o ataque da vampantera! - primeiro capítulo

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OS MON STR OS DO C AR T ÓG R A F O O ATAQUE DA VAMPANTERA! 6a prova monstos.indd 1 11/09/12 11:21

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Hugo está viajando outra vez. Agora, ele vai para as montanhas sombrias da Transilvânia, um lugar que, literalmente, não está no mapa. Lá, nada é o que parece. Para resgatar o amigo de seu tio e localizar o castelo oculto da terrível vampantera, Hugo contará com a ajuda de criaturas fantásticas e inacreditáveis: uma gata falante que prevê o futuro, um lobisomem bem agitado e... um Abominável Orangofango?! Além, é claro, de seu grande amigo Feroz, um ratinho falante e divertido. Embarque na segunda aventura desta série sobre como fazer mapas, amigos e enfrentar monstros muito perigosos.

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Page 1: O ataque da vampantera! - Primeiro capítulo

Os MOnstr Os dO

Car t ógr af O

O ATAQUE DA

VAMPANTERA!

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Page 2: O ataque da vampantera! - Primeiro capítulo

Série Os Monstros do Cartógrafo

Cuidado Com os Bufalogros!

o ataque da Vampantera!

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Page 3: O ataque da vampantera! - Primeiro capítulo

TraduçãoAna Resende

IlustraçõesAdam Stower

O ATAQUE DA

VAMPANTERA!

robstevens

Os MOnstr Os dO

Car t ógr af O

Rio de Janeiro | 2012

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Page 4: O ataque da vampantera! - Primeiro capítulo

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Prólogo

Agachado e com o ombro pressionado contra a fria pare-

de de pedras, Marcello arrastava-se pelo corredor pouco

iluminado. Durante todo o tempo, seu olhar estava fixo

no fim daquele caminho, onde uma figura enorme e de

capa guardava uma pesada porta de madeira. Oculto pelas

sombras, Marcello avançou lentamente, até ficar a poucos

centímetros do guarda distraído. Em seguida, apoiou um

joelho no chão e esperou.

Estava convencido de que o que estivera buscando en-

contrava-se na câmara à sua frente, e não iria embora dali

até que o visse por si mesmo. Por cerca de uma hora, nem

Marcello nem o guarda moveram um músculo sequer.

O único som que Marcello ouvia era o sangue pulsando

em seus ouvidos, até que...

— Barbarus!

A voz vinda do outro lado da porta surpreendeu o

guarda, que grunhiu, encobrindo o grito assustado de

Marcello.

— Sim, mestre?

— Eu gostaria de ver você sem delonga...

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Page 5: O ataque da vampantera! - Primeiro capítulo

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O guarda hesitou, franzindo confuso a sobrancelha

branca e descorada.

— Isso significa “imediatamente”, imbecil!

— Então por que o senhor não disse isso? — resmun-

gou o guarda, revirando os olhos avermelhados. Elevando

a voz, respondeu: — Sim, mestre.

As dobradiças rangeram alto quando o guarda empur-

rou a pesada porta e entrou no cômodo, fechando-a nova-

mente atrás de si. Aproveitando a oportunidade, Marcello

lançou-se para a frente e impediu com sua mochila que a

porta se fechasse. Pôs um olho na estreita abertura, pren-

deu a respiração e espreitou o aposento.

Algumas tochas pendiam das paredes, tornando o cô-

modo um pouco mais iluminado que o corredor, e lançan-

do sombras bruxuleantes no teto abobadado. No centro

da câmara, em um alto pedestal de granito, encontrava-se

uma tumba de pedra em que havia uma estranha escrita

talhada. Próximo à parede mais distante, via-se uma ca-

deira de espaldar alto.

Intrigado, Marcello observou o guarda entrar no cô-

modo deserto.

— Boa-noite, meu senhor — falou o guarda. — O se-

nhor dormiu bem hoje?

De repente, uma figura sentou-se muito ereta na tum-

ba aberta, e Marcello cobriu a boca com a mão para abafar

o susto.

— Sim, obrigado. Que horas são?

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Page 6: O ataque da vampantera! - Primeiro capítulo

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— Quase meia-noite.

Assim como o guarda, a figura no caixão de pedra es-

tava coberta com uma capa preta, e a gola alta ocultava

grande parte de seu rosto, que Marcello podia ver de per-

fil. Projetando-se um pouco para fora da gola, o topo da

cabeça daquela figura estava coberto com um pelo preto

e curto e era adornado por duas orelhas pretas e felpudas.

Um nariz preto e brilhante podia ser apenas entrevisto na

ponta do focinho.

— Estou com sede — rosnou a fera. — Traga-me algo

para beber. E é bom que tenha sido espremido há pouco

tempo.

— Certamente, meu senhor.

— Tenho certeza de que não preciso lembrá-lo do que

aconteceu ao último guarda que tentou se safar me ofere-

cendo uma bebida velha do estoque. — Enquanto falava,

a fera retirou uma espada de dentro da tumba de pedra e

brandiu-a com suas duas patas pretas, para dar ênfase à

ameaça. Mesmo com a pouca luz proporcionada pelas to-

chas, Marcello pôde ver que o cabo da espada fora talhado

em um único e incrível diamante.

Dessa vez, Marcello não conseguiu impedir que o sus-

to escapasse de seus lábios.

Sem esperar para saber se fora ouvido, pegou a bolsa

e correu pela passagem de pedra em direção à escada em

espiral.

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Page 7: O ataque da vampantera! - Primeiro capítulo

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Marcello correu para o meio da noite, deixando pe-

gadas profundas na neve fresca ao fugir do castelo. Certo

de que estava sendo perseguido, correu em volta do lago

congelado, parando apenas para olhar para trás quando

alcançou a margem oposta.

Não viu ninguém.

— Fique calmo, Marcello — sussurrou para si mesmo.

— Parece que a margem está limpa.

Ajoelhou-se no chão para recuperar o fôlego. O ar

gelado perfurava seus pulmões doloridos, enquanto ele

examinava o portão do castelo do outro lado do lago.

A agitação e o terror corriam por seu sangue enquanto ele

ponderava sobre o significado da descoberta que fizera.

Durante muitos anos, aquela espada havia sido procura-

da, mas nunca fora encontrada — ou, pelo menos, nunca

ninguém voltou da busca.

Marcello tomou um pequeno gole do cantil de couro

macio, empurrou a rolha para dentro do gargalo e colo-

cou a alça a tiracolo. Em seguida, retirou o mapa da mo-

chila e o abriu. Pegando uma pena de escrever, rabiscou

nervoso o mapa.

— Maldito frio! — praguejou, embora soubesse que

não era a temperatura baixa que fazia suas mãos tremerem.

Dobrou o mapa e guardou-o mais uma vez na mo-

chila. Em seguida, ergueu-se e começou a correr em di-

reção ao estreito declive que conduzia à cordilheira.

O cantil, cheio de água, batia ritmadamente no quadril de

Marcello, como um coração batendo.

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Page 8: O ataque da vampantera! - Primeiro capítulo

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Tinha que escalar o declive estreito até a montanha

seguinte e começava a acreditar que conseguiria safar-se

e voltar para Lovdiv. Foi então que sentiu um súbito es-

tremecimento de terror por todo o corpo. No momento

em que Marcello se virou, soube imediatamente que toda

esperança de fuga se fora.

— Ciao, signor Blanco — falou Marcello, com um sor-

riso seco. — Ouça, não quero causar problemas. Estava

apenas fazendo uma visita.

Antes que Marcello pudesse reagir, o guarda agarrou a

gola de sua camisa com ambas as mãos, erguendo-o.

— Ninguém visita o castelo — grunhiu ele.

— Bem, isso não me surpreende — falou Marcello, em

voz baixa —, se esse é o tipo de recepção de vocês.

— Você não pode ir embora.

— Eu adoraria ficar para o jantar — disse Marcello,

com voz trêmula —, mas tenho outros planos. Talvez pos-

samos remarcar... para o dia de São Nunca?

Quando o guarda apertou com mais força a garganta

de Marcello, finas veias azuis crivaram seu rosto pálido

como cera.

— Sabe, dizem que todos vocês são muito feios — gru-

nhiu Marcello em tom desafiador. — Mas isso não é ver-

dade. Vocês são é muito repulsivos.

— Mas as histórias sobre nosso estilo implacável de

matar não foram exageradas.

— Bom saber! Aliás, em que posso ajudá-lo?

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— Meu mestre está com sede.

— Ora, por que você não disse logo? — falou Marcello,

sobressaltado. — Tome, leve meu cantil.

— Engraçadinho. — Os lábios preto-azulados do guar-

da se abriram em um largo sorriso malvado.

Momentos depois, quando sentiu a vida começando a

abandonar seu corpo, Marcello fez sua mochila escorre-

gar do ombro e a arremessou com força no ar. A mochila

viajou em silêncio sobre a cordilheira acidentada, e sua

alça balançava como uma bandeirola enquanto o menino

a perdia de vista. Ele deu socos e pontapés com cada gota

de força que ainda tinha, mas, por fim, seus braços caíram

para o lado, suas pernas penderam sem energia e o cora-

ção deixou de bater.

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Capítulo 1

Hugo Bailey estava na doca e observava outro navio se

preparando para zarpar. Ele deveria estar vendendo como

suvenires os mapas que seu tio Walter desenhara, mas ti-

nha passado a maior parte do dia olhando o mar.

— Aposto que aquele está partindo para a Índia — fa-

lou Hugo melancólico para si mesmo, enquanto uma leve

brisa soprava seus rebeldes cabelos louros.

Ele se imaginava a bordo do navio que cruzava o ocea-

no, com as velas cheias impelindo-o em direção a terras

exóticas. Notando um marinheiro a carregar uma arca de

madeira que parecia pesada em direção à prancha de em-

barque, Hugo se aproximou.

— Com licença, senhor — falou, inclinando o rosto

sardento na direção do homem e abrindo-lhe um sorriso

largo com um dente faltando. — O senhor está indo a al-

gum lugar emocionante, como a África ou as Índias?

O marinheiro parou e olhou para Hugo, com a boche-

cha encostando na lateral do peito.

— Muito mais emocionante que isso — respondeu ele,

rindo.

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Os ávidos olhos azuis de Hugo se arregalaram.— Este navio aqui navegará em busca de uma civiliza-

ção antiga conhecida como... Grimsby.O marinheiro voltou a se virar e continuou a subir com

dificuldade a prancha de embarque, soltando um risinho abafado para si mesmo. Hugo sorriu e revirou os olhos.

A uma pequena distância, meia dúzia de camundon-gos de pelo marrom-acinzentado estavam reunidos na doca, no meio de alguns barris de madeira. No meio de-les, um ratinho branco, com uma listra preta que ia da ponta do nariz até a cauda, sentava-se muito ereto, apoia-do nos quadris.

Ele não era apenas notável por sua coloração peculiar. Também tinha orelhas estranhamente grandes, rosadas e sem pelos. O que o fazia destacar-se dos demais, porém, era o fato de que ele estava conversando com os outros.

— ... então, sem pensar em minha própria segurança, corri até a cabeça do bufalogro e dei um golpe bem no meio dos olhos dele. — Deu alguns golpes certeiros no ar para efeito de demonstração. — O monstro tinha mais de três metros de altura, mas é verdade o que se costuma dizer: quanto mais alto, pior é a queda.

O ratinho branco examinou os rostos de sua plateia. Doze olhinhos pretos e redondos observavam-no sem ex-pressão.

— Talvez eu não tenha sido claro. O monstro era enor-

me. Uma verdadeira fera.Seis focinhos mexeram-se de modo curioso.

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— Quer dizer, a pista já está no nome deles... Bufal-ogros. Com bastante ênfase na palavra ogros.

Silêncio.— Então, o que estou dizendo é que, se posso derrotar

um bufalogro feroz, não há razão para vocês temerem os ratos. Nem os gatos, para falar a verdade. Alguém quer fazer uma pergunta?

Alguém? Hein?“Oh, entendi: vocês são do tipo forte e calado.”Um dos camundongos começou a se coçar.— Muito bem, companheiros. Foi um enorme prazer

conversar com vocês, mas preciso ir. Então, lembrem-se, não temam os gatos: bem lá no fundo, eles não passam de bichinhos de estimação.

O ratinho voltou a encolher as orelhas e partiu na di-reção do outro lado da doca.

A alguns metros de Hugo, uma mulher gritou:— Aiiiiiiiiiii! Um rato!Hugo sorriu para si enquanto observava a onda de ca-

beças se movendo para cima e para baixo, e as pessoas gritando e pulando por sobre o roedor. O animalzinho saiu em disparada na direção do menino, e suas patas faziam barulho nas pedras do calçamento. Em seguida, subiu correndo a calça de Hugo, mergulhando no bolso de sua túnica.

Algumas pessoas na multidão fizeram cara feia quando

o menino deu meia-volta e começou a se afastar. Quando

estava bem longe, Hugo ergueu a aba do bolso da túnica.

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Dois olhinhos redondos piscaram para ele e um nariz ro-

sado e cheio de bigodes se mexeu.

— Olá, Feroz — falou Hugo, sorrindo com brandura.

— Eu gostaria de que você não tivesse feito uma cena tão

grande. Por que você não pode simplesmente andar pelos

bueiros como os outros roedores?

— Você sabe que não sou como os outros roedores —

zombou Feroz.

Eles se conheciam havia um ano, de uma pequena ilha

mágica no meio do oceano. O ratinho era o companheiro

constante de Hugo desde então, além de seu melhor ami-

go em todo o mundo.

— Eu sei. Mas sempre que você atravessa uma multi-

dão é como se fosse o grande faraó do Egito desafiando os

inimigos para uma batalha.

— Talvez Ramsés, o Grande fosse um rato — disse

Feroz.

— Quer dizer Ratomsés?! — Hugo riu, coçando o quei-

xo do amigo. — Então, o que você esteve fazendo durante

o dia todo?

— O de sempre — respondeu Feroz. — Andando por

aí com alguns camundongos do campo.

— Você não tentou incitar nenhuma rebelião de novo,

não é?

— Fiz o melhor que pude — disse Feroz, piscando. —

Há muito tempo os gatos andam levando uma vida boa.

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Não vejo porque eles deveriam ser os únicos a caçar; é

hora de meus primos tímidos tomarem uma atitude. Mas

tentar dizer isso aos camundongos desta cidade é inútil, é

o mesmo que falar sozinho.

— Talvez eles respeitem muito você para responder —

sugeriu Hugo. — E, talvez, isso tenha algo a ver com o fato

de que os animais nesta parte do mundo não podem falar.

Estava ficando tarde, e a feira estava chegando ao fim.

A praça do mercado estava deserta, a não ser pela última

barraca, que ainda vendia frutas e legumes, e por alguns

garotos que brincavam por ali. Um deles fingia estar pre-

so no pelourinho, enquanto o outro tentava atacá-lo com

frutas podres. Hugo parou durante um momento para ob-

servar a brincadeira.

— Quantos mapas você vendeu hoje? — perguntou

Feroz, subindo até o ombro do menino.

— Quantos? No total? — perguntou.

— Sim.

— Incluindo os mapas que vendi hoje de manhã?

— Certamente.

— Nenhum.

— Nenhum?

Hugo balançou a cabeça com tristeza.

— Eu realmente queria ter me saído bem hoje — fa-

lou. — E queria comprar comida para levar para casa e

deixar tio Walter orgulhoso, mas terminei sonhando acor-

dado com explorações durante o dia inteiro.

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— Não entre em pânico — insistiu Feroz. — O dia ain-

da não terminou. Aposto que você pode vender um mapa

para a próxima pessoa que vier até a praça.

— Você acredita realmente nisso?

— Sem dúvida.

Hugo se empertigou.

— Muito bem — falou, balançando a cabeça com ar

resoluto. — Para a próxima pessoa que aparecer.

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