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Universidade do Estado do Pará Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Programa de Pós-graduação em Enfermagem Mestrado Associado UEPA/UFAM Marta Solange Camarinha Ramos Costa Adoecer e adolescer com câncer e suas repercussões para o cuidado de si: um estudo de Representações Sociais Belém-PA 2013

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Universidade do Estado do Pará Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação Centro de Ciências Biológicas e da Saúde

Programa de Pós-graduação em Enfermagem Mestrado Associado UEPA/UFAM

Marta Solange Camarinha Ramos Costa

Adoecer e adolescer com câncer e suas

repercussões para o cuidado de si: um estudo de

Representações Sociais

Belém-PA 2013

Page 2: Adoecer e adolescer com câncer e suas repercussões para o ... · Representações Sociais Belém-PA 2013 . Marta Solange Camarinha Ramos Costa Adoecer e adolescer com câncer e

Marta Solange Camarinha Ramos Costa

Adoecer e adolescer com câncer e suas

repercussões para o cuidado de si: um estudo de

Representações Sociais.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Pará (UEPA), como requisito para obtenção do título de Mestre em Enfermagem. Linha de Pesquisa: Educação e tecnologias de enfermagem para o cuidado em saúde a indivíduos e grupos sociais. Orientadora: Profa. Dra. Mary Elizabeth de Santana.

Co-orientador: Prof. Dr. Sílvio Éder Dias da Silva.

Belém-PA 2013

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Dados Internacionais de Catalogação na publicação

Biblioteca do Curso de Enfermagem da UEPA – Belém - Pá

C837 Costa, Marta Solange Camarinha Ramos

Adoecer e adolescer com câncer e suas repercussões para o cuidado de si: um

estudo de representações sociais / Marta Solange Camarinha Ramos Costa; Orientadora:

Mary Elizabeth de Santana - Belém, 2013.

112 f.; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade do Estado do Pará, Belém,

2013.

1. Câncer 2. Representações sociais. 3. Enfermagem I. Santana, Mary Elizabeth

(Orient.) II. Título.

CDD: 21 ed. 616.994

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Marta Solange Camarinha Ramos Costa

Adoecer e adolescer com câncer e suas

repercussões para o cuidado de si: um estudo de

Representações Sociais.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Pará (UEPA), como requisito para obtenção do título de Mestre em Enfermagem.

Data de Aprovação: 20/09/2013

Banca Examinadora:

_____________________________________________ - Orientadora. Profa. Dra. Mary Elizabeth de Santana – UEPA

_____________________________________________ - Examinador Interno efetivo. Profa. Dra. Iací Proença Palmeira – UEPA

_____________________________________________ - Examinador Externo efetivo. Prof. Dr. Sílvio Éder Dias da Silva – UFPA

_____________________________________________ - Examinador Interno suplente. Profa. Dra. Ingrid Magali de Souza Pimentel – UEPA

_____________________________________________ - Examinador Externo suplente. Profa. Dra. Jacira Nunes Carvalho – UFPA

Belém 2013

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À minha mãe, meu grande exemplo de luta e

coragem;

Ao meu esposo Elierson e aos nossos filhos

Mateus e Elis, meus bens mais preciosos nesta

vida;

À Priscila, ex-paciente oncológica na

adolescência e atual amiga, que me inspirou

para a realização desta pesquisa;

À todos os adolescentes que vivenciam o

câncer, em especial, à Maria, filha da amiga

Wanda, exemplo de força e fé na luta contra a

doença.

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AGRADECIMENTOS

À Deus Pai, todo poderoso, pelo dom da vida. À Deus filho, Jesus Cristo, por

me ajudar em todos os meus projetos, em particular na conclusão deste mestrado.

Ao Espírito Santo, pela iluminação para redigir essa dissertação.

À Nossa Senhora de Nazaré, que sempre passou na frente em todos os

momentos de minha vida, amparando-me como Mãe e intercedendo por mim junto

ao Pai.

Aos Anjos e Arcanjos do Senhor, pela proteção diária.

À minha orientadora Dra. Mary Elizabeth, por me conduzir na pesquisa,

acreditar no meu potencial e nortear o meu caminho para a conclusão deste

mestrado.

Ao meu co-orientador Dr. Sílvio Éder, por me introduzir no estudo da TRS e

me ajudar na construção do meu conhecimento teórico, seu apoio e sua orientação

foram imprescindíveis para o desenvolvimento da minha pesquisa. Muito Obrigada.

Ao meu esposo Elierson, meu grande amor de adolescência, que vem

acompanhando meu crescimento profissional desde a minha graduação, sempre

incentivando e apoiando todos os meus projetos, agradeço pela paciência

compreensão e pelo amor de vinte anos.

Aos meus filhos, Mateus, meu primeiro milagre, meu pequeno príncipe, meu

grande orgulho, e Elis, minha princesinha, que acompanhou intimamente a

construção desta dissertação, desde quando estava sendo gerada em meu ventre.

Agradeço por serem meus grandes inspiradores e por darem sentido à minha vida.

Aos meus pais, Murilo e Glória, por me ajudarem a crescer como pessoa e

como profissional. Minha mãe, sempre presente, me incentivando e confiando no

meu potencial. Meu pai, mesmo distante, tem um grande orgulho da sua filha

primogênita.

À minha irmã, Cynthia, mulher de fibra e coragem. Agradeço-te pelo amor

fraterno, pelo apoio diário e por me ajudar a cuidar dos meus filhos enquanto eu

estudava e redigia a minha dissertação.

À minha sogra, Eunice Costa, minha segunda mãe, pequena na estrutura

física, mas enorme no coração. Agradeço por me incentivar, me ajudar nos

momentos de dificuldade e por cuidar da minha bebezinha para eu poder concluir

este Mestrado.

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Aos membros da banca avaliadora da dissertação, por contribuírem, com

seus valiosos conhecimentos, para o aperfeiçoamento desta pesquisa.

Aos professores do curso de Mestrado em Enfermagem UEPA/UFAM, em

particular à Dra. Elizabeth Teixeira que me ajudou sobremaneira na construção

dessa dissertação e à Dra. Iací Proença, por ser uma grande incentivadora na

pesquisa da TRS. Vocês são minhas “musas” inspiradoras.

Às amigas da turma do Mestrado, pela amizade e companheirismo e por

dividirem comigo os momentos de ansiedade e aflição, ao longo desses dois anos,

desde o processo seletivo até a defesa da dissertação.

Às amigas mestres da turma 2010 do PPGENF, pelo convívio desde

quando entrei como aluna especial, sempre me apoiando e me incentivando.

Agradeço pela torcida.

Às amigas Tatiana Panzetti e Esleane Vasconcelos, por me acompanharem

e me apoiarem em todos os momentos deste Mestrado. Vocês são muito especiais.

À secretária do PPGENF, Nelma Ramos, por sua disponibilidade e

competência.

Ao Hospital Ophir Loyola, por autorizar a realização desta pesquisa, e à sua

competentíssima profissional e grande amiga Enfa. Denise Silva, peça fundamental

em meu crescimento profissional, desde quando eu fazia Residência neste hospital.

À todos os profissionais do HOL, em particular da Quimioterapia (onde

trabalhei por 8 anos), da Hematologia e do Hospital Dia, por contribuírem e

facilitarem a minha coleta de dados.

Aos adolescentes, sujeitos deste estudo, por aceitarem fazer parte da

pesquisa e dividirem comigo toda a sua vivência do adoecimento de câncer. Vocês

me mostraram que meus maiores problemas são bem pequenos diante de tudo que

vocês têm passado com a doença.

À SESPA e ao HUJBB, em particular, às minhas chefias Dra. Rita Facundo

e Dra. Shirley Dourado, pela compreensão, incentivo e principalmente pelas

liberações para que eu cumprisse as atividades do mestrado.

Às colegas de trabalho da Coordenação de oncologia e da UNACON-

HUJBB, por entenderem minhas ausências e me incentivarem em todos os

momentos.

À todos os amigos e familiares que torceram por mim e acreditaram que eu

iria conseguir e aos que direta ou indiretamente contribuíram para a conclusão deste

Mestrado.

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“[...] Talvez não tenha conseguido

fazer o melhor, mas lutei para que o

melhor fosse feito [...] Não sou o que

deveria ser, mas Graças a Deus, não

sou o que era antes”.

Marthin Luther King

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RESUMO

COSTA, Marta Solange Camarinha Ramos. Adoecer e Adolescer com câncer e suas repercussões para o cuidado de si: um estudo de representações sociais. 2013.117 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade do Estado do Pará, Belém, 2013.

O presente estudo tem como objetivos: descrever as representações sociais de adolescentes sobre o processo de adoecimento de câncer e analisar as repercussões dessas representações sociais para o cuidado de si. É um estudo do tipo descritivo, com abordagem qualitativa, com base na Teoria das Representações Sociais segundo a vertente processual defendida por Serge Moscovici e Denise Jodelet. Os sujeitos foram trinta e um (31) adolescentes, na faixa etária de 11 a 19 anos, acometidos por câncer e em atendimento no Hospital Ophir Loyola, em Belém-Pa. A coleta de dados foi realizada no período de janeiro a março de 2013, por meio de entrevistas semi-estruturadas, individuais, realizadas pela pesquisadora. Para a análise de dados foi utilizada a técnica de análise de conteúdo temática de Bardin (2011). Os resultados foram organizados em quatro categorias: Na primeira categoria, conceituando o câncer como doença psicossocial, evidenciou-se que o câncer é representado como doença que pode levar à morte, doença que pode ser curada ou doença normal. Na segunda, vivenciando o adoecer e o adolescer com câncer, os sujeitos referiram as mudanças vivenciadas, preconceitos vivenciados e o apoio vivenciado. Na terceira categoria, enfrentando as alterações corporais advindas do adoecimento, os sujeitos fundamentaram seus discursos sobre as alterações provocadas pelo câncer e pelo tratamento através da vergonha do corpo alterado e o enfrentamento positivo das alterações corporais. Na quarta categoria, cuidando de si durante o adoecimento de câncer, a maioria dos sujeitos referiu um maior cuidado após o adoecimento de câncer, em contrapartida, outros referiram não se cuidar como deveriam. O estudo concluiu que, o processo de adoecimento de câncer na adolescência, leva, inevitavelmente à inserção do adolescente no universo hospitalar, com distanciamento e diferenciamento de seus pares e restrição das atividades próprias da sua faixa etária. A maioria dos sujeitos desta pesquisa se sente envergonhado, discriminado, rejeitado, isolado, com medo da morte, perdendo sua identidade e representa o adoecimento de câncer como um processo “difícil”, “ruim” e “chato”. Apesar destas representações negativa do adolescer com câncer, alguns jovens enfrentaram positivamente este processo, com esperança da cura, apoiados na sua fé, aceitando e se adaptando ás alterações corporais e mantendo o autocontrole, neste caso, foi ressaltado por eles a grande importância do apoio da família e dos amigos, após o diagnóstico da doença. Assim, conhecer as representações sociais de adolescentes sobre o processo do adoecimento de câncer e sua repercussão para o cuidado de si, favoreceu compreender como a doença foi inserida no cotidiano deste grupo social e, a partir desse conhecimento, o enfermeiro e toda a equipe multidisciplinar, poderá subsidiar uma assistência de maior qualidade, com vistas à integralidade e individualidade de suas ações a esta clientela.

Palavras-chave: Enfermagem. Adolescente. Câncer. Psicologia Social.

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ABSTRACT

COSTA, Solange Camarinha Marta Ramos. Sick and adolescent with cancer and its impact on self-care: a study of social representations. 2013.117 f. Dissertation (Master's in Nursing) - University of Pará, Belém, 2013. This study aims to describe the social representations of teenagers about the disease process of cancer and analyze the impact of these social representations for self-care. It is a descriptive study with a qualitative approach, based on the theory of social representations according to the procedural aspect defended by Serge Moscovici and Denise Jodelet. The subjects were thirty-one (31) adolescents, aged 11-19 years, suffering from cancer and in attendance at Ophir Loyola Hospital, in Belém-Pa. Data collection was carried out from January to March 2013, by means of semi-structured individual held by the researcher. For data analysis we used the technique of thematic content analysis of Bardin (2011). The results were organized into four categories: the first category, conceptualizing psychosocial diseases like cancer, it is clear that cancer is represented as a disease that can lead to death, disease that can be cured or normal disease. In the second, experiencing illness and adolescent with cancer, the subjects reported the changes experienced, experienced prejudice and support experienced. In the third category, facing bodily changes resulting from the disease, subjects based their speeches on the changes caused by cancer and cancer treatment through body shame altered and positive coping of bodily changes. In the fourth category, taking care of yourself during the illness of cancer, most subjects reported greater care of themselves after the illness of cancer, in contrast, others reported not caring as they should. The study concluded that the disease process for cancer in adolescence, inevitably leads to the inclusion of adolescents in the hospital universe, distancing and differentiating with peers and restriction of activities appropriate to their age. Most of the subjects of this research is ashamed, broken, rejected , isolated , scared to death , losing their identity and represents the disease process of cancer as a "difficult", " bad" and "boring" . Despite this negative depiction of the adolescent with cancer, some young people have faced this process positively, with hope of cure , supported in their faith , accepting and adapting to the changes and keeping the bodily self , in this case , was highlighted for them the great importance of support family and friends , after diagnosis of the disease. Thus, the social representations of teenagers on the process of the disease of cancer and its consequences for self care, favored understand how the disease was included in the daily of this social group, and from this knowledge, the nurse and the entire multidisciplinary team can subsidize a higher quality of service, aiming at completeness and individuality of their actions to this clientele. Keywords: Nursing. Teenager. Cancer. Social psychology

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RESUMEN

COSTA, Solange Camarinha Marta Ramos. La enfermedad y adolescentes con cáncer y su impacto en el autocuidado: estudio de las representaciones sociales.

2013.117 f. Tesis (Maestría en Enfermería) - Universidad de Pará, Belém, 2013. Este estudio tiene como objetivo describir las representaciones sociales de los adolescentes sobre el proceso de la enfermedad del cáncer y analizar el impacto de estas representaciones sociales para el autocuidado. Se trata de un estudio descriptivo con abordaje cualitativo, basado en la teoría de las representaciones sociales de acuerdo con el aspecto procesal defendida por Serge Moscovici y Denise Jodelet. Los sujetos fueron treinta y un (31) los adolescentes de ambos sexos, con edades entre 11 a 19 años que sufre de cáncer y en la asistencia a en el Hospital Ophir Loyola, Belém- Pa. La recolección de datos se llevó a cabo de enero a marzo de 2013, por medio de la persona semi-estructurada realizada por el investigador. Para el análisis de los datos se utilizó la técnica de análisis de contenido temático de Bardin (2011). Los resultados fueron organizados en cuatro categorías: la primera categoría, conceptualización de las enfermedades psicosociales como el cáncer, es evidente que el cáncer se representa como una enfermedad que puede conducir a la muerte, la enfermedad que se puede curar o enfermedad normal. En el segundo, experimentando la enfermedad y adolescente con el cáncer, los sujetos informaron de los cambios experimentados, los prejuicios y de apoyo con experiencia con experiencia. En la tercera categoría, orientación cambios corporales resultantes de la enfermedad, los individuos basan sus discursos en los cambios causados por el cáncer y el tratamiento del cáncer a través de la vergüenza corporal alterada y positivo para hacer frente a los cambios corporales. En la cuarta categoría, cuidar de sí mismo durante la enfermedad del cáncer, la mayoría de los sujetos informaron de un mayor cuidado mismos después de la enfermedad de cáncer, por el contrario, otros informaron que no cuida como es debido. El estudio concluyó que el proceso de la enfermedad de cáncer en la adolescencia, conduce inevitablemente a la inclusión de los adolescentes en el universo hospital, distanciamiento y la diferenciación con los compañeros y la restricción de las actividades adecuadas a su edad. La mayoría de los sujetos de esta investigación se avergüenza, roto, rechazado, aislado, miedo a la muerte, perdiendo su identidad y representa el proceso de la enfermedad del cáncer como "difícil", "malo" y "aburrido". A pesar de esta representación negativa del adolescente con cáncer, algunos jóvenes se han enfrentado a este proceso de manera positiva, con la esperanza de la curación, apoyados en su fe, la aceptación y la adaptación a los cambios y mantener el mismo cuerpo, en este caso, se destacó para ellos la gran importancia de la ayuda familiares y amigos, después del diagnóstico de la enfermedad. Por lo tanto, las representaciones sociales de los adolescentes en el proceso de la enfermedad del cáncer y sus consecuencias para el cuidado de uno mismo, a favor de entender cómo se incluyó la enfermedad en el diario de este grupo social, ya partir de este conocimiento, la enfermera y todo el equipo multidisciplinario puede subsidiar una mayor calidad de servicio, con el objetivo de integridad e individualidad de sus acciones a esta clientela. Palabras clave: Enfermería. Adolescente. Cáncer. Psicología Social.

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LISTA DE TABELAS TABELA 1. Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com o gênero,

HOL – Belém - Pará – 2013 .................................................................................... 52

TABELA 2. Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com a idade,

HOL– Belém - Pará – 2013 ....................................................................................... 53

TABELA 3. Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com a religião,

HOL – Belém - Pará – 2013. .................................................................................... 53

TABELA 4. Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com o município

de procedência, HOL – Belém - Pará – 2013. .......................................................... 54

TABELA 5. Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com freqüência

escolar, HOL – Belém - Pará – 2013. ....................................................................... 55

TABELA 6. Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com as principais

atividades de lazer, HOL – Belém - Pará – 2013. ................................................... 57

TABELA 7. Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com o diagnóstico,

HOL – Belém - Pará – 2013. .................................................................................... 58

TABELA 8. Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com o tratamento

realizado, HOL – Belém - Pará – 2013. .................................................................... 59

TABELA 9. Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com o tempo entre

o diagnóstico e o início do tratamento, HOL – Belém - Pará – 2013. ....................... 59

TABELA 10. Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com as principais

alterações provocadas pela doença ou tratamento, HOL - Belém - Pará - 2013 .... 60

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LISTA DE ABREVIATURAS

BVS Biblioteca Virtual de Saúde

CACON Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia

CDCAs Conselhos dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes.

DNA Ácido Desoxirribonucleico

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

HOL Hospital Ophir Loyola

INCA Instituto Nacional do Câncer.

JIRS Jornada Internacional de Representações Sociais

MS Ministério da Saúde

OMS Organização Mundial de Saúde

PROSAD Programa Saúde do Adolescente

QT Quimioterapia

RT Radioterapia

RS Representação Social

RCBP Registro de Câncer de Base Populacional

RIL Revisão Integrativa da Literatura

SESPA Secretaria Executiva de Saúde Publica.

SUS Sistema Único de Saúde

TRS Teoria das Representações Sociais

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UEPA Universidade do Estado do Pará

UFPA Universidade Federal do Pará

UFAM Universidade Federal do Amazonas

UNACON Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS .......................................................... 14

CAPÍTULO 2 – BASES CONCEITUAIS .................................................................. 22

2.1. O adolescer .................................................................................................... 22

2.2. O adoecimento de câncer na adolescência .................................................. 25

2.3. Políticas públicas de atenção ao adolescente e ao câncer ............................ 28

2.4. A enfermagem e o cuidado de si .................................................................... 31

CAPÍTULO 3 – REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................. 35

3.1. A Teoria das Representações Sociais: histórico e conceitos ......................... 35

3.2. Formas de conhecimento das Representações Sociais ................................ 38

3.3. Processos de construção das Representações Sociais ................................. 38

3.4. A TRS e sua aplicabilidade a este estudo ...................................................... 40

CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA ............................................................................. 43

4.1. Tipo de estudo e abordagem ......................................................................... 43

4.2. Cenário da pesquisa ...................................................................................... 44

4.3. Sujeitos da pesquisa ...................................................................................... 45

4.4. Coleta de dados ............................................................................................. 47

4.5. Análise e interpretação dos dados .................................................................. 48

4.6. Aspectos éticos .............................................................................................. 50

CAPÍTULO 5 – CONHECENDO OS SUJEITOS DO ESTUDO ................................ 51

5.1. Perfil sociodemográfico .................................................................................. 52

5.2. Perfil clínico terapêutico ................................................................................. 58

CAPÍTULO 6 – RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................... 62

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Categoria 1 – Definindo o câncer como doença psicossocial ............................... 63

Categoria 2 – Vivenciando o adoecer e o adolescer com câncer ......................... 71

Categoria 3 – Enfrentando as alterações corporais advindas do adoecimento .... 78

Categoria 4 – Cuidando de si durante o adoecimento de câncer .......................... 83

CAPÍTULO 7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................ 90

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 94

APÊNDICES ........................................................................................................... 102

ANEXOS ................................................................................................................ 112

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CAPÍTULO 1

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Esta pesquisa tem como objeto de estudo o processo de adoecimento do

câncer entre adolescentes. O interesse pela área da oncologia emergiu de minha

convivência por dez anos em um hospital de referência oncológica no Estado do

Pará onde, após realizar, por dois anos, a Residência em Enfermagem,

desempenhei durante oito anos as atividades de enfermeira assistente no setor de

quimioterapia, tendo a oportunidade de acompanhar a trajetória de vários

adolescentes na luta contra o câncer, bem como os reflexos que a doença trazia

para as suas vidas e de seus familiares, desde o diagnóstico, início do tratamento

até as possibilidades de cura.

Como enfermeira especialista em oncologia compreendo que, além do

conhecimento profundo e da necessidade de atualizações constantes sobre o

câncer, é imprescindível que se tenha muita sensibilidade e atenção ao paciente que

vivencia uma doença tão estigmatizada como esta, em particular aos adolescentes,

que já experimentam as dificuldades próprias desta etapa da vida, neste caso, o

papel do enfermeiro como cuidador é de suma importância. No entanto, percebo

que, muitas vezes, por absorver múltiplas funções, além das assistenciais, como as

administrativas, gerenciais, entre outras, o enfermeiro acaba se afastando do

paciente, principalmente no que diz respeito à identificação dos seus sentimentos,

angústias e desejos.

Aproximadamente há dois anos, ao participar de uma entrevista para o

processo seletivo do Mestrado em Oncologia da Universidade Federal do Pará,

encontrei-me, coincidentemente, com uma ex-paciente do hospital onde atuava e

que fez o tratamento de leucemia na adolescência, passando, na época, por várias

dificuldades peculiares da doença, sendo que, naquele momento estava

concorrendo junto comigo a uma vaga do mestrado. A mesma comentou sobre a

sua cura do câncer e sobre a realidade de ter se formado em Biomedicina.

Posteriormente, descobri que ela havia sido aprovada neste processo seletivo e que,

apesar de ter passado por momentos tão difíceis durante a adolescência na luta

contra o câncer, teria a oportunidade de utilizar sua experiência ajudando outros

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jovens por meio do programa de Pós-graduação em Oncologia. Mais recentemente

soube que a mesma havia ingressado no doutorado, mostrando que é possível

enfrentar o câncer e vencer a luta contra a doença.

Este fato foi marcante, despertando o interesse em pesquisar sobre o

significado do adoecimento de câncer durante a adolescência, visto que enfrentar o

tratamento oncológico é um desafio para qualquer ser humano e para os

adolescentes pode ser ainda mais difícil, considerando ser esta uma fase de

mudanças, de construção da individualidade e da identidade pessoal, quando o

medo e a insegurança são próprios desta etapa da vida. Assim, é importante para o

enfermeiro conhecer esta realidade, com o intuito de ajudá-los no enfrentamento da

doença.

A adolescência é o período da vida que marca a transição entre a infância e

a idade adulta, quando ocorrem importantes mudanças físicas, emocionais, afetivas,

sociais e culturais no ser humano, sendo que o Ministério da Saúde (MS), por

definição da Organização Mundial de Saúde (OMS), estabelece como adolescentes,

os indivíduos com idade entre 10 e 19 anos completos (BRASIL, 2008).

De acordo com Araújo (2004), é no adolescer que a puberdade se desponta,

período em que ocorrem intensas mudanças no corpo e na imagem corporal,

quando as fantasias passam a ser trabalhadas e uma série de impulsos e

possibilidades afetam o comportamento. Essas modificações geralmente refletem de

forma intensa nas relações do adolescente consigo mesmo, com sua nova imagem,

com o meio em que vive e com seus pares.

Normalmente a adolescência já é marcada pelas dificuldades naturais desta

fase da vida, no entanto, ao adicionarmos um problema sério como o diagnóstico do

câncer, tudo pode se tornar ainda mais difícil. Na maioria das vezes os jovens são

indivíduos independentes para realizar o cuidado de si e, por considerar que estão

em uma fase muito “saudável” da vida, nem sempre ficam sob o olhar direto dos

pais. Além disso, as mudanças corporais levam ao comportamento de vergonha com

o próprio corpo, o que pode contribuir para o atraso no diagnóstico e

conseqüentemente, no tratamento dos tumores (NEVES, 2011).

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Após o diagnóstico e início do tratamento oncológico, os adolescentes

geralmente são introduzidos em uma rotina com várias adversidades, pois o

tratamento do câncer exige mudanças extremas, envolvendo principalmente as

hospitalizações frequentes, os constantes exames, esquemas complexos de

quimioterapia, muitas vezes são submetidos a procedimentos cirúrgicos, e até

mesmo a amputações, sem contar com os temidos efeitos colaterais como náuseas,

vômitos, edemas, emagrecimento, alopécia, entre outros. Todas essas situações

mudam o cotidiano do adolescente, o qual pode se tornar uma pessoa agressiva,

apática ou depressiva (ROSSARI, 2008).

A autora destaca ainda que, fora do ambiente hospitalar o adolescente pode

enfrentar outras mudanças, como por exemplo, em sua rotina escolar, pois muitas

vezes ele não consegue acompanhar as aulas, afastando-se dos colegas de turma.

Por sentir-se envergonhado com as alterações ocorridas em seu corpo e por muitas

vezes se considerar o “doente” dentro de seu grupo de amigos, pode se sentir

discriminado e incompreendido não só pelos colegas, mas também pelos próprios

professores, pela dificuldade que muitos têm em lidar com um aluno portador de

câncer em sala de aula.

Mesmo quando se chega, com sucesso, ao término de um tratamento

oncológico, ainda é necessário conviver com o medo da recidiva e, muitas vezes,

com as limitações que sobrevêm deste tipo de tratamento como amputações e

esterilidade (BONASSA, 2000). Desta forma, quando se fala em sofrimento, não se

refere somente à dor física, mas a todo um contexto em que esses adolescentes

passam a viver e aos problemas de ordem emocional, social, comportamental e

existencial vivenciados por eles.

Considerando todos esses aspectos, Rossari (2008) ressalta que, todo

profissional de saúde deve pensar em um acompanhamento do paciente além dos

limites do hospital, ampliando a sua preocupação para o âmbito familiar, na

comunidade e na escola. Todas essas condições fazem parte de um cuidar holístico

ao adolescente, abrangendo não somente os aspectos relativos à sua doença, como

também às percepções que ele próprio tem de sua condição de viver com o câncer

em todas as circunstâncias de sua vida.

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É nesse contexto que a enfermagem precisa se inserir, de modo a

aproximar-se do adolescente que convive com o câncer, que é uma doença repleta

de representatividade, que requer anos de tratamento, com muitos efeitos colaterais,

determinando transformações nas relações sociais e pessoais e no cuidado de si.

Uma compreensão mais afinada sobre as representações sociais que envolvem o

adolescente com câncer, bem como o entendimento de como ele cuida de si durante

o processo de adoecimento, contribui para uma assistência de enfermagem integral,

respeitando as individualidades e especificidades, por intermédio de uma

intervenção mais efetiva, com vistas à qualidade de vida dessa clientela.

Assim, com o objetivo de aprofundar o conhecimento referente ao tema em

estudo, realizou-se uma Revisão Integrativa da Literatura - RIL, recurso de pesquisa

que permite a busca, a análise crítica e súmula das evidências científicas

disponíveis do tema investigado (SILVEIRA; ZAGO, 2006).

Por intermédio de busca eletrônica, na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS),

nas Bases de dados SCIELO, LILACS e BDENF, identificou-se o perfil das

publicações nacionais de enfermagem realizadas no período de 2003 a 2012 sobre

o câncer na adolescência. Foram identificadas inicialmente 86 (oitenta e seis)

produções e, a partir dos critérios de exclusão (artigos em língua estrangeira, artigos

não publicados por enfermeiros, que não se apresentaram em texto completo e os

artigos que não tratavam de câncer na adolescência e sim de crianças ou adultos),

restou uma amostra final de 20 (vinte) artigos, destacando que nenhum deles foi

realizado na Região Norte do Brasil, sendo que 80% (16 artigos) foram efetivados na

região sudeste.

Considerando as características teórico-metodológicas, foram identificados

estudos do tipo pesquisa (15), revisão da literatura (04) e relato de experiência (01).

Das quinze pesquisas, a maior parte utilizou abordagem qualitativa (11), destes,

apenas um artigo foi embasado na Teoria das Representações Sociais, que avaliou

a representação social dos familiares de crianças e adolescentes diagnosticados

com câncer. A amostra variou entre 06 a 160 sujeitos, dentre eles, cuidadores ou

familiares (06), crianças e adolescentes (04), só adolescentes (03), profissionais

(01) e múltiplos sujeitos (01). Ao final da análise dos resultados dos vinte artigos

levantados, chegou-se a duas categorias temáticas, com duas subcategorias cada:

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Categoria 1- O cuidar do adolescente com câncer – Subcategoria 1A- A

sobrecarga do cuidador: cuidar do adolescente com câncer pode gerar uma

sobrecarga no cuidado e comprometimento na qualidade de vida do cuidador, os

principais fatores que podem gerar essa sobrecarga são a falta de apoio ou pouco

apoio por parte do cônjuge, ter problemas de saúde, número maior de filhos,

desemprego, baixo nível de escolaridade e não receber ajuda financeira para o

tratamento do adolescente. A sobrecarga do cuidador pode refletir não só no

aspecto psicoemocional do cuidador, como também dos pacientes a ele vinculado.

Subcategoria 1B- As interferências na dinâmica familiar: o processo de

adoecimento do câncer na adolescência pode interferir em toda estrutura familiar,

envolvendo os aspectos físicos, psicossociais e financeiros da vida da família.

Algumas interferências negativas são citadas nos estudos como: o afastamento do

emprego, alterações na rotina pessoal do cuidador, mudanças no relacionamento

marital, dentre outras, no entanto, algumas pesquisas também apontam

modificações benéficas como a colaboração mútua da família e de amigos com o

tratamento e a união familiar após o diagnóstico da doença.

Categoria 2- O viver o câncer na adolescência – Subcategoria 2A- O

impacto do câncer na vida do adolescente: Tanto o impacto do diagnóstico

quanto do tratamento produzem severos traumatismos na vida do adolescente,

manifestados na forma de medo da morte, dor, depressão, retraimento,

desesperança, tristeza, revolta e contrariedade, no entanto estudos revelam que,

com a evolução do tratamento e a manifestação de um bom prognóstico, os

adolescentes passam a apresentar sentimentos positivos como a alegria por estar

vivo, esperança da cura, satisfação por si e compaixão em relação aos outros,

querem voltar a ser saudável, ir para a escola e se aproximar novamente dos

amigos e da família.

Subcategoria 2B- As estratégias de enfrentamento do câncer na

adolescência: De acordo com as publicações levantadas, o adolescente pode

utilizar várias estratégias para enfrentar o câncer como: concentrar esforços para

solucionar o problema, pedir ajuda e conselhos aos familiares e amigos, ter

autocontrole procurando manter-se calmo, buscar estratégias de distração,

conversar com outras pessoas para tentar esquecer o problema e pensar em coisas

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que o façam se sentir melhor, essas estratégias podem ajudar a diminuir os fatores

estressantes e promover uma reorganização do novo cotidiano, dando um novo

significado à experiência da vivência do câncer.

O emprego da Revisão Integrativa da Literatura (RIL) se mostrou relevante

para levantar as evidências científicas disponíveis sobre o câncer na adolescência.

Os resultados nos mostram um quantitativo reduzido de publicações nacionais de

enfermagem sobre esta temática na última década (2003 a 2012), principalmente na

região norte do país, demonstrando a necessidade de se intensificar as

investigações sobre o tema a fim de subsidiar a assistência de enfermagem

oncológica a esta clientela.

Embasada nos estudos levantados nesta RIL, na minha experiência

profissional e por meio de observações no convívio com adolescentes

diagnosticados com câncer, entendo que o universo deste grupo social é repleto de

representatividade. A palavra câncer por si só já vem saturada por uma série de

medos e preconceitos, geralmente associada ao sofrimento, à terminalidade e à

finitude, e ainda mais quando se trata de indivíduos que estão no auge de sua

juventude, com toda uma gama de planos e projetos para o futuro, aceitar uma

doença crônico-degenerativa e pensar na possibilidade de morte pode ser

representado como algo muito difícil.

Desta forma, o câncer pode ser considerado como objeto psicossocial por

fazer parte do cognitivo das pessoas, que compartilham com o seu grupo social. Por

isso, o processo saúde-doença é um objeto legítimo para o emprego da Teoria das

Representações Sociais (TRS), pois está presente no cotidiano de cada indivíduo e

este estabelece elos por meio deste conhecimento consensual com seu grupo de

pertença (MOSCOVICI, 2012).

As representações sociais sobre o câncer se encontram ancoradas nas

experiências sociais, derivadas das vivências pessoais de cada um, durante todo o

processo de adoecimento e tratamento oncológico. Esse conhecimento, construído a

partir do cotidiano e das vivências individuais, permite a construção de uma

realidade comum a cada grupo social (VASCONCELOS, 2012).

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Segundo Moscovici (2010) conhecer a prática de grupos sociais sobre um

determinado objeto psicossocial, como a doença, é relevante para sabermos o

comportamento adotado pelos referidos grupos frente ao objeto pesquisado.

O autor ressalta ainda que, quando se tem conhecimento da

representação de um grupo sobre uma temática, passa-se a se inserir de forma

significativa dentro daquela realidade. Ao se aproximar de um grupo grupo

social, se estabelece vínculos, confiança, integração e, com isso, pode-se

contribuir para melhorar o trabalho e a qualidade de vida das pessoas

envolvidas.

Em relação ao cuidado de si do adolescente com câncer, as

Representações Sociais sobre o processo de adoecimento podem repercutir de

várias formas no seu próprio cuidado. Para Silva et. al. (2009), em virtude do

cuidado de si ser pautado no paradigma da simultaneidade, ele deve ser empregado

em pesquisas que preconizam conhecer o universo da pessoa, para

compreender como a mesma cuida de si mesmo. Assim, a enfermagem passa a

assumir o papel de mediadora, pois se abre ao diálogo com o outro, reconhecendo-o

como o único conhecedor de sua situação, pois é o único que a vivencia.

Deste modo, a TRS se aplica bem a este estudo considerando que, de

acordo com Jodelet (2001), a representação social é uma forma de conhecimento,

que é socialmente elaborada e partilhada e que pode contribuir para a construção de

uma realidade comum a um conjunto social. Daí a adequação a estudos que

objetivam compreender os significados das doenças para certos grupos sociais,

neste caso, em particular, para os adolescentes com câncer, favorecendo o

estabelecimento da integração, com a adesão ao tratamento, ao cuidado de si e às

relações com as pessoas, principalmente se considerarmos que as Representações

Sociais sobre o câncer estão fortemente ancoradas no estigma social que a doença

ainda carrega.

A partir deste contexto foram levantadas as seguintes questões

norteadoras:

Quais as representações sociais de adolescentes sobre o processo de

adoecimento de câncer?

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Quais as repercussões dessas representações sociais para o cuidado de si

dos adolescentes?

Neste sentindo, esta pesquisa teve como objetivos:

Descrever as representações sociais de adolescentes sobre o processo

de adoecimento de câncer;

Analisar as repercussões dessas representações sociais para o cuidado

de si dos adolescentes.

A compreensão dessas representações sociais e de suas implicações para o

cuidado de si permite contribuir para a Enfermagem e demais profissionais da

equipe multidisciplinar, pois, possibilita entender como a doença foi inserida no

cotidiano desses jovens. Assim, desvelar o universo consensual desses

adolescentes, bem como sua prática, oferece subsídios, a esses profissionais, para

o aprimoramento de sua assistência aos adolescentes oncológicos, direcionando-os

para um atendimento integral e, conseqüentemente, para um melhor plano de

cuidados a esta clientela.

No âmbito da pesquisa, estudar as questões subjetivas relativas ao câncer

na adolescência, possibilita estimular a realização de outros estudos da mesma

natureza, favorecendo aprofundar conhecimentos e aumentar o interesse pela

temática em questão.

Em reação às políticas públicas de saúde, o estudo pode contibuir para a

implantação de programas específicos ao adolescente com câncer, que possam

discutir questões peculiares à esta clientela, fundamentados nas suas

representações sociais.

O estudo poderá ainda, trazer contribuições aos adolescentes que

vivenciam o processo de adoecimento por câncer, uma vez que, a partir do

reconhecimento de suas representações sociais, e com o apoio da equipe que o

assiste, ele mesmo conseguirá prevenir ou minimizar os agravos à sua saúde,

elaborando uma maneira própria de tornar a doença menos complicada, enfrentando

e convivendo com ela.

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CAPÍTULO 2

BASES CONCEITUAIS

2.1. O ADOLESCER

O longo período entre as atividades infantis e as atividades produtivas foi

construído à medida que as sociedades foram se desenvolvendo e se

especializando, principalmente por meio do crescimento tecnológico, esse período

recebeu o nome de adolescência e se identificou com o tempo de maturação sexual

e das escolhas profissionais (AZEVEDO et al., 2004).

O termo adolescência é originado do latim adelesco que significa “crescer”

(COLE; COLE, 2003), é definido como a transição entre a infância e a fase adulta,

sendo que, a maturação física, emocional e social acontece tão rapidamente que

existem várias delimitações para este período.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera o adolescente,

para efeito de Lei, como a pessoa que possui idade entre 12 a 18 anos. Segundo o

Dicionário da Língua Portuguesa, adolescência é o período que sucede a infância e

vai aproximadamente da idade de 12 a 20 anos (FERREIRA, 1995). Existem ainda

os estudos que conceituam a fase denominada “juventude” que estabelece a faixa

etária de 10 a 24 anos (PEREIRA, 2004).

Steinberg (1993) propõe uma divisão em três fases: Adolescência inicial, dos

11 aos 14 anos; adolescência média, dos 15 aos 17 anos e adolescência final, dos

18 aos 21. Essa última fase sobrepõe-se à "juventude" em sentido estrito, que marca

o início da idade adulta.

Neste estudo, para definir o processo do adolescer adotou-se o conceito da

Organização Mundial de Saúde (OMS), também seguido pelo Ministério da Saúde

(MS), que enfoca os adolescentes na faixa etária entre 10 a 19 anos (BRASIL,

2008).

No Brasil existe mais de 57 milhões de pessoas vivendo a fase da

adolescência, o que corresponde a 30,33% da população nacional, havendo uma

igualdade na proporção entre os sexos (50,4% do sexo masculino e 49,5%, do sexo

feminino). Os dados estatísticos também demonstram semelhança na população

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entre 10 e 14 anos (17.348.067) e 15 e 19 anos (17.939.815), enquanto há

decréscimo no quantitativo dos adultos jovens, na população entre 20 e 24 anos

(16.141.515) (CORDEIRO; FERNANDES, 2009).

A adolescência é uma fase de grandes transformações, é uma espécie de

metamorfose que envolve o corpo, que deixa de ser infantil; a mente, que começa a

buscar outras referências na construção da identidade, não mais apoiada na figura

de seus pais. As novas e intensas emoções começam a se inserir no mundo

adolescente ao deparar-se com novas experiências, dúvidas e frustrações. É

considerada como um mundo que desafia o adolescente e também é desafiado por

ele (ARAÚJO, 2004).

Ser adolescente é vivenciar uma fase de busca pela identidade, em que se

dá muita importância na aparência física, quando as habilidades cognitivas são

experimentadas, o desempenho escolar é considerado bastante relevante e as

aspirações profissionais geralmente são iniciadas. É nesta fase que os jovens

começam a se importar com as questões morais, chegando a julgamentos por si

mesmos, não mais somente pelos padrões dos seus pais, professores e mesmo de

seus amigos. Geralmente eles precisam dessas decisões para adotar seus valores e

assumir compromissos e para se orgulharem de suas realizações, esperando o

respeito e o amor dos outros não somente pelo que são, mas também pelo que

defendem (PAPALIA et al., 2006).

Os estudos dos autores acima destacam também que na adolescência a

aparência infantil muda e vai adquirindo corpo de adulto, em conseqüência dos

eventos hormonais característicos da puberdade. O pensamento também é

modificado, sendo capaz de pensar em termos abstratos e hipotéticos. Todas as

áreas do desenvolvimento se concentram à medida que os jovens se confrontam

com sua principal tarefa que é a de firmar uma identidade, que será levada até a

idade adulta.

Cole e Cole (2003) ressaltam que as crenças sociais sobre a adolescência

irão determinar quais exigências serão feitas aos jovens e a forma como seu

comportamento será interpretado pelos outros. Se o jovem vive em uma sociedade

que o considera no início da idade adulta, então o mesmo deve ser legalmente

responsável por suas ações e pelo cuidado de si. Ao contrário, se a sociedade trata-

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os como criança, os mesmos serão cuidados por outras pessoas, se mantendo livres

de responsabilidades por um período maior de tempo, esperando-se que obedeçam

as exigências dos adultos.

Independente do grupo em que os adolescentes estejam inseridos, eles

frequentemente são obrigados a enfrentar a pressão dos seus pares, com ameaça

de rejeição. Eles assistem aos mesmos filmes, vestem o mesmo tipo de roupa,

escutam as mesmas músicas, possuem os mesmos heróis de cinema e do esporte e

usam as mesmas formas de falar e de se expressar. Iniciando-se assim um conflito

entre ter uma identidade única, da qual se orgulhe e se sinta satisfeito e, ao mesmo

tempo, querer ser exatamente igual aos seus amigos, como forma de inclusão e

aceitação (PAPALIA et. al., 2006).

Para Balonne (2003) é no ambiente social e afetivo que o adolescente inicia

a aquisição do seu processo de independência, sendo muito importante que seus

pais saibam estabelecer limites para que eles possam distinguir o certo do errado,

formando assim uma personalidade saudável. Nesta fase o jovem adquire a

capacidade de pensar sobre o abstrato e se dedica a questionar sobre o mundo que

o rodeia, o raciocínio se torna mais rápido e eficiente, permitindo um aumento da

concentração, maior capacidade de retenção e evocação e uma linguagem mais

complexa, o que pode fazer com que o adolescente acredite que “pode tudo”,

tornando-se um indivíduo mais independente.

De acordo com Carvalho (2010) é a partir da luta entre suas dúvidas e

incertezas que os adolescentes observam as possibilidades de assumir

compromissos e de responder por seus atos, liberando os pais para a execução de

inúmeras tarefas para as quais até então se sentia incapacitado. A autora chama

isso de “processo de construção da autonomia”, que se caracteriza por ser diferente

em cada indivíduo.

Segundo o estudo da autora, que teve por objetivo “compreender o

significado da autonomia do adolescente para o cuidado de si e suas interações na

perspectiva de um viver saudável”, o adolescente adquire a sua autonomia para o

cuidado conforme os diversos tipos de contexto em que se encontra, a partir do

enfrentamento das dificuldades ou facilidades encontradas na própria realidade

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vivida, objetivando sempre a possibilidade de um viver saudável (CARVALHO, 2010,

p.28).

Rossari (2008) destaca que a principal dificuldade para a interação com os

adolescentes, seja na área da saúde ou em qualquer outra área, é a visão

homogeneizante, naturalizada e estereotipada através da qual o adolescente vem

sendo tratado, ainda que as suas necessidades de saúde ultrapassem os aspectos

orgânicos e biológicos. Geralmente, nesse grupo, há uma pequena relação com a

procura pelos serviços de saúde, desta forma, os fatores sociais, culturais,

econômicos, dentre outros podem fortalecer o cuidado com a saúde, ampliando-se a

visão sobre a adolescência.

A autora destaca ainda que, são recentes e escassas as pesquisas em

enfermagem que enfocam o adolescente e o cuidado a essa população, sendo

necessário um maior aprofundamento da discussão sobre o tema, daí a importância

de se conhecer a concepção de adolescência e o que ela compreende,

considerando que esta fase só pode ser analisada mediando às relações de cada

cultura ou ambiente social, os quais impõem formas de ser e de se relacionar

socialmente.

2.2. O ADOECIMENTO DE CÂNCER NA ADOLESCÊNCIA

Câncer é a denominação apresentada para o processo patológico que inicia

com a mutação genética do Ácido Desoxirribonucleico (DNA) de uma célula normal,

sendo que esta célula forma uma espécie de clone e começa a se proliferar de

maneira desordenada e anormal, ignorando as sinalizações de regulação do

crescimento celular (SMELTZER; BARE, 2002).

Bonassa (2000) descreve que o tratamento para o câncer depende do

estágio da doença, do tipo ou da agressividade das células envolvidas, da idade e

das condições gerais do paciente, e pode ser realizado por meio da quimioterapia,

radioterapia ou cirurgia.

A autora refere ainda que, na quimioterapia, a maioria dos agentes

antineoplásicos afeta a medula óssea, causando anemia e leucopenia, o que torna o

paciente vulnerável a infecções; trombocitopenia, que pode provocar sangramentos;

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alterações gastrintestinais que incluem náuseas, vômitos, mucosite, diarréia ou

obstipação; alterações neurológicas, pulmonares, cardíacas respiratória, dentre

outras, o que pode deixar o paciente e seus familiares bastante aflitos e assustados.

A fadiga também é outro fator que provoca desconforto, pois pode levar o indivíduo

a não conseguir realizar o cuidado de si, dependendo de outras pessoas para

executarem tarefas simples, como por exemplo, o ato de tomar banho.

O Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2011), apresenta uma estimativa para

o ano de 2012, válidas também para o ano de 2013, as quais apontam a ocorrência

de aproximadamente 518.510 casos novos de câncer no Brasil, incluindo os casos

de pele não melanoma, deste total, 11.530 casos novos deverão ocorrer em

crianças e adolescentes até os 19 anos, reforçando a magnitude do problema do

câncer no país.

As últimas informações disponíveis pelo INCA, para a mortalidade, mostram

que, no ano de 2009, os óbitos por neoplasias, para a faixa etária de 1 a 19 anos,

encontraram-se entre as dez primeiras causas de morte no Brasil. A partir dos cinco

anos, a mortalidade por câncer corresponde à primeira causa de morte por doença

entre crianças e adolescentes.

O termo câncer é utilizado para determinar um conjunto de mais de 100

doenças e que pode acometer qualquer indivíduo, em qualquer fase da vida, no

entanto, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer, o câncer infantojuvenil deve

ser estudado separadamente do câncer do adulto por apresentar diferenças nos

locais primários, diferentes origens histológicas e diferentes comportamentos

clínicos. Tende a apresentar menores períodos de latência, costuma crescer

rapidamente e torna-se bastante invasivo, porém responde melhor à quimioterapia

(BRASIL, 2008).

Em geral, os adolescentes são diagnosticados mais tardiamente quando

comparados com as crianças. O tratamento também apresenta alguns aspectos

especiais, assim como a resposta a eles. O câncer no adolescente tem aspectos

que lembram mais o das crianças que o dos adultos, sendo assim, tratar

adolescentes torna-se tão especial quanto tratar crianças (NEVES, 2011).

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De acordo com a Secretaria Executiva de Saúde Pública (SESPA, 2010), as

neoplasias mais comuns na infância e na adolescência são as leucemias (glóbulos

brancos), tumores do sistema nervoso central e linfomas (sistema linfático), bem

como o neuroblastoma (gânglios simpáticos), Tumor de Wims (renal), retinoblastoma

(retina do olho), tumor germinativo (nas células que originam as gônadas),

osteossarcoma (ósseo) e sarcoma de partes moles.

Os dados do Ministério da Saúde destacam que a incidência de câncer

infantojuvenil no Brasil vem apresentando um aumento considerável nos últimos

anos, no entanto, o prognóstico da doença apresentou um giro de 180 graus,

passando de 85% de taxa de mortalidade para 85% de taxa de cura (BRASIL, 2008).

Especificamente em Belém do Pará, no período de 1999 a 2001 foram

registrados 303 casos de cânceres infanto-juvenis, sendo 121 casos de câncer na

faixa etária de 10 a 18 anos (39,9%). Destes, após um ano de tratamento, 30,3%

evoluiu a óbito e 28,1% encontrava-se com a doença estável, em remissão parcial

ou sem evidência da doença (SESPA, 2010).

Para Ribeiro e Rodrigues (2005) o câncer, independente das várias

denominações e definições, consiste em um problema que transcende ao corpo

físico, caracterizando-se por um fenômeno social, que não só afeta o adolescente,

mas mexe com a família e com a comunidade, pelas suas características de difícil

detecção precoce e suas consequências para o indivíduo e os que estão ao seu

redor. Independente das denominações, ter câncer significa a realização de um

curso rápido de amadurecimento, no qual o ser acometido estabelece rapidamente

suas prioridades, refletindo sobre sua vida, seus sonhos possíveis ou impossíveis.

Frente ao fenômeno do câncer, há uma mudança na ordem valorativa de ações,

objetos, momentos e percepções e sentimentos acerca da vida e das pessoas.

O diagnóstico e tratamento do câncer levam às mudanças nos modos de

viver, na forma de ver a vida, nas relações interpessoais e intrínsecas do

adolescente consigo mesmo, e também às alterações físicas. Tais mudanças quanto

à imagem corporal levam à diminuição da autoestima, isolamentos e depressão.

(RIBEIRO; RODRIGUES, 2005).

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Segundo Cosomano (2008), quando o adolescente é diagnosticado por

câncer, ele geralmente se vê envolvido em sentimentos que nem sempre são

captados pela equipe de saúde que o assiste. O medo da dor, da mutilação, da

perda das funções vitais e da morte pode se manifestar por meio de várias

desordens psicológicas e comportamentais. A severidade dessas sequelas

negativas comumente tem um impacto considerável na qualidade de vida do

adolescente, por isso atualmente o câncer na adolescência vem sendo tratado com

a preocupação de preservar a qualidade de vida individual, antes, durante e até

mesmo após o tratamento.

É extremamente importante incentivar o adolescente a tomar suas próprias

decisões com relação ao seu tratamento, apoiando a sua independência e

respondendo aos questionamentos feitos acerca de sua doença e da assistência

prestada, contribuindo assim para o sucesso do tratamento, bem como para uma

interação sadia e produtiva entre paciente e equipe de saúde (ROSSARI, 2008).

2.3. POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENÇÃO AO ADOLESCENTE E AO

CÂNCER

Segundo Kayayan (2000), em relação à promoção e defesa dos direitos da

criança e do adolescente, o Brasil foi o primeiro país da América Latina, e um dos

primeiros do mundo, a "acertar o passo" da sua legislação com o que havia de

melhor na normativa internacional. O Artigo 227, da Constituição Federal Brasileira

de 1988, destacou o dever do Estado e da família relativos à prioridade absoluta à

população infantojuvenil.

Outro destaque importante dentro das Políticas Públicas direcionadas à

criança e ao adolescente no Brasil foi o Programa Saúde do Adolescente (PROSAD)

criado pela Portaria nº 980/GM, de 21/12/1989, do MS, que se fundamenta em uma

política de promoção de saúde, de identificação de grupos de risco, detecção

precoce dos agravos à saúde, tratamento adequado e reabilitação respeitada nas

diretrizes do SUS, garantidas pela Constituição Brasileira de 1988. O programa é

dirigido a todos os jovens entre 10 a 19 anos e é caracterizado pela integralidade

das ações e pelo enfoque preventivo e educativo. O PROSAD visa garantir aos

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adolescentes o acesso à saúde, com ações de caráter: multiprofissional, intersetorial

e interinstitucional.

Promulgado pela Lei n° 8.069, de 13 de Julho de 1990, o Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA) dispõe sobre a proteção integral à criança e ao

adolescente no Brasil. A partir do ECA, conselhos foram criados para garantir o que

foi preconizado pela lei, como por exemplo os Conselhos Tutelares, que são órgãos

responsáveis pelo atendimento direto à Criança e ao Adolescente, bem como os

Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescentes (CDCAs) que são órgãos

deliberativos, compostos de representantes do governo e da sociedade civil, com a

finalidade de trabalhar na articulação das políticas públicas voltadas às crianças e

adolescentes (KAYAYAN, 2000).

De acordo com Rodriguez-Tome (2003), existem dois modelos principais

pelos quais os adolescentes podem ser adotados como objeto de políticas públicas:

o modelo paternalista protetor e o modelo democrático participativo. Segundo a

autora, em nosso país é possível observar ambos os modelos, com a predominância

do primeiro, pelo fato de considerar que o jovem deve ser educado e apoiado em

sua luta por seus direitos e as suas garantias sociais. A autora ressalta ainda que,

as políticas públicas em saúde dirigidas aos adolescentes geralmente os consideram

como uma população em situação de risco, orientando programas para prevenção

de comportamentos relacionados principalmente à delinquência, alcoolismo, uso de

drogas, prevenção de enfermidades e de gravidez indesejada, quando na realidade

os jovens necessitam muito mais de ações que os levem a conhecer estratégias de

promoção da saúde e de bem-estar.

Em relação às políticas de controle do câncer infantojuvenil no Brasil, a

discussão sobre o controle do câncer dá destaque para a inadequação dos serviços

oncológicos e a importância do equilíbrio entre prevenção e terapêutica.

O Ministério da Saúde (2009) destaca o papel importante dos recursos

humanos, os quais estão defasados entre o conhecimento tecnocientífico e a

informação gerencial epidemiológica e são insuficientes em quantidade e qualidade.

Essa carência também se encontra na área infantojuvenil.

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Dessa forma, a Portaria n 874, de 16 de maio de 2013, que trata da Política

Nacional para a Prevenção e Controle do Câncer, na Rede de Atenção à Saúde, das

Pessoas com Doenças Crônicas no âmbito do SUS, determina que os cuidados

contemplem os níveis da atenção básica à atenção especializada de média e alta

complexidade de atendimento, para que ocorram ações de promoção, prevenção,

diagnóstico, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos. Determina que a

assistência seja organizada em níveis de hierarquia, com estabelecimento de fluxos

de referência e contra referência, garantindo acesso e atendimento integral.

A referida portaria também enfatiza a necessidade de especializar os

recursos humanos e promover a educação permanente dos profissionais envolvidos

com a implementação e implantação da Política de Atenção Oncológica (BRASIL,

2013).

Além de conhecer a política que envolve a prevenção e o controle do câncer,

para se obter sucesso com as ações de saúde, faz-se necessário identificar os

aspectos biológicos, psicossociais e de cuidado, peculiares ao contexto do câncer

infantojuvenil. Nessa direção, observa-se que o processo diagnóstico e terapêutico

do câncer tem início com o reconhecimento dos sinais e sintomas pelos pais e,

quando o diagnóstico é firmado, muitas vezes, a doença já está em processo

avançado.

É comum, também, que o diagnóstico ocorra de forma acidental, durante um

exame físico de rotina. Isso pode ser explicado pela inespecificidade dos sinais e

sintomas presentes no câncer infantojuvenil, como febre, palidez, cefaléia, anorexia,

dor óssea e gânglios enfartados, os quais podem estar associados e/ou ser

confundidos com sinais e sintomas de outras patologias comuns nesta fase da vida

(BRASIL, 2008).

Especificamente na área do câncer infantojuvenil, em 2008, o Ministério da

Saúde criou o Fórum Permanente de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente o

qual tem por meta o controle do câncer infantojuvenil e o alcance de melhores

resultados, cinco áreas fundamentais de atuação, integração das parcerias:

desenvolvimento de um portal de atenção integral; qualidade do diagnóstico:

elaboração de mecanismos de orientação diagnóstica; qualidade da assistência:

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elaboração de matriz de avaliação dos serviços de oncopediatria; divulgação,

comunicação e identificação de diretrizes para a atenção integral.

Mais recentemente, considerando a importância do diagnóstico e tratamento

precoce do câncer, o Governo Federal publicou no dia 17 de maio de 2013, a

Portaria GM n.876 que, dispõe sobre a aplicação da Lei nº 12.732, de 22 de

novembro de 2012, que versa a respeito do primeiro tratamento do paciente com

neoplasia maligna comprovada, no âmbito do SUS. Esta lei propõe que o paciente

com câncer seja submetido ao primeiro tratamento no SUS, no prazo de até 60

(sessenta) dias a partir do dia em que for confirmado o diagnóstico em laudo

patológico ou em prazo menor, conforme a necessidade terapêutica do caso.

De acordo com Lima (2009) é realmente esperado que as políticas públicas

para o controle do câncer infantojuvenil promovam e apoiem ações para garantir

acesso ao diagnóstico, tratamento eficiente e acompanhamento de longo prazo,

buscando a qualidade de vida de crianças, adolescentes e suas famílias. Adotar o

câncer infantojuvenil como problema de saúde pública requer a composição da

dimensão das políticas públicas e dos saberes científicos. Nesse sentido, concorda-

se com a autora quando a mesma afirma que é imprescindível o reconhecimento

dos benefícios da pesquisa em enfermagem para qualificar o cuidado ao

adolescente com câncer.

2.4. A ENFERMAGEM E O CUIDADO DE SI

O termo “cuidado” tem origem no latim coera que significa “cura” e constitui

um sinônimo erudito de cuidado, sendo utilizado no contexto das relações de

amizade e amor, com objetivo de expressar a ação de carinho, inquietação e

preocupação com o outro (CARDOSO; CONDE, 2007).

De acordo com o dicionário da língua portuguesa, o cuidado também pode

ser referido à dedicação, atenção especial, comportamento precavido, zelo, desvelo

que se dedica a alguém ou algo (HOUAISS, 2001).

Para Foucault o cuidado é substituído pelo “cuidado de si” que é originado

do conhecimento socrático-platônico compreendido por ele como a “arte da

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existência”, isto é, princípio pelo qual convém ocupar-se de si mesmo derivando em

imperativos sociais e elaborando saberes coletivos (KAHLMEYER-MERTENS,

2006).

Uma das formas do cuidado de si se refere ao ato de ocupar-se de si. Para

ocupar-se de si deve-se conhecer a si mesmo, o que requer um retornar para si

através de atos referentes à atenção, ao olhar e à percepção, para conhecer o que

importa constituir-se em cuidados próprios. Estes consistem em ações que envolvem

cuidados com o corpo, exercícios físicos, controle de peso, dentre outras

(FOUCAULT, 1985).

Foucault (2007) ainda contextualiza o sujeito tanto do ponto de vista teórico

como prático, considerando a sua relação com um conjunto de práticas da

antiguidade tardia, pois os gregos visualizavam as práticas como um preceito -

“epimeleisthai saltou”, isto é, tomar conta de si, ter cuidado consigo mesmo,

preocupar-se consigo cuidar-se de si. Este é o princípio do cuidado de si, já que na

antiguidade o cuidado de si representava para os gregos a busca no comportamento

da vida social e pessoal e direcionava o viver de cada pessoa, sua conduta, sua

moral. Com o advento do Cristianismo seu comportamento passou a ser conduzido

por normas, buscando a estética da existência.

Os dois primeiros séculos de nossa era, de acordo com Foucault (1985),

representaram uma época de ouro para a cultura de si, pois nesse período, houve

um reforço das escolas filosóficas, como o estoicismo, na elaboração de reflexões

em relação à conduta sexual dos sujeitos no enfoque da austeridade. Autores como

Sêneca e Marco Aurélio, por exemplo, desenvolveram uma série prescrições sobre a

preocupação do sujeito em relação a si mesmo.

As regras que diziam respeito à escrita de si, ao exame de consciência, aos

procedimentos de aprovação, e uma constante intensificação da vigilância em torno

da conduta do sujeito, acabaram por transformar a cultura de si num elemento de

diversas práticas sociais (SOLER, 2008).

Já de acordo com Billouet (2003), depois que Foucault analisou como o

homem moderno se reconhecia enquanto sujeito no livro A vontade de Saber (1977),

restou-lhe perguntar como o sujeito foi levado ao longo dos anos a dar atenção a si

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mesmo. Era preciso, por isso e de maneira enfática, saber o que é o sujeito e como

este se reconhece no mundo em que vive.

Os textos de filósofos como Sêneca ou Epicteto continham uma série de

prescrições que diziam respeito ao modo de viver. Eram de natureza

significativamente ética, pois entendiam estes mestres que o cuidado de si tinha

como função primeira a necessidade de fazer com que o sujeito exercesse sua

liberdade individual pensada a partir das técnicas de si. No mundo romano, só era

possível cuidar de si mesmo se fosse cumprida uma série de regras e condutas que

se apresentavam como verdades para o sujeito (SOLER, 2008).

É por isso que Foucault (2004), em uma de suas entrevistas, relatou que o

cuidado de si era uma prática ética exercida no âmbito da racionalidade, pois o

sujeito só poderia exercitar os ensinamentos delimitados pelos romanos mediante

uma intensa memorização e uma forte dedicação ao cumprimento dessas verdades.

Para os romanos, o indivíduo, ao ocupar-se de si mesmo, estava exercendo sua

liberdade, porque cuidar de si significava saber superar todos os instintos que

poderiam prejudicar a sua existência.

Segundo Foucault (2004) o êthos (palavra de origem grega que significa

moral, ética) resulta em uma relação com os outros, já que o cuidado de si permite

ocupar na cidade, na comunidade ou nas relações interindividuais o lugar

conveniente, seja para exercer uma magistratura ou para manter relações de

amizade. O cuidado de si implica também a relação com o outro, pois, para cuidar

bem de si, é preciso às lições de um mestre, precisa-se de um guia, de um

conselheiro, de alguém que lhe diga a verdade.

Soler (2008) destaca um ponto importante dentro do modelo de ética do

cuidado de si, segundo o autor, para os estóicos, o ato do sujeito de cuidar de si

mesmo estava intrinsecamente ligado ao fato de ele ser sempre centrado, devendo

viver a vida como senhor de si, não se deixando contaminar por instintos, mas por

sua racionalidade. Ser senhor de si significava aprender a se dominar e exercitar

sempre os conselhos prescritos pelos pensadores romanos, indicando também a

necessidade de exercer a liberdade de maneira racional, para que assim pudesse

entrar em contato com sua própria essência.

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Foucault (1985) observa que as escolas filosóficas, como o estoicismo ou o

epicurismo, por exemplo, pregavam a afirmação de si o domínio do próprio destino,

ao passo que a compreensão moderna sobre subjetividade produz um sujeito preso

a valores de cunho científico, político e ideológico que se impõem como valores a-

históricos. A ética do cuidado de si pregada pelos romanos era uma prática da

liberdade, exercida na maneira como o sujeito experienciava sua relação consigo

mesmo, mediante o controle racional de todos os seus instintos.

De acordo com Silva et al. (2009) o cuidado de si se encontra centrado no

paradigma da simultaneidade que adota que o indivíduo não é um ser somativo, pois

o todo é maior do que a soma das partes, assim como cada parte representa o todo.

Este paradigma compreende que o ser humano não é um construto fechado ao meio

que o cerca, não cabendo a ele unicamente se adaptar ao ambiente, mas sim

interagir com o mesmo, podendo ser transformado e ao mesmo tempo transformar o

meio em que vive. Diferentemente, o autocuidado adota o paradigma da totalidade

que entende o indivíduo como um ser fragmentado, um ser somativo, que necessita

se adaptar ao meio no qual vive para atingir seus objetivos e por isso precisa cuidar

de si.

Os autores ressaltam ainda que a preocupação com o cuidado de si dos

indivíduos não deve ser exclusiva do enfermeiro, mas sim de todo e qualquer

profissional de saúde, no entanto como é a enfermagem que possui uma maior

proximidade com o ser doente ou saudável, cabe a ela direcionar o indivíduo para

compreender e atuar em seus padrões de saúde, valorizando o subjetivo do ser

humano, respeitando as suas vivências nos cuidados a sua saúde, contribuindo

desta forma para a melhoria de qualidade de vida destes indivíduos.

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CAPÍTULO 3

REFERENCIAL TEÓRICO

3.1. A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAS: HISTÓRICO E CONCEITOS.

Esta pesquisa foi fundamentada na Teoria das Representações Sociais

(TRS), tal teoria possui várias concepções, nas diversas áreas do saber.

Escolhemos aqui a defendida por Serge Moscovici (2010) e Denise Jodelet (2001).

Moscovici (2010, p.105) define as representações sociais conforme o trecho

a seguir:

Toda cognição, toda “motivação” e todo “comportamento” somente existem e têm repercussões uma vez que eles signifiquem algo e significar implica, por definição, que pelo menos duas pessoas compartilhem uma linguagem comum, valores comuns e memórias comuns. É isto que distingue o social do individual, o cultural do físico e o histórico do estático. Ao dizer que as representações são sociais, nós estamos dizendo principalmente que elas são simbólicas e possuem tantos elementos perceptuais quanto os assim chamados cognitivos.

Enquanto que Jodelet (2001, p. 22) afirma que:

Representação social é uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. Igualmente designada como saber do senso comum.

A Teoria das Representações Sociais (TRS) foi originada na França, durante

a década de 50, nessa época Serge Moscovici procurou entender como a

psicanálise era compreendida pela sociedade francesa. A partir desse estudo, ele

conseguiu levantar como um objeto científico pode se tornar objeto do senso

comum. Essa pesquisa foi divulgada através da publicação de sua obra intitulada "A

psicanálise, sua imagem e seu público", que lhe concedeu o título de "pai das

representações sociais" (MOSCOVICI, 1978).

No Brasil, a área pioneira nos estudos com a TRS foi a da pesquisa em

educação, sendo responsável pela maioria dos trabalhos produzidos durante as

Jornadas Internacionais de Representações Sociais (JIRS) até o ano de 2003. A

partir desta época, a área da saúde começou a ganhar destaque, passando a

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apresentar um número significativo de trabalhos neste tipo de evento científico.

Embora as duas áreas se equivalham neste aspecto, quando se trata do foco na

TRS, e não no fenômeno, a educação apresenta um número maior de trabalhos que

a área da saúde (PADILHA; GUERREIRO; COELHO, 2007).

Antes deste aumento no número de trabalhos da enfermagem com a

utilização da TRS, no período de 1995 a 2005, houve uma quantidade considerável

de trabalhos realizados por meio do sistema de pós-graduação brasileira. Durante

este período foram defendidas 22 teses e 44 dissertações com o emprego do

referencial teórico-filosófico das representações sociais. Este dado, juntamente com

o dado das JIRS, indica claramente o interesse da enfermagem brasileira pela TRS

(CAMARGO, 2007).

De acordo com Sá (1998), os fenômenos de representação social (RS) são

difusos, multifacetados, em constante movimento e presentes em inúmeras

instâncias da interação social. Eles são caracteristicamente construídos no que

Moscovici denominou de “universos consensuais do pensamento”.

Para Moscovici (2010), o universo consensual nada mais é do que uma

criação visível e contínua, permeada com sentido e finalidade, possuindo voz

humana de acordo com a existência humana. As pessoas são iguais e livres, com

possibilidades de falar em nome do grupo. Nele existe a negociação e a aceitação

mútua, apoia-se na memória coletiva, no consenso. Aqui o ser humano é a medida

de todas as coisas. A compreensão e a interpretação dos vários objetos e

fenômenos que constituem a realidade de um determinado grupo social dependem

de regras do pensamento e da comunicação e o resultado destas interfere no

conhecimento e nas ações das pessoas.

Vale ressaltar que as representações sociais proporcionam a

compreensão de como os sujeitos sociais entendem os acontecimentos da vida

cotidiana, as peculiares do meio em que vivem as informações que os rodeiam e as

relações sociais. A RS é uma forma característica de conhecimento, de senso

comum, que circula na sociedade onde as pessoas estabelecem suas

representações em grupos sociais, por meio de diálogos, conceitos e culturas. Trata-

se de um conceito da psicologia social, fazendo análise de imagens idealizadas pelo

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grupo relacionado ao seu cotidiano e das condições que determinam sua prática

(JODELET, 2001).

As representações sociais objetivam a integração de um fenômeno social

que não lhe seja familiar e que, por ser desconhecido, gera medo e ansiedade, ao

conhecimento que os indivíduos e grupos dispõem sobre seu cotidiano. Por isso, é

necessária a sua assimilação ao referencial conceitual dos indivíduos, para que ele

possa se tornar familiar (SILVA; CAMARGO; PADILHA, 2011).

De acordo com Jodelet (2001) as representações sociais são conhecidas

como sistemas de interpretação que dirigem nossa relação com o mundo e com os

outros. Elas orientam e estabelecem as condutas e as comunicações sociais,

interferindo em vários processos, como a propagação e a assimilação dos

conhecimentos, o desenvolvimento individual e coletivo, a definição das identidades

pessoais e sociais, a expressão de grupos e as transformações sociais.

A TRS reconhece o valor da dimensão subjetiva, o aspecto cognitivo do

indivíduo, que segundo esta perspectiva interfere nas práticas sociais, nas atitudes e

condutas relativas ao objeto da representação. A pesquisa que usa a teoria das

representações sociais como referencial teórico focaliza sua atenção no

conhecimento dos participantes da mesma, enquanto conhecimento importante para

se compreender o cotidiano dos mesmos. O referencial da TRS permite esclarecer

como se dá o processo de assimilação dos fatos que ocorrem no meio, como os

mesmos são compreendidos pelos indivíduos e grupos, e como o conhecimento

construído sobre estes fatos são expressos por meio de sua comunicação e em

seus comportamentos (MOSCOVICI, 2012).

A TRS utiliza conceitos variados, sobre atitudes, opiniões, imagens e outros,

não os excluindo, mas incorporando-os. A integração desses conceitos auxilia na

compreensão sobre a realidade que nos circunda (OLIVEIRA; WERBA, 2000). Já

para Moscovici (1978) uma RS abrange duas faces que se estruturam: a figurativa e

a significação, pois cada figura está ligada a um sentido e vice-versa, favorecendo a

percepção da relação entre o objeto identificado e a sua interpretação.

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38

3.2. FORMAS DE CONHECIMENTO DAS RS

No âmbito social, destacam-se duas formas de conhecimentos: o

conhecimento reificado e o conhecimento consensual. O primeiro diz respeito ao

conhecimento científico e especializado sendo apresentado como um saber

“autêntico”, não admitindo contradição. Este tipo de conhecimento é restrito a uma

parcela da comunidade, a científica ou técnica. Já o conhecimento consensual se

refere ao conhecimento não especializado, sendo apresentado como saber

“ingênuo”, ou como é conhecido universalmente de saber do senso comum, que é

um tipo de saber presente na maioria da população (MOSCOVICI, 1978).

De acordo com Silva, Camargo e Padilha (2011), a Teoria das

Representações Sociais reconhece a importância da dimensão subjetiva, o aspecto

cognitivo do indivíduo, que segundo esta perspectiva pode interferir nas práticas

sociais, nas atitudes e condutas relativas ao objeto da representação. Os autores

ressaltam ainda que toda pesquisa que utiliza o referencial teórico-filosófico das

representações sociais deve enfocar sua atenção no conhecimento dos participantes

da mesma, enquanto conhecimento importante para se compreender o cotidiano dos

mesmos.

Para os autores, a TRS permite elucidar como ocorre o processo de

assimilação dos fatos que acontecem no meio, como eles são compreendidos pelos

indivíduos e grupos, e como o conhecimento construído sobre estes fatos são

expressos por meio de sua comunicação e em seus comportamentos.

3.3. PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO DAS RS

A origem e a construção das representações sociais podem ser explicadas

através de dois processos principais: a objetivação e a ancoragem.

De acordo com Moscovici (1978, p.111), Objetivar significa “reabsorver um

excesso de significações materializando-as”. A Objetivação faz com que um

esquema conceptual se torne real, transformando o que era abstrato em elemento

concreto, dando materialidade às idéias. Segundo Rodrigues (2011, p.39) “no seu

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imaginário, os sujeitos procuram dar uma forma ‘concreta’, uma imagem, ao que até

aquele momento era apenas uma idéia ou um conceito”.

Já em relação à ancoragem, de acordo com Rodrigues (2011), este

processo se refere à integração cognitiva do objeto representado ao universo de

conhecimentos já existentes e às transformações que daí advém.

Oltramari (2003) menciona que a ancoragem é considerada um processo de

classificação onde o não familiar é relacionado com outro objeto familiar e

identificado. Essa identificação consiste em um juízo de valor, pois uma nova

informação deve ser relacionada com um objeto já conhecido, do contrário não

haverá como ancorá-la, pois este novo conhecimento deve ser decodificado.

Segundo o autor, a ancoragem pode acontecer em dois momentos: antes e depois

da objetivação. Quando ocorre antes da objetivação, exerce um poder de nomear

(categorizar) fenômenos para os grupos sociais. Quando ocorre depois, refere-se a

uma função social de classificação.

A Ancoragem permite que algo desconhecido e inquietante seja

incorporado a nossa própria rede de categorias. São as simbolizações ou

percepções colhidas a partir dos relatos verbais ou escritos, sobre os conhecimentos

à respeito do objeto em estudo. A ancoragem apresenta o trabalho social sobre o

sujeito da representação, transformando o objeto estranho em conhecido

(MOSCOVICI, 2004).

De acordo com Padilha, Guerreiro e Coelho (2007), tanto a objetivação

como a ancoragem são formas específicas em que as Representações Sociais

estabelecem mediações, tornando quase material a produção simbólica de uma

comunidade e dando conta da forma concreta das representações sociais na vida

social.

Com a finalidade de se enfrentar as mudanças vivenciadas, o indivíduo

acaba por ancorar e objetivar os sentimentos sobre o seu contexto, isto é, ele ancora

as suas idéias, práticas, e imagens comuns sobre sua realidade e objetiva

organizando suas manifestações para possibillitar um significado (MOSCOVICI,

2012).

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3.4. A TRS E SUA APLICABILIDADE A ESTE ESTUDO

Nosso ambiente natural, físico e social é fundamentalmente composto de

imagens e, nós, continuamente, acrescentamos-lhes algo e descartando algumas

imagens e adotando outras. Na verdade, o processo de representação envolve a

codificação, até mesmo dos estímulos físicos, em uma categoria específica. De fato,

a representação é, fundamentalmente, um sistema de classificação e de denotação,

de alocação de categorias e nomes. Tais coisas que nos parecem estranhas e

perturbadoras têm também algo a nos ensinar sobre a maneira como as pessoas

pensam e o que as pessoas pensam (MOSCOVICI, 2010).

Rodrigues (2011, p.40) destaca as reflexões de Moscovici (1978) referindo

que os “conhecimentos são plurais, constroem-se nos grupos, criam e reforçam sua

identidade grupal, ao tempo em que influenciam em suas práticas que por sua vez

re-estruturam seus pensamentos”. Por exemplo, em relação ao câncer, geralmente

esta doença está associada à dor e à morte, ancoragem que é mantida até hoje por

alguns indivíduos ou grupos sociais.

Palmeira (2011), em seus estudos sobre a hanseníase, refere que as

percepções sobre saúde-doença, condicionam os significados, a interpretação de

sensações e o sentimento das mudanças e potencialidades corporais que a pessoa

poderá vir a ter. Assim também podemos relacionar com o indivíduo acometido por

câncer. Dessa forma, as representações sobre a doença estão diretamente ligadas à

estrutura social, visto que estão marcadas socialmente pelas condições e o contexto

nos quais surgem.

A autora ressalta ainda que:

O adoecimento adquire um significado para o doente construído a partir de suas vivências individuais e do convívio com a doença. O espaço ocupado por ela no seu estilo de vida depende desse significado, que é único, pois tem influências internas, com base no histórico individual, e externas baseadas na RS que a doença possui tanto no grupo familiar quanto em outros grupos nos quais ele está inserido (PALMEIRA, 2011, p.39).

As descrições que expressam as Representações Sociais geralmente são

relacionadas com crenças, percepções e imagens ligadas a um contexto cotidiano,

bem como, à saúde e à doença, nos quais o indivíduo constrói e expressa aquilo

que imagina. Tais expressões são sobre si mesmo ou sobre os outros, sobre

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objetos, sobre relações, sobre o meio e sobre o mundo. Assim, as Representações

Sociais correspondem às expressões sociais do conhecimento, correspondendo às

experiências na prática.

Segundo o estudo de Silva, Camargo e Padilha (2011) cujo objetivo foi

analisar os aspectos metodológicos nas teses e dissertações que empregaram a

teoria das representações sociais na enfermagem brasileira, considerando o período

de 1977 a 2007, a teoria das representações sociais (TRS) tem sido empregada

para investigar objetos psicossociais relacionados ao cotidiano do cuidar da

enfermagem. E o interesse na saúde focaliza grupos específicos que são priorizados

por políticas governamentais de atenção, como, por exemplo, o tema da saúde da

mulher. Os dados levantados a partir deste estudo indicaram a necessidade de se

realizar trabalhos mais aprofundados sobre o uso da teoria das representações

sociais.

De acordo com Rodrigues (2011, p. 30),

a TRS aplica-se muito bem aos estudos que têm como tema/objetos fenômenos que estão marcadamente impregnados no meio social por (pré)conceitos, significados, estigmas que transcendem e atravessam o tempo e as explicações científicas que possam ser dadas para tais fenômenos.

Dessa forma, podemos confirmar a importância da aplicabilidade da TRS

aos estudos com indivíduos acometidos por câncer, considerando as crenças, tabus

e estigmas que essa doença ainda carrega em alguns grupos sociais.

Segundo Padilha, Guerreiro e Coelho (2007) a TRS vêm tendo grande

destaque na produção de conhecimento em enfermagem, por expressar um modo

de vida, de entendimento, combinando conhecimentos e sentimentos, o que para a

área da saúde e especificamente a área de enfermagem é um aspecto essencial, e

torna o cuidar do outro como uma atividade mais completa.

Deste modo, quando conhecemos a representação de um grupo acerca de

uma temática, passamos a nos inserir de forma significativa dentro daquela

realidade. Ao nos aproximarmos, estabelecemos vínculos, confiança, integração e,

com isso, contribuímos para melhorar o trabalho e a qualidade de vida das pessoas

envolvidas (MOSCOVICI, 2010).

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Apoiada em minha experiência profissional, como enfermeira especialista

em oncologia, através de minhas observações na vivência com adolescentes em

tratamento de câncer, compreendi que o universo desta clientela é repleto de

representatividades. Geralmente, é muito difícil para o adolescente se aceitar como

um indivíduo doente, portador de neoplasia, diferente de seus amigos de faixa etária

semelhante; encarar essa realidade pode torna-se doloroso demais para quem, por

conta da idade, encontra-se em uma fase de grandes transformações e de intensos

projetos para o futuro.

Assim, é muito importante para a enfermagem conhecer este universo

consensual dos adolescentes com câncer e as representações sociais que a doença

tem para eles, a fim de embasar a assistência prestada a esta clientela, pois

segundo Padilha, Guerreiro e Coelho (2007) os conhecimentos produzidos pelas RS

permitem redimensionar o conhecimento do cotidiano, do senso comum, para

replanejar as ações de enfermagem na prática.

Considerando que a TRS ajuda a desvendar fenômenos do conhecimento

do universo consensual dos sujeitos, bem como as suas práticas frente a eles,

considerando ainda que a RS é uma modalidade de conhecimento adequada à

compreensão de fenômenos que têm relevância social, conclui-se que a TRS aplica-

se bem a este estudo que propõe os saberes do senso comum de adolescentes

acometidos por câncer.

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CAPÍTULO 4

METODOLOGIA

4.1. TIPO DE ESTUDO E ABORDAGEM

Este estudo é do tipo descritivo, com uma abordagem qualitativa, sendo

embasado na Teoria das Representações Sociais segundo a vertente processual

defendida por Serge Moscovici (2010) e Denise Jodelet (2001).

Segundo Souza, Deslandes e Gomes (2007) neste tipo de pesquisa o objeto

da abordagem se expressa pela linguagem da vida cotidiana, por meio dos

significados, motivos, vivências, crenças e valores.

A abordagem qualitativa permite o desvelamento sobre os reais significados

do objeto em estudo, através de uma maior aproximação entre o pesquisador e o

pesquisado. Mais especificamente na área da saúde, na pesquisa qualitativa, o

objeto em estudo permite a compreensão de profundas e significativas dimensões,

que seriam muito difíceis de serem quantificadas (MINAYO, 2008).

A autora afirma ainda que, o estudo qualitativo é a mais adequado para

responder às questões particulares, nas ciências sociais, trabalhando com o

universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes que

obedecem a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos

fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

Já para Turato (2005), a abordagem qualitativa apresenta a necessidade em

conhecer o microssocial, baseado em palavras, histórias, narrativas, cujo interesse é

a dimensão subjetiva, as experiências e seus processos de significação.

Segundo Goldenberg (2007) a pesquisa qualitativa apreende e propõe a

complexidade de alguns problemas, analisa-os, compreende e classifica a dinâmica

vivida pelos grupos sociais, podendo auxiliar no processo de mudança de um grupo.

Assim, esse tipo de pesquisa pode possibilitar um maior nível de profundidade e

compreensão na busca das representações sociais dos adolescentes sobre o

câncer, bem como as implicações dessas representações sociais para o cuidado de

si desses adolescentes.

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44

4.2. CENÁRIO DA PESQUISA

O estudo foi realizado no Hospital Ophir Loyola (HOL), hospital público de

referência em doenças crônico-degenerativas, mais especificamente em câncer,

localizado na cidade de Belém, no Estado do Pará, situado no contexto urbano.

As entrevistas foram realizadas nas enfermarias de internação (hematologia

e hospital dia) e no ambulatório de quimioterapia. A clínica de hematologia possui

(16) leitos e se destina ao atendimento de pacientes com câncer hematológico; o

hospital dia é uma clinica que possui oito (08) leitos de internação e quatro (04)

leitos de urgência e emergência destinados ao atendimento de crianças e

adolescentes com os mais variados diagnósticos de câncer; o ambulatório de

quimioterapia possui quarenta e sete (47) poltronas, sete (07) leitos e oito (08)

berços e destina-se a administração de quimioterápicos em crianças, adolescentes e

adultos a nível ambulatorial.

A história do cenário da pesquisa inicia pela criação do Instituto de Proteção

e Assistência à Infância do Pará, inaugurado em 06 de outubro de 1912 (no ano

passado completou seu centenário de existência). Mais tarde mudou-se de

endereço, com a finalidade de prestar assistência médica à infância desvalida, e

posteriormente dedicado ao tratamento de pacientes portadores de câncer. Teve

como fundadores os médicos Ophir Pinto de Loyola e Raimundo Nogueira de Farias,

além do professor Raymundo Proença. Em 1930, foi transferido para a Av.

Magalhães Barata, endereço onde continua até hoje (PARÁ, 2012).

O Art. 1°, do capitulo I da Lei nº 6.826, de 1º de fevereiro de 2006, dispõe

sobre a criação, no âmbito do Poder Executivo, do Hospital Ophir Loyola - HOL, com

natureza jurídica de autarquia, sem fins lucrativos, com sede e foro na cidade de

Belém, capital do Estado do Pará, com autonomia técnica, administrativa,

orçamentária, financeira e patrimonial, vinculada à Secretaria Especial de Estado de

Proteção Social, tendo como finalidade institucional “prestar assistência médico-

hospitalar complexa e hierarquizada de excelência, de acordo com os princípios

éticos e humanísticos, formando e qualificando recursos humanos, desenvolvendo e

produzindo conhecimentos, pesquisas e ensino de alta qualidade, visando o bem-

estar da população do Estado do Pará”.

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A partir desta Lei, o HOL passou a se constituir em hospital universitário,

com vinculação com a Universidade do Estado do Pará - UEPA para campo de

prática de ensino, de pesquisa e de extensão em saúde, aos professores,

pesquisadores e estudantes da área das ciências da saúde da Universidade.

O HOL foi considerado como a única referência estadual no tratamento do

câncer, até abril de 2008, quando então iniciou a assistência oncológica na Unidade

de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) do Hospital Regional

do Baixo Amazonas, em Santarém. De acordo com o Plano Estadual de Atenção

Oncológica, mesmo com a criação de outras UNACONs, (Hospital Universitário João

de Barros Barreto, Hospital Regional de Tucuruí e Hospital Regional de Santarém), o

cenário da pesquisa ainda se constitui, o único Centro de Alta Complexidade em

Oncologia (CACON) do Estado, sendo responsável pela prestação de assistência

especializada de alta complexidade para o diagnóstico definitivo e tratamento de

todos os tipos de câncer, bem como é o único a atender crianças e adolescentes

com câncer na capital, acolhendo uma clientela oriunda do Sistema Único de Saúde

(SUS), de todo o Estado do Pará e inclusive dos Estados vizinhos (PARÁ, 2013).

4.3. SUJEITOS DA PESQUISA

Os sujeitos deste estudo foram trinta e um (31) adolescentes (Apêndices A e

B), de ambos os sexos, acometidos por câncer, em atendimento no Hospital Ophir

Loyola e que aceitaram, de livre e espontânea vontade, participar desta pesquisa.

Justifica-se a escolha dos sujeitos da pesquisa por considerar que enfrentar

o tratamento oncológico é um desafio para qualquer ser humano e para os

adolescentes pode ser ainda mais difícil, em razão de ser esta uma fase de

mudanças, de construção da individualidade e da identidade pessoal, quando o

medo e a insegurança geralmente estão presentes, necessitando de uma

assistência de enfermagem integral e individualizada.

Os critérios de inclusão para participação nesta pesquisa foram: Ser

adolescente na faixa etária de 10 a 19 anos (idade delimitada pela OMS e pelo MS);

acometido pelo câncer; em qualquer tipo de atendimento no HOL (quimioterapia,

internação, consultas, etc.) ou fora de tratamento por remissão da doença; se menor

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de idade, ter a autorização por escrito de um de seus pais ou responsável legal; ter

sido diagnosticado há pelo menos três meses.

Foram considerados como critérios de exclusão: Menores de 10 anos e

maiores de 19 anos de idade; adolescentes sem confirmação diagnóstica de câncer

ou diagnosticados há menos de três meses; menores de idade sem autorização por

escrito de um de seus pais ou responsável legal.

Para manter o anonimato os sujeitos foram codificados utilizando-se a letra

H para Homens ou M para Mulheres, seguido da ordem numérica crescente, de

acordo com a seqüência da realização das entrevistas, seguido da idade (Ex.: H1-

12 anos – refere-se ao sujeito do sexo masculino, de 12 anos, primeiro na ordem de

entrevista).

O quantitativo de sujeitos deste estudo foi dimensionado, por ser uma

pesquisa de levantamento de dados, que exige um público de trinta ou mais

indivíduos para se tratar um fenômeno psicossocial, além disso possui interesse em

caracterizar representações sociais por meio de técnicas de observação indireta,

que são as entrevistas (CAMARGO et al., 2007).

Padilha, Guerreiro e Coelho (2007) destacam que nas pesquisas de RS os

conhecimentos são produzidos e elaborados coletivamente, por um grupo social, e

por isso, o número de sujeitos constituintes da amostra deve ser representativo

deste grupo, isto é, não pode ser um número pequeno e insignificante, assim,

considerando o adoecimento por câncer como um fenômeno psicossocial, nesta

pesquisa trabalhou-se com um quantitativo de trinta e um sujeitos.

Neste estudo levou-se em consideraçao também a técnica da saturação de

dados, que diz respeito à repetição dos discursos (PADILHA et al., 2007),

ressaltando que antes de atingir a 31a entrevista, os dados já se encontravam em

repetição.

É importante salientar que na área das representações sociais, é indicada

uma população de no mínimo trinta sujeitos, visto que, somente a partir deste

quantitativo é possivel caracterizar que uma representação é realmente social

(MOSCOVICI, 2007).

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47

4.4. COLETA DE DADOS

A coleta de dados foi realizada no período de janeiro a março de 2013, por

meio de entrevista do tipo semiestruturada, individuais, realizadas pela

pesquisadora, utilizando-se como instrumento de coleta de dados um roteiro para

identificação do perfil dos sujeitos (APÊNDICE F) e um roteiro de entrevistas

(APÊNDICE G). Optou-se pela técnica da entrevista, por esta favorecer uma maior

liberdade aos informantes para revelar o objeto da pesquisa, com livre expressão de

pensamentos, além de permitir uma maior aproximação entre o entrevistador e o

entrevistado, favorecendo o redimensionamento dos questionamentos, sempre que

necessário (MINAYO, 2008).

A aproximação com os sujeitos da pesquisa ocorreu nas enfermarias de

internação (hematologia e hospital dia) e no ambulatório de quimioterapia do referido

hospital.

Após realizar a visita de enfermagem, junto com a enfermeira da unidade,

para conhecer os clientes em tratamento, foi feita a explicação e o convite ao

adolescente e/ou responsável legal para participar da pesquisa, direcionando-o ao

consultório ou sala de enfermagem, quando estas não estavam sendo utilizadas,

assegurando, dessa forma, a privacidade e o conforto dos sujeitos durante toda a

entrevista. Essa privacidade foi importante, principalmente pela abordagem subjetiva

da coleta de dados, o que poderia resultar em longas conversas e originar riscos

emocionais, através dos sentimentos envolvidos no relato pessoal dos adolescentes.

Antes de iniciar a entrevista foram fornecidas informações referentes à

pesquisa, assim como a leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que

foi assinado pelo adolescente e/ou por um de seus pais ou representante legal,

quando se tratou de menor de idade, ressalta-se que foi necessária a anuência dos

sujeitos, mesmo com a autorização do seu responsável. Os depoimentos foram

gravados em mídia digital (MP4), a partir da autorização dos mesmos, com

transcrição imediata e o cuidado de preservar a fidedignidade das falas, as quais

foram organizadas para posterior análise.

As entrevistas tiveram duração média de quinze (15) minutos, ressalta-se

que algumas delas foram marcadas por choros, preocupações e ansiedade com o

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que eles iriam responder. As entrevistas mais rápidas foram as realizadas com os

menores de idade, principalmente na faixa etária entre 11 a 13 anos, vivenciando a

fase inicial da adolescência, estes demonstraram certa timidez, vergonha e

dificuldade em responder aos questionamentos, já os adolescentes na faixa etária

de 16 a 19 anos, foram os que se expressaram melhor, demonstrando maior

interesse em relatar suas experiências com o câncer na adolescência, neste grupo

as entrevistas estenderam-se mais do que no grupo mais jovem e alguns depoentes

pediram ainda para falar mais, ao final dos questionamentos.

4.5. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Para a análise de dados foi utilizada a proposta de Bardin (2011), que divide

a análise de conteúdo em três fases: Pré-análise, exploração do material, tratamento

e interpretação dos resultados obtidos.

Para proceder a análise do material coletado foi empregada a técnica de

análise de conteúdo, que pode ser compreendida como a expressão mais

comumente utilizada para representar o tratamento dos dados de uma pesquisa

qualitativa, porém, o termo significa mais do que um procedimento técnico, faz parte

de uma histórica busca teórica e prática no campo das investigações sociais

(BARDIN, 2011).

Dentre as várias técnicas de análise presente na análise de conteúdo

optamos em utilizar a técnica de análise temática, no qual atentamos para

repetição dos temas comuns em todo material coletado. O tema é reconhecido por

Bardin (2011) como a unidade de significação, que liberta naturalmente de um texto

analisado segundo critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura. A técnica

de análise de conteúdo temático consiste em descobrir os núcleos de sentido que

compõe uma comunicação, cuja frequência ou ausência significam alguma coisa

para o objeto analítico visado.

Baseada em Bardin (2011) a análise temática desta pesquisa foi desdobrada

em três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento e interpretação dos

resultados obtidos.

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1a Etapa - Pré-análise

Foi o primeiro contato com o conteúdo que seria analisado, constituiu a fase

de organização do material, que iniciou com a transcrição das entrevistas, na sua

integra, o que foi realizado pela própria pesquisadora. A seguir foi realizada a leitura

de todo o material para a impregnação das idéias que foram emergindo, nesta

etapa, foram retomados os objetivos iniciais, operacionalizando-os frente ao material

coletado. Posteriormente, elaborou-se a construção do corpus através das seguintes

fases: a) Exaustividade: consistiu em ver e ler o material como um todo; b)

Representatividade: consistiu em priorizar o material no seu todo e, c)

Homogeneidade: identificação da pertinência e da aderência do material.

2a Etapa - Exploração do Material

A exploração do material consistiu essencialmente na operação de

codificação. Esta incidiu na transformação dos dados brutos, visando alcançar o

núcleo de compreensão do texto. Após a leitura exaustiva do material, foi realizado

um quadro agrupando as respostas dos informantes de acordo com a questão

levantada e destacando as falas que tivessem características em comum e que se

inter-relacionavam, em seguida, foi realizado um recorte das falas para serem

reagrupadas. Posteriormente, foi realizada a contagem dessas falas em cada grupo

o que permitiu a sua quantificação. De acordo com Coelho (2008), o uso da

quantificação é importante, para a identificação da saliência das enunciações e

auxilia na aproximação com o caráter de compartilhamento das representações

sociais. Por fim, a partir dos depoimentos agrupados, foi realizada a categorização

temática, a partir dos temas de significância encontrados, emergindo nas quatro

grandes categorias do estudo. Para Bardin (2011), categorizar significa impor a

investigação de que cada elemento tem em comum com o outro, permitindo o seu

agrupamento através da parte semelhante que existe entre eles.

3ª Etapa - Tratamento e interpretação dos resultados obtidos

De acordo com Bardin (2011), nesta fase, os resultados brutos são tratados

de forma que sejam significativos (“falantes”) e válidos. Assim, nesta última etapa, os

resultados deste estudo foram discutidos, validados e interpretados à luz do

referencial teórico.

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4.6. ASPECTOS ÉTICOS

Por se tratar de uma pesquisa que envolve seres humanos, os aspectos

éticos foram mantidos de acordo com a Resolução 196/96, envolvendo a carta de

autorização da instituição cenário da pesquisa (ANEXO A), bem como os Termos de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICES D e E), que foi assinado

pelos informantes e/ou por seu representante legal, quando tratou de menores de 18

anos de idade.

O objetivo do TCLE foi o de formalizar a participação na pesquisa, dar

amparo legal, além de esclarecer sobre a necessidade da gravação de suas falas e

a observância do anonimato em suas transcrições, os quais foram codificados

alfanumericamente.

Atendendo às exigências legais, o projeto passou pelo Comitê de Ética em

Pesquisa em Seres Humanos, do curso de graduação em Enfermagem da

Universidade do Estado do Pará, sob protocolo CAAE – 08082412.5.0000.5170,

parecer no 148.244, de 19/11/2012 (Anexo B).

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51

CAPÍTULO 5

CONHECENDO OS SUJEITOS DO ESTUDO

Antes de expor a análise de dados propriamente dita é relevante caracterizar

o perfil dos sujeitos deste estudo, considerando que eles são produtores de

representações sociais e que as compartilham com seu grupo de pertença. Assim, é

necessário explorar o contexto em que os adolescentes deste estudo estão inseridos

com o intuito de auxiliar para uma melhor compreensão de suas representações

sociais.

Segundo Jodelet (2001), as representações sociais proporcionam a

percepção de como os sujeitos sociais entendem os acontecimentos da vida

cotidiana, as peculiares do meio em que vivem as informações que os rodeiam e as

relações sociais. A RS é uma forma característica de conhecimento, de senso

comum, que circula na sociedade onde as pessoas estabelecem suas

representações em grupos sociais, por meio de diálogos, conceitos e culturas. Trata-

se de um conceito da psicologia social, fazendo análise de imagens idealizadas pelo

grupo relacionado ao seu cotidiano e das condições que determinam sua prática.

Moscovici (2007) ressalta que os indivíduos não somente absorvem idéias

dominantes produzidas e difundidas por classes sociais ou instituições sociais como,

por exemplo, a escola, estado, igreja, etc. Eles também possuem opções individuais

e freqüentemente produzem e comunicam representações, que compartilham com

seus grupos, o que têm influência direta sobre as suas relações, suas escolhas e a

sua vida.

Ao perceber a complexidade de relações sustentadas pela pessoa em seu

âmbito social, pode-se compreender que as representações sociais têm uma relação

íntima com a pluralidade do meio ambiente, na qual abrange diferentes visões de

mundo, ideologias e crenças que determinam atitudes e posicionamentos (TURATO,

2005).

Deste modo, os dados do contexto dos adolescentes com câncer, sujeitos

desta pesquisa, foram organizados como um local de envolvimento e criação das

representações sociais, sendo expostos com suas características particulares e seus

locais de inserção social, por meio do perfil sociodemográfico, bem como através

das características da doença e do tratamento, apresentadas no perfil clínico

terapêutico.

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5.1. PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO

Tabela 1 – Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com o sexo, HOL – Belém - Pará – 2013.

SEXO F %

Masculino 19 61

Feminino 12 39

TOTAL 31 100

No que concerne ao sexo, entre os trinta e um (31) entrevistados, houve

predomínio do masculino, com dezenove adolescentes, correspondendo a 61% dos

sujeitos da pesquisa.

Esses dados corroboram com os dados do Ministério da Saúde/INCA, onde

os Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP) do Brasil confirmam uma

maior incidência de câncer infantojuvenil no sexo masculino. Mais especificamente

nos dados do RCBP de Belém/Ananindeua, a incidência de câncer nesses

municípios, entre os adolescentes na faixa etária de 10 a 18 anos, no período de

1997 a 2001, foi de sessenta e um casos (57%) do sexo masculino e quarenta e

seis casos (43%) do sexo feminino (BRASIL, 2008).

Existem vários estudos que comprovam diferenças no lidar com a doença ao

comparar os jovens do sexo masculino e feminino. Rezende (2011), em pesquisa

sobre a imagem corporal e as repercussões psicossociais de adolescentes com

câncer, identificou diferenças no enfrentamento das mudanças na imagem corporal,

dependendo do gênero do paciente. Segundo a autora a alopécia foi a experiência

mais difícil para as meninas no âmbito pessoal e social, em razão dos cabelos

constituírem um símbolo de feminilidade, já para os meninos as mudanças mais

sentidas foram em relação às alterações no peso corporal.

Assim, considera-se esses dados muito importantes para a construção das

representações sociais de adolescentes sobre o processo de adoecimento

de câncer.

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Tabela 2 – Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com a idade, HOL – Belém - Pará – 2013.

IDADE F %

11 a 14 anos 12 39

15 a 17 anos 10 32

18 a 19 anos 09 29

TOTAL 31 100

Em relação à idade, os sujeitos da pesquisa foram distribuidos conforme a

divisão proposta por Steinberg (1993): Adolescência inicial, dos 11 aos 14 anos;

adolescência média, dos 15 aos 17 anos e adolescência final, dos 18 aos 21.

Houve um pequeno predomínio dos adolescentes na fase da adolescência

inicial (11-14 anos), o que correspondeu a 39% dos entrevistados, sendo que um

total de nove entrevistados, ou seja, 29% dos sujeitos, encontravam-se na fase da

adolecência final, isto é, eram maiores de idade, não necessitando, portanto, da

autorização de seus representantes legais para participar da pesquisa.

Ao comparar com a distribuição do Ministério da Saúde (BRASIL, 2008),

através dos dados do RCBP Belém/Ananindeua, no período de 1997 a 2001, a taxa

média por 1.000.000 de adolescentes na faixa etária de 10 a 14 anos foi de 51,98 e

na faixa etária de 15 a 18 anos foi de 80,34, o que coincide com os dados deste

estudo pois houve uma predominância dos adolescentes maiores de 15 anos (61%)

em relação aos adolescentes de até 14 anos (39%).

Considera-se que a análise da faixa etária é importante para se produzir

indicadores de pertenças, relacionando esses grupos a outras variáveis

sociodemográficas, com o intuito de se conhecer quem são esses adolescentes que

estão passando pelo processo de adoecimento de câncer.

Tabela 3 – Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com a religião, HOL – Belém - Pará – 2013.

RELIGIAO F %

Católica 15 48,4

Evangélica 15 48,4

Messiânica 01 3,2

TOTAL 31 100

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Quanto à religião, houve uma igualdade dos sujeitos que se declararam ser

católicos e evangélicos. Considera-se que a religiosidade é um dado significativo na

construção das representações sociais do adolescente com câncer, visto que sua

identificação com alguma religião, sua crença e sua fé, podem direcionar seus

comportamentos pessoais, o que poderá auxiliar no enfrentamento da doença ou,

nos casos mais avançados, até mesmo na aceitação da morte.

De acordo com Oliveira (2007), religiosidade é a capacidade de vivenciar a

experiência religiosa, intimamente ligada à espiritualidade, através da produção ou

mobilização de sua energia interior, o que pode influenciar na mudança de suas

atitudes e comportamentos.

Estudos têm demonstrado a importância da religiosidade no enfrentamento

de situações estressantes como, por exemplo, o adoecimento por câncer. Paiva

(2007) refere que, quando um indivíduo se depara com algum tipo de doença, seja

ela física ou mental, geralmente ele se apóia em recursos religiosos como oração,

promessas, peregrinação e/ou outros rituais para poder enfrentar tais situações. O

enfrentamento religioso acaba se tornando uma forma de encontrar sentido,

estabilidade e conforto frente à doença.

Assim, é importante conhecer a espiritualidade dos adolescentes com

câncer, com o intuito de compreender de que forma ela pode influenciar na

construção das representações sociais sobre o seu adoecimento.

Tabela 4 – Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com a procedência, HOL – Belém - Pará – 2013.

PROCEDÊNCIA F %

Região Metropolitana I (Belém, Ananindeua, Marituba) 10 32,2

Região Metropolitana III (Castanhal, Garrafão do Norte, Irituia e São Miguel do Guamá)

05 16,2

Região do Tocantins (Abaetetuba, Moju, Oeiras do Pará) 05 16,2

Região Metropolitana II (Vigia, Santa Izabel) 03 9,7

Região do Carajás (Marabá, Parauapebas, Rondon do Pará) 03 9,7

Região do Lago Tucuruí (Tailândia) 02 6,4

Região do Marajó (Curralinho) 01 3,2

Região do Caetés (Ourém) 01 3,2

Outro Estado (Santana – Amapá) 01 3,2

TOTAL 31 100

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Em relação à procedência, a maioria dos sujeitos deste estudo é oriunda do

interior do Estado do Pará e 32,2% são da região metropolitana de Belém, contando

ainda com um sujeito procedente do Estado do Amapá. Para visualizar melhor esses

dados, foi construído um gráfico (APÊNDICE C) com o mapa do Estado do Pará e

suas respectivas regiões de saúde, onde se consegue observar melhor essa

distribuição.

De acordo com o Plano Estadual de Atenção Oncológica do Pará (PARÁ,

2013), o HOL é um CACON, Centro de Alta Complexidade em Oncologia, e,

portanto, deve atender a pacientes oncológicos de todo o Estado. Com o advento do

chamado “Projeto Expande”, projeto do Ministério da Saúde, de expansão da

assistência oncológica em todo o Brasil, houve a construção de outras unidades de

assistência oncológica, havendo uma descentralização da alta complexidade em

oncologia no Estado, o que podemos perceber (APÊNDICE C) quando não se

apresentou nenhum sujeito deste estudo proveniente do Baixo Amazonas, Tapajós e

Xingu, regiões estas que, conforme o plano estadual de oncologia, devem ser

atendidas pela UNACON do Hospital Regional do Baixo Amazonas, localizada no

município de Santarém e que se encontra com serviços de Oncologia implantados

desde o ano de 2008. (PARÁ, 2013).

Esses dados são relevantes para se entender em quais condições e

contexto as representações sociais foram construídas, pois, de acordo com Ferreira

(1999), é importante conhecer o meio sociocultural do indivíduo, uma vez que este

meio serve de vínculo entre o seu universo e as suas representações sociais.

Tabela 5 – Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com a continuidade ou não dos estudos durante o tratamento, HOL – Belém - Pará – 2013.

CONTINUIDADE DOS ESTUDOS F %

Não parou de estudar 03 9,7

Parou de estudar 11 35,5

Parou de estudar no inicio da doença, mas retornou aos estudos no próprio hospital.

17

54,8

TOTAL 31 100

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Em se tratando da continuidade nos estudos, podemos perceber que mais

da metade dos sujeitos desta pesquisa (54,8%) parou de estudar no início da

doença, porém deu continuidade nos estudos após iniciar o tratamento no hospital.

Tal realidade deve-se principalmente ao chamado “projeto prosseguir”,

implantado no HOL, em convênio com a Secretaria Executiva de Educação

(SEDUC), com beneficio cultural e educacional, voltado para crianças e

adolescentes em tratamento oncológicos no hospital.

Pioneiro no Estado do Pará em classe hospitalar, o Projeto Prosseguir

iniciou sua atuação no HOL durante o ano de 2003, com o objetivo de assegurar às

crianças e adolescentes em tratamento no hospital, o direito à continuidade do

processo ensino-aprendizagem e reintegração ao grupo escolar, com

assessoramento pedagógico à escola e ao aluno (PARÁ, 2012).

Na Oncologia, a chamada “Classe hospitalar” tem como principal objetivo

proporcionar o atendimento pedagógico à criança e ao adolescente portadores de

neoplasias, e assegurar a manutenção dos vínculos escolares, devolvendo a criança

para sua escola de origem, com a certeza de que ela poderá reintegrar ao currículo

e aos colegas, sem prejuízo devido ao afastamento temporário (INCA, 2013).

O trabalho realizado pela Classe Hospitalar constitui parte integrante do

tratamento oncológico e está de acordo com a Resolução n.º 2 do Conselho

Nacional de Educação, de 11 de fevereiro de 2001, que em seu Art. 13 determina,

que os sistemas de ensino, mediante ação integrada com os sistemas de saúde,

devem organizar o atendimento educacional especializado a alunos impossibilitados

de freqüentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique internação

hospitalar, atendimento ambulatorial ou permanência prolongada em domicílio

(INCA, 2013).

Consideram-se esses dados muito importantes, uma vez que a terapia

contra o câncer na adolescência, geralmente é longa, requer anos de tratamento,

onde o jovem passa muito mais tempo no hospital do que no seu próprio domicílio, e

também, como foi observado na tabela anterior, a maioria deles são provenientes do

interior do Estado, dificultando ainda mais a continuidade dos estudos. Assim, a

classe hospitalar é essencial para recuperar a socialização do adolescente, através

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de sua inclusão social, impedindo a interrupção do processo de aprendizagem, para

que futuramente ele possa ser reintegrado a sala de aula.

Tabela 6 – Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com as principais atividades de lazer, HOL – Belém - Pará – 2013.

LAZER F %

Televisão 07 22,7

Televisão, internet e videogame 07 22,7

Televisão e internet 04 12,9

Internet 03 9,7

Televisão e videogame 02 6,4

Videogame 02 6,4

Televisão e desenhar 02 6,4

Leitura 02 6,4

Pescaria 01 3,2

Tocar violão 01 3,2

TOTAL 31 100

No que concerne às principais atividades de lazer dos adolescentes com

câncer, percebe-se um isolamento social dos sujeitos desta pesquisa. A tendência

em ficar só é observada através da opção por atividades essencialmente

individualistas, como o videogame, internet, leitura, entre outras.

De acordo com Ribeiro e Rodrigues (2005), o diagnóstico e tratamento do

câncer geralmente levam a mudanças nos modos de viver, na forma de ver a vida,

nas relações interpessoais e intrínsecas do adolescente consigo mesmo, tais

mudanças podem levar muitas vezes ao isolamento e depressão.

O isolamento se caracteriza em evitar a exposição social, o sujeito apodera-

se de uma série de recursos, evitando situações sociais e a exposição em público,

Todas essas situações derivam principalmente da apreciação negativa da imagem

corporal e as situações sociais passam a ser taxativamente evitadas

comprometendo a sua vida social (ROSEN,1991).

Esses dados são de suma importância na aproximação do enfermeiro aos

adolescentes com câncer, com o intuito de promover estratégias de reintegração ao

convívio com sua família, com seus pares e com a sociedade de um modo geral.

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Em resumo, os adolescentes sujeitos desta pesquisa foram, na sua maioria,

do gênero masculino, na faixa etária entre 11 a 14 anos, pertencentes entre a

religião católica e evangélica. A maior parte proveniente do interior do Estado do

Pará; mais da metade pararam de estudar após o adoecimento por câncer, porém

retornaram aos estudos com o início do tratamento no hospital e a maioria realiza

atividades de lazer essencialmente individualistas e solitárias, como televisão,

videogame e internet.

5.2. PERFIL CLÍNICO TERAPÊUTICO

Tabela 7 – Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com o diagnóstico, HOL – Belém - Pará – 2013.

DIAGNÓSTICO F %

Leucemias 12 38,8

Tumores ósseos (Osteossarcoma, sarcoma de Ewing) 07 22,6

Linfomas 05 16,2

Neoplasias do SNC (encéfalo e Meduloblastoma) 03 9,7

Rabdomiosarcoma (testículo) 02 6,4

Sarcoma de partes moles (pescoço) 01 3,2

Carcinoma de Tireóide 01 3,2

TOTAL 31 100

Em relação ao diagnóstico, houve predomínio dos adolescentes portadores

de Leucemia, correspondendo a 38,8% dos entrevistados. O que corrobora com os

dados do Ministério da Saúde, que informa que a Leucemia é o tipo mais frequente

de câncer entre as crianças e adolescentes do Brasil, correspondendo entre 25 a

35% de todos os tipos, sendo a Leucemia Linfóide Aguda (LLA) a de maior

ocorrência. Vale ressaltar que os RCBP localizados na região norte do país

apresentaram os maiores percentuais para leucemia (acima de 49%) (BRASIL,

2008).

O MS refere ainda que, no contexto mundial, o tipo mais frequente de câncer

infantojuvenil também são as Leucemias, nos Estados Unidos, por exemplo, as

Leucemias correspondem a 26,3% de todos os tumores infantis, seguidas dos

tumores de SNC (17,6%) e Linfomas (14,6%) (BRASIL, 2008).

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Tabela 8 – Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com o tratamento realizado, HOL – Belém - Pará – 2013.

TRATAMENTO F %

Quimioterapia 16 51,7

Quimioterapia + Cirurgia 09 29

Quimioterapia + Radioterapia 04 12,9

Quimioterapia + Radioterapia + cirurgia

02 6,4

TOTAL 31 100

No que concerne ao tratamento realizado, dezesseis adolescentes realizaram

somente quimioterapia, o que corresponde a 51,7% dos entrevistados e os demais

realizaram a quimioterapia associada a outros tratamentos como cirurgia e/ou

radioterapia.

A quimioterapia consiste na administração de drogas antineoplásicas,

utilizadas com o objetivo de destruir as células tumorais, ela é aplicada

principalmente para tratar doenças sistêmicas, como o câncer, e pode ser associada

a outros métodos terapêuticos como a radioterapia e a cirurgia (SMELTZER; BARE,

2005)

De acordo com Conceição et al. (2012), o paciente oncológico que realiza

quimioterapia constrói uma nova possibilidade para o seu cotidiano, reconstrói a sua

realidade, antes centrada no saber popular, por isso não familiarizada no saber do

senso comum, evidenciando que essa nova forma de saber vai se desvelando em

comportamentos e atitudes que vão implicar na qualidade de vida do paciente.

Tabela 9 – Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com o tempo entre o diagnóstico e o inicio do tratamento, HOL – Belém - Pará – 2013.

TEMPO ENTRE O DIAGNÓSTICO E O INICIO

DO TRATAMENTO

F

%

Até 2 meses 21 67,8

De 3 a 4 meses 06 19,3

De 9 meses a um ano 04 12,9

TOTAL 31 100

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Os resultados apontam para um reduzido tempo entre o diagnóstico e o

início do tratamento, 67,8% demoram até dois meses, no entanto, ainda existem

adolescentes que levaram até um ano para iniciar o tratamento, o que se pode

considerar preocupante, em virtude do rápido desenvolvimento dos tumores na

adolescência, podendo levar uma doença curável a se tornar uma doença fora de

possibilidades terapêuticas e ocasionar até a morte desses adolescentes.

O Ministério da Saúde, através da Lei 12.732 de 22 de agosto de 2012, fixou

o prazo de 60 (sessenta) dias para fins do primeiro tratamento oncológico, seja ele

cirúrgico, quimioterápico ou radioterápico para o paciente no âmbito do SUS,

cabendo aos serviços de saúde observar o fluxo e prestar assistência adequada e

oportuna aos usuários com diagnóstico comprovado de câncer. (BRASIL, 2013)

Esses dados são importantes para a implantação e implementação de

políticas públicas que facilitem a agilidade no processo de tratamento do câncer na

adolescência.

Tabela 10 – Distribuição dos adolescentes com câncer, de acordo com as principais alterações provocadas pela doença ou tratamento, HOL – Belém - Pará – 2013.

ALTERAÇÕES F %

Alopécia + emagrecimento 09 29

Alopécia 05 16,2

Alopécia + amputação de um membro. 05 16,2

Alopécia + manchas no corpo 04 12,9

Tumoração cervical. 03 9,7

Alopécia + tumoração cervical. 02 6,4

Alopécia + edema + diminuição da acuidade visual. 01 3,2

Alopécia + manchas no corpo + emagrecimento 01 3,2

Alopécia + manchas no corpo + emagrecimento + acnes + tumoração cervical.

01 3,2

TOTAL 31 100

Quanto às principais alterações provocadas pela doença ou tratamento, nove

adolescentes mencionaram a Alopécia e o emagrecimento, o que corresponde a

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29% dos entrevistados. Na tabela acima se percebe que, mesmo referindo outras

alterações corporais, a alopécia foi citada na sua grande maioria.

Na fase da adolescência, a imagem corporal adquire um grande significado

muitas vezes até maior que o próprio adoecimento, neste processo, a queda do

cabelo influencia na relação com os seus pares, geralmente ocorrendo diminuição

na autoestima e sensação de insegurança. Para os adolescentes, os insultos

relacionados à modificação corporal não interferem somente na forma de idealizar

sua imagem, mas também influencia na sua interação social. A queda do cabelo

torna visível essa perda do controle, deixando os pacientes vulneráveis, o que reflete

em uma dor existencial (ANDERZÉN CARLSSON et al., 2008).

É importante conhecer as alterações corporais relacionadas ao processo de

adoecimento de câncer, para compreender melhor as representações sociais dos

adolescentes frente a essas mudanças.

Em resumo, o perfil clínico terapêutico, apresenta um grupo de adolescentes

na sua maioria com diagnóstico de Leucemia, em tratamento de quimioterapia, com

tempo de duração de até dois meses entre o diagnóstico e o início do tratamento e

29% com alteração corporal de Alopécia e emagrecimento.

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CAPÍTULO 6

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As respostas dos sujeitos desta pesquisa emergiram em quatro categorias,

sendo três delas relacionadas às Representações Sociais de adolescentes sobre o

processo de adoecimento de câncer e uma sobre as repercussões dessas RS para

o cuidado de si, o que pode ser visualizado no quadro abaixo.

Quadro1 - Esquema das Representações Sociais dos adolescentes sobre o processo de adoecimento de câncer e suas repercussoes para o cuidado de si. Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

RS DE ADOLESCENTES SOBRE

O PROCESSO DE

ADOECIMENTO DE CÂNCER

A doença que chega... Que doença é essa?

Categoria 1. Definindo o câncer como doença

psicossocial

A doença que se instala... O que muda?

Categoria 2. Vivenciando o adoecer e o adolescer com

câncer

A doença que altera o corpo... O que marca?

Categoria 3. Enfrentando as alterações corporais

advindas do adoecimento

REPERCUSSÕES DESSAS RS PARA O CUIDADO DE SI

Doença que pode levar à morte

Doença que pode ser curada

Doença Normal

As mudanças vivenciadas

O preconceito vivenciado

O apoio vivenciado

A vergonha do corpo alterado

O enfrentamento positivo das alterações corporais

A doença e o cuidado de si... Como é esse cuidado?

Categoria 4. Cuidando de si durante o adoecimento de câncer

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CATEGORIA 1 – DEFININDO O CÂNCER COMO DOENÇA PSICOSSOCIAL

Nesta categoria, foram analisadas as representações sociais de

adolescentes sobre o câncer como doença (A doença que chega... Que doença é

essa?). Os resultados encontrados na pesquisa culminaram em três subcategorias:

Doença que pode levar à morte, Doença que pode ser curada e Doença normal.

Doença que pode levar à morte

De acordo com Moscovici (2012), a representação do ciclo de vida é

normalmente decorrente do conhecimento imposto pelo modelo biomédico, que

estabelece didaticamente as fases de nascimento, crescimento, reprodução e morte,

sendo esta última fase geralmente associada à pessoa em idade mais avançada, em

sua senilidade. No entanto, diante de uma doença como o câncer, o indivíduo se

apavora, pois a proximidade dessa última etapa pode representar uma antecipação

em seus planos de vida.

Quando o processo de adoecimento por câncer se dá na fase da

adolescência, onde o indivíduo se encontra no auge do desenvolvimento do seu

ciclo vital, essa situação pode ser ainda mais alarmante. Nesta pesquisa, observa-se

que, nos depoimentos de dezesseis entrevistados (51%), a palavra câncer se

encontra fortemente ancorada em representações sociais como “morte”, “morrer”,

“tristeza”, “grave”, “perigo”, o que podemos visualizar nos discursos a seguir:

“Uma doença bem grave, que não tem cura e que pode levar a morte” (H7- 18 anos)

“É assim uma coisa muito ruim, eu penso que o tratamento é ruim, a maioria das pessoas morrem e aí eu penso que eu vou morrer também” (M11- 15 anos)

“Uma doença grave, acho que quando a pessoa pensa na palavra câncer, ela pensa logo que vai morrer” (M15- 17 anos)

“Uma doença né? Uma doença muito perigosa [...] e que quando tá avançada leva a vida da gente mesmo.” (H17- 15 anos)

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Como pode-se observar, através dos relatos dos adolescentes

entrevistados, em consonância com outros estudos sobre a temática do câncer,

mesmo com os avanços técnico-científicos no diagnóstico e tratamento oncológico e

com o aumento da expectativa de vida desses pacientes, ainda é frequente

encontrar uma concepção negativa sobre o câncer, geralmente associada à morte.

A TRS reconhece o valor da dimensão subjetiva, aqui apresentada pelo

adoecimento por câncer, o aspecto cognitivo do indivíduo, que segundo esta

perspectiva interfere nas práticas sociais, nas atitudes e condutas relativas ao objeto

da representação. A pesquisa que usa a teoria das representações sociais como

referencial teórico focaliza sua atenção no conhecimento dos participantes da

mesma, enquanto conhecimento importante para se compreender o cotidiano dos

mesmos. O referencial da TRS permite esclarecer como se dá o processo de

assimilação dos fatos que ocorrem no meio, como os mesmos são compreendidos

pelos indivíduos e grupos, e como o conhecimento construído sobre estes fatos são

expressos por meio de sua comunicação e em seus comportamentos (MOSCOVICI,

2012).

A representação social que associa o câncer à morte possibilita o

surgimento de aspectos práticos que concebem ao indivíduo, no caso deste estudo,

os adolescentes, o posicionamento negativo frente aos tratamentos vinculados a

doença.

Pelaez et al. (2008) ressaltam que na população de um modo geral,

normalmente é propagada a representação sobre o câncer, socialmente construída

como sinônimo de morte, como algo que ataca do exterior e não tem controle e cujo

tratamento, juntamente com seus efeitos colaterais, é considerado drástico e

negativo.

O câncer continua a ser uma das doenças que mais provoca medo na

sociedade moderna, em razão de suas representações de morte, dor e sofrimento, o

que pode ser consequência das elevadas taxas de mortalidade e morbidade tão

características dessa patologia, que se propagam através os órgãos de

comunicação social levando à perpetuação dessas imagens (CASCAIS, 2008).

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Segundo o autor, essas representações transitam na sociedade através das

interações que se estabelecem cotidianamente, pela convivência com pessoas que

vivenciam as conseqüências mais trágicas dessa doença, por meio da morte de

entes queridos e muitas vezes também através dos meios de comunicação social.

Pode-se observar que, por vezes, a mídia divulga a morte de pessoas públicas, as

quais foram “vítimas de câncer”, essas informações passam a integrar o universo

consensual das pessoas, originando as representações vinculadas ao câncer.

Essas representações se encontram ancoradas nas experiências sociais,

isto é, derivam das vivencias pessoais de cada indivíduo, seja pelo

acompanhamento de amigos ou familiares em tratamento oncológico ou mesmo pela

própria vivência no processo de adoecimento pelo câncer. Esse conhecimento,

construído a partir cotidiano e das experiências individuais, possibilita a construção

de uma realidade comum a esse grupo social. (PELAEZ et al., 2008)

A comunicação entre os adolescentes ocorre durante o seu tratamento e

esse conhecimento possibilita o surgimento de um universo consensual que

favorece o entendimento do câncer como uma sentença de morte. Neste momento,

o profissional de enfermagem necessita entender este universo e interferir no

mesmo de forma a favorecer a desconstrução da realidade do câncer como uma

doença mortal, mas sim uma doença que é possível de cura.

As representações sociais visam integrar um fenômeno social não familiar,

que, por ser desconhecido, gera medo e ansiedade, ao conhecimento que os

indivíduos e grupos dispõem sobre seu cotidiano. Por tal motivo, é necessária a sua

assimilação ao referencial conceitual dos indivíduos, para que possa se tornar

familiar. Isto ocorre também quando se apresenta determinado conhecimento

especializado (reificado) a um determinado grupo social, e a partir de sua

apresentação ele é reelaborado, tornando-se uma nova forma de conhecimento

denominado de consensual, decorrente das conversações e do consenso entre os

membros de um determinado grupo social (MOSCOVICI, 2012).

De acordo com Jesus e Gonçalves (2006), para o adolescente, o “estar com

câncer” representa uma ameaça à sua existência e o faz reconhecer a morte como

uma possibilidade. Até então, o morrer era apenas uma situação percebida, já que é

a única certeza da vida, entretanto, não era reconhecida muito menos pensada ou

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refletida por aquele que gozava de saúde e estava no auge da sua juventude.

Todavia, diante de um fato que lhe parecia tão distante e tão remoto, a angústia da

possibilidade de não se ter mais um futuro torna-se um sentimento inevitável,

tornando possível e próximo o que antes era considerado improvável.

Já para Bessa (1997) os adolescentes com câncer foram arrancados das

suas vidas e do seu desenvolvimento “normal” para serem subitamente agredidos e

ameaçados pelo tratamento oncológico, sem poder optar pela situação em que se

encontram. Deste modo, o enfrentamento da morte passa a ser uma luta

aterrorizante em busca da sobrevivência.

Segundo Moscovici (1981), essas imagens e significações que invadem a

rotina de cada indivíduo, passam a compor o seu sistema de crenças, determinando,

assim, o seu modo de agir e de se comportar frente a determinadas situações, neste

caso, ao processo de adoecimento de câncer na adolescência.

As representações sociais são uma forma de conhecimento socialmente

organizado e partilhado, que tem objetivo prático e colabora para a constituição de

uma realidade comum a um grupo social, podendo ser denominada como saber de

senso comum ou ainda saber natural. Esta forma de conhecimento é distinta, entre

outras, do conhecimento cientifico. Entretanto, é tida como um objeto de estudo

legítimo da própria ciência. Ele apresenta relevância para a vida social já que indica

processos cognitivos encarnados nas interações sociais (MOSCOVICI, 2012). No

estudo em questão, as representações sociais representam como os adolescentes

acometidos de câncer irão se comportar, pois o comportamento é a pratica das

representações sociais.

No contexto em que pesquisamos é importante entender os possíveis

sentimentos e as possíveis fantasias do adolescente sobre a morte e o morrer, pois

segundo Azevedo, Barros e Müller (2004) o pensamento de controle sobre a morte é

um ato saudável e uma questão muito forte ao adolescente com câncer, e, como

nesse momento é natural que os pais se calem, a equipe de saúde pode e deve

ajudar tanto o paciente como a família a entender e enfrentar esse processo.

Assim, falar de câncer na adolescência, para os dezesseis entrevistados

(51%) desta subcategoria, representa falar sobre a possibilidade de morte que, para

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um grupo social que se encontra na plenitude de sua vida, com toda uma gama de

projetos para o futuro, pode significar algo assustador e precisa ser acompanhado

de perto pelo profissional que o assiste, por meio do conhecimento de suas

subjetividades.

Doença que pode ser curada

Diferentemente da subcategoria anterior, nove adolescentes (29%)

conceituaram o câncer de forma positiva, com esperança na cura, apoiados em suas

crenças e na espiritualidade, o que pode ser observado por meio dos seguintes

termos: “cura”, “curada”, “fé em Deus”

“É uma palavra forte, mas eu sempre penso assim, Deus é mais que tudo isso.” (M5- 19 anos)

“É uma doença que é uma luta muito grande mesmo, pra essa doença só Deus tem a cura” (M14 – 16 anos)

“Eu nem sei o que falar [...] Eu só quero falar que tem que ter fé em Deus, orar e sempre agradecer pelo dia, pela tarde, pela noite, que Deus vai curar” (H24- 14 anos)

“Pra mim eu acho que câncer é uma doença, que eu acho que pra mim, tem cura, algumas [pessoas] crêem em Deus e conseguem sair disso, como eu sou assim, faz um tempão assim que eu ando em igreja, eu nunca deixei de ter fé em Deus [...] ” (H27- 17 anos)

Os resultados aqui apresentados reiteram o estudo de Vasconcelos (2012)

sobre as RS de cuidadores de pacientes com câncer fora de possibilidade de cura,

no qual para, alguns entrevistados, a doença só pode ser curada unicamente por

Deus. Para a autora, o aspecto religioso é quase sempre exaltado quando a pessoa

se encontra em situações de desamparo psicossocial, como no caso do

adoecimento por câncer, assim, a “fé em forças sobrenaturais” acaba por estar

presente no cotidiano dos doentes e de seus cuidadores.

A autora ressalta ainda que, mesmo com os discursos filosóficos a respeito

da morte, poucos são os indivíduos preparados para enfrentá-la, em virtude do

processo de morrer estar enraizado em aspectos socioculturais. Assim, quando uma

pessoa encontra barreiras para prolongar a continuidade de sua vida, como no caso

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do adoecimento pelo câncer, geralmente ela busca apoio na religião, pois nela se

consegue encontrar a fé e a confiança na cura da doença.

De acordo com os estudos de Oliveira e Gomes (2008), sobre a estrutura

representacional do câncer para os seus portadores, a palavra cura transmite a idéia

de “livrar-se” da doença e de continuar tendo uma vida saudável, fato que se

contrapõe à morte como centralidade da representação.

Os autores explicam o sentido da cura através do tratamento baseado na

tríade “cura-tratamento-Deus”, na qual, o fenômeno “livrar-se da doença” se

apresenta apoiado tanto na terapêutica implementada, quanto na possibilidade de

intervenção divina, nos apresentando de um lado a dependência tecnológica do

sistema de saúde e por outro lado a fé, uma vez que a ciência médica ainda não

conseguiu oferecer respostas conclusivas para o episódio vivido, especialmente em

suas simbologias.

Em se tratando do câncer na adolescência, com o intuito de suportar o

sofrimento proveniente da doença e do tratamento, o adolescente geralmente

procura um “ser superior”, um “ser celestial”, atribuindo cada vitória, conquistada

nessa fase, a sua fé em Deus. Essa confiança que os adolescentes depositam em

Deus é muito significativa, pois o conforto espiritual que essa relação lhes

proporciona lhes dá forças para enfrentar a situação que estão vivenciando.

(JESUS; GONÇALVES, 2006)

Cabe salientar que o cristianismo propicia a crença de um ser superior que

pode favorecer a cura. Esta realidade é bem visível nas falas dos nove depoentes,

visto que, a religiosidade favorece a criação de uma realidade curativa.

De acordo com Jodelet (2001) as representações sociais são sistemas de

interpretação que dirigem a relação do indivíduo com o mundo e com os outros. Elas

orientam e estabelecem condutas e comunicações sociais, interferindo em vários

processos, como a propagação e a assimilação dos conhecimentos, o

desenvolvimento individual e coletivo, a definição das identidades pessoais e

sociais, a expressão de grupos e as transformações sociais.

A dialogicidade das Representações Sociais em um grupo social possibilita a

troca de saberes e comportamentos levando-o a se familiarizar com o medo e o

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desconhecido diante de uma nova etapa de sua vida, isto é, fazem emergir uma

Representação Social de algo que servirá como guia para as suas vidas diante

desse objeto em outro contato. (CONCEIÇÃO et al., 2012)

Deste modo, nesta subcategoria, para nove adolescentes (29%), a

Representação Social sobre o câncer possibilita essa familiarização com o

desconhecido e, ao invés de se sentirem negativados pelo adoecimento do câncer,

recorrem à espiritualidade, fé e crenças, buscando forças para enfrentar a doença,

na esperança de sua cura.

Doença Normal

A doença crônica, como o câncer, geralmente representa um corte na linha

da vida do indivíduo passando a apresentar dois momentos: o antes, saudável e o

após, doente. A projeção do futuro é incerta e na adolescência pode adquirir uma

intensidade ainda maior. Após a comunicação da doença, o adolescente pode ter

diferentes reações como a negação, inconformidade, ansiedade, raiva e revolta.

Neste estudo, percebeu-se em seis entrevistados (20%), que a ruptura

diante do impacto do adoecimento pelo câncer se caracterizou pela negação da

doença, visualizado através da representação do câncer como uma doença

“normal”, como segue nos discursos abaixo:

“Na verdade eu vejo assim como uma doença como uma gripe,

como uma doença normal que qualquer um pode pegar, né, eu vejo

na verdade assim, normal”. (H22- 19 anos)

“Eu não sei, eu acho que é uma doença normal, que tem que cuidar

dela, né?” (H30- 12 anos)

A negação pode ser ainda observada quando o adolescente tenta esconder

a sua doença, representando o câncer como uma enfermidade relacionada a alguma

parte do corpo, o que podemos observar quando eles decorrem em seus

depoimentos as seguintes objetivações: “problema no osso”, “doença no sangue”,

“Massa em mim”.

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“Quando a minha médica disse que eu tava com câncer, ela falou assim [...] que o meu problema é um Osteossarcoma, aí eu fiquei mais conformada com isso, aí o pessoal pergunta pra mim se é câncer, aí eu digo que não, que é um osteossarcoma o meu problema, é um problema no osso”( M2- 16 anos)

“É o mesmo que uma doença normal, só que um pouco diferente, eu tenho uma massa em mim, aqui dentro de mim” (H1- 12 anos)

“É uma doença [...] é uma doença no sangue” (H21- 11 anos)

Nestes relatos observa-se a representação da doença, “osteossarcoma”,

através do conhecimento reificado (científico), adquirido pelas orientações da

equipe médica, e por meio dele tenta esconder seu problema, evitando o uso da

terminologia “câncer”, que muitas vezes denota a gravidade de sua enfermidade.

O comportamento dos adolescentes deste estudo pode representar uma

tendência a negar o processo de adoecimento de câncer, o qual, segundo Cataldo

Neto, D’Avila e Restano (2003), é uma estratégia muito comum perante uma doença

grave e representa, de acordo com Rogers (1992), um mecanismo de proteção, para

preservar a estrutura do seu “eu” da ameaça pela doença, de forma a negar a

expressão consciente.

Segundo Barbosa e Francisco (2007), a negação causada pelo diagnóstico

da doença pode estar associada à representação social do câncer, que (como visto

em outra subcategoria deste estudo) é geralmente associada à dor e à morte.

Para Iamin e Zagonel (2011) alguns adolescentes, juntamente com seus

familiares e amigos, acabam se calando diante do diagnóstico de câncer, pois o

impacto não lhes permite falar sobre o que está acontecendo, o que para as autoras

pode representar uma maneira momentânea de enfrentar o problema como forma de

negação do seu agravo. Muitas vezes o adolescente tem dificuldade de

compreender a dimensão do processo de adoecimento pelo qual está passando,

não aceita adoecer, não aceita as manifestações da doença, não aceita a nova

rotina de vida e pode até acabar entrando em turbulência emocional.

Percebe-se que normalmente, em alguns momentos de fragilidade, como no

caso do processo de adoecimento por câncer na adolescência, o ser humano pode

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se encontrar permeado de incertezas, e por isso tenta ocultar o seu problema. Essa

situação desconhecida, não familiar, conforme refere Moscovici (2010), incomoda e

ameaça a ordem estabelecida, o que gera medo e leva à busca de um referencial

para tornar comum a situação, tendo sido representada, neste caso, como um

processo de negação.

Assim, nesta subcategoria, os depoimentos de seis adolescentes (20%)

focaram na negação do câncer, tentando ocultar a doença através da representação

do câncer como uma doença “normal” ou que está relacionada a alguma parte do

corpo.

CATEGORIA 2 – VIVENCIANDO O ADOECER E O ADOLESCER COM CÂNCER

Nesta categoria, foram analisadas as Representações sociais de

adolescentes sobre a vivência do câncer (A doença que se instala... O que muda?).

Os resultados encontrados na pesquisa culminaram em três subcategorias: As

mudanças vivenciadas, O preconceito vivenciado e O apoio vivenciado.

As mudanças vivenciadas

Ao receber o diagnóstico de câncer, o adolescente é levado a vivenciar

várias mudanças em decorrência do tratamento da doença, o que coincide com as

modificações próprias da sua idade, esse turbilhão de mudanças pode acarretar

muitas dificuldades no enfrentamento da doença. Neste estudo, dos trinta e um

entrevistados, vinte adolescentes (65%) representaram o câncer na adolescência

por meio dessas mudanças e dificuldades enfrentadas, o que se pode observar

através dos termos “mudou”, “mudança”, “não faço mais”, “não posso fazer” e

“difícil”.

No processo de adoecimento pelo câncer na adolescência, as modificações

comportamentais passam a existir uma vez que o seu modo de vida passa a ser

outro, a sua vida social é alterada, ocorrendo mudanças nas atividades comuns na

fase da juventude, como ir à festas, ao shopping, passear com os amigos, dentre

outras atividades, o que pode ser observado nos seguintes depoimentos:

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“A parte mais difícil [...] foi ver os meus amigos continuando as atividades deles, passando de ano e eu ficando pra trás. Égua! Ver meus amigos indo, se divertir, e eu não poder fazer isso [pausa] Eles iam lá me visitar em casa, né, eles me contavam as histórias que tinham saído, tinham ido pra tal lugar [...] Eu era de banda de fanfarra, né, de sete de setembro, e aí eu não tava lá no meio deles, aí eu ficava meio sentido, mas como adolescente essa foi a parte mais difícil [...]” (H26- 18 anos)

“Foi a pior coisa do mundo que aconteceu, eu nunca imaginei que eu ia ter isso, mudou tudo, parou a minha vida, totalmente, em termo de se divertir, em estudar, de não poder trabalhar, entendeu? Em não poder dar uma volta numa praça, entendeu? [...]” (H29- 18 anos)

“[...] Eu gostava assim, de ir pra festa, ir pro shopping, pra praia e tudo isso mudou, eu achei muito ruim, porque vejo meus amigos sair, ir pro shopping, ir pra praia, ir pra festa como eu ía, agora pra mim é ruim que eu adoeci, eu tenho que cuidar mais dessa doença que eu tô, porque de mês a mês eu tenho que tá aqui fazendo exame, pra ver como é que tá, aí eu não saio muito [...]” (M14- 16 anos)

Além dessas mudanças no cotidiano social e do afastamento dos amigos, as

modificações físicas e psíquicas do adolescente, passam a interferir também nos

seus relacionamentos afetivos, principalmente com o (a) namorado (a), pois,

geralmente, o paciente não aceita com facilidade as transformações na sua vida

pessoal, o que foi evidenciado nas seguintes falas:

“[...] Namorado eu deixei, porque eu não tinha cabeça pra isso não, vai embora que eu não quero mais, aí eu mandei embora e ele foi, aí depois que ficar boa eu vou ver o que vou fazer da vida, eu quero logo ficar boa, eu só penso em ficar logo boa [...]” (M2- 16 anos)

“[...] Mudou muita coisa, mudou tudo, é chato [...] Larguei o namorado e fiquei sozinha [...] ele já até foi embora, não arrumei mais namorado e não quero”. (M4- 18 anos)

[...] Senti sabe porque eu não tô podendo viver com ele [namorado] como eu vivia antes, aí eu não vou poder mais, ele tá me beijando, essas coisas e assim por isso, tem vezes que eu penso em me separar porque é ruim tá vivendo assim, [...]” (M14- 16 anos)

Nesse processo, ocorrem ainda, mudanças em relação ao cotidiano das

hospitalizações, com conseqüente distância da família, o que foram citadas pelos

adolescentes entrevistados, como segue nos discussos:

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“É ruim porque a gente fica longe da família, né, eu vou pra casa só no intervalo da quimio, fico mais aqui [no hospital] do que lá [casa]” (H20- 14 anos)

“Na frente assim, foi um pouco difícil, tinha que ficar aqui [no hospital], ninguém gosta de estar no hospital, né?, tinha que passar uns tempos longe da família [...] às vezes passava um dia, só um dia que eles davam pra ir em casa, e já voltava no outro dia, eu achava chato, queria mais ficar mais em casa do que no hospital [...] (H27- 17 anos)

O adolescer com câncer foi representado, nessas falas, como um processo

“difícil”, “ruim”, “chato” em virtude do afastamento dos amigos, namorado, familiares,

enfim, de seu grupo social. Para Azevedo, Barros e Müller (2004) no processo de

adoecimento de câncer na adolescência, pode ocorrer, aos poucos, um afastamento

natural, ocasionado pela própria rotina que se estabelece com o tratamento e que

favorece separações e diferenciações de seus pares e questionamentos sobre o seu

vínculo amoroso.

Nos estudos de Jesus e Gonçalves (2006), sobre adolescentes com

leucemia, o tratamento para o câncer é visto como “algo que aprisiona e transforma

dolorosamente o seu cotidiano”. Para as autoras, na adolescência, o tratamento

oncológico representa uma experiência difícil de ser suportada, pois o jovem passa a

viver uma situação estressante em virtude de se encontrar em um ambiente

estranho ao do seu cotidiano. Assim, ele acaba sofrendo por causa das limitações

pela falta de liberdade e pela restrição do direito de ação e decisão. Além disso,

existe o vazio deixado pela distância dos parentes e amigos, o que pode fazer surgir

sentimentos de angústia, solidão e até mesmo de rejeição ao tratamento.

As autoras ressaltam ainda que, o tratamento para o câncer normalmente

gera mudanças bruscas e dolorosas. O jovem se depara com as rotinas hospitalares

que não existiam em sua vida. O isolamento social, com o afastamento dos amigos

representa um dos primeiros problemas causados por essas normas, gerando

insatisfação ao adolescente com câncer. Eles geralmente se sentem isolados,

limitados em suas atividades, impedidos de freqüentar a escola e de se relacionar

com seus pares e, assim, manifestam o desejo de se libertar da doença, do

tratamento e, principalmente, do hospital.

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Essa visão de perda da liberdade também é notada nos estudos de Iamim e

Sagonel (2011), sobre as estratégias de enfrentamento de adolescentes com

câncer, onde as autoras ressaltam que o processo de adoecer na adolescência,

geralmente é visto como um aprisionamento às novas rotinas, a um lugar estranho,

sem perspectiva de voltar aos locais que costumava frequentar. A rotina do

tratamento induz ao acostumar-se a isso, mas também é expressada como

incômoda e muito difícil.

Considerando que, segundo Jodelet (2001), as representações sociais não

se concebem na individualidade e sim, em um contexto social que participa do

processo de sua formação, os adolescentes têm o ambiente hospitalar como um

elemento da construção de suas representações sociais sobre o câncer por ser

parte de seu cotidiano e o local onde emergem e circulam informações sobre a

doença e onde interagem com os outros doentes e outros profissionais

As representações sociais são reconhecidas como sistemas de interpretação

que dirigem nossa relação com o mundo e com os outros. Elas norteiam e

estabelecem as condutas e as comunicações sociais. Da mesma forma, elas

intervêm em processos variados, tais como difusão e a assimilação. Com o objetivo

de se enfrentar as mudanças vivenciadas, neste caso com a experiência do câncer

na adolescência, o indivíduo acaba por ancorar e objetivar os sentimentos sobre o

seu contexto, isto é, ele ancora as suas idéias, práticas, e imagens comuns sobre

sua realidade e objetiva organizando suas manifestações para possibillitar um

significado (MOSCOVICI, 2012).

Assim, falar sobre o adolescer com câncer para os vinte entrevistados (65%)

nesta subcategoria, representa falar de um novo e difícil mundo que chega para

eles, de tal maneira, que ao ser lançado no mundo da doença eles percebem a

perda de seu mundo anterior, buscando se adaptar à rotina do tratamento. Desta

forma, segundo Jesus e Gonçalves (2006) o jovem se vê impossibilitado de

aproveitar os prazeres da adolescência, tendo que abandonar a escola, afastar-se

da família, dos amigos, dos namoros/paqueras, das brincadeiras e habituar-se a

uma rotina cheia de restrições e estritamente ordenada.

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O preconceito vivenciado

O estigma ou preconceito é uma realidade presente na vida de muitos

pacientes e que muitas vezes se mostra mais resistente do que a própria doença. O

indivíduo possui um estigma quando, na sua relação social com os demais, possui

um traço que pode merecer uma atenção especial, e que em geral, afasta aqueles

que se aproximam, destruindo a possibilidade de atenção positiva para si.

(BORENSTEIN et al., 2008)

Nesta pesquisa, as representações sociais de quatro adolescentes (13%)

está relacionada ao preconceito vivenciado, o que podemos observar principalmente

pela utilização, em suas falas, dos termos “preconceito” e “rejeição”.

“[...] Assim, primeiro foi o preconceito, um dia eu sentei perto e o senhor puxou o filho dele e falou assim, tu tá ficando doido, ele falou pro menino, porque o menino sentou perto de mim, porque eu tava careca, aí eu comecei a chorar, porque, tipo assim, me senti rejeitada né? [...] O homem falou pro filho dele, essa menina tem Aids, tu não vê que ela tem Aids, aí eu comecei a chorar, aí todo mundo de lá me olhava estranho. É muito chato a rejeição, todo mundo quase rejeita a gente [...] Eu passo num lugar, tipo careca, todo mundo me olha, assim estranho, aí ficam me olhando, pensando, o que é que essa menina tem, eu acho que é melhor a pessoa chegar e me perguntar do que ficar me olhando assim.” (M5- 19 anos)

“[...] Meus irmãos mangavam e se afastaram de mim [...] e quando eu andava na rua o pessoal vai passando e vai olhando assim, com um olhar diferente, talvez por preconceito” (H10- 18 anos)

Nesta pespectiva, ser portador de câncer significa portar uma doença

transmissível, contagiosa, comparada, neste estudo, com a Aids, em razão do

estigma que a doença traz consigo, principalmente por causa das alterações

corporais em decorrência do tratamento.

Segundo Conceiçao et al. (2012), a evidência do câncer como uma doença

de contágio, pode ser percebida, em particular na região norte do Brasil, onde existe

o predomínio de certas doenças agudas e transmissíveis como a tuberculose e a

hanseníase.

De acordo com Jovchelovitch (2008) a vida social é carregada de

simbolismos, que constituem a cultura repleta de representações sociais, tradições,

regras e modos de vida criados nas relações interpessoais ao longo do tempo e a

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partir delas, surgem símbolos e representações que influenciam no comportamento

social de seus membros e os levam a construir novos conhecimentos e

representações a partir dos já existentes.

Moscovici (2010) ressalta que as RS tem caráter dinâmico, não podendo ser

consideradas como algo dado, pronto e acabado, pois a sua construção emerge das

discursões entre os membros de um determindo grupo social e a aceitação do saber

produzido como real é condizente com sua realidade, desde que seja aceito, como

tal, pelo senso comum.

Os resultados aqui apresentados reiteram outros estudos que têm como

objeto a Representação Social, como os de Thiengo, Oliveira e Rodrigues (2005)

sobre as RS do HIV/AIDS entre adolescentes e de Palmeira, Queiroz e Ferreira

(2012) sobre as RS de mulheres com hanseniase, ambos remetem ao preconceito

vivenciado e ao medo da rejeição e da discriminação, diante da vivência de uma

doença crônica, assim como o câncer.

Deste modo, para os quatro entrevistados (13%) desta subcategoria, a

Representação Social sobre o adoecer e o adolescer com câncer está diretamente

relacionada ao preconceito, em razão dos estigmas que a doença ainda carrega.

O apoio vivenciado

Segundo Assis (1999), o adolescente necessita estar inserido em um grupo

social e o destino dessa necessidade decorre das possibilidades que lhe são

oferecidas dependendo do meio em que ele cresce. Essas relações sociais podem

ser benéficas, ajudando os jovens a realizar seus anseios e a enfrentar seus

problemas ou, ao contrário, podem ser danosas, por intermédio de atitudes de

agressividade.

Para sete dos adolescentes entrevistados (22%), a relação com seu grupo

social se deu de forma positiva, evidenciada principalmente pelo apoio que

receberam de amigos e familiares após a doença, o que se pode notar em suas

falas por meio dos termos “é/foi/está bom”, “apoio” e “ponto positivo”

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“ [...] Da família, nesse momento foi que eles mais me apoiaram, os amigos também mais me apoiaram nesse momento [...] A gente aprende a ser mais forte, né, a lidar mais com as coisas, assim, porque até quando eu soube, daí eu não fiquei abalado assim, aí eu falei se é pra fazer isso [quimioterapia] então vamos tratar, né, a gente foi aprendendo a ser mais forte, [...] mas aí a gente vai levando, vem vindo o resultado, a gente foi vendo que o tratamento tava dando certo, aí daí, a gente foi acreditando, né, foi se unindo mais, aí eu aprendi assim, né pra mim serviu de lição porque eu aprendi a ser uma pessoa mais forte”. (H9- 18 anos)

“[...] Na verdade as pessoas que eram afastadas se aproximaram de mim, né, começaram a me ajudar mais, me incentivar em algumas coisas e as pessoas que estavam próximas de mim, me incentivaram mais ainda e talvez eu tenha ajudado elas em algo, né, e elas me ajudaram em algo, fica tipo uma troca”. (H22- 19 anos)

“[...] mas eu tive muito apoio, tanto dos amigos como da família, das pessoas que estavam ali ao meu redor, ali me acompanhando, graças a Deus eles não me abandonaram nesse momento né, me deram força, me ajudaram, bastante e nisso me ajudou bastante e tem ajudado muito”. (H25- 19 anos)

As falas nos remetem à grande importância de uma maior proximidade e do

suporte familiar e de amigos após o diagnóstico de câncer na adolescência, bem

como da força apreendida para enfrentar a doença oriunda do apoio de seu grupo

de pertença. Percebe-se que o impacto do adoecer não atingiu apenas o

adolescente com câncer, repercutiu também na família e amigos, em uma

demonstração de ajuda mútua e de cumplicidade.

O estudo de Carmo et al. (2010) sobre os sentimentos expressados pelos

pais de crianças e adolescentes com diagnóstico de câncer, revelam que os grupos

sociais de apoio possibilitam uma mudança de atitude nas relações de afetividade,

favorecendo os laços de união e ajudam na superação das dificuldades

enfrentadas.

Para Markova (2006), por meio do conhecimento do senso comum, nós

sabemos intuitivamente muitas coisas, inclusive usamos categorias morais, como

bom ou ruim, e tratamos as pessoas como agentes responsáveis por suas ações.

Moscovici (1981) acresce ainda que essa soma de conhecimentos que

constituem o “substratum” de imagem e significado é essencial para toda

coletividade. Nesse contexto, as pessoas pensam, tentam captar e se esforçam para

compreender as coisas que os cercam, com o objetivo de destilar o significado do

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mundo, para torná-lo mais ordenado e para que as percepções reproduzam o

mundo de uma maneira razoável. Portanto, as pessoas interpretam as situações

vivenciadas, procurando dar sentido a elas.

Deste modo, para os adolescentes desta subcategoria, o processo de

adoecimento por câncer foi vivenciado de forma positiva, em virtude, principalmente,

do importante apoio recebido pelos amigos e familiares após o diagnóstico da

doença.

CATEGORIA 3 – ENFRENTANDO AS ALTERAÇÕES CORPORAIS ADVINDAS

DO ADOECIMENTO

Nesta categoria, foram analisadas as representações sociais sobre as

alterações corporais de adolescentes com câncer (A doença que altera o corpo... O

que marca?). Os resultados encontrados na pesquisa originaram duas

subcategorias: A vergonha do corpo alterado e O enfrentamento positivo das

alterações corporais.

A vergonha do corpo alterado

O corpo, como representante da individualidade, porém igualmente concreto

e contextualizado no meio, é um objeto relevante a ser tratado no âmbito da

Psicologia Social, que estuda o ser humano na sociedade, suas relações e

interações no contexto social no qual está inserido (CAMARGO et al., 2013)

A entrada na fase adolescencia é normalmente marcada pelo culto ao corpo,

quando ocorrem as mudanças corporais e a aparência física se torna uma referência

na avaliação que o jovem faz de si mesmo (Iamin; Zagonel, 2011)

Com o adoecimento por câncer essa referência da imagem corporal é

normalmente atingida, o que foi percebido entre os vinte e três adolescentes (74%)

dessa subcategoria, que fundamentaram seus discursos sobre as alterações

provocadas pelo câncer e pelo tratamento, enfatizando principalmente a vergonha

do corpo alterado, observado através dos seguintes termos: “vergonha”, “mexeu

comigo”, “mexeu com a aparência” ,“careca”, “baqueei muito”.

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A maior parte dos entrevistados relatou a vergonha em vitude da alopécia, o

que foi mais observado entre as adolescentes do gênero feminino, como segue nos

discursos abaixo:

“Foi ruim, né, porque eu gostava tanto do meu cabelo, meu cabelo assim começou a cair e caiu de muito, passou uma semana caindo, aí mexeu muito comigo, fiquei desesperada quando o cabelo começou a cair.” (M2- 16 anos)

“[...] às vezes eu fico pensando quando eu sair daqui [do hospital] como é que vai ser, porque todo mundo tinha me visto de cabelo, agora eu tô careca, aí eu fico pensando, fico pensando” (M5- 19 anos)

“No começo me deu depressão, eu não queria nem me olhar no espelho, não dá vontade, eu queria me matar por causa do cabelo, eu fiquei com depressão totalmente, aí todo mundo falava que ía crescer de novo, mas isso não entrava na minha cabeça.” (M31- 15 anos)

Percebe-se nas falas das meninas a forte representatividade dos cabelos

como símbolo de feminilidade e beleza, levando ao distúrbio na autoimagem e

autoestima, chegando até ao desespero e depressão, bem como preocupação com

o impacto que sua imagem poderia causar em seu grupo social. Apesar de

caracterizar-se como uma alteração transitória, a alopécia representou, neste

estudo, uma das ocorrências mais marcantes, constituindo a alteração corporal mais

significativa, principalmente para as adolescentes do gênero feminino.

Esses resultados coincidem com os resultados do estudo de Jesus e

Gonçalves (2006) sobre adolescentes com Leucemia em quimioterapia, segundo as

autoras, no que se refere à modificação da autoimagem, em razão da quimioterapia,

a mudança sentida de forma mais intensa pelo adolescente do gênero feminino é a

alopécia, o que é encarada como algo terrível, pois a desfiguração exterior causada

pela perda do cabelo é uma evidência, tanto para ela, como para os outros.

De acordo com Camargo (1997), diante da perda do seu cabelo, a mulher

não se sente ela mesma, considera-se estranha para si mesma e para os outros,

como se perdesse a identidade, sentindo-se discriminada, com medo, vergonha e

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tristeza de ser vista sem cabelo, incomodando-se com o que os outros vão pensar

ou dizer dela.

Para Jodelet (1994), a imagem externa do corpo se relaciona com o lugar

social de inserção do sujeito, com o conhecimento de si e do outro, que se constrói a

partir das suas relações com o outro.

Outras alterações corporais também foram citadas como sinônimo de

vergonha da autoimagem, como pode-se observar nos seguintes relatos:

“[...] só essas manchas, que deu [apontando para o braço] que custa muito sumir, aí fica no corpo, aí eu tenho vergonha, aí na escola, este ano que eu estudei eu senti muita vergonha, mas dá de esconder, assim, na roupa.” (M11- 15 anos)

“Não é fácil assim tá convivendo com essa doença, porque eu baqueei muito, aí as pessoas ficam me olhando né, porque antes eu era forte, aí ficam me olhando quando eu passo, falam olha ela emagreceu muito.” (M14- 16 anos)

“[...] A parte da tumoração que mexeu com a aparência, foi a parte sentida também, porque agora que eu tô tentando reconstruir, eu não saía de casa, eles me convidavam pra sair e eu não saía, ficava mais em casa, porque não gosto de ninguém me olhando, assim, eu sentia vergonha”. (H26- 18 anos)

Neste grupo percebe-se o constrangimento frente a outras alterações

consequentes do tratamento (manchas na pele e emagrecimento), bem como das

alterações oriundas da doença (tumoração). Os adolescentes se envergonham da

situação física em que se encontram, demonstrando preocupação e receio quanto à

aparência e a visão que as pessoas poderiam ter a seu respeito.

Observa-se ainda a atitude protetora em “esconder na roupa” as marcas da

doença, tal comportamento coincide com os estudos de Palmeira (2011) sobre RS

de mulheres com hanseníase, onde ocorre essa busca de estratégias para esconder

as alterações corporais, com atitudes de preservação da própria figura diante do

social.

Para a autora (p.144), “em uma sociedade que cultua a aparência, os

cuidados com o corpo viraram essenciais”. Assim, as alterações corporais são

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expostas ao olhar do outro, sem muitas possibilidades de escondê-lo, considerando-

se que nem sempre é possivel esconder tudo o que se deseja que seja escondido,

algumas alterações são deixadas visíveis e acabam se tornando vulneráveis ao

olhar dos outros.

O juízo que fazemos do nosso corpo e o valor atribuído a ele sofrem

influência do meio social, não sendo possível considerar apenas os seus aspectos

biológicos. A capacidade de pensar, identificar e expressar as mensagens do corpo

está diretamente ligada a uma leitura que procura certa significação. Essa leitura

depende diretamente da representação do corpo e de doença presente em cada

grupo social, assim o corpo pode ser visto como suporte de fenômenos repletos de

significação e sentido. (COELHO, 2008).

As representações sociais são percebidas como entidades quase tangíveis.

Elas circulam, cruzam-se e cristalizam-se incessantemente através da fala, um

gesto, um encontro em nosso universo cotidiano. Os comportamentos sociais,

conhecimentos e também a comunicação sofrem intervenções destas

representações. Portanto, as representações sociais são constituídas de idéias,

imagens, concepções e visões de mundo que os grupos sociais possuem sobre a

realidade, podendo se manifestar em condutas chegando a ser inclusive

institucionalizada (MOSCOVICI, 2012).

Deste modo, para os vinte e três adolescentes (74%) desta subcategoria as

alterações corporais advindas da doença e/ou do tratamento lhes causam vergonha,

seja pela perda dos cabelos, manchas na pele, emagrecimento, tumoraçao ou outra

modificação provocada pelo processo de adoecimento do câncer.

O enfrentamento positivo das alterações corporais

Diferentemente da subcategoria anterior, em relação às alterações corporais

provocadas pela doença e pelo tratamento, oito adolescentes (26%) enfrentaram de

forma positiva, apoiando suas respostas nos termos “me preparei”, “adaptar” e“não

teve dificuldade”

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“No inicio foi difícil, mas agora eu já to levando tudo na esportiva, quando alguém quer fazer alguma brincadeira de mal gosto eu levo na esportiva mesmo, eu não me deixo abater por qualquer coisa que as pessoas falam, antes de começar o tratamento eu já me preparei para essas alterações que iriam aparecer.” (H7- 18 anos)

“[...] Sobre essas alterações eu graças a Deus, me mantive calmo, não me desesperei, não entrei em pânico, eu procurei sempre ajudar no tratamento, ajudar a mim mesmo, né, porque eu não tava ajudando outro, tava ajudando a mim mesmo, então eu mantendo a minha calma, sempre ali, não desistindo, não perdendo a esperança, posso dizer que venci.” [H25- 19 anos]

No conteúdo analisado podemos perceber que, as temidas alterações

corporais de uma doença tão estigmatizada como o câncer, também podem ser

encaradas de forma positiva, surgindo, nas falas, a referência ao preparo para o

enfrentamento dessas alterações, o que pode-se inferir uma eficaz abordagem dos

profissionais de saúde que o assiste.

Iamin e Zagonel (2011) citam o autocontrole como uma das estratégias

eficazes de enfrentamento para o câncer na adolescência, segundo as autoras o

paciente deve se manter calmo diante da situação e tentar “esquecer” o problema

através de atividades que o façam se sentir melhor. As autoras ressaltam ainda que,

essas estratégias podem possibilitar ao adolescente uma nova construção, uma

nova experiência, diminuindo os fatores estressantes e promovendo uma

reorganização do cotidiano, dando um novo significado à experiência traumática da

vivência com a doença e com as modificações referentes ao adoecimento e

tratamento.

O estudo de Cagnin et al. (2003), sobre a vivência de crianças e

adolescentes oncológicos, na faixa etária de 7 a 15 anos, concluiu que, com a

evolução do tratamento e a manifestação de um bom prognóstico, a

criança/adolescente com câncer passa a apresentar sentimentos positivos em

relação à doença, como a felicitação, satisfação por si, compaixão em relação aos

outros pacientes com câncer, adotando sentimentos de aceitação da doença e das

alterações advindas do adoecimento.

Para Moscovici (2010) a compreensão e a interpretação dos diversos

objetos e fenômenos que constituem a realidade de um determinado grupo social

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dependem de regras do pensamento e da comunicação, e o resultado destas

interfere no conhecimento e ação das pessoas.

Já Jodelet (2001) afirma ainda que, as representações compartilhadas

constroem uma visão consensual da realidade, proporcionando trocas e ações

cotidianas. Assim, partilhar uma idéia ou uma imagem é afirmar um vínculo social e

uma identidade. Os conteúdos e sentidos representados variam inter e

intraculturalmente, de maneira análoga à expressão.

A autora afirma ainda que, a representação social é uma forma característica

de conhecimento, de senso comum, que circula na sociedade, onde as pessoas

estabelecem suas representações em grupos sociais, por meio de diálogos,

conceitos e culturas.

Desta forma, os oito adolescentes (26%) desta subcategoria, ao invés de se

lamentar e de se sentirem envergonhados com as alterações corporais advindas do

processo de adoecimento por câncer, como a maioria dos adolescentes

entrevistados, enfrentaram de forma positiva essas alterações, o que nos remete á

importância de uma abordagem eficaz da equipe de saúde frente ao processo de

adoecimento de câncer na adolescência.

CATEGORIA 4 – CUIDANDO DE SI DURANTE O ADOECIMENTO DE CÂNCER

Nesta categoria, foram analisadas as repercussoes das RS de adolescentes

com câncer para o cuidado de si (A doença e o cuidado de si... Como é esse

cuidado?).

Neste estudo, vinte e três adolescentes entrevistados (74%) referiram um

maior cuidado após o adoecimento de câncer, o que foi observado pelo uso dos

seguintes termos: “mais cuidado”, “cuidar mais pesado” e “bastante cuidado”

“Antes [da doença] eu me cuidava bem, mas agora tenho que me cuidar um pouco mais pesado, agora está mais rígido do que antes” (H1- 12 anos)

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“Tipo assim, antigamente eu era mais relaxado com a saúde, agora não, eu tenho que me cuidar nos mínimos detalhes, que nem um bebê de colo.” (H7- 18 anos)

Observou-se ainda um maior cuidado relacionado com a alimentação,

evitando-se os alimentos frequentemente consumidos durante a fase da

adolescência, deixando de comer “qualquer coisa” e buscando opções mais

saudáveis, como podemos observar nas falas a seguir:

“Agora é mais cuidado com comida, porque antes [da doença] eu comia qualquer coisa, agora não” (M4- 18 anos)

“Antes eu já tinha um cuidado comigo normal, mas não era tão rígido como é hoje, entendeu? Por exemplo, a alimentação, por exemplo, eu comia besteira, comia qualquer coisa e hoje, né, eu já tenho um cuidado maior comigo [...]” (H22- 19 anos)

Percebe-se, nas falas dos entrevistados, uma importante mudança em seus

hábitos, principalmente os alimentares, em prol de uma vida saudável, numa

tentativa se proteger de danos maiores. Esse movimento de mudança de atitude e

de adaptação ao processo de adoecimento reflete a dinâmica das representações

sociais.

Segundo Carvalho (2010) o adolescente adquire a sua autonomia para o

cuidado conforme os diversos tipos de contexto em que se encontra, a partir do

enfrentamento das dificuldades ou facilidades encontradas na própria realidade

vivida, objetivando sempre a possibilidade de um viver saudável.

Com o diagnóstico de câncer, os adolescentes representam o corpo como

doente, que pode piorar de acordo com o seu comportamento, por isso ele necessita

de cuidados. Essa necessidade de cuidados com o corpo, de acordo com Palmeira

(2011, p.142), emerge em razão da importância que este tem para a cada indivíduo,

“pois o corpo é a dimensão material da existência humana”. Assim, confirma-se que

a percepção do estado de necessidade de cada ser humano estimula o cuidado de

si.

Para Foucault (1985) uma das formas do cuidado de si está relacionada à

ação de ocupar-se de si, e para ocupar-se de si é necessário conhecer a si mesmo,

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o que precisa de um retornar para si através de ações referentes à atenção, ao olhar

e à percepção, para conhecer o que importa constituir-se em cuidados próprios.

Estes consistem em atos voltados para os cuidados com o corpo, exercícios físicos,

controle de peso, dentre outras.

Além disso, o autor ainda contextualiza o sujeito, tanto do ponto de vista

teórico como prático, considerando a sua relação com um conjunto de práticas da

antiguidade tardia, pois os gregos visualizavam as práticas como um preceito

“epimeleisthai saltou”, isto é, tomar conta de si, ter cuidado consigo mesmo,

preocupar-se consigo, cuidar-se de si. Este é o princípio do cuidado de si, já que na

antiguidade o cuidado de si representava para os gregos a busca no comportamento

da vida social e pessoal e direcionava o viver de cada pessoa, sua conduta e sua

moral.

Neste contexto, ao serem questionados sobre as orientações recebidas,

relativas ao cuidado de si, os adolescentes referiram, na sua maioria, que foram

orientados pela equipe de saúde, incluindo a enfermagem, como se pode observar

nos seguintes discursos.

“A chefe de enfermagem me explicou” M4- 18 anos

“Algumas pessoas falaram, algumas enfermeiras, algumas médicas, tem que ter o mínimo de cuidado” H7- 18 anos

“Olha, a equipe toda eu posso dizer, tanto técnicos, como enfermeiros, como psicólogos, como os terapeutas, todos trabalharam pra ajudar no tratamento.” H25- 19 anos

Merece destaque o depoimento de um adolescente que informou que

aprendeu sobre o cuidado de si com outras pessoas e amigos próximos.

“[...] em relação que eu tenho que ter cuidado por, exemplo, não poder ir pra chuva, não poder fazer isso, já eram as outras pessoas, meus amigos, por exemplo que falavam: ‘ah! eu pesquisei na internet sobre isso, tenta evitar isso, ah! eu vi isso, um amigo meu tá com a mesma coisa e ele disse que não é bom fazer isso’, então isso vai ajudando, entendeu? [...]” H22- 19 anos

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Segundo Foucault (2004), o cuidado de si implica a relação com o outro,

pois, para cuidar bem de si, é preciso recorrer às lições de um mestre, precisa-se de

um guia, de um conselheiro, de alguém que lhe diga a verdade.

O cuidado de si necessita, quase sempre, que uma outra pessoa conduza o

indivíduo a um estado de consciência. Deste modo, esse direcionamento permitirá o

bem-estar da pessoa consigo mesma. É importante a adoção de hábitos como

praticar academia, caminhar, fazer os exercícios ensinados em casa, proteger-se de

danos maiores, enfim, tomarem a si próprios como objeto do conhecimento e campo

de ação para transformarem-se, corrigirem-se, promovendo seus próprios cuidados.

(FOUCAULT, 1985)

O cuidado de si implica algo mais do que simplesmente adquirir um

conhecimento através da educação em saúde. Para Foucault (1987), consiste em

reconhecer o conhecimento em si mesmo, onde o próprio indivíduo reconstrói suas

idéias, reformula suas atitudes e, além disso, organiza um jeito próprio de tornar o

problema menos complicado, para enfrentá-lo ou conviver com ele.

Silva et al. (2009) ressaltam que, a preocupação com o cuidado de si dos

indivíduos não deve ser exclusiva do enfermeiro, mas sim de todo e qualquer

profissional de saúde, no entanto como é a enfermagem que possui uma maior

proximidade com o paciente, cabe a ela direcioná-lo para compreender e atuar em

seus padrões de saúde, valorizando o subjetivo do ser humano, respeitando as suas

vivências nos cuidados a sua saúde, contribuindo, desta forma, para a melhoria da

qualidade de vida destes indivíduos.

No âmbito social, Moscovici (2010), nomeia que existem dois tipos de

conhecimentos: o reificado e o consensual. A compreensão do universo reificado se

ocorre através das ciências, enquanto que do universo consensual se dá através

das representações sociais. A ciência, pelo fato de ocultar valores e vantagens,

procura encorajar a precisão intelectual (conhecimento científico). As

representações restauram a consciência coletiva, dão-lhe forma, explicando os

objetos e acontecimentos, de tal forma que estes se tornem acessíveis a qualquer

um e coincidam com nossos interesses imediatos (conhecimento popular).

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Neste contexto, nos vinte e três adolescentes entrevistados (74%)

percebem-se comportamentos de um maior cuidado, com apreensão de um

conhecimento reificado (científico), adquirido por intermédio das orientações da

equipe de saúde, bem como de conhecimento consensual (popular), baseado nas

informações de outras pessoas e de amigos. A maioria desses comportamentos de

cuidado estabelece relação com a representação que os adolescentes têm da

doença.

Na adolescência, o indivíduo adquire a capacidade de pensar o abstrato e

dedica sua faculdade ao questionamento do mundo que o rodeia. O intelecto

apresenta-se mais eficaz, rápido, e permite elaborações mais complexas, ocorre um

aumento da concentração, seleção de informações, maior capacidade de retenção e

evocação, a linguagem se torna mais completa e complexa. Isso tudo faz com que o

adolescente sinta que “pode tudo”, tornando-se mais independente e contra os

valores até então tidos como corretos. (BALONNE, 2003)

Deste modo, contrariando as orientações recebidas, oito adolescentes

(26%) referiram não se cuidar como deveriam, o que foi observado nas seguintes

falas: “não me cuido”, “não me cuidei”, “não me cuidava”, “teimoso” e “eu faço de

tudo”

“Meu cuidado? [risos] Rapá, eu sou um bicho teimoso, né, eu não me cuido não, as pessoas falam o que não é pra fazer, mas eu teimo em fazer... é difícil comer comida saudável... andar de duas muletas, eu só ando com uma porque assim eu me sinto mais normal”. (H10- 18 anos)

“[Risos] Eu nem ligo, eu faço é de tudo, mandaram eu comer um monte de folha, legumes, eu não como, eu não gosto de tomar suco, se mal eu como, como é que faço isso? [...] No começo eu não me cuidava direito, fui na praia e até perdi meu olho de vidro.” (M31- 15 anos)

“No começo eu não me cuidei, entendeu? Não imaginava o mal que podia me causar, porque eu sempre fui aquele menino, adolescente que brincava, pulava, jogava bola, mesmo operado eu brincava, eu namorava, que é a coisa que eu mais gosto de fazer [...] Saía muito, jogava muita bola, fazia muito esforço físico, que eu não podia fazer, isso foi trazendo a recaída, porque eu não imaginava que ía acontecer isso [...] (H29- 18 anos)

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Ao contrário dos depoimentos anteriores, nesta subcategoria, os

adolescentes referiram uma maior dificuldade nas mudanças dos hábitos

alimentares, bem como de outros comportamentos de cuidado de si.

As falas dos adolescentes deste estudo nos remetem às ações de cuidado

de si da era romana, com liberdade de atitude e de comportamento. Foucault (1985)

ressalta que as escolas filosóficas como o estoicismo, ou o epicurismo, por exemplo,

pregavam a afirmação do domínio do próprio destino. A ética do cuidado de si

pregada pelos romanos era uma prática da liberdade, exercida na maneira como o

sujeito vivenciava sua relação consigo mesmo, mediante o controle racional de

todos os seus instintos.

Bessa (1997) em seu estudo sobre o câncer na adolescência, constatou que

diante de tantas mudanças e normas, em consequência do adoecimento de câncer,

o adolescente tende a contestar as regras, burlando as leis e desafiando os limites

impostos. Outra atitude referida pela autora é a apatia e o completo desinteresse em

seu tratamento.

À luz da TRS, o saber social e o saber científico não se dissociam e

atendem a aspectos diferentes e oportunos a cada indivíduo, ao construir seu

pensamento sobre um determinado fenômeno (JODELET, 2001). Desta forma, os

oito adolescentes deste estudo constroem seus pensamentos sobre o processo de

adoecimento de câncer apoiados na ausência ou no pouco cuidado.

De acordo com Coelho (2008), a falta ou omissão de ações de cuidado nos

leva à representação que o paciente dá em relação ao sofrimento da doença. O

cuidado pode significar uma aproximação com ela, conviver com o cuidado pode

significar lembrar constantemente e trazer para perto a doença e sua representação.

O não-cuidado, então, passa a ser uma defesa, um distanciamento da doença.

Para cuidar devem-se levar em consideração as determinações ontológicas

da condição humana, não se pode cuidar autenticamente sem assumir, de maneira

livre, sua existência sem deixar de considerar suas limitações. Assim, a grande

questão é entender as perspectivas que envolvem o cuidado humano (SILVA et al.,

2009).

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As orientações sobre a doença, o tratamento, os cuidados e as possíveis

complicações são necessárias para que as pessoas optem por mudanças de hábitos

e maneira de viver, mas não são suficientes. O cuidado de si vai além, onde o

próprio indivíduo tem que reconstruir e reformular seus conhecimentos. Portanto,

emerge do interior de cada um como uma concretização da adesão ao tratamento,

implementando os cuidados necessários (LUNARDI, 1997).

Silva et al. (2009) ressaltam que, no que se refere à enfermagem, esta deve

direcionar o indivíduo para atuar em seus padrões de saúde, assim o enfermeiro

deve assumir o papel de mediador, abrindo o diálogo com o outro, reconhecendo-o

como único conhecedor de sua situação, visto que ele é o único que a vivencia.

Os autores afirmam ainda que o cuidado de si segue os paradigmas da

simultaneidade, que valoriza o subjetivo do ser humano, desta forma, a enfermagem

deve auxiliar cada pessoa, respeitando as suas experiências de vida, no cuidado de

si, com o intuito de melhorar a sua qualidade de vida.

Assim, os oito adolescentes (26%) desta subcategoria, mesmo cientes das

consequências de suas atitudes, adotam comportamento de não adesão às

orientações recebidas, negligenciando o seu próprio cuidado. Neste contexto, cabe

ao enfermeiro identificar as dificuldades que atrapalham essa adesão ao cuidado de

si, através da construção de conhecimentos junto com os adolescentes. Deste

modo, ele mesmo conseguirá prevenir ou minimizar os agravos à sua saúde,

elaborando uma maneira própria de tornar o problema menos complicado,

enfrentando ou convivendo com ele.

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CAPÍTULO 7

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao pesquisar as representações sociais de adolescentes sobre o processo

de adoecimento de câncer e suas repercussões para o cuidado de si, observou-se

como a doença foi inserida no cotidiano deste grupo social, favorecendo ao

enfermeiro subsídios para uma assistência de maior qualidade, com vistas à

integralidade e individualidade de suas ações.

As respostas dos sujeitos originaram as quatro grandes categorias deste

estudo, sendo três delas relacionadas às Representações Sociais de adolescentes

sobre o processo de adoecimento de câncer e uma sobre as repercussões dessas

RS para o cuidado de si. Esse conjunto de categorias originou o campo

representacional dentro do qual o objeto se situa, no ato cognitivo de sua

construção.

Na primeira categoria, intitulada conceituando o câncer como doença

psicossocial, observou-se que o câncer, inicialmente, traz a representaçao social de

morte, destacando-se que a finitude é algo percebido no discurso de 51% dos

entrevistados. Acredita-se que podem existir duas principais explicações possíveis

para responder essa questão: a primeira está relacionada com o fato de que o

câncer é uma doença carregada de preconceitos e de estigmas, principalmente em

razão das elevadas taxas de mortalidade e morbidade tão características dessa

patologia; a outra, é a influencia da mídia, com a massificação da imagem de figuras

públicas vitimadas pela doença.

Considerando ainda que o adolescente se encontra no auge do seu ciclo

vital, onde os planos e a esperança para o futuro estão sempre sendo renovados,

observou-se também a representação social do câncer como doença que pode ser

curada, apoiada na fé e na espiritualidade, onde a imagem de Deus é de

fundamental importância, pois é a quem eles se apóiam e a quem entregam todo o

seu sofrimento e sua esperança de cura. Outros, ainda, neste momento de tamanha

fragilidade, e por consequência de suas incertezas, acabaram por negar a doença,

na tentativa de ocultar o seu problema, evitando a palavra câncer e descrevendo a

doença como “normal” ou relacionada a alguma parte do corpo.

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Na segunda categoria, vivenciando o adoecer e o adolescer com câncer,

foram analisadas as RS de adolescentes sobre a vivência do câncer. Falar sobre o

adolescer com câncer para a maioria dos entrevistados, representa falar de um novo

e difícil mundo que chega, principalmente por meio de mudanças no convivio de

familiares e amigos, na rotina social e no relacionamento afetivo. Ainda, para alguns

adolescentes entrevistados, as representações sociais sobre o adoecimento de

câncer estão diretamente relacionadas ao preconceito em razão dos mitos e

estigmas que a doença carrega.

Apesar de todo o impacto do adoecer e adolescer com câncer, para 22%

dos adolescentes entrevistados, o processo de adoecimento foi vivenciado de forma

positiva, em virtude, principalmente, do importante apoio recebido pelos amigos e

familiares após o diagnóstico da doença.

Na terceira categoria, enfrentando as alterações corporais advindas do

adoecimento, a maior parte dos entrevistados referiu que as alterações corporais

advindas da doença e/ou do tratamento lhes causam vergonha, seja pela perda dos

cabelos, sentida na sua maioria pelas adololescentes do gênero feminino, seja por

outras alterações como manchas na pele, emagrecimento e tumoração. No entanto,

uma boa parcela dos sujeitos, ao invés de se lamentar e de se sentirem

envergonhados, enfrentaram de forma positiva essas alterações corporais, o que

nos remete á importância de uma abordagem eficaz da equipe de saúde frente ao

adolescente com câncer.

Já na quarta e última categoria, cuidando de si durante o adoecimento de

câncer, a maioria dos sujeitos (74%) referiu um maior cuidado após a doença,

principalmente em relação a modificação de sua`alimentação, em contrapartida,

outros referiram não se cuidar como deveriam, contrariando as orientações

recebidas pela equipe de saúde. Desta forma, este estudo demonstra que as

representações sociais sobre o câncer implicam no cuidado de si dos adolescentes

que vivenciam a doença.

As RS sobre o câncer na adolescência admitem conhecimentos reificados

(Científicos) e consensuais (Populares), bem como valores sociais. Desta forma, os

adolescentes constroem as representações sociais sobre processo de adoecimento

de câncer, interligando esses conhecimentos em um movimento que mostra que as

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representações sociais são produzidas e alteradas num processo lento de

construção e reconstrução das idéias. Essas representações devem ser

consideradas ainda, como base para o comportamento dos adolescentes em relação

ao cuidado de si.

Assim, ao final deste estudo, percebeu-se que, no universo do adolescente

considerado “saudável”, amigos, família, namoros/paqueras, escola, festas, beleza

física, são questões importantes. No entanto, quando adicionamos a essa rotina o

adoecimento pelo câncer, o adolescente se insere, inevitavelmente, no universo

hospitalar, com distanciamento e diferenciamento de seus pares e restrição das

atividades próprias da sua faixa etária. A maioria dos sujeitos deste estudo se

apresentou envergonhado, discriminado, rejeitado, isolado, com medo da morte,

perdendo sua identidade, representando o adoecimento de câncer como um

processo “difícil”, “ruim” e “chato”.

Apesar desta representação negativa do adoecer e adolescer com câncer,

percebeu-se, neste estudo, que ainda existem adolescentes que enfrentam

positivamente este processo de adoecimento, com esperança da cura, apoiados na

sua fé, aceitando e se adaptando ás alterações corporais e mantendo o

autocontrole, neste caso, foi referido por eles, ser de suma importância uma maior

proximidade da família e dos amigos após o diagnóstico do câncer, determinando a

força apreendida para enfrentar a doença, oriunda do apoio de seu grupo de

pertença.

Desta forma, é fundamental que a enfermagem, bem como a equipe de

saúde como um todo, tenha conhecimento dessas RS dos adolescentes em relação

ao adoecimento de câncer, para que possam agir de forma individualizada,

identificando as dificuldades que bloqueiam a adesão ao cuidado de si, através da

construção de conhecimentos junto ao adolescente. Assim, ele mesmo conseguirá

prevenir ou atenuar os agravos à sua saúde, reelaborando uma maneira própria de

tornar o problema menos complicado, enfrentando ou convivendo com sua doença.

Com o intuito de minimizar o sofrimento enfrentado pelos adolescentes em

tratamento no HOL, sugere-se a formação de grupos de apoio no referido hospital,

como estratégia de socialização da vivência desses jovens, respeitando as suas

crenças e valores e entendendo que o conhecimento reificado dos profissionais que

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o assistem não é suficiente para um cuidar humanizado, sendo necessário

compreender e compartilhar a vivência do outro. Desta forma, acredita-se que será

possível estreitar laços e aproximar o adolescente com câncer, facilitando a adesão

ao tratamento e promovendo um maior e melhor cuidado de si.

No campo da pesquisa, acredita-se que novos estudos, relacionados à RS

de adolescente com câncer, irão favorecer a apreensão de informações mais

precisas que facilitem a assistência e o ensino, uma vez que, de acordo com a

Revisão Integrativa da Literatura realizada, percebeu-se que, da última década, os

estudos sobre a RS de adolescentes sobre o câncer são escassos e a maioria das

pesquisas de enfermagem nesta área, aborda a família e os profissionais de saúde.

Por isso, é importante ouvir esses jovens, saber o que eles pensam, o que eles

querem, para se adequar, com fidedignidade, as ações de cuidado frente às suas

demandas reais, objetivando a sua qualidade de vida.

Considera-se ainda necessária a criação de programas específicos que

discutam e venham tratar das questões relacionadas ao adolescente com câncer.

Esses programas devem ser voltados a toda equipe multiprofissional que mantenha

qualquer tipo de contato com o adolescente e, principalmente, à enfermagem que

presta, à eles, assistência 24 horas.

Diante dessas considerações, o presente estudo abre caminho para que a

enfermagem e demais profissionais da equipe de saúde, busquem compreender de

forma mais atenta as Representações Sociais do adolescente com câncer, a fim de

possibilitar um cuidar mais autêntico.

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102

APÊNDICES

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APÊNDICE A

QUADRO1 - PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO DOS SUJEITOS DA PESQUISA

Sujeito Religião Município de

procedência

Ocupação Freqüência escolar

Responsável legal

Atividades de Lazer

H1- 12 anos Católica Abaetetuba Estudante Parou os estudos

Mãe Jogos eletrônicos e

Televisão

M2- 16 anos Católica Moju Estudante Parou os estudos

Mãe Televisão

H3- 15 anos Católica Ananindeua Estudante Parou os estudos e retornou

Mãe Jogos eletrônicos

M4- 18 anos Católica Vigia Estudante Parou os estudos e retornou

__ Televisão

M5- 19 anos Evangélica Curralinho (Marajó)

Estudante Parou os estudos,

retornou e parou de

novo

__ Leitura

M6- 14 anos Evangélica Abaetetuba Estudante Parou os estudos

Mãe Celular e internet

H7- 18 anos Evangélica Ananindeua Estudante Parou os estudos

__ Televisão

M8- 14 anos Católica São Miguel do Guamá

Estudante Não parou os estudos

Mãe Televisão e internet

H9- 18 anos Evangélica Marabá Estudante Parou os estudos

__ Televisão e sair para Pizzaria

H10- 18 anos Evangélica Tailândia Montador Parou os estudos

__ Jogos eletrônicos e tocar violão

M11- 15 anos Evangélica Irituia Estudante Parou os estudos

Tia Televisão

H12- 12 anos Evangélica Garrafão do Norte

Estudante Parou os estudos

Mãe Televisão e brincar de carrinho

M13- 13 anos Católica Irituia Estudante Parou os estudos

Mãe Televisão e desenhar

M14- 16 anos Evangélica Marituba Estudante Parou os estudos

Avó Televisão e desenhar

M15- 17 anos Evangélica Ourém Estudante Parou os estudos

Mãe Internet

H16- 14 anos Católica Belém Estudante Parou os estudos e retornou

Irmã Jogos eletrônicos e

Internet

H17- 15 anos Católica Oeiras do Pará

Estudante Parou os estudos

Pai Jogos eletrônicos

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H18- 17 anos Católica Tailândia Estudante Parou os estudos, e retornou

Tia Jogos eletrônico, Televisão e

internet

M19- 11 anos Evangélica Parauapebas Estudante Parou os estudos, e retornou

Mãe Jogos eletrônicos, Televisão e

internet

H20- 14 anos Evangélica Abaetetuba Estudante Parou os estudos, e retornou

Pai Televisão, internet e pescaria

H21- 11 anos Católica Santana – Amapá

Estudante Parou os estudos

Avó Jogos eletrônicos, Televisão e

internet

H22- 19 anos Messiânica Belém Estudante Não parou os estudos

__ Internet

M23- 15 anos Católica Rondon do Pará

Estudante Parou os estudos, e retornou

Mãe Televisão e internet

H24- 14 anos Católica Belém Estudante Parou os estudos, e retornou

Mãe Jogos eletrônicos e

Televisão

H25- 19 anos Evangélica Santa Izabel Estudante Parou os estudos, e retornou

__ Televisão, internet e

leitura

H26- 18 anos Católica Santa Izabel Estudante Parou os estudos, e retornou

__ Televisão e internet

H27- 17 anos Católica Castanhal Estudante Parou os estudos, e retornou

Mãe Televisão e jogar

dominó

H28- 13 anos Evangélica Belém Estudante Parou os estudos, e retornou

Mãe Jogos eletrônicos,Televisão, internet e jogar bola

H29- 18 anos Evangélica Belém Estudante Parou os estudos

__ Jogos eletrônico,Televisão e

internet

H30- 12 anos Católica Belém Estudante Não parou os estudos,

Tia Jogos eletrônico,Televisão e

internet

M31- 15 anos Evangélica Belém Estudante Parou os estudos, e retornou

Mãe Televisão e internet

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APÊNDICE B

QUADRO 2 - PERFIL CLÍNICO TERAPEUTICO DOS SUJEITOS DA PESQUISA

Sujeito Diagnóstico Tempo de Diagnóstico

Tratamento realizado

Tempo entre o

diagnóstico e início do tratamento

Principais alterações corporais provocadas

pela doença ou tratamento

H01- 12 anos Leucemia (LLA)

5 meses QT 1 mês Nódulo cervical

M02- 16 anos Osteossarcoma 1 ano e 3 meses

QT + cirurgia

4 meses Alopécia

H03- 15 anos Leucemia (LLA)

1 ano e 8 meses

QT 2 meses Alopécia

M04- 18 anos Leucemia (LMA)

1 ano e 6 meses

QT 3 meses Alopécia e manchas no corpo

M05- 19 anos Leucemia (LLA)

2 anos e 4 meses

QT 15 dias Alopécia, edema e perda parcial da

visão

M06- 14 anos Osteossarcoma 6 meses QT + cirurgia

2 meses Amputação do Membro inferior

direito

H07- 18 anos Osteossarcoma 10 meses QT 10 meses Alopécia e nódulo no Membro inferior

direito

M08- 14 anos Linfoma de Hodgin

3 anos e 8 meses

QT + RT 9 meses Alopécia

H09- 18 anos Linfoma de Hodgin

3 anos QT + RT 1 ano Alopécia, manchas no corpo, acnes, emagrecimento, nódulo cervical

H10- 18 anos Ca de Tireóide com metástase

óssea

7 meses QT + RT 2 meses Alopécia, dificuldade para deambular

M11- 15 anos Leucemia (LLA)

1 ano e 6 meses

QT 1 mês Alopécia, manchas no corpo

H12- 12 anos Osteossarcoma 3 anos QT + RT 1 ano Alopécia,dificuldade para deambular

M13- 13 anos Leucemia (LLA)

4 meses QT 2 meses Alopécia, edema, manchas no corpo

M14- 16 anos Leucemia (LMA)

8 meses QT 1 mês Alopécia, emagrecimento,

manchas no corpo

M15- 17 anos Linfoma 5 meses QT 3 meses Nódulo cervical

H16- 14 anos Leucemia (LLA)

1 ano e 7 meses

QT 1 mês Alopécia, emagrecimento

H17- 15 anos Osteossarcoma 7 meses QT + cirurgia

1 mês Alopécia e amputação do

Membro inferior E.

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H18- 17 anos Osteossarcoma 7 meses QT + cirurgia

4 meses Alopécia, emagrecimento, dificuldade para

deambular

M19- 11 anos Meduloblastoma 9 meses QT + RT + cirurgia

20 dias Alopécia

H20- 14 anos Linfoma 6 meses QT 1 mês Alopécia e Nódulo cervical

H21- 11 anos Leucemia (LLA)

4 meses QT 1 mês Alopécia, manchas no corpo

H22- 19 anos Rabdomiosarco-ma (testículo)

6 meses QT + cirurgia

1 mês Alopécia, emagrecimento

M23- 15 anos Ca de partes moles

(pescoço)

6 meses QT 15 dias Alopécia, emagrecimento, dificuldade para

deambular

H24- 14 anos Neoplasia maligna de encéfalo

2 anos QT+ cirurgia

1 mês Emagrecimento

H25- 19 anos Leucemia (LMA)

7 meses QT 1 mês Alopécia, emagrecimento

H26- 18 anos Sarcoma de Ewing

2 anos e 9 meses

QT + cirurgia

3 meses Alopécia, tumoração na face

H27- 17 anos Leucemia (LLA)

7 anos QT 2 meses Alopécia, emagrecimento,

edema

H28- 13 anos Leucemia (LLA)

2 anos QT + RT 19 dias Alopécia, emagrecimento

H29- 18 anos Rabdomiosarco-ma (testículo)

1 ano QT + cirurgia

4 meses Alopécia, emagrecimento

H30- 12 anos Linfoma 4 meses QT + cirurgia

2 meses Nódulo cervical

M31- 15 anos Meduloblastoma 5 anos QT + RT + cirurgia

2 meses Alopécia, emagrecimento,

deformidade facial

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APÊNDICE C

DISTRIBUIÇÃO DOS ADOLESCENTES COM CÂNCER, DE ACORDO COM A PROCEDÊNCIA.

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

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108

APÊNDICE D

GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS-CEP/CAMPUS IV

End. Av. José Bonifácio, 1289 Cep:66063-10.fone 32490236,ramal208

Email: [email protected]

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA MAIORES DE 18 ANOS

Você foi selecionado e está sendo convidado a participar da pesquisa intitulada:

Representações sociais de adolescentes sobre o processo do adoecimento de câncer: repercussões

para o cuidado de si. Este estudo tem como objetivos: Descrever o que representa para os

adolescentes o processo de adoecimento de câncer e Analisar os efeitos dessas representações para o

cuidado de si dos adolescentes. Como benefício os dados desta pesquisa servirão para dar base à

assistência de enfermagem ao adolescente com câncer, levando a um atendimento integral e

melhorando assistência prestada. O presente estudo apresenta riscos mínimos que podem ocorrer

através das emoções envolvidas no relato dos adolescentes, porém, se no momento da coleta o cliente

referir mal-estar, será dada a opção de interromper a entrevista, com retomada ou afastamento

definitivo da pesquisa, além disso, há o risco moral, proveniente da divulgação do material coletado, o

qual será minimizado através da codificação dos dados, sendo os adolescentes identificados através de

um código composto de letras e números, evitando assim a exposição de qualquer informação que

possa levar á sua identificação. Convido você a participar desta pesquisa, através de uma entrevista

que será gravada, respondendo questões previamente formuladas sobre sua doença e sobre o que

representa ser um adolescente acometido por câncer. Deixamos claro que as informações obtidas serão

utilizadas somente neste estudo e que os resultados serão divulgados somente em eventos ou

publicações científicas, não sendo mencionado nenhum dado pessoal. A qualquer momento você pode

desautorizar os pesquisadores de fazer uso das informações obtidas, podendo optar por afastar-se da

pesquisa, neste caso todo material gravado e/ou anotado lhe será devolvido. Não há despesas pessoais

para você em qualquer fase do estudo, bem como não haverá nenhum pagamento por sua participação.

Você receberá uma cópia deste termo, no qual conta o telefone das pesquisadoras e do comitê de ética,

para poder esclarecer eventuais dúvidas sobre o projeto.

CONSENTIMENTO PÓS-INFORMADO:

Declaro que compreendi as informações que li ou que me foram explicadas sobre o estudo

em questão. Ficando esclarecidos quais os objetivos da pesquisa, os procedimentos a serem realizados

e as garantias de confidencialidade e de esclarecimento permanente. Ficou claro também, que a

participação não tem despesas, nem receberei nenhum pagamento. Concordo voluntariamente em

participar nesse estudo, podendo retirar meu consentimento a qualquer momento, sem penalidades ou

prejuízos. Belém, _______de___________________ de _________.

Nome completo do participante: _____________________________________________________RG__________________

_______________________________________________________________

ASSINATURA DO PARTICIPANTE

_______________________________ __________________________________

Profº Dra. Mary Elizabeth de Santana Marta Solange Camarinha Ramos Costa

Pesquisadora / Orientadora Pesquisadora / Mestranda

Tel (91)91465969 Tel.(91) 91124733

Comitê de ética: Av José Bonifácio, 1289. CEP: 66063-010. Tel: 32490236

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APÊNDICE E

GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS-CEP/CAMPUS IV

End. Av. José Bonifácio, 1289 Cep:66063-10.fone 32490236,ramal208

Email: [email protected]

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA PAIS OU RESPONSÁVEIS

O seu filho (ou o adolescente ao qual você é responsável) está sendo convidado a participar da

pesquisa intitulada: Representações sociais de adolescentes sobre o processo do adoecimento de

câncer: repercussões para o cuidado de si. Este estudo tem como objetivos: Descrever o que

representa para os adolescentes o processo de adoecimento de câncer e Analisar os efeitos dessas

representações para o cuidado de si dos adolescentes. Como benefício os dados desta pesquisa servirão

para dar base à assistência de enfermagem ao adolescente com câncer, levando a um atendimento

integral e melhorando assistência prestada. O presente estudo apresenta riscos mínimos que podem

ocorrer através das emoções envolvidas no relato dos adolescentes, porém, se durante a coleta o

cliente referir mal-estar, será dada a opção de interromper a entrevista, com retomada ou afastamento

definitivo da pesquisa, além disso, há o risco moral, proveniente da divulgação do material coletado, o

qual será minimizado através da codificação dos dados, sendo os adolescentes identificados através de

um código composto de letras e números, evitando assim a exposição de qualquer informação que

possa levar á sua identificação. Convido o adolescente ao qual você é responsável a participar desta

pesquisa, através de uma entrevista que será gravada, respondendo questões previamente formuladas

sobre sua doença e sobre o que representa ser um adolescente acometido por câncer. Deixamos claro

que as informações obtidas serão utilizadas somente neste estudo e que os resultados serão divulgados

somente em eventos ou publicações científicas, não sendo mencionados os dados pessoais do

adolescente. A qualquer momento você pode desautorizar os pesquisadores de fazer uso das

informações obtidas, podendo optar por afastar-se da pesquisa, neste caso todo material gravado lhe

será devolvido. Não há despesas pessoais para você em qualquer fase do estudo, bem como não haverá

nenhum pagamento por sua participação. Você receberá uma cópia deste termo, no qual conta o

telefone das pesquisadoras e do comitê de ética, para poder esclarecer eventuais dúvidas sobre o

projeto.

CONSENTIMENTO PÓS-INFORMADO:

Declaro que compreendi as informações que li ou que me foram explicadas sobre o estudo

em questão. Ficando esclarecidos quais os objetivos da pesquisa, os procedimentos a serem realizados

e as garantias de confidencialidade e de esclarecimento permanente. Ficou claro também, que a

participação não tem despesas, nem receberei nenhum pagamento. Concordo voluntariamente em

autorizar a participação do menor de idade ao qual sou responsável, nesse estudo, podendo retirar meu

consentimento a qualquer momento, sem penalidades ou prejuízos. Belém, _______de___________________ de _________.

Nome completo do participante: _______________________________________________________RG:________________

Nome completo do responsável legal: ___________________________________________________RG:_______________

____________________________ ______________________________

ASSINATURA DO RESPONSÁVEL ASSINATURA DO ADOLESCENTE

___________________________ ______________________________ Profº Dra. Mary Elizabeth de Santana Marta Solange Camarinha Ramos Costa

Pesquisadora / Orientadora Pesquisadora / Mestranda

Tel (91) 91465969 Tel.(91) 91124733

Comitê de ética: Av José Bonifácio, 1289. CEP: 66063-010. Tel: 32490236

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110

APÊNDICE F

ROTEIRO PARA IDENTIFICAÇÃO DO PERFIL DOS SUJEITOS

Data: ___/_____/_____

Identificação e dados sociodemográficos:

Código de identificação:____________

Idade:_______________

Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

Religião:____________________

Ocupação: ___________________

Está estudando ou se afastou dos estudos? : _________________________

Município de procedência: ________________________________________

Quem é o representante legal (caso menor de idade):

_______________________________

Atividades de lazer: _____________________________________________

Questões referentes à doença:

Tipo de câncer:_________________________

Data do diagnóstico da doença: ___________

Tratamento: ( ) QT - Início _________________ Término_______________

( ) RT - Início ________________ Término________________

( ) Cirurgia - Tipo____________________ Data: ____________

Principais alterações provocadas pela doença ou tratamento:

______________________________________________________________

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111

APÊNDICE G

ROTEIRO PARA ENTREVISTA

1) Quando eu falo a palavra “câncer” o que lhe vem à mente?

2) Como é ser um adolescente acometido por câncer?

3) Como é para você conviver com as alterações provocadas pelo

tratamento?

4) Como você cuida de si?

5) Durante o seu tratamento no hospital, o que você teria a dizer sobre as

orientações relativas ao cuidado de si? (Explorar se houve orientações,

por quem, que tipo de orientações).

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ANEXOS

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ANEXO A

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ANEXO B

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM/

UNIVERSIDADE DO ESTADO

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP DADOS DO PROJETO DE PESQUISA

Título da Pesquisa: Representações Sociais de adolescentes sobre o processo do adoecimento de

câncer: Repercussões para o cuidado de si.

Pesquisador: Mary Elizabeth de Santana

Área Temática:

Versão: 2

CAAE: 08082412.5.0000.5170

Instituição Proponente: Curso de Graduação em Enfermagem/ Universidade do Estado do Pará/

DADOS DO PARECER

Número do Parecer: 148.244

Data da Relatoria: 19/11/2012

Apresentação do Projeto: Projeto de pesquisa de Mestrado em Enfermagem da Universidade do Estado do Pará. Tem como objeto de estudo as representações sociais de adolescentes sobre o processo do adoecimento de câncer e suas repercussões para o cuidado de si. O estudo é descritivo, com abordagem qualitativa, sendo empregada a Teoria das Representações Sociais segundo a vertente processual. O local de estudo será o Hospital Ophir Loyola e os sujeitos 30 adolescentes, na faixa etária de 10 a 19 anos (conforme definição do Ministério da Saúde), em tratamento de câncer no referido hospital. Os critérios de inclusão são: adolescente de ambos os sexos que se encontre na faixa etária de 10 a 19 anos, ter sido diagnosticado há pelo menos três meses, assinar o TCLE e quando menor de idade tiver a autorização por escrito de um de seus pais ou responsável legal. Critérios de exclusão Menores de 10 anos e maiores de 19 anos de idade, adolescentes sem confirmação diagnostica de câncer ou que tiverem sido diagnosticados há menos de três meses, e menores de idade sem a autorização por escrito de um de seus pais ou responsável legal. A coleta de dados será por entrevista semi-estruturada individual com aplicação de formulário dividido em duas partes: a primeira se refere à identificação das características sociodemográficas dos participantes bem como questões relativas ao diagnóstico e tratamento. A segunda compreende 05 perguntas abertas com o intuito de acessar as representações sociais dos sujeitos sobre o adoecimento e o cuidado de si. As entrevistas serão gravadas e acontecerão no ambiente do hospital, no ambulatório de quimioterapia ou no internamento a depender da situação em que se enquadre o sujeito. Apresenta 02 TCLEs, sendo um para os adolescentes maiores de 18 anos e outro para o responsável legal no caso de menores. Para a análise de dados será utilizada a análise de conteúdo. O cronograma prevê o desenvolvimento da pesquisa para o período agosto de 2012 a agosto de 2013 e os custos previstos no orçamento serão de responsabilidade dos pesquisadores Objetivo da Pesquisa: Descrever as representações sociais de adolescentes sobre o processo de adoecimento de câncer e Analisar as implicações dessas representações sociais para o cuidado de si dos adolescentes. Os objetivos estão compatíveis com o projeto apresentado e são exequíveis. Avaliação dos Riscos e Benefícios: O Projeto relata os possíveis riscos que podem ocorrer por conta de emoções envolvidas no momento do relato pessoal dos adolescentes, podendo trazer à tona problemas sociais, as dificuldades do diagnóstico e tratamento e das relações familiares, bem como lembranças da experiência da doença. Com o objetivo de minimizar estes riscos será realizado contato prévio com o enfermeiro e psicólogo do setor, bem como com o familiar responsável, com o objetivo de avaliar

Endereço: Av. José Bonifácio, nº 1289

Bairro: Guamá CEP: 66.063-010

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Telefone: (91)3229-1131 Fax: (91)3249-4671 E-mail: [email protected]

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UNIVERSIDADE DO ESTADO

antecipadamente o bem estar físico e psicológico do adolescente para dar início à entrevista. Se no momento da coleta o sujeito referir mal-estar, será dada a opção de interromper a entrevista, com retomada ou afastamento definitivo da pesquisa, garantindo o descarte de todo material registrado. Além disso, será solicitada a assistência dos profissionais da instituição para restabelecimento do bem estar do paciente. Menciona também o risco moral, proveniente da divulgação do material coletado, o qual será minimizado por meio da codificação dos dados, evitando assim a exposição de qualquer informação que possa levar á identificação dos sujeitos, menciona também o descarte do material coletado após a entrega dos resultados à banca examinadora. Outro risco mencionado relaciona-se ao fato de alguns dos informantes serem menores, o que será minimizado com a assinatura prévia do TCLE por seus representantes legais. O estudo apresenta como principal benefício a possibilidade de ampliação de conhecimentos que podem fortalecer o embasamento da assistência de enfermagem ao adolescente com câncer, direcionando-o para um atendimento integral e individualizado. Comentários e Considerações sobre a Pesquisa: O estudo é relevante por buscar a compreensão sobre uma doença grave em um grupo que apresenta muitas particularidades, como o dos adolescentes e justifica a escolha dos sujeitos. O universo deste grupo social é repleto de representações e a palavra câncer por si só já é impregnada por uma série de medos e preconceitos, geralmente associados ao sofrimento e à finitude, particularmente tratando-se de indivíduos que estão no auge de sua juventude, em geral envolvidos com uma gama de planos e projetos para o futuro. Nesse contexto, aceitar o adoecimento e cogitar a possibilidade de morte pode ser quase impossível ao adolescente. Uma compreensão mais afinada sobre as representações sociais que envolvem o adolescente com câncer, bem como o entendimento de como ele cuida de si durante o processo desse adoecimento,pode contribuir para uma assistência de enfermagem integral, respeitando as individualidades e especificidades, permitindo uma intervenção mais efetiva, com vistas à qualidade de vida desse grupo. Em sua estrutura o projeto apresenta considerações iniciais que englobam problemática, justificativa, questões norteadoras e objetivos. Traz referencial teórico ampliado sobre o tema e a Teoria que embasa o estudo, Apresenta metodologia, aspectos éticos, cronograma, orçamento e instrumento de coleta de dados coerentes com a proposta de estudo. Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória: Apresenta os documentos essenciais tais como: Folha de rosto assinada pelo pesquisador responsável (orientador) e instituição proponente, Declaração de aceite da Instituição coparticipante. TCLE, carta de apresentação ao CEP, Instrumento de coleta de dados, orçamento e cronograma detalhados, projeto gerado pela Plataforma Brasil e projeto completo.

Recomendações:

Com relação ao TCLE: descrevem com objetividade e linguagem adequada os procedimentos que os

sujeitos serão submetidos, os riscos esperados e forma de minimizar os mesmos, os benefícios,

informa também a garantia de sigilo e privacidade, recusa inócua, que os dados serão utilizados

somente nesta pesquisa, ou seja atenderam todas as recomendações sugeridas. A proposta

metodológica do estudo informa que a entrevista será gravada com autorização dos informantes,

entretanto o TCLE não atende tal propósito.

Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:

O projeto tem nossa aprovação desde que a recomendação citada com relação ao TCLE seja

providenciada

Situação do Parecer:

Aprovado

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UNIVERSIDADE DO ESTADO

Necessita Apreciação da CONEP:

Não

Considerações Finais a critério do CEP:

O Comitê de Ética em Pesquisa do CGENF/UEPA apreciou o protocolo em tela durante a reunião

realizada no dia 19/11/2012. Com as atribuições definidas na Resolução 196/96-CNS/MS manifesta-

se pela aprovação do projeto de pesquisa proposto, devendo o pesquisador cumprir as questões

acima, antes do inicio do estudo. Informamos que o pesquisador ao submeter o projeto ao CEP de

acordo com a Resolução 196/96 se compromete a:

- Informar qualquer tipo de mudança nos procedimentos, caso ocorram, ao CEP para que

possa ser novamente analisado.

- Comunicar imediatamente a interrupção da pesquisa, com justificativa.

- Enviar relatório final ao CEP.

- Comunicar imediatamente, qualquer reação adversa no curso da pesquisa.

BELEM, 19 de Novembro de 2012

__________________________________________

Assinador por: Carmen Lucia Moraes Miranda

(Coordenador)

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