o barroco e seu esplendor no brasil e em portugal

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  • sculum - REVISTA DE HISTRIA [28]; Joo Pessoa, jan./jun. 2013 401

    O BARROCO E SEU ESPLENDOR,NO BRASIL E EM PORTUGAL

    Izabel Maria dos Santos1

    TOLEDO, Benedito Lima de. Esplendor do Barroco luso-brasileiro. Cotia: Ateli Editorial, 2012, 368 p.

    Arquiteto e urbanista por formao, Benedito Lima de Toledo professor titular de Histria da Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo (FAU/USP). Especialista nos estudos sobre a formao da cidade de So Paulo e autor de vrios livros a respeito da Histria da Arquitetura da referida cidade, Benedito Lima de Toledo referncia quando o assunto a arquitetura e o urbanismo da maior metrpole do pas e sua trajetria intelectual tem sido voltada para questes e assuntos ligados terra da garoa.

    Em seu ltimo livro, porm, Lima de Toledo envereda pelo fantstico universo do Barroco e resvala em um dos perodos mais ricos da arte brasileira, em que podemos perceber trs sculos das mais variadas formas de manifestaes artsticas marcadas pela atmosfera emocional e mtica caracterstica da esttica barroca. O leitor convidado a mergulhar em 365 pginas de Histria e rico acervo visual para entender os caminhos e descaminhos do estilo europeu em terras tupiniquins.

    O livro dividido em 17 captulos e traz, alm de um vasto material fotogrfico, mapas e desenhos, um aporte terico e uma densa bibliografia sobre o tema em debate. O autor inicia a obra abordando as diversas teorias acerca do Barroco e a ainda candente querela acerca da periodizao do movimento, sempre fazendo ligaes diretas com a Arquitetura, seu lugar de conforto. Ao longo de todo o livro, Lima de Toledo consegue trazer a teoria para explicar suas ideias a respeito das mais diversas caractersticas daquilo que define como Barroco luso-brasileiro, comparando monumentos erigidos no Brasil com outros, localizados em Portugal, tornando a discusso compreensvel e, de maneira interessante, indiscutivelmente didtica.

    Enquanto no primeiro captulo Lima de Toledo, ao discutir as teorias do Barroco lanadas por pesquisadores brasileiros e estrangeiros, vai de Pierre Lavedan, passando por Lourival Gomes Machado, at Heinrich Wlfflin, e deixa claro que o Barroco j foi visto, entre outras coisas, como arte da Contrarreforma e como arte do Absolutismo. No segundo, ele discorre sobre a questo da periodizao e cronologia do Barroco no Brasil e defende que podemos estabelecer trs etapas de evoluo do barroco no Brasil, afirmando que a primeira etapa do barroco nos trpicos brasileiros foi uma tentativa de reproduzir os padres europeus mesmo sem ter os meios necessrios, a segunda etapa foi marcada pela Restaurao de 16402 e pela descoberta do ouro no territrio brasileiro, que teria feito com que a

    1 Graduada em Histria pela Universidade Federal da Paraba. Mestre em Histria da Arte, Patrimnio e Turismo Cultural pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. E-Mail: .

    2 Em 1640 Portugal torna-se livre do jugo espanhol e coloca fim na chamada Unio Ibrica, tornando-se novamente um pas independente, restaurando assim o trono portugus. Este processo teria como conseqncia a expulso dos holandeses do Nordeste brasileiro e, dessa maneira, a restaurao do poder portugus sobre as terras do Brasil.

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    Coroa portuguesa voltasse seus olhos para a sua rica colnia tropical e a terceira e ltima etapa foi caracterizada pelo apogeu da riqueza e do ouro e pelo perodo de produo das mais originais manifestaes da arte barroca do Brasil.

    Para Benedito Lima de Toledo, quando falamos em Barroco nos referimos no s a um estilo de arte, mas a uma autentica civilizao. Ele acredita que o barroco est no s na arte e na mentalidade, mas inclusive na formao espacial da prpria cidade e isso se confirma, segundo o autor, no fato de as cidades que nasceram poca do Barroco terem uma estrutura diferente das demais, ou seja, uma configurao especfica. As cidades portuguesas, portanto, no fugiriam a esta regra e teriam se desenvolvido luz das imposies barrocas e da influncia mediterrnea, e este legado teria chegado s enladeiradas e mal ajambradas ruas do territrio brasileiro, encontrado assim terreno propcio ao desenvolvimento, de sua chamada, civilizao barroca. O mundo colonial estava se barroquizando, em especial, devido semelhana topogrfica encontrada pelos portugueses nas cidades do Brasil, especificamente, nas cidades mineiras.

    Aps a explanao terica e a cronologia, e deixando clara a ligao das manifestaes barrocas do Brasil com as de Portugal, o autor comea a traar um detalhado panorama da arte e da arquitetura no Brasil. Ele inicia falando um pouco sobre a arquitetura Jesuta no Brasil, passa pela Franciscana e chega, por fim, a Beneditina. Em seguida, faz um apurado estudo sobre a azulejaria e a talha brasileiras e ainda nos traz algumas palavras sobre o rococ mineiro, sobre a arquitetura de minerao e a arquitetura civil e sobre a pintura e a cermica produzidas no Brasil. Ou seja, o autor nos d um panorama geral sobre o comportamento e a adaptao do estilo barroco no Brasil sempre deixando claros os seus antecedentes portugueses em todas as suas formas de manifestao. Mas afinal, para Lima de Toledo que rumos teria tomado o Barroco ao aportar nos trpicos?

    Segundo o autor, a especificidade barroca pode ser percebida mesmo em territrio europeu, antes de mais nada, pela configurao espacial e arquitetnica das cidades que surgiram na poca do Barroco, sobre isso Lima da Toledo afirma que:

    [...] as cidades nascidas poca do Barroco, ou que ento conheceram florescimento, tm configurao especfica, criando por vezes surpresas, como espaos abertos em meio a traados irregulares de rua, frente a edifcios, s perceptveis quando a chegado, o que pressupe movimentao do observador. (2012, p. 31)

    Nesse sentido, podemos perceber que a distribuio espacial das ruas e dos prdios obedece s leis de configurao barrocas, onde o espectador convidado a movimentar-se para observar com preciso as formas, linhas e curvas dramticas caractersticas do estilo em questo. Essa peculiaridade por ser conseqncia da mentalidade barroca acaba transparecendo em todas as manifestaes artsticas, sociais e culturais da Europa, inclusive nas solues encontradas para problemas pblicos como o abastecimento de gua. Sobre isto, o autor afirma que o problema foi resolvido com a instalao de pequenos aquedutos e chafarizes ao redor das cidades. Esses chafarizes, porm, acabaram tornando-se smbolos de poder e de autoridade e ostentavam um rico conjunto de formas, constituindo-se como verdadeiras obras de arte.

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    Tambm como conseqncia dessa nova mentalidade a imagem passa a ter o destino certeiro de comover at mesmo os mais indiferentes f atravs da emoo, da dramaticidade e do realismo. Esse apego a imagem dramtica acaba chegando aos grandes templos e igrejas da poca e encontra na talha dourada e na msica a alquimia perfeita para encher de emoo e dramaticidade a esttica da poca. A preocupao com a expresso dramtica era tanta que Lima de Toledo chega a firmar que nos retbulos dos altares, colunas, entablamentos, frontes, tudo perdeu sua funo estrutural, para se tornar elemento expressivo. (2012, p.35).

    Assim, o autor deixa claro que o Barroco muito mais que um estilo, uma mentalidade, uma civilizao, e que isso pode ser comprovado na medida em que percebemos que a Europa barroca alimenta-se de todos os sentidos e sentimentos proporcionados pelo estilo e que isto feito em to alto grau que no fica restrito arte, reverbera tambm nas manifestaes cotidianas, no equipamento pblico, como os ricos chafarizes da poca, no equipamento domiciliar, como o mobilirio, no vesturio e at nos hbitos daquela sociedade, ou seja, para Lima de Toledo nenhuma forma de expresso da poca escapou ao conceito barroco.

    Assim, o Barroco, desconhecendo limites, chegou ao Brasil pelas mos dos portugueses e logo tratou de adaptar-se regio, adaptao esta que encontrou facilidades devido semelhana espacial entre algumas das mais antigas cidades brasileiras e as cidades portuguesas, j que, segundo o autor, os portugueses, donos de uma forte tradio martima, historicamente no se incomodavam em desenvolver seu caminhos e sistemas de comunicao terrestres e eram completamente indiferentes qualquer preocupao com a ordenao de ruas e cidades, tanto na Metrpole, quanto em sua poro colonial da Amrica. Dessa maneira, a desorganizao estrutural das cidades portuguesas acabou encontrando semelhanas nas cidades brasileiras, sobre isto Lima de Toledo afirma que, as excees a este traado, cidades como Recife e Mariana, devem seu plano regular a agentes externos e no aos esforos portugueses.

    As cidades brasileiras, portanto, obedecem s mesmas regras de ordenao espacial das portuguesas e acabam herdando caractersticas consequentes da tradio portuguesa como a maritimidade, alm, claro, de constiturem-se como grandes espaos abertos diante das Igrejas e de seus elementos externos como o adro, as escadarias e o prprio cemitrio. Dessa forma, muitas das cidades brasileiras, em especial as cidades mineiras, assumem semelhanas, no s de ordenao, mas, inclusive, de topografia, com as cidades portuguesas e acabam tornando-se palco perfeito para a implantao e adaptao da mentalidade e do conceito barroco. A respeito disto o autor afirma:

    Essas cidades mineiras lembram as cidades montanhosas do norte de Portugal, com suas ladeiras e terreirinhos (para usar a expresso de Alexandre Herculano). Por vezes em cidades como Bragana (Trs-dos-Montes), tem-se a sensao de se ter regressado ao Brasil e se estar a percorrer as ruas de Serro, Diamantina, So Joo Del-Rei, Ouro Preto, Mariana. A mesma topografia, a mesma implantao das casas subindo e agarrando-se s ladeiras. Em Braga, ou em Guimares, so as igrejas que nos

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    trazem mente as capelas das ordens terceiras de Minas Gerais. Em Bom Jesus do Monte, Braga ou em Nossa Senhora dos Remdios, Lamego, a evocao do santurio de Congonhas do Campo inevitvel. Em Guimares a Igreja do Senhor dos Santos Passos evoca os melhores exemplares do barroco mineiro. (2012, p. 63)

    Assim, fica claro que para Lima de Toledo o Barroco ganha espao no Brasil devido sua rpida adaptao s condies de desenvolvimento que so semelhantes s encontradas pelo estilo da Metrpole. Dessa maneira, o Brasil constitui-se como campo frtil para as mais ricas manifestaes do estilo, que mesmo com antecedentes portugueses diretos, acabou ganhando caractersticas prprias em terras tropicais.

    Na arquitetura, por exemplo, a influncia das ordens religiosas portuguesas se faz presente e fortemente influente na construo do conjunto arquitetnico das mais diversas cidades brasileiras. Essas ordens enviam para o Brasil dezenas de pedreiros, carpinteiros, mestres de obras e arquitetos para que estes construam em terras brasileiras Igrejas que sigam o mesmo plano das igrejas portuguesas e, assim, mantenham uma unidade na arte produzida na Metrpole e na colnia. Entre jesutas, franciscanos e beneditinos o conjunto arquitetnico das cidades brasileiras foi tornando-se real e adaptando-se s condies locais de materiais disponveis, de clima e de paisagem. Segundo Lima de Toledo um dos exemplos mais notveis dessa adaptao do estilo ao territrio brasileiro o convento franciscano de Santo Antnio em Joo Pessoa na Paraba, sobre este o autor afirma:

    O convento franciscano de Joo Pessoa , por tudo isso, um documento de invulgar importncia na arquitetura brasileira. o coroamento vigoroso de um longo processo evolutivo que deixou no Nordeste conventos de propores generosas, dotados de claustros notveis pelo ritmo de suas arcadas e por sua adequao ao nosso clima, de adros acolhedores e frontispcios onde se permitiu aos artistas a realizao de apurada obra de cantaria. (2012, p. 116)

    Nos conventos Beneditinos, a tradio de ser criterioso na escolha de seus arquitetos transportada juntamente com a ordem para o Brasil. Eram enviados ao Brasil respeitados arquitetos que pudessem trazer para as construes da ordem o mximo de rigor e seriedade, estes, algumas vezes trabalhando em conjunto com aprendizes brasileiros, acabaram nos deixando como herana construes inspiradas em importantes Igrejas europias, como o caso do Mosteiro de So Bento em Salvador, que, segundo Lima de Toledo tem influncia evidente da planta da Igreja de Ges em Roma. Sobre isto o autor afirma que:

    As afinidades com So Bento so inmeras, a comear pela planta da Igreja. A influncia da planta de Ges, de Roma, muito clara, incluindo transepto, nave com abbada, cpula e capelas laterais intercomunicveis. O frontispcio aproxima-se do primeiro desenho de Vignola para Ges em 1569. (2012, p. 133)

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    As ordens religiosas, portanto, acabam fazendo o trabalho de transposio do estilo e de seu conceito para o Brasil, impedindo que este perca sua essncia, mas, ao mesmo tempo, permitindo adaptaes nova realidade espacial em que ele est inserido. Dessa maneira, podemos dizer que, para o autor, o conjunto arquitetnico colonial do Brasil sofreu influncias do mtodo europeu, mas acabou ganhando novas caractersticas devido ao novo ambiente em que estava inserido.

    Isso pode ser constatado tambm na prpria arquitetura civil das cidades coloniais do Brasil, que apesar de guardar peculiaridades regionais, segue um estilo e conceito aplicvel em todo o territrio. Ou seja, podemos dizer que, mesmo guardando proporcionais peculiaridades regionais, a arquitetura civil do Brasil colonial segue um padro nos hbitos construtivos, padro esse que diretamente influenciado pelos padres portugueses.

    No Brasil, a arquitetura popular em grande parte produzida atravs da tcnica do pau a pique que consiste basicamente em fincar esteios no cho, verdadeiras varas dispostas perpendicularmente e amarr-las com embira3 e depois arremessar barro contra o tranado. A tcnica desenvolveu-se a acabou conhecendo formas estruturalmente mais apuradas, sendo utilizada, inclusive na construo de grandes sobrados. Alm das construes em pau a pique, podemos citar tambm as construes em taipa e em granito bem desenvolvidas no Brasil. A chegada de engenheiros europeus ao Brasil acabou contribuindo para uma renovao das tcnicas arquitetnicas locais, mas no alterou substancialmente a essncia da arquitetura civil no Brasil colonial, que manteve sua personalidade a despeito das influncias.

    Essas mudanas podem ser observadas no s na arquitetura, mas tambm na azulejaria, na talha, na pintura, na cermica e na escultura barrocas produzidas no Brasil. Lima de Toledo tambm discorre sobre estes temas em seu livro. Sobre a azulejaria e a talha, tradies nacionais portuguesas, o autor afirma que encontraram solo frtil para o seu desenvolvimento em solo brasileiro e que, aqui adaptadas, sofreram um processo de renovao, cultivando novas caractersticas, algumas destas seriam transportadas para a prpria Metrpole. Como afirma o autor, quando diz que:

    Os claustros conventuais no Brasil, revestidos de azulejo, evocam os ptios das alcovas com seu arejamento aprazvel. No Brasil, o azulejo ganhar o exterior dos edifcios e,bem sucedido aqui, esse processo ser levado Metrpole. Um brasileirismo, portanto. Mas no termina a essa evoluo. Em Minas Gerais, na cidades distantes do litoral e dele separadas por pssimas estradas, o uso do azulejo se tornar quase impossvel. Surgir, ento, como j vimos, uma soluo local: tbuas com bordas recortadas sero afixadas s paredes da capela-mor de igrejas e pintadas de forma a lembrar azulejos. Olhando esses painis constatamos o quanto se caminhou ao sabor da inveno desde os panos de rs flamengos, dos

    3 Fibra extrada da casca de algumas rvores, para a confeco de barbantes e cordas.

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    mosaicos rabes, dos azulejos, das tapearias cermicas at a soluo mineira. (2012, p. 144)

    Com relao talha, podemos entender que ocorre o mesmo processo evolutivo e adaptativo quando esta chega ao Brasil e encontra condies diferenciadas das de seu lugar de origem. Essas mudanas, segundo Lima de Toledo, ficam mais claras quando percebemos que a imaginria da pedra vai no seiscentismo cedendo lugar escultura em madeira policromada. Os objetos de culto anteriormente feitos em ouro ou prata dourada passam a ser elaborados em madeira dourada, conservando por vezes o tratamento prprio do metal (2012, p. 145). Os retbulos brasileiros, portanto, apesar de seguirem o estilo portugus tambm cultivam caractersticas e personalidade prprias, especialmente aqueles que foram produzidos em terrenos distantes do litoral sob o influxo das atividades de minerao de ouro e diamante, j que esta concentrao de riquezas, segundo o autor, atraiu mestres de obras portugueses, o que influenciou a formao de uma intensa vida urbana nessas regies e, portanto, o florescimento de uma intensa vida cultural. Sobre isto, Lima de Toledo afirma que:

    O relativo isolamento das cidades ter tido influncia no surgimento de uma arte com personalidade prpria, fato por vezes superestimado. Distantes do litoral e dele separados por pssimos caminhos, os ncleos de minerao no podiam ter mo material trazido como lastro de navio como ocorria nas cidades litorneas. (2012, p.181)

    Como no tinham acesso ao material vindo de Portugal, utilizavam-se dos materiais abundantes na regio, inclusive do ouro, e isso teria legado s manifestaes artsticas da regio, essa poca, uma personalidade prpria que contribuiu categoricamente para o que se denomina problematicamente de Barroco Brasileiro. Tal denominao enfrenta grandes dificuldades para se afirmar, j que sabemos que h um descompasso entre manifestaes de regies diferentes, tornando-se problemtica a caracterizao formal implcita na expresso Barroco Brasileiro para um momento especfico (2012, p. 356).

    Com relao pintura, o autor defende que a pintura do Brasil colonial, como estamos vendo, conheceu uma diversificao em funo de vrios condicionantes, como regio, entidade patrocinadora que por vezes formava seus prprios artistas e fatores circunstanciais (2012, p. 345). A pintura de forro, por exemplo, que era feita por pintores locais acabou por revelar-se como personalidade da arte colonial manifesta no Brasil, mesmo tendo grandes problemas na denominao estilstica. Um exemplo disso so as pinturas ilusionsticas, que alcanaram grande expresso no Brasil, seguindo a tradio italiana e espalhando-se pelo territrio, ostentando grande diversidade.

    Com relao aos ceramistas o autor afirma que tal arte at hoje ainda sofre certos preconceitos por ser uma manifestao artstica que presta-se a artistas de qualquer nvel, mas que mesmo assim, podemos dizer que so feitas de barro algumas das melhores e mais ricas peas da arte colonial brasileira, em especial os trabalhos feitos pelos freis Agostinho da Piedade e Agostinho de Jesus. Esses dois artistas traduzem em barro a mesma dramaticidade e emoo caractersticas

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    do Barroco e so de grande sensibilidade artstica, pois trazem para o barro, com muita competncia, temas muitas vezes explorados com materiais considerados mais nobres.

    Podemos perceber, portanto, que ao longo do livro, Benedito Lima de Toledo, percorre os mais diversos caminhos para entender e elucidar a arte barroca no Brasil, deixando evidente a matriz portuguesa dessas manifestaes, mas fazendo questo de sublinhar a personalidade artstica desenvolvida pelo estilo em territrio tropical. O autor investiga os diferentes aspectos dos diversos campos de manifestao do Barroco, levando em considerao no s a arquitetura, mas tambm a pintura, a escultura, a talha e a azulejaria, dando assim um panorama geral que exprime a ideia de que o Barroco no Brasil tem uma personalidade prpria.

    O autor conclui o livro concordando com Victor Tapi, quando este alerta para o problema das denominaes de estilos, j que acredita que uma denominao s vlida para orientar pesquisas. E, portanto, foi baseado nisto que Lima de Toledo escreveu, consciente de que os rtulos estilsticos e cronolgicos no do conta dos descompassos da arte no Brasil e que termos como arte colonial e Barroco tornam-se apenas denominaes que orientam e organizam a pesquisa, mas que por vezes perdem seu significado.

    Dessa maneira, Lima de Toledo nos faz crer que o Barroco luso-brasileiro no obedece a enquadramentos cronolgicos e cultiva, apesar de seus ntimos antecedentes portugueses, caractersticas prprias que foram desenvolvidas devido ao contato com a realidade colonial e que foram, antes de qualquer coisa, produto das novas relaes estabelecidas entre Metrpole e Colnia, assim o autor afirma que o maneirismo, o barroco e o rococ escapam aos enquadramentos regionais e cronolgicos globalizadores, sendo, nesse aspecto, imagem do prprio pas. (2012, p.356) Portanto, podemos dizer que mesmo intimamente ligado a Portugal, o Barroco encontra seus caminhos e descaminhos em solo brasileiro e traduz as contradies do Brasil dando expresso aos desejos de autoafirmao da nao.

    YZ

    Resenha recebida em 27 mar. 2013.Aprovada em 11 abr. 2013.