o avanÇo do pentecostalismo em minas gerais perÍodo … · ficha catalogrÁfica elaborada pela...

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Geografia Tratamento da Informação Espacial O AVANÇO DO PENTECOSTALISMO EM MINAS GERAIS PERÍODO 1991 e 2000 Ricardo Henrique Palhares Belo Horizonte 2010

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Page 1: O AVANÇO DO PENTECOSTALISMO EM MINAS GERAIS PERÍODO … · FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Palhares, Ricardo

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial

O AVANÇO DO PENTECOSTALISMO

EM MINAS GERAIS – PERÍODO 1991 e 2000

Ricardo Henrique Palhares

Belo Horizonte

2010

Page 2: O AVANÇO DO PENTECOSTALISMO EM MINAS GERAIS PERÍODO … · FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Palhares, Ricardo

Ricardo Henrique Palhares

O AVANÇO DO PENTECOSTALISMO

EM MINAS GERAIS – PERÍODO 1991 e 2000

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Geografia – Tratamento da Informação

Espacial, como requisito parcial à obtenção do Título

de Mestre.

Área de Concentração: Análise Espacial

Orientador: Alexandre Magno Alves Diniz

Belo Horizonte

2010

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FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Palhares, Ricardo Henrique

P153a O avanço do pentecostalismo em Minas – período 1991 e 2000. / Ricardo

Henrique Palhares. Belo Horizonte, 2010

149 f. : il.

Orientador: Alexandre Magno Alves Diniz

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas

Gerais, Programa de Pós-Graduação em Geografia – Tratamento da

informação espacial.

1. Protestantismo. 2. Catolicismo. 3. Pentecostalismo. 4. Minas Gerais. I.

Diniz, Alexandre Magno Alves. II. Pontifícia Universidade Católica de

Minas Gerais. Programa de Pós- Graduação em Geografia – Tratamento da

informação espacial. III. Título.

CDU: 911:284.57

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Ricardo Henrique Palhares

O Avanço do Pentecostalismo em Minas Gerais – Período 1991 e 2000

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia – Tratamento da

Informação Espacial, como requisito parcial à obtenção do Título de Mestre.

Área de Concentração: Análise Espacial

Belo Horizonte, 2010.

___________________________________________________

Alexandre Magno Alves Diniz (Orientador) – PUC Minas

___________________________________________________

Doralice Barros Pereira – UFMG

____________________________________________________

José Flávio Morais Castro – PUC Minas

___________________________________________________

Márcio Antônio de Paiva – PUC Minas

Belo Horizonte, junho de 2010

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, fonte de energia, sabedoria e constante fé na minha vida.

Aos meus queridos pais, Edison e Norma, presença constante em minha vida. Obrigado por

depositarem em mim a confiança para todas as horas. Sei que vocês se orgulham por eu ter

atingido mais uma etapa importante na minha vida, mas digo-lhes que este orgulho que sentem

por mim, retribuo numa obrigação de a cada dia ser mais digno de representá-los. Mãe e Pai,

obrigado pela vida e pelos ensinamentos, instrumentos que me tornaram melhor como homem e

ser humano.

À minha esposa Vanessa, que num primeiro momento deve ter se aborrecido comigo por ter me

dedicado quase que exclusivamente a este trabalho. Obrigado pela força nos momentos em que

me julguei incapaz durante toda esta caminhada. Agradeço seu amor e carinho, e pelo estímulo

para que eu seguisse e concluísse mais esta etapa que fez parte de nossas vidas.

Não poderia deixar de fazer um agradecimento a minha querida avó Cândida, fonte de inspiração

de esforço e coragem, que ainda em vida, no início desta caminhada me disse: “Meu filho, você

ainda será muito feliz”, e agora posso dizer minha avó, a senhora estava certa. Meus sentimentos

de dívida “eterna” e gratidão.

À toda minha família que, com muito carinho e apoio, mesmo que de longe não deixaram de me

dar incentivos para superar os momentos de dificuldade.

Ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pela bolsa de

estudo concedida durante o Curso de Mestrado.

Aos amigos professores da graduação de Geografia da PUC Minas e um obrigado especial à

professora Jony Rodarte, pela confiança e generosidade depositadas em mim, desde o início da

minha carreira acadêmica, contribuindo em muito na minha formação como geógrafo. Obrigado

pelo apoio incondicional e por sempre confiar em meu trabalho.

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Ao amigo e professor Alexandre Diniz, pelo seu estímulo no amadurecimento dos meus

conhecimentos. Obrigado pela paciência e confiança depositadas desde o início. A conclusão

deste trabalho deve-se em grande parte aos seus ensinamentos, requisito que levarei comigo na

minha vida pessoal e profissional.

Aos demais professores do Programa de Pós-Graduação em Geografia – PPGGTIE pela

oportunidade de crescimento e aprendizado. Professores Duval Magalhães, João Francisco de

Abreu, José Flávio Castro, Leônidas Barroso, José Irineu Rigotti e Altino Caldeira. Em especial

ao professor Oswaldo Bueno, exemplo de fibra e profissionalismo, pela qualidade de suas aulas,

conselhos e confiança depositada em mim enquanto aluno no decorrer do curso.

Aos bons amigos Délio e Fátima, da Secretaria do Programa de Pós-Graduação, pelo suporte

administrativo e a torcida sempre presente desde o início.

Ao Dartagnan e a equipe do CEGIPAR – Centro de Geoprocessamento de Informações Pastorais

e Religiosas da PUC Minas pela ajuda ainda nos primeiros rascunhos e rabiscos deste trabalho e

o apoio constante.

Aos meus companheiros amigos de jornada: Luíza, Fernanda Macedo, Fernanda Braga, Edison,

José Erimá, Pablo, Melina, Emerson, Cézanne, Cristiane, Mariza, Raissa, Carlos Wagner, Aurino,

Karina e Margareth. Obrigado pela amizade e pelos bons momentos que marcaram nossa turma.

Amizades verdadeiras que fiz e espero mantê-las ao longo do tempo. E aos demais colegas do

Programa de Pós-Graduação, que são muitos, portanto não irei correr o risco de citá-los e deixar

alguém de fora, obrigado pelo carinho e apoio também constante.

Aos amigos do Laboratório de Estudos Urbanos e Regionais: Aninha, Júlio Giovanni, Wagner

Batella, Éder, Gilmara e Elisângela. A presença alegre de todos, principalmente as maluquices de

nosso “grande” amigo Edinho com certeza tornaram esta pesquisa mais prazerosa. Um obrigado

também aos amigos do Laboratório de Microdados, pela gentileza e colaboração no fornecimento

de muito dos dados estatísticos utilizados na elaboração deste trabalho.

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Ao meu velho amigo Járvis Campos. Este trabalho teve grande contribuição sua. Obrigado pelo

incentivo, dicas e os vários encontros para a elaboração do banco de dados desta dissertação.

Valeu Jarvinho!

Aos meus fiéis amigos e monitores do Laboratório de Cartografia da PUC Minas, Gustavo e

Verônica, pelo apoio incansável nas demandas do laboratório, em muitas vezes que deixei a

“batata quente” na mão de vocês para que eu pudesse redigir boa parte das páginas deste trabalho.

Por fim, a todos os meus amigos e amigas, que direta ou indiretamente contribuíram com

sugestões e ficaram na torcida para conclusão desta Tese de Mestrado, meus sinceros

agradecimentos.

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“Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”

(1Jo 5.4b)

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RESUMO

Os Censos Demográficos de 1991 e 2000 demonstraram que o crescimento das chamadas

Igrejas Cristãs Reformadas, e consequentemente redução do Catolicismo vêm contribuindo de

forma enfática para o anúncio de um novo cenário religioso no Brasil. Um levantamento

exploratório da expansão das Igrejas Protestantes em Minas Gerais demonstrou que o

crescimento se faz em grande parte pela Mesorregião do Vale do Rio Doce, possuindo também

números expressivos distribuídos por todo o Estado, principalmente na sua Região Metropolitana.

As análises dos movimentos migratórios destes religiosos, principalmente de origem pentecostal,

demonstram que o crescimento está em grande parte associado à conversão e não propriamente a

imigração destes fiéis.

Palavras-chave: Protestantismo, Catolicismo, Difusão Pentecostal, Minas Gerais.

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ABSTRACT

The Demographic Censuses of 1991 and 2000 have demonstrated that the so called

growth of the Reformed Christian Churches and the consequent reduction of Catholicism have

contributed emphatically to the announcement of a new religious scene in Brazil. An exploratory

survey of the expansion of the Protestant Churches in Minas Gerais demonstrated that such

growth took place mostly in the Mesoregion of Rio Doce Valey; nonetheless, this religious group

has expressive numbers throughout the state, including the Metropolitan Region. The analyses of

the migratory flows of Protestants, mainly of Pentecostal origins, demonstrate that their growth is

associated, to a large extent, to the conversion rather than immigration of devouts.

Key-words: Protestantism, Catholicism, Pentecostal Diffusion, Minas Gerais.

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1: MESORREGIÕES DE MINAS GERAIS........................................................ 20

Mapa 2: NÚMERO DE CRISTÃOS NO MUNDO........................................................ 53

Mapa 3: PROPORÇÃO DE CRISTÃOS NO MUNDO................................................ 53

Mapa 4: NÚMERO DE CATÓLICOS NO MUNDO.................................................... 56

Mapa 5: PROPORÇÃO DE CATÓLICOS NO MUNDO............................................. 56

Mapa 6: NÚMERO DE PROTESTANTES NO MUNDO............................................. 59

Mapa 7: PROPORÇÃO DE PROTESTANTES NO MUNDO...................................... 59

Mapa 8: PERCENTUAL DE CATÓLICOS POR MUNICÍPIO: BRASIL – 2000...... 71

Mapa 9: PERCENTUAL DE PROTESTANTES POR MUNICÍPIO: BRASIL –

2000..................................................................................................................................

78

Mapa 10: PERCENTUAL DE PROTESTANTES PENTECOSTAIS POR

MUNICÍPIO: BRASIL – 2000........................................................................................

92

Mapa 11: POPULAÇÃO CATÓLICA, POR MUNICÍPIO EM MINAS GERAIS:

1991..................................................................................................................................

97

Mapa 12: PERCENTUAL DE CATÓLICOS, POR MUNICÍPIO EM MINAS

GERAIS: 1991.................................................................................................................

97

Mapa 13: POPULAÇÃO CATÓLICA, POR MUNICÍPIO EM MINAS GERAIS:

2000..................................................................................................................................

98

Mapa 14: PERCENTUAL DE CATÓLICOS, POR MUNICÍPIO EM MINAS

GERAIS: 2000.................................................................................................................

98

Mapa 15: TAXA DE CRESCIMENTO DOS CATÓLICOS, POR

MICRORREGIÃO: MINAS GERAIS – 1991/2000.......................................................

101

Mapa 16: POPULAÇÃO PROTESTANTE, POR MUNICÍPIO: ESPÍRITO SANTO,

MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO: 1991................................................................

104

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Mapa 17: PERCENTUAL DOS PROTESTANTES, POR MUNICÍPIO: ESPÍRITO

SANTO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO: 1991.................................................

104

Mapa 18: POPULAÇÃO PROTESTANTE, POR MUNICÍPIO: ESPÍRITO SANTO,

MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO: 2000................................................................

105

Mapa 19: PERCENTUAL DOS PROTESTANTES, POR MUNICÍPIO: ESPÍRITO

SANTO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO: 2000.................................................

105

Mapa 20: TAXA DE CRESCIMENTO DOS PROTESTANTES, POR

MICRORREGIÃO: ESPÍRITO SANTO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO:

1991/2000.........................................................................................................................

106

Mapa 21: POPULAÇÃO PENTECOSTAL, POR MUNICÍPIO EM MINAS

GERAIS: 1991.................................................................................................................

108

Mapa 22: PERCENTUAL DE PENTECOSTAIS, POR MUNICÍPIO EM MINAS

GERAIS: 1991.................................................................................................................

108

Mapa 23: POPULAÇÃO PENTECOSTAL, POR MUNICÍPIO EM MINAS

GERAIS: 2000.................................................................................................................

109

Mapa 24: PERCENTUAL DE PENTECOSTAIS, POR MUNICÍPIO EM MINAS

GERAIS: 2000.................................................................................................................

109

Mapa 25: TAXA DE CRESCIMENTO DE PROTESTANTES PENTECOSTAIS,

POR MICRORREGIÃO: MINAS GERAIS – 1991/2000...............................................

113

Mapa 26: POPULAÇÃO DE PROTESTANTES TRADICIONAIS, POR

MUNICÍPIO EM MINAS GERAIS: 1991......................................................................

115

Mapa 27: PERCENTUAL DE PROTESTANTES TRADICIONAIS, POR

MUNICÍPIO EM MINAS GERAIS: 1991......................................................................

115

Mapa 28: POPULAÇÃO DE PROTESTANTES TRADICIONAIS, POR

MUNICÍPIO EM MINAS GERAIS: 2000......................................................................

116

Mapa 29: PERCENTUAL DE PROTESTANTES TRADICIONAIS, POR

MUNICÍPIO EM MINAS GERAIS: 2000......................................................................

116

Mapa 30: TAXA DE CRESCIMENTO DE PROTESTANTES TRADICIONAIS,

POR MICRORREGIÃO: MINAS GERAIS – 1991/2000...............................................

118

Mapa 31: POPULAÇÃO TOTAL DE IMIGRANTES POR MUNICÍPIO EM

MINAS GERAIS: 1986/1991..........................................................................................

122

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Mapa 32: POPULAÇÃO TOTAL DE IMIGRANTES POR MUNICÍPIO EM

MINAS GERAIS: 1995/2000..........................................................................................

122

Mapa 33: PERCENTUAL DE PROTESTANTES PENTECOSTAIS IMIGRANTES

POR MUNICÍPIO: MINAS GERAIS: 1986-1991..........................................................

126

Mapa 34: PERCENTUAL DE PROTESTANTES PENTECOSTAIS IMIGRANTES

POR MUNICÍPIO: MINAS GERAIS: 1995-2000..........................................................

126

Mapa 35: PERCENTUAL DE PROTESTANTES TRADICIONAIS IMIGRANTES

POR MUNICÍPIO: MINAS GERAIS: 1986- 1991........................................................

127

Mapa 36: PERCENTUAL DE PROTESTANTES TRADICIONAIS IMIGRANTES

POR MUNICÍPIO: MINAS GERAIS: 1995-2000..........................................................

127

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: PAÍSES COM MAIOR NÚMERO DE CRISTÃOS PROTESTANTES –

2005.................................................................................................................................................

60

Tabela 2: ESTATÍSTICA DAS RELIGIÕES NO BRASIL: 1970 a 2000........................

68

Tabela 3: PROPORÇÃO DE CATÓLICOS: BRASIL – 2000.........................................

70

Tabela 4: ESTADOS COM MENOR PROPORÇÃO DE CATÓLICOS: BRASIL-2000

72

Tabela 5: PROPORÇÃO DE CATÓLICOS NOS MUNICÍPIOS LIMÍTROFES A

CAPITAL DO RIO DE JANEIRO: BRASIL-2000...........................................................

73

Tabela 6: IGREJAS MISSIONÁRIAS NO BRASIL – 2000............................................

76

Tabela 7: PRINCIPAIS IGREJAS DO MOVIMENTO PENTECOSTAL

BRASILEIRO – 2000.........................................................................................................

89

Tabela 8: POPULAÇÃO RELIGIOSA EM MINAS GERAIS: 1991/2000....................

107

Tabela 9: POPULAÇÃO TOTAL PROTESTANTE E IMIGRANTE POR

MESORREGIÃO EM MINAS GERAIS: 1986-1991/ 1995-2000.....................................

128

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: EVOLUÇÃO DOS PROTESTANTES NO BRASIL: 1970 A 2000..... 64

Gráfico 2: PERCENTUAL DE RELIGIOSOS NO BRASIL: 1991 E 2000........... 69

Gráfico 3: UNIVERSO RELIGIOSO PROTESTANTE: BRASIL – 2000............. 81

Gráfico 4: DISTRIBUIÇÃO PROTESTANTE PENTECOSTAL POR

REGIÕES DO BRASIL: 1970 A 2000.....................................................................

93

Gráfico 5: DISTRIBUIÇÃO CATÓLICA POR REGIÕES DO BRASIL: 1970 A

2000...........................................................................................................................

93

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: FLUXOGRAMA DAS DIVISÕES HISTÓRICAS DO CRISTIANISMO..... 48

Figura 2: SÍMBOLOS DO CRISTIANISMO.................................................................. 51

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: ESTUDOS LITERÁRIOS SOBRE O PROTESTANTISMO NO BRASIL.. 37

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 18

ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO...................................................................................... 21

1. A CIÊNCIA GEOGRÁFICA ......................................................................................... 22

1.1. A GEOGRAFIA HUMANA................................................................................... 23

1.2. A GEOGRAFIA CULTURAL................................................................................ 26

1.3. A GEOGRAFIA DA RELIGIÃO............................................................................ 31

1.3.1. ESTUDOS SOBRE A GEOGRAFIA DA RELIGIÃO NO BRASIL.......... 34

2. O CRISTIANISMO: ORIGEM E EVOLUÇÃO.......................................................... 43

2.1. SURGIMENTO DO CRISTIANISMO.................................................................... 44

2.2. HISTÓRIA E INFLUÊNCIA: “O CISMA”........................................................... 46

2.3. DENOMINAÇÕES CRISTÃS............................................................................... 47

2.4. AS FORMAS DE CULTO E SIMBOLOGIA........................................................ 50

2.5. A DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DO CRISTIANISMO NO MUNDO......... 52

2.5.1. Católicos........................................................................................................ 55

2.5.2. Protestantes.................................................................................................... 57

3. O CRISTIANISMO NO BRASIL.................................................................................. 62

3.1. O CATOLICISMO NO BRASIL.......................................................................... 66

3.1.1. O enfraquecimento da presença católica....................................................... 70

3.2. O PROTESTANTISMO NO BRASIL.................................................................. 74

3.2.1. Diversidade e dinamismo das Igrejas Protestantes no Brasil...................... 80

3.3. PENTECOSTALISMO BRASILEIRO: SURGIMENTO, EVOLUÇÃO E

LINHAS DE ABORDAGEM.................................................................................

83

3.3.1. Distribuição espacial do Pentecostalismo brasileiro................................... 91

4. A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS CRISTÃOS EM MINAS GERAIS............... 96

4.1. O CENÁRIO RELIGIOSO CATÓLICO EM MINAS GERAIS: 1991 – 2000 96

4.2. O CENÁRIO RELIGIOSO PROTESTANTE EM MINAS GERAIS:

1991 – 2000...........................................................................................................

102

4.3. A DISTRIBUIÇÃO RELIGIOSA PROTESTANTE DE ACORDO COM OS

MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS: 1986/ 1991 e 1995/ 2000..............................

119

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4.3.1. Breve exposição sobre os movimentos migratórios populacionais em

Minas Gerais: 1986/1991 e 1995/2000..........................................................

1

1 120

4.3.2. A distribuição Protestante Tradicional e Pentecostal migratória em

Minas Gerais: 1986/1991 e 1995/2000..........................................................

124

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 131

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 136

ANEXOS........................................................................................................................ 143

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INTRODUÇÃO

O crescimento cada vez mais acentuado de grupos oriundos do Protestantismo vem sendo

observado no Brasil ao longo das décadas, contribuindo para uma nova configuração do cenário

religioso. O modesto crescimento das primeiras décadas do século XX cedeu lugar para um

expansionismo protestante até então não presenciado no maior País católico do mundo.

Os Censos Demográficos de 1991 e 2000 demonstram que nas últimas décadas o

Catolicismo vem perdendo espaço para o Protestantismo, principalmente de origem Pentecostal.

Tal crescimento pode está associado ao grande número de religiosos que migraram ou se

converteram ao Pentecostalismo no Estado de Minas Gerais. Esta mudança na configuração

religiosa no Estado começa a ser percebida com maior clareza nas duas últimas décadas,

sugerindo um estudo investigativo.

Este trabalho tem como objetivo principal explorar o crescimento dos Protestantes

Pentecostais em Minas Gerais, no período de 1991 e 2000. Para tal será necessário compreender

primeiro como se originou e se desenvolveu o movimento religioso no mundo e no Brasil, e em

seguida quantificar o processo de difusão destes religiosos no Estado no período em análise.

Por último, o estudo visa responder de maneira exploratória em que medida o processo de

expansão dos protestantes, principalmente os pentecostais, tem se dado em Minas Gerais, se

predominantemente pela conversão de devotos ou pela imigração de fieis já convertidos de outras

partes do Brasil.

O Protestantismo Pentecostal é um movimento religioso que vem despertando o interesse

de muitos estudiosos nos últimos anos, e por sua vez, vem influindo ou interferindo

consideravelmente no contexto religioso de Minas Gerais. A busca por informações

pormenorizadas quanto ao cenário expansionista de origem histórico e pentecostal incita a um

levantamento exploratório, principalmente em Minas Gerais.

Vale ressaltar, a contribuição deste estudo frente à falta de informações relacionadas à

migração destes grupos religiosos, principalmente o Pentecostal, visto que, dentre as

denominações religiosas protestantes, de acordo com o IBGE, é a que apresenta o maior número

de devotos na sociedade brasileira.

Além disso, o estudo tende a contribuir para pesquisas ligadas a órgãos de planejamento e

gestão do espaço, no âmbito dos municípios, que poderão mostrar muito da realidade religiosa

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em Minas Gerais, e a influência das migrações neste processo. Também auxilia para uma melhor

compreensão sobre este movimento religioso, que é muito complexo e apresenta muitas

generalizações e controvérsias.

Em relação à metodologia e os métodos empregados para tal estudo, foram utilizados os

dados dos Censos Demográficos de 1991 e 2000, através das variáveis e indicadores relacionados

às denominações religiosas e as migrações no Brasil. Para tal procedimento metodológico foi

necessária a elaboração de um novo dicionário agregado da religião, denominado estatisticamente

como “Syntax”, para o cruzamento e a análise dos dados.

Em relação ao grupo religioso proposto para análise, a grande distinção e complexidade

do campo “Estrutura de Religião” (Anexo A), adotado pelo IBGE, exigiram um agrupamento das

mesmas em duas categorias proeminentes: Cristã Tradicional (Católica) e Cristãs Reformadas

(Protestantes Tradicionais e Protestantes Pentecostais) (Anexo B). Os dados foram organizados

de forma de que o registro fosse da seita, culto ou ramo da religião professada. As pessoas que

não professassem qualquer religião, o registro deveria ser “sem religião”.

Em relação aos dados migratórios, o critério adotado foi o de “data fixa”, cujos

deslocamentos da população religiosa associados ao período 01/09/1986 para 1991 e 31/07/1995

para 2000 permitem definir como “migrantes” as pessoas com 5 anos ou mais de idade cuja

Unidade da Federação de residência em uma data fixa era distinta daquela em que residiam no

momento da pesquisa. (Anexo C).

A manipulação dos dados censitários foi realizada por meio do software estatístico SPSS

17.0. As malhas digitais do Brasil e de Minas Gerais foram adquiridas no IBGE, cuja extensão do

arquivo (shape file) permitiu a utilização do software ArcGis 9.3, utilizado na elaboração das

bases cartográficas.

Executadas as etapas anteriores, o passo seguinte consistiu na elaboração dos mapas

coropléticos (base digital), baseado no agrupamento de casos em intervalos de valores, sendo

atribuída para cada grupo uma cor em escala ordenada. Além disso, foram atribuídas para cada

grupo religioso em análise - Católica e Protestante (Pentecostais e Tradicionais) - cores

diferenciadas.

Desta forma, através do novo dicionário agregado de religião e dos indicadores

relacionados às variáveis migratórias chegou-se às informações referentes às características do

cenário religioso protestante (Tradicionais e Pentecostais) em Minas Gerais em 1991 e 2000.

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Para a manipulação dos dados absolutos, de proporção e de taxa de crescimento dos

cristãos (católicos e protestantes) em Minas Gerais, dois níveis de escala foram adotados para a

elaboração dos mapas: municipal e de microrregião.

A escala municipal, enquanto unidade geográfica de estudo, fornece dados mais

detalhados a respeito das informações populacionais, principalmente na prática religiosa exercida

pela pessoa.

Já em relação aos mapas de taxa de crescimento, a escala de microrregião favorece a

agregação dos dados municipais, visto que, o Estado de Minas Gerais em 1991 apresentava 20%

menos municípios que em 2000. O referido recorte territorial é dividido em 66 microrregiões,

onde os limites se mantêm praticamente inalterados, a despeito da dinâmica de emancipação de

municípios.

Além disso, sobre a unidade de escala municipal foi inserido o recorte territorial de

mesorregiões geográficas, definidas pelo IBGE em 1976. Sua utilização oferece uma melhor

agregação das informações do âmbito dos municípios para unidades maiores. Assim, o Estado foi

dividido em doze mesorregiões, assim definidas:

Quilômetros

3121560

1 - Triângulo Mineiro/ Alto Paranaíba

2 - Noroeste de Minas

3 - Norte de Minas

4 - Central Mineira

5 - Oeste de Minas

6 - Sul/ Sudoeste de Minas

7 - Metropolitana de Belo Horizonte

8 - Campo das Vertentes

9 - Jequitinhonha

10 - Vale do Mucuri

11 - Vale do Rio Doce

12 - Zona da Mata

Fonte: IBGE, 2000

Mapa 1: Mesorregiões de Minas Gerais

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ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Assim, o capítulo 1 apresenta um marco teórico conceitual a respeito da ciência

geográfica, suas principais abordagens e perspectivas. Dentro da Geografia Humanística -

Cultural insere-se a abordagem da Geografia das Religiões, que tem como objetivo chamar a

atenção para a análise do espaço das religiões, sobretudo no Brasil, onde as mesmas

desempenharam um importante papel na formação histórico-cultural e, na atualidade, vêm sendo

objeto cada vez maior de estudos.

Já o capítulo 2, apresenta um histórico do Cristianismo, sua gênese, evolução, o cisma da

Igreja Católica e o surgimento do Protestantismo e suas ramificações: as Igrejas Tradicionais que

compreendem principalmente as chamadas Igrejas Históricas que tiveram origem no início da

Reforma Protestante ou bem próximo dela; as Igrejas Pentecostais que compreendem as igrejas

que tiveram início no reavivamento nos Estados Unidos entre 1906-1910 e as Igrejas

Neopentecostais, surgidas 60 anos após o movimento pentecostal e que são oriundas do

Pentecostalismo original ou mesmo das Igrejas Tradicionais.

Na sequência, o capítulo 3 aborda o Cristianismo no Brasil; o enfraquecimento da

presença católica frente o Protestantismo; a diversidade e o dinamismo das igrejas ditas

protestantes; o surgimento e evolução do Pentecostalismo brasileiro, como também sua

distribuição espacial no País.

Por sua vez, o capítulo 4 apresenta o cenário religioso cristão em Minas Gerais, a

distribuição espacial dos católicos e protestantes, principalmente o pentecostal no Estado. Além

disso, o capítulo apresenta os movimentos migratórios da população protestante tradicional e

pentecostal em Minas Gerais no período de 1991 a 2000.

Por fim, o capítulo 5 apresenta as considerações finais do trabalho, as principais análises,

resultados e o que foi possível contribuir de alguma forma para estudos posteriores.

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O presente capítulo faz um breve panorama sobre a Geografia, enquanto ciência ao longo

do tempo. Devido ao grande número de temas abordados pela mesma, o capítulo foi dividido em

três sub-itens: o primeiro relaciona-se a Geografia Humana, enquanto ramo da chamada geografia

moderna, analisa os processos de organização social e interação do Homem com os vários

ambientes, e de como esta interação modifica a concepção do espaço e a sua utilização.

Na sequência, seguindo a valorização recente dos temas culturais, o segundo sub-item

engloba o estudo da Geografia Cultural, enquanto subdisciplina da Geografia Humana favorece o

estudo da Geografia da Religião, que visa analisar a relação recíproca da religião com o ambiente

e sua força como agente modificadora do espaço. Por último, além de descrever sobre a

Geografia da Religião, o terceiro sub-item ainda apresenta alguns registros de trabalhos

realizados no Brasil que fizeram uso da religião como tema de estudo.

1 – A CIÊNCIA GEOGRÁFICA

A Geografia, como ciência sistematizada e institucionalizada, é fenômeno recente, surgido

na segunda metade do século XIX, primeiramente na Alemanha, quando o Estado-Nação estava

em pleno processo de unificação. Neste período destacam-se as contribuições de Alexandre Von

Humbolt e de Karl Ritter, fundadores da geografia moderna ou científica. (AMORIM FILHO,

2000).

Muito já se discutiu sobre a existência de uma ou mais geografias. Desde a Grécia antiga,

houve uma diferenciação entre a geografia geral (estudo dos fenômenos de forma geral ou

mundial) e a geografia regional (estudo de determinados lugares ou regiões específicas). Além

disso, destaca-se a Cartografia, que sempre esteve associada à geografia, no sentido da

representação dos elementos físicos e humanos do espaço geográfico. (DOLLFUS, 1991).

Porém, a divisão mais recente da Geografia remonta o século XIX, e é dotada de dois

campos específicos e distintos a saber: a “Geografia Humana” (estuda e analisa a ação do homem

na sua dimensão espacial) e a “Geografia Física” (estuda e analisa a ação dos fatores físicos da

superfície terrestre).

Definir o estudo da Geografia não é tarefa fácil, mas existe um consenso de que a

superfície terrestre é o domínio específico do trabalho geográfico. Entretanto, esta dualidade na

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Geografia, entre aspectos físicos e humanos faz com que sempre surjam novos campos de estudo,

visto que a Geografia não é estática, e é este dinamismo da ciência geográfica que favorece um

ambiente rico para a análise de estudos diversificados.

Devido a esta diversidade de estudos, tal pesquisa terá como ênfase os padrões e

processos que formam a interação humana com os vários ambientes; fatores atribuídos à

Geografia Humana.

1.1– A GEOGRAFIA HUMANA

É da competência da Geografia Humana investigar e analisar os aspectos decorrentes das

transformações sociais, visto que o homem é um agente transformador da sociedade, e tais

modificações acabam por atingir o meio rural, os transportes, a indústria, a urbanização. As

atividades políticas, econômicas e culturais também estão inseridas neste processo.

(DEMANGEON, 1942).

É importante salientar que qualquer que seja a análise de estudo ou ramo de pesquisa:

cultural, social, econômico ou populacional, a Geografia Humana é uma ciência que se consagra

ao estudo e a descrição da interação entre a sociedade e o espaço. Além de facilitar a

compreensão do espaço de vivência do homem, ela tem como foco as percepções e

transformações humanas sobre este mesmo espaço no transcorrer do tempo.

Sobre este processo histórico-social do homem, Christofoletti (1985) complementa:

“Para a Geografia Humana o homem é agente modificador do meio natural, criando o

espaço geográfico sobre uma base territorial, fruto de suas relações de trabalho num

dado momento da história. Fazendo do homem um ser histórico, pois, no seu dia-a-dia o

homem se cria e recria socialmente e culturalmente”. (CHRISTOFOLETTI, 1985).

Porém, os diferentes ramos da Geografia Humana possuem abordagens filosóficas

distintas, dentre elas podemos destacar a Crítica, do Comportamento, Teorético-Quantitativa,

Humanista e a Cultural. Tais abordagens evidenciam significativas contribuições que a partir da

década de 1980 passaram a orientar os estudos da produção geográfica.

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Christofoletti (1985) afirma que até a década de 1980 estas linhas de pensamento eram

compreendidas como opostas e a busca pelo redimensionamento do discurso geográfico por meio

da aproximação de tais abordagens fez com que houvesse a revalorização de alguns elementos do

humanismo e a reestruturação do saber.

Contudo, torna-se importante mencionar algumas visões que norteiam vários estudos das

ciências humanas. O posicionamento crítico, por exemplo, dentro da Geografia Humana consiste

na transformação da realidade social, e este conhecimento científico traz uma conotação

tremendamente política, que deve ser usado como instrumento para uma sociedade mais justa e

igualitária, organizada em função dos homens e não do capital. (SANTOS, 1978).

As abordagens com base nos estudos da geografia da percepção e do comportamento

defendem que os comportamentos individuais dos indivíduos contribuem no processo de

reprodução do espaço, e que tal comportamento é resultante da vontade e decisão de caráter

pessoal. Esta linha de pensamento defende a idéia de que os indivíduos decidem seu

comportamento espacial não em função do meio geográfico, mas sim, a partir da percepção que

se tem do mesmo.

MacDowell (1996) afirma que os mapas mentais produzidos pelos indivíduos, assim

como o estudo das imagens que os indivíduos possuem do local onde vivem, tornaram possível o

conhecimento do comportamento que os mesmos possuem frente ao espaço.

Esta filosofia de comportamento ou percepção recebeu críticas por parte dos radicais, uma

vez que esta posição básica dificultaria qualquer reflexão objetiva e coletiva, além de fugir da

realidade e conduzir à reflexão a teorias alienadas, como observado por Zanatta (2008).

“Se cada indivíduo possui uma percepção diferenciada e pertence a classes sociais,

nações ou culturas diferenciadas, então a percepção de cada lugar não será feita da

mesma forma. Não há assim uma concepção do espaço, mas uma superposição de

espaços de um mesmo lugar”. (ZANATTA, 2008).

Baseada na filosofia e metodologia do positivismo lógico, a abordagem teorético-

quantitativa introduziu mudanças de caráter epistemológico e de orientação metodológica; fatores

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que foram capazes de transformar a natureza da Geografia e alterar a perspectiva geral da análise

geográfica1. (BURTON, 1977).

Estas transformações estão associadas à análise espacial, objeto de estudo de investigação

geográfica, devido em grande parte ao desenvolvimento de uma metodologia orientada para a

compreensão da organização espacial. Burton (1977) ainda afirma que o uso da lógica

matemática, a concepção sistêmica e os modelos lógicos são as características que fazem com

que a abordagem teorético-quantitativa possua valor próprio e seja distintiva, direcionando para

uma conduta totalmente científica e racional.

Esta inovação nas condutas teóricas e metodológicas fez com que a abordagem teorético-

quantitativa redefinisse alguns conceitos tradicionais como, por exemplo o espaço, que passou a

ter uma valorização a partir do conceito de organização espacial. O conceito de espaço aparece

pela primeira vez na história do pensamento geográfico, como o conceito-chave da disciplina.

Em relação à abordagem humanística, tal linha de pensamento repercutiu sobre os

fenômenos geográficos com a finalidade de alcançar melhor entendimento do homem e de sua

condição.

MacDowell (1996) afirma que esta abordagem, além de apresentar como argumento a

própria existência, resultante sobre os fenômenos do mundo vivido, favoreceu o surgimento do

fator cultural2, indispensável para uma nova compreensão da produção e reprodução das culturas,

através das práticas sociais que ocorrem ao nível espacial de maneira diferenciada.

A dimensão cultural torna-se importante, uma vez que o homem tornou-se peça chave

para compreensão do mundo, sendo ponto central dos estudos culturais, na medida em que se

torna agente de produção do mundo em que vive.

Existem diferentes formas de analisar os estudos intrínsecos as ciências humanas, alguns

pensadores podem sentir-se atraídos pela fenomenologia ou preferir a causa radical, mas tanto

radicais quanto humanistas concordam que os fatores sociais se diferem dos fatos naturais. O que

conta não é a distribuição dos fatores sociais pelo espaço, mas como as pessoas se relacionam no

mundo em que vivem, a sua experiência.

1 A preocupação com o caráter científico da análise geográfica estava presente em geógrafos como Burton (1963-

1967), Davies (1977), Bunge (1966), Haggett (1966), Harvey (1969), dentre outros. 2 Segundo MacDowell (1996), apesar da Geografia Humanística e da Geografia Cultural apresentar abordagens

próximas que se intensificaram no final da década de 1970, ambas as linhas de pensamento se fizeram presentes de

forma independente, a partir de pressupostos diferenciados.

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A Geografia Humana é um terreno fértil para estudos de diferentes áreas, visto que esta

ciência apresenta muitas sub-disciplinas, dentre elas podemos destacar: a geografia da população,

urbana, rural, de transportes, política, do turismo e lazer, e claro, a cultural. Esta última será

discutida no próximo sub-item, pois é responsável pelo estudo das diversas culturas, sua difusão e

representação nas diferentes paisagens.

Ainda no contexto da Geografia Humana, os tópicos seguintes demonstram como a

Geografia Cultural favoreceu um leque de estudos para os fenômenos culturais, ou seja,

concentrando na análise de como as formas de linguagem, cultura, crenças, economia, política e

religião variam ou permanecem constantes, de um lugar para outro e na explicação de como os

humanos se adaptam ao espaço.

1.2 – A GEOGRAFIA CULTURAL

A Geografia Cultural é uma das mais antigas subdisciplinas geográficas, organizando-se

originalmente como campo de conhecimento na Alemanha, nos Estados Unidos e na França, nas

últimas décadas do século XIX e durante a primeira metade do século XX.

Claval (1997) sugere três fases que sintetizam os estudos culturais geográficos ao longo

da sua história: a primeira fase é compreendida entre 1890 e 1940, onde recebeu contribuições de

pesquisadores europeus e americanos. Esta fase foi caracterizada pela ênfase à paisagem cultural

e os gêneros de vida, resultantes das relações entre sociedade e natureza.

A segunda fase, compreendida entre 1940 e 1970, foi um período de retrocesso para a

Geografia Cultural, a qual cedeu espaço em um primeiro momento para a forte presença dos

estudos regionais hartshornianos e logo em seguida para os estudos teorético-quantitativos.

Os estudos sobre paisagens culturais, habitat rural, sistemas agrícolas e difusão cultural

passaram a ser substituídos por estudos mais práticos, com resultados mais eficazes, sobre lógicas

locacionais e estudos urbanos, entre outros. O trabalho de campo foi em grande parte substituído

pelas inferências estatísticas.

Já a terceira fase, da década de 1970 em diante, os estudos dentro da Geografia Cultural,

passam por profundas reformulações, que culminam em inúmeros embates epistemológicos,

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teóricos e metodológicos, dos quais emergem uma geografia crítica e diferentes sub-campos que

convergiriam mais tarde para uma nova face da denominada Geografia Cultural.

Esta ressurgência da Geografia Cultural baseia-se em outras referências teóricas e

metodológicas, que produziu uma nova agenda de investigação. De um lado, a Geografia Cultural

é influenciada por aportes das filosofias dos significados, do materialismo histórico e dialético e

das humanidades em geral. De outro, amplia-se o temário, incorporando os temas tradicionais,

agora submetidos a uma nova leitura, e agregando outros, até então estranhos à Geografia

Cultural. (CLAVAL, 1999).

Várias foram às influências recebidas pela Geografia Cultural: de um lado a escola

humanista, de origem francesa e de outro a escola saueriana, de origem americana. Ambas foram

responsáveis por grandes confrontos que acabaram abrindo espaço para uma nova maneira de se

analisar os fenômenos culturais.

Segundo Tuan (1976), os geógrafos humanistas procuram com base na fenomenologia e

no existencialismo interpretar os aspectos especificadamente humanos do mundo vivido,

trabalhando, para tanto, com valores, sentimentos, metas e propósitos das ações humanas; seus

defensores a definem como uma reação contra os modelos e teorias positivista e neopositivista

utilizados para análise geográfica.

Em relação ao espaço vivido, Gomes (1996), cita que as bases que fundamentam os

estudos sobre este mesmo espaço remontam à Escola Francesa de Geografia da primeira metade

do século XX, sobretudo os trabalhos de Vidal de La Blache e Pierre Deffontaines. A Escola

Francesa “tradicional” enfatizou a importância e a necessidade de contatos prolongados do

geógrafo com os lugares e as paisagens que constituem seu objeto de estudo.

Muito da abordagem humanista está calcada nos trabalhos realizados por Yi-Fu Tuan,

Anne Buttimer, Edward Relph, Mercer e Powell, e possui a fenomenologia existencial como a

filosofia subjacente. “A fenomenologia não é nem uma ciência de objetos, nem uma ciência do

sujeito: ela é uma ciência da experiência” (ENTRIKIN, 1976).

A partir da década de 1980, contudo, ressurge um processo de recuperação da abordagem

cultural na Geografia, que não estava mais preocupada apenas em observar e descrever, mas sim

em conhecer o comportamento humano nos seus diversos âmbitos na superfície terrestre a fim de

conhecer as diferentes formas de modificação do espaço e do lugar onde vivem.

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Nesse sentido, Claval (1997), ao comentar a consonância da “nova” Geografia Cultural

com o pensamento pós-moderno, afirma:

“A única maneira de a Geografia levar em consideração os novos preceitos

epistemológicos é adotar uma abordagem cultural. A cultura não é um campo de

especialização semelhante àqueles que o progresso dos conhecimentos induz de

maneira renovada. O ponto de vista cultural é constitutivo da Geografia Humana

transformada pela crítica pós-moderna”. (CLAVAL, 1997).

Nesse período, esse movimento filosófico foi verificado e ampliado também por outros

autores, que acabaram fornecendo subsídios importantes, dentre os quais, destacaram-se

Heidegger, Merleau-Ponty e Sartre. Nesse sentido, Capel (1991, p.70) enfatiza:

“A ênfase se transfere do espaço abstrato ao lugar concreto das ações humanas, ao

mundo vivido pelos seres humanos; dos enfoques quantitativos e analíticos aos

qualitativos e globalizadores; da explicação à compreensão; da visão que se pretende

objetiva e distanciada do objeto à investigação participante; da racionalidade à

aceitação da intuição como faculdade válida no processo de conhecimento”.

Assim, Geografia Cultural ganha plena identidade e passa a ser calcada também de acordo

com os princípios da Escola de Berkeley, nos Estados Unidos, através de Carl Sauer e seus

discípulos. A Geografia Cultural, de acordo com as teorias e pensamentos de autores norte-

americanos, privilegiou desde o início a morfologia da paisagem, empregando métodos utilizados

por geógrafos de diferentes áreas.

Além disso, os estudos americanos visavam comparar a distribuição variável das áreas

culturais com a distribuição de outros aspectos da superfície terrestre, visando identificar aspectos

ambientais característicos de uma determinada cultura e, se possível, descobrir que papel a ação

humana desempenha ou desempenhou na criação e manutenção de determinados aspectos

geográficos. (ZANATTA, 2008).

Apesar de inúmeras críticas, a Geografia Cultural Saueriana teve importante papel na

história do pensamento geográfico, deixando um rico legado. Dialeticamente, sua presença se faz

sentir na Geografia Cultural Renovada.

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Sobre a renovação da Geografia Cultural, Macdowell (1996) argumenta:

“A Geografia Cultural é atualmente uma das mais excitantes áreas de trabalho

geográfico. Abrangendo desde as análises de objetos do cotidiano, representação da

natureza na arte e em filmes até estudos do significado das paisagens e a construção

social de identidades baseadas em lugares, ela cobre numerosas questões. Seu foco

inclui a investigação da cultura material, costumes sociais e significados simbólicos,

abordados a partir de uma série de perspectivas teóricas”.

As possibilidades da Geografia Cultural contemporânea são múltiplas. Sua unidade

manifesta-se no propósito de conhecer a cultura não como realidade global, mas como um

conjunto infinitamente diversificado e em contínua evolução, justificando a preocupação dos

geógrafos culturais pela indagação de uma variedade de temas, dentre eles a cultura popular, a

música, a literatura, à etnia e à religião.

Apesar da longa trajetória da Geografia Cultural na Europa e nos Estados Unidos, e seu

desenvolvimento a partir de 1890, a abordagem cultural no Brasil foi tardia. Se pensarmos que a

ciência geográfica acadêmica foi fundamentada na década de 1930, foi necessária quase seis

décadas para que a Geografia Cultural fosse reconhecida. (CORRÊA e ROSENDAHL, 2003).

O desenvolvimento da Geografia Cultural no Brasil não foi imediato devido a inúmeros

fatores. Um deles seria o fato de boa parte dos estudos que acabaram sendo realizados fora dos

Estados Unidos, não tiveram como destino inicial o Brasil, concentrando-se na sua maior parte na

América de língua espanhola.

Além disso, soma-se o fato dos estudos culturais assumirem uma posição secundária,

principalmente na década de 1970, devido ao desenvolvimento da Geografia Teorético-

Quantitativa. Segundo os seguidores desta corrente, a cultura seria transformada em uma variável

que formaria uma matriz de informações.

A ascendência do materialismo histórico e dialético, concebido, em muitas vezes, de

maneira equivocada, no final da década de 1970, é apontada como o terceiro fator para o

desenvolvimento tardio dos estudos culturais no Brasil. (CORRÊA, 1997).

Contudo, alguns autores criativos foram capazes de inovar suscitando alguns estudos

isolados em alguma área da abordagem cultural. Um bom exemplo foram os estudos de Hilgard

Sternberg e o de Maria Cecília França, no campo da geografia da religião.

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A produção brasileira em estudos culturais cresceu muito a partir da década de 1990,

principalmente com alguns temas: paisagem cultural, significados e percepção, vivência, espaço

geográfico e religião. Aliás, sobre espaço e religião, alguns autores merecem destaque, dentre

eles: Rosendahl (1996, 1997, 1999); Haesbaert (1997); Monteiro (2002); Almeida e Ratts (2003).

Sobre estes dois temas, Rosendahl é uma das principais expoentes no Brasil, discutindo

conceitos como o sagrado e o profano em uma perspectiva geográfica.

Corrêa (1997) argumenta que a influência francesa, originada da Escola Vidaliana está

presente na maioria dos trabalhos de autores brasileiros, em boa parte exercida pela influência de

Claval, em detrimento da Escola de Berkeley e da denominada Geografia Cultural Renovada.

Enfim, o campo da Geografia Cultural é bastante amplo e as perspectivas para a pesquisa

são imensas, alimentando novos conceitos e ampliando a base teórica da abordagem cultural.

Intensos e rápidos processos alteram a distribuição da população e com ela os valores, a paisagem

natural, os hábitos, as crenças, a cultura e claro a religião.

Há de se lembrar que o tema da religião foi relativamente marginalizado. Por um lado, a

Geografia Tradicional, sob a forte influência do positivismo geográfico, foi responsável, em

parte, pelo desinteresse dos geógrafos, salvo raras exceções em relação ao fenômeno religioso.

Por outro lado, a Geografia Marxista negligenciou a dimensão geográfica das religiões no espaço

social.

O positivismo e o marxismo influenciaram, também, a antropologia e a sociologia.

Mesmo assim, cientistas sociais (Durkheim, Weber, Eliade, entre outros) deram atenção ao

fenômeno religioso, contribuindo com importantes abordagens sociológicas e antropológicas a

respeito da religião, enquanto elemento fundamental da cultura dos povos no tempo e no espaço.

Também, sociólogos e antropólogos brasileiros vêm contribuindo, a partir da década de 1960,

com importantes trabalhos sobre as religiões no Brasil.

Assim, a diversidade de temas culturais dentro da Geografia Cultural nos abre uma porta

para o estudo da abordagem religiosa e sua interação no espaço. A Geografia da Religião torna-se

uma área rica para análise, visto que, além de ser um tema que vêm despertando o interesse de

grande parte dos geógrafos, vem alcançando uma presença cada vez maior na sociedade

brasileira.

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1.3 – A GEOGRAFIA DA RELIGIÃO

Dentre as abordagens proferidas pela Geografia Cultural destacam-se aquelas relacionadas

à Geografia das Religiões. Apesar de ser tema relativamente novo, suas raízes não são tão

recentes assim. A abordagem remonta ao início do século XX e vem sendo objeto de interesse

por parte dos geógrafos, principalmente a partir da década de 1960, onde há uma valorização da

relação mútua entre religião e paisagem, a valorização simbólica dos lugares e sua representação

no espaço. Tal análise apresenta como influência as perspectivas possibilistas da Escola

Vidaliana de Geografia, como também da Escola de Geografia Cultural Sauriana.

Na perspectiva geográfica, a Geografia da Religião tem por finalidade promover entre as

diferentes religiões, e consequentemente em suas dimensões espaciais, estudos organizados e

comparativos. Visa propor semelhanças e imprimir princípios que aproximem a diversidade

religiosa no espaço e revele caminhos e práticas espaciais distintas. Logo, o objeto de estudo é o

fenômeno religioso, intermediado por relações objetivas e subjetivas, reunidas em formas

simbólicas mediadas pela religião (SOPHER, 1981).

Além de Sopher, alguns cientistas sociais voltaram seus trabalhos para o estudo do

fenômeno religioso, dentre eles destacaram-se: Durkheim, Weber e Eliade que contribuíram com

importantes abordagens sociológicas e antropológicas a respeito da religião, enquanto elemento

fundamental da cultura dos povos no tempo e no espaço.

Outra grande contribuição no estudo deste tema é apontada por Buttner (1980) que sugere

duas análises importantes: uma é a investigação da comunidade religiosa, identificando sua

estrutura espacial e ocupacional, como também a dinâmica social. A outra é a argumentação da

relação entre religião e ambiente, considerando as influências que a religião exerce sobre as

pessoas (modo de viver, de proceder, etc.), e verificando os fatores externos que geram mudanças

na religião investigada. Para Büttner, espaço e religião são indissociáveis; ambos se influenciam

mutuamente numa dialética necessariamente intermediada pelo grupo social.

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Sobre esta proposição, Claval (1992) complementa:

“A análise da Geografia da Religião apresenta duas linhas de pensamento: uma

estritamente religiosa, onde a religião exerce uma influência sobre a percepção humana e

tudo ao seu redor, focada no campo de ação teológico e da cosmologia. A outra se refere

à religião propriamente dita, propondo a relação entre religião, sociedade, cultura e meio

ambiente”. (CLAVAL, 1992).

Assim, o desejo pelo estudo das religiões no espaço surgiu no pós-guerra, análogo à

Geografia Tradicional. Referentes estudos receberam a contribuição de alguns geógrafos: Pierre

Deffontaines (1948), por exemplo, investigou as relações entre culturas e suas representações

religiosas no espaço, através de sua obra “Géographie et religions”. Já Maximilien Sorre (1972)

estudou as atividades religiosas e suas influências no espaço social e rural.

Em termos metodológicos, David Sopher e Isaac revolucionaram os estudos da Geografia

da Religião na década de 1960. Sopher através de uma abordagem americana argumenta que a

Geografia da Religião não se baseia somente na análise espacial da religião, mas também nos

possíveis efeitos da paisagem sobre os sistemas religiosos. Tal argumentação foi publicada em

1967 no seu influente “Geography of religions”. Já Isaac (1962) aprofundou no estudo dos

sistemas religiosos adotando o conceito de espaço sagrado.

A década de 1970 concede espaço para os geógrafos da religião, visto que a Geografia

abre espaço para as relações humanas, a relação homem e natureza se faz presente, inserindo a

religião como forma do homem entender e se relacionar com a natureza. Neste sentido, Tuan

(1976 e 1978) demonstra grande preocupação com o desenvolvimento da fenomenologia

religiosa, sob a ótica humanista-cultural. (CLAVAL, 1992).

Além das contribuições anteriores, Claude Raffestin sugeriu ao fenômeno religioso, na

década de 1980, uma abordagem política, insinuando que a religião e o poder possuíam uma

relação entre si, exemplificando neste contexto, a expansão do Islã.

Claval (1992) argumenta que muito dos debates que se iniciaram nos Estados Unidos e na

Alemanha, e que envolveram a abordagem religiosa, fizeram referência aos elementos visíveis da

paisagem (templos, lugares santos, etc.), consideravam os padrões dos fenômenos religiosos, e

sua disposição e a anatomia descritiva da paisagem.

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É notório que em grande parte do mundo, as questões religiosas sempre estiveram no

âmago dos conflitos mundiais, sejam eles internos ou entre países. É bom ressaltar que existem

fatores de caráter político, econômico, territorial, geopolítico, entre outros que contribuem nesse

sentido, e que acabam imprimindo suas marcas na paisagem. Nesse sentido, cabe salientar a

implantação do Estado de Israel e os conflitos posteriormente gerados.

A sacralização de determinados lugares é outro ponto distinto relacionado à religião.

Além destes lugares estarem relacionados a grandes movimentos de peregrinação, tal relação

pode está também vinculada com algum evento da história da religião. O Muro das Lamentações,

por exemplo, é o lugar mais sagrado e venerado pelo povo judeu. A festa do Kumbh Mela, na

Índia, reúne a cada doze anos uma multidão de trinta milhões de pessoas. (DELUMEAU, 1997).

Grande parte dos santuários católicos no mundo são também locais de grande

peregrinação, devido ao fato de estarem associados a acontecimentos miraculosos. No Brasil, esta

característica assume quase que por completo o sentido de sacrifício. Todavia, as peregrinações

podem assumir também um caráter turístico associado ao religioso, como por exemplo, as

peregrinações a Lourdes na França, e Roma na Itália. (RINSCHEDE, 1985 apud ROSENDAHL,

1994).

Além disso, dando sentido no que se define como religião agrega-se um amplo campo de

crenças e filosofias, que se diferem uma das outras em todas as partes do mundo. Não obstante, é

possível instituir algo em comum entre elas. Todas as religiões possuem um sistema de crenças

no sobrenatural, geralmente envolvendo deuses ou divindades, tendo para si, a vida após a morte.

É importante destacar que os templos na antiga religião grega eram espaços onde se

acreditava habitar divindades, portanto sagrados, não sendo, assim, concebidos como locais

destinados a cultos religiosos. (DEFFONTAINES, 1948)

Além disso, a grande maioria das religiões apresenta relatos sobre a origem do Universo,

da Terra e do Homem. Na tradição judaica e cristã, o Gênesis é o exemplo mais claro destes

relatos. Em relação ao Budismo, a revelação ou à obtenção de uma sabedoria é definida por parte

de um fundador. Ao contrário do Cristianismo e do Islã, Siddharta Gautama (o Buda) não

representou uma encarnação divina ou um mensageiro divino, e sim um ser humano que

desenvolveu e colocou em prática com êxito uma disciplina mental. (DINIZ, 2009).

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Os exemplos são inúmeros, quando articulamos religião e espaço. No pós-guerra esta

abordagem ganhou força, devido à necessidade de uma disciplina que se dedicasse a analisar de

forma sistemática os fenômenos religiosos.

Os estudos empíricos que norteiam a religião e a geografia fora do País são poucos, e

ainda constituem-se num ponto negligente nos estudos geográficos. Poucos autores se

aprofundaram nesta literatura no Brasil, visto que, abordar o tema é um desafio, e por isso mesmo

necessário à Geografia da Religião.

1.3.1 - ESTUDOS SOBRE A GEOGRAFIA DA RELIGIÃO NO BRASIL

O estudo geográfico da religião no Brasil é ainda muito elementar, possuindo poucos

trabalhos se comparado com de outras abordagens culturais (geografia do turismo, agrária,

artística, social, econômica, formas de linguagem, dentre outras).

Porém, os estudos da religião sempre chamaram a atenção de estudiosos da área, mas sua

associação com o espaço geográfico começou a provocar o interesse dos geógrafos,

principalmente a partir da década de 1970, com a contribuição de alguns pesquisadores,

especialmente do eixo São Paulo e Rio de Janeiro.

Atualmente, o interesse e a demanda por práticas religiosas crescem favorecendo a oferta

plural de orientação religiosa, aquecendo assim, os estudos envolvendo a temática da Geografia

da Religião.

Uma destas contribuições deve-se a Maria Cecília França, em 1972 em São Paulo, cujo

trabalho “Pequenos Centros Paulistas de Função Religiosa”, analisou a organização do espaço

em decorrência dos fluxos de peregrinação dos fiéis, nos municípios paulistas de Iguape,

Tremembé, Perdões e Pirapora. A abordagem geográfica da autora insere-se na concepção da

Geografia Cultural. (SANTOS, 2002).

Santos (2002) ainda argumenta que semelhante ao estudo de França (1972), mas

contribuindo com novos conceitos, Zeny Rosendahl (1996) com o trabalho intitulado “Espaço e

Religião: uma abordagem geográfica” sugere uma nova proposição metodológica para o estudo

da religião no espaço. Este estudo decorreu de experiências realizadas em sua tese de doutorado,

intitulada de “Porto das Caixas: Espaço Sagrado da Baixada Fluminense” de 1994, na qual, a

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autora apresenta como preocupação central o estudo da peregrinação católica no espaço da

Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro.

Logo no ano seguinte, ainda sobre o estudo da peregrinação católica, Rosendahl (1995)

sugere uma relação entre religião e ambiente, na qual, o fenômeno religioso do catolicismo

popular recria o espaço sagrado por intermédio da peregrinação. Ambas as cidades de Muquém,

no Estado de Goiás, e Santa Cruz dos Milagres, no Estado do Piauí são centros rurais de

convergência religiosa no País.

Em grande parte de seus estudos, Rosendahl dentro da abordagem humanista cultural

explora os conceitos de sagrado e profano. Nesse sentido, o sagrado assume o caráter de uma

manifestação cultural, afirmando-se no lugar, na paisagem, na região e no espaço.

(ROSENDAHL, 2005).

Os lugares sagrados são também fornecedores de regras e significados com que os grupos

envolvidos encontram sentido para as suas práticas religiosas. As atividades religiosas e seus

valores simbólicos estão fortemente relacionados aos lugares sagrados da hierópolis3.

Vários estudos nos fornecem exemplos de hierópolis, cujo crescimento cada vez maior de

adeptos exige a expansão física dos templos ou igrejas para atender a demanda surgida. Nesta

questão, Rosendahl (2005) cita alguns exemplos de santuários católicos: A Basílica de Nossa

Senhora Aparecida, no Estado de São Paulo; a Catedral de Luján, na Argentina; e a Basílica de

Lisieux, na França. No Protestantismo Pentecostal podemos citar, por exemplo, o Templo da

Glória do Novo Israel, (sede principal da Igreja Universal do Reino de Deus) no Estado do Rio de

Janeiro.

De acordo com Rosendahl, o que determina a força do sagrado em determinado lugar é o

maior ou menor fluxo de fiéis em um espaço e tempo definidos. O fenômeno da peregrinação

fornece uma variedade de escalas, podendo se enquadrar no âmbito local, regional ou

internacional.

A peregrinação aos lugares sagrados vem sendo abordada com relativa freqüência não só

por Rosendahl, mas por outros geógrafos, constituindo-se em mais uma via para o estudo

geográfico das religiões. A questão da difusão da fé pelo espaço pode ser comprovada através do

deslocamento que a mesma configura de um local para outro, deslocamento esse que, em muitos

3 Zeny Rosendahl utiliza o termo hierópolis para definir os lugares sagrados, cujas atividades religiosas e seus

valores simbólicos estão fortemente relacionados.

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casos, é marcado por uma periodicidade regular. Envolve, assim, espaço e tempo fixos; os

lugares sagrados; e fluxos, a peregrinação. (ROSENDAHL, 2005).

Um dos exemplos mais claros sobre esta questão dos deslocamentos marcados por uma

periodicidade regular é a peregrinação anual a Meca. Iniciada no século VII e presente até os dias

atuais é um dos maiores movimentos de peregrinação no Oriente Médio, atraindo não só adeptos

da fé islâmica, mas turistas do mundo todo.

No Brasil, os símbolos sagrados podem variar de um lugar para outro, podendo ser

representado por um simples crucifixo à beira da estrada até templos suntuosos, como é o caso do

Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, localizado na cidade de Aparecida no interior

de São Paulo.

Ainda segundo Rosendahl (2005), a pesquisa empírica a respeito da manifestação da fé no

espaço sagrado vem demonstrando que há uma pluralidade de espaços sagrados numa mesma

hierópolis de acordo com dois critérios: os espaços sagrados possuem elementos simbólicos da

mesma religião do santuário; e os espaços sagrados incluem formas espaciais e rituais simbólicos

diferentes da religião predominante no centro religioso.

As diferentes práticas religiosas do Pentecostalismo, marcadas pelo dinamismo e fluidez

com que seus templos surgem, redundam em uma competição com o Catolicismo hegemônico,

hierarquizado e dotado estrutura rígida e específica, por território.

Outra contribuição na literatura brasileira sobre a Geografia da Religião vem de Sylvio

Fausto Gil Filho (2007). De acordo com o mesmo, os primeiros estudos que tratavam das

manifestações religiosas dentro da Geografia, principalmente nos Estados Unidos e na Alemanha,

visavam à distribuição das mesmas na paisagem cultural.

Tais manifestações religiosas podem ser representadas por elementos visíveis da paisagem

como: lugares sagrados, igrejas e cemitérios de distintos grupos religiosos. (ZELINSKY, 1973

apud GIL FILHO, 2007).

Ainda de acordo com Gil Filho (2007), o processo pelo qual as religiões se distribuem

pelo espaço está relacionado com a sua manifestação no território. As manifestações religiosas

são fenômenos decorrentes da ação do homem que buscam estabelecer a verdade religiosa pelas

aspirações próprias da alma humana.

Explanado alguns dos principais autores, suas observações e análises acerca da Geografia

da Religião, outros estudos presentes no Brasil nos servem como base para investigar o universo

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religioso protestante. O quadro a seguir demonstra como a produção literária protestante

brasileira se fez presente ao longo das décadas:

QUADRO 1 – Estudos literários sobre o Protestantismo no Brasil

Período Características

1900 a 1930

Produção voltada para defender a religião de difamadores e triunfalista.

Pesquisadores em geral pastores e missionários. Algumas obras pioneiras da

Sociologia brasileira.

1930 a 1950

Primeiros trabalhos de cunho sociológico, mais interpretativos. Pesquisadores

em geral estrangeiros (Ex. Emile Leonard – “O Protestantismo brasileiro”;

Christian D'epinay – “O refúgio das massas”).

1950 a 1970

Produção nas universidades sobre sociologia da religião. Características:

refletem o momento histórico vivido na época e salientam o carácter alienante

das religiões. Pesquisadores em geral cientistas sociais brasileiros, muitos

deles de tradição protestante (Ex. Antônio G. Mendonça – “O celeste

porvir”).

1970 a 1980

O Protestantismo ganha espaço como objeto de estudo dentro das ciências

sociais, preocupação com o crescimento do Pentecostalismo. Associação da

religião com o espaço geográfico. Pesquisadores em geral cientistas socias

brasileiros não diretamente ligados a igreja (Ex. Regina Novaes – “Os

escolhidos de Deus”.)

1980 a 1990

Crescimento do Pentecostalismo, em especial do Neopentecostalismo. Passa a

ser objeto de estudo, tanto de pesquisadores brasileiros como de estrangeiros.

(Ex: Ricardo Mariano – “Expansão Pentecostal no Brasil”; Ari Pedro Oro –

“Avanço Pentecostal e reação católica”).

1990 a 2006

A inserção do Protestantismo no Brasil e sua complexidade é foco da análise

de diversos autores, dentre eles: Antônio Gouvêa Mendonça (1990, 1995);

André Drooggers (1991); Osvaldo H. Hack (2000) e Jean-Pierre Bastian (2001;

2004) e Elizete da Silva (2006). Fonte: Adaptação de MENDONÇA, 1990.

Campos (2004) afirma que além destas contribuições, surgiram muitas outras produções

de pesquisadores brasileiros sobre o Protestantismo Tradicional ou Pentecostal, entre eles:

Jovelino Pereira Ramos (1968), Beatriz Muniz de Souza (1969), Waldo César (1968; 1973),

Cândido Procópio Ferreira de Camargo (1973), Boanerges Ribeiro (1973), Jeter Pereira Ramalho

(1976), Douglas Teixeira Monteiro (1977; 1979), Carlos Rodrigues Brandão (1978), David

Vieira Gueiros (1980) e Rubem Alves (1982).

Apesar de o Protestantismo e posteriormente o Pentecostalismo ter aportado em terras

brasileiras no início do século XX por imigrantes europeus, sua presença no Brasil não foi notada

pela academia até o Censo Demográfico nacional em 1960.

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Rodrigues e Junior (2008) citam que os primeiros estudos explicativos que tentaram dar

conta do fenômeno do crescimento pentecostal em terras brasileiras foram propostos por

estudiosos estrangeiros, como o suíço Christian Lalive D'Epinay que estudou os pentecostais no

Chile e no Brasil. O francês Émile Guillaume Léonard constatou que a história do Protestantismo

no Brasil era ignorada, sendo apenas levada em conta uma história de caráter local ou

confessional, com finalidade apologética, polêmica ou edificante. Já o alemão Emilio Willems

(1967), até então professor da Universidade de São Paulo, desenvolveu pesquisas sobre o

Protestantismo na América Latina. É importante destacar que tanto D'Epinay quanto Willems não

distinguiam Protestantismo Histórico e Pentecostalismo. (RODRIGUES e JUNIOR, 2008).

Sobre os primeiros estudos explicativos referentes ao fenômeno pentecostal D’Epinay

(1970) afirma:

“Os primeiros trabalhos associados ao Pentecostalismo eram vistos como uma espécie

de “Refúgio das Massas” desamparadas no processo de transição entre a sociedade

tradicional e a moderna. Eles propunham, a grosso modo, a equação que associavam

variáveis como migração, anomia e conversão”. (D'EPINAY, 1970).

Willems (1967) ainda cita que o Pentecostalismo era percebido como portador da função

de adaptação do contingente populacional recém-migrado para a cidade, recriando espaços de

sociabilidade aos quais estavam afeitos em seus lugares de origem. Já Souza (1969) afirma que o

Pentecostalismo serviu como uma resposta à anomia, uma forma de preparação para a vida nas

grandes cidades ou mesmo “uma das alternativas no processo de adaptação individual à

sociedade moderna”. (SOUZA, 1969).

Para Jacob (2003) o Pentecostalismo não perdeu seu brilho pós-migração das décadas de

1960 e 1970, alcançando números mais expressivos nas décadas posteriores, graças às

significativas mudanças introduzidas em sua liturgia, decorrentes principalmente da emergência

do fenômeno neopentecostal4.

Nesse sentido, estudos realizados pelos diários oficiais do Estado do Rio de Janeiro de

1989 a 1991 levaram o antropólogo Rubem César Fernandes (1998) a constatar uma rápida e

inédita proliferação de templos evangélicos em um curto espaço de tempo. A pesquisa de

Fernandes confirmou que mais de cinco igrejas evangélicas foram fundadas e registradas por

4 Para Freston (1996) o Neopentecostalismo é uma vertente que congrega denominações oriundas de desdobramentos

do Pentecostalismo Clássico ou mesmo das Igrejas Protestantes Tradicionais.

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semana só naquele período de dois anos, o que contabiliza mais de uma igreja por dia útil. “(...)

do total de templos erguidos, 91% eram pentecostais, dos quais, 80% estavam localizados nas

áreas mais carentes”. (FERNANDES, 1998).

A referente pesquisa é endossada por Mariz (1994) que argumenta que os cultos

protestantes pentecostais fortemente emocionais, distintos do padrão evangélico clássico, vêm

mobilizando cada vez mais as populações mais pobres do país, distinguindo-se, assim, das

chamadas Igrejas Históricas. Nesta perspectiva, percebe-se uma grande afirmação dos grupos

pentecostais nas camadas mais carentes da população, que adquire um grande número de fiéis e

passam a ocupar espaços deixados pelo Estado e pela Igreja Católica através da oferta de ações

existenciais.

Ainda sobre o fenômeno religioso pentecostal, Jean Carlos Rodrigues (2003) em sua tese

de mestrado pela UNESP de São Paulo estudou as Igrejas Pentecostais do município de

Londrina-PR. Utilizando-se das escalas geográfica, Rodrigues analisou como os ritos e as

práticas religiosas desenvolvidas pelos pentecostais poderiam de alguma forma, influenciar a vida

de seus fiéis em uma escala do local para o global e vice-versa.

Dessa forma Rodrigues (2003), entende que o fiel que exerce ou pratica sua religião, a

qual é revelada inclusive por suas formas de vestir, acaba demonstrando, no local, como as

práticas desenvolvidas por estas instituições religiosas num âmbito global podem interferir no seu

cotidiano.

Gomes e Catalão (2006) analisam também os pentecostais em outra perspectiva. Ambos

associam a religião e a migração, visto que, que estes fenômenos sempre estiveram ligados ao

longo dos tempos. O surgimento das chamadas Igrejas Pentecostais estão associadas ao caráter

missionário e à propagação da fé cristã, como também às facilidades da implantação dos templos

no território.

No estudo intitulado “Migração, Religião e a Dinâmica Urbana: um enfoque sobre o

Pentecostalismo no Distrito Federal”, Gomes e Catalão fazem uso dos dados dos Censos

Demográficos para analisar a dinâmica migratória recente dos evangélicos no Distrito Federal.

Além de traçar um perfil sócio-demográfico destes imigrantes segundo as localidades do DF, os

autores identificaram como o crescimento evangélico pentecostal influencia na configuração do

espaço urbano, visto que as igrejas são agentes modificadores do processo de produção e

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reprodução do espaço, influenciando na sua organização espacial, como também no modo de

pensar da população.

Os mesmos autores ainda afirmam que nas últimas décadas, o Distrito Federal apresentou

um importante crescimento de evangélicos, principalmente entre os migrantes. Analisando o

processo migratório na capital do País, bastante acentuado nas suas primeiras décadas, a

proporção de imigrantes evangélicos é cada vez mais significativa, demonstrando nos últimos

trinta anos um crescimento expressivo.

Vimos que o fenômeno pentecostal tem chamado atenção de profissionais de diferentes

áreas da ciência, tais como: história, sociologia, antropologia, ciências da religião, e a cerca de

duas décadas, vêm crescendo cada vez mais no meio acadêmico da Geografia. O crescimento do

Pentecostalismo tem recebido explicações diversas, tem sido objeto de atenção de grupos de

políticos e observado com certa preocupação pelas igrejas tidas como tradicionais.

É importante frisar que o campo religioso é demasiadamente diversificado e pouco

estudado. Poucos autores no Brasil dedicaram atenção aos estudos religiosos quando comparado

com outras temáticas; muitas generalizações são feitas, tornando este campo algumas vezes

complexo e sujeito a controvérsias.

Estudos realizados no Brasil, sobre a religiosidade afro-brasileira e indígena, por exemplo,

sempre assumiram um papel secundário quando comparados com estudos sobre o Catolicismo.

Só a partir da década de 1960, com a presença de estudos históricos e sociológicos, é que estes

estudos começaram a despertar a atenção e ter um grande número de produções literárias. Os

estudos sobre o Protestantismo no Brasil não formam uma exceção à regra, onde poucas obras

específicas foram realizadas através de pesquisas de campo ou como critério acadêmico.

(MENDONÇA, 1990).

Somente a partir da década de 1980, quando a temática do Pentecostalismo passou a ser

assunto frequente na imprensa, é que a “curiosidade” científica aguçou-se para o referente campo

religioso. Entretanto, em grande parte dos estudos e/ou literaturas que surgem, deparamos com

um problema extremamente sério, que são os critérios de diferenciação utilizados.

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Sobre este tipo de diferenciação Mendonça (1989) complementa:

“O Pentecostalismo, para alguns, seria uma espécie de “membros desviantes” das

Igrejas da Reforma; para outros, em geral protestantes, eles nem deveriam ser

considerados protestantes, ainda que as molduras eclesiásticas e teológicas dos

pentecostais sejam protestantes”. (MENDONÇA, 1989).

O surgimento de diferentes denominações em curto espaço de tempo, e o crescimento de

muitas delas tornam o cenário ainda muito mais complexo. Para a compreensão do fenômeno,

critérios seguros são necessários para que se estabeleçam diferenciações entre Protestantismo

Histórico ou Tradicional, Pentecostalismo Clássico, Autônomos e Carismáticos.

A falta de uma metodologia criteriosa, a carência de embasamento teórico ou mesmo

problemas como a ausência de pesquisa de campo comprometem em muito os estudos, que

acabam por repetir determinadas afirmações que permeia as poucas bibliografias disponíveis.

Faltam, inclusive, pesquisas quanto à reflexão teológica desses movimentos. Outro problema a

ser apontado é o das generalizações, onde é frequente encontrar trabalhos de autores que estudam

apenas um movimento, num determinado local, e depois generaliza suas conclusões para todo o

universo pentecostal, contribuindo para a complexidade já existente nesse campo.

Contudo, o estudo do avanço do fenômeno religioso pentecostal, se reafirma, do ponto de

vista da Geografia da Religião, revelando uma grata tentativa não só pela possibilidade de exercer

uma geografia da religião conforme Büttner, como também a possibilidade de se analisar

elementos de geografia histórica (surgimento e evolução do Protestantismo), uma geografia

social e cultural (a interação entre fiéis, o deslocamento de uma região para outra, ou de um

bairro para outro, pois nem sempre o fiel pentecostal freqüenta o templo mais próximo de sua

residência, uma identidade religiosa se faz presente).

Enfim, o fenômeno pentecostal se distribui pelo mapa do Brasil, em diferentes regiões e

estados brasileiros, manifestando variações intra e inter regionais que nos permitem realizar ricos

estudos investigativos e comparativos. Tais análises se justificam pela importância de se explorar

o universo imaginário ricamente encontrado nas religiões e suas representações na paisagem e no

espaço social.

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Para elucidar estas questões, o capítulo seguinte traça uma contextualização histórica

evolutiva do Cristianismo, uma das religiões mais difundidas nos quatro cantos do mundo. As

divisões históricas e os principais ramos: Catolicismo, Ortodoxia e o Protestantismo, este último,

com grande número de movimentos e denominações distintas, dentre elas as Pentecostais, objeto

de nosso estudo.

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2 – O CRISTIANISMO: ORIGEM E EVOLUÇÃO

Entender os mistérios que envolvam as origens das crenças religiosas é, semelhantemente,

de certa forma, a tentar compreender os mistérios que envolvem a origem do próprio homem.

Como os debates acerca do surgimento humano não se findaram definitivamente, o debate entre

ciência e religião e/ou razão e fé também estão longe de ter seus enigmas totalmente elucidados.

Sobre este aspecto, Eliade e Couliano (1999) afirmam:

“O mistério religioso de diversos povos do planeta, sejam africanos, americanos,

passando por indo-europeus, germânicos, romanos e mesopotâmicos, na sua essência,

apesar de possuírem denominações diferenciadas, possuem contatos com divindades

mágicas que os protege da fome, seca, guerra e outras fraquezas que afetam o ser

humano à milhares de anos”. (ELIADE e COULIANO, 1999).

A necessidade de estar envolvido com o transcendente, mesmo que não seja o Deus

monoteísta de cristãos, judeus e muçulmanos, figura na cabeça humana desde os tempos mais

remotos. Esse envolvimento se manifesta em diferentes âmbitos, seja nas igrejas, no cinema, nas

músicas ou nos chavões populares no cotidiano das pessoas.

Sendo a religião um tema recorrente, antes de aprofundarmos no foco deste trabalho, que

é o fenômeno religioso Protestante Pentecostal, torna-se necessário ampliar a escala de nossa

análise religiosa, para entender a origem da denominação pentecostal e como ela vem evoluindo

ao longo das décadas.

Assim, a primeira seção deste capítulo promove uma contextualização histórica evolutiva

do Cristianismo, considerada a religião mais difundida no planeta, com um pouco mais de 2

bilhões de seguidores, incluindo Católicos, Ortodoxos e Protestantes.

A segunda seção trata do Grande Cisma do Oriente, que levou à divisão em 1054 entre a

Igreja Católica no Ocidente e a Igreja Ortodoxa Oriental no Leste. Destacam-se os grandes

desafios enfrentados pelo Cristianismo, principalmente durante a Idade Média, que culminaram

na segunda grande divisão do Cristianismo, a chamada Reforma Protestante, iniciada por

Martinho Lutero em 1517.

Por fim, uma discussão sobre as grandes denominações cristãs: Católicas, Ortodoxas e

Protestantes, suas diferenças doutrinais, os diferentes contextos das quais se desenvolveram, suas

formas de culto e simbologia no Cristianismo.

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2.1 - SURGIMENTO DO CRISTIANISMO

Segundo Wilges (1994), o Cristianismo teria se iniciado através de uma seita alicerçada

no Judaísmo há cerca de 2.000 anos atrás, tendo herdado do mesmo a crença na existência de um

único Deus e criador do universo. Quando o fundador da religião, Jesus Cristo, nasceu na

pequena cidade de Belém, próxima a Jerusalém, por volta do ano 6 a.C, a Palestina vivia sob o

domínio dos romanos e, por isso, os judeus desejavam que o enviado os libertasse da influência

romana.

Jesus Cristo de Nazaré, como era conhecido por seus discípulos viveu anonimamente por

cerca de três décadas em uma região hoje pertencente ao atual norte de Israel, pregando sua

doutrina e fazendo inúmeros milagres. Segundo relatos da Bíblia, livro sagrado pelos cristãos,

Jesus Cristo foi crucificado em Jerusalém por não seguir os ensinamentos da Torah e por não

reconhecer a autoridade do imperador de Roma. (WILGES, 1994).

Ao terceiro dia de sua morte, Cristo ressuscita e surge para seus apóstolos5 ordenando que

seus ensinamentos fossem repassados para o resto do mundo. Dali em diante o Cristianismo se

firmaria como religião de origem divina e ganharia cada vez mais adeptos.

De forma universal, podemos afirmar que os adeptos ao Cristianismo crêem na existência

de um Deus, criador do universo; de Jesus Cristo, elemento central da religião, considerado o

redentor da humanidade; e na vida após a morte.

“A doutrina do Cristianismo baseia-se na crença de que todo o ser humano é eterno, a ,

exemplo de Cristo, que ressuscitou após sua morte. A fé cristã ensina que a vida

presente é uma caminhada e que a morte é uma passagem para uma vida eterna e feliz

para todos os que seguirem os ensinamentos de Cristo, baseados na fraternidade e no

amor ao próximo”. (CAMPOS, 2004).

Os ensinamentos exercidos por Jesus Cristo e escritos posteriormente pelos apóstolos

Mateus, Marcos, Lucas e João estão contidos no Novo Testamento da Bíblia. Ainda nesta parte

do livro sagrado estão incluídos os Atos dos Apóstolos, que eram os ensinamentos repassados

oralmente ainda no início da era cristã, além claro, do texto do Apocalipse, que apresenta a

narrativa sobre o que seria o fim do mundo. Relatos da criação do Céu e da Terra e as promessas

5 Apóstolo que dizer enviado.

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de Deus aos profetas, sobre a chegada à Terra do Messias, seu próprio filho estão presentes no

Antigo Testamento.

Contudo, os relatos sobre a vida e os ensinamentos de Jesus Cristo fizeram com que o

Cristianismo desempenhasse um papel de destaque na formação da civilização ocidental pelo

menos desde o século IV. Wilges (1994) afirma que a ascensão do imperador Constantino foi um

marco para o Cristianismo. Através do Édito de Tolerância (ou Édito de Milão) em 313

Constantino concede aos cristãos ter completa liberdade para praticar sua religião sem

ingerências, iniciando-se a paz na Igreja. Mais tarde, ele ainda travaria uma luta contra o

arianismo, doutrina que negava a divindade de Cristo.

A doutrina cristã espalhou-se pela Grécia, Ásia Menor e pela região do Mediterrâneo

alcançando o coração do Império Romano. Além disso, vinculado também à expansão cristã

estão às ações do Imperador Teodósio I, que impediu o paganismo e promulgou nos anos de 391

e 392 o Cristianismo como religião oficial do Império Romano. (CAIRNS, 1995).

Ainda segundo Cairns (1995) o Cristianismo continuou presente em boa parte da Europa,

mesmo depois da destituição do último imperador romano em 476. Pode-se afirmar que o

Império Romano, de certa forma serviu de instrumento para a expansão do Cristianismo e

contribuiu para manter o equilíbrio da civilização européia.

Tendo as origens do Cristianismo ligadas ao Mediterrâneo Oriental, seu crescimento e

influência foram bastante significativos em um espaço curto de tempo. Grande parte dos povos da

Europa que ainda não estavam convertidos ao Cristianismo passou a comungar da fé cristã

durante a Idade Média. Um crescimento em menores proporções ocorreu no Oriente Médio,

Norte da África e em partes da Índia. Nas Américas o Cristianismo se fez presente

principalmente através dos trabalhos missionários e de colonização espanholas e portuguesas no

século XVI. Além disso, culturas locais indígenas foram assoladas pelos primeiros missionários

católicos na América, preocupados principalmente com a conversão destas populações.

À medida que as comunidades cristãs foram se expandindo, surgiram algumas rivalidades.

O Cristianismo, praticado por seres humanos, como qualquer religião, é exercido com liberdade

de pensamento e diferente forma de pensar. Assim, à medida que foi ganhando terreno, também

enfrentou divisões.

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2.2 - HISTÓRIA E INFLUÊNCIA: “O CISMA”

Durante o período de 30 a 325 d.C, o termo Igreja Primitiva foi utilizado para se referir à

um período histórico do Cristianismo e da Igreja Católica. A Igreja neste período estava

empenhada em muitas outras discussões acerca dos conceitos cristãos. Inicialmente, a Igreja

Primitiva estava organizada sob cinco cidades que surgiram como importantes centros da igreja:

Roma, Jerusalém, Antioquia, Alexandria e Constantinopla. (KNOLL, 1998).

Ainda segundo Knoll (1998), uma série de dificuldades (disputas doutrinárias, Concílios

disputados, a evolução de ritos separados e se a posição do Papa de Roma era ou não de real

autoridade ou apenas de respeito) levou à ruptura em 1054, ramificando a Igreja entre a Igreja

Católica no Ocidente e a Igreja Ortodoxa Oriental no Leste (Grécia, Rússia e muitas das terras

eslavas, Anatólia, Síria, Egito, etc.). Esta divisão é denominada de Cisma do Oriente.

O Império Romano do Ocidente já havia caído muito tempo antes, em 476, marcando o

início da Idade Média. E foi justamente na chamada Idade Média, ainda hoje um dos períodos

mais obscuros da história, que o Cristianismo enfrentou seus maiores desafios.

Essa caminhada culminou na segunda grande divisão, a partir de 1517. O teólogo alemão

Martinho Lutero, membro da ordem religiosa dos Agostinianos, revoltou-se contra a prática da

venda de indulgências e passou a defender a tese de que o homem somente se salva pela fé.

Lutero passa a não reconhecer a autoridade papal, nega o culto aos santos e acaba com a

confissão obrigatória e o celibato dos padres e religiosos, mas mantém os sacramentos do batismo

e da eucaristia. Em 1520, Lutero é excomungado pelo Papa Leão X e, no mesmo ano, queima a

Bula de Excomunhão em praça pública, rompendo assim com a Igreja Católica e fundando a

Igreja Luterana. (WILGES, 1994).

Ainda de acordo com Wilges (1994) a ruptura de 1054 teria sido cismática (rejeita-se o

primado de Roma) e a do século XVI dogmática; devendo a Igreja ser reformada em suas

doutrinas, pois teria sido subordinada durante séculos. Por isso, essas igrejas são conhecidas

como igrejas da reforma. Mais tarde, a chamada Reforma Protestante deu origem a outras

inúmeras igrejas cristãs, cada uma com diferentes interpretações de passagens bíblicas ou de

ensinamentos de Cristo.

As principais crenças religiosas a se considerarem “Católicas”, no Cristianismo Ocidental

foram a Igreja Católica Antiga, a Velha Igreja Católica, a Igreja Católica Liberal e a Associação

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Patriótica Católica Chinesa. Além destas destacam-se também alguns elementos anglicanos (os

“Anglicanos da Alta Igreja”, ou os “Anglo-Católicos”). Estas instituições apresentam

características semelhantes ao Catolicismo Romano, no que se refere às crenças e rituais

litúrgicos, diferenciando no que se refere ao estatuto, poder e influência do Bispo de Roma.

(WILGES, 1994).

Os Patriarcas do Catolicismo Ortodoxo são independentes da supervisão direta de outro

bispo. Assim, tais grupos não comungam da autoridade do Papa e não reconhecem a sua

reivindicação à chefia da Igreja Universal enquanto instituição terrena. Contudo, existem

Católicos de Rito Oriental, cuja liturgia se assemelha à dos Ortodoxos, e que também permitem a

ordenação de homens casados, mas que reconhecem o Papa Romano como chefe da sua igreja.

Wilges (1994) cita que alguns grupos se auto-intitulam como católicos, mas esse

qualificativo é questionável. A Igreja Católica Liberal, por exemplo, originou-se como uma

dissensão da Velha Igreja Católica, mas que introduziu tanta sabedoria divina na sua doutrina que

já pouco tem em comum com o Catolicismo.

A “Santa Igreja Católica Apostólica”, conhecida também como “Santa Igreja Católica” é a

principal denominação Católica. Este nome deve-se ao fato de todos os seus adeptos estarem em

comunhão com o Papa e o Bispo de Roma, e a maior parte das paróquias seguirem o Rito

Romano na prece, embora haja outros ritos litúrgicos.

2.3 – DENOMINAÇÕES CRISTÃS

Segundo Campos (2004), desde a Reforma o Cristianismo se divide em três ramos:

Catolicismo, Protestantismo, e Igreja Ortodoxa. Devido a isso, existem também, diferentes

concepções e aspectos em cada um deles, que refletem diferenças doutrinais por vezes

relacionadas com a cultura e os diferentes contextos locais em que estas se desenvolveram.

Catolicismo: representado pela Igreja Católica Apostólica e algumas outras igrejas em

comunhão com o Papa. É a que congrega o maior número de fiéis atualmente;

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Ortodoxia: Igreja cristã originada da ruptura da Igreja Católica Apostólica Romana no

século XI. É formada por duas grandes Igrejas Ortodoxas - a Grega e a Russa - que

apresentam algumas diferenças entre si, nomeadamente a língua usada na liturgia.

Protestantismo: conjunto de igrejas cristãs e doutrinas que se identificam com as

teologias desenvolvidas no século XVI na Europa Ocidental (Reforma Protestante).

Engloba um grande número de movimentos e denominações distintas.

Figura 1: Fluxograma das divisões históricas do Cristianismo

Além dos três ramos majoritários, ainda existem outros segmentos minoritários, porém

não menos importantes dentro do Cristianismo, oriundos principalmente da Reforma Protestante

do séc. XVI. Segundo Barret (2001) existem 33.830 denominações cristãs6. Em geral se

enquadram em uma das seguintes categorias:

6 BARRET, David. World Christian Encyclopedia, 2001.

Fonte: Adaptado de World Christian Encyclopedia, 2001 e Wilges, 1994.

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Restauracionismo: princípios doutrinais oriundos da Reforma Protestante do séc. XVI

que se fizeram presentes em alguns grupos protestantes que acreditava que o Cristianismo

Histórico abdicou-se de seus votos religiosos, sendo necessário restaurar o Cristianismo

Primitivo da era apostólica. Grande parte de seus adeptos não se identificam como

protestantes, nem católicos ou ortodoxos, mas sim como igreja primitiva restaurada por

possuírem grandes divergências teológicas. Enquadram-se neste grupo a Igreja de Jesus

Cristo dos Santos dos Últimos Dias, a Igreja Adventista do Sétimo Dia e as Testemunhas

de Jeová, entre outras denominações. Seus seguidores aceitam a Jesus como criatura, de

natureza divina, seu líder, rejeitando, no entanto a crença na Trindade e ensinando que

Cristo é o filho do único Deus, Jeová, não crendo que Jesus é Deus.

Anabatistas: grupos protestantes formados na Europa a partir de 1520. Considerado por

alguns autores como cristãos da “ala radical”, negavam a validade do batismo infantil,

rebatizando os crentes quando adultos, daí a origem do nome anabatista: “ana” (outra

vez) e “batista” (mergulhar ou batizar nas águas). A igreja era considerada anabatista

quando batizava outra vez os crentes advindos de outras igrejas. Além disso propunham

reformas sociais e econômicas bem como a completa separação da Igreja e do Estado.

(LEBRUN, 1990).

Anglicanismo: o Anglicanismo, ao contrário dos primeiros movimentos protestantes que

se fizeram presentes na Europa no século XVI surgiu em torno de questões que envolviam

diretamente os interesses da monarquia britânica. No entanto, não se atribui a Henrique

VIII o título de fundador da Igreja Anglicana. O Anglicanismo foi instituído na Inglaterra

principalmente por razões de Estado, apesar de sofrer influências da Reforma e do

Humanismo, o que marca a cisão em 1534 do rei Henrique VIII com o clero cristão. O

Anglicanismo é considerado também o tronco principal da Comunhão Anglicana

Mundial, bem como um membro fundador da Comunhão de Porvoo7.

7 Comunhão de Porvoo ou Igrejas de Porvoo é o resultado do acordo celebrado entre doze Igrejas Protestantes da

Europa em 1992, no encerramento de conversações teológicas mantidas por representantes oficiais de quatro Igrejas

Anglicanas e oito Igrejas Luteranas nórdicas, bálticas e ibéricas.

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Cristianismo Esotérico: é conhecido como a parte mística do Cristianismo, composta

pelas escolas de mistérios. Segmento minoritário, uma vez que não é estruturado em

igrejas, apesar de a maioria das escolas terem rituais específicos. São as únicas

denominações cristãs reencarnacionistas e evolucionistas, não adeptas ao proselitismo. A

este ramo pertence o Gnosticismo que é uma crença com raízes antecedentes ao próprio

Cristianismo e que tem características da ciência egípcia e da filosofia grega. O

Rosacrucianismo também se enquadra nessa vertente sendo uma ciência oculta cristã que

ressalta as boas ações por meio da fraternidade.

Espiritismo: o Espiritismo considera a comunicabilidade entre os vivos e os mortos,

geralmente por meio de um médium, ou seja, de um mediador, com o objetivo de evoluir,

tanto moral quanto intelectualmente, rumo a Deus. A expressão também designa a

doutrina e as práticas das pessoas que partilham dessa crença. Muitas vezes foi contestado

como sendo uma vertente do Cristianismo. Contudo, a maioria de seus adeptos considera

a obra de Allan Kardec uma nova forma de Cristianismo, ou então um resgate do

Cristianismo Primitivo, que não inclui os dogmas adicionados pela Igreja Católica em

seus diversos Concílios. (LANTIER, 1980).

2.4 – AS FORMAS DE CULTO E SIMBOLOGIA

Para a maioria dos cristãos, a celebração religiosa é considerada o ato central de

identidade cristã ao longo da história, visto que para muitos teólogos, o culto a Deus é central

para se compreender o ser humano. Dentro do Cristianismo destacam-se inúmeras formas de

culto, que envolvem a oração, a leitura de passagens bíblicas, o cântico de hinos, a cerimônia da

eucaristia (católicos e ordodoxos) e a audição de um sermão dito pelo sacerdote ou ministro.

(CAIRNS, 1995).

No Catolicismo, na Igreja Ortodoxa e em alguns ramos do Anglicanismo e do

Luteranismo, o culto de adoração a Deus é prestado na liturgia8. Os católicos e os ortodoxos

8 De acordo com a liturgia, Deus santifica e concede graças ao homem e este, em gratidão, o adora e serve,

alcançando assim a sua salvação eterna, principalmente através da sua participação, por graça divina, dos méritos do

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interpretam as formas de culto (ou missa, para o Catolicismo) cristãs em termos de sete

sacramentos, considerados como graças divinas: Batismo, Eucaristia, Matrimônio, Confirmação

ou crisma, Penitência, Extrema unção ou Unção dos enfermos e Ordem.

Já os protestantes não comungam dos mesmos sacramentos do Catolicismo, com exceção

do Batismo e da Santa Ceia. Contudo o Batismo das Igrejas Protestantes, pelo menos na sua

maioria é realizado somente em adultos e a Santa Ceia (não aceitando a eucaristia, é voltada ao

padrão bíblico “pão e vinho”, ambos aceitos apenas como símbolos). Os protestantes apresentam

uma visão diferenciada do culto cristão baseando-o na leitura e exposição da Palavra, seja por

hinos ou sermões, buscando a adoração divina.

Dentro do Cristianismo, o Domingo e o Sábado (para algumas minorias cristãs) são os

dias dedicados aos cultos, na qual os cristãos reúnem-se para a devoção e oração individual.

Em relação à simbologia, a cruz é o símbolo mais reconhecido do Cristianismo,

apresentando uma variedade de formas de acordo com a denominação: crucifixo para os

católicos, a cruz de oito braços para os ortodoxos e uma simples cruz para os protestantes. O

Ichthus ou peixe estilizado é outro símbolo cristão, que

remonta ao início da religião. A palavra “Ichthus” significa

também um acrónimo de Iesus Christus Theou Yicus Soter,

“Jesus Cristo filho de Deus Salvador”. O desenho de um peixe

tornou-se símbolo dos primeiros cristãos que, em tempos de

perseguição, o usavam como sinal secreto da fé.

Com o passar dos anos a figura do peixe associou-se

então ao Cristianismo. (LEBRUN, 1990).

Além disso, outros símbolos do Cristianismo Primitivo

são ainda utilizados como: o “Alfa e o Ômega”, a “Âncora” e o

“Bom Pastor”.

sacrifício de Cristo na cruz. Este sofrimento e sacrifício redentor e supremo são renovados pela Eucaristia e

celebrados na Missa. (CAIRNS, 1995).

Figura 2: Símbolos do Cristianismo

Fonte: Adaptação de SCOUARNEC, M. , 2001.

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2.5 - A DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DO CRISTIANISMO NO MUNDO

Atualmente, o Cristianismo é a religião com maior número de adeptos em todo o mundo,

sendo o Islamismo o segundo em número de adeptos. O Cristianismo está presente em todos os

continentes e se desenvolve de forma diferenciada em cada um deles. Os mapas que apresentam o

cenário da distribuição espacial dos cristãos serão observados com maior clareza no decorrer

deste tópico.

As raízes mais antigas do Cristianismo remontam ao continente africano. Antes do

surgimento do Islamismo no século VII, o norte de África estava religiosamente integrado à

esfera cristã. O Islamismo e o Cristianismo tiveram dificuldades em penetrar completamente na

África Negra. Foi, sobretudo no século XIX, com o estabelecimento de missões protestantes

(anglicanas e metodistas), que o Cristianismo adentrou pelo continente africano. (LEBRUN,

1990).

Lebrun (1990) ainda afirma que no continente africano surgiram muitas Igrejas Cristãs

que misturaram elementos do Cristianismo com elementos da cultura local, como o culto dos

antepassados, a feitiçaria e a poligamia.

O avanço do Cristianismo em território americano se fez através das conquistas

espanholas e portuguesas do século XVI. Não preocupados com a cultura local e sim com a

conversão da população nativa, grande parte das populações indígenas foram assoladas pelos

primeiros missionários católicos na América. Porém, no século XIX uma redução gradual da

influência da Igreja Católica foi sentida quando houve a independência dos países latino-

americanos em relação à Espanha e Portugal. Atualmente a América Latina e África são os dois

centros mundiais do Cristianismo. (CAIRNS, 1995).

No início do século XX, a maior parte dos cristãos estava concentrada na Europa. Por

volta da década de 1970 este contingente religioso diminuiu consideravelmente, devido em

grande parte à redução da taxa de natalidade de europeus nativos, acarretando uma redução de

fiéis cristãos praticantes. (BARRET, 2001).

As estatísticas religiosas não são muito exatas, inclusive porque em muitos países os

cristãos são perseguidos ou os governos não incluem a religião no Censo. Segundo Barret (2001),

estima-se que 1/3 da humanidade seja cristã. Entre os cristãos, os católicos são os que apresentam

o maior número de adeptos.

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Mapa 2: Número de Cristãos no mundo

Mapa 3: Proporção de Cristãos no mundo

Nº de cristãos

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Ao analisar os mapas 2 e 3 percebe-se que a distribuição dos cristãos por continentes é

muito variada. Apesar da década de 1970 registrar uma redução de cristãos na Europa, o

continente ainda apresenta boa parte da população cristã, registrando mais de 60% de adeptos,

com destaque para o Reino Unido com mais 40 milhões de cristãos.

As Américas são quase todas cristãs, com destaque para os Estados Unidos, maior país

cristão do mundo com um pouco mais de 234 milhões de fiéis, seguido pelo Brasil e México com

um pouco mais de 169 e 103 milhões de fiéis respectivamente.

Nas Filipinas, África Meridional, África Central e o leste africano há também grande

presença de cristãos. Existem grandes comunidades cristãs em outras partes do mundo, tal como,

Ásia Central, onde o Cristianismo é a segunda religião mais praticada depois do Islamismo. A

China, no leste asiático, por exemplo, apesar de apresentar um baixo percentual de 3,9% de

cristãos, em números absolutos, devido a sua enorme população de mais de um bilhão e trezentos

mil habitantes, registra uma população de mais 51 milhões de cristãos.

A África, considerada também centro do Cristianismo mundial, com exceção de sua

porção norte predominantemente islâmica, apresenta um grande percentual de cristãos em boa

parte de seus países. Países como Congo e a Namíbia, no centro-oeste e sudoeste africano

apresentam 90% de suas populações cristãs.

Percebe-se que a América Latina é o grande centro mundial do Cristianismo, visto que,

todos os países do continente americano formam blocos quase contínuos quando analisados pelo

prisma do Cristianismo. No México, por exemplo, mais de 90% de sua população é cristã, com

destaque para Guatemala e Honduras com 99,9% de cristãos.

Na América do Sul, o Brasil por ser um país diversificado religiosamente, com tendência

de tolerância e mobilidade entre as religiões, a população é hegemonicamente cristã (89%), sendo

a maior parte adeptos do catolicismo. Herança do descobrimento, o Catolicismo se fez presente a

partir do período da colonização. Ordens e congregações religiosas assumem serviços nas

paróquias e dioceses, a educação nos colégios, a evangelização do indígena e inserem-se na vida

do país.

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2.5.1 - CATÓLICOS

No século XX, o Catolicismo desempenhou um importante papel político na América

Latina, detectável em movimentos como a Teologia da Libertação. Não obstante, atualmente, o

Catolicismo perde terreno na América Latina a favor de movimentos protestantes de caráter

Pentecostalista.

Segundo Lebrun (1990), por volta da segunda metade do século XX seria a vez do

Catolicismo se fazer presente. Atualmente, o Catolicismo é a denominação com maior número de

adeptos na maioria dos países africanos, com uma população de mais de 135 milhões de pessoas.

Em relação aos adeptos do Catolicismo, o Anuário Pontifício de 20099 afirma que a Igreja

Católica Apostólica Romana contava aproximadamente com pouco mais de 1.147 bilhões de

membros até o fim de 2007, ou seja, mais de um sexto da população mundial e mais da metade de

todos os cristãos, distribuídos principalmente nas Américas, mas também em outras regiões do

mundo.

Ainda segundo o Anuário Pontifício (2009), os cinco países com maior número de

católicos no mundo são Brasil, registrando algo em torno de 137 milhões de adeptos, seguido

pelo México, Filipinas, Estados Unidos e Itália. Entretanto, o país cuja população apresenta o

maior percentual de católicos é a Cidade do Vaticano com quase 100% de adeptos, seguido por

Malta com 95,3% de católicos.

Os mapas 4 e 5 demonstram que a Europa e a África concentram 25% e 12% dos católicos

do mundo respectivamente. A Ásia, sendo a região que mais cresce no mundo, abriga metade da

população da Terra, com pouco mais de 3 bilhões de habitantes, porém, ao todo registra algo em

torno de 120 milhões de católicos. É o continente onde a Igreja Católica não conseguiu transpor

totalmente as barreiras, embora o Cristianismo esteja presente na China e na Índia desde o século

IX. (MARTY, 2000).

Mais da metade dos mais de 1 bilhão de católicos do mundo vivem em países do

continente americano, a maioria deles no Brasil. De todo o continente americano, a América do

Sul abriga 80,7% dos católicos, cerca de 27,8% do total de católicos no mundo10

.

9 Census of the 2009 - Annuario Pontificio (Pontifical Yearbook).

10 Marty, Martin E., Chadwick, Henry, Pelikan, Jaroslav. Christianity in the Encyclopedia Britannica. Millennium

Edition. 2000.

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Mapa 4: Número de Católicos no mundo

Mapa 5: Proporção de Católicos no mundo

Nº de católicos

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Perante a Constituição de 1891, o Brasil é um estado laico, ou seja, não existe uma

religião que seja oficial e a discriminação a qualquer adepto de determinada religião é contrário à

lei. Entretanto, a maior parte da população religiosa do País são seguidores do Catolicismo,

religião que vem exercendo forte influência no Brasil desde o período colonial. Contudo, essa

influência deve ser relativizada devido ao grande sincretismo religioso existente no País.

Apesar de o Brasil ser considerado o maior país católico do mundo em números

absolutos, atualmente apresentando em torno de 137 milhões de adeptos, em termos percentuais o

declínio tem sido constante. Em praticamente três décadas os católicos tiveram um decréscimo de

15,2%, registrando em 2000 uma população católica de 73,8%. Algumas projeções indicam que

pode chegar a 65% no próximo Censo do IBGE.

O Catolicismo Romano tende a decrescer quando se leva em conta a recente ascensão do

Protestantismo e a importância histórica das religiões afro-brasileiras, o Candomblé e a

Umbanda, na formação cultural e ética do povo brasileiro. Apesar de terem sido perseguidas até o

começo do século XX, quando a prática religiosa não-católica era reprimida pela polícia. Além

disso, é pertinente assinalar o surgimento de novas religiões de origem oriental ou esotérica, até

então quase desconhecidas pela sociedade brasileira.

2.5.2 – PROTESTANTES

Protestantismo foi um movimento reformista cristão iniciado no século XVI na Europa

Ocidental, dentre o qual se destaca o monge agostiniano Martinho Lutero. As 95 teses publicadas

por Lutero, protestando as doutrinas da Igreja Católica fizeram com que um conjunto de Igrejas

Cristãs e doutrinas se identificassem com as teologias desenvolvidas pelo mesmo.

Uma revolução religiosa se instalou na Europa, visto que, vários religiosos e governantes

europeus aliaram-se às idéias de Lutero. Tal revolução iniciou-se na Alemanha, avançando pelos

Países Baixos, França, Suíça e Reino Unido, além de outras partes do Leste europeu,

principalmente os Países Bálticos e a Hungria. (LÉONARD, 1950).

Porém, nem todos os cristãos europeus, especialmente na Europa Meridional,

concordaram com as tentativas de reforma, produzindo o “cisma” entre as emergentes igrejas

reformadas com a tradicional Igreja Católica Apostólica Romana. As tentativas de oposição por

parte da Igreja Católica ou Reforma Católica foram iniciadas no Concílio de Trento.

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Contudo, a Reforma Protestante iniciada por Lutero alcançou êxito em muitas regiões da

Europa. As Igrejas Luteranas se fizeram presentes no norte da Alemanha e em toda a Península

Escandinava. Na Escócia surgiu a Igreja Presbiteriana. Outras Igrejas Reformadas também se

desenvolveram nos Países Baixos, na Suíça, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Destacam-se

ainda as Igrejas Calvinistas, Batistas, Anglicanas e Metodistas. Com o desenvolvimento dos

impérios europeus, principalmente o Império Britânico, nos séculos XIX e XX, o Protestantismo

continuou a se expandir, se tornando uma fé de escala mundial. (ORO, 1996).

O termo “protestante” deriva da grande manifestação feita por alguns Estados e príncipes

alemães, em 1529, em oposição às decisões de propriedade religiosa, mas de motivação também

política. Se por um lado pode passar a idéia de uma conotação pejorativa, por outro o termo é

utilizado para distinguir os cristãos que se separaram da Igreja de Roma, ou fazer referência aos

movimentos reformadores que se seguiram. (FRESTON, 1996).

Muitos autores preferem empregar o termo “evangélico” que deriva da palavra

“evangelho”, que significa “boas novas”. O termo evangélico, além de significar aquilo que é

concernente ao evangelho, é uma religião protestante. No Brasil ganhou predominantemente a

conotação de protestante, numa referência aos cristãos que adotam a herança da Reforma

Protestante.

Em relação à distribuição espacial dos protestantes, os mapas 6 e 7 nos permitem observar

que o país com maior número absoluto de protestantes são os Estados Unidos da América com

pouco mais de 162 milhões de adeptos. Outros países que possuem grande número de

protestantes são o Reino Unido, Nigéria e Alemanha. O Brasil é o quarto país onde vivem mais

cristãos protestantes no mundo totalizando em torno de 33 milhões de adeptos em 200511

. Em

toda a Escandinávia (incluindo Dinamarca e Islândia), Letônia, Estônia, Reino Unido e em vários

países que são ou foram colônias desta nação (entre eles os EUA), os protestantes representam

mais de 50% da população, chegando a ultrapassar os 90% em algumas nações como, por

exemplo, a Dinamarca.

11

Dados estatísticos do U.S State Department's International Religious Freedom Report 2005.

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Mapa 6: Número de Protestantes no mundo

Mapa 7: Proporção de Protestantes no mundo

Nº de protestantes

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Tabela 1: Países com maior número de Cristãos Protestantes - 2005

Posição PaísPop. Cristã

Protestante% de Protestantes País

Pop. Cristã

Protestante% de Protestantes

1 Estados Unidos 162 653 774 55 Tuvalu 11 450 98,4

2 Reino Unido 44 726 678 74 Dinamarca 4 943 425 91

3 Nigéria 34 124 557 26,5 Islândia 270 031 91

4 Brasil 33 000 000 18 Noruega 4 133 737 90

5 Alemanha 31 323 928 38 Suécia 7 741 526 86

6 África do Sul 30 154 013 68 Antigua e Barbuda 59 101 86

7 China 15 675 766 1,2 Finlândia 4 445 149 85,1

8 Indonésia 14 276 459 5,9 São Cristóvão e Nevis 32 335 83

9 Quénia 12 855 244 38 São Vicente e Granadinas 90 501 77

10 Congo 12 017 001 20 Bahamas 229 360 76

Fonte: US State Department's International Religious Freedom Report 2005.

Obs: Do lado esquerdo da tabela temos os 10 países onde vivem mais protestantes. Do lado direito da tabela os 10

países do mundo onde os protestantes são relativamente mais numerosos frente às outras denominações religiosas.

Os dados estatísticos da tabela 1 confirmam as informações retratadas nos mapas.

Atualmente, mais de 600 milhões de pessoas professam alguma das diferentes manifestações do

Protestantismo no mundo. Cerca de 30% dos cristãos são protestantes. Os dez países com maior

número de protestantes em termos percentuais no mundo12

são: Reino Unido (74%), África do

Sul (68%), Estados Unidos (55%), Alemanha (38%), Austrália (38%), Quênia (38%), Nigéria

(26,5%), República Democrática do Congo (20%), Brasil (18%) e Indonésia (5,9%).

O continente africano apresentou também grande concentração de protestantes. Os dados

mostram que só na Nigéria são mais de 34 milhões, na África do Sul são mais 30,1 milhões,

seguidos pelos 12,8 milhões do Quênia e 12 milhões do Congo. Em relação à Ásia, alguns dados

são interessantes: a Indonésia registrou 14,2 milhões e a Índia, onde a grande maioria da

população é hinduísta registrou 11 milhões de protestantes. Entre os latino-americanos, destaca-

se a Venezuela com pouco mais de 7 milhões de religiosos, o México com pouco mais 6,3

milhões e a Guatemala com quase 4,8 milhões. Os protestantes são maioria também em relação à

outras religiões na Suécia (7,7 milhões); Dinamarca (4,9 milhões); Finlândia (4,4 milhões) e

Noruega (4,1 milhões).

Constata-se uma proporção de protestantes no mundo acima de 30% na América do

Norte: EUA; América Central: Guatemala; na África: Uganda, Quênia, Malawi, África do Sul e

Namíbia; na Ásia: Papua Nova Guiné; na Europa: Reino Unido, Alemanha, Suécia, Finlândia e

Noruega; e Oceania: Austrália.

12

As percentagens de protestantes em cada país foram extraídas principalmente do US State Department's

International Religious Freedom Report (2005).

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61

Contudo, feita uma explanação a respeito da configuração religiosa cristã no mundo, o

próximo capítulo discutirá a distribuição geográfica do Cristianismo no Brasil: surgimento,

características e evolução histórica; configuração espacial atual dos católicos e protestantes, e o

enfraquecimento da presença católica no Brasil diante da diversidade e do dinamismo das Igrejas

Protestantes brasileiras.

O capítulo se finda com uma ênfase no Pentecostalismo brasileiro, denominação cristã

originada no seio do Protestantismo. Veremos que sua evolução e diversidade interna fizeram

com que este campo religioso fosse classificado em critérios históricos ou de periodização de

implantação de suas igrejas; em distinções teológicas e padrões comportamentais.

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62

3 – O CRISTIANISMO NO BRASIL

O surgimento do Cristianismo no Brasil remonta à época do período da colonização. No

início tal presença estava voltada para serviços paroquiais e nas dioceses, educação nos colégios e

principalmente a catequização do indígena pelas as congregações religiosas que aqui se

instalaram. O poder estabelecido promoveu um modelo de Catolicismo que funcionava como

instrumento de dominação social, político e cultural. (LEBRUN, 1990).

Mais tarde, em 1549, missões jesuítas da Companhia de Jesus viriam se instalar no País.

Neste período destaca-se a figura do padre José de Anchieta e do Padre João de Azpilcueta

Navarro. Do final do século XVI até quase metade do século XVII várias missões se fizeram

presentes, dentre elas destacam-se a dos carmelitas descalços, dos beneditinos, dos franciscanos,

as dos oratorianos, as dos mercedários e a dos capuchinhos. Durante todo este período, os

conflitos entre missionários, colonos e índios foram supervisionados pela legislação que visava o

certo equilíbrio entre Governo central e a Igreja.

Segundo Lebrun (1990), até meados do século XVIII, a atividade eclesiástica na colônia

era controlada pelo Estado por meio do padroado. Em troca de reconhecimento e obediência, o

Estado garantia a manutenção da Igreja e impedia a entrada no Brasil de outros cultos. O Estado

nomeia e remunera párocos e bispos e concede licença para construir igrejas. Confirma as

condenações dos tribunais da Inquisição e escolhe as formas de punição; em contrapartida,

controla o comportamento do clero, pela Mesa de Consciência e Ordens, órgão auxiliar do

Conselho Ultramarino.

Este instrumento de dominação social, político e cultural por parte do Catolicismo no País

entra em crise por volta de 1759, com a expulsão dos jesuítas e com a progressiva hegemonia da

nova mentalidade racionalista e iluminista. Em meados de 1840, a Igreja registra um novo

período na história brasileira, conhecido como romanização do Catolicismo. A Igreja começa a

seguir ordens diretas do Papa e não mais como uma instituição vinculada à Coroa luso-brasileira.

Com a proclamação da República, em 7 de janeiro de 1890, a separação entre Igreja e

Estado é decretada. A República põe fim ao padroado, reconhece o caráter leigo do Estado e

garante a liberdade religiosa. A partir da década de 1930, a valorização da identidade cultural

brasileira por parte da Igreja é influenciada pelo projeto desenvolvimentista e nacionalista de

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Getúlio Vargas. Assim, a base social da Igreja se expande para as camadas médias e populares.

(CAIRNS, 1995).

Mas, é a partir da década de 1960 que o processo de mudança de paradigmas na Igreja

ganha força, em grande parte influenciada pelo Concílio Vaticano II. Ao contrário da posição

conciliatória assumida pela Igreja diante do regime do Estado Novo, a CNBB (Conferência

Nacional dos Bispos do Brasil) começa a desempenhar um papel importante na articulação da

sociedade civil, em defesa dos direitos humanos, da reforma agrária, do direito dos trabalhadores,

da liberdade democrática, e da redemocratização do País.

No final da década de 1970, a Igreja passa a ter um papel chave no cenário nacional,

atuando na sociedade civil e na sociedade política, no processo de pressão e de negociação com o

Estado, visando o restabelecimento da democracia plena. (STEPAN, 1987).

O Censo Demográfico realizado em 2000, pelo IBGE, apontou a seguinte composição

religiosa no Brasil: 73,8% dos brasileiros (cerca de 125,5 milhões) declaram-se católicos; 15,6%

(cerca de 26,5 milhões) declaram-se protestantes (tradicionais e pentecostais); 7,4% (cerca de

12,5 milhões) declaram-se sem religião, podendo ser agnósticos ou ateus; 1,3% (cerca de 2,3

milhões) declaram-se espíritas; 0,3% declaram-se seguidores de religiões tradicionais africanas

tais como o Candomblé, o Tambor-de-Mina, além da Umbanda; 1,8% declaram-se seguidores de

outras religiões, tais como: testemunhas de jeová (1,1 milhão), os budistas (215 mil), os santos

dos últimos dias ou mórmons (200 mil), os messiânicos (109 mil), os judeus (87 mil), os

esotéricos (58 mil), os muçulmanos (27 mil) e os espiritualistas (26 mil).

O Catolicismo é a religião com o maior número de adeptos no Brasil, mas ao longo da

segunda metade do século XX vêm apresentando um decréscimo, devido em grande parte ao

crescimento dos protestantes. Em alguns países os protestantes não são apenas numerosos, mas já

atingiram uma grande porcentagem da população, sobre o qual exercem uma influência

significativa. Estima-se que o Brasil possua em 2010 uma população protestante de cerca de 50

milhões de adeptos. (IBGE, 2000).

Observamos nos capítulos anteriores, que a pluralidade religiosa brasileira, nem sempre

foi declarada e assumida pela população. Uma vez que o Catolicismo era a religião oficial do

Império brasileiro, ser brasileiro era quase que por obrigação ser católico, até meados do final do

século XIX.

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A Proclamação da República traz como conseqüência a separação entre o Estado e a

Igreja Católica, favorecendo assim, a penetração de outras religiões no território brasileiro. A

queda constante do percentual de católicos favoreceu o crescimento dos adeptos de outras

religiões. (ANTONIAZZI, 2004).

Nesse sentido, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base em seus

dados que nortearam o estudo, entre 1991 e 2000, vem demonstrando a cada Censo Demográfico

o decréscimo dos católicos e a ascensão de outros grupos religiosos, dentre eles, os protestantes.

O panorama religioso modificou consideravelmente no Brasil ao longo das três últimas

décadas do século XX. De acordo os Censos Demográficos, dos quase 92% dos brasileiros que

se diziam católicos na década de 1970, cerca de 18% deixou de comungar as doutrinas do

Vaticano, de acordo com o Censo 2000.

4,8

7,9

13,7

26,5

0

5

10

15

20

25

30

1 2 3 4

Pro

test

ante

s (m

ilhõ

es)

Seguindo um sentido inverso ao Catolicismo, o Censo registrou na década de 1970 uma

população protestante de 4,8 milhões (5,2%) no Brasil; passando para 7,9 milhões (6,6%) em

1980; e em 1991 já era de 13,7 milhões (9,4%). Em 2000, o Censo já registrava uma população

protestante de um pouco mais de 26 milhões (15,6%), ou seja, eles quase dobraram no período de

1991 a 2000. (IBGE, 2000).

Gráfico 1: Evolução dos Protestantes no Brasil: 1970 a 2000

Fonte: Censo Demográfico de 1970 a 2000

1970 1980 1991 2000

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65

Esta contraposição de religiões não se dá com a mesma intensidade nas diferentes regiões

do Brasil. Em 1980, o único Estado com alto índice de diversidade religiosa era Rondônia. Outras

áreas do Norte do País (o Estado do Amazonas, por exemplo) mostram também uma tendência,

ainda inicial, no sentido da maior diversificação. (JACOB; HEES; WANIEZ; BRUSTLEIN,

2003, p.35). Juntamente com os católicos e os sem-religião, acrescentam-se especialmente os

protestantes pentecostais.

Os Pentecostais, por exemplo, apresentaram em 2000 uma distribuição espacial bastante

peculiar em algumas áreas do País, principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste,

apresentando um elevado percentual nos Estados do Amazonas, Amapá, Rondônia, Roraima,

partes do Pará, do Mato Grosso e Goiás.

Nessas regiões houve um enorme crescimento pentecostal, oferecendo excelentes

exemplos da relação entre migração e Pentecostalismo. Sobre esta questão Jacob (2003)

argumenta:

“A migração religiosa tem uma relação direta com o processo migratório geográfico. O

migrante típico sai de um Brasil profundo, católico, para a fronteira agrícola das regiões

Norte e Centro-Oeste do Brasil ou para as periferias metropolitanas”. (JACOB, 2003).

A diversidade religiosa torna-se relevante também nas grandes metrópoles - São Paulo,

Rio de Janeiro e Belo Horizonte, especialmente pelo crescimento do número de pentecostais e de

sem religião. “Em geral, a diversidade religiosa tende a se tornar uma realidade comum a todo o

Brasil, com exceção de três áreas: o sertão nordestino, o interior de Minas Gerais, Paraná, Santa

Catarina e Rio Grande do Sul”. (ANTONIAZZI, 2004).

Ainda segundo Antoniazzi, esta diversificação, pelo menos inicialmente, parece está

ligada às Igrejas Protestantes de origem missionária (luteranos, descendentes de imigrantes

alemães, no Espírito Santo) e à sua expansão em direção a outros Estados limítrofes, neste caso,

Minas Gerais.

Contudo, independente da diversidade religiosa no Brasil, as referentes estatísticas

apresentam um diagnóstico de um País que continuará sendo cristão. Apesar da diminuição de

quase 25% de católicos ao longo de todo o século XX, tais perdas não confirmam a expectativa

de um enorme processo de secularização e de abandono do Cristianismo, mas uma recomposição

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no interior do campo religioso, principalmente com a presença cada vez mais forte do

Protestantismo. (IBGE, 2000).

3.1 – O CATOLICISMO NO BRASIL

O Catolicismo, principalmente o Romano, introduzido por missionários que

acompanharam os exploradores e colonizadores portugueses nas terras do país recém-descoberto,

tem sido desde o século XVI, a principal religião do Brasil, exercendo grande influência nos

aspectos sociais, políticos e culturais da população brasileira.

Herança da colonização portuguesa, o Catolicismo foi a religião oficial do Estado até a

Constituição Republicana de 1891, que instituiu o estado laico13

.

De acordo com Santos (2002), a laicidade ou a separação do elemento religioso das

instituições públicas nacionais tem permitido ao Estado brasileiro uma maior autonomia na

política, na economia e na cultura desde a Proclamação da República. No entanto, o aspecto

constitucional da laicidade não impede que o poder religioso ou as religiões influenciem nos

rumos da nação. O artigo 5º, item VI, da Constituição Federal, por exemplo, sustenta que:

“É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício

dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas

liturgias”. ( Art. 5º da Constituição Federal).

Essa garantia constitucional não foi uma concessão do Estado, mas antes uma conquista

do poder religioso, uma demonstração da força das religiões no espaço político nacional. Além

disso, a liberdade constitucional religiosa possibilita uma maior autonomia para a organização e

participação das religiões tanto majoritárias quanto minoritárias no espaço social brasileiro. É

certo que o poder das religiões é sempre relativo, mas de qualquer modo o poder religioso existe.

13

Nação ou país que é oficialmente neutro em relação às questões religiosas, não apoiando nem opondo a nenhuma

religião.

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67

O pluralismo religioso brasileiro14

nem sempre foi manifestado ou tomado para si por

parte da população. Até por volta de 1889, ser brasileiro era, quase obrigatoriamente, ser católico,

uma vez que o Catolicismo era a religião oficial do Império brasileiro. (SANTOS, 2002).

Carranza (2000) argumenta que a Igreja Católica está alicerçada em três vertentes

principais: o clero tradicionalista, contrário à mudanças religiosas e a favor da ortodoxia; os

remanescentes da Teologia da Libertação, que desde a década de 1970 tem formado uma certa

oposição eclesiástica; e os adeptos da Renovação Carismática Católica (RCC) ou de

Comunidades Carismáticas, movimentos que chegaram ao Brasil na década de 1970 e que

ganharam força na década de 1990.

A Renovação Carismática Católica (RCC) visando dar uma nova abordagem à

evangelização reaparece com algumas práticas do misticismo católico, promovendo uma

experiência pessoal com Deus através do Espírito Santo. A adoção de algumas práticas religiosas

como no uso dos dons do Espírito Santo assemelha-se em certos aspectos às Igrejas Pentecostais.

(CARRANZA, 2000).

O surgimento de práticas religiosas mais “flexíveis” ou menos conservadoras fez com que

o interesse da população católica brasileira diminuísse por formas mais tradicionais de

religiosidade no decorrer do século XX.

As divergências da grande maioria dos católicos estão relacionadas a alguns ensinamentos

morais exigidos pela Igreja que não estão em consonância com as tendências do mundo

contemporâneo, tais como o relativismo moral, os métodos anticoncepcionais, a liberdade sexual

e a proibição do aborto. Um reflexo disso é o aparecimento do grande número de pessoas que se

intitulam católicos não-praticantes. Segundo o Censo 2000 do IBGE, estima-se que somente 40%

da população brasileira católica freqüente a missa.

Em relação às comemorações religiosas católicas, a peregrinação a Nossa Senhora

Aparecida, na cidade de Aparecida no Estado de São Paulo é uma das tradições religiosas mais

populares do Catolicismo brasileiro. Outros festivais importantes incluem o Círio de Nazaré em

Belém do Pará e a Festa do Divino Pai Eterno no Estado de Goiás. (AZZI, 1978).

Como já mencionado, a Proclamação da República trouxe como conseqüência à separação

entre o Estado e a Igreja Católica, e esta cisão acabou favorecendo a entrada de outras religiões

14

Alguns estudiosos entendem que a expressão “pluralidade religiosa” talvez não seja a mais apropriada para a

realidade brasileira, pois o que se presencia é uma pluralidade de formas de se manifestar a mesma religião, neste

caso, o Cristianismo.

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68

no território brasileiro. O avanço de outras denominações religiosas no início do século XX

acabou acarretando uma queda considerável de adeptos do Catolicismo. Nesse contexto,

Antoniazzi (2004) argumenta que o percentual do contingente de católicos vem sofrendo uma

queda constante em contraposição ao crescimento dos adeptos de outras religiões, sobretudo os

protestantes.

Tabela 2: Estatística das religiões no Brasil – 1970 a 2000

A tabela 2 demonstra que nas três últimas décadas, a religião protestante cresceu

consideravelmente em número de adeptos, alcançando atualmente uma parcela significativa da

população. Do mesmo modo, aumenta o percentual daqueles que declaram não ter religião, grupo

superado em número apenas pelos católicos nominais e protestantes.

Os dados retratam também que apesar de o Catolicismo apresentar um decréscimo em

termos percentuais ao longo das décadas, continua sendo a religião com o maior número de

adeptos. A religião que apresentou um crescimento considerável de 1991 a 2000 foi a Protestante,

principalmente de vertente Pentecostal, mais que dobrando no período, passando de 8.768.929

(6,0%) para 17.975.106 (10,6%) de fiéis. Acompanhando esta tendência estão os que declaram

sem religião, que passaram de 6.946.077 (4,7%) em 1991 para 12.492.189 (7,4%) em 2000.

Outras religiões, dentre elas o Candomblé e a Umbanda, chegaram ao Brasil pela mão-de-

obra escrava de origem africana. Ambas sobreviveram à opressão dos colonizadores dando

origem às religiões afro-brasileiras. Estudiosos dessas religiões estimam que quase um terço da

população brasileira freqüente um centro. Esse número inclui tanto os freqüentadores assíduos

quanto os esporádicos, que muitas vezes também se denominam “católicos”, e seguem alguns

ritos da Igreja Católica. Esse tipo de tolerância com o sincretismo é um traço histórico peculiar da

religiosidade no país.

A análise do gráfico 2 demonstra que o número de católicos passou de 83,3% em 1991

para 73,8% em 2000, ou seja, um déficit de -9,5%; o número de protestantes e dos intitulados

1970 93.470.306 85.775.047 (91,08%) 2.157.229 (2,5%) 704.924 (0,8%)

1980 119.099.778 105.860.063 (89,0%) 4.022.330 (3,4%) 3.863.320 (3,2%) 3.310.980 (3,1%) 1.953.085 (1,6%)

1991 146.814.061 122.365.302 (83,3%) 4.388.165 (3,0%) 8.768.929 (6,0%) 4.345.588 (3,6%) 6.946.077 (4,7%)

2000 169.870.803 125.517.222 (73,8%) 8.477.068 (5,0%) 17.975.106 (10,6%) 5.409.218 (3,2%) 12.492.189 (7,4%)

Fonte: IBGE: Censo demográfico 1970 a 2000

Sem religião

4.833.196 (5,2%)

Protestantes

TradicionaisAnos População Católicos

Outras religiõesProtestantes

Pentecostais

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“sem religião” tiveram um crescimento de 6,6% e 2,7% respectivamente no mesmo período. As

religiões espíritas e “outras religiões” (orientais, por exemplo) tiveram um pequeno crescimento

de 0,2% e 0,4% respectivamente. Ao contrário, as religiões afro-brasileiras tiveram uma redução

de 0,1% de 1991 a 2000.

Gráfico 2: Percentual de religiosos no Brasil: 1991 e 2000

0

25

50

75

100C

ato

licis

mo

Pro

testa

ntis

mo

Sem

relig

ião

Esp

íritis

mo

Relig

iões

afr

o-

bra

sileiras

Outr

as religiõ

es

(%)

1991 2000

A dinâmica e a pluralidade do espaço religioso são decorrentes das constantes

transformações do espaço social brasileiro. Um dado notável é o marcante êxodo rural, ou seja, a

migração da população rural para as cidades, sobretudo para as grandes metrópoles brasileiras.

(SANTOS, 2002). O autor ainda afirma que o Catolicismo esteve durante séculos atrelado ao

modo de vida rural, à visão de mundo agrícola. A doutrina Católica não acompanhou a rápida

urbanização brasileira.

O predomínio de uma única religião não mais existe. Há religiões que satisfazem as

necessidades espirituais de toda a população, de acordo com os interesses, entendimentos ou

visões de mundo dos sujeitos. E mesmo quando não se está satisfeito com a doutrina de

determinada religião, basta deixá-la e converter-se a outra.

O avanço e a competição religiosa fazem com que cada religião utilize-se de estratégias

próprias para garantirem e expandirem seu espaço na sociedade. A estratégia mais utilizada de

toda e qualquer religião é por meio da conversão ou conquista de novos adeptos ou fiéis.

Fonte: IBGE- Censo Demográfico de 1991e 2000

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Dentre as diferentes estratégias para a conversão de novos fiéis, as mais comuns são as

pregações ou evangelizações; uso de panfletagem para cultos ou consultas espirituais; cultos ou

missas em espaços públicos; e claro, os programas de rádio e televisão, muito utilizados a partir

da década de 1950, principalmente pelas Igrejas Pentecostais. Nessa dinâmica, às vezes, ocorre a

algumas lideranças religiosas superestimarem, intencionalmente, a população de fiéis ou adeptos

de suas igrejas. (ALMEIDA, 2002).

3.1.1 - O ENFRAQUECIMENTO DA PRESENÇA CATÓLICA

Vimos que a diversidade religiosa no Brasil favoreceu o crescimento de algumas religiões

em detrimento de outras. O enfraquecimento do Catolicismo torna-se evidente ao analisar sua

distribuição pelo País e quando confrontado o número de católicos por Estado. Segundo o Censo

2000 do IBGE, os cinco Estados “mais católicos” do País pertencem a Região Nordeste, como

observado na tabela:

Tabela 3: Proporção de católicos: Brasil – 2000

Estados*

Piauí

Ceará

Paraíba

Rio Grande do Norte

Maranhão

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2000

82,0

83,0

%

91,3

84,9

84,2

* Segundo o IBGE (2000), Minas Gerais ocupava o 9º lugar no ranking dos Estados

mais católicos no Brasil.

De acordo com a tabela 3, o Nordeste possui o índice mais alto de católicos, pelo menos

nos cinco Estados citados (Piauí, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Maranhão). Esta

concentração católica é evidente quando observamos o mapa 8 de percentual de católicos no

Brasil nos Estados mencionados. Uma forte presença de católicos acima de 78% também se faz

no oeste/sudoeste da Bahia, no oeste de Pernambuco, norte de Minas Gerais, sul do Paraná, Santa

Catarina e Rio Grande do Sul.

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Mapa 8: Percentual de Católicos por município: Brasil - 2000

Estes Estados, na realidade apresentam porcentagens altíssimas no interior, no sertão, e

porcentagens fracas no litoral, do Recife ao sul da Bahia. Isso sugere, de acordo com Antoniazzi

(2004) que estamos diante de duas situações religiosa-culturais bem distintas: o interior dos

Estados apresenta um Catolicismo mais tradicional, voltado para penitências, marcado pelas

missões religiosas desde o século XVII; já as cidades litorâneas conservam um Catolicismo mais

festivo, menos rígido e com devoção aos santos, bastante liberal em matéria de costumes.

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As cidades litorâneas favorecem um ambiente mais aberto a possibilidades de escolhas,

gerando um senso crítico e tendências pouco dispostas a aceitar as hierarquias eclesiásticas

católicas manifestadas desde o séc. XVIII. (ANTONIAZZI, 2004).

Analisando os Estados com menor porcentagem de católicos, destacam-se: Espírito Santo,

Rondônia e Rio de Janeiro. De maneira geral, os dados indicam áreas de imigração e ocupação

recente, no caso Rondônia e várias áreas do Norte e Centro-Oeste do Brasil e metrópoles, não só

Rio de Janeiro, mas também São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e Recife.

Além dos grandes centros urbano-industriais oferecerem uma liberdade maior de escolhas

religiosas, eles são porta de entrada de uma população migrante ansiosa por respostas imediatas

para seus dilemas espirituais e financeiros, encontrados, sobretudo nas religiões protestantes.

Tabela 4: Estados com menor proporção de católicos: Brasil-2000

Estados*

Espírito Santo

Rondônia

Rio de Janeiro

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2000

57,5

56,5

%

61,0

No caso das metrópoles, não basta considerar os números das capitais. É importante

perceber principalmente os municípios do entorno metropolitano, que, nas últimas duas décadas,

cresceram em população religiosa.

O presente estudo não pretende fazer um panorama da religião católica em todas as

metrópoles e capitais do Brasil, visto que, algumas apresentam situações muito peculiares, que

dificultariam comparação. Mas no caso das metrópoles do Sudeste, cabe aqui um parêntese,

apesar de Minas Gerais apresentar uma hegemonia católica (78,8%), a região metropolitana é

uma das mais susceptíveis ao crescimento de outras religiões.

Em relação ao número de adeptos do Catolicismo, o Estado do Espírito Santo apresenta

um enfraquecimento, registrando 61% de fiéis como observado na tabela 4. De acordo com o

Censo 2000, com exceção da capital Vitória (63,4%), sua Região Metropolitana apresenta índices

ainda mais baixos, incluindo: Vila Velha (57,8%); Cariacica (52,5%); Serra (51%). Os “sem

religião” é também elevado, chegando a 13,7%, em Cariacica, e a 14,9%, em Serra. (IBGE,

2000).

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73

Os católicos são minoria ainda maior na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ).

Segundo o Censo 2000, enquanto a capital Rio de Janeiro apresentou 60,7% de católicos, os

municípios limítrofes à capital apresentaram índices bem menores.

Tabela 5: Proporção de Católicos nos municípios limítrofes a

capital do Rio de Janeiro: Brasil -2000

Município

Nilópolis

São João do Meriti

Duque de Caxias

Nova Iguaçu

Niterói

Mesquita

Seropédica

Itaguaí

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2000

22,9

45,7

30,5

40,0

43,1

%

45,4

51,3

42,5

É também considerável o número da população que professa não possuir nenhuma

religião na RMRJ. Os “sem religião” somam (13,3%) na cidade do Rio de Janeiro, quase o dobro

da média nacional. Já os municípios limítrofes a capital, os índices são ainda maiores: Nilópolis

(27%); Mesquita (26,6%); Niterói (24,5%); Itaguaí (22,9%); Nova Iguaçu (21,9%); Duque de

Caxias (21,7%); São João do Meriti (20,4%) e Seropédica (20%). (IBGE, 2000).

Do ponto de vista geográfico ou do território é nítido o enfraquecimento do Catolicismo

nestas áreas. Para Antoniazzi (2004) as causas podem ser numerosas e complexas, e não adianta

apontar para as mudanças culturais de caráter geral (modernização, secularização,

individualização, subjetivismo, relativismo, hedonismo). Para o mesmo, essas mudanças afetam

todas as religiões, mas, como vimos, a capacidade de resistir-lhes ou de aproveitá-las é muito

diferente de uma religião para outra.

Para o Catolicismo, limita-se a considerar dois fatores bem concretos que não devem ser

julgados separadamente, oferecendo uma visão mais completa: de um lado, as migrações ou os

movimentos da população brasileira, que num primeiro momento, parece ter contribuído para

enfraquecer o Catolicismo; por outro lado, a resposta institucional, o “possível” esforço feito pela

Igreja para atender melhor às populações recém chegadas nas frentes pioneiras ou na periferia das

metrópoles.

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74

Antoniazzi (2004) argumenta que o trabalho pastoral é exaustivo, além de cuidar dos

sacramentos regulares dos milhares de católicos praticantes (casamentos, batismos etc.), não há

espaço para atender a novas exigências, impedindo qualquer novidade na ação pastoral.

Em uma sociedade que se modifica rapidamente, o trabalho pastoral acaba perdendo em

qualidade, devido ao precário ou mesmo a falta de acompanhamento do contingente de católicos

que mantêm apenas contatos casuais com a comunidade eclesial. Isto acarreta o êxodo dos

adeptos do Catolicismo para outras igrejas ou religiões.

3.2 - O PROTESTANTISMO NO BRASIL

As incursões de protestantes no território brasileiro, durante o período colonial, ocorreram

de forma esporádica e vinculadas às guerras religiosas decorrentes da Reforma Protestante e da

política mercantilista da Europa moderna. (SILVA, 2006).

Os Huguenotes15

se fizeram presentes no Rio de Janeiro no século XVI e os Calvinistas

em Pernambuco, no século XVII. Ambos fundaram comunidades protestantes temporárias, as

quais duraram o tempo da ocupação francesa e holandesa. Estas tentativas, no entanto, não

deixaram frutos persistentes.

Em 1557, calvinistas franceses enviados por João Calvino realizam o primeiro culto

protestante no Brasil, e da própria América. Estes missionários instalaram-se em uma das ilhas da

Baía de Guanabara e fundaram mais tarde a França Antártica.

A presença sistemática do Protestantismo, no Brasil, ocorreria na primeira metade do

século XIX, em decorrência de uma conjunção de fatores de ordem econômica e política. Com a

vinda da família real portuguesa ao Brasil e a abertura dos portos às nações amigas, através do

Tratado de Comércio e Navegação, comerciantes ingleses estabeleceram a Igreja Anglicana no

País, em 1811. Outros tratados (como o de Aliança e Amizade) traziam artigos que concediam

liberdade religiosa aos estrangeiros que aqui chegassem. (MENDONÇA, 1990).

15

Huguenote era o nome dado aos reformados franceses e reformados holandeses e flamengos durante o período

colonial.

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Além disso, após a Independência, a liberdade religiosa passou a ser preceito

constitucional. Assim rezava o artigo 5º da Constituição de 1824:

“A religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a religião do Império. Todas

as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico ou particular, em casas

para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo”16

.

A inserção do Protestantismo no Brasil está relacionada a cinco momentos distintos: Os

dois primeiros momentos estão relacionados com o “Protestantismo de Imigração” e

“Protestantismo de Missão”, respectivamente. Alguns autores classificam os dois como

“Protestantismo Histórico”. Os outros três momentos estão relacionados ao “Pentecostalismo”,

que se divide em três denominações: Tradicionais, Pentecostais e Neopentecostais. (FRESTON,

1996).

Os Anglicanos adentraram o Brasil como comerciantes nas grandes cidades e os

luteranos, como pequenos colonos no interior da Região Sul do País. Fundaram suas igrejas para

propiciarem assistência espiritual aos fiéis de origem inglesa e alemã, respectivamente, na

primeira metade do séc. XIX. A esta afluência de protestantes, seja em razão do comércio, seja

por colonização imigratória, denominou-se de Protestantismo de Imigração (SILVA, 2006).

Segundo a mesma autora, já na segunda metade do século XIX, missionários norte-

americanos vindos principalmente do sul dos Estados Unidos e por europeus, instalaram no País

um segundo momento que irradiou por todo o cenário nacional, denominado de Protestantismo

Missionário.

A política liberal, que propiciou a entrada de anglicanos e luteranos no início do século

XIX continuava, mas outros fatores também contribuíam: uma nova corrente migratória vinda

dos EUA; a expansão dos interesses comerciais norte-americanos no Brasil; para além das

questões terrenas, fatores religiosos se alinharam, a exemplo do avivamento missionário, ocorrido

no seio das denominações protestantes dos Estados Unidos da América do Norte.

A partir de 1858, missionários de origem congregacional, metodista, presbiteriana, batista

e episcopal fundaram suas igrejas no Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Rio Grande do Sul. Hoje,

as igrejas fundadas por estes grupos contam com um expressivo número de fiéis. (IBGE, 2000).

16

Brasil, Constituição Política do Império do Brasil (de 25 de março de 1824), art. 5º.

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Tabela 6: Igrejas Missionárias no Brasil-2000

Protestantes Total %

Batistas 3.162.700 37,3

Adventista 1.209.842 14,3

Luteranas 1.062.145 12,5

Presbiterianos 981.064 11,6

Metodistas 340.967 4,0Congregacional 148.136 1,7

Outras 34.224 0,4

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2000

Na segunda metade do séc. XIX, as Igrejas Protestantes Missionárias Batistas,

Presbiterianas e Metodistas iniciaram sua expansão no Brasil quase que ao mesmo tempo. É

interessante perceber o crescimento destas igrejas: a proporção demonstra que para cada um

metodista, existem três presbiterianos e dez batistas. Tal crescimento depende da mensagem e da

atuação de cada uma destas igrejas.

Este crescimento diferenciado é sugerido por Mendonça (1990), que afirma que a Igreja

Metodista, apesar de sua coerência teológica, cresceu menos que os presbiterianos em geral e os

batistas. Uma justificativa pelo baixo crescimento estaria associada a uma maior dedicação na

educação da elite brasileira. “Os presbiterianos e os batistas, porém, logo superaram essa

preocupação com ação evangelizadora mais agressiva e endereçada às classes inferiores pouco

atendidas pela Igreja Católica e menos comprometidas socialmente sob o ponto de vista

religioso”. (ANTONIAZZI, 2004).

A Igreja Adventista é a segunda no Brasil em número de fiéis, apesar de não ser uma

igreja “protestante” no sentido escrito, somando 1.209.842 (14,3%) de seguidores, seguida pelas

Luteranas que somam 1.062.145 (12,5%) como observado na tabela 6. As Igrejas Adventistas

concentram-se em muitas cidades do País, com intensa atividade missionária na Amazônia

Oriental (Pará, em particular ao longo da Transamazônica, e Maranhão). As Luteranas se

instalaram com forte presença no Sul do País e no Estado do Espírito Santo. (IBGE, 2000).

Uma visão geral das Igrejas Protestantes é dada por seu “perfil”. Este perfil é feito com

base na média nacional da população: onde cada grupo religioso nos diz se apresenta

características acima ou abaixo da média.

A literatura brasileira cita que a grande maioria dos membros das Igrejas Protestantes

origina-se de camadas sociais de baixa renda. (PRANDI e PIERUCCI, 2000). Cerca de 70% dos

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protestantes pentecostais recebem em torno de dois salários mínimos. Esta similaridade não é a

mesma dentro do universo total de protestantes. Para os protestantes tradicionais essa proporção é

de 58,3%.

Prandi e Pierucci (2000) ainda afirmam que quanto maior a renda mensal, menor a

probabilidade de uma pessoa ser protestante. Contudo, mesmo se o indivíduo possuir uma renda

superior e ainda assim professar ser protestante, a probabilidade deste fiel ser membro dos

segmentos tradicionais é maior do que ele ser um fiel das denominações pentecostais. Cerca de

25% dos protestantes tradicionais apresentam renda média nas faixas de 6-10 e 11-20 salários

mínimos. Apenas 8,9% dos protestantes pentecostais e dos católicos possuem renda média

superior acima de 6 salários mínimos. (SOUZA e MARTINO, 2004).

É corriqueiro associar a imagem dos protestantes, principalmente de vertente pentecostal a

níveis socioeconômicos mais baixos. No entanto, esse perfil dos pentecostais, de acordo com

IBGE 2000 apresentou certas coincidências em relação aos católicos e aos adeptos das religiões

afro-brasileiras, por exemplo. Em termos relativos, as maiores concentrações de católicos e afro-

brasileiros encontram-se na faixa salarial de até dois salários mínimos. Portanto, ao contrário do

que parece sugerir a literatura, perfis socioeconômicos precários não é exclusividade dos

protestantes pentecostais.

Em se tratando ao nível educacional, a relação entre educação e religião entre os

pentecostais também é inversamente proporcional: quando maior a educação formal, mais baixo

são os níveis de filiação a esse grupo religioso. No entanto, os dados do IBGE demonstraram que

a primeira preferência por níveis baixos educacionais são dos católicos e não dos protestantes.

Os protestantes tradicionais são os que apresentam os maiores níveis educacionais entre

os protestantes, somando 15,7% da população religiosa, em detrimento dos pentecostais que

somam apenas 2,2% de religiosos no ensino superior. Os tradicionais sobressaem-se à média na

educação média e superior, inclusive mestrado e doutorado. Comparando o grau de escolaridade,

os pentecostais e os católicos apresentam muitas semelhanças.

Se os protestantes (exceto os tradicionais) e os católicos não diferenciam claramente em

relação à renda e educação, o nível de religiosidade é um divisor de águas para distinguir os

protestantes dos demais grupos religiosos. Entenda-se como nível de religiosidade não a

intensidade das crenças do fiel, mas a freqüência com a qual ele participa de missas ou de cultos.

Cerca de 82,6% dos protestantes vão ao culto ou em reuniões semanais uma ou mais vezes por

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semana. Estima-se que entre os católicos, esse número seja menor, correspondendo a apenas 40%

os fiéis que vão à missa. (IBGE, 2000).

Mapa 9: Percentual de Protestantes por município: Brasil - 2000

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Analisando o mapa 9 do percentual de Protestantes no Brasil em 2000, percebe-se que a

distribuição não é homogênea, ou seja, ela não é a mesma nas diferentes regiões do País. As

regiões Norte e Centro-Oeste, por exemplo, apresentam uma porcentagem protestante bastante

alta dentro do contexto nacional, em grande parte, devido às frentes migratórias, de ocupação da

Amazônia e de regiões centrais do País nos anos 1980 e 1990. Percebe-se uma concentração mais

acentuada na região central do Amazonas, Roraima, Rondônia, nordeste do Amapá, sudeste do

Pará, partes do Mato Grosso e de Goiás e no Distrito Federal.

Nessas regiões houve um forte crescimento de protestantes e por isso mesmo um estudo

dos municípios, em especial nas Regiões Norte e Centro-Oeste, oferece aos estudiosos do assunto

excelentes exemplos da relação entre migração e religião.

Em relação à Região Nordeste, a presença de protestantes é baixa quando comparada às

demais regiões. O mapa anterior demonstra que a porcentagem da população em cada Estado

supera em média mais de 20% de protestantes, enquanto o único Estado fora da Região Nordeste,

Minas Gerais, com maioria da população católica, apresenta em algumas regiões mais de 1/3 de

sua população de protestantes.

Regiões como o interior nordestino e o sertão apresentam um percentual de protestantes

bastante baixo, em grande parte explicado pelo Catolicismo mais tradicional praticado nestas

regiões, marcado pelas missões populares de capuchinhos e outros religiosos desde o século

XVII. Salvo algumas exceções, como por exemplo, no litoral do Recife e o sul da Bahia, o

percentual de protestantes é acima de 15%, atingindo em algumas cidades do litoral

pernambucano cifras superiores a 20%, bastante considerável se comparado com outras regiões

mais próximas. Nestas regiões litorâneas, predomina-se um Catolicismo mais festivo, ligado à

devoção aos santos, mais liberais em matéria de costumes, o que favorece o crescimento de

outras práticas religiosas.

O mapa 9 demonstra também que os Estados do Espírito Santo, Rondônia e Rio de

Janeiro apresentaram uma porcentagem de protestantes acima de 25% da população total. Os

dados confirmam as tendências de Antoniazzi (2004) que afirma que os três Estados

apresentaram os maiores índices de diversidade religiosa no Brasil.

O Estado de Minas Gerais, de população majoritariamente católica, apresentou um

crescimento expressivo de protestantes na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e

principalmente, no Vale do Rio Doce. Um crescimento é observado também no norte do Espírito

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Santo, próximo ao sul da Bahia, se expandindo pelo Rio de Janeiro ao sul em direção ao Estado

de São Paulo. O Sul do Brasil também apresentou um forte crescimento em diferentes áreas dos

Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Ao analisar os dados a nível municipal, percebe-se que a distribuição dos protestantes no

País varia muito. Em 2000 existiam apenas 173 municípios do País que apresentaram uma

população protestante acima de 30%, e 51 destes, ou seja, 29% pertenciam ao Estado do Rio

Grande Sul. Aliás, a maior população protestante do País está concentrada no município de

Quinze de Novembro, no Rio Grande do Sul com 56,3% de adeptos. Ainda em 2000, 1.152

municípios do País que apresentavam população até 200 mil habitantes tinham menos de 5% de

protestantes.

3.2.1 - DIVERSIDADE E DINAMISMO DAS IGREJAS PROTESTANTES NO BRASIL

O cenário apresentado anteriormente demonstrou que o universo protestante é muito

diversificado e não pode ser tratado mediante generalizações. As Igrejas Protestantes apresentam

uma enorme variedade de doutrinas, formas de organização e estratégias de evangelização.

Quanto a sua formação, sendo uma ramificação do Cristianismo, o Protestantismo é um

fenômeno religioso recente tanto na história da própria religião cristã, quanto na história do

Brasil. Surgido no final do século XIX e início do século XX nos Estados Unidos, vem crescendo

em vários países em desenvolvimento do Sul do Pacífico, África, Leste e Sudeste da Ásia e,

sobretudo, América Latina, encontrando solo fértil no Brasil na década de 1910. Desde então,

vem se destacando abrigando pouco mais de 26,5 milhões de protestantes. (IBGE, 2000).

Do universo religioso apontado pelo IBGE (2000), aproximadamente 17,9 milhões

(72,7%) são Igrejas Pentecostais; 22,1% correspondem a membros de Igrejas Tradicionais, e

cerca de 5,1% dos fiéis pertencem a outras denominações protestantes, como observado no

gráfico seguinte:

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Gráfico 3: Universo religioso Protestante: Brasil – 2000

Os dados do Censo Demográfico 2000 confirmam que o crescimento dos Protestantes

Pentecostais é significativo quando comparado com as demais denominações. Do universo

religioso protestante, quase 73% são de pentecostais como observado no gráfico 3.

Os Pentecostais, foco deste estudo, serão abordados com uma análise muito mais

completa, visto que, o mundo Pentecostal além de ser mais rico de expressões e variado que o

Protestantismo Tradicional é o grupo que mais cresceu nas últimas décadas no Brasil.

Embora existam casos de Igrejas Pentecostais em retrocesso ou fracassadas, entender seu

crescimento não é algo que admita respostas simplistas. Estas igrejas tornaram-se capazes de

conceder respostas aos problemas financeiros e aos anseios cotidianos de seus fiéis. “Tais

problemas são marcantes nas sociedades contemporâneas e são explicados através da Teologia da

Prosperidade17

, muitas vezes pelo caminho transcendental”. (MARIANO, 2004).

Além disso, as Igrejas Pentecostais apresentam uma territorialidade muito mais dinâmica

que outras religiões, visto os deslocamentos que seus fiéis fazem para participar dos cultos das

denominações que melhor responderem aos seus anseios: muitos destes fiéis acabam se

deslocando de um bairro para outro, ou até mesmo de uma região para outra, mesmo possuindo

outras Igrejas Pentecostais próximas de suas residências.

17

A Teologia da Prosperidade, Confissão Positiva ou Movimento de Fé surgiu nos Estados Unidos na década de

1940, tendo como principal líder Kenneth Hagin. No Brasil se fez presente somente no final da década de 1970.

(MARIANO, 2004).

Fonte: IBGE: Censo Demográfico 2000

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O Pentecostalismo influenciou também o mundo católico, em particular a Renovação

Carismática Católica (RCC). Um dado que não pode ser esquecido, são as raízes populares

(portanto do Catolicismo popular) do Pentecostalismo. Nesse contexto, Ricardo Mariano (1999)

sugere:

“Na condição de religião cristã, a principal continuidade do Pentecostalismo com a

religiosidade popular brasileira consiste na crença em Jesus, demônios, milagres, mitos

bíblicos, pecado, curas e intervenções sobrenaturais, feitiçarias, concepções

escatológicas. Nesse sentido, geralmente ressalta o caráter leigo do Pentecostalismo, que

permite ao fiel entrar em contato com Deus sem depender da mediação eclesiástica.

Essas semelhanças e continuidades entre a religiosidade popular e o Pentecostalismo,

facilitam a evangelização e a socialização dos novos adeptos das Igrejas Pentecostais”.

(MARIANO, 1999).

O crescimento acelerado da Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, reforça

ainda mais a citação de Ricardo Mariano (1999). Como estratégia de evangelização esta igreja

rearticula sincreticamente crenças, ritos e práticas de outras denominações religiosas. Em seus

cultos é comum a prática de “sessões espirituais de descarrego”, “fechamento de corpo”,

“corrente da mesa branca”, “retirada de encostos”, “desfazer mal-olhado”. Asperge nos fiéis

galhos de arruda molhados em bacias com água benta e sal grosso, substitui fitas do Senhor do

Bonfim por fitas com dizeres bíblicos, evangeliza nos cemitérios durante o Finados, oferece balas

e doces aos fiéis no dia de Cosme e Damião.

Antoniazzi (2004) explica que, a adoção destas práticas pela Igreja Universal não é

impensada e nem configura sincretismo involuntário. Pelo contrário, constitui estratégia

evangelística deliberada, bem pensada e que tem sido mantida, intensificada e até diversificada

em razão de sua elevada eficácia.

Ainda segundo Antoniazzi (2004), o caráter empresarial e as técnicas de marketing estão

contribuindo para expansão das chamadas Igrejas Neopentecostais, valendo do princípio:

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3.3 – PENTECOSTALISMO BRASILEIRO: SURGIMENTO, EVOLUÇÃO E LINHAS

DE ABORDAGEM

Pentecostalismo é a designação atribuída ao grupo de determinados religiosos cristãos,

provenientes do Protestantismo, que possui como característica principal a ênfase na experiência

direta e pessoal de Deus através do Batismo no Espírito Santo, dentre elas a glossolalia18

.

(SANTA ANA, 1991).

É importante pontuar, que o crescimento Pentecostal nem sempre foi hegemônico. Nas

seis décadas anteriores ao ano 2000, houve uma inversão na proporção de Protestantes

Pentecostais e Protestantes Tradicionais. Assim, os Pentecostais, que se situavam na década de

1930 e 1940 no rodapé das estatísticas, se tornaram hegemônicos dentro do universo Protestante.

Pressupõe-se que os convertidos ao Pentecostalismo vieram inicialmente de meios

tradicionais e depois, com mais intensidade, do Catolicismo. Inicialmente, o Pentecostalismo no

Brasil eram movimentos de caráter missionário, o que distingue do Protestantismo Histórico que

chegou ao Brasil através do processo de imigração européia. (CORTEN, 1996).

Desde seu surgimento, há quase um século atrás, já foram criadas milhares de igrejas,

tornando este movimento religioso complexo e diversificado. Para melhor compreensão de sua

evolução e diversidade interna, pesquisadores e estudiosos passaram a ordenar este campo

religioso e classificá-los com base em critérios históricos ou periodização de implantação de

igrejas; em distinções teológicas e padrões comportamentais.

Nessa compreensão, Paul Freston (1996) foi o primeiro a classificar o movimento

pentecostal no Brasil de acordo com a implantação de suas igrejas em três fases, ao qual foi

denominado de “ondas” de acordo com o caráter histórico-institucional.

Segundo o mesmo, a primeira onda refere-se à instalação das Igrejas Congregação Cristã

do Brasil e Assembléia de Deus. Ambas as igrejas foram as pioneiras no Brasil apresentando um

longo período de atuação.

A Congregação Cristã foi fundada em 1910, em São Paulo, pelo missionário italiano

Louis Francescon, enquanto a Assembléia de Deus foi fundada em 1911, em Belém do Pará,

18

Glossolalia ou dom de línguas (o uso do nome depende da denominação religiosa) é um fenômeno onde o

indivíduo crê expressar-se em uma língua desconhecida. Segundo Corten (1996) é uma espécie de louvação cuja

manifestação se dá numa sequência de sons incompreensíveis.

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pelos suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren. Embora europeus, os três missionários converteram-

se ao Pentecostalismo nos Estados Unidos, de onde vieram para evangelizar o Brasil.

Freston (1996) explica que a primeira onda ocorre no momento histórico em que surge o

Pentecostalismo nos Estados Unidos bem como sua expansão para diversas partes do mundo.

A segunda onda do Pentecostalismo brasileiro iniciou-se na década de 1950-1960

caracterizado pela fragmentação do movimento pentecostal e sua dinamização em relação com a

sociedade. Destacam-se as Igrejas do Evangelho Quadrangular (1951), O Brasil para Cristo

(1955) e a Igreja Deus é Amor (1962). As instalações destas igrejas coincidem com o período de

expansão urbana no país, possibilitando o acúmulo de pessoas nos centros urbanos. Além disso, o

desenvolvimento da comunicação na sociedade favoreceu a prática do uso de rádio e TV por

estas igrejas.

A terceira onda pentecostal teve início já no final da década de 1970 e início da década de

1980, tendo como principais representantes às Igrejas Universal do Reino de Deus (1977) e

Internacional da Graça de Deus (1980). “Estas igrejas inovaram em aspectos relacionados a

teologia, liturgia, ética e no comportamento de se vestir”. (FRESTON, 1996). Este período ocorre

numa fase de modernização da comunicação e urbanização no país, e com a chamada “década

perdida” de 1980, período de forte decadência econômica e social no País.

Percebemos que a conjuntura social no momento do desenvolvimento de instalação destas

Igrejas Pentecostais no Brasil serviu como estratégia de crescimento para as mesmas que

souberam aproveitá-las para promover o seu desenvolvimento.

Ainda seguindo o mesmo critério histórico-institucional, Ricardo Mariano (1999)

apresenta também uma classificação semelhante à Freston e divide o Pentecostalismo no Brasil

em três grupos assim definidos:

Denominações Tradicionais: Surgiram no início do século XX com a instalação das

igrejas pioneiras: Congregação Cristã do Brasil e Assembléia de Deus.

Denominações Deuteropentecostais: Surgiram durantes as décadas de 1950-1960.

Enfocam a crença na presença do Espírito Santo e a vida do crente através de sinais,

denominados por estes como dons do Espírito Santo, tais como falar em línguas estranhas

(glossolalia), curas, milagres, visões etc.

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Denominações Neopentecostais: surgiram no final da década de 1970 e início de 1980,

congregando denominações oriundas do avanço das Igrejas Pentecostais, ou mesmo das

cristãs tradicionais. Não configuram uma categoria homogênea possuindo muita

variedade nesse meio. Algumas possuem aceitação de músicas de vários estilos.

O primeiro grupo, o Pentecostalismo Clássico ou Tradicional abrange as igrejas

pioneiras: Congregação Cristã no Brasil e Assembléia de Deus. De início este grupo era formado

por pessoas pobres e de pouco escolaridade, além de serem discriminadas pelos próprios

protestantes históricos e pela Igreja Católica. (MARIANO, 1999).

Ao instalar-se no Brasil em 1910 e 1911, respectivamente, a Congregação Cristã e a

Assembléia de Deus, na condição de grupos religiosos minoritários encontraram um terreno

“hostil” a suas práticas religiosas. A Congregação Cristã é a mais radical, se apegando mais ao

sectarismo e se afastando de outras igrejas. A Assembléia de Deus mostrou apresenta uma maior

disposição para adaptação às mudanças em curso no Pentecostalismo e na sociedade brasileira.

Em relação ao plano teológico, ambas enfatizam a glossolalia, seguindo a ênfase doutrinária

primitiva dessa religião.

O segundo grupo é designado como Deuteropentecostalismo, movimento pentecostal da

segunda geração que surgiu na década de 1950 e início de 1960, quando dois missionários norte-

americanos criaram em São Paulo a Cruzada Nacional de Evangelização. Por meio dela,

iniciaram o evangelismo focado na pregação da cura divina, que atraiu multidões à capital

paulista e acelerou a expansão do Pentecostalismo brasileiro. No rastro de suas atividades de

evangelização, destacam-se também as igrejas: Casa da Bênção, Presbiteriana Renovada, O

Brasil para Cristo, Deus é Amor e a Igreja do Evangelho Quadrangular.

O que distingue o primeiro grupo do segundo está relacionado à ênfase em que cada um

concede aos dons do Espírito Santo, enquanto o primeiro destaca o dom de falar em línguas

estranhas (glossolalia), o segundo enfatiza o dom da cura divina. Em relação à questão teológica,

os dois grupos aparentemente não apresentam diferenças entre si. (MARIANO, 1999).

O terceiro grupo corresponde ao Neopentecostalismo, que teve início na segunda metade

dos anos de 1970 e início da década de 1980, mas que cresceu, ganhou visibilidade e se

fortaleceu no decorrer das décadas seguintes. A Igreja Universal do Reino de Deus (1977), a

Internacional da Graça de Deus (1980), ambas do Rio de Janeiro, a Comunidade Evangélica Sara

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Nossa Terra (1976) em Goiás e a Renascer em Cristo (1986) em São Paulo, fundadas por pastores

brasileiros, constituem as principais Igrejas Neopentecostais do País.

Este grupo possui como estratégia teológica a guerra espiritual contra o Diabo e seus

representantes na terra. Além disso, prega que o cristão deve ser próspero e vitorioso em seus

empreendimentos, como difundido pela Teologia da Prosperidade.

Do ponto de vista comportamental, o Neopentecostalismo é o mais liberal dos grupos,

introduzindo importantes mudanças no modo de se portar e de se apresentar dos crentes em

relação aos padrões tradicionais. Tais mudanças foram discutidas por Ricardo Mariano (2004):

“A estética neopentecostal acompanha até certo ponto, os hábitos da sociedade como

um todo, transformando assim, a imagem e o aspecto exterior dos crentes. Embora tais

alterações ocorram em graus diferenciados segundo as igrejas, pode-se afirmar que este

segmento religioso inovou em relação à liberalização dos tradicionais usos e costumes

de santidade pentecostal”. (MARIANO, 2004).

É importante destacar, que apesar da década de 1970 servir de marco para o início da era

Neopentecostal, nem todas as Igrejas que surgiram daí em diante também o sejam. Para ser

enquadrada e classificada na condição de neopentecostal; ela deve apresentar características

teológicas e filosóficas inerentes a essa vertente.

“... quanto menos sectária e ascética e quanto mais liberal e tendente a investir em

atividades extra-igreja (empresariais, políticas, culturais, assistenciais) sobretudo

naquelas tradicionalmente rejeitadas ou reprovadas pelo Pentecostalismo Clássico, mais

próxima tal hipotética igreja estará do espírito, do ethos e do modo de ser das

componentes da vertente Neopentecostal.” (MARIANO,1999).

As estratégias de evangelização das Igrejas Neopentecostais são as mais inclinadas à

adaptação na sociedade, devido aos seus valores, interesses e práticas. Seus cultos estão centrados

em promessas de concessão divina de prosperidade material, cura física e emocional e de

resolução de problemas familiares, afetivos, amorosos e de sociabilidade. Com este tipo de

evangelização atraem e convertem indivíduos dos estratos pobres da população, muitos deles

carentes e em crise pessoal, geralmente mais vulnerável a esse tipo de prática.

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Sobre o Neopentecostalismo, Oro (1996) destaca:

“O fenômeno Pentecostal, na sua terceira fase, caracteriza-se por não ter ligação com

matrizes externas e ser impulsionado por lideranças fortes e carismáticas, constituindo

hoje o maior concorrente da Igreja Católica, uma vez que partes significativas dos

novos crentes derivam de suas fileiras. É o Pentecostalismo de líderes, liberal, de cura

divina, eletrônico e empresarial”. (ORO, 1996).

Esse pentecostalismo de lideranças fortes, não é exclusivo das Igrejas Neopentecostais,

pois como afirma Mariano (2004), algumas denominações Deuteropentecostais apresentam

também lideranças influentes como por exemplo a Igreja Pentecostal Deus é Amor, cujo líder é o

pastor David Miranda. Igrejas Neopentecostais como Universal do Reino de Deus e Internacional

da Graça de Deus possuem líderes carismáticos como Edir Macedo e Romildo Ribeiro Soares,

respectivamente. O controle doutrinário e administrativo financeiro é bastante acentuado nestas

igrejas, além de se dedicarem à expansão de suas igrejas no Brasil e no exterior.

Oro (1996) destaca características importantes dentro da “segunda onda” pentecostal ou

Deuteropentecostalismo: é o pentecostalismo dos desfavorecidos, exclusivista e de forte presença

emocional e ideológica.

A maior parte dos fiéis que freqüentam as igrejas de origem Pentecostal, com exceção dos

tradicionais que possuem um perfil socioeconômico superior aos demais, apresentam um baixo

poder aquisitivo. Isto é nítido, frente ao número de templos pentecostais construídos nas

periferias das cidades, bairros populosos, próximos de rodoviárias e paradas de ônibus. (ORO,

1996 apud RODRIGUES, 2003).

Outro aspecto importante se relaciona ao fato que boa parte dos pentecostais brasileiros

são pessoas que inicialmente haviam se estabelecido no campo e que posteriormente migraram

para as cidades, sustentando assim, os valores “tradicionais” em relação à moral e a religião.

Assim, o público alvo do discurso pentecostal, na maioria das vezes, é a população de baixa

renda e os desfavorecidos. (PRANDI e PIERUCCI, 2000).

Estas igrejas possuem também pouca tolerância religiosa e ecumênica, portanto, como

sugere Oro (1996), “ditam-se exclusivas para a solução dos problemas que afligem os fiéis

conduzindo ao caminho da salvação”. É o chamado pentecostalismo exclusivista. Desenvolvem

pouco diálogo com outras igrejas cristãs e coordenam uma espécie de “guerra santa” contra as

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religiões afro-brasileiras, consideradas por eles como as responsáveis pelos males que afligem as

pessoas e a sociedade em geral.

Em relação ao caráter emocional, as Igrejas Pentecostais se caracterizam pela

manifestação espontânea de seus fiéis durante o culto, seja na forma de louvores, orações, hinos

etc., fazendo com que muitos fiéis entrem em estado de semi-transe e desmaios.

Esta manisfestação espontânea é explicada por Oro (1996). “A glossolalia, ato de falar em

línguas estranhas é um dos maiores momentos de fervor emocional por parte dos fiéis durante a

louvação”. Muita das vezes, a comunicação é feita através de gestos ou expressões verbais pelos

pastores. Este fervor é que caracteriza os cultos das Igrejas Pentecostais criando um ambiente de

fraternidade entre os “irmãos”.

A solução para os anseios cotidianos por parte dos fiéis é dada por vias espirituais e não

sociais pelos pastores, na medida em que os mesmos identificam os dilemas sociais, econômicos

e espirituais de cada um. Esta outra característica do universo pentecostal é definida como

pentecostalismo ideológico.

Segundo seus líderes, boa parte destes problemas e mazelas sociais é decorrente de

entidades religiosas, principalmente das religiões afro-brasileiras. Nesse sentido, o foco gerador

dos problemas sociais direciona-se para o âmbito espiritual e do campo da sociedade para o

indivíduo, que não questionam as causas histórico-sociais de suas aflições, acreditando que os

problemas possam ter uma solução espiritual e não de engajamento social. (ORO, 1996).

Oro (1996) também apresenta uma característica própria a respeito das Igrejas

Neopentecostais, e provavelmente a mais polêmica. Estas igrejas apresentam um modelo

empresarial administrativo hierárquico, que visa sempre ampliar a sua área de atuação e

patrimônio, através de uma relação concorrencial com outras igrejas. Segundo o autor, são as

igrejas do “marketing religioso”.

O crescimento do patrimônio destas igrejas pode seguir diferentes práticas para a

manutenção de seus projetos religiosos, dentres eles, a entrega do dízimo, pedidos para diferentes

despesas e promessas de melhores dias mediante uma maior entrega por parte dos fiéis. Toda esta

estratégia de evangelização é explicada pela influência da Teoria da Prosperidade. (ORO, 1996).

O dízimo, neste caso, assume um papel principal como prova de fé. Em algumas igrejas a

entrega do dízimo é condição para o fiel ter uma vida abundante e reconstruir uma sociedade com

Deus. Além disso, muitas igrejas incentivam seus fiéis a trabalharem por conta própria, sendo

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prósperos, astutos e com seu negócio próprio a fim de enriquecerem. As igrejas possuem cultos e

correntes voltados exclusivamente para este público, visando sua prosperidade.

Ao mesmo tempo em que o movimento pentecostal apresenta diversas ramificações,

fragmentações, Antoniazzi (2002) concentrou o mesmo em cinco grandes Igrejas, como

observado na tabela:

Tabela 7: Principais Igrejas do movimento pentecostal brasileiro – 2000

Igrejas

Assembléia de Deus

Congregação Cristã do Brasil

Igreja Universal do Reino de Deus

Evangelho Quadrangular

Deus é Amor

Outras igrejas

Total

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2000

17.975.106 100,00

%

774.827 4,4

2.872.350 14,8

2.101.884 11,9

1.318.812 7,4

8.418.154 47,5

2.489.079 14,0

Total de fiéis

A tabela 7 demonstra que cerca de 85% de pouco mais de 17,9 milhões de Pentecostais

estão concentrados em cinco grandes igrejas, os demais 15% estão dispostos em centenas de

igrejas médias, pequenas ou minúsculas.

Segundo Antoniazzi (2004), a Igreja Assembléia de Deus se faz presente nas regiões

Norte e Centro-Oeste do País, com uma forte presença também nas áreas metropolitanas.

Organizadas em pequenos grupos, tais igrejas se distribuem rapidamente. Apresentam

publicações próprias e procuram dar mais formação a seus pastores, além de fazerem amplamente

uso do rádio como meio de comunicação.

Na mesma época e com a mesma origem na experiência pentecostal dos EUA (Los

Angeles e Chicago), por iniciativa do missionário italiano Louis Francescon, a Igreja

Congregação Cristã se firma no Brasil. Com uma criação bastante original, diferente da

Assembléia de Deus, conserva forte unidade na doutrina e guarda costumes rurais, não dando

autonomia às comunidades locais.

A Igreja Congregação Cristã se faz ainda muito presente em suas áreas de origem, ou seja,

São Paulo e Paraná, expandindo-se também no Mato Grosso do Sul, em direção a Minas Gerais e

em Goiás, até a Bahia e Rondônia. A Congregação Cristã, ao contrário da Assembléia de Deus,

não faz uso propriamente dos meios de comunicação, e sim do convite pessoal e uso da Bíblia.

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Ambas as igrejas surgiram no início do séc. XX, sendo as igrejas pioneiras do movimento

pentecostal no Brasil.

A Igreja do Evangelho Quadrangular firmou-se no Brasil em 1953, instalando-se em

grandes capitais como Belo Horizonte e Curitiba, além de áreas do Estado de São Paulo, Paraná e

Rio Grande do Sul. Constituiu a transição entre o Pentecostalismo Tradicional e o

Neopentecostal. Exerceu ainda grande importância entre as Igrejas Pentecostais, ao desenvolver à

pregação em massa, até então pouco presente. (ANTONIAZZI, 2004).

A Igreja Deus é Amor, criada em 1962 em São Paulo pelo pastor David Miranda é o

exemplo da Igreja da “cura divina”. Além de não fazerem grandes exigências aos fiéis que se

sentem atraídos com a promessa de curas e milagres, esta igreja visa expandir-se por meio de sua

rede de estações radiofônicas. É grande a presença destas igrejas no Sudeste do País. Tanto a

Igreja do Evangelho Quadrangular, quanto a Igreja Deus é Amor fazem parte do movimento

pentecostal da segunda geração que surgiu na década de 1950.

A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) é pertencente ao grupo das Igrejas

Pentecostais surgidas à partir da segunda metade da década de 1970, também conhecidas como

Neopentecostais. Fundada pelo bispo Edir Macedo em 1977 no Rio de Janeiro, esta igreja

espalhou-se nas grandes cidades como um verdadeiro movimento inovador no campo religioso

nacional, possuindo uma organização centralizada, do tipo empresarial e apostando muito nos

meios de comunicação social.

A Igreja Universal é a mais distante do Protestantismo, tanto histórico, quanto

pentecostal, reinterpretando práticas religiosas populares, inclusive de cultos afro-brasileiros.

Atualmente, é a detentora e administradora da rede de TV Record.

Segundo Freston (1996), centenas de “ministérios independentes” surgem anualmente no

Brasil paralelas as grandes denominações pentecostais. Muitas Igrejas Tradicionais

experimentaram movimentos internos, com manifestações pentecostais. Assim, foram

denominadas “Renovadas”, como a Igreja Presbiteriana Renovada (originária da IPB),

Convenção Batista Nacional (originária da CBB), Igreja do Avivamento Bíblico (originária da

IMB), Igreja Cristã Maranata (originária também da IPB) e a Igreja Adventista da Promessa

(originária da IASD).

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3.3.1 – DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DO PENTECOSTALISMO BRASILEIRO

Como explanado, vimos que as características e as abordagens utilizadas pelas Igrejas

Pentecostais, de alguma forma, facilitaram a implantação destas Igrejas em diferentes regiões do

País.

Os números expressam bem a distribuição dos Pentecostais nas diversas regiões do País

ao longo de um período de 30 anos, como as relações da diversidade religiosa e fatores tempo e

espaço envolventes nesse processo, em especial após a década de 1980.

O mapa 10 demonstra a distribuição espacial dos Pentecostais no País em 2000. Boa parte

desta população religiosa pentecostal, distribuída principalmente nas Regiões Norte e Centro-

Oeste, se fez mediante as frentes migratórias de ocupação da Amazônia e de regiões centrais do

País nos anos 80 e 90. Nessas regiões, o crescimento de Pentecostais é bastante expressivo.

A distribuição pentecostal na Região Nordeste assemelha-se quando comparada com o

mapa geral da distribuição dos protestantes no Brasil em 2000, analisado anteriormente. A

Região Nordeste que apresenta grandes vazios em relação aos adeptos do Protestantismo, em

relação aos Pentecostais este crescimento é bastante intenso, principalmente no centro-oeste do

Maranhão, litoral pernambucano, na capital Recife, nordeste de Alagoas e no sul da Bahia.

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A força de um Catolicismo mais apegado às tradições religiosas na Região Nordeste fez

com que a mesma apresentasse um menor crescimento pentecostal quando comparada as demais

regiões. Os locais onde existe este Catolicismo enraizado aos meios populares geram uma forte

sacralização do espaço, decorrentes sobretudo das festas populares e grupos folclóricos religiosos

como Moçambiques, Folias-de-Reis e Congadas, grupos de violeiros e vendedores de artigos

Mapa 10: Percentual de Protestantes Pentecostais por município: Brasil - 2000

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religiosos. Além disso, este Catolicismo conta com a forte presença de personagens do clero

popular, como por exemplo, Padre Cícero e Frei Damião. (TEIXEIRA, 2005).

Os dados dos gráficos 4 e 5 nos permitem confrontar as informações apresentadas no

mapa 10 e favorece uma análise comparativa entre o crescimento dos protestantes pentecostais e

o enfraquecimento dos católicos, por regiões brasileiras durante o período de 1970 a 2000.

0

20

40

60

80

100

Brasil (média)

Centro Oeste

Nordeste Norte Sudeste Sul

1970 1980 1991 2000

Fonte: IBGE: Censo Demográfico 1970 a 2000.

0

5

10

15

20

Brasil (média)

Centro Oeste

Nordeste Norte Sudeste Sul

%

1970 1980 1991 2000

Fonte: IBGE: Censo Demográfico 1970 a 2000.

Gráfico 4: Distribuição Protestante Pentecostal por regiões do Brasil

1970 a 2000

Gráfico 5: Distribuição Católica por regiões do Brasil: 1970 a 2000

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94

Constata-se que o crescimento dos pentecostais nas Regiões Norte e Centro-Oeste do

Brasil, além de serem decorrentes de frentes pioneiras migratórias de ocupação nas décadas de

1980 e 1990, foi favorecido também em grande parte ao declínio do Catolicismo nestas mesmas

regiões. Os dados mostram que o Norte e o Centro-Oeste do País apresentaram um percentual de

católicos de 85,6% e 86,2%, respectivamente, em 1980. Em 1991, estas mesmas regiões

apresentaram uma redução de 4,6% e 4,5% respectivamente.

Ainda em relação à Região Nordeste, apesar dos pentecostais serem minoria, os católicos

diminuíram gradativamente ao longo das décadas. Em 1970 os católicos nordestinos

apresentavam um percentual de 94,4%. Em compensação em 2000 este percentual já era de

78,9%; uma redução de 15,5% no período. Um decréscimo de quase 15% também é registrado na

Região Sul do Brasil.

Além disso, os dados demonstram que a Região Sudeste do Brasil apresentou um

crescimento de pentecostais de 12% de 1970 a 2000. As principais regiões metropolitanas são as

grandes receptoras deste contingente religioso. Os grandes centros urbano-industriais são áreas

susceptíveis a atração de grupos religiosos na sua grande maioria de origem rural a procura de

melhores respostas para os dilemas socioeconômicos e espirituais que os afligem. (JACOB,

2006).

O IBGE (2000) afirma que dos 17,9 milhões de Pentecostais no Brasil, 3,3 milhões

(18,4%) de fiéis encontram-se nas duas maiores cidades do País e da Região Sudeste: São Paulo e

Rio de Janeiro.

Contudo, se os dados revelados pelos Censos realizados no Brasil demonstram claramente

o crescimento significativo dos protestantes de origem pentecostal ao longo das décadas, o

contrário pode ser observado em relação ao Catolicismo.

Segundo Teixeira (2005), o enfraquecimento do Catolicismo ou mesmo o declínio do

praticante católico decorre dentre outros motivos à falta de aparato por parte da Igreja Católica e

o crescimento de outros credos que incorporam cada vez mais adeptos, principalmente o

Protestantismo. Sobre esta questão Teixeira (2005) argumenta:

“O Catolicismo brasileiro, seja ele na sua mais diversa forma de representação foi

durante muito tempo um catolicismo de “muita reza e pouca missa, muito santo e pouco

padre”. O Catolicismo é tido hoje como “doador universal”, na medida em que se

tornou o principal celeiro, no qual, outros credos arregimentam adeptos”.

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95

Ainda apresentando maioria de sua população de católicos, Minas Gerais começa a dar

sinais de declínio desta mesma população, decorrente em grande parte do crescimento de

protestantes no Estado. Os possíveis fatores que controlam este processo serão abordados no

capítulo seguinte.

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4 – A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS CRISTÃOS EM MINAS GERAIS

Os sub-tópicos seguintes apresentam um panorama da distribuição espacial dos cristãos

no Estado de Minas Gerais. O novo cenário religioso revela um processo de expansão bastante

acentuado do Protestantismo Pentecostal, em detrimento dos seguidores do Catolicismo,

principalmente a partir das duas últimas décadas do século XX.

Além disso, esse capítulo versa também sobre a evolução da expansão pentecostal em

Minas Gerais, através de mapeamentos comparativos entre o número e o percentual de religiosos

Protestantes (Tradicionais e Pentecostais) observados no Estado, e consequentemente, a taxa de

crescimento dos mesmos no período correspondente aos intervalos dos Censos Demográficos de

1991 e 2000.

Uma análise exploratória acerca dos dados sobre migração dos mesmos em Minas Gerais

será mostrada para identificar se tal expansão está relacionada à imigração ou mesmo conversão

destes fiéis.

4.1 – O CENÁRIO RELIGIOSO CATÓLICO EM MINAS GERAIS: 1991 - 2000

Vimos que a diversidade religiosa é uma realidade em todo o Brasil, e em Minas Gerais

não poderia ser diferente. Tradicionalmente católico desde o período colonial, o Estado de Minas

Gerais vem apresentando ao longo das décadas um crescimento bastante expressivo de

seguidores do Protestantismo. Seguindo um sentido inverso, o Catolicismo vem sofrendo um

enfraquecimento cada vez mais acentuado em muitas regiões do Estado que outrora possuía uma

população maciçamente católica.

Sendo assim, os dados dos Censos Demográficos demonstraram que o enfraquecimento

do Catolicismo está associado dentre outros fatores ao crescimento do Protestantismo,

principalmente o de origem pentecostal em algumas regiões mineiras, manifestando uma

diversidade e uma pluralidade religiosa nas duas últimas décadas do século XX em Minas Gerais.

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Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991.

Mapa 11 – População Católica, por município em Minas Gerais: 1991

Mapa 12 – Percentual de católicos, por município em Minas Gerais: 1991

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Mapa 13 – População Católica, por município em Minas Gerais: 2000

Mapa 14 – Percentual de católicos, por município em Minas Gerais: 2000

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2000.

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99

Os mapas anteriores permitem expressar o cenário religioso católico em Minas Gerais e

confirmam as tendências feitas por Antoniazzi (2004), onde se observa uma considerável redução

do Catolicismo no período de 1991 a 2000, principalmente nas mesorregiões Metropolitana de

Belo Horizonte e do Vale do Rio Doce.

Este declínio torna-se evidente quando analisamos os mapas 12 e 14 do percentual de

católicos entre 1991 e 2000. As mesorregiões do Triângulo Mineiro e da Zona da Mata também

apresentaram vazios populacionais de católicos em comparação com as demais.

Minas Gerais é um Estado que pelo Censo Demográfico de 2000 mostrou-se

majoritariamente católico (78,8%), acompanhando o comportamento do Nordeste: uma forte

presença do Catolicismo tradicional e popular das festas, procissões e romarias. A presença

católica em Minas Gerais foi próxima à média nacional. No entanto, a Região Metropolitana

apresentou uma redução da população católica no período de 1991 e 2000.

A capital Belo Horizonte, por exemplo, passou de 1.625.696 para 1.447.073 de católicos.

Em termos absolutos, a redução aparentemente é pequena, mas ao analisarmos em termos

percentuais, as cifras são consideráveis, passando de 80,5% em 1991 para 68,9% em 2000. Um

défcit de -11,6% no período.

Em relação aos municípios limítrofes à capital mineira, com exceção de Nova Lima e

Brumadinho que apresentaram uma redução respectivamente de -11,4% e -10,1%, os demais

municípios apresentaram índices com reduções bem superiores: Ibirité, de 79,3% para 61,5%;

Ribeirão das Neves, de 77,7% para 62,9%; Vespasiano, de 79,4% para 64,4%; Santa Luzia, de

80,3% para 64,6%; Sabará, de 78,9% para 65,4% e Contagem, de 79,1% para 66,7%.

As reduções na porcentagem de católicos confirmam outra vez as proposições feitas por

Antoniazzi (2004), que afirma que a redução do Catolicismo deve-se, dentre outros fatores, ao

considerável crescimento de Protestantes, principalmente de Pentecostais na Região

Metropolitana de Belo Horizonte e nos municípios limítrofes a capital mineira.

O mapa 14 do percentual de católicos em 2000 permite identificar que a Região

Metropolitana de Belo Horizonte apresentou cifras inferiores de católicos, oscilando entre 38% a

70%, em detrimento de 1991, que teve uma oscilação de 69% a 82%; uma redução média de 25%

no período. O mesmo pode ser constatado nas Regiões do Triângulo Mineiro e do Vale do Rio

Doce.

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100

Segundo Jacob e Hees (2003), a formação de “anéis concêntricos”, presentes nas

principais regiões metropolitanas do País, como São Paulo e Rio de Janeiro, é evidenciada

também na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Nos mapas que apresentam o percentual de católicos de 1991 a 2000 é nítido o

decréscimo dos mesmos, visto a formação de um anel ao redor de Belo Horizonte, definido pelos

mesmos autores como “Anel Pentecostal”19

. A formação deste anel pentecostal é ainda mais claro

quando analisamos a proporção de católicos em 2000 (Mapa 14). A redução de católicos em

alguns municípios da RMBH é simbolizada por cores mais claras que a do seu entorno, formando

uma espécie de anel circunscrito.

O Catolicismo foi a religião que mais perdeu fiéis nas últimas décadas em Minas Gerais.

Em 1991, o Estado registrava 13.734.273 (87,2%) de católicos. Em 2000 eles somavam

14.152.136 (78,8%), um déficit de -8,4%. Em praticamente dez anos os católicos tiveram uma

taxa de crescimento de apenas 2,9%.

Segundo Almeida (2001), mantida esta tendência, muito provavelmente a geração que se

encontra entre 26 e 40 anos de idade produzirá, em alguns anos, uma população ainda menos

católica, devido ao crescimento vegetativo de outras religiões, dentre elas as protestantes, além da

sua capacidade de atração de novos adeptos.

Contudo, a taxa de crescimento de católicos no Estado entre 1991 e 2000 demonstra que

algumas microrregiões apresentaram crescimentos expressivos, principalmente o norte de Minas

Gerais, em grande parte influenciada pela Região Nordeste do País, onde a maioria dos Estados

que a compõem apresentam uma média de católicos bem superiores à média nacional.

Baseando-se em dados qualitativos, Almeida (2001) argumenta que tal crescimento deve-

se ao fato de muitas pessoas possuírem outras práticas religiosas, mas identificarem-se como

“católico apostólico romano” quando indagadas sobre qual a religião professada. Principalmente

entre as camadas mais pobres e menos escolarizadas.

Nesse caso, a religião assume uma identidade pública, visto que a crença católica passa a

ocupar um papel secundário em virtude de outras práticas exercidas pelo fiel como o candomblé,

a umbanda, o espiritismo, ou mesmo o protestantismo pentecostal.

19

JACOB, Romero; HEES, Dora Rodrigues (et. al). Atlas da filiação religiosa e indicadores sociais no Brasil.

Editora PUC Rio, 2003.

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101

Em relação às taxas de crescimento20

, a escolha por se trabalhar com a unidade de análise

de microrregiões nesse caso, deve-se ao fato da mesma agregar os dados municipais, visto que,

seus limites se mantêm praticamente inalterados, a despeito da dinâmica de emancipação dos

municípios de 1991 a 2000.

Algumas microrregiões de Minas Gerais apresentaram taxas de crescimento expressivas

para o Catolicismo: Uberaba e Araxá na Região do Triângulo Mineiro; Três Marias no Centro do

Estado; a microrregião de Conceição do Mato Dentro na Metropolitana de Belo Horizonte;

Guanhães e Mantena no Vale do Rio Doce; Manhuaçu, Muriaé e Viçosa na Zona da Mata;

Itajubá, Poços de Caldas, Alfenas e Santa Rita do Sapucaí no Sul e Sudoeste de Minas Gerais.

20

Taxa de Crescimento Anual = (Pop.2000- Pop.1991) / Pop.2000 x 100.

Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 1991 e 2000.

Mapa 15 – Taxa de Crescimento de Católicos, por microrregião:

Minas Gerais – 1991/ 2000

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Em contrapartida, as microrregiões que apresentaram as menores taxas de crescimento

quando comparadas com o restante do Estado foram: Bocaiúva, no Norte de Minas, sendo a

exceção, com apenas 48,9% e Andrelândia no Sul/Sudoeste de Minas de Gerais com 66,3%.

Observa-se um Catolicismo enfraquecido também nas microrregiões de Uberlândia no

Triângulo Mineiro; Campo Belo e Oliveira no Oeste de Minas; São João Del Rei, Lavras e

Barbacena no Campo das Vertentes; Juiz de Fora e Cataguases na Zona da Mata; Varginha no

Sul/Sudoeste do Estado; Conselheiro Lafaiete e Ouro Preto na mesorregião Metropolitana de

Belo Horizonte.

Almeida (2001) ainda argumenta que o enfraquecimento do Catolicismo, além da já citada

identidade religiosa pública, outros fatores podem está associados, dentre eles, os chamados

“católicos nominais”, categoria sociologicamente pouco precisa, mas com uma auto-identificação

significativa que compõe uma parcela importante do segmento. Estes católicos apesar de

batizarem seus filhos na Igreja e possuir uma identidade religiosa, não possuem o hábito de

frequentarem a igreja.

Além destes fatores soma-se o fato de muito dos preceitos tradicionais da Igreja Católica

não estarem de comum acordo com alguns temas abordados pela sociedade contemporânea, como

aborto, homosexualismo, celibato, etc. Outro fato estaria associado ao forte crescimento dos

protestantes, principalmente de origem pentecostal.

4.2 – O CENÁRIO RELIGIOSO PROTESTANTE EM MINAS GERAIS: 1991 – 2000

Como exposto anteriormente, alguns fatores estão associados ao enfraquecimento do

Catolicismo, não só em Minas Gerais, mas em todo o Brasil. Um deles está relacionado ao

expressivo crescimento de grupos religiosos reformadores tradicionais e pentecostais, sendo este

último, o grande responsável pelo dinamismo das chamadas Igrejas Protestantes.

Os dados demonstram um crescimento considerável do campo religioso protestante,

principalmente o de vertente pentecostal nas duas últimas décadas do século XX, quando

comparado à diminuição no número de católicos romanos. Em um País onde a maioria de sua

população é católica, os pentecostais despontam como grupo religioso de maior concorrência.

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Os mapas seguintes demonstram o crescimento dos protestantes em algumas regiões do

Estado de Minas Gerais. Um acentuado crescimento é notado na Mesorregião Metropolitana de

Belo Horizonte e na Mesorregião do Vale do Rio Doce. Esta última, limítrofe ao Estado do

Espírito Santo, sugerindo um crescimento originado deste Estado.

Aliás, como explanado anteriormente, o Espírito Santo juntamente com o Rio de Janeiro

são os Estados com maior diversidade religiosa no País, apresentando um grande número de

protestantes e dos que se dizem não professar nenhuma religião.

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Mapa 16 - População Protestante, por município: Espírito Santo,

Minas Gerais e Rio de Janeiro: 1991

Mapa 17 - Percentual de Protestantes por município: Espírito Santo,

Minas Gerais e Rio de Janeiro – 1991

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991.

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Mapa 18 - População Protestante, por município: Espírito Santo,

Minas Gerais e Rio de Janeiro: 2000

Mapa 19 - Proporção de Protestantes por município: Espírito Santo,

Minas Gerais e Rio de Janeiro – 2000

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2000

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O crescimento fica nítido quando analisamos os mapas da proporção de protestantes no

período em análise. É interessante perceber que o referente crescimento em direção a

Mesorregião do Vale do Rio Doce se faz às margens da rodovia federal BR-381 no sentido

Espírito Santo – Minas Gerais.

Um crescimento acentuado se faz também na Região do Vale do Aço, onde Ipatinga

possuía 16,1% de protestantes em 1991, passando para 23,7% em 2000. Já o município de

Governador Valadares apresentava um percentual de 11,9% em 1991, passando para 14,8% de

protestantes em 2000. Coronel Fabriciano é outra cidade do Vale do Aço que obteve um

crescimento expressivo, em 1991 possuía 13,2%, enquanto no ano 2000 já configurava em

23,3%, um crescimento de mais de 10% no período.

Em relação à taxa de crescimento dos protestantes por microrregião no período de 1991 e

2000, o mapa 20 demonstra que regiões, até então desprovidas destes religiosos registraram

Mapa 20 – Taxa de Crescimento dos Protestantes, por microrregião: Espírito Santo,

Minas Gerais e Rio de Janeiro: 1991/ 2000

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991 e 2000

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Fonte: Censo Demográfico: 1991 e 2000 - IBGE

crescimentos bastante expressivos. As microrregiões de Peçanha, Campo Belo, Nanuque,

Barbacena, Almenara, Conceição do Mato Dentro, Sete Lagoas, Juiz de Fora, Araçuaí, Patos de

Minas, Curvelo, Oliveira, Guanhães, Pedra Azul, Divinópolis, Conselheiro Lafaiete, São João

Del Rei, Diamantina e Ouro Preto obtiveram taxas de crescimento superiores a 48%.

Tabela 8: População religiosa em Minas Gerais: 1991/2000

Censo Total % Total % Total %

1991 13.734.273 87,2 842.988 5,4 376.368 2,4

2000 14.152.136 79,1 1.651.891 9,2 664.592 3,7

Tx. Cresc. (%)

Católicos

2,95 49,0 43,4

Protestantes Pentecostais Protestantes Tradicionais

A tabela 8 demonstra as estatísticas da diversidade religiosa em Minas Gerais. Apesar de

o Catolicismo apresentar um pequeno crescimento de 2,95% entre 1991 e 2000, os católicos

continuam sendo a maioria da população religiosa em Minas Gerais, apresentando em 2000 um

pouco mais de 14 milhões (78,8%) da população religiosa.

Em compensação, o IBGE cita que o Estado de Minas Gerais registrava uma população

religiosa de protestantes pentecostais, em 1991, de 842.988 fiéis para uma população total em

torno de 15.743.152 habitantes. Em 2000, já eram registrados 1.651.891 pentecostais para uma

população total de 17.891.494 de habitantes. Uma taxa de crescimento de 49% no período. Os

protestantes tradicionais tiveram um crescimento um pouco menor que os pentecostais, mas

expressivo, registrando 43,4% no período.

Apesar do déficit de -8,4% de católicos no período de 1991 a 2000, tais perdas não

confirmam a expectativa de um enorme processo de secularização ou de abandono do

Cristianismo, mas um restabelecimento no interior do campo religioso.

Os próximos mapas poderão esclarecer melhor as estatísticas levantadas sobre o universo

religioso protestante em Minas Gerais.

87,2 78,8

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Mapa 21 – População Pentecostal, por município em Minas Gerais: 1991

Mapa 22 – Percentual de Pentecostais, por município em Minas Gerais: 1991

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991.

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Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000

IBGE

Mapa 24 – Percentual de Pentecostais, por município em Minas Gerais: 2000

Mapa 23 – População Pentecostal, por município em Minas Gerais: 2000

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A capital Belo Horizonte apresentava em 1991, em números absolutos uma população

protestante pentecostal de 123.092 adeptos. Já em 2000 os pentecostais já registravam 234.373

seguidores. Em termos percentuais eles passaram de 6,09% para 10,5%. A mesma situação ocorre

para os municípios da RMBH, principalmente os limítrofes à capital. Nova Lima e Brumadinho,

por exemplo, apesar de apresentar uma população pentecostal relativamente pequena, em termos

percentuais tiveram suas cifras mais que dobradas. Em 1991, os dois municípios registraram

respectivamente uma população pentecostal de 2.962 (6,0%) e 729 (4,0%) respectivamente. Já

em 2000 os dois municípios registraram 8.250 (12,8%) e 2.291 (8,6%) respectivamente.

Os demais municípios da RMBH também apresentaram crescimentos expressivos em

menos de 10 anos. Ibirité passou de 12,05% em 1991, para 21,4% em 2000; Ribeirão das Neves,

de 10,5% para 18,01%; Vespasiano, de 9,5% para 16,7%; Santa Luzia, de 10,8% para 17%;

Sabará, de 8,7% para 15,2% e Contagem, de 8,8% para 15,05% no mesmo período.

Alguns municípios consideravelmente católicos, apresentaram também um aumento de

pentecostais no mesmo período. Com exceção de Ouro Preto, que teve um pequeno crescimento

de 0,62% entre 1991 e 2000, outros municípios como Mariana, Congonhas e Tiradentes, mais

que triplicaram no mesmo período.

A análise dos mapas no período de 1991 a 2000 nos permite aferir que os Protestantes

Pentecostais tiveram um importante crescimento no Triângulo Mineiro, com Uberlândia passando

de 6,9% em 1991 para 12% em 2000; Frutal com 6,9% em 1991 para 10,2% em 2000 e Itapagipe

com 7,15% em 1991 para 10,3% em 2000. O município de Araguari cresceu mais de 5,0% o

número de fiéis pentecostais, passando de 4,7% em 1991 para 10,1% em 2000.

No Norte e Oeste de Minas Gerais, municípios como Montes Claros e Mirabela tiveram

um crescimento de religiosos em torno de 2,6% e 3,6% respectivamente. Ainda no Oeste mineiro,

Formiga passou de 2,7% em 1991 para 4,1% em 2000 e Divinópolis, de 2,7% em 1991 para 5,6%

em 2000. Já Campo Belo quase triplicou o crescimento, passando de 3,7% em 1991 para 12,1%

em 2000.

Ao compararmos os números absolutos com os percentuais, ambos para o período de

1991 a 2000, percebemos um crescimento mais nítido neste último, principalmente na Região

Metropoliana de Belo Horizonte e no Vale do Rio Doce. Aliás, os municípios que apresentaram

os maiores percentuais na RMBH em 1991 foram Ibirité, Santa Luzia e Ribeirão das Neves com

12%, 11% e 10% respectivamente. O município mineiro que apresentou o maior percentual em

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1991 foi Divino das Laranjeiras, no Vale do Rio Doce com 19%, visto que, da população total de

5.281 habitantes, destes, 1.006 eram protestantes pentecostais, o que justifica o alto percentual de

religiosos.

Em relação a 2000, o crescimento em termos percentuais nestas mesmas regiões é ainda

mais claro. Os municípios que registraram os maiores percentuais na RMBH por exemplo foram

Sarzedo (18%); Mário Campos (17,9%); Vespasiano (16,7%); Betim (16,6%); Rio Acima

(15,8%); Sabará (15,2%); São Joaquim de Bicas (15,0%); Esmeraldas (14,8%) e Igarapé (14,8%).

Ibirité, Ribeirão das Neves e Santa Luzia mantiveram crescimentos consideráveis, registrando

21,4%; 18% e 17% respectivamente. Em relação ao Vale do Rio Doce, municípios como Coronel

Fabriciano, Ipatinga e Timóteo tiveram crescimentos consideráveis quando comparado com a

população total, registrando respectivamente 24%, 23,3% e 22,9%. O município mineiro que

registrou o maior percentual de pentecostais foi Santana do Paraíso, também no Vale do Rio

Doce com 25,6% de adeptos.

A diversidade religiosa apresentada na Região Metropolitana de Belo Horizonte, no

período de 1991 a 2000, também é confirmada por Antoniazzi (2004):

“A diversidade religiosa, torna-se relevante nas grandes metrópoles em 2000,

especialmente pelo crescimento do número de pentecostais. Esta diversidade religiosa

tende a se tornar uma realidade comum a todo o Brasil. (ANTONIAZZI, 2004).

É importante mencionar, que o período de análise realizado neste estudo – 1991 e 2000

sugerem certa sensação ao leitor que o crescimento Protestante Pentecostal sempre foi

hegemônico, e como vimos no decorrer deste trabalho, não foi bem assim. Nas seis décadas

anteriores ao ano 2000, houve uma inversão na proporção de Pentecostais e de Tradicionais na

população de protestantes brasileiros.

Dentro do universo religioso protestante no Brasil, os Pentecostais, que registraram 72,8%

em 2000 eram estimados em apenas 9,5% em 1930, ou seja, no rodapé das estatísticas. Os

Protestantes Tradicionais, que surgiram no início do século XX, em sete décadas, cederam espaço

para um crescimento de mais de 63% dos Pentecostais.

Na década de 1970, por exemplo, os Protestantes Tradicionais e os Pentecostais eram

considerados um grupo único, e juntos, registravam 4.833.196 (5,2%) dos protestantes no País.

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Na década seguinte, 1980, o grupo foi dividido e os Protestantes Tradicionais

apresentavam uma pequena vantagem em relação aos Pentecostais, com 4.022.330 (3,4%) e

3.863.320 (3,2%) fiéis respectivamente.

O crescimento em massa dos Pentecostais só se deu a partir da década de 1991, quando

foi registrado um crescimento de 8.768.929 (6,0%) em detrimento dos Tradicionais com

4.388.165 (3,0%). Em 2000, o avanço foi ainda maior, enquanto os Tradicionais registravam

8.477.068 (5,0%) de seguidores, os Pentecostais somavam 17.975.106 (10,6%) de adeptos, ou

seja, nos dois últimos Censos Demográficos eles mais que dobraram.

É importante destacar que a taxa de variação média anual dos pentecostais observada de

1991 a 2000 no Brasil cresceu 8,3%, enquanto a população total aumentou apenas 2,0% no

mesmo período. Corrigindo-se o crescimento de pentecostais pela taxa de variação da população

total, obtém-se um saldo líquido no valor considerável de mais de 7,8 milhões de habitantes.

(JACOB e HEES, 2003).

Em relação à Minas Gerais, enquanto a taxa de crescimento da população total girou em

torno de 12% entre 1991 e 2000, o crescimento da população pentecostal registrou 49% no

mesmo período. A mesma tendência é registrada para os Protestantes Tradicionais, cujo

crescimento foi de 43,4% entre 1991 e 2000, como observado na tabela 8.

Em relação à taxa de crescimento dos pentecostais, algumas regiões de Minas Gerais

apresentaram crescimentos expressivos, como observado no mapa seguinte:

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Percebe-se um crescimento expressivo acima de 40% em grande parte das microrregiões

do Estado de Minas Gerais. Com exceção do Norte e Leste do Estado de Minas, praticamente

quase todas as demais regiões do Estado apresentaram uma taxa de crescimento relativamente

alta. As microrregiões, por exemplo, de Uberlândia, Patos de Minas, Almenara, Oliveira,

Conselheiro Lafaiete e Pouso Alegre apresentaram um crescimento de pentecostais de 42% a

44%. Outras microrregiões como Araçuaí, Curvelo, Guanhães, Sete Lagoas, Ouro Preto, Campo

Belo, São João Del Rei, Barbacena e Juiz de Fora apresentaram um crescimento de 44,2% a 47%

no período de 1991 a 2000. A microrregião que apresentou o maior crescimento pentecostal foi

de Divinópolis com quase 48% no mesmo período.

A microrregião de Belo Horizonte apresentou um crescimento alto também no período,

registrando uma taxa de crescimento de 41,5%.

Mapa 25 – Taxa de Crescimento de Protestantes Pentecostais, por microrregião:

Minas Gerais – 1991/ 2000

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991/ 2000.

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Em relação aos Protestantes Tradicionais, sua distribuição espacial em 1991 e 2000 é

bastante interessante quando comparada em termos absolutos e percentuais.

A distribuição da população tradicional em 1991 e 2000 é bastante inferior quando

comparada com os pentecostais, visto que os protestantes tradicionais registraram menos de

1.648 adeptos em grande parte do Estado de Minas Gerais em 1991. Os municípios que

apresentaram os maiores crescimentos de protestantes tradicionais foram Governador Valadares e

Ipatinga no Vale do Rio Doce, Juiz de Fora na Zona da Mata, Uberlândia no Triângulo Mineiro e

Contagem na RMBH. A capital Belo Horizonte apresentou o maior número, registrando 83.317

de adeptos.

É importante destacar que apesar de Belo Horizonte apresentar o maior número de

Protestantes Tradicionais, em termos percentuais a capital não concentra o maior contingente de

fiéis tradicionais. O município de Itueta no Vale do Rio Doce registrou um crescimento de 33%

contra somente 4,0% de Belo Horizonte, visto que, dos 6.452 habitantes de Itueta, 2.134 são

protestantes tradicionais. Em contrapartida, Belo Horizonte que registrava uma população em

1991 de 2.020.161 habitantes, apenas 83.317 eram fiéis tradicionais.

A capital Belo Horizonte registrou também em 2000 o maior número de fiéis tradicionais

com 145.434 (6,5%) de adeptos. Mantendo o mesmo crescimento, Governador Valadares e

Ipatinga no Vale do Rio Doce; Teófilo Otoni no Vale do Mucuri; Juiz de Fora na Zona da Mata;

Uberlândia no Triângulo Mineiro; Montes Claros no Norte de Minas; Contagem, Betim e

Ribeirão das Neves na RMBH.

Em relação à proporção de fiéis Tradicionais, a Mesorregião do Noroeste de Minas

apresentou índices diferenciados, devido à emancipação de alguns municípios, como por

exemplo, o município de Cabeceira Grande que em 1991 ainda pertencia a Unaí, registrou quase

2,0% de Protestantes Tradicionais. Em 2000, já como município emancipado registrou 8,3% de

fiéis Tradicionais, em detrimento de Unaí com apenas 3,0%.

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Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991.

Mapa 26 – População de Protestantes Tradicionais, por município em Minas Gerais: 1991

Mapa 27 – Percentual de Protestantes Tradicionais, por município em Minas Gerais: 1991

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Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2000.

Mapa 28 - População de Protestantes Tradicionais, por município em Minas Gerais: 2000

Mapa 29 – Percentual de Protestantes Tradicionais, por município em Minas Gerais: 2000

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Na Mesorregião do Triângulo Mineiro observa-se outro cenário, enquanto Tupaciguara

registrava 3,4% de Tradicionais em 1991, com o desmembramento de Araporã em 2000, o

município registrou um déficit de -2,7%, devido em grande parte ao crescimento de Pentecostais,

em torno de 7,0% e 9,0% em Tupaciguara e Araporã respectivamente. Com exceção de Frutal

que mais que dobrou o número de fiéis, passando de 2,06% em 1991 para 4,17% em 2000,

Patrocínio e Uberlândia tiveram um crescimento moderado, passando de 4,1% e 2,8% para 4,5%

e 3,7% respectivamente.

A Mesorregião Norte de Minas também apresentou crescimento dos Tradicionais no

período, com destaque para Montes Claros e Francisco Dumont, em 1991, os dois municípios do

Norte de Minas registravam 2,7% e 8,1% respectivamente. Em 2000, eles passaram a registrar

4,9% e 11,3% respectivamente, ou seja, mais que dobrando e triplicando o número de

Protestantes Tradicionais.

No Sul e Sudoeste de Minas, Três Corações e Machado tiveram crescimentos moderados

no período com menos de 2,0% no período, em compensação, Camanducaia mais que triplicou,

passando de 2,2% em 1991 para 5,4% em 2000.

No Oeste mineiro, Piuí obteve um crescimento em torno de 1,5%. Formiga e Campo Belo

obtiveram ambos, um crescimento de 2,5%. Em Arcos, contrariando a tendência de crescimento

dos Pentecostais e redução dos Tradicionais, no período de 1991 e 2000, os Protestantes

Tradicionais obtiveram um pequeno crescimento de 1,2%, enquanto o percentual de Pentecostais

sofreu um déficit de -0,4%.

Os Protestantes Tradicionais demonstram uma dinâmica, aparentemente semelhante, com

a dos Pentecostais em relação às Mesorregiões do Vale do Mucuri, Vale do Rio Doce e Zona da

Mata, com destaque para Teófilo Otoni, Ipatinga, Governador Valadares que quadruplicaram o

número de fiéis. Governador Valadares, por exemplo, teve um crescimento de quase 5%,

passando de 9,4% em 1991 para 14,2% em 2000. Municípios como Coronel Fabriciano,

Manhuaçu, Ataléia e Juiz de Fora, também tiveram crescimentos expressivos, com destaque para

os dois primeiros que mais que dobraram no período de 1991 e 2000.

A Mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte também segue padrões semelhantes ao

dos Pentecostais. Belo Horizonte, por exemplo, passou de 4,0% em 1991 para 6,5% em 2000, um

crescimento de Tradicionais de 2,5% no período. Municípios como Contagem, Ibirité, Nova

Lima, Ribeirão das Neves, Lagoa Santa e Sabará obtiveram crescimentos mais moderados, uma

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média de crescimento de 1,7%, diferentemente de Brumadinho, Santa Luzia, Vespasiano e Betim

que tiveram um crescimento quase que triplicado, uma média de crescimento de 2,7% no período.

Ao analisar as taxas de crescimento dos Protestantes Tradicionais no período de 1991 e

2000, percebemos certa semelhança com a dinâmica pentecostal, com a diferença que o

crescimento dos Protestantes Tradicionais foi menor que a dos Pentecostais.

Enquanto o crescimento dos Pentecostais em boa parte das regiões do Estado de Minas

Gerais girou em torno de 40%, o crescimento dos Tradicionais nestas mesmas regiões não passou

de 17,8%. As microrregiões que apresentaram um crescimento acima de 15% foram Sete Lagoas,

São João Del Rei, Barbacena, Araçuaí, Campo Belo, Guanhães, Ouro Preto, Curvelo, Juiz de

Fora, Patos de Minas, Pouso Alegre, Conselheiro Lafaiete, Oliveira, Almenara, Uberlândia,

Nanuque, São Lourenço e Diamantina, como observado no mapa seguinte:

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991 e 2000.

Mapa 30 – Taxa de Crescimento de Protestantes Tradicionais, por microrregião:

Minas Gerais – 1991/ 2000

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A Microrregião de Belo Horizonte também apresentou uma taxa de crescimento superior

a 15% no mesmo período. Seguindo a mesma tendência dos Pentecostais, a Microrregião de

Divinópolis apresentou também a maior taxa de crescimento de Protestantes Tradicionais com

17,7% de 1991 a 2000. O menor crescimento foi registrado na Microrregião de Aimorés. Tanto

Protestantes Tradicionais quanto Pentecostais registraram somente 4,0% e 10,7%

respectivamente, em grande parte devido ao expressivo número de católicos que registrou 91,3%

no mesmo período.

A análise dos mapas nos permite aferir que apesar dos protestantes serem em menor

número em relação aos católicos em Minas Gerais, há um aumento significativo ano após ano de

sua representatividade, principalmente em regiões até então consideradas predominantemente

católicas no Estado. De 1991 a 2000, o crescimento das Igrejas Protestantes (Tradicionais e

Pentecostais) foram superiores que a média nacional registrando 9,7%, atingindo e influindo

cerca de 2,6% da população de Minas Gerais no mesmo período.

4.3 – A DISTRIBUIÇÃO RELIGIOSA PROTESTANTE DE ACORDO COM OS

MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS: 1986-1991 e 1995-2000

Como já discutido anteriormente, a dinâmica espacial da população tem fornecido

elementos de grande importância para as discussões sobre os processos de configuração de novas

áreas de atração migratória em Minas Gerais, seja no sentido inter-regional ou no sentido

rural/urbano.

Estas novas áreas de atração acabam exercendo também um papel importante na

distribuição espacial religiosa da população, não só no Brasil, mas principalmente em Minas

Gerais, gerando de certo modo, uma mudança no perfil religioso da população. Cabe salientar,

que esta redistribuição religiosa da população, muitas vezes, pode está associada à própria

migração dos religiosos ou mesmo a conversão dos mesmos no local de destino.

Esta mudança de identidade cultural da população é confirmada por Jacob (2003). O

mesmo explica que as populações migrantes ao se desligarem dos vínculos de dependência mútua

dos locais de origem acabam fixando residência em regiões de expansão da fronteira rural e nas

periferias das cidades, notadamente nas regiões metropolitanas. Ao se instalarem, contam com a

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inoperância dos órgãos estatais nos locais de destino, bem como de políticas de desenvolvimento

social, levando-os a situações quase que de miséria. Desarraigadas culturalmente, tais populações

desenvolvem novas disposições sociais e novas tentativas de construção de suas identidades

culturais, onde a religião ocupa lugar de destaque.

Mas antes de entendermos como funciona esta dinâmica espacial religiosa em Minas

Gerais, é importante entendermos primeiro como se processa os movimentos migratórios

populacionais no Estado.

4.3.1- BREVE EXPOSIÇÃO SOBRE OS MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS

POPULACIONAIS EM MINAS GERAIS: 1986-1991 E 1995-2000

Desde a segunda metade do século XX, o dinamismo do padrão migratório no Brasil

revela a existência de trajetórias migratórias importantes, tendo como origem, além da região

Nordeste, o Estado de Minas Gerais, considerados dois grandes reservatórios de mão-de-obra do

País. É notório que nos últimos vinte anos ocorreram mudanças significativas e a economia

mineira apresentou fortes reflexos sobre as migrações.

Na segunda metade da década de 1970, a configuração do padrão migratório de Minas

Gerais mostrou uma mudança significativa, apresentando um aumento na sua participação entre

os imigrantes e uma redução entre os emigrantes, tanto em termos absolutos, quanto relativos.

Nesse sentido, Brito e Garcia (2004) cita neste processo de reversão, a importância da

migração de retorno, fenômeno que vêm crescendo de importância dentro do contexto das

migrações interestaduais, face à nova dinâmica do padrão migratório emergente.

Segundo Matos (2004), no quinquênio 1995-2000, Minas Gerais apresentou um saldo

migratório positivo de 39.125 pessoas, o que explicaria parte da reversão nos padrões de trocas,

já que mudanças econômicas em curso podem ampliar o grau de proximidade e interação entre

regiões que, histórica e geograficamente, sempre estiveram interligadas a São Paulo, a exemplo

do Sul de Minas, Triângulo Mineiro, ou mesmo Campo das Vertentes, Oeste de Minas e

Noroeste. Em outro sentido, as trocas entre as regiões menos próximas, como a Região

Metropolitana de Belo Horizonte, também podem sugerir dinâmicas menos evidentes do processo

migratório, de acordo com o tipo de migrante em questão.

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Apesar de algumas regiões mineiras terem cedido parte de sua população para o Estado de

São Paulo, tais como as Regiões Norte e Nordeste (Vale do Rio Doce, Vale do Mucuri e

Jequitinhonha), as novas territorialidades firmadas, além dos migrantes de retorno, fizeram com

que Minas Gerais conseguisse reter grande parte dos emigrantes. (MATOS, 2004).

De acordo com o Censo Demográfico de 1991, Minas Gerais registrou 1.296.377 de

migrantes intraestaduais e interestaduais em Minas Gerais residindo em microrregiões diferentes

daquelas de residência em 1986. No ano de 2000, esse número foi acrescido em 251.441

deslocamentos migratórios, ou seja, uma taxa de crescimento de 16,2%.

Em relação ao volume de imigração, Brito e Garcia (2004), citam que do quinquênio

1986-1991 para o quinquênio 1995-2000, houve um acentuado crescimento na imigração para o

Estado de Minas Gerais, passando de 371.891 para 447.783 pessoas, respectivamente. Apesar da

redução de 70.738 emigrantes para São Paulo, o Estado continua sendo o principal destino dos

emigrantes mineiros. Por outro lado, São Paulo também é a unidade da Federação com maior

contingente de emigrantes para Minas Gerais.

O crescimento do número de imigrantes está fundamentado em dois fatores: a redução

absoluta e relativa das pessoas que saem de Minas Gerais para São Paulo e aumento absoluto e

relativo dos indivíduos provenientes de São Paulo para as regiões de Minas Gerais. A

proximidade geográfica com outros Estados e regiões como: a Região Centro-Oeste, e os Estados

do Rio de Janeiro e Espírito Santo favorecem também o direcionamento dos deslocamentos

migratórios para Minas Gerais. (MATOS, 2004).

Os mapas seguintes analisam os deslocamentos intraestaduais e interestaduais em Minas

Gerais, evidenciando estas mudanças no comportamento migratório do Estado, com uma

tendência crescente ao número de imigrantes no período 1986-1991 e 1995-2000.

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122

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991 e 2000.

Mapa 31 – População Total de Imigrantes por Município em Minas Gerais: 1986 - 1991

Mapa 32 – População Total de Imigrantes por Município em Minas Gerais: 1995 -2000

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123

Em relação aos movimentos intraestaduais, numericamente mais significativos, a

Mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte se isola como maior receptora líquida de

população nos dois quinquênios. Outros municípios apresentaram também ganhos populacionais,

dentre eles: Uberaba, Uberlândia, Juiz de Fora, Governador Valadares, Ipatinga e Montes Claros.

Esse crescimento populacional, com exceção da Região Metropolitana que possui um poder de

atração distinto, deve-se, em grande parte, ao desenvolvimento econômico mais elevado destas

regiões.

Segundo Brito e Garcia (2004), o saldo migratório de Belo Horizonte é alto e negativo,

em relação aos demais municípios de seu entorno que apresentam saldo alto e positivo, o que

demonstra a importância da capital na redistribuição espacial dos imigrantes na Região

Metropolitana de Belo Horizonte.

Os mesmos autores ainda afirmam que as mesorregiões que receberam o maior número de

imigrantes intra e interestaduais, tanto no quinquênio 1986-1991, quanto no quinquênio 1995-

2000 foram a Metropolitana de Belo Horizonte e a do Triângulo Mineiro, o que pode ser

comprovado quando analisamos os dois mapas de deslocamentos migratórios.

Além disso, grande parte dos municípios do Estado obtiveram crescimentos na imigração,

entre 1986-1991 e 1995-2000. Porém, alguns demograficamente importantes, como Governador

Valadares teve um saldo negativo de 5.832 imigrantes entre os dois períodos analisados, o que

pode ser explicado em grande parte pela forte emigração para São Paulo ou mesmo pela

emigração internacional, neste caso, os Estados Unidos.

Concluindo, podemos perceber que algumas regiões de Minas Gerais, como por exemplo,

o Triângulo Mineiro, Sul de Minas, Centro-Oeste e a Região Metropolitana de Belo Horizonte,

em função do crescimento da sua economia, passaram a receber um crescente contingente

imigratório, não só interestadual, como intraestadual.

Essas regiões possibilitaram a expansão de novas atividades econômicas que,

simultaneamente, atraíram novos imigrantes e possibilitaram reter a população lá residente. Nota-

se, no início do século XXI, a configuração de novas regiões de atração migratória em Minas

Gerais articula-se a um processo de desconcentração espacial da economia brasileira,

característica das duas últimas décadas do século XX. (BRITO, 2000).

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124

4.3.2 – A DISTRIBUIÇÃO PROTESTANTE TRADICIONAL E PENTECOSTAL

MIGRATÓRIA EM MINAS GERAIS: 1986/1991 E 1995/2000

Conforme explicitado anteriormente, as novas áreas de atração acabam exercendo um

papel considerável na distribuição espacial religiosa da população em Minas Gerais,

desenvolvendo de certa forma, uma mudança no perfil religioso desta população. Esta

distribuição religiosa da população, muitas vezes, pode estar associada à própria migração dos

religiosos ou mesmo a conversão dos mesmos no local de destino.

Portanto, tal averiguação incita-nos a explorar em que medida o processo de expansão dos

protestantes, principalmente os de origem pentecostal, tem se dado em Minas Gerais, se

predominantemente pela conversão de devotos ou pela imigração de fieis já convertidos de outras

partes do Brasil.

Sendo assim, este sub-tópico versa sobre os deslocamentos migratórios intra e inter-

municipais dos Protestantes (Pentecostais e Tradicionais) em Minas Gerais nos quinquênios de

1986-1991 e 1995-2000. A análise dos mapas nos permite visualizar as áreas do Estado e as

mesorregiões onde ocorreram os crescimentos mais expressivos.

Ao analisar os mapas da imigração total em Minas Gerais, concomitantemente com os

mapas da imigração protestante pentecostal e tradicional no Estado percebemos um deslocamento

imigratório um tanto difuso nos dois quinquênios em estudo.

Em relação aos deslocamentos imigratórios, percebem-se ganhos populacionais de ambas

as populações religiosas, pentecostais e tradicionais, em todo o Estado de Minas Gerais, sendo as

Mesorregiões do Triângulo Mineiro, Zona da Mata, Vale do Rio Doce, Sul/ Sudoeste e

Metropolitana de Belo Horizonte as que obtiveram os maiores contingentes de população

religiosa.

Estas mesorregiões, acrescidas da Mesorregião Norte de Minas, representam mais de 50%

da população protestante imigrante em Minas Gerais, a qual registrou de um quinquênio para o

outro um crescimento de 93.073 imigrantes pentecostais e 34.011 de imigrantes tradicionais em

Minas Gerais.

O referente direcionamento imigratório é justificado por Matos (2004), que explica que a

população de maneira geral tende a se deslocar para regiões que apresentem desenvolvimentos

mais elevados, favorecido em grande parte pela proximidade de outros Estados, como São Paulo,

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Rio de Janeiro e Espírito Santo, além da Região Centro-Oeste do País. Além disso, o acesso às

mesmas regiões é favorecido pelos principais eixos rodoviários que cortam o Estado de Minas

Gerais como a BR-381, BR-040 e a BR-262.

A Mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte foi a que apresentou o maior número de

imigrantes pentecostais e tradicionais, tanto em 1986-1991, quanto em 1995-2000; seguida pela

Mesorregião do Vale do Rio Doce e Mesorregião Sul/Sudoeste.

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Mapa 33 – Percentual de Pentecostais Imigrantes por Município: MG/1986-1991

Mapa 34 – Percentual de Pentecostais Imigrantes por Município: MG/ 1995-2000

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991 e 2000.

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Mapa 35 – Percentual de Protestantes Tradicionais Imigrantes por Município: MG/1986-1991

Tabela 11: População total protestante e imigrante por mesorregião em Minas Gerais: 1991 - 2000

Mapa 36 – Percentual de Protestantes Tradicionais Imigrantes por Município: MG/1995-2000

Tabela 11: População total protestante e imigrante por mesorregião em Minas Gerais: 1991 - 2000

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991 e 2000.

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Os dados estatísticos da tabela 9 complementam a análise dos mapas anteriores,

demonstrando que apesar dos imigrantes pentecostais apresentarem números superiores aos

deslocamentos dos imigrantes tradicionais em todas as mesorregiões do Estado, ambos os grupos

religiosos se equivalem em termos proporcionais, registrando um crescimento total de

deslocamentos imigratórios de 0,5% nos dois quinquênios em estudo.

Tabela 9: População Total Protestante e Imigrante por Mesorregião:

Minas Gerais: 1986/1991 – 1995/2000

Mesorregião Total Total Mig. % Total Total Mig. %

1986-1991 1995-2000

Campo das Vertentes 9.013 920 10,2 20.216 2.456 12,0

Central Mineira 9.472 992 10,0 21.301 2.321 11,0

Jequitinhonha 21.019 1.516 7,2 41.670 2.983 7,2

Metropolitana de Belo Horizonte 285.433 34.361 12,0 630.715 73.569 12,0

Noroeste de Minas 15.959 1.845 11,6 25.189 3.139 12,5

Norte de Minas 71.771 5.253 7,3 116.149 9.307 8,0

Oeste de Minas 19.921 2.015 10,1 44.101 5.628 12,8

Sul/ Sudoeste de Minas 85.888 9.761 11,4 167.908 22.329 13,3

Triângulo Mineiro/ Alto Paranaíba 74.120 8.933 12,1 154.416 19.574 12,7

Vale do Mucuri 17.672 1.484 8,4 34.881 2.931 8,4

Vale do Rio Doce 148.139 13.068 8,8 232.650 21.303 9,2

Zona da Mata 84.581 7.696 9,1 162.695 15.377 9,5

Total 842.988 87.844 10,4 1.651.891 180.917 10,9

Mesorregião Total Total Mig. % Total Total Mig. %

1986-1991 1995-2000

Campo das Vertentes 3.693 411 11,0 6.229 1.107 17,8

Central Mineira 3.791 507 13,4 5.784 739 12,8

Jequitinhonha 4.976 527 10,6 13.768 1.548 11,2

Metropolitana de Belo Horizonte 147.050 17.125 11,6 281.573 31.764 11,3

Noroeste de Minas 6.574 504 7,7 9.809 1.255 12,8

Norte de Minas 19.963 1.776 8,9 38.283 3.146 8,2

Oeste de Minas 6.970 735 10,5 16.507 2.199 13,3

Sul/ Sudoeste de Minas 31.059 3.401 11,0 45.902 6.290 13,7

Triângulo Mineiro/ Alto Paranaíba 29.430 3.420 11,6 44.867 5.599 12,5

Vale do Mucuri 11.549 844 7,3 18.848 1.511 8,0

Vale do Rio Doce 69.322 6.833 10,0 114.504 10.938 9,6

Zona da Mata 41.991 3.848 9,2 68.518 7.846 11,5

Total 376.368 39.931 10,6 664.592 73.942 11,1

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991 e 2000.

Protestantes Pentecostais Protestantes Pentecostais

Protestantes Tradicionais Protestantes Tradicionais

A análise da proporção dos deslocamentos imigratórios de ambos os grupos religiosos, em

cada mesorregião e no total do Estado, demonstra que tal crescimento é muito pequeno quando

comparado com o universo total de imigrantes.

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Ao analisar a imigração em Minas Gerais, percebemos que nos últimos vinte anos

ocorreram mudanças significativas e a economia mineira apresentou fortes reflexos sobre as

migrações. O padrão migratório em Minas Gerais apresentou uma mudança significativa,

demonstrando um crescimento na sua participação entre os imigrantes e uma redução entre os

emigrantes, tanto em termos absolutos, quanto relativos.

Assim, no quinquênio 1986-1991, Minas Gerais registrou um total de 1.296.377 de

imigrantes residindo em outros locais que não os de origem. No quinquênio seguinte 1995-2000

este contingente já somava 1.547.818 de imigrantes. Os protestantes registraram no primeiro

quinquênio 127.775 imigrantes, em relação ao segundo quinquênio com 254.859 deslocamentos

imigratórios, ou seja, menos de 10% da população total.

Comparando os volumes migratórios do período 1986-1991 e 1995-2000, pode-se aferir

que o processo de expansão urbana na Mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte, por

exemplo, tem sido fortemente alimentado pelas migrações internas nos dois quinquênios. As

migrações intra-municipais para esta mesorregião prevalecem, correspondendo em 1986-1991 a

478.905 deslocamentos. Em 1995-2000 foram registrados 566.571 deslocamentos.

Em relação à população religiosa, os protestantes registraram 51.486 deslocamentos, no

primeiro quinquênio para a Mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte, em relação ao

segundo com 105.333 deslocamentos imigratórios; um crescimento de 51,1% das imigrações.

Destes, cerca de 35,7% correspondiam aos imigrantes pentecostais.

Seguindo a mesma tendência, a Mesorregião Vale do Rio Doce registrou também grande

parte dos deslocamentos protestantes em Minas Gerais nos dois quinquênios em estudo. Apesar

desta mesorregião ser historicamente fornecedora de população para outras mesorregiões, ou

mesmo para São Paulo, as novas territorialidades firmadas ou mesmo a proximidade geográfica

com os Estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro, fizeram da mesma destino de grande parte dos

deslocamentos migratórios. No primeiro quinquênio foram registrados 114.534 imigrantes totais,

em relação ao segundo que registrou 202.200 deslocamentos imigratórios. Um crescimento de

43,4% no período.

Em relação aos deslocamentos religiosos, os protestantes registraram no primeiro e

segundo quinquênio, respectivamente, 19.901 e 32.241 deslocamentos imigratórios; um

crescimento de 38,2%. Destes, em torno de 26,7% são de imigrantes pentecostais.

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Os ganhos populacionais de imigrantes totais e religiosos foram expressivos também nas

Mesorregiões Sul/Sudoeste e do Triângulo Mineiro, visto que, além de serem regiões bem

desenvolvidas economicamente, são limítrofes aos eixos econômicos de São Paulo e do Centro-

Oeste do País.

Enfim, a análise exploratória acerca da imigração dos religiosos protestantes em todo o

Estado de Minas Gerais demonstrou que a proporção de deslocamentos imigratórios é muito

pequena quando comparada com o contingente da população total imigrante. Tais percentuais

reduzidos sugerem que a expansão dos protestantes, principalmente de vertente pentecostal esteja

associada não propriamente à imigração, mas sim à conversão dos mesmos.

Além disso, a literatura brasileira nos lembra que a predisposição a conversão dos fiéis

possa estar associada à falta do apoio estatal, além claro do possível esforço feito pela Igreja

Católica para atender a demanda de uma população ansiosa por respostas imediatas para seus

dilemas espirituais e financeiros. Como ambos não conseguem chegar a este público, devido ao

peso da instituição e da burocracia, as Igrejas Pentecostais torna-se o caminho mais curto para a

reconstrução da identidade social, cultural e religiosa do fiel.

Assim, concomitantemente com os processos que promovem tal cenário, os padrões

demonstrados pelas análises dos mapas e das tabelas apontam um cenário bastante favorável para

as práticas dos Protestantes Pentecostais, visto que, tal grupo religioso vem demonstrando ao

longo das décadas um maior dinamismo, não deixando de crescer, constituindo parcela

significativa em todo o Estado de Minas Gerais.

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5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho visou analisar o processo de expansão espacial dos Protestantes,

principalmente de origem pentecostal em Minas Gerais, tendo como período de análise os Censos

Demográficos de 1991 e 2000. Baseado na convivência de brancos, índios e negros, desde o

período colonial, os padrões apresentados demonstram uma mudança no cenário religioso no

maior País católico do mundo.

O perfil religioso da população brasileira pouco se alterou até a década de 1980. No

entanto, os Censos vêm demonstrando que a hegemonia católica, herdada desde a época colonial

vem perdendo espaço para as religiões protestantes, principalmente nas últimas duas décadas do

século XX.

O Censo Demográfico 2000 não apenas confirma a tendência no período 1991-2000, mas,

sobretudo revela a sua aceleração: os católicos perderam 9,5 pontos percentuais e representavam

73,8% da população em 2000, ou seja, cerca de três quartos da população do País. Ao contrário,

os protestantes cresceram 6,6 pontos percentuais, registrando 15,6% da população em 2000,

sendo os pentecostais o principal motor desta transformação. Já os sem religião registraram 7,4%

em 2000, um crescimento de 2,7% em relação a 1991.

O Protestantismo é a segunda religião em número de fiéis no Brasil, mobilizando um

pouco mais de 26,5 milhões de devotos, em detrimento dos católicos que registraram um pouco

mais de 125,5 milhões de adeptos. (IBGE, 2000).

O crescimento expressivo dos protestantes ao longo do século XX no Brasil deve-se em

grande parte as práticas proselitistas dos mesmos, com destaque para o movimento religioso de

origem pentecostal, que obtiveram um crescimento de 51,2% entre 1991 e 2000. Os Protestantes

Tradicionais, por outro lado, registraram um crescimento de 48,2% no mesmo período.

Os protestantes apresentaram uma distribuição expressiva pelo território nacional, onde

todos os Estados superaram o índice de 10% de devotos. No entanto, a Região Nordeste continua

sendo a região com os menores índices e os Estados do Piauí e Ceará com as menores

porcentagens, registrando mais de 84% de sua população de católicos.

Por outro lado, os Estados que apresentaram as menores porcentagens de católicos e a

maior diversidade religiosa no País foram Espírito Santo, Rondônia e Rio de Janeiro. Aliás, o Rio

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de Janeiro é o Estado com o menor percentual de católicos, com 56,5% de adeptos. Isso se deve

também ao elevado número de pessoas sem filiação religiosa e praticantes de outras religiões.

Nas Regiões Norte e Centro-Oeste do País, os protestantes representam mais de 25% da

população nos Estados do Amazonas, Rondônia, Roraima, Acre, Goiás e no Distrito Federal. O

Estado de Rondônia foi o que apresentou o maior número de protestantes, registrando 27,2% da

população total em 2000. O Estado do Amazonas apresentou-se como uma das regiões precoces

da diversificação religiosa, marcada pela presença dos pentecostais, movida em grande parte

pelas frentes migratórias de ocupação nos anos de 1980 e 1990.

No Sul do País, apesar dos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul ainda

apresentarem uma população católica superior a 70%, um crescimento expressivo dos

pentecostais se faz presente, principalmente no Paraná, registrando um pouco mais de 13% de

devotos.

Áreas de diversificação religiosa são observadas no Sudeste do País, principalmente no

interior dos Estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro. Ao contrário do que acontece na

Amazônia, os grupos religiosos responsáveis por essa diversificação não são os pentecostais, mas

sim os protestantes tradicionais, principalmente no Espírito Santo. Neste caso, trata-se de espaços

ocupados por colonos de origem alemã e de religião protestante tradicional, em grande parte de

luteranos. Já em São Paulo, apesar de 17% de sua população ser de pentecostais, o crescimento

de seguidores de outras religiões é também bastante expressivo.

Os padrões religiosos encontrados no período de 1991 e 2000 demonstram a evolução dos

protestantes em Minas Gerais. Verifica-se, através da análise dos mapas, uma expansão religiosa

protestante em direção a regiões limítrofes até então não sujeitas a este processo. Tal crescimento

inicia-se a leste de Minas Gerais, limite com Espírito Santo, adentrando pela Mesorregião do

Vale do Rio Doce pela BR-381. Fenômeno semelhante é observado também em Goiás e

Tocantins, e no sul da Bahia, no limite com o Espírito Santo.

Esse processo de difusão, no qual a proximidade desempenha um grande papel, não é de

surpreender, uma vez que as religiões protestantes têm como vetor pregador, comunicação em

massa, que divulgam a sua religião, antes de fundar novos núcleos, que se consolidam pelo

recrutamento de novos adeptos.

Os Censos Demográficos de 1991 e 2000 apontaram uma taxa de crescimento da

população total em Minas Gerais em torno de 12% no período. Em se tratando dos devotos do

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Protestantismo no Estado, este crescimento é bastante significativo, visto que, os Pentecostais

registraram um crescimento de 49% e os Tradicionais 43,4% no mesmo período.

Este crescimento da população protestante não se fez de modo homogêneo pelo Estado de

Minas Gerais nos quinquênios de 1986-1991 e 1995-2000. Isto ocorre, porque algumas áreas do

Estado apresentam um desenvolvimento mais elevado, o que acaba exercendo um papel

considerável na distribuição não só da população total, mas também na população religiosa. Em

relação à última, esta distribuição espacial, por sua vez, pode está relacionada à própria migração

dos religiosos ou mesmo a conversão dos mesmos no local de destino.

Os deslocamentos intra e intermunicipais demonstraram as áreas do Estado de Minas

Gerais que apresentaram os maiores ganhos populacionais nos dois quinquênios em estudo. Tanto

protestantes tradicionais, quanto pentecostais tiveram como destino as Mesorregiões do Triângulo

Mineiro, Zona da Mata, Vale do Rio Doce, Sul/ Sudoeste e Metropolitana de Belo Horizonte.

Acrescidas da Mesorregião Norte de Minas, representam mais de 50% da população protestante

imigrante no Estado.

A Mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte foi a que apresentou o maior número de

imigrantes pentecostais e tradicionais, tanto em 1986-1991, quanto em 1995-2000; seguida pela

Mesorregião do Vale do Rio Doce e Mesorregião Sul/Sudoeste.

A população de maneira geral tende a deslocar-se para regiões melhor desenvolvidas

economicamente, favorecido em grande parte pela proximidade de grandes eixos econômicos,

dentre eles São Paulo. O acesso pelos principais eixos rodoviários que cortam Minas Gerais como

a BR-381, BR-040 e BR-262 também favorecem o acesso as principais regiões do Estado,

principalmente a Região Metropolitana.

Aliás, em se tratando da Região Metropolitana de Belo Horizonte, os católicos

apresentaram uma média em torno de 85,7% da população total, ou seja, um percentual ainda

bastante alto, o que é explicado pela forte religiosidade católica dos colonos portugueses que

ainda predomina entre a população mineira. Os pontos fracos ainda se encontram nas áreas

metropolitanas, cuja concentração maior é de pentecostais, principalmente nas regiões periféricas,

ao lado de algumas minorias como os sem religião.

A análise dos mapas ainda permitiu constatar a formação de “anéis concêntricos”, já

discutidos por Jacob e Hees (2003) em seus estudos sobre a distribuição religiosa nas grandes

metrópoles do País. Esta formação espacial denominada pelos mesmos como “Anel Pentecostal”

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é nítida quando analisamos os mapas de católicos e protestantes na Região Metropolitana de Belo

Horizonte, em relação à proporção dos mesmos em 1991 e 2000, principalmente ao redor da

capital do Estado.

A capital Belo Horizonte, por exemplo, apresentou um déficit de católicos de -11,6%,

passando de 80,5% em 1991 para 68,9% em 2000. Na capital, os protestantes pentecostais

tiveram um crescimento de 47,5% no mesmo período.

Enfim, os padrões apresentados respondem ao objetivo geral proposto, fornecendo

detalhes importantes sobre o crescimento dos pentecostais no Estado de Minas Gerais. O IBGE

revela que apesar dos pentecostais predominarem entre os protestantes, 60% deles não nasceram

em famílias pentecostais. Sugere-se que do total de seguidores dessas igrejas, cerca de 45%

foram convertidos a partir do Catolicismo e do Protestantismo Tradicional.

Além disso, a hipótese levantada acerca dos deslocamentos migratórios dos pentecostais

em Minas Gerais nos dois períodos em análise sugere que tal crescimento tenha se configurado

através da conversão dos mesmos, visto os baixos percentuais encontrados. Do total de

deslocamentos registrados para todo o Estado de Minas Gerais, a imigração não passou de 10,4%

no quinquênio de 1986-1991 e de 10,9% no quinquênio de 1995-2000.

A literatura brasileira nos lembra que tal processo possa estar associado à falta do apoio

estatal, além claro do possível esforço feito pela Igreja Católica para atender a demanda de uma

população ansiosa por respostas imediatas para seus dilemas espirituais e financeiros. Como

ambos não conseguem chegar a este público, devido ao peso da instituição e da burocracia, as

Igrejas Pentecostais torna-se o caminho mais curto para a reconstrução da identidade social,

cultural e religiosa do fiel.

A literatura ainda sugere que o vertiginoso crescimento protestante deve-se, sobretudo, às

Igrejas Pentecostais, que souberam tirar proveito e explorar com eficácia, em benefício próprio,

os contextos socioeconômicos, culturais, políticos e religiosos nas últimas duas décadas.

Nesse sentido, cabe, ainda, destacar, em especial, o agravamento das crises sociais e

econômicas, o aumento do desemprego, o recrudescimento da violência e da criminalidade, o

enfraquecimento da Igreja Católica, a liberdade e o pluralismo religioso, a abertura política, a

redemocratização do Brasil, e a rápida difusão dos meios de comunicação de massa.

Em síntese, por intermédio de uma investigação exploratória e do que foi observado na

literatura especializada, pode-se concluir que este processo de diversidade religiosa ao longo do

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século XX, que teve início principalmente nos anos 1990, está relacionado a três elementos

fundamentais da dinâmica da ocupação do território brasileiro: primeiro, a preexistência de

espaços não-católicos, ligados não só à história do povoamento, como também a falta do aparato

estatal e da Igreja Católica, muito burocrática e hierarquizada, o que favorece áreas fragilizadas, e

suscetíveis ao avanço de outras religiões, principalmente as de origem Pentecostal, como

observado em Minas Gerais.

Segundo, o terreno oportuno encontrado pelos pastores pentecostais junto a uma

população migrante desenraizada e necessitada, que procura na religião as respostas para seus

dilemas financeiros e espirituais.

E finalmente, a urbanização acelerada que favorece o surgimento de novas religiões,

dentre elas, as pentecostais, muito mais fluidas e dinâmicas, e que sempre encontram terreno

fértil para a implantação de seus empreendimentos espirituais.

Vale ressaltar, a contribuição deste estudo frente à falta de informações relacionadas aos

deslocamentos migratórios destes grupos religiosos, principalmente o Pentecostal, visto que,

dentre as denominações religiosas protestantes é a que apresenta o maior número de adeptos na

sociedade brasileira.

Por fim, além deste estudo servir de auxílio para uma melhor compreensão sobre o

movimento religioso pentecostal, e a influência das migrações neste processo, o mesmo coloca-se

como uma proposta que se insere dentro dessa nova demanda de estudos de gestão do espaço e de

planejamento regional, que poderão mostrar muito da realidade religiosa em Minas Gerais.

Espera-se que os resultados alcançados sirvam de instrumentos para maiores discussões para

trabalhos futuros.

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6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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143

ANEXO A: Estrutura de Religião - IBGE

000 SEM RELIGIÃO

11 CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA

110 Católica Apostólica Romana

111 Católica Carismática, Católica Pentecostal

112 Católica Armênia; Católica Ucraniana

12 CATÓLICA APOSTÓLICA BRASILEIRA

120 Católica Apostólica Brasileira

13 CATÓLICA ORTODOXA

130 Católica Ortodoxa

14 ORTODOXA CRISTÃ

140 Ortodoxa Cristã

149 Outras

19 OUTRAS CATÓLICAS

199 Outras Católicas

21 EVANGÉLICA DE MISSÃO LUTERANA

210 Igrejas Luteranas

219 Outras

22 EVANGÉLICA DE MISSÃO PRESBITERIANA

220 Igreja Evangélica Presbiteriana

221 Igreja Presbiteriana Independente

222 Igreja Presbiteriana do Brasil

223 Igreja Presbiteriana Unida

224 Presbiteriana Fundamentalista

225 Presbiteriana Renovada

229 Outras

23 EVANGÉLICA DE MISSÃO METODISTA

230 Igreja Evangélica Metodista

231 Evangélica Metodista Wesleyana

232 Evangélica Metodista Ortodoxa

239 Outras

24 EVANGÉLICA DE MISSÃO BATISTA

240 Igreja Evangélica Batista

241 Convenção Batista Brasileira

242 Convenção Batista Nacional

243 Batista Pentecostal

244 Batista Bíblica

245 Batista Renovada

249 Outras

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144

25 EVANGÉLICA DE MISSÃO CONGREGACIONAL

250 Igreja Evangélica Congregacional

251 Igreja Congregacional Independente

259 Outras

26 EVANGÉLICA DE MISSÃO ADVENTISTA

260 Igreja Evangélica Adventista do Sétimo Dia

261 Igreja Evangélica Adventista Movimento de Reforma

262 Igreja Evangélica Adventista da Promessa

269 Outras

27 EVANGÉLICA DE MISSÃO EPISCOPAL ANGLICANA

270 Igreja Evangélica Episcopal Anglicana

279 Outras

28 EVANGÉLICA DE MISSÃO MENONITA

280 Igreja Evangélica Menonita

289 Outras

30 EXÉRCITO DA SALVAÇÃO

300 Exército da Salvação

31 EVANGÉLICA DE ORIGEM PENTECOSTAL ASSEMBLÉIA DE DEUS

310 Igreja Evangélica Assembléia de Deus

311 Igreja Assembléia de Deus Madureira

312 Igreja Assembléia de Deus Todos os Santos

319 Outras

32 EVANGÉLICA DE ORIGEM PENTECOSTAL CONGREGACIONAL CRISTÃ DO BRASIL

320 Igreja Congregacional Cristã do Brasil

329 Outras

33 EVANGÉLICA DE ORIGEM PENTECOSTAL O BRASIL PARA CRISTO

330 Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil Para Cristo

339 Outras

34 EVANGÉLICA DE ORIGEM PENTECOSTAL EVANGELHO QUADRANGULAR

340 Igreja Evangelho Quadrangular

349 Outras

35 EVANGÉLICA DE ORIGEM PENTECOSTAL UNIVERSAL DO REINO DE DEUS

350 Igreja Universal do Reino de Deus

359 Outras

'

36 EVANGÉLICA DE ORIGEM PENTECOSTAL CASA DA BENÇÃO

360 Igreja Evangélica Casa da Benção

369 Outras

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145

37 EVANGÉLICA DE ORIGEM PENTECOSTAL CASA DE ORAÇÃO

370 Igreja Evangélica Casa de Oração

379 Outras

38 EVANGÉLICA DE ORIGEM PENTECOSTAL DEUS É AMOR

380 Igreja Evangélica Pentecostal Deus é Amor

389 Outras

39 EVANGÉLICA DE ORIGEM PENTECOSTAL MARANATA

390 Igreja Evangélica Pentecostal Maranata

399 Outras

40 EVANGÉLICA RENOVADA SEM VÍNCULO INSTITUCIONAL

400 Evangélica Renovada, Restaurada e Reformada Sem Vínculo Institucional

401 Pentecostal Renovada,Restaurada e Reformada Sem Vínculo Institucional

409 Outras

41 EVANGÉLICA PENTECOSTAL SEM VÍNCULO INSTITUCIONAL

410 Evangélica Pentecostal Sem Vínculo Institucional

419 Outras

42 EVANGÉLICA DE ORIGEM PENTECOSTAL COMUNIDADE CRISTÃ

420 Igreja Evangélica Comunidade Cristã

429 Outras

43 EVANGÉLICA DE ORIGEM PENTECOSTAL NOVA VIDA

430 Igreja de Origem Pentecostal Nova Vida

439 Outras

44 EVANGÉLICA DE ORIGEM PENTECOSTAL COMUNIDADE EVANGÉLICA

440 Igreja Evangélica Comunidade Evangélica

449 Outras

45 OUTRAS IGREJAS EVANGÉLICAS DE ORIGEM PENTECOSTAL

450 Outras Igrejas Evangélicas Pentecostais

46 EVANGÉLICA DE ORIGEM PENTECOSTAL AVIVAMENTO BÍBLICO

460 Igreja Pentecostal Avivamento Bíblico

469 Outras

47 EVANGÉLICA DE ORIGEM PENTECOSTAL CADEIA DA PRECE

470 Igreja Evangélica Cadeia da Prece

479 Outras

48 EVANGÉLICA DE ORIGEM PENTECOSTAL IGREJA DO NAZARENO

480 Igreja do Nazareno

489 Outras

49 EVANGÉLICA NÃO DETERMINADA

490 Evangélica Não Determinada

491 Evangélica Sem Vínculo Institucional

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146

492 Declaração Múltipla de Religião Evangélica

499 Outros Evangélicos

51 IGREJA DE JESUS CRISTO DOS SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS

510 Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias / Mormons

519 Outras

52 EVANGÉLICOS TESTEMUNHA DE JEOVÁ

520 Testemunha de Jeová

529 Outras

53 LBV / RELIGIÃO DE DEUS

530 Legião da Boa Vontade / Religião de Deus

59 ESPIRITUALISTA

590 Espiritualista

599 Outras

61 ESPÍRITA

610 Espírita, Kardecista

619 Outras

62 UMBANDA

620 Umbanda

629 Outras

63 CANDOMBLÉ

630 Candomblé

639 Outras

64 OUTRAS DECLARAÇÕES DE RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA

640 Religiosidades Afro-Brasileiras

641 Declaração Múltipla de Religiosidade Afro com Outras Religiosidades

649 Outras

71 JUDAÍSMO

710 Judaísmo

719 Outras

74 HINDUÍSMO

740 Hinduísmo

741 Ioga

749 Outras

75 BUDISMO

750 Budismo

751 Nitiren

752 Budismo Theravada

753 Zen Budismo

754 Budismo Tibetano

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147

755 Soka Gakkai

759 Outras

76 NOVAS RELIGIÕES ORIENTAIS

760 Igreja Messiânica Mundial

761 Seicho No-Ie

762 Perfect Liberty

763 Hare Krishna

764 Discipulos Oshoo

765 Tenrykyo

766 Mahicari

79 OUTRAS RELIGIÕES ORIENTAIS

790 Religiões Orientais

791 Bahai

792 Shintoismo

793 Taoismo

799 Outras

81 ISLAMISMO

810 Islamismo

819 Outras

82 TRADIÇÕES ESOTÉRICAS

820 Esotérica

821 Racionalismo Cristão

829 Outras

83 TRADIÇÕES INDÍGENAS

830 Tradições Indígenas

831 Santo Daime

832 União do Vegetal

833 A Barquinha

834 Neoxamânica

839 Outras

85 RELIGIOSIDADE CRISTÃ SEM VÍNCULO INSTITUCIONAL

850 Religiosidade Cristã Sem Vínculo Institucional

89 NÃO DETERMINADA

890 Religiosidade Não Determinada /Mal Definida

891 Declaração Múltipla de Religiosidade Católica / Outras Religiosidades

892 Declaração Múltipla de Religiosidade Evangélica / Outras Religiosidades

893 Declaração Múltipla de Religiosidade Católica/ Espírita

894 Declaração Múltipla de Religiosidade Católica/Umbanda

895 Declaração Múltipla de Religiosidade Católica/Candomblé

896 Declaração Múltipla de Religiosidade Católica/Kardecista

990 SEM DECLARAÇAO

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148

ANEXO B – Religião ou Culto (VAR 0310) / IBGE. Censo Demográfico 1991.

Cristã Tradicional: que engloba a Católica Apostólica Romana, a Católica Ortodoxa e a Católica

Apostólica Brasileira;

Cristã Reformada: subdivida em: Protestante Tradicional: que engloba a Adventista, a Batista,

a Luterana, a Metodista, a Presbiteriana, outras (Congregacional, Episcopal Anglicana, Menonita,

etc.) e, não deteminada (que abrange denominações genéricas, tais como: Bíblico, Crente

Protestante, Cristã Protestante, Protestante Evangélico, etc.); Protestante Pentecostal: que

engloba a Assembléia de Deus, a Congregação Cristã do Brasil, a Deus é Amor, a Evangelho

Quadrangular, a Tradicional Renovada, a Universal do Reino de Deus, outras (o Brasil para

Cristo, Casa da Benção, Casa da Oração, Maranata, etc.) e, não determinada (que abrange

denominações genéricas, tais como: Crente Pentecostal, Cristão Pentecostal, Protestante

Pentecostal, etc.); e, Não Determinada: que engloba denominações genéricas, tais como:

Crente, Evangélico, Cristão Evangélico, etc.;

Neo-Cristã: que engloba a Mórmon, a Testemunha de Jeová e outra (Ciência Cristã,

Racionalismo Cristão, Sinos de Belém, etc.);

Mediúnica: que engloba a Espírita, a Candomblecista e a Umbandista;

Judaica ou Israelita;

Oriental: que engloba a Budista, a Messiânica e outras (Seicho no-ie, Soka Gakoe, Perfect

Liberty, Xintoismo, etc.);

Outra: que engloba o Islamismo e diversas outras religiões que abrangem grupos de pessoas em

menor número no Brasil;

Sem Religião;

Não determinada, mal definida ou sem declaração: que englobam denominações genéricas,

tais como Cristão, ou que não apresentaram resposta à indagação.

Religião ou Culto (VAR 4090) / IBGE. Censo Demográfico 2000.

Código da religião (V4090)

Seita, culto ou ramo da religião professada. As descrições encontram-se no arquivo "Estrutura de

Religião”.

M4090 - Indicadora de imputação na V4090

Existência de indicadora de imputação na variável V4090

Classificação da Informação: 1 – Sim; 2 - Não

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ANEXO C - Variáveis de Migração: IBGE. Censo Demográfico 1991

V1102 – Município de residência na data de referência do censo (01/09/1991);

V0321 – Unidade da Federação ou país estrangeiro que morava em 01/09/1986: este quesito

permite saber o país ou UF no qual o indivíduo residia na data fixa. A resposta a este quesito

independe de o indivíduo ter efetuado ou não outra etapa migratória entre esta data fixa e a data

de referência do Censo. Indivíduos com menos de cinco anos de idade e não migrantes não

respondem a este quesito;

V3211 – Município de residência em 01/09/1986: combinado com o quesito anterior (v0321), este

quesito permite determinar o município no qual o indivíduo morava na data fixa (a resposta pode

ser, inclusive, o próprio município de enumeração). Indivíduos com menos de cinco anos de

idade, migrantes estrangeiros e não migrantes não respondem a este quesito.

Variáveis de Migração: IBGE. Censo Demográfico 2000

V0103 – Município de residência na data de referência do censo (01/08/2000);

V4250 – Código do município de residência: permite saber o código do município de residência

do indivíduo, no dia 31/07/1995;

V4260 – Código da UF ou país de residência em 31/07/1995: permite saber a unidade da

federação ou o país estrangeiro de residência no dia 31/07/1995.