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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI VALDECI RIBEIRO DA GAMA O ACESSO MIDIÁTICO DOS DEFICIENTES VISUAIS NA ERA DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS SÃO PAULO 2016

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

VALDECI RIBEIRO DA GAMA

O ACESSO MIDIÁTICO DOS DEFICIENTES VISUAIS NA

ERA DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS

SÃO PAULO 2016

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VALDECI RIBEIRO DA GAMA

O ACESSO MIDIÁTICO DOS DEFICIENTES VISUAIS NA

ERA DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS

Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Comunicação, área de concentração Processos Midiáticos na Cultura Audiovisual, Comunicação Contemporânea da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Ignês Carlos Magno.

SÃO PAULO 2016

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VALDECI RIBEIRO DA GAMA

O ACESSO MIDIÁTICO DOS DEFICIENTES VISUAIS NA

ERA DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS

Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Comunicação, área de concentração Processos Midiáticos na Cultura Audiovisual, Comunicação Contemporânea da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Ignês Carlos Magno.

Aprovado em ----/-----/-----

Profª. Drª. Maria Ignês Carlos Magno - UAM

Profª. Drª. Valéria Martin Valls – FESPSP

Prof. Dr. Vicente Gosciola - UAM

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AGRADECIMENTO

Neste breve agradecimento tentarei contemplar a todos que, de alguma

maneira, me ajudaram a concluir mais essa etapa da minha vida acadêmica.

O principal agradecimento eu dedico a minha mãe, aos professores do

programa, cada um com sua disciplina, se dedicaram para nos ensinar o que

aprenderam com sua experiência. Um agradecimento especial a minha orientadora

professora e doutora Maria Ignês Carlos Magno que conseguiu e teve paciência

para entender o meu propósito inicial e que sempre me ouviu e aconselhou em

todos os meus momentos de dúvidas e incertezas. Agradeço também a minha

querida corretora Vivian Augusto pela paciência e competência de ler e sugerir as

correções necessárias no trabalho. Por último á Coordenação de Aperfeiçoamento

de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de estudos do mestrado.

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RESUMO

Com tema “O acesso midiático dos deficientes visuais na era das tecnologias digitais”, o presente trabalho busca investigar e refletir a relação existente entre as tecnologias audiovisuais e o deficiente visual, bem como as possíveis transformações e mudanças decorrentes do despontar das tecnologias digitais contemporâneas destinadas ao deficiente visual. A pesquisa está centrada na relação das tecnologias audiovisuais e o deficiente visual através de investigações teóricas e empíricas, observando-se as principais ferramentas tecnológicas disponíveis para que o deficiente visual possa participar de forma igualitária desse mundo cada vez mais midiático e digital. Pesquisar a relação entre as tecnologias audiovisuais e o deficiente visual é descobrir as maravilhas que as tecnologias proporcionam ao ser humano com deficiência. Os métodos empregados no decorrer da investigação foram fundamentados tanto em observações empíricas como em considerações teóricas; as primeiras foram baseadas na constatação de fatos concretos a partir de observações, visitas, entrevistas e aplicação de questionários em três instituições da cidade de São Paulo, quais sejam, ADEVA (Associação de Deficientes Visuais e Amigos), Dorina Nowill e LARAMA; já as considerações teóricas se deram a partir de leituras e reflexões de autores que discutem e pesquisam sobre tecnologias audiovisuais, tais como Henry Jenkins, Hugo Münsterberg, Alvaro Vieira Pinto, Luís Simões Cunha, Pierre Lévy, André Lemos, Erick Felinto, Oliver Sacks, William Gibson, Marshall McLuhan, Jesús Martin Barbero, Jean Baudrillard, Manuel Castells, Steven Johnson, dentre outros. Os resultados alcançados a partir desse arcabouço demonstraram os avanços e ganhos tecnológicos que possibilitam ao deficiente visual participar de forma igualitária em um mundo midiático e digital. A pesquisa identificou ainda, as mudanças, transformações, sociabilidade e interatividade midiática ocorridas com o surgimento da cultura tecnológica digital com diferentes ferramentas disponível para o acesso do deficiente visual. Foi possível perceber também a importância dos sentidos restantes (audição, olfato, paladar e tato) e de elementos inerentes ao ser humano (atenção, memória, imaginação e emoções), bem como a necessidade de conectar estes elementos naturais a fim de obter resultados ainda melhores com o acesso às diferentes tecnologias audiovisuais. Com a conclusão da pesquisa, foi presumível compreender e entender toda a gama de possibilidade proporcionada pelos diferentes meios de comunicação audiovisual, entendendo assim o deficiente visual não como diferente - mas sim como igual.

Palavras-chave: Audiovisual. Deficiente visual. Tecnologia digital. Mediações digitais.

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ABSTRACT

With theme "The access media of the deficient ones visual in the era of the digital technologies", the present work search to investigate and to reflect the existent relationship between the audiovisual technologies and the deficient visual, as well as the possible transformations and current changes of blunting of the contemporary digital technologies destined to the deficient visual. The research is centered in the relationship of the audiovisual technologies and the deficient visual through theoretical and empiric investigations, being observed the main available technological tools so that the deficient look can participate in equalitarian form of that world more and more midiático and digital. To research the relationship between the audiovisual technologies and the deficient look is to discover the marvels that the technologies provide to the human being with deficiency. The employed methods in elapsing of the investigation were based in empiric observations and in theoretical considerations; the first ones were based on the verification of concrete facts starting from observations, visits, interviews and application of questionnaires in three institutions of the city of São Paulo, which are, ADEVA (Association of Deficient Visual and Friends), Dorina Nowill and LARAMA; already the theoretical considerations felt starting from readings and authors' reflections that discuss and they research on audiovisual technologies, such like Henry Jenkins, Hugo Münsterberg, Alvaro Vieira Pinto, Luís Simões Cunha, Pierre Lévy, André Read, Erick Felinto, Oliver Sacks, William Gibson, Marshall McLuhan, Jesús Martin Barbero, Jean Baudrillard, Manuel Castells, Steven Johnson, among others. The results reached to leave of that outline demonstrated the progress and technological earnings that make possible to the deficient look to participate in equalitarian form in a world midiático and digital. The research still identified, the changes, transformations, sociability and interatividade midiática happened with the appearance of the digital technological culture with different tools available for the access of the deficient visual. It was possible to also notice the importance of the remaining (audition, sense of smell, palate and touch) senses and of inherent elements to the human being (attention, memory, imagination and emotions), as well as the need to connect these natural elements in order to obtain results still better with the access to the different audiovisual technologies. With the conclusion of the research, it was presumably to understand and to understand the whole range of proportionate possibility for the different means of audiovisual communication, understanding like this the deficient look doesn't eat different - but yes as equal.

Word-key: Audiovisual. Deficient visual. Digital technology. Digital mediations.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 População de deficientes visuais no Brasil................................................35

Tabela 2 Os graus de comprometimento visual........................................................52

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Olhar e uma estrada. Extraídos da obra “Janela da Alma” (2001).............61

Figura 2 Arnaldo Godoy. “Janela da Alma” (2001)....................................................63

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Porcentagem de deficientes no Brasil........................................................68

Gráfico 2 Entrevistas .................................................................................................69

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ADEVA – Associação de Deficientes Visuais e Amigos

DORINA NOWILL – Fundação Dorina Nowill para Cegos

LARAMARA – Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual

OMS – Organização Mundial da Saúde

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10

1. UM OLHAR SOBRE AS TECNOLGIAS DIGITAIS PARA O DEFICIENTE VISUAL. ........................................................................................................ 15

1.1. Cultura, técnica e tecnologia ..................................................................... 17

1.2. A internet na história comunicacional ....................................................... 22

1.3. As mudanças culturais na era da internet ................................................. 23

1.4. Vivendo na/com tecnologia audiovisual .................................................... 27

2. A SOCIABILIDADE E A INTERATIVIDADE MIDIÁTICA NO AUDIOVISUAL PARA O ACESSO DO DEFICIENTE VISUAL ............................................. 32

2.1. Deficiência visual no Brasil ....................................................................... 33

2.2. O deficiente visual no mundo digital ......................................................... 35

2.3. A rede e o movimento social .................................................................... 41

2.4. O desafio da modernidade em transformação ............................................ 44

3. VIVENDO COM AS TECNOLOGIAS: Um estudo das instituições ADEVA, Dorina Nowill e LARAMARA ......................................................................... 48

3.1. Trabalhando com tecnologias audiovisuais .............................................. 50

3.2. A atenção, a memória, a imaginação e as emoções na vida do deficiente visual ........................................................................................................ 55

3.3. Mediação da midiatização digital ............................................................. 62

3.4. Breves dados da pesquisa empírica...........................................................67

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 74

APÊNDICE .............................................................................................. ........81

ANEXO...............................................................................................................92

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INTRODUÇÃO

Com tema “O acesso midiático dos deficientes visuais na era das tecnologias

digitais”, o presente trabalho busca investigar e refletir a relação existente entre as

tecnologias audiovisuais e o deficiente visual, bem como as transformações e

mudanças decorrentes do despontar das tecnologias digitais contemporâneas

destinadas ao deficiente visual. A pesquisa está centrada nas investigações teóricas

e empíricas, observando-se as principais ferramentas tecnológicas disponíveis para

que o deficiente visual possa participar de forma igualitária desse mundo cada vez

mais midiático e digital. Pesquisar sobre a relação entre as tecnologias audiovisuais

e o deficiente visual é descobrir as maravilhas que as tecnologias proporcionam ao

ser humano com deficiência visual.

O desejo de pesquisar sobre tecnologias audiovisuais e deficientes visuais

vem de alguns anos atrás, quando estava desenvolvendo a monografia de

conclusão da graduação. Depois, continuei os estudos na especialização, na qual

pesquisei sobre tecnologia audiovisual e escolas públicas. Assim que finalizei essa

pesquisa, comecei a dedicar um tempo a fim de aprofundar as leituras e investigar

mais a fundo as tecnologias disponíveis para deficientes visuais. Em outro momento,

dediquei tempo em buscas de conteúdos pela internet e pesquisas de bibliografia

sobre o tema da pesquisa em bibliotecas da UFRGS, UNISINOS, PUC-SP, PUC-RS,

UAM e em Bibliotecas Virtuais; a pesquisa foi realizada também via internet e em

sítios especializados em estudos sobre novas tecnologias, comunicação tecnológica

audiovisual e deficiência visual.

Posteriormente, fiz algumas visitas em escolas, universidades e institutos que

trabalham - direta ou indiretamente - com portadores de deficiência visual. O objetivo

de tal atividade era ter maior contato e levantar dados junto a instituições que já vêm

trabalhando o desenvolvimento do deficiente visual junto às tecnologias

contemporâneas.

Em outra fase, já no mestrado, aprofundei a pesquisa com visitas e

observações empíricas concentradas em algumas instituições que trabalham

diretamente com os deficientes visuais no município de São Paulo; visitei algumas

vezes as instituições LARAMARA, Dorina Nowill e ADEVA (Associação de

Deficientes Visuais e Amigos).

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A justificativa para se pesquisar a relação entre tecnologia audiovisual e

deficiente visual é algo que surge do desejo e da preocupação em perceber que o

deficiente visual possui as mesmas capacidades de uma pessoa com visão. A partir

da pré-observação, tanto em escolas, como em universidades e institutos, foi

possível perceber que, para muitos deficientes, a perda da visão acaba se

transformando, muitas vezes, em um estímulo para os demais sentidos, ou seja,

para superar, assim, a deficiência.

Os métodos empregados no decorrer da investigação foram fundamentados

em observações empíricas e considerações teóricas. As observações empíricas

foram baseadas na constatação de fatos concretos a partir de análises, visitas,

entrevistas e aplicação de questionários em três instituições da cidade de São Paulo

(ADEVA, Dorina Nowill e LARAMA); as considerações teóricas se deram a partir de

leituras e reflexões de autores que discutem e pesquisam sobre tecnologias

audiovisuais, tais como Henry Jenkins, Hugo Münsterberg, Alvaro Vieira Pinto, Luís

Simões Cunha, Pierre Lévy, André Lemos, Erick Felinto, Oliver Sacks, William

Gibson, Marshall McLuhan, Jesús Martin Barbero, Jean Baudrillard, Manuel Castells,

Steven Johnson, dentre outros.

Marshall McLuhan, por exemplo, acredita que foi por meio da tecnologia da

escrita que o homem trocou os ouvidos pelos olhos: o alfabeto praticamente

habituou a romper o círculo mágico e encantado, sonoro, do mundo tribal.

(MCLUHAM, 1964, p. 161). Mas, para o deficiente visual, a evolução tecnológica

digital devolveu a oportunidade de ver de outra forma, rompendo uma barreira que a

perda da visão traz, dando assim, liberdade e autonomia ao deficiente.

A partir do início da revolução digital, a comunicação entre os homens tem

sofrido inúmeras transformações, desde a criação de novos canais comunicacionais

até mudanças nas linguagens de alguns meios preexistentes; tais interferências só

ocorrem devido aos diversos fatores intrínsecos ao meio digital. Talvez, para o

homem com deficiência visual não seja diferente, ele, por sua vez, convive com

todas essas transformações e acaba sendo bem mais afetado por tais tecnologias

do que o homem que possui visão perfeita.

Para Oliver Sacks, “o mundo não nos é dado: construímos o nosso mundo

através de experiência, classificação, memória e reconhecimentos incessantes”.

(SACKS, 1995, p. 129). Na verdade, o autor assegura que, em um mundo cada vez

mais tecnológico, a imagem, a fotografia, a computação gráfica e a comunicação

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visual vão se tornando cada vez mais predominante, sendo que, pode-se concluir, a

cultura do ver é fator que predomina amplamente. Pode-se ainda afirmar,

claramente, que a acessibilidade à internet é a flexibilidade do acesso à informação,

bem como a interação dos usuários que possuem algum tipo de deficiência ou

necessidade especial, no que se refere aos mecanismos de navegação e

apresentação das páginas, operação de softwares, hardwares e adaptação de

ambientes e situação. (WORLD WIDE WEB CONSORTIUM, 2002). Atualmente,

existem vários softwares que auxiliam o DV a ter acesso ao ciberespaço, tais como

Dosvox, Virtual Vision e Jaws, só para citar os mais utilizados. Portanto, assim como

a internet é um mundo para os videntes, também o é para os deficientes visuais.

O desenvolvimento das tecnologias digitais e a grande quantidade de redes

interativas - quer queira, quer não - coloca a humanidade diante de um caminho sem

volta. As práticas, as atitudes, os modos de pensamento e os valores estão, cada

vez mais, sendo condicionados pelo novo espaço de comunicação que surge da

interconexão mundial de computadores.

Um dos meios de comunicação mais marcantes do século XXI, sem dúvida,

são os computadores; é principalmente através deles - isto é, por meio da internet -

que a evolução tecnológica digital ganha cada vez mais força na sociedade

contemporânea. Diante dessa evolução social e tecnológica, é possível assegurar

que, no início da popularização da internet, esta já tinha sua importância para os

mais diferentes usuários. Clark James (1999) afirma que a internet tem sua

flexibilidade porque facilita o acesso às diversas informações e diferentes interações

para quaisquer pessoas que tenham tipos de deficiência ou necessidades especiais.

Quanto à questão da navegação, é claramente possível que softwares, hardwares,

websites, portais, apps, smartphones, tablets e muitos outros dispositivos sejam

adaptáveis para o uso da pessoa com diferentes tipos de deficiência visual. Como se

pode observar, James escreveu sobre a internet bem no início de sua popularização.

É, portanto, esse desejo de compreender a inserção do deficiente visual não

como diferente, mas sim como igual, que move a presente pesquisa no que

concerne a esta relação cada vez mais estreita do deficiente visual com as novas

tecnologias. E assim, foi possível elaborar os capítulos da presente dissertação.

No primeiro capítulo são feitas considerações e observações acerca dos

deficientes visuais e das tecnologias digitais, apresentando - de forma geral e

sintética - uma breve apreciação histórica das tecnologias digitais, para que assim

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seja possível compreender, de modo mais amplo, as principais vantagens das

eventuais mudanças para o homem com deficiência visual. Também são

apresentados os esclarecimentos teóricos e as referências, bem como quais autores

pautam as definições que permeiam o presente trabalho, ou seja, principalmente os

conceitos que transpassam esta pesquisa, quais sejam: conceitos de cultura e

técnica e tecnologia para os deficientes visuais.

No segundo capítulo, a ênfase é dada ao tema proposto para a pesquisa, ou

seja, o de ponderar e refletir acerca da sociabilidade e interatividade midiática do

audiovisual (computadores, smartphone e internet) para acesso do deficiente visual.

Destaca-se ainda a vida do deficiente visual no mundo digital bem como qual a

importância da rede mundial de computadores nesta transformação social. Tendo

sido observado, no capítulo anterior, a evolução das tecnologias no decorrer da

história, o objetivo do segundo capítulo é mostrar - a partir de observações sobre a

realidade dos deficientes visuais no Brasil - e explicitar de forma concisa, as

percepções, sensações e emoções provocadas pela sociabilidade e interatividade

midiática especificamente para o universo do deficiente visual, o qual se encontra

inserido neste novo contexto digital.

No terceiro e último capítulo, o destaque se dá no aprofundamento acerca de

como os deficientes visuais convivem com as mais diversas tecnologias que têm

surgido, principalmente, os chamados gadgets (dispositivos eletrônicos portáteis

como celulares, smartphones e tablets). Também são feitos esclarecimentos

detalhados da pesquisa empírica, bem como suas transformações tecnológicas e

suas consequências para as pessoas com deficiência visual, dando assim um

enfoque à relação do deficiente visual com o audiovisual através de seus principais

sentidos - olfato, audição, tato, paladar - e relacionando tais sentidos com pesquisa

elaborada por Hugo Münsterberg (1916) sobre atenção, memória, imaginação e as

emoções, que são elementos essenciais para o desenvolvimento de uma vida mais

profícua para o deficiente visual; por último, discutiu-se a importância do

aguçamento dos sentidos - por parte do deficiente visual -, elemento este ilustrado

pelos entrevistados no documentário “Janela da Alma” (2001). Deste modo, foi

possível avaliar, por meio da pesquisa teórica e empírica, as transformações

tecnológicas e as consequências para esse público específico, bem como refletir

acerca do papel das mídias digitais na realidade comunicacional dos deficientes

visuais da cidade de São Paulo.

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Nas considerações finais do presente estudo, foi possível perceber - através

das pesquisas teóricas e empíricas feitas em três instituições da cidade de São

Paulo que trabalham diretamente com tecnologia para deficientes visuais (ADEVA,

Dorina Nowill e LARAMARA), pela pesquisa elaborada por Hugo Münsterberg sobre

atenção, memória, e emoções e imaginação e pela importância do aguçamento dos

sentidos no uso das tecnologias para o deficiente visual - que estes são elementos

essenciais para o desenvolvimento de uma vida mais profícua para o deficiente

visual. Notou-se ainda que os avanços e ganhos tecnológicos possibilitam ao

deficiente visual participar de forma igualitária deste mundo cada vez mais midiático

e digital; foi possível perceber também as mudanças, transformações, sociabilidade

e interatividade midiática ocorridas com o surgimento da cultura tecnológica digital

para o deficiente visual. Deste modo, pôde-se compreender e ver o deficiente visual

não como diferente - mas sim como igual.

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1. UM OLHAR SOBRE AS TECNOLOGIAS DIGITAIS PARA O DEFICIENTE

VISUAL

Em um mundo em constantes transformações, é adequado que as

denominações de algo aparentemente novo se tornem conceitos concretos; no

entanto, com a atual velocidade da evolução tecnológica, é quase natural que alguns

conceitos já consolidados se modifiquem ou até mesmo percam seu sentido e se

tornem desnecessários.

O termo “conceito”, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é a

representação mental de um objeto abstrato ou concreto, que se mostra como um

instrumento fundamental do pensamento em sua tarefa de identificar, descrever e

classificar os diferentes elementos e aspectos da realidade. Atualmente, conceitos e

termos são cada vez mais difíceis de se precisar, mesmo partindo-se da base

linguística.

Uma das dificuldades em se definir conceitos se dá em relação aos nomes e

palavras novas que surgem a todo o momento para denominar uma nova cultura

tecnológica. De acordo com o pesquisador Erick Felinto (FELINTO, 2011), ainda não

se dispõe de um vocábulo adequado para dar conta das questões prementes da

cultura e da sociedade na presente situação. Para se definir a sociedade cultural, já

foram utilizados vários conceitos, mas à medida que o tempo passa, esses conceitos

se perdem ou até mesmo perdem o sentido, ou ainda, não conseguem mais abarcar

o que a cultura atualmente é de verdade. O advento das novas tecnologias da

informação e comunicação fez emergir expressões como cibernética, cibercultura,

tecnologia da informação, cultura tecnológica, cultura virtual, cultura da mídia e

cultura digital, entre outras.

Atualmente, os termos e conceitos surgem quase que com a mesma

velocidade com a qual são criadas novas tecnologias. Há pouco tempo, o conceito

de cibercultura estava em voga, no entanto, alguns pesquisadores – tais como Lev

Manovich e Siegfried Zielinski - fazem questão de afirmar que este já é um termo

superado por várias razões, uma delas é exatamente a falta de necessidade de

abarcar o atual momento vivido pela sociedade em relação às tecnologias; vive-se

quase sempre em transição de termos, ou melhor, vive-se sempre transitando entre

termos novos os quais já não conseguem abarcar o todo, mas que apenas

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denominam um momento vivido pela sociedade tecnológica do século XXI, sendo

que o mesmo ocorre também com vários conceitos já citados.

Estes conceitos tecnológicos não desaparecem como um todo, mas aos

poucos, gradualmente, são adaptados e apropriados pelas culturas sociais. Tais

processos se deram, nos últimos anos, de forma bastante acelerada; seja para o

homem vidente (que não possui deficiência visual), seja para aquele que possui

algum nível de deficiência visual.

Atualmente, talvez se possa chamar a cultura contemporânea de cultura

tecnológica digital; essa recente cultura deu um novo sentido para a sociedade

contemporânea, qual seja, o sentido de interatividade compartilhada, de

conectividade e universalidade.

Para o deficiente visual, as transformações, as modificações e as adaptações

das tecnologias foram avanços significativos para que muitos se tornassem

independentes, adquirindo assim, uma liberdade sem precedência na história de

vida do deficiente. Desde a criação do sistema Braille – isto é, em 1825, o qual foi

um marco, uma importante conquista para a educação e para a integração dos

deficientes visuais na sociedade até os dias atuais –, as descobertas tecnológicas

favorecem uma fundamental transformação na vida do deficiente visual.

Os conceitos de cultura, técnica e tecnologia definidos no decorrer da história

talvez não tenham tido diretamente muita importância e impacto no mundo do

deficiente visual. Contudo, o sentido significativo atribuído aos termos de uma nova

cultura social conectada com autonomia e liberdade foi de total importância para

que, atualmente, o deficiente pudesse “ver” o mundo por outra perspectiva.

Deste modo, no presente trabalho, em seu primeiro capítulo, são feitas

considerações e observações acerca dos deficientes visuais e tecnologias digitais,

bem como é apresentada - de forma geral e sintética - uma brevíssima apreciação

histórica das tecnologias digitais, para que assim seja possível compreender, de

modo mais amplo, as principais vantagens das eventuais mudanças para os

indivíduos com alguma deficiência visual. No segundo capítulo, dar-se-á ênfase ao

tema proposto para esta pesquisa, ou seja, o de ponderar e refletir acerca da

sociabilidade e interatividade midiática audiovisual (computadores e internet) para o

acesso do deficiente visual; no terceiro e último capítulo, o destaque se dá no

aprofundamento acerca de como os deficientes visuais convivem com as mais

diversas tecnologias que têm surgido, principalmente, os chamados gadgets

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(dispositivos eletrônicos portáteis como celulares, smartphones e tablets). Assim,

será possível avaliar – através da pesquisa teórica e empírica – as transformações

tecnológicas e as consequências para esse público específico, bem como refletir

acerca do papel das mídias digitais na realidade comunicacional dos deficientes

visuais da cidade de São Paulo.

1.1 Cultura, técnica e tecnologia

É importante deixar claro, de forma breve, os esclarecimentos e as

referências de como se compreende e em quais autores se está pautando as

definições que permeiam a presente pesquisa, e principalmente, os conceitos que a

transpassarão, quais sejam, os de cultura, técnica e tecnologia no que concerne aos

deficientes visuais.

O primeiro conceito abordado é o de cultura; atualmente, suas definições são

múltiplas e, às vezes, contraditórias. Partindo deste pressuposto, a fim de que se

entenda melhor o conceito, tomar-se-á a definição de cultura expressa por Edward

Tylor, bem como algumas considerações de Clifford Geertz, as quais mais se

aproxima do trabalho abordado nessa pesquisa.

O termo cultura surgiu em 1871 (LARAIA, 1986) como síntese dos termos

Kultur e Civilisation. Este último, termo francês que se referia às concretizações

materiais de um povo; aquele, termo alemão que simbolizava os aspectos espirituais

de uma comunidade1. Neste mesmo ano, Edward Tylor os sintetizou no termo

inglês Culture; com isso, Tylor envolve, em uma só palavra, todas as efetivações

humanas bem como afasta a ideia de cultura como uma disposição inata,

perpetuada biologicamente.

Deste modo, o primeiro conceito etnográfico de cultura da maneira como é

utilizado atualmente surgiu com Tylor, que a entendia como “um todo complexo que

inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra

capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”.2

Como complemento ao conceito expresso por Tylor, Jaques Turgot registrou

que o homem é detentor de um tesouro de signos e que tem a capacidade de

multiplicá-los de forma infinita, de retê-los, de comunicá-los e transmiti-los aos

1 LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Zahar. Rio de Janeiro, 1986, p. 25. 2 Idem

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descendentes como herança3. Ou seja, em outras palavras, cultura é tudo aquilo que

é produzido pela humanidade, seja no plano concreto ou no plano imaterial, desde

artefatos e objetos até ideais e crenças.

Uma definição mais próxima daquela que se pretende no presente trabalho foi

dada por Geertz (1978), o qual acreditava que a cultura nunca é igual, é sempre

uma recriação; o ser humano expressa no dia a dia sua experiência vivida. Tal autor

asseverava que as especificidades são complexas, possuem um caráter único e as

generalizações devem ser feitas com critérios. A fim de compreender o que o ser

humano faz, é necessário entender uma ação dentre várias outras e localizá-la,

caracterizá-la. No estudo da cultura, a tarefa essencial da construção teórica é tornar

possíveis descrições minuciosas, não generalizar através dos casos, mas

generalizar dentro deles.

Desta forma, Geertz recupera o conceito de Max Weber, o qual afirma que o

homem é um ser amarrado em teias de significados que ele próprio teceu. A cultura

é, portanto, uma ciência interpretativa, em busca do significado (GEERTZ, 1978,

p.15). A cultura tem esta dinamicidade constante que está em transformação

contínua.

O próximo conceito a ser trabalhado é a “tecnologia”, a qual é frequentemente

usada por pessoas das mais diversas áreas do conhecimento e, muitas das vezes,

com propósitos divergentes. Sua importância para a apreensão dos problemas da

realidade atual cresce em razão, precisamente, de seu amplo e indiscriminado

emprego, o que a torna ao mesmo tempo essencial e confusa.

O conceito explicitado por Álvaro Viera Pinto (2005)4 parece bastante

relevante para o enfoque que o presente trabalho propõe. Sobre tecnologia Pinto

destaca quatro conceitos que se relacionam, mas será trabalhado aqui apenas três

deles, pois estes se complementam e se completam. No primeiro conceito, o

significado é etimológico, a “tecnologia” tem de ser a teoria, a ciência, o estudo, a

discussão da técnica, os modos de produzir alguma coisa; no segundo, “tecnologia”

equivale pura e simplesmente à técnica. Como se pode perceber, este último está

ligado ao primeiro conceito; já o terceiro, é entendido como o conjunto de todas as

técnicas de que dispõe uma determinada sociedade, em qualquer fase histórica de

3 Idem 4 PINTO, Álvaro Vieira. O Conceito de Tecnologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005, p. 219-221.

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seu desenvolvimento. Em tal caso, aplica-se tanto às civilizações do passado quanto

às condições vigentes modernamente em qualquer grupo social (PINTO, 2005).

Por último, uma tentativa de esclarecer a técnica moderna. Técnica não é um

termo simples de ser definido, mas pode-se afirmar, de uma forma não tão

aprofundada, que uma definição ampla de técnica seria: um procedimento que tem

como objetivo a obtenção de um determinado resultado, seja na ciência, seja na

tecnologia, na arte ou em qualquer outra área, tendo no homem a vontade de

transformar seu ambiente.

Contudo, para uma definição mais concreta e específica, o presente trabalho

será permeado pelas observações da técnica moderna consoante Heidegger. Em

seu pensamento sobre a questão da técnica, o filósofo oferece ferramentas que

permitem pensar a tecnologia na sociedade contemporânea em sua relação com a

natureza, com o mundo, com os objetos e, inclusive, com os próprios elementos

tecnológicos vigentes.

Franscico Rüdiger (2006), ao discutir a questão da técnica heideggeriana,

apresenta um breve conceito de técnica, qual seja:

A técnica é o movimento essencial que faz surgir algo e sua essência está em revelar à percepção esse movimento no próprio momento de aparição; é o conhecimento em ato da relação entre o que se revela e o que ainda está velado ou encoberto. A expressão, originalmente, “não significa, portanto, um tipo de atividade entendido como finalização da produção, mas o preparo e a prontidão de cada dimensão do desencobrimento”. Significa a prontidão do âmbito sempre diverso em que algo se revela, esse âmbito no qual é produzido, via técnica, se revela e se coloca no interior dessa esfera. (RÜDIGER, 2006, p. 79).

Segundo Rüdiger, na modernidade o homem coloca toda sua confiança na

ciência visando à solução de seus problemas de forma direta. Concernente à

concepção de Heidegger, a técnica moderna é:

[...] um meio inventado e produzido pelos homens, isto é, um instrumento de realização de fins industriais, no sentido mais lato, propostos pelo homem. A técnica moderna é, enquanto instrumento em questão, a aplicação prática da ciência moderna da natureza. A técnica industrial fundada sobre a ciência moderna é um domínio particular no interior da civilização moderna. A técnica moderna é a continuação progressiva, gradualmente aperfeiçoada, da velha técnica artesanal segundo as possibilidades fornecidas pela

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civilização moderna. A técnica moderna exige, enquanto instrumento humano assim definido, ser igualmente colocada sob o controle do homem e que o homem se assegure do domínio sobre ela assim como da sua própria fabricação. (HEIDEGGER, 1999, p. 15-16).

Heidegger observa duas formas na questão da técnica moderna. A primeira, é

que a técnica se constitui como um instrumento de realizações gerais proposto pelo

homem em sua relação com a natureza; a segunda, é a aplicação, na prática, da

ciência moderna da natureza fundada sobre um domínio da sociedade moderna. O

autor complementa:

Seria insensato investir às cegas contra o mundo técnico. Seria ter vistas curtas querer condenar o mundo técnico como uma obra do diabo. Estamos dependentes dos objetos técnicos que até nos desafiam a um sempre crescente aperfeiçoamento. Contudo, sem nos darmos conta, estamos de tal modo apegados aos objetos técnicos que nos tornamos seus escravos. (HEIDEGGER, 1959, p. 23).

Heidegger acreditava que a pergunta “O que é a técnica?” não deve nunca

estar separada da indagação “O que é o homem?”, tendo em vista que o elemento

“tecnologia” é baseado na cultura, no conhecimento humano e na dimensão

simbólica. O homem e a técnica interagem na dialética que existe em ambos; com

isso, percebe-se que a técnica está no homem e na sua interação com o mundo.

A preocupação maior de Heidegger no que concerne à técnica moderna é a

inquietação de notar que, aos poucos, a técnica pode se tornar maior que o ser

humano e, assim, nossa consciência vai se tornando, paulatinamente, sua serva; tal

fato impossibilitaria negociar com ou contra ela, de modo que nos tornaríamos seus

reféns.

O que é distintivo na técnica moderna é que ela não é mais um mero meio e não está mais apenas a serviço de algo externo. O distintivo é o fato dela ser em si mesma o desdobrar de um tipo de dominação que lhe é intrínseco. A técnica moderna requer ela mesma para si mesmo desenvolvimento intrinsecamente a sua própria forma de disciplina e sua própria forma de percepção imperiosa. (RÜDIGER, 2006)5.

5 HEIDEGGER, Martin. Hölderlin’s hymn ister, (1942), bloomington: IUP, 1996, p. 44. In: RÜDIGER, Francisco. Martin Heidegger e a questão da técnica: Prospectos acerca do futuro do homem. Porto Alegre: Sulina, 2006, p. 158.

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Para Heidegger, a questão não seria tentar dominar a técnica ou colocá-la a

nosso serviço, mas compreender que sua essência remete ao nosso próprio modo

de ser e que, assim como pode reduzir a sua maneira de pensamento, pode também

constituir, com ela, uma relação mais aberta, expandindo-se a outros modos de ser.

Todas essas definições têm, atualmente, uma importância direta nas

tecnologias modernas desenvolvidas para o deficiente visual. Deste modo, com

esses conceitos definidos, a preocupação primordial seria relatar acerca de algumas

tecnologias que no decorrer da história tiveram alguma importância para o

desenvolvimento de novas ferramentas destinadas ao homem deficiente visual.

Uma das importantes técnicas no transcorrer da história foi a escrita; com seu

desenvolvimento, novas formas de transmissão de informações foram criadas e um

dos fatores novos foi que, a partir de então, a história pôde ser registrada em

detalhes e as informações podiam “viajar” mais facilmente, sem necessitar da

presença física.

Para enviar mensagens a lugares distantes, o homem se utilizava de vários

meios, como por exemplo: havia a utilização de pombos-correios, telégrafo (código

Morse)6, entre outros. Na Idade Média, os arautos do rei liam as mensagens em

praça pública; tempos depois, foi criado o correio, que durante muito tempo foi uma

das formas mais eficazes de se vencer as distâncias.

Um dos mais importantes passos na história da comunicação foi dado por

Antônio Meucci7 que, no final do século XIX, inventou um aparelho com o qual era

possível se comunicar, sendo que as pessoas podiam falar e ouvir a resposta no

mesmo instante; tal aparelho ficou conhecido mundialmente como telefone. Neste

momento, abria-se um novo canal tecnológico de comunicação a distância para o

deficiente visual. Os primeiros aparelhos telefônicos eram - se vistos pela ótica do

homem moderno - um pouco estranhos, dado que eram grandes e pesados, mas

com o tempo foram evoluindo; ultimamente, os mais recentes aparelhos de telefones

são chamados de (smartphone) e é possível não apenas falar com outra pessoa,

mas também enviar documentos através de fax, tirar fotos, escutar músicas, falar e

se ver em tempo real, acessar à internet, GPS (Global Positioning System), Apps

6 Foi Samuel Morse quem inventou o telégrafo. 7 O trabalho de Meucci foi reconhecido postumamente, em 11 de junho de 2002, quando o Congresso dos Estados Unidos aprovou a resolução n° 269, a qual estabelecia que o inventor do telefone fora, na realidade, Antonio Meucci e não Alexander Graham Bell.

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(Applications) entre outras centenas de possibilidade que um aparelho do tipo

smartphone pode proporcionar ao seu usuário.

Outra invenção muito importante foi o rádio, pois músicas e mensagens

podiam ser enviadas através de ondas invisíveis no ar; já o aparelho de televisão foi

popularizado no século XX, transmitindo simultaneamente som e imagem, sendo

que faz parte do dia a dia da maioria das pessoas. Atualmente, é possível contar

com a ajuda de satélites, que retransmitem mensagens e comunicações por todo o

mundo.

1.2 A Internet na história comunicacional

A rede mundial de computadores, ou simplesmente internet, surgiu em plena

Guerra Fria; fora criada inicialmente com objetivos militares, como uma das formas

de as Forças Armadas norte-americanas manterem a comunicação em caso de

ataques inimigos que destruíssem os meios convencionais de telecomunicações.

Nas décadas de 1970 e 1980, além de ter sido utilizada para fins militares, a internet

também foi, no início, um importante meio de comunicação acadêmico, haja vista

que estudantes e professores universitários, principalmente dos Estados Unidos,

trocavam conhecimento, mensagens e descobertas através das linhas da rede

mundial.

Foi somente no ano de 1990 que a internet começou a alcançar a população

em geral; dois anos antes, o engenheiro inglês Tim Bernes-Lee desenvolveu a World

Wide Web, possibilitando a utilização de uma interface gráfica e a criação de sites

mais dinâmicos e visualmente mais interessantes. A partir desse momento, a

internet cresceu em ritmo acelerado, com um desenvolvimento vertiginoso; muitos

afirmam ter sido a maior criação tecnológica depois da televisão, na década de

1950.8

A década de 1990 tornou-se propriamente a era de expansão da internet;

surgiram vários navegadores (os chamados browsers) como, por exemplo, o Internet

Explorer da Microsoft e o Netscape Navigator. O surgimento acelerado de

provedores de acesso e de portais de serviços online também contribuíram

8 ERCÍLIA, M. A Internet (Coleção Folha Explica). São Paulo: Publifolha, 2000; FONSECA FILHO, Cléuzio. História da Computação: o caminho do pensamento e da tecnologia. Editora EDPUCRS, 2007. 205 p.

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enormemente para este célere crescimento, sendo que a internet passou a ser

utilizada por vários segmentos sociais. Dez anos depois, a internet se transforma

também em uma ferramenta para o entretenimento e diversão, como por exemplo,

os sites de games; as salas de chat se tornaram pontos de encontro para um bate-

papo virtual a qualquer momento. Também desempregados iniciaram a busca por

vagas através de sites de agências ou mesmo enviando currículos via e-mail. As

próprias empresas descobriram que a internet poderia ser um extraordinário

caminho para melhorar seus lucros, e assim, as vendas online dispararam,

transformando a internet em verdadeiros shoppings centers virtuais.

Atualmente, todas as atividades realizadas parecem depender de algo

associado à rede mundial de computadores, a qual tomou parte dos lares das

pessoas do mundo todo, haja vista que estar conectado à rede mundial passou a ser

uma necessidade de extrema importância aos indivíduos.

1.3 As mudanças culturais na era da internet

Há algum tempo, a palavra cibercultura foi denominada como uma subcultura

e, logo depois, como uma “nova” cultura que emergiu do uso de computadores para

a comunicação, entretenimento, educação e negócios. É difícil definir os limites da

abrangência da palavra cibercultura, uma vez que o termo usado é flexível e seu

emprego em determinadas circunstâncias específicas pode ser controverso.

Geralmente, aplica-se às culturas denominadas por comunidades online, mas

também se estende a uma gama ampla de assuntos relativos a "cibertópicos", como

por exemplo: cibernéticas, informática, internet e a revolução digital.

Basicamente, pode se afirmar que a cultura tecnológica cerca o “humano-

máquina” em níveis sociais e culturais, abrangendo o que era popularmente

conhecido como ciberespaço. Atualmente, esse espaço é quase inexistente, visto

que estamos quase sempre conectados.

Numerosos conceitos dessa “nova” cultura foram formulados por autores

diversos, tais como Lev Manovich, Pierre Lévy, Margaret Morse, Arturo Escobar,

André Lemos, entre outros.

Desde o princípio dos anos 60 até a primeira metade dos anos 90, essa

“nova” cultura tecnológica produziu prontamente suas próprias representações de

um mundo cheio de informação avançada e de tecnologias de comunicação.

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De acordo com esse espírito, Arturo Escobar define cibercultura (ESCOBAR,

1994) tendo como pano de fundo as novíssimas tecnologias, em especial, as

relacionadas à comunicação digital, à realidade virtual e à biotecnologia.9 A natureza

dessa definição faz com que a cibercultura seja considerada a partir da perspectiva

da análise da tecnologia, passando a abranger os fenômenos associados às novas

tecnologias de ponta e à nova "tecnologia intelectual" engendrada pelo computador.

Tal definição pode ser pensada em relação a Neuromancer, uma das

principais obras fictícias que discute acerca a realidade virtual; nesta ocasião, o

desenrolar ocorre tanto na vida "real" como na realidade virtual criada pelos

computadores envolvidos na trama. Vários personagens possuem seus corpos

alterados e "hiper-realizados" por implantes artificiais, tanto de natureza biológica

quanto eletrônica, mas também mista. Durante a ação, os personagens entram em

contato com drogas de fácil aplicação e de efeitos imediatos, as quais oferecem

novos estados de consciência e de percepção. Neuromancer, dessa forma, delineia

o retrato de um futuro no qual a vida humana é fortemente permeada pela

intervenção da tecnologia, e a questão da identidade individual passa a ser,

exacerbadamente, um ato de escolha, de determinação pessoal e, principalmente,

de consumo.

As raízes da cultura tecnológica são basicamente oriundas de outras culturas;

nesse contexto, o significado da cultura tecnológica era a ideia de uma civilização de

informação, ou seja, uma cultura na qual a informação fosse o objeto importante, se

não o mais vital, tal como se pode notar na cultura global moderna da sociedade

atual, testemunhada pelo poder, popularidade e proeminência de conglomerados

como a CNN, Rede Globo, BBC etc.; quando os indivíduos se referem a uma

sociedade de informação, estão aludindo, de fato, à cultura cibernética.

A conexão simultânea dos atores da comunicação em uma mesma rede traz

uma relação totalmente nova entre os conceitos de contexto, espaço e

temporalidade. Do horizonte do eterno retorno das narrativas e da linearidade das

culturas letradas, passa-se a uma percepção do tempo como sendo mais do que

linhas lineares, como pontos ou segmentos da imensa rede pela qual se movimenta;

vive-se em um ritmo de velocidade pura. Para Lévy, não há horizonte, nem ponto-

9 A inclusão da biotecnologia na definição de cibercultura é conveniente na medida em que toda uma categoria de fatos (os relacionados aos implantes artificiais, manipulação genética, etc.) passa a ser considerada no que diz respeito às suas relações com o imaginário contemporâneo.

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limite, um "fim" no término da linha; ao contrário, vive-se uma fragmentação do

tempo em uma série de presentes ininterruptos, os quais não se sobrepõem uns aos

outros, como páginas de um livro, mas existem simultaneamente, em tempo real,

com intensidades múltiplas que variam de acordo com o momento. Enquanto na era

da escrita o lema era "construir o futuro", atualmente, vale o que ocorre neste

preciso momento. (LÉVY, 1993).

A cultura tecnológica digital é um termo utilizado na definição de

agenciamentos sociais das comunidades no espaço eletrônico virtual. Tais

comunidades estão ampliando e popularizando a utilização da internet e de outras

tecnologias de comunicação, possibilitando assim uma maior aproximação entre

pessoas de todo o mundo. Esse termo se relaciona diretamente tanto com a

dinâmica política, social, econômica e filosófica dos indivíduos conectados em rede,

como com a tentativa de englobar os desdobramentos que esse comportamento

requer.

A tecnologia digital provém de um espaço de comunicação mais brando do

que o produzido pelas mídias convencionais, como por exemplo, emissoras de

televisão, rádio, jornal, etc. Em tais mídias, o sistema hierárquico de produção e

distribuição da informação seguem um modelo pouco flexível, baseado no modelo

“um-todos”, ao passo que no ciberespaço (atualmente, quase nem se pode mais

falar em ciberespaço como lugar, pois se está sempre online), a relação com o outro

se desdobra no contexto do “todos-todos”. (LÉVY, 1996, p. 113). Um indivíduo pode

- junto com milhares de pessoas - criar ferramentas para que todos possam ter

acesso e, ao mesmo tempo, interagir com mais e mais pessoas. Neste sentido, esse

ambiente de comunicação emerge com a potência que comporta o discurso

democrático em sua gênese.

Muito do que Gibson ilustrou em sua obra Neuromancer já migrou das

páginas de ficção científica para as matérias de revistas especializadas em

tecnologia e divulgação científica. Mais ainda, com o crescimento exponencial da

internet, a mídia de massa passou a tematizar essa nova "revolução tecnológica",

trazendo para as camadas médias - sempre ávidas por "atualidade" - os temas da

conectividade, da realidade virtual e da cultura da convergência.

O virtual pode ser melhor compreendido à luz do esclarecimento que Pierre

Lévy apresenta em sua obra O que é o virtual? (LÉVY, 1996). Para o autor, o virtual

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é uma nova modalidade de ser, cuja compreensão é facilitada se considerarmos o

processo que conduz a ele: a virtualização.

A tradição filosófica utiliza o par de oposições potência/ato para a reflexão

sobre os estados possíveis do ser; assim, uma semente é uma árvore em potência,

que se atualiza no momento em que se transforma em árvore. Lévy (1999, p. 47)

considera essa análise insuficiente para dar conta da questão da virtualização, e

passa então a utilizar a distinção entre possível e virtual elaborada por Deleuze, qual

seja: o possível associa-se ao real na medida em que aquele é o real sem a

existência. A realização, ou seja, a passagem do possível para o real, portanto, não

envolve nenhum ato criativo; a diferença entre possível e real reside no plano da

lógica, consistindo em um mero quantificador existencial.

O virtual, por outro lado, distingue-se do real na medida em que,

diferentemente do possível, não contém em si o real finalizado, mas sim um

complexo de possibilidades que, de acordo com as condições e os contextos,

atualizar-se-á de maneiras distintas. O objetivo de Lévy ao fazer essa migração -

entre o par de conceitos possível x real e virtual x atual - é conseguir associar ao

processo de atualização o devir, com a interação entre o atual e o virtual. De acordo

com o autor, "o real assemelha-se ao possível; em troca o atual em nada se

assemelha ao virtual". (LÉVY, 1996, p. 17).

O virtual, portanto, não pode ser compreendido como o possível - haja vista

este já estar determinado -, mas sim como um "complexo problemático" que dialoga

e interage com o atual, transformando-se de acordo com as peculiaridades de cada

contexto. Seu exemplo, por excelência, é um programa de computador, no que diz

respeito à sua interação com um operador humano; nele, os resultados finais (as

atualizações) não estão determinados, pois serão resultados do processo de

atualização, efetivado pela interação com a subjetividade do operador.

Atualmente, a emergência das tecnologias provoca uma mudança radical no

imaginário humano, transformando a natureza das relações dos indivíduos com a

tecnologia, bem como entre si. Lévy (1996) defende uma inter-relação muito próxima

entre subjetividade e tecnologia, sendo que a primeira influencia esta última de

forma determinante, na medida em que fornece referenciais que modelam a forma

de representar e de interagir com o mundo. Através do conceito de "tecnologia

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intelectual"10, Lévy discorre sobre como a tecnologia afeta o registro da memória

coletiva social; as noções de tempo e espaço das sociedades são afetadas pelas

diferentes formas através das quais esse registro é realizado.

O imaginário humano sempre esteve atrelado à tecnologia, sendo que não se

pode pensá-la distintamente da sociedade, como um elemento isolável, mas sim

considerando um mundo permeado pela técnica, que influencia as formas de

sociabilidade. A partir da perspectiva das tecnologias intelectuais, Lévy traça um

histórico da humanidade, mostrando de que forma cada uma delas influenciou sua

época11, até chegar à mudança que se vive atualmente:

No caso da informática, a memória se encontra tão objetivada em dispositivos automáticos, tão separada do corpo dos indivíduos ou dos hábitos coletivos que nos perguntamos se a própria noção de memória ainda é pertinente. (LÉVY, 1996, p. 118).

Ainda inseridos no contexto da linearidade instaurada pela escrita, que

determinou os moldes da racionalidade ocidental, vê-se emergir, a partir do

surgimento dos meios informáticos, uma nova maneira de ver o mundo, isto é,

através de vários elementos, fatores e locais interativos na World Wide Web.

1.4 Vivendo na/com tecnologia audiovisual

Para Lemos, as novas práticas comunicacionais e as relações sociais

tecnológicas (e-mails, blogs, chats, listas de discussão, videoconferências, podcasts,

jornalismo online, comunidades virtuais eletrônicas, wikis, tecnologias móveis, wi-fi,

wireless, bluetooth), a emergência das cibercidades (cidade e espaços de fluxo), as

transformações culturais e a ética são as novas configurações comunicacionais

(liberação do polo de emissão) presentes na sociedade contemporânea que são

claramente manifestações da cultura tecnológica.

As tecnologias midiáticas trazem uma nova relação espaço-temporal marcada

pela velocidade e pela sensação de instantaneidade e transparência, diminuindo o

fosso entre estímulo e resposta comunicacional. Essas tecnologias aceleram a

10 As tecnologias intelectuais permitem compreender como os poderes de abstração e raciocínio formal desenvolveram-se em nossa espécie. Cf. LÉVY, Pierre. As tecnologias da Inteligência, p. 152. 11 O autor enumera três tecnologias intelectuais que se sucederam, a saber: a oralidade, a escrita e a informática, descrevendo como cada uma influenciou, a seu modo, o imaginário de sua época.

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realidade, virtualizando-a (do mundo dos átomos para o mundo dos bits), trazendo

uma percepção de interdependência global, de conexão generalizada.

(KERCKHOVE, 1997).

Diante de vários conceitos da cultura tecnológica, pode-se afirmar que ela é

profundamente a cultura participativa; é, frequentemente, um produto das práticas

comunicativas complexas e colaborativas que ocorrem sobre segmentos, variando

do tempo e do “espaço”. Certamente, dentro de uma linha particularmente saudável

do listserv12 - ou espaço do MUD13, ou ainda, Web site colaborativo - existem as

interações dinâmicas, as construções sociais, as negociações políticas e as histórias

institucionais.

A tecnologia atualmente é, portanto, densa, imensa e está em um estado

constante de fluxo e transformação. Supor esse fator é verdadeiro; mas como é

possível compreender profundamente no que se constitui a cultura tecnológica, seus

limites, bem como determinar suas características?

Antes que se intimide frente a uma tarefa tão difícil, deve-se atentar para o

fato de que muitas dessas mesmas perguntas às quais se busca responder, outros

pesquisadores mais tradicionais da cultura - tais como comunicadores, antropólogos

e sociólogos - também buscam. Apesar de tudo, todas as culturas são amplas,

intensas e estão sempre em um estado constante de fluxo. A dificuldade se dá

porque, frequentemente, o termo é utilizado para descrever as culturas

contemporâneas e os produtos culturais que têm alguma relação com a tecnologia.

Desse modo, a cultura tecnológica pode ser entendida como uma coleção das

culturas e dos produtos culturais que existem sobre (ou são feitos possíveis pela)

internet, junto com as histórias proferidas acerca dessas culturas e produtos

culturais.

Isso tudo é marcado pela circunstância de que a tecnologia penetra em cada

aspecto da existência do indivíduo. Muito da discussão teórica acerca dos avanços

tecnológicos cresceram exponencialmente desde da década de 80; nesse período, a

12 O propósito básico do serviço listserver é permitir que sejam trocadas informações técnicas, dicas, comentários, humor, etc. através destas mensagens. Disponível em: <http://www.sistrut.com.br/x_mailing/ls-001.html>. Acesso em: 10 jul. 2015. 13 São termos de jogos de computador, um MUD (sigla para Multi-user dungeon, dimension, ou por vezes, domain) é um RPG multijogadores, que normalmente é executado em uma BBS ou em um servidor na internet. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Multi-user_dungeon>. Acesso em: 11 jul. 2015.

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evolução da tecnologia coincidiu com as várias edições relacionadas às concepções

da teoria contemporânea.

Debruçado sobre seus projetos, o homem avança e transforma o presente e o

futuro em um constante processo evolutivo, sem que haja a simples substituição de

uma técnica por outra, mas sim um “deslocamento de centros de gravidade”14.

Constata-se que sempre houve movimentos crescentes e sucessivos na história: da

oralidade para a escrita, da escrita para a imprensa, desta para o rádio e para a

televisão, até se chegar à informática. O aperfeiçoamento dos meios de

comunicação e os modos de se veicular a informação foram moldados à

necessidade de o homem se comunicar; o ser humano, ao longo de sua história,

mantém-se sempre na expectativa de desvelar novos horizontes, de explorar

territórios alheios, impulsionado pelo desejo de interação e de novas descobertas.

As novas configurações comunicacionais - assim como as diversas formas de

relações sociais eletrônicas - estão relacionadas a uma cultura de liberdade bastante

difundida nas origens das tecnologias.

A cultura tecnológica pode ser compreendida claramente como a forma

sociocultural que advém de uma relação de trocas entre a sociedade, a cultura e as

novas tecnologias. A cultura tecnológica envolve a sociedade e a interação entre

seus agentes e o domínio de uma técnica; o universo sem totalidade. Ela está em

um estado constante de fluxo. Naturalmente, o que se chama atualmente de cultura

tecnológica pode não existir amanhã. Assim como outras tecnologias novas, as

tecnologias de comunicação também estão em constante evolução, e é possível

esperar ainda mais inovações.

É natural, em um mundo cheio de evoluções tecnológicas, que alguns termos

sejam, aos poucos, atualizados, transformados ou até mesmo deixados de ser

usados, pois perdem o sentindo real ou ganham um novo sentido. O termo

cibercultura é constantemente pensado de uma forma dinâmica e, aos poucos,

utilizam-se novos vocábulos a fim de denominar pensamentos mais atualizados de

um termo que rapidamente envelhece. Para denominar cultura da tecnologia,

atualmente, são usados vários termos, tais como cultura digital, novas tecnologias,

14 Cf. ALMEIDA, Fernando José de. As aparências enganam. In: BRASIL. Salto para o Futuro: TV e Informática na Educação / Secretaria de Educação à Distância. Brasília: Ministério da Educação e do Desporto, SEED, 1998. p. 78.

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cultura da convergência, cultura digital, sociedade em rede, sociedade da

informação, sociedade pós-industrial, sociedade do conhecimento, etc.

Ao acolher tal fato, perde-se a expectativa de constatar que o ciberespaço

ocupe um lugar próprio, fora do mundo ou da cultura já existente. Portanto, já não

faz mais sentido falar em cibercultura separada da cultura tecnológica no contexto

de oposição, haja vista que ela simplesmente sobrevém para nominar uma fase

peculiar da sociedade, assim como relata Lemos:

A gente pode empregar como sinônimos cibercultura e cultura digital, que seriam nomes para a cultura contemporânea, marcada a partir da década de 70 do século passado, pelo surgimento da microinformática […]. (LEMOS, 2009, p. 136).

Olhando por esse prisma, a cibercultura, surgida de uma oposição, associa-se

ou se dissipa na cultura contemporânea por excelência, denominando não mais algo

pontual, mas sim geral e universal, ainda que conserve a conexão e junção

tecnológica que a fez surgir. Não seria estranho para os estudiosos da cibercultura

que o termo - aos poucos, como de fato está acontecendo - entre em desuso

simplesmente pelo fato de não mais corresponder ou não mais abarcar um novo

momento da história da cultura tecnológica digital, ou até mesmo por falta de

necessidade de ser aplicado.

Talvez não seja justo sugerir ou decidir a obsolescência de determinados

termos e seus sentidos, tendo em vista que isso cabe à cultura linguística ou à

sociedade que deles fazem uso. Entretanto, cabe ao pesquisador estar atento e

reconhecer as modificações semânticas e as alterações na forma e no modo como

os termos e os conceitos são empregados. Mesmo assim, a cibercultura coloca a

sociedade em um outro patamar na área das tecnologias comunicacionais, levando

a perceber, partilhar e conviver em uma cultura da convergência.

Na medida em que as tecnologias de comunicação permitem a interatividade,

a convergência e a participação dos sujeitos como construtores, produtores de

informação e não mais apenas como consumidores, é de se ambicionar que o

volume dessas informações cresça; e é exatamente o que está acontecendo, pela

primeira vez na história, fala-se em excesso e não em escassez de informação. As

informações estão ao alcance de todos, sem distinção de cor ou raça. Com isso,

abre-se um leque de oportunidades nunca antes pensado na história dos deficientes

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visuais. As oportunidades vão desde o simples acesso à internet até a liberdade e a

mobilidade de um smartphone, permitindo ao deficiente uma autonomia sempre

desejada.

Neste presente capítulo foram feitas considerações e observações acerca dos

deficientes visuais e das tecnologias digitais, bem como foi apresentada - de forma

geral e sintética - uma brevíssima apreciação histórica das tecnologias digitais.

Deste modo, foi possível compreender de modo mais amplo as principais vantagens

das eventuais mudanças para o homem com deficiência visual.

A partir das discussões acerca dos deficientes visuais e das tecnologias, que

serão realizadas no segundo capítulo, dar-se-á maior ênfase ao tema proposto para

esta pesquisa, ou seja, o de ponderar e refletir acerca da sociabilidade e

interatividade midiática no audiovisual (computadores, smartphone e internet) para o

acesso do deficiente visual.

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2. A SOCIABILIDADE E A INTERATIVIDADE MIDIÁTICA NO AUDIOVISUAL PARA O ACESSO DO DEFICIENTE VISUAL

Segundo publicação da Organização Mundial da Saúde, foi criado em 1980

um sistema de classificação de deficiências visando à criação de uma linguagem

comum para a pesquisa e para a prática clínica. Tal sistema foi intitulado na

tradução portuguesa de 1989 como Classificação Internacional de Deficiências,

Incapacidades e Desvantagens (CIDID).

Isto posto, pode-se assegurar que a Organização Mundial da Saúde define

deficiência como qualquer perda ou anormalidade da estrutura ou função

psicológica, fisiológica ou anatômica. Ou seja, representa a exteriorização de um

estado patológico e, em princípio, reflete distúrbios no nível do órgão.

Devido a essa definição de deficiência, a CIDID gerou críticas e discussões

sobretudo pelo conceito de desvantagem, fator que provocou um processo de

revisão -promovido pela própria Organização Mundial da Saúde - que culminou na

publicação da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde

(CIF).

Embora a CIDID tenha feito essas definições para tentar esclarecer melhor as

diferentes duvidas, fica claro que, em relação à desvantagem não decorre do

preconceito e exclusão que emanam do contexto no qual a pessoa com deficiência

vive; o preconceito e a exclusão são o resultado da deficiência e inabilidade da

pessoa de não saber e nem conhecer as diferentes formas de relacionar com

pessoas com distintas deficiências.

Por isso, foi definido novamente algo mais especifico para cada deficiência; a

deficiência visual é definida como a perda total ou parcial, congênita ou adquirida, da

visão. O nível de gravidade visual pode variar, o que determina dois grupos de

deficiência, a saber:

Cegueira - há perda total da visão ou pouquíssima capacidade de enxergar, o

que leva a pessoa a necessitar do Sistema Braille como meio de leitura e escrita; e

Baixa visão ou visão subnormal - caracteriza-se pelo comprometimento do

funcionamento visual dos olhos, mesmo após tratamento ou correção. As pessoas

com baixa visão podem ler textos impressos ampliados ou com uso de recursos

óticos especiais.

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A questão da nomenclatura também foi algo complexo até chegar a uma

definição. Ao longo dos anos, os termos que definem a deficiência foram

adequando-se à evolução da ciência e da sociedade. Atualmente, o termo correto a

ser utilizado é: pessoa com deficiência visual, expressão que faz parte do texto

legitimado pela Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e

Dignidades das Pessoas com Deficiência, aprovado pela Assembleia Geral da ONU,

em 2006, e ratificado no Brasil em julho de 2008.

Sabe-se que a construção de uma verdadeira sociedade inclusiva passa

também pelo cuidado com o uso da linguagem, pois através dela se expressa -

voluntaria ou involuntariamente - o respeito ou a discriminação em relação às

pessoas com deficiências.

De acordo com os últimos dados do IBGE 201015, o número de habitantes

com deficiência no Brasil é bem considerável; caso se amplie os horizontes e se

considere a população de pessoas com deficiência visual no mundo, segundo a

OMS, os números atingem cerca de 40 a 45 milhões de pessoas cegas, sendo que

outros 135 milhões sofrem limitações severas de visão. Diante desse cenário, muitas

empresas tecnológicas começam a desenvolver ferramentas especificas para esse

público. Exemplo disso são os apps (ou seja, aplicativos): até pouco tempo atrás não

encontrar-se-ia nenhum app específico para deficientes visuais, no entanto, caso se

realize atualmente uma pesquisa básica na Play Store ou na Apple Store, é possível

encontrar vários aplicativos.

Abaixo, no próximo item, é possível conferir alguns dados estatísticos, de

acordo com o IBGE (2010).

2.1 Deficiência visual no Brasil

15 Os censos demográficos são planejados para serem executados nos anos de finais zero, ou seja,

a cada dez anos. Desta forma o último censo realizado no Brasil foi no ano de 2010. No intervalo entre dois censos demográficos, realiza-se a contagem de população.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, as principais causas de cegueira no Brasil são: catarata, glaucoma, retinopatia diabética, cegueira infantil e degeneração macular.

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IBGE 2010

Deficientes visuais por região Total % população local

Norte 574.823 3.6

Nordeste 2.192.455 4.1

Sudeste 2.508.587 3.1

Sul 866.086 3.2

Centro-Oeste 443.357 3.2

Diante de tais dados estatísticos do IBGE 2010, pode-se perceber que existe

um número considerável de pessoas que possuem algum tipo de deficiência. Essa

deficiência, até pouco tempo atrás, atrapalhava e limitava de uma forma ou de outra

o acesso da pessoa a um enorme campo tecnológico que se descortinava; contudo,

felizmente, essas limitações têm diminuído gradativamente, pois o deficiente já

utiliza as novas tecnologias digitais da mesma forma que uma pessoa vidente o faz.

Uma grande parcela de pessoas com deficiência encontra-se matriculadas em

algum curso de tecnologia voltado para o mercado de trabalho - ou mesmo de

entretenimento - em uma das dezenas de instituições espalhadas pelo Brasil que

trabalham especificamente com pessoas com deficiência visual.

A forma de inclusão dessas pessoas se dá ainda de maneira lenta e de

configuração desordenada; tramitava no Congresso Nacional, há mais de dez anos,

uma lei para aprovar o estatuto da pessoa com deficiência. Após mais de dez anos

No Brasil, mais de 6,5 milhões de pessoas têm alguma deficiência visual. 528.624 pessoas são incapazes de enxergar (cegos); 6.056.654 pessoas possuem grande dificuldade permanente de enxergar (baixa visão ou visão subnormal); Outros 29 milhões de pessoas declararam possuir alguma dificuldade permanente de enxergar, ainda que usando óculos ou lentes.

Tabela – 1 População de deficientes visuais no Brasil

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de atraso, a lei nº 13.146 foi aprovada no dia 6 de julho de 2015 e devidamente

promulgada. Apesar do atraso, a supracitada lei trouxe alguns benefícios para a

pessoa com deficiência, tais como a inclusão social, cotas e outros mais.

Com dez anos de atraso, indubitavelmente, o estatuto chega com algumas

desvantagens, contudo, ainda assim proporciona alguns benefícios para a pessoa

com deficiência. Há dez anos, o mundo tecnológico era outro; diante dessas

mudanças, não há que se falar sobre inclusão social caso não se aborde a inclusão

tecnológica e, para isso, muito institutos sem fins lucrativos na cidade de São Paulo

têm dado um salto enorme para a qualificação de pessoa com deficiência visando ao

mercado de trabalho e à qualidade de vida.

2.2 O deficiente visual no mundo digital

A partir do início da revolução digital, a comunicação entre os homens tem

sofrido inúmeras transformações, que vão desde a criação de novos canais

comunicacionais até mudanças nas linguagens de alguns meios preexistentes.

Essas interferências ocorrem devido aos diversos fatores intrínsecos ao meio digital.

O desenvolvimento das tecnologias digitais e a grande quantidade de redes

interativas colocam a humanidade diante de um novo horizonte: os indivíduos já não

são como antes. Isso porque as práticas, as atitudes, os modos de pensamento e os

valores estão cada vez mais sendo condicionados pelo espaço de comunicação que

surge da interconexão mundial de computadores.

A internet é atualmente o lugar no qual praticamente todas as mídias

convergem. Esse espaço é fonte primária para comunicação, sociabilidade e

interatividade das pessoas vidente e, consequentemente, até pouco tempo atrás

foram desenvolvidas ferramentas visando também à inclusão neste novo universo

de pessoas com deficiência visual e auditiva.

O deficiente visual utiliza a rede mundial de computadores, a internet, para se

tornar cada vez mais independente; a liberdade de ir e vir sem necessitar do auxílio

de um terceiro é algo que foi sempre desejado e almejado por muitos que vivem com

algum tipo de deficiência.

A popularização da internet no final dos anos 90, a internet sem fio, os

gadgets (dispositivos eletrônicos portáteis como, celulares, smartphones, ipad,

iphone e tablets), e, consequentemente, a convergência de várias mídias,

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proporcionaram ao deficiente visual um universo infinito de possibilidades; com isso,

uma nova forma de ver e pensar o mundo foi sendo moldada e adaptada para que o

deficiente pudesse ter mais e mais acesso à rede mundial de computadores. Com os

novos gadgets conectados à internet, o deficiente visual vislumbrou novos

horizontes em direção a suas conquistas, adquirindo uma independência e

mobilidade nunca antes exequíveis.

Diante do constante desenvolvimento da tecnologia, múltiplos conceitos

sugiram. Por certo que atualmente existem várias formas de conceituar a tecnologia.

Devido essa diversidade de conceitos este capítulo basear-se-á em especial no

conceito sugerido por Álvaro Vieira Pinto.

Pinto (2005) esclarece em sua obra que o termo tecnologia pode ser

enumerado a partir de três conceitos básicos, a saber: o primeiro significado

etimológico traz a “tecnologia” como a teoria, a ciência, o estudo, a discussão da

técnica, os modos de produzir alguma coisa. O segundo assevera que “tecnologia”

equivale pura e simplesmente à técnica. Como se pode perceber, para este trabalho,

assumir-se-á o significado associado ao primeiro conceito evidenciado pelo autor.

Estreitamente ligada aos conceitos explicitados acima está a terceira

definição de “tecnologia” utilizada por Pinto, que é entendida como o conjunto de

todas as técnicas de que dispõe uma determinada sociedade, em qualquer fase

histórica de seu desenvolvimento. Em tal caso, aplica-se tanto às civilizações do

passado quanto às condições vigentes modernamente em qualquer grupo social. Os

conceitos citados por Álvaro são fontes de iluminação para perceber o modo como a

sociedade se relaciona com novas ferramentas que modificam e transformam a vida.

A fim de perceber como a tecnologia tornou-se extremamente necessária

para a sociedade, é imprescindível olhar - a partir de seus conceitos - para a

significativa evolução do ciberespaço e da internet.

O universo do ciberespaço e da internet evoluíram com tamanha velocidade

que se tornaram parte da vida do indivíduo, de tal maneia que já não se consegue

imaginar o mundo sem eles. Mas é claro que essas são apenas as tecnologias do

momento, outras formas já foram acomodadas pela sociedade, de modo que já nem

se percebe que elas fazem parte da vida há muito tempo.

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Segundo Kevin Kelly (TED, 2005)16, a tecnologia é algo que faz parte da vida

desde o início, ou seja, desde os primórdios da teoria do Big Bang. Com a expansão

do universo, também se expande a tecnologia, trazendo diferenças, diversidade,

opções, escolhas, oportunidades, possibilidades e liberdade.

O que a tecnologia quer? Essa é uma pergunta proposta por Kelly em sua

palestra dada no TED. Talvez não se saiba o que tecnologia de fato quer, mas se

sabe ao menos aquilo que se pode tirar e querer dela; o que se quer da tecnologia é

usá-la de várias formas a fim de facilitar a comunicação, as relações, a

interatividade, a sociabilidade, etc. Por exemplo, a internet era um recurso que nem

se imaginava que se queria, no entanto, agora, ela parece tão real que pode se dizer

que era exatamente isso que humanidade queria da tecnologia.

Para, além disso, há também a questão da oralidade; verifica-se um retorno à

oralidade, uma vez que o modo como a comunicação se processa na internet (por

exemplo, nas salas de chat, Skype, Whatsapp), ou seja, escrevendo como se fala,

está muito próximo dessa mesma oralidade, embora pertencente ao domínio da

escrita. Contudo, a internet vai muito mais além da mera oralidade, combinando

texto, sons e imagens. Por essa razão, a internet muda completamente a

comunicação humana e muda particularmente forma como o deficiente visual se

relaciona e interage com este novo universo. Na internet encontram-se verdadeiros

pontos de encontro, interação e sociabilidade online que contribui para a formação

de comunidades virtuais.

O conjunto de pessoas (deficientes visuais) que se reúne e interage através

de uma sala de chat, blogs e redes sociais experimenta circunstâncias idênticas às

acima descritas, mas com uma diferença: o local compartilhado é o ciberespaço. As

comunidades virtuais podem ser definidas como sendo aquelas nas quais as

relações sociais que se estabelecem ocorrem no ciberespaço através de um contato

repetido em um local específico, simbolicamente limitado por um tópico de interesse

(por exemplo, uma sala de chat).

André Lemos (2002) defende que o ciberespaço não é uma entidade

puramente cibernética, e o interesse antropológico do ciberespaço reside justamente

no vitalismo social, nomeadamente, interfaces. Ele afirma que o ciberespaço não

16 É uma série de conferências realizadas na Europa, na Ásia e nas Américas pela fundação Sapling, dos Estados Unidos, sem fins lucrativos, destinadas à disseminação de boas ideias que pretendem mudar o mundo.

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está desligado da realidade; é um espaço intermédio. Nele, todos são atores,

autores e agentes de interação.

E são exatamente essas formas de interagir que facilitam a vida e a forma de

comunicação com o deficiente visual. A pessoa com deficiência visual não precisa

mais de um terceiro para orientá-la em seus afazeres; atualmente, um deficiente

visual senta em frente a um computador - ou mesmo com seu smartphone -

conectado à internet e consegue se comunicar de igual para igual com qualquer

pessoa, sem que esta perceba que ele tem quaisquer deficiências. A relação

pessoa-pessoa através das tecnologias digitais se tornou um grande achado para

conectar pessoas pelo o mundo e, com isso, proporcionou à pessoa com deficiência

uma experiência sem precedência na história.

Segundo Luiz Simões Cunha (2009), através do ciberespaço é possível definir

três pilares psicossociais da comunicação pessoa-pessoa, seja ela vidente ou

deficiente visual, a saber:

1) a realidade construída na rede;

2) a conversação virtual;

3) a construção da identidade.

A rede surge, então, como um espaço verdadeiramente democrático, no qual

todos têm igualdade de oportunidades, independentemente de questões de gênero,

saúde, estatuto, etnia, deficiência etc. A influência de uns sobre os outros está

apenas limitada pela capacidade de comunicação, que depende não só da

habilidade verbal, como também dos conhecimentos técnicos obtidos. A rede, de

certa forma, unifica os indivíduos como sendo todos iguais, eliminando assim,

grande parte das diferenças e limitações.

A própria metáfora espacial que se usava para caracterizar a internet como

um ciberespaço, remete ao fato de o próprio conceito de espacialidade ser

modificado por este meio: as pessoas podem interagir durante dias, semanas ou

mesmo anos (através do chat, por exemplo), independentemente de mudanças

geográficas que tenham lugar; a comunidade está onde a pessoa estiver. É um

ótimo suporte - dentro daqueles que estão atualmente disponíveis - para manter o

contato social com pessoas distantes.

Em suma, ao criar um meio de circulação de informações, a rede possibilitou

uma multiplicidade de formas de comunicação e de criação de sociabilidades e

interatividades através da comunicação mediada por computador, tablets, celulares

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smartphones, etc. A rede mundial de computadores possibilitou mudanças nas

relações do homem com a tecnologia e entre si, gerando novas formas de

comunicação, expressão cultural e de sociabilidade; essas novas formas de

sociabilidade estão condicionadas pelo aparecimento de novas identidades sociais.

A internet é, simultaneamente, informação e contexto de interação, espaço

site e tempo, mas que altera as próprias coordenadas no espaço-temporal a que se

está habituado, compactando-as, ou seja, o espaço e o tempo na rede existem na

medida em que são construções sociais partilhadas; são, na verdade, espaços que

se expandiram, uma nova forma de comunicação, tornaram-se espaço sem

dimensão.

As redes geram novos espaços de encontro, novos espaços de sociabilidade;

há que se questionar em que medida esses novos espaços representacionais

recriam as identidades e as práticas culturais e geram um espaço antropológico

alternativo. Howard Rheingold assevera que

Talvez o ciberespaço seja um dos lugares públicos informais onde possamos reconstruir os aspectos comunitários perdidos quando a mercearia da esquina se transforma em hipermercado. Ou quem sabe o ciberespaço seja precisamente o lugar errado onde procurar o renascimento da comunicação, oferecendo, não um instrumento para o convívio, mas um simulacro sem vida das emoções reais e do verdadeiro compromisso perante os outros. Seja qual for o caso, precisamos de descobri-lo o mais rapidamente possível (RHEINGOLD, 1996, p. 43).

Quando Rheingold escrevera sobre o ciberespaço, ainda não era claro afirmar

em que se tornaria este espaço. Era difícil precisar o que esperar das recentes

tecnologias. Agora sim, pode-se afirmar com mais clareza que a internet se tornou

neste lugar aonde se podem construir os espaços, informais, comunitários,

educativos e sociais.

Na palestra proferida por Kelly, ele um questionamento sobre o que a

tecnologia quer. Dando um viés mais específico à pergunta, e se interrogasse o que

a pessoa com deficiência visual quer da tecnologia? O que seria conveniente para

essa pergunta seria a resposta sobre o que a tecnologia traz: escolhas,

possibilidades, liberdade. E é exatamente isso que o deficiente visual quer da

tecnologia, é o que ela pode proporcionar dando independência para poder guiar a si

próprio com autonomia.

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A tecnologia não trouxe apenas mudança para o vidente, trouxe também

transformações, liberdade e independência para a pessoa com deficiência; é

exatamente nesse ambiente de tecnologia - e agora, no universo da internet - que o

deficiente interage com mais segurança, liberdade e autonomia.

Com a popularização da internet surgem novas possibilidade para a

comunicação, com uma nova realidade nunca antes imaginada. Os apps (pequenos

softwares, geralmente usado nos celulares), por exemplo, surgiram com a expansão

da internet sem fio e com a evolução dos telefones celulares (os chamados

smartphones). Atualmente, é quase que imprescindível para um deficiente visual que

queira ter autonomia, liberdade e independência viver sem um smartphone

conectado à internet.

Há alguns anos era impossível encontrar apps para o público com deficiência,

mas a partir de 2010 este cenário começou a mudar; caso se entre nos dias de hoje

na loja virtual do Google - a Google Play - ou da Apple - Apple Store - e se digite as

palavras “deficiente visual”, aparecerá na tela uma grande quantidade de opções de

apps voltados exclusivamente para o deficiente visual. Claro que, se for feita uma

avaliação, isso não corresponde nem a 10% daquilo que se pode encontrar para o

público vidente. Há um crescimento exponencial e também um incentivo para que

cada vez mais jovens possam desenvolver aplicativos, e assim, novas possibilidade

surgem. Atualmente, uma das plataformas mais populares para se criar um app é o

Android, que é um código aberto do Google, isso facilita bastante a criação de novos

aplicativos. No entanto, não existe apenas a plataforma Android para a criação de

apps, há mais algumas específicas para smartphones, como a plataforma Windows e

iOS da Apple.

Com os apps, as redes e movimentos sociais se expandiram de tal forma que

é impossível prever até que ponto elas modificam e transformam ao redor do mundo

a vida de milhares de pessoas conectadas sejam elas videntes ou deficientes visuais.

A rede transforma seres humanos em seres para os demais, conectados em um

universo sem lugar específico, mas com algo que é comum a todos: a vontade de

compartilhar e interagir com o universo que ao mesmo unifica os indivíduos,

conectando-os e socializando-os. Só de imaginar que você pode - do seu quarto - se

comunicar com alguém que está do outro lado do mundo, sem precisar de nenhum

esforço, já é uma enorme transformação sem precedência.

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Anteriormente, imaginava-se que no novo século XXI, o homem estaria

andado em automóveis voadores para se deslocar mais rapidamente de um lugar

para o outro, mas não se imaginava que esse deslocamento seria de outra forma,

através das palavras, das imagens, do som. Com essa revolução, ficou mais fácil

participar de ideias comuns (por meio de blogs, rede sociais, chats, whatsapp, etc.)

em todo planeta, e não precisa ser vidente para isso, existe um grande número de

pessoas com deficiências que participam direta e indiretamente de várias redes e

movimentos sociais, interagindo e dando sua contribuição na construção de um

mundo melhor para se viver. Devido a movimentos como estes, as grandes

corporações tecnológicas já trazem em seus aparelhos tecnológicos ferramentas

específicas para a acessibilidade; foram anos de luta, pesquisas e reivindicações

para que essas transformações acontecessem. Atualmente, percebe-se claramente

uma preocupação em adaptar novas ferramentas para a acessibilidade em todos os

setores tecnológicos. Mas ainda se está longe de chegar ao nível de acessibilidade

de países desenvolvidos; no entanto, há uma nítida vontade de melhor por meio das

tecnologias a qualidade de vida para as pessoas com deficiência, seja qual for a

deficiência. Estas mudanças são possíveis devido às inovações tecnologias

constantes.

As redes e movimentos sociais, atualmente, representam uma forma de se

dizer o que se pensa e o que se quer para melhorar a sociedade tecnologicamente

falando. Por esse motivo, elas agregam pessoas dos mais diversos setores, as quais

se sentem interessadas em dar uma contribuição para construir e transformar a

sociedade em um lugar mais fraternal e também mais humano.

2.3 A rede e o movimento social

Em uma de suas obras, Manuel Castells define rede como “um conjunto de

nós interconectados. Nó é o ponto no qual uma curva se entrecorta. Concretamente,

o que um nó é depende do tipo de redes concretas de que falamos” (CASTELLS,

1999, p. 566); é exatamente isso que a rede mundial de computares proporciona a

milhares de pessoas conectadas neste exato momento.

O deficiente visual se apropriou dessa possibilidade que a rede oferece para ir

além dos limites definidos pela falta de visão. A rede deu aos deficientes a

possibilidade de olhar o mundo de outra perspectiva, de expandir seus horizontes,

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sendo que os apps deram a eles um pouco mais que isso, deram liberdade,

independência e autonomia.

Castells mostra ainda que as "redes constituem a nova morfologia social de

nossas sociedades e a difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a

operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e

cultura” (CASTELLS, 1999, p. 565). É esse processo produtivo que as conexões em

rede revelaram, e fez as inspirações e os sonhos de milhares de pessoas com

deficiência ganharem uma nova vida, uma nova forma de se comunicarem; elas já

não estão mais presas em suas limitações, podem criar asas e voar sem medo de

desvendar um mundo totalmente novo e cheio de possibilidades. A relação

deficiente visual-computador se desenvolve no sentido de incluir cada vez mais

canais sensoriais e motores. Do ponto de vista da ampliação da capacidade de

percepção e de apreensão por parte dos deficientes visuais, uma das iniciativas

mais fascinantes é o desenvolvimento de interfaces de voz - análogos digitais da

figura do ledor humano - que permite aos cegos acessar o conteúdo de textos

escritos através de sua tradução para uma linguagem verbal oral. As redes

proporcionam ao deficiente visual autonomia e liberdade em uma estrutura social

totalmente aberta, criadora de novos movimentos sociais de fáceis interações.

Uma estrutura social com base em redes é um sistema aberto altamente dinâmico, suscetível de inovação, sem ameaças ao seu equilíbrio. Redes são instrumentos apropriados para a economia capitalista baseada na inovação, globalização e concentração descentralizada; para o trabalho (CASTELLS, 1999, p. 566).

Pode parecer estranho falar em "movimento social" quando se trata de um

fenômeno habitualmente considerado como "técnico". Pierre Lévy, em sua obra

Cibercultura (1999), tenta sustentar a tese de que: a emergência do ciberespaço é

fruto de um verdadeiro movimento social, com seu grupo líder (a juventude

metropolitana escolarizada), suas palavras de ordem (interconexão, criação de

comunidades virtuais, inteligência coletiva) e suas aspirações coerentes (LÉVY,

1999, p. 123).

Talvez ele tenha razão, mas este processo não para estes movimentos, eles

estão sempre em transformação. Vive-se em uma sociedade na qual a presença das

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novas tecnologias de informação, comunicação e entretenimento é cada vez maior

e, com elas, os conceitos de informação, conectividade e interatividade.

Todos esses avanços das tecnologias de comunicação têm como pano de

fundo um dos movimentos sociais mais importantes da atualidade: a tecnologia

digital que transforma e modifica uma sociedade através de uma nova cultura digital

que revoluciona a sociedade contemporânea. Lévy acentua que, mesmo antes da

noção de movimento social, pode-se reconhecer a existência de relações - algumas

vezes muito estreitas - entre determinados desenvolvimentos tecno-industriais e

fortes correntes culturais ou fenômenos de mentalidade coletiva; um exemplo muito

simples é o caso do automóvel, que é especialmente significativo quanto a isso:

Não é possível atribuir unicamente à indústria automotiva e às multinacionais do petróleo o impressionante desenvolvimento do automóvel individual neste século, com todas as suas consequências sobre a estruturação do território, a cidade, a demografia, a poluição sonora e atmosférica etc. O automóvel respondeu a uma imensa necessidade de autonomia e de potência individual. Foi investido de fantasmas, emoções, gozos e frustrações. A densa rede das garagens e dos postos de gasolina, as indústrias associadas, os clubes, as revistas, as competições esportivas, a mitologia da estrada constituem um universo prático e mental fortemente investido por milhões de pessoas. Se não tivesse encontrado desejos que lhe respondem e a fazem viver, a indústria automobilística não poderia, com suas próprias forças, ter feito surgir esse universo. O desejo é motor. As formas econômicas e institucionais dão forma ao desejo, o canalizam, o refinam e, inevitavelmente, o desviam ou transformam (LÉVY, 1999, p. 123).

Lévy destaca aqui a interconexão, sendo ela um dos princípios mais

importante para o ciberespaço.

Um exemplo disso é se compararmos o automóvel e as tecnologias. Os dois

provocaram uma revolução na sociedade; mas, ao contrário do automóvel, a

tecnologia não foi decidida - e muito menos prevista - por qualquer governo ou

multinacional poderosa. Seu principal motor foi um movimento social visando à

reapropriação em favor dos indivíduos de uma potência técnica que, até então, havia

sido monopolizada por grandes instituições burocráticas.

O crescimento da comunicação baseada na informática foi iniciado por um

movimento de jovens metropolitanos cultos que veio à tona no final dos anos 80. Os

atores desse movimento exploraram e construíram um espaço de encontro, de

compartilhamento e de invenção coletiva. Se a internet constitui o grande mar do

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novo universo informacional, é preciso não se esquecer dos muitos afluentes que a

sustentam: redes independentes de empresas, de associações, de universidades,

sem esquecer as mídias clássicas (bibliotecas, museus, jornais, televisão, cinema,

rádio, etc.). É exatamente o conjunto dessas "redes hidrográficas", que constituem o

ciberespaço e a internet (LÉVY, 1999, p. 125). E é precisamente nesse universo tão

importante na contemporaneidade que o deficiente visual constrói sua liberdade e

autonomia. Podendo assim se relacionar com uma gama de possiblidades que o

cerca, mas que não mais o limita, mas sim o liberta para uma nova realidade nunca

antes imaginada.

2.4 O desafio da modernidade em transformação

A construção do mundo com novas tecnologias, além de assegurar a

satisfação das necessidades do homem, constitui-se também como possibilidade da

sua liberdade; liberdade em relação à natureza e aos outros homens, seus iguais. A

possibilidade dessa liberdade nasce da capacidade dada pela razão prática, que

permite ao homem significar o mundo que o cerca (a natureza e os outros homens)

e a si mesmo, enquanto orienta o seu agir. É por meio da ação humana que se

constrói o mundo humano.

A construção de um mundo humano é o que propõe os movimentos e redes

sociais espalhadas pelo mundo inteiro. É inegável, para o homem contemporâneo,

que a ciência e suas aplicações técnicas constituem atividades principais que

constroem e reconstroem este mundo humano, isto é, modificam a cultura. A ciência

é humanizante quando crítica, constrói e reconstrói o edifício do saber teórico e

prático com pretensão de verdade. É também com base nesta mesma pretensão

que a ciência se justifica perante a sociedade; dessa forma, a atividade científica, na

medida em que sua pretensão de verdade pode ser reconhecida pela razão prática,

constitui para o homem um bem e um valor que orienta o seu agir. A pretensão de

verdade, assim entendida, é motivação profunda para uma série de práticas culturais

na civilização científico-tecnológica, como a pesquisa, o ensino, o desenvolvimento

de novas tecnologias, a produção de objetos técnicos, a implantação de políticas e

de sistemas econômicos locais e globais. Ora, essa verdade buscada pela ciência

traria em si a normatividade deste mesmo ethos assim fundado; a justificação

racional de toda essa série de práticas culturais estaria na própria teoria científica.

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Desde esse evento, o domínio englobante do significado, a pretensão do

tudo, a tentativa de instaurar o mesmo sentido em cada lugar está, para a

sociedade, associada ao universal.

Com a chegada do computador e, logo em seguida, a internet, o universal fica

cada vez mais próximo de ser alcançado; esses dois veículos provocaram uma

revolução nos meios de comunicação. Atualmente, a cada minuto novas pessoas

acessam a internet, novos computadores se interconectam, novas informações são

injetadas na rede, através de blogs, websites, redes sociais, Twitter, Toutube, etc.

Quanto mais o ciberespaço se estende, mais universal se torna e, portanto, menos

totalizável.

O deficiente visual é parte deste universo; seus conhecimentos e sua

autonomia se expandem na mesma velocidade em que aumentam as novas formas

de comunicação em rede.

Talvez um dos fenômenos mais marcantes deste século seja a convergência

da cultura e da técnica, sinais de uma requisição geral da experiência pela técnica.

De maneira crescente, muitos setores do conhecimento contemporâneo podem ser

supridos, complementados e proferidos pelas novas tecnologias ao mesmo tempo

em que surgem novos domínios, totalmente técnico, tal como a internet. Assim, o

novo é a possibilidade de exprimir o analógico em digital, que se autonomiza num

espaço próprio. Essa era uma das preocupações de Heidegger. A preocupação dele

era que um dia o homem poderia perder o controle da técnica, então aconteceria um

rompimento entre homem e técnica, sendo assim, aos poucos o homem seria

dependente da técnica. Há sim, certa preocupação e questionamentos em relação a

essa dependência. Ao mesmo tempo em que novos elementos técnicos surgem

disponibilizando autonomia eles também condicionam os usuários. Portanto, para o

deficiente visual as tecnologias acessíveis podem ser uma faca de dois gumes, por

um lado o deficiente que deseja liberdade e autonomia e por outro risco de se tornar

dependente de uma tecnologia. A melhor opção diante disso é poder conviver em

harmonia com as novas descobertas técnicas sem perder a relação reciproca com a

mesma.

A atualidade está, portanto, por ser intensamente marcada pelas novas

tecnologias digitais. Isso ilustra, quase sem nenhuma pretensão, que se começou a

falar de cibercultura, de cultura digital, de experiência virtual, dentre outros conceitos

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associados. Como será viver nesta contemporaneidade com novas tecnologias e

experiências que surpreendem a cada instante?

Os novos meios destroem o tempo e o espaço; agora estão a impor a

imediaticidade. Com isso, aparecem novas categorias quase invisíveis, mas

enormemente estruturantes, como aquelas que opunham presença e ausência,

longe e perto, lugar e não lugar, real e irreal, online, off line, etc.

Não se pode negar que a internet, além de trazer um profundo impacto nos

processos de comunicação, pode ter colaborado com a consolidação desse

fenômeno cibernético. A internet propicia aos deficientes visuais e aos videntes

diferentes formas de comunicações distintas daquelas que as mídias clássicas

mostraram ao longo desses anos; tem-se, agora, um espaço de comunicação que

permite acessar, disponibilizar, acrescentar e encontrar diferentes tipos de

informações para os mais diversos públicos.

Com o advento das novas tecnologias a cultura foi, paulatinamente, se

transformando na chamada cultura tecnológica ou cultura digital, na qual tudo tem a

ver com o sistema (desculpe, mas o sistema caiu; desculpe, o sistema não está

funcionando). Como se tudo fossem movidos pelo o novo sistema tecnológico. Essa

mesma cultura é, atualmente, uma cultura que acompanha o desenvolvimento do

ciberespaço, da internet, mas também de novas técnicas de representação (imagens

numéricas, realidade virtual e tele virtual, comunidades virtuais, dentre outras). Todo

esse movimento, evidentemente, transforma e impacta a vida do deficiente visual no

planeta. Essa nova cultura é fundamentalmente ligada a mundialização em curso e

às mudanças culturais, sociais e políticas induzidas pela mesma.

Mas, sem dúvida, o mais importante é que essa nova cultura provoca o

indivíduo e o obriga a lançar novamente velhas questões: que civilização se quer

construir neste novo século? De que solidariedades, interatividade, associabilidade

se tem necessidade em um mundo doravante interdependente intimamente? Qual o

lugar do ser humano (deficiente visual) neste mundo cibernético? São perguntas que

ajudam a pensar que tipo de tecnologia ainda surgirá e como ela afetará o indivíduo

e o afeta neste exato momento.

O que o futuro reserva? As novas tecnologias estão cada vez mais rápidas,

de modo que é imprevisível apontar o que o homem será capaz de inventar.

Debruçado sobre seus projetos, o homem avança e transforma o presente e o

futuro num constante processo evolutivo sem que haja a simples substituição de

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uma técnica por outra, mas um “deslocamento de centros de gravidade”. Constata-

se que sempre há movimentos crescentes e sucessivos na história: da oralidade

para a escrita, da escrita para a imprensa, desta para o rádio e para a televisão, até

chegar-se à informática. O aperfeiçoamento dos meios de comunicação de veicular

à informação foi criado pela necessidade do homem se comunicar. O ser humano,

ao longo de sua história, mantém-se sempre na expectativa de desvelar novos

horizontes, explorar territórios alheios, impulsionado que é pelo desejo de interação

e de novas descobertas.

Diante destes novos desafios da modernidade, a sociabilidade e interatividade

midiática para o acesso do deficiente visual é sim uma realidade à qual todas as

pessoas com deficiência visual podem e devem usufruir; é uma nova porta que se

abre e uma nova realidade para viver em um mundo cada vez melhor, com liberdade

e autonomia. São as interconexões, inclusões e interatividade que a internet

proporciona a todos, sem diferenciação de cor, raça ou deficiência.

No próximo capítulo será possível perceber a relação da sociabilidade e a

interatividade midiática no audiovisual para o acesso do deficiente visual por meio de

fatores; primeiramente, por pesquisas - visitas, aplicação de questionários e

entrevistas - feitas em três instituições da cidade de São Paulo que trabalham

diretamente com tecnologia para deficientes visuais (ADEVA, Dorina Nowill e

LARAMARA); segundo, por meio de pesquisa elaborada por Hugo Münsterberg

(1916) sobre atenção, memória, imaginação e as emoções que são elementos

essenciais para o desenvolvimento de uma vida mais profícua para o deficiente

visual; por último, pela importância do aguçamento dos sentidos para o deficiente

visual, fator ilustrado pelos entrevistados no documentário “Janela da Alma” (2001).

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3. VIVENDO COM AS TECNOLOGIAS: UM ESTUDO DAS INSTITUIÇÕES

ADEVA, DORINA NOWILL E LARAMARA

É notório que, nas últimas décadas, a rede mundial de computadores

revolucionou o acesso às novas informações digitais e, principalmente, as diferentes

formas de comunicação. Tais transformações e mudanças se deram, principalmente,

a partir do início da revolução digital, não obstante os homens tenham vivido

inúmeras mudanças, desde a criação de novos canais comunicacionais até a

modificação das linguagens de alguns meios preexistentes.

Decerto que muitos dos jovens nascidos já na era digital talvez nem

percebam o quão grande foram essas mudanças; no entanto, para aqueles nascidos

antes da popularização da internet, esta transição do sistema analógico para o

digital se faz bastante presente.

Presenciar as transformações tecnológicas constantes no mundo é quase

parte essencial da contemporaneidade, haja vista o fato de, a cada dia, serem

criadas novas ferramentas a fim de facilitar a vida do homem moderno. Tais

ferramentas favorecem também o fortalecimento da midiatização.

O termo midiatização foi aplicado, primeiramente, por Kent Christer Asp -

pesquisador sueco da comunicação e também professor da Göteborgs Universitet,

na Suécia - em referência ao impacto dos meios de comunicação na política. Ele

assevera:

O termo midiatização foi aplicado, pela primeira vez, ao impacto dos meios de comunicação na comunicação política e a outros efeitos na política. Asp foi o primeiro a falar sobre a midiatização da vida política, referindo-se a um processo pelo qual “um sistema político é, em alto grau, influenciado pelas e ajustado às demandas dos meios de comunicação de massa em sua cobertura da política”. (ASP, 1986, p. 55)17.

Outra definição do conceito de midiatização é dada por Jairo Ferreira, para

quem midiatização é uma “análise do dispositivo midiático que se configura a partir

de uma matriz primária triádica”. (FERREIRA, 2007, p. 8). Deste modo, essa

17 Extraído da Revista Matrizes - Revista do Programa de Pós-Graduação em Ciências da

Comunicação da Universidade de São Paulo - USP, ano 5, nº 2, jan./jun. São Paulo, 2012. Disponível em: <http://www.matrizes.usp.br/index.php/matrizes/article/download/338/pdf>. Acesso em: 15 jul. 2015.

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configuração englobaria três sistemas, a saber: o social, o tecnológico e o de

linguagem. A midiatização seria, então, qualquer veículo de comunicação que se

desse nas relações entre os três sistemas. Já o sociólogo John B. Thompson (1995)

compreende a midiatização como parte integral do desenvolvimento da sociedade

moderna.

O Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, em sua versão online, apresenta

o conceito do vocábulo “midiatização” como sendo a ação ou o efeito de midiatizar; e

midiatizar, por sua vez, é difundir qualquer informação por meio dos veículos de

comunicação.

Portanto, a midiatização é uma forma de difusão de informação. Deste modo,

o que se pretende neste capítulo é mostrar, de forma concisa, o modo pelo qual os

impactos, percepções, sensações e emoções são provocados por meio da

midiatização digital direcionada aos deficientes visuais que estão inseridos neste

atual contexto midiático.

Iniciar-se-á, primeiramente, com uma breve descrição acerca da questão dos

graus de deficiências e de como ela se constitui bem mais complexa do que se pode

imaginar, esclarecendo-se, assim, o processo que se deu na pesquisa empírica

realizada nas instituições ADEVA (Associação de Deficientes Visuais e Amigos),

Dorina Nowill e LARAMA. Em um segundo momento, destacar-se-á alguns pontos

fulcrais do trabalho de Hugo Münsterberg, em sua obra intitulada “The Photoplay: a

psychological study” (1916), a saber: a importância da atenção, memória,

imaginação e as emoções no ambiente do deficiente visual, bem como o modo pelo

qual fazem usos destes recursos a fim de viverem em uma sociedade cada vez mais

imagética. Münsterberg se tornou autor referencial teórico no presente trabalho a

partir da realização das pesquisas empíricas e as de campo; diante delas, foi

possível observar e estabelecer uma conexão relacionando com o trabalho sobre

atenção, memória, imaginação e as emoções que estão ligadas, à princípio, com o

cinema e o audiovisual. Ainda que o texto de Münsterberg seja tão antigo (1916) e

utilizado por ele apenas a partir da perspectiva do cinema, foi possível atualizá-lo e

relacioná-lo por meio das diferentes tecnologias contemporâneas; destarte,

relacionando a pesquisa empírica com o texto de Münsterberg, foi possível perceber

a atemporalidade de sua obra.

Emoções, imaginação, atenção e memória são inerentes ao ser humano e,

por muitas vezes, foram citadas pelos deficientes visuais como essenciais para uma

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vida mais ativa com o mundo das tecnologias. Derradeiramente, serão abordados

significativos fragmentos do documentário intitulado “Janela da Alma”, obra dos

diretores João Jardim e Walter Carvalho, na qual apresentam um grupo de artistas,

diretores e cientistas com diferentes graus de deficiência visual, bem como tratam da

forma como estes veem o mundo. Portanto, será traçado neste capítulo a relação do

trabalho desenvolvido por Münsterberg, as entrevistas concedidas no documentário

“Janela da Alma” e as entrevistas-pesquisas realizadas nas principais instituições do

município de São Paulo que desenvolvem trabalhos associando as tecnologias

audiovisuais ao deficiente visual.

3.1 Trabalhando com tecnologias audiovisuais

As pesquisas empíricas foram realizas em três diferentes instituições da

cidade de São Paulo, quais sejam: ADEVA (Associação de Deficientes Visuais e

Amigos), Dorina Nowill e LARAMA. Após levantamento das instituições existentes no

município, foram realizadas visitas a fim de poder conhecer melhor o trabalho

realizado por essas instituições. No dia 31 de julho de 2015 na ADEVA; nos dias 04

e 11 de agosto na Dorina Nowill; e, por fim, no dia 29 de setembro na LARAMA18.

Após essas visitas, foram realizadas algumas conversas e entrevistas com 15

deficientes visuais (com diferentes graus de deficiência) das três instituições,

respectivamente.

A questão dos graus de deficiência é bem mais complexa do que se pode

imaginar; até mesmo para um deficiente visual é difícil compreender a quantidade de

regras e números sugeridos para se classificar e descobrir qual o grau de uma

determinada deficiência. Portanto, não se aprofundará aqui em questões mais

específicas, mas será realizado um pequeno esclarecimento e uma ilustração - feitos

pela Organização Mundial de Saúde (OMS) - acerca deste assunto.

Em novembro de 1972, a OMS reuniu, em Genebra, o Grupo de Estudos

sobre a Prevenção da Cegueira, o qual criou as categorias de deficiência visual

atualmente utilizadas em todo o mundo. De acordo com esta definição, o termo

“visão subnormal” aplica-se às categorias (1 e 2) do quadro a seguir, enquanto o

18 As cartas comprobatórias encontram-se ao final do trabalho, no Anexo.

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termo “cegueira” relaciona-se às categorias (3, 4 e 5) e a “perda de visão sem

qualificação”, à categoria (9).

No quadro a seguir19 é apresentada a classificação da gravidade do

comprometimento visual recomendada pelo Grupo de Estudos sobre a Prevenção

da Cegueira da OMS20.

Graus de comprometimento visual

Acuidade visual com a melhor correção visual possível

Máxima menor que: Mínima igual ou maior que:

6/18 6/60

1 – Deficiência visual moderada 3/10 (0,3) 1/10 (0,1)

20/70 20/200

6/60 3/60

2 – Deficiência visual grave 1/10 (0,1) 1/20 (0,5)

20/200 20/400

3/60 1/60 (capacidade de contar

dedos a 1 metro)

3 – Cegueira 1/20 (0,05) 1/50 (0,02)

20/400 5/300 (20/1200)

1/60 (capacidade de contar

dedos a 1 metro)

4 – Cegueira 1/50 (0,02) Percepção da Luz

5/300)

5 – Cegueira Ausência da percepção da

luz

9 – Cegueira Indeterminada ou não

especificada

19 Quadro elaborado a partir das referências propostas pela Organização Mundial da Saúde

(OMS). 20 WHO Technical Report Series nº 518, 1973. In: Organização Mundial da Saúde. CID-10 Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. 10a rev. São Paulo: Universidade de São Paulo; 1997. vol. 1. p. 443.

Tabela - 2 Os graus de comprometimento visual

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A partir de então, quase em todo mundo essa tabela é utilizada como

referência a fim de se definir melhor os graus de deficiência visual de cada pessoa.

Nas pesquisas empíricas, foram entrevistadas pessoas com diferentes níveis

de cegueiras e de baixa visão, desde deficiência visual moderada até a cegueira

total.

Algumas perguntas realizadas (seis) foram sugeridas a fim de direcionar

melhor o trabalho de campo.21 Essas perguntas foram feitas com o objetivo de saber

qual o nível de conhecimento e de uso tecnológico das mídias digitais e audiovisuais

das pessoas com diferentes graus de deficiência visual, bem como conhecer o modo

pelo qual elas conseguem perceber a imagem em movimento, os gadgets móveis. A

seguir, têm-se os seis questionamentos realizados aos entrevistados:

1 - Quais as tecnologias mais usadas em seu dia a dia? Quantos graus de deficiência (em porcentagem) visual você tem? 2 - Os gadgets (dispositivos eletrônicos portáteis como PDAs, celulares, smartphones, ipad, iphone e tablets) são, atualmente, uma forma natural para que o deficiente visual possa participar desse mundo cada vez mais midiático e digital? 3 - Como você percebe a imagem em movimento em seu gadget? 4 - Qual a importância da tecnologia para sua vida? 5 - Quais as vantagens e as desvantagens de se utilizar as tecnologias digitais no processo de liberdade e autonomia do DV? 6 - Qual a importância dos outros sentidos (audição, olfato, paladar e tato) e outras sensações que você usa para se comunicar?

Essas perguntas foram respondidas de forma muito semelhante pelos 15

participantes da pesquisa nas três diferentes instituições pesquisadas; 6 na ADEVA,

5 na Dorina Nowill e 4 na LARAMARA; no decorrer da pesquisa, era perceptível que

todos os participantes estavam na mesma sintonia e possuíam as mesmas ideias ao

responderem as perguntas. As perguntas foram sugeridas apenas como forma de

direcionamento da pesquisa, pois assim seria mais fácil manter o objetivo desejado.

Os entrevistados estavam bastante à vontade para falar do tema e, por isso, as

21 As entrevistas, bem como todas as citações feitas pelos entrevistados, encontram-se

disponíveis na transcrição integral no apêndice.

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entrevistas renderam outros momentos proveitosos de discussão sobre cultura e

tecnologia.

O uso de tecnologias por parte dos deficientes visuais é quase que unânime;

durante a entrevista, todos - sem exceção - estavam conectados à internet por meio

de seus smartphones ou tablets. O smartphone é, indubitavelmente, a ferramenta

mais usada por eles. Atualmente, viver sem tecnologias, sem estar conectado, é

algo quase impossível para a maioria dos entrevistados. A vida do deficiente visual

em grandes cidades do Brasil - como, por exemplo, em São Paulo - é uma vida em

conexão, quase sempre com seus inseparáveis smartphones, mesmo assim, muitos

não dispensam o acompanhamento da boa, velha e indispensável bengala, ainda

que algumas sejam digitais. As bengalas digitais vão, aos poucos, ganhando o gosto

no meio dos deficientes visuais; a maioria delas possui um sistema de navegação

via GPS que fornece a seu usuário a possibilidade de registrar a rota realizada,

podendo, assim, repeti-la quantas vezes forem necessárias. Muitas também contam

com uma tecnologia de sensores que avisam sobre obstruções no percurso ou

ainda, mudanças de declive no solo.

Um elemento que contribuiu para a presente pesquisa foi a percepção clara

da relação existente entre o deficiente visual e as mais recentes tecnologias

disponíveis no mercado. Mesmo diante dessas circunstâncias, foi possível

apreender que neste convívio com as tecnologias mais recentes, softwares e Apps,

algumas coisas básicas ainda são necessárias; quando foi feita a última pergunta da

série de seis questões propostas, a qual versava sobre a importância dos outros

sentidos (audição, olfato, paladar e tato) bem como sobre outras sensações que eles

usam a fim de se comunicar, muitos se depararam com essa necessidade básica e

alguns outros nem haviam pensado que não precisam da tecnologia para usá-los,

usavam sem nem mesmo perceber o quanto estes sentidos são importantes. Os

outros sentidos são exigidos e bastante aguçados a fim de suprir a falta da visão, de

modo que só se percebe a importância destes quando perdemos um ou mais deles.

Deste modo, para melhorar cada sentido restante é necessário perceber a evolução

e as mudanças naturais que acontecem com aqueles que restaram. Aplicando os

sentidos que sobraram com algo que é intrínseco a qualquer ser humano - a

imaginação, atenção, emoções e a memória - faz com que o deficiente visual, aos

poucos, se adapte à sua nova realidade e passe a agir de forma natural, como se

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realmente tivesse todos os sentidos; é como se a junção de todos estes elementos

tornassem a vida do deficiente visual simplesmente natural.

Diante dessa conectividade destes elementos, muitos dos deficientes visuais

entrevistados acreditam que a atualidade é muito melhor do que o tempo anterior às

novas tecnologias, pois eles são capazes de trabalhar igualmente às pessoas que

enxergam; o único fator negativo lembrado por muitos deficientes visuais sobre

como essa igualdade se distancia, é a forma como as outras pessoas os

subestimam tanto no trabalho como no dia a dia. A subestimação da pessoa com

deficiência é o que há de mais desanimador para um deficiente visual que trabalha

com outras pessoas que enxergam normalmente. Na maioria das vezes, as pessoas

não acreditam que os deficientes visuais são capazes de realizar aquilo que estão

fazendo. É o que afirma, com convicção, Lucas Radaelli22 em entrevista cedida no

dia 30 de dezembro de 2015 ao jornal Folha de São Paulo:

Uma vez que a gente tem o conhecimento absorvido, conseguimos produzir e ser eficientes no trabalho da mesma forma que qualquer outra pessoa que enxergue. As pessoas sempre me perguntam se eu acho que ainda existe preconceito no mundo. E eu acho que o que mais existe, na verdade, é a subestimação de pessoas com deficiência. Saio de casa com meus amigos, e as pessoas perguntam se a gente é irmão. Saio com a minha namorada, e as pessoas perguntam se ela é minha irmã. É como se a pessoa com deficiência não pudesse ter amigos ou namorada, mas a verdade é que essas pessoas têm uma vida normal. Acabam subestimando todos nós ao imaginar que a gente não tem uma vida que nem a delas, uma vida em que a gente trabalha, estuda, tem amigos, namorada, sai de casa, faz a mesma coisa que todo mundo. Não acho que sou um exemplo para outras pessoas com deficiência visual porque eu acredito que elas, com as chances certas e oportunidades certas, e com força de vontade, conseguem fazer a mesma coisa que eu fiz. Mas é importante conscientizar as pessoas que não vivem com essa deficiência de como a gente vive, para diminuir essa subestimação que a gente encontra sempre por aí. (FOLHA DE SÃO PAULO ONLINE).

É exatamente o desenvolvimento e o aguçamento dos outros sentidos e a

conectividade com a atenção, memória e imaginação que faz com que o deficiente

conquiste cada vez mais o seu lugar neste mundo cada vez mais tecnológico.

22 Deficiente visual e programador do Google, em Belo Horizonte.

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3.2 A atenção, a memória, a imaginação e as emoções na vida do deficiente

visual

A partir das entrevistas empíricas realizadas, é válido afirmar que a atenção,

memória, imaginação e as emoções são elementos essenciais para o

desenvolvimento de uma vida mais profícua para o deficiente visual.

A atenção, memória, imaginação e emoções são conceitos e métodos da

psicologia utilizados por Hugo Münsterberg a fim de explicar, no início do século XX,

o efeito de realidade que o cinema produz no espectador e quais elementos

psicológicos são suscitados pela narrativa cinematográfica.

O deficiente visual que consegue aprimorar o domínio desses elementos

apontado por Münsterberg - juntamente com os sentidos que lhe restaram - faz com

que sua vida se torne cada vez menos dependente, pois se torna ativo e autônomo

na sociedade.

Münsterberg fez seus estudos de forma geral, sem especificar o tipo de

pessoa que foi analisada; assim sendo, partindo-se das referências gerais por ele

citadas, foi possível - através das visitas e das perguntas previamente feitas -

observar a importância da atenção, memória, imaginação e emoções, bem como a

relação destas com os sentidos e as tecnologias na vida do deficiente visual.

Hugo Münsterberg, nascido em Danzig, na Alemanha, era psicólogo e

professor de Harvard; foi um dos pioneiros a realizar críticas relacionadas à

cinematografia. Em sua obra intitulada “The Photoplay: a psychological study”

(1916), ele analisa a relação entre cinema e espectador, bem como os elementos

que a sustentam, tais como a atenção, a memória, a imaginação e a emoção. Foi

Münsterberg quem antecipou a chamada “Teoria da Recepção” (teoria de análise do

fato artístico ou cultural que enfoca sua investigação no receptor) ao explorar o

entendimento de que os filmes produzem eventos mentais. Tais eventos não estão

apenas na tela do cinema, mas na mente daqueles que a observam. Münsterberg

acreditava que elementos fílmicos como close-up e cut back (voltar atrás) são

movimentos de câmera geradores de significados, os quais podem agir de diversas

formas sobre o espectador. Neste sentido, consoante o psicólogo, há uma

objetivação das funções da memória, haja vista que no cut back vê-se claramente o

ato mental de recordar, de lembrar; já no close-up, percebe-se o ato mental de

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prestar atenção. Ele afirma ainda que, desta forma, era possível demonstrar o

impacto que o cinema possui sobre o espectador ao atacar seus sentidos.

Münsterberg utiliza a atenção, memória, imaginação e as emoções para

explicar o efeito de realidade que o cinema causa no espectador. A atenção, por

exemplo, seria uma das funções internas que mais criam significados do mundo

exterior. Por isso, foi bastante considerada pelos entrevistados na pesquisa

realizada. A atenção é considerada por Münsterberg como a mais fundamental, pois

seleciona aquilo que é mais significativo e relevante. O deficiente visual desenvolve

a atenção desde o primeiro momento em que se torna cego, ou mesmo aqueles que

já nasceram sem visão, acabam desenvolvendo a atenção de forma impressionante,

ainda que muitos levem um determinado tempo para notar ou perceber o quanto sua

atenção foi desenvolvida. Para muitos, a atenção e a imaginação são elementos que

ajudam a construir uma possível imagem que surgirá na mente:

Não sei como é para uma pessoa que nunca enxergou como ela constrói essa imagem. Talvez ela precise que alguém descreva realmente como é um objeto para que ela possa tentar na sua mente construir a sua própria imagem daquilo que ela imagina que seja o que seus sentidos estão capitando. É assim que eu consigo colocar toda a minha atenção em algo para que eu possa compreender da melhor forma possível. Essa é uma forma de olhar a imaginação. (Entrevistado 4)23.

A pessoa sem visão constrói a sua forma de ver utilizando exatamente os

outros sentidos, dando assim uma importância muito grande à atenção.

Münsterberg (1991, p. 28) divide a atenção entre voluntária e involuntária; a

voluntária é quando as impressões partem de ideias pré-concebidas as quais se

almeja colocar no foco de observação; já a involuntária é diferente da primeira, pois

a influência diretiva lhe é extrínseca, de modo que o foco de atenção é dado pelos

objetos percebidos. Tudo aquilo que mexe com os instintos naturais assume o

controle da atenção.

O segundo item analisado por Münsterberg (1991, p. 36) é a memória, a qual

seria a fonte de ideias e da imaginação; a memória atuaria na mente do espectador

evocando coisas que dão sentido pleno, situando melhor cada cena, cada palavra e

cada movimento. Os elementos que trazem significado ao deficiente é, em sua

23 Todos os trechos de falas dos entrevistados aqui mencionados são parte integrante da

transcrição da entrevista, tal qual foi falado pelo entrevistado.

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maioria, coisas que eles podem captar com seus sentidos. Daí, é possível notar a

importância desses sentidos para uma pessoa com deficiência visual, conforme

relatam dois entrevistados:

Todos os sentidos são muito importantes para que possamos comunicar melhor entre nós mesmo e com as pessoas videntes. Usamos muito a imaginação para construir nosso próprio mundo de uma forma diferente para cada um. (Entrevistado 1).

Eu acredito que colocamos todos os outros sentidos para funcionarem e eles funcionam muito bem. A imaginação é quando eu crio a imagem no meu cérebro, eu construo a imagem dentro da minha cabeça. (Entrevistado 3).

Münsterberg afirma que a memória se relaciona com o passado e a

imaginação com o futuro. Deste modo, a cinematografia agiria de forma análoga à

imaginação, já que possui ideias que não estão subordinadas às exigências

concretas dos acontecimentos externos, mas sim às leis psicológicas das

associações de ideias; assim, a memória pode se correlacionar com a imaginação.

O terceiro e último item analisado por Münsterberg (1991, p. 46) é a emoção.

Ao ler o trabalho de Münsterberg, é possível distinguir com clareza dois grupos

diferentes: de um lado, as emoções que comunicam os sentimentos dos atores e de

seus respectivos personagens no filme; de outro, as emoções que as cenas do filme

suscitam no espectador, podendo ser inteiramente diversas, ou até mesmo, as

emoções expressas pelos personagens.

Esses métodos da psicologia utilizados por Münsterberg para explicar o efeito

de realidade que a cinematografia causa ao espectador é central na percepção do

ser humano.

Münsterberg mostra em seu trabalho um método psicológico especificamente

aplicado à cinematografia, mas também faz comparações com o teatro. Contudo, se

se considerar bem atentamente, é possível perceber e entender que tais técnicas

desenvolvidas por ele também podem ser aplicadas e problematizadas em relação

aos novos veículos de comunicação audiovisual mediados pela midiatização digital,

tais como smartphones, tablets e, sobretudo, em relação à internet. Esta, por sua

vez, é uma dessas ferramentas à qual se pode aplicar perfeitamente o que

Münsterberg propôs para a cinematografia.

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Como seria, então, a aplicação dessas técnicas para a percepção dos efeitos

e dos impactos que elas provocam na pessoa com deficiência visual? Para uma

pessoa com deficiência visual é bastante natural que essas sensações (atenção,

memória, imaginação e as emoções) germinem com mais facilidade, haja vista estes

sentidos serem mais aguçados e perceptíveis na pessoa com deficiência visual. Tais

sensações surgem quase que naturalmente para o deficiente visual; sendo assim,

ele acaba desenvolvendo outras formas de ver e perceber o mundo, estimulando -

de forma instintiva - os outros sentidos, a fim de suprir a ausência do sentido que lhe

falta.

A visão é muito imediatista e ela faz o controle de muitas coisas na gente. Por exemplo, quando você perde a visão você fica muito desorientado disso, mas aí você se acerta, todos esses sentidos ajuda você compor a situação que você tem. É natural e perceptível. Tem várias coisas de olfato e de ouvido que só agora eu percebo melhor e com isso você vai aprimorando seus sentidos. Despertando assim sua atenção emoções e imaginação. (Entrevistado 10).

No deficiente visual, essas sensações são mais acentuadas, seja por meio do

cinema - como relata Münsterberg - ou ainda, em outros veículos de comunicação

audiovisual como a internet smartphones e tablets. A internet pode ser considerada,

atualmente, uma das ferramentas mais utilizadas para facilitar inserção do deficiente

visual, seja no mercado de trabalho que cada vez é mais exigente, ou mesmo para a

vida em sociedade; diante do poder que a internet proporciona atualmente à

sociedade, o deficiente visual pode se aproveitar deste recurso tecnológico e aplicar

sua atenção desenvolvida para compreender, de forma clara, o que ele está

acessando nos mais diferentes portais, com total confiança. Para navegar na rede

mundial de computadores, o deficiente visual atualmente tem à disposição os mais

diferentes leitores de telas (tais como DOXVOX, Jaws, Virtual Vision, Windows-Eyes,

NVDA e vários outros disponíveis no mercado).

O deficiente visual se utiliza da memória e da imaginação aguçada para

recordar o que já fora visto anteriormente, pois, se ele não memorizar, terá que

voltar a todo instante a fim de saber o que foi visto na página anterior e com isso

perderá muito tempo; assim, além de exercitar a memória, também exercita a

imaginação, bem como as emoções, que provocam um estímulo pela realização de

algo perceptível e apreendido. É exatamente aquilo que Münsterberg expõe em sua

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pesquisa o que o deficiente visual faz todos os dias para sobreviver em um mundo

cada vez mais tecnológico visual.

A comunicação mediada pela midiatização digital é uma das possibilidades do

audiovisual para o deficiente visual. As novas ferramentas tecnológicas agregam

novos elementos aos conceitos trabalhados por Münsterberg, quais sejam, a

atenção, memória, imaginação e emoções, conceitos estes, a priori, aplicados ao

cinema. Tais elementos eram usados pelos deficientes visuais de modo pleno

quando não existiam estas novas técnicas de se comunicar mediadas pelas

tecnologias, momentos estes retratados de forma muito fidedigna em várias

passagens do documentário intitulado “Janela da Alma” (2001).

Na citada obra, dos diretores João Jardim e Walter Carvalho, estes métodos

da psicologia utilizados por Münsterberg estão bastantes presentes. “Janela da

Alma” apresenta dezenove pessoas com diferentes graus de deficiência visual -

desde a miopia discreta à cegueira total -, as quais relatam o modo como se veem,

como veem os outros e como percebem o mundo. O documentário aborda a visão

de forma subjetiva, atribuindo a ela os diferentes sentidos de interpretação da

realidade de cada um; mostra ainda como cada pessoa lida com a realidade

relacionada às suas experiências de vida, percepções e demais influências

presentes no cotidiano.

Ao comparar as entrevistas realizadas, o trabalho de desenvolvido por

Münsterberg e o documentário “Janela da Alma”, é extremamente notório perceber

como estes três elementos se complementam e se interconectam. Vê-se pelas as

pessoas entrevistadas no documentário - e pelas observações feitas por

Münsterberg - que estas têm as mesmas sensações e percepções das pessoais

entrevistadas nas instituições selecionadas (ADEVA, Dorina Nowill e LARAMA).

Com isso, é possível perceber esta conectividade entre pesquisas realizadas em

diferentes períodos e em diversas realidades, mas que se completam e se

interligam.

A imaginação, tanto para Münsterberg como no documentário e nas

entrevistas realizadas nas instituições, é o ponto central para que qualquer ser

humano possa mergulhar em um universo particular e construir, por si só, um mundo

diferente e cheio de emoções, manifestadas principalmente por pessoas com

deficiência visual.

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A imaginação é também um dos elementos fulcrais abordados pelo

documentário. O neurologista Oliver Sacks, um dos entrevistados no documentário,

afirma em sua linha de estudo que o limite do olhar não é a janela da rua, ou seja, a

visão de fora; não se limita a olhar o visível, mas também o invisível, algo imaginado

pela mente, deste modo, acrescentar visões de mundo - do mundo ao redor e ao

seu exterior - não tem limites. Para Sacks, a imaginação é algo que está em nós,

sendo que alguns a manifestam mais e outros menos. Para os deficientes visuais, é

natural que a imaginação ganhe mais força e acabe sendo mais aguçada a fim de

compreender e entender o que se passa a sua volta; a imaginação relatada no filme

aumenta a visão de mundo que cerca o indivíduo. Atualmente, as imagens,

principalmente aquelas oriundas do cinema, televisão e internet (imagem em

movimento) já estão prontas, sem grandes margens para a atuação da imaginação.

A partir do documentário supracitado, é possível perceber que o olho, na

verdade, não é apenas passivo. Se for considerado como a janela da alma, é

também ativo, pois as imagens não entram, mas vêm de dentro para fora. O ver vem

de dentro; a alma é a imaginação que sai. O que se vê é quase sempre modificado

tanto pelos sentidos, como pelos conhecimentos, emoções, desejos e,

principalmente, pela cultura na qual o indivíduo está inserido.

Figura - 124

É exatamente neste contexto em que o deficiente visual estava inserido até o

advento das novas tecnologias; com o surgimento das novas ferramentas

tecnológicas, o universo do deficiente se expandiu e, atualmente, ele pode usufruir

24 Estas imagens são oriundas de print screen extraídos do próprio filme em formato DVD.

Olhar e uma estrada. Extraídos da obra “Janela da Alma” (2001).

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de vários instrumentos, apps (aplicativos) voltados especificamente para os

deficientes visuais. Ou seja, a midiatização contribuiu e continua a contribuir para

uma enorme ampliação do acesso do deficiente em ambientes diferentes,

revolucionando sua forma de se comunicar como o mundo; essa foi uma posição

relatada por muitos dos deficientes visuais entrevistados na pesquisa.

A pessoa cega e com baixa visão a tecnologia ajudou muito não só para estudar. Antigamente a pessoa só tinha livro em Braille. Era difícil. Hoje com a tecnologia temos várias opções. A tecnologia virou para o deficiente uma ferramenta de trabalho deixando a sua vida melhor. Por exemplo, algumas pessoas me perguntam se eu uso apenas sites adaptados para deficiente visual, no meu caso e uso quase todos os sites; no Facebook, por exemplo, eu mexo sem medo consigo mexer muito bem. (Entrevistado 2).

Juntamente com os outros sentidos, a atenção, memória, imaginação e

emoções - conceitos e métodos da psicologia usados por Hugo Münsterberg - eram

a base para o deficiente se comunicar. O deficiente visual se utiliza exatamente

destes sentidos para compensar a perda da visão; é impressionante perceber que,

fazendo uso destes sentidos, o deficiente visual desenvolve suas sensibilidades de

forma única, conseguindo escutar, sentir, cheirar, perceber o espaço físico com uma

qualidade muito superior à de pessoas que enxergam perfeitamente. Foi possível

juntar o conjunto dos sentidos com o uso das tecnologias, não para que um

diminuísse ou outro, mas sim para agregar, dado que um não exclui o outro. Com as

tecnologias, o deficiente viu seu universo comunicacional se expandir de maneira

nunca antes imaginada; a tecnologia entrou no mundo do deficiente como uma

forma de ampliá-lo, dando novas possibilidades de interação em um mundo cada

vez mais digital.

No documentário “Janela da Alma”, o vereador Arnaldo Godoy relata - em

uma breve conversa com o motorista que está o conduzindo para o lugar da

entrevista - justamente essa forma diferente de ver a "realidade":

Arnaldo: Aí você vai virar a primeira à esquerda. Motorista: Arnaldo, como é que você sabe, assim, o caminho todo, se você não está vendo? Arnaldo: A gente vai fazendo um mapa na cabeça. Eu fiz uma maquete de Belo Horizonte. Logo onde você puder parar aí, pegar uma moça que está neste prédio aí. Motorista: Vocês estão vendo, né? Eu tenho que ficar ligado em outras referências.

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Arnaldo: Descida, subida, gira, barulho de rua são os meus sinais. Eu vou construindo essas referências nas ideias...

Figura 2

Arnaldo relata exatamente a forma pela qual o deficiente visual vai se

apropriando do espaço onde vive para poder enxergar de outra forma, usando os

seus sentidos e também os conceitos e métodos da psicologia desenvolvidos por

Hugo Münsterberg, quais sejam, a atenção, memória, imaginação e emoções.

O documentário cumpre, de modo satisfatório, sua função de reforçar a ideia

de que a memória visual bem como toda forma de percepção estão,

impreterivelmente, ligadas à emoção. O olhar é uma interpretação mediada pelos

conceitos, valores, cultura, meio, enfim, pelo ponto de vista do espectador, assim

como foi observado nas entrevistas feitas com os deficientes visuais nas

instituições.

3.3 Mediação da midiatização digital

O que Münsterberg, o documentário “Janela da Alma” e as entrevistas

realizadas mostram é apenas a ponta do iceberg para uma infinidade de

possibilidades que as novas tecnologias trazem a fim de facilitar ao deficiente o

acesso, de forma mais prática e ágil, ao mundo audiovisual: isto tudo através da

comunicação mediada pela midiatização digital.

A nova tecnologia digital, aplicativos e softwares são, atualmente, importantes

ferramentas para que o deficiente visual possa se tornar cada vez mais livre,

autônomo e independente.

Arnaldo Godoy. “Janela da Alma” (2001).

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Eu acho que o uso das novas tecnologias só agregou, antes a pessoa vivia mais isolada ainda, hoje você pode se comunicar com muitas pessoas. Aqui, por exemplo, cada uma é de um lugar diferente de São Paulo, se não fosse a ADEVA e a tecnologia acredito que nenhum de nós teria nos conhecidos. Até meus vinte anos eu não conhecia ninguém com o mesmo problema que eu tenho, agora eu conheço várias pessoas e posso comunicar tranquilamente com elas. Todos nós aqui viemos em busca de inclusão digital, de conhecimento, de trabalho e a tecnologia ajudou muito nisso tudo. (Entrevistado 4).

É claro que não é possível ver apenas benefícios com a chegada de novas

tecnologias, existem também algumas dificuldades. Junto ao advento da internet,

aos poucos, foram sendo desenvolvidas novas ferramentas de mediação para um

público específico (aquele com algum tipo de deficiência), mas certamente tais

ferramentas não são criadas na mesma velocidade com a qual se produzem

inovações voltadas para o público vidente. O desenvolvimento de um software para

uma determinada deficiência leva tempo, dinheiro e vontade para que seja

concebido e nem sempre os governantes estão dispostos a investir no

desenvolvimento de aplicativos que facilitem a vida de uma minoria da sociedade.

No entanto, atualmente, alguns softwares e apps são desenvolvidos por entidades

sem fins lucrativos ou até mesmo por pessoas com alguma deficiência e que se

interessam em mudar um pouco o mundo.

Primeiro eu acredito que as instituições e fundações são muito importantes na formação para o uso tecnológico dos DVs eles acreditam que as instituições com curso e ferramentas são de extrema importância na formação e na orientação para o uso das ferramentas tecnológicas. Existem vários cursos desde as ferramentas disponíveis até o software mais sofisticados para o desenvolvimento do trabalho. As instituições servem como ponto de referência para mostrar aos DVs as descobertas tecnológicas mostrando ao deficiente um novo caminho de como usar diversos aplicativos whatsapp, facebook, internet, curso, trabalhos etc. (Entrevistado 9).

Existia, há alguns anos, uma enorme diferença na quantidade de apps

produzidos para o público vidente e para o deficiente visual. Porém, atualmente este

cenário está mudando, ainda que de forma lenta, contudo constante - sendo

possível já se notar essa diferença. Se for efetuada uma breve busca no Google

Play digitando-se as palavras-chave “aplicativos para deficientes visuais”, os

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resultados obtidos serão milhares de aplicativos - tanto grátis como pagos - voltados

ao deficiente visual. Mas obviamente, tal disponibilidade de aplicativo não era tão

abundante há alguns anos; conforme aumenta a procura, aumenta também a

vontade dos desenvolvedores em criar novos apps.

No início da popularização da internet, ou seja, ao final da década de 90, os

aplicativos existentes eram destinados apenas para computadores, até porque as

redes sem fios (wi-fi, 3G e 4G) só se tornariam populares um pouco mais tarde. A

popularização dos apps só foi difundida com toda a sua intensidade a partir de 2008,

período em que surgiram os primeiros apps voltados para celulares.

Hoje em dia, os apps são ferramentas de enorme importância para a

transformação da vida do deficiente visual e de pessoas com algum outro tipo de

deficiência; é por meio desses aplicativos que o deficiente visual encontra mais uma

forma de se comunicar e ver o mundo a sua volta. É mais uma ferramenta

tecnológica que faz a mediação do deficiente com as mais diferentes maneiras de se

comunicar no século XXI.

Atualmente, além das formas não técnicas citadas no decorrer desta pesquisa

- sentidos e atenção, memória, imaginação e as emoções -, o deficiente visual

dispõe de formas técnicas que facilitam o acesso a uma nova realidade. Realidade

esta que possibilita ao deficiente uma liberdade e autonomia para uma interação

mediada com o mundo, a qual nunca fora pensada anteriormente. Liberdade talvez

seja o termo apropriado para se designar a aspiração que o deficiente visual sempre

almejou. E com a liberdade, vem à autonomia de poder ir para onde se quer; de

poder assistir a um filme, navegar na internet, ler (escutar) um jornal, um livro, ir com

segurança às praças, ruas e avenidas, sem a interferência de terceiros.

Os computadores, softwares, apps, smartphones, tablets e a internet são

ferramentas tecnológicas que revolucionaram a forma pela qual o deficiente visual

interage com a realidade; todo esse meio tecnológico se tornou uma forma de

mediação para que o ele tenha total autonomia, transformando assim o mundo dos

deficientes visuais em pequenas, médias e grandes telas invisíveis, mas que os

guiam com segurança e liberdade.

Em um mundo “tudo tela” - conforme denominação de Gilles Lipovetsky

(2009) - é impossível que mais de 7 milhões brasileiros deficientes visuais (IBGE,

2013) fiquem à margem dessa nova midiatização digital que as telas proporcionam.

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A tela invadiu o mundo; o cinema, smartphone, tablet e a internet revolucionaram a

forma de se usar a tela.

Para o deficiente com baixa visão, esse mundo “tudo tela” é mais uma

oportunidade para que ele consiga ir, aos poucos, dando passos neste universo tão

tecnológico que transforma a vida do ser humano.

Eu perdi a visão há pouco tempo. Quando eu tinha baixa visão eu usava a imagem perto de mim mesmo que ficava um pouco embaçada. Depois no computador eu comecei a usar alguns programas para aumentar a tela, então isso facilitava muito. Pra algumas pessoas que têm baixa visão é melhor enxergar no escuro, para outras é melhor no claro. Também tem vários tipos de baixa visão, no meu caso eu não consigo enxergar de frente, eu olho fixo para seu rosto ele some. Foi à visão central que foi afetada. Tem gente que não enxerga do lado. (Entrevistado 5).

Talvez, atualmente, possa-se afirmar que a contemporaneidade é repleta de

possibilidades tecnológicas - seja para deficientes visuais ou para videntes. O

smartphone conectado à internet é uma das ferramentas atuais mais importantes

utilizadas pelos deficientes visuais para se manterem conectados à nova realidade

contemporânea; estar com o smartphone conectado à internet é quase

indispensável para que o deficiente visual possua quase total autonomia. Uma das

perguntas realizadas nas entrevistas foi sobre qual aparelho tecnológico era mais

usado no dia a dia e a resposta dada pela grande maioria foi a seguinte:

Smartphone e computador. Mas eu uso mais o celular porque é a ferramenta tecnologia que tem a possiblidade de poder ser portátil e a mobilidade facilita muito poder ter tudo em um pequeno aparelho. Tive descolamento de retina em olho e depois tive no outro e agora estou zerado. (Entrevistado 9).

Se os videntes, de uma forma geral, tornaram-se dependentes do

smartphone, os deficientes visuais encontraram no celular uma forma segura de

mobilidade e de interação com o universo do ciberespaço.

Os deficientes visuais viam o mundo por meio da atenção, memória,

imaginação, emoções, corpo, Braille e outros sentidos, os quais sempre usaram

para poder se comunicar e interagir com o mundo. Atualmente, as tecnologias

digitais oferecem ao deficiente novas maneiras e formas de agir, de interagir e de se

comunicar com o mundo de uma forma totalmente autônoma. Claro que o deficiente

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é grato, e muito, aos avanços obtidos no meio tecnológico, por isso veem também

na tecnologia - apesar de algumas desvantagens - a possibilidade de continuar

melhorando a cada dia.

Tem vantagens e desvantagens. No meu ponto de vista, por exemplo, o áudio book tem ponto bom e ponto ruim. O ponto bom é que você é que eu estou igual a você escutando o áudio book lá igual a você; agora o ponto ruim é que muitos deficientes sentem dificuldade de aprender o Braille porque na hora de escrever você tem dificuldade de escrever uma palavra correta. Por quê? Por que você não trabalhou sua leitura. Se você tem uma visão ampliada você trabalha o seu conhecimento em conjunto com a tecnologia e as outras coisas que ajuda você no aprendizado. E assim você trabalha o seu cérebro para que ele não se esqueça daquela palavra. (Entrevistado 2).

Mas também foi visível durante a pesquisa empírica que muitos dos

deficientes visuais entrevistados perceberam mais vantagens do que desvantagens

no uso das tecnologias em seu dia a dia. Isso foi claramente possível de perceber,

pois em todas as instituições visitadas os entrevistados estavam munidos de seus

smartphones ou tablets, mostrando claramente a importância da adesão ao acesso

à internet e a importância da mobilidade que essas novas ferramentas proporcionam

a todos.

Portanto, é possível perceber que tanto nos estudos de Münsterberg, no

documentário e nas entrevistas feitas nas instituições pesquisadas, as tecnologias

não acabam com aquilo que foi ou que ainda é desenvolvido automaticamente pelo

deficiente visual (a atenção, memória, imaginação e emoções), elas se tornam

parceiras e se conectam com os outros sentidos existentes no deficiente visual

(olfato, audição, tato, paladar) e, assim, transforma-se em um grande fluxo de

interação e conhecimento pelo qual a comunicação audiovisual é transmitida, de

modo que o deficiente visual possa aproveitar os benefícios oferecidos a fim de

viver melhor, sem preconceitos e sem ser subestimado em sua capacidade de

contribuir cada dia mais e melhor neste universo cada vez mais tecnológico e digital.

3.4 Breves dados da pesquisa empírica

Segundo dados da OMS e do IBGE 2010. A população estimada de pessoas

com deficiência visual no mundo é de 285 milhões, sendo 39 milhões cegos e 246

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milhões com baixa visão. Previsões atuais estimam que o número de pessoas cegas

dobre até o ano 2020. Isto se deve a fatores como o crescimento populacional

mundial, com um aumento do número de pessoas acima dos 65 anos, além da falta

de diagnóstico de algumas doenças crônicas como o glaucoma e de uma maior

sobrevivência de bebês prematuros que podem vir a ter a retinopatia pediátrica, a

segunda maior causa de cegueira infantil. Os deficientes estão assim distribuídos

nas regiões do país.

De acordo com dados do IBGE de 2010 do total da população brasileira,

23,9% (45,6 milhões de pessoas) declararam ter algum tipo de deficiência. Entre as

deficiências declaradas, a mais comum foi a visual, atingindo 3,5% da população.

Aproximadamente vivem hoje no Brasil mais de 6,5 deficientes visuais (menos de

30% tem acesso a algum tipo de tecnologia).

As entrevistas, visitas e o questionário foram feitos em três instituições da

cidade de São Paulo (ADEVA, LARAMA e Dorina Nowill).

Gráfico – 1 Porcentagem de deficientes no Brasil

574.8233.6%

2.192.4554.1%

2.508.5873.1%

866.0863.2%

443.3573.2%

Deficiência visual no BrasilDados de 2010 IBGE

Norte

Nordeste

Sudeste

Sul

Centro-Oeste

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As entrevistas, visitas e o questionário foram feitos em três instituições da

cidade de São Paulo (ADEVA, LARAMA e Dorina Nowill). Quinze participantes das

diferentes instituições foram entrevistados e assim distribuídos.

Gráfico - 2 Entrevistas

A ADEVA foi fundada em 2000 e, ainda hoje, é a única instituição na cidade e

naquela região que atende pessoas com deficiência visual. Em seus 13 anos de

funcionamento, ampliou de oito para 60 o número de participantes nas atividades

que oferece; A Laramara foi fundada em 1991 e já ajudaram mais de 10 mil pessoas

no Brasil. Hoje, ela atende 750 usuários por mês e a Fundada em 1946 por Dorina

Nowill. A fundação atende mais de mil pessoas por mês.

0.6

0.5

0.4

Entrevistados

ADEVA

Dorina Nowill

LARAMARA

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Depois de assegurado o domínio tanto da natureza em seus componentes

mais elementares (átomos e partículas subatômicas na física; o DNA na biologia)

como do espaço-tempo (transportes, informação e comunicações), a influência

decisiva sobre o pensamento estaria mais bem assegurada com profundas

repercussões sobre o comportamento humano e sobre o sentido da vida. Eis que a

vida humana - até a liberdade de seu lazer ou até o simples ficar em casa - está

perpassada pelos objetos técnicos, bem como pela lógica da técnica. Televisão,

smartphones, tablets, cinema e internet, por exemplo, além de recursos técnicos de

lazer e cultura, acabaram por perpetrar uma revolução cultural da qual submerge

uma cultura diferente, a cultura da tecnologia, da convergência, que se torna a

cultura da imagem, do audiovisual, do virtual, do online, do conectado, e do não

lugar (digitalização de imagens, filmes de realidade virtual). Para que não existisse

mais tempo e nem espaço, a cultura da conexão, da interatividade, perpassou todos

os possíveis espaços geográfico para poder ir além, algo nunca antes imaginado.

Percebe-se que toda essa evolução tecnológica foi, indubitavelmente, uma

importante aliada para a transformação do ser humano. Com essas transformações,

também foram beneficiados grupos específicos, tais como pessoas com algum tipo

de deficiência. Esses benefícios tendem a demorar mais para chegar a um público

específico, mas atualmente, como mostrado na pesquisa, já é possível acelerar o

uso e aproveitar algumas ferramentas que auxiliam esse público, seja na locomoção,

na audição, na visão ou em quaisquer outras formas de deficiência.

Atualmente, o deficiente visual pode fazer uso de várias ferramentas

tecnológicas, de modo a se tornar, com elas, um pouco mais independente. Com as

tecnologias, a sensação de liberdade, de independência e de poder - no sentido de

“eu posso, eu consigo fazer sozinho” - fica cada vez mais próxima e possível do real.

Depois de perpassar todos os itinerários proposto na pesquisa, é possível

afirmar que não há dúvidas sobre a inestimável importância das tecnologias digitais

no dia a dia do deficiente visual. Elas representam uma fonte inesgotável de

conhecimento, de interatividade, de conectividade e de abertura para uma nova

realidade na qual o deficiente se depara com possibilidades de adentrar neste

universo midiático. As tecnologias digitais se configuram como os meios mais

rápidos e eficazes para a construção de uma sociedade justa, solidária e

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democrática. Por essa razão, foi fundamental perceber que essas tecnologias não

se sobrepuseram à formação básica do deficiente visual, mas sim agregaram novos

elementos para a sua comunicação. As tecnologias estão a serviço de seus usuários

e não seus usuários a serviço delas; é assim que os deficientes pesquisados veem

as tecnologias, como parceiras, cuja finalidade é ser facilitadoras para a

interatividade com as demais pessoas. Não se pode aí inverter os lados e se tornar

refém das novas ferramentas tecnológicas que surgem a todo instante. Se as

tecnologias não estão plenamente a serviço para esta finalidade, é importante não

ignorar que, sem a ajuda delas, é praticamente impossível inverter essa situação; é

só através das tecnologias que se podem mudar as tecnologias.

Diante da pesquisa realizada, foi possível perceber que várias ferramentas

tecnológicas estão sendo criadas e pensadas para que o deficiente visual possa

participar, de forma igualitária, desse mundo cada vez mais midiático e digital. É

possível perceber tal fato nas principais transformações e mudanças ocorridas no

dia a dia do deficiente visual, como por exemplo, novos softwares e apps criados

com maior preocupação e cuidado para que, realmente, possam suprir a

necessidade e as exigências de seus usuários, ou ainda, novos programas que

facilitam o acesso do deficiente a redes sociais, websites e, em diferentes lugares,

programas como leitores de telas, áudio book, bengalas eletrônicas, GPS e também

programas para aumentar a tela, entre muitos outros. Mas não para por aí,

atualmente o smartphone, quase em sua maioria, já vem com leitores de tela

instalados, facilitando a vida do usuário com deficiência, dando liberdade e mais

facilidade para que ele possa interagir com mais confiança.

Claro que os deficientes visuais entrevistados nesta pesquisa sempre

quiseram certa liberdade e autonomia, e é evidente que isso veio, com maior

facilidade, com as tecnologias; no entanto, trouxe consigo outro tipo de isolamento

de dependência, quase transformando os deficientes visuais em “reféns” da

tecnologia. Essa era uma das preocupações de Heidegger, qual seja, a de que

talvez, um dia, o homem se tornasse tão dependente da técnica ao ponto de se

sentir totalmente dependente das tecnologias. As preocupações de Heidegger

ficaram claras tanto nas pesquisas realizadas, como nas leituras de pesquisadores

da tecnologia e nas pesquisas empíricas. Nas entrevistas, era patente para muitos

entrevistados que, com as tecnologias, o deficiente visual ganhou autonomia, ou

seja, que não precisava mais da ajuda de um terceiro para se deslocar de um lugar

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para outro, pois tinha a tecnologia como uma aliada para se deslocar com confiança

e segurança. Mas, ao mesmo tempo em que a tecnologia deu liberdade ao

deficiente visual, ela também o tornou subordinado. Ao passo que alguns exaltaram

as tecnologias digitais e a genialidade do homem em criar novas possibilidades

tecnologias, outros se sentiram presos a elas, mas jamais abririam mão de viver sem

tais tecnologias. Mesmo se sentindo presos, ainda sim é melhor ter as tecnologias

como suporte para acessar lugares que antes não teriam possibilidade. O

smartphone, por exemplo, é claramente uma ferramenta que se tornou - para o

deficiente visual - uma segunda bengala, dando sim, autonomia e liberdade, mas

certamente, também uma dependência. No entanto, essa forma de dependência

nunca se constituiu como um problema para nenhum dos pesquisados.

A pesquisa feita alcançou resultados de muita importância para a relação dos

deficientes visuais com as tecnologias audiovisuais. Tais resultados, a partir do

arcabouço trabalhado, foram demostrados no decorrer dos capítulos e também por

meio das pesquisas realizadas; foi possível verificar os principais avanços e ganhos

tecnológicos que possibilitaram ao deficiente visual participar de forma igualitária

desse mundo cada vez mais midiático e digital. Foram identificadas, ainda, as

mudanças, transformações, sociabilidade e interatividade midiática ocorridas com o

surgimento da cultura tecnológica digital para o deficiente visual; fator que

compreende, assim, o deficiente visual não como diferente - mas sim como igual.

Mas nem só de tecnologia vive o deficiente visual; nas pesquisas realizadas,

percebeu-se que os deficientes fazem grande uso dos outros sentidos, mesclando-

os com as tecnologias. Esses sentidos se transformaram, ao mesmo tempo, em

“vários olhos”, suprindo assim a falta da visão, e conectados às ideias propostas por

Münsterberg (atenção, memória, imaginação e emoções), é facilmente percebível

que, além de todos estes elementos naturais do ser humano, o deficiente

desenvolve com certa habilidade a atenção, a memória e a imaginação, conectando

com certa facilidade todos estes elementos à tecnologia. Isto é, conectando-os às

tecnologias, o deficiente visual ganha, e muito, em qualidade de vida; adquire total

liberdade e autonomia para viver uma vida cada vez mais integrada às tecnologias

audiovisuais. E é este um dos caminhos no qual muitos deficientes visuais

conseguem com, muita rapidez, se adaptar em uma forma diferente de ver e

perceber o mundo a sua volta.

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Nas pesquisas realizadas, as conectividades estavam sempre presentes, ou

seja, as conexões das tecnologias audiovisuais com os sentidos que restaram ao

deficiente visual audição - olfato, paladar e tato - e com os elementos pesquisados

por Münsterberg - atenção, memória, imaginação e emoções. Essas conectividades

foram vistas nas pesquisas como algo natural, que acontece aos poucos e, em

muitos casos, ocorre mesmo sem o deficiente se dar conta. Em algumas

circunstâncias, o deficiente só passa a perceber no momento que a visão vai se

tornando cada vez menos importante; deste modo, ele vai criando novas

possibilidades e formas de ver o mundo.

Diante do exposto, é impossível não ver uma perspectiva de construção de

um mundo mais humano que, além de assegurar a satisfação, o acesso, a

conectividade das necessidades do homem tecnológico, constitui-se também como

possibilidade de sua liberdade; liberdade e autonomia em relação à natureza, às

tecnologias, às coisas e aos outros homens, seus iguais. A possibilidade de

liberdade nasce da capacidade dada pela razão prática, que permite ao homem

significar o mundo que o cerca (a natureza e os outros homens) e a si mesmo,

enquanto orienta o seu agir. É por meio da ação humana que se constrói um mundo

mais tecnológico e mais humanizado; é inegável para o homem do nosso tempo que

a ciência e suas aplicações técnicas constituem atividades principais que constroem

e reconstroem este mundo humano, isto é, modificam a cultura. A ciência

tecnológica é humanizante quando crítica, constrói e reconstrói o edifício do saber

teórico e prático com pretensão de verdade. É também com base nessa mesma

pretensão que a ciência justifica-se perante a sociedade. Dessa forma, a atividade

científica, na medida em que sua pretensão de verdade pode ser reconhecida pela

razão prática, constitui para o homem um bem e um valor que orienta o seu agir.

Orientar o agir é saber como, porque, para quem e com quem irá usar os recursos

tecnológicos que estão disponibilizados para sociedade atualmente; a pretensão de

verdade, assim entendida, é motivação profunda para uma série de práticas culturais

na nossa civilização científico-tecnológica, como a pesquisa, o ensino, o

desenvolvimento de novas tecnologias, a produção de objetos técnicos, a

implantação de políticas e de sistemas econômicos locais e globais. Este sim é um

novo mundo tecnológico digital que se abre, e o faz para um novo tempo, no qual é

possível viver com mais e mais esperança, dignidade, liberdade e autonomia. É,

portanto, esses desejos tecnológicos constituídos e conectados a elementos

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inerentes ao ser humano que quase todas as pessoas com deficiência visual

entrevistadas querem e almejam, ou seja, que o mundo possa compreender o

deficiente visual não como diferente - mas sim como igual.

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APÊNDICE

Neste presente trabalho foram entrevistados 15 colaboradores deficientes

visuais de 3 diferentes instituições diversas (ADEVA 6, Dorina Nowill, 5 e

LARAMARA, 4). Seis perguntas foram realizadas em cada instituição a fim de

direcionar o trabalho da pesquisa; tais perguntas foram concretizadas com a

finalidade de saber qual o conhecimento e uso tecnológico das mídias digitais e

audiovisuais pelas pessoas com diferentes graus de deficiência visual e como estes

percebem a imagem em movimento nos gadgets móveis.

O objetivo das entrevistas era entender o uso - de forma teórica e empírica -

das novas tecnologias audiovisuais para o deficiente visual, tentando perceber como

ele pode participar de forma igualitária desse mundo cada vez mais midiático e

digital e quais as transformações e as mudanças decorrentes do despontar das

tecnologias digitais contemporâneas para o deficiente visual. Por último, investigar

empiricamente os diferentes graus de deficiências visuais e tentar mapear - através

de visitas e questionários - como cada deficiente visual, com seus respectivos graus,

percebe a imagem em movimento e a aplicação das sensações, dos sentidos no uso

das ferramentas tecnológicas em seu dia a dia.

As transcrições das entrevistas foram feitas de acordo com as datas e as

realizações das visitas nas três instituições (ADEVA, Dorina Nowill e LARAMARA)

da cidade de São Paulo; as perguntas foram as mesmas para as três instituições.

Esta primeira sequência de perguntas foi realizada na visita feita em

31/07/2015 na ADEVA. Nessa instituição, estiveram presentes 6 pessoas - entre

homens e mulheres - para a realização das entrevistas.

1 – Quais as tecnologias mais usadas no dia a dia de vocês? Quantos graus de deficiência (em porcentagem) visual você tem? Entrevistado 1 Smartphone e notebook, não sei quantos graus! Entrevistado 2 Smartphone com tela de toque. Eu prefiro este porque uso com mais facilidade e notebook. Eu tenho apenas 15% de visão. Entrevistado 3 Smartphone de tecla, mas quase não encontramos mais para comprar e notebook, não sei quantos graus!

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Entrevistado 4 Smartphone e notebook, tenho 25% da visão em um olho. No outro não enxergo absolutamente nada. Entrevistado 5 Smartphone e notebook, sou cego dos dois olhos! Essa é uma pergunta subjetiva pra C... eu não seu o que é 100%. Os Oftalmos têm uns cálculos diante da gente que ninguém entende. Há muito tempo atrás me falaram que eu tinha 10%, mas eu não sei quanto que eu tenho agora. Entrevistado 6 Smartphone e notebook. Sou totalmente cego! 2 - Os gadgets (Dispositivos eletrônicos portáteis como PDAs, celulares, smartphones, ipad, iphone e tablets) são hoje, uma forma natural para que o deficiente visual possa participar desse mundo cada vez mais midiático e digital? Entrevistado 1 Com certeza a tecnologia evolui muito e nos ajudou muito. Entrevistado 2 A pessoa cega e com baixa visão a tecnologia ajudou muito não só para estudar. Antigamente a pessoa só tinha livro em Braille. Era difícil. Hoje com a tecnologia temos várias opções. A tecnologia virou para o deficiente uma ferramenta de trabalho deixando a sua vida melhor. Por exemplo, algumas pessoas me perguntam se eu uso apenas sites adaptados para deficiente visual, no meu caso e uso quase todos site; no Facebook por exemplo eu mexo sem medo consigo mexer muito bem. Entrevistado 3 Hoje em dia você tem ferramenta como o Google que ajuda muito a partilhar conhecimento. Entrevistado 4 A gente tem uns sites como cegueta.com que você pode usar para muitas coisas baixar música, conteúdos, bate papo e vários conteúdos para o nosso uso que facilita muito. Entrevistado 5 Com certa nos ajuda e muito Entrevistado 6 Ajuda e muito. Por exemplo, hoje em dia nem precisamos para pensar para usarmos essas ferramentas é sim uma forma natural para que o deficiente visual possa participar desse mundo cada vez mais cheios de tecnologias. 3 - Como você percebe a imagem em movimento no seu gadget? Entrevistado 1

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Para mim vejo um vulto levemente, mas se eu chegar bem perto da tela da televisão ou do tablet consigo ver um pouquinho, mas preciso chegar bem pertinho para conseguir ver alguma coisa. Praticamente preciso encostar a cara na tela. Entrevistado 2 Para mim é bastante complicado por eu não vejo nada, então a pessoa precisa descrever a foto que me enviaram, por exemplo, tem sites muito bons como o G1 que quase em todo o site além de poder fazer a áudio descrição descrevem também a foto que aparece na matéria isso é muito bom para nós que somos deficientes. Entrevistado 3 Para mim também tem que ter um texto atrás da figura se não eu não leio! Entrevistado 4 Eu vejo um vultozinho no futebol eu vejo o vulto dos jogadores pra lá e pra cá. Quando estou assistindo com meu filho que enxerga eu escuto o apito do juiz e digo está impedido. Eu vi o apito do juiz antes dele. Quando você enxerga você nem percebe isso, eu ouvi o apito do juiz. Nossa visão é ao vivo. Entrevistado 5 Eu perdi a visão há pouco tempo. Quando eu tinha baixa visão eu usava a imagem perto de mim mesmo que ficava um pouco embaçada. Depois no computador eu comecei a usar alguns programas para aumentar a tela, então isso facilitava muito. Pra algumas pessoas que têm baixa visão é melhor enxergar no escuro, para outras é melhor no claro. Também tem vários tipos de baixa visão no meu caso eu tenho eu não consigo enxergar de frente eu olho fixo para seu rosto ele some. Foi à visão central que foi afetada. Tem gente que não enxerga do lado. Entrevistado 6 Eu não vejo nada! Apenas um pouco de luz. Quando troca a luz fica mais escura e mais clara. 4 – Qual a importância da tecnologia para a vida de vocês? Entrevistado 1 Essencial! Entrevistado 2 Eu acho que tem duas diferenças para a pessoa que enxerga e não entende muito de computador as tecnologias vai ajudar essa pessoa a perceber e conhecer outras coisas; para a pessoa que não enxerga é algo parecido ela vai nos ajudar a ver de uma forma diferentes coisas que eu não teria acesso se não fossem a tecnologia. Entrevistado 3 Eu não sei qual o limite de cada um, mas eu vejo que estas ferramentas são iguais para quem enxerga ou para quem não enxerga. Serve e ajuda todo mundo. Entrevistado 4 Não sei se é porque a gente não enxerga, mas para mim as tecnologias são muito importantes no meu dia a dia.

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Entrevistado 5 Eu acho muito importante. Para mim melhorou o processo do aprendizado e convívio com outras pessoas no dia a dia. Entrevistado 6 Para mim a tecnologia trouxe velocidade e informação. Antigamente tinha apenas o livro de história, hoje em dia não, agora tem a internet que eu posso ir lá e pesquisar um pouquinho mais sobre o assunto. 5 - Quais as vantagens e as desvantagens de utilizar as tecnologias digitais no processo da liberdade e autonomia do DV? Entrevistado 1 Acho que a pessoa precisa conciliar as duas coisas as coisas que nos ajuda no dia a dia com a tecnologia. Eu acho que as tecnologias nos deram muito liberdade e autonomia, mas ao mesmo tempo assim como vocês também nos isola de outras pessoas, pois quando estou usando o meu smartphone todo mundo sabe que estou usando, mas quando as pessoas que estão a minha volta estão usando eu não sei. Entrevistado 2 Tem vantagens e desvantagens. No meu ponto de vista, por exemplo, o áudio book tem ponto bom e ponto ruim. O ponto bom é que você é que eu estou igual a você escutando o áudio book lá igual a você; agora o ponto ruim é que muitos deficientes sentem dificuldade de aprender o Braile porque na hora de escrever você tem dificuldade de escrever uma palavra correta. Por quê? Por que você não trabalhou sua leitura. Se você tem uma visão ampliada você trabalha o seu conhecimento em conjunto com a tecnologia e as outras coisas que ajuda você no aprendizado. E assim você trabalha o seu cérebro para que ele não esqueça aquela palavra. Entrevistado 3 Desvantagem do leitor de tela, por exemplo, muitos leram casa mesmo que casa esteja escrito com Z, eles não sabem que casa se escreve com S, por isso a importância de conciliar a duas coisas. Aprender a ler e escrever no Braile para usar bem as tecnologias. Mas acredito que temos muito mais vantagens do que desvantagens. Entrevistado 4 Eu acho que só agregou antes a pessoa vivia mais isolada ainda, hoje você pode se comunicar com muitas pessoas. Aqui por exemplo, cada uma é de um lugar diferente de São Paulo se não fosse a ADEVA e a tecnologia acredito que nenhum de nós teríamos nos conhecidos. Até meus vinte anos eu não conhecia ninguém com o mesmo problema que eu tenho agora eu conheço várias pessoas e posso comunicar tranquilamente com elas. Todos nós aqui viemos em busca de inclusão digital, de conhecimento, de trabalho e a tecnologia ajudou muito nisso tudo. Entrevistado 5 Não, não eu não acho que tenha algumas desvantagens eu acho que só tem vantagens. Muito importante também foi a nossa inclusão, hoje em dia podemos

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falar com qualquer pessoa por meio da internet e a tecnologia. Melhorou muito a parte relacional tanto para conversar quanto para trabalho. Entrevistado 6 Talvez em relação com o ser humano tenha trazido vantagens e desvantagens. Antes estava conversando com uma mina pessoalmente era melhor; agora com a tecnologia agente se afastou um pouco e usamos mais a tecnologia para se comunicar. Mas sem sombra de dúvida nos deu sim muita autonomia e liberdade. 6 – Qual a importância dos outros sentidos (audição, olfato, paladar e tato) e outras sensações que vocês usam para se comunicar? Entrevistado 1 Todos os sentidos são muito importantes para que possamos comunicar melhor entre nós mesmo e com as pessoas videntes. Usamos muito a imaginação para construir nosso próprio muito de uma forma diferente para cada um. Entrevistado 2 Eu por exemplo, que não enxergo eu trabalho muito a minha imaginação e meus outros sentidos. Imaginação daquela imagem que está sendo descrita no texto e no áudio book. Entrevistado 3 Eu acredito que colocamos todos os outros sentidos para funcionarem e eles funcionam muito bem. A imaginação é quando eu crio a imagem no meu cérebro, eu construo a imagem dentro da minha cabeça. Entrevistado 4 Não sei como é para uma pessoa que nunca enxergou como ela constrói essa imagem. Talvez ela precise que alguém descreva realmente como é um objeto para que ela possa tentar na sua mente construir a sua própria imagem daquilo que ela imagina que seja o que seus sentidos estão capitando. É assim que eu consigo colocar toda a minha atenção em algo para que eu possa compreender da melhor forma possível. Essa é uma forma de olhar a imaginação. Entrevistado 5 Para quem nunca viu nada é preciso usar todos seus sentidos para poder compreender realmente aquilo que a coisa é, e assim construir sua própria imagem na cabeça. Entrevistado 6 Eu uso muito a audição e o tato para ajudar na minha perda da visão e os outros sentidos estão mais aguçados para perceber tudo que acontece ao meu redor, são eles que me ajuda a enxergar melhor. Visita realizada com questionário e perguntas realizadas na instituição Dorina Nowill nos dias 04/08/2015 e 11/08/2015. Cinco pessoas entrevistadas.

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1 – Quais as tecnologias mais usadas no dia a dia de vocês? Quantos graus de deficiência (em porcentagem) visual você tem? Entrevistado 7 Smartphone e computador. Tenho apenas 20% da minha visão. Entrevistado 8 Smartphone e computador. Sou sego de nascença. Nasci assim! Entrevistado 9 Smartphone e computador. Mas eu uso mais o celular porque é a ferramenta tecnologia que tem a possiblidade de poder ser portátil e a mobilidade facilita muito poder ter tudo em um pequeno aparelho. Tive descolamento de retina em olho e depois tive no outro e agora estou zerado. Entrevistado 10 Smartphone e computador. Não sei quantos por cento tenho de visão fiquei cego depois de um acidente e tive descolamento de retina. Entrevistado 11 Smartphone e computador. Tenho deficiência total. Tive descolamento de retina. Por causa da diabete. 2 - Os gadgets (Dispositivos eletrônicos portáteis como PDAs, celulares, smartphones, ipad, iphone e tablets) são hoje, uma forma natural para que o deficiente visual possa participar desse mundo cada vez mais midiático e digital? Entrevistado 7 No início é um desafio, mas tudo hoje tem informática, portanto, eu preciso de estar atento a isso. Entrevistado 8 São essenciais! Eu estou acostumando usar o smartphone, ela está mais acostumada com o PC para os trabalhos profissionais. A tecnologia é tão boa para ajudar a facilitar a nossa vida no dia a dia. Entrevistado 9 Primeiro eu acredito que as instituições e fundações são muito importantes na formação para o uso tecnológico dos DVs eles acreditam que as instituições com curso e ferramentas são de extrema importância na formação e na orientação para o uso das ferramentas tecnológicas. Existem vários cursos desde as ferramentas disponíveis até o software mais sofisticados para o desenvolvimento do trabalho. As instituições servem como ponto de referência para mostrar aos DVs as descobertas tecnológicas mostrando o deficiente um novo caminho de como usar whatsapp, facebook, internet, curso, trabalhos etc. Entrevistado 10

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Sim, é algo essencial hoje para a pessoa cega e a pessoa com baixa visão. Tecnologia virou tambem uma ferramenta de trabalho para o deficiente visual, ouve uma grande melhora para o deficiente. Entrevistado 11 Acredito que seja muito importante e nos ajuda e muito a participara deste mundo que cada dia mais aparece novas tecnologias como os Apps que são de extrema importância para nós. 3 - Como você percebe a imagem em movimento no seu gadget? Entrevistado 7 Eu percebo variação de cores e percebo o movimento na tela, eu vejo essa mudança na tela, alguns detalhes é impossível de perceber, tamanho de cabelo, cor de pele e roupa etc. Entrevistado 8 Eu consigo perceber a imagem bem pertinho do meu computador, percebo a imagem quase perfeita se eu chego meu pertinho da tela colado no rosto. Entrevistado 9 Não vejo nada! Então para mim acho que minha visão agora é o ouvido e os outros sentidos e minha imaginação. Entrevistado 10 Eu só percebo a luz, mais claro e mais escura. Entrevistado 11 Eu também consigo ver movimentos, mudança de tela essas coisas se eu tiver bem pertinho da tela também. 4 – Qual a importância da tecnologia para a vida de vocês? Entrevistado 7 No início eu não era muito fã, mas hoje eu uso de tudo, não dá para ficar para trás Entrevistado 8 Eu sempre trabalhei com computador e quando eu descobrir outras ferramentas de acesso para o deficiente eu fiquei muito feliz. Porque agora eu posso ter uma ferramenta adaptada para o deficiente visual. Entrevistado 9 A tecnologia é muito importante para mim, mas creio que isso começou a mudar nossa vida de 5 a 6 anos pra cá que começou a aparecer ferramentas que nos ajuda no dia a dia e facilita nossa vida. Entrevistado 10 A tecnologia está tão boa para gente viver que tem um Apps que traduz libra e agora parece que tem alguns que traduz o braile para escrita normal também, então isso nos ajuda muito a nossa vida e a comunicação com outras pessoas.

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Entrevistado 11 Essencial para minha vida. 5 - Quais as vantagens e as desvantagens de utilizar as tecnologias digitais no processo da liberdade e autonomia do DV? Entrevistado 7 As desvantagens são as mesmas de um vidente, acabamos se tornando meio que dependentes dessas tecnologias, mas claro que elas são essenciais para a nossa vida. Outra desvantagem é desatualizações tão rápidas dos smartphones, compramos um telefone agora daqui dois anos ela já não roda mais o App tal, que só vai funcionar no novo smartphone e isso complica muito a vida de quem não tem condições de estar trocando constantemente de telefone. Usamos muito o talk back, mas as vezes as grandes empresas fazem atualizações que não funcionam. Querem melhorar, mas acabam complicando a vida do DV. Entrevistado 8 Acredito que a única desvantagem é o isolamento das pessoas. É injusto porque os outros sabem que você está mexendo, mas você não sabe se os outros estão usando. Entrevistado 9 A tecnologia nós abrem portas para inclusão social apesar de alguns momentos fazer com que isolemos de algumas pessoas (autonomia, cultura, informação) você se sente de novo um membro da sociedade. Entrevistado 10 Não tem nenhuma desvantagem com o uso da tecnologia. No nosso caso aproximou o contato com o ser humano. Para nós DVs mais agregor porque viviamos mais isolado do que qualquer coisa. Se não fossem a tecnologia a gente não se conheciam. Entrevistado 11 Não acredito que exista desvantagens grandes. Acredito que as vantagens superam e muito as desvantagens. 6 – Qual a importância dos outros sentidos (audição, olfato, paladar e tato) e outras sensações que vocês usam para se comunicar? Entrevistado 7 Para mim parece que é automático que os outros sentidos acabam se aguçando de uma certa forma que nos ajudam a compor todo as necessidades auxiliando você a perceber melhor as coisas em sua volta. Entrevistado 8 Eles são fundamentais. Com a perda da visão todos os sentidos são mais aguçados, audição, o tato, o paladar, o olfato. Todos são mais exigidos. Entrevistado 9

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De certa forma parece que o ver agora passa pelas percepções e pelos outros sentidos que nos restaram. Entrevistado 10 A visão é muito imediatista e ela faz o controle de muitas coisas na gente. Por exemplo quando você perde a visão você fica muito desorientado disso, mas aí você se acerta todos esses sentidos ajuda você compor a situação que você tem. É natural e perceptível. Tem várias coisas de olfato e de ouvido que só agora eu percebo melhor e com isso você vai aprimorando seus sentidos. Entrevistado 11 E essencial para minha vida hoje. Necessito das tecnologias e dos meus sentidos para sobreviver eles agora são as formas como eu posso ver o mundo hoje. Visita realizada com questionário e perguntas na instituição LARAMARA no dia 29/09/2015. Quatro pessoas foram entrevistas. 1 – Quais as tecnologias mais usadas no dia a dia de vocês? Quantos graus de deficiência (em porcentagem) visual você tem? Entrevistado 12 Computador, Smartphone e Tablet Entrevistado 13 Smartphone e computador Entrevistado 14 Tablet, Smartphone e computador Entrevistado 15 Smartphone e computador 2 - Os gadgets (Dispositivos eletrônicos portáteis como PDAs, celulares, smartphones, ipad, iphone e tablets) são hoje, uma forma natural para que o deficiente visual possa participar desse mundo cada vez mais midiático e digital? Entrevistado 12 Sim, estes aparelhos chegaram para facilitarem a nossa vida no dia a dia. Entrevistado 13 São ferramentas que nos ajudam a nos libertar de uma ajuda de outra pessoa e isso é muito bom saber que podemos fazer as coisas sozinhas apenas com a ajuda de ferramentas inovadoras como essas. Entrevistado 14

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Claro, com as tecnologias o mundo tende a cada vez mais ser mais e mais acelerado e aos poucos nós vamos correndo atrás para encontrar nosso lugar neste mundo. Entrevistado 15 As novas tecnologias nos dá uma esperança de vivermos em um mundo cada vez melhor. 3 - Como você percebe a imagem em movimento no seu gadget? Entrevistado 12 Não percebo nada de imagem. Quando eu era crianças apenas percebia vultos, mas agora não percebo nada mais, apenas a escuridão. Entrevistado 13 Eu consigo ver uma imagem, cores bem embasadas, mas isso apenas se eu encostar a tela pertinho do rosto, mas bem pertinho mesmo, assim consigo ver algum movimento. Entrevistado 14 Vejo movimentos se eu estiver com a tela direcionada para minha frente assim consigo ver movimentos de diversas cores, mas nada de imagem definida apenas vultos que ajuda a perceber as coisas se movendo. Entrevistado 15 Não percebo nada, mas em compensação escuto e sinto tudo ao meu redor. 4 – Qual a importância da tecnologia para a vida de vocês? Entrevistado 12 Essencial para minha vida. Nem sei como vivi até agora sem essas tecnologias. Entrevistado 13 Parece até brincadeira, mas antes não imaginávamos algo deste tipo e agora é como se fossem parte da gente. Acredito que elas ajudam-nos a vivermos melhores cada vez mais. Entrevistado 14 As tecnologias são extremamente importantes para nossa vida hoje. Às vezes somos quase que dependentes delas, mas é algo também que nos liberta de certa forma. Entrevistado 15 Tem uma importância vital na nossa vida, é algo como que substituímos a necessidade de uma outra pessoas para nos informar das coisas e agora utilizamos smartphone, tablete, computadores para alcançarmos aquilo que queremos. GPS, google, leitores de telas e várias outras ferramentas nos ajudam a vivermos melhores.

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5 - Quais as vantagens e as desvantagens de utilizar as tecnologias digitais no processo da liberdade e autonomia do DV? Entrevistado 12 Eu só vejo vantagem. Eu já nasci neste meio e nem consigo imaginar o mundo sem essas ferramentas. Entrevistado 13 Percebo que existem sim, algumas desvantagens. Por exemplo, substituímos o contato que tínhamos como uma outra pessoas que nos ajudava e agora usamos só essas ferramentas, veja bem, não estou dizendo que é ruim isso, mas vejo que perdemos um pouco mais o contato com o ser humano, mas de uma outra maneira nos deu a possibilidade de conhecer outras que jamais teríamos a oportunidade de conhece-las, vejo que existem então vantagens e desvantagens, as vantagens são muitas como os colegas já disseram. Entrevistado 14 Acho que temos mais vantagens do que desvantagem então prefere ver melhor as vantagens e para tentar assim, suprir as desvantagens que aparecem. Entrevistado 15 As vantagens são inúmeras, às vezes prefiro não ver as desvantagens, gosto de perceber as grandes possibilidades que as tecnologias proporcionam para nós cegos. 6 – Qual a importância dos outros sentidos (audição, olfato, paladar e tato) e outras sensações que vocês usam para se comunicar? Entrevistado 12 Eu estou percebendo agora que minha audição está melhorando melhor e meu olfato também. Entrevistado 13 Essencial para poder ter uma vida melhor. Os outros sentidos, pelo menos em mim, é algo extremamente importante para “ver” as coisas que acontecem a minha volta. Por isso, creio que eles se tornaram automático quando preciso detectar algo ao meu redor. Entrevistado 14 Acho que sem eles a vida seria bem mais complicada. São com eles que eu posso ver o mundo de forma diferente, mas é essa a forma que vejo. Entrevistado 15 Usamos com certeza com mais frequência do que as pessoas que enxergam e isso faz toda a diferença para a pessoa com deficiência visual. Para mim eles foram sem desenvolvidos utilizado melhor depois que perdi a visão é quase alo automático que você nem percebe que vai aprimorando os sentidos que restaram.

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ANEXO

As entrevistas e o questionário foram feitas de acordo com as datas e as

realizações das visitas nas três instituições (ADEVA, Dorina Nowill e LARAMARA)

da cidade de São Paulo; as perguntas foram às mesmas para as três instituições.

Esta primeira sequência de perguntas foi realizada na visita feita em 31/07/2015 na

ADEVA. Nessa instituição, estiveram presentes 6 pessoas - entre homens e

mulheres - para a realização das entrevistas.

DORINA NOWILL: Visita realizada e as perguntas foram feitas na instituição

Dorina Nowill nos dias 04/08/2015 e 11/08/2015. Nessa instituição, estiveram

presentes 5 pessoas - entre homens e mulheres - para a realização das entrevistas

e aplicação do questionário. Cinco pessoas estiveram presentes.

LARAMARA: Visita realizada com questionário e perguntas na instituição

LARAMARA no dia 29/09/2015. Nessa instituição, estiveram presentes 5 pessoas -

entre homens e mulheres - para a realização das entrevistas e aplicação do

questionário. Quatro pessoas foram entrevistas.