revista relata que mais tarde foram vistos na

casa de Antônio Carlos Dias candidato do PDS, “tomando uns drinks” (PANORAMA,

1983 p. 41), essa descrição tem muito haver com algo revelado pelo Sr. Orlando

Batista em uma das entrevistas “era comum naqueles dias eleitores dormirem em

nossas casas, para que não fossem desviados pelos peemedebistas, assim como

muitos ganharam férias em São Paulo, Rio de Janeiro e vieram de lá para cá...”

(BATISTA, 2010)

Logo cedo, uma pouco antes das 7 horas, a juíza Vilma Costa Veiga e os mesários – entre eles, o ex-jogador “Onça, do Flamengo do Rio e do Fluminense de Feira – chegaram trazendo a urna. O policiamento do local não chegou a ser tão ostensivo: havia apenas uma veraneio com os oficiais comandantes da operação e duas duplas de soldados que transitavam nas ruas próximas ao colégio, enquanto todo o contingente da PM estava espalhado pelo centro da cidade. Exatamente às 7 horas chegaram os três primeiros eleitores: Damiana Pereira dos Santos, de 46 anos de idade e residente no distrito de Roça de Dentro, Luiza Moura da Silva, de 28 anos, de Quixaba; e Augusto Ferreira dos Santos, de 43 anos, residente no Tanque do Simão. À esta hora, a frente e pátio interno do colégio já estavam sendo tomados por pessoas que, embora não fossem votar, queriam acompanhar de perto cada passo da eleição. Também começaram a chegar Deputados federais e estaduais, além de vereadores e prefeitos das cidades circunvizinhas, entre eles o

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presidente regional do PDS, Eraldo Tinôco, e o presidente regional do PMDB, Marcelo Cordeiro. (PANORAMA, 1983 p. 41)

Lembrando que em 1983 ainda que a Ditadura Militar já estivesse chegando

ao fim, conforme discorremos no capítulo 1 deste trabalho, ainda se fazia sentir o

forte direcionamento autoritário característico deste período, principalmente nas

pequenas cidades, onde até os dias atuais muitas ainda estão sob a liderança dos

mesmos partidos que dominavam na época, a exemplo da vizinha Conceição do

Coité, em que o grupo liderado por Hamilton Rios que apoiava fervorosamente o

candidato do PDS em Santa Luz, comparecendo em diversas reuniões, no dia da

votação e nas comemorações da vitória, ainda se mantém no poder

initerruptamente, candidato após candidato lançado pelo grupo vence, muitas vezes

sem ter nenhuma expressividade política.

Pode-se atribuir a dominação pela força a derrota obtida pelo PMDB naquela

votação. “Mas o clima de tensão, sustentado pela peculiar disputa eleitoral, as

denúncias de corrupção, coação e até sequestro de eleitores, além da força policial

composta de 60 homens, não conseguiu manchar o ambiente alegre” (PANORAMA,

1983 p. 41), note como era evidente o uso da força policial, o qual a revista descreve

como um grupo especial enviado a cidade “para garantir a ordem” durante 90 dias

que antecederam a eleição, além dos homens que já integravam a força policial da

cidade.

O ambiente no Colégio começou a ficar mais tenso e eufórico na parte da tarde, quando apenas 10 dos 209 eleitores da sessão não haviam votado. O número de votantes já tinha superado em muito as expectativas do PDS, que apostava numa grande abstenção e isto favoreceria o partido. Espalhou-se boatos, também de que entre os 10 eleitores restantes apenas cinco compareceriam e os motivos da ausência eram diversos: dois já tinham morrido, dois estavam viajando e outro tinha sido sequestrado pelo PDS, segundo afirmavam os peemedebistas. (PANORAMA, 1983 p. 41)

A cada eleitor que chegava fazia-se uma verdadeira festa, aplausos,

assovios, gritos e vaias se misturavam na multidão que já estava às portas do

colégio.

Às 16:40, exatamente 20 minutos antes do encerramento da eleição, houve um ligeiro tumulto com a chegada do eleitor Antônio de Jesus. Segundo comentários ele estava preso e prometeu votar no PDS em

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troca da liberdade, e chegou no colégio seguro em um dos braços pelo deputado pedessista Florisvaldo Carneiro, do Município de Valente. (PANORAMA, 1983 p. 41)

Esses são apenas alguns dos relatos selecionados dos inúmeros que escutei

ao longo da pesquisa, que servem para comprovar o estado de sítio, medo,

opressão e desespero que o pleito foi realizado, dentro do prazo previsto dando a

vitória ao candidato do PDS, Antônio Carlos Dias sobre o candidato do PMDB

Joelcio Martins da Silva por uma diferença mínima de dezoito votos.

Uma grande massa acompanhou atenta a cada voto apurado reunidos em

frente ao Fórum Luiz Viana Filho, as provocações ganhavam espaço enquanto o

resultado ia sendo decidido voto a voto, culminando em mais uma vitória ao PDS.

O mandato do prefeito empossado Antônio Carlos Dias se estendeu de 1983

a 1988, através de uma prorrogação sob a explicação “coincidir mandatos”.

O PMDB não saiu vitorioso nas eleições de 1982, contudo conseguiu

promover uma transformação na forma de se fazer política na cidade, no sentido em

que, mostrou ser possível resistir contra a dominação da ditadura, contra a

dominação carlista, já que na região ainda não existiam grupos igualmente

organizados e combativos na época.

Seu reflexo pode ser percebido nos anos posteriores, com a vitória do PMDB

em 1988 e sua consolidação a frente da administração do Município por 16 anos e o

fim da dominação de um grupo restrito na cidade, ampliando a dinâmica, a

intervenção e envolvimento da população na política local, antes à margem de

processo político passou a se sentir mais motivado, embora se deva lembrar,

conforme dito anteriormente, que esta participação em grande parte levava em conta

ou os interesses individuais ou acontecia sem muita reflexão, mais no sentido de

saciar as paixões partidárias que promover mudanças na sociedade.

É importante frisar que no TSE não foi localizado nenhum registro da eleição

de 1983 da urna 40, há apenas a Ata do resultado da apuração e dos trabalhos

referentes à eleição de 1982, onde consta a anulação de uma urna, nada mais.

Atualmente há três grandes partidos que agrupam a maior parte da

população, o próprio PMDB afastado do poder executivo da cidade desde 2004, o

DEM ou Democratas, detentor do cargo executivo desde 2004 e o PT, que sempre

obteve votações inexpressivas quando lançou candidaturas ao executivo, mas que

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nos últimos anos vem ganhando maior adesão, acompanhando a onda petista que

varre o país.

Durante as campanhas eleitorais mais recentes é comum os candidatos

esforçarem-se até mesmo por um voto, o que costumam justificar dizendo: “não

lembra da urna 40, cada voto é importante” (SANTOS, Entrevista 20/09/2010),

sentimento que é passado aos eleitores e faz com que muitos sintam que seu voto

seja decisório.

Até os dias atuais tocar neste assunto é um tabu, muitos dos principais

envolvidos vivem na cidade e questionam quem de fato venceu aquelas eleições, se

o resultado foi fidedigno a vontade popular, que despertava, depois de um período

de sono forçado. Em muitos momentos me deparei com esta dificuldade na

pesquisa, com pessoas que não podem ou não querem falar, mesmo anos após os

fatos decorridos, o que só prova que as cicatrizes deixadas pela eleição que dividiu

uma cidade, famílias, amizades ainda estão bem vivas na memória de quem (sobre)

viveu a urna 40.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, pode-se concluir que a prática eleitoral brasileira é algo tão antigo

quanto a própria colonização e que esteve ao longo destes quinhentos anos numa

constante reinvenção, como pode ser atestado pela quantidade de leis criadas,

extintas, reformuladas e restauradas. Esteve desde o início marcada pela

dominação de poucos, aos mecanismos legais de participação e intervenção, ainda

que se reconheça breves períodos de maior conscientização popular, estes sempre

foram freados diante de iniciativas autoritárias, podemos citar como exemplo: a

Constituição de 1824, que restringia a votação de forma censitária, ao que antes não

havia restrições; a proclamação da República que torna o sufrágio, ato de cidadania

em ato perigoso, com a revogação da Lei Saraiva e instituição do voto aberto; a

Constituição de 1937, que após um período de amplas vitórias, no sentido de

promover a inserção de mulheres no viés eleitoral e a criação da Justiça Eleitoral,

conseguidas no ano de 1932, vem extrair dos brasileiros o direito ao voto pelos

próximos 8 anos; o grande e mais cruel de todos os golpes o de 1964, que marca a

adoção de políticas extremas na tentativa de conter qualquer atitude que

contrariasse a ordem estabelecida.

Por tudo isso o cidadão brasileiro foi aos poucos se fechando e se calando,

enquanto vê seus direitos suprimidos e negligenciados, abrindo mão de participar

ativamente da condução da vida de seu país, vinte e três anos após a restauração

do sistema democrático estudos como esses são necessários para demonstrar que

a apatia característica do eleitor brasileiro é resultado de um longo processo de

(des) educação política, a inércia que se assiste atualmente contrária a modernidade

e rapidez características do sistema eleitoral do Brasil é fruto desta contínua

usurpação dos direitos civis, políticos e sociais continuamente e cotidianamente

sofridos.

Enquanto países como os EUA e a Inglaterra atravessavam movimentos

pensados e articulados pelo povo, o Brasil assistia uma sucessão de pequenos

grupos tomarem conta do país conduzi-lo da maneira que lhe melhor conviesse, por

isso nossa nação carece de exemplos em que o povo tenha resistido contra a

dominação, reconhece-se como um período fértil para a realização deste tipo de

análise a época da ditadura militar, onde muitos autores contemporâneos rasgam

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duras críticas ao MDB/PMDB, como falsa oposição, ou sem base ideológica.

Contudo, em diversas situações este se configurou como a única forma de

agrupamento concreto capaz de reunir os que estavam descontentes com a forma

como a política vinha sendo conduzida nos anos ditatoriais.

O grupo formado em Santa Luz tinha a finalidade prática de acabar com a

dominação de longas datas, da elite de terras a frente do poder local. Teve seu inicio

num pequeno núcleo de jovens estudantes, que com atos que desafiavam os chefes

conquistaram o apoio de grande parte da população, ainda que não tenham

conseguido a vitória nas urnas em 1983, esta marca uma mudança na forma de

fazer política na cidade, diferente da empregada até então com a corrupção do voto,

do pensamento, da liberdade de escolha, do aproveitamento da falta de consciência

cívica e da pobreza da população como meios de perpetuação do poder. O PMDB

soube se aproveitar do momento em que vivia o país, ligando sua imagem à

oposicionista, de juventude perseguida, motivando o eleitor a apoiar o partido que na

teoria seria o oposto do que estava governando a tantos anos, consequentemente

os responsáveis pela miséria e pela desigualdade social tão presente na cidade.

Estava formado o quadro de que o PDS era o partido dos “ricos” e o PMDB passava

a ser dos “pobres”, o que favorecia sua aceitação nas classes mais baixas e mais

vulneráveis.

Porém os peemedebistas não necessariamente podiam ser caracterizados

como “pobres”, uma vez que muitos de seus líderes tinham posse de terras e a

grande maioria era formada por comerciantes, além de que sua origem como já foi

aqui relatado, está ligada, principalmente, aos estudantes que se graduaram na

capital do Estado e voltavam para a cidade, o que na época somente era possível

àqueles que tivessem um considerável poder aquisitivo.

Contudo, a ideia de partido dos pobres e excluídos, foi decisiva para angariar

apoio popular culminando em vitória nas urnas na eleição posterior, de 1988. Que

marcava o início de 16 anos de governo do PMDB em Santa Luz.

Hoje os integrantes do partido fazem questão de citar as mudanças

estruturais promovidas na cidade pelos anos de atuação deste.

Assumimos quando a cidade era um caos. Construímos, escolas, barragens, a fim de acabar com as sofridas estiagens que castigava a população, quando a única forma de fazer com que a água

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chegasse ao Município era de trem, ampliamos a rede de atendimento social em hospitais, escolas, etc. (SILVA, 2011) Deixamos o Município em 2004 com 93% de saneamento básico e 95% das ruas pavimentadas, 100% com iluminação pública, além do embelezamento da cidade, com a construção de praças no centro nos bairros mais periféricos. (REIS, 2011)

Segundo Joelcio, o PMDB de Santa Luz inovou ao ser resistência contra o

Carlismo na região do semiárido, ainda que diante de propostas inescrupulosas,

trouxe uma nova forma de governo, baseada na ideia do beneficiamento do povo e

não do grupo. Porém, devemos citar que apesar de modificar a forma do fazer

político e melhorar em muitos aspectos a estrutura da cidade, não houve a

promoção de nenhuma revolução na sociedade luzense, esta entendida como

“transformação radical de estrutura política, econômica e social, dos conceitos

artísticos, científicos, etc.” (FERREIRA, 1993 p. 481)

Os acontecimentos nos levam a concluir que houve uma alteração dos

detentores de poder até então predominantes, suplantados pelo novo grupo que

assume com a intenção de realizar uma “limpeza” de antigos funcionários, cargos de

confiança, etc. Estes vão estar à margem durante os anos de governo do PMDB,

voltando a estabelecer uma dinâmica semelhante à de antes, embora numa situação

bem diferente dos marginalizados de outrora, pois estes se viam assistidos pelas leis

que regem o sistema democrático.

Hoje em dia se enfrenta um problema que é característico de muitas cidades

do interior, guiados pela paixão partidária, se estabelece confusão entre o fazer

político e o fazer “politicagem” em Santa Luz, perto da realização das eleições a

cidade pode ser comparada a campos de guerra, quem é amigo durante quatro anos

vira inimigo, parentes rompem laços afetivos, por que pertencem a grupos políticos

diferentes, comerciantes buscam funcionários entre seus partidários, não se entra na

loja B porque votam no partido A e assim por diante. Em conversa com o atual

delegado o Dr. Renato Barbosa Miranda, este me relatou o seguinte, “passei a

eleição de 2008 aqui [Santa Luz] e nunca vi nada parecido...” Talvez esta também

seja uma consequência das paixões e frustrações despertadas pela eleição de

1982/83, contudo serão fruto de questionamentos para futuros trabalhos, neste

campo tão fértil que é a cultura política luzense.

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REFERÊNCIAS

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FONTES

1. FONTES ESCRITAS

- Inventário Turístico Municipal, realizado pela Prefeitura Municipal em 2000

- Atas de reuniões do PMDB dos anos de 1980-1983

- Atas das Convenções realizadas pelo PMDB de 1980-1983

- Solicitações de desligamento do PP (Partido Popular)

- Formulário da Apuração da eleição 1982, em Santa Luz, cedido pelo TSE

- Formulário da Apuração da eleição 1982, de todos os municípios da Bahia, cedido

pelo TSE

- Título eleitoral, de 1982, cedido pelo sr. Eliude dos Santos Reis

2. FONTES IMPRESSAS

- Revista Panorama, 15 de Dezembro de 1983

3. FONTES ORAIS

- Entrevistas com o sr. Orlando Batista, professor aposentado, jornalista

correspondente da Rádio Sisal de Conceição do Coité, Secretário de Administração

de Santa Luz no ano de 1982; Prefeito provisório pelo prazo 03 meses, para a

realização da eleição da urna 40. Entrevistas realizadas em sua residência nos dias

10/09/2010; 17/09/2010; 24/09/2010 em Santa Luz

- Entrevistas com o sr. João Pereira dos Santos, quatro vezes vereador (a primeira

delas na eleição de 1982, todas as vezes eleito pelo PMDB) e presidente da Câmara

de Santa Luz de 1998-2000, oportunidade em que coordenou a construção da sede

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própria da Câmara de Vereadores, realizadas em sua residência nos dias

20/09/2010; 08/05/2010 em Santa Luz

- Entrevista com o srta. Eude Silva, funcionária pública, realizada na Escola Estadual

Hildérico Pinheiro, seu local de trabalho no dia 20/04/2011

- Entrevista com o sra. Marlene Matos, funcionária pública, realizada na Escola

Estadual Hildérico Pinheiro, seu local de trabalho no dia 20/04/2011

- Entrevista com o sr. Samuel Hedene Macedo, fundador do PMDB de Santa Luz,

realizada em sua residência no dia 24/05/2011

- Entrevista com o sr. Joelcio Martins da Silva, candidato a prefeito nas eleições de

1982 pelo PMDB e prefeito por três mandatos em Santa Luz, realizada em seu

escritório no dia 26/07/2011

- Entrevista com Dr. Renato Barbosa Miranda, atual delegado de Santa Luz.

Realizado na delegacia no dia 04/08/2011;

- Entrevista com a sra. Maria de Lourdes Alves, representante do grupo de mulheres

do PMDB luzense. Mãe do atual líder do PMDB da Câmara de Vereadores,

realizada em sua residência no dia 05/08/2011

- Entrevista com o Sr. Eliude dos Santos Reis, professor, vereador três vezes e

secretário de Administração de Santa Luz dos anos de 1996-2000. Realizado em

sua residência nos dias 15/11/2010; 14/08/2011

FONTES ICONOGRÁFICAS

- Acervo Fotográfico pessoal do Sr. Orlando Batista da década de 80

- Acervo Fotográfico pessoal do Sr. Samuel Hedene Macedo de 1960-1996

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ANEXOS

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Foto da posse do até então secretário de Administração Orlando Batista(de frente), como Prefeito temporário de Santa Luz para a realização da nova eleição em 1983 somente na urna 40. Passada por Antônio Carlos Dias (de lado), que havia vencido a eleição pela diferença de 1 voto, aumentado para três com a anulação dos dois votos depositados pela mesma eleitora favoráveis ao PMDB.

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Durante a campanha de 1983, em cima da casa do candidato Antônio Carlos Dias (centro), Nilton Oliveira (à direita) e João Durval (à esquerda).

Da esquerda para a direita: Hamilton Rios, João Durval, Antônio Carlos Dias, Antônio Carlos Magalhães, Lito, Manoel Novaes.

Antônio Carlos Dias sobe ao trio para discursar após a vitória na segunda eleição.