o caminho das Águas de salvador

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Bacias Hidrogrficas, Bairros e FontesORGANIZADORES Elisabete Santos Jos Antonio Gomes de Pinho Luiz Roberto Santos Moraes Tnia Fischer

Bacias Hidrogrficas, Bairros e Fontes

ORGANIZADORES Elisabete Santos Jos Antonio Gomes de Pinho Luiz Roberto Santos Moraes Tnia Fischer

2010

Universidade Federal da Bahia Naomar Monteiro de Almeida Filho Reitor Escola de Administrao - UFBA Reginaldo Souza Santos Diretor Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gesto Social CIAGS-EA/UFBA Tnia Fischer Coordenadora Jos Antnio Gomes de Pinho Vice-Coordenador Maria Elisabete Pereira dos Santos Escola de Administrao - UFBA Luiz Roberto Santos Moraes - Escola Politcnica - UFBA FInAnCIAmEnto Conselho nacional de Desenvolvimento Cientfico e tecnolgico CnPq Marco Antonio Zago Presidente PArCEIroS Governo do Estado da Bahia Jaques Wagner Governador Secretaria do meio Ambiente do Estado da Bahia SEmA Juliano de Sousa Matos Secretrio Adolpho Ribeiro Netto Chefe de Gabinete Wesley Faustino Diretor Geral Instituto do meio Ambiente do Estado da Bahia ImA Elizabeth Maria Souto Wagner Diretora Geral Instituto de Gesto das guas e Clima InG Jlio Cesar de S da Rocha Diretor Geral Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia ConDEr Milton de Arago Bulco Villas Boas Presidente Maria del Carmen Fidalgo Puga Presidente (20072008 ) Lvia Maria Gabrielli de Azevedo Diretor de Planejamento Urbano e Habitao Fernando Cezar Cabussu Filho Coordenador do Sistema de Informaes Geogrficas Urbanas do Estado da Bahia INFORMS Empresa Baiana de guas e Saneamento S. A. EmBASA Abelardo de Oliveira Filho Diretor Presidente Eduardo B. de Oliveira Arajo Diretor de Operao Prefeitura municipal do Salvador Joo Henrique Barradas Carneiro Prefeito Secretaria municipal de Desenvolvimento Urbano, Habitao e meio Ambiente SEDHAm / PmS Antnio Eduardo dos Santos de Abreu Secretrio Ktia Carmello Secretria (20062008) Edson Pitta Lima Subsecretrio Jos Henrique Oliveira Lima Diretor Geral de Urbanismo e Meio Ambiente Edvaldo Machado Assessor do Secretrio

Superintendncia do meio Ambiente SmA / PmS Luiz Antunes A. A. Nery Superintendente Ary da Mata e Souza Superintendente (2007-2008) Adalberto Bulhes Filho Assessor da Superintendncia Fundao ondAzul Larissa Cayres de Souza Presidente Armando Ferreira de Almeida Junior Presidente (2006-2008) ColABorAo Sistema Integrado de Atendimento regional SIGA / PmS Oneilda Costa da Silva Lbo Superintendncia de Controle e ordenamento de Uso do Solo do municpio SUCom / PmS Cludio Souza da Silva Superintendente Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE Artur Ferreira da Silva Filho Chefe da Unidade Estadual do IBGE na Bahia Joilson Rodrigues de Souza Coordenador Tcnico do Censo Demogrfico Unidade Estadual do IBGE na Bahia Fundao mrio leal Ferreira FmlF/PmS Vilma Barbosa Lage Presidente Instituto de radiodifuso Educativa da Bahia IrDEB Paulo Roberto Vieira Ribeiro Diretor Geral Sahada Josephina Mendes Dietora de Operaes _______________ Projeto Grfico e Diagramao Antnio Eustquio Barros de Carvalho Fotos Andr Carvalho, Danilo Bandeira, Janduari Simes, Jos Carlos Almeida, Elba Veiga, Alilne Farias Souza, Aucimaia Tourinho, Fernando Teixeira e Tonny Bittencourt, Fundao Gregrio de Matos FGM/PMS, Joo Torres GPE/Fundao Mrio Leal Ferreira FMLF Assistente de Fotografia: Renata Souto Maior Produtora Executiva: Ftima Fres

PUBlICAo

UFBA

C146

O Caminho das guas em Salvador: Bacias Hidrogrficas, Bairros e Fontes / Elisabete Santos, Jos Antonio Gomes de Pinho, Luiz Roberto Santos Moraes, Tnia Fischer, organizadores. Salvador: CIAGS/UFBA; SEMA, 2010. 486p. :il.; .- (Coleo Gesto Social) ISBN - 978-85-60660-08-7 1. Recursos Hidricos . 2. guas. 3. Bacias Hidrogrficas. 4. Bairros. I. Santos, Elisabete. II. Pinho, Jos Antonio Gomes de. III. Moraes, Luiz Roberto Santos. IV. Fischer, Tnia. CDD 333.91

Cidade do SalvadorPerto de muita gua, tudo feliz.Guimares Rosa

I

talo Calvino, em Marcovaldo e as Estaes na Cidade, relata um interessante exemplo de tentativa de reencontro com a natureza, com a boa e velha natureza, nas grandes cidades. Marcovaldo, melanclico e sonhador, no tem olhos propcios leitura dos signos da vida urbana, da sociedade de consumo, e est sempre atento aos vestgios da natureza na cidade. Em sua incansvel busca pela natureza perdida, v-se enredado em situaes em que as coisas mais simples parecem encerrar as mais estranhas armadilhas, em que a natureza parece uma fraude. Afinal, todos os dias a imprensa noticiava descobertas as mais espantosas nas compras do mercado: do queijo feito de matria plstica, a manteiga com velas de estearina, na fruta e na verdura o arsnico dos inseticidas estavam mais concentrados do que as vitaminas, para engordar os frangos enchiam-nos com certas plulas sintticas que podiam transformar em frango quem comesse uma coxa deles. O peixe fresco havia sido pescado o ano passado na Islndia e seus olhos eram maquiados para que parecessem de ontem. Como fugir destas armadilhas seno buscando um lugar onde a natureza seja prdiga e intocada, onde a gua seja realmente gua e o peixe realmente peixe? Nessa busca constante, os dias de Marcovaldo tornaram-se longos e ele passa a olhar a cidade e arredores em busca de um rio. Sua ateno voltava-se, principalmente, para os trechos em que a gua corria mais distante da estrada asfaltada. Certa vez se perdeu, andava e andava por margens ngremes e cheias de arbustos, e no achava nenhum atalho, nem sabia mais para que lado ficava o rio: de repente, deslocando alguns ramos, viu, poucos metros abaixo, a gua silenciosa era um alargamento do rio, quase uma bacia pequena e calma com um tom azul que lembrava um laguinho de montanha. A emoo no o impediu de averiguar embaixo entre as sutis encrespaes da corrente. E, portanto, a sua obstinao fora premiada! Uma pulsao, o deslizar inconfundvel de uma barbatana aflorando na superfcie, e depois outro, e outro ainda, uma felicidade a ponto de no acreditar nos prprios olhos: aquele era o local de reunio dos peixes do rio inteiro, o paraso dos pescadores, talvez ainda desconhecido de todos, exceto dele. Retornando para casa, cheio de alegria e de peixes, Marcovaldo depara-se com o que parecia-lhe um guarda municipal. Voc a! Numa curva da margem, entre os lamos, estava parado um tipo com bon de guarda, que o olhava de cara feia. Eu? Qual o problema? retrucou Marcovaldo, pressentindo uma ameaa desconhecida contra suas trencas. Onde que pegou estes peixes a? disse o guarda. H? Por qu? E Marcovaldo j sentia o corao na garganta. Se os apanhou l em baixo, jogue fora rpido: no viu a fbrica aqui em cima? E indicava exatamente uma construo comprida e baixa que agora, superava a curva do rio, se avistava, alm dos salgueiros, e que deitava fumaa no ar, e na gua uma nuvem densa de uma cor incrvel entre turquesa e violeta. Pelo menos a gua, ter notado de que cor ! Fbrica de tintas: o rio est envenenado por causa daquele azul e os peixes tambm. Jogue fora rpido, seno apreendo tudo. Marcovaldo agora queria atir-los longe o mais depressa possvel, livrar-se deles, como s o cheiro bastasse para envenen-lo. Mas no queria fazer m figura na frente do guarda. E se os tivesse pescado mais acima? A j seria outra histria. Alm da apreenso, haveria uma multa. Acima da fbrica existe uma reserva de pesca. No v o cartaz? Bem na verdade apressou-se a dizer Marcovaldo carrego a vara por carregar, pra mostrar aos amigos, mas os peixes foram comprados numa peixaria da cidade aqui perto. Ento nada a dizer. S falta o imposto a ser pago para lev-lo para a cidade: aqui estamos fora do permetro urbano. Marcovaldo j abrira a cesta e emborcava no rio. Alguma das trencas ainda devia estar viva, pois deslizou toda contente.Gilberto Ferrez, 1999

Italo Calvino, 1994.

A

realizao deste trabalho no teria sido possvel sem o apoio do CNPq e o envolvimento de pesquisadores, tcnicos e dirigentes do Poder Pblico estadual e municipal. Particularmente, gostaramos de destacar o empenho de Juliano de Sousa Matos (SEMA), Abelardo de Oliveira Filho (EMBASA), Adolpho Schindler Ribeiro Netto (SEMA), Bete Wagner (IMA) e Lvia Maria Gabrielli de Azevedo (CONDER) na construo das condies necessrias ao desenvolvimento da pesquisa junto com a Universidade Federal da Bahia. Esse trabalho no seria possvel sem a participao de Lcia Politano (UFBA), na estruturao do trabalho de delimitao de bacia hidrogrfica, de Adalberto Bulhes (PMS), na concepo original da metodologia de delimitao do trabalho de bairro, de Aucimaia Tourinho (UFBA) na estruturao do trabalho de fontes e sem a participao de Elba Veiga (PMS), Cssio Marcelo Castro (PMS) e Regina Nora (CONDER) que, de forma obstinada e competente percorreram, palmo a palmo, a Cidade do Salvador. Nessa jornada, estiveram presentes os tcnicos da CONDER Anderson Oliveira, Vitria Sampaio, Nilton Santana, Leonardo Afonso, Gilma Brito, Carlos Cardoso, Alberto Bonfim, Jussara Queiroz e Fernando Cabussu e Joo Pedro Vilela, da UFBA. Rosely Sampaio, da UFBA, apaixonada pelas guas, esteve conosco em boa parte da nossa trajetria e hoje constroi novos caminhos em Belo Horizonte. Pela Prefeitura Municipal de Salvador preciso registrar a participao de Jamile Trindade, Cludio Santos, Luza Ges, Ftima Falco, Srgio Moreira, Cla Tanajura, Ednilva Azevedo, Mariza Zacarias, Carlos Roberto Brando e Ruth Marcelino, que sempre acreditaram que a delimitao de bairros e das bacias hidrogrficas um importante instrumento de estruturao da gesto pblica municipal. preciso ainda registrar a participao de Ailton Ferreira (PMS), Fernando Pires (UFBA), Nicholas Costa (UFBA), Wilson Carlos Rossi (IMA) e Lvia Castelo Branco (IMA), Jeniffer Matos e Mrcia Kauark Amoedo e da Equipe da Diviso de Controle de Qualidade da EMBASA, Rosane Aquino, Eduardo Topzio, Cludia do Esprito Santo e Carlos Romay da Silva do INGA, de Terezinha Alves Ribeiro da SUCOP/SETIN e de Robrio Ribeiro Bezerra da CERB, incansveis militantes das guas. Renata Rossi, Ftima Fres, Aline Farias e Fernanda Nascimento da UFBA, envolveram-se nessa empreitada acreditando ser possvel associar guas, histria e poesia. Agradecemos a contribuio de Eliana Gesteira, Fernando Teixeira, Terezinha Rios e Isaura Andrade, que acreditam que uma gesto democrtica se faz com respeito res publica e com informao qualificada. Gostaramos de agradecer s lideranas das 2.130 entidades da sociedade civil e instituies pblicas e privadas que participaram conosco no trabalho de delimitao das bacias e dos bairros, aos administradores do Sistema Integrado de Atendimento Regional da Prefeitura Municipal do Salvador, que deram apoio na mobilizao das lideranas e realizao de reunies. Agradecemos ainda Fundao Gregrio de Matos, que gentilmente nos cedeu as fotos antigas de Salvador; Profa. Consuelo Pond de Sena presidente do Instituto Geogrfico e Histrico da Bahia, que nos socorreu com os seus conhecimentos de tupi; a Vilma Barbosa Lage, presidente da Fundao Mrio Leal Ferreira, que ajudou a dar mais cor s nossas guas; a Joo Torres e Dilson Tanajura, por ajudarem na ilustrao deste trabalho, Ary da Mata, da SEMA, a Joilson Rodrigues do IBGE e a Sahada Josephina Mendes, do Irdeb, que sempre acreditaram na relevncia desse trabalho para Salvador. Finalmente, esse trabalho no teria sido possvel sem o esprito acolhedor da coordenao do CIAGS, base institucional do referido trabalho, sempre aberto a novas ideias e desafios, um bom exemplo do que pode ser a relao entre Universidade e sociedade.

O Almanaque das guasEsse trabalho fruto do Projeto de Pesquisa Qualidade Ambiental das guas e da Vida Urbana em Salvador, aprovado pelo Edital MCT/CNPq / CT-Hidro / CT-Agro e realizado entre os anos de 2006 e 2009, pelo Grupo GUAS do Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gesto Social CIAGS da EA-UFBA, com a participao de pesquisadores do Departamento de Engenharia Ambiental da Escola Politcnica, do Departamento de Botnica do Instituto de Biologia e da Fundao OndaAzul. Esse Projeto contou ainda com o apoio do Governo do Estado da Bahia por meio da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia - CONDER; da Empresa Baiana de guas e Saneamento S. A. - EMBASA; da Secretaria do Meio Ambiente do Estado da Bahia - SEMA; do Instituto de Gesto das guas e Clima ING; do Instituto do Meio Ambiente do Estado da Bahia - IMA; da Prefeitura Municipal do Salvador, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, Habitao e Meio Ambiente - SEDHAM; da Superintendncia do Meio Ambiente - SMA; alm da participao do IBGE. Contamos ainda com a colaborao da Fundao Mrio Leal Ferreira - FMLF; do Sistema Integrado de Atendimento Regional - SIGA; da Superintendncia de Controle e Ordenamento de Uso do Solo do Municpio - SUCOM; da Prefeitura Municipal de Salvador; alm do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE. Estas parcerias desenvolvidas ao longo do Projeto so exemplos concretos do quanto Salvador e suas guas mobilizam instituies, pesquisadores, cidados, enfim, todos aqueles que se mobilizam e se preocupam com a gesto das guas e com a Cidade do Salvador. A principal motivao para a realizao desse trabalho foi a necessidade de aprofundar a pesquisa sobre a complexa relao entre Salvador e as guas nesse comeo de sculo, tendo em vista a visvel degradao da qualidade das suas guas, alm da necessidade de produzir conhecimentos capazes de fundamentar a implementao de poltica democrtica das guas. Especificamente, os objetivos desta Pesquisa foram a produo de indicadores sobre a qualidade das guas e sobre o acesso aos servios pblicos de saneamento ambiental, a delimitao das bacias hidrogrficas e de drenagem natural e a delimitao dos bairros de Salvador, tendo como referncia as noes de identidade e de pertencimento dos seus moradores. A opo por associar conceitualmente qualidade das guas com os recortes de bacias e bairros tem como motivao estimular a construo ou reconstruo dos laos de identidade e pertencimento em relao ao territrio e s guas elemento de fundamental importncia na construo de polticas pblicas sustentveis no atual contexto de redemocratizao pela qual atravessa o Pas. A exemplo das demais capitais brasileiras, Salvador precisa instituir prticas, implementar aes e polticas voltadas para a melhoria da qualidade de suas guas afinal, na Cidade da Bahia, conhecida por suas belezas naturais, as guas trazem sade e doena, so motivo de aflio mas tambm purificam o corpo e a alma. Esse trabalho implicou em um rico exerccio de discusso terica sobre os desafios da complexa relao entre sociedade e natureza, entre identidade, territrio e guas. Sua principal motivao foi a possibilidade de associao entre saberes e prticas espraiadas na Uni-

versidade, nas instituies governamentais e na cidade, enfim, foi a possibilidade de construo de saberes e conhecimentos que possam contribuir para a melhoria da qualidade do ambiente urbano e fundamentar uma gesto democrtica das guas na cidade do Salvador e no estado da Bahia.

As guas em SalvadorA Cidade do Salvador, entrecortada e circundada pelas guas, com abundncia de gua em seu subsolo e com elevado ndice pluviomtrico, est se tornando rida. Os caminhos percorridos pelas suas guas, que recriam parte significativa da sua histria, revelam o quo perversa tem sido a relao entre urbanizao e natureza. As nossas guas doces desaparecem na relao inversa intensidade do processo de urbanizao. Poder-se-ia afirmar que esse no um privilgio da Cidade da Bahia, pois, afinal, a degradao ambiental assim como a excluso social so problemas estruturais comuns s nossas grandes metrpoles. Historicamente, a urbanizao brasileira estabeleceu uma relao predatria com os recursos ambientais, sendo a histria das nossas cidades uma sntese, contraditria, do cotidiano processo de degradao das guas. Adicionalmente, Salvador conjuga de forma mpar degradao ambiental e pobreza urbana, o que torna a qualidade de vida, algo por demais precrio. A histria dos rios e dos bairros de Salvador a histria da luta tinhosa, contra o mato, contra a gua e pelo acesso terra e aos servios pblicos urbanos isso que revela a fala dos moradores dessa Cidade. Os resultados desse trabalho de pesquisa de qualidade das guas indicam que, apesar dos esforos em implantao de um sistema de esgotamento sanitrio em Salvador e sua regio, o comprometimento dos nossos rios ou o que deles restou, resulta do lanamento de guas servidas, ou seja, da incompleta implantao da rede coletora de esgotamento sanitrio na Cidade. Durante muito tempo falou-se da grande defasagem no atendimento desse servio pblico. Hoje, as estatsticas oficiais so mais generosas, mas nossas fontes e nossos rios continuam poludos, precisando ser escondidos, e a populao continua a conviver com o esgoto. Esses aspectos esto associados s cotidianas prticas de impermeabilizao do solo urbano e de destruio do que restou da vegetao a ocupao do solo, sem a devida regulao, continua a agravar os problemas de excluso e de risco ambiental. O fato que, em tempos de mercantilizao de elementos da natureza considerados como direito universal, a exemplo das guas, a noo de escassez passa, cada vez mais, a ser associada a Salvador. A reverso desse quadro implica em decises de natureza poltica, em aprofundamento do processo democrtico em curso, em conferir uma dimenso propriamente universal, aos interesses difusos e coletivos dos moradores dessa cidade. A realizao deste trabalho demandou a construo de uma ampla estrutura de governana, que contou com a participao e colaborao inquestionvel e dedicada das vrias instituies governamentais (federal, estadual e municipal) e no-governamentais, envolvidas com a questo das guas em Salvador foi a adeso inconteste a esse projeto que tornou possvel a produo de O Caminho das guas em Salvador. A construo desta rede indica a maturidade das instituies presentes bem como de seus dirigentes e tcnicos. Nesse processo, diversas unidades da UFBA somaram esforos para a consecuo dos objetivos do presente trabalho. Enfim, a iniciativa da Universidade Federal da Bahia de realizar uma pesquisa sobre a qualidade das guas em Salvador resulta da paixo de muitos dos seus pesquisadores por essa Cidade e pelas suas guas. Sem pretender reeditar o clssico debate sobre os sentidos e significados do conceito de objetividade e a noo de razo que a fundamenta, gostaramos de ressaltar que apenas o compromisso com a melhoria da qualidade do ambiente urbano e a preocupao em contribuir com o enfrentamento da problemtica das guas nesse comeo de sculo, explica o empenho e o envolvimento com esse trabalho.

Naomar Monteiro de Almeida Filho Reitor Universidade Federal da Bahia Reginaldo Souza Santos Diretor Escola de Administrao - UFBA Tnia Fischer Coordenadora Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gesto Social - CIAGS EA-UFBA Larissa Cayres de Souza Presidente Fundao ondAzul Juliano de Sousa Matos Secretrio Secretaria do meio Ambiente do Estado da Bahia SEmA Milton de Arago Bulco Villas Boas Presidente Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia ConDEr Abelardo de Oliveira Filho Diretor Presidente Empresa Baiana de guas e Saneamento S. A. EmBASA Jlio Cesar de S da Rocha Diretor Geral Instituto de Gesto das guas e Clima InG Elizabeth Maria Souto Wagner Diretora Geral Instituto do meio Ambiente do Estado da Bahia ImA Antnio Eduardo dos Santos de Abreu Secretrio Secretaria municipal de Desenvolvimento Urbano, Habitao e meio Ambiente SEDHAm / PmS Luiz Antunes A. A. Nery Superintendente Superintendncia do meio Ambiente SmA /PmS

A InvestigaoA elaborao desse trabalho de caracterizao da qualidade das guas, dos rios e das fontes, de delimitao de bacias e de bairros, conduziu-nos a vrios caminhos. Em linhas gerais, os procedimentos realizados no mbito dessa pesquisa implicaram no desenvolvimento das seguintes atividades: a. realizao de amplo levantamento bibliogrfico e pesquisa em fontes secundrias, com especial nfase nos dados censitrios e informaes relacionadas com a qualidade das guas e acesso aos servios pblicos de saneamento ambiental, produzidos pela Universidade, Prefeitura Municipal de Salvador, Governo do Estado da Bahia, entidades civis e institutos de pesquisa; b. definio de marco terico-conceitual sobre a problemtica das guas e sua insero no contexto da problemtica ambiental de Salvador com definio dos conceitos estruturantes de bacia hidrogrfica, de drenagem e de bairro; c. estruturao da metodologia de pesquisa de delimitao de bacia hidrogrfica e de bairro; d. coleta de amostras de gua bruta para a caracterizao bacteriolgica e fsico-qumica nas bacias hidrogrficas e medio da vazo; e. avaliao da qualidade das guas das fontes; f. caracterizao das formas de acesso aos servios pblicos de saneamento ambiental por meio de dados censitrios e dados da Empresa Baiana de guas e Saneamento - EMBASA; h. delimitao das bacias hidrogrficas, de drenagem natural e dos bairros; e i. realizao de levantamento da produo bibliogrfica sobre guas nos institutos de pesquisa, faculdades e universidades em Salvador. A pesquisa de qualidade de guas foi realizada em trs campanhas com o objetivo de qualificar as guas em distintos momentos. A primeira Campanha, a Piloto, foi realizada em novembro de 2007 nas bacias hidrogrficas dos rios Camarajipe, Cobre, Jaguaribe e Pituau. Seu objetivo foi realizar uma caracterizao preliminar e, desse modo, produzir referncias empricas capazes de orientar a estruturao do conjunto do trabalho de campo. Foram os seguintes os critrios utilizados para a seleo das bacias piloto: importncia do manancial para Salvador e sua regio; informaes preliminares sobre a qualidade do manancial e desenvolvimento de aes pela EMBASA, SMA e SEMA nas referidas bacias. A segunda e terceira campanhas contemplaram as 12 bacias dos rios do Seixos (Barrra / Centenrio), Camarajipe, Cobre, Ipitanga, Jaguaribe, Lucaia, Paraguari, Passa Vaca, Pedras / Pituau, Ilha de Mar e Ilha dos Frades, realizadas, respectivamente, em tempo chuvoso, em agosto e setembro de 2008 e tempo seco, em maro e abril de 2009. A seleo dos pontos da rede amostral, levou em conta os seguintes critrios: (i) proximidade da nascente e da foz do rio; (ii) equidistncia aproximada entre os pontos de coleta a fim de adquirir dados fsico-qumicos do rio em toda sua extenso; (iii) apreciao dos locais de contribuio dos afluentes no rio principal; (iv) apreciao dos principais afluentes da bacia; (v) apreciao de pontos amostrais montante e jusante de espelhos dgua relevantes, a fim de analisar o processo de depurao natural; (vi) adensamento populacional; (vii) apreciao de reas que sofrero intervenes de infraestrutura, realizadas pela CONDER, atravs de programas federais de desenvolvimento urbano, com o intuito de adquirir informaes acerca da qualidade das guas antes da referida ao; (viii) facilidade de acesso aos pontos, principalmente, relacionando os mesmos s vias pblicas e a reas onde o rio no se apresenta encapsulado; (ix) facilidade de coleta, levando em considerao a conformao das margens, alm de elevados, pontes ou estruturas que atravessem sobre o rio. Os principais parmetros analisados foram: Coliformes Termotolerantes, Demanda Bioqumica de OxignioDBO5, Fsforo Total, Nitrognio Amnio, Nitrognio Nitrato, Oxignio Dissolvido-OD, leos e Graxas, Slidos Totais e Turbidez. Alm disso, foi calculado o ndice de Qualidade das guas-IQA e realizado um trabalho de medio da vazo e de clculo de cargas poluentes com o objetivo de conhecer o caudal dos rios Camarajipe,

Cobre, Ipitanga, Jaguaribe e Pituau e a quantidade de poluentes que eles recebem e transportam e que contribui para a sua degradao. As anlises fsico-qumicas e bacteriolgicas foram realizadas pelos laboratrios da EMBASA, do SENAI/CETIND e do Departamento de Engenharia Ambiental da UFBA. O trabalho de caracterizao das fontes teve como ponto de partida a investigao realizada por pesquisadores da Escola Politcnica, sendo a mesma ampliada s fontes utilizadas pelos terreiros de Candombl, que do uso sagrado a suas guas. Os principais parmetros analisados foram Cor, pH, Cloreto, Demanda Qumica de Oxignio-DQO, DBO5, N-Nitrato, OD, Turbidez, Ferro Total, Fsforo Total e Coliformes Termotolerantes. O trabalho de delimitao de bacias hidrogrficas teve como ponto de partida a discusso conceitual de bacias hidrogrfica e de drenagem. A principal motivao para o desenvolvimento deste trabalho foi a inexistncia de limites institucionalizados das referidas unidades territoriais e a necessidade de fundamentar a atividade de planejamento urbano-ambiental que leve em conta a bacia hidrogrfica e a bacia de drenagem como unidade de planejamento e gesto. Acresce-se a isso a necessidade de compatibilizar esse recorte com outras unidades de planejamento, viabilizando desta forma a proposta de construo de unidades ambientais urbanas. Especificamente, as atividades desenvolvidas no processo de delimitao das bacias hidrogrfica e de drenagem, consistiram em: a. delimitao automtica das bacias utilizando-se de sistemas de informao geogrfica, tomando como parmetro uma das delimitaes sugeridas pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Salvador (PDDU, Lei Municpal n 7.400/2008); b. ratificao destes resultados mediante a comparao com a realidade observada em campo; c. consolidao do resultado final em frum envolvendo representantes da Universidade (Escolas de Administrao e Politcnica, Institutos de Geocincias e de Biologia da UFBA), do Poder Pblico (SEDHAM, SMA, SUCOP, EMBASA, ING e IMA) e de profissionais que atuam na rea. Para efeito desse trabalho de delimitao, considera-se como bacia hidrogrfica a unidade territorial delimitada por divisores de gua, na qual as guas superficiais originrias de qualquer ponto da rea delimitada pelos divisores escoam pela ao da gravidade para as partes mais baixas, originando crregos, riachos e rios, os quais alimentam o rio principal da bacia, que passa, forosamente, pelos pontos mais baixos dos divisores, e desemboca por um nico exutrio. Pode-se considerar exceo a esta definio a ocorrncia de bacias hidrogrficas distintas, que por interveno de infraestrutura urbana, tiveram seus rios principais interligados prximos foz e passaram a contar com o mesmo exutrio. No trabalho de levantamento bibliogrfico foram localizadas referncias conceituais e empricas esparsas relativas s reas cuja drenagem lanada diretamente no mar que, no caso de Salvador, correspondem s regies costeiras de topografia suave como a Pennsula de Itapagipe e a faixa compreendida entre a Praia de Jaguaribe at o limite entre este Municpio e Lauro de Freitas. Ficou estabelecido, que apenas as reas onde h a presena de cursos dgua sero referidas como bacias hidrogrficas (em conformidade com a bibliografia analisada) e as demais aquelas em que a captao das guas de chuva ocorre por meio da rede de drenagem pluvial implantada em consonncia com o tecido urbano e lanada diretamente no mar sero consideradas como bacias de drenagem pluvial. Por Bacia de Drenagem Natural compreende-se a regio de topografia que no caracteriza uma bacia hidrogrfica, podendo ocorrer veios dgua, os quais no convergem para um nico exutrio. No caso de Salvador, correspondem s regies costeiras da Baa de Todos os Santos, como a Pennsula de Itapagipe, o Comrcio, a Avenida Contorno e a Vitria; e, da Orla Atlntica, compreendida entre a Praia de Jaguaribe at o limite entre este municpio e Lauro de Freitas. Portanto, a ausncia de cursos dgua perenes foi um dos critrios para a definio das bacias de drenagem natural. Como resultado do trabalho e de sua discusso o projeto de delimitao final das bacias hidrogrficas do municpio de Salvador conclui instituindo 12 (doze) bacias hidrogrficas (Seixos-Barra/Centenrio, Camarajipe, Cobre, Ipitanga, Jaguaribe, Lucaia, Ondina, Paraguari, Passa Vaca, Pedras/Pituau, Ilha de Mar e Ilha dos

Frades) e 9 (nove) bacias de drenagem natural (Amaralina/Pituba, Armao/Corsrio, Comrcio, Itapagipe, Plataforma, So Tom de Paripe, Stella Maris, Vitria/Contorno e Ilha de Bom Jesus dos Passos) no municpio. Deste modo, devido descaracterizao resultante de intervenes urbansticas e o pequeno porte, sugere-se que as bacias do Seixos-Barra/Centenrio sejam consideradas como uma nica bacia hidrogrfica. Devido ainda ao pequeno porte e proximidade e ainda para fim de gesto, decidiu-se considerar as bacias de Armao e Corsrio como uma nica bacia de drenagem natural e a bacia de Placaford, por ser muito pequena, como pertencente bacia do Jaguaripe (apesar de Placaford ser uma bacia de drenagem natural). Alm disso, considera-se os rios Pituau e das Pedras como pertencentes a uma nica bacia, a bacia do Rio das Pedras/Pituau. As coordenadas georreferenciadas dos limites, por serem numerosas, esto disponveis em meio analgico e digital, no CIAGS/UFBA e nas respectivas bibliotecas dos parceiros desse trabalho e em CD que acompanha esta publicao. O trabalho de delimitao de bairros constitui-se em um grande desafio. Andamos por toda a Salvador, perguntando s associaes de bairro, entidades civis, organizaes no governamentais que lidam com comunidade, ao cidado morador, dentre outros, onde comea e termina o seu bairro. Realizamos 76 reunies com a comunidade e aplicamos 21.175 questionrios de modo a expressar com fidelidade o sentimento de pertencimento e de identidade do morador de Salvador. O primeiro passo da equipe foi criar a metodologia de trabalho que consistiu em definir bairro e localidade, estabelecer um limite preliminar do bairro construdo a partir dos diversos recortes de bairros existentes (da Prefeitura Municipal do Salvador, do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatstica IGBE, dos Correios, da CONDER e da Universidade Federal da Bahia). A partir dessa tentativa de compatibilizao dos mapas e da compilao do levantamento das organizaes da sociedade civil existentes, foi convocado uma primeira reunio onde os objetivos do projeto de delimitao de bairros foram apresentados s entidades a definir os limites do seu bairro. Em caso de divergncia, a rea considerada como de conflito era delimitada no mapa e aplicavam-se questionrios com os moradores, sendo a principal questo em que bairro voc mora? Com os resultados dessa pesquisa, fazia-se outra reunio onde os resultados do trabalho eram apresentados e definia-se ento, os limites do bairro. Entretanto, esse trabalho colocou novos desafios para a equipe: vrias localidades passaram a reivindicar a condio de bairro. Precisou-se ento definir com mais preciso o conceito de bairro, localidade, centro de bairro como tambm os requisitos de bairro que os distinguem. O conceito de bairro nesse trabalho, fruto de uma construo coletiva, reporta-nos a um conjunto de relaes socioambientais com as seguintes caractersticas: unidade territorial, com densidade histrica e relativa autonomia no contexto urbano-ambiental, que incorpora as noes de identidade e pertencimento dos moradores que o constituem; que utilizam os mesmos equipamentos e servios comunitrios; que mantm relaes de vizinhana e que reconhecem seus limites pelo mesmo nome. Assim circunscrito esse conceito articula elementos de natureza objetiva e subjetiva sendo a expresso das relaes institudas no cotidiano da vida da cidade, como das relaes entre sociedade e natureza. Por localidade compreendemos uma poro menor do territrio, inserida parcial ou totalmente em um bairro, sem centralidade definida e que apresenta caractersticas socioeconmicas similares. A localidade possui elementos especficos da estruturao e complexidade urbana, podendo ser um loteamento ou um conjunto habitacional de pequeno ou mdio porte que se tornou referncia; uma pequena ocupao informal ou uma ocupao ao longo de uma avenida. Alm disso, foi utilizado por esse trabalho o conceito de centro de bairro, aqui compreendido como uma rea para a qual convergem e se articulam os principais fluxos do bairro ou da regio, dotado de variedade de servios, infraestrutura e acessibilidade. Alm das noes de pertencimento e de identidade definiu-se como critrio a existncia de unidade de sade (pblica, privada ou comunitria); a existncia de unidade de ensino que oferea a partir da sexta

srie do ensino fundamental; a existncia de logradouro categorizado pela Prefeitura Municipal do Salvador como via coletora (ou equivalente) e a existncia de transporte pblico regulamentado. Destes critrios, de carter mais objetivo, fez-se necessria a presena de 3 destes, para a converso de uma localidade em bairro. De forma paralela foram feitas entrevistas com moradores e representantes de associaes de bairro com o objetivo de qualificar a relao do cidado com o lugar onde mora e com as guas. Foram feitas 158 entrevistas. Buscamos assim recompor a histria do bairro e das guas, por meio do registro bibliogrfico e, principalmente, das histrias contadas pelos moradores. Foram delimitados 160 bairros sendo os mesmos distribudos em 12 bacias hidrogrficas e 9 bacias de drenagem, alm das 3 ilhas e demais ilhotas pertencentes ao Municpio de Salvador. Na medida das possibilidades, procuramos construir uma geografia ou geopoltica das guas, tentando encontrar no bairro, natureza perdida transformando as guas em um fio condutor. No foi incomum perceber que muitos moradores no mais tm o registro das guas doces no seu bairro e que a bacia um recorte absolutamente desconhecido pelo cidado. Em verdade, um viajante desavisado quase que no tem mais como mirar-se nos nossos espelhos dgua e, afinal, eles no mais nos refletem. Talvez, um dos nossos maiores desafios seja o reencontro com as guas, recuperar cada pingo, nem que para isso seja preciso dar n em pingo dgua. Os dados populacionais apresentados ao longo desse trabalho so do Censo Demogrfico de 2000. preciso ressaltar que os nmeros apresentados para os bairros e bacias so aproximados, uma vez que os setores censitrios no correspondem estritamente aos limites, tanto dos bairros como das bacias hidrogrficas. Isso significa, por exemplo, que a totalidade da populao da bacia no corresponde totalidade da populao dos bairros que a compe. A compatibilizao entre bairros e setores censitrios um trabalho a ser desenvolvido pelo IBGE com base nos resultados dessa pesquisa. Ao longo desse trabalho so feitas referncias ao miolo de Salvador. Esse termo se refere ao territrio circunscrito pela BR-324 e pela Av. Lus Viana Filho (Paralela). As fotografias que ilustram esse trabalho, de vrios autores e, particularmente as fotos antigas, resultado de pesquisa na Fundao Gregrio de Matos, nem sempre tm o registro da data. preciso ressaltar que a relao entre bacia e bairro, aqui estabelecida, tem o claro objetivo de estimular a reconstruo dos laos de pertencimento entre o cidado, o territrio e suas guas noo que se encontra materializada em relao ao bairro, mas que se perdeu em relao s guas. Foram trs os critrios de insero de um bairro em uma determinada bacia: a. que as guas do territrio circunscrito no bairro confluam para a bacia hidrogrfica ou de drenagem; b. que mais da metade do territrio do bairro esteja contido na bacia; c. que a nascente do corpo dgua de uma determinada bacia esteja no bairro. Alm disso, foi feito um trabalho de pesquisa bibliogrfica com o objetivo de sistematizar e disponibilizar os trabalhos produzidos pelos institutos de pesquisa, faculdades e universidades sobre as guas. Gostaramos de ressaltar que o produto ora apresentado da construo do Frum das guas, envolvendo a Universidade Federal da Bahia, a Prefeitura Municipal do Salvador, o Governo do Estado da Bahia e entidades da sociedade civil. Foram realizados ainda encontros com especialistas como os Professores Titulares Drs. Marcos Von Sperling da Universidade Federal de Minas Gerais e Jose Esteban Castro da New Castle University-United Kingdom, para discutir questes tericas e conceituais estruturantes desse trabalho de pesquisa.

Foto: Jos Carlos Almeida

Bacia Hidrogrfica do Rio dos Seixos (Barra/Centenrio)Localizada no extremo Sul da Cidade do Salvador, a Bacia da Barra / Centenrio possui uma rea de 3,21km 2, o que corresponde 1,14% do territrio municipal de Salvador. Encontrase limitada ao Norte pela Bacia de Lucaia, a Leste pela Bacia de Ondina e ao Sul pela Baa de Todos os Santos. Com uma populao de 60.826 habitantes, que corresponde a 2,49% dos moradores de Salvador, densidade populacional de 18.950,26hab./ km2 a segunda bacia mais densa do municpio. Possui 19.139 domiclios, que corresponde a 2,9% dos domiclios de Salvador (IBGE, 2000). Na rea delimitada por essa bacia esto os bairros do Canela, Barra e Graa, bairros antigos e tradicionais da cidade, habitados por uma populao situada predominantemente nas maiores faixas de renda mensal. Nessa bacia, 26,76% dos chefes de famlia recebem mais de 20 SM (salrio mnimo), 20,56% esto na faixa de mais de 5 a 10 SM e 10,16% recebem at 1 SM. Esses dados se refletem nos dados de escolaridades quais sejam: 45,63% possuem mais de 15 anos de estudo, 32,48% possuem de 11 a 14 anos e 1,59% no apresentam nenhum ano de instruo (IBGE, 2000). O bairro da Barra tem uma grande importncia histrica, pois alm de ter sido o local de chegada dos portugueses, abriga uma srie de prdios e monumentos histricos. Essa bacia segue uma morfologia e modelado espacial sinuoso, bem peculiar, com formao de pequenas colinas e outeiros, permitindo seu entremeamento por vales e grotes. Ao longo de quase quinhentos anos de ocupao, o solo urbano, cada vez mais alterado pelas aes antrpicas, continua recebendo as cargas drenantes e pluviais. O principal rio que modela a Bacia Barra / Centenrio o Rio dos Seixos, cujo nome significa pedras roladas. A rea drenante desse rio tinha grande valor cnico, atributos visuais e beleza paisagstica. Suas nascentes esto no Vale do Canela (antigo groto com barramento no plat do Campo Grande) e na Fonte Nossa Senhora da Graa (construda, segundo a lenda, em 1500 por Caramuru, para a ndia Catarina Paraguau nela banhar-se), prxima ligao viria com a Barra Avenida. Em seguida, o Rio segue em direo Av. Centenrio. Esse rio foi importante como defesa natural para as primeiras ocupaes que ocorreram em Salvador. O stio da aldeia onde viveu Caramuru, na regio do Porto da Barra, tinha a depresso embrejada dos Seixos como defesa natural. Tambm serviu de proteo para o donatrio Francisco Coutinho, que construiu mais de 100 casas protegidas de um lado pelo mar e do outro pelo Rio dos Seixos e seus brejos e charcos. O Rio dos Seixos um rio de pequeno porte, de baixa vazo, muito raso, ampliando seu fluxo em perodos chuvosos. Caminha em todo o seu curso por reas urbanizadas, tendo no trecho inicial do percurso uma estreita canalizao retificadora e delimitadora, de alvenaria de pedra, intervias de rolamento, que obedece ao desenvolvimento da geometria da Av. Reitor Miguel Calmon. As marcas da antropizao so visveis, como resduos slidos e assoreamento de grande parte do seu leito e crescimento de gramneas na rea em que est canalizado, no referido Vale. A partir do final desta Avenida, nas proximidades da Rua dos Reis Catlicos, o rio coberto, seguindo dessa maneira at a Av. Centenrio, onde foi totalmente encapsulado com lajes de concreto armado, em obras de urbanizao do governo municipal em 2008, seguindo dessa forma at a foz, nas cercanias do Morro do Cristo, na praia do Farol da Barra. As poucas reas permeveis restantes em toda a bacia, ainda se encontram com mdio nvel de proteo, tanto no Vale do Canela, em terrenos pblicos meia encosta e, sobretudo nos domnios da UFBA (campus do Canela), nas vertentes da Vitria e Canela e nos pequenos bolses de reas verdes (arborizadas e gramadas), que fazem linde com a Av. Centenrio (parte do bairro da Graa e da localidade do Jardim Apipema). Antes da cinquentenria urbanizao, grande parte desse entremeado de vales era uma regio alagadia e embrejada. No trecho inicial do rio so necessrias novas aes de ajuste para a implementao de mecanismos efetivos para sua requalificao ambiental, a exemplo da identificao e catalogao da vegetao e replantio, recuperao das nascentes, da Fonte Nossa Senhora da Graa (Fonte da Catarina) e das reas verdes circundantes. O quadro 01 apresenta as observaes do Protocolo de Avaliao Rpida - PAR nas cinco estaes estabelecidas para coleta de amostras de gua na Bacia do Rio dos Seixos.

Estaes de coleta da

CNPq

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Quadro 01. observaes do PAr nas estaes de coleta de amostras de gua da Bacia do rio dos Seixos ParmetroTipo de ocupao das margens Estado do leito do rio Encapsulado parcialmente Mata ciliar Plantas aquticas Odor da gua Oleosidade da gua Transparncia/ colorao da gua Tipo de fundo Antropizado, com a presena de lixo Fluxo de guas Lmina dgua em 75% do leito Marcas de antropizao (entulho) Lmina dgua Lmina dgua em 75% do Lmina dgua em 75% do leito Lmina dgua em 75% do leito em 75% do leito leito Antropizado, com a presena de lixo Antropizado, com a presena de lixo Antropizado, com a presena de lixo Inexistente Ausente Forte (de esgoto) Ausente Muito escura Encapsulado totalmente Inexistente Ausente Mdio Ausente Muito escura

BAr 01Residencial

BAr 02Residencial

BAr 03Residencial, comercial/administrativo Encapsulado totalmente Inexistente Ausente Leve Muito escura

BAr 04Residencial, comercial/administrativo Encapsulado totalmente Inexistente Ausente Leve Muito escura

BAr 05Residencial, comercial/administrativo Encapsulado totalmente Inexistente Ausente Leve Marcas em linhas (arco-ris) Muito escura

Marcas em linhas (arco-ris) Marcas em linhas (arco-ris)

Quadro 02. Coordenadas das estaes de coleta de amostras de gua da Bacia do rio dos Seixos Salvador, 2009 EstaoBAR 01

Coordenada X Coordenada Y referncia551611,1201 8563332,01 Av. Reitor Miguel Calmon, Vale do Canela, em frente ao Ed. Aucena. Av. Centenrio (Chame-Chame) Av. Centenrio (Prximo ao Shopping Barra e da Foz). Av. Centenrio (Prximo ao Hospital Santo Amaro) Av. Centenrio (Prximo ao Posto Shell)

BAR 02 BAR 03

552005,0449 551685,0346

8562673,741 8561946,184

BAR 04

552421,3547

8563073,527

BAR 05

552331,9166

8562783,329

A anlise da qualidade das guas na Bacia do Rio dos Seixos foi realizada em 05 (cinco) estaes ao longo da Bacia, conforme coordenadas apresentadas no quadro 02 e mostradas na figura 01. Quanto aos resultados da anlise de alguns parmetros bacteriolgicos e fsico-qumicos dessa Bacia, so apresentados nas figuras 02 a 06 os resultados da campanha do perodo chuvoso das cinco estaes de coleta de amostras de gua e da estao BAR01 na campanha do perodo seco, pois devido ao encapsulamento do Rio foi a nica que permitiu coleta de amostra de gua. A poluio e mesmo a contaminao dos rios por esgotos urbanos e drenagem de guas pluviais tem como caracterstica o aporte de elevadas quantidades de microrganismos patognicos, provavelmente presentes nos esgotos, acarretando impactos ambientais e problemas sade pblica. Dentre esses organismos, as bactrias do tipo Coliformes Termotolerantes so indicadoras da presena de esgotos sanitrios e, consequentemente, da possvel presena de patgenos nas guas, sendo bastante utilizada em monitorizao de qualidade de guas. As concentraes de Coliformes Termotolerantes obtidas nas duas campanhas, no Rio dos Seixos foram altas, principalmente, comparando os valores estabelecidos pela Resoluo CONAMA n. 357/05 para guas doces classe 2, o que indica poluio do rio por esgotos domsticos.

CNPq

Figura 01. Bacia do rio dos Seixos e localizao das estaes de coleta de amostras de gua

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Ressalta-se que este tipo de bactria pode ser oriunda de fezes de moradores de rua e de animais de sangue quente, tais como pssaros, ces, gatos, cavalos e outros, carreadas pelas guas pluviais para os corpos dgua superficiais. Quanto aos Coliformes Termotolerantes e DBO as figuras 02 e 04 mostram que as maiores concentraes aconteceram nas estaes BAR02, BAR01 e BAR03.

Figura 04. DBo na Bacia do rio dos Seixos

Figura 02. Coliformes termotolerantes na Bacia do rio dos Seixos

A figura 03 mostra que o OD apresenta concentrao maior que 5,00mg/L, atendendo ao que estabelece a Resoluo CONAMA n. 357/05 para guas doces classe 2, no afluente (BAR01) e nas estaes BAR02 e BAR03 do Rio dos Seixos e valores menores nas duas estaes BAR04 e BAR05, inseridas logo aps a coleta de amostras nas trs primeiras, em trecho do Rio que recebe contribuio de guas pluviais e esgotos sanitrios.

Figura 05. nitrognio total na Bacia do rio dos Seixos

Figura 03. oD na Bacia do rio dos Seixos

Figura 06. Fsforo total na Bacia do rio dos Seixos

A figura 04 apresenta as maiores concentraes de DBO5 nas estaes BAR01 e BAR02 e de Nitrognio Total nas estaes BAR05 e BAR02. A figura 06 mostra que as mesmas estaes apresentaram as maiores concentraes de Fsforo Total na campanha de perodo chuvoso, enquanto a estao BAR01 apresentou valor ainda maior na campanha de perodo seco. O Rio dos Seixos apresentou como fonte principal de poluio os esgotos domsticos apesar de no ter sido observado nenhum lanamento direto no seu curso. Os resultados do perodo chuvoso so referentes a antes do seu encapsulamento, ocorrido em 2008, no trecho da Av. Centenrio, sendo que as obras realizadas geraram poluio, principalmente relacionada a leos, graxas e entulho. Do ponto de vista geral, o Rio dos Seixos embora situado numa rea com um nmero elevado de ligaes domiciliares rede pblica coletora de esgotamento sanitrio, tem como principal fonte poluidora, os esgotos domsticos que ainda afluem para o seu leito principal, atualmente encapsulado. Assim, esse Rio recebe cargas pluviais e resduos slidos oriundos de residncias, de postos de combustveis, do Cemitrio do Campo Santo, atividades comerciais, laboratoriais e hospitalares, dentre outros. Os bairros inseridos nessa Bacia so atendidos pelo Sistema de Esgotamento Sanitrio de Salvador. Existem ligaes clandestinas de esgoto sanitrio rede pluvial, em funo de dificuldades topogrficas, resistncia por parte de cidados em conectar seus imveis rede pblica coletora de esgotamento sanitrio, ocupao espontnea, com a existncia de imveis sobre galerias e canais de drenagem, em fundos de vale e encostas, gerando dificuldades de implantao da rede coletora de esgotos, alm de reformas e ampliaes de imveis sem a devida regularizao junto Prefeitura Municipal. O ndice de Qualidade das guas - IQA das estaes monitorizadas na Bacia do Rio dos Seixos classificou-se na categoria Ruim nas Rio dos Seixos em 1536 Bahia, 1978

estaes BAR01, BAR02, BAR03 e BAR 05 e na categoria Regular apenas na estao BAR04 na campanha de perodo chuvoso. O IQA classificou-se na categoria Ruim para a nica estao (BAR01) que foi possvel coletar amostra de gua na campanha de perodo seco, como pode ser visto na figura 07. As guas do Rio dos Seixos so desviadas, em tempo seco, para o Sistema de Esgotamento Sanitrio de Salvador, minimizando o comprometimento das condies de balneabilidade das praias da regio.

Figura 07. IQA nas estaes da Bacia do rio dos Seixos

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Reitoria da UFBA 2009

CAnElAO Bairro do Canela, at o incio do sculo XX, era formado por chcaras pertencentes famlia Pereira de Aguiar. Segundo Silvio Flvio, membro dessa famlia e morador do bairro, as chcaras se estendiam do Campo Grande Graa e foram desapropriadas pelo governo federal, em 1903, com a morte do Marechal Francisco Pereira de Aguiar. Nessa poca, o Canela era formado por elegantes casas e belos solares como o Solar Bom Gosto, principal residncia da famlia Aguiar, demolida em 1933, tendo sido edificado em seu lugar o atual Hospital Universitrio Professor Edgar Santos, inaugurado em 1948. Assim como o referido solar, outras antigas casas, ao longo do tempo, deram lugar a grandes edifcios. Segundo Jos Carlos Gazar, representante da Associao de moradores e Amigos do Campo Grande, Vitria e Canela, a histria que circula entre os moradores sobre o nome do bairro a de que, no local, quando ainda era uma enorme fazenda, havia uma rvore que produzia canela, a mesma canela utilizada na canjica, por isso, ento, o bairro teria recebido esse nome de batismo. Hoje, o Canela tambm se destaca por abrigar servios na rea da24 O Caminho das guas em Salvador

sade e da educao, a exemplo do Colgio Estadual manoel novais e algumas unidades da UFBA como as Escolas de nutrio,de teatro e Belas Artes. Uma das mais tradicionais instituies de ensino particular de Salvador, o Colgio maristas, tambm fez parte do cenrio do bairro, at o ano de 2008, quando foi desativado. No Vale do Canela, esto localizadas atualmente o Pavilho de Aulas da Faculdade de medicina, criada em 1808, no Terreiro de Jesus, e as Escolas de msica (1954) e Enfermagem (1946). Marcado intensamente pela presena da Universidade Federal da Bahia, no por acaso que este bairro tem sido palco de diversas manifestaes estudantis, desde a dcada de setenta, como as lutas contra a ditadura militar e as manifestaes pela democratizao do ensino e moralizao da vida poltica. No Vale do Canela, est uma das nascentes do rio dos Seixos, principal rio da bacia Barra-Centenrio. O Canela possui uma populao de 5.556 habitantes, o que corresponde a 0,23% da populao de Salvador; concentra 0,27% dos domiclios da cidade, estando 29,03% dos seus chefes de famlia situados na faixa de renda mensal de mais de 20 salrios mnimos. No que se refere escolaridade, constata-se que 47,75% dos seus chefes de famlia tm 15 anos ou mais de estudo.

Foto: Aline Farias

CNPq

Inicia-se no cruzamento da Rua Engenheiro Souza Lima com a Avenida Reitor Miguel Calmon, onde segue at a sua interseo com a Ligao Avenida Reitor Miguel Calmon/Campo Grande. Segue at alcanar a Avenida Arajo Pinho, at a Rua Joo das Botas, junto a Procuradoria Geral do Estado, exclusive. Segue por esse logradouro at o alcanar o fundo dos imveis da Avenida Leovigildo Filgueiras at alcanar o fundos dos imveis da Rua Cerqueira Lima. Da sempre em linha reta, incluindo o Centro Mdico do Vale e seguindo pela encosta, at a Avenida Reitor Miguel Calmon. Da segue por essa avenida at o ponto de incio da descrio do limite desse bairro.

O Caminho das guas em Salvador 25

GrAAA histria do bairro da Graa precede fundao da cidade do Salvador em 1549. Segundo registros histricos, a Igreja Nossa Senhora da Graa foi erguida a pedido de Catarina Paraguau, constituindo-se em uma das grandes referncias do bairro. Conforme o professor Adroaldo Ribeiro Costa, a Graa [...] foi inicialmente uma sesmaria doada a Caramuru e que se estendia at o litoral, limitando-se pelo lado oeste com a Vila Velha, onde atualmente o Porto da Barra. Flvio de Paula, presidente da Associao dos moradores da Graa, conta que o nome do bairro est associado histria da Igreja Nossa Senhora da Graa, mais precisamente graa recebida por Catarina Paraguau, que teve uma viso, em seus sonhos, da santa que mais tarde ficou conhecida como Nossa Senhora da Graa. Muitas histrias populares povoam o imaginrio dos moradores da Graa, como a histria do milagre da chuva, por exemplo. No sculo XVIII, quando Salvador foi assolada por uma forte seca, o governo junto com os moradores realizou uma procisso pedindo a Nossa Senhora da Graa que fizesse chover e, antes mesmo de acabar o cortejo, a chuva j estava caindo. Neste bairro, existe hoje uma rica convivncia entre o moderno e o antigo, o presente e o passado. Segundo Claudia Bacelar, moradora da Graa desde a dcada de 1970, o bairro mantm a tradio, sem ser ostensivo. Na Graa voc usufrui de tudo que uma grande cidade oferece, sem abrir mo de uma vida tranquila. Aqui, a violncia menor, o trnsito mais civilizado e as pessoas ainda mantm uma relao cordial Seu patrimnio histrico, seus casares e espiges modernos formam um diversificado cenrio, em terras, outrora, ocupadas por ndios tupinambs. Localizam-se no bairro, o Solar dos Carvalhos, construdo em 1890, o Palacete das Artes (atual Museu Rodin), tambm datado do sculo XIX, as Faculdades de Direito (1891) e deFlavio de Paula. Ao fundo, a Fonte Nossa Senhora da Graa

Rua da Graa

Educao (1968) e a Escola de Administrao (1959) da UFBA, alm da Fonte de nossa Senhora da Graa. Segundo Flvio de Paula, essa fonte data do sculo XVI, e j foi denominada de Fonte das naus e Fonte da Catarina. Conforme a lenda, Catarina Paraguassu banhava-se nela. No Brasil colnia, a Fonte serviu para abastecer os barcos que aportavam na cidade e para piqueniques de famlias tradicionais. Atualmente, o seu uso mais freqente para lavagem de carros. Essa fonte uma das nascentes do rio Seixos. A Graa possui uma populao de 17.889 habitantes, o que corresponde a 0,73% da populao de Salvador; concentra 0,83% dos domiclios da cidade, estando 34,52% dos seus chefes de famlia situados na faixa de renda mensal de mais de 20 salrios mnimos. No que se refere escolaridade, constata-se que 32,48% dos seus chefes de famlia tm de 11 a 14 anos de estudos e 45,63% tem 15 anos ou mais de estudo.

Fundao Gregrio de Matos

Igreja Nossa Senhora da Graa Sculo XVIIIFundao Gregrio de Matos

Inicia-se no ponto situado na Avenida Sete de Setembro, trecho Ladeira da Barra. Da em linha reta pelo fundo dos imveis com frente para a Rua da Graa, at alcanar a Rua Engenheiro Souza Lima, percorrendo este logradouro at a sua interseo com a Avenida Reitor Miguel Calmon. Segue por esta avenida at o cruzamento com a Avenida Centenrio. Da segue at o cruzamento com a Rua Doutor Jos Serafim. Segue por este logradouro at o cruzamento com a Avenida Princesa Leopoldina. Da at o cruzamento desta com a Avenida Princesa Isabel, seguindo por esta avenida. Segue pelos fundos de lotes dos imveis com frente para a Avenida Princesa Isabel at a Rua Oito de Dezembro, percorrendo este logradouro. Segue em linha reta pelo fundo dos imveis com frente para a Rua Doutor Joo Ponde. Da em linha reta at a Travessa General Carmona por onde segue at o cruzamento com a Rua Pedro Milton de Brito. Da segue em linha reta at a Rua Doutor Joo Ponde. Desse ponto segue pelo fundo dos imveis com frente para a Avenida Sete de Setembro, por onde segue at o ponto de incio da descrio do limite desse bairro.

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Porto da Barra

BArrAQuando a Amrica Portuguesa foi dividida em capitanias hereditrias, Francisco Pereira Coutinho, um nobre portugus, tornou-se o donatrio da capitania da Baa de todos os Santos, desembarcando em 1536 com a sua gente adiante da Ponta do Padro, afirma Edson Carneiro, no atual Farol da Barra. Estabelecidos nessa enseada, segundo Carneiro, deram incio construo de casas para cem moradores, levantaram uma maneira de Igreja, onde os jesutas dariam a sua primeira missa, e armaram uma camboa de pesca em frente povoao construindo, assim, a Vila Velha ou a Vila do Pereira. Dessa forma, foram dados os primeiros passos para a ocupao da capitania da Baa e para a construo do que mais tarde seria o aristocrtico bairro da Barra. Para proteger a povoao que ora se formava, foi edificado o Forte de Santo Antonio da Barra, que teve um papel importante na luta contra as invases holandesas em 1624, na Independncia da Bahia, em 1823, e no movimento da Sabinada, em 1837. No Forte de Santo Antonio da Barra, que abriga o museu nutico da Bahia, foi instalado um farol para realizar uma tarefa que vem sendo cumprida at os dias atuais: orientar os navios que entravam na Baa de todos os Santos. Alm desse patrimnio histrico, existem ainda na Barra duas fortalezas construdas no sculo XVII: o Forte de Santa maria e o Forte de So Diogo, e outros importantes monumentos, como a Igreja de Santo Antonio da Barra, o Cemitrio dos Ingleses e a Esttua do Cristo. Credita-se o nome do bairro existncia de uma barra entre a Ilha de Itaparica e o Farol da Barra.28 O Caminho das guas em Salvador

No local onde est localizado o Farol, existia a Fonte de Iemanj ou Fonte da me dgua. Sobre essa fonte, a historiadora Gessy Gesse conta que, em Salvador, a primeira festa em homenagem a Iemanj aconteceu no dorso do Farol da Barra, onde havia a Fonte da Me dgua , no sculo XVIII. A Barra, que foi durante muito tempo moradia de pescadores e rea de veraneio, na poca em que as famlias mais ricas residiam no Centro, transformou-se, com o passar do tempo, em um bairro residencial. Ao longo dos anos 70, era ponto obrigatrio para a juventude que se dirigia Orla Atlntica de Salvador em busca de diverso. Nas ltimas dcadas, grandes manses deram lugar a edifcios de classe mdia e a estabelecimentos comerciais. A praia do Porto da Barra continua sendo um ponto obrigatrio para os que no dispensam um bom banho de mar e um belo por do sol. Neste bairro, mais especificamente na Avenida Centenrio, passa o rio dos Seixos, atualmente encapsulado por uma obra de infra-estrutura urbana, realizada em 2008. Os seus brejos protegeram tanto a aldeia onde vivia Caramuru, como as primeiras casas edificadas. Alm da marcante presena do carnaval na vida do bairro, nos dias atuais, as chamadas Festas da Praia, a festa dos jogadores de peteca, no dia 15 de dezembro, e a festa de fim de ano, no dia 31, costumam mobilizar no s os moradores da Barra, mas os de toda a cidade. A Barra possui uma populao de 20.387 habitantes, o que corresponde a 0,83% da populao de Salvador; concentra 1,04% dos domiclios da cidade, estando 25,28% dos seus chefes de famlia situados na faixa de renda mensal de mais de 20 salrios mnimos. No que se refere escolaridade, constata-se que 46,83% dos seus chefes de famlia tm 15 ou mais anos de estudo.

Fundao Gregrio de Matos

Inicia-se na linha de costa da Baa de Todos os Santos, localizado junto ao Farol da Barra, inclusive, seguindo at o Iate Clube da Bahia, inclusive, e excluindo a Vila Brando. Segue pelos fundos dos imveis com frente para a Avenida Sete de Setembro, trecho Ladeira da Barra. Da segue at a Rua da Graa, seguindo at a Rua Pedro Milton de Brito at o ponto de interseo com a Travessa General Carmona, at o seu final. Da em linha reta pelo fundo dos imveis com frente para a Rua Doutor Joo Ponde, seguindo em linha reta at a Rua Oito de Dezembro, at SEQUIBA, por onde segue pelos fundos de lotes dos demais imveis com frente para a Avenida Princesa Isabel, at o cruzamento desta com a Avenida Princesa Leopoldina. Segue por esta avenida at a interseo com a Rua Doutor Jos Serafim, seguindo por esta rua at a Avenida Centenrio. Da em linha reta at confluncia das Ruas Plnio Moscoso e Comendador Francisco Pedreira. Segue at a confluncia com as Ruas Professor Sabino Silva e Rua Jos Stiro de Oliveira por onde segue at o cruzamento com a Avenida Ocenica. Da segue por esta avenida at a linha de costa. Da segue a linha de costa da Baa de Todos os Santos, ponto de incio da descrio do limite desse bairro.

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Bacia Hidrogrfica de OndinaLocalizada no extremo Sul do Municpio, a Bacia Hidrogrfica de Ondina possui uma rea de 3,08km2, sendo a menor bacia em extenso, correspondendo a 1% do territrio de Salvador. Limita-se ao Norte e a Oeste pela Bacia do Lucaia, Leste pelo Oceano Atlntico e ao Sul pela Bacia Barra/Centenrio. Possui uma populao de 27.774 habitantes, que corresponde a 1,14% dos habitantes de Salvador, densidade populacional de 9.028,82hab./km2 e 8.915 unidades habitacionais, que correspondem a 1,35% dos domiclios soteropolitanos (IBGE, 2000). Fazem parte da Bacia de Ondina os bairros de Ondina, Calabar e Alto das Pombas, alm das localidades de Jardim Apipema, Alto de Ondina e So Lzaro. Essa bacia ocupada por uma populao situada em faixas de renda diferenciadas: 19,59% no possuem rendimento mensal superior a 1 SM; 19,18% esto na faixa de 1 at 3 SM; 18,11% entre 5 e 10 SM; 18,08% recebem entre 10 e 20 SM e 15,82% recebem mais de 20 SM. Os ndices de escolaridade de maior expresso dos chefes de famlia dessa bacia esto distribudos da seguinte forma: 30,83% possuem de 11 a 14 anos e 31,41% esto acima de 15 anos de estudo (IBGE, 2000). At ento, a rea que corresponde a essa bacia fazia parte da Bacia do Rio dos Seixos (Barra/Centenrio). Entretanto, a existncia da nascente de um crrego que drena a localidade de Jardim Apipema e o bairro do Calabar, onde foi observado um suave caimento no terreno, justificou a delimitao desta bacia, sendo os limites entre ela e a Bacia do Rio dos Seixos (Barra/Centenrio) definidos pela delimitao automtica por geoprocessamento (Figura 01). Foi tambm localizado um curso dgua completamente degradado no seu escoamento superficial, que corre paralelo Rua Nova do Calabar, em reas bastante impermeabilizadas, ao fundo dos lotes lindeiros a esta via, cujo sentido de fluxo das guas, indica que as reas de contribuio para o mesmo, pertencem Bacia de Ondina. No bairro de Ondina localiza-se a Residncia Oficial do Governo do Estado, prxima a uma Unidade de Conservao o Parque Zoobotnico Getlio Vargas, que possui uma rea de 18ha, com remanescentes de floresta ombrfila, pertencente ao bioma Mata Atlntica. O Zoolgico de Salvador abriga mais de 120 espcies de animais, sendo 80% naturais do Brasil e 38% de espcies ameaadas de extino. Entretanto, a assepsia e a lavagem de jaulas, abrigos e fossos, alm de podas, capinas e dejetos de animais (urina e fezes), processam-se com o lanamento e descarte dos resduos no sistema de drenagem desta unidade de conservao. Nessa bacia existem pequenos crregos, muitos j encapsulados subterraneamente, outros ainda visveis, como no Campus da UFBA em Ondina. Para esses corpos hdricos e micro-bacias de drenagem so carreados os poluentes dos logradouros (ruas, meio-fios e bocas de lobo), construes, telhados, alm dos oriundos do desgaste de peas de veculos, da liberao de fluidos, de emisses gasosas e os provenientes do pavimento asfltico. A qualidade das guas dessa bacia no foi obtida, porm podese admitir que sofre alteraes devido aos materiais e substncias carreados pela drenagem pluvial, bem como do lanamento de esgotos sanitrios de domiclios ainda no ligados rede coletora do sistema pblico de esgotamento sanitrio ou que no dispem de soluo para o destino adequado dos excretas humanos e das guas servidas. Essa bacia possui quatro fontes: a do Chega Nego, situada na Orla Atlntica, em Ondina, a do Zoolgico, a do Chapu de Couro, na entrada do Zoolgico e a do Instituto de Biologia da UFBA.

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Bacia Hidrogrfica de Ondina

Figura 01. Bacia Hidrogrfica de ondina

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Ortofotos SICAD / PMS 2006

Alto DAS PomBASZildete dos Santos Pereira, presidente do Grupo de mulheres do Alto das Pombas, afirma que onde hoje o bairro Alto das Pombas, foi a Fazenda So Gonalo. Ela conta que por causa das matas, das rvores frutferas e por localizar-se no alto, este lugar atraa um grande nmero de pombas. Desse modo, com a inaugurao do Cemitrio do Campo Santo, seus funcionrios comearam a construir casas nessas terras passando a chamar o local de Alto das Pombas. H 70 anos, de acordo com a opinio de Pereira, o bairro passava por um srio problema: [...] a Santa Casa da Misericrdia se achava dona do terreno e no tnhamos sada. Tnhamos que passar por dentro do Cemitrio do Campo Santo com hora de fechar e abrir. Alm disso, no existia calamento e iluminao. Desde esse tempo que as relaes entre a Santa Casa da Misericrdia e os moradores do Alto das Pombas, na opinio de Pereira, conflituosa. Considerando-se proprietria da regio do Alto das Pombas, a Santa Casa passou a cobrar da comunidade uma taxa. Entretanto, segundo Zildete Pereira, a Associao de Moradores do Bairro tem feito pesquisas em cartrios de Salvador e no tem encontrado registro que confirme a propriedade do terreno por parte da referida instituio. Por conta disso, os moradores deixaram de pagar a mensalidade estipulada e, agora, uma questo corre na justia, envolvendo a Prefeitura Municipal de Salvador e a Santa Casa de Misericrdia. Anselmo Menezes, funcionrio do Cemitrio Campo Santo, afirma que a Fazenda So Gonalo, foi comprada Alto das Pombas pela Santa Casa ao governo da poca, com o objetivo de criar um cemitrio e hoje, esta instituio est fazendo um acordo com a Prefeitura para passar os ttulos de posse para as pessoas do Alto das Pombas. No sei como est o andamento deste processo agora. Com relao s taxas, sei que a Santa Casa cobra um valor anual s pessoas que esto em seu terreno. O Alto das Pombas um bairro predominantemente residencial, embora, segundo Pereira, as atividades comerciais atualmente estejam em expanso em sua via principal, a rua teixeira mendes.34 O Caminho das guas em SalvadorFundao Gregrio de Matos

A presidente do Grupo de Mulheres afirma que no h nenhuma data especial para o bairro, entretanto, estamos sempre buscando realizar eventos para os moradores. Ns festejamos o Carnaval e o So Joo. O Alto das Pombas muito dinmico, quando h alguma atividade produzida pelo Grupo de Mulheres no Largo, toda a comunidade aparece. O Grupo de Mulheres do Alto das Pombas surgiu no fim da ditadura militar: enfrentamos a policia e os canhes do exrcito, contra a carestia, junto aos movimentos sindicais. Hoje, o Grupo parceiro da UFBA e realiza cursos de formao poltica para mulheres, enfatizando, entre outros temas, cidadania e direitos da mulher. Tambm fazem atividades de arte, dana, teatro, e canto, na comunidade. Entre seus principais equipamentos pblicos esto a Unidade de Sade, a Escola municipal tertuliano de Ges e a Escola municipal nossa Senhora de Ftima. Neste bairro existiram muitas fontes e riachos, outrora bastante utilizados pela populao local, quando no havia gua encanada. Conforme Pereira, esses riachos e fontes desapareceram pela necessidade de construir moradias. O Alto das Pombas possui uma populao de 3793 habitantes, o que corresponde a 0,16% da populao de Salvador, concentra 0,15% dos domiclios da cidade, estando 25,96% dos chefes de famlia situados na faixa de renda mensal de 0,5 a 1 salrio mnimo. No que se refere escolaridade, constata-se que 34,40% dos chefes de famlia tm de 4 a 7 anos de estudos.

Descrio resumida:

Inicia-se na Rua Caetano Moura, seguindo at a Vila Ramos, at alcanar a Rua Mestre Pastinha. Segue por esse logradouro at o seu final, seguindo pela encosta, at alcanar a Avenida Quatro de Julho. Segue por esse logradouro at a interseo com a Rua Teixeira Mendes. Segue por esse logradouro at seu cruzamento com a Travessa Resed, por onde segue at a interseo com a Rua Maria Imaculada. Segue por esse logradouro at sua interseo com a Travessa Gardnia e Travessa Jasmin, por onde segue at a 1 Travessa Corao de Maria, at alcanar a Travessa Nossa Senhora de Ftima. Da segue por essa travessa at sua interseo com a Travessa Carlos Fraga e Rua Paula Ney, at alcanar a Avenida Carlos Fraga. Segue at alcanar a Rua da Fonte. Segue at a Vila da Fonte, at a Avenida Bencio Ramos. Da segue at o logradouro Alto da Fonte. Segue at alcanar o limite do Cemitrio do Campo Santo, exclusive, contornando, at a Rua Teixeira Mendes. Da segue por este logradouro at o ponto de incio da descrio do limite desse bairro.

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CAlABArNo final da dcada de 1960, o bairro do Calabar passou por um grande crescimento populacional, em virtude da chegada de famlias inteiras expulsas de localidades de Salvador, bem como da vinda de muitos imigrantes da zona rural. Entretanto, conforme Lindalva Amorim, professora e coordenadora pedaggica da Associao dos Educadores das Escolas Comunitrias da Bahia (AEEC-Bahia), a ocupao desse bairro comeou na dcada de 1950, quando a regio ainda era uma grande fazenda. Ela conta que inicialmente as famlias pagavam ao senhor Jos Teixeira, na poca um ocupante dessas terras, para construrem suas casas. Com o tempo foi aumentando a presso para que os moradores fossem transferidos para a periferia da cidade. O Calabar est localizado em uma regio dotada de infraestrutura e na qual o valor da terra alto. Foi em 1977 que comeou o Movimento de Luta e Permanncia no Calabar. Fizemos uma grande caminhada no dia 11 de maio at a prefeitura e, aps muitas resistncias, prises e espaamentos, conseguimos sair de l com um decreto que garantia nossa permanncia aqui por cinco anos. Com esse decreto, comeamos a fazer a urbanizao no bairro. Amorim afirma que encerrado o prazo de cinco anos do decreto, o Calabar j tinha melhoria em infraestrutura como gua encanada, luz eltrica e rede de esgoto. A prefeitura indenizou ao senhor Jos Teixeira e a rea onde ele residia foi doada associao de moradores para construo de equipamentos comunitrios. O primeiro deles foi a Escola Aberta do Calabar, depois a creche e, em seguida, o Pavilho multiuso, que concentra biblioteca, padaria, marcenaria e salas de aula.

Foto: Danilo Bandeira

Rua Nova do Calabar

Lindalva Amorim

A partir de ento, o lema a essncia do ser existir, a nossa persistir no Calabar, passou a permear a vida de homens e mulheres, jovens e adultos deste bairro, que hoje lutam contra a especulao imobiliria para no sumir do mapa de Salvador, como as comunidades da Curva Grande e Mirante. Segundo o professor Cid Teixeira, o Calabar foi constitudo por negros escravizados, trazidos da Nigria, de uma regio chamada Kalabaris. Para a populao deste bairro, os dias 11 de maio e 21 de setembro, so datas histricas, respectivamente passeata de resistncia e da garantia de direito de moradia no Calabar e a fundao da primeira associao de moradores, a Sociedade Beneficente e Recreativa do Calabar. Nesses momentos, toda a comunidade mobiliza-se. Atualmente, segundo Lindalva, a comunidade do Calabar desenvolve projetos de educao, cultura, gerao de renda, garantia de direitos e cidadania, combate ao trabalho infantil. Montamos um espetculo contando a histria do Calabar que percorreu vrios estados do Brasil, sempre reverenciando Zumbi. Nossa Escola Aberta do Calabar tambm ganhou um prmio da UNESCO,com o melhor projeto de educao do Estado da Bahia e o prmio de Melhor Alfabetizadora da Dcada da Rede Manchete de Televiso. Temos ainda um intercmbio com a Escola de Baden na Sua, onde os estudantes dessa escola formaram um grupo que se autodenomina Grupo de Amigos do Calabar. Neste bairro localiza-se a nascente de um crrego, alm de um curso dgua completamente degradado correndo prximo Rua Nova do Calabar. O Calabar possui uma populao de 2.943 habitantes, o que corresponde a 0,12% da populao de Salvador, concentra 0,11% dos domiclios da cidade, estando 30,51% dos chefes de famlia situados na faixa de renda mensal de 0,5 a 1 salrio mnimo. No que se refere escolaridade, constata-se que 30,55% dos chefes de famlia tm de 4 a 7 anos de estudo.

Descrio resumida:

Inicia-se na Avenida Centenrio, junto ao posto de combustvel, inclusive. Desse ponto segue at alcanar os limites do Cemitrio do Campo Santo, exclusive, at o Alto da Fonte. Segue este logradouro at Avenida Bencio Ramos e da segue este logradouro at a Baixa do Bispo. Da em linha reta at a interseo da Vila da Fonte com a Rua da Fonte, at sua interseo com a Rua 3 de Setembro, at alcanar a Avenida Carlos Fraga. Segue at alcanar a Travessa Carlos Fraga, por onde segue at a confluncia da Travessa Carlos Fraga, Rua Paula Ney e Travessa Nossa Senhora de Ftima. Segue por este ltimo logradouro at a 1 Travessa Corao de Maria, at alcanar a Travessa Jasmim, por onde segue at a Rua Maria Imaculada. Segue at alcanar a Travessa Resed. Segue at a interseo com a Rua Teixeira Mendes, at alcanar a Avenida Quatro de Julho. Segue at alcanar o limite do Campus da Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas da Universidade Federal da Bahia exclusive at alcanar o fundo dos imveis com frente para a Rua Nova do Calabar, at sua confluncia com a Rua Ranulfo Oliveira, por onde segue at a Rua Desembargador Ezequiel Pond, por onde segue at a Rua Martins de Almeida. Segue por este logradouro at o seu cruzamento com a Rua Ranulfo Oliveira. Segue at o seu cruzamento com a Rua Manoel Espinheira, at a sua interseo com a Rua Nova do Calabar. Segue por este logradouro at seu cruzamento com a Avenida Centenrio, por onde segue at o ponto de incio da descrio do limite desse bairro.

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onDInATranqilo, agradvel e sem muita violncia, assim, grande parte dos moradores define o bairro de ondina, onde antigamente existiam as fazendas Areia Preta e Pacincia. O bairro possui atualmente em suas ruas, um atrativo comrcio, que, para Jos Marcos Lopes, ex-diretor e membro da Associao de moradores de ondina, tambm um dos maiores problemas do bairro, pois tende a ser catico, sob o ponto de vista do trfego, da conservao das ruas e do barulho. Segundo Roque Silva, integrante do Conselho de moradores do Alto de ondina, representante da liga Desportiva, a ocupao do bairro iniciou-se na dcada de 1940, na fazenda Areia Preta, por pessoas situadas nas menores faixa de renda. Com o passar do tempo, o terreno foi loteado, novos moradores foram chegando, at chegar configurao urbana atual. Lopes sugere que a origem do nome do bairro vem de onda, ondinha. H algum tempo atrs, li uma pesquisa feita pelo pessoal da Associao de Moradores, que afirma que Ondina vem de onda. No existe nada que comprove isso, como tambm no encontramos outra definio. A localidade Alto de ondina um espao peculiar nesse bairro, sendo a resistncia para permanecer no bairro sua maior marca. Conforme Roque Silva, este lugar origina-se da rea onde hoje o Bahia Othon Palace Hotel. Quando nesse local s havia morro e pe-

dra, vivia a a Comunidade ondina. Devido construo da Avenida Ocenica, parte dos moradores foi remanejada para o bairro da Boca do Rio e a outra parte, que tomava conta do Zoolgico, foi levada pelo governo do estado para o Alto de Ondina. Neste bairro uma srie de fontes marca o seu cenrio, a Fonte do Chega nego, um monumento da dcada de 1920, utilizado hoje em dia principalmente para lavar os ps e para consumo de gua pelos freqentadores da Praia da onda e pelos transeuntes; a Fonte de Biologia, um monumento sem uso, a Fonte Chapu de Couro, situada no Alto de Ondina, usada para beber e tomar banho e a Fonte do Zoolgico, tambm conhecida como Fonte dos Desejos. Esta ltima localiza-se no Parque Zoobotnico Getlio Vargas, em uma rea de proteo ambiental - comum visitantes lancem moedas para que seus pedidos sejam atendidos. Na atualidade, o bairro possui como referncias, as Esttuas das Gordinhas, o Parque Zoobotnico Getlio Vargas, o principal campus da UFBA (antigo Parque de Exposies Garcia dvila) diversas escolas particulares, uma praa poliesportiva equipada para pessoas portadoras de necessidades especiais, o Juizado da Infncia e Juventude e o Instituto Pestalozzi. Ondina possui uma populao de 2004 habitantes, o que corresponde a 0,82% da populao de Salvador, concentra 0,98% dos domiclios da cidade, estando 23,90% dos chefes de famlia situados na faixa de renda mensal de mais de 20 salrios mnimos. No que se refere escolaridade, constata-se que 42,89% dos chefes de famlia tm 15 anos ou mais de estudos.

Fundao Gregrio de Matos

Descrio resumida: Inicia-se na linha de costa. Da segue pelo limite entre o Centro Espanhol exclusive e a Prefeitura da Aeronutica inclusive at a Rua do Cristo, por onde segue at a interseo com a Avenida Ocenica, at alcanara Rua Jos Stiro de Oliveira, por onde segue at a confluncia com a Rua Comendador Francisco Pedreira, por onde segue at a interseo com a Rua Plnio Moscoso, por onde segue at alcanar a Avenida Centenrio, por onde segue em direo a Rua Ranulfo de Oliveira, por onde segue at a Rua Desembargador Ezequiel Pond, por onde segue at a Rua Martins de Almeida. Segue por este logradouro at o seu cruzamento com a Rua Ranulfo Oliveira, seguindo em direo a Rua Jose Mirabeau Sampaio, at o limite do Campus da UFBA exclusive, e o Centro Esportivo da UFBA inclusive at o limite da FABESB exclusive, por onde segue at a Ladeira de Xapon, at a Rua Doutor Helvcio Carneiro Ribeiro, at o cruzamento com a Rua Alto de So Lzaro, seguindo pela do campus de Ondina/UFBA incluindo instalaes da UFBA, excluindo os imveis localizados na Rua Professor Aristides Novis e Rua Padre Camilo Torrend bem como a Escola Politcnica da UFBA. Da segue em linha reta at a Rua Baro de Jeremoabo por onde segue at a Rua Caetano Moura. Segue por este logradouro at seu encontro com a Avenida Cardeal da Silva e Avenida Anita Garibaldi, por onde segue at a Vila Matos, por onde segue at sua confluncia com a Avenida Ocenica e da segue at linha de costa, em direo ao ponto de incio da descrio do limite desse bairro.

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Bacia Hidrogrfica do Rio LucaiaLocalizada ao Sul da cidade do Salvador, a Bacia do Rio Lucaia (que em latim, significa luminoso, brilhante) possui uma rea de 14,74km2, o que corresponde 4,77% da superfcie territorial de Salvador. Encontra-se limitada ao Norte pela Bacia do Camarajipe, a Leste pela Bacia de Drenagem Amaralina/Pituba, a Oeste pela Bacia de Drenagem Vitria/Contorno e, ao Sul, pela Bacia de Ondina. Com uma populao de 267.688 habitantes, que corresponde a 11% da populao de Salvador, densidade populacional de 18.154,85hab./km2, a quarta bacia mais populosa do municpio (IBGE, 2000). A Bacia do Lucaia tem suas nascentes nas encostas e grotes do lado leste da Av. Joana Anglica, que vertem para o Dique do Toror, recebendo contribuies do Campo Grande e parte dos bairros do Garcia, Barris, Toror e Nazar, passando pelo canteiro central de toda a Av. Vasco da Gama, sendo alimentada pelas redes de drenagem das localidades de Alto do Gantois, Vales da Murioca e do Ogunj, assim como de parte dos bairros do Engenho Velho da Federao, Engenho Velho de Brotas, Acupe e Rio Vermelho, alm do riacho que passa na Av. Anita Garibaldi. O Rio Lucaia, ltimo afluente natural da primitiva foz do Rio Camarajipe, aps fazer o traado acima mencionado, desgua no Largo da Mariquita, no bairro do Rio Vermelho. Fazem parte dessa bacia os bairros de Toror, Nazar, Barris, Boa Vista de Brotas, Engenho Velho de Brotas, Federao, Acupe, Engenho Velho da Federao, Rio Vermelho, Chapada do Rio Vermelho, Itaigara, Santa Cruz, Candeal, Nordeste de Amaralina e Vale das Pedrinhas. Trata-se, portanto, de uma bacia ocupada por uma populao situada em vrias faixas de renda mensal, embora haja uma predominncia das rendas mais baixas, ficando os chefes de famlia concentrados nas seguintes faixas: 26,74% tm rendimento mensal de at 1 SM; 28,02% esto na faixa de mais de 1 at 3 SM; 26,67% esto na faixa de mais de 3 a 10 SM. Quanto aos ndices de escolaridade dos chefes de famlia que residem nessa bacia, os mais significativos foram: 30,19% que possuem de 11 a 14 anos de estudo e 16,96% possuem mais de 15 anos de estudo (IBGE, 2000). A Bacia do Lucaia responsvel pela drenagem de parte dos esgotos domsticos da cidade de Salvador. Esse rio encontra-se em toda a sua extenso revestido e/ou fechado (encapsulado), totalmente antropizado, com suas guas sempre opacas e muito escuras. O rio apresenta tambm o leito bastante assoreado comprometendo o fluxo de gua. Na rea prxima s nascentes, encontra-se o Dique do Toror, outrora um lago natural que recebia as guas de pequenos rios e contribua para originar o rio Lucaia. Alguns historiadores afirmam que o lago original ocupava uma rea muito maior, sendo, porm, aterrado em vrios trechos. Durante muitos anos, o Dique do Toror recebeu esgotos sanitrios in natura, provenientes dos bairros circunvizinhos. A quantidade de matria orgnica recebida diminuiu o teor de oxignio de suas guas, contribuindo para que muitas espcies que ali viviam se extinguissem. Atualmente o lago ocupa uma rea de 110.000m2 e suas margens e seu entorno foram objeto de reforma urbanstica e de intervenes de esgotamento sanitrio, eliminando todos os pontos de lanamento de esgotos domsticos. O Dique do Toror um lugar de culto do candombl, morada de Oxum, o orix da gua doce. Em 1998 foram construdas 12 esttuas simbolizando orixs no espelho dgua e na terra, pelo escultor Tati Moreno iniciativa que integra o projeto de desenvolvimento turstico da Bahia. No seu entorno existem reas para as prticas de cooper, ginstica, remo e pesca, alm de restaurantes e quiosques completando o cenrio. Alm do dique, existem nessa bacia vrias fontes, dentre elas a Fonte do Toror e a Fonte do Dique do Toror, ambas no Toror; a Fonte Davi e a do Terreiro Il Oy Tununj, em Brotas; a Fonte do Terreiro Mutuiara e a do Gueto, no Candeal; a Fonte do Terreiro Il Ax Oxumar e a do Terreiro Il Ax Iy Nass Ok, na Av. Vasco da Gama; a Fonte do Terreiro Il Iya Omi Ax, na Federao, entre outras. Para anlise de qualidade das guas, foram selecionadas cinco estaes de coleta nessa bacia, sendo que o quadro 01 apresenta as observaes efetuadas por meio do PAR.

O Caminho das guas em Salvador 41

Quadro 01. observaes do PAr nas estaes de coleta de amostra de gua da Bacia do rio lucaia ParmetroTipo de ocupao das margens Estado do leito do rio

lUC 01Residencial Assoreado

lUC 02Residencial Assoreado Revestido parcialmente Inexistente

lUC 03Comercial/ administrativo Revestido

lUC 04Residencial, comercial/administrativo Revestido

lUC 05Residencial Revestido

Mata ciliar Plantas aquticas

Odor da gua Oleosidade da gua Transparncia/ colorao da gua Tipo de fundo

Dominncia de gramneas Perifton abundante Perifton e biofilmes abundante e biofilmes Forte (esgotos) Forte (esgotos) Ausente Opaca ou colorida Lixo Moderada Muito escura Lixo Marcas de antropizao (entulho) Maior parte do substrato exposto

Inexistente Perifton abundante e biofilmes Forte (esgotos) Marcas em linhas (arcos ris) Opaca ou colorida Lixo, Lama/Areia Marcas de antropizao (entulho) Maior parte do substrato exposto

Pavimentado Perifton abundante e biofilmes Forte (esgotos) Marcas em linhas (arco ris) Turva Marcas de antropizao (entulho)

Pavimentado Ausente

Forte (esgotos) Ausente Opaca ou colorida Marcas de antropizao (entulho)

Fluxo de guas

Formao de pequenas ilhas

Formao de pequenas ilhas

Fluxo igual em toda a largura

Obs.: Perifton so organismos que vivem aderidos a vegetais ou a outros substratos suspensos.

Quadro 02. Coordenadas das estaes de coleta de amostras de gua da Bacia do rio lucaia Salvador, 2009 EstaoLUC 01

Coordenada X552772,3982 554764,6967 556935,3479 555665,0216 555495,2814

Coordenada Y8564099,13 8563287,323 8563736,076 8562192,405 8561795,551

refernciaAv. Vale dos Barris, ao lado da PMS/ SEDHAM. Av. Vasco da Gama, prximo ao viaduto. Av. Antnio Carlos Magalhes (Brotas), em frente Comercial Ramos. Av. Antnio Carlos Magalhes (Rio Vermelho), em frente a EMBASA. Av. Juracy Magalhes Junior, (Rio Vermelho), em frente UNIMED.

QUAlIDADE DAS GUAS A anlise da qualidade das guas na Bacia do Rio Lucaia foi realizada em 05 (cinco) estaes ao longo da Bacia, conforme coordenadas apresentadas no quadro 02 e figura 01.LUC 02 LUC 03 LUC 04 LUC 05

Figura 01. Bacia do rio lucaia com a localizao das estaes de coleta de amostras de gua

42 O Caminho das guas em Salvador

O Caminho das guas em Salvador 43

A figura 02 apresenta a maior concentrao de Coliformes Termotolerantes na estao LUC02 no perodo chuvoso, com os menores valores nas estaes LUC04 e LUC05, provavelmente, em funo da captao montante dos esgotos em tempo seco para o Sistema de Esgotamento Sanitrio de Salvador.

7

6

5

4

3

2

1 0N= 5 3

Quanto Nitrognio Total a estao LUC05 apresentou concentrao muito elevada na campanha de tempo seco (Figura 07) e quanto a Fsforo Total pode-se observar valores maiores que 0,5mg/l nas estaes, tanto no perodo chuvoso como no perodo seco, exceto na estao LUC05 na campanha do perodo seco, com maiores valores no trecho inicial do Rio (LUC01), bem como nas estaes LUC02 e LUC03, trecho do leito original do rio Camarajipe paralelo Av. Antnio Carlos Magalhes na campanha de perodo chuvoso. O ndice de Qualidade das guas - IQA do Rio Lucaia se apresenta na categoria Pssimo nas estaes LUC02, LUC04 e LUC05 no Perodo Seco e nas estaes LUC03 e LUC04 no Perodo Chuvoso, e na categoria Ruim nas demais estaes, tanto na campanha de perodo seco como na de perodo chuvoso, como mostra a figura 09, configurando-se como um dos rios do municpio de Salvador com o IQA mais baixo. Figura 06. Comparao das Concentraes de DBo (mg/l) na Bacia do rio lucaia nas 2 Campanhas

Figura 02. Coliformes termotolerantes na Bacia do rio lucaia

CHUVOSO

SECO

Figura 04. Comparao das Concentraes de oD (mg/l) na Bacia do rio lucaia nas 2 Campanhas

Figura 09. IQA nas estaes da Bacia do rio lucaia Figura 07. nitrognio total na Bacia do rio lucaia Os bairros inseridos nessa Bacia so atendidos pelo Sistema de Esgotamento Sanitrio de Salvador. Existem ligaes clandestinas de esgoto rede pluvial, em funo de dificuldades topogrficas, resistncia por parte de cidados em conectar seus imveis rede pblica coletora de esgotamento sanitrio, ocupao desordenada, com a existncia de imveis sobre galerias e canais de drenagem, em fundos de vale e encostas, gerando dificuldades de implantao da rede coletora de esgoto, alm de reformas e ampliaes de imveis sem a devida regularizao junto Prefeitura Municipal. Visando conhecer a vazo do Rio Lucaia, realizou-se tambm a medio de descarga lquida em uma estao (LUC05), situada na

Figura 03. oD na Bacia do rio lucaia

Figura 05. DBo na Bacia do rio lucaia A figura 05 mostra que as estaes que apresentaram os maiores teores de DBO foram LUC02, LUC03 e LUC04, devido aos esgotos sanitrios recebidos montante, tanto no perodo chuvoso como no perodo seco, e que apenas a estao LUC01, trecho inicial do Rio, no perodo seco no ultrapassa o valor estabelecido pela Resoluo CONAMA n. 357/05 para guas doces classe 2.

As menores concentraes de OD aconteceram nas estaes LUC04 e LUC05, no seu trecho terminal, tanto na campanha de perodo chuvoso como na de perodo seco quando atingiu valores mnimos e s ultrapassou a concentrao estabelecida pela Resoluo CONAMA n. 357/05 para guas doces classe 2 apenas na estao LUC03 na campanha de perodo chuvoso (Figura 03).

Figura 08. Fsforo total na Bacia do rio lucaia

44 O Caminho das guas em Salvador

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Av. Juracy Magalhes Jnior, (Rio Vermelho), em frente UNIMED. Coordenadas geogrficas, Latitude 38O 29 19,03 e Longitude 13O 00 46,63, em 19/8/2008 (Tempo Chuvoso), que apresentou como resultado da medio Q=0,00612m3/s. No momento de realizao da medio de vazo foi coletada amostra de gua para anlise de qualidade, o que permitiu o clculo da carga no Rio, apresentada na tabela 01, para os parmetros DBO5, Nitrognio Total e Fsforo Total. tabela 01. resultados das medies de vazo e das cargas de DBo5, nitrognio total e Fsforo totalEstao LUC 05continuao

Vazo Mdia L/s 6,12

DBO5 mg/L Excludo

DBO5 t/dia

Nitrognio Total mg/L N 6,3

Nitrognio Total kg/dia 3,33

Fsforo Total mg/L P 0,928

Fsforo Total kg/dia 0,49

Vale ressaltar que esses valores de carga so indicativos apenas de uma data e somente ilustrativos, considerando-se a necessidade de se analisar resultados qualitativos e quantitativos de uma srie histrica, para uma representatividade da realidade da Bacia.

Bacia Hodrogrfica do Rio Lucaia

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Ortofotos SICAD / PMS 2006

tororEu fui ao Toror Beber gua e no achei Encontrei linda morena Que no Toror deixei... O bairro do toror tem um nome de origem tupi que, para Mauro Carreira, autor do livro Bahia de Todos os Nomes, significa rumor de gua corrente, rio rumoroso. Consuelo Pond de Sena, presidente do Instituto Geogrfico e Histrico da Bahia, afirma tratar-se de um vocbulo onomatopaico que refere-se ao barulho produzido pela gua. Segundo Frederico Edelweiss, este bairro tem sua histria marcada por uma lagoa natural e secular que chegou a ter seis quilmetros de extenso: o Dique do Toror. Diz-se que o primeiro grande aterro do Dique foi em 1810, quando foi construda a ligao chamada de Gals do bairro de nazar com o bairro de Brotas. Segundo Adelmo Costa, presidente do bloco carnavalesco Apaches do toror, o Dique j foi muito utilizado por lavadeiras e era comum haver barcos como meio de transporte para fazer sua travessia. Em 1998 passou pela ltima interveno, que mudou sua feio urbanstica. O Toror tambm conhecido por ter sido um dos smbolos dos antigos carnavais de Salvador. Com o seu prprio calendrio de festas, incluindo a lavagem da Igreja de nossa Senhora da Conceio do toror (que acontecia uma semana antes do carnaval). Esse bairro foi o bero dos Apaches do toror, um famoso bloco de ndio do carnaval baiano, fundado em 1967 nas escadarias da Igreja do bairro, por jovens moradores do local, inspirados em filmes americanos, sucessos nos cinemas da poca. Naquele momento, os criadores do bloco entenderam que haRua Amparo do Toror

Foto: Jos Carlos Almeida

Dique do Toror

via a necessidade de brincar o carnaval tambm durante o dia e, como a escola de samba do bairro, Filhos do toror, saa noite, o bloco foi criado para sair nas manhs do domingo de carnaval. Hoje o Toror descrito da seguinte maneira por Adelmo Costa: um bairro buclico, tipo cidade do interior, um bairro muito bom, um bairro de centro. No tem tanta dificuldade, porm