o bandeirante - n.201 - agosto de 2009

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Não Perder Tempo Ano XVIII - n o 201 - AGOSTO de 2009 Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP O Bandeirante Jornal Helio Begliomini Médico urologista Presidente da SOBRAMES-SP (2009-2010). “Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus: tempo para nascer e tempo para morrer; tempo para plantar e tempo para arrancar o que foi plantado; (...)”. Eclesiastes 3,1-2. Hoje em dia é comum escutarmos e dizermos a toda hora expressões como “não tenho tempo”, “o tempo voa”, “não há tempo a perder”, “o tempo não é suficiente”, dentre outras. Na história da civilização, o tempo nunca esteve com tanta evidência e carência quanto agora, paradoxalmente, quando mais tempo temos, pois maior é a expectativa de vida que alcançamos. Por incrível que possa parecer, as 24 horas do dia, que correspondem a 1.440 minutos e a 86.400 segundos, que a todos são gentilmente creditadas em nossas existências, parecem ínfimas pela demanda de compromissos e tare- fas que se nos apresentam. Quando nossa existência é consu- mida de forma superficial, frívola, sem objetivos concretos, corremos o risco de gastar, ou melhor, de desperdiçar nosso precioso tempo. Ao contrário, quando encontramos razões para viver; quando incorporamos em nossas ações ideais pelos quais vale a pena lutar... sentimos uma agradável sensação de ser útil, de realização, de autoestima, pois depreendemos que nosso tempo está sendo bem aproveitado e, em linguajar moderno, bem investido. Já, Quinto Horácio Flaco (65 – 8 a.C.), mais conhecido apenas como Ho- rácio, filósofo, satírico e um dos maiores poetas da Roma antiga, consignava em “Odes” I, 11.8 sua preocupação com o tempo presente, ao utilizar nesse seu poema o verso latino “Carpe diem quam minimum credula postero”, cuja tradução é “colha o dia, confia o míni- mo no amanhã”. Tal expressão também pode ser en- tendida em linguagem figurada como “colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre”; ou “evite gastar o tempo com coisas inúteis ou como uma justificativa para o prazer imediato, sem medo do futuro”, ou ain- da “aproveite cada segundo para valori- zar a própria vida e a dos outros”. Entretanto, o tempo é inexoravel- mente igual para todos. Ter ou não ter tempo para algo, para alguém ou para uma entidade é meramente uma questão de prioridade, de opção. Neste particular, essa foi uma das escolhas, por sinal, muito prazerosa, nossa, dos membros desta diretoria, ao doar uma significativa parcela de nosso tempo de lazer ou de convívio familiar para a administração da querida Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Re- gional do Estado de São Paulo (Sobra- mes – SP). Aliás, nada melhor e mais oportuno do que refletir sobre estes versos da música “Epitáfio”, cantada pelo grupo Titãs: Devia ter amado mais Ter chorado mais Ter visto o sol nascer Devia ter arriscado mais Até errado mais Ter feito o que eu queria fazer Queria ter aceitado as pessoas como elas são Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração (...) “Quem planta colhe”, refere rus- ticamente a sabedoria popular. Em outras palavras pode-se dizer que o futuro encontra-se sempre em gesta- ção no presente. Temos certeza de que através das ações que estamos fazendo na, e para a Sobrames-SP, estamos rea- lizando também para seus associados, nossos(as) queridos(as) coirmãos(ãs) de confraria. Continuamos dispostos a investir muito desse nosso exíguo e fugaz tem- po de que dispomos para a Sobrames paulista, a fim de que não amarguemos amanhã o dissabor de achar que podí- amos ter feito mais.

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Não Perder Tempo

Ano XVIII - no 201 - Agosto de 2009Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP

O BandeiranteJornal

Helio Begliomini Médico urologista Presidente da SOBRAMES-SP (2009-2010).

“Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus: tempo para nascer e tempo para morrer; tempo para plantar e tempo para arrancar o que foi plantado; (...)”.

Eclesiastes 3,1-2.

Hoje em dia é comum escutarmos e dizermos a toda hora expressões como “não tenho tempo”, “o tempo voa”, “não há tempo a perder”, “o tempo não é suficiente”, dentre outras. Na história da civilização, o tempo nunca esteve com tanta evidência e carência quanto agora, paradoxalmente, quando mais tempo temos, pois maior é a expectativa de vida que alcançamos.

Por incrível que possa parecer, as 24 horas do dia, que correspondem a 1.440 minutos e a 86.400 segundos, que a todos são gentilmente creditadas em nossas existências, parecem ínfimas pela demanda de compromissos e tare-fas que se nos apresentam.

Quando nossa existência é consu-mida de forma superficial, frívola, sem objetivos concretos, corremos o risco de gastar, ou melhor, de desperdiçar nosso precioso tempo. Ao contrário, quando encontramos razões para viver; quando incorporamos em nossas ações ideais pelos quais vale a pena lutar... sentimos uma agradável sensação de ser útil, de realização, de autoestima, pois depreendemos que nosso tempo está sendo bem aproveitado e, em linguajar moderno, bem investido.

Já, Quinto Horácio Flaco (65 – 8 a.C.), mais conhecido apenas como Ho-rácio, filósofo, satírico e um dos maiores poetas da Roma antiga, consignava em “Odes” I, 11.8 sua preocupação com o tempo presente, ao utilizar nesse seu poema o verso latino “Carpe diem quam minimum credula postero”, cuja tradução é “colha o dia, confia o míni-mo no amanhã”.

Tal expressão também pode ser en-tendida em linguagem figurada como “colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre”; ou “evite gastar o tempo com coisas inúteis ou como uma justificativa para o prazer imediato, sem medo do futuro”, ou ain-da “aproveite cada segundo para valori-zar a própria vida e a dos outros”.

Entretanto, o tempo é inexoravel-mente igual para todos. Ter ou não ter tempo para algo, para alguém ou para uma entidade é meramente uma questão de prioridade, de opção. Neste particular, essa foi uma das escolhas, por sinal, muito prazerosa, nossa, dos membros desta diretoria, ao doar uma significativa parcela de nosso tempo de lazer ou de convívio familiar para a administração da querida Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Re-gional do Estado de São Paulo (Sobra-mes – SP).

Aliás, nada melhor e mais oportuno do que refletir sobre estes versos da música “Epitáfio”, cantada pelo grupo Titãs:

Devia ter amado maisTer chorado maisTer visto o sol nascerDevia ter arriscado maisAté errado maisTer feito o que eu queria fazerQueria ter aceitado as pessoas como

elas sãoCada um sabe a alegria e a dor que

traz no coração (...)

“Quem planta colhe”, refere rus-ticamente a sabedoria popular. Em outras palavras pode-se dizer que o futuro encontra-se sempre em gesta-ção no presente. Temos certeza de que através das ações que estamos fazendo na, e para a Sobrames-SP, estamos rea-lizando também para seus associados, nossos(as) queridos(as) coirmãos(ãs) de confraria.

Continuamos dispostos a investir muito desse nosso exíguo e fugaz tem-po de que dispomos para a Sobrames paulista, a fim de que não amarguemos amanhã o dissabor de achar que podí-amos ter feito mais.

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2 O BANDEIRANTE - Agosto de 2009

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O Milagre BrasileiroUm fato relevante na vida dos brasileiros foi a vinda do Papa Bento

XVI do Vaticano para as cerimônias da canonização de Frei Galvão, o primeiro santo nacional. Milhares de pessoas compareceram ao sagrado evento numa demonstração de profunda religiosidade. Muitas lágrimas de emoção, gratidão, de reconhecimento, de fé, de esperança, advindos dos milagres que o humilde e santo frade distribuiu à comunidade dos pobres e necessitados no corpo e no espírito.

Mas... Há sempre um mas na vida dos mortais... O dia a dia das pessoas no trabalho, no estudo, nas necessidades mais prementes de ser, de existir. Viver não é fácil... A constante procura da felicidade...Pura ilusão. Uma quimera. Pela sua própria natureza, como argumentava o famoso criminalista, anatomista e médico italiano, LOMBROSO, certos

indivíduos já nascem determinados ao mal. Assim, o forte domina o fraco, o rico pisa no pobre, o esperto rouba o inocente, o inteligente usa o ignorante. Admiráveis são aquelas pessoas que fogem desta triste “normalidade” e se dedicam de corpo e alma a ajudar o seu próximo num altruísmo maravilhoso de amor e caridade. A elas, a redenção da humanidade. São os santos, também chamados milagreiros. Não são muitos...

Entretanto, existem em profusão no Brasil...São aqueles que vivem, ou melhor, sobrevivem do salário mínimo e da aposentadoria e sustentam os seus familiares. Verdadeiro milagre...O aposentado que trabalhou e contribuiu anos a fio e agora recebe uma esmola chamada de “be-nefício” e não um direito, atualmente é procurado e convidado a ter um “crédito consignado”, uma armadilha em que ingenuamente cai. Recebe uma quantia que depois não saberá repor. O resultado: de pobre vira miserável. Enquanto isso, os nababos da sociedade brasileira se en-riquecem de uma maneira escandalosa à custa do suor e sangue do povo. E a justiça? Ninguém sabe aonde ela anda... Talvez esteja na sabedoria do canto de lamentação dos antigos egípcios no livro dos mortos: “que restou de suas poderosas mansões e palácios? Abateram-se suas fortes muralhas, ruíram as casas no pó. Olhe, ninguém levou consigo suas coisas. Olhe, ninguém que foi até hoje voltou”.

Tudo faz crer que são os velhinhos os responsáveis pela situação calamitosa do País! Teimam em viver muito, comer e beber o que há de melhor, ter casa própria e outros bens materiais, como plano de saúde, que foi criado para as pessoas saudáveis e não para os doentes...Enfim, é difícil de aceitar, mas os velhinhos são uns egoístas! Só pensam neles! Neles! A solução: dar cicuta a eles, como foi feito com Sócrates. Uma vez fora do ambiente terrestre, morando no Inferno, os velhinhos não seriam mais um rombo no INSS e atraso de vida e o País teria um surto de desenvolvimento e progresso...Todos felizes!

“Mondo cane”. Poucos (os mais espertos) têm muito e muitos (os ingênuos) não têm nada...Até quando? Até quando, meu Deus? Que desça logo a Vossa justiça sobre os mais pobres e mi-seráveis, aqueles que não têm o que comer e dormem ao relento e pedem a Vossa Misericórdia!

Conclusão: é de bom alvitre convidar de novo o Papa Bento XVI, com urgência, que retorne ao Brasil para consagrar os milhares e milhares de brasileiros que vivem do salário mínimo e da aposentadoria. São verdadeiros santos!

Jornal O Bandeirante ANO XVIII - no 201 - Agosto 2009

Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP. Sede: Rua Alves Guimarães, 251 - CEP 05410-000 - Pinheiros - São Paulo - SP Telefax: (11) 3062-9887 / 3062-3604 Editor: Helio Begliomini. Jornalista Responsável e revisora: Ligia Terezinha Pezzuto (MTb 17.671 - SP). Colaboradores desta edição: Alcione Alcântara Gonçalves, Calos Augusto Ferreira Galvão, Flerts Nebó, Geovah Paulo da Cruz, José Alberto Vieira, José Jucovsky, José Rodrigues Louzã, Josyanne Rita de Arruda Franco, Luiz Jorge Ferreira, Rodolpho Civile.Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de 1.000 exemplares PDF enviados por e-mail.

Diretoria - Gestão 2009/2010 - Presidente: Helio Begliomini. Vice-Presidente: Josyanne Rita de Arruda Franco. Primeiro-Secretário: Ligia Terezinha Pezzuto. Segundo-Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. Primeiro-Tesoureiro: Marcos Gimenes Salun. Segundo-Tesoureiro: Roberto Antonio Aniche. Conselho Fiscal Efetivos: Flerts Nebó, Carlos Augusto Ferreira Galvão, Luiz Jorge Ferreira. Conselho Fiscal Suplentes: Geovah Paulo da Cruz; Rodolpho Civile; Helmut Adolf Mataré.

Matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores e não representam, necessariamente, a

opinião da Sobrames-SP

Editores de O Bandeirante

Flerts Nebó – novembro a dezembro de 1992Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1993-1994Carlos Luiz Campana e Hélio Celso Ferraz Najar – 1995-1996Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1996-2000Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun – 2001 a abril de 2009Helio Begliomini – maio de 2009 -

Editor: Helio BegliominiDiagramação: Mateus Marins CardosoImpressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfi ca

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O BANDEIRANTE - Agosto de 2009 3 sUPLEMENto LItERÁRIo

Comoção11 de setembro de 2001

Sinto agora tristeza em mimPelo desamor que no mundo aflora,Será a previsão de um trágico fim?Enquanto só a intolerância vigora?

Em cinematográficas visõesTorres ruíram de uma só vez,

Inconsequentes torpes explosõesDe desumana odiosa insensatez...

Brumados arrepios estremecemEntre assustadores sofrimentos;Velórios que em pó renascem

Nas cinzas dos abomináveis tormentos...

Vertiginosas violentadas vidas voaramEm meio às chamas do céu em turbilhãoOnde os ideais do humanismo falharam

Gerando lágrimas, temor e comoção.

José JucovskyMédico aposentado em São Paulo

Retirando as Pegadas

Quase todos os dias ela varre a porta da casa para retirar a sombra da lua.

Vestida de lilás, com suas duas asas presas às costas por uma laçada de seda.

Ela já obesa varre com força e determinação.Foi ela quem a construiu ali. Os outros queriam o ninho

mais a Leste. Onde não molha muito quando chove. Não esquenta muito quando sai o sol em Outubro e não fica à mercê dos cupins de asas. Em compensação sofre muitos danos quando passam os anuns alardeando o Verão com suas tagarelices e seus pés sujos de orvalho. Eles ouvem sempre

Luiz Jorge FerreiraMédico clínico em São Paulo

uma maldição dela e de seus dois pirralhos. Agora não! Neste momento eles estão entretidos em bicar pedregu-

lhos, beliscar mamões e flutuar nas correntes anticiclônicas, todas sujas de polens e minúsculas asas de abelhas.

Amanhã cedo, amanhecerá outra vez como nestas suas duas últimas semanas de vida.

Os pés de laranja espalharão perfumes demais e vão “rurinar” alto os zangões.

Voando aos tropeções, para caírem além do pomar.Ela continuara a expulsar a lua do seu quintal. Como

coisa que ela não volte.

...Não tenho uma poesia pequena!Pequena e breve, só a minha dor.Ah, se esta dor não fosse pequena,secaria todo o meu manancial de amor! Tenho alguns versos tolos, apenas.Versos tão simples que os sei de cor.Leia meus versos e não sinta pena:quando eles nascem, morreu alguma dor.

Alguns VersosJosyanne Rita de Arruda FrancoMédica pediatra em Jundiaí

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4 O BANDEIRANTE - Agosto de 2009 sUPLEMENto LItERÁRIo

Dorothy, meu Encantamento

Ultimamente descobri um novo filão literário, o memoria-lismo. Nesta minha idade em que a memória recente se torna falha e a memória retrógrada permanece ou mesmo enriquece, eu que sempre tive boa memória para fatos e acontecimentos, sou tomado de lembranças.

Poetas, romancistas, escritores falam de amor, de paixão, de enlouquecimento amoroso, de tresloucada adoração.

Eu vou falar de algo mais sutil, tênue, até certo ponto reca-tado. Falarei de encantamento, sedução, fascínio, admiração, embevecimento, envolvimento.

Todo aquele que escreve: poeta, romancista, escritor, roteiris-ta, teatrólogo procura esconder a identidade dos personagens, pessoas, acontecimentos, fatos.

Eu não! Aqui nesta crônica declaro que tudo é verdade, os nomes são reais, os acontecimentos, as circunstâncias, existiram de fato. Nada será omitido ou escamoteado, tudo se fará segun-do a minha memória e a minha versão, depois de 47 anos.

Eu era um jovem médico vindo de Minas, provinciano, re-sidente da Clínica Oftalmológica da Santa Casa de São Paulo, pensando em fazer uma carreira acadêmica, porque eu fora professor licenciado de Biologia, fora dono de cursinho pré-vestibular, fora professor em Faculdade de Filosofia, apesar de minha pouca idade.

Aqui fui chamado para atender em tempo parcial e limitado na clínica de olhos do Dr. Oswaldo Costa Dória, um notável baiano negro, personalidade extraordinária, que tinha uma vasta clientela no Brás e resolvera ser candidato a deputado es-tadual. Ele tinha sido médico militar convocado para a segunda guerra, não chegou a ir para a frente de batalha e se reformou como Capitão do Exército, no que possuía muito orgulho. Eu, durante o curso secundário, havia prestado serviço militar no Tiro de Guerra durante um ano e compreendia bem o espírito, a mística e o carisma da caserna.

Ele, algo entre patrão e colega, convidou-me para uma festa memorável no Círculo Militar de São Paulo, exigindo-se traje a rigor. Eu tinha smoking novinho do baile de formatura e lá fui todo empolgado, era um mundo novo que se me apresentava, cheio de glamour, pompa, circunstância, como diria a roman-cista Jane Austen.

Para minha sorte e felicidade, Dória, dando uma de cupido, apresentou-me a um general gaúcho que foi muito cortês, sim-pático, e cujo nome já não me lembro, e a sua filha Dorothy.

Ela era uma garota linda, simpática, muito bem vestida, encantadora, fina, educada, desenvolta nas tradições sociais de salão e sociedade. Tive por ela um súbito embevecimento. Dançamos a noite toda como um par harmônico e senti que ela também gostara de mim, foi um envolvimento recíproco. Nunca me entendera tão bem com uma garota como aquela.

Sedução, encantamento, magnetismo, foi tudo o que nos dominou naquela noite. Eu tinha 27 anos, ela uns 22, formá-vamos um par de jovens voluteando nas nuvens, envolvidos por um clima de sociabilidade e de discreta sensualidade; ela com os odores da juventude, cheiro doce de donzela clamando para um conluio, quem sabe um conúbio, o corpo ágil de dan-çarina de salão, o contacto quente num amplexo que ia além da simples afabilidade.

Aquela garota mexeu com todas as minhas energias: psicoló-gicas, biológicas, sociais, emocionais. Fomos a mais duas soirèes de fim de semana no salão do Círculo Militar e meu encanto

Geovah Paulo da CruzMédico oftalmologista em São Paulo

por ela se renovou, e no que penso, era correspondido.Havia um clima de identificação em torno de nossa relação.

Eu fora soldado, os militares estavam no apogeu de seu pres-tígio, algum tempo depois viria a revolução de 31 de março e um general me parecia algo tão distante quanto um potentado, um príncipe.

Naquela época em todo o Estado de São Paulo só havia cinco faculdades de medicina, e um jovem médico era uma boa promessa social e econômica. Estávamos empatados.

Dória era janista roxo, fanático, e teve uma tremenda decepção política, quase enfartou quando eu lhe contei que Jânio Quadros tinha renunciado. Ele, que era negro, só faltou ficar branco. Havia uma perspectiva latente de eu continuar seu sócio, se eleito. Ele perdeu o ímpeto, perdeu as eleições e voltou para sua clínica.

Afastado, fui para Minas Gerais pensando em ficar por lá. Não tinha havido propriamente uma traição, ainda era namoro, e fiquei noivo daquela que foi minha esposa por 32 anos.

A tentativa de me estabelecer por lá não deu certo. Eu tinha a promessa de ser assistente remunerado da Cadeira de oftalmologia da Faculdade Federal do Triângulo Mineiro, mas na hora H fui preterido politicamente por outro que naquela época não tinha as credenciais acadêmicas que eu levava. De-cepcionado, voltei para São Paulo para continuar na Santa Casa e ser assistente do departamento de oftalmologia e para fazer aqui uma vida profissional, no que graças a Deus me dei muito bem. Mais tarde recusei ser professor em Itajubá e depois em Pouso Alegre, porque já tinha família, boa clínica e estava em franca ascensão profissional.

Nesta volta, já noivo, achei ética e moralmente impróprio voltar a me relacionar com Dorothy. O Dr. Dória morreu de acidente automobilístico, eu nunca mais soube dela.

Espero e desejo que ela se tenha realizado na vida amorosa, social, familiar e, quem sabe, até profissional. Já não me lembro o que ela estudava, mas apenas que era universitária.

Militares se mudam frequentemente. Possivelmente ainda estará viva, algures ou alhures, e eu gostaria de dizer ao vento que um dia ela foi minha musa, encantou a um moço, deixou-o fascinado, magnetizou-o, avassalou-o com sua presença física, corporal, social, psíquica e pessoal. Certamente nem se lembrará deste acontecimento, talvez eu tenha sido um caso passageiro na sua vida, mas para mim foi uma circunstância particular, inesquecível. É improvável que um dia ela chegue a sabê-lo, nunca cogitarei de realizar esta façanha, mas como os arautos dos contos de fadas, proclamo claro e bom som, num timbre alegre e de saudosa memória feliz:

– Dorothy, você foi para mim uma bela fantasia real.

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O BANDEIRANTE - Agosto de 2009 5 sUPLEMENto LItERÁRIo

Poema para um Casal

IQue bom ver vocês juntosAfora a vida, afora a noiteAfora as vírgulas, afora os pontosAfora o tempo batendo feito açoite.

IIÉ muito bom ver vocês juntos.Pois sobra o lar, sobram momentos,Sobram filhos, nem sempre tormentosPois foram feitos com amores sedentos.

Calos Augusto Ferreira GalvãoMédico psiquiatra em São Paulo

Cada Dia uma Esperança

Já há bastante tempo o poeta cantou “Só a leve es-perança em cada dia disfarça a pena de viver e...mais nada”.

Ela chamava-se Esperança, era uma mulata cem por cento bonita e apetitosa e por onde passava os homens não deixavam de emitir aquele assovio característico de boa apreciação e em suas cabeças pensamentos lúbricos e mesmo maldosos, sobre desejos inconfessáveis.

Esperança, por um daqueles acasos da vida, morava num dos bairros da Grande São Paulo chamado Vila Es-perança, numa casa de alvenaria, que muito lhe custara construir; tendo saído de um barraco feito de tábuas e coberto com plástico de uma das inúmeras favelas da periferia da Megalópole.

Trabalhava numa loja na rua Direita e assim todo dia tomava o metrô, descendo na “bendita” Praça da Sé e caminhava passando diante de muitos pequenos negócios ali estabelecidos.

Havia um em que trabalhava um homem de ascen-dência germânica ou nórdica e, cada vez que Esperança passava diante dele, nunca deixava de emitir aquele as-sovio característico e no seu linguajar enrolado dizia:

– Que “pundão” tem a Esperrança...Ela se aborrecia com aquelas palavras, pois embora

sendo uma mulher de poucas posses, morando longe do

Flerts NebóMédico aposentado em São Paulo

centro, era uma moça de bons princípios e o palavreado chulo do homem a deixava aborrecida.

Mas era obrigada a passar por ele para poder chegar a seu local de trabalho e o que ouvia era sempre a mesma frase:

– Que “pundão” tem a Esperranza...Um dia, chegou do interior um seu parente que tinha

uma compleição física tipo Mike Tyson e ela pensou:Hoje peço para este meu primo que me acompanhe

e quero ver se aquele gringo será capaz de dizer o que todo dia sou obrigada a ouvir...

Logo cedo, tomaram o metrô e desceram na estação “Sé” e dirigiram-se de braços dados para a rua Direita.

Quando passaram defronte ao local onde o alemão ou o sueco ou sei lá qual era a sua nacionalidade estava, ele viu que a mulata vinha de braço dado com um “Sta-lone” e quando ela passou olhando firme para ele, não se abalou e cantarolou:

– Salve lindo pundão da Esperança...Ela mordeu os lábios com raiva e naquele dia pediu

a conta na loja onde trabalhava e foi procurar emprego em outro lugar.

É como eu disse no começo “Só a leve esperança em cada dia disfarça a pena de viver... e mais nada”; por hora.

(Poesia de guardanapo de 18/06/09)

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6 O BANDEIRANTE - Agosto de 2009 sUPLEMENto LItERÁRIo

Tem sido muito difícil nos dias de hoje simplificarmos nossas vidas. Viver virou sinônimo de avaliação e controle de riscos. E o que seria uma vida simples? Acredito eu, seria agirmos de tal forma que a nossa própria vida e situações nos levassem a aprendermos e errarmos sem entrar em crises existenciais. Exemplo:

José e Maria são um casal feliz, eles são companheiros, respeitam-se, adoram estar um com o outro, são bons amantes, amam seus filhos, seus pais e seus amigos. Um belo dia um deles lê: Casais que fazem amor três vezes e meia por semana são mais felizes do que aqueles que fazem uma vez e meia. Nós não imaginamos como que é fazer amor uma vez e meia, mas as estatísticas sabem. José e Maria, que nunca contaram as vezes que fizeram amor, começam a fazer cálculos e a se incomodar. José começa a achar que sua mulher é fria e Maria começa a achar que José não a ama.

José e Maria têm três filhos. Eles estudam numa escola do bairro. A escola não é a melhor da cidade mas é ade-quada, dá uma boa educação e formação e é aquela que eles podem pagar. Seus filhos são bons alunos, fazem suas tarefas, brincam, têm uma boa formação como cidadãos. Mas! Ouvem no rádio que no ranking das melhores escolas, a deles nem aparece e que a escola “Tam tam” é a melhor. José e Maria estão pensando em mudá-los para a tal escola embora não tenham dinheiro suficiente para tanto. José e Maria terão de trabalhar horas extras e cortar algumas despesas para que eles estudem na escola “tam tam”. Isto quer dizer menos tempo para seus filhos, menos tempo um para com o outro, menos tempo para lazer e menos tempo para manter a estatística dos casais felizes que transam três vezes e meia.

Maria tem uma loja de roupas, a loja é pequena, mas junto com o salário de José que é contador de uma empresa, garantem o sustento da família. Eles não têm dívidas. Maria tem um carro pequeno usado e José tem um Chevete velho que ele deixa em qualquer lugar e ele mesmo diz: - Quem iria querer roubar esse carro?! Um dia Maria lê a revista “Grandes negócios, grandes roubadas”.O artigo diz como ampliar o seu negócio e quintuplicar seus ganhos. Maria aprende palavras novas: otimização, informatização, seg-mentação, joint venture, financiamentos, recursos humanos, fluxo de caixa, marketing share e uma infinidade de nomes que fazem com que Maria se sinta ultrapassada, incompe-tente e má administradora. Maria adora o que faz. Tem em seus clientes, amigos. Seus poucos funcionários são seus parceiros e ela sabe da responsabilidade que tem em manter essas famílias ao pagar seus salários. Entretanto, o apelo da mídia é: Se você quer progredir tem que sair da “zona de conforto” ao que equivale dizer: endivide-se. Pense pequeno e talvez você não cresça; pense grande e seja bem

José e Maria

José Alberto VieiraMédico anestesista em São Paulo

sucedido saindo um dia talvez na mesma revista sorrindo como exemplo de sucesso. Enfim Maria está pensando em mudar de ramo, algo maior, com maiores retornos, afinal como diz o filme do 007: O mundo não é o bastante.

José trabalha duro no seu cotidiano, mas está pensando em fazer um MBA de alguma coisa, afinal a empresa gosta de pessoas motivadas, que deem o sangue pela companhia. Ele vai trabalhar de dia e estudar à noite, para se apri-morar e, talvez, e é talvez mesmo, receber um aumento. Afinal estatísticas afirmam que aqueles que têm um MBA de qualquer coisa ganham mais. José está triste pois está cansado e gostaria de estar à noite com sua esposa e filhos, conversar, ajudar os filhos na tarefa da escola, conversar com Maria e ficarem abraçados, discutindo os problemas do dia a dia.

José e Maria, quando podem viajar, vão a Praia Grande ou vão ao interior visitar a família em Taubaté. Na praia passeiam pela orla, andam de bicicleta, divertem-se. No in-terior visitam seus familiares, fazem churrasco, conversam, tomam um vinho na companhia dos amigos. Um dia eles receberam a visita de uns primos distantes, bem sucedidos, e perguntaram se eles já esquiaram em Aspen ou se já esti-veram nos parques da Disney. Maria e José se entreolharam e trocaram olhares de interrogação e exclamação. Como é que eles nunca sentiram falta de coisas tão fantásticas e maravilhosas até esse dia?

José abriu uma garrafa de vinho para comemorar a chegada dos primos. – Que safra? Que uva? Perguntou seu primo. José só sabia que o sabor do vinho era bom, mas ele já não achava mais tão bom assim após essa inquirição. José e Maria estão pensando em fazer um curso de vinhos e estão planejando ir ao Exterior no ano que vem. Muitas horas extras de trabalho os aguardam.

São muitos os Josés e Marias neste mundo, felizes em seu modo de viver simples e de pequenas e doces ambições sem se incomodar com os outros até que um dia alguém lhes subtraem a felicidade dizendo que suas vidas são pe-quenas e insossas. Muitos só se sentem grandes tornando os outros pequenos. Claro que é lícito as pessoas adquirirem o supérfluo. Supérfluo quer dizer demasiado, que vai além do necessário. Necessário é o tempo. Tempo para os filhos, para sua ou seu companheiro ou companheira, tempo para brincar, tempo para sorrir, tempo para refletir, tempo para se exercitar, tempo para amar. Supérfluo é o carrão, a man-são, a melhor escola, a melhor roupa, o melhor emprego, o maior negócio, a melhor viagem. Se você puder ter o supérfluo, ótimo, mas, não tenha o supérfluo se você não tem o essencial. Acredite. O tempo é inelástico, por isso, não se perca no caminho, seguindo estatísticas inúteis e sem o menor sentido. Não ache problemas onde eles não existem. Não perca a vida tentando ganhá-la. Viva.

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O BANDEIRANTE - Agosto de 2009 7 sUPLEMENto LItERÁRIo

A Lenda do Ipê

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José Rodrigues LouzãMédico aposentado em São Paulo

Pau d’arco, ipê, poucos sabem tua históriapoucos sabem porque tu dás com tanta glória,

flores roxas, amarelas, brancas na mata.

Havia ainda – dizem que faz muito tempo -pela terra as fadas, gnomos, sem contratempo,

curupiras, caiporas... que vida gaiata!...

Muito verdes os ipês, viçosos e belosguardavam na sombra jardins de cogumelos,

porém não traziam as flores em cascata.

As árvores, as plantas com sensualidadeabraçando-se, respiram felicidade,

e prossegue a vida em alegre serenata.

Começa, porém, um período de tristeza,uma seca terrível com toda crueza

atinge violenta, cruel, a pobre mata.

Os ipês também sentiram, este rigor,a todos abalava, da seca o calor

que as plantas atingia como uma chibata.

Toda a floresta com suas plantas murchas!Os ipês, pesarosos, deram flores roxas,cantando a todos melancólica sonata.

Tupã, passeando, viu a lúgubre floradae perguntou porque a cor arroxeada

cobria lutuosa as árvores da mata.

– “É a seca.” A selva responde unânime.Tupã, ouvindo suas queixas fez, sublime,com que a chuva viesse farta, em catarata.

Hoje ipês florescem – primeiro sentinelasroxas e só depois as brancas e amarelas.Floresce a Tupã, a floresta muito grata

pela água salvadora que ele enviou,de roxo, branco e amarelo se enfeitou

e segue a se enfeitar de flores em cascata.

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8 O BANDEIRANTE - Agosto de 2009 sUPLEMENto LItERÁRIo

Agosto, Mês do Desgosto

O mês de agosto é o oitavo mês do ano. O número oito é um símbolo numérico, representado pela sobreposição de dois círculos , formando a figura do 8. Se observarmos essa forma e a colocarmos na posição horizontal, o número oito se transforma no símbolo do infinito: ∞.

Como são curiosas as circunstâncias da vida! Uma sim-ples mudança de posição modifica completamente o signi-ficado de certas coisas. A verticalidade e a horizontalidade mudam significativamente o sentido do mês de Agosto, o mês oito do nosso calendário. Este é um “desgosto” do mês de agosto, porque ele, jamais, poderá se deitar para dor-mir ou descansar; e, se o fizer, vai diretamente para o infinito. Deverá, por isso, permanecer sempre em pé, na ver-tical, como uma torre de vigia, fiscalizando os seus 31 (trinta e um) dias.

O número oito (8) é um número finito, limitado, delimitado, caracterizando em nos-so calendário, o mês de agosto, ou o oitavo mês do ano, situado entre os meses de julho e setembro, represen-tado respectivamente pelos números sete (7) e nove (9). Lembramos mais uma vez: ao co-locarmos o número 8 na horizontal (∞) ele se transforma em algo infinito, ilimitado, sem fim e sem delimitação. É ou não é, um desgosto, essa mudança radical?!

Agosto é o mês do “Cachorro Louco” porque nesta épo-ca do ano a Raiva Canina se propaga com mais facilidade, agravando-se a doença que nos obriga a sacrificar os cães afetados. É preciso lembrar que a vacina antirrábica, apli-cada convenientemente, gera efeitos eficazes, prevenindo a Raiva nos cães. De qualquer modo, o rótulo pegou e o título de mês do Cachorro Louco, consagrado ficou. Aqui temos outro desgosto do mês de Agosto.

A palavra agosto, se for separada, decomposta, tere-mos: a Letra “A” e a palavra “gosto”. “A” é um prefixo grego que significa: privação, negação. Gosto é um substantivo masculino que significa: sabor; paladar. Teríamos, então como definição de “a-gosto”, a privação e ou negação do sabor e paladar, gerando um desgosto.

Um Pouco de História sobre o Mês Agosto

Agosto do latim Augustus é o oitavo mês do Calen-dário Gregoriano. O Senado Romano já havia homena-geado o Imperador Julio César, dando o seu nome ao mês Quintilis, que se tornou Julho. O Imperador César Augusto também quis receber uma homenagem e, desse modo, o mês sextilis passou a se chamar Agosto. Como o mês de Agosto tinha 30 dias, o Imperador Augustus quis que seu mês tivesse o mesmo número de dias que o mês de Julio César. Foi então tirado um dia do mês

de fevereiro e passado para o mês de Agosto, que passou a ter 31 dias.

É preciso frisar que o primeiro calendário romano era um Calen-dário Lunar com dez meses, iniciando no Equinócio da Primave-ra e, segundo a lenda, foi implantado em 753 a.C., por Rômulo, o fundador de Roma. Nessa época, o mês de Agosto era o sexto mês, daí o seu nome de SEXTILIS, que em latim significa “sexto mês”.

Por volta de 713 a.C., Numa Pompilio fez a primeira reforma do Calendário, acres-centando os meses de Janeiro e Fevereiro no final do calendário,

transformando-o em um calendário Luni-solar, baseado no calendário grego, praticado em Atenas e que passou a ter 12 meses.

Julio César, por volta de 45 a.C., implantou um calen-dário solar, em substituição ao calendário Luni-Solar de Numa Pompilio, que ficou conhecido como Calendário Juliano.

Posteriormente, os meses de Janeiro e Fevereiro, que eram os últimos do ano, passaram a ser os primeiros, jo-gando o mês Sextilis (Agosto) duas posições para a frente tornando-se o oitavo mês. Assim, permaneceu no Calen-dário Gregoriano e se mantém até os dias atuais. Apenas por curiosidade, diremos que os romanos tinham nomes especiais para três dias específicos em cada mês. O pri-meiro dia de cada mês era chamado Kalendae (calendas), de onde a palavra Calendário se originou.

Alcione Alcântara GonçalvesMédico psiquiatra em Tupã