o adoecer no corpo: uma manifestaÇÃo de um trauma … · 2019-05-30 · desejo do pai, que já...
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Organiza Federación Psicoanalítica de América Latina
Septiembre 13 al 17 de 2016 Cartagena, Colombia
“O ADOECER NO CORPO: UMA MANIFESTAÇÃO
DE UM TRAUMA INCONSCIENTE?”
Angelica Herminia de Aguiar Oliveira
Eixo: O Corpo na clínica
Palavras-chaves: Inconsciente; Corpo; Irrepresentável
Resumo
Esse trabalho tem como objetivo levantar uma hipótese do adoecer no corpo como uma
manifestação de um trauma inconsciente. A ideia é investigar se é possível que o adoecer no
corpo tenha a mesma lógica do adoecer psíquico proposta por Freud, ou seja, um trauma,
carga de afeto/excitação superior a possibilidade de ser metabolizada, absorvida e
descarregado por vias psíquicas e somáticas, restando como saída o sintoma, seja no âmbito
do psiquismo ou no do corpo. O que mudaria o sentido, a direção para o corpo? A
possibilidade do trauma ser da ordem do primitivo, não representável em palavras, de algo
ocorrido anterior ao pulsional? Apresento uma vinheta clínica, onde trago o relato de uma
paciente, onde tento fazer associações dos achados nas sessões, entre o dito e o não dito, com
aspectos do que trazem esses autores em suas teorias, buscando subsidiar ainda mais essa
discussão articulada entre o corpo e a mente. Assim como, também refletir como a
psicanálise pode, hoje, se posicionar sobre o adoecimento no corpo somático e, ainda: como
podemos com o método psicanalítico, repensar a clínica, a fim de contemplar a compreensão
e a analisabilidade desses sintomas cada vez mais frequentes.
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Desarrollo
O que determinaria a apresentação de um sintoma, ou de um transtorno, ser no
psiquismo ou no corpo físico? É possível que situações traumáticas vividas em momentos
anterior à linguagem, determinem marcas, sequelas ou impossibilidades, que quando ativadas
por um fato posterior, possa trazer à tona um sintoma, ou mesmo, uma patologia no corpo
que fale desse sofrimento, que o reproduza, ou melhor, que revele esta marca, esta dor? Para
dialogar em torno dessas interrogações, faço um percurso preambular a partir de Freud,
articulando algumas ideias de autores que estudaram o sintoma no corpo, apontando para este
vértice do não reprentável, como Winnicott, Joyce Mcdougal, André Green e Arnaldo
Rascovsky, que enfocaram predominantemente o campo das experiências primitivas na
relação com o outro, experiências da ordem da sobrevivência e da necessidade e portanto
anteriores ao pulsional representável. Estes autores apontam e em certo ponto convergem no
sentido de que as falhas neste campo de experiências, mais primitivas, dependendo de sua
gravidade, geram falhas estruturais, incluindo-se aí as doenças somáticas, ou estados
dissociados que, ao surgirem na clínica, demandam novas formas de manejo, diversas
daquelas apropriadas para lidar com o inconsciente recalcado em estruturas já estabelecidas.
VINHETA CLÍNICA
Trata-se de uma paciente, com 37 anos de idade, solteira, advogada, que me procurou
para tratar-se de um quadro clínico com muitas manifestações no aparelho ginecológico:
cistos de ovários, nódulos de mama, e endometriose. Este quadro vinha associado a uma
fibromialgia intensa: dores musculares generalizadas em todo o corpo. A mesma, entendia
que tinha uma depressão subjacente a todo esse cortejo sintomático, por isso resolveu
procurar análise com uma médica, assim se apresentou.
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No nosso primeiro contato falando de si, usou a expressão “Sou entendida e não
tenho problemas em admitir ou assumir isto”. Eu não compreendi o que ela estava me
dizendo e ela se explicou dizendo que esta expressão “Entendida” significava ser
homossexual e, este, era um termo usado entre eles para se designarem. Nesta fala, a negativa
pressupõe a afirmativa – tenho problemas com isso – revelado pela extensa disfuncionalidade
em seu aparelho genital, traduzindo-se como uma grande ferida em sua feminilidade.
Seu corpo é masculinizado, sua pélvis é estreita e seus ombros largos. Sua fala e sua
meiguice, são femininas. Ela é esguia, de tônus muscular rígido. Seu nome traz na sua
composição uma conjugação, um nome composto, sendo um masculino e um feminino. Ela
não gosta e escolhe para ser chamada, o nome que está no feminino.
Ao descrever sua relação familiar, demonstra uma falta de intimidade, um
distanciamento afetivo. “Somos onze irmãos e eu sou a sexta. Sou de família pobre, pai
pedreiro e mãe doméstica. Pais distantes dos filhos. Ele é alcoólatra e machista. Foi todo um
sofrimento pra mãe. Pai não queria que eu estudasse, era pra eu casar. Saí de casa pra
estudar na capital e pai deixou de falar comigo”. No decorrer das sessões trazia sua mãe
como uma mulher passiva, sofrida e indiferente – “Eu me apegava às mães de minhas
colegas que me admiravam porque eu era estudiosa”.
Iniciamos a análise com duas sessões semanais que transcorreu por quatro anos. Antes
da análise, seus relacionamentos eram sempre com garotas mais necessitadas do que ela, seja
financeiramente, culturalmente, inclusive mais jovens. A esse respeito, comentava: “Com o
tempo, as pessoas com quem me relacionei se desenvolviam, evoluíam, e quando não
precisavam mais de mim, me deixavam”. Sentia-se usada. “Tenho atração por pessoas
jovens, complicadas, para eu cuidar. Sempre como uma mãe incisiva. Sou mandona,
independente, tenho que ter alguém pelo menos para pensar, sonhar e fazer planos”.
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Sua relação com o trabalho era de exclusivo cumprimento do dever, não tem nenhum
prazer, apesar de ser bem remunerada e ter um emprego público adquirido por concurso. Tem
um bom padrão de vida, mas isto não a faz vibrar. Nada a faz feliz, sempre se queixa de
tédio. Não foi difícil para ela compreender a sua intensa fibromialgia. Que esforço para viver
essa vida sem prazer, esta vida entediante, pontuei. Esta fibromialgia frequentemente lhe
gerava afastamentos do trabalho por licença saúde. O que a doença, ou seu transtorno no
corpo revelava para ela? Com o afastamento, ficava fácil dizer: ela não queria ir trabalhar. O
inconsciente dela manifesto ali em sua corporeidade, lhe revelava que gostaria mesmo era de
ser cuidada “de graça”, expressão que ela usava várias vezes nas sessões: “Não acho nada
interessante eu mesma lutar e custear a minha vida... o bom mesmo era ter tudo isso de
graça”.
Dizia eu: Porque você acha que se formou essa machucadura no seu útero? Nesse
órgão que representa em nós a maternidade? Ela seguia dizendo: Mãe é seca! Não tem
prazer em nada. Cuida da gente, como quem cuida dos pratos. Não gosto de ir ao interior.
Não sinto prazer em vê-la, mas não creio que isso me adoeça. Eu nem penso nela. Eu me
afastei dela tão cedo...”. Nestes quatro anos de análise, ela não namorou ninguém. Só estava
se interessando por mulheres heterossexuais (naturalmente...!) Passou a sonhar engravidando
várias vezes. Sempre meninos. As dores do corpo passaram. Estava se sentindo bem e quis
parar com a análise. Seus exames não revelaram mais endometriose. Isso a deixara muito
feliz. Concordamos com o fim daquele período analítico.
Passou um ano e retornou a análise referindo que desta vez só queria parar “quando
se encontrasse de verdade”. Neste período em que ficou sem análise, conheceu uma moça
interessante, também bem sucedida. Entusiasmada com a sua mudança de padrão emocional,
se envolveu afetiva e sexualmente. “Entregou-se”, disse a mim. E ocorreu o contrário do que
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ela esperava viver. Se comportou como uma menina, mendigando o amor da outra mulher,
ambas não souberam o que fazer e o relacionamento acabou. Ela sofreu demais! Agora ela
sabia que dor era esta! Uma dor que nunca sentira antes: Dor de alma! Chorava muito, feito
uma menininha de 3 a 5 anos. Provavelmente no lugar deste sofrimento esteve instalado por
muitos anos, possivelmente, as dores fibromiálgicas, as dores encapsuladas em forma de
cistos e nódulos, as feridas endometrióticas. Antes era a secura da alma registrada num corpo
que doía imensamente. Agora, era a expressão genuína da dor de um ser humano que clama
por amor, por pertencência, por ser de alguém. E isto ela sentiu e pôde compreender-se.
Continuou em análise, os sonhos se intensificando, gerando filhos. Com mais um
ano, decidiu adotar uma criança. Acompanhou toda a gestação da mãe que iria doar a criança.
Não sabia o sexo. Dizia preferir homem, mas entendeu que deveria aceitar o que viesse, como
sendo obra do destino, “assim como são com os filhos verdadeiros.... a gente não escolhe
mesmo, né?”, dizia ela. E veio uma menina, da qual me permito revelar o nome verdadeiro,
por ser muito significativo. O nome que ela escolheu para a menina foi “Vida”. Com o
nascimento e adoção da filha, ela teve direito a seis meses de licença maternidade. Sobre isso
comenta: “Esse é o primeiro período que estou sendo remunerada para não fazer nada, só
para cuidar de Vida... quero aproveitar ao máximo esse tempo, especialmente para me
conhecer...”.
O relato deste caso clínico me surgiu para demonstrar uma forma de abordar o
sofrimento no corpo, numa articulação com seu psiquismo e, muito provavelmente, com a
vida intrauterina. Ainda que o próprio paciente não compreenda a natureza do seu sofrimento,
ainda que não saiba falar dele, é o que ele mais necessita, como forma real de aumentar sua
saúde psíquica, física e emocional – uma maneira real de se prevenir sofrimentos e sustos
posteriores, quando nos salta um retorno do não representável, por assim dizer. Este retorno
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do não representável salta sob a forma de patologias, cada vez mais graves, como é o caso
dos cânceres, patologia muito frequente atualmente, representante desse vazio
representacional no corpo. Bem como, patologias como endometriose e fobromialgia que a
medicina tradicional não tem fundamentação etiológica que justifique ,as patologias do
vazio, propriamente ditas.
A referida paciente tem sua vida e sua vinda ao mundo, marcadas por um contra
desejo do pai, que já preferia que ela fosse do sexo masculino. Não bastasse isso, lhe dá um
nome que já trazia em si uma marca do masculino-feminino. Esta trama vincular dos pais,
segundo Rascosviski, em sua teoria do psiquismo fetal, já é sentida pelo feto e registrada no
corpo sob forma de dores e disfunções.
Ela, a unidade psicossomática, não é algo dado, é um fenômeno que depende das
condições ambientais que garantam a continuidade da existência de todo indivíduo
que inicia sua vida. A construção do corpo é relacional e está vinculada ao ambiente
sustentador do processo de amadurecimento do bebê” (Winnicott, 1987e[1966] /1988,
p. 10).
Para Winnicott (1966d[1964] /1994), o distúrbio psicossomático constitui um sistema
defensivo formado por uma cisão e vários tipos de dissociação. Esse sistema defensivo é
criado pelo bebê logo no início de seu processo maturacional, o que significa que precisa ser
compreendido como uma patologia que está na linha das psicoses. Essa organização
defensiva tem a função de afastar a ameaça de aniquilamento. Winnicott, nos mostra que
todas as experiências que o bebê precisa para se tornar uma pessoa inteira são permeadas
pelas experiências corpóreas pessoais muito precoces e, por isso, o modo como o bebê entra
em contato com seu corpo não é do domínio do campo representacional e sim do campo
experiencial, das situações concretas que vivencia dia a dia. Essas experiências ocorrerão por
meio de aspectos da corporeidade humana: odores, sons e gestos que estão presentes numa
comunicação sutil e concreta feita entre mãe e filho.
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No caso da minha paciente, seu corpo duro seco e rígido, repleto de dores, revelavam
mais do que um ato falho ou um chiste, uma marca profunda, antiga, impossível de ser dita,
um sintoma, uma dor. André Green, sugere que na defesa somática há uma tentativa
fracassada de encenar um conflito entre eu e objeto no qual os impulsos agressivos dirigidos
para o soma acabam por provocar uma lesão orgânica, caracterizando uma espécie de acting-
in, uma atuação-dentro ou um agir sobre o corpo que revela a inflexão da agressividade ante a
impossibilidade de representar, de expressar simbolicamente o sofrimento psíquico (Green,
1988c, p. 45). Por meio da dor, o paciente fronteiriço pode experimentar certa delimitação
entre eu/outro, realidade interna/realidade externa, compensando, ao menos em parte, a ação
fracassada do negativo na constituição dos limites. No entanto, é principalmente o uso
defensivo da clivagem, além da tentativa de desligamento, da anestesia e do recurso à dor,
que mais caracteriza esses pacientes.
Quando interrogo sobre que machucadura seria essa em seu útero, a referida paciente
diz num ato de associação livre, como num sonhar possivelmente: “Mãe é seca! Não tem
prazer em nada. Cuida da gente, como quem cuida dos pratos. Não gosto de ir ao interior.
Não sinto prazer em vê-la, mas não creio que isso me adoeça. Eu nem penso nela. Eu me
afastei dela tão cedo...”.
Observamos nesta fala, que a própria paciente não crê que isso a adoeça, como propõe
todos esses autores, a questão do vazio representacional, a falta de expressão simbólica.
McDougall, explica que a função da mãe teria o papel de "pára-excitação", fornecendo
significantes para que o bebê possa lidar com essa energia, permitindo o acesso da criança, à
palavra e favorecendo o desenvolvimento da capacidade de simbolização. Porém, se esse
ambiente que possibilitaria o indivíduo a lidar com essa energia pulsional não existe, o bebê
não tem acesso aos significantes vindos da mãe, não podendo, então, drenar a energia através
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da circulação desta por entre os significantes. Isto não ocorrendo, a saída seria, segundo a
autora, a desafetação como saída para a somatização, como é o caso da nossa paciente.
Usei a doença como expressão do inconsciente, interpretando sempre com os
símbolos, as metáforas pertinentes ao que se apresentava na relação analítica. Interpretava o
corpo com a expressão mais genuína do seu sentir, ainda que não apreensível pela ordem da
palavra. Sim, teria que fazer dessa forma, senão a sessão viraria o tédio que ela tanto
reclamava em sua vida, pois ela era muito silenciosa. A nossa relação se transformaria
fatalmente na relação fria e seca, como ela se referia à mãe dela.
Joyce Mccdougall se reporta à vivência transferencial desses tipos de pacientes com o
analista, que se faz na intensidade de afeto, ressaltando o fato de geralmente este tipo de
paciente apresentar dificuldades de base narcísica, e consequente negação da aceitação para
auxilio.
As dificuldades contratransferências que quase inevitavelmente surgem neste tipo de
trabalho não residem na incapacidade de identificar-se com o lactente escondido no
mundo interior de nossos analisandos. Decorrem, antes, de sua total incapacidade de
acreditar que poderiam ser ajudados, apesar do sofrimento que existe neles.
Preferem destruir qualquer oferta de auxílio a terem que mergulhar novamente nas
experiências traumáticas o início da infância (MacDougall, p. 129).
MacDougall (1991) defende que para o processo de análise possa acontecer de modo
eficiente, é indispensável que o sujeito seja capaz de entrar em contato com seu sofrimento e
estar disponível para refletir sobre influências inconscientes. Mais do que isso, é necessário
também uma estrutura egóica fortalecida, com capacidade de lidar com angústias
consequentes do processo analítico. Afinal, quanto mais prejudicado for o equilíbrio interno
do sujeito, mais ele terá que lutar para manter suas defesas ativas, o paciente apresenta
impossibilidade de pensar sobre fatores ligados à seu próprio adoecimento: “Não gosto de ir
ao interior. Não sinto prazer em vê-la, mas não creio que isso me adoeça. Eu nem penso
nela. Eu me afastei dela tão cedo...”. Quando se refere ao interior, pensa estar se referindo à
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sua cidade do interior, onde nasceu, e residem seus pais, mas podemos pensar, no seu interior,
uma certa ilha de secura e frieza de afetos.
Segundo Green, “estes núcleos podem receber a designação de arquipélagos”, tal
metáfora nos remete à imagem de uma ilha cercada por água que alude à falta de unidade,
coerência e comunicação entre o ego e seus elementos cindidos. São esses espaços vazios,
mais do que as ilhas, que caracterizarão a constelação psicopatológica do paciente fronteiriço
como “uma coexistência de pensamentos, afetos, fantasias contraditórias, mas, além disso,
subprodutos contraditórios do princípio do prazer, do princípio da realidade, ou de ambos”
(Green, 1988d, p. 85). Um discurso vazio, repleto de palavras desconexas, sem encadeamento
como um “colar de pérolas sem fio” (Green, 1988d, p. 85), expressa eloquentemente a
dificuldade de representar e de expressar afetos, bem como o contato limitado com o outro,
aspectos característicos do paciente fronteiriço que indicam a prevalência do mecanismo de
clivagem.
Assim como nos sintomas psíquicos, no físico também parece ocorrer, a negativa, a
defesa, o recalque, ou mesmo o excindido com denominaria André Green. E quando esses
traumas ocorrem em um período muito tenro da vida, antes mesmo da representação verbal,
ou até mesmo na vida intrauterina, como postulou Rascosviski, mais inconsciente é a dor, e
mais difícil é para o paciente acessar o sentimento gerador de tal disfuncionalidade. Assim
como tão difícil será o manejo na relação transferencial, na abordagem desses pacientes que
trazem o seu sofrimento estampado na sua corporeidade. Acerca de exemplificar essa
hipótese do psiquismo fetal, inferimos que toda a negação de sua feminilidade, expressa no
seu corpo, através do nódulos e cistos mamários e ovarianos, assim como um útero com
endometriose, possam ter advindo desde a negação do desejo dos pais, como da falta de
identificação, com esse feminino da mãe, tão lhe negado. Até mesmo a questão da sua
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homossexualidade, assume um caráter contraditório, não compreensível por ela. A princípio,
diz ser “Entendida” e não ter problemas em assumir a homossexualidade, mas não usa de
pronto o termo pertinente. Adiante, seu desejo, apesar de gostar de mulheres, só pensava em
adotar filho homem.
A evolução do caso demonstra que as antigas marcas de sofrimento psíquico, sem
memória ou representação de palavra ou mesmo simbólica, podem ser contidas,
compreendidas, interpretadas e decodificadas, ajudando o paciente a se compreender e usar o
seu psiquismo – as outras ilhas do seu arquipélago – para mudar a sua história e não ficar
refém da doença do corpo, como um estatuto de saber apenas do outro, no caso, da medicina.
A paciente que veio marcada ao mundo, destinada a não ter filhos, pela própria
“biologia” do seu corpo, biologia essa que podemos compreender um pouco mais do que
apenas o seu determinismo genético, e ainda que fosse, mudou a sua história. Teve filhos!
Sim filhos! Um ano depois, adotou outro, agora um homem, que deu o nome do seu avô
materno, onde foi buscar um modelo de pertencimento e identificação afetiva. Se não
pudermos mudar o corpo, que num futuro poderá até se pensar, que possamos com o
psiquismo compreendê-lo, ajudá-lo a criar novas formas de satisfação libidinal, novos
arranjos corpo-mente, capazes de trazer de um modo mais criativo e verdadeiro, a harmonia e
saúde integral.
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