ganho secundario de adoecer
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O que se ganha ficando doente? InconscientementeTRANSCRIPT
INSTITUTO DE CIÊNCIAS DE SAÚDE
FUNORTE
ELUCINEIA MENDES DOS REIS
OS GANHOS INCONSCIENTES DO ADOECER: UM ESTUDO DE CASO EM PSORIASE.
CACOAL – RO
2013
ELUCINEIA MENDES DOS REIS
OS GANHOS INCONSCIENTES DO ADOECER: UM ESTUDO DE CASO EM PSORIASE
Monografia apresentada ao Programa de Especialização Psicoterapia breve – FUNORTE NÚCLEO CACOAL, como parte dos requisitos para obtenção do titulo de Especialista.
Orientadora: Professora Dra. Carmem Maria Bueno Neme Professora Mestre Cristiane Araujo Dameto
CACOAL-RO 2013
ELUCINEIA MENDES DOS REIS
OS GANHOS INCONSCIENTES DO ADOECER: UM ESTUDO DE CASO EM PSORIASE
Monografia apresentada ao Programa de Especialização Psicoterapia breve – FUNORTE NÚCLEO CACOAL, como parte dos requisitos para obtenção do titulo de Especialista.
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA
_________________________/____________/2013
Professora Dra. Carmem Maria Bueno Neme
_________________________/____________/2013
Professora Mestre Cristiane Araujo Dameto
CACOAL-RO 2013
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 06
2 MODELO MÉDICO DO ADOECER (ENTRELAÇAMENTO:
CORPO E MENTE) ...................................................................................... 10
3 PERSONALIDADE ................................................................................... 13
3.1 Conceito de Personalidade .................................................................... 13
4 TERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA ....................................... 14
4.1 Psicoterapia Breve ................................................................................. 20
4.1.1 As diferenças ....................................................................................... 22
4.2 Indicações e contra-indicações .............................................................. 22
5 OBJETIVOS .............................................................................................. 23
5.1 Geral....................................................................................................... 23
5.2 Específicos ............................................................................................. 23
6 MÉTODO .................................................................................................. 23
7 RESULTADOS ......................................................................................... 24
7.1 Ficha Catalográfica: .............................................................................. 24
7.1.1 Síntese das sessões ........................................................................... 25
7.2 Histórico de vida e do processo do adoecer ........................................... 25
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 28
9 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO .......................................................... 29
RESUMO Este artigo descreve um estudo de caso realizado com uma mulher com Psoríase – doença da pele. O foco deste trabalho foi correlacionar quais os ganhos inconscientes do processo de adoecer para com a manutenção ou a aquisição da doença. Utilizou-se como embasamento teórico a orientação psicanalítica com a técnica em psicoterapia breve nas trinta sessões de atendimento. Após o fechamento dos atendimentos, a paciente estudada teve uma melhora significativa em quadro doentio, incluindo a conscientização dos ganhos que tinha no processo de adoecer. Portanto este artigo confirma que a pessoa atendida, adoeceu e permaneceu neste quadro motivado por ganhos (in)conscientes. Palavra - chave: Psicanálise. Psicoterapia breve. Psicossomática.
ABSTRACT This article describes a case study with a woman with Psoriasis - skin disease. The focus of this study was to correlate the unconscious gains of becoming ill to the sustenance or acquisition of the disease. The psychotherapic orientation was used as theoretical foundation for the thirty sessions of care. After the closing of the care the studied patient showed a significant improvement in health state, including awareness of the previously unconscious gains derived from the process of becoming ill. Therefore, this article confirms that the person becomes or remains ill motivated by unconscious profit. KEYWORDS: Psychoanalysis; Psychosomatics; Psychotherapy
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à Carolina Mendes Mello – minha filha, a eterna e incondicional incentivadora dos meus sonhos, a pessoa que sempre está ao meu lado em todos os momentos.
Dedico aos meus queridos amigos e irmãos Estefânia Procópio e Carlos Demétrio, que sempre me deram força, coragem e constante apoio nos momentos bons e ruins.
À Deus, por ter me dado força durante esses quase dois anos de curso, em meio a tantas adversidades. Por ter me iluminado nas decisões mais difíceis e por ter me guiado ao longo do curso para trilhar o caminho mais correto possível.
Ao meu amor, Luiz Carlos, pelo amor e compreensão sempre, me deixando mais tranqüila nos momentos mais difíceis do curso, me incentivando e apoiando nas minhas decisões.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por sempre iluminar meus caminhos e por fazer com que mais esse
sonho se realize.
Agradeço ao meu pai que é base da minha vida, sinônimo de amor, compreensão e
dedicação.
Agradeço aos meus dois amigos, Ademir e Leida, que estiveram juntos comigo na realização deste trabalho por tudo que pudemos compartilhar a convivência, as alegrias, as frustrações, as descobertas, enfim pelo o que aprendemos.
À você , querido Luiz, o meu agradecimento. Você é responsável por este momento tão marcante em minha vida. Por sua dedicação, pelo amor que me fez mais forte, fazendo entender que sou capaz de ir mais além. À você, que desde o começo acreditou, incentivou - me a buscar novos conhecimentos, me dando conselhos, contribuindo para o meu crescimento na vida acadêmica. Esta vitória também é sua. Enfim a todos que direta ou indiretamente colaboraram para a construção deste trabalho.
1 INTRODUÇÃO
Os estudos sobre a gênese do adoecer e a melhora de doenças físicas
sempre tiveram uma alta consideração nas pesquisas. Por meio dos conceitos da
psicossomática, a medicina e áreas afins tiveram um grande auxílio na compreensão
de algumas patologias e na melhora dos tratamentos, diagnósticos e prognósticos.
Pela compreensão de que o homem não é somente indivíduo físico, que a
mente, ou a dimensão psicológica também influencia em todo o esquema de
desenvolvimento, pode-se chegar a algumas considerações acerca do adoecimento.
Na maioria das vezes o ‘doente’ não possui esse entendimento do seu próprio
adoecer.
Os cuidados obtidos através do ‘adoecer’, a atenção, o carinho, a
representação social em uma posição de vítima e até mesmo algum benefício
financeiro podem ser fatores desencadeadores ou mantenedores do adoecimento.
Diante do exposto surgem algumas questões: o doente é capaz de
compreender os possíveis ganhos de seu adoecer? Quais os métodos psicológicos
para acessar os conteúdos inconscientes do ganho secundário no processo de
adoecer, e como saná-los?
Essas questões foram motivadoras deste estudo, levando a busca de
conceitos e direcionamentos para uma análise compreensiva do processo de
adoecer. Para isso levantou-se as seguintes hipóteses: algumas pessoas adoecem
para alguém e/ou por alguém; a formação do sintoma pode ser decorrente do
recalcamento da imagem primitiva do trauma; após o adoecimento, o doente
inconscientemente pode-se manter nesta condição devido aos ganhos reais ou
imaginários;simbólicos.
Para o norteamento deste estudo colocou-se como objetivo geral: analisar os
ganhos inconscientes do adoecer, por meio de um estudo dinâmico de caso. Os
objetivos específicos foram: estudar as temáticas relacionadas à psicossomática, a
psicanálise e o adoecer; reportando aos principais aspectos da teoria psicanalítica
da personalidade e da psicopatologia; compreender por meio do processo
psicoterápico, a dinâmica psicossomática do adoecer; identificar se esses ganhos
são armazenados de forma inconsciente ou consciente; identificar possível relação
de significado entre a doença física e a situação psicológica vivida pelo doente.
Analisar as questões que permeiam o adoecimento, numa perspectiva
biopsicossocial e psicossomática, é, hoje, uma necessidade em virtude do aumento
de doenças crônicas e na mudança de perfil da demandas. A compreensão de
possíveis ganhos secundários pelo doente e relevante, tendo em vista a cronicidade
do adoecimento e a necessidade de se desenvolver recursos de tratamento e
melhorar o prognostico desses casos.
Freud, em 1914, em seu livro "Sobre o Narcisismo: uma introdução", já definia
bem o sentimento de um indivíduo atormentado pela dor: "deixa de se interessar
pelas coisas do mundo externo porque não dizem respeito ao seu sofrimento; (...)
enquanto sofre, deixa de amar". Apesar de todos esses sofrimentos provocados pelo
fato de se estar doente, pode-se dizer que os pacientes têm certos "ganhos"
chamados de diretos ou primários e secundários. As gratificações diretas referem-se
ao conflito inicial (interno) que gerou o sintoma psíquico. Para evitar o contato com a
ansiedade que o conflito gera a pessoa "desenvolve" o sintoma e concentra sua
atenção nele (e não no conflito e na ansiedade). Já os ganhos secundários
relacionam-se aos ganhos externos que a pessoa recebe em conseqüência da
doença: mais atenção, afastamento do trabalho ou de alguém, ganhos materiais,
etc.
Desta forma desenvolver-se-á técnicas mais dinâmicas e especializadas para
atendimento deste público, como forma de amenizar o processo de adoecer por
meio de uma saúde mental, higienizando as questões psicológicas destes pacientes.
O inconsciente é de difícil acesso, apesar de ser o ‘responsável’ por muitos
dos comportamentos do sujeito. Os próprios sujeitos não conseguem compreender a
dinâmica de seu inconsciente, reconhecendo o porquê e o para que de suas ações.
Através do atendimento psicoterápico psicanalítico é possível permitir que o
psicoterapeuta e o paciente tenham acesso às informações contidas no
inconsciente, proporcionando um alívio e a compreensão do comportamento emitido
(HOLMES, 2001).
Por isso, justificou-se a importância de compreender a doença como uma
expressão de conflitos internos, como resultado de uma somatização. Sem
compreender todo o processo somatizador em que se encontra, o paciente poderá
permitir-se continuar no estado doentio para consolidar os ganhos secundários,
precisando de uma intervenção psicoterápica para mudança de quadro.
Ao adoecer o indivíduo promove toda uma mudança dentro do contexto de
relacionamento e de ambiente, uma série de cuidados e preocupações serão
emitidas pelos que estão próximos e isso poderá trazer certo benefício e assim
consolidar a existência dessa doença permanentemente, ou até prolongar o
tratamento.
2 MODELO MÉDICO DO ADOECER (ENTRELAÇAMENTO: CORPO E
MENTE)
Segundo Holmes (2001, p. 36), por modelo médico “entendemos aquele que
concebe o processo saúde/doença com a ênfase no sintoma (esse entendido como
um sinal da doença), nas questões bioquímicas e na saúde como ausência de uma
enfermidade”. O modelo médico tradicional é construído cientificamente. O tipo de
conhecimento e de dados considerados válidos e dignos de confiança por um
médico deve estar de acordo com critérios cientificamente aceitos. Isso significa que
o que é considerado “real” deve ser mensurável e confiável segundo a metodologia
cientifica.
A doença e suas causas são estudadas e tratadas de acordo com esse
sistema orientado para o físico. Como resultado disso, tanto as causas identificadas
como responsáveis pelo colapso do corpo humano quanto os tratamentos aplicados
para curá-las são físico. Devido a esta visão não se considerava que o mundo das
emoções teria poder real sobre o corpo ou influência sobre ele, já que esses
atributos não são cientificamente qualificáveis. As emoções, é claro, não se
enquadravam dentro da linguagem exata da ciência (FILHO, 1978).
Freud realizou estudos sobre a neurose histérica ou histeria de conversão,
que permitiu a compreensão de que o conflito psíquico simboliza-se nos sintomas
corporais. A permanência no estado doentio irá ser controlada e ocasionada pela
condição psíquica inconsciente.
A medicina sempre trabalhou de forma a dar o prognóstico esperado através
dos sintomas doentios, onde, às vezes, a singularidade desaparecia e também a
história da enfermidade, a história do paciente, a história do indivíduo que adoece, a
história do sujeito que adoece; assim o médico não se preocupava com aquilo que
deveria ser importante para um resultado eficiente.
No estudo do “Caso Dora”, Freud formulou uma das melhores práticas e
teoria da psicossomática, do modelo do adoecer (FREUD, 2001). Tratava-se de uma
moça que sofreu bastante tempo com problemas de saúde, fazendo muitos
tratamentos sem solução, ate ser atendida por Freud.
Freud (2001, p. 50) diz claramente que:
Os motivos do adoecimento devem ser nitidamente distinguidos, enquanto conceito, das possibilidades de adoecer – do material de que se formam os sintomas. Eles não têm participação alguma na formação de sintomas e nem sequer estão presentes no início da doença. Só aparecem secundariamente, mas é apenas com seu advento que se constitui plenamente a enfermidade. Pode-se contar com sua existência em todos os casos em que haja sofrimento real e de longa data. A princípio, o sintoma é para a vida psíquica um hóspede indesejável: tudo está contra ele, e é por isso que pode dissipar-se com tanta facilidade, aparentemente por si só, sob a influência do tempo.
Ao serem realizados estudos sobre a condição dos doentes e o porquê que
uns têm melhoras rápidas e outros com a mesma patologia e o mesmo tratamento
não conseguirem manter um prognóstico satisfatório, era hora de trabalhar a
questão da relação médico-paciente como constitutivo do ato médico, ato
terapêutico, saber tomar uma história, saber fazer uma anamnese, saber
efetivamente estabelecer um laço afetivo transferencial com seu paciente, saber
que, quando alguém adoece, algo da ordem da angústia se manifesta sob a forma
de medo de morte e que o médico não pode simplesmente dar o remédio, mas ele
tem que dar também alguma coisa da ordem do amparo, ele tem que fazer algo da
ordem do cuidado propriamente dito, que isso faz parte do ato terapêutico (FILHO,
1978).
A psicanálise trouxe uma reflexão e uma prática sobre a relação
normal/anormal e patológico, saúde/doença, dor e sofrimento. No sentido de
possibilitar um maior entendimento ao movimento da medicina. “Dentro do estudo
psicanalítico defini-se que inconscientemente buscamos satisfazer necessidades
primárias” (ARANTES, 1998, p. 93).
A doença pode ser compreendida como uma expressão de conflitos internos,
sendo somatizada. Ao adoecer, o indivíduo promove toda uma mudança dentro do
contexto de relacionamento e de ambiente, uma série de cuidados e preocupações
serão emitidas pelos que estão próximos e isso poderá trazer certo benefício
consolidando assim a existência dessa doença permanentemente, ou até prolongar
o tratamento.
Freud (2001, p. 50), ainda no Caso Dora, traz uma explicação sobre os
ganhos do adoecer:
Os motivos para adoecer muitas vezes começam a se fazer sentir já na infância. A menina sedenta de amor; que a contragosto partilha com seus irmãos a afeição dos pais percebe que toda esta volta influir-lhe quando seu adoecimento desperta a preocupação deles. Agora ela conhece um meio de atrair o amor dos pais, e se valerá dele tão logo disponha do material psíquico para produzir a doença. Quando esta menina se transformar em mulher e, em total contradição com as exigências de sua infância, casa-se com um homem pouco atencioso que sufoca sua vontade, explora impiedosamente sua capacidade de trabalho e não lhe dá nem ternura nem dinheiro, a doença é a única arma que lhe resta para afirmar-se na vida.
Apesar de todos os seus desenvolvimentos, a psicossomática foi desde a sua
origem marcada pelas descobertas Freudianas. Não esquecemos que Freud iniciou
sua carreira como um brilhante neurologista, o desafio lançado pela histeria de
conversão o colocou diante de seus limites de concepção neurológica, determinando
seu interesse por aquela patologia cuja sintomatologia orgânica não demonstrava
nenhuma relação com a estrutura anatômica dos órgãos afetados, mas lhe permitiu
compreender as dinâmicas internas dos indivíduos, determinando suas produções
sociais e culturais, e como essas mesmas produções determinam as direções do
desenvolvimento e do adoecer do sujeito.
Groddeck (1992, p. 310) considera a psicossomática e a compreensão da
psicose os dois maiores avanços da psicanálise pós-Freudiana, ele afirma que:
Mesmo que esta teoria (da psicossomática) mantenha-se controvertida e desperte numerosas críticas, fica que ela conseguiu constituir uma base de reflexão, daqui para frente incontornável, onde aparecem singularidades do pensamento psíquico, muito diferentes das estruturas com as quais a psicanálise lida comumente.
Desta forma o modelo médico foi influenciado pelas descobertas, através dos
estudos psicossomáticos que revelaram uma relação bem mais ampla entre a
doença e o doente.
3 PERSONALIDADE
3.1 Conceito de Personalidade
A personalidade de um indivíduo está relacionada ao seu comportamento no
cotidiano. O senso comum coloca a personalidade como mutável e muito facilmente
confundida com caráter ou características específicas daquela pessoa.
Dentro da psicologia temos algumas teorias que divergem quanto aos
conceitos de definição da personalidade e de sua construção. De uma forma
bastante generalista, todas afirmam que pelo perfil de personalidade do indivíduo,
pode-se chegar a algumas conclusões sobre seu comportamento e sua vivência
social.
Hall, Lindzey & Campbell (2000, p. 28) dizem que:
Um exame abrangente do desenvolvimento da teoria da personalidade deve certamente começar com as concepções do homem proposta por grandes estudiosos clássicos, como Hipócrates, Platão e Aristóteles. Um relato adequado também teria de incluir a contribuição de dezenas de pensadores, como Aquino, Bentham, Comte, Hobbes, Kierkegaard, Locke, Nietzsche e Machiavelli, que vivem nos séculos intervenientes e cujas ideias ainda são detectadas em formulações contemporâneas.
No meio das questões mentais e nas definições de personalidade existe uma
dialética complexa em relação à compreensão do normal e do patológico. Tendo por
base a subjetividade de cada ser, é complicado estabelecermos regras e normas de
conduta para definição do normal, e exclusão do patológico. A cultura, o estilo de
vida, crenças tudo estará envolvido neste processo de aceitação do normal ou de
exclusão do patológico.
Hall, Lindzey & Campbell (2000, p. 50) mencionam que “quando a psicologia
emergiu como disciplina científica independente na Alemanha, em meados do
século XIX, ela definiu sua tarefa como a analise de consciência no ser humano
normal, adulto.”
As idéias de Freud apresentam grande diversidade com relação ao que
propunha a psicologia neste momento, sendo que “ele comparou a mente a um
iceberg: a parte menor que aparecia da superfície da água representava a região da
consciência, enquanto a massa muito maior abaixo da água representava a região
do inconsciente” (HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000, p. 50).
A psicanálise pontua que a personalidade é constituída por três grandes
partes psíquicas sendo: o id, o ego e o superego. Essas partes desenvolvem-se por
meio da vivência do sujeito, sendo esse desenvolvimento o responsável pela
formação da personalidade dentro das funções de cada parte.
O sujeito poderá desenvolver déficit em alguma dessas partes o que lhe
causará danos a estrutura de sua personalidade. A estrutura dessa personalidade
pode ser tida como neurótica, psicótica ou perversa. (HALL, LINDZEY &
CAMPBELL, 2000).
Para compreender a dinâmica que forma a personalidade dentro da
psicanálise, tem-se as definições de suas três partes, conforme segue:
1. Id: é o sistema original da personalidade, ele é a matriz da qual se originam o
ego e o superego. O id é tudo que é psicológico, que é herdado e que se
acha presente no nascimento, incluindo os instintos (HALL, LINDZEY &
CAMPBELL, 2000, p. 53).
2. Ego: o ego passa a existir porque as necessidades do organismo requerem
transações apropriadas com o mundo objetivo da realidade (HALL, LINDZEY
& CAMPBELL, 2000, p. 54).
3. Superego: é o representante interno dos valores tradicionais e dos ideais da
sociedade conforme interpretados para a criança pelos pais e impostos por
um sistema de recompensa e de punições. O superego é a força moral da
personalidade. (HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000, p. 54-55).
Desta forma, a personalidade vai sendo definida conforme os estágios de
desenvolvimento e as vivências do sujeito em relação ao mundo. A personalidade é
então definida nos primeiros estágios de vida, não somente os comportamentos
como a estrutura psíquica.
4 TERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA
A Psicanálise é um conjunto de técnicas e teorias onde é possível o
crescimento psíquico do indivíduo. Seu fundador, Freud, acreditava que não era só
em cima dos critérios formais, mas na capacidade pessoal de aprender a partir das
próprias experiências do paciente, pelo método interpretativo que busca um
significado oculto naquilo que é manifestado por ações, palavras, sonhos,
conseguindo assim mudanças estruturais no ego, o que permitira a ele renunciar às
suas defesas ou encontrar alguma que permita descarga instintual adequada.
Visando diretamente ao ego, porque só o ego tem acesso direto ao id, ao superego
e ao mundo externo.
A psicanálise desenvolveu-se por meio do aperfeiçoamento dos
procedimentos técnicos e nos processos terapêuticos, sendo que (GREENSON,
1967):
Procedimento técnico: Refere-se à uma ferramenta, à uma forma de
ação, a um instrumental, de que lança mão o terapeuta com o objetivo de
ajudar o processo terapêutico. São exemplo dos procedimentos técnicos a
hipnose, a sugestão, a associação livre e a interpretação.
Processo terapêutico: Consistem numa série inter-relacionada de fatos
psíquicos dentro do paciente, atos psíquicos que têm um objetivo ou efeito
terapêutico. Tais fatos são geralmente instigados pelos procedimentos
técnicos. São processos terapêuticos as lembranças reconquistadas e a
compreensão interna.
A técnica psicanalítica não foi descoberta ou inventada, foi evoluindo
gradualmente enquanto Freud lutava para encontrar uma maneira de tratar seus
pacientes neuróticos, foi a sua meta terapêutica que levou à descoberta da
psicanálise.
A descoberta do método de associação livre foi se desenvolvendo aos
poucos entre 1892 e 1896, livrando-se completamente da hipnose, sugestão,
pressão e questionamento Greenson (1967, p. 24) relembra que:
Elisabeth Von R foi a primeira paciente tratada por Freud, inteiramente através da sugestão com a paciente acordada. Jones descreve um momento histórico em que Freud estava pressionando e questionando Elisabeth Von R e ela o censurou por esta interrompendo o fluxo de seus pensamentos. Freud teve a humildade de aceitar essa sugestão e, deste então, o método de associação livre dera um grande passo em direção ao progresso. A associação livre era uma ferramenta satisfatória porque permitia que os pensamentos involuntários do paciente entrassem na situação terapêutica. Tornando-se conhecido como a regra básica fundamental da psicanálise.
A interpretação ainda é o instrumento decisivo e fundamental do psicanalista.
Estes dois procedimentos técnicos conferem à terapia psicanalítica.
Freud lutou para descobrir o que é essencial no processo terapêutico no
tratamento dos histéricos. Breuer e Freud afirmavam que o sintoma histérico de
cada indivíduo desaparecia imediato e permanentemente quando conseguiam trazer
realmente à tona a lembrança do fato que provocara tal sintoma. Uma nova ênfase
era posta agora em fazer o inconsciente se tornar consciente.
Há uma relação recíproca entre teoria e prática. A terapia psicanalítica exige
muito do analista: exigências contraditórias e enérgicas. Ele precisa ouvir
atentamente o material fornecido pelo paciente permitindo que suas próprias
fantasias e lembranças associativas ocorram livremente enquanto está escutando;
mesmo assim ele deve examinar e expor às suas capacidades intelectuais as
introvisões assim obtidas antes que elas possam ser transmitidas com segurança ao
paciente Greenson (1967, p. 37) diz que:
A teoria e técnica da psicanálise se baseiam essencialmente nos dados clínicos extraídos do estudo das neuroses. A psicanálise sustenta que as psiconeuroses se baseiam no conflito neurótico. O conflito provoca uma obstrução da descarga dos impulsos instintuais que ocorrem num estado em que estão sendo reprimidos. O ego vai ficando cada vez menos capaz de lidar com as tensões crescentes e finalmente subjugadas. As descargas involuntárias se manifestam clinicamente como sintomas da psiconeurose. O termo “conflito neurótico” é empregado no singular embora sempre haja mais de um conflito importante. Um conflito neurótico é um conflito inconsciente entre um impulso do id procurando descarga e uma defesa do ego impedindo a descarga direta do impulso ou seu acesso à consciência.
O superego desempenha um papel mais complicado no conflito neurótico.
Pode entrar no conflito a favor do ego, ou a favor do id ou de ambos.
O superego é a instância que faz o impulso instintual parecer proibido ao ego.
O paciente carregado de culpa pode ser então levado a situações que resultam
sempre em sofrimento.
Freud formulou explicitamente apenas três pontos de vista metapsicológicos:
o topográfico, o dinâmico e o econômico. As implicações clínicas da metapsicologia
sugerem que para abarcar um fato clínico de maneira completa é necessário
analisar tal fato sob seis pontos de vista diferentes: o topográfico, o dinâmico, o
econômico, o genético, o estrutural e o adaptativo (GREENSON, 1967).
O ponto de vista dinâmico pressupõe que os fenômenos mentais são o
resultado da interação de forças. Caso dos atos falhos.
O ponto de vista econômico trata da distribuição, transformação e
investimento da energia psíquica. Conceito como a ligação, neutralização,
sexualização, agressificação e sublimação se baseiam nesta hipótese.
O ponto de vista genético trata da origem e desenvolvimento dos fenômenos
psíquicos. Não trata apenas da maneira pela qual o passado está contido no
presente, mas trata do porquê, em certo conflito, da escolha de uma solução
específica. Esse ponto de vista enfoca não só os fatores biológico-constitucionais
como os fatores experienciais.
O ponto de vista estrutural pressupõe que o aparelho psíquico pode ser
dividido em inúmeras unidades funcionais permanentes. O conceito do aparelho
psíquico como sendo constituído por um id, ego e superego devirão da hipótese
estrutural. Este está implícito sempre que falamos de conflitos inter-estruturais.
Como a formação de sintoma ou de processos intra-estruturais como a função
sintética do ego.
O ponto de vista adaptativo – referente ao relacionamento com o ambiente,
objetos de amor e ódio, relações com a sociedade etc.
A terapia psicanalítica é uma terapia causal; ela procura desfazer as causas
da neurose. É seu objetivo solucionar os conflitos neuróticos do paciente, incluído a
neurose infantil que serve de núcleo à adulta.
O procedimento que a psicanálise exige que o paciente use para facilitar a
comunicação de derivativos é a associação livre, o método fundamental da
psicanálise é assim chamado “regra básica”. Estes derivados surgem nas
associações livres do paciente, nos sonhos, sintomas, lapsos e na atuação.
Os pacientes neuróticos são propensos a reações transferenciais. A
transferência é uma das fontes de material mais valiosa para a análise uma das
motivações mais importantes e também, o maior obstáculo para o sucesso também
é a fonte das maiores resistências durante a análise. A qualidade e quantidade das
resistências transferenciais serão determinadas pela história passada do paciente
(GREENSON, 1967).
A situação psicanalítica é estruturada de maneira a facilitar ao máximo o
desenvolvimento das reações transferenciais. O comportamento do analista criando
privações para o paciente e a ajuda relativamente anônima do analista traz à tona
todos os tipos de sentimentos e fantasias transferenciais. A técnica psicanalítica visa
diretamente ao ego porque só o ego tem acesso direto ao id ao superego e ao
mundo externo (GREENSON, 1967).
Sobre a psicanálise clássica Greenson (1967, p. 45) diz que:
[...] para comunicar o material clínico, o paciente tenta, como forma predominante de comunicação a associação livre. Geralmente esse processo começa depois de concluída as entrevistas preliminares, onde o analista pode chegar a uma avaliação da capacidade do paciente para trabalhar na situação analítica. Parte da avaliação consistiu em determinar se o paciente em suas funções do ego dispunha de elasticidade para oscilar entre as funções mais regressivas do ego quando é necessária na associação livre e entre as funções do ego mais maduras funções estas necessárias à compreensão das intervenções analíticas, respondendo a perguntas diretas e voltando à vida quotidiana do final da sessão.
A associação livre é o método mais importante para a produção de material
na psicanálise. É utilizada em momentos preestabelecidos naquele tipo de
psicoterapia que busca certa dose de volta do reprimido, assim chamada de
“psicoterapias orientadas psicanaliticamente”.
As transferências são vivências de sentimentos, impulsos, atitudes, fantasias
e defesas dirigidas a uma pessoa no presente, sendo que essa vivencia toda não se
incorpora com essa pessoa e constitui uma repetição, um deslocamento de reações
surgidas em relação à pessoas importantes na infância primitiva. Existem várias
maneiras de classificar as diversas formas clínicas de reações transferenciais. As
designações mais utilizadas são a transferência positiva e a negativa. A
transferência positiva implica em diferentes formas de anseios sexuais assim como o
gostar, amar e respeitar o analista. A transferência negativa implica algumas
variações da agressividade sob a forma de raiva, aversão, ódio ou desprezo pelo
analista (GREENSON, 1967).
Para que ocorram as reações transferenciais na situação analítica o paciente
deve estar disposto e capacitado para correr o risco de alguma regressão temporária
em relação às funções do ego e das relações objetais. A neurose transferencial é o
veículo mais importante para o êxito na psicanálise: por outro lado é a causa mais
frequente do fracasso terapêutico.
A resistência implica todas as formas dentro do paciente que se opõem aos
procedimentos e processos do trabalho psicanalítico. Ela está presente desde o
começo até o fim do tratamento. As resistências deferem o status da neurose do
paciente. As resistências se opõem ao analista, ao trabalho analítico e ao ego
racional do paciente. A resistência é um conceito operacional, não foi inventada
recentemente pela análise. A situação analítica se transforma na arena em que as
resistências se acabam revelando. A causa imediata de uma resistência é sempre
evitar algum afeto doloroso como a ansiedade, culpa ou vergonha (GREENSON,
1967).
Na psicanálise clássica, utilizam-se inúmeros procedimentos técnicos em
proporções variadas. Característica de todas as técnicas consideradas analíticas,
tais procedimentos têm objetivo direto de aumentar e compreensão interna do
paciente sobre si mesmo. “Técnicas estas que aumentam a compreensão
interna. Em geral inclui quatro procedimentos diferentes: confrontação,
esclarecimento, interpretação e elaboração” (GREENSON, 1967, pag. 45).
O primeiro passo para analisar um fenômeno psíquico é a confrontação. A
confrontação nos leva ao próximo passo; o esclarecimento. O terceiro passo da
análise é a interpretação este é o procedimento que distingue a psicanálise de todas
as outras psicoterapias porque em psicanálise a interpretação é o instrumento
decisivo e fundamental. Interpretar significa tornar consciente um fenômeno
inconsciente. Mais precisamente, significa tornar consciente o significado, fonte,
história, modo ou causa inconsciente de um determinado fato psíquico. O quarto
passo na “análise” é a elaboração que abrange um conjunto complexo de
procedimento e processos que ocorrem depois que há uma compreensão interna. A
elaboração é o elemento que precisa e toma mais tempo na terapia psicanalítica
(GREENSON, 1967).
A aliança de trabalho é o relacionamento relativamente racional e não-
neurótico entre paciente e analista que permite ao paciente trabalhar resolutamente
na situação analítica. O cenário analítico facilita o desenvolvimento da aliança de
trabalho através da frequência de sessões, longa duração do trabalho, uso do divã,
silêncio etc. Isso favorece não só a regressão e as reações neuróticas
transferenciais, mas também a aliança de trabalho.
Para que se possa analisar com sucesso a neurose transferencial é preciso
que o paciente tenha estabelecido uma aliança de trabalho sólida com o analista. A
neurose transferencial é o veículo que permite ao paciente trazer ao cenário
analítico o material bloqueado e inacessível.
A ab-reação ou catarse engloba a descarga de emoções e impulso
bloqueados. Ela é considerada válida porque dá ao paciente uma sensação de
convicção quanto à realidade de seus processos inconscientes. O objetivo principal
de tal medida é possibilitar ao paciente a descarga de uma quantidade suficiente de
tensão para que ele possa enfrentar melhor o que ainda sobra de tensão
(GREENSON, 1967).
A sugestão abrange a indução de idéias, emoções e impulsos num paciente
independente ou com a exclusão do raciocínio realista do paciente. Existem dois
grandes perigos quando se usa a sugestão. Um é usá-la desnecessariamente,
levando o paciente a se acostumar com este tipo de apoio regressivo. O outro perigo
consiste em empregar a sugestão sem perceber que se está fazendo isso
(GREENSON, 1967).
Manipulação é permanecer silencioso durante uma sessão a fim de permitir
que uma emoção se torne mais forte e assim fique mais fácil de ser demonstrada. O
importante é que a manipulação deve ser permitida na arena analítica e analisada
em todos os seus detalhes como qualquer outra intervenção do analista, real ou
imaginada.
O problema de determinar as indicações e contraindicações ao tratamento
psicanalítico depende de dois pontos distintos mas relacionados. A primeira
pergunta – e a mais importante – a que temos que responder é: O paciente é
analisável? A segunda pergunta – contingente – é: será que o tratamento
psicanalítico vai corresponder plenamente às necessidades do paciente?
(GREENSON,1967).
De acordo com esse raciocínio a terapia psicanalítica seria indicada para a
histeria de angústia, histeria de conversão, neurose obsessiva e compulsiva,
depressões psiconeuróticas e muitas das neuroses de caráter e das assim
chamadas doenças “psicossomáticas” – Seria contraindicada para as diversas
formas de esquizofrenia e psicose maníaco-depressiva.
4.1 Psicoterapia Breve
Por ter suas metas reduzidas e os objetivos limitados, as psicoterapias breves
surgiram em função suprir as necessidades imediatas do paciente com seu tempo
de tratamento reduzido e previamente fixado com o paciente (...) influenciando de
modo decisivo os diferentes aspectos do vínculo terapêutico, em especial a
finalização do tratamento (Braier, 1991, p. 19). Tendo como foco a superação dos
sintomas e problemas atuais da sua realidade. Segundo Fiorini (2004), usando essa
estratégia de atenção seletiva se deve deixar passar material atraente sempre que
este se mostre irrelevante ou afastado do foco.
A técnica proposta por Knobel (1986) se sustenta em quatro princípios: é não-
transferencial, não-regressiva, elaborativa de predomínio cognitivo, e de mutação
objetal (experimentar uma nova vivência de uma situação conflitiva). Segundo o
autor, a entrevista inicial é fundamental para determinar o futuro da relação
terapêutica, que pode iniciar ou acabar nesse momento. Essa entrevista deve
permitir fundamentar um diagnóstico holístico, biopsicosocial, fenomenológico e
metapsicológico, para assim, determinar que tipo de tratamento se irá realizar.
Nessa entrevista, deve-se avaliar a capacidade egóica, as estruturas mais ou
menos patológicas e mais ou menos rígidas, os mecanismos de defesa utilizados na
entrevista e os potenciais do entrevistado, sua capacidade intelectual, de
simbolização e abstração, suas limitações totais, sua tonalidade afetiva diante de
determinados assuntos e problemas apresentados. A modalidade relacional, ou seja,
sua forma básica de comportamento e relacionamento com o terapeuta é um
aspecto fundamental a ser determinado. Deve-se registrar também as
manifestações transferenciais, que ajudam a compreender os problemas
apresentados, além das contratransferenciais que podem direcionar o tratamento.
Um fator importantíssimo para o autor na entrevista inicial é avaliar os aspectos
resistenciais do entrevistado, assim como sua disponibilidade para uma terapia, ou
seja, a motivação real do próprio paciente.
O autor salienta que a entrevista inicial” geralmente não ocorre em uma única
sessão ou um único encontro. Ao final da entrevista deve-se efetuar a devolução do
material, através do qual se faz uma avaliação da entrevista, formulação de um
diagnóstico e uma proposta terapêutica. Uma vez decidida a proposta de
psicoterapia breve, e aceita pelo paciente, deve-se formalizar a relação contratual
que dará os limites mais precisos do enquadre psicoterapêutico e o colocará dentro
de uma realidade operativa.
4.1.1 As diferençaS
Na Psicanalise os conflitos atuais do indivíduo estao relacionados e decorrem
dos conflitos infantis. O fortalecimento do ego ocorre atraves das interpretacoes dos
conflitos infantis que tornam consciente conteudos inconscientes.(insight).
Na Psicoterapia Breve há uma relacao de conflitos a serem tratados. Essa eleicao e
feita com base na relacao que existe entre os conflitos e o motivo do tratamento. As
funcoes egoicas tambem são fortalecidas atraves do insight, mas tambem podem
ser ativadas pela utilizacao de tecnicas de apoio, reforcando as relacoes objetais
saudaveis do paciente e ativando suas defesas positivas.
4.2 Indicações e contra-indicações
Os principais critérios de indicação para uma psicoterapia breve são:
inteligência acima do normal; ter tido pelo menos uma relação significativa com outra
pessoa durante sua vida; estar vivendo uma crise emocional; capacidade para
interatuar bem com o terapeuta-entrevistador e expressar sentimento; motivação
para um trabalho duro durante o tratamento; uma queixa principal específica;
reconhecimento do caráter psicológico de suas perturbações; capacidade de
introspecção que lhe permita transmitir honestamente o que possa reconhecer de si
mesmo; desejo de se compreender e uma atitude de participação ativa na procura;
disposição para tentar mudanças. (Knobel, 1986; Braier, 1991; Fiorini, 2004). Sendo
os objetivos limitados, dependerá do próprio caso clínico e do psicoterapeuta poder
estabelecer esses objetivos. Para isso, é necessário detectar na primeira entrevista
o problema neurótico circunscrito. (Knobel, 1986; Braier, 1991). Alguns autores citam
ainda que o paciente deve sofrer de transtornos de início recente e agudo que
motivem o tratamento, a psicopatologia deve ser de caráter leve e circunscrito, ter
uma personalidade básica sadia, história de relações pessoais satisfatórias e estar
num momento propício. (Knobel, 1986; Braier, 1991).
5 OBJETIVOS
5.1 Geral
Identificar e analisar possíveis ganhos secundários inconscientes em adulto com
diagnostico de psoríase.
5.2 Específicos
1- Compreender a dinâmica psicossomática do adoente por meio da técnica
da psicoterapia breve;
2- Identificar associações possíveis entre a doença de pele ( somática) e
aspectos psicológicos presentes na historia de vida e dinâmica do paciente
6 MÉTODO
Trata-se de um estudo de caso clinico, constituído de um atendimento
psicoterápico de um único sujeito, o qual foi atendido em psicoterapia dinâmica
breve no Serviço de Psicologia Aplicada ILES/ULBRA.
Utilizou-se a pesquisa descritiva e explicativa, pois se pretendeu descrever
um fenômeno vivenciado pelo sujeito e explicar possíveis causas e propor uma
dinâmica de intervenção para o caso estudado.
O tipo de pesquisa que se classifica como "descritiva" tem por premissa
buscar a resolução de problemas, melhorando as práticas por meio da observação,
análise e descrições objetivas, por meio de entrevistas com peritos para a
padronização de técnicas e validação de conteúdo. Foi explicativa por tentar
Identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos
fenômenos, pois explicá-los, exige sua detalhada descrição (THOMAS et all, 2007).
O participante foi escolhido com base no perfil desejado para a pesquisa, pelo
processo psicoterápico, na linha de orientação psicanalítica com foco em
psicoterapia breve, pelo período de sete meses. Durante este período dados foram
colhidos por meio dos instrumentos como anamnese, entrevistas clínicas e
observação do comportamento, obtendo-se o Temo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
7 RESULTADOS
7.1 Ficha Catalográfica:
Sujeito: C.S.C
Sexo : Feminino
Idade: 27 anos
Escolaridade: ensino fundamental incompleto
Naturalidade: Porto Velho-RO
Queixa inicial: Diagnosticada por uma dermatologista com o quadro de
Psoríase, foi orientada pela médica a buscar ajuda psicológica por ser essa uma
doença de somatização e que não havia respondido ao tratamento ambulatório com
medicação.
Hipótese diagnostica ou psicodinâmica: Trabalhar o fortalecimento do
vinculo afetivo entre mãe e filha.
Objetivos: Alivio dos sintomas.
Foco: Dificuldade de sentir amada, simbiose com a mãe.
Início do atendimento: 01/04/2011
Termino do atendimento: 28/11/2011
Numero de sessões para entrevista inicial: 01 sessão
Numero de sessões realizadas com pais e familiares: 03 sessões com a
mãe.
Quantidade de sessões psicoterápicas: 30 sessões
Total de sessões realizadas: 34 sessões
7.1.1 Síntese das sessões
A pessoa analisada não mantém atividade profissional e reside com os pais.
Foi encaminhada para atendimento psicoterápico por Dermatologista, pois estava
com quadro de psoríase - doença de pele.
A Psoríase é uma doença de processo inflamatório da pele, considerada
benigna, crônica, relacionada a fatores genéticos. Para desencadear a doença é
necessária uma junção de fatores externos e internos. De acordo com dados do site
abcdasaude, no artigo intitulado “Psoríase”, 15% dos casos surgem antes dos dez
anos de idade. Vale ressaltar que a pele é particularmente propensa a doenças
psicossomáticas, tanto que a Dermatologista recomendou que sua paciente
procurasse atendimento psicológico para diminuição do quadro da doença, já que a
medicação não estava sendo suficiente para prognóstico do quadro.
Os atendimentos iniciaram no mês de abril indo até o mês de novembro, com
encontros semanais que totalizaram 30 sessões, tendo como queixa principal o
aumento das lesões na pele causada pela psoríase.
7.2 Histórico de vida e do processo do adoecer
A paciente e a terceira de três filhas, aparentemente mantém certo
distanciamento do pai, porém a mãe é extremamente amorosa, demonstrando certa
preocupação e tenta apaziguar seus pedidos de atenção passando longos períodos
com ela. As duas irmãs são casadas.
A paciente demonstrava muita ansiedade para os atendimentos, sempre
chegava meia hora antes e nunca faltou. Ela desenvolveu intensos apegos
transferenciais. Durante os atendimentos tudo que foi dito era voltado para o
desenvolvimento de um “pensamento clínico” que exige o estabelecimento de
relações e conexões entre aspectos do conteúdo, entre o conteúdo e o
comportamento da paciente.
Com relação aos sentimentos, identificou-se uma baixa autoestima. Na
ocasião do atendimento estava muito desanimada, tinha muito sono, dormia muito e
sentia uma tristeza profunda, tinha vontade de chorar. Tinha dificuldade de
concentração para leitura e televisão, não tinha atividades de lazer e não sentia
prazer em nada do que fazia.
Como sintoma físico apresentava manchas de coloração avermelhada nos
braços, comia pouco e relatou ter perdido cerca de dez quilos. Não se importava
com a aparência, nem com a saúde. Perguntada sobre seus problemas, recitou uma
série de queixas físicas, mas obstinadamente negava a relação com o psicológico.
Repetia em todos nossos encontros sobre uma amizade que teve por uma freira e
que chegou inclusive a convidá-la para ser sua madrinha de crisma, esta por sua
vez aceitou, porém depois de algumas semanas começou a rejeitá-la e, segundo o
relato da paciente, até mesmo a evitá-la. Sua frustração com a negativa começou a
manifestar-se na piora em seu quadro clínico de psoríase. Era visível que estava
acontecendo um deslocamento de afeto maternal para a freira em questão. A
paciente buscava estar nos mesmos locais que a religiosa, chegando a frequentar a
igreja todos os dias.
Havia na paciente um sentimento de rejeição muito presente que foi
aumentado com o distanciamento, sem explicação, da freira. Sentia-se também
rejeitada pela família, porque suas limitações como não gostar de estudar,
impediam que competisse com as pessoas bem sucedidas que a cercavam, então,
conseguia atribuir seus fracassos escolares a sua doença física – um primeiro
ganho do processo de adoecer.
Finalmente, a somatização realizava ainda outra função: era a única maneira
que a paciente conhecia de manter uma relação de objeto e, portanto de defender-
se contra uma severa ansiedade de separação e abandono pela mãe (WINNICOTT,
1949). Obtinha toda a atenção materna quando suas crises ocasionadas pela
psoríase eram mais fortes.
Respeitando a necessidade da paciente de preservar sua autoestima e de
organizar seu pensamento, foi explicado que sua doença tinha aspectos tanto
psicológicos quanto físicos. Começava um processo de ampliação do consciente
sobre os afetos inconscientes trabalhando-se o autoconhecimento.
Trabalhou-se com os déficits egóicos da paciente para que os mesmos
funcionassem como ego auxiliar (FIORINI, 2008). À medida que foi ganhando maior
controle sobre seus sintomas positivos, o foco do tratamento voltou-se para as
relações interpessoais perturbadas. Pela identificação projetiva (LAPLANCHE E
PONTALIS, 2000) a paciente tentava estabelecer o mesmo relacionamento que
gostaria de ter com sua mãe, dando início a uma nova forma de relações objetais a
internalizar.
O paradigma de relações objetais queixosa e abatida, vinculado a um objeto
indulgente, foi modificado pela experiência da paciente a partir de um novo objeto,
que cuidava dela e ao mesmo tempo impunha limites. A experiência com esse novo
objeto, por sua vez, acarretou mudanças na auto-representação da paciente,
levando a uma discussão de sua ansiedade e da separação materna.
A paciente começou a expressar preocupação de que na ausência de uma
figura cuidadosa, as suas necessidades básicas não seriam satisfeitas. Sua mãe
teve que ausentar-se durante seu crescimento, trabalhava o dia todo deixando-a aos
cuidados de outras pessoas.
Quando a paciente foi capaz de abordar esta e outras preocupações
psicológicas, os atendimentos começaram a ficar mais centralizados, com um bom
rendimento das capacidades egóicas da paciente, pois no início não conseguia
organizar seus pensamentos. Esta fase do atendimento também foi marcada pela
solidificação da aliança terapêutica, à medida que se desenvolveu a confiança, a
paciente começou a discutir profundos sentimentos de inferioridade no contexto
familiar. Embora suas irmãs tenham-se distinguido casando e tendo filhos, a sua
única distinção era a de sofrer de uma variedade de padecimentos que a impediam
de ter um sucesso semelhante.
Após encerramento do primeiro semestre, a clínica entraria em recesso,
assim também paralisaríamos os atendimentos por este período. Por necessidade
da paciente a mãe foi trazida até o consultório para que ela – a paciente, tivesse
certeza de que o tratamento continuaria após as férias. A mãe relatou um feedback
positivo no comportamento da filha e se colocou à disposição para o que precisasse.
Demonstrando estar presente hoje muito mais do que estaria antes. No retorno dos
trabalhos na clinica a paciente estava mais cuidadosa com sua aparência física e
mental, demonstrando isso na sua assiduidade nos encontros terapêuticos e com
boa capacidade para insight, demonstrando controle sob seus conflitos internos e
elaborado-os durante os atendimentos.
Dentro desse contexto, a paciente finalmente foi capaz de explorar uma gama
surpreendentemente ampla de sentimentos relativos a si mesma e ao seu lugar na
família e que realmente estava tentando obter um afeto maternal em relação à freira.
Diante deste novo contexto enfrentado, começou a ter uma melhora significativa em
seu funcionamento social, melhora na autoestima e aos poucos os principais
sintomas da doença foram também sendo disseminados com a melhora da paciente.
Ressaltando ainda que o trabalho em equipe cria um instrumento diagnóstico
valioso, pois quando o médico tem um olhar voltado também para o estado
emocional de seus pacientes, a busca pela melhora do quadro clínico terá seu
tempo reduzido. Por isso, justifica-se a importância da continuidade do tratamento
dermatológico com a psicoterapia.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo buscou compreender o processo dos ganhos inconscientes do
adoecer. Para isso realizou-se um estudo de caso focado em um processo de
tratamento psicoterápico de orientação psicanalítico com a técnica da psicoterapia
breve.
Nas primeiras sessões investigaram-se os sintomas da doença e a condição
histórico-familiar da paciente. Identificando a doença e o que levou a paciente até a
busca por psicoterapia, delimitou-se a atuação psicoterápica e a busca por uma
melhora no quadro.
Os ganhos secundarios da doença eram visíveis, o contato materno, a fuga
da comparação com as irmãs que eram – a seu ver – mais bem sucedidas que ela.
A necessidade de ser cuidada e tratada como doente era visível em sua fala e em
seu comportamento.
Após as sessões, a paciente conseguiu estabelecer um melhor contato com a
realidade e desenvolver um suporte egóico para superar seus conflitos e ter uma
melhor convivência com a família, sem a necessidade da doença.
Utilizadas todas as técnicas psicanalíticas cabíveis ao caso, principalmente a
escuta psicológica, houve uma melhora significativa nos sintomas e
conseqüentemente no comportamento da paciente.
A paciente conseguiu compreender que sua doença estava sendo estimulada
por fatores psicológicos e com a melhora eles sumiam. Isso trouxe para ela uma
segurança de autocontrole do seu corpo que era passado por outras áreas.
A presença da mãe já era real, seu vinculo afetivo estava cada dia mais
fortalecido, não necessitando de uma doença para que ela estivesse perto; a família
a compreendia e a amava, sem a necessidade de preencher o vazio causado pelo
desconhecimento de suas emoções. Tendo claro todos os ganhos que
anteriormente procurava com foco na doença, a paciente , conseguiu de forma
psicoterápica melhora em seu quadro doentio e ainda estabeleceu uma segurança
em sua vida social.
Este estudo alcançou todos os seus objetivos demonstrando que a
psicoterapia breve de orientação psicanalítica pode auxiliar na compreensão e
fortalecimento do paciente frente a um quadro psicossomático. Entre os fatores que
contribuíram para este resultado satisfatório destaca-se o estabelecimento de uma
aliança terapêutica positiva, a motivação da paciente e a orientação supervisionada
nos atendimentos. Acredita-se que são necessários mais alguns meses de
atendimento para poder esclarecer qual a profundidade das mudanças
proporcionadas pela psicoterapia a pacientes psicossomáticos, a fim de delimitar
mais especificamente quais as vantagens e desvantagens desta abordagem para
este tipo de quadro clínico. Teria o ego capacidade para manter esta mudança?
De uma forma imprevista e não programada cerca de 1 ( Um ) ano após o
encerramento do atendimento a terapeuta foi surpreendida em um local publico que
a chamou para relatar com entusiasmo a continuidade de sua melhora, sem o
retorno dos sintomas de pele, o que foi confirmado por sua mãe que estava ao seu
lado no momento.
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