o bndes e os povos indígenas - tnc.org.br · 7 bndes significa banco nacional de desenvolvimento...

32
1 O BNDES povos indígenas e os COIAB C o o r d e n a ç ã o d a s O r g a n i z a ç õ e s I n d í g e n a s d a A m a z ô n ia B r a s il e i r a

Upload: dangnhi

Post on 06-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

O BNDESpovos indígenase os

COIAB

Coord

en

ão

das

Org

anizações Indígenas

da

Am

azô

nia

Bra

sile

ira

Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIABCoordenação Executiva: 2006-2009

Coordenador GeralJecinaldo Barbosa Cabral/ Sateré Maué

Vice-coordenadorAntônio Marcos Alcântara de Oliveira/ Apurinã

Coordenador TesoureiroKleber Santos dos Santos/ Apurinã

Presidente do CONDEF (Conselho Deliberativo e Fiscal da COIAB):

Agnelo Temrite Wadzatze/Xavante

Gerencia Etnoambiental e Sustentabilidade Territorial Francisco Avelino Batista

EndereçosSede Manaus

Av. Ayrão, 235, Presidente Vargas, CEP 69.025-290, Manaus - AMFone: (92) 3621-7501/ [email protected]

Representação BrasíliaSRTVS – Edifício Centro Empresarial Assis Chateaubriand

Quadra 701, Conj.1, Bl. 1, nº 38, Salas 21/22, SobrelojaCEP 70.340-000, Brasília – DF

Fone: (61) 3323 -5068 / 3224-0840/ [email protected]

The Nature Conservancy – TNCThe Nature Conservancy – TNCThe Nature Conservancy – TNCThe Nature Conservancy – TNCThe Nature Conservancy – TNCPrograma de Conservação da Amazônia

DiretorIan Thompson

Gerente do Programa IndígenaMárcio Sztutman

Coordenador de Política Pública IndigenistaHélcio Marcelo de Souza

EndereçosAv. Nazaré, 280

NazaréCEP 66035-170

Belém - PAFone: (91) 4008-6200Fax: (91) 4008-6201

SRTVS, Quadra 701, Conjunto: D, Bloco: A, Sala 246Ed. Brasília Design Center - Asa Sul

CEP 70340-907Brasília - DF

Fone: (61) 3421-9100Fax: (61) 3421-9128

Organização e Coordenação EditorialHélcio Marcelo de Souza (TNC)

Edição e RedaçãoMarco Antonio Gonçalves/ Paxiúba Informação Ambiental Ltda.

Revisão de TextoAdriana Fradique

SupervisãoLorenda Raiol (TNC)

Projeto Gráfico e DiagramaçãoMarco Tullio Tavares

IlustraçõesAdriano Alves da Silva

Esta publicação foi possível por meio dogeneroso apoio do povo dos Estados Unidos

através da Agência Americana para oDesenvolvimento Internacional (USAID). O

conteúdo é de responsabilidade dos autores enão necessariamente reflete a visão da USAID

ou do Governo dos Estados Unidos.

O BNDESpovos indígenase os

COIAB

Coord

en

ão

das

Org

anizações Indígenas

da

Am

azô

nia

Bra

sile

ira

1ª EdiçãoBrasília - 2009

B661bO BNDES e os povos indígenas. – Belém, PA: Coordena-

ção das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab);The Nature Conservancy (TNC), 2009.

32 p.; il.

ISBN 978-85-60797-02-8

1. BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTOECONÔMICO E SOCIAL – BNDES. 2.CRÉDITO FINANCEIRO.3 POVOS INDÍGENAS. 4. DESENVOLVIMENTO SOCIAL I. TheNature Conservancy - TNC. II. Coordenação das OrganizaçõesIndígenas da Amazônia Brasileira - Coiab. III. Título.

Catalogação da fonte

ACoordenação das Organizações Indígenas daAmazônia Brasileira (COIAB) e a TNC apresentamaos leitores a publicação O BNDES e os PovosIndígenas que, de forma resumida e em linguagem

simples, traz uma caracterização do Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e suasrelações diretas e indiretas com povos indígenas e seusterritórios.

Entender e desenvolver uma relação com o BNDEStornou-se muito importante para os povos indígenas, poiso BNDES tem sido o principal financiador de obras eprojetos públicos e privados, alguns dos quais têm causa-do indiretamente grandes impactos nas terras indígenas.Além disso, por ser um Banco voltado para o desenvolvi-mento nacional, oferece um potencial a ser exploradopelos povos indígenas na obtenção de apoio para seusplanos de etnodesenvolvimento. Deste modo, a presentepublicação pretende contribuir para que as liderançasindígenas possam, de um lado, negociar a redução dosefeitos negativos de projetos apoiados pelo BNDES, e de

Apresentação

outro, explorar o potencial de suporte a projetos de inte-resse dos povos indígenas.

Essa publicação é resultado de pesquisas na Internet, daanálise de relatório, de consultoria feita por Isabelle VidalGiannini e Cássio Inglez de Sousa, documentos públicos eprojetos relacionados ao Banco, além de diversas reuniões econversas com representantes indígenas e de organiza-ções da sociedade civil. Agradecemos a todos indígenas enão indígenas que, com suas reflexões e sugestões, colabo-raram na construção deste importante instrumento de capaci-tação. Esperamos que, de posse deste documento, os diri-gentes de organizações indígenas possam fortalecer aindamais o seu trabalho de defesa de direitos e de proteção deterras indígenas.

Jecinaldo Barbosa Cabral Sateré MauéCoordenador Geral da COIAB

Ian ThompsonDiretor do Programa de Conservação da Amazônia da TNC

6

Sumário

Apresentação ........................................................................................ 5

O que é o BNDES? ............................................................................... 7Quanto dinheiro o BNDES tem? ........................................................................ 7

Como o BNDES usa o dinheiro que arrecada? .............................. 8

O BNDES e as obras de infra-estrutura .......................................... 9O que é o PAC ............................................................................................................ 9O que é o IIRSA ........................................................................................................ 9

Como o BNDES decide onde investir? .......................................... 10O que é o FAT e o CODEFAT ............................................................................... 11

De onde vem o dinheiro do BNDES? .............................................. 11

Quem pode conseguir crédito do BNDES? ................................... 12

O BNDES e as Mudanças Climáticas ...........................................14A Convenção do Clima e o Protocolo de Quioto......................................... 14O carbono e os gases que aquecem o planeta ........................................... 15O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo ................................................... 15Redução das Emissões do Desmatamento e da Degradação (REDD)e Fundo Amazônia ................................................................................................. 16Fórum de ONGs e Coiab fazem parte doComitê do Fundo Amazônia ............................................................................... 16

Quais as críticas da sociedade civil ao BNDES? ........................ 17

Como fazer para apresentar projetos ao BNDES? .......................18Etapas para conseguir crédito no BNDES .................................................... 18Um projeto que deu certo ................................................................................... 20Um projeto que não deu certo .......................................................................... 21

O BNDES apóia projetos que prejudicam os índios? .................22As Pequenas Centrais Hidrelétricas e os linhões ...................................... 22

O BNDES tem alguma forma de apoio aos índios? ....................23Programa Gestão Pública e Cidadania ............................................................... 23Programa poderia servir de exemplo para o BNDES .................................... 23Fundo Social ............................................................................................................. 24Pronaf .......................................................................................................................... 24

O que fazer para que o BNDES atenda as necessidadesdos povos indígenas? ......................................................................... 25Articulação interna e com outros movimentos ............................................... 25Adotar uma política transversal para os povos indígenas ...................... 26Criar regras especiais para o licenciamento de projetoscom impactos em terra indígena ...................................................................... 27Dar transparência às informações sobre os projetos ................................ 27Criar regras e condições institucionais para atenderàs necessidades de apoio financeiro dos povos indígenas ................... 28Fundo Social tem exemplo para um programa de apoio aos índios ... 29Conclusão .................................................................................................................. 30

7

BNDES significa Banco Nacional de DeBanco Nacional de DeBanco Nacional de DeBanco Nacional de DeBanco Nacional de DesenvolvimentosenvolvimentosenvolvimentosenvolvimentosenvolvimentoEconômico e Social.Econômico e Social.Econômico e Social.Econômico e Social.Econômico e Social.

O BNDES é um banco do Governo Federal, ligado ao Minis-tério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Elefoi criado em 1952 para fornecer apoio financeiro aos pro-gramas e projetos que o governo brasileiro considera impor-tantes para o desenvolvimento do país. Por isso, ele é cha-mado de banco de desenvolvimentobanco de desenvolvimentobanco de desenvolvimentobanco de desenvolvimentobanco de desenvolvimento.

O BNDEs é o principal financiador de obras e projetos dogoverno. Além disso, com o dinheiro que tem disponível oBNDES realiza empréstimos para grandes, pequenas e médiasempresas, para que elas possam comprar máquinas maismodernas e aumentar sua produção. Depois, essas empresasdevem pagar esse dinheiro emprestado de volta, com jurosjurosjurosjurosjuros.....

Página do BNDES na internet: http://www.bndes.gov.br/

O que é o BNDES?Juros - é uma quantia queos bancos cobram dapessoa ou empresa querecebeu dinheiro empresta-do. Essa pessoa ou empre-sa, além de pagar de volta ovalor que emprestou juntoao banco, deve pagar umvalor a mais, que é chamadojuros. Por exemplo: se umaempresa pega R$ 10.000,00emprestado de um banco eesse banco cobra 5% dejuros ao mês, essa empresadeverá pagar ao banco R$10.500,00, ou seja, os R$10.000,00 que pegouemprestado mais R$ 500,00de juros ao final de um mês.Como o BNDES é um bancode desenvolvimento, eleempresta dinheiro com jurosmais baixos que o de outrosbancos.

Crédito - é o dinheiro queum banco coloca à disposi-ção de empresas, pessoasou associações. O BNDESoferece dois tipos de crédito:o “crédito reembolsável”, emque o valor emprestadoprecisa ser pago de volta aobanco com juros, e o“crédito não-reembolsável”,em que o dinheiro nãoprecisa ser devolvido.

Quanto dinheiro o BNDES tem?

O BNDES tem uma grande quantidade de dinheiro paraemprestar e financiar obras e empresas. No final de 2007,o BNDES tinha um total de R$ 202,6 bilhões. Ao mesmotempo, o Banco tem aumentado o volume de créditosconcedidos. Ou seja, o Banco está aumentando a quanti-dade de dinheiro que fornece para as atividades produti-

vas. No ano de 2007, os créditos fornecidos pelo Bancoatingiram R$ 64,9 bilhões, o maior valor em toda suahistória. Esse valor é aproximadamente 160 vezes o totalgasto pelo Governo Federal em todas as suas atividadespara os povos indígenas em 2007, ano em que foramgastos R$ 407 milhões.

8

Como o BNDES usa o dinheiro que arrecada?

O BNDES tem um documento chamado Políticas Operacio-nais onde estão escritas as regras e indicados os setoresmais importantes para receber créditos. Este documento estáà disposição do público para consulta na página eletrônicado BNDES: www.bndes.gov.br. Em 2006, esse documentofoi reformulado e o Banco definiu os seguintes objetivoscomo prioridade:

Obras de infra-estrutura: financiamento de construção oude ampliação de estradas, hidrovias, usinas para a geraçãode energia, linhões de transmissão de energia, portos,gasodutos, pontes e outras obras de infra-estrutura.

Apoio à exportação de produtos: empréstimos para indús-trias, produtores agrícolas e outras empresas que queremvender seus produtos para outros países.

Modernização e ampliação da estrutura produtiva: emprés-timos para que grandes, médias e pequenas empresas ouprodutores possam comprar novas máquinas, como tratorese ferramentas, e melhorar sua produção. O objetivo doBNDES nessa linha é melhorar a qualidade e as condiçõesdo setor produtivo no Brasil.

Inclusão Social: fornece crédito para as empresas poderemampliar os benefícios sociais de seus empreendimentos nasáreas de desenvolvimento urbano, desenvolvimento rural,saúde e educação e meio ambiente.

Apoio às Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME):busca sempre que possível dar crédito a essas empresaspara que possam se desenvolver e gerar mais empregos.

O BNDES também fornece dinheiro para aumentar o capitalde empresas para que elas possam ter maior capacidade deproduzir. Além disso, o Banco financia a expansão e o desen-volvimento de cooperativas de produtores.

Capital - são todas ascoisas que um empresário

possui e que podem sertransformadas em dinheiro.

Isso inclui o terreno e oprédio onde a empresa estáinstalada, as máquinas que

ele usa para produzir e asmercadorias que ele produz,entre outras coisas. Muitasvezes, o empresário assina

um documento deixandoparte de seu capital como

garantia para conseguir umempréstimo no banco. Se ele

não conseguir pagar oempréstimo, o banco fica

com as coisas dadas comogarantia, como, por exemplo,

as máquinas utilizadas naprodução.

9

No caso das obras de infra-estrutura, o BNDES apóiafinanceiramente os projetos do Governo Federal queestão incluídos no Plano Plurianual. É o caso, porexemplo, do Programa de Aceleração do Crescimento,conhecido como PAC, e do Projeto de Integração da

O BNDES e as obras de infra-estrutura

Plano Plurianual - acada quatro anos, o governoprecisa planejar como vaigastar o dinheiro quearrecada da sociedadeatravés de impostos. O PlanoPlurianual é um documento,apresentado pelo Governo eaprovado pelos senadores edeputados federais, queinforma quanto, como eonde o governo pretendegastar o dinheiro dosimpostos. É um documentomuito importante para asociedade conhecer quaissão os programas que ogoverno considera maisimportantes para fazer seusinvestimentos.

Infra-Estrutura Regional Sul-Americana, chamado deI IRSA, que têm várias obras financiadas pelo BNDES.Muitas dessas obras causam impactos sobre terrasindígenas e, por isso, deveriam merecer maior atençãodo Banco.

IIRSA significa Iniciativa para a Integração da Infra-Estrutura Regional Sul Americana. O IIRSA é um acordoentre os 12 países da América do Sul que tem comoobjetivo a integração econômica da região através daimplantação de infra-estrutura (como estradas e linhõesde transmissão de eletricidiade) e o estímulo ao comércioentre esses países. O BNDES é um dos financiadores deseus projetos.

O plano foi criado oficialmente em 2000, durante aReunião dos Presidentes da América do Sul, emBrasília. No Brasil, a I IRSA planeja fazer, até o ano de2010, muitas obras de infra-estrutura em sete áreasconsideradas importantes, chamadas "eixos deintegração". Muitas dessas obras fazem parte tam-bém do PAC.

O que é o PACO Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é a princi-pal política de desenvolvimento do Governo Lula e tem comoobjetivo aumentar o crescimento econômico do país. O PACfoi lançado em janeiro de 2007 e está baseado, principal-mente, na realização de obras de infra-estrutura, no incenti-vo ao financiamento de atividades econômicas e no aumentoda oferta de crédito.

O BNDES é um dos financiadores do PAC. Em janeiro de2007, o BNDES anunciou a redução da taxa de juros paraempresas que investissem na geração, transmissão e distri-buição de energia; na produção e distribuição de gás e naconstrução ou ampliação de estradas, portos e ferrovias.Muitas obras do PAC terão impactos sobre terras indígenas,como é o caso da hidrelétrica de Belo Monte, planejada paraser construída no rio Xingu, no estado do Pará.

O que é o IIRSA

10

Como o BNDES decide onde investir?

O BNDES pertence ao Governo Federal e, por isso, asdecisões sobre onde o banco vai investir o dinheiro quearrecada são tomadas pelo governo. A estrutura interna doBNDES é formada pelo:

Conselho de Administração Diretoria Conselho Fiscal

A maior autoridade é o Conselho de Administração, que éformado pelo presidente do BNDES e por 10 pessoas chama-das "conselheiros", que ficam três anos nessa função.Os conselheiros atuais são políticos, economistas, sindicalistase empresários, que foram indicados por Ministérios do Gover-no Federal e nomeados pelo presidente da República. Sãoeles que decidem em que setores o dinheiro do Banco vai serinvestido.

A Diretoria é composta por várias áreas temáticas, entre elas aÁrea de Inclusão Social, que atende setores da sociedade comoas populações indígenas. O Conselho Fiscal é responsável poranalisar se o BNDES está gastando o dinheiro corretamente.

Outro órgão importante é o Conselho Deliberativo do Fundode Amparo ao Trabalhador, conhecido por CODEFAT, poisdecide onde o BNDES deve aplicar o dinheiro do Fundo deAmparo do Trabalhador, o FAT.

A presidência do BNDES fica na cidade do Rio de Janeiro, queé o local onde ocorrem as reuniões importantes do Banco.Existem também escritórios para atender empresas nas cidadesde São Paulo, Brasília e Recife.

O Conselho de Administração decide onde o dinheiro doBNDES vai ser gasto. Seria muito bom se nesse conselho

tivesse um representante dos povos indígenas

11

O CODEFAT é um conselho criado em 1990 que funcionadentro do Ministério do Trabalho e do Emprego. Ele écomposto por representantes dos trabalhadores, dosempregadores e do governo.

Uma das funções mais importantes desse conselho édecidir onde vai ser aplicado o dinheiro do Fundo deAmparo ao Trabalhador, o FAT, que é formado por umaparcela tirada mensalmente do salário dos trabalhadoresregistrados pelo governo e pelas empresas privadas, ouseja, empresas que não são do governo. O FAT é uma dasprincipais fontes de dinheiro do BNDES e deve ser usadoem programas que ajudem os trabalhadores. Portanto, o

CODEFAT também toma decisões sobre como o dinheiro doBNDES deve ser usado.

Hoje, o dinheiro do FAT é usado para as seguintes ações:Programa de Seguro-Desemprego: paga o seguro-desempre-go aos trabalhadores que ficam desempregados e apóiaprogramas que os ajudam a conseguir um novo trabalho;

Programas de Geração de Emprego e Renda: ajudam a criar novosempregos e a fortalecer micro e pequenos empreendimentos.

Fonte: página do BNDES na internet (http://www.bndes.gov.br/empresa/fundos/fat/default.asp)

O que são o FAT e o CODEFAT

De onde vem o dinheiro do BNDES?O dinheiro que o BNDES administra vem das seguintesfontes:

de dinheiro que recebe de outros bancos de desenvolvi-mento, como o Banco Mundial e o Banco Interamericano deDesenvolvimento, e também de bancos de governos deoutros países;

das aplicações que o BNDES faz no mercado financeiro

do pagamento que as empresas fazem pelos empréstimostomados do BNDES;

de impostos pagos pelos brasileiros para fundos como o FAT,criados para ajudar os trabalhadores;

de doações de outros países para iniciativas de compensaçãopor serviços ambientais, como o Fundo Amazônia, criado em2008 pelo Governo Federal.

11

12

Pessoas físicas - são aspessoas que têm negócios,mas que fazem a solicitação

de crédito em seu próprionome, e não no nome de

uma empresa. São pequenosprodutores rurais e micro-

empresários, que podemsolicitar crédito em dinheiro

ao BNDES desde que vivame trabalhem no Brasil.

Pessoas jurídicas - sãoas empresas e organizações

que formam sociedadesnacionais ou estrangeiras.Nesse segundo caso, sua

sede e administração devemestar no Brasil. Podem ser

empresários individuais,cooperativas, associações

ou ainda fundações einstituições governamentais.

Quem pode conseguir crédito do BNDES?

O BNDES oferece à sociedade linhas de crédito através deduas categorias principais:

apoio financeiro: crédito dado de acordo com as regrasdefinidas pelas Políticas Operacionais do banco;

programas: são linhas de crédito que funcionam por umprazo determinado e são destinadas a diferentes áreas,como indústria, infra-estrutura, agricultura, meio ambiente,desenvolvimento social, exportação, regional, pequenas emédias empresas e outros programas.

Veja como: para as indústrias: as ações do BNDES seguem a

Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior doMinistério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio(MDIC). O objetivo é aumentar a eficiência da estruturaprodutiva das empresas brasileiras e aumentar a exportaçãode produtos para outros países;

para a infra-estrutura: o BNDES tem como objetivoaumentar o acesso a serviços básicos como a eletricidade,comunicações, transportes urbanos e saneamento e reduzircustos, aumentar a produtividade, aprimorar a qualidade daestrutura produtiva e consolidar a integração regional;

para a agropecuária: apoio ao setor, em articulaçãocom os Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abasteci-mento e do Desenvolvimento Agrário e com o Ministérioda Fazenda. Existem muitos programas agropecuáriosbeneficiados pelo Banco, como o Programa de Desenvol-vimento do Agronegócio (PRODEAGRO), o ProgramaNacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRO-NAF), o Programa de Desenvolvimento da Fruticultura(PRODEFRUTA), o Programa de Modernização da Agricul-tura e Conservação de Recursos Naturais (MODERA-GRO), o Programa de Modernização da Frota de TratoresAgrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras(MODERFROTA).

13

para o meio ambiente: tem o objetivo de oferecercrédito para projetos ambientais. Possui as seguintes linhasde financiamento:

Apoio a investimentos em meio ambiente: inclui apoiopara projetos em saneamento básico, projetos de comitêsde bacia hidrográfica, de eficiência no uso de recursosnaturais, recuperação e conservação de ecossistemas ebiodiversidade, mecanismo de desenvolvimento limpo,planejamento e gestão e recuperação de passivos ambi-entais.

Apoio à Eficiência Energética (PROESCO): apóia projetosque tenham o objetivo de economizar energia de empre-sas e usuários finais.

Apoio ao Reflorestamento de Carajás (REFLORESTA):financia o plantio de espécies de rápido crescimento,como o eucalipto, e de espécies nativas no DistritoFlorestal Sustentável de Carajás, entre os estados doPará e Maranhão.

Desenvolvimento Social: apóia vários programas com oobjetivo de aumentar a oferta de crédito ao empreende-dor de baixa renda e expandir os serviços de saúde, deeducação e assistência social à população, entre outrascoisas. Entre os programas dessa linha estão o Progra-ma de microcrédito e o Fundo Social, que podem serboas oportunidades para os índios (leia mais no capítulo“O BNDES tem alguma forma de apoio aos índios?”,página 23).

Apoio a Micro, Pequenas e Médias Empresas: essas empresassão consideradas uma das prioridades do BNDES. Existem

várias linhas de financiamento para elas, com o objetivo de, porexemplo, permitir a compra de equipamentos e máquinas.Produtores agrícolas estão incluídos nessa linha. Segundo oBNDES, para essas empresas existem programas que oferecemas melhores condições de custos e prazos para apoiar investi-mentos nos setores industrial, de infra-estrutura, de comércio eserviços e agropecuário.

Programa BNDES Desenvolvimento Limpo: essa linha decrédito é destinada a empresas e projetos que ajudem adiminuir as mudanças climáticas. Ela financia “ReduçõesCertificadas de Emissão”, também conhecidos como“crédito de carbono”, que faz parte do Mecanismo deDesenvolvimento Limpo (MDL) previsto no Protocolo deQuioto. Para entender o que é o Protocolo de Quioto ecomo funciona o MDL, leia o texto O BNDES e as Mu-danças Climáticas, na página 14.

O BNDES tem linhas de apoio financeirona área de meio ambiente que podem ser uma boaoportunidade de crédito para os povos indígenas!

14

A Convenção do Clima e o Protocolo de QuiotoO primeiro acordo feito pelos países que fazem parte daConvenção do Clima da ONU recebeu o nome de Protocolode Quioto. Os países que assinaram esse documento pro-meteram tomar medidas para diminuir o lançamento degases como o CO2 na atmosfera até o ano de 2012.

O Protocolo de Quioto divide os países em dois grupos: no primeiro grupo estão os países mais ricos e industrializa-dos. Eles estão poluindo o ar do planeta há muito tempo porcausa de suas fábricas, carros e grandes cidades, e por issoprecisam investir mais dinheiro para diminuir a poluição lançadana atmosfera. È o caso da Inglaterra, Alemanha, França e devários outros países. Os Estados Unidos são o maior poluidordo planeta, mas eles não assinaram esse documento.

no segundo grupo estão os países que não são conside-rados ricos, que ainda não têm tantas fábricas e tantoscarros e que, por isso, causaram menor poluição do ar doplaneta. É o caso do Brasil e da maior parte dos países.Eles não são obrigados a diminuir a poluição da atmosferaaté 2012, como é o caso dos países ricos que assinaram oProtocolo de Quioto.

O problema é que o Brasil é um dos principais poluidoresdo ar com CO

2 por causa do desmatamento e das queima-

das destinadas à agricultura e à criação de gado, princi-palmente na Amazônia. O corte da vegetação natural e afumaça das queimadas também causam poluição e es-quentam a temperatura do planeta.

Cientistas de todo o mundo afirmam que a temperatura do planetaTerra está aumentando e isso está causando mudanças no climade vários lugares. Essas mudanças no clima estão causandoproblemas como grandes enchentes e secas cada vez mais fortes.Alguns cientistas dizem que o nível do mar também está aumen-tando e que as cidades do litoral poderão ser alagadas.

O aumento da temperatura do planeta é provocado por algunsgases lançados no ar principalmente pelos seres humanos. É ocaso da fumaça das queimadas, dos carros e das indústrias. Oscientistas chamam essa fumaça de "gases de efeito estufa", poiseles seguram os raios do sol na atmosfera, deixando o planetacada vez mais quente.

O BNDES e as Mudanças Climáticas

14

15

Existe na natureza um elemento chamado carbonocarbonocarbonocarbonocarbono que fazparte do próprio ar, das plantas, de rochas como o carvão etambém do petróleo, que é usado para fazer gasolina e óleodiesel. O carvão e o petróleo começaram a ser retirados dofundo da terra há mais de 100 anos pelos seres humanospara fazer suas máquinas e indústrias funcionarem.

Quando o carvão, a gasolina, o óleo diesel e as árvores sãoqueimados, o carbono que existe nesses produtos virafumaça. Parte dessa fumaça é formada por uma substânciachamada dióxido de carbono,dióxido de carbono,dióxido de carbono,dióxido de carbono,dióxido de carbono, que sobe para a atmosfera.

O carbono e os gases que aquecem o planetaO dióxido de carbonodióxido de carbonodióxido de carbonodióxido de carbonodióxido de carbono, também conhecido pela sigla COCOCOCOCO

22222, é

um dos principais gases que aquece a atmosfera do planeta.Como os seres humanos jogam muito CO

2 na atmosfera, há

muito carbono lá em cima alterando o clima do planeta.

Por isso tudo, em 1992 a Organização das Nações UnidasOrganização das Nações UnidasOrganização das Nações UnidasOrganização das Nações UnidasOrganização das Nações Unidas,conhecida pela sigla OOOOONNNNNUUUUU, reuniu governos de muitos paísescom o objetivo de diminuir a poluição com gases que aquecema temperatura do planeta. Esse acordo recebeu o nome deConvenção-Quadro das Nações Unidas sobre MudançasClimáticas, mais conhecida como Convenção do ClimaConvenção do ClimaConvenção do ClimaConvenção do ClimaConvenção do Clima.

Usando a matemática, profissionais de vários países inventa-ram um jeito de calcular a quantidade de carbono que cadapaís lança no ar. Quando um país industrializado conseguediminuir a quantidade de gases lançado na atmosfera, eleganha “créditos de carbono”, que também é conhecido porum nome mais complicado: Reduções Certificadas deReduções Certificadas deReduções Certificadas deReduções Certificadas deReduções Certificadas deEmissãoEmissãoEmissãoEmissãoEmissão. Esses créditos de carbono podem ser transforma-dos em dinheiro.

Esse país pode também investir dinheiro em países menosindustrializados, como o Brasil, em projetos que retirem o

O Mecanismo de Desenvolvimento Limpocarbono da atmosfera. Isso pode ser feito, por exemplo,plantando muitas árvores. O investimento feito por esse paísrico num país menos rico também é transformado em créditosde carbono. Esse sistema é chamado Mecanismo de Desen-volvimento Limpo (MDL) e funciona como um mercado decréditos de carbono.

Como explicamos na página 13, o BNDES tem uma linha decrédito na área de meio ambiente destinada a empresasbrasileiras que queiram fazer projetos que ajudem a diminuir aquantidade de carbono na atmosfera do planeta.

15

16

A COIAB faz parte do Comitê do Fundo Amazônia,que tem bastante dinheiro para ser investido

na redução do desmatamento de nossas florestas. O funcionamento e as regras para o uso do dinheiro do FundoAmazônia serão definidas pelo Comitê Orientador do FundoAmazônia (COFA), que é composto por oito órgãos do GovernoFederal, pelo BNDES, por representantes dos estados daAmazônia que possuam planos para evitar o desmatamento epor seis representantes de entidades não-governamentais. OFórum Brasileiro de ONGs e a COIAB estão entre os represen-tantes da setor não-governamental no Comitê.

Fórum de ONGs e Coiab fazemparte do Comitê do Fundo Amazônia

Redução das Emissões do Desmatamentoe da Degradação (REDD) e Fundo AmazôniaAlguns países e entidades que defendem o meio ambientepropuseram que, quando um país diminui ou evita o desmata-mento de suas florestas, ele também deveria ser beneficiadocom créditos de carbono. Afinal, ao evitar o desmatamento eleestá também evitando a poluição atmosférica. Mas os gover-nos de vários países não gostaram dessa idéia. Por isso, apossibilidade de recompensar países que evitam o desmata-mento ficou de fora do MDL e do Protocolo de Quioto.

Mais recentemente, os governos aceitaram discutir uma novaforma de recompensar financeiramente os esforços de paísesque diminuírem as emissões de gases por causa do desmata-mento. Esse mecanismo é conhecido por Redução dasRedução dasRedução dasRedução dasRedução dasEmissõeEmissõeEmissõeEmissõeEmissões do Des do Des do Des do Des do Desmatsmatsmatsmatsmatamento e da Degradação (Ramento e da Degradação (Ramento e da Degradação (Ramento e da Degradação (Ramento e da Degradação (REEEEEDDDDDD)D)D)D)D)e entrou oficialmente em 2007 nas negociações da Conven-ção do Clima. Com isso, projetos de REDD poderão serincluídos em um novo acordo, que substituirá o Protocolo deQuioto a partir de 2012.

Diante disso, em agosto de 2008 o governo brasileirocriou o Fundo AmazôniaFundo AmazôniaFundo AmazôniaFundo AmazôniaFundo Amazônia para receber doações emdinheiro e investir na redução do desmatamento,especialmente na floresta amazônica. O Fundo Amazô-nia será operado pelo BNDES e as doações serãoproporcionais à redução das emissões de carbonodecorrentes de desmatamento – ou seja, quantomenos desmatamento, maior o volume de doações oFundo poderá receber.

O BNDES emitirá um diploma reconhecendo a contribui-ção dos doadores ao Fundo Amazônia, com o valor dodinheiro doado, o valor equivalente da doação emtoneladas de carbono e o ano da redução do desmata-mento. A Noruega, um país europeu grande produtor depetróleo, doou os primeiros 140 milhões de dólarespara o Fundo Amazônia.

17

Como já dissemos, o BNDES pertence ao governo brasileiro e tem entre osseus objetivos usar seu dinheiro para o desenvolvimento social do país. Comoestamos num país democrático, em que o governo que controla o BNDES éeleito pelo povo, o Banco deveria estar mais aberto à participação de outrossetores da sociedade brasileira, incluindo os índios, para decidir onde investir odinheiro que controla.

Essa é uma das principais críticas feitas pela Rede Brasil sobre InstituiçõesRede Brasil sobre InstituiçõesRede Brasil sobre InstituiçõesRede Brasil sobre InstituiçõesRede Brasil sobre InstituiçõesFinanceiras MultilateraisFinanceiras MultilateraisFinanceiras MultilateraisFinanceiras MultilateraisFinanceiras Multilaterais. A Rede Brasil é uma articulação de ONGs e movi-mentos sociais que defende os interesses da sociedade civil diante da política debancos e de instituições financeiras sediadas no Brasil e em outros países. ACoordenação das Organizações Indígenas da Amazônia BrasileiraCoordenação das Organizações Indígenas da Amazônia BrasileiraCoordenação das Organizações Indígenas da Amazônia BrasileiraCoordenação das Organizações Indígenas da Amazônia BrasileiraCoordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira(COIAB) (COIAB) (COIAB) (COIAB) (COIAB) é uma das entidades que fazem parte da Rede Brasil.

Desde 2004, a Rede Brasil vem estudando e acompanhando a atuação doBNDES como banco de desenvolvimento nacional. Como parte desse trabalho, aRede Brasil preparou vários estudos, organizou um seminário e uma cartilhachamada “O BNDES visto pela sociedade civil” para ajudar a sociedade a entendero problema.

Essa articulação resultou no documento PlatPlatPlatPlatPlataforma Baforma Baforma Baforma Baforma BNNNNNDDDDDEEEEESSSSS, uma proposta quereúne avaliações e sugestões para que o Banco melhore sua atuação social eambiental. Este documento foi entregue ao presidente do BNDES durante aassembléia da Rede Brasil. Esses documentos preparados pela Rede Brasil estãona Internet, no endereço http://www.rbrasil.org.br.

Falta de transparência na divulgação de informações sobre váriosaspectos de sua atuação. No entanto, a partir de 2008 o BNDESpassou a divulgar maiores informações sobre suas operações noseu endereço na internet (http://www.bndes.gov.br/empresa/bntransp.asp);

falta de espaços destinados à participação de outros setores dasociedade civil no Conselho de Administração, além de empresári-os e trabalhadores;

prioridade aos aspectos econômicos dos projetos apoiados, emdetrimento de projetos ambientais, sociais e culturais;

prioridade a um modelo de desenvolvimento que considera maisimportante o crescimento econômico que a distribuição de renda eo respeito aos direitos da diversidade social brasileira.

Quais as críticas da sociedade civil ao BNDES?

Principais críticas sociais ao BNDES

Reivindicações

A COIAB e a Rede Brasil estãoreivindicando que o BNDES adote

medidas para aumentar a transparênciade suas decisões. Os índios precisam

ficam atentos a essa mobilização.

18

O BNDES tem três forma de repassar recursos a pessoas,empresas e organizações que solicitam crédito ao Banco.São elas: a forma direta, indireta e mista, que estão explica-das a seguir:

• • • • • diretdiretdiretdiretdireta:a:a:a:a: é quando o pedido é feito diretamente ao BNDES.No caso de valores superiores a R$ 10 milhões, o pedidodeve ser feito de forma direta ao Banco através de apresen-tação de carta-consulta. As regras e o modelo de carta-consulta estão publicados no endereço http://www.bndes.gov.br/programas/sociais/fundo_social.asp;

Os pedidos de apoio financeiro ao BNDES devem seguiruma série de etapas, que podem levar muitas semanas oumeses até serem realizadas. As solicitações de apoio, nasformas direta, indireta não automática e mista, são encami-nhadas ao BNDES e seguem as seguintes etapas:

consult consult consult consult consulta préviaa préviaa préviaa préviaa prévia: o interessado procura o BNDES ouuma das instituições credenciadas para saber como enviarum pedido de crédito ao Banco; esse pedido, chamado“consulta prévia”, é enviado ao Banco seguindo as orienta-ções recebidas;

Como fazer para apresentar projetos ao BNDES?

••••• indireta: indireta: indireta: indireta: indireta: são pedidos de crédito feitos indiretamente,através de outros bancos ou instituições financeiras que sãocredenciadas pelo BNDES. Essas instituições têm autonomiapara julgar o pedido e conceder o crédito. Neste caso, ocrédito pode ser feito de forma automática, se for de até R$250 mil, e não-automática, quando também é necessária aapresentação de carta-consulta;

••••• mista: mista: mista: mista: mista: são os casos em que a operação de crédito combinaas duas formas anteriores, direta e indireta não-automática, ouseja, que precisa de carta-consulta.

Etapas para conseguir crédito no BNDES enquadramento: enquadramento: enquadramento: enquadramento: enquadramento: o Departamento de Prioridades da

Área de Planejamento do BNDES recebe o pedido decrédito e verifica se ele está dentro das prioridades doBanco, definidas nas Políticas Operacionais. O pedido éanalisado pelo Comitê de Prioridades, composto pelasSuperintendências das áreas operacionais e a Diretoria.Cópias dos pedidos de crédito são enviadas à Área deCrédito e à Área Operacional responsável pelo setoreconômico de que trata o projeto (Industrial, de InsumoBásicos, de Infra-estrutura, de Comércio Exterior e deInclusão Social);

19

apresentação do projeto: apresentação do projeto: apresentação do projeto: apresentação do projeto: apresentação do projeto: se o pedido for aprovado, o interes-sado receber a “carta de enquadramento”. Após receber essedocumento, a pessoa ou empresa tem que preparar novas infor-mações e documentos sobre o projeto, sob orientação da áreaoperacional do BNDES. Depois, entrega essa papelada ao Banco;

análise do projeto: análise do projeto: análise do projeto: análise do projeto: análise do projeto: o BNDES faz um relatório de análise,elaborado pela Área Operacional. Se o projeto for muiitogrande, o relatório da Área Operacional é submetido àaprovação da Diretoria do banco;

contratação: contratação: contratação: contratação: contratação: se os documentos entregues estiveremcertos e o projeto for aprovado, é elaborado o contrato a serassinado entre o interessado e o BNDES;

desembolso:desembolso:desembolso:desembolso:desembolso: a liberação do dinheiro é feita em parcelas,de acordo com as datas e os valores escritos no contratado.

Como as linhas de crédito oferecidas pelo BNDES têm regrasdiferentes, cada uma possui um roteiro específico e ummanual de preenchimento de formulário. Estes documentosestão disponíveis para serem impressos no site do BNDES.Quando a solicitação de apoio é feita na forma indireta, a redecredenciada tem a autonomia para analisar a carta-consulta, deenquadramento e análise do projeto. Despois, envia para oBNDES seu parecer e o BNDES que autoriza a contratação.

O BNDES tem três formas para fornecer crédito.Mas é preciso ler e assinar muitos papéis

e enfrentar muitas etapas antes de conseguiresse dinheiro. Para nós, isso é um problema!

20

Alguns anos atrás, os índios Krahô, que vivem em umaárea com 302 mil hectares no norte do estado do Tocan-tins, decidiram recuperar sementes de milho tradicional,muito utilizadas pelos antepassados, mas que haviamsido abandonadas. Eles souberam que uma empresa dogoverno, a Embrapa, tinha sementes indígenas guarda-das. Os índios conseguiram essas sementes e tambémconseguiram sementes nativas com outros gruposindígenas. Com isso, voltaram a plantar as sementestradicionais. Essa iniciativa ganhou o nome de ProjetoReintrodução de Sementes Nativas e fazia parte de umprograma maior, chamada Programa Integrado para oDesenvolvimento Sustentável Krahô.

O Projeto Reintrodução de Sementes Nativas foi apresenta-do ao Programa Gestão Pública e Cidadania pela Kàpey -União das Aldeias Krahô e ganhou o Prêmio Gestão Públicae Cidadania. Durante a entrega do prêmio, o BNDESprocurou os Krahô e a Funai, oferecendo apoio financeiropara que os índios ampliassem o projeto. A partir daí, osíndios começaram a sentir as dificuldades em trabalhar como BNDES.

Para conseguir o crédito, foi preciso preparar um novoprojeto seguindo as orientações dos funcionários da Áreade Inclusão Social do BNDES. Foi muito difícil fazer oprojeto porque não existia um modelo e regras claras paraseguir. Por isso, o projeto teve que ser refeito váriasvezes. Isso gerou muita insatisfação dos índios com os

Um projeto que deu certo

Projeto de Sementes Nativas dos Krahôfuncionários do BNDES. Para finalizar essa etapa, foi precisocontar com apoio de uma ONG especializada em projetosambientais, chamada Funbio. Depois de vários versões, oprojeto conseguiu ser aprovado pelo BNDES

O projeto teve queser refeito várias vezese demorou muito paraser aprovado pelo BNDES.

Com a aprovação do projeto, foi assinado um contratoentre a Kàpey e o BNDES e os índios receberam um totalde um milhão de reais como crédito não-reembolsável. Ouseja, não era preciso pagar esse valor ao BNDES. Comesse dinheiro, os Krahô construíram e equiparam a EscolaAgroambiental Catxewyj. Os Krahô também investiram naconstrução e na melhoria de pontes e estradas, fizeram umarmazém comunitário, uma casa de rádio, casa para ogerador, compraram móveis e um veículo para a associaçãoKrahô e contrataram serviços de técnicos não-indígenasquando necessário.

A execução do projeto foi acompanhada por funcionários doBNDES, que visitaram a terra indígena para ver como osíndios estavam usando o dinheiro e ajudá-los na prestação decontas. Apesar das dificuldades para apresentar o projeto, odinheiro do BNDES foi muito importante para que os Krahôpudessem melhorar sua produção e fazer muitas coisas queestavam paradas por falta de dinheiro.

Embrapa - a Embrapa(Empresa Brasileira de

Pesquisa Agropecuária) éuma empresa do governo

federal, vinculada ao Ministé-rio da Agricultura, Pecuária eAbastecimento que trabalha

fazendo pesquisas paramelhorar a qualidade da

agricultura e da produçãoanimal no país. A Embrapatem escritórios espalhados

por todos os estados dopaís.

21

O Projeto Frutos do Cerrado é uma parceria entre índios epequenos agricultores que vivem na região de Cerrados nosestados do Maranhão e Tocantins. Ele é executado pelaAssociação Vyty-Cati, que representa cinco povos Timbira, etem a assessoria da ONG Centro de Trabalho Indigenista, oCTI. O projeto incentiva a implantação de plantios permanen-tes combinados com plantios temporários em capoeirasmelhoradas, áreas de roça que são manejadas para setransformarem em pomares e bosques.

As frutas são coletadas e beneficiadas pela empresa Fruta SãIndústria, Comércio e Exportação Ltda., que pertence àassociação indígena e ao CTI. As polpas das frutas sãoembaladas em uma fábrica em Carolina, um cidade da região,e depois são vendidas com a marca Fruta Sã.

Um projeto que não deu certo

O Projeto Frutos do CerradoEm 2000, o CTI ajudou os índios a preparem um projeto paraconseguir apoio financeiro do BNDES. Eles queriam ampliar aprodução e o beneficiamento de polpas de frutas. Um planode negócios foi preparado seguindo a orientação de umfuncionário do BNDES. Esse funcionário já havia acompanha-do a elaboração e a execução do Projeto de SementesNativas, da Kàpey. Mesmo assim, o plano da Associação Vyty-Cati foi recusado. O funcionário do BNDES disse apenas quenão acreditava que o projeto pudesse dar certo em “época deapagão”. O apagão era a crise de energia elétrica que o paísenfrentava na época.

Pouco tempo depois, o projeto Fruta Sã ganhou o PrêmioGestão Pública e Cidadania, que tem o apoio do próprioBNDES. Quando foram receber o prêmio, o pessoal do CTI eos índios Timbira falaram na frente de todos que não conse-guiam entender as regras para conseguir apoio financeiro doBanco, pois o mesmo projeto que agora era premiado nãohavia conseguido ter uma solitação de crédito aprovadameses antes.

Esse caso demonstra como as regras e condições criadas peloBNDES para dar apoio financeiro a projetos indígenas não sãoclaras e, por isso, são difíceis de serem compreendidas pelasassociações indígenas e pelas entidades que lhes auxiliam.

21

22

Licenciamentoambiental - a Lei no

6.938/1981 determina quea construção, o funciona-

mento ou ampliação dequalquer obra que possa

causar poluição oudestruição ambiental

precisa de autorização doórgão ambiental estadual

ou do Ibama. Esse proces-so, em que o risco de

causar poluição oudegradação ambiental deuma obra é avaliado antes

de ser construída, échamado licenciamento

ambiental.

O BNDES apóia projetos que prejudicam os índios?

Há muitos projetos apoiados pelo BNDES que causam impac-tos nas terras indígenas. Podemos dizer que o dinheiro usadopelo BNDES pode prejudicar os índios, de forma indireta, deduas maneiras:

através de obras que provocam impactos sobre as terrasindígenas;

através de empresas que recebem crédito ou dinheiro doBanco para fortalecer seu do capital e que não respeitam osdireitos dos índios. Como o BNDES é sócio dessas empresas,ele tem influência sobre as decisões dessas empresas.

Já explicamos antes que o BNDES apóia financeiramenteobras que o Governo Federal considera importantes para o

país. Existem obras que ajudam as pessoas, por exemplo, ater energia elétrica em casa, na escola, nos hospitais e notrabalho e a ter estradas para visitar seus parentes e trans-portar sua produção. Entretanto, muitas dessas obras apoia-das pelo BNDES podem trazer impactos negativos para osmoradores da região onde serão construídas, incluindo ospovos indígenas.

Por exemplo, a abertura de uma estrada facilita o acesso auma região antes isolada, facilitando a invasão de terrasindígenas por madeireiros, caçadores, pescadores ou possei-ros. Desse modo, é muito importante que a implantaçãodessas obras tenham um bom planejamento e um estudo deseus impactos, apresentando forma de evitar diminuir oucompensar prejuízos causados aos índios.

As Pequenas Centrais Hidrelétricas e os linhõesAlém das grandes hidrelétricas, o BNDES mantém parceriacom a Eletrobrás para apoiar a construção de PequenasCentrais Hidrelétricas (PCH) que são, em sua maioria, cons-truídas por empresas privadas.

As PCHs também precisam ser licenciadas, mas o processode licenciamento é mais rápido e os estudos feitos são mais

simples. Isso aumenta o risco de que o licenciamento nãopreveja adequadamente seus impactos sociais e ambientais.

Além disso, após a implantação de grandes e pequenas usinashidrelétricas, o governo e as empresas do setor precisaminstalar os linhões de transmissão de eletricidade, que muitasvezes cortam roças ou outras áreas dentro de terras indígenas.

23

O BNDES tem alguma forma de apoio aos índios?

Apesar de financiar projetos que podem afetar negati-vamente as terra e povos indígenas, o BNDES oferecetambém algumas oportunidades de apoio financeiroque beneficiam os índios. No entanto, o acesso aessas oportunidades é difícil e, muitas vezes, os índiosnão conseguem o crédito solicitado ao Banco.

Um dos apoios indiretos do BNDES aos povos indígenas é oPrograma Gestão Pública e CidadaniaPrograma Gestão Pública e CidadaniaPrograma Gestão Pública e CidadaniaPrograma Gestão Pública e CidadaniaPrograma Gestão Pública e Cidadania, que surgiu em1996. Esse tipo de apoio é uma iniciativa da Escola de Adminis-tração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas eda Fundação Ford. Seu objetivo é identificar, premiar e incentivarexperiências inovadoras de governos e de organizações dasociedade civil, entre elas as organizações indígenas.

Anualmente são premiadas 20 experiências. As cinco expe-riências de maior destaque recebem R$ 20 mil cada e as 15outras finalistas recebem R$ 6 mil cada. Os recursos daspremiações são disponibilizados pelo BNDES.

Desde o primeiro ano, muitas experiências de povos indíge-nas têm recebido o Prêmio Gestão Pública e Cidadania. Até2005, 17 experiências indígenas haviam sido premiadas.Essas experiências foram reunidas em um livro chamado “NaTrilha da Cidadania”, publicado em 2005.

Como descrito anteriormente, o BNDES organiza suaslinhas de apoio financeiro em diferentes áreas: indústria,infra-estrutura, agricultura, meio ambiente, desenvolvimen-to social, exportação, pequenas e médias empresas, entreoutros programas. Apresentaremos, a seguir, as possibili-dades identificadas de apoio do BNDES a povos indígenas.

Programa GestãoPública e Cidadania

Programa poderia servirde exemplo para o BNDESO Programa Gestão Pública e Cidadania tem regrasclaras para o processo de escolha e de julgamento dasexperiências, estimula iniciativas inovadoras, a inclusãode setores mais frágeis da sociedade e possui umgrupo de profissionais bem capacitado. Ele poderiaservir de exemplo para o BNDES avaliar propostasindígenas interessadas em receber crédito do Banco.

Além da premiação em dinheiro, o Programa ajudaas experiências inovadoras a serem mais conheci-das e incentiva que elas sejam adotadas poroutras organizações e setores da sociedade.Todas as informações sobre o programa estão noendereço http://inovando.fgvsp.br, que tem tam-bém mais de sete mil experiências descritas.

24

O Fundo Social é uma das linhas de crédito do Desenvolvimento Social,Desenvolvimento Social,Desenvolvimento Social,Desenvolvimento Social,Desenvolvimento Social,que tem como objetivo a melhoria das condições de vida da sociedadebrasileira.

O Fundo Social oferece oportunidade de crédito não-reembolsável, ou seja,os recursos repassados não precisam ser devolvidos ao banco. Isso faz comque esse fundo seja muito interessante para os povos indígenas. Esse fundoapóia projetos de caráter social nas áreas de: geração de emprego e renda,serviços urbanos, saúde, educação e desportos, justiça, alimentação, habita-ção, meio ambiente, desenvolvimento rural e outras vinculadas ao desenvol-vimento regional e social, e natureza cultural.

As organizações indígenas e indigenistas podem receber recursos do FundoSocial. Para isso, devem encaminhar sua solicitação de apoio ao BNDES por meiode carta-consulta, disponível na internet (ver no endereço www.bndes.gov.br/programas/sociais/ fundo_social.asp), preenchida segundo as orientações do“Roteiro de Informações para Enquadramento”, e enviada diretamente à Área dePlanejamento-AP/ Departamento de Prioridades-DEPRI do BNDES.

Fundo SocialEm 2002, foi elaborada e aprovada a proposta de inclusão dos índios noPrograma Nacional de Agricultura Familiar, o PRONAF, que é coordena-do pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e tem o BNDES comofinanciador. Com isso, os índios podem obter crédito com juros reduzi-dos para organizar a produção agrícola e não-agrícola e diversificar ostipos de plantios e colheita de alimentos.

O PRONAF tem 10 linhas de financiamento que podem ser utilizadaspelos índios para melhorarem sua produção. Porém, como essas linhasforam inicialmente desenhadas pensando nos produtores familiares não-indígenas, o PRONAF apresenta uma série de dificuldades para os índios:

os critérios de elegibilidade indicados nas linhas do PRONAF, tais comocomprovação de renda bruta anual e de posse privada de módulos fiscais deárea, dificilmente podem ser atendidos pelas sociedades indígenas;

os povos indígenas têm direitos especiais, reconhecidos constitucio-nalmente, distintos das demais populações rurais e tradicionais, nãocompreendidos ou valorizados pelas linhas do PRONAF;

as dificuldades burocráticas exigidas pelas agências bancárias para querepresentantes indígenas acessem os recursos do PRONAF, seja porpreconceito ou mesmo pelos gastos administrativos e complexidade daoperação.

PRONAF

O Programa Gestão Pública e Cidadania poderia servir de exemplo para oBNDES avaliar propostas indígenas interessadas em receber crédito do Banco.

25

Como vimos, o BNDES tem um papel muito importante nos planos de desen-volvimento do governo brasileiro. Por ser um banco dedicado a financiar odesenvolvimento do país, o BNDES deveria ter regras que não permitissemque projetos que usam seu dinheiro causassem problemas ambientais esociais, incluindo aos povos indígenas. Vimos também que, embora oBNDES ofereça algumas oportunidades de crédito aos povos indígenas, oBanco poderia tentar entender melhor as necessidades dos índios paraatendê-los adequadamente.

Diante disso, escrevemos a seguir uma lista de sugestões para apoiar omovimento indígena em seu diálogo com o BNDES. O objetivo dessas suges-tões é fazer com que o Banco, com a participação do movimento indígena,aprofunde sua responsabilidade diante das terras e dos povos indígenas ecrie políticas e planos para que atendam suas necessidades.

O que fazer para que o BNDES atendaàs necessidades dos povos indígenas?

Articulação interna e com outros movimentosÉ importante que o movimento indígena continue articulado com outros movi-mentos sociais, como a Rede Brasil. Porém, há reivindicações que são específi-cas dos índios e, diante disso, o movimento indígena deveria:

1. fortalecer a participação das organizações indígenas no processo de discus-são, acompanhamento e encaminhamento de propostas feitas pelos movimen-tos sociais no diálogo com o BNDES, para que o Banco adote uma política demaior responsabilidade socioambiental;

2. estimular o debate sobre o BNDES nas reuniões e encontros das organi-zações indígenas, mantendo todos bem informados sobre as discussõesrealizadas pela Rede Brasil e apresentar propostas para que a Coiab continuea defender uma pauta de reivindicações dos índios junto ao BNDES;

3. discutir e preparar propostas dos povos indígenas de todo país, garan-tindo que suas reivindicações sejam incluídas na agenda de discussõescom o BNDES.

É importante que o movimento indígena continuearticulado com outros movimentos sociais, como a

Rede Brasil. Mas precisa também dar atençãoàs reivindicações dos próprios índios.

26

Em sintonia com as reivindicações da Rede Brasil, o movi-mento indígena deve propor e colaborar para que o BNDESformalize diretrizes operacionais claras e específicas sobrepovos indígenas, detalhando medidas e procedimentosinternos que respeitem as características e os direitos dosíndios, segundo a legislação nacional e os acordos interna-cionais assinados pelo Brasil.

É importante que o movimento indígena cobre e ofereçaapoio ao BNDES para:

1. a criação de um grupo técnico especializado que assesso-re o Conselho de Administração e as Diretorias e colabore

Adotar uma política transversal para os povos indígenascom a construção de uma POLÍTICA TRANSVERSAL PARAOS POVOS INDÍGENAS, que esteja presente em todas asações, áreas, linhas de crédito e departamentos do Banco;

2. que o grupo responsável pela construção dessa políticatransversal para os povos indígenas esteja aberto à participa-ção de representantes do movimento indígenas e de profissi-onais que contem com a confiança dos índios. Essa participa-ção é importante para que o BNDES possa aprofundar oconhecimento e formar profissionais que compreendam osproblemas dos índios;

3. construção e ampla divulgação das Diretrizes e PolíticasOperacionais do BNDES específicas para projetos que afetemdireta ou indiretamente povos e terras indígenas, inclusivecom mecanismos e procedimentos claros e transparentes demonitoramento e controle social das referidas diretrizes;

4. que o Banco recuse crédito a projetos e empresas que nãorespeitem a legislação e as diretrizes específicas de salva-guarda aos direitos indígenas, como já é feito por outrosbancos de desenvolvimento.

É muito importante que o BNDES adote diretrizes operacionais querespeitem os direitos dos índios. Para começar, o BNDES deveria assinar

os Princípios do Equador, seguindo o exemplo de outros bancos dedesenvolvimento. Essas medidas são básicas para

o Banco melhorar sua relação com os povos indígenas.

27

Como vimos, programas governamentais como o PAC e oIIRSA trazem várias obras que poderão causar impactosnegativos em terras indígenas. Muitas dessas obras serãofinanciadas pelo BNDES. Por isso, o Banco é indiretamenteresponsável pelos problemas que podem ocorrer com ascomunidades afetadas. O BNDES poderia adotar medidaspreventivas, melhorando sua responsabilidade na proteçãodas terras e populações indígenas, tais como:

1. criar regras para fazer o acompanhamento técnico dosprojetos que tenham impactos previstos em comunidadesindígenas, dentro do processo de licenciamento (veja o queé licenciamento na página X), exigindo que o dono doprojeto e o órgão responsável pelo licenciamento apresen-tem um “relatório sobre impacto em terra indígena” emitido

Criar regras especiais para o licenciamentode projetos com impactos em terra indígena

pela Funai, informando se o projeto vai ou não causar impac-tos em terra indígena e detalhando esses impactos;

2. exigir que o dono do projeto e o órgão responsável pelo licencia-mento realizem consulta adequada junto às comunidades indígenasdiretamente e indiretamente afetadas para obter um “termo de consen-timento” dado pela comunidade antes do início das obras do projeto;

3. liberar o dinheiro do financiamento de acordo com umprocesso de monitoramento e auditoria ambiental, social eindígena, que permita garantir o cumprimento de exigências econtrapartidas socioambientais;

4. fortalecer uma “Ouvidoria do BNDES” para receber denún-cias de irregularidades e esclarecer dúvidas da sociedadesobre os projetos que contem com seu apoio financeiro.

Dar transparência às informações sobre os projetosO movimento indígena deve reforçar a reivindicação daRede Brasil para que o BNDES crie instrumentos quegarantam o acesso público a informações sobre suaspolíticas e sobre os projetos que pedem apoio financei-ro ao Banco. Isso se chama TRANSPARÊNCIA.

O Banco poderia criar um sistema integrado de informa-ções, disponível na Internet e aberto à sociedade, com

dados sobre os projetos que recebem apoio financeiro,inclusive com informações sobre projetos apoiados peloBNDES que afetem direta ou indiretamente povos indígenas.

Para os índios, seria importante que esse sistema tives-se informações sobre a localização dos projetos, comsuas coordenadas geográficas, identificando se ele estásituado próximo ou dentro de terra indígena.

27

28

O BNDES deveria criar Diretrizes Operacionais especiais paraatender os povos indígenas nas diversas áreas temáticas doBanco, capacitando funcionários para compreender e atenderadequadamente as necessidades de apoio financeiros dosíndios. A seguir, colocamos algumas idéias que poderiam serapresentadas ao BNDES nas diferentes áreas programáticasdo Banco.

1. Área de infra-estrutura: criar incentivos e benefícios financeiros para projetos que

envolvam obras de infra-estrutura específicas e adaptadas àsdemandas indígenas que tragam melhorias para a qualidadede vida dos povos indígenas;

construir, em conjunto com a Funai e representantes domovimento indígena, um plano de infra-estrutura básica em

Criar regras e condições institucionais para atenderàs necessidades de apoio financeiro dos povos indígenas

terras indígenas, que seria financiado com recursos não-reembolsáveis. O crédito conseguido pelo Projeto de SementesNativas dos Krahô junto ao BNDES poderia servir de exemplo.

2. Área de produção agropecuária: formular uma política e diretrizes para fornecer crédito à

produção agroecológica, agroextrativista e agropecuáriaindígena;

modificar os critérios para ter acesso a recursos do PRONAF,de forma que associações e famílias de produtores indígenaspossam ter acesso a crédito. Avaliar a possibilidade de criaçãode uma linha de apoio não-reembolsável nesse setor.

3. Área de meio ambiente: criar normas específicas, incentivos e benefícios financeiros

para projetos localizados no entorno de terras indígenas quetragam benefícios ambientais para as terras e comunidadesindígenas vizinhas, como formação de corredores ecológicos,manutenção de reserva legal e recuperação de áreas depreservação permanente, especialmente em projetos agrope-cuários;

garantir procedimentos corretos em projetos apoiados peloBanco que tenham como finalidade o acesso a recursos genéti-cos da biodiversidade, especialmente nos casos em que existaconhecimento indígena associado;

fomentar iniciativas de gestão ambiental e territorial em terrasindígenas;

29

criar linha de fomento para projetos indígenas de uso sus-tentável da biodiversidade, incentivando iniciativas inovadorasde produção que agregue valor por sua contribuição para aconservação ambiental;

criar linha de crédito não-reembolsável para financiar arecuperação de áreas degradadas e o enriquecimento agro-florestal em terras indígenas;

apoiar iniciativas indígenas e não-indígenas de conservação,recuperação e manejo sustentável de recursos hídricos, tantodentro como no entorno de terras indígenas;

buscar articulação com o Ministério do Meio Ambiente ea Funai para fortalecer linhas de apoio aos povos indíge-nas já existentes, como o Projeto GEF Indígena, os Proje-tos Demonstrativos dos Povos Indígenas (PDPI) e outros;

construir, com a participação do movimento indígena,iniciativas e mecanismos que tenham como objetivo valorizare remunerar os serviços ambientais prestados pelos índios epelas terras indígenas, como, por exemplo, proteção de

recursos hídricos, conservação de florestas, manutenção deestoque de carbono, entre outros.

5. Área social: implantar regras que dêem transparência sobre os critérios de

avaliação das propostas apresentadas à Área Social do Banco;

dar ampla divulgação sobre o funcionamento do Fundo Social,divulgando informações atualizadas sobre o volume de recur-sos disponíveis, os editais para apresentação de projetos, osprojetos aprovados e em execução, entre outras informações;

desenvolver um programa especial de apoio aos povosindígenas, a exemplo do que foi feito para associações decatadores de lixo (veja abaixo);

criar uma linha de apoio ao fortalecimento institucional dos povose organizações indígenas, que atenda à sua crescente demandapor capacitação de quadros e desenvolvimento organizacional;

criar um programa de incentivo e benefício financeiro parainiciativas que tragam benefícios culturais aos povos indígenas.

O Fundo Social criou um programa para apoiar financeiramenteprojetos apresentados por associações de catadores de lixo.O Programa de Apoio a Projetos de Catadores de MateriaisRecicláveis foi estruturado com base em um estudo chamado“Análise do Custo de Geração de Postos de Trabalho naEconomia Urbana para o Segmento dos Catadores de Materi-

Fundo Social tem exemplo para um programa de apoio aos índiosais Recicláveis”. Esse programa tem como objetivo abrir novospostos de trabalho e melhorar as condições de trabalho e deprodução desses trabalhadores. Esse exemplo demonstra queo BNDES poderia construir programas específicos para apoiarprojetos de povos indígenas, segundo suas característiscaculturais e respeitando seus direitos constitucionais.

C omo vimos nesta publicação, existe um bomcaminho a ser trilhado para ampliar e melhor asrelações entre o BNDES e os povos indígenas.O aprofundamento da transparência, maior

participação dos movimentos indígenas e sociais nosprocessos decisórios do banco, o ajuste no modelo dedesenvolvimento apoiado pelo Banco e maior atenção àsustentabilidade social e ambiental dos projetos que apóiasão medidas importantes que poderiam ser implementadospor esta importante agência de apoio ao desenvolvimento.

Vimos também ser necessário que o BNDES incorporeas especificidades indígenas relativas ao desenvolvimen-to social como temática transversal em suas ações. Adefinição de regras ou diretrizes operacionais específi-cas a serem aplicadas a todos os projetos que financia,que tenham impacto direto ou indireto sobre os povosindígenas, será de grande importância. Por fim, ficouclaro também que a adequação, melhoria e ampliaçãodas relações entre o BNDES e os povos indígenas

Conclusão

depende da iniciativa e participação efetiva das organiza-ções indígenas na construção deste caminho.

Avançar nas questões listadas nesta publicação permi-tirá um maior diálogo entre povos indígenas e o BN-DES, viabilizando uma ponte com a própria políticanacional de desenvolvimento. Entendemos que, comessa aproximação, será possível garantir que as obrasde desenvolvimento levem em conta os direitos dospovos indígenas e a sustentabilidade de seus territóri-os. Mais do que isso, apostamos que desse diálogoserá possível a elaboração de novas linhas de fomento,capazes de atender os projetos criados pelas própriasorganizações indígenas, fortalecendo seus anseios emodos próprios de organização.

Entendemos, por último, que o interesse em avançar nasquestões listadas nesta publicação permitirá o diálogo entreos povos indígenas e o BNDES, viabilizando uma ponte com aprópria política de desenvolvimento.

COIAB

Coord

en

ão

das

Org

anizações Indígenas

da

Am

azô

nia

Bra

sile

ira

O BNDES e os povos indígenas

O BNDES é o principal financiador de obras e projetos públicos e privados do país, alguns dos quais têm causadoindiretamente grandes impactos nas terras indígenas. Ao mesmo tempo, o BNDES oferece um potencial a ser exploradopelos povos indígenas visando obter apoio para seus planos de etnodesenvolvimento. A presente publicação pretendecontribuir para que as lideranças indígenas possam, de um lado, negociar a redução dos efeitos negativos de projetos

apoiados pelo BNDES, e de outro, explorar o potencial de suporte a projetos de interesse dos povos indígenas.

Realização: Apoio