o aforamento de terras públicas em são francisco do sul · paolo grossi afirma que o historiador...

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O aforamento de terras públicas em São Francisco do Sul ELEIDE ABRIL GORDON FINDLAY* A prática do aforamento em terras em públicas Para se dimensionar como a prática do estabelecimento de contrato de enfiteuse, ou aforamento, pelas autoridades governamentais das terras públicas incultas contribuiu para a ocupação territorial de São Francisco do Sul, é imperativo que se proceda a uma análise do significado de tal ordenamento jurídico na construção da propriedade na localidade. A importância do dialogo entre a história e o direito para a o estudo da ocupação territorial, tem sido destacada pela historiografia nacional e internacional, diante da necessidade de se compreender que a realidade social impõe ao ordenamento jurídico nuances e especificidades que não podem ser desprezadas pelo pesquisador. A cautela com o disposto nos marcos jurídico é fundamental, na medida em que não se deve descuidar do alerta de Rosa Congost, de que a realidade social se sobrepõe ao ordenamento jurídico, já que ao longo da história o discurso sobre a propriedade e a justiça tem servido para justificar a ordem existente, e que se trata sempre de uma ordem cuja existência não interessa a todos de modo igual. (CONGOST, 2007:19). Paolo Grossi afirma que o historiador do direito deve se libertar da concepção individualista de propriedade, e percebê-la como categoria histórica influenciada pelos diversos e diferentes contextos históricos. Para o autor, a propriedade e o direito são expressões de mentalidades, e, portanto, Para entender a construção da propriedade moderna é necessário revisitar, no mínimo, a teologia voluntarista dos séculos XIV e XV, estudar o pensamento da Segunda Escolástica espanhola, analisar o individualismo possessivo dos séculos XVII e XVIII, para se chegar então às cartas constitucionais do século XVIII e dos códigos do século XIX. É necessário, portanto, compreender que propriedade é antes de tudo mentalidade. (GROSSI apud Sérgio Said Staut Jr,.) E nas palavras de António Manoel Hespanha, A História do direito realiza esta missão sublinhando que o direito existe sempre em sociedade e que, seja qual for o modelo usado para descrever as suas relações com os contextos sociais (simbólicos, económicos, etc.), as soluções jurídicas são sempre contingentes em relação a um dado envolvimento (ou ambiente). São, neste sentido, sempre locais. (HESPANHA, 1999: 21).

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O aforamento de terras pblicas em So Francisco do Sul

ELEIDE ABRIL GORDON FINDLAY*

A prtica do aforamento em terras em pblicas

Para se dimensionar como a prtica do estabelecimento de contrato de enfiteuse, ou

aforamento, pelas autoridades governamentais das terras pblicas incultas contribuiu para a

ocupao territorial de So Francisco do Sul, imperativo que se proceda a uma anlise do

significado de tal ordenamento jurdico na construo da propriedade na localidade.

A importncia do dialogo entre a histria e o direito para a o estudo da ocupao territorial,

tem sido destacada pela historiografia nacional e internacional, diante da necessidade de se

compreender que a realidade social impe ao ordenamento jurdico nuances e especificidades

que no podem ser desprezadas pelo pesquisador.

A cautela com o disposto nos marcos jurdico fundamental, na medida em que no se deve

descuidar do alerta de Rosa Congost, de que a realidade social se sobrepe ao ordenamento

jurdico, j que ao longo da histria o discurso sobre a propriedade e a justia tem servido

para justificar a ordem existente, e que se trata sempre de uma ordem cuja existncia no

interessa a todos de modo igual. (CONGOST, 2007:19).

Paolo Grossi afirma que o historiador do direito deve se libertar da concepo individualista

de propriedade, e perceb-la como categoria histrica influenciada pelos diversos e diferentes

contextos histricos. Para o autor, a propriedade e o direito so expresses de mentalidades, e,

portanto,

Para entender a construo da propriedade moderna necessrio revisitar, no mnimo, a

teologia voluntarista dos sculos XIV e XV, estudar o pensamento da Segunda Escolstica

espanhola, analisar o individualismo possessivo dos sculos XVII e XVIII, para se chegar

ento s cartas constitucionais do sculo XVIII e dos cdigos do sculo XIX. necessrio,

portanto, compreender que propriedade antes de tudo mentalidade. (GROSSI apud Srgio

Said Staut Jr,.)

E nas palavras de Antnio Manoel Hespanha,

A Histria do direito realiza esta misso sublinhando que o direito existe sempre em sociedade

e que, seja qual for o modelo usado para descrever as suas relaes com os contextos sociais

(simblicos, econmicos, etc.), as solues jurdicas so sempre contingentes em relao a um

dado envolvimento (ou ambiente). So, neste sentido, sempre locais. (HESPANHA, 1999: 21).

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Professora e Pesquisadora da Universidade da Regio de Joinville- Univille- Mestre em Educao-FGV/RJ. Financiamento FAP/Univille

Para compreender a aplicao do instituto da enfiteuse, ou aforamento, no contexto social

convm ressaltar a conceituao de enfiteuse, ou aforamento, que permear o entendimento

do processo de aforamento de terras pblicas, conforme Costa,

A enfiteuse, tambm denominada aforamento ou emprazamento, o negcio jurdico pelo qual

o proprietrio (senhorio) transfere ao adquirente (enfiteuta), em carter perptuo, o domnio

til, a posse direta, o uso, o gozo e o direito de disposio sobre bem imvel, mediante o

pagamento de renda anual (foro). (COSTA, 2012:09),

O instituto da enfiteuse, ou aforamento, abrangia somente terras incultas, impondo dessa

maneira aquele que passava a ter o domnio til a obrigao do cultivo da terra ou a

edificao.

Quanto amplitude do direito de enfiteuse tem-se:

No quadro dos direitos reais sobre coisa alheia, a enfiteuse que mais se aproxima do direito

de propriedade. Enquanto nas servides, no uso e no usufruto o titular de direito real sobre

coisa alheia apenas pode, conforme o caso e em latitude maior ou menor, usar e gozar do bem

agravado, sem ter a faculdade de dele dispor, na enfiteuse o enfiteuta, alm de usar e gozar,

tambm dispe da coisa. Por outro lado, em vez de tratar de um direito temporrio ou vitalcio,

como o uso, a habitao ou o usufruto, a enfiteuse , como a propriedade, um direito perptuo.

(WALD, 2009 apud FERNANDES, Web )

Em relao a sua natureza jurdica se constitui em direito real alienvel e transmissvel a

herdeiros sobre bem imvel. No ordenamento jurdico brasileiro coexiste a enfiteuse civil e

a administrativa. Sendo a enfiteuse civil a constituda sobre bens particulares e pblicos (do

domnio municipal) e a administrativa a relativa sobre imveis pblicos dominiais, mas

comumente sobre bens imveis da Unio, como os terrenos de marinha.

Como salienta Eric Baracho Dore Fernandes (Web, 2008), ao analisar as origens histricas da

enfiteuse, no se pode desprezar o fato de que tal instituto legal possui dentre suas

objetivaes caractersticas econmicas, posto que, visa promover a explorao e a produo

da terra inculta.

Para alm de sua caracterstica econmica, o aforamento foi muito utilizado no Brasil, desde o

perodo colonial, como instrumento de povoamento, na medida em que as autoridades locais,

costumeiramente concediam aforamento aos solicitantes de datas de terras do patrimnio

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pblico, visando ao mesmo tempo promover a ocupao territorial, estimular a produo local

e aumentar as rendas governamentais com a cobrana do foro.

Nesse sentido, dimensionar a aplicao do instituto do aforamento na histria da construo

da propriedade de uma localidade, ou cidade, implica em se revisitar o ordenamento jurdico

que moldou a administrao local desde o perodo colonial. Para tanto primordial se

adentrar na discusso a respeito da regulao da terra pela Coroa Portuguesa. Nesse sentido

destaca-se a identificao dos detentores de poder de concesso e distribuio de terras, bem

como os atos rgios que regulamentaram o acesso terra no perodo da colonizao.

A partir da anlise do ordenamento jurdico no processo de organizao e administrao

territorial do imprio portugus do Atlntico, convm retomar o papel das Capitanias na

conformao do povoamento do Brasil. Como alerta Jos Vicente Serro, (2016) a criao de

capitanias foi a forma utilizada pela Cora portuguesa para fazer frente ao povoamento,

colonizao e administrao dos espaos ultramarinos. Em suas palavras,

Nesse sentido, a concesso do senhorio de extensos territrios ultramarinos a particulares, com

reserva de soberania rgia o que, no direito portugus, correspondia doao de bens da

coroa parecia ser a frmula perfeita. E nisso, em ltima anlise, consistiam as capitanias

donatariais. Note-se que, no essencial, no se tratava da doao de terras mas sim do governo

de territrios..(SERRO, Web,2016)

O autor ressalta o papel dos donatrios na criao de vilas em terras brasileiras, Entre as suas

atribuies contava-se, por exemplo, a fundao de vilas ou a distribuio de terras aos

colonos (geralmente em sesmaria), o que bem atesta o papel que tiveram na territorializao

do domnio portugus. (SERRO, WEB, 2016).

A criao de vilas em terras brasileiras, para alm do povoamento e administrao local,

derivou da aglomerao territorial em decorrncia do desenvolvimento da agricultura. De

acordo com Alencar Santana Braga, em estudo sobre o poder poltico do municpio no Brasil

colnia em que discorre sobre as caractersticas do municpio portugus e do brasileiro, e que

apesar de ambos submetidos aos ditames das Ordenaes Manuelinas, diferem as razes para

a sua criao. Destaca o autor,

[...] ao contrrio do municpio portugus, oriundo da unio do povo a fim de se defender da

nobreza feudal, e ainda do antigo municpio romano, cuja origem se deu devido ao respeito que

fizeram jus os vencidos frente ao Imprio Romano, o primeiro concelho brasileiro nasceu por

vontade da coroa, vida por iniciar um processo de colonizao. (BRAGA, 2008: 183).

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A nomenclatura de vila, cidade ou municpio tem sido objeto de discusso e discordncias

entre estudiosos da temtica. Para fazer trazer luz questo Margareth da Silva Pereira em

interessante estudo sobre a construo histrica dos sentidos das palavras, discorre sobre o

vocbulo municpio e informa que at o sculo XIX no era de uso geral no Brasil, e

reconhecido apenas como uma expresso latina arcaica de emprego extremamente restrito e

erudito. (PEREIRA, 2008, p01).

A consulta ao Vocabulrio Portugus e Latino de Rafael Bluteau (1720) possibilita uma maior

compreenso do sentido dos vocbulos utilizados em Portugal e no Brasil durante o perodo

colonial.

Municpio, ou cidade municipal: No tempo dos Antigos Romanos chamavam-se

Municpios as cidades, que: logravam as izenoes dos Cidados Romanos. E

imitao delas, tambm se chamava Municpios as Cidades de Castella, Portugal e

que logravam os ditos privilgios. (Livro 5, p639).

Vila (Villa), como povoao aberta, ou cercada, que nem chega a Cidade, nem to

pequena, como Aldeia. Tem juiz, e Senado da Cmara e seu pelourinho.

(Livro 8,p.489).

Cidade: Multido de casas, distribudas em ruas, e praas, cercadas de muros, e

habitadas de homens, que vivem em sociedade e subordinao. (Volume 2, p 309)

Termo de Vila ou Cidade: o distrito ou, espao de terra, aonde chega a jurisdio

dos Juzes Ordinrios, ou de Fora, ou outras Justias. (Volume 08, p.128)

Concelho: Na Provncia de Beira, nome que se d aquelas terras, que so termo de

uma Villa, e as ditas terras se chamam de Concelho dela, quer dizer da Cmara.

(Volume 2, p 432)

Cmara, Cmera: As casas em que o Presidente e os vereadores, se juntam para tratar

dos negcios concernentes ao bem pblico de sua cidade. (Volume 2, p.68)

Muitos estudiosos aceitam as acepes indicadas por Bluteau para os vocbulos Vila e

Cidade, no entanto, a justificativa para tal compreenso distingue-se daquela atribuda pelo

padre e vocabularista. Para Aroldo de Azevedo em seu ensaio de geografia humana elaborado,

Vilas e Cidades do Brasil Colonial, ao final do sculo XVI existiam no Brasil pelo menos

14 vilas e somente 3 cidades que nunca foram vilas nem povoado. Esse nmero to pequeno

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de cidades, de acordo com o autor, se justifica pelo fato de que os Donatrios tinham o dever

de criar Vilas, com relao criao das Cidades os Donatrios no tinham essa prerrogativa.

J para Mauricio Abreu (1997) as manifestaes materiais do controle territorial por parte da

metrpole portuguesa em terras da colnia resultaram no arraial (ou povoado), na vila e na

cidade. E explica que

Dentre esses, apenas o arraial teve origem espontnea, resultando do agrupamento de famlias

em algumas residncias chamadas fogos que apresentavam certa contiguidade e unidade

formal. Os demais surgiram sempre da ao direta ou indireta do Estado. As vilas resultaram

da deciso de donatrios e governadores, que tinham poder para cri-las, ou de ordem real para

que se elevasse a essa categoria algum arraial. A criao de cidades, entretanto, foi sempre um

atributo exclusivo da Coroa. Os donatrios no tinham o direito de fund-las porque as

cidades, perpetuando em si o antigo Municpio romano, de natureza independente, s

assentavam em terras prprias alodiais (ABREU, 1997: 213).

Maria Fernanda Bicalho ao discorrer sobre o verbete Cmara, no e-Dicionrio da Terra e do

Territrio no Imprio Portugus, informa que Ao ser fundada a vila ou a cidade, a coroa

doava res publica uma, duas ou mais lguas em quadra que constituiriam o seu termo, sob a

jurisdio da municipalidade (BICALHO, WEB, 2015) Na mesma publicao possvel

identificar Termo como o territrio de um concelho, sujeito jurisdio da respectiva cidade

ou vila, mas fora dos seus limites urbanos estritos. E ainda [...] Os seus limites eram

geralmente definidos na carta de foral ou noutro documento de criao do concelho ou da

vila. Ao mesmo tempo salienta que o conceito foi transposto para terras ultramarinas entre

elas o Brasil e, por este motivo encontra-se com frequncia na documentao do perodo

colonial as expresses termo de Vila Rica, da cidade de Marina seu termo (BORGES,

2014).

As terras destinadas s vilas e cidades, quando de sua criao, ficavam sob a responsabilidade

da Cmara e somente ela tinha o poder de conceder terrenos urbanos, assim considerados os

espaos pelo imprio portugus. A Cmara

[...] aforava, mediante o pagamento de foros anuais, um ou mais lotes aos moradores, tanto

para moradia, quanto para diferentes tipos de negcios, criao ou cultivo. O aforamento dos

chos era o principal rendimento das cmaras, que usufruam tambm do arrendamento de

contratos, da imposio de multas, da cobrana de propinas para a participao em festas rgias

e religiosas. Rossios ou baldios eram terrenos destinados ao uso e serventia comum do povo,

pastagem do gado, corte de madeiras e lenhas e outras utilidades tidas como pblicas. O termo,

ou seja, a extenso dos chos sob a jurisdio da cmara, era delimitado a partir de um centro

geomtrico situado idealmente, embora nem sempre concretamente, sob o pelourinho, no

corao da vila. (BICALHO, 2015)

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Em relao ao arcabouo legal as vilas, cidades, ou municpios no Brasil nasceram sob a

gide das Ordenaes Manuelinas (1521) e mais tarde sob o ordenamento jurdico contido

nas Ordenaes Filipinas (1603). As Ordenaes Manuelinas estipulava em seu livro1 ttulo

XLVI, os vereadores das cidades, e vilas, e cousas que a seus ofcios pertencem,

Tanto que os vereadores comearem servir seus Ofcios ham de saber, e veer, e requerer todos

os bens do Concelho, assi propriedades, herdades,casas, e foros, se ham aproveitados como

devem, e os que acharem mal aproveitados, falo-ham aproveitar e correger.(ORDENAES

MANUELINAS).

Conforme o estabelecido pelo direito portugus as Cmaras brasileiras tinham funes

judicirias e administrativas at o advento da Lei de 1 de outubro de 1828 que deu nova

forma as Cmaras Municipais, marca suas atribuies, e o processo para a sua eleio, e dos

Juzes de Paz. A modificao mais significativa encontra-se em seu Art. 24 que estabelece

que As Cmaras so corporaes meramente administrativas, e no exercero jurisdio

alguma contenciosa, logo, deixa de exercer a funo judiciria. Mas as atribuies relativas

ao patrimnio pblico e rendas da localidade estabelecidas pelas Ordenaes foram mantidas

Com a elaborao do Cdigo Civil de 1916, (web) tem-se o primeiro ato legal a disciplinar a

pratica da enfiteuse, posto que no Ttulo III dos direitos reais sobre coisas alheia, dentre eles

destaca-se a enfiteuse, e no capitulo II dispe nos artigos 678 a 691 os modos de constituio

e extino, as obrigaes e deveres do enfiteuta e do senhorio.

O ordenamento jurdico referente enfiteuse civil e administrativa tem desde 2002 um novo

marco jurdico com a aprovao do atual Cdigo Civil brasileiro. A Lei N 10.406 de 10 de

janeiro de 2002, que instituiu o Cdigo Civil, em suas Disposies transitrias estabelece:

Art. 2.038. Fica proibida a constituio de enfiteuses e subenfiteuses, subordinando-se as

existentes, at sua extino, s disposies do Cdigo Civil anterior, Lei no 3.071, de 1o de

janeiro de 1916, e leis posteriores. As terras pblicas continuam sob a gide do Cdigo Civil

de 1916.

Em relao ao ordenamento municipal a constituio de enfiteuse est regulada pela Lei N

1520, de 05 de junho de 2013, que dispe sobre a enfiteuse e seus desdobramentos legais em

imveis inseridos no quadro foreiro do Municpio de so Francisco do sul, e em seus 27

artigos disciplina a concesso de reas dentro do quadro foreiro da municipalidade.

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A Lei 1520 em seu Art.1 estabelece que as reas de terra inseridas dentro das coordenadas

georreferencias pertencentes ao imvel de matrcula n 7.066 do Cartrio do 1 Ofcio de

Registro de Imveis da Comarca de So Francisco do Sul so, para todos os efeitos legais,

reas foreiras.

Em relao ao foro indica no Art.5. que Foro (penso) a contribuio anual e fixa que o

foreiro ou enfiteuta paga ao senhorio direto, em carter perptuo, para o exerccio de seus

direitos sobre o domnio til do imvel, ressaltando no 1 O valor do foro anual ser igual

ao valor relativo ao IPTU do imvel, contudo, para a aferio, ser considerada apenas a rea

do imvel sem qualquer construo ou cultivo, 2 O foro ser anualmente corrigido

monetariamente com base nos ndices oficiais de inflao.

Como estipulado na legislao nacional o contrato de enfiteuse perptuo (Art.8), e

transmitido por herana, sendo vedada a diviso em glebas sem o consentimento do senhorio

(Art.9)

Em relao ao pagamento do foro a Lei prev ainda a possibilidade de iseno de seu

pagamento desde que o foreiro se encaixe nas exigncias estabelecidas:

Art.24. Ficam isentas do pagamento de foros, taxas de ocupao e laudmios, referentes aos

imveis de propriedade do Municpio, as pessoas consideradas carentes ou de baixa renda

cuja situao econmica no lhes permita pagar esses encargos sem prejuzo do sustento

prprio ou de sua famlia.

1 A situao de carncia ou baixa renda ser comprovada a cada 4 (quatro) anos, na forma

disciplinada pelo rgo competente, devendo ser suspensa a iseno sempre que verificada a

alterao da situao econmica do ocupante ou foreiro.

2 Considera-se carente ou de baixa renda para fins da iseno disposta neste artigo o

responsvel por imvel cuja renda familiar mensal for igual ou inferior ao valor

correspondente a 3,5 (trs salrios mnimos e meio) salrios mnimos.

A prtica da concesso de datas de terras do patrimnio pblico pela Cmara Municipal foi

to intensa, desde o perodo Imperial, que mesmo diante da proibio pelo Cdigo Civil de

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2002 de estabelecimentos de enfiteuse, em 2013 foi necessrio uma nova regulamentao que

disciplinasse a situao do imvel do denominado quadro foreiro do Municpio.

O quadro foreiro de So Francisco do Sul

Os estudos referentes ao processo de formao da propriedade da terra em So Francisco do

Sul a partir da ocupao territorial iniciada no sculo XVI indicam que o acesso terra se

concretizou atravs da concesso de sesmarias, posse e distribuio de terras publicas1.

A distribuio de terras pblicas se efetivou como poltica de povoamento empreendida

pelas autoridades provinciais de Santa Catarina, aps a proibio em 1822 de doao de terras

devolutas pelo sistema sesmarial.

Em So Francisco do Sul as autoridades municipais, escudadas no ordenamento portugus e,

na tradio rgia da doao de gleba de terra quando da fundao de vila, ou cidade, para

compor o termo da localidade, autorizava o aforamento dos terrenos do rossio, ou baldios,

para moradia, e para diferentes tipos de negcios, criao ou cultivo.

Os arquivos pbicos da municipalidade se constituram em fontes primordiais para se

entender a dinmica do instituto da enfiteuse na constituio da poltica de terras de So

Francisco do Sul.

Para se dimensionar como a prtica do estabelecimento de contrato de enfiteuse, ou

aforamento, pelas autoridades governamentais das terras pblicas incultas contribuiu para a

ocupao territorial da localidade, um importante documento que descreve o processo de

levantamento e medio dos terrenos efetuada em 1907, que deu origem ao que se configurou

como o quadro foreiro de So Francisco do Sul, se constitui em evidncia da poltica de terras

adotada pelas autoridades municipais.

1 Em publicaes indicadas nas referencias encontram-se as minhas anlises sobre o processo de ocupao territorial de So Francisco do Sul.

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Figura 1 Restaurao da medio de 1722

O quadro foreiro de So Francisco do Sul situa-se na parte insular do municpio. No sculo

XVIII, nessa parte da localidade se instalou a administrao da Vila de Nossa Senhora da

Graa do Rio So Francisco, sua denominao inicial. As sesmarias concedidas, durante o

perodo colonial, localizavam-se no continente do territrio da localidade. No entanto, os

terrenos concedidos por aforamento no se restringiram ocupao urbana, posto que, as

datas de terras cedidas em sua maioria tinham a dimenso das sesmarias do territrio

continental. Tal ressalva se impe na medida em que a visualizao do atual mapa de

distribuio e denominao pode propiciar uma compreenso enganosa da destinao inicial

dos terrenos que compem o quadro foreiro atual, que inclui parte dos bairros de Laranjeiras,

Rocio Grande, Morro Grande, gua Branca, So Jose de Acarai, Centro e Rocio Pequeno.

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Figura 2 Quadro foreiro atual. (2017)

De acordo com o ordenamento jurdico portugus vigente poca da elevao da

Freguesia de Nossa Senhora da Graa do Rio So Francisco a condio de Vila, a

responsabilidade pelo patrimnio pblico era da Cmara, nesse sentido as Atas das

sesses se constituram em fontes que possibilitaram o registro da existncia de pedidos

de datas de terras do patrimnio daquela instituio. A partir do levantamento realizado

junto a essa fonte documental foi possvel perceber a importncia desempenhada pela

Cmara Municipal na construo da histria social da municipalidade. Infelizmente, como

os livros de Atas das Sesses da primeira metade do sculo XIX no se encontravam no

acervo da instituio, foi possvel somente o acesso aos pedidos de terras registrados nas

Atas referentes segunda metade do sculo XIX.

De acordo com o levantamento realizado nas Atas da Cmara o encaminhamento de

pedido de terras pertencentes ao patrimnio pblico se transformou em um instrumento de

acesso terra utilizado com regularidade pelos moradores da localidade. A lamentar que

nem sempre acompanhava o pedido a dimenso do terreno requerido. Porm, naqueles

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em que consta o tamanho solicitado pelo morador possvel inferir que alguns se

destinavam prioritariamente a moradia, na medida em que o terreno recebido media cerca

de quatro braas, caso da petio de Hermelino Jorge de Linhares, de acordo com a Ata da

6 Sesso Ordinria de 1 de Agosto de 1868. Em contrapartida, na mesma sesso,

Francisco Jos de Souza pedia uma data de terras devolutas de 100 braas de frente com

70 de fundos pertencentes ao patrimnio da Cmara, e esclarecia que as ditas terras se

situavam nos fundos de terras aforadas por ele. O pedido foi deferido E na mesma sesso,

outra petio do mesmo Souza requeria 09 braas de terras devolutas que se encontravam,

tambm dentro dos marcos de outras terras de que era foreiro. Nesse sentido pode-se

observar como a cesso de terras pblicas possibilitou a concentrao de terras por parte

de alguns foreiros.

Em relao dimenso das datas de terras solicitadas, e sua similitude com as das

sesmarias concedidas no mesmo perodo na vila de So Francisco do Sul, a petio de

Joaquim Jose da Rosa, Bernadino Jose da Rosa, Joao Jose Vieira e Venncio Francisco da

Rosa em que pediam 2.500 braas de terras de frente com 500 braas de fundos, na

localidade Bananal ao sul do rio Itapoc demostra que algumas das terras cedidas eram

maiores dos que a maioria das sesmarias doadas na regio2.

Os aforamentos das terras pblicas desde o seu inicio se constituram em fonte de

rendimento para as Cmaras de Vereadores. Nesse sentido convm revisitar as

caractersticas da enfiteuse: um negcio jurdico pelo qual o proprietrio (senhorio)

transfere ao adquirente (enfiteuta), em carter perptuo, o domnio til, a posse direta, o

uso, o gozo e o direito de disposio sobre bem imvel, mediante o pagamento de renda

anual (foro).

A Prefeitura Municipal recebe os pagamentos dos foros e os registra em livros prprios. A

coleta de dados nesses livros, lamentavelmente no inclui aqueles relativos ao sculo XIX,

pois desconhecida sua localizao. Por esse motivo foram colhidas informaes de 1907

at 1925, onde possvel ter acesso as seguintes informaes: nome, nmero de braas,

local da concesso, data em que foi passado o titulo, procedncia da posse, foros anuais,

2 Ver FINDLAY, Eleide A G. Consideraes acerca da distribuio de terras na regio da Baa da Babitonga. Fronteiras.

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data do pagamento dos foros e observaes. As anotaes constantes no item observaes

indicam as transferncias de titularidade por herana, j que os contratos de enfiteuse tm

a caracterstica da perpetuidade, ou do domnio til por venda. O livro n 1 de registro de

foros tem assinalado como o primeiro registro o Foreiro: Herdeiro do finado Igncio Jose

de Sousa, terreno com 180 braas, no Rocio Pequeno, com pagamento de foro desde

18903. Essa informao refora a tese de que as terras cedidas em aforamento pela

Cmara Municipal destinavam-se a produo em terras incultas.

A exigncia da lavratura de escriturao pblica no registro de imveis, tornou os

documentos cartoriais constantes do arquivo do 1 Ofcio de Registro de Imveis Gilberto

Alves de Carvalho, da 1 Circunscrio da Comarca da So Francisco do Sul, em

importante fonte para a identificao e quantificao dos que tiveram acesso terra por

intermdio dessa modalidade disponibilizada populao da localidade.

No Registro de Imveis o livro n2 de Registro Geral encontra-se a matricula n 7.066,

com data de 14 de fevereiro de 1978, e que identifica como imvel um terreno do

patrimnio municipal de forma de trapzio retngulo, abrangendo uma rea de

18.068.325m e um permetro de 17.036,00 metros lineares, no qual so descritas as

caractersticas do terreno a partir de levantamento feito em 19 de maro de 1907 e seu

memorial de medio transcrito textualmente no documento, e conforme a planta

restaurada da medio de 1722.

A referida matrcula foi realizada em cumprimento a determinao da Corregedoria Geral

da Justia, em concluso ao parecer do Ministrio Pblico em decorrncia de um processo

de consulta feita pelo Cartrio com o objetivo de regularizar os registros dos documentos

relativos ao quadro foreiro, j que, muitas vezes havia duplicidade de concesso de

titulao de terrenos, ausncia de registro dentre outras dificuldades enfrentadas pelo

responsvel do estabelecimento.

Na certido de matricula n7. 066 existem o registro de 385 concesses de aforamento e

em cada registro tem-se o nome do foreiro, a rea da concesso e a localidade do terreno,

3 A dimenso das sesmarias doadas na regio do ncleo de So Francisco do Sul variava de 70 braas de frente a 1500 braas.

13

assim como o nmero de matrcula original da concesso. A essas informaes foram

adicionadas as constantes nas certides de matrculas, na quais consta a naturalidade,

estado civil, profisso, e a residncia do foreiro.

A existncia de um quadro foreiro georeferenciado que disciplinou e regularizou a doao

das terras pblicas pertencentes ao patrimnio da Municipalidade indica que os moradores

excludos das formas mais costumeiras de acesso terra, como por exemplo a concesso

de sesmarias, utilizadas pelos povoadores, vislumbraram na enfiteuse, ou aforamento, a

possibilidade de obteno de um terreno para a produo de sua sobrevivncia e de

acesso a propriedade de terra.

Referencias Bibliogrfica

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