o acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

193
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro Biomédico Faculdade de Enfermagem Nádia Regina da Silva Pinto O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde privados na perspectiva dos usuários Rio de Janeiro 2011

Upload: buinhan

Post on 08-Jan-2017

221 views

Category:

Documents


5 download

TRANSCRIPT

Page 1: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Centro Biomédico

Faculdade de Enfermagem

Nádia Regina da Silva Pinto

O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde privados na

perspectiva dos usuários

Rio de Janeiro

2011

Page 2: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

Nádia Regina da Silva Pinto

O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde privados na perspectiva

dos usuários

Dissertação apresentada, como requisito parcial

para obtenção do título de Mestre, ao Programa

de Pós-Graduação em Enfermagem, da

Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área

de concentração: Enfermagem, Saúde e

Sociedade.

Orientadora: Prof.ª Dra. Denize Cristina de Oliveira

Rio de Janeiro

2011

Page 3: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

CATALOGAÇÃO NA FONTE

UERJ/REDE SIRIUS/BIBLIOTECA CB/B

Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta

dissertação, desde que citada a fonte.

_________________________ _____________________

Assinatura Data

P659 Pinto, Nádia Regina da Silva.

O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde privados

na perspectiva dos usuários / Nádia Regina da Silva Pinto. - 2011.

191 f.

Orientadora: Denize Cristina de Oliveira.

Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro,

Faculdade de Enfermagem.

1. Enfermagem – Pesquisa. 2. Saúde suplementar. 3. Seguro saúde. 4.

Exames médicos. 5. Acesso aos serviços de saúde. 6. Satisfação do

consumidor. I. Oliveira, Denize Cristina de. II. Universidade do Estado do

Rio de Janeiro. Faculdade de Enfermagem. III. Título.

CDU

614.253.5

Page 4: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

Nádia Regina da Silva Pinto

O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde privados na perspectiva

dos usuários

Dissertação apresentada, como requisito parcial

para obtenção do título de Mestre, ao Programa

de Pós-Graduação em Enfermagem, da

Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área

de concentração: Enfermagem, Saúde e

Sociedade.

Aprovada em 02 de março de 2011.

Banca Examinadora:

_________________________________________

Prof.a Dra. Denize Cristina de Oliveira (Orientadora)

Faculdade de Enfermagem da UERJ

_________________________________________

Prof. Dr. Túlio Batista Franco

Instituto de Saúde da Comunidade da UFF

_________________________________________

Prof. Dr. Luiz Antônio de Castro Santos

Instituto de Medicina Social da UERJ

Rio de Janeiro

2011

Page 5: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

DEDICATÓRIA

Para os meus pais,

Em memória de minha saudosa mãe Sheila da Silva Pinto (17/09/49 -18/03/07 +) pelas lições

de vida e dedicação na minha criação e pelo amor incondicional de mãe neste binômio

insubstituível e imensurável. Pela herança de virtudes, como a perseverança e otimismo de

acreditar em dias melhores e abençoados por graças divinas. Pela obstinação deste amor segui

minha educação dentro de valores morais e religiosos, espelhados por ela e como uma fã órfã

deste amor sigo o meu caminho planejado por ela que me deu a vida, seu suor do dia e da

noite estudando comigo, me acordando cedo para ir para a escola, me levando no curso de

inglês, seus valiosos conselhos em momentos de tristeza, enfim sua persistência e luta que

somente mães maravilhosas como ela conseguem passar para seus filhos. E como um anjo sei

que ela está perto de mim sempre me protegendo e me amparando em cada passo que dou no

meu dia a dia. E como um vento que sopra sei que é ela chegando e pela chuva que cai tenho

minha lágrima escorrendo de saudade e a você mãe te amarei para sempre, aonde você estiver,

meu coração estará com você também. Sinto muito sua falta. Amo-te eternamente.

Para meu pai Nelson Luiz da Fonseca Pinto que me ensinou do jeito dele a provar que eu era

capaz de ascender através dos estudos, despertando em mim a vontade de tentar acertar,

mesmo que fosse preciso errar quantas vezes fosse necessário até eu chegar aonde cheguei:

pós-graduada e com emprego público estável.

Page 6: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me mantido firme e forte no enfrentamento de obstáculos no trabalho

que apareceram ao longo do mestrado, e pela fortaleza do seu trono que me abrigou com seu

escudo contra todas as adversidades que tornam o ser humano perverso, invejoso, egoísta e

impiedoso.

Para meu marido amado Angelo Antunes Salgado (Anjinho) que me escolheu para ser

sua esposa e mãe do seu filho, num elo que transcendeu uma paquera e uma troca de olhares

em 2001 - o começo de tudo. Você para sempre vou amar, porque você me faz feliz e me

mostrou novos horizontes nas minhas perspectivas. Tornou minha vida mágica, porque

melhor do que um sonho você existe e faz parte da minha vida. Torna tudo menos complicado

em minha vida, traduz os códigos que para mim são difíceis e inexplicáveis, incentiva meus

objetivos profissionais, aposta na minha capacidade, acredita na minha vitória e me revitaliza

quando estou melancólica. Mais do que falar, você me escuta e me apoia mesmo, às vezes,

discordando das minhas decisões. Para você meu eterno companheiro um brinde, pois te amo

intensamente. Obrigada por tudo e por toda sua compreensão.

Para meu filho Caio Henrique Silva Salgado, meu pequenininho, minha misturinha, que

veio numa hora, onde a mamãe aqui mais precisava de você. E tenho certeza que minha mãe,

a sua avó materna, estava junto da gente no dia que você nasceu e não foi à toa que você

nasceu na mesma data que eu nasci (23/05/77 & 23/05/07). Você valeu a dor de cada

contração e de cada dor do pós-operatório do parto cesariana na Casa de Saúde de Laranjeiras,

no Rio de Janeiro. Você é minha vida que continua e minha alegria que me fortalece a alma.

Mamãe te ama muito e quer ver você crescer com saúde e muito feliz. Você é meu super-

herói bebê que mora no meu coração.

Às minhas irmãs Eliane Cristina da Silva Pinto Carneiro e Débora Helena da Silva

Pinto por alegrarem a minha vida, reforçando o significado importante de família feliz.

A minha avó materna Yara Basílio da Silva pela perseverança e fortalecimento de suas

orações cristãs em prol de benção e proteção divina.

A minha tia Neide Maria de Fátima da Fonseca Pinto pela solidariedade e

companheirismo na jornada de compromissos e enfrentamento das dificuldades.

A minha prima Caroline Garcia Pinto e demais parentes que compartilharam

momentos de alegria e tristeza ao longo da minha vida pessoal e profissional.

Page 7: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

A minha cunhada Luciana Antunes Salgado, os meus sogros Roberto da Rocha

Salgado e Marlenice Antunes Salgado que estiveram presentes na minha jornada exaustiva de

compromissos e responsabilidades.

Aos meus sobrinhos Lucas Pinto Dias Carneiro, Daniel Luís Pinto Dias Carneiro e

Miguel Salgado Novelino que abreviaram as minhas preocupações nas horas de lazer.

A Ana Paula Romão dos Santos pela dedicação no cumprimento dos horários matinais

para eu sair cedo para o trabalho todos os dias e na ajuda importante nas fases de

desenvolvimento da criação do meu menino.

A Luci Ventura dos Santos Silva pelo capricho da limpeza da minha residência e

organização dos meus livros e apostilas na estante do meu quarto-escritório.

A minha mais nova amiga Vanessa Mendes dos Santos que me concedeu assessoria

técnica de excelência nas fases de pré-teste, adequação de instrumentos de coleta de dados e

análise descritiva, temática e categorial dos dados da pesquisa, mostrando-se disponível em

todos os momentos, principalmente nos mais difíceis, incluindo os de ordem pessoal,

fortalecendo-me com sua espiritualidade e fé na vida cristã.

A Bluneli Desmon Souza que me ajudou nas digitações intermináveis, vocalizando

com música a retórica dos sujeitos entrevistados para a elaboração do dicionário da

padronização das falas dos usuários de planos de saúde.

A minha amiga Cátia Mantini pela empolgante jornada profissional compartilhada e

por todos os sentimentos extremos que pintaram nossa amizade num verdadeiro mosaico de

alegria e tristeza, incluindo todas as convergências e divergências que complementaram a

afinidade de admiração recíproca.

Ao meu amigo Wladimir Eugênio de Souza pelos conselhos profissionais e pessoais,

além do apoio em oração e força através de incentivos bibliográficos de profundo bom gosto,

assim como foram delicadamente selecionados para a valorização das minhas questões

profissionais e universitárias.

Às amigas de mestrado Caroline de Deus Lisboa e Vanessa Cristina Mauricio que

muito me orientaram nas etapas cruciais da apresentação do projeto de pesquisa para

submissão à Comissão de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

(UERJ).

A minha orientadora Dra. Denize Cristina de Oliveira pela objetividade e sagacidade

no desenvolvimento deste trabalho.

Aos pareceristas Dr. Ruben Araújo de Mattos e Dr. Sergio Correa Marques que

delinearam novas formas de refletir a pesquisa antes da coleta dos dados no cenário de estudo.

Page 8: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

Aos examinadores titulares Dr. Túlio Batista Franco e Dr. Luiz Antônio de Castro

Santos pela honra enriquecedora do aceite na participação dessa banca de avaliação, além das

valiosas contribuições.

Aos examinadores suplentes Dr. Sergio Correa Marques e Dra. Márcia Franke

Piovesan pelo tão honrado e orgulhoso aceite da presença de ambos nesse exame.

Para o Gerente de Recursos Humanos da Agência Nacional de Saúde Suplementar

Carlos Alberto Silva Lima que me concedeu a oportunidade de mostrar a qualidade do meu

trabalho, vinculado a defesa do interesse público, pautada na perspectiva do usuário de plano

de saúde privado.

A minha amiga Daniele Michel Soares Neves que fortificou minhas esperanças ao

fomentar de forma valiosa minhas expectativas profissionais.

À querida Marisa Pittella Oliveira que soube me transmitir indescritível ternura

advinda de sua simpatia e doçura sublimes, além da serenidade inequívoca de uma mulher

entusiasmante para a prosperidade dos meus conhecimentos.

À Gerente de Produção e Análise de Informação da Agência Nacional de Saúde

Suplementar Márcia Franke Piovesan e para os servidores dessa gerência Maria Antonieta

Almeida Pimenta, Juliana Pires Machado e Carlos Falcão Maranhão pela elucidação de dados

dessa pesquisa no Sistema de Informações Gerenciais da ANS.

Às inesquecíveis amigas Cristiane Rodrigues Couto, Thaís Sabrine Rosa de Oliveira,

Flávia Teixeira Gomes e Aline Furtado de Mendonça que trilharam momentos especiais de

parceria e cumplicidade na minha vida pessoal e profissional.

Aos meus amigos Teófilo José Machado Rodrigues, Maria das Graças Moreira Lima,

Lizzie Karen do Carmo Neri, Simone Fabiano Mendes, Nadja Andreia Silverio da Silva

Almeida, Claudete Barbosa da Rocha, Jacqueline Alves Torres, Aparecida Isabel Bressan,

Roberto Luiz Pinel Dias, Maria José Miranda Igreja, Raquel Bergaria de Oliveira, Jaqueline

Velloso Martins, Ari Corrêa de Jesus e Francisneia Freire da Silva Santos que sempre me

confortaram com palavras sábias de incentivo e aqueles que embora não especificados nesse

trabalho foram essenciais no meu dia-a-dia de forma direta ou indireta para a execução dessa

dissertação de Mestrado.

À médica Luiza Alves e ao meu amado esposo Angelo Salgado que intermediaram a

autorização para minha entrada no cenário da pesquisa.

Aos diretores e gestores técnicos, coordenadores, atendentes, recepcionistas e técnicas

de enfermagem do laboratório de medicina diagnóstica dessa pesquisa, uma vez que foram

Page 9: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

atenciosos e cooperativos desde o primeiro momento da minha apresentação como

pesquisadora.

Aos usuários de planos de saúde privados que participaram desta pesquisa,

considerando que sem eles o trabalho não ficaria tão rico e nem completo.

A Maria Celeste Carvalho Couto pelo seu profissionalismo e agilidade nas revisões

normativa e ortográfica desta pesquisa.

À bibliotecária Adriana Caamaño e às demais profissionais da biblioteca biomédica da

UERJ que prestaram orientações e revisões para o cumprimento dos rigores exigidos para

apresentação deste feito.

Page 10: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

Ser Natural

Os sonhos vão embora quando deixamos de acreditar em nós mesmos. Ninguém tem o

direito de dizer que não seremos capazes de realizar algo. Somos aquilo que acreditamos ser,

mas sem a simulação do que sentimos, porque a graça da vida é viver intensamente a “vitrine”

do que somos de verdade.

Nádia Regina da Silva Pinto

Page 11: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

RESUMO

PINTO, Nádia Regina da Silva. O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de

saúde privados na perspectiva dos usuários. Brasil. 2011. 191 f. Dissertação (Mestrado em

Enfermagem) – Faculdade de Enfermagem, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de

Janeiro, 2011.

A dissertação trata do acesso aos serviços de alta complexidade, particularmente os exames

diagnósticos e complementares, estudado entre usuários de planos de saúde privados que buscam

atendimento e diagnóstico especializado. Desde a década de 80 o usuário do sistema público de

saúde vem procurando a saúde suplementar. Contudo, afirmar que o acesso é garantido no domínio

privado, através da contratação dos planos de saúde, é uma incerteza que rodeia a inspiração para

esta pesquisa, que se justifica pela relevância de ações que possibilitem a melhora da qualidade

regulatória dos planos de saúde, a partir do controle social de seus usuários. O objetivo geral é

analisar as percepções do acesso aos exames de alta complexidade nos serviços de saúde privados

entre usuários de planos de saúde. Os objetivos específicos são descrever as percepções dos

usuários de planos de saúde acerca do acesso aos exames de alta complexidade; analisar as

motivações dos usuários de planos de saúde privados para a realização de exames de alta

complexidade através da rede privada de assistência; e analisar o nível de satisfação dos usuários

de planos de saúde quanto ao acesso aos exames de alta complexidade. A metodologia é

qualitativa-descritiva, onde a amostra foi de trinta usuários de planos de saúde, acima de 18 anos,

selecionados no campo de estudo no ano de 2010. O cenário de estudo foi um laboratório privado

de medicina diagnóstica no Rio de Janeiro. As técnicas de coleta de dados utilizadas foram

formulário e entrevista individual estruturada. A análise do formulário foi realizada através de

estatística descritiva, e as entrevistas através da análise de conteúdo temática-categorial. Os

usuários de plano de saúde declararam que o acesso é garantido com facilidade para os exames de

alta complexidade. Suas principais motivações para a realização desses exames na rede privada de

assistência foram caracterizadas pela rapidez de atendimento, flexibilidade e facilidade de

marcação pela internet, telefone ou pessoalmente no laboratório estudado, pronta entrega dos

resultados, dificuldade e morosidade do atendimento do SUS, localização do prestador credenciado

próxima de bairros residenciais ou do trabalho, resolutividade diagnóstica de imagem de

excelência, possibilidade de escolha pelo usuário entre as modalidades aberta e fechada de

ressonância magnética e tomografia computadorizada, além da densitometria óssea que foram

facilmente acessíveis a todos os sujeitos da pesquisa. O nível de satisfação foi correspondido com a

rapidez na realização dos exames em caráter eletivo e de urgência quase equiparados na escala de

tempo de acordo com os usuários. Contudo, embora as notas de avaliação dos usuários quanto aos

seus planos de saúde tenham sido altas, foram abordadas algumas dificuldades, tais como: prazos

de validade dos pedidos médicos com datação prévia; solicitações de senhas de autorização pela

operadora; burocracia nos procedimentos de agendamento; dificuldades de acesso para tratamentos

como implantes, fisioterapia, RPG, pilates, home care, consultas de check up; negação de

reembolsos; restrição de materiais cirúrgicos, em especial as próteses e órteses; e restrições

específicas de grau para cirurgias de miopia. Conclui-se que o atendimento rápido dos exames de

imagem de alto custo na amostra foi descrito como satisfatório, embora a percepção de rapidez

possa variar em função do tipo de produto do plano de saúde privado contratado, com necessidade

de melhoria regulatória em alguns aspectos pontuais da saúde suplementar.

Palavras-chave: Acesso. Exames de alta complexidade. Usuários de planos de saúde privados.

Page 12: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

ABSTRACT

This dissertation deals with access to services of high complexity, particularly

diagnostic and complementary exams between users of private health system that seek

specialized treatment and diagnosis care. Since the 80's people has being looking for

additional health system. However, say that access is guaranteed in the private system, is an

uncertainty that leads the inspiration for this research, which is justified by the importance of

actions that enable the improvement of regulatory quality of health plans from social control

of its users. The overall objective is to analyze the perceptions to access high complexity

exams in the health system between users of private health plans. The specific objectives are

to describe the perceptions of users of health plans to access high complexity exams; analyze

motivations from users of private health plans for the exams of high complexity through the

private network; and analyze the level of users satisfaction with health plans regarding access

to tests of high complexity. The methodology is qualitative-descriptive, and the sample was

thirty users of private health care system greater than 18 years, selected in 2010. The research

scenario was a private laboratory of medical diagnostic in Rio de Janeiro. Data collection

techniques used were individual interviews and structured form. The analysis was performed

by the form of descriptive statistics, and interviews through the analysis of thematic content-

category. Users of health plan stated that the access is guaranteed with facility for tests of high

complexity. Their main motivations for doing exams in private health care services were

characterized by quick responsiveness, flexibility and ease of marking their exams by internet,

telephone or personally in the laboratory, prompt delivery of results, difficulty and length of

service in SUS, location of laboratory near home or work, excellence resolution in diagnostic

image, user choice between open and closed methods of magnetic resonance and computed

tomography, and bone densitometry were easily accessible to all research subjects.

Satisfaction level was reached by quickly resolution of the exams, and performing elective

and emergency procedures in almost similar time scale, according to users. However,

although evaluation from users with their health plans have been high, some difficulties were

pointed such as validity periods for realization of exams; according to the date on the medical

application; password requests for authorization by the operator; bureaucracy in procedures

for scheduling exams; and poor access to treatments such as implants; physiotherapy; RPG;

pilates; homecare; check ups; denied refunds; restricted surgical materials; in particular

prosthetics and orthotics; and specifics degree limitation for myopia surgery. We conclude

that the quickly response of high complexity exams were described as satisfactory, although

the perception of speed may vary depending on the type of private health plans contracted,

with the need for regulatory improvement in specific points in privete health system.

Keywords: Access. High complexity exams. Private health care system users.

Page 13: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 - Distribuição percentual dos beneficiários de planos privados de saúde

por tipo de contratação segundo cobertura assistencial do plano (Brasil

- dezembro/2009). Assistência médica com ou sem odontologia ...........

62

Quadro 1 - Espaço físico do campo de estudo ........................................................... 79

Figura 1 - Sala de espera de resultado de exames no térreo no cenário do estudo .. 79

Figura 2 - Lateral da sala de espera de exames de ressonância magnética e

tomografia computadorizada no 1º andar ................................................

80

Figura 3 - Corredor da sala de espera de exames de ressonância magnética e

tomografia computadorizada no 1º andar ................................................

80

Figura 4 - Sala de espera de exames de densitometria óssea no 2º andar ................ 81

Figura 5 - Aparelho aberto de tomografia computadorizada do cenário de estudo . 104

Figura 6 - Aparelho aberto de ressonância magnética do cenário de estudo ........... 105

Figura 7 - Aparelho fechado de ressonância magnética do cenário de estudo ......... 105

Figura 8 - Aparelho de densitometria óssea do cenário de estudo ........................... 107

Quadro 2- Categorias e pré-categorias com temas de significação da pesquisa ...... 180

Quadro 3 - Categorias 1.0, 2.0 e 3.0 da pesquisa ...................................................... 181

Quadro 4 - Categorias 4.0 e 5.0 da pesquisa ............................................................. 182

Quadro 5 - Pré-categorias da pesquisa ...................................................................... 183

Quadro 6 - Dicionário de significações padronizadas das falas dos sujeitos

entrevistados da pesquisa ........................................................................

184

Page 14: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 –

Tabela 2 –

Tabela 3 –

Tabela 4 –

Tabela 5 –

Tabela 6 –

Tabela 7 –

Tabela 8 –

Tabela 9 –

Tabela 10 –

Tabela 11 –

Tabela 12 –

Tabela 13 –

Tabela 14 –

Tabela 15 –

Prazos máximos de tempo de atendimento em dias úteis, nos planos de

saúde privados definidos pela ANS, a serem publicados em Resolução

Normativa específica ...............................................................................

Distribuição dos sujeitos entrevistados por local da coleta de dados no

laboratório ...............................................................................................

Planos de saúde credenciados no laboratório de medicina diagnóstica

Distribuição dos sujeitos entrevistados por sexo – Rio de Janeiro, 2010

Distribuição dos sujeitos entrevistados por cor étnica autodeclarada -

Rio de Janeiro, 2010 ................................................................................

Distribuição dos sujeitos entrevistados por naturalidade - Rio de

Janeiro, 2010 ..........................................................................................

Distribuição dos sujeitos entrevistados por faixa etária (em anos) - Rio

de Janeiro, 2010 .......................................................................................

Distribuição dos sujeitos entrevistados por situação conjugal - Rio de

Janeiro, 2010 ...........................................................................................

Distribuição dos sujeitos entrevistados por quantidade de filhos - Rio

de Janeiro, 2010 .......................................................................................

Distribuição dos sujeitos entrevistados por residência nas regiões do

Município do Rio de Janeiro e Grande Rio - Rio de Janeiro, 2010 ........

Distribuição dos sujeitos entrevistados por situação residencial - Rio de

Janeiro, 2010 ...........................................................................................

Distribuição dos sujeitos entrevistados por nível de escolaridade - Rio

de Janeiro, 2010 .......................................................................................

Distribuição dos sujeitos entrevistados por atividade laborativa ou

inatividade - Rio de Janeiro, 2010 ...........................................................

Distribuição dos sujeitos entrevistados por cargo ocupacional - Rio de

Janeiro, 2010 ...........................................................................................

Distribuição dos sujeitos entrevistados de acordo com a faixa de renda

familiar mensal total por número de salários mínimos - Rio de Janeiro,

2010 .........................................................................................................

64

74

76

89

90

91

92

93

94

95

95

96

98

100

101

Page 15: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

Tabela 16 –

Tabela 17 –

Tabela 18 –

Tabela 19 –

Tabela 20 –

Tabela 21 –

Tabela 22 –

Tabela 23 –

Tabela 24 –

Tabela 25 –

Tabela 26 –

Tabela 27 –

Tabela 28 –

Tabela 29 –

Distribuição dos sujeitos entrevistados por número de residentes em

cada família - Rio de Janeiro, 2010 .........................................................

Distribuição dos sujeitos entrevistados por tipo de exame de imagem

de alta complexidade - Rio de Janeiro, 2010 ..........................................

Distribuição dos sujeitos entrevistados por tipo de indicação médica

clínica principal do exame de alta complexidade - Rio de Janeiro, 2010

Distribuição dos sujeitos entrevistados por caráter da solicitação

médica - Rio de Janeiro, 2010 .................................................................

Distribuição dos sujeitos entrevistados por quantidade de usuário

titular ou dependente de plano de saúde por operadora - Rio de Janeiro,

2010 .........................................................................................................

Distribuição dos sujeitos entrevistados por tipo de contratação - Rio de

Janeiro, 2010 ...........................................................................................

Distribuição dos sujeitos entrevistados por contratação individual ou

familiar de acordo com atividade laborativa ou inatividade - Rio de

Janeiro, 2010 ...........................................................................................

Distribuição dos sujeitos entrevistados por tipo de contratação por

operadora de plano de saúde - Rio de Janeiro, 2010 ...............................

Distribuição dos sujeitos entrevistados por plano de saúde com

coparticipação - Rio de Janeiro, 2010 .....................................................

Distribuição dos sujeitos entrevistados por plano de saúde com

coparticipação por tipo de contratação - Rio de Janeiro, 2010 ...............

Distribuição dos sujeitos entrevistados por tempo de vigência dos

planos privados de saúde dos entrevistados por operadora - Rio de

Janeiro, 2010 ...........................................................................................

Distribuição dos sujeitos entrevistados por modalidade de plano de

saúde de acordo com a faixa de beneficiários - Rio de Janeiro, 2010 .....

Distribuição da quantidade de modalidade de plano de saúde dos

sujeitos entrevistados - Rio de Janeiro, 2010 ..........................................

Distribuição da quantidade de sujeitos entrevistados por modalidade de

plano de saúde - Rio de Janeiro, 2010 .....................................................

103

104

108

109

110

111

111

112

113

114

115

118

119

119

Page 16: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABET

ADIN

AGF

AIDS

AIG

AIH

AIS

AMAFRERJ

ANS

ANVISA

ASSIM

BNDES

CAAE

CABERJ

CABESP

CAC

CEF

CAMPERJ

CAMARJ

CAPESESP

CAURJ

CASSI

CDC

CEFET

CFM

CID

CMO

CNAS

CNEN

Associação Beneficente dos Empregados em Telecomunicações

Ação Direta de Inconstitucionalidade

Assurance Generale de France

Acquired immune deficiency syndrome

American International Group

Autorização de Internação Hospitalar

Ações Integradas de Saúde

Associação dos Fiscais de Renda do Estado do Rio de Janeiro

Agência Nacional de Saúde Suplementar

Agência Nacional de Vigilância Sanitária

Assistência Médica Integrada

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

Certificado de Apresentação para Apreciação Ética

Caixa de Assistência à Saúde do Rio de Janeiro

Caixa de Assistência à Saúde de São Paulo

Caixa de Assistência dos Servidores da CEDAE

Caixa Econômica Federal

Caixa de Assistência do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro

Caixa de Assistência aos Defensores Públicos do Estado do Rio de Janeiro

Caixa de Previdência e Assistência dos Servidores da Fundação Nacional de

Saúde

Caixa Assistencial Universitária Rio de Janeiro

Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil

Código de Defesa do Consumidor

Centro Federal de Educação Tecnológica

Conselho Federal de Medicina

Classificação Internacional de Doenças

Conteúdo Mineral Ósseo

Conselho Nacional de Assistência Social

Comissão Nacional de Energia Nuclear

Page 17: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

COEP

CONASS

CONMEDH

CONSU

CRM

CVRD

DIEESE

DMO

EMBRATEL

ENCE

FIOPREV

FUNRURAL

GEAP

HIV

IBGE

IDEC

HU

IBGE

ICV

INAMPS

INCA

INPS

INSS

IPALERJ

IPEA

IRB

MAPA

MPF

MPT

MS

NOB

NUCLEP

Comissão de Ética em Pesquisa da UERJ

Conselho Nacional de Secretários de Saúde

Convênio Médico Hospitalares

Conselho Nacional de Saúde Suplementar

Conselho Regional de Medicina

Companhia Vale do Rio Doce

Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

Densidade mineral óssea

Empresa Brasileira de Telecomunicações

Escola Nacional de Ciências Estatísticas

Instituto Oswaldo Cruz de Seguridade Social

Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural

Grupo Executivo de Assistência Patronal

Human immunodeficiency virus

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Instituto de Defesa do Consumidor

Hounsfield Unit

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Índice de Custo de Vida

Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social

Instituto Nacional do Câncer

Instituto Nacional de Previdência Social

Instituto Nacional de Seguridade Social

Instituto de Previdência da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de

Janeiro

Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

Instituto de Resseguros do Brasil

Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial

Ministério Público Federal

Ministério Público do Trabalho

Ministério da Saúde

Norma Operacional Básica

Nuclebrás Equipamentos Pesados

Page 18: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

OMS

OPAS

PAC

PECS

PNAD

PIB

PROCON

PSF

RDC

RMRJ

RN

RNM

RPG

SDD

SEMEG

SIB

SIG

SIP

STF

SUDS

SUS

TC

UERJ

UFF

UFRJ

UFRRJ

UNIMED

UNIRIO

UPA

UR

URMES

UTI

Organização Mundial de Saúde

Organização Pan-Americana de Saúde

Procedimentos de Alta Complexidade

Programas de Extensão de Cobertura

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

Produto Interno Bruto

Procuradoria de Proteção e Defesa do Consumidor

Programa de Saúde da Família

Resolução de Diretoria Colegiada

Região Metropolitana do Rio de Janeiro

Resolução Normativa

Ressonância Nuclear Magnética

Reeducação postural global

Sistema de Desembolso Direto

Serviços Médicos Guanabara

Sistema de Informação dos Beneficiários

Sistema de Informações Gerenciais

Sistema de Informação de Produtos

Supremo Tribunal Federal

Sistema Unificado Descentralizado de Saúde

Sistema Único de Saúde

Tomografia Computadorizada

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Universidade Federal Fluminense

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Sociedade Cooperativa de Trabalho Médico

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Unidade de Pronto Atendimento

Unidades de Registro

Urgências Médico-Escolares

Unidade de Tratamento Intensivo

Page 19: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

SUMÁRIO

1

1.1

1.2

2

2.1

2.2

2.3

3

3.1

3.2

3.3

3.4

3.5

3.6

4

4.1

4.2

4.3

4.3.1

4.3.2

4.3.3

4.3.4

4.3.5

5

INTRODUÇÃO .................................................................................................

O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS E SERVIÇOS DE SAÚDE NO BRASIL

O acesso no Brasil e suas dimensões …………………………………………

Tecnologia em Saúde ………………………………………………………….

A SAÚDE SUPLEMENTAR NA POLÍTICA DE SAÚDE BRASILEIRA

Surgimento da saúde suplementar nas políticas de saúde ………………….

A regulação pública do setor privado de saúde …………………………….

O papel da Agência Nacional de Saúde Suplementar ………………………

ABORDAGEM METODOLÓGICA ………………………………………..

Tipo de estudo …………………………………………………………………

Sujeitos da pesquisa …………………………………………………………..

Cenário do estudo ……………………………………………………………..

Técnicas de coleta de dados …………………………………………………..

Tratamento e análise dos dados ……………………………………………...

Aspectos éticos em pesquisa …………………………………………………..

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS …….……………………………..

Caracterização dos sujeitos estudados …………………………….…..…….

Caracterização dos planos de saúde privados contratados e dos exames de

alta complexidade dos sujeitos ………………………………………………

A percepção do acesso aos exames de alta complexidade …………………..

O acesso aos exames de alta complexidade …………………………………….

Os conhecimentos dos direitos contratados nos planos de saúde ………………

Motivações para realizar os exames de alta complexidade nos planos de saúde,

ao invés do SUS ………………………………………………………………...

Nível de satisfação acerca do plano de saúde …………………………………..

Percepção do atendimento no SUS …………………………….……………….

CONSIDERAÇÕES FINAIS …………………………………………………

REFERÊNCIAS ……………………………………………………………….

19

30

30

33

42

42

49

56

71

71

72

74

81

84

88

89

89

103

121

122

132

137

141

147

156

164

Page 20: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para os

usuários de planos de saúde privados ………………………………………….

APÊNDICE B - Formulário de caracterização socioeconômica dos usuários

de planos privados da assistência à saúde e dos exames de alta complexidade

prescritos ………………………………………………………………………..

APÊNDICE C - Roteiro de entrevista estruturada …………………………….

APÊNDICE D - Resultados de entrevista individual estruturada da pesquisa ...

APÊNDICE E - Resultados de entrevista individual estruturada da pesquisa

categorias 1.0, 2.0 e 3.0 ………………………………………………...............

APÊNDICE F - Resultados de entrevista individual estruturada da pesquisa

categorias 4.0 e 5.0 …………………………………………………..................

APÊNDICE G - Pré-categorias de entrevista individual estruturada da

pesquisa ...............................................................................................................

APÊNDICE H – Dicionário de significações padronizadas das falas dos

sujeitos entrevistados para análise do acesso aos exames de alta complexidade

nos planos de saúde privados na perspectiva dos usuários ..................................

ANEXO – Proposta de Resolução Normativa da ANS sobre a garantia de

atendimento dos beneficiários de plano privado de assistência à saúde ..............

176

177

178

180

181

182

183

184

189

Page 21: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

19

INTRODUÇÃO

A dissertação trata do acesso aos serviços de alta complexidade, particularmente aos

exames diagnósticos e complementares para os usuários de planos de saúde privados que

buscam atendimento e diagnóstico especializado.

O interesse em estudar o acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

privados na perspectiva dos usuários iniciou-se em 2007 durante a pós-graduação em

regulação de saúde suplementar realizada pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, em

parceria com o Hospital Sírio Libanês, patrocinada pela Agência Nacional de Saúde

Suplementar (ANS). O interesse nessa temática intensificou-se no mestrado corrente e há

aproximadamente cinco anos como funcionária pública da ANS, a partir da execução de

atividades regulatórias e fiscalizatórias, entre operadoras, beneficiários e prestadores de

serviços privados de assistência à saúde. Nesta trajetória acadêmica e profissional, deparei

com questões reflexivas compartilhadas por muitos brasileiros, perante as iniquidades de

acesso aos serviços de saúde que ocorrem em situações de atendimento demorado; às vezes

dificultado, e até mesmo negado, presentes nos sistemas de saúde público e privado.

O consumidor e usuário do sistema público de saúde vêm procurando a saúde

suplementar por inúmeras razões, as quais norteiam o perfil das motivações relevantes na hora

de fechar um contrato com a operadora de plano de saúde. Santos, Malta e Merhy (2008)

apontam que o aumento dos usuários de planos de saúde privados ocorreu após a década de

oitenta mesmo sem legislação que regulamentasse especificamente a saúde suplementar nessa

época. A complementaridade das ações em saúde no Brasil pelo setor privado tem raízes

históricas, considerando que

as operadoras de planos de saúde, [...], ao longo do seu processo de evolução prestaram e

prestam um grande serviço a população brasileira, permitindo o seu acesso aos serviços de

saúde. Em especial porque ocuparam uma fatia enorme do espaço deixado pela ineficiência,

pela ausência efetiva de determinação política e pela incapacidade de financiamento do setor

público (SILVA, 2003, p. 3).

Contudo, afirmar que o acesso é garantido no domínio privado através da contratação

dos planos de saúde é uma incerteza que rodeia a inspiração para esta pesquisa. Todavia, em

relação à capacidade de gestão das operadoras de planos de saúde, Silva (2003) aponta que se

aceita de forma tão natural a incapacidade de gestão da área pública, sem ao menos lhe

conferir o mínimo reconhecimento pelo muito que faz com os poucos recursos provenientes

Page 22: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

20

de uma política limitada no setor de saúde pública, mas com a mesma naturalidade se aceita

que a área da saúde suplementar é competente para fazer a sua gestão. O referido autor

questiona a procedência de tais evidências, indagando as condições de obtenção dessa

imagem de competência, o grau de dificuldades para aquisição deste conceito, os bancos de

dados, os sistemas de informações epidemiológicas, capacidade interativa junto aos

prestadores de serviços em ações de promoção e prevenção à saúde e outros questionamentos

pertinentes.

A palavra acesso, do Latim accessus ou us, significa aproximação, cuja definição é o

“ato ou efeito de ingressar, compreendida como entrada ou possibilidade de chegar, reiterando

o sentido de aproximação, concebida também como chegada” (ACESSO, 2007, p. 41).

A chegada ou a entrada no serviço de saúde não necessariamente implica em dizer que

a demanda do usuário deste serviço foi solucionada ou resolvida, pois a chegada entendida

como a presença física do usuário sem a marcação ou sem o agendamento do exame indica

perda de tempo ou procura de um serviço em vão, com um sentido de aproximação geográfica

do serviço sem resolver o problema da demanda que se procura. A entrada pressupõe um

nível de resolutividade maior, pois tem ligação maior com o atendimento específico já que

tem sentido mais inclusivo que o da chegada, embora também não se possa afirmar que a

entrada resolverá o problema, mas se aproxima mais desta meta do que a chegada, e é dentro

desta perspectiva de entrada no serviço que se pretende trabalhar no presente estudo. Silva

Junior e Mascarenhas (2004) corroboram que a concepção de entrada potencial ou real de

dado grupo populacional em um sistema de prestação de cuidados de saúde é uma das

dimensões que definem o acesso no campo da saúde.

Segundo Jatene (2007), a acessibilidade da população ao sistema público de saúde

envolve decisão política, considerando que esta sempre teve papel central no desenvolvimento

do setor da saúde, porque não apenas regimenta as práticas empregadas sob responsabilidade

governamental, como determina diretamente a quantificação dos recursos a serem utilizados.

A saúde, como política, está alicerçada, muitas vezes, de forma antagônica aos

interesses sociais, valorizando, por conseguinte, interesses econômicos nem sempre

convergentes com a coletividade. Compreende-se nesta concepção que

a saúde, embora seja considerada “questão social e política”, será também tratada dentro da

vertente economicista do momento, sendo reforçada como espaço para a acumulação de

capital. O estado financia novos espaços de atuação dirigida, criando empreendimentos

privados por meio de empréstimos que garantem investimentos sem risco. Assim, amplia a

rede de hospitais privados, cuja localização será determinada mais por interesses econômicos

que pelas necessidades da população (MESTRINER, 2008, p. 160).

Page 23: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

21

De acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (2007, p. 80), “a

incorporação de novas tecnologias ao sistema – seja na forma de aquisição de um novo equipamento

ou de criação de um novo serviço – dever-se-ia guiar pelo perfil de adoecimento e de necessidades de

saúde e de serviços da população”.

No contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), a definição de procedimentos de alta

complexidade envolve “alta tecnologia e alto custo, objetivando propiciar à população acesso

a serviços qualificados, integrando-os aos demais níveis de atenção à saúde (atenção básica e

de média complexidade” (CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE,

2007, p. 80).

O setor de alta complexidade constitui-se como um dos três níveis de atenção à saúde

que apresentava menor integração com os demais, em virtude da inexistência de uma política

onde fosse definido a sua posição no SUS. Até 2003, a alta complexidade se destacava pelo

predomínio do setor privado contratado responsável pela formulação das diretrizes e de

portarias editadas até esta época (BRASIL, 2010).

A integralidade dos níveis de atenção da saúde envolve responsabilidades e

governabilidade pactuada com vistas a permitir a resolutividade da assistência, tal como é

ressaltado que

as ações e procedimentos considerados de média e alta complexidade ambulatorial e

hospitalar constituem-se para os gestores um importante elenco de responsabilidades, serviços

e procedimentos relevantes para a garantia da resolutividade e integralidade da assistência ao

cidadão (CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE, 2007, p. 11).

Quando se tratam de exames diagnósticos e complementares de alta complexidade

vêm à tona as associações às tecnologias de ponta mais custosas, presumidamente pouco

ofertadas no sistema público e de maior oferta no sistema privado. Entretanto, num

pressuposto de desequilíbrio entre a oferta e demanda de usuários que compõe ambos os

sistemas, não se verifica empiricamente muita diferença quando se aborda o fator tempo de

espera, que superlota serviços de natureza pública, como privada, necessitando certamente de

outros estudos para identificar e classificar as demandas das filas, conforme os níveis de

atenção de acordo com estes serviços.

A marcação tardia de exames de alta complexidade sinaliza reiteradamente a

necessidade de melhorar a gestão de tecnologias em saúde, a fim de assegurar um tratamento

digno e respeitoso ao paciente que se sente vulnerável e fragilizado em condição de dor e

sofrimento, perante a longa espera na incerteza se será atendido ou não.

Page 24: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

22

Estudos sobre o tempo médio de espera para o acesso aos serviços médicos de exames

diagnósticos e complementares de alta complexidade no sistema de saúde privado apontariam

dificuldades ou facilidades em obter o procedimento de alta complexidade prescrito pelo

médico assistente.

Toda tecnologia empreendida tem uma finalidade e para contextualizá-la na saúde, é

importante conceituar que “a tecnologia em saúde é o conhecimento aplicado que permite a

prevenção, o diagnóstico e o tratamento das doenças, e a reabilitação de suas consequências”

(CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE, 2007, p. 57).

Descobrir o nível de satisfação do usuário e a percepção subjetiva de tempo médio de

espera para o acesso aos serviços de alta complexidade no sistema de saúde privado

possibilitou conhecer elementos cognitivos reflexivos para este grupo estudado. A descrição

do conhecimento quanto à perspectiva conformada ou não da demanda de usuários de plano

de saúde, no momento da utilização de um serviço, possibilitou examinar se o tempo de

acesso para cobertura do exame de alta complexidade está sendo adequado às necessidades de

seus usuários, permitindo explicitar ações de saúde na assistência ambulatorial supletiva que

possam estar dificultando ou não tal cobertura.

Através da Lei nº 9.961 (BRASIL, 2000), inaugura-se a ação regulatória do Estado

com a criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mas antes deste advento

institucional regulamentador destaca-se o marco regulatório com a Lei nº 9.656/1998 no

campo suplementar da saúde no Brasil que dispõe sobre os planos e seguros privados de

assistência à saúde. Compreendem entre outras facetas regulatórias da ANS avaliar se a rede

de serviços em saúde oferecida pelas operadoras de planos de saúde está atendendo às

necessidades de seus beneficiários, fiscalizando o cumprimento de regras e normativos

regulatórios, assim como cláusulas contratuais dos direitos de cobertura do consumidor.

O Estado se faz presente no exercício da administração pública direta e indireta de

seus agentes responsáveis pelo bem a ser regulado. No caso da saúde:

no Brasil, o modelo de regulação que vem sendo adotado compreende toda atividade estatal

de supervisão e controle de setores privados que prestam serviços públicos ou de interesse

público, utilizando-se da elaboração e edição de regras para o seu funcionamento, além de

instrumentos de coerção, como o poder de polícia presente no direito administrativo, com o

objetivo de influenciar o comportamento dos agentes sociais e de mercado para a melhor

prestação dos serviços à sociedade. Entretanto, no caso do mercado brasileiro de assistência

suplementar à saúde, não cabe a utilização do enfoque regulatório como sendo apenas a

defesa da concorrência e do consumidor tão somente, devendo contemplar o equilíbrio dos

valores políticos e sociais que estão relacionados ao serviço público regulado, tendo em vista

a natureza do próprio bem sob regulação (ALCOFORADO, 2003, p. 28).

Page 25: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

23

Numa das concepções pressupostas de que o consumidor procura a rede privada para

garantia de facilidade de acesso a serviços que não teria na rede pública de assistência, é

factível também pensar se ele contrata o plano privado de saúde não necessariamente para ter

acesso a exames, consultas ou internações, mas para usufruir de um bem de serviço que

inexiste no hospital público. Este bem de serviço poderia ser um procedimento de média a alta

complexidade de maior custo e provavelmente com maior risco de estar indisponível na rede

pública, como exames de ressonância magnética, tomografia computadorizada, densitometria

óssea, tratamento hiperbárico para lesões cutâneas, procedimentos invasivos percutâneos,

entre outras suposições. Em relação aos problemas de acesso, Conill et al. (2008) relatam que

a segmentação do acesso tem se constituído em uma das questões centrais na análise dos

problemas dos sistemas de saúde contemporâneos e em particular àqueles que se referem ao

SUS.

De acordo com Bahia et al. (2008), o SUS herda a característica do modelo federal,

centralizado, que terceiriza serviços, tal como era na época do extinto Instituto Nacional de

Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS). Contudo, na atualidade, apresenta preços

frequentemente desatualizados, devido à inadequação da valorização dos procedimentos e

cuidados de atenção à saúde presentes na “Tabela SUS”. Para tanto,

o pagamento de múltiplos da “Tabela SUS”, especialmente para determinados procedimentos

de maior custo [...], aponta-se um rebaixamento do SUS à condição de comprador de serviços

que elimina quase que automaticamente, quaisquer outras ilações sobre as relações entre o

público e o privado no sistema de saúde brasileiro que não aquelas relativas ao uso de

procedimentos médicos hospitalares em estabelecimentos da rede pública. Não é por outro

motivo que o acento das interfaces entre o sistema público e o privado recai sobre as

atividades de alto custo-complexidade e não sobre os subsídios ao financiamento dos planos e

seguros (BAHIA et al., 2008, p.1389).

O avanço tecnológico constitui marco importante na evolução do amparo à saúde,

sendo incorporada de forma constante ao SUS. No imaginário popular, novas tecnologias se

caracterizam por maior capacidade diagnóstica e, portanto, maior possibilidade de cura e

recuperação, desfocando o aspecto preventivo. Assim,

na saúde, a tecnologia assume um papel simbólico importante já que é o conforto e a garantia

que o conhecimento humano foi utilizado no máximo de seu potencial atual na solução dos

problemas individuais, onde o público demanda e exige que a prática médica seja calcada na

“melhor” tecnologia disponível (VIANNA, 2002, p. 380).

Contudo, as disparidades econômicas e sociais brasileiras colocam diversos segmentos

em desvantagem social, onde o Estado através de suas políticas públicas deveria reduzir o

Page 26: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

24

nível de marginalidade das combinações de diversos marcadores sociais que violam

majoritariamente os direitos individuais e coletivos.

A utilização dos serviços de saúde pela população como afirmação de uma política

inclusiva e justa depende do acesso como primeira condição e para transformar a realidade

social é preciso explicitar os conflitos que giram em torno da sua efetividade na prática. A

procura pelo serviço é orientada a partir da oferta dos sistemas de saúde, por encaminhamento

profissional, prioridade da gravidade da demanda e quando é diretamente procurado pelo

usuário, de acordo com as necessidades individuais e coletivas.

O percurso a ser seguido pelo doente referente ao acesso, diagnóstico e terapêutica

está condicionado ao seu recurso e disponibilidade do serviço, tanto no sistema público, como

no privado, dependente ou não de agenda médica, distância até a localidade prestadora do

serviço, tipo de cobertura de plano de saúde quando contratado, a gravidade ou não da

situação clínica de urgência ou emergência, com ou sem risco de morte, intensidade da dor

perante a enfermidade entre outras situações.

Existe uma tradição típica dos grandes sistemas públicos de saúde pela busca da

universalidade, da prestação integral de atenção e da equidade, bem como a organização de

uma rede hierarquizada e regionalizada de serviços. Com a criação do SUS passaram a existir

no Brasil dois outros princípios inovadores - a democracia direta com gestão participativa, a

partir do controle social da ação governamental por segmentos da sociedade civil; e o

princípio da descentralização para os municípios quanto à responsabilidade pela organização e

gestão dos sistemas locais de saúde (CAMPOS, 2006).

O sistema de saúde público é apresentado à população como uma garantia

constitucional de um sistema gratuito, amplo e universal sem restrições, sobretudo, àquelas de

natureza meritocrática e contributiva do trabalhador, onde durante a época do INAMPS

excluíam-se do acesso aos serviços públicos de saúde os cidadãos desempregados e indigentes

que não contribuíam com a previdência social brasileira. Desde a constituição de 1988, o

Sistema Único de Saúde, portanto, reflete uma política institucional da saúde de ação

afirmativa, ampliando consideravelmente as formas de acesso das demandas mais carentes da

população, mas ainda com inúmeras iniquidades de acesso concebidas pelos mais otimistas a

favor do SUS, como desafios a serem vencidos, ao longo da construção deste novo modelo de

saúde que já computa duas décadas de existência. Menezes (2009) corrobora que o SUS, ao

ser implementado no Brasil, pode ser considerado como uma das maiores ações de

distribuição de renda e acessibilidade a um serviço de saúde no mundo, redirecionando seu

foco a alguns membros da sociedade para uma atenção integral e universal da população, sem

Page 27: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

25

distinção de classe ou renda, constituindo, para todos, um direito constitucional e inalienável,

instituído por uma legislação própria e sólida.

Tendo em vista que o pagamento direto por serviço de saúde tem se tornado

praticamente incomum diante das formas de acesso ao sistema de saúde privado mais

popularmente viáveis, destaca-se a contratação direta ou indireta por meio de plano privado

de assistência à saúde, onde é definido como

prestação continuada de serviços ou cobertura de custos assistenciais a preços pré ou pós

estabelecido, por prazo indeterminado, com a finalidade de garantir, sem limite financeiro, a

assistência à saúde, pela faculdade de acesso e atendimento por profissionais ou serviços de

saúde, livremente escolhidos, integrantes ou não de rede credenciada, contratada ou

referenciada, visando à assistência médica, hospitalar e odontológica, a ser paga integral ou

parcialmente às expensas da operadora contratada, mediante reembolso ou pagamento direto

ao prestador, por conta da ordem do consumidor (BRASIL, 1998, p. 1).

Cabe ressaltar que os custos do plano de saúde ficam a critério do contratante que

pode ser uma pessoa física classificada como cidadão titular, podendo ser este o consumidor

ou não do plano de saúde; ou a partir da pessoa jurídica que pode ser constituída por empresa

familiar, de negócios, classe de operários, sindicalistas, entre outros. Também é importante

lembrar que o acesso propriamente dito no âmbito privado depende do cumprimento de

algumas exigências pelos contratantes. Seguindo os preceitos da legislação suplementar

brasileira, além do pagamento das prestações de boletos ou faturas para usufruir um serviço

qualquer, o contratante deverá observar que seu direito líquido e certo está relacionado à

cobertura ou segmentação contratada, e também que sejam previamente cumpridos os prazos

de carência, quando cabíveis ou os de cobertura parcial temporária, quando existir doença ou

lesão pré-existente.

A coexistência de sistemas de saúde público e privado, que configuram formas

diferenciadas de acesso no Brasil é uma característica da política de saúde brasileira ressaltada

pelo modelo de regulação, que executa políticas de governo, monitorando serviços

contratados prestados ao público, tratando das preocupações das partes interessadas, e

equilibrando o cenário circunscrito entre os entes envolvidos.

Barata (2009) condiciona as diferenças no acesso aos determinantes socioeconômicos,

configuração dos princípios constituintes da política nacional de saúde, forma de organização

dos serviços e as formas de relação que se estabelecem entre clientela e profissionais de

saúde.

O papel da ANS na regulação dos planos de saúde caracteriza um sistema público que

regula o setor de saúde privada. Dada a relevância pública da saúde individual e coletiva, o

Page 28: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

26

Estado pode intervir em qualquer hospital privado, credenciado ou referenciado pelas

operadoras de plano de saúde, possuindo o poder de regular, ditar normas e fiscalizar as

atividades que envolvem a saúde suplementar.

Independentemente da lógica de mercado nortear a saúde suplementar; este campo

complementar da saúde também está previsto na constituição, ora por convênio, ora por

contrato, e desta maneira não se pode distanciar da necessidade da regulação pelo Estado a

fim de garantir os direitos dos consumidores de planos que podem também opcionalmente ser

usuários do SUS.

A pretensão da universalidade do acesso e financiamento público advindo da

constituição de 1988 não se destaca da cobertura privada quando o assunto é acesso amplo,

equitativo e universal. Embora não se possa afirmar que a contratação de acesso a serviços de

saúde, através de planos de saúde acontecerá em todas as situações, acredita-se que a

peregrinação do usuário que apenas dispõe da opção da oferta dos serviços públicos de saúde

é provavelmente maior. Os fatores de concorrência pela demanda, tempo para usufruir um

serviço ou tratamento específico; e a inexistência de um plano B, no caso do usuário do

sistema público não ser beneficiário de plano de saúde, em que o referido usuário pudesse

recorrer quando lhe fosse dificultado, até mesmo negado o acesso por determinado motivo no

Sistema Único de Saúde, são possíveis explicações para a hipótese de que a peregrinação do

usuário do SUS até o acesso de um bem ou serviço de saúde seja maior do que a do usuário

do sistema de saúde privado.

Entretanto, a dificuldade de acesso não é característica somente de quem depende da

saúde pública, haja vista as barreiras de acesso no momento da utilização do serviço de quem

dispõe de plano de saúde, pelo contingente enorme das demandas, das filas para atendimento

tanto ambulatorial, para internações, como para realização de exames complementares e

diagnósticos, além dos serviços de urgência e emergência que vem aumentando, da mesma

forma, que as filas enfrentadas pelos usuários do Sistema Único de Saúde.

Santos, Malta e Merhy (2008) analisaram os principais resultados alcançados na

regulação brasileira da saúde suplementar no período de 2000-2006 como inúmeros avanços

na estrutura e operação do setor, tais como maior solidez e crescimento neste período,

compreendendo um aumento de cerca de 30% do número de beneficiários de planos privados

de saúde, correspondendo a 24% da população brasileira beneficiária, ressaltando-se que

alguns desses beneficiários têm mais de um plano, podendo estar registrados em mais de uma

operadora. Todavia, tais avanços paralelos também à regulação tanto econômica como

Page 29: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

27

assistencial exercida pela ANS, não desmerecem os enfrentamentos que permanecem em

lacunas no processo regulatório que precisam ser aperfeiçoadas.

Gerschman et al. (2007), em pesquisa qualitativa sobre a satisfação de 82 beneficiários

de planos de saúde de hospitais filantrópicos nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e

Minas Gerais, constataram que 20 destes participantes já tiveram pelo menos um pedido de

procedimento negado pelo plano, listando a demora na marcação de consultas; restrição ao

tratamento de doenças cardíacas e outras; restrição no número de consultas e exames e no

tempo de internação e de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e „mistura‟ com o

atendimento do SUS como motivos de insatisfação. Considerando as razões de satisfação com

os planos de saúde, os beneficiários estudados por tais autores destacaram as certezas de

acesso ao tratamento, à hotelaria e à privacidade, denominados como „privilégios‟ em relação

ao SUS.

Em muitos casos existem usuários de planos que também não têm um fácil acesso aos

serviços assistenciais privados, pelo excesso de burocratização das autorizações para exames,

consultas e internações, informações cadastrais eletrônicas erradas do produto do serviço de

saúde contratado no site da própria operadora e até mesmo envio de cadastro de informações

erradas tanto do plano como de seu beneficiário para a própria ANS, com efeitos em negativas

de cobertura on line, marcação tardia de consultas e exames, entre outros motivos. Enquanto as

vagas dos leitos hospitalares são insuficientes para a demanda elevada de usuários do SUS,

torna-se comum a sobra de vagas nos leitos hospitalares da rede privada de assistência, entre

outras razões, pela infinidade de burocracias que os beneficiários de planos de saúde têm que

enfrentar para utilizar um serviço qualquer. Já as demandas da rede pública não poderiam ser

predominantemente espontâneas e gerenciá-las a partir do aperfeiçoamento dos sistemas de

informação reduziria a procura em vão de um serviço e a espera cansativa numa fila.

A saúde passa para uma posição política e técnica à medida que a mesma é legitimada

na Constituição como um direito fundamental do ser humano e dever do Estado, ampliando-

se a dimensão dos direitos sociais e da cidadania nacional. Em contrapartida, o tempo de

acesso aos serviços públicos e privados pode variar e a marcação é geralmente tardia para

exames de diagnósticos e complementares, em especial os de alta complexidade, tornando-se

comuns as filas que estão presentes, tanto no sistema público, como no privado.

O estudo justifica-se pela relevância das ações em saúde que valorizam o ser humano

dentro de uma identidade cívica, parametrizada pelas condições necessárias à sua

sobrevivência, respeitando sua subjetividade e opinião num processo de avaliação descritiva

do sistema suplementar de saúde, reforçando a importância do controle social nestas ações.

Page 30: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

28

A perspectiva do usuário sobre o acesso à saúde privada reflete o valor social que o

mesmo atribui a essa modalidade de prestação de serviços, funcionando como um importante

instrumento regulatório sentinela do mercado de planos de saúde. Pode refletir, ainda, a

polarização entre o direito constitucional, abstrato e universal, e o direito individual,

reconhecido e determinado pela subjetividade de cada sujeito. No mesmo raciocínio, neste

estudo cabe refletir o direito privado e contratual dos beneficiários de planos de saúde, que no

momento de utilizarem um serviço se defrontam com barreiras inerentes aos interesses de

mercado, das várias modalidades de operadoras de planos de saúde.

O que se assiste frequentemente na mídia é um constante desgaste da população,

principalmente a de baixa renda, na tentativa de marcar os seus exames no serviço de saúde

público, deparando-se sistematicamente com falta de vagas, inexistência de aparelhos ou

existência de aparelhos danificados e sem funcionamento. Com isso, ou não há a marcação do

exame, ou o mesmo é marcado para um tempo demasiadamente longo, postergando o

diagnóstico e um possível tratamento para a doença em questão.

É pertinente refletir se o constante aumento no número de pessoas que procuram a

suposta proteção privada do seguro-saúde está, ao menos em parte, embasada na competência

do atendimento de alta complexidade comparativamente ao SUS e no acesso facilitado a esses

recursos.

A partir dessas considerações, delimitou-se como objeto deste estudo o acesso aos

exames de alta complexidade na perspectiva dos usuários de planos de saúde privados.

O conhecimento da forma como os usuários concebem o acesso aos exames de

imagem mais custosos nos planos de saúde poderá servir como contribuição para avaliação

dos atributos relevantes de qualidade das ações ofertadas pelos serviços privados de saúde.

Poderá contribuir, ainda, para estudos implementadores da regulação das demandas

pelas operadoras de planos de saúde, possibilitando a compreensão da temática para a

construção de um cenário que contemple a possibilidade de um planejamento mais adequado

de distribuição territorial dos equipamentos, segundo as necessidades dos usuários.

Além disto, o estudo reiterou o acesso como condição para o aperfeiçoamento da

atenção à saúde, servindo como instrumento regulatório da saúde suplementar. Possibilitou,

também, a discussão e a compreensão das discrepâncias e defasagens presentes na lacuna

entre o direito (público e contratual) dos serviços de saúde e o acesso propriamente dito,

refletindo as falhas na organização dos sistemas perante a dicotomia entre o direito e o

acesso, na perspectiva do usuário de plano de saúde.

Page 31: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

29

O objetivo geral desta pesquisa consiste em analisar as percepções do acesso aos

exames de alta complexidade no sistema de saúde privado entre usuários de planos de saúde

no Rio de Janeiro.

Os objetivos específicos compreendem descrever as percepções dos usuários de planos

de saúde acerca do acesso para realização de exames de alta complexidade; analisar as

motivações dos usuários de planos de saúde para a realização de exames de alta complexidade

através da rede privada de assistência; analisar as motivações dos usuários de planos de saúde

para a realização de exames de alta complexidade através da rede privada de assistência e

analisar o nível de satisfação dos usuários de planos de saúde quanto ao acesso aos exames de

alta complexidade.

Page 32: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

30

1 O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS E SERVIÇOS DE SAÚDE NO BRASIL

1.1 O acesso no Brasil e suas dimensões

O acesso às ações de saúde no Brasil tem um conceito plural e complexo, tendo em

vista que representa a facilidade de obtenção de um bem ou serviço que no caso da saúde

denota o cidadão em pleno gozo para o exercício de outros direitos, a partir de dimensões

diversificadas no contexto sócio, econômico e político implicados para operacionalidade de

sua real aquisição. Assim,

no Brasil, o acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e

recuperação da saúde é uma das exigências instituídas pela Constituição de 1988 (Art.196)

para a equidade desejada no preceito de que a saúde é um direito de todos e dever do Estado.

As políticas de saúde apresentam, reiteradamente, o acesso do usuário aos serviços como um

paradigma básico para planos nacionais e projetos regionais e locais de ampliação da rede de

serviços existentes (COHN et al., 2006, p. 26).

Estudos de revisão de Acursio e Guimarães (1996) sobre acessibilidade a ações e

serviços de saúde em pacientes infectados pelo Human immunodeficiency virus (HIV);

exemplificando o acesso a medicamentos profiláticos para o vírus da imunodeficiência

humana adquirida; e utilizando-se a base de dados da epidemia desta síndrome, apontam a

necessidade de se compreender as implicações das diversas barreiras de acesso aos serviços,

considerando os custos sociais e humanos da infecção pelo HIV, as necessidades e demandas

dos indivíduos infectados e as consequências que o não-atendimento em tempo hábil pode ter

para estes indivíduos.

A melhor sobrevida está diretamente relacionada ao acesso aos serviços de saúde, e

assim, a acessibilidade é definida como “a capacidade do paciente obter, quando necessitar,

cuidado de saúde, de maneira fácil e conveniente” (ACURSIO; GUIMARÃES, 1996, p. 36).

Para Unglert (1990), o acesso à saúde envolve aspectos que extrapolam a assistência à

saúde, os quais envolvem fatores socioeconômicos e culturais que interagem com

características intersetoriais ligadas à própria estrutura política de cada país.

De acordo com Silva (2005), a acessibilidade tem conceito próximo ao de cobertura,

mas não é equivalente, pois, enquanto, a acessibilidade tem relação com a distribuição

geográfica adequada dos centros de saúde e equipamentos necessários à realização de exames

complementares; a cobertura poderá ser potencial quando decorrente de uma estrutura de ação

Page 33: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

31

educativa relacionada com a promoção da saúde, e real quando o processo é oriundo dessa

mesma ação educativa relacionada com a promoção da saúde. Compreende-se, por

conseguinte, que a cobertura tem uma estrutura proporcional de planejamento teórico para

atingir os benefícios e um processo de efetivação quando se aplica essa estrutura na prática

em relação à população alvo.

Segundo Unglert (1990) e estudos correlatos da Organização Pan-americana de Saúde

(1978a, 1978b), existem dimensões para que a acessibilidade possa ser garantida,

considerando aspectos geográficos que preconizam adequado planejamento da localização dos

serviços de saúde; econômicos pela remoção de barreiras derivadas do sistema de pagamento

ou contribuição pelo usuário; culturais com a adequação das normas e técnicas dos serviços

aos hábitos e costumes da população em que se inserem; e funcionais, através de oferta de

serviços oportunos e adequados às necessidades da população.

A funcionalidade de um sistema de saúde requer além do discurso político a

operacionalidade do uso do direito constitucional na sua prática perante a necessidade

emergente de todo cidadão que requer o atendimento prestado, seja como contribuinte de

impostos, seja como contratante de plano de saúde privado ou como cidadão que sem

orçamento depende de assistência direta ou indireta à sua saúde provida pelo Estado, família

ou sociedade.

Para Barata (2009), condições de vida em determinados espaços geográficos, assim

como a posição social ocupada por classes sociais e ocupacionais, incluindo a escolaridade

são poderosos determinantes do estado de saúde das populações, atuando sobre o perfil de

morbidade e mortalidade, como também sobre o acesso e utilização dos serviços de saúde.

Para Medeiros (2003), através de uma síntese das principais pesquisas contemporâneas

de estratificação social predominam quatro grandes dimensões da vida em sociedade sobre as

quais a estratificação é feita, podendo ser denominadas de ocupação, bens simbólicos, poder

político e interesses no conflito distributivo.

Em relação à distribuição de renda no Brasil, as disparidades econômicas e sociais

remontam de políticas sociais excludentes. Desta forma,

10% dos brasileiros ficam com 75% da riqueza nacional; 1% dos proprietários rurais fica com

quase 50% das terras agricultáveis; e de acordo com os últimos dados oficiais existe uma

maior concentração da propriedade de terra e uma maior concentração de poder no setor

financeiro. Pela lógica do agronegócio ou dos bancos privados, de maximização dos lucros, a

polarização continua e a brecha entre ricos e pobres tende a aumentar (BAVA, 2009, p. 3).

A atuação do Estado estabelece-se visando a preservar não os interesses da sociedade

Page 34: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

32

como um todo (emprego, renda, proteção social, entre outros), mas os interesses de uma

parcela específica de agentes, cujos negócios dependem fundamentalmente dessa atuação

(PEREIRA; RAMOS, 2006). Assim, corrobora Mestriner (2008) que demonstra que o

aumento da desigualdade social e do desemprego funcionam com elementos catalizadores de

grupos sociais que perdem, além de acesso aos bens materiais, a possibilidade de inserção

social, haja vista que perdem também a possibilidade de encontrar um lugar no mundo do

trabalho, no espaço público e nas instituições a ele relacionadas.

Para Mestriner (2008), embora o regime democrático tenha se inserido como

reconhecimento formal de direitos e garantias civis legalmente no Brasil na década de 90, há

uma realidade oposta à justiça que desprestigia pessoas humanas, reiterando diariamente a

violência e a violação de direitos humanos. O governo e sociedade vendem uma imagem legal

que não se realiza, porque avançam com um planejamento que não é operacionalizado,

tamanho é o reconhecimento da cidadania na teoria, não a instituindo como deveria ser na

vida prática.

A acessibilidade formalizada como direito constitucional deve atender as diferenças

nas demandas, independente das condições econômicas, pois todos os cidadãos têm direito

equitativo ao atendimento, considerando o direito do livre arbítrio para a duplicidade de

acesso, tanto no âmbito público, como no privado. Entretanto,

a acessibilidade, no caso brasileiro, vista tecnicamente, leva em conta a disponibilidade dos

serviços não só segundo a proximidade, mas também de acordo com o grau de morbidade da

demanda, ou seja, o atendimento planejado supõe uma demanda hierarquizada por diferentes

tipos de serviços, desde os mais simples até os mais tecnologicamente complexos. Esse

modelo projetado pelas políticas de saúde no Brasil tinha por objetivo a montagem de um

cenário a ser articulado pelas ações das instâncias governamentais regionais,

predominantemente, pelas secretarias de saúde dos estados e municípios. Contudo, por

interferência, sobretudo das políticas previdenciárias de nível federal, o cenário pretendido se

torna mais complexo, modificando papéis e gerando modos diferenciados de utilização por

parte daqueles que conformam à demanda (COHN et al., 2006, p. 69).

Nas últimas quatro décadas, os estudos das barreiras de acesso continuam sendo o

principal foco de investigação de saúde, tal como se caracterizam as barreiras financeiras,

organizacionais, ecológicas, socioculturais e de condutas a cuidados e serviços de saúde,

embora não corresponda a realidade no espaço latino-americano, especificamente no Brasil,

onde este problema é um dos mais discutidos, e menos analisados nesse campo de

investigação (ACURSIO; GUIMARÃES, 1996).

Conill et al. (2008), em trabalho que analisou a experiência de saúde, doença e

cuidados por usuários do segmento suplementar em situações ou necessidades de saúde nas

áreas de cuidado cardiovascular, oncológico, saúde mental e obstétrico, no município de

Page 35: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

33

Florianópolis, Santa Catarina, referem que a experiência da doença desvela aspectos tanto

sociais como cognitivos, tanto subjetivos (individuais) como objetivos (coletivos),

importando conhecer o movimento pelo qual as práxis individuais e a generalidade do social

se constituem e reconstituem mutuamente.

O sofrimento gerado pela dor e desgaste de todo o enfrentamento destinado à solução

do processo patogênico traz implicações na maneira de agir e perceber essas experiências

quando a resolutividade do problema distancia-se do foco do cuidar e aproxima-se da

fragmentação de tecnologias duras e atendimento sem vínculo, responsabilização profissional

e acolhimento.

1.2 Tecnologia em Saúde

A incorporação tecnológica constitui demanda do mercado, do SUS e da ANS, onde

iniciativas coordenadas pela Secretaria de Assistência à Saúde do Ministério da Saúde no

sentido de propor a incorporação de novas tecnologias baseadas nas necessidades do usuário

são pautadas pelas evidências e estudos de custo - efetividade, e não pela demanda do

mercado produtor de tecnologias (SANTOS; MALTA; MERHY, 2008).

O consumo dos diversos tipos de tecnologias pode ser estabelecido a partir de

„tecnologias duras‟, com ênfase na realização de exames, imagens e procedimentos

(equipamentos); „leve-duras‟ com a estruturação de saberes em diferentes áreas do

conhecimento (clínica-médica, psicanálise, epidemiologia, entre outras) capazes de gerar

protocolos e as „tecnologias leves‟ centradas nos saberes que resultam na produção do

cuidado em saúde e na capacidade de decisão do profissional (MALTA et al., 2004).

Conforme Santos, Malta e Merhy (2008, p.1474) em relação às tecnologias diversas

aplicadas “torna-se necessário criar uma cultura institucional e operar em conjunto com as

instituições de ensino e pesquisa, visando respostas mais adequadas ao setor saúde, tanto

público quanto privado”.

A política pública de saúde está orientada para as tecnologias assistivas, que devem ser

disciplinadas pelo cuidado humanizado e não pela instrumentalização do cuidado. Entretanto,

A transição tecnológica significa um novo padrão de produção do cuidado, que altera não

apenas o modo de organização do processo produtivo, mas inverte a composição técnica do

trabalho, configurando hegemonia do trabalho vivo nos processos de trabalho, mediada por

Page 36: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

34

certas intencionalidades vinculadas ao ato de cuidar. Significa operar na assistência com

sentidos diferentes dos que existem no modelo „médico hegemônico, produtor de

procedimentos‟, pois tem sua ação voltada ao campo das necessidades dos usuários

(FRANCO; MERHY, 2010, p.189).

De acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS, 2007), no

contexto do SUS, as tecnologias de alta complexidade podem ser compreendidas como um

conjunto de procedimentos que envolvem alta tecnologia e alto custo, tendo como objetivo

possibilitar o acesso da população a serviços qualificados. No SUS existem várias áreas de

alta complexidade, como assistência ao paciente portador de doença renal crônica (diálise),

assistência ao paciente oncológico, cirurgia cardiovascular, procedimentos endovasculares

invasivos e intervencionistas, procedimentos neurocirúrgicos, entre outros (CONSELHO

NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE, 2007).

Tecnologia em saúde, portanto, pode ser entendida como um conceito amplo que

reitera sua definição como

o conhecimento aplicado que permite a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das doenças,

além da reabilitação das suas consequências [...], podendo incluir „medicamentos, materiais e

procedimentos, sistemas organizacionais, informacionais, educacionais e de suporte, e os

programas e protocolos assistenciais, por meio dos quais a atenção e os cuidados da saúde são

prestados‟ (CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE, 2007, p.57).

Conforme Vianna et al. (2005 apud Conselho Nacional de Secretários de Saúde,

(2007), as tecnologias de alto custo nem sempre são sinônimas de alta complexidade. A

caracterização das tecnologias de alta complexidade envolve três características que as

diferenciam dos demais tipos de procedimentos. Dentre elas, constituem a incorporação de

tecnologia de ponta e/ou existência de pessoal tecnicamente treinado para a sua manipulação

(acima dos padrões médios); baixa frequência relativa de utilização em relação aos exames do

nível básico de atenção e de média complexidade; e alto custo unitário de utilização,

geralmente decorrente da tecnologia em si, ou de tratamento como um todo, como no caso da

hemodiálise, e da utilização de medicações crônicas de alto custo e de longo período de

utilização (CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE, 2007).

Entre as tecnologias de alta complexidade, no que se refere aos exames de imagem

com fins diagnósticos analisados nessa pesquisa, envolvem tecnologia de ponta e alto custo,

além de utilizar uma equipe altamente especializada na manipulação da tomografia

computadorizada, ressonância magnética e da densitometria óssea.

O uso da ressonância magnética e da tomografia computadorizada no diagnóstico das

doenças diversas apresentou desenvolvimento tecnológico expressivo recente, o que levou a

Page 37: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

35

um aumento na utilização destas tecnologias por parte dos médicos envolvidos no manejo de

pacientes.

Em relação às tecnologias em saúde, “o conceito de alta complexidade é dinâmico no

tempo: o equipamento de raios X já foi tecnologia de ponta; hoje, é a ressonância magnética e

a tomografia computadorizada que têm esse status” (CONSELHO NACIONAL DE

SECRETÁRIOS DE SAÚDE, 2007, p. 57).

O órgão Procuradoria de Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON) de São Paulo

aborda os procedimentos de alta complexidade como

custo elevado, condutas e equipamentos de ponta (avanços tecnológicos) e obtenção de

resultados satisfatórios, mas ainda não incorporados às rotinas ou práticas comuns.

Atualmente são considerados procedimentos de alta complexidade alguns transplantes,

tratamento de certos tumores e doenças. As pesquisas, os avanços do segmento médico-

hospitalar e a obtenção de resultados aliados à aplicação de novos medicamentos, métodos e

tecnologias permitem constante revisão desses procedimentos que passam a ser tratados como

rotineiros (MARTINS; PAULO, 2010, p. 53).

A tecnologia médica aumenta os custos da saúde de forma progressiva, ao passo que o

desenvolvimento tecnológico industrial preocupa-se com a diminuição ou otimização dos

custos. Os avanços tecnológicos na saúde e a indústria farmacêutica nem sempre têm foco

humanitário, com propósito afastado da cura e baseado no lucro de acionistas. Por

conseguinte, caso os sistemas públicos de saúde não disponham de critérios técnicos para a

incorporação tecnológica não existirão recursos suficientes (SANTOS; ANDRADE, 2009).

O foco não humanitário referido corresponde ao modelo médico hegemônico produtor

de procedimentos, que para Malta et al. (2004) sumariza a saúde em atos prescritivos,

geradores de procedimentos que não consideram os determinantes do processo saúde-doença

centrados nas condições sociais, ambientais e fatores relacionados à subjetividade,

valorizando apenas o aspecto biológico do ser, elevando custos e diminuindo a eficácia da

assistência prestada.

Para elucidar a funcionalidade do modelo assistencial, destaca-se que

a expressão modelo assistencial ou modelo de atenção à saúde é utilizada na saúde coletiva

para caracterizar o conjunto de estruturas, práticas profissionais, conhecimentos e tecnologias

disponíveis sobre o cuidado no processo saúde-doença e os modos de organização de serviços

e do trabalho em saúde formalmente institucionalizados e legalizados em uma sociedade

histórica dada (CONILL et al., 2008, p.1502).

O modelo tecno-assistencial que delineia o sistema de saúde como uma pirâmide com

fluxos de demandas de atendimento ascendente e descendente de usuários através de acesso

nos diferentes níveis de complexidade tecnológica, cujo objetivo seria a garantia da maior

Page 38: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

36

eficiência no uso de recursos, universalização e equidade do acesso, não se concretiza na

prática dos princípios norteadores do SUS tão desejosos dos técnicos e gerentes do sistema.

Apontam-se distorções na aplicabilidade dessa pirâmide que implicam na “prepotência

tecnocrática” que responsabiliza a decisão do cidadão, o qual procura o pronto-socorro no

lugar do centro de saúde (CECÍLIO, 1997).

Para Cecílio (1997, p.472), “as pessoas acessam o sistema por onde é mais fácil ou

possível. Não é à toa que a assistência à saúde ocupa um lugar central nas preocupações do

„cidadão comum‟”.

Como explicações da não aplicabilidade do modelo da pirâmide são inúmeros fatores

relacionados, tais como aspectos do financiamento do SUS, relação público e privado, modo

de gestão do setor público, modo de controle dos usuários e o próprio modelo tecno-

assistencial pensado nos moldes de uma pirâmide hierarquizada de serviços organizados do

SUS (CECÍLIO, 1997).

Existem especificidades no trabalho em saúde, pois o mesmo está implicado no espaço

relacional que envolve o usuário e o produtor de saúde em tecnologias voltadas para o

cuidado, através de relação intercessora entre ambos, estabelecida em atos que compreendem

subjetividades determinantes do processo de recuperação da saúde (MALTA et al., 2004).

Considerando que na saúde o setor privado é abarcado pelo sistema público “[...] o

estudo de modelos assistenciais em saúde suplementar não é desvinculado do entendimento

global do funcionamento do SUS” (MALTA et al., 2004, p.443).

Discutindo a incorporação tecnológica no SUS, de acordo com Cecílio (1997), o

sistema de saúde seria mais adequadamente pensado como um círculo, com várias “portas de

entrada” situadas em diversos pontos do sistema e não mais em uma suposta “base”. O

hospital sairia do “topo” da pirâmide, o que desfaria essa concepção vertical de pirâmide

substituindo-a para a lógica horizontal que contempla vários serviços de saúde colocados na

superfície plana do círculo, incluindo os de procedimentos de alta densidade tecnológica,

garantindo o acesso ao serviço adequado, à tecnologia adequada de forma apropriada e com a

responsabilidade intransferível do sistema de saúde.

O SUS exemplifica uma grande política pública democrática, mas com características

de desumanização nos serviços de saúde estatais e privados (PAIM, 2008). Para Malta et al.

(2004, p. 443), “a compreensão e a regulação da assistência supletiva deve considerar as

experiências e modelagens produzidas no público, com o objetivo de compará-las e assim

estabelecer novos conhecimentos”.

Page 39: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

37

Muitos desenvolvimentos tecnológicos ocorreram ao longo da história, o que é

corroborado pela afirmação em que “a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que

cerca de 50% de todos os avanços terapêuticos disponíveis na atualidade não existiam há dez

anos” (CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE, 2007, p. 56).

Antes da incorporação das novas tecnologias em saúde nas práticas diárias é

necessário assegurar que as tecnologias sejam seguras e tragam benefício com o seu uso,

havendo relação custo-benefício satisfatório. Durante a fase experimental da nova tecnologia,

são conduzidos estudos sobre segurança e eficácia, geralmente realizadas por acadêmicos e

pela indústria criadora da tecnologia, sendo um pré-requisito para as fases seguintes. Após

esta aprovação inicial, existe a fase de implementação, em que há a análise do custo-

efetividade da tecnologia. Havendo custo-efetividade satisfatório, tem-se a fase de

generalização, em que há liberação para o uso globalizado da tecnologia, de acordo com a sua

área de aplicação, havendo monitoramento dos seus efeitos positivos e negativos no curto,

médio e longo prazos (CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE, 2007).

O acesso referente à distribuição espacial dos equipamentos e serviços é a primeira

condição para viabilizar a utilização dos recursos pelos usuários e, certamente, é um elemento

fundamental contido no princípio linear de que a oferta produz a demanda (COHN et al.,

2006).

As barreiras físicas de acesso presumem a distância geográfica entre a residência do

usuário e o provedor do serviço que pode oferecer um serviço em menor quantidade que a

demanda pretendida para determinada região que às vezes não considera os aportes de outras

áreas proximais e até distantes. O impasse da produção de demanda surge da oferta do

serviço; em contrapartida a necessidade do usuário que faz buscar este serviço, considerando

que ambas são reflexões pertinentes que dividem o primeiro entendimento em voga de que a

oferta de serviços em saúde produz a demanda.

Como reflexão conceitual de produção de demanda para determinado serviço, de

acordo com Franco e Merhy (2010, p.185), “[...] é aquela que se constrói a partir da não-

realização de certas necessidades, por outros serviços”. O não atendimento de uma

necessidade menos grave num nível de atenção primário pode exigir uma etapa mais

complexa de tratamento nos níveis secundários e terciários, devido ao desdobramento e

avanço de doença. Fica evidente, então, que uma necessidade não atendida por um serviço

básico pode prejudicar o bem-estar daquele que procura imediatamente uma consulta para

primeiro diagnóstico ou prevenção de doença precocemente (FRANCO; MERHY, 2010). No

que se refere ao acesso das demandas aos serviços de saúde no Brasil:

Page 40: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

38

a distância ou a proximidade entre o local da residência do usuário e o local da prestação do

serviço constitui a razão, assim, para orientar a distribuição dos recursos e a ampliação da

rede de unidades de serviços de assistência médica. O acesso assim entendido deveria ser, em

tese, a base concreta para a viabilização do princípio da articulação funcional que sustenta a

concepção de hierarquização da demanda pelos serviços de saúde, condição sine qua non para

regionalização e descentralização que a Constituição impõe. Essa concepção se pauta na

acessibilidade do usuário ao serviço como mecanismo básico para que, de fato, as propostas

se traduzam em resultados observáveis e mensuráveis (COHN et al., 2006, p. 68).

Franco e Merhy (2010, p.184) referem que “[...] a busca por assistência parece ser uma

das formas de construção da demanda, a partir da percepção do usuário e os sentidos

refletidos nas práticas assistenciais implicadas com a produção da saúde”. A relação

pressuposta entre o usuário e o serviço de saúde estabelece-se através de fluxos comunicantes,

com derivação para o cuidado ou descuidado, perante a instituição de ofertas, demandas,

desejos, realizações de expectativas e satisfação de necessidades (FRANCO; MERHY, 2010).

A demanda caracterizada pela morbidade retrata uma necessidade que impulsiona a

busca por determinado serviço onde é oferecido, portanto, parece aceitável afirmar que tanto a

necessidade imperiosa de tratamento à saúde, como a oferta pelo serviço, produzem a

demanda. Contudo, existe tensão fruto da contradição entre o modelo de produção do cuidado

que se propõe e o outro produtor de procedimentos, como é atualmente (FRANCO; MERHY,

2010).

O ideal para controlar as demandas para serviços de saúde transcende níveis

organizacionais e políticos, considerando que prevalece uma cultura arraigada de procurar um

serviço somente quando precisa em extrema urgência ou emergência, desfocando práticas

integrais de promoção e prevenção de doenças que reduziriam desproporções das procuras

espontâneas para os níveis secundários e terciários da atenção à saúde. Desta forma, “os

usuários associam a solução de seus problemas de saúde a certos produtos realizados pelo

serviço, atribuindo ao procedimento em si mesmo a satisfação de suas necessidades”

(FRANCO; MERHY, 2010, p.185).

Segundo Franco e Merhy (2010, p.185), “[...], observa-se que esta ideia é muito

comum – isto é, o usuário forma uma imagem que coloca no procedimento toda a expectativa

de ser cuidado e protegido, quando na realidade é um recurso limitado”.

Em contrapartida, sabendo-se que a saúde suplementar não dispõe de obrigatoriedade

legal de prover todas as ações e serviços em saúde como as que ocorrem no SUS, destaca-se

que a atenção básica organizada, articulada e completa não caracteriza os produtos ofertados

pelos planos privados de saúde. Ainda que práticas de promoção e prevenção sejam

fomentadas pela ANS e outros agentes da academia universitária, buscando mudanças no

modelo assistencial da área suplementar de saúde, é um desafio superar a fragmentação da

Page 41: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

39

linha do cuidado, garantindo a sua integralidade, visto que para Santos, Malta e Merhy (2008)

essa questão necessita de enfrentamento.

Pinheiro (2009) refere que existem problemas similares referentes ao acesso nos

planos de saúde como os que ocorrem no sistema público, visto que não há valorização de

ações como as de atenção básica que ocorrem no SUS. Os segurados também encontram

dificuldades para atendimento, com atraso na marcação de exames e consultas, o que provoca

filas, faltando médicos pediatras e clínicos nos hospitais privados, já que estas são as duas

especialidades pior remuneradas pelos planos.

A mistura das demandas de atendimento eletivo com as de maior gravidade nos postos

de urgência e emergência dos hospitais públicos e privados vem se tornando comum o que

exige cada vez mais a necessidade da regulação dos atendimentos, a partir de consultas de

triagem a fim de direcionar a organização do serviço e a satisfação do usuário, evitando filas e

superlotações desnecessárias.

Existem avanços nas propostas de mudança do modelo de atenção na saúde

suplementar, considerando que grande número de projetos de promoção à saúde e prevenção

de doenças vem sendo apresentado pelas operadoras de planos privados de saúde para

aprovação junto à ANS, impactando de forma positiva na tentativa de efetivação de tal

mudança, tendo em vista que passaram a ser incorporadas na prática discursiva e do

marketing de diversas operadoras que estão inserindo o lema do cuidado à saúde e da

responsabilidade com a promoção da saúde do beneficiário (SANTOS; MALTA; MERHY,

2008). Contudo, para Franco e Merhy (2008, p. 1519), “[...] os movimentos de mudança,

mesmo os que inauguram novas práticas de cuidado, não tiveram ainda potência para produzir

uma ruptura com o modelo médico”.

De acordo com Malta et al. (2004, p. 443), “[...] a saúde suplementar deve trabalhar

sob o prisma da prevenção, da promoção, estimulando essa prática em todos os seus

prestadores, não como marketing da operadora, mas como prática cotidiana de fato

incorporada”. Para Bahia (2008, p.172), “as convicções sobre as possibilidades de aplicar uma

„economia da prevenção‟ à implementação de modelos técnico-assistenciais produtores de

saúde galvanizaram o debate sobre a assistência suplementar [...]”.

É importante destacar que as ações de promoção de saúde incluem atividades

informativas com justificativa ética e educativa no sentido de direcionar, principalmente em

relação aos adultos. As autoridades sanitárias responsáveis por funções informativas e

educativas para a população se não vierem pautadas de um fortalecimento econômico,

político, social e cultural dos indivíduos e grupos socialmente marginalizados terão efeito

Page 42: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

40

retórico, considerando a natureza de tarefa técnica específica da promoção da saúde e

politicamente das mais complexas (LEFEVRE; LEFEVRE, 2004).

De acordo com Lima (2005) as sete principais ações propedêuticas voltadas para a

comunidade podem ser agrupadas em ações de promoção e proteção da saúde (orientações

sobre higiene ambiental, legislação sanitária, preservação das habitações, higiene alimentar,

escolar e do trabalho); ações de promoção de saúde (orientações nutricionais, educação

sanitária, controle da procriação, padrões de saúde vivencial, escolar, coletiva, assistência aos

idosos e aos portadores de limitações físicas e mentais); ações de prevenção das doenças

(vacinação, orientações sobre concepção e contracepção, notificação de doenças contagiosas

aos setores de saúde pública, prevenção de acidentes e doenças crônicas como câncer,

tuberculose, diabetes, doenças cardiovasculares, AIDS, entre outras.); ações curativas

(tratamento dos doentes nos domicílios, nos hospitais ou em instituições análogas); ações de

reabilitação (reintegração das pessoas à sociedade, nos planos físico, mental, social e

vocacional); ações de investigação epidemiológica, sociológica, administrativa e demográfica

(participação em estudos para correlacionar a verdade científica com a social e a política) e,

finalmente, as ações de ensino que atuam na formação, preparação prática de todas as

categorias, considerando no ensino aspectos concretos, conexos, complexos, circunstanciais,

criativos e transformadores da realidade.

Em relação ao SUS, muito ainda deve ser feito, como um melhor estudo das áreas

geográficas de implantação dos serviços de assistência (almejando um atendimento mais

completo contra mordedura de cobra em postos rurais do que em urbanos, por exemplo),

adequando esta assistência à realidade local, além do melhor aparelhamento de todos os níveis

de assistência, salários e condições de trabalho dignas aos profissionais da saúde, bem como a

criação de um sistema de referência e contrarreferência eficiente e pouco burocrático.

O que se observa no SUS é a presença de pacientes com um nível baixo de

complexidade de sua doença ser atendidos em hospitais terciários, rejeitando os postos de

saúde por medo de perderem o vinculo com o hospital terciário, mais completo e melhor

estruturado, fazendo com que estes fiquem sem vagas para atender os casos realmente

complexos. Caso houvesse um sistema de referência e contrarreferência funcionante e que

oferecesse ao paciente a certeza de que ele sempre conseguiria assistência ao hospital

encaminhado, conforme o desenvolvimento da complexidade de sua doença, estas dúvidas e

incertezas seriam sanadas.

Dentre as ações de promoção da saúde a busca por adesão ao tratamento também é

uma questão importante, pois o paciente também deve ser o protagonista do seu processo de

Page 43: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

41

saúde e doença, regulando suas ações e participando da sua terapêutica, aderindo ao

tratamento e tirando as suas dúvidas. Entretanto, aderir ao tratamento não depende

exclusivamente de determinismo e vontade do paciente que pode estar resignado às suas

particularidades sociais e econômicas que o impedem de conseguir não só a medicação

prescrita, mas alimentar-se de todas as suas refeições diárias, estar incluído socialmente e não

marginalizado sem emprego.

A revelação desejável da autopercepção individual, decorrente da necessidade humana

de buscar ajuda no sistema público ou privado de saúde é traduzida pelo autocuidado,

possibilitando ampliar o acesso às ações e serviços de saúde, destacando que de fato com o

SUS houve ampliação do direito ao tratamento das pessoas em sofrimento, incluindo aí a

saúde suplementar.

Page 44: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

42

2 A SAÚDE SUPLEMENTAR NA POLÍTICA DE SAÚDE BRASILEIRA

2.1 Surgimento da saúde suplementar nas políticas de saúde

Em meados da década de 1960 ocorreram mudanças nas relações entre

financiadores e provedores de serviços que culminaram no empresariamento da medicina,

com redes próprias que se estabeleceram por convênios médicos entre as empresas

empregadoras com empresas médicas (cooperativas médicas e empresas de medicina de

grupo), mediadas pela Previdência Social (BAHIA, 2001). Por outro lado, o mercado dos

planos privados de saúde desenvolveu-se em paralelo à urbanização, à industrialização do

país, à renda e ao emprego formal (ALBUQUERQUE et al., 2008).

Em relação à visão de mercado ampliada para a saúde, um conjunto de fatores

evidencia que:

O projeto mercantilista assume a saúde como mercadoria, defendendo o mercado como a

melhor opção para a alocação de recursos e para a satisfação das demandas e necessidades dos

indivíduos, com base no valor „utilidade‟. Reúne interesses de empresas médicas, seguradoras

e operadoras de „planos de saúde‟, indústrias de medicamentos e de equipamentos, parte de

entidades médicas e de profissionais de saúde, além da mídia e de empresas de publicidade.

Defende que os serviços de saúde devem ser comprados pelos que podem pagar, cabendo ao

Estado financiar àqueles que não podem fazê-lo (PAIM, 2008, p.112).

De acordo com Bahia (2001), a Previdência Social era um poderoso financiador de

serviços organizados em redes assistenciais próprias das empresas médicas, as quais

tornaram-se compradoras de serviços, através de credenciamentos de profissionais,

laboratórios e hospitais. Enquanto as Unimed‟s complementaram suas redes de atendimento

através de credenciamento de hospitais e laboratórios, a medicina de grupo efetivava sua rede

por meio de compra de consultas médicas realizadas pelos profissionais em seus próprios

consultórios.

A expansão da rede de serviços especialmente das medicinas de grupos desenvolveu-

se tanto devido à imposição das normas da Previdência Social sobre coberturas mínimas,

como atendimento ambulatorial em determinadas especialidades, quanto pela necessidade de

competir com as cooperativas Unimed‟s que tinham todos os seus associados para o

atendimento dos convênios (BAHIA, 2001).

Nesse contexto, em relação aos antecedentes do SUS:

Page 45: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

43

O „sistema de saúde‟ brasileiro, formado ao longo do século XX, teve como marca a

dicotomia entre saúde pública e assistência médico-hospitalar. De um lado, as campanhas

sanitárias e, de outro, a filantropia, a medicina liberal, a medicina previdenciária e,

posteriormente, as empresas médicas. Antes de 1930, não havia o reconhecimento dos direitos

sociais no Brasil. A partir da era Vargas, introduz-se o direito à assistência médica apenas

para os trabalhadores urbanos com carteira de trabalho assinada. A extensão de cobertura para

os trabalhadores rurais por meio do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural),

efetuada durante o autoritarismo, apresentava-se mais como concessão do que um direito. O

mesmo podia ser dito em relação ao acesso das populações rurais e das periferias urbanas aos

Programas de Extensão de Cobertura (PECs) [...] (PAIM, 2008, p.94-95).

Para Montone (2009, p.132) “[...] a imagem do SUS ficou marcada como o novo INPS

ou o novo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), enfim

a área da assistência à saúde, mas o SUS está longe de ser apenas isso”. Ampliou-se de fato o

acesso principalmente às ações de saúde a todos os cidadãos brasileiros, não apenas os que

tinham emprego formal com carteira assinada.

Em relação à terceirização de serviços privados na saúde que se estabelecia a partir da

remuneração por procedimentos executados por prestadores médicos, remonta-se a época em

que

o INAMPS prestava serviços de assistência médica, hospitalar e ambulatorial aos

trabalhadores do regime Geral da Previdência Social. Desses serviços, 30% eram do próprio

INAMPS e 70% contratados de terceiros. As tabelas de procedimentos e as AIHs eram formas

de pagamento desses serviços, mediante o critério de produção. As NOBs de 1991 e 1992

estabeleceram para os estados e municípios esse mesmo modelo, tratando os entes federativos

como se fossem prestadores de serviços do Ministério da Saúde, e não entes responsáveis pela

garantia do direito à saúde do cidadão (SANTOS; ANDRADE, 2009, p.43).

No que tange aos efeitos da política previdenciária brasileira que mediava

predominantemente à terceirização dos serviços de saúde, evidenciam-se que

as consequências da política previdenciária que privilegiava o setor privado prestador dos

serviços de saúde, por meio do financiamento concedido pela Caixa Econômica Federal

(CEF) para criação de uma rede hospitalar privada com um mercado garantido por intermédio

da compra de serviços pela Previdência, se manifestaram como crise e propiciaram a entrada

do pensamento reformador e crítico na gestão da política previdenciária de saúde. A luta pela

democratização da saúde encontra neste espaço de racionalização administrativa do sistema

previdenciário um lócus estratégico para avançar na direção da unificação dos dois

ministérios responsáveis pela saúde-o da Saúde e o da Previdência - por meio de programas

de sucessivas aproximações como o das Ações Integradas de Saúde (AIS) e o do Sistema

Unificado Descentralizado de Saúde (SUDS). No entanto, o desafio era transcender a mera

racionalização em direção à universalização, à descentralização e à participação, que seriam a

expressão política da democratização da saúde (FLEURY, 2008, p.50).

Para Paim (2008, p.95), “somente com a Constituição de 1988 a saúde foi reconhecida

como um direito social, cabendo ao Estado assegurar o „direito à saúde para todos os

cidadãos‟, uma das maiores conquistas do movimento sanitário no Brasil”.

A reforma sanitária brasileira pautada na descentralização buscava a mudança do

desenho e da lógica de um sistema público, sem a necessidade de ocorrer a privatização da

Page 46: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

44

prestação do serviço, ou sem que o Estado renunciasse ao seu papel de ser gestor e prestador

direto. Vislumbrava-se, portanto, um sistema que procurasse ser preponderante à lógica do

mercado, provendo atenção com base nas necessidades da população, independente das

condições financeiras das famílias e as pessoas pagarem pelo atendimento ofertado

(CAMPOS, 2006).

A Constituição Federal de 1988, no artigo 198, na Lei Orgânica de Saúde nº

8.080/1990, refere que o SUS é organizado segundo algumas diretrizes básicas e essenciais,

tais como: a descentralização, o atendimento integral, resolutividade, gratuidade e a

participação da comunidade. A criação do SUS, que teve como motivação básica atender às

necessidades e aos anseios da população representou um avanço especialmente pelos seus

princípios de organização que se traduzem em garantia formal de acesso extensiva a toda a

população aos serviços de saúde, participação dos cidadãos no processo de formulação de

políticas de saúde e controle da execução das mesmas (FIGUEIREDO, 2005).

A caracterização legal do setor de saúde suplementar brasileiro surgiu a partir da

Constituição Federal de 1988, que estabeleceu que os serviços de saúde deveriam compor um

sistema único e descentralizado, com comando único, no exercício de competências

específicas em cada esfera de governo. Reconheceu-se que o modelo de financiamento da

saúde era público, da mesma forma que a gestão, porém admitia-se que a produção dos

serviços de saúde podia ser pública ou privada, tal como era a realidade brasileira

(MONTONE, 2009).

Para Santos e Andrade (2009, p.96), “dos serviços públicos, 50% são contratados ou

conveniados do setor privado”, prevendo a participação do setor privado de forma

complementar. Já segundo, Albuquerque et al. (2008, p.1426), “para a prestação dos serviços

públicos, o Sistema Único de Saúde utiliza hospitais próprios e hospitais privados, sendo que

69% dos hospitais privados e 65% dos leitos privados estão contratados ou conveniados ao

SUS”.

No que se refere aos 35% dos leitos restantes, a disponibilidade destes está vinculada à

assistência suplementar ou para serviços financiados pelo desembolso privado direto.

Destaca-se que parte dos leitos em hospitais públicos não está disponível para o SUS, tendo

em vista que estão integrados aos hospitais militares e instituições de previdência estadual e

municipal (ALBUQUERQUE et al., 2008).

Segundo Campos (2006, p.419), “reservava-se ao Estado o papel de regular o mercado

e a prestação de apenas alguns serviços considerados estratégicos, em geral no campo antes

denominado saúde pública, e o SUS avocava a si a busca da integralidade da atenção”.

Page 47: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

45

De acordo com Cecílio (1997), existe um processo de retração progressiva da oferta de

serviços para o SUS, porque há um crescimento de serviços ambulatoriais e hospitalares

contratados que buscam assegurar sua estabilização financeira através da criação de planos de

saúde próprios, oferecidos a grupos populacionais que podem contratá-los. Como

consequência aparece a dificuldade, quando não a inviabilidade, de acesso das amplas massas

de brasileiros aos cuidados de saúde, ainda que haja capacidade instalada ociosa no setor

privado.

Para os brasileiros que utilizam o SUS, existe a dependência total desse sistema para

os 80% da população que não possui planos de saúde, dependência parcial dos que possuem

planos não regulados e a não dependência dos que possuem planos regulados, exceto para

transplantes que não sejam de rim, córnea e medula óssea (MONTONE, 2009).

Considerando que a saúde suplementar não é responsável legal por prover todas as

ações e serviços em saúde mesmo para aqueles que usam diretamente os planos privados de

saúde, essa classificação baseia-se no conceito técnico de SUS dependentes, com aplicação

ampliada para todos os cidadãos residentes no território brasileiro (MONTONE, 2009).

Na década de 90, ocorreu um período de desaceleração do conjunto dos

estabelecimentos de saúde, tanto públicos como privados, em que os ajustes no número de

estabelecimentos, leitos e a redução das médias de permanência observadas também refletem

mudanças nas técnicas de prestação de serviços hospitalares, seja de produto ou de processos.

Conforme dados referenciados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) uma

pequena parcela dos hospitais privados foi fechada entre 1992 e 1999, além de uma

reengenharia redutora de leitos, já que mais de 10% da capacidade instalada em 1992 foi

desativada, basicamente, no segmento lucrativo, podendo ser atribuído tanto à redução de

financiamento público para seu custeio, através da contenção de repasses do SUS para compra

de serviços, mas também a todo um movimento de desospitalização de doenças crônicas, tais

como as psiquiátricas (ANDREAZZI; KORNIS, 2003).

A universalidade da assistência à saúde como direito público no preceito

constitucional não abrange o mercado de planos de saúde que, conforme Malta et al. (2004,

p.436), “tem atuado livremente e uma nova prática do estado implica a aquisição de saberes e

competências que subsidiem essa nova forma de operar”, onde as operadoras passam a ser

gestoras da saúde dos seus beneficiários, estabelecendo ações de promoção e cuidado,

garantindo também o acesso e a qualidade da assistência ofertada. Contudo, não se pode

afirmar que a saúde suplementar é substitutiva ao SUS, pois

Page 48: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

46

[...] não há plano de saúde de combate à dengue ou de garantia de qualidade dos alimentos e

medicamentos. Quanto aos medicamentos dependemos do SUS para distribuição gratuita ou

subsidiada ou temos que comprar diretamente nas farmácias, pois os planos de saúde não os

incluem (MONTONE, 2009, p.3-4).

Porém, em relação ao SUS, o princípio constitucional da universalidade é

reinterpretado de forma não inclusiva na prática social, focando mais o universalismo

excludente, com oferta de serviços limitantes e de baixa resolubilidade, do que o

universalismo inclusivo, como direito de cidadania (ASSIS; VILLA; NASCIMENTO, 2003).

O sistema de saúde brasileiro constitui paradoxalmente um mosaico inserido na

dualidade público e privado, com preceitos de universalidade e gratuidade de acesso e

liberdade no poder de compra para iniciativa privada que constitucionalmente pode atuar de

forma complementar aos serviços e ações de saúde, apresentando, contudo, diferença na

estratificação social de quem o usufrui, e também nas atribuições de cada esfera assistencial.

Ressalva-se, porém, que a universalidade assistencial não é atributo da saúde

suplementar, o que inclui a não comparação da atenção básica do SUS com as ações pontuais

de promoção, prevenção, gestão de cuidado, e programas de atenção domiciliar praticados por

algumas operadoras de planos privados de saúde.

Conforme Santos, Malta e Merhy (2008) existe projeto de qualificação das operadoras

que avalia as suas diversas dimensões, assistencial, econômica, estrutura e operação e a

satisfação dos beneficiários quanto ao funcionamento do setor. Inúmeras operadoras têm

buscado melhorar o desempenho e como efeito afetar suas pontuações no ranking. Com essa

iniciativa, o beneficiário que deseja optar por um plano de saúde poderá fazer uso dessa

consulta avaliativa, além de estabelecer melhoras contínuas para o setor e competição positiva

entre as operadoras pelo melhor desempenho global.

Em estudo qualitativo de Martins et al. (2009), a experiência do modo de produção do

cuidado, vinculado ao maior programa de atenção domiciliar desenvolvido por uma

cooperativa médica composta por 3.330 beneficiários em 2006, trouxe após análise de dados a

revelação da satisfação dos beneficiários com os resultados obtidos através do programa, a

diminuição dos custos operados pela cooperativa e a transferência de gastos para a família.

As condições para o acesso no setor privado não se apresentam privilegiadas, pois, de

acordo com Costa e Amora (2009), são comuns as longas filas de espera, recepções lotadas,

pacientes nervosos, médicos sobrecarregados e muita reclamação.

Diferentemente da rede pública, onde há falta de investimentos, organização e

profissionais, na rede particular houve incremento no número de pessoas, modernização de

aparelhos e construção de novos hospitais. Entretanto, todo este incremento não foi suficiente

Page 49: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

47

para suportar o aumento cada vez maior de pacientes com planos de saúde. Hoje, os

beneficiários de planos de saúde já são maioria no município do Rio: 51,1%. Em 2000, eram

42, 2%. Nesses oito anos, os planos de saúde receberam 1,1 milhão de novos usuários na

Região Metropolitana do Rio, sendo 677 mil só na capital (COSTA; AMORA, 2009).

Segundo Pinheiro (2009), a saúde suplementar está caminhando para o mesmo

problema da saúde pública de não redirecionar as demandas de atenção hospitalar que lotam

as emergências privadas para ações de atenção básica em saúde. Os planos restringem a

entrada de novos médicos que atendem em consultório para privilegiar o atendimento em sua

própria rede ao invés de investirem na atenção básica. Ocorre problema estratégico das

operadoras de planos de saúde semelhante ao cometido pelos gestores da saúde pública,

destacando a superlotação típica de hospitais públicos, oriunda da não ênfase da atenção

básica das consultas (PINHEIRO, 2009).

Entre as causas da superlotação das emergências privadas está a dificuldade de acesso

dos usuários de planos de saúde ao atendimento primário. Ou seja, faltam consultórios e

ambulatórios para prevenção e os pacientes têm dificuldades de marcar consultas. O problema

na rede privada de assistência, traçando um paralelo com a rede pública, equivale à

precariedade de atendimento nos postos de saúde (COSTA; AMORA, 2009).

O Estado, através da formulação de políticas de viabilidade, tem como função garantir

o acesso da população à rede de serviços de saúde. Em contraposição, a utilização efetiva do

sistema de saúde realizada pelos usuários é resultado do confronto que se estabelece entre os

serviços disponíveis e a demanda conformada (COHN et al., 2006).

A falta de equidade no acesso aos bens e serviços de saúde torna-se preocupante,

porque problematiza o processo de transformação social dos sujeitos e seu completo bem

estar. Para tanto,

no Brasil, as diferentes formulações das políticas de saúde, levando em consideração a

existência de uma rede sempre insuficiente para uma demanda cada vez maior e mais

diversificada, vêm apresentando reiteradamente, o critério de acesso como pressuposto da

disponibilidade de serviços para prover o necessário atendimento às populações carentes. São

inúmeras as desigualdades em que se desdobra a qualidade de vida nas diferentes regiões do

país, e conforme a concentração demográfica e os níveis de renda correspondentes, onde o

critério de acesso faz parte intrínseca do modelo paradigmático da regionalização e

hierarquização do binômio demanda/atendimento, prevalecente no ideário da saúde pública,

introduzido no país nos anos 20 (COHN et al., 2006, p. 68).

A lei que regula o dever do Estado no atendimento da população, garantindo a saúde

como obrigação constitucional, nos termos dos artigos 197 e 199, parágrafo primeiro, reitera a

presença de um sistema único, constituído por uma rede hierarquizada, regionalizada e

Page 50: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

48

organizada por serviços públicos e ações, com complementação da sua assistência por meio

da iniciativa privada (COHN et al., 2006).

O acesso e a resolutividade dos problemas de saúde encontrados devem ser efetivos

nos dois setores que presta serviços de saúde no Brasil, tanto no público como no privado. No

entanto, o mercado de planos de saúde oferece um acesso muitas vezes enganoso e não

resolutivo, não respondendo às necessidades ou respondendo de forma restrita. Observa-se,

portanto, no setor privado, a grande dificuldade de conciliar a segmentação contratual de um

plano de saúde com um tratamento integral e resolutivo, residindo a importância de se

valorizar a atenção primária de base comunitária para garantia do acesso responsável do

paciente nos dois setores de saúde. O acesso à rede de serviços na saúde suplementar também

pode estar comprometido, principalmente quanto ao excesso de burocratização, “glosas” por

parte das operadoras, negativas de cobertura, entre outras dificuldades. Portanto, torna-se

importante considerar o papel da subjetividade no cuidar, como papel revolucionador do

sistema de saúde, que tem importância estabelecida. Assim,

para o desenvolvimento dos processos de mudança do modelo assistencial, a identificação do

papel central da subjetividade nos traz um novo desafio: reconhecer que o protagonismo dos

sujeitos trabalhadores e usuários para a mudança no funcionamento dos serviços de saúde não

vai se dar apenas pela excelência técnica, isto é, processos cognitivos que dizem respeito ao

modo de fazer saúde. Será necessário também investir em processos de subjetivação, para que

os mesmos se coloquem como portadores de projetos que recuperem a utopia ativa de um

serviço de saúde centrado no usuário, produtor do cuidado, no sentido de acolher e se

responsabilizar por sua clientela (FRANCO; MERHY, 2010, p. 191).

Existem estratégias de melhoria do acesso a serviços e medicamentos, assim como o

desenvolvimento de práticas integrais do cuidado às populações consideradas especiais e de

riscos de saúde, associadas à incorporação de tecnologias computacionais (criação de

softwares e sistemas informacionais), destinadas à modernização da relação entre

profissionais e serviços, e entre estes e os usuários. Mas todas elas estão relacionadas com a

promoção e a gestão do cuidado em saúde, mediante a valorização do profissional e do

usuário, garantindo sua autonomia, de modo a estabelecer uma relação democrática entre

demanda e oferta, com ações integrais na atenção (PINHEIRO; MATTOS, 2006). Dentro

deste contexto de integralidade para melhoria do acesso, Campos, Barros e Castro (2004)

sugerem que o investimento em modos de organização dos serviços de saúde reduziria as filas

e o tempo de espera baseados na adoção de critérios de risco e no acolhimento.

Para Bahia (2001, p.339), “a regulação pública dos planos privados de saúde requer a

construção de novas relações de compartilhamento de riscos à saúde entre Estado, empresas

empregadoras e famílias”.

Page 51: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

49

2.2 A regulação pública do setor privado de saúde

Para Menicucci (2007), a implantação do sistema de saúde público e universal e o

estabelecimento de uma política regulatória da assistência privada ocorreram de forma

independente, envolvendo atores privados e agências governamentais distintas e significando

que esta regulação não se deu no sentido de definir a inserção de mecanismos de mercado na

estrutura da assistência de responsabilidade estatal e de caráter universal, mas de consolidar o

sistema privado de forma independente do sistema público.

A relação pública e privada é heterogênea na natureza do direito transversal

parametrizado por regras regulatórias pautadas na soberania do interesse público sobre os

interesses globalizantes adstritos somente ao lucro do mercado privado. Na parcimônia

constitucional do acesso à saúde sobressaem formas diferenciadas quando se dicotomiza a

oferta de bens e serviços, de acordo com o poder aquisitivo do cidadão.

A ideia de um sistema nacional de saúde público, complementado pelo setor privado,

ainda necessita de definição de regras claras de atuação, principalmente quando se concebe

que

[...] a regulação do setor privado não ocorreu no sentido de definir sua articulação com o setor

público ou de determinar espaços e regras de atuação, o resultado da política de saúde no final

da década - e apenas dez anos após as mudanças constitucionais - tornou evidente a existência

de duas formas radicalmente distintas, não apenas de acesso, financiamento e produção das

ações e dos serviços de saúde, mas também de atuação governamental. Por um lado, a atuação

estatal se dá no sentido de garantir o acesso universal às ações e aos serviços de saúde como

elemento que integra a noção de direito à saúde. Por outro lado, a política de saúde passa,

formalmente, a incorporar a assistência privada ao escopo da intervenção governamental na

forma de regulação do mercado privado de assistência, com vistas a desenvolver esse

mercado, garantindo os direitos do consumidor. Ao fazer isso, a própria política consagra e

legitima o caráter dual da assistência. Nessa perspectiva, a ação governamental orienta-se por

duas lógicas distintas: a lógica da assistência como um direito de cidadania, que traz

implícitas as ideias de universalidade e igualdade; e a lógica da assistência como um bem

oferecido e adquirido em um mercado que, por sua vez, remete à diferenciação por segmentos

e produtos, definida com base no poder de compra ou em condições privilegiadas de acesso

ao consumo de serviços de saúde (MENICUCCI, 2007, p. 16).

A forma de organização da intervenção do Estado na saúde suplementar suscita

polêmicas e encerra várias limitações e contradições. As limitações são identificadas nas

seguintes situações.

A ANS praticamente não regula o segmento de planos coletivos, que representa mais de 70%

do total de planos, além de uma série de problemas que requerem enfrentamento (TEIXEIRA

et al., 2002 apud MACHADO, 2007); existem questões operacionais, visto que várias

estratégias propostas esbarram em dificuldades para sua implementação; há problemas

relativos à eficácia e efetividade, dado que não se sabe em que medida alguns dos objetivos

da regulamentação propostos e traduzidos em estratégias têm sido alcançados na prática,

como a ampliação da cobertura e o controle dos preços; existem problemas de legitimidade

social, tendo em vista os frequentes questionamentos de cunho jurídico-legal das operadoras

Page 52: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

50

relativos à atuação da ANS, decisões judiciais contrárias à agência e a persistente insatisfação

dos consumidores com os planos (MACHADO, 2007, p.288).

As contradições da organização da intervenção do Estado na saúde suplementar são

insuficiência na clareza quanto aos propósitos e à direcionalidade da regulação do mercado

de planos e seguros de saúde, a exemplo o risco da maior concentração de mercado,

particularmente pelas grandes empresas do ramo financeiro, devido às exigências

econômica-financeiras impostas pela ANS para a entrada e a operação de empresas. As ações

da ANS, refletidas nestas exigências, podem beneficiar estas grandes empresas, em que a

regulação do mercado de planos e seguros privados podem favorecer a formação de

oligopólios, com repercussões potencialmente negativas sobre os preços e o bem-estar dos

consumidores. Questões estruturais importantes nas relações público-privadas na saúde-as

isenções fiscais, as implicações do interesse do grande capital financeiro na área-nunca

teriam entrado efetivamente na agenda de debates, permanecendo restrita a estratégias com

baixa possibilidade de repercussão nas distorções estruturais nessas relações, como o

ressarcimento ao SUS (MACHADO, 2007, p. 288).

A atuação do Estado, embora importante, fundamenta-se em uma perspectiva de

proteção aos consumidores do mercado privado, de certa forma antagônica à noção da saúde

como direito de cidadania expressa na Constituição brasileira.

Assim, as ideias de Menicucci (2007) convergem para as de Machado (2007) que

afirma que a atuação estatal é processada por lógicas, estratégias e lugares institucionais

diferenciados, sedimentando a fragmentação na condução da política nacional de saúde,

quando o assunto é a atuação do Estado na relação público e privado. Retrata-se a existência

de um mercado de planos e seguros de saúde que envolve milhões de usuários, e também a

segmentação entre dois subsistemas, o SUS e a assistência médica suplementar,

complementando a ideia das lógicas distintas da atuação estatal, conforme relata Machado

(2007).

De acordo com a legislação suplementar brasileira, as operadoras de plano de

assistência à saúde constituem pessoa jurídica sob a modalidade de sociedade civil ou

comercial, cooperativa ou entidade de autogestão, que opere produto, serviço ou contrato de

que trata plano privado de assistência à saúde, sendo vedada às pessoas físicas a operação dos

produtos desta natureza (BRASIL, 1998).

Conforme Malta et al. (2004) a saúde suplementar compreende as autogestões,

medicinas de grupo, seguradoras e cooperativas. A legislação suplementar inclui ainda as

filantropias, as administradoras e as odontologias de grupo.

As cooperativas de trabalho médico, cooperativas odontológicas, as medicinas de

grupo, as filantropias e as seguradoras constituem o ramo comercial. As seguradoras podem

ser vinculadas ou não a bancos, representando a modalidade empresarial com 16% dos

Page 53: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

51

beneficiários cobertos por planos de saúde (MALTA et al., 2004). Em relação ao ramo

comercial direcionado às modalidades de operadoras de planos privados de saúde:

O subsegmento comercial está integrado por aproximadamente 1.200 empresas-800 empresas

de medicina de grupo, 360 cooperativas médicas e 30 seguradoras-e responde pela cobertura

de 2/3 do total de clientes do mercado de planos de saúde. As medicinas de grupo,

constituídas inicialmente por grupos médicos aliados ao empresariado paulista, são

atualmente responsáveis por quase 40% dos beneficiários da assistência médica supletiva. As

Unimed‟s possuem 25% dos clientes de planos de saúde e se organizaram a partir da iniciativa

de médicos, em oposição às ameaças de perda da autonomia da prática médica e

mercantilização da medicina, que optaram por se associar a entidades mais afeitas a

preservação dos cânones liberais. E às seguradoras, vinculadas ou não a bancos, que

representam a modalidade empresarial mais recente no mercado de assistência médica

suplementar, competem os planos de 10% do contingente [...] (BAHIA, 2001, p.335).

As autogestões que totalizam cerca de 300 empresas heterogêneas (sindicatos,

indústrias, empresas públicas, empresas com pequeno número de associados, dentre outras)

são os planos próprios patrocinados ou não pelas empresas empregadoras, compondo o ramo

não comercial do mercado de planos e seguros (MALTA et al., 2004).

As cooperativas de trabalho médico (Unimed‟s) que se organizaram a partir da

iniciativa de médicos contestadores da perda de autonomia da prática médica no contexto da

mercantilização da medicina possuem 25% de beneficiários de planos de saúde (MALTA et

al., 2004).

As medicinas de grupo que se desenvolveram na década de 1960 são empresas

médicas que realizavam convênio-empresa com a empresa empregadora que na época era

fomentado pela Previdência Social, a qual repassava subsídios per capita por cada serviço

prestado. Foram inicialmente formadas por grupos médicos vinculados ao empresariado

paulista, envolvendo quase 40% dos beneficiários de planos de saúde, em que a organização

de proprietários e acionistas de hospitais se estabeleceu pelo surgimento de redes de serviços

e credenciamento de hospitais e laboratórios perante a existência de um comprador de

serviços que garantia um mercado seguro (MALTA et al., 2004).

Comparando-se os dados de Bahia (2001) com os de Malta et al.(2004) observa-se

que apenas as seguradoras especializadas em saúde aumentaram seu percentual de

beneficiários de planos privados de saúde nesse período.

A explicação desse aumento nas seguradoras entre 2000 e 2006 para Albuquerque et

al. (2008, p.1426) relaciona-se ao fato de que “nas seguradoras de saúde, o aumento de

beneficiários em planos coletivos foi associado à sua redução nos planos individuais”.

Percebe-se a prática da não comercialização de planos individuais e familiares pelas

seguradoras especializadas em saúde e aumento dos planos coletivos. De acordo com

Page 54: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

52

Albuquerque et al. (2008) seria pertinente a realização de estudos para avaliar esse fenômeno

e sua relação com o emprego formal e a renda, assim como as formas de contratação, se

empresarial ou por adesão, e a possibilidade dessa expansão de planos coletivos, em

detrimento dos individuais, estar relacionada à migração dos beneficiários de planos

individuais. Para Santos, Malta e Merhy (2008), o crescimento dos planos coletivos ocorreu

em função da precificação excessiva dos planos individuais novos pelas empresas de planos

privados de saúde com a alegação do “risco regulatório”, o qual envolveria a não interrupção

unilateral do contrato, limitação do reajuste por mudança de faixa etária e controle do reajuste

anual, além do risco individual ficar mais diluído em uma “massa” maior de indivíduos,

considerando o crescimento dos planos coletivos por adesão.

Montone (2009) refere que a política de regulamentação da ANS reforça o pólo com

menor capacidade de reação e negociação no sistema - o usuário de planos individuais. De

certa forma, a ANS vem preservando os direitos contratuais e legais, mas esta autarquia

também estabelece obrigações aos consumidores, como carências, prazos e limites,

responsabilidade na declaração de saúde, entre outras.

Vieira e Vilarinho (2004) afirmam que com o alastramento do sistema de planos de

saúde, os altos custos e preços têm afastado amplos segmentos da classe média do acesso a

esse tipo de atenção à saúde e reduzido a qualidade dos serviços prestados, evidenciando o

retorno do modelo elitista, de privilégios, voltados às restritas pessoas que dispõem de

elevados recursos próprios ou pertencentes a níveis hierárquicos elevados em organizações que

financiem planos individuais que atendam aos custos da moderna tecnologia e sofisticação dos

exames diagnósticos e das terapêuticas. Estes autores chamam atenção também para a

proliferação de planos coletivos que evidenciam a escassez de recursos da população nos

planos individuais e familiares, fazendo com que seja postergado um problema social de

elevadas proporções, posto que os planos coletivos existem, na medida em que as pessoas

encontram-se empregadas.

De acordo com Bahia (2005), a universalização, embora formalmente amparada pela

legislação, vem sendo desafiada pela preservação e reorganização da segmentação do sistema

de saúde. A convivência entre o sistema público e os esquemas assistenciais privados adquiriu

visibilidade gerando conflitos, na esfera econômica, relativos à competição entre as empresas

privadas e, na área de defesa do consumidor, atinentes às garantias de cobertura.

Segundo Machado (2007), as limitações e contradições da atuação estatal na regulação

da saúde suplementar devem ser vistas como grandes desafios a serem enfrentados pelo

Ministério da Saúde nessa ainda recente e complexa área de atuação federal, demandando uma

Page 55: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

53

abordagem mais integrada da política de saúde, que transcenda o insulamento administrativo,

frente às distorções estruturais nas relações público-privado em saúde e esteja orientada

principalmente pela lógica do direito e da justiça social.

Entretanto, embora o cenário atual apresente grandes desafios na saúde suplementar, a

regulação econômica praticada pela ANS, a partir da exigência de provisão em volume de

recursos e das reservas financeiras, além do uso de indicadores para acompanhar a evolução da

receita das operadoras, permitiu maior solidez ao mercado, visto que as empresas que operam

planos privados de saúde estão se tornando mais capitalizadas, aumentando o grau de

segurança dos beneficiários e dos prestadores de serviços (SANTOS; MALTA; MERHY,

2008).

A regulação assistencial, também objeto de melhoria regulatória desse cenário de

mercado de planos de saúde, através do Sistema de Informação de Produtos (SIP), desde 2002

vem permitindo a avaliação dos seus resultados, a partir de indicadores dos serviços prestados,

tais como materno-infantil, oncologia, odontologia, atenção a doenças crônicas, dentre outros

(SANTOS; MALTA; MERHY, 2008).

O SUS, que também apresenta limitações e contradições, ainda encontra-se em

processo de construção, embora já compute mais de duas décadas de existência, o que acirra a

impaciência e sofrimento do usuário frente à morosidade das mudanças e às dificuldades no

acesso, particularmente porque a saúde é vital e essencial, portanto a população necessita de

suporte rápido e atendimento urgente nesta área.

O SUS já apresentou importantes vitórias na área de prevenção e assistência à saúde,

com o crescimento expressivo no número de postos e centros de atendimento primário à

saúde, com a criação e expansão de atendimentos ambulatoriais em áreas básicas (clínica

médica, pediatria, ginecologia/obstetrícia), bem como a elaboração de campanhas de controle

de endemias, culminando com a erradicação do vírus da poliomielite no território nacional.

Além disto, é importante recordar das campanhas de combate à desidratação infantil,

prevenção à transmissão do HIV e de outras doenças transmissíveis sexualmente, campanhas

de incentivo ao aleitamento materno, entre outras.

A abrangência de atuação do SUS implica no atendimento universal, independente do

poder aquisitivo para o consumo de ações e serviços em saúde, enquanto que na saúde

suplementar torna-se um requisito básico para exercer um direito na esfera privada de

atendimento assistencial em saúde.

Através dos estudos de estratificação social como procedimentos úteis e também como

uma das opções metodológicas viáveis pode-se compreender a formação de grupos quando

Page 56: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

54

existem indivíduos com características similares e quando nesses grupos as pessoas

comungam interesses semelhantes ou têm um provável comportamento comum. A

diferenciação dos estratos ou classes tem limites hierárquicos e apresentam atributos

individuais relacionados a posições nos diferentes estratos (MEDEIROS, 2003).

Barata (2009) retrata as evidências empíricas produzidas pelas investigações das

relações entre desigualdades sociais e saúde, sugerindo que a situação de saúde é afetada pela

posição social dos indivíduos e também pelas diferenças socioeconômicas da estratificação

social.

O Brasil é um país com níveis extremamente elevados de desigualdade social, onde a

concentração de renda brasileira está entre as piores do mundo. As teorias de estratificação

modernas são identificadas na economia política clássica, a partir de concepções de Smith

(1988 apud MEDEIROS, 2003) e Ricardo (1978 apud MEDEIROS, 2003), em que ambos

utilizam os tipos de rendimento como critério de distinção das classes, onde a fonte de

rendimentos é tratada como um indicador da função de cada indivíduo na sociedade, em que

essa função é usada como elemento explicativo da dinâmica econômica da sociedade.

Após análise das concepções de Medeiros (2003) e teorias de estratificação social, é

compreensível que a saúde por ser um bem essencial tenha a capacidade de classificar o

indivíduo numa escala de valores para ascensão social, definindo o papel e a posição deste

para si e para os outros. Assumindo que existe um indicador de função social de acordo com

seu rendimento, o sujeito passa a ter existência simbólica social e a partir desta perspectiva

torna-se importante o seu reconhecimento, enquanto presença física, tornando-o visível nas

políticas públicas de saúde, a fim de estabelecer sua cidadania. A constituição e

reconhecimento enquanto ser visível se dá a partir do olhar do outro no próprio vínculo social,

na forma como se sociabiliza, onde o Estado determina a identidade deste ser.

A invisibilidade está direcionada à falta de valor social do sujeito, diretamente ligada à

saúde de caráter mensurável que irá definir sua visibilidade ou não na escala de valores da

sociedade, ou seja, o sujeito apresenta visibilidade pelo físico, a partir do quanto ele vale no

aspecto simbólico social à medida que tem ou não saúde para produzir economicamente. A

ausência de visibilidade nos serviços prestadores de saúde equivale à dignidade humana

prejudicada que em algumas ocasiões torna-se difícil a reparação. Existe uma evidente lacuna

entre aquilo que é efetivo de Direito, alimentado na forma da Lei e a prática comum da

invisibilidade do sujeito que é excluído socialmente, conforme o quanto ele tem de saúde na

escala de valores que lhe permita ascender socialmente ou não. E quanto menos leis valem em

termos efetivos, resulta-se em mais leis, sejam a partir de emendas ou medidas provisórias

Page 57: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

55

que vetam, revogam ou acrescentam normas que beneficiam ou não o sujeito até mesmo a

matriz violenta do direito que exclui direitos dos indivíduos com a justificativa fundamental

de proporcionar o bem-estar da coletividade.

No Brasil, na década de 1960, uma parcela de 20 a 30% das pessoas que buscavam

atendimento médico apresentava doenças crônicas e atualmente tal cenário nosológico se

inverteu para cerca de 80% das consultas médicas que tratam de processos crônicos ou

agudização de processos crônicos (ALMEIDA; PEAZÊ, 2007).

O baixo acesso aos serviços vigora no modelo de atenção hospitalocêntrico, e o

sistema de saúde público, através do SUS, adquire ampliação da cobertura ambulatorial na

rede de base comunitária. A triagem e consulta dos primeiros sintomas com a premissa da

detecção precoce assume uma perspectiva maior de garantia de acesso ao tratamento. Embora

exista bastante gente que carece de acesso ao tratamento de saúde necessário, é indiscutível

que a demanda e frequência da necessidade de atendimento é alta para o pouco orçamento e

recurso financeiro disponíveis.

No SUS, a universalidade de acesso a todos os serviços de saúde é ainda um grande

desafio para plena garantia constitucional na sua prática. O atendimento resolutivo das

necessidades de saúde brasileiras pode ser solucionado nas unidades básicas ou por meio de

agentes comunitários, enfatizando-se as medidas preventivas e o aperfeiçoamento das

estratégias do programa de Saúde da Família, na medida em que se consiga resolver mais

situações na atenção básica e contribuindo para o direcionamento e reordenamento

especializado para as demandas específicas e prioritárias, assim como as de urgência e

emergência.

A pretensão de implantação de um modelo de acesso universal e financiamento

público que emerge da Constituição de 1988 não modifica o quadro de acesso diferenciado e

cobertura privada que vinha se configurando ao longo do tempo. Trata-se de uma dualidade,

não apenas em termos da cobertura público/privado, como também em termos de clientela

atendida: os setores menos favorecidos de um lado, aglutinados na assistência pública, e os

mais privilegiados, no âmbito privado (MENICUCCI, 2007).

Page 58: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

56

2.3 O papel da Agência Nacional de Saúde Suplementar

A saúde, que é um bem fundamental, mereceu especial atenção como objeto de

regulação pelo Estado, considerando as práticas abusivas e arbitrárias do mercado de planos

de saúde que ditavam as regras de negócios antes da regulamentação pelo marco legal da Lei

9.656/1998.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) é uma autarquia pública, vinculada

ao Ministério da Saúde, instituída em 2000 pela Lei 9.961, como advento institucional

regulatório estabilizador do mercado de planos de saúde e da política pública de saúde

brasileira. Como resultado da criação da ANS ressalta-se que

[...] as operadoras foram obrigadas a informar periodicamente dados econômico-financeiros;

características dos planos comercializados: serviços cobertos, rede prestadora, tipo de

contratação, abrangência geográfica, segmentação assistencial e utilização de serviços, bem

como dados dos beneficiários que possibilitam conhecer o perfil de idade, sexo e local de

residência (ALBUQUERQUE et al., 2008, p. 1424).

Na vigência da lei, foram estabelecidas regras, definidos padrões de oferta de serviços,

medidas de saneamento dos planos, definidas regras de ressarcimento ao SUS, dentre outras.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) foi instituída como instância de regulação

de setor, com autonomia financeira e decisória e assemelhando-se às demais agências

reguladoras, quanto à estrutura organizacional.Sua criação significou um passo importante na

regulação do mercado, possibilitando estender o papel de regulação para o controle da

assistência no setor e para as condições financeiras das empresas (SANTOS; MALTA;

MERHY, 2008, p. 1464).

O setor de planos privados de saúde registrou, em dezembro de 2009, 42,9 milhões de

vínculos de beneficiários de planos de assistência médica e 13,2 milhões de vínculos de

beneficiários de planos exclusivamente odontológicos, em 1.502 operadoras de planos

privados de saúde, o que justifica a existência de uma agência regulatória (AGÊNCIA

NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, 2010a).

O corpo funcional da ANS é composto por quadro técnico específico, como

especialistas e técnicos em regulação, analistas e técnicos administrativos, além de servidores

redistribuídos, descentralizados da União, cedidos, aqueles com e sem vínculo com o Regime

Jurídico Único, dentre outros.

As atividades da ANS são parametrizadas por regimento próprio que define as

competências dos órgãos internos, atribuições funcionais e dos cargos ocupados.

Os preceitos de universalidade do Sistema Único de Saúde que caracterizam o acesso

gratuito dos cidadãos brasileiros dividem o cenário da saúde brasileira com a saúde

Page 59: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

57

suplementar que tem previsão constitucional na complementaridade das ações e serviços de

saúde no Brasil.

A criação dos serviços de seguro-saúde, como complementação ao SUS, ocorreu

secundariamente à necessidade de estruturar maneiras de financiar a saúde durante uma fase

de acentuada industrialização no país. As áreas de maior concentração industrial,

principalmente com a implementação das indústrias automotivas, como no ABC Paulista

(Santo André, São Bernardo e São Caetano) iniciaram esta nova fase do sistema de saúde

brasileiro, com início no final da década de 1950. Através de vantagens fiscais, buscam-se

atrair os trabalhadores e, para diminuir o absenteísmo, algumas empresas passaram a ter

planos de saúde próprios (LOTTENBERG, 2007).

Os contratos novos assinados após janeiro de 1999 estão totalmente amparados pelo

marco legal da Lei 9.656/1998, tendo que oferecer todas as garantias previstas nesta Lei

quanto à cobertura assistencial, cobertura geográfica, rede de serviços, prazos de carência e

aumento de mensalidade, entre outras (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE

SUPLEMENTAR, 2010b).

Os planos antigos (individuais ou familiares) não têm registro na ANS e estão

proibidos de serem comercializados desde janeiro de 1999, sendo também intransferíveis, sob

qualquer pretexto. Somente o titular e seus dependentes inscritos antes da entrada em vigor da

nova lei têm a garantia de permanência no plano. Quando previsto no contrato, é possível a

inscrição apenas de novos cônjuges e filhos (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE

SUPLEMENTAR, 2010b).

A ANS publicou na edição de 4 de novembro de 2010, seu entendimento sobre a

situação de dependentes em planos de saúde após a morte do titular do contrato, sendo

comum em alguns contratos de planos de saúde – tanto anteriores à regulamentação do setor,

quanto posteriores – constarem cláusulas sobre remissão, que é a continuidade do atendimento

aos dependentes após a morte do titular, por períodos que variam entre 3 e 5 anos, sem

cobrança de mensalidades. Passado esse prazo, algumas operadoras cancelam o plano e os

dependentes ficam sem assistência. Para impedir esta prática, a ANS publicou a Súmula

Normativa nº 13, que dá o entendimento de que o término do período de remissão não

extingue o contrato de plano familiar. Ou seja, os dependentes assumem o pagamento das

mensalidades e têm garantido o direito de manutenção do plano nas mesmas condições

contratuais. A extinção desses contratos é considerada infração, passível de multa (AGÊNCIA

NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, 2010d).

Page 60: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

58

Antes da regulamentação da área suplementar de saúde, os beneficiários de planos de

saúde estavam suscetíveis desde a negociação inicial para adesão contratual à seleção de risco

praticada pelas operadoras para doenças específicas e incuráveis como a AIDS e câncer,

rescisão unilateral de contrato por parte da operadora toda vez que esta verificasse o aumento

dos custos com despesas decorrentes de morbidades crônicas, principalmente para os idosos,

aumentos exorbitantes nas mensalidades, carências longas e desproporcionais, negativas de

cobertura, limites para dias de internação, restrição de consultas, entre outros problemas.

Dentre as condutas mais abusivas das operadoras de planos de saúde antes da

regulamentação elucidam-se que

[...] o sistema de carências permitia ajustar o custo de cada usuário ao longo do tempo. Ao

ingressar num plano de saúde, o pagamento era imediato, mas a utilização estava fortemente

condicionada às carências e ao pagamento pontual. Em geral, as consultas e exames mais

simples podiam ser utilizados depois de 30 ou 60 dias, mas a partir daí os prazos cresciam.

Exames de maior complexidade e custo raramente eram possíveis antes de 120 a 180 dias. O

mesmo acontecia com internações e cirurgias que chegavam a ter 24 meses de carência. Na

prática, o usuário pagava mensalmente, esperando não utilizar os serviços e, quando

precisava, tinha fortes restrições de utilização. As internações, por exemplo, tinham limites de

“dias de internação por ano”, raramente superiores a 30 dias/ano. Eram usuais as situações em

que o hospital informava ao paciente ou aos seus familiares que a cobertura do plano havia

terminado e que a partir de então a internação teria de ser “particular”, ou seja, paga

diretamente pelo usuário, ou que ele teria de procurar atendimento público. As internações em

UTI eram ainda mais reduzidas (MONTONE, 2009, p. 23).

A efetividade da regulação, embora assuma vários desafios promissores no

aprimoramento desse foco, consistiu em inúmeros avanços pela normatização de direitos e

deveres entre operadoras de planos privados de assistência à saúde, prestadores de serviços e

consumidores desses planos.

A ANS como órgão regulador opera de forma sistemática entre todos os seus agentes

e torna-se importante o cumprimento da finalidade institucional de defender o interesse

público da sociedade brasileira contra os interesses abusivos do mercado heterogêneo que

opera planos privados de assistência à saúde.

A ANS, entre outras atividades, acompanha a evolução das carteiras de beneficiários

das operadoras, monitorando as variações bruscas de registros de beneficiários em operadoras,

dispersão e concentração dos beneficiários nas operadoras em períodos distintos, operando

um balanço das demandas e seus deslocamentos, assim como a mediação de conflitos entre os

atores da saúde suplementar-operadoras, beneficiários e prestadores de serviços, vinculados

aos planos de saúde privados.

Durante muito tempo, segundo Lottenberg (2007), a ANS não permitiu que os planos

individuais tivessem reajustes acima dos índices da inflação, e, por conseguinte, a venda de

Page 61: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

59

planos individuais deixou de ser priorizada e comercializada pelas empresas de seguro-saúde.

O prejuízo à população é bastante claro, visto que, uma vez desempregado, o trabalhador

perde o seu direito ao plano empresa e, mesmo em caso de profissionais autônomos, com

recursos suficientes para contratar planos individuais, não há uma oferta/qualidade de

produtos à disposição no mercado. Assim, cria-se uma situação que para ter acesso à saúde

privada, você tem de pertencer a uma empresa. Quem está fora não entra e quem está dentro

acaba sendo tratado de maneira insatisfatória.

Montone (2009) relata que era no segmento de planos individuais e familiares que o

mercado obtinha sua lucratividade. A partir de edição normativa de regras de funcionamento

pela ANS, operadoras importantes do mercado como as seguradoras, vêm deixando de

comercializar planos individuais com contratação direta e incentivando as contratações

empresariais e por adesão coletiva. Dessa forma, o ente vulnerável da contratação empresarial

ou coletiva por adesão é o beneficiário que fica refém das rescisões unilaterais entre as

pessoas jurídicas contratantes e operadoras de planos de saúde privados contratados, ainda

que a empresa seja familiar, onde os membros aderidos ao plano ficam suscetíveis à vontade

da operadora querer permanecer ou não como contratada.

A verificação da escolha mais ou menos correta do plano de saúde acontecerá quando,

devido a problemas de saúde, o segurado precisar utilizar o plano, dando-se conta que alguns

benefícios não cobertos pelo seu seguro-saúde são necessários e que há necessidade de um

plano de melhor qualidade, com maior abrangência do contrato. Como consequência, cada

vez mais pessoas ficam sem assistência médica, além comprometer uma parcela substancial

do seu salário ao pagamento do seguro-saúde, gerando menor número de segurados e maior

procura de atendimento pelo SUS (LOTTENBERG, 2007).

Daí, de acordo com Lottenberg (2007), é urgente a realização de um planejamento

estruturante feito por especialistas e setores com o conhecimento profundo da dinâmica de

funcionamento e de financiamento, ainda que a ANS mantenha os reajustes em patamares

aceitáveis, pois não se exige por parte da fonte pagadora um comprometimento sistemático

que aprimore a qualidade dos produtos que oferece. Assim, mantém-se um sistema em que

aumentos remuneram os custos, mas não se vinculam a um aperfeiçoamento da qualidade

com uma visão da saúde centrada em custos e não em indicadores.

Os contratos anteriores à Lei nº 9.656/1998 e os não adaptados à legislação

suplementar vigente oferecem maiores restrições de cobertura assistencial, vigorando

praticamente os direitos assegurados em cláusulas contratuais, salvo ações abusivas das

operadoras que são também reguladas pela ANS, como a questão da proibição da rescisão

Page 62: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

60

unilateral de contrato e o limite de dias de internação pelo usuário de plano de saúde anterior a

essa regulamentação.

Como vitórias importantes na saúde suplementar destaca-se a criação do plano de

referência com cobertura integral ao consumidor; proibição das limitações de consultas,

exames e dias de internação; garantia de fornecimento dos medicamentos e insumos

necessários nos procedimentos hospitalares e ambulatoriais, criação do conceito jurídico de

doença e lesão pré-existente pró-consumidor; renovação automática dos contratos, sem

recontagem de carências e com proibição de rompimento unilateral; obrigatoriedade de

fornecer o cadastro de beneficiários e o ressarcimento ao SUS dos atendimentos da rede

pública a usuários de planos de saúde com cobertura contratual (MONTONE, 2009).

Os usuários de planos anteriores à Lei nº 9.656/1998 e que buscam a solução judicial

para as suas ações impetradas contra as operadoras de planos de saúde encontram

jurisprudências favoráveis para seus pleitos, haja vista que a maioria dos juízes toma uma

decisão social, desvirtuando o que deveria ser baseada por uma perspectiva de estrutura e

financiamento do sistema: “no país, 80% das ações contra os planos de saúde são concedidas

pela justiça, especialmente no que concerne a tratamento de câncer e Aids” (LOTTENBERG,

2007, p. 70).

Ao contratar um plano de saúde não parece ser desejável ao consumidor o

aparecimento de algum sinal ou sintoma de doença para poder usufruir o benefício na

frequência mensal que financia a prestação de seus planos. Paga-se a suposta proteção à saúde

contratada pelo consumidor diante da possibilidade de existir o risco da doença ou agravo,

mas a reserva de capital acumulado derivada das mensalidades do planos de saúde pagas

pelos consumidores garantirão a solidez das operadoras para a sustentabilidade financeira

destas.

Em relação ao custo da assistência médica contratada no mercado de planos, de acordo

com Montone (2009, p.25), “se o contrato apresentasse uma sinistralidade considerada alta,

simplesmente não era renovado. Sinistralidade é a relação entre receita e despesa operacional,

o que representa a prestação de serviço contratada sem as despesas administrativas da

empresa”.

Segundo Lottenberg (2007), as empresas de planos e seguros-saúde estão

apresentando nos seus planos individuais sinistralidades acima de 100%, isto é, lucro zero e

custo muito elevado. Nos planos empresariais, como os acordos são firmados com

flexibilidade para renegociação a cada período de tempo previsto em contrato, essas fontes

pagadoras (dos serviços médicos) estão conseguindo gerir os seus recursos porque reajustam

Page 63: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

61

valores de acordo com a taxa de utilização dos planos pelos seus associados. Com isso, a

empresa contratante, objetivando manter o patamar de pagamento do seguro-saúde dos seus

empregados em patamares aceitáveis para a saúde econômica das suas empresas, inclui

serviços, retira produtos e altera a composição dos benefícios. Já nos planos individuais essa

margem de negociação não existe, o que diminui cada vez mais a disponibilidade deste tipo

de plano no mercado, não sendo de grande interesse comercial para as empresas de planos e

seguros-saúde.

De forma prejudicial ao usuário, a sinistralidade era usada

como base para os reajustes de reequilíbrio econômico-financeiro do contrato, permitido e

amplamente praticado, principalmente antes do Plano Real. Além dos reajustes de reposição

inflacionária e dos reajustes por faixa etária, e lembrando-se de que esses eram anuais a partir

de certa idade, o usuário ainda sofria com os reajustes para reequilíbrio. Na maioria dos

contratos havia apenas a previsão dessa possibilidade. Em alguns casos ele estava definido

por algum tipo de equação ou indicador, porém sempre apurado pela própria empresa e não

disponível ao usuário. Mesmo depois do CDC (MONTONE, 2009, p. 25).

O mercado de planos além de preferir a contratação empresarial por inúmeras razões

incentiva a formação da empresa familiar para contratação jurídica na funcionalidade de como

seria numa empresa, mas com menos beneficiários, que neste caso seriam os parentes ou

agregados. Pressupõe-se que a contratação individual como a segunda mais contratada

(Gráfico 1) assume uma tendência a diminuir perante as práticas de não comercialização de

produtos dessa natureza individual ou familiar pelas operadoras, sobretudo as seguradoras.

Page 64: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

62

Gráfico 1 - Distribuição percentual dos beneficiários de planos privados de saúde por tipo de

contratação segundo cobertura assistencial do plano (Brasil - dezembro/2009).

Assistência médica com ou sem odontologia.

Fonte: Dados referentes ao período de dezembro de 2009, adaptado do Sistema de Informação

dos Beneficiários (SIB) da AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR,

2010a.

Ceschin (2010) acredita que a natureza representada pela empresa dos planos coletivos

na verificação dos custos e a quantidade de informação que esses planos detêm para negociar

interesses não é a mesma em relação ao consumidor direto com a operadora de planos

privados de assistência à saúde, considerando que o consumidor de plano individual ou

familiar não teria as mesmas condições de defesa de seus interesses, quando comparado aos

planos coletivos.

Acredita-se que existe uma cultura popular favorável e relacionada às práticas médicas

vinculadas aos procedimentos tecnológicos que torna o usuário dependente do modelo

assistencial fragmentado e mecanicista centrado no procedimento. Nesse modelo estar “bem

cuidado” significa a realização de exames complementares, não considerando que o

verdadeiro cuidado passa por um atendimento técnico responsável, qualificado e com vínculo

prestador-usuário, a fim de que possibilite nortear a melhor conduta clínica terapêutica de

opção preferencialmente não intervencionista.

Os paradoxos entre a solicitação e a realização dos exames ilustram que

os efeitos de um imaginário que associa qualidade do cuidado ao procedimento são muito

conhecidos pelos paradoxos que produzem junto aos serviços de saúde, tais como excesso de

pedidos de exame e ao mesmo tempo grande absenteísmo, ou seja, usuários deixam de

Page 65: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

63

comparecer para fazer o exame em função da demora em se realizar, ou mesmo porque,

quando estão para fazê-lo, seu problema já foi sanado; excessiva demanda de exames em

contraposição à incapacidade de os serviços de diagnóstico conseguirem absorver toda a

necessidade; tensão entre usuários e profissionais de saúde, pela divergência entre a

construção imaginária da demanda e a percepção de necessidade tecnicamente orientada pelo

profissional, a partir de uma escuta qualificada e responsabilização por seu problema de saúde Esses paradoxos indicam as fontes de conflito existentes nos serviços de saúde, que ao mesmo

tempo são reveladores do seu funcionamento, da capacidade de se produzir cuidado centrado

nos procedimentos ou um cuidado centrado nos usuários e o modo como se pode desconstruir

o imaginário “senso comum”, que associa procedimento ao cuidado desejado (FRANCO;

MERHY, 2010, p. 187).

Os parâmetros normativos acerca de tempo para delimitar prazo máximo de

atendimento nos planos de saúde foram publicados em 30 de setembro de 2010, a partir dos

resultados obtidos em consulta pública através de dois questionários disponibilizados em

pesquisa pioneira de participação voluntária das operadoras de planos de saúde, realizada pela

ANS no período de 21.06.10 a 05.07.2010 no seu sítio eletrônico www.ans.gov.br. De 1.162

operadoras que receberam o ofício da ANS sobre pesquisa de tempo máximo para o

atendimento de beneficiários para agendar consulta, exames e cirurgia nos planos de saúde,

840 participaram, o que significa 72,3% do total. Dessas, 415 responderam ao primeiro

questionário que abordava o prazo de tempo praticado e 425 responderam o segundo

questionário que tratava do prazo considerado razoável. As operadoras que responderam

atenderam a pouco mais daqueles 42 milhões de beneficiários descritos anteriormente,

correspondendo a 89% do total existente no país (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE

SUPLEMENTAR, 2010g).

Os procedimentos selecionados para a pesquisa foram: consultas em clínicas básicas

(clínica médica, clínica cirúrgica, ginecologia e obstetrícia, pediatria, ortopedia e

traumatologia); consultas em outras especialidades; exames básicos (hemograma, glicose,

ureia, creatinina, eletrólitos, radiografias e ultrassonografias simples); exames de maior

complexidade; cirurgias eletivas sem implantes e cirurgias eletivas com implantes-órteses,

próteses e materiais especiais (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR,

2010g).

Page 66: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

64

Tabela 1- Prazos máximos de tempo de atendimento em dias úteis, nos planos de saúde

privados definidos pela ANS, a serem publicados em Resolução Normativa

específica.

Tempos máximos para atendimento nos planos de saúde privados

Consulta básica (pediatria, clínica médica, cirurgia geral, ginecologia e

obstetrícia, cardiologia e ortopedia e traumatologia)

07 dias

Consulta nas demais especialidades médicas 14 dias

Consulta de Fonoaudiologia 10 dias

Consulta de Nutrição 10 dias

Consulta de Psicologia 10 dias

Sessão de Terapia ocupacional 10 dias

Sessão de Fisioterapia 10 dias

Serviços de diagnóstico por laboratório clínico e radiografias 03 dias

Serviços de diagnóstico por imagem, exceto radiografias 10 dias

Procedimentos de alta complexidade (PAC) 21 dias

Internações eletivas 21 dias

Urgência e Emergência 24h Imediato

Consulta de Odontologia 7 dias

Fonte: Adaptação de AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, 2010g.

Segundo Leite (2010), este estudo realizado pela ANS apontou que mais da metade

das operadoras considera razoável um usuário de plano esperar de 8 a 30 dias para realizar

uma cirurgia eletiva (não emergencial) que necessite de um implante (como uma prótese), em

que quase a metade das operadoras de planos de saúde afirma praticar esses prazos; 7% das

empresas disseram considerar razoável deixar o paciente esperar mais de dois meses e 5%

admitiu ter essa longa espera em seus serviços.

Nas consultas básicas como as de clínica-geral, a maioria acha razoável e diz deixar o

paciente esperar de quatro a sete dias para conseguir o atendimento. Mas em torno de 9%

realizam e acham razoável um prazo de mais de 16 dias, também não aceitável pela ANS. Nas

consultas e especialidades, a maioria pratica e acha razoável esperar até 15 dias, mas 25%

praticam e acham correto um prazo de mais de 16 dias, situação que terá de mudar com a

norma (LEITE, 2010).

O estudo demonstrou ainda que as empresas de grande porte (com mais de 100 mil

beneficiários) são as que têm maiores dificuldades de realizar consultas básicas no prazo de

até 7 dias e as de especialidades em até 15 dias. Por outro lado, elas têm maior facilidade para

garantir procedimentos mais complexos, cujos motivos têm de ser melhor investigados

(LEITE, 2010).

O governo levou em conta prazos praticados e considerados razoáveis pelas

operadoras, mas os consumidores criticam. A regra visa a garantir o atendimento com

Page 67: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

65

qualquer médico ou serviço no prazo máximo, não apenas no médico ou hospital desejado

(LEITE, 2010). Não obstante, a ANS noticiou em 28.01.2011, a disponibilidade em seu sítio

eletrônico acerca de nova consulta pública para que a sociedade civil envie suas contribuições

no período de 03.02.2011 a 04.03.2011, que leva em consideração a proposta da Resolução

Normativa (ANEXO) que trata sobre a garantia de atendimento de beneficiários de plano

privado de assistência à saúde (Tabela 1). Nesta proposta de Resolução Normativa ainda não

publicada, os prazos máximos de atendimento compreendem o período compreendido entre a

data da demanda do beneficiário pelo serviço ou procedimento e a data da sua efetiva

realização (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, 2011).

Faz parte desta proposta de Resolução Normativa o reembolso integral pelo serviço

ou procedimento prestado no prazo máximo de 30 (trinta) dias, a partir da data da solicitação

de reembolso pelo beneficiário que for obrigado a pagar os custos do atendimento, na hipótese

de descumprimento do disposto nos arts. 4º e 5º desta resolução ainda não publicada pela

ANS. Nestes artigos, incluem-se, respectivamente, a ausência ou inexistência de prestador

credenciado, que ofereça o serviço ou procedimento no município pertencente à área

geográfica de abrangência do plano, onde a operadora deverá garantir o atendimento em

prestador não credenciado no mesmo município e, finalmente, na hipótese de ausência ou

inexistência de prestador credenciado ou não, que ofereça o serviço ou procedimento

demandado no mesmo município pertencente à área geográfica de abrangência do plano, a

operadora deverá garantir o transporte do beneficiário até o prestador credenciado para o

atendimento, assim como seu retorno à localidade de origem (AGÊNCIA NACIONAL DE

SAÚDE SUPLEMENTAR, 2011).

É facultada às operadoras de planos privados de saúde a informação de tempos para

atendimento menores que os determinados (Tabela 1), que no caso de prática de tempos

maiores em relação aos prazos máximos de atendimento normatizados pela ANS, estarão

sujeitas às penalidades administrativas cabíveis (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE

SUPLEMENTAR, 2011).

De acordo com Lottenberg (2007), os planos de saúde apresentam regras confusas

para os consumidores, apresentando, porém, uma lógica interna clara baseada na interface

despesa/receita. Os consumidores deste tipo de serviço adquirem o produto sem real

compreensão das suas restrições e coberturas, e se sentem enganados em face da necessidade

da sua utilização.

Reitera-se que aquelas empresas que operam planos de saúde privados que não

conseguirem garantir os atendimentos nos prazos estabelecidos pela ANS incorrerão em

Page 68: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

66

desvio contratual e terão de prestar explicações à agência, onde os atrasos na liberação das

autorizações prévia aos serviços, por exemplo, serão aceitos se houver uma limitação causada

por excesso de demanda, como após uma epidemia (LEITE, 2010).

A ANS não tem a finalidade de substituir o Instituto de Defesa de Consumidor (IDEC)

através da defesa exclusiva dos interesses dos consumidores, até porque sua preponderância é

manter o equilíbrio regulatório entre as operadoras, prestadores e beneficiários de planos de

saúde. Segundo Montone (2009, p. 83), “às agências reguladoras é concedido o poder de

impor multas crescentes e que podem culminar com a liquidação extrajudicial das operadoras,

no caso da saúde suplementar”. A saúde coletiva é o bem maior que torna o Estado soberano

para intervir em nome do interesse público que deverá estar sempre acima do interesse

privado focado no mercado. As formas efetivas para o Estado consolidar a sua soberania

perante os conflitos e assimetrias de informação do mercado e seus entes é atuar a partir da

fiscalização indireta e direta.

De acordo com a Resolução da Diretoria Colegiada nº 24 da ANS de 13 de junho de

2000, as penalidades que podem ser aplicadas às operadoras de planos privados de assistência

à saúde no âmbito das atribuições regulatórias desta autarquia são advertência, multa

pecuniária, suspensão de exercício dos cargos, inabilitação temporária para o exercício dos

cargos, cancelamento da autorização de funcionamento e alienação da carteira da operadora

mediante leilão (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, 2000a).

As multas pecuniárias decorrentes da lavratura dos autos de infração, resguardados os

direitos contraditórios e os de ampla defesa da operadora de planos de saúde variam de R$

5.000,00 (cinco mil reais) até o limite de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) por infração,

acrescidas de fatores decimais multiplicadores para o cálculo do valor das multas, com base

no número de beneficiários das operadoras, constante no cadastro de beneficiários

efetivamente fornecido à ANS. O fator multiplicador I (dois décimos) corresponde a 1 (um) a

1.000 (mil) beneficiários; o fator II (quatro décimos) equivale a uma carteira de 1.001 (mil e

um) a 10.000 (dez mil) beneficiários; o fator III (seis décimos) corresponde à faixa de 10.001

(dez mil e um) a 100.000 (cem mil) beneficiários; o fator IV (oito décimos) equivale a faixa

de 100.001 (cem mil e um) a 200.000 (duzentos mil) beneficiários e o fator V (um)

corresponde a um total a partir de 200.001 (duzentos mil e um) beneficiários de planos de

saúde (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, 2000a).

A reincidência é a repetição da mesma infração da operadora de plano de saúde

quando verificada em decisão administrativa irrecorrível que para efeito da aplicação da

penalidade de competência da ANS, a constatação dessa reincidência ocorrerá entre a data do

Page 69: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

67

trânsito em julgado e a data da prática da infração posterior tiver decorrido período de tempo

não superior a cinco anos (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, 2000a).

As circunstâncias agravantes para aplicação das penalidades contra as operadoras de

planos privados de assistência à saúde acrescentam R$ 1.200,00 (um mil e duzentos reais) nos

valores da multa, as quais envolvem a reincidência da infração, o nexo causal da prática

infrativa que tenha culminado em risco ou consequências danosas à saúde do consumidor, a

não tomada de providências para atenuar ou evitar as consequências danosas do ato lesivo

perante a resignação do infrator após conhecimento desse ato e descumprimento das

formalidades previstas no art. 9º da Lei 9.656/1998. Em contrapartida, as circunstâncias

atenuantes implicam na redução de R$ 1.200,00 (um mil e duzentos reais) no valor da multa,

as quais se limitam a infrações descritas nos artigos 2º e 3º da Resolução de Diretoria

Colegiada (RDC) nº 24 sem reincidência da infração contida nesses artigos, providências

espontâneas pela operadora que sejam suficientes para reparar a tempo os efeitos danosos da

infração, quando a infração for provocada por lapso do autor, e não lhe trazer nenhum

benefício ou ter o infrator incorrido na errada compreensão dos normativos regulatórios para a

prestação dos serviços na saúde suplementar, com a devida demonstração evidenciada em

processo administrativo (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, 2000a).

A título de curiosidade para o leitor desse trabalho as especificações dos normativos

regulatórios quanto aos dispositivos que tratam das formalidades exigidas pela Lei 9.656/1998

e infrações primárias incorridas nos artigos 2º e 3º da RDC nº 24/2000, passíveis das

circunstâncias atenuantes para a aplicação de penalidades às operadoras de planos privados de

assistência à saúde, podem ser detalhadamente encontradas no sítio eletrônico

www.ans.gov.br, indicadas nas referências.

O papel controlador direto e indireto é importante para o efetivo controle regulatório.

Entretanto, no âmbito das fiscalizações direta e indireta existem peculiaridades:

a fiscalização indireta, resultado do cruzamento dos diversos sistemas de informação

disponíveis, gera resultados com maior governabilidade da agência. Pode levar à decretação

de um processo de direção fiscal ou técnica e esses, por sua vez, podem levar à exigência de

um plano de recuperação, ou termo de ajuste de conduta, a uma transferência compulsória de

carteira ou até à liquidação extrajudicial.[...] Na fiscalização direta, a realidade é outra. As

agências fiscalizam e multam a partir da constatação de infrações aos seus respectivos

regulamentos, mas em relação entre as multas aplicadas e os valores efetivamente pagos é

muito ruim em todos os setores regulados (MONTONE, 2009, p. 83).

No dia 1º de setembro de 2010 foi publicado pela ANS o boletim de serviço nº 64 com

a finalidade de retificação de problemas relacionados às dificuldades fiscalizatórias, em que o

atual Diretor Presidente da ANS - Maurício Ceschin, pela Portaria nº 3.891, de 31 de agosto

Page 70: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

68

de 2010, aprovou a criação do Grupo de Trabalho Intersetorial para tratar da melhoria do

processo de apuração de infrações e aplicação de sanções e da cobrança de multas pecuniárias

no âmbito da saúde suplementar (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR,

2010e).

Reconhece-se o senso comum de base legal para aplicação dos princípios de direitos

constitucionais contraditórios e os da ampla defesa das operadoras e demais entes

regulatórios. Contudo, no caso das operadoras, admite-se que é importante rediscutir o

conceito aberto sem definição conceitual normativa de cumprimento útil da obrigação da

operadora de plano de saúde, atualmente sem restrição no tempo e prazo para operadora

reparar sua conduta irregular com o devido reconhecimento da Agência Nacional de Saúde

Suplementar (2010f). Portanto, “prazos e exigências de notificação que não deveriam aplicar-

se a um universo conhecido poderiam ser reduzidos e simplificados sem prejuízo algum para

o legítimo direito de defesa das operadoras, gerando maior efetividade da ação punitiva”

(MONTONE, 2009, p. 84).

Perante a possibilidade da operadora de plano de saúde adequar-se à aplicação do

instituto da reparação voluntária e eficaz, e somado ao tempo de tramitação dos processos

administrativos, a rediscussão dos critérios para aplicação desse mecanismo de reparação de

conduta antes do lavramento dos autos de infração, justifica-se pelo propósito de evitar

eventual impunidade ou insatisfação do usuário de plano de saúde que reclama seu direito

tolhido pela operadora ou prestador junto à Agência Nacional de Saúde Suplementar (2010f).

Em caso de dúvidas ou denúncias, os beneficiários de planos de saúde devem procurar

a Agência por meio dos seguintes canais de atendimento: Disque-ANS: 0800 701 9656, Fale

Conosco em www.ans.gov.br, ou dirigindo-se pessoalmente a um dos 12 Núcleos da ANS

existentes no país (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, 2010b). A sede

da ANS fica no Rio de Janeiro e suas sucursais estão presentes em Ribeirão Preto e nos

Estados de São Paulo (capital), Bahia, Pará, Pernambuco, Ceará, Minas Gerais (Belo

Horizonte), Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso e Brasília.

Retomando a concepção de que a oferta de um serviço produz a demanda, o usuário

busca o que lhe é oferecido a partir do que ele imagina atender sua necessidade, ainda que

tenha que aguardar autorização prévia da operadora para usufruir o procedimento prescrito

pelo seu médico assistente. Dessa forma,

a busca pelo serviço de saúde se dá através da percepção que o usuário tem do que é ofertado

por esse serviço. E esta percepção que nem sempre é objetiva, porque ela se forma a partir,

Page 71: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

69

também, de um campo simbólico que o usuário utiliza para formar certa ideia do que o

serviço tem a lhe ofertar e resolver seu problema (FRANCO; MERHY, 2010, p. 184).

O usuário não atendido no seu plano de saúde poderá desistir de reclamar quando

desconhecer a quem recorrer para orientar-se de algum direito não coberto. As queixas contra

planos de saúde podem estar sendo subnotificadas quando se presume desconhecimento do

consumidor perante a existência de órgãos como a ANS. A tomada de conhecimento de

volume cada vez maior de reclamações dos usuários de planos de saúde permite aperfeiçoar

instrumentos regulatórios, principalmente quanto às cláusulas contratuais não atendidas ou

diante de algum ato abusivo ou lesivo por parte da operadora.

Reflete-se a necessidade de ampliar através da mídia e meios de comunicação o papel

da ANS e suas atribuições regulatórias do mercado de planos privados de saúde, estimulando

a procura de consumidores mais leigos no exercício de seus direitos, dirimindo dúvidas de

todos os atores e diminuindo a assimetria de informações nessa área. Assim, algumas

ideologias sobre as agências reguladoras tornam-se importantes nas seguintes passagens:

Quando a gente fala do relacionamento das agências com o Judiciário é necessário partir da

seguinte constatação: que as agências, o Poder Público em geral, são vistos com desconfiança

pelo Judiciário. E daí vem grande parte das resistências que se fazem sentir na prática

judiciária. Quer dizer, existem duas questões. Uma é a questão, talvez, do ranço ou da má

imagem que o Poder Público passa ter na história da prática administrativa recente, ou talvez

não tão recente, no país. E a segunda questão é um sentimento de onipotência judiciária, de

que o juiz acha que tudo sabe e tudo pode com relação à aplicação de normas jurídicas. Então

essas duas coisas juntas provocam um ativismo judicial com relação à atuação das autoridades

administrativas em geral, não somente com relação a agências reguladoras (BRUNA, 2009,

p.64).

[...] Só queria chamar a atenção que, a rigor, toda a doutrina da boa governança regulatória é

muito recente. E ela é construída em cima da análise crítica da má experiência norte-

americana do processo regulatório que deu origem ao conceito de captura, para só ficar nisso,

e a gente não se estender muito. Quando se fala em independência, em excelência técnica, em

transparência, prestação de contas, a gente está falando de um conjunto doutrinário de boa

governança, que foi construído não tem duas décadas. Então, isto tudo é uma construção na

linha do que a gente chama de engenharia institucional, que eu acho que é de certa forma,

amparada na experiência norte-americana, mas justamente amparada a partir da má

experiência do que foi a má regulação (SALGADO, 2009, p.72).

[...] Eu acho que no Brasil, a gente precisa exercer um controle sobre essas agências, saber

quem vai ser colocado lá, e a sociedade tem de exercer um controle sobre elas. Porque não

existe na democracia nenhum órgão sobre o qual não se tenha controle. Não existem pessoas

perfeitas e muito menos instituições perfeitas. Agora, elas existem em função da privatização

dos serviços, porque quando o Estado está prestando o próprio serviço, essas agências são

absolutamente desnecessárias. Agora, a gente não pode esquecer que o que foi privatizado foi

construído pelo Estado. Não foi construído pela iniciativa privada. O Estado construiu e

explorou, e regulou. O modelo faz sentido a partir de o Estado passar a conceder os serviços

para a iniciativa privada. Eu não sou contra as agências. Eu sou contra essa sublimação dessa

independência e achar que o poder político é uma coisa ruim. A sociedade é política. A

sociedade não vota em técnicos, ela vota em políticos. E ela quer soluções para os seus

problemas. Agora, o que se pergunta é o seguinte: um órgão técnico tem capacidade de

resolver os problemas da sociedade? [...] (MALARD, 2009, p.75-76).

Page 72: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

70

Na análise destas concepções ideológicas acredita-se que a boa regulação requer o

controle social que necessita da maior aproximação deste segmento com os órgãos

reguladores, dinamizando a defesa do interesse público sem que haja necessidade de recorrer

ao âmbito judiciário quanto às questões técnicas que pela autonomia das agências reguladoras

poderiam ser sanadas com maior independência e eficácia pública, seja em respostas mais

resolutivas entre os atores envolvidos na regulação, seja de forma mais satisfatória para a

sociedade.

A percepção da sociedade sobre a atuação do órgão regulatório é importante para

avaliar se o objeto da regulação está sendo adequadamente regulado, que no caso da saúde

suplementar torna a saúde o maior bem essencial e preponderante sobre o mercado de planos

privados de saúde, cujo patrimônio vital coletivo deve ser assegurado pelo Estado na sua

maior eficácia e transparência pública. Desta forma, fomentar o trabalho da ANS para a

sociedade viabiliza ações para aumentar o bem-estar social e exercício da cidadania.

Page 73: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

71

3 ABORDAGEM METODOLÓGICA

3.1 Tipo de estudo

Trata-se de estudo qualitativo-descritivo que tem como eixo central o acesso, na

dimensão funcional, aos serviços de saúde no contexto do sistema de saúde privado, na

percepção dos usuários dos planos de saúde no Rio de Janeiro. Para Schocair (2009, p. 42), “a

modalidade descritiva caracteriza-se pela estaticidade, pois quase não há movimento, onde as

cenas não transcorrem de forma dinâmica, como num filme, mas são imóveis como numa

foto”.

O delineamento para o estudo qualitativo foi adequado para esta pesquisa, por se tratar

de uma abordagem psicossocial do objeto norteada pela perspectiva do usuário que relatou

suas vivências e experiências humanas compartilhadas. Pope e Mays (2009) relatam que a

pesquisa qualitativa procura desenvolver categorias analíticas para descrever e explicar

fenômenos sociais.

Víctora, Knauth e Hassen (2000) acrescentam que os métodos qualitativos de pesquisa

não são úteis na mensuração de fenômenos em grandes grupos, sendo basicamente úteis para

o entendimento do contexto, onde algum fenômeno ocorre, permitindo a observação de vários

elementos simultaneamente em um pequeno grupo, propiciando um conhecimento

aprofundado de um evento, assim como possibilitando a explicação de comportamentos.

“As experiências primordiais da própria pessoa que as têm e das que têm dos outros

nos seus estados de consciência ocorrem naquilo que é chamado de autopercepção ou

percepção interna” (MARTINS; BICUDO, 2005, p. 53).

Segundo Martins e Bicudo (2005), só é viável perceber os outros através da

contemplação das experiências vividas. Adotando-se essa concepção de compreensão

humanizada delineou-se o foco descritivo na perspectiva do usuário de plano de saúde que

experimentou vivências de atendimento na rede privada de assistência, contemplando-se os

exames de imagem mais complexos para direcionamento ou complemento de dado

diagnóstico para a saúde.

Pretendeu-se com este estudo por meio dos formulários e entrevistas subsidiados pelo

referencial teórico de literatura intermediar o significado das palavras dos entrevistados,

Page 74: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

72

possibilitando compreender o objeto deste estudo paralelo à transversalidade contextual dos

sujeitos usuários de planos de saúde privados.

A pesquisa qualitativa constitui um recurso metodológico que inclui a conversa e o

diálogo com os respondentes, cuja finalidade é a obtenção de informações úteis e importantes,

de relevância tanto para o pesquisador, como para o entrevistado, sendo impossível o

seguimento de regras e o rigor encontrado em outros tipos de pesquisa que tratam a entrevista

como „método‟ (MARTINS; BICUDO, 2005).

Os métodos disponíveis são importantes pela utilidade aos tipos de informações

necessárias para o desenvolvimento de uma proposta de investigação e até mesmo para o

desenrolar das etapas de uma pesquisa, mas quando se trata de qualquer pesquisa social que se

pretenda um aprofundamento maior da realidade, não se pode ficar restrita ao referencial

apenas quantitativo (MINAYO, 2000).

A “pesquisa social é um processo que utiliza metodologia científica, por meio da qual

se pode obter novos conhecimentos no campo da realidade social” (MARCONI; LAKATOS,

2009, p.4).

A diferença entre abordagem quantitativa e qualitativa da realidade social é de

natureza e não de escala hierárquica, pois enquanto os cientistas sociais que trabalham com

estatística visam a criar modelos abstratos ou a descrever e explicar fenômenos que produzem

regularidades recorrentes e exteriores aos sujeitos, a abordagem qualitativa se aprofunda no

mundo dos significados (DESLANDES; GOMES; MINAYO, 2008).

No que se refere a sua definição, a metodologia de pesquisa pode ser vista como o

caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade, é composta pelo

método entendido como teoria da abordagem, as técnicas compreendidas como os

instrumentos de operacionalização do conhecimento e, finalmente, a capacidade do

pesquisador que traduz a sua experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade

(DESLANDES; GOMES; MINAYO, 2008).

3.2 Sujeitos da pesquisa

Os sujeitos da pesquisa constituíram uma amostra de trinta usuários de planos de

saúde privados, selecionados, aleatoriamente, quando estavam agendando, buscando seus

resultados de exames ou quando aguardavam na sala de espera antes e após a realização de

Page 75: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

73

seus exames diagnósticos e/ou complementares de alta complexidade. Envolveram sujeitos

acima de 18 anos de idade que tinham agendado pelo menos um exame de alta complexidade,

compreendendo ressonância magnética, tomografia computadorizada, densitometria óssea ou

outro desta natureza.

Os sujeitos selecionados da pesquisa estavam em sua posse da carteira de beneficiário

do convênio com o plano de saúde, comprovante de pagamento (plano particular), identidade,

prescrição médica ou guia própria do convênio de requisição para o exame, com ou sem a

data da solicitação de um desses exames. No laboratório cenário desta pesquisa, tais

documentações eram informações anunciadas em placas no corredor da sala de espera dos

exames, como medidas adotadas pelos convênios como os documentos necessários para a

realização de exames.

Caso o usuário de plano de saúde tivesse usado concomitantemente os sistemas de

saúde público e privado, através de livre escolha do mesmo, no caso de verificação de

duplicidade de acesso, teria sido considerado o cenário da sua natureza privada no momento

da realização da entrevista.

A coleta de dados foi realizada nos meses de junho a julho de 2010.

Foram considerados aptos para realização da pesquisa os sujeitos usuários de planos

de saúde privados submetidos aos exames de alta complexidade, que estavam disponíveis para

a realização da pesquisa durante o agendamento no laboratório estudado, no rol do saguão de

entrega de resultados de exames e aqueles que aguardavam na sala de espera do campo

escolhido antes e após a realização dos exames de imagem, os quais concordaram em

participar da pesquisa e em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, assim

como os que concordaram em gravar seus relatos.

As dificuldades para realização desta pesquisa estiveram relacionadas à demora de três

meses e oito dias para liberação do parecer de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pendência exigida desse comitê para

adequação de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido com linguagem menos

técnica; e os relacionados à coleta no campo de pesquisa, considerando que muitos

entrevistados recrutados recusaram-se a participar devido à pressa expressa, relatos de

compromissos agendados e inadiáveis, convalescença anunciada, debilidades comuns da

idade avançada, mal estar na hora do exame, desmotivação em participar, mau humor e

motivos pessoais desconhecidos, não compatíveis com o cronograma inicial do projeto. Outra

grande dificuldade foi que a maioria dos sujeitos que comparecia ao laboratório para buscar

os resultados dos exames analisados não eram os titulares dos exames de alta complexidade, e

Page 76: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

74

sim, parentes ou empregadas domésticas. Daí, majoritariamente, os entrevistados selecionados

foram aqueles que aguardavam na sala de espera dos exames e que cumpriram os critérios de

inclusão na pesquisa, inclusive com a assinatura do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (APÊNDICE A).

Tabela 2 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por local da coleta de dados no laboratório

- Rio de Janeiro, 2010.

Situação dos sujeitos entrevistados no cenário de

pesquisa

Quantidade de usuário de plano

de saúde por local da coleta de

dados no laboratório

%

Disponíveis no agendamento dos exames no térreo 1 3,33

Disponível no rol de saguão da entrega dos exames

no térreo 2 6,67

Disponíveis na sala de espera antes e após o exame

no 1º/ 2º andares 27 90,00

Total 30 100,00

A necessidade de adequação dos instrumentos de coleta de dados durante a fase de

pré-teste das entrevistas, nos meses de abril e maio de 2010, transformando questionário em

formulário consolidado, também postergaram o início da coleta de dados, após a aprovação do

Comitê de Ética em questão; assim como o roteiro das entrevistas que de semi-estruturado

passou a ser estruturado para garantir a objetividade das perguntas, diante da pressa relatada

dos entrevistados que tinham outros compromissos após os exames (APÊNDICES B e C).

3.3 Cenário do estudo

O cenário de estudo foi um Laboratório de Medicina diagnóstica e saúde preventiva da

rede privada de assistência à saúde, localizado no bairro de Copacabana, na zona sul da cidade

do Rio de Janeiro, que atende clientes de planos de saúde privados na realização de exames

diagnósticos e complementares de alta complexidade.

Apresenta além de Copacabana, unidades de atendimento em Ipanema, Leblon,

Botafogo, Jardim Botânico, Catete, Centro, São Cristóvão, Vila Isabel, Tijuca, Méier,

Cachambi, Del Castilho, Jardim América, Madureira, Vila Valqueire, Penha, Bonsucesso,

Page 77: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

75

Irajá, Ilha do Governador, Jacarepaguá, Bangu, Barra, Campo Grande, Santa Cruz, Duque de

Caxias, Itaguaí, Macaé, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu, Teresópolis e Volta Redonda.

Atende uma grande variedade de planos de saúde do Rio de Janeiro, constituído como

uma das megaunidades de Copacabana na cidade do Rio de Janeiro, com ampla oferta de

serviços, tais como análises clínicas, anatomia patológica, biologia molecular, citopatologia,

provas funcionais e exames de diagnósticos por imagem, como colonoscopia, densitometria

óssea, ecocardiograma, eletroencefalograma, endoscopia - retossigmoidoscopia, ergometria,

monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA), holter 24 horas, mamografia, prova

de função pulmonar, raios X, ressonância magnética, tomografia computadorizada e

ultrassonografia.

Presente há quase 60 anos, com 43 unidades de atendimento estrategicamente

localizadas, a instituição selecionada formalizou a prerrogativa do anonimato para não ser

identificada.

No laboratório pesquisado, caso o plano de saúde não fornecesse a opção de

atendimento, o consumidor poderia contar com uma Tabela de preços populares para realizar

os exames em condições particulares muito especiais. Contudo, esse consumidor de

pagamento monetário direto não estava presente no critério de inclusão desta pesquisa que

focava o usuário de plano de saúde privado.

Os horários de funcionamento da Megaunidade de Copacabana eram de segunda a

sexta-feira das 6h30 às 22h, sábado das 6h30 às 19h e de 7h às 13h nos feriados. Além dessas

opções, existia atendimento domiciliar para exames laboratoriais mais simples e aos

domingos. Caso o cliente não pudesse comparecer ao exame de imagem na data agendada,

poderia reagendá-lo na central de atendimento.

Page 78: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

76

Tabela 3 – Planos de saúde credenciados no laboratório de medicina diagnóstica.

Exemplos de convênios aceitos pelo laboratório de medicina diagnóstica em megaunidade de Copacabana no Rio

de Janeiro em 2010

Associação Beneficente dos Empregados em

Telecomunicações (ABET)

Garantia de Saúde

Assurance Generale de France (AGF) do Brasil Grupo Executivo de Assistência Patronal (GEAP)

Aliança Navegação e Logística Golden Cross

Associação dos Fiscais de Renda do Estado do Rio de

Janeiro (AMAFRERJ)

Indústrias Nucleares do Brasil

Assistência Médica Integrada (ASSIM) Instituto de Resseguros do Brasil (IRB)

Banco Central do Brasil

Instituto de Previdência da Assembleia Legislativa do

Estado do Rio de Janeiro (IPALERJ)

Banco do Brasil Lincx Serviços de Saúde

Blue Life Marítima

Bradesco Medial Saúde

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social (BNDES)

Mediservice

Caixa de Assistência à Saúde do Rio de Janeiro

(CABERJ)

Mútua dos Magistrados do RJ

Caixa de Assistência à Saúde de São Paulo (CABESP)

Notre Dame

Caixa de Assistência dos Servidores da CEDAE (CAC)

Núcleos Instituto de Resseguridade Social

Caixa Econômica Federal Núcleos Saúde

Caixa de Assistência aos Defensores Públicos do

Estado do Rio de Janeiro (CAMARJ)

Nuclebrás Equipamentos Pesados (NUCLEP)

Caixa de Assistência do Ministério Público do Estado

do Rio de Janeiro (CAMPERJ)

Omint

Caixa de Previdência e Assistência dos Servidores da

Fundação Nacional de Saúde (CAPESESP) Petrobrás

Care Plus Petrobrás Distribuidora

Caixa Assistencial Universitária Rio de Janeiro

(CAURJ) Petrobrás Petróleo Brasileiro-AMS

Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) Petrobrás Petróleo Brasileiro Periódico

Convênio Médico Hospitalares (CONMEDH)

Programa de Saúde e Assistência Social Plan -

Assiste/Ministério Público Federal (MPF)

Companhia Vale do Rio Doce (CVRD)

Programa de Saúde e Assistência Social Plan -

Assiste/Ministério Público do Trabalho (MPT)

Eletros Saúde Porto Seguro

Empresa Brasileira de Telecomunicações

(EMBRATEL) Saúde Bradesco Individual e Empresarial

Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos São Bernardo Saúde

Instituto Oswaldo Cruz de Seguridade Social

(FIOPREV)

Serviços Médicos Guanabara (SEMEG) Saúde

Furnas Centrais Elétricas Sul América

Gama Unibanco American International Group (AIG)

Gama Aeronáutica

Sociedade Cooperativa de Trabalho Médico

(UNIMED)

Gama Fit Urgências Médico-Escolares (URMES)

Fonte: Adaptado de folder do laboratório da pesquisa, em relação às unidades credenciadas e

referenciadas de operadoras de planos de saúde privados.

Page 79: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

77

O agendamento dos exames de alta complexidade poderia ser feito pessoalmente no

laboratório em horários específicos, na central de atendimento on line ou ao telefone, de

segunda a sexta-feira, sábado e feriados para algumas unidades laboratoriais. Os atendentes

do laboratório de medicina diagnóstica intermediavam a marcação do exame de imagem entre

o usuário de plano de saúde com a atendente do plano que liberava ou não a autorização para

realizar o exame. Contudo, em alguns casos, o próprio paciente se deslocava para pegar a

senha de autorização com a operadora de plano de saúde, transferindo-a para a atendente do

laboratório proceder ao agendamento, a exceção da operadora GEAP, não vislumbrada nos

sujeitos entrevistados. A confirmação do agendamento era feita pela atendente do laboratório

estudado. Para a maioria dos exames de análises clínicas como sangue e urina, não era

necessário agendamento prévio.

No agendamento on line o cliente deveria preencher seus dados pessoais, informações

de assistência médica, em que deveria marcar se o atendimento seria particular ou por plano

de saúde, denominando seu plano. Durante este atendimento eletrônico, era solicitado caso o

cliente tivesse dificuldade para ler seu pedido médico, para escaneá-lo e anexá-lo como

arquivo ao formulário eletrônico. O cliente deveria preencher qual o exame de imagem a ser

realizado, data pretendida, horário e unidade pretendidos.

No agendamento telefônico que visava à marcação do exame mais complexo, eram

perguntados o nome da operadora do plano de saúde privado antes do nome do cliente, tipo do

exame e dados da carteira do convênio, como números do cadastro e produto do plano de

saúde contratado do usuário, e pessoalmente o atendimento para marcação requeria ainda a

apresentação da identidade e do pedido médico, além da carteira do plano. A atendente do

laboratório perguntava ao telefone se o pedido médico tinha data ou não, contudo no

agendamento on line não havia esse questionamento. O usuário do plano, ao dizer que o

pedido tinha data, a atendente ao telefone perguntava o nome da operadora do plano de saúde

e verificava no sistema do laboratório a data da validade do exame, informando que

dependendo da operadora, os tempos das validades dos pedidos médicos com datas eram

distintos, variando da isenção de autorização prévia ao exame (Ex: Operadora Mútua dos

Magistrados do RJ e CABERJ), autorização imediata em dias, semanas e em meses, incluindo

um mês (Ex: Operadora GEAP Família) a até três meses de validade (Ex: Operadora Sul

América). Foi informado através da central telefônica de atendimento do laboratório desse

estudo que as validades eram automáticas quando se cadastravam os dados do usuário do

plano, porque o manual do convênio de cada tipo de plano de saúde era digitalizado no

sistema do laboratório, indicando as validades específicas quando o pedido ou guia médica

Page 80: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

78

tinham data. A própria atendente sugeria que era melhor que o pedido e guias médicos do

convênio não tivessem data, considerando que os pedidos e guias médicos sem data não

implicavam em problemas de validade de data de exame médico.

No agendamento pessoal no laboratório, a variável fila de espera, perante a quantidade

de pessoas, poderia determinar que o agendamento prévio do exame fosse feito

exclusivamente ao telefone pelo próprio cliente, através da telefonista da central de marcação

desse laboratório ou central de relacionamento, ao invés de marcação no próprio laboratório.

Após o agendamento on line, ou telefônico, o usuário comparecia no laboratório para

apresentar os documentos exigidos por ora já descritos, e aguardava na sala de espera do

exame de imagem prescrito. Antes de apresentar os documentos para as atendentes do

laboratório, o cliente deveria pegar uma senha de atendimento que poderia ser preferencial

para idosos, gestantes e deficientes, em conformidade com as legislações de prioridade de

atendimento ao público. Assim que a senha da vez aparecia no painel eletrônico, o

beneficiário do plano de saúde privado entregava os documentos exigidos para conferência da

atendente do laboratório e procedia ao preenchimento da confirmação de guia de declaração,

autorização e confirmação de atendimento pelo prestador laboratorial credenciado do plano de

saúde privado antes da realização do exame requerido pelo médico assistente desse

beneficiário.

O pedido médico tinha que ter a indicação clínica do exame de alta complexidade,

número do registro do Conselho Regional de Medicina (CRM) e nome do médico solicitante,

assim como as guias do convênio.

A entrega dos resultados podia ser feita no laboratório ou on line através do número e

senha eletrônica de identificação do cliente, garantindo a privacidade, sigilo absoluto e

segurança no sistema. Porém, na entrega dos resultados no laboratório do estudo em voga não

foi observada exigência de documento de identidade e nem procuração ou autorização

manuscrita do titular do exame para parente ou empregada doméstica que iam buscar o

resultado do exame do interessado.

O laboratório tinha quatro grandes compartimentos físicos, divididos em subsolo,

térreo, primeiro andar e segundo andar, havendo elevadores, escadas e adaptação estrutural

(elevador) para deficientes cadeirantes ou com dificuldade de locomoção, além de boa

sinalização para repartições (setores de atendimento), sanitários e extintores de incêndios.

Page 81: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

79

Setores do espaço físico do laboratório de medicina diagnóstica em megauninade de

Copacabana no Rio de Janeiro em 2010

Subsolo Térreo 1º Andar 2º Andar

Acesso de ambulância

Análises clínicas Audiologia Auditório

Sala de coleta de sangue

para crianças Colonoscopia

Densitometria

óssea

Boulevard do forte Curva glicêmica Ecocardiografia

Café Eletrencefalografia Eletrocardiografia

Estacionamento

Colposcopia Endoscopia Ergometria

Entrega dos resultados Função pulmonar Holter

Informações Provas funcionais Mamografia

Recepção Ressonância magnética Mapa

Vacinas Tomografia Raio X

Ultrassonografia

Quadro 1 – Espaço físico do campo de estudo.

Fonte: Adaptação de mapa físico visual do laboratório de medicina diagnóstica estudado.

Figura 1 – Sala de espera de resultado de exames no térreo no cenário do estudo.

Fonte: A autora, 2010.

Page 82: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

80

Figura 2 - Lateral da sala de espera de exames de ressonância magnética e

tomografia computadorizada no 1º andar.

Fonte: A autora, 2010.

Figura 3 - Corredor da sala de espera de exames de ressonância magnética e

tomografia computadorizada no 1º andar.

Fonte: A autora, 2010.

Page 83: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

81

Figura 4 - Sala de espera de exames de densitometria óssea no 2º andar.

Fonte: A autora, 2010.

3.4 Técnicas de coleta de dados

Os dados foram coletados a partir da aplicação de formulários e entrevistas individuais

estruturadas realizadas entre usuários de planos de saúde de quaisquer tipos de contratações-

individual, familiar, adesão ou empresarial. De acordo com Deslandes, Gomes e Minayo

(2008), a entrevista tem como matéria-prima a fala de alguns interlocutores, onde o campo da

pesquisa social não é transparente e tanto o pesquisador como os seus interlocutores e

observadores interferem no conhecimento da realidade, ou seja, a natureza da pesquisa social

nunca é neutra.

Pope e Mays (2009) identificam significados subjetivos e elaboração de teorias

explicativas presentes nos métodos qualitativos como a entrevista e a observação, o que

significa para estes autores que frequentemente a coleta de dados continuará até que um ponto

de saturação tenha sido atingido e que nenhuma categoria nova tenha sido criada por dados

adicionais, em vez de ser estatisticamente representativa.

Page 84: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

82

A seleção da técnica de entrevista é justificada pela possibilidade privilegiada da

interação entre o pesquisador e o sujeito pesquisado. Além de aumentar a busca de

informações que norteiem o objeto a ser investigado, permite entender o conteúdo não

familiar e o senso comum do grupo de sujeitos pesquisados. A entrevista pode ser conceituada

como

um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de

determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional. É um

procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no

diagnóstico ou no tratamento de um problema social (MARCONI; LAKATOS, 2009, p. 80).

Para muito além da oportunidade de recolher ideias, opiniões, depoimentos e testemunhos,

um contrito e devotado mergulho no outro. É o nó do enlace com que o pesquisador se

encanta e se entremete, pela vida do discurso, nas circunstâncias da vida cifradas nos códigos

de percepção, no mapa do indiciário da memória e da afetividade dos depoentes (PAREDES,

2005, p. 132).

A interação pesquisador e pesquisado é uma estratégia privilegiada para a coleta de

informações já que permite o surgimento na fala de conteúdos reveladores das condições de

vida, dos sistemas de valores e crenças e, ao mesmo tempo, do pensamento do grupo dentro

das mesmas condições históricas, socioeconômicas e culturais que o interlocutor

(DESLANDES; GOMES; MINAYO, 2008).

Segundo Marconi e Lakatos (2009), a entrevista como técnica de coleta de dados

oferece várias vantagens, tais como: poder ser utilizada em todos os segmentos da população

(analfabetos ou alfabetizados); fornece uma amostragem muito melhor da população geral (o

entrevistado não precisa saber ler ou escrever); há maior flexibilidade (o entrevistador pode

repetir ou esclarecer perguntas, formulá-las de maneira diferente; especificando algum

significado, como garantia de estar sendo compreendido); oferece maior oportunidade para

avaliar atitudes, condutas, podendo o entrevistado ser observado naquilo que diz; há

oportunidade para a obtenção de dados que não se encontram em fontes documentais e que

sejam relevantes e significativos; há também a possibilidade de conseguir informações mais

precisas, podendo ser comprovadas, de imediato, as discordâncias; permite que os dados

sejam quantificados e submetidos a tratamento estatístico.

Contudo, de acordo com Marconi e Lakatos (2009), a entrevista oferece também

limitações, como: dificuldade de expressão e comunicação de ambas as partes;

incompreensão, por parte do informante, do significado das perguntas da pesquisa, que pode

levar a uma falsa interpretação; possibilidade de o entrevistado ser influenciado, consciente ou

inconscientemente, pelo questionador, pelo seu aspecto físico, suas atitudes, ideias, opiniões

Page 85: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

83

etc.; disposição do entrevistado em dar as informações necessárias; retenção de alguns dados

importantes, receando que sua identidade seja revelada; pequeno grau de controle sobre uma

situação de coleta de dados e ocupação de muito tempo, sendo difícil de ser realizada.

Para Marconi e Lakatos (2009), a preparação da entrevista exige algumas medidas

como planejamento da entrevista (destaque para o objetivo a ser alcançado); conhecimento

prévio do entrevistado (enfatiza o grau de familiaridade dele com o assunto); oportunidade da

entrevista (marcação prévia da hora e local para assegurar-se de que será recebido); condições

favoráveis (garantia de sigilo para a identidade do entrevistado quanto às suas declarações);

contato com líderes (espera-se maior entrosamento com o entrevistado para maior

variabilidade de informações) e preparação específica (organização do roteiro ou formulário

com as questões importantes).

Existem diferentes tipos de entrevista que, segundo Silverman (2009), requerem

diferentes habilidades para realização, tais como, acenar com a cabeça, rir, brincar, sorrir,

franzir o cenho, permitir o resgate de alguns termos fundamentais através de perguntas de

encadeamento quanto à motivação particular do entrevistado para com a temática da pesquisa,

além da escuta atenta das respostas do entrevistado para as perguntas subsequentes do

entrevistador e para o acompanhamento temático. Silverman (2009) recomenda que enquanto

o entrevistador ouve a resposta do entrevistado é válido, simultaneamente, dizer „e‟, „mm‟,

„sei‟, „certo‟, entre outros vocábulos que não influenciem na resposta do entrevistado, mas

que também não deixem o pesquisador invisível.

Marconi e Lakatos (2009) informam que os diferentes tipos de entrevistas variam de

acordo com o propósito do entrevistador, podendo ser padronizada ou estruturada, e

despadronizada ou não estruturada:

Na entrevista padronizada ou estruturada, o entrevistador segue um roteiro de

perguntas predeterminadas, realizando-se de acordo com um formulário elaborado, efetuando-

se preferencialmente com pessoas selecionadas de acordo com um plano. O motivo da

padronização é obter, dos entrevistados, respostas às mesmas perguntas, permitindo que todas

elas sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas, e que as variações possam

refletir diferenças entre os respondentes e não diferenças quanto às perguntas (LODI, 1974

apud MARCONI; LAKATOS, 2009).

Na condução despadronizada ou não estruturada, o entrevistado tem liberdade para

desenvolver cada situação em qualquer direção que considere adequada. É uma forma de

poder explorar mais amplamente uma questão, em que, geralmente, as perguntas são abertas e

podem ser respondidas dentro de uma conversação informal. Neste tipo de entrevista, Ander-

Page 86: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

84

Egg (1978 apud MARCONI; LAKATOS, 2009) apresentam três modalidades, que são a

entrevista focalizada ou semi-estruturada, entrevista clínica e entrevista não dirigida.

Para efeito deste estudo será adotada a entrevista individual padronizada ou

estruturada que requer a presença de um roteiro de questões específicas e dirigidas

previamente estabelecidas ao problema que se pretende estudar, onde o entrevistador, segundo

Marconi e Lakatos (2009) não tem a liberdade de adaptar as perguntas a determinada situação,

obedecendo, a rigor, a uma estrutura formal. Pope e Mays (2009) referem que as entrevistas

estruturadas consistem na aplicação de questionários estruturados de uma maneira

padronizada, e embora, frequentemente as entrevistas qualitativas sejam descritas como não-

estruturadas a fim de compará-las com as entrevistas definidas como estruturadas, projetada

para produzir dados quantitativos, o termo „não-estruturado‟ é enganador, já que nenhuma

entrevista é completamente livre de estrutura. Para tanto, corrobora-se que “se não houvesse

estrutura, não haveria nenhuma garantia de que os dados coletados são adequados à questão

da pesquisa” (POPE; MAYS, 2009, p. 4).

A escolha pela entrevista padronizada ou estruturada também se justifica pela sua

aplicação, que de acordo com Rizzini, Castro e Sartor (1999) se dá a partir de questões e

tópicos pré-determinados sobre um tema específico, para facilitar a sistematização e

codificação, listando as respostas propostas com a indicação da frequência de cada uma delas.

Os instrumentos de coleta de dados consistiram em um formulário para caracterização social e

econômica dos sujeitos, assim como a caracterização dos planos de saúde privados desses

usuários e um roteiro de entrevista, focando o objeto e o problema de estudo (APÊNDICES B

e C).

3.5 Tratamento e análise dos dados

Na perspectiva de melhor compreensão do objeto de estudo e em coerência com os

pressupostos referenciais teóricos, pretendeu-se explorar o conjunto de percepções subjetivas

e consensuais dos usuários do sistema de saúde privado sobre o acesso aos serviços oferecidos

nesta rede, particularmente aos exames de alta complexidade.

Para Deslandes, Gomes e Minayo (2008) a análise e a interpretação dentro de uma

perspectiva qualitativa baseiam-se no fato de não terem como finalidade contar opiniões ou

pessoas, considerando os muitos pontos em comum das falas e expressões de grupos que

Page 87: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

85

compartilham as mesmas características e que, ao mesmo tempo, consideram também as

singularidades próprias da biografia de cada interlocutor.

A pesquisa qualitativa procura desenvolver categorias analíticas para descrever e

explicar fenômenos sociais, as quais podem ser indutivamente derivadas quando obtidas

gradualmente a partir dos dados ou dedutivamente no início ou no decorrer da análise, como

uma forma de abordar os dados (POPE; MAYS, 2009).

Processos de inferência ou interpretação têm relação com o raciocínio indutivo quando

parte do âmbito do particular para o geral, tal como na escrita por indução, em que o propósito

nessa perspectiva é convencer de que o que se escreve (particular) é uma verdade para o

mundo (geral), induzindo a sua compreensão individual para a coletividade. No raciocínio

dedutivo, de forma oposta ao raciocínio indutivo, faz-se a interpretação deduzindo-se pela

lógica do conhecimento geral para o particular, ao passo que enquanto se escreve por indução

se interpreta um texto por dedução (SCHOCAIR, 2009).

De acordo com Víctora, Knauth e Hassen (2000) torna-se difícil a utilização da

estatística para analisar os dados qualitativos gerados, a partir do registro detalhado de

observações e entrevistas, considerando que a análise dos dados assume as características de

uma interpretação dos eventos pesquisados.

A técnica de pesquisa utilizada para o tratamento das informações das entrevistas foi a

análise de conteúdo-temática categorial de Bardin (1977), sistematizada por Oliveira (2008).

A análise de conteúdo é definida como “um conjunto de técnicas de análise das

comunicações” (BARDIN, 1977, p. 31).

De acordo com Bardin (1977), a análise de conteúdo é usada como um instrumento de

diagnóstico, pautada nas inferências específicas ou interpretações causais sobre um dado

aspecto da orientação comportamental do locutor, não sendo obrigatoriamente quantitativa.

Bardin (1977) ressalta que a abordagem quantitativa funda-se na frequência de

aparição de certos elementos da mensagem, enquanto a abordagem não quantitativa recorre a

indicadores não frequenciais suscetíveis de permitir inferências, como a presença ou ausência

de dado elemento que pode se constituir em um índice tanto ou mais frutífero que a

frequência de aparição. Contudo, a característica da análise qualitativa é o fato da inferência,

sempre que é realizada, ser fundada na presença do índice (tema, palavra, personagem, entre

outros), e não sobre a frequência da sua aparição, em cada comunicação individual (BARDIN,

1977).

Para Bardin (1977), a análise temática consiste na contagem de um ou vários temas ou

itens de significação, através de uma unidade de codificação previamente determinada,

Page 88: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

86

permitindo a facilidade da escolha da frase dentro de um discurso a partir de dois sinais de

pontuação como unidade de codificação.

Bardin (1977, p.117) relata que “a categorização é uma operação de classificação de

elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por

reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos”.

As categorias são as classes que reúnem um grupo de elementos, tais como as

unidades de registro (UR), no caso da análise de conteúdo, sob um título genérico de

agrupamento efetuado em razão dos caracteres comuns destes elementos (BARDIN, 1977).

Contagens simples podem ser úteis em estudos qualitativos, embora na pesquisa

qualitativa não se busque quantificar os dados qualitativos textuais, estes podem ser

analisados quantitativamente através de um sistema de codificação inequívoco e predefinido,

produzindo contagens ou frequências dos conteúdos dos discursos que podem ser tabuladas e

analisadas usando técnicas estatísticas padronizadas (POPE; MAYS, 2009).

Segundo Bardin (1977), as etapas para organização da análise são a pré-análise

(escolha dos documentos, formulação das hipóteses e dos objetivos, e a elaboração de

indicadores fundamentadores da interpretação final); a exploração do material (operações de

codificação, desconto ou enumeração, em função de regras previamente formuladas) e

tratamento dos resultados obtidos, a inferência e a interpretação (tratamento dos resultados

brutos de maneira a serem significativos e válidos, utilizando-se operações estatísticas simples

como as percentagens ou mais complexas como a análise fatorial, propondo-se inferências e

adiantando interpretações a propósito dos objetivos previstos, ou que se relacionem a outras

descobertas inesperadas).

Bardin (2000 apud OLIVEIRA, 2008) reitera a definição das etapas da análise de

conteúdo como de pré-análise; exploração do material ou codificação; tratamento dos

resultados, inferência e interpretação. Tais etapas, para Oliveira (2008), podem ser

desenvolvidas através de sistematização de procedimentos exigidos pela análise de conteúdo

temático-categorial, as quais a referida autora sintetiza como:

leitura flutuante, intuitiva, ou parcialmente orientada do texto, a qual requer

uma leitura impressionista e atenta ao texto para buscar a familiarização do

conteúdo da entrevista e ao conteúdo de outros métodos e técnicas de

investigação empírica;

definição de hipóteses provisórias sobre o objeto estudado e o texto

analisado, antecipando prováveis respostas quando necessárias acerca das

questões norteadoras da pesquisa;

Page 89: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

87

determinação das unidades de registro (UR) ou de codificação, que

representa uma palavra ou frase do texto que surgem da segmentação do

conjunto do texto para análise, formando as unidades de segmentação ou de

corte. A partir da seleção das partes de interesse do texto consegue-se

separar os conteúdos relacionados ao objeto de estudo, marcando no texto

analisado o início e o final de cada UR que pode ser padronizada na forma

de uma palavra, frase, parágrafo, tema, personagem, documento entre outros

termos que estejam vinculados aos objetivos da pesquisa;

definição das unidades de significação ou temas, onde as unidades de

registro previamente identificadas e selecionadas serão associadas aos temas

ou unidades de significação similar, sobre o assunto abordado em cada UR;

análise temática das unidades de registro, onde cada tema será composto por

um conjunto de unidades de registro. A análise temática baseia-se na

frequência de cada temática apresentada nos discursos, permitindo a

quantificação dos temas em número de unidades de registro para cada

entrevista. O tema focaliza a fala das pessoas com o mesmo objeto e

sentido, sendo fundamental para compreensão, revelação de novas facetas e

dimensão do referencial teórico adotado acerca deste objeto;

análise categorial do texto que reflete a totalidade textual e agrupamento em

categorias a partir da determinação, e quantificação dos temas, onde devem

ser definidas as dimensões nas quais os temas aparecem, agrupando-se os

temas segundo critérios.

tratamento e apresentação dos resultados, em que unidades de registro com

assuntos e falas similares são dirigidas para uma mesma categoria, sendo

apresentados dados que podem expressar implicação política nos discursos,

representações sociais consensuadas por um grupo de sujeitos que

compartilham características em comum nas comunicações cotidianas,

retrato de uma cultura e a moralidade de uma época, entre outras ilações;

discussão dos resultados e retorno ao objeto de estudo, destacando-se as

inferências de conhecimentos relativas às condições de produção ou

recepção do discurso manifesto dos sujeitos que possibilitam a utilização ou

não de recursos indicadores quantitativos, não descrevendo apenas o

conteúdo do texto, mas efetuando inferências com base numa lógica de

discurso explicitado sobre as mensagens ditas e faladas, cujas características

Page 90: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

88

podem ser inventariadas e sistematizadas, particularmente em textos, de

modo que após o tratamento analítico possibilitem a revelação de outros

aspectos relevantes, admitindo-se também proposições com conteúdos já

aceitos e tidos como verdadeiros.

A análise do formulário de caracterização socioeconômica e caracterização dos planos

de saúde privados dos usuários foi realizada através de estatística descritiva dos seus

atributos, apresentados em tabelas.

Nesta pesquisa, utilizaram-se “recortes”, procedendo-se à seleção das unidades de

registro das falas dos entrevistados (as), as quais foram classificadas dentro das pré-categorias

pré-determinadas, e somente na última etapa descreveram-se as categorias finais, conforme

padronizada em quadro especificado por dicionário de significados subsidiador das falas

consensuadas por um mesmo significado (APÊNDICE H).

3.6 Aspectos éticos em pesquisa

O projeto de pesquisa desta dissertação foi recebido no Comitê de Ética e Pesquisa da

UERJ em 06.01.2010, sob registro no Certificado de Apresentação para Apreciação Ética

(CAAE) nº 0002. 0.325.000-10. Foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UERJ em

14.04.2010 pelo parecer da Comissão de Ética em Pesquisa da UERJ (COEP) nº 019/2010,

protocolo nº 006.3.2010.

O projeto seguiu critérios exigidos pela instituição selecionada para o estudo. Foram

cumpridas as exigências da Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho

Nacional de Saúde (1996) do Ministério da Saúde. Todos os sujeitos participantes do estudo

assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual foi concedida garantia de

sigilo das informações, anonimato, direito de desistir da pesquisa e ciência do resultado final

do trabalho desenvolvido (APÊNDICE A).

Page 91: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

89

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

4. 1 Caracterização dos sujeitos estudados

A descrição das características das informações extraídas nos formulários e entrevistas

aplicados aos sujeitos permitiu, em conjunto com o referencial teórico e metodológico de base

desta pesquisa, construir inferências e impressões de traços transversais ao pensamento

compartilhado do grupo de usuários de planos de saúde sobre as percepções do acesso aos

exames de alta complexidade no sistema de saúde privado, descrevendo o seu conteúdo, assim

como os níveis de satisfação, quanto ao acesso a estes exames de maior complexidade.

Estão elencados abaixo os resultados relativos aos dados coletados nos formulários de

caracterização socioeconômica dos usuários de planos privados de assistência à saúde.

Tabela 4 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por sexo - Rio de Janeiro, 2010.

Sexo f %

Masculino 15 50,00

Feminino 15 50,00

Total 30 100,00

Dos 30 entrevistados, 15 (50%) eram homens e 15 (50%) eram mulheres, selecionados

aleatoriamente, sendo todos maiores que 18 anos, a partir da faixa etária de 20 até 89 anos.

Conforme Lima (2005, p. 88), “a percepção da perspectiva de gênero nas relações entre os

sexos fornece meios de decodificar o significado culturalmente atribuído ao varão e à mulher

e de compreender as complexas conexões entre as várias formas de interação humana”. Não

houve variação significativa dos relatos descritos em função do gênero quanto ao objeto de

estudo. Porém, os sujeitos do sexo masculino eram mais objetivos e pontuais nas questões

levantadas ao longo das entrevistas, as quais foram mais rápidas com os homens do que com

as mulheres. A riqueza dos relatos foi recíproca em ambos os gêneros, independente do tempo

de duração das entrevistas.

Page 92: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

90

Ressalta-se, todavia, a importância da compreensão dos grupos de gênero no passado

histórico, com o propósito de identificar os papéis e simbolismos sexuais presentes nas

diferentes sociedades e períodos, descobrindo-se a maneira como eles operavam para a

manutenção ou mudança da ordem social (LIMA, 2005).

Tabela 5 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por cor étnica autodeclarada

- Rio de Janeiro, 2010.

Quanto à cor étnica autodeclarada, 26 (86,67%) entrevistados se declararam brancos

ou morenos e 4 (13,33%) se declararam negros ou pardos. Estes dados demonstram a maioria

branca que realizou os exames dessa pesquisa, em percentual maior para cor étnica do que o

de pessoas que se autodeclararam brancas (55,80%) no Rio de Janeiro pela Pesquisa Nacional

de Amostras de Domicílios (IBGE, 2009).

Percebe-se que os usuários de planos de saúde da amostra do estudo constituem a elite

não negra da sociedade fluminense, em contraposição com a minoria negra que

presumidamente não detém de recursos monetários suficientes para a aquisição desses

benefícios para contratação direta ou talvez indicando que esteja desempregada ou

subempregada na sua maioria e marginalizada socialmente. De acordo com o IBGE (2009), o

percentual de negros e pardos no Rio de Janeiro foi de 43,70%, com paralelismo de 13,33%

da amostra pesquisada (Tabela 5). Entretanto,

a história é bastante clara e simples. Até o início dos anos 1990, a população negra vinha

aumentando de modo relativamente lento e vegetativo via uma taxa de fecundidade um pouco

mais alta para pretos e pardos, e o fato de que filhos de casais mistos têm maior probabilidade

de ter filhos pardos. Em algum momento, entre 1996 e 2001, há o início de um processo de

mudança em como as pessoas se vêem. Passam a ter menos vergonha de dizer que são negras;

passam a não precisar se branquear para se legitimarem socialmente. Essa mudança é um

processo surpreendentemente linear, surpreendentemente claro e, ao que tudo indica, ainda

não terminou (SOARES, 2008a, p.120).

Não obstante, a forma como o negro se visualiza para si e para sociedade não está

ainda em equivalência com a renda da elite não negra, tendo em vista que

Cor étnica f %

Brancos/ Morenos 26 86,67

Negros/ Pardos 4 13,33

Total 30 100,00

Page 93: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

91

é fato conhecido no panorama das desigualdades brasileiras que há uma desigualdade racial

considerável no país. Pretos e pardos, doravante denominados negros, têm menos que a

metade da renda domiciliar per capita de brancos (SOARES, 2008b, p. 123).

Tabela 6 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por naturalidade - Rio de Janeiro, 2010.

Cidade / País f %

Rio de Janeiro/ Brasil 24 80,00

São Paulo/ Brasil 1 3,33

Espírito Santo/ Brasil 1 3,33

Pernambuco/ Brasil 1 3,33

Bahia/ Brasil 1 3,33

Pará/ Brasil 1 3,33

Bad Elster/ Alemanha 1 3,33

Total 30 100,00

A maioria dos sujeitos entrevistados é natural da cidade do Rio de Janeiro (80%), onde

o restante computa um entrevistado cada (3,33%), respectivamente, para as cidades de São

Paulo, Espírito Santo, Pernambuco, Bahia, Pará, apresentando um entrevistado natural da

cidade de Bad Elster, na Alemanha.

A rede credenciada dos planos de saúde dos sujeitos do estudo permitiu a

acessibilidade (geográfica e funcional) a várias unidades e megaunidades do laboratório de

medicina diagnóstica para os usuários naturais e não naturais residentes ou não na cidade do

Rio de Janeiro, facilitando a busca do serviço dos residentes das proximidades do local do

exame e deslocamento dos usuários, conforme opção e preferência de cada um para os que

moravam em outras localidades distantes.

O Rio de Janeiro apresentou crescimento contingencial direta e indiretamente

relacionado ao padrão de vida das faixas abastadas da população e por ser o espaço predileto

de gasto público, através de circuito valorativo dado à riqueza e ao consumo das elites

(LESSA, 2000).

Quanto ao crescimento explosivo da região metropolitana entre o Rio de Janeiro e

demais municípios da região ocorre a desigualdade socioespacial, tendo em vista que

em 1940, 1.764 mil cariocas eram cerca de 80% dos moradores da Região Metropolitana do

Rio de Janeiro (RMRJ). Em 1996, a região tinha 10.192 mil habitantes. A participação

demográfica do Rio estava reduzida a 55% da RMRJ, ou seja, eram 5.551 mil cariocas. As

diferenças de padrões de urbanização, de cobertura de serviços públicos, são mais acentuadas

e descontínuas no interior da RMRJ do que em qualquer outra região metropolitana do país

(LESSA, 2005, p. 294-295).

Page 94: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

92

As grandes transformações na distribuição socioespacial da população do Rio de

Janeiro ocorreram no final do século XIX, onde os ricos deslocaram-se dos altos para a orla

marítima, retratando as frações de pobreza vinculadas à logística da cidade, haja vista a

permanência desse grupo pauperizado nos prédios degradados do Centro do Rio, com notável

decadência acelerada dos bairros periféricos (LESSA, 2005).

A rede de relações sociais da cidade do Rio de Janeiro obteve nova dimensão na

medida em que, foram multiplicados os estabelecimentos industriais perto dos transportes

ferroviários, em que se desenvolveram nessa proximidade bairros organizados e algumas

favelas, pela periferia industrial (LESSA, 2005).

Copacabana é um bairro nobre da orla marítima da cidade do Rio de Janeiro, com

vasta rede de transportes e integrações por transportes aquaviários (barcas) e ferroviários

(trens e metrôs) , assim como outros veículos como ônibus, vans, carros de passeio, dentre

outros. Todas essas vias de transporte somadas a várias localidades desse laboratório do

campo de estudo favoreceram os deslocamentos dos residentes de bairros cariocas afastados

de Copacabana na busca pelos exames de alta complexidade. Todos os sujeitos não cariocas

moravam nos bairros da cidade do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense (Tabela 10).

Tabela 7 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por faixa etária em anos

- Rio de Janeiro, 2010.

Faixa etária f %

20-29 4 13,33

30-39 7 23,33

40-49 7 23,33

50-59 4 13,33

60-69 5 16,67

≥ a 70 3 10,00

Total 30 100,00

A maior parte dos entrevistados compreendeu as faixas etárias de 30-39 (23,33%) e

40-49 (23,33%) anos, cuja representatividade da amostra é a mais economicamente ativa com

maior vínculo empregatício. O menor número de entrevistados compreendeu a faixa etária

maior ou igual a 70 anos, embora na faixa etária de 60-69 anos tenha tido resultado expressivo

com 16,67% de entrevistados (Tabela 7).

Page 95: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

93

Estes percentuais são expressivamente maiores do que o percentual de habitantes entre

30-39 anos (14,90%) e 40-49 anos (14,30%) do Rio de Janeiro, segundo a Pesquisa Nacional

por Amostra de Domicílios (PNAD) 2009 (IBGE, 2009), demonstrando que a população

economicamente ativa é que detém maior poder aquisitivo para a aquisição e manutenção de

planos privados de saúde, haja vista relação da classe média filiada a planos empresariais ou a

empregos mantenedores de renda suficiente para contratação direta de planos de saúde.

A amostra maior de adultos jovens que realizaram os exames de alta complexidade

nesse estudo reforça a ideia que existe a valorização da carteira de composição saudável de

beneficiários de planos de saúde e sua relação com vínculos ativos empregadores, tendo em

vista que os contratos empresariais prevaleceram, seguindo a tendência da amostra ( Tabela

21) e Gráfico 1. Paradoxalmente, a amostra menor de idosos que também tem direitos

ampliados após a regulamentação dos planos de saúde assume característica peculiar na

contratação empresarial, considerando que “os aposentados e desempregados ganharam

direito a tratamento diferenciado, podendo manter seu vínculo com os planos de saúde

empresariais, assumindo o pagamento da parcela patronal” (MONTONE, 2009, p. 37).

Contudo, a receita menor de um aposentado presumidamente não corresponde na

prática à manutenção de custos elevados com planos de saúde, mesmo com os avanços

regulatórios de que “também foram reforçadas as restrições aos reajustes de mensalidades e

aos reajustes por faixa etária, proibidos para os usuários com mais de 60 anos e mais de 10

anos de planos” (MONTONE, 2009, p. 37). Além disso, os atendimentos vinculados,

sobretudo, aos adoecimentos crônicos e relacionados ao envelhecimento devido à fase

avançada de tratamento geram mais impactos degenerativos de alto custo ao sistema de saúde.

Tabela 8 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por situação

conjugal - Rio de Janeiro, 2010.

Estado civil f %

Casado (a) 13 43,33

Solteiro (a) 10 33,33

Divorciado (a) 4 13,33

Viúvo (a) 1 3,33

Vida em comum 2 6,67

Total 30 100,00

Page 96: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

94

A predominância do estado civil dos entrevistados em ordem decrescente foi casada

(43,33%), solteira (33,33%), divorciada (13,33%), vida em comum (6,67%) e viúva (3,33%).

Tabela 9 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por quantidade de

filhos - Rio de Janeiro, 2010.

Número de filhos f %

Nenhum 13 43,33

1 11 36,67

2 4 13,33

3 2 6,67

Total 30 100,00

Em relação à prole, a maioria não tinha filhos (43,33%), seguido de um filho apenas

(36,67%), posteriormente 2 (13,33%) e 3 (6,67%) filhos, também em ordem decrescente.

Em um dos perfis de análise de dados referentes à pesquisa “Perfil da juventude

brasileira”, também parte do Projeto Juventude (2004), sobre comportamento sexual,

prevenção da AIDS e ao comportamento reprodutivo entre jovens de 15 a 24 anos, a gravidez

e a parentalidade foram identificadas como um fenômeno predominantemente feminino,

porque nas faixas etárias inferiores a 15 anos é ainda maior a proporção de jovens mães em

relação aos jovens pais. Assim, observou-se que na faixa etária de 15 a 17 anos, a razão entre

mulher/homem foi de 8,2/1, na faixa de 18 a 20 anos foi de 4,4/1 e entre os 21 e os 24 anos

foi de 1,99/1. Porém, foi identificado nesse estudo que em ambos os sexos a tendência à

estabilização dos relacionamentos ocorre com o aumento da idade, de 50% entre os jovens de

15 a 17 anos para 69% entre os de 21 a 24 anos (CALAZANS, 2005).

No contexto da pesquisa sobre o acesso aos exames de alta complexidade nos planos

de saúde privados na perspectiva dos usuários, os sujeitos entrevistados tinham mais de 20

anos de idade e declararam situação conjugal estável, seja por casamento, namoro ou vida em

comum (Tabela 8) com proles inexistentes e reduzidas até no máximo 3 filhos (Tabela 9).

Denotam-se, portanto, famílias em grande parte com situação conjugal estável,

reduzidas a poucos dependentes que traçam os perfis sociais dos entrevistados que usam

planos de saúde para realizarem seus exames de imagens mais custosos.

Page 97: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

95

Tabela 10 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por residência nas regiões do

Município do Rio de Janeiro e Grande Rio - Rio de Janeiro, 2010.

Áreas da cidade do Estado do Rio de Janeiro f %

Zona Sul 18 60,00

Zona Norte 7 23,33

Centro 2 6,67

Baixada Fluminense 2 6,67

Zona Oeste 1 3,33

Total 30 100,00

Quanto ao local de residência, 18 entrevistados (60%) moravam na zona sul do Rio de

Janeiro, sendo 10 deles residentes em Copacabana, bairro onde se constituiu a coleta de

dados. Os demais se distribuíram na zona norte (23,33%), Baixada Fluminense (6,67%),

Centro (6,67%), e zona oeste do Rio de Janeiro (3,33). Esses relataram ter realizado os

exames na zona sul pela proximidade ao trabalho e outros pela disponibilidade de só ter na

unidade laboratorial de Copacabana a oferta de equipamentos abertos de ressonância

magnética e tomografia computadorizada, afirmando terem receio de equipamentos fechados

e claustrofóbicos.

A necessidade de suprir o medo da tomografia computadorizada e ressonância

magnética ambas de compartimento fechado nas outras unidades do laboratório de Medicina

Diagnóstica mobilizou a procura dos sujeitos entrevistados residentes em regiões afastadas de

Copacabana a procura por esse serviço opcional para o compartimento aberto nesse local, que

permitisse a comunicação com os profissionais treinados que manipulavam o aparelho, além

da segurança visível da presença do médico. Os acompanhantes também expressavam essa

preferência da mesma forma que os usuários.

Tabela 11 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por situação

residencial - Rio de Janeiro, 2010.

Situação residencial f %

Própria quitada 16 53,33

Alugada 8 26,6

Mora com parentes 4 13,3

Brancos/ nulos 2 6,6

Total 30 100,0 .

Page 98: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

96

Grande parte mora em residência própria quitada (53,33%), seguida de alugada

(26,6%) e moradia com parentes (13,3%).

A situação residencial demonstra outro perfil social sobressalente de quem usufrui de

planos de saúde tem residência fixa e própria, o que sugere que não havendo gastos com

prestações de imóveis “sobra” renda para gasto extra com plano de saúde, considerando a

contratação individual em que o sujeito se onera integralmente para adquirir seu plano. Os

residentes de aluguel tinham, a maioria, planos empresariais, o que não lhes confeririam

tamanha folga no orçamento, caso quisessem adquirir um plano de saúde de contratação direta

sem o intermédio da empresa, na qual estivessem vinculados, a exceção daqueles que

independente de residirem em casas alugadas tinham renda suficiente para terem seus planos

de saúde e de forma independente do fornecimento pela empresa dos seus postos de trabalhos.

Dos oito entrevistados residentes de aluguel seis tinham vínculo empresarial com

grandes empresas como a Rede Globo de televisão, Colégio Curso PH, Dannemann Siemsen

B & I Moreira empresa de advocacia, Philip Morris Brasil indústria de tabaco, Banco

Bradesco e Prodasal sistema de informática da prefeitura da Bahia. Os demais que moravam

de aluguel e tinham planos de saúde empresariais eram profissionais liberais e autônomos.

Os entrevistados que moravam com parentes eram- mãe aposentada e do lar, estudante

de advocacia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), assistente administrativo da

empresa de advocacia Momsen Leonardos e advogada atuante na empresa Ernst Young de

auditoria e consultoria de planejamento tributário, a qual era dependente do plano de titular

parental, apresentando-se nesse grupo as diversas contratações de planos de saúde, sejam

individual ou familiar, sejam empresarial ou coletiva por adesão.

Tabela 12 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por nível de escolaridade - Rio de

Janeiro, 2010.

Nível de escolaridade f %

3º Grau completo 18 60,00

2º Grau completo ou 3º Grau Incompleto 9 30,00

1º Grau completo /incompleto ou 2º Grau incompleto 3 10,00

Total de escolaridade por participante 30 100,00

Dos 30 entrevistados, 18 (60%) tinham nível superior ou 3o grau completo. Destes, 7

apresentavam pós-graduação Lato sensu ou Stricto sensu, o equivalente a 38,89% do total de

Page 99: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

97

entrevistados que têm nível superior. Nove (30%) tinham 2º grau completo ou 3o grau

incompleto e 3 (10%) tinham 1º grau completo ou incompleto ou 2º grau incompleto.

Conforme o IBGE (2009), em relação aos dados da PNAD 2009, o número de pessoas

da população fluminense que tem 3º grau completo (52,80%) apresenta uma

representatividade aproximada comparada com a amostra no que se refere à obtenção do nível

máximo de escolaridade, sendo o mesmo observado nos demais níveis. Assim, esta

semelhança se destaca entre aqueles que tinham 2º grau completo ou 3o grau incompleto

(30%) da amostra, em relação a 33,5% da população fluminense. Da mesma forma, os

sujeitos da amostra com 2º grau incompleto (10%), perfazem comparativamente um total de

7,7% da população fluminense. Portanto, infere-se que há maior acesso aos meios de

assistência médica privada à população de menor grau de escolaridade, possivelmente através

de planos empresas, quando empregadas formalmente com vínculo trabalhista.

O nível da escolaridade é outro marcador social importante para os que usufruem de

planos de saúde privados, porque a obtenção de um bem ou serviço privado está relacionada à

ascensão social no mercado de trabalho pelos estudos e aprendizado qualificado em longo

prazo. Dentro de uma perspectiva relevante sobre os estudos e seus reflexos aponta-se que

a importância dos estudos sobre cultura política está nas evidências que eles podem

proporcionar a respeito da disposição das pessoas a apoiarem o regime democrático, apesar

das eventuais desilusões acerca deste ou daquele partido ou governante de turno-além de

outras circunstâncias e condições que podem (ou não) afetar sua adesão à democracia.

Infelizmente, muitas vezes há certo determinismo ou linearidade nesses estudos sobre a

cultura política, pretendendo, por exemplo, que os processos de democratização sejam

inexoráveis ou irreversíveis-como se lhes coubesse seguir a mesma trajetória de modernização

(hoje diríamos “globalização”) trilhada pelos países centrais do Ocidente (KRISCHKE, 2005,

p. 323).

A situação socioeconômica e política brasileira refletem os efeitos antagônicos do

capitalismo global que não acompanha a integração homogênea da sociedade na economia. A

desigual distribuição de renda e a falta de investimentos políticos na educação pública

brasileira em plena era da informática ainda permitem o retrato da marginalidade social pela

exclusão digital de muitos jovens e até mesmo crianças que se incluem como constituintes

complementares da renda familiar.

Nessa pesquisa observa-se o quadro social oposto ao descrito acima, já que a

escolaridade elevada é fator decisivo para aquisição de recursos na educação e na saúde.

Observa-se que cada vez mais o plano de saúde deixa de ser privilégio dos ricos, tendo em

vista que existem entrevistados com baixa escolaridade (Tabela 12, f.96) e baixa renda

(Tabela 15, f. 101) que dispõem de planos de saúde privados.

Page 100: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

98

Tabela 13 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por atividade

laborativa ou inatividade - Rio de Janeiro, 2010.

Vinte e dois entrevistados (73,33%) eram não aposentados e 8 eram aposentados

(26,67%). Para equalizar o peso das despesas previdenciárias e assistenciais no valor de um

salário mínimo, Giambiagi e Garcia (2007) concluem que aumentar mais o investimento

público ou reduzir a carga tributária seria importante, a médio e longo prazos, a partir de

revisão do dispositivo proposto de aumentar duas de cada três aposentadorias de acordo com

o Produto Interno Bruto (PIB), considerando que este tende a determinar um viés

aceleracionista na evolução da relação despesa do Instituto Nacional de Seguridade Social

(INSS) /PIB.

As revisões das aposentadorias seriam de fato a solução para os que têm suas despesas

aumentadas com os processos crônicos deletérios da saúde, decorrentes de invalidez por

doença crônica ou acidente pessoal, envelhecimento natural, sedentarismo ou

comportamentos de risco. A previdência privada pode ser a solução para quem tem maior

poder aquisitivo ou ganha de presente esse financiamento vindouro de um ente querido.

Contudo, um acompanhante de uma das entrevistadas sugeriu um projeto de Lei federal que

repensasse a questão das mensalidades dos planos de saúde que poderia subsidiar os custos

dos planos de saúde, a partir de determinada idade avançada, como ocorre na previdência

privada e com a previdência social, em que o cidadão contribuiria enquanto tem saúde para

produzir economicamente e após sua aposentadoria estaria coberto pelo que contribuiu ao

longo de toda a sua juventude.

Revela-se na passagem transcrita:

“é um sonho meu com relação ao plano de saúde já que ele tem que existir - era que algum

político, ou, os políticos desse país, criassem algum dispositivo, que após o pagamento, uma

contribuição de 30 anos, seja no mesmo plano, que as pessoas tivessem migrado pra outra

empresa,em que tenha contribuído por 30 anos, acho que teria que ser um direito adquirido, é

como aposentadoria, a pessoa parava de pagar e teria direito a qualquer exame, qualquer

atendimento de graça, né? Porque justamente na hora, que a pessoa fica velha, a pessoa

envelhece, se aposenta, a renda cai, em função da idade, o valor da contribuição aumenta, a

pessoa não consegue mais pagar, quer dizer na hora que a pessoa mais precisa, ela vai morrer

na UPA, porque não tem dinheiro pra pagar, isso era um sonho meu que os políticos

pensassem nisso, não só de congelar valor não, era gratuidade, porque as pessoas

contribuíram muitas vezes, por exemplo, eu gasto por mês cerca de R$ 1.600,00, quer dizer,

em dez meses eu pago R$ 16.000,00 de plano de saúde e eu não usufruo de quase nada, então

Aposentados f %

Não 22 73,33

Sim 8 26,67

Total 30 100,00

Page 101: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

99

quer dizer, contribuo muito e usei pouco, depois de trinta anos pagando um valor desse, eu

acho que eu merecia no plano, ou seja, eu parar de pagar e ter direito a qualquer atendimento,

isso é um sonho meu, os políticos desse país poderiam fazer isso por nós”. (marido da E 24 -

professor de Química em curso pré-vestibular e professor da Secretaria Estadual de Educação

do Rio de Janeiro).

Nas aposentadorias de regime de previdência pública de caráter contributivo,

asseguradas pela constituição brasileira, destinada aos servidores públicos titulares de cargo

efetivos, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, respectivas autarquias e

fundações podem ser com proventos integrais (art. 40, §3º), salvo as hipóteses contempladas

no § 1º, incisos I, II e III, letra b, que caracterizarão as situações onde os proventos serão

proporcionais (MELLO, 2003).

Conforme Mello (2003), os proventos proporcionais são estabelecidos quando o

servidor que venha a ser aposentado não cumprir cumulativamente 10 anos de serviço

público, dos quais cinco no cargo efetivo em que ocorrerá a aposentadoria, ao menos 60 anos

de idade, se homem e 55, se mulher e 35 anos de contribuição, se homem, ou 30, se mulher.

Fora dessas situações específicas, isto é, quando atendidos esses quatro requisitos, a

aposentadoria será estabelecida com proventos integrais.

Os casos em que não se cumpram os critérios cumulativos descritos anteriormente

para a aposentadoria poderão ocorrer compulsoriamente se o servidor atingir setenta anos de

idade ou vier a ser vitimado por invalidez permanente não oriunda de acidente em serviço,

nem de moléstia grave ou incurável especificada em lei e voluntariamente, se tiver sessenta e

cinco anos de idade, quando homem, ou sessenta quando mulher (MELLO, 2003).

Analisando-se a passagem da entrevista transcrita anteriormente, a contribuição

individual no estilo da previdência pública ou privada, em „substituição‟ ao tempo de

pagamento das mensalidades dos planos de saúde sugerido pelo acompanhante da entrevistada

nº 24 (servidor do Estado e da rede privada de ensino) presume-se que não resolveria as

situações em que houvesse necessidade eletiva, urgente ou emergente de uso dos produtos

contratados nos planos antes das reservas financeiras das empresas que operam planos

privados de saúde serem suficientes para equilibrarem as despesas com tratamento da saúde e

ainda de seus dependentes. As reservas financeiras possibilitam garantir a sustentabilidade

econômica das operadoras previamente a cada uso da carteira de beneficiário, tal como ocorre

com os períodos de cumprimento de carência ou cobertura parcial temporária para doenças e

lesões pré-existentes. O pagamento das mensalidades dos planos de saúde corresponde ao

pagamento do risco da sinistralidade envolvida para uso do serviço contratado e não é

compreensível na ótica empírica da pesquisa uma comparação similar a uma contribuição

Page 102: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

100

previdenciária não vinculada à cobertura de doenças ou agravos e não extensível aos demais

dependentes, salvo exceções no caso dos segurados das pensões pós- morte do titular, por

exemplo.

Quando nessa mesma passagem de entrevista se revela uma história de vida de alguém

que paga e não usufrui do serviço do plano de saúde incorre a tendência supostamente

generalizada dos beneficiários de planos que usam frequentemente o serviço contratado sem

necessidade para fazer jus à mensalidade, em função do ônus de algum pagante específico.

Nessa concepção de usar o plano porque se paga ou porque a empresa paga promove o risco

moral, que também pode estar relacionado à maioria dos sujeitos da amostra que não lia as

guias de confirmação de atendimento no laboratório do estudo. Tamanha pressuposição pode

ser refletida se esses mesmos sujeitos assinariam promissórias de natureza diversificada em

letras pequenas ou em branco sem lerem antes. Provavelmente, o descuido não seria o mesmo.

O risco moral (moral hazard) ocorre por parte de clientes que consomem mais

serviços de saúde devido às coberturas contratadas dos planos privados de saúde (BAHIA,

2001).

A seleção adversa é outra falha do mercado que motiva a obtenção de planos privados

de saúde pelos clientes que tendem a adquirir seus planos ou seguros, em função de já

apresentarem alguma manifestação da doença. Por parte das operadoras há maior propensão

para seleção de riscos ao adotarem mecanismos de escolhas para os „bons riscos‟ (BAHIA,

2001).

Tabela 14 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por cargo ocupacional - Rio de Janeiro,

2010.

Cargos Ocupacionais f %

Administrativos Operacionais (auxiliar administrativo,

atendente de serviços médicos, almoxarife) 5 16,13

Administrativos de Nível Superior (analista de sistemas ou de

planejamento, ressecuritário, administrador, gestor de RH) 7 22,58

Comerciais (vendedor, bancário, taxista) 6 19,35

Técnicos de Nível Superior (advogado, jornalista, coordenador

de marketing, professor, psicóloga, engenheiro) 9 29,03

Outros (do lar, estudante, babá) 4 12,90

Total 31*

100,00

Nota: * Um dos entrevistados apresentava duas graduações, com dois cargos ocupados em

empresa pública e particular.

Page 103: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

101

Dentre as profissões dos entrevistados variaram entre empresária, professora,

atendente de serviços médicos, jornalista, assistente operacional, analista de sistemas,

psicóloga, auxiliar administrativo, engenheiro, estudante, advogado, vendedor, administrador,

coordenador de marketing, babá, gestor de recursos humanos, bancário, do lar, taxista,

almoxarife, ressecuritário e analista de planejamento. O maior grupo de entrevistados foi o de

técnicos de nível superior (29,03%), seguido dos administrativos de nível superior (22,58%),

comerciais (19,35%), administrativos operacionais (16,13%) e outros com 12,90% (Tabela

14, f.100). De acordo com Medeiros (2003, p.21), “é provável que para um estudo dos ricos

seja mais apropriado, na dimensão ocupacional, tratar de elites (intra) ocupacionais [...]”.

Embora nesse estudo algumas ocupações laborativas não vislumbrem grandes remunerações

no mercado de trabalho, alguns dos entrevistados eram herdeiros de posses (rendas),

dependentes de pensionistas de parentes que tinham remuneração na maior escala hierárquica

militar, funcionários de empresas de destaque, como a Petrobrás e rede Globo de televisão, e

funcionários públicos de órgãos com remuneração acima da média da Administração Pública

Federal.

Tabela 15 - Distribuição dos sujeitos entrevistados de acordo com a faixa de

renda familiar mensal total por número de salários mínimos - Rio de

Janeiro, 2010.

Faixa de renda familiar f %

≤ 3 2 6,67

3 5 4 13,33

5 10 10 33,33

10 15 5 16,67

15 20 6 20,00

> 20 3 10,00

Total 30 100,00

Em relação à quantidade de salários mínimos mensais totais por cada família dos 30

entrevistados, a maioria dos entrevistados declarou renda maior que 5 até 10 salários mínimos

(33,33%). 20% apresentavam renda maior que 15 até 20 salários mínimos, enquanto 16,67%

apresentavam renda maior que 10 até 15 salários mínimos. 13,33% apresentavam ganhos

mensais maiores que 3 até 5 salários mínimos. 10% apresentavam ganhos maiores que 20

salários mínimos. Já 6,67% apresentavam rendimentos menores ou iguais a 3 salários

mínimos.

Page 104: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

102

O rendimento médio mensal familiar, de acordo com a Pesquisa de Orçamentos

Familiares 2008-2009, do IBGE (2009), corresponde a 6,56 salários mínimos, demonstrando

que, mais da metade da população entrevistada apresentava rendimento familiar igual ou

maior que a média de rendimento familiar fluminense. Isto demonstra ainda o predomínio da

população da amostra de maior poder aquisitivo para obtenção dos planos de saúde privados.

Para Albuquerque et al. (2008, p.1425), “a cobertura por planos de saúde, seja público

ou privado, está associada à renda da população”.

A partir das concepções de Bahia et al. (2006 apud ALBUQUERQUE et al., 2008), a

relação entre renda e cobertura da população com plano está associada ao status ocupacional e

ao número de anos de estudo. Bahia (2001, p.334) evidencia que “a estratificação das

demandas em torno dos planos de saúde molda sub-redes limitadas ao atendimento de clientes

de um determinado status sócio-ocupacional”.

É perceptível que os níveis de escolaridade têm relação direta na escala hierárquica

dos melhores salários compatíveis com os melhores cargos ocupacionais preenchidos pela

população, estendendo-se para amostra desse estudo.

Existe uma seleção social estabelecida entre os preços dos serviços e a capacidade de

compra do cliente ou empresa, verificando-se que o consumidor fica na dependência da

autoridade dos empresários da saúde para determinar quanto e aquilo que deve ser consumido

(ASSIS; VILLA; NASCIMENTO, 2003).

Nessa pesquisa estão presentes as diferenças sociais nas estratificações de renda

familiar na aquisição de plano de saúde que embora tivessem um alto padrão de serviços

contratados obtiveram apontamentos satisfatórios e contraditórios em alguns discursos.

Observa-se que o próprio mercado de planos de saúde possibilita diversificar seus produtos e

segmentos nas diversas modalidades assistenciais para popularizar formas de acesso aos

planos, ainda que a rede credenciada seja insuficiente, deixando a desejar quanto ao

atendimento das necessidades de saúde dos contratantes que não são capitalizados para

adquirir um plano melhor. Nessa assertiva, Freire (2002, p.94) diz que “[...] estas elites,

assustadas, na proporção em que se encontram na vigência de seu poder, tendem a fazer

silenciar as massas populares, domesticando-as com a força ou soluções paternalistas”.

Dando ênfase nessa temática pode-se observar que

a renda nacional relaciona-se sempre com os valores políticos e o estilo de vida da classe

dominante. Tanto mais pobre seja uma nação, e mais baixos os padrões de vida das classes

inferiores, maior será a pressão dos estratos superiores sobre elas, então consideradas

desprezíveis, inatamente inferiores, na forma de uma casta de nenhum valor. As diferenças

acentuadas no estilo de vida entre aquelas de cima e as de baixo apresentam-se como

Page 105: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

103

psicologicamente necessárias. Consequentemente, os mais altos estratos tendem a encarar os

direitos políticos dos mais baixos, particularmente o de interferir no poder, como coisa

absurda e imoral (FREIRE, 2002, p. 94).

As classes são posições ao longo de uma distribuição contínua e, portanto, o que posiciona os

indivíduos nas classes não é apenas apresentar ou não uma determinada característica (por

exemplo, ser ou não proprietário de meios de produção), mas também a quantidade possuída

dessa característica (MEDEIROS, 2003, p. 23).

Tabela 16 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por número de residentes

em cada família - Rio de Janeiro, 2010.

Número de pessoas residentes em cada

família, incluindo os entrevistados f %

3 11 36,67

2 9 30,00

4 6 20,00

1 4 13,33

Total 30 100,00

Em relação ao número de pessoas residentes em cada família, incluindo os

entrevistados, 4 entrevistados residiam sozinhos (13,33%), enquanto 6 (20%) com mais 3

pessoas, 9 (30%) com mais 1 pessoa e 11 (36,67%) habitavam com mais 2 pessoas. A renda

familiar total foi aparentemente compatível com o número de residentes em cada família, pois

grande parte relatou que os membros familiares também trabalhavam, embora muitos fossem

também estudantes dependentes e parentes que não trabalhavam.

4.2 Caracterização dos planos de saúde privados contratados e dos exames de alta

complexidade dos sujeitos

Estão elencados abaixo os resultados relativos aos dados coletados nos formulários

dos usuários de planos privados de assistência à saúde quanto às características dos planos de

saúde contratados e dos exames de alta complexidade buscados.

Page 106: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

104

Tabela 17 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por tipo de exame de

imagem de alta complexidade - Rio de Janeiro, 2010.

Tipo de exame de imagem de alta complexidade f %

Ressonância magnética 16 51,61

Tomografia computadorizada 12 38,71

Densitometria óssea 3 9,68

Total 31 100,00

Dos 30 entrevistados, foram realizados um total de 31 exames, sendo que 1 realizou,

simultaneamente, ressonância nuclear magnética e tomografia computadorizada. 51,61%

realizaram ressonância magnética, enquanto 38,71% realizaram tomografia. Apenas 9,68%

dos entrevistados fizeram densitometria óssea.

Os aparelhos de alta complexidade do campo de estudo eram novos e apresentavam as

modalidades abertas e fechadas como opção entre os usuários de planos de saúde

entrevistados. Para ilustrá-los:

Figura 5 - Aparelho aberto de tomografia computadorizada do cenário de estudo.

Fonte: A autora, 2010.

Page 107: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

105

Figura 6 - Aparelho aberto de ressonância magnética do cenário de estudo.

Fonte: A autora, 2010.

Figura 7 - Aparelho fechado de ressonância magnética do cenário de estudo.

Fonte: A autora, 2010.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006), a técnica da ressonância

magnética é datada de 1938 e utiliza ondas de radiofrequência para adquirir informações a

Page 108: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

106

partir dos íons de hidrogênio, não utilizando radiação ionizante. Uma vez dentro do aparelho

de ressonância, os núcleos dos átomos de hidrogênio se alinham em relação ao campo

magnético gerado e são estimulados temporariamente por ondas de radiofrequência,

modificando seu vetor de magnetização e refletindo a energia recebida. Esta é captada por

antenas de radiofrequência e transformada em sinais que compõem a imagem (SOCIEDADE

BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2006).

Os estudos de ressonância magnética são realizados em apneias expiratórias, em geral

facilmente tolerados pelos pacientes, sendo cada vez mais curtas devido à melhora da

tecnologia (podendo ser tão curtas como cinco segundos). Claustrofobia pode ser um

problema para uma pequena parcela dos pacientes (menor que 2.0% em estudos clínicos), mas

usualmente é contornado com orientações pré-procedimento ou medidas simples como a

utilização de ansiolíticos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2006).

A Tomografia Computadorizada (TC) utiliza emissões de feixes de raio-X que cruzam

o corpo do indivíduo. Os raios-X são captados por múltiplas colunas de detectores no lado

oposto da abertura do gerador. Isto gera dados que são reconstruídos em imagens axiais do

coração do paciente. As imagens digitais apresentam variações de atenuações, conforme a

densidade dos tecidos, sendo medidas em unidades denominadas Hounsfield (HU).

Atualmente, os aparelhos de TC estão sendo substituídos pelos aparelhos de múltiplas colunas

de detectores, que apresentam como característica principal o maior número de detectores (4 a

64) na captação do feixe de raio-X. Estes equipamentos podem gerar imagens de alta

resolução espacial e também de alta resolução temporal, devido à alta velocidade de rotação.

Como a TC é baseada na emissão de raios-X, a preocupação com a exposição do paciente à

radiação ionizante deve ser lembrada, sendo contraindicada a sua realização em mulheres

grávidas (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2006).

Tanto a Ressonância Nuclear Magnética (RNM) quanto a TC podem ser divididas, de

acordo com a sua estrutura física, em abertas ou fechadas. A primeira possui a vantagem de

ser mais cômoda para o paciente, com diminuição da sensação claustrofóbica, apresentando,

porém um custo muito superior e possuindo campo magnético de menor intensidade, com

menor resolução da imagem.

No aparelho de densitometria óssea por se tratar de exame radiológico havia

sinalização para advertir mulheres quanto à necessidade de informação de gravidez ou

suspeita de gravidez para o médico e técnico antes do exame de imagem. As vestimentas

plumbíferas para proteção eram necessárias durante o exame para o usuário, e salvo quando

Page 109: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

107

estritamente necessário e autorizado, tais vestimentas se faziam necessárias também para os

acompanhantes que estavam na sala desse exame.

Figura 8 - Aparelho de densitometria óssea do cenário de estudo.

Fonte: A autora, 2010.

A racionalidade para o uso da densitometria óssea ou outro instrumento diagnóstico

em uma estratégia de intervenção para o problema da osteoporose é a de que a identificação

de um subgrupo de mulheres com baixa densidade óssea, e com risco aumentado de fraturas,

serviria de base a uma terapia efetiva (prevenção secundária), resultando em menos fraturas

no futuro.

Blake e Fogelman (2010) referem que a densitometria óssea pode fornecer valores

precisos e reprodutíveis para o conteúdo mineral ósseo (CMO) e densidade mineral óssea

(DMO) na coluna lombar, fêmur proximal, rádio distal e em todas as estruturas ósseas

corporais. A densitometria óssea tem muitas vantagens. A exposição à radiação é mínima, e

tempo de varredura é curta (5 a 20 minutos) e a variabilidade das leituras repetidas é menos de

2% para a coluna lombar e menos de 3% para o fêmur proximal. Entre as principais

desvantagens da densitometria óssea se destacam o custo relativamente caro do teste e as

medidas ântero-posteriores da coluna lombar em pacientes mais velhos estão sujeitos a erros

causados por calcificação aórtica e alterações osteoartríticas. A densitometria óssea é usada

para diagnosticar a osteoporose ou baixa densidade mineral óssea, a estimativa do risco futuro

Page 110: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

108

de fratura, e para monitorar as mudanças da DMO ao longo do tempo. A densitometria óssea

não deve ser feito em mulheres grávidas ou que possam estar grávidas, porque a radiação

ionizante, ainda que em doses muito pequenas, pode ser deletéria para o concepto (BLAKE;

FOGELMAN, 2010).

Tabela 18 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por tipo de indicação médica clínica

principal do exame de alta complexidade - Rio de Janeiro, 2010.

Indicação médica clínica principal do exame de alta complexidade f %

Dor em parte do corpo 7 23,33

Doenças osteomusculares (Osteopenia, Acidente, Hérnia discal,

Dormência de membro superior, confirmação diagnóstica de lesão) 6 20,00

Distúrbios respiratórios (Pneumonia, Tosse, Obstrução nasal) 5 16,67

Doenças degenerativas (Atrofia de membro inferior, Condromalácia

patelar) 3 10,00

Pós-Cirurgia e controle quimioterápico 3 10,00

Pré-Operatório 2 6,67

Prevenção 2 6,67

Outras patologias (Hipertensão arterial, Ovário micropolicístico) 2 6,67

Total 30 100,00

As indicações médicas clínicas dos exames dos entrevistados variaram entre

osteopenia, prevenção, hérnia discal, hipertensão arterial, atrofia de membro inferior, dor em

parte diversa do corpo, pneumonia, confirmação diagnóstica de lesão, obstrução nasal, doença

degenerativa, tosse, pós-cirurgia e controle quimioterápico, pré-operatório, acidente,

dormência de membro superior, ovário micropolicístico e condromalácia patelar.

Nesta análise sobressaiu a indicação médica de dor em parte do corpo com 23,33%;

seguidas de doenças osteomusculares, com 20%; distúrbios respiratórios com 16,67%;

doenças degenerativas com 10%; pós-cirurgia e controle quimioterápico; pré-operatório;

prevenção e outras patologias com 6,67% cada.

Considerando que o objeto desse estudo foi o acesso aos exames de alta complexidade

na perspectivas dos usuários, cabe ressaltar que não existem dados suficientes nessa pesquisa

para deduzir risco moral de prestadores médicos de serviços que poderiam estar prescrevendo

exames de alta complexidade para sintomas inespecíficos como dor, antes da consolidação do

diagnóstico por anamneses e exames clínicos em um primeiro atendimento no consultório.

Page 111: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

109

Tabela 19 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por caráter

da solicitação médica - Rio de Janeiro, 2010.

Caráter da solicitação médica f %

Eletivo 17 56,67

Urgência / Emergência 11 36,67

Branco / Nulo 2 6,67

Total 30 100,00

O caráter de solicitação médica predominante foi o eletivo, o que mesmo não sendo

considerado de urgência e emergência médica pré-exame de alta complexidade, foi

contemplado com rapidez na avaliação descritiva dos entrevistados (Tabela 18, f.108).

A quantidade total de entrevistados por operadora de plano privado de assistência à

saúde foi em ordem decrescente: 7 (23,33%) para a Bradesco Saúde, 6 (20%) para a Sul

América Seguro Saúde, 4 (13,33%) para Caixa de Assistência dos funcionários do Banco do

Brasil (CASSI), 3 (10%) para Golden Cross Assistência Internacional de Saúde, seguidos de

um entrevistado cada para as outras operadoras (3,33%), como a Garantia de Saúde-

Operadora Unieste de Planos de Saúde; Gama Saúde; Instituto Oswaldo Cruz de Seguridade

Social (FIOPREV); Associação dos Fiscais de Rendas do Estado do Rio de Janeiro

(AMAFRERJ); Caixa Assistencial Universitária do Rio de Janeiro (CAURJ); Mediservice

Administradora de Planos de Saúde; Caixa de Assistência à Saúde (CABERJ); São Bernardo

Saúde-Casa de Saúde São Bernardo, IRB-Brasil RE-IRB Brasil Resseguros e Medial Saúde

Rio de Janeiro (Tabela 19).

Observou-se que a maioria dos planos dos entrevistados pertencia a uma classe top de

linha, o que caracteriza um plano de alto padrão, bem como os produtos comercializados

pelas operadoras variaram conforme a quantidade e qualidade da rede credenciada. Portanto,

infere-se que independente do caráter da solicitação do pedido de exame médico, seja ele

eletivo ou urgência/emergência, prepondera para a garantia do acesso na saúde suplementar o

tipo de produto do plano de saúde privado contratado pelo usuário.

Page 112: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

110

Tabela 20 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por quantidade de usuário titular ou

dependente de plano de saúde por operadora - Rio de Janeiro, 2010.

Operadoras dos planos privados

de assistência à saúde

Classificação quanto à quantidade de usuário de plano de saúde por

operadora

Titulares

Dependentes Geral por Operadora do

Plano Privado de

Assistência a Saúde f % f % f %

Bradesco Saúde 6 20 1 3,33 7 23,33

Sul América Seguro Saúde 5 16,67 1 3,33 6 20,00

Caixa de Assistência dos

Funcionários do Banco do Brasil

(CASSI)

3 10 1 3,33 4 13,33

Golden Cross Assistência

Internacional de Saúde 2 6,67 1 3,33 3 10,00

Garantia de Saúde - Operadora

Unieste de Planos de Saúde 1 3,33 0 0 1 3,33

Gama Saúde 1 3,33 0 0 1 3,33

Instituto Oswaldo Cruz de

Seguridade Social (FIOPREV) 0 0 1 3,33 1 3,33

Associação dos Fiscais de Rendas

do Estado do Rio de Janeiro

(AMAFRERJ)

1 3,33 0 0 1 3,33

Caixa Assistencial Universitária do

Rio de Janeiro (CAURJ) 1 3,33 0 0 1 3,33

Mediservice Administradora de

Planos de Saúde 1 3,33 0 0 1 3,33

Caixa de Assistência à Saúde

(CABERJ) 1 3,33 0 0 1 3,33

São Bernardo Saúde-Casa de

Saúde São Bernardo 1 3,33 0 0 1 3,33

Brasil RE-IRB Brasil Resseguros

(IRB) 1 3,33 0 0 1 3,33

Medial Saúde Rio de Janeiro 1 3,33 0 0 1 3,33

Total 25 83,33 5 16,67 30 100,00

De acordo com os dados coletados, embora o laboratório analisado contemplasse mais

de 60 planos de saúde credenciados, apenas 14 operadoras distintas dos 30 sujeitos

entrevistados apareceram no estudo. Dentre as 14, as seguradoras Bradesco Saúde e Sul

América Seguro Saúde foram as que mais apareceram para sujeitos titulares na sua

predominância, sendo 20% para a operadora Bradesco e 16,67% para Sul América. A

autogestão CASSI apresentou 10% de frequência, enquanto a Golden Cross Assistência

Internacional de Saúde foi a 4ª operadora que apresentou mais entrevistados nessa pesquisa. As

demais operadoras tiveram uma representatividade equivalente a um.

Page 113: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

111

Tabela 21 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por tipo de contratação

- Rio de Janeiro, 2010.

Tipo de contratação dos planos privados de

assistência à Saúde f %

Coletivo Empresarial 17 56,67

Individual/ Familiar 7 23,33

Coletivo por Adesão 6 20,00

Total 30 100,00

Tabela 22 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por contratação individual ou

familiar de acordo com atividade laborativa ou inatividade - Rio de

Janeiro, 2010.

Entrevistados com plano de saúde individual ou familiar f %

Aposentados 4 57,14

Não Aposentados 3 42,86

Total 7 100,00

Dos 30 entrevistados 17 apresentaram contratação coletivo empresarial (56,67%), 7

individual ou familiar (23,33%) e 6 (20%) têm contratação coletiva por adesão.

A maioria tem contratação empresarial que está associada ao vinculo empregatício e

não aposentado, o que caracteriza que os planos de saúde empresariais representam uma

importante parcela de contratação dos planos privados de assistência à saúde, o que é ilustrado

na correspondência com os dados do Sistema de Informação dos Beneficiários (SIB) da ANS,

com referência ao período de dezembro de 2009 (Gráfico 1, f. 62).

Pessoto et al. (2007) referem que os planos de saúde são obtidos predominantemente

pelas empresas empregadoras, cujos beneficiários são trabalhadores formais na faixa etária de

18 a 50 anos, com forte proeminência para a faixa de 31 a 50 anos (54,5%).

Na amostra deste estudo, percebeu-se, também, que dos 23,33% dos entrevistados que

tinham plano individual, 57,14% eram aposentados e os outros 42,86% correspondiam às

pessoas que a empresa, na qual trabalhavam, não oferecia plano de saúde como benefício

(Tabelas 21 e 22).

A cobertura contratada no plano privado de saúde foi a global, algumas com

odontologia e outras sem, mas vigorando a segmentação completa ambulatorial e internações

hospitalares com obstetrícia.

Page 114: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

112

Tabela 23 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por tipo de contratação por operadora de

plano de saúde - Rio de Janeiro, 2010.

As operadoras Bradesco Saúde (16,67%) e Sul América Seguro Saúde (13,33%)

concentram na contratação empresarial a maior quantidade de entrevistados que realizaram os

exames de alta complexidade. A CASSI tem uma representatividade empresarial igual à

contratação coletiva por adesão (6,67%), o que também corrobora que para essa operadora

todos os usuários que realizaram exames de alta complexidade tinham vínculo empregatício

com a empresa ou era dependente do usuário que tinha o vínculo. Em contraposição, a Golden

Cross Assistência Internacional de Saúde na contratação individual ou familiar apresentou

uma frequência de usuários de exames de alta complexidade de (6,67%), contra (3,33%) para

a contratação empresarial. Garantia de Saúde - Operadora Unieste de Planos de Saúde e São

Operadoras dos planos privados de

assistência à saúde

Quantidade de Usuário de Plano Saúde por tipo de contratação

por operadora

Empresarial Individual/

Familiar Adesão

f % f % f %

Bradesco Saúde 5 16,67 2 6,67 0 0,00

Sul América Seguro Saúde 4 13,33 1 3,33 1 3,33

Caixa de Assistência dos Funcionários do

Banco do Brasil (CASSI) 2 6,67 0 0,00 2 6,67

Golden Cross Assistência Internacional de

Saúde 1 3,33 2 6,67 0 0,00

Garantia de Saúde-Operadora Unieste de

Planos de Saúde 0 0,00 1 3,33 0 0,00

Gama Saúde 1 3,33 0 0,00 0 0,00

Instituto Oswaldo Cruz de Seguridade

Social (FIOPREV) 0 0,00 0 0,00 1 3,33

Associação dos Fiscais de Rendas do

Estado do Rio de Janeiro (AMAFRERJ) 0 0,00 0 0,00 1 3,33

Caixa Assistencial Universitária do Rio de

Janeiro (CAURJ) 0 0,00 0 0,00 1 3,33

Mediservice Administradora de Planos de

Saúde 1 3,33 0 0,00 0 0,00

Caixa de Assistência à Saúde (CABERJ) 1 3,33 0 0,00 0 0,00

São Bernardo Saúde-Casa de Saúde São

Bernardo 0 0,00 1 3,33 0 0,00

Brasil RE-IRB Brasil Resseguros (IRB) 1 3,33 0 0,00 0 0,00

Medial Saúde Rio De Janeiro 1 3,33 0 0,00 0 0,00

Total 17 56,67 7 23,33 6 20,00

Total percentual geral 100,00%

Page 115: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

113

Bernardo Saúde-Casa de Saúde São Bernardo tiveram representatividade absoluta na

contratação individual ou familiar (3,33%). FIOPREV, AMAFRERJ e CAURJ tiveram

representatividade absoluta na contratação coletiva por adesão (3,33%). A Gama Saúde,

Mediservice Administradora de Planos de Saúde, CABERJ, IRB-Brasil Resseguros e a

Medial Saúde Rio de Janeiro contemplaram todos os seus usuários na contratação empresarial

(3,33%).

Tabela 24 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por plano de saúde com

coparticipação - Rio de Janeiro, 2010.

Planos Privados de Saúde com

coparticipação f %

Não 18 60,00

Sim 7 23,33

Branco/ Nulo 5 16,67

Total 30 100,00

Alguns planos de saúde dos entrevistados tinham coparticipação, ou seja, acréscimos

nas mensalidades nos planos de saúde cada vez que usufruíam de algum serviço na sua

condição ambulatorial. Dezoito entrevistados relataram não ter coparticipação (60%), em

detrimento de 7 que apresentavam (23,33%). A coparticipação é uma medida utilizada pelas

operadoras para controlar gastos de saúde e funciona como um fator moderador de uso dos

serviços pelo beneficiário, por que

[...] as operadoras e prestadores têm desenvolvido mecanismos microrregulatórios para

sobreviver ao mercado e à regulação da ANS. Alguns desses mecanismos são conhecidos,

como a instituição de protocolos, de mecanismos de referência e fluxos que dificultam a

solicitação de alguns procedimentos, o co-pagamento, fatores moderadores, dentre outros. A

existência desses mecanismos de microrregulação resulta na fragmentação do cuidado, que se

torna centrado na lógica da demanda e da oferta do que foi contratado e não na lógica da

produção da saúde, do cuidado (MALTA et al., 2004, p.436-437).

Como efeito desse entendimento, os mecanismos microrregulatórios de racionamento

dos gastos com saúde dos beneficiários pelas operadoras de planos privados de saúde

comprometem a qualidade da assistência prestada com base na lógica excludente do mercado.

A redução de custos é uma prática microrregulatória que está presente também em

situações em que a operadora de planos privados de saúde investe na ampliação da rede

própria, na redução de rede de serviços, nos mecanismos de direcionamento para redes de

Page 116: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

114

menor custo e na adaptação ao mercado local, oferecendo planos de menor custo e de mais

fácil comercialização (SANTOS; MALTA; MERHY, 2008).

Tabela 25 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por plano de saúde com

coparticipação por tipo de contratação - Rio de Janeiro, 2010.

Planos com coparticipação por

tipo de contratação

Quantidade de entrevistados com plano

com coparticipação por tipo de

contratação

%

Coletivo Empresarial 6 85,71

Coletivo por Adesão 1 24,29

Total 7 100,00

Dos 30 entrevistados, 7 declararam existir coparticipação. Dos que declararam ter

plano com coparticipação, 6 (85,71%) deles pertenciam a planos empresariais, em detrimento

de 1 pessoa, com plano de saúde por adesão (24,29%).

Page 117: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

115

Tabela 26 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por tempo de vigência dos planos privados

de saúde dos entrevistados por operadora - Rio de Janeiro, 2010.

Operadoras dos planos privados de

assistência à saúde

Tempo de vigência dos planos privados de saúde dos

entrevistados por operadora

Posterior à Lei

9.656/1998

Anterior à Lei

9.656/1998 Branco / Nulo

f % f % f %

Bradesco Saúde 4 13,33 3 10,00 0 0,00

Sul América Seguro Saúde 6 20,00 0 0,00 0 0,00

Caixa de Assistência dos Funcionários

do Banco do Brasil (CASSI) 1 3,33 3 10,00 0 0,00

Golden Cross Assistência Internacional

de Saúde 2 6,67 1 3,33 0 0,00

Garantia de Saúde - Operadora Unieste

de Planos de Saúde 0 0,00 1 3,33 0 0,00

Gama Saúde 0 0,00 0 0,00 1 3,33

Instituto Oswaldo Cruz de Seguridade

Social (FIOPREV) 0 0,00 0 0,00 1 3,33

AMAFRERJ - Associação dos Fiscais

de Rendas do Estado do Rio de Janeiro 0 0,00 0 0,00 1 3,33

Caixa Assistencial Universitária do Rio

de Janeiro (CAURJ) 1 3,33 0 0,00 0 0,00

Mediservice Administradora de Planos

de Saúde 1 3,33 0 0,00 0 0,00

Caixa de Assistência à Saúde (CABERJ) 0 0,00 0 0,00 1 3,33

São Bernardo Saúde - Casa de Saúde

São Bernardo 1 3,33 0 0,00 0 0,00

Brasil RE-IRB Brasil Resseguros (IRB) 0 0,00 1 3,33 0 0,00

Medial Saúde Rio de Janeiro 1 3,33 0 0,00 0 0,00

Total 17 56,67 9 30,00 4 13,33

Total percentual geral 100,00%

A maioria dos entrevistados apresentou planos novos, posteriores à Lei nº 9.656/1998

(56,67%), enquanto (30%) apresentaram planos tradicionais anteriores a esta Lei.

Antes da regulamentação pela lei 9.656/1998 existiam vários mecanismos de controle

de custos com as despesas da saúde de seus beneficiários, permitindo manter o número de

expostos sob controle, reduzindo as possibilidades de acesso à utilização dos serviços,

negando cobertura ou excluindo o usuário (MONTONE, 2009). Percebeu-se que a frequência

maior dos usuários de planos antigos envolveu as operadoras Bradesco Saúde e CASSI. No

grupo de usuários de planos antigos não foi relatada barreira para os exames de alta

complexidade desse estudo. Contudo, em relação à abusividade nos contratos antigos,

destaca-se que

Page 118: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

116

a decisão do STF reforçando a plena vigência dos contratos antigos e as dificuldades do

processo de sua adequação à regulamentação colocam na agenda da ANS a necessidade de

uma articulação com o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor e ajustes no poder

regulatório da agência, de maneira a permitir que ela desenvolva e implante uma sistemática

ágil e eficaz de declarar a abusividade de cláusulas dos contratos antigos (MONTONE, 2009,

p.119).

Segundo Santos, Malta e Merhy (2008), as operadoras de planos privados de saúde

impetraram Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) nº 1931-98 no Supremo Tribunal

Federal para evitar a retroatividade dos efeitos regulatórios da Lei nº 9.656/1998, e com a

decisão baseada no „ato jurídico perfeito‟, a regulação de planos antigos se concentrou às

questões mais gerais da regulação, não especificadas em contratos anteriores à lei supra.

A permanência de planos anteriores paralelos aos posteriores à Lei nº 9.656/98

caracteriza a maior fonte de conflitos no processo regulatório, visto que as regras contratuais

são distintas, evidenciando-se uma atuação regulatória também distinta. Não se inclui na

regulação dos planos antigos a fixação de reajustes de mensalidades, o rol obrigatório de

procedimentos, dentre outras exceções que não são reguladas nos planos antigos, acirrando

conflitos cotidianos entre operadoras, judiciário e órgão de defesa do consumidor (SANTOS;

MALTA; MERHY, 2008).

De acordo com Bahia (2001, p.336), “os conflitos só se manifestam quando se discute

qual é o objeto e a intensidade da regulamentação”.

Conforme Bahia (2001), o Ministério da Saúde desistiu da exigência da adaptação dos

contratos antigos às inclusões das coberturas previstas pela legislação (Medida Provisória

1908-17), devido a pressões por grandes seguradoras e entidades de defesa do consumidor.

Pelo risco de elevação abrupta das mensalidades dos planos de saúde, devido à ampliação

requerida para maior cobertura de procedimentos, exclusivamente para beneficiários de

planos individuais do tipo executivo, legitimou-se na prática, o direito do consumidor de

escolher manter-se a um plano mais barato, porém com maiores restrições de cobertura em

serviços de saúde.

Montone (2009) corrobora com Bahia (2001) quando reitera que a adaptação foi

transformada em um direito do usuário para solicitação deste processo a qualquer tempo.

Embora a ANS tenha fomentado programa de incentivo à adaptação dos contratos

anteriores à Lei nº 9.656/1998 tal ação não teve o êxito esperado. A desvantagem para

usuários de planos antigos é a cobertura assistencial reduzida com exclusão de procedimentos

(MONTONE, 2009).

Ao analisar esta questão ainda que aparentemente os custos dos planos antigos sejam

menores que os dos planos novos não há compensação positiva para o beneficiário de plano

Page 119: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

117

antigo pela maior restrição de cobertura assistencial, principalmente para doenças crônicas-

degenerativas e de maior gravidade prognóstica.

Page 120: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

118

Tabela 27 - Distribuição dos sujeitos entrevistados por modalidade de plano de saúde, de

acordo com a faixa de beneficiários - Rio de Janeiro, 2010.

Operadoras dos

planos privados de

assistência à saúde

Modalidade*

Total de

entrevistados

por operadora

Faixa de

beneficiários *

(Lei 9656/98)

Faixa de

beneficiários*

(RDC 24)

Porte*

(RN 26)

Bradesco Saúde

Seguradora

especializada

em saúde

7 maior ou igual a

20.000

A partir de

200.001 Grande

Sul América Seguro

Saúde

Seguradora

especializada

em saúde

6 maior ou igual a

20.000

A partir de

200.001 Grande

Caixa de Assistência

dos Funcionários do

Banco do Brasil

(CASSI)

Autogestão 4 maior ou igual a

20.000

A partir de

200.001 Grande

Golden Cross

Assistência

Internacional de

Saúde

Medicina de

grupo 3

maior ou igual a

20.000

A partir de

200.001 Grande

Garantia de Saúde -

Operadora Unieste

de Planos de Saúde

Medicina de

grupo 1

menor que

20.000

De 10.001 a

100.000 Pequeno

Gama Saúde Medicina de

grupo 1

maior ou igual a

20.000

De 10.001 a

100.000 Médio

Instituto Oswaldo

Cruz de Seguridade

Social (FIOPREV)

Autogestão 1 menor que

20.000

De 10.001 a

100.000 Pequeno

Associação dos

Fiscais de Rendas do

Estado do Rio de

Janeiro

(AMAFRERJ)

Autogestão 1 menor que

20.000

De 1.001 a

10.000 Pequeno

Caixa Assistencial

Universitária do Rio

de Janeiro (CAURJ)

Autogestão 1 menor que

20.000

De 1.001 a

10.000 Pequeno

Mediservice

Administradora de

Planos de Saúde

Medicina de

grupo 1

maior ou igual a

20.000

A partir de

200.001 Grande

Caixa de Assistência

à Saúde (CABERJ)

Medicina de

grupo 1

maior ou igual a

20.000

De 10.001 a

100.000 Médio

São Bernardo Saúde

- Casa de Saúde São

Bernardo

Medicina de

grupo 1

maior ou igual a

20.000

De 100.001 a

200.000 Grande

Brasil RE-IRB

Brasil Resseguros

(IRB)

Autogestão 1 menor que

20.000

De 1.001 a

10.000 Pequeno

Medial Saúde Rio de

Janeiro

Medicina de

grupo 1

menor que

20.000

Sem

beneficiários

ativos

Pequeno

Fonte: AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, 2010h.

Legenda: Resolução Normativa (RN); Resolução de Diretoria Colegiada (RDC).

Page 121: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

119

Tabela 28 - Distribuição da quantidade de modalidade de plano de saúde dos sujeitos

entrevistados - Rio de Janeiro, 2010.

Tipo de Modalidade da Operadora de Plano de

Saúde

Quantidade de

Modalidade %

Seguradora Especializada em Saúde 2 14,29

Autogestão 5 35,71

Medicina de Grupo 7 50,00

Total 14 100,00

Tabela 29 - Distribuição da quantidade de sujeitos entrevistados por modalidade

de plano de saúde - Rio de Janeiro, 2010.

Tipo de Modalidade da Operadora de Plano de

Saúde

Quantidade de

entrevistados %

Seguradora Especializada em Saúde 13 43,33

Autogestão 8 26,66

Medicina de Grupo 9 30,00

Total 30 100,00

Reitera-se que a maior concentração de sujeitos entrevistados eram beneficiários das

seguradoras especializadas em saúde (43,33%), embora tivesse sido a modalidade de plano de

saúde com menor percentual no estudo (14,29%). Em contrapartida, a modalidade de plano

de saúde predominante no estudo foram as Medicinas de Grupo (50%), porém com 9

entrevistados ao todo (30%). Já as autogestões apresentaram 8 entrevistados (26.66%), com

uma distribuição de modalidade representada por 35,71% (Tabelas 28 e 29).

A Medial Saúde Rio de Janeiro está sem beneficiários ativos (Tabela 27), pois foi

incorporada a outra operadora de plano privado de assistência à saúde, de acordo com o

Sistema de Informações Gerenciais da Agência Nacional de Saúde Suplementar (2010h).

Quanto à faixa de beneficiários, existem normativos na saúde suplementar que

classificam as operadoras de planos privados de assistência à saúde em portes, a partir de

número de beneficiários e outros critérios.

A Resolução Normativa nº 26 da ANS, de 1 de abril de 2003 considera pequeno porte

as operadoras com número de beneficiários inferior a 20.000; médio porte com número de

beneficiários entre 20.000 e 100.000; e grande porte as operadoras com número de

beneficiários superior a 100.000 (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR,

2003).

Page 122: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

120

De acordo com o porte das operadoras de planos de saúde, com base no número de

beneficiários cadastrado na ANS é feito o cálculo do valor das multas após lavratura dos autos

de infração dessas operadoras, o que paralelo a esse estudo, caso os sujeitos entrevistados não

tivessem realizado os exames de alta complexidade no laboratório da pesquisa em prazo

menor ou igual a 21(vinte e um) dias caberiam multas pecuniárias, conforme a quantidade de

beneficiários ou sob análise de caso específico para verificar se a multa seria estendida com

base na carteira integral de beneficiários da operadora.

Cada prazo máximo de atendimento não praticado pelas operadoras ensejariam multas

em função da demora da liberação das autorizações, pois as consequências da demora

poderiam implicar em atos lesivos para o beneficiário (Tabela 1, f. 64). Assim, torna-se

importante a não resiliência do beneficiário que quando procura um serviço contratado do seu

plano de saúde às vezes aceita passivamente negativas de cobertura ou prazos de atendimento

exageradamente longos.

De acordo com a Resolução de Diretoria Colegiada nº 39 da ANS, de 27 de outubro de

2000, as operadoras podem ser classificadas em administradora; cooperativa médica;

cooperativa odontológica; autogestão; medicina de grupo; odontologia de grupo ou

filantropia. Para tais definições, assim, denominam-se na legislação da saúde suplementar:

As administradoras são [...] as empresas que administram planos ou serviços de assistência à

saúde, sendo que, no caso de administração de planos, são financiados por operadora, não

assumem o risco decorrente da operação desses planos e não possuem rede própria,

credenciada ou referenciada de serviços médico-hospitalares ou odontológicos; as

cooperativas médicas são [...] as sociedades de pessoas sem fins lucrativos, constituídas

conforme o disposto na Lei n.º 5.764, de 16 de dezembro de 1971, que operam Planos

Privados de Assistência à Saúde; as cooperativas odontológicas são [...] as sociedades de

pessoas sem fins lucrativos, constituídas conforme o disposto na Lei n.º 5.764, de 16 de

dezembro de 1971, que operam exclusivamente Planos Odontológicos; as autogestões são as

[...] que operam serviços de assistência à saúde ou empresas que, por intermédio de seu

departamento de recursos humanos ou órgão assemelhado, responsabilizam-se pelo Plano

Privado de Assistência à Saúde destinado, exclusivamente, a oferecer cobertura aos

empregados ativos, aposentados, pensionistas ou ex-empregados, bem como a seus

respectivos grupos familiares definidos, limitado ao terceiro grau de parentesco consanguíneo

ou afim, de uma ou mais empresas, ou ainda a participantes e dependentes de associações de

pessoas físicas ou jurídicas, fundações, sindicatos, entidades de classes profissionais ou

assemelhados; as medicinas de grupo são [...] as empresas ou entidades que operam Planos

Privados de Assistência à Saúde, excetuando-se aquelas classificadas nas modalidades

contidas nas Seções I, II, IV e VII desta Resolução, as odontologias de grupo são as [...]

empresas ou entidades que operam exclusivamente Planos Odontológicos, excetuando-se

aquelas classificadas na modalidade contida na Seção III desta Resolução;as filantropias são

as entidades sem fins lucrativos que operam Planos Privados de Assistência à Saúde e tenham

obtido certificado de entidade filantrópica junto ao Conselho Nacional de Assistência Social-

CNAS e declaração de utilidade pública federal junto ao Ministério da Justiça ou declaração

de utilidade pública estadual ou municipal junto aos Órgãos dos Governos Estaduais e

Municipais (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, 2000b, p.4).

As seguradoras especializadas em saúde, de acordo com Albuquerque et al. (2008,

p.1423), são “sociedades seguradoras autorizadas a operar planos de saúde”. Para Montone

Page 123: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

121

(2009), nessas modalidades, além dos prestadores serem referenciados, pode ocorrer o

reembolso de despesas ao segurado ou pagamento direto a esses prestadores.

O maior número de entrevistados da amostra da pesquisa identificado como

pertencente às seguradoras especializadas em saúde possivelmente foi devido ao maior porte

de sua classificação na ANS, em relação ao número de beneficiários. Não foram identificadas

na pesquisa as administradoras, cooperativas médicas e filantropias. O segmento odontológico

das cooperativas odontológicas e odontologias de grupo por não estar relacionado ao objeto

do estudo não foi identificado na pesquisa, embora a segmentação odontológica pudesse estar

incluída em contrato de assistência global que assegurasse todas as segmentações das

operadoras de planos privados de saúde, dependendo da composição contratual do plano de

cada sujeito entrevistado.

4. 3 A percepção do acesso aos exames de alta complexidade

A percepção é influenciada pela experiência prévia imediata ou longínqua, onde na

maioria das vezes, é difícil explicar o seu modo de atuação e pouco se sabe sobre os

mecanismos neurais que estariam relacionados neste processo. O ambiente possibilita

desenvolver capacidades perceptivas específicas a partir da aprendizagem da identificação de

certas características em determinados estímulos (SIMÕES; TIEDEMANN; RAPPAPORT,

1985).

O bom atendimento durante a realização de exames de imagem de alto custo e

complexidade nos planos privados de saúde parece funcionar como um estímulo importante

na aprendizagem experimentada pelos sujeitos da pesquisa. Destacam-se para Simões,

Tiedemann e Rappaport (1985, p.92), que “os conhecimentos de percepção têm inúmeras

aplicações, algumas indiretas, como informações complementares, outras diretas”.

Trazer à tona os conhecimentos percebidos pelos usuários de planos de saúde permite

decodificar significados implícitos na subjetividade contextual de cada entrevistado para o

objeto desse estudo. De acordo com Simões, Tiedemann e Rappaport (1985), fenômenos

perceptivos ajudam a revelar o funcionamento cerebral, o que, em última análise, significa

conhecer o ser humano e o seu comportamento.

Foram analisadas as respostas dos 30 sujeitos entrevistados sobre a percepção do

acesso aos exames de alta complexidade, adotando-se a técnica de análise de conteúdo-

Page 124: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

122

temática categorial de Bardin (1977), sistematizada por Oliveira (2008), com adaptações

próprias, de forma a explorar os conhecimentos descritivos na ótica dos usuários de planos de

saúde.

Para essa análise foram identificadas 1387 unidades de registro (UR), subdivididas em

pré-categorias, as quais foram contidas em 5 categorias distribuídas da seguinte forma:

o acesso aos exames de alta complexidade;

os conhecimentos dos direitos contratados nos planos de saúde;

motivações para realizar os exames de complexidade nos planos de saúde,

ao invés do SUS;

nível de satisfação acerca do plano de saúde;

percepção de atendimento no SUS;

4.3.1 O acesso aos exames de alta complexidade

A institucionalização de saberes e práticas possibilitam maior efetivação do direito à

saúde, que se relaciona também com a postura do usuário voltada também para a política

pública, para que se possa atuar na sua formulação, execução e fiscalização (ASENSI, 2010).

Para Assis, Villa e Nascimento (2003, p.820), “os usuários delimitam o acesso à sua

condição socioeconômica, pois consideram que a oferta dos serviços públicos fica na

dependência de intervenção do Estado na organização da rede de atendimento”.

A categoria “Acesso aos exames de alta complexidade”, representada por 44,20% do

total percentual de unidades de registro das falas dos entrevistados, contém as seguintes pré-

categorias: Percepção do acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde;

Barreiras de acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde; Facilidade de

acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde; Conhecimento sobre a rede

credenciada ou própria do plano de saúde e sobre o número e qualidade de outros

laboratórios; Percepção do tempo sobre a data do pedido médico do exame; Percepção sobre a

data do agendamento do pedido médico do exame; Percepção do tempo sobre a data de

autorização do exame de alta complexidade pelo plano de saúde; Percepção do tempo na sala

de espera antes da realização do exame; Conhecimento sobre conteúdo das confirmações de

atendimentos médicos das operadoras para os exames, conforme pode ser observado nos

apêndices D e E.

Page 125: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

123

A pré-categoria 1.1, denominada “Percepção do acesso aos exames de alta

complexidade nos planos de saúde” traduz a vivência experimentada pelo usuário de plano de

saúde durante a etapa de realização do exame de imagem prescrito no cenário da pesquisa.

Essa vivência descrita apresentou a dimensão de um acesso fácil, sem problemas e rápido. As

falas nesta categoria foram afirmativas diretas como os exemplos abaixo:

Fácil, acesso até pela Internet, acesso com facilidade. (E8)

Não tive nenhum problema para marcar. (E29)

Uma rapidez de 100%. (E22)

Nesse sentido, observou-se que todos os usuários entrevistados consideram o acesso

funcionante para os exames de alta complexidade, referindo-se, sobretudo ao agendamento e a

realização dos exames.

A pré-categoria 1.2, denominada “Barreiras de acesso aos exames de alta

complexidade nos planos de saúde” retrata as principais barreiras enfrentadas pelos usuários

nos planos de saúde, porém não relacionadas às barreiras para os exames de complexidade

desse estudo, tal como é evidenciado nas seguintes falas:

Não, no meu plano não. (E2)

Não tenho tido nenhuma barreira. (E7)

Não encontrei barreira. (E14)

As barreiras citadas em ocasiões diversas foram as relacionadas com a idade avançada,

assim como se verifica na fala:

Quando chega a certa idade, as pessoas têm muito preconceito. (E1)

Uma segunda barreira descrita nas entrevistas foram as ligadas aos planos anteriores à

Lei 9.656/1998 e às pessoas com deficiência, como:

Alguns planos de saúde criam resistência com planos antigos. (E9)

As barreiras maiores são do próprio local que não são locais apropriados para a pessoa com

deficiência ou dificuldade de locomoção. (E10)

Foram descritas barreiras de acesso relacionadas à liberação de material e autorização

para procedimento cirúrgico:

Page 126: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

124

Meu marido teve um acidente e botou 6 pinos e meia placa, foi meio complicado em relação à

liberação desse material. (E5)

Eu tive uma só cirurgia de miopia, tinha restrição de grau e a partir de tal grau, o plano não

cobre. (E6)

Ainda sobre as barreiras da categoria 1.0, uma parcela de usuários de planos de saúde

relatou dificuldades com a rede credenciada e com a sua própria agenda de compromissos:

A única barreira é por causa do laboratório que a gente tem que ficar só com ele. (E23)

A maior dificuldade é encontrar um horário que se encaixe no meu dia a dia. (E25)

Nessa pré-categoria 1.2 para o objeto de estudo em voga não houve barreira

evidenciada para a efetiva realização do exame de alta complexidade, porque todos os

usuários entrevistados tiveram suas necessidades atendidas prontamente. De qualquer forma,

foi espontânea a listagem de entraves elencados em vários discursos que correspondiam a

contextos distintos sobre uso de planos, a partir dos quais se elucidaram histórias de fatos

vividos e compartilhados pelos próprios usuários, parentes, amigos e empregados, incluindo

dificuldades para realização de programa home care, tratamentos fisioterápicos, reeducação

postural global (RPG), exercícios de Pilates para proteção do sistema locomotor e para

condicionamento postural, reembolsos parciais, demorados e negados de procedimentos.

Entre os que mencionaram tais entraves, notam-se nas falas:

Barreiras de acesso são só para atendimentos, exemplo, fazer Pilates e RPG. (E15)

Home Care que nunca teve, eles negaram 7 meses. (E17)

Na pré-categoria 1.3, designada “Facilidades de acesso aos exames de alta

complexidade nos planos de saúde” foram analisados dois temas por unidade de significação,

divididos em atendimento burocrático e não burocrático do prestador de serviços e operadora.

Daí observou-se que a maioria dos entrevistados considerou não burocrático o atendimento

recebido pela rede privada de assistência, de tal modo como foram reportados:

Para esse exame não tenho tido nenhum empecilho, nenhuma restrição. (E25)

É fácil encontrar laboratórios que façam exames. (E29)

Eu preciso fazer muitos exames e sempre são autorizados. (E30)

Page 127: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

125

No aspecto burocrático desse atendimento apenas um entrevistado pronunciou-se

afirmando que não encontrava facilidade:

Facilidade nenhuma. (E27)

Portanto, evidencia-se praticamente nenhuma burocracia que dificultasse a aquisição

desses exames de imagem analisados no estudo.

Na pré-categoria 1.4 “Conhecimento sobre a rede credenciada ou própria do plano e

sobre número e qualidade de outros laboratórios” existem qualidades descritas pelos sujeitos

entrevistados como positivas e características negativas vinculadas aos planos de saúde.

Quanto às qualidades positivas da rede atreladas a quantidade de prestadores credenciados e

equipamentos, a maior referência anunciada pelos entrevistados foi a variedade para escolha

de prestadores com alto padrão de qualidade e quantidade de laboratórios renomados,

ilustradas pelas seguintes falas:

Procurei ver os laboratórios grandes. (E6)

Tem um monte de locais que eu posso fazer todos esses exames do mesmo porte e da mesma

qualidade. (E10)

Tem uma boa quantidade e qualidade boa. (E13)

Eles são muito bons. (E30)

De acordo com a concepção dos entrevistados, a maioria descreveu como significado

similar de quantidade e qualidade de serviços privados de saúde a ampla oferta de rede de

prestadores de serviços e equipamentos de alta tecnologia disponíveis. O aspecto negativo não

foi relevante na amostra analisada de entrevistados, uma vez que apenas um desses relatou ter

uma rede credenciada insuficiente e com grandes dificuldades para liberação para o prestador

desejado.

Na pré-categoria 1.5 “Percepção do tempo sobre a data do pedido médico do exame”

observou-se nos relatos dos entrevistados que a maioria dos pedidos médicos para os exames

de alta complexidade estavam sem data. Ao serem questionados sobre os motivos que

implicariam na não datação dos pedidos ou guias de requisição dos exames pelos médicos

foram apontados o esquecimento do médico, deliberação do profissional médico para facilitar

a agenda de compromissos do usuário, bem como sua autonomia e recomendação médica de

prescrever tratamento prévio ao exame. Assim, essas falas são denotadas, respectivamente

em:

Page 128: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

126

Pode ser esquecimento do médico, acredito em esquecimento. (E6)

O próprio médico para facilitar a vida do paciente já não coloca a data, é para dar

flexibilidade. (E9)

Dá um tempo para o antibiótico fazer efeito e não fazer o exame agora. (E14)

Dependendo da urgência poderia ter data. (E18)

Desse modo, considerando a questão do tempo subjetivo percebido pelo usuário

parece ser frequente existir uma validade para os pedidos médicos, variando de quinze dias,

um mês até três meses, dependendo da operadora do plano de saúde contratado, conforme

relatos:

Pedido tem uma validade, se não me engano de dois meses. (E14)

Receio não fazer no prazo e perder a validade, às vezes é um mês, às vezes são três meses.

(E16)

Guia vale até trinta dias e guia de internação vale quinze dias. (E27)

Alguns dos entrevistados não se atentaram em observar se a guia ou pedido médico

estavam datados, outros, embora, não tivessem definido com precisão os motivos, pelos quais

não existiria datação das requisições dos exames pelos médicos oscilaram sugestões entre o

esquecimento e deliberação do médico por qualquer motivo, a exemplo das falas:

Não lembro se tinha data, mas acho que os médicos deixam sem data justamente para não

terem problemas com o tempo de marcação e realização do exame. (E12)

Um fator importante encontrado nos relatos dos entrevistados nessa pré-categoria foi a

existência de prazo de validade do pedido médico, conforme o tipo de operadora, a qual

estaria diretamente relacionada à determinação da variação desse prazo máximo de

atendimento dos usuários de planos de saúde na rede privada de serviços. Os pedidos sem

data mascaram o tempo subjetivo real de atendimento descrito pelo usuário, já que quando

não vem com a data, ao invés do médico, é o usuário ou atendente do laboratório que acaba

datando o pedido ou a guia no dia do exame.

A pré-categoria 1.6 “Percepção do tempo sobre a data do agendamento do pedido

médico do exame” compreendeu os atributos de período de agendamento menor ou igual a

sete dias e maior que sete dias, além de agendamentos rápido e tardio pelo usuário. Assim,

observou-se que a maioria dos entrevistados agendou seus exames num tempo inferior a sete

dias, configurando um agendamento rápido por parte do usuário:

Page 129: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

127

Eu fiz a consulta médica ontem e ontem mesmo solicitei o exame. (E9)

Dessa vez eu fui à consulta e agendei no mesmo dia. (E10)

Levei três dias para marcar. (E14).

Para àqueles que agendaram tardiamente seus exames de alta complexidade num

período maior que sete dias foi observado que não tinham pressa, ou estavam tomando algum

tipo de medicamento ou tinham pouco tempo de adesão no plano de saúde, aguardando o

término do período de carência para usufruir o serviço do plano de saúde:

Eu levei acho que uns 20 dias, a minha carência só poderia começar a fazer o exame no fim

do mês passado. (E11)

Tive que marcar o exame após o término do remédio, tava tomando o medicamento. (E13)

Não tinha pressa, era uma questão de agendamento. (E15)

Na pré-categoria 1.7 “A percepção do tempo sobre a data de autorização do exame de

complexidade pelo plano de saúde” a maior parte dos entrevistados respondeu que em média

a operadora leva até vinte e quatro horas para autorizá-los:

Foi imediato”. (E4)

Foi rápido, eu liguei no mesmo dia, ela confirmou para mim. (E6)

A autorização é no ato. (E21)

Para as autorizações realizadas em um prazo superior a vinte e quatro horas as falas

representativas foram:

Eu acho que uns três dias. (E14)

Tem dois dias. (E29)

Quanto à pré-categoria 1.8 “Percepção do tempo na sala de espera” constatou-se que

na maior parte das entrevistas a espera no dia do exame passou dos quinze minutos:

Esperei cerca de uma hora e meia. (E10)

Esperei vinte minutos. (E27)

Esperei trinta minutos. (E29)

Em contrapartida, um considerável grupo de entrevistados relatou que a espera antes

do exame foi mínima:

Page 130: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

128

Já fui direto para o exame, não esperei praticamente nada. (E10)

Uns dez minutos. (E16)

Uns quinze minutos. (E22)

Dessa forma, ainda que o tempo maior que 15 minutos tenha ocorrido não implicou na

insatisfação dos usuários que aguardavam na sala de espera antes do exame de alta

complexidade prescrito.

Em estudo de Pessoto et al. (2007) sobre estudos de casos realizados em cinco

municípios da Região Metropolitana de São Paulo (Guarulhos, São Paulo, Santo André,

Osasco e Franco da Rocha), no que se referia ao tempo médio de espera e tipo de serviço

procurado, demonstrou-se acesso diferenciado entre beneficiários e não beneficiários de

planos de saúde que usavam o SUS. Neste estudo observou-se uma distinção evidente entre os

não possuidores de planos que suportavam maior espera, cerca de 81 minutos, em detrimento

aos possuidores de planos de saúde que esperavam 32 minutos, em média até o atendimento.

Para a pré-categoria 1.9 “Conhecimento sobre o conteúdo das confirmações de

atendimento médico das operadoras para o exame de complexidade” indicou que a maioria

lembrou das quantidades de guias médicas de requisição de exames assinadas, porém grande

parte não observou ou não leu o conteúdo dessas guias ou declarações de confirmação de

atendimento pelo prestador de serviços credenciado da operadora de plano de saúde privado.

Não se lembraram se existia pergunta da operadora, solicitando autorização do beneficiário

para auditar prontuário clínico após submissão do exame:

Foi uma só, eu não vi se tinha essa pergunta de auditar prontuário. (E10)

Uma guia, não lembro se tinha essa pergunta de auditar. (E14)

Uma guia, não, eu acho que não teve essa pergunta de auditar prontuário, não reparei. (E30)

Percebeu-se que é comum o hábito de muitos entrevistados não lerem os documentos

emitidos pelas operadoras, por não terem prestado atenção no conteúdo que assinaram,

considerando que não sabiam informar o que estariam assinando, através do intermédio do

atendente do laboratório da pesquisa:

Se tinha essa pergunta de auditar prontuário, ninguém me mostrou, eu não vi. (E 12)

Na grande maioria, as barreiras do acesso aos planos de saúde para exames de alta

complexidade não foram representadas no grupo de sujeitos entrevistados. As autorizações

Page 131: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

129

das operadoras de planos privados de assistência para os exames de alta complexidade não

foram consideradas tardias, porque atenderam a essas necessidades para um prazo de tempo

subjetivo relatado como imediato, rápido e fácil, não passando de uma semana entre a data de

agendamento pelo usuário até a autorização pelo plano de saúde. Embora a pressuposição do

largo intervalo de tempo entre a data da solicitação médica até a realização do exame

específico não tenha se configurado para o objeto de estudo, permitiu-se descobrir através das

descrições dos relatos dos entrevistados que existem prazos de validade para realização de

exames que variam, conforme a operadora, sendo verificado durante a marcação pela

atendente do laboratório prestador de serviços ao telefone posteriormente à coleta de dados.

Alguns entrevistados relataram vivências de terem tido que retornar a seus prestadores

médicos para refazerem as prescrições dos exames, em outra ocasião, quando passava de

validade, em geral, de 30 dias da data de solicitação médica; outros relataram que a

informação da validade seria obtida no próprio laboratório, alguns relataram que teriam

ouvido falar de validade de pedido médico pela própria operadora e prestadores médicos;

onde os demais entrevistados não teriam certeza da fonte desta informação, mas já teriam

ouvido falar sobre isso.

Questionados sobre os motivos que fariam o médico não por a data na prescrição ou

na guia de requisição de exame do contrato com o plano de saúde, alguns falaram que poderia

ser esquecimento do (a) médico (a) e outros falaram que o (a) médico (a) sabendo desta

validade de pedido médico imposto pelo plano de saúde já deixaria sem data para não fazer o

paciente perder tempo ao retornar ao consultório deste para substituir o pedido de exame por

um mais recente. Outros disseram que o não registro da data seria para favorecer a agenda do

paciente, que poderia ter outros impedimentos de ordem pessoal. E também alguns relataram

que os médicos poderiam não colocar a data no pedido de exame para indicar o tempo

determinado numa agenda pontual temporal de prioridade médica, a qual teria como objetivo

favorecer a necessidade de outros tratamentos médicos prévios recomendados. Estes poderiam

ser critérios adotados pelos médicos, a fim de prescrever a frequência mensal ou anual de

exames que o paciente deveria seguir para controle, visando prevenção ou acompanhamento

do avanço de doenças já instaladas, que não exigiriam uma marcação de exame imediata à

consulta médica, postergando, assim, a realização do exame a critério médico; daí, não seria

necessário por a data nesse pedido, seguindo esta concepção de alguns dos entrevistados.

Quanto às guias de confirmação de exame emitidas pela operadora de plano de saúde,

a maioria dos sujeitos entrevistados referiu não ler o teor na sua íntegra, não lembrando, do

que estavam assinando; e nem se haveria alguma informação além de apenas comprovar a

Page 132: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

130

realização de procedimento deles, como solicitação de autorização por parte da operadora

acessar, auditar ou analisar as “despesas médicas” no prontuário médico-hospitalar e demais

documentos pertinentes ao(s) procedimentos(s) realizados(s). Considerando esse possível

risco de seleção adversa prévia das operadoras de planos de saúde a novas autorizações, a

operadora que usasse deste artifício ficaria de posse de todos os dados sigilosos da saúde dos

beneficiários com a autorização expressa desses, possibilitando-a traçar um perfil

epidemiológico quanto às morbidades destes para futuras negativas de cobertura e, em último

caso, glosa nas faturas de cobrança dos prestadores.

Em relação ao tempo de espera no dia do exame, a maioria relatou ter esperado um

pouco mais de 15 minutos, a exceção daqueles que chegaram com antecedência do horário

agendado e um que ficou chateado por estar tendo que repetir o exame inconclusivo de outra

ocasião.

Outras barreiras de acesso diferentes do objeto de estudo foram marcadamente

ressaltadas nos discursos dos entrevistados, principalmente quanto aos materiais cirúrgicos

(órteses, próteses ou insumos específicos), negativas de cobertura cirúrgica para determinados

graus de miopia, dificuldade para serem atendidos em consultas ambulatoriais de check up e

de especialidades médicas, negativas para tratamentos fisioterápicos, RPG e Pilates.

Segundo Martins e Paulo (2010), apesar da posição contrária representada pelas

entidades médicas da oftalmologia, a norma criada pela ANS válida para os contratos novos, a

partir de janeiro de 1999, assegura a cobertura da cirurgia de miopia, exclusivamente para

grau igual ou superior a sete. Assim, explicita-se o entendimento para cirurgias que requerem

material cirúrgico específico na saúde suplementar:

As órteses e próteses, cuja colocação exija a realização de procedimento cirúrgico, tem

cobertura obrigatória nos planos regulamentados pela Lei 9.656/1998. Cabe ao médico

assistente a prerrogativa de determinar as características do implante a ser utilizado-

dimensões, material de fabricação (aço, titânio, cerâmica, entre outros) e tipo (cimentado, não

cimentado, por exemplo)-, e a escolher a marca e a procedência do implante a ser coberto,

desde que este atenda as especificações determinadas pelo médico assistente. Ressalta-se que

o entendimento ANS está em consonância com o Parecer CFM 16/08, no qual se afirma que

“não há justificativa para o médico excluir marca comercial de produtos e/ou instrumentos

para procedimentos, sendo garantido a ele o conhecimento antecipado de cadastro destes no

âmbito de seu trabalho”. Materiais de origem estrangeira que possuem registro válido na

ANVISA são considerados nacionalizados e, por este motivo, contam com cobertura pelos

planos de saúde. Nas situações em que a operadora discorde da indicação do médico

assistente (por exemplo, quanto ao tipo de material a ser utilizado), deve ser aplicado o

procedimento definido no art.4º, Inciso V, da Res. Consu 8/98 (MARTINS; PAULO, 2010, p.

68-69).

Antagonicamente quanto à escolha da marca comercial do implante a ser coberto nas

cirurgias de colocação de órteses e próteses foi divulgado em 2010 que

Page 133: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

131

o CFM aprovou em outubro resolução que veda aos médicos a indicação expressa de marca

comercial quando da requisição de órteses, próteses e materiais implantáveis em benefício de

pacientes. De acordo com a norma, cabe ao médico determinar as características dos produtos,

mas as opções devem ser justificadas clinicamente. “O objetivo do conselho é reduzir

conflitos entre médicos e planos de saúde, e também com instituições públicas, quando da

indicação de uso desses materiais. Outro princípio é evitar que médicos requisitem produtos

de determinadas marcas em troca de benefícios eventualmente oferecidos por fabricantes

(CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2010, p. 9).

O procedimento de RPG muito reivindicado pelos usuários da entrevista por ser uma

técnica cinesioterápica específica não foi incluído como procedimento obrigatório pela ANS

(MARTINS; PAULO, 2010).

Ainda que o serviço de atenção domiciliar por home care seja um benefício prestado

pelas operadoras aos contratantes, “nos casos em que a assistência domiciliar não se dê em

substituição à internação hospitalar, esta deverá obedecer à previsão contratual ou à

negociação entre as partes” (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, 2010c,

p.1). Esta previsão constitui-se de forma complementar, não sendo um serviço de cobertura

obrigatória pelas operadoras. A assistência domiciliar na saúde suplementar está voltada para

atenção ou assistência domiciliar (homecare) que vem sendo oferecida como alternativa à

internação hospitalar, em especial para casos crônicos e de alta demanda aos serviços

emergenciais, tendo em vista a redução de custos que representa para as operadoras e o maior

conforto - desde que a residência possa acomodar a estrutura necessária para tal assistência - e

segurança - inclusive pela redução de ocorrência de infecções por germes hospitalares

resistentes - para os pacientes e familiares. Mesmo não sendo de cobertura obrigatória no

setor suplementar, a atenção domiciliar poderá ser prestada pelas operadoras quando constar

de aditivo contratual ou por meio de acordo extra-contratual. Em ambos os casos, no entanto,

a oferta do serviço está subordinada à indicação do médico assistente, à concordância do

beneficiário e/ou seu responsável e às disposições da RDC ANVISA nº 11/2006, que

regulamenta este tipo de assistência. Quando se tratar de alternativa à internação hospitalar, a

atenção domiciliar (homecare) oferecida pelas operadoras deverá obedecer às exigências

mínimas previstas na Lei nº 9.656/98 para os planos de segmentação hospitalar, em especial o

disposto nas alíneas “c”, “d” e “e” do inciso II do artigo 12 da referida Lei. Desta forma, não

se deve confundir medicamento prescrito para tratamento domiciliar com medicação

administrada (seja qual for a via de administração) a pacientes em regime de homecare: no

primeiro caso, não há obrigatoriedade de cobertura de acordo com o inciso VI, artigo 10 da

Lei nº 9.656/98; no segundo, quando a assistência domiciliar substituir a internação

hospitalar, não só os medicamentos mas também os honorários dos profissionais de saúde,

equipamentos, materiais e atendimentos com equipe multiprofissional prescritos pelo médico

assistente deverão ser cobertos pela operadora (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE

SUPLEMENTAR, 2010c, p. 2).

Existe um paradoxo evidente em relação ao programa de atenção domiciliar, pois,

embora não integrante no rol de procedimentos regulamentados pela ANS para

obrigatoriedade de prestação de serviços a serem ofertados pelos planos de saúde, é

amplamente oferecido para os consumidores. E sem existência legal, considerando que não é

contratualizado, é reconhecido no âmbito judiciário quando o beneficiário reivindica

judicialmente o direito de permanência nesse programa (FRANCO; MERHY, 2008).

Page 134: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

132

É comum a resistência das famílias para a alta do programa de atenção domiciliar

entre outras questões pela cômoda posição de ter uma equipe cuidando do familiar no

domicílio, portanto o recurso que mais utilizam tem sido as ações judiciais para impedir a alta,

considerando que o beneficiário que contratualiza um plano de saúde com a operadora

percebe o direito de ter o serviço de atenção domiciliar, mesmo que este programa não esteja

inscrito no contrato (FRANCO; MERHY, 2008).

De acordo com Franco e Merhy (2008, p.1518), “seria conveniente regular sobre

alguns aspectos mais críticos do Programa, como a transferência de alguns custos para a

família e a alta”.

De qualquer forma, ainda que tais barreiras tenham sido descritas pelos entrevistados,

na categoria acesso aos exames de alta complexidade existe para essa clientela analisada um

atendimento rápido e acessível com poucas barreiras, na sua maioria sem burocracia, e com

grande „leque‟ de opções entre prestadores de serviços, tanto em quantidade como em

qualidade.

4.3.2 Os conhecimentos dos direitos contratados nos planos de saúde

Uma sociedade do conhecimento preservada requer um ensino de saúde que privilegie

a perspectiva liberal-privatista em análise sobre as relações entre o público e o privado no

ordenamento do SUS, contribuindo para a compreensão e apropriação de cidadania, com

sentidos de equidade e solidariedade entre as classes sociais no direito à saúde como dever do

Estado e com associações de mérito acadêmico para pautas de relevância pública (CECCIM et

al., 2008).

Para Pessoto et al. (2007, p.360), “questões relativas ao setor suplementar e de como a

atuação das operadoras afeta o SUS devem ser incorporadas na pauta de discussão dos

conselhos gestores”.

Segundo Ceccim et al. (2008), abordar os imaginários na formação em saúde não

implica em selecionar conteúdos, incluir estágios, optar por métodos didático-pedagógicos ou

apresentar propostas de ensino-aprendizagem, mas vincular razões, interesses e efeitos

públicos aos imaginários do que seja trabalhar em saúde.

Razões Públicas voltadas para o interesse público trabalhariam uma nova autoridade

profissional de universitários, resgatando-lhes a alteridade para inclusão de usuários das ações

Page 135: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

133

em saúde ou de colegas de outras profissões nas redes sociais, com desvinculo do pensamento

de obtenção de vantagem, prestígio, conforto econômico e dos símbolos de status de destaque

e sucesso na carreira (CECCIM et al., 2008).

Segundo Pessoto et al. (2007, p.360), “a defesa do direito universal à saúde e sua

relevância pública devem estar acima dos interesses econômicos das operadoras de planos e

seguros de saúde”.

Pressupõe-se que o conhecimento ampliado potencializa reivindicações que nem

sempre ou nunca são bem-vindas pela elite ou mercado dominantes de um cenário

globalizante heterogêneo e desigual para a sociedade. Notadamente, o conhecimento em prol

dessa sociedade é adjacente aos anseios e orientações conjugadas ao interesse público

coletivo.

Comumente é natural o grau de defesa conforme o „ataque‟ de uma urgência ou

emergência que possa surgir de repente e que precisa ser atendido sem restrições. Não se

planeja o agir diante das dificuldades e espera-se acontecer para verificar se tem jeito e o que

poderá ser feito. Reage-se, acomoda-se ou recorre-se ao atendimento no SUS, quando o

problema de saúde se remete às dificuldades que quiçá possam surgir para os usuários de

planos privados de saúde.

As possíveis dificuldades inerentes ao uso dos serviços na rede privada de assistência

que podem acontecer com um ritmo de se convencer a argumentação contrária da operadora

ou atendente do prestador de serviços, convenceu bem, porque o usuário demandante foi

embora estão relacionadas, presumidamente, a um protocolo de induções de desistências de

direitos contratados nos planos privados de saúde, a começar pelas exaustivas cirandas

telefônicas de longas músicas de espera de chamada até a expectativa retardada da primeira

comunicação do usuário com o primeiro, segundo, terceiro e quarto atendente, e, assim

sucessivamente, além dos ecos solitários dos demandantes dos serviços quando caem as

ligações telefônicas, traduzindo o monólogo do verdadeiro descaso e abuso contra os

beneficiários de planos de saúde. Desta forma, centralizam-se nos usuários todas as

responsabilidades para solucionarem os seus problemas, embora tal comportamento não tenha

ocorrido nesta pesquisa perante a inexistência de relatos descritivos de barreiras de acesso

para os exames de alta complexidade realizados. Segundo Gershman et al. (2007), parece

existir o avesso cruel das relações de proximidade entre beneficiários e a administração do

plano, prevalecendo o desconhecimento do contrato e das leis de amparo para defesa dos seus

problemas com os planos privados de saúde, assim como não há acesso a qualquer

funcionário da administração do plano.

Page 136: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

134

Na pesquisa de Gershman et al. (2007), para identificar a satisfação dos usuários com

planos de saúde dos hospitais filantrópicos, descobriu-se outros perfis de beneficiários de

planos privados de saúde que em situações de conflitos com as operadoras recorrem ao

contrato, aos órgãos de defesa do consumidor e à justiça. Em contrapartida, percebeu-se nesse

estudo que havia um grande desconhecimento da ANS entre os participantes (GERSHMAN et

al., 2007).

As tentativas de imposição de barreiras para usuários de planos privados de saúde

estão presentes mesmo com a vigência da Lei nº 9.656/1998, porque os seguros e planos

privados tendem a restringir o acesso dos seus beneficiários aos procedimentos de média e

alta complexidade, em seus próprios serviços, devido aos custos relacionados (PESSOTO et

al., 2007).

Pensando em formas viáveis para evitar problemas de barreiras em qualquer tipo de

contratação de plano privado de saúde seria útil a regulação por conduta, a qual

[...] deve estabelecer claramente que todas as formas de intermediação de ações e serviços de

saúde que se caracterizem como relações de consumo, direta ou indiretamente, são

consideradas como parte do setor de saúde suplementar e, portanto, subordinadas à

regulamentação da agência (MONTONE, 2009, p.76).

Porém, na prática, esquivam-se quase sempre dessa regulação, condutas bilaterais nos

planos coletivos entre pessoas jurídicas que tratam direitos dos usuários como „negócios‟ ou

benefícios negados intermediados pelas próprias empresas empregadoras, desmerecendo-os

do conhecimento contratual entre as partes contratantes e contratadas. Nesta situação é

incomum o usuário de plano coletivo por adesão ou empresarial tomar conhecimento do que

está escrito no contrato entre a empresa e a operadora de plano privado de saúde, ficando a

mercê do porta-voz da empresa de RH que gerencia seu plano empresa.

A categoria “O conhecimento sobre os direitos contratados nos planos de saúde”

representada por 15,65% do total percentual de unidades de registros das falas contém duas

pré-categorias-uma de nome similar e a outra denominada conhecimentos sobre fonte de

informação ou reclamação para eventuais dificuldades com os direitos contratados nos planos,

conforme pode ser observado nos apêndices D e E.

A categoria 2.1 “O conhecimento sobre os direitos contratados nos planos de saúde”

constituiu-se por dados verbais que se baseiam em direitos básicos, tais como direitos a

consultas, exames e internações:

Tenho direito a todos os exames. (E21)

Page 137: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

135

Direitos normais que todos os associados da CASSI têm. (E28)

Alguns entrevistados não sabiam detalhar seus direitos:

Nunca pensei nisso. (E17)

Não sei. (E18)

Pôde-se perceber que o conhecimento para aquisição desses direitos é procurado,

conforme a necessidade de usufruir de um bem ou serviço do plano de saúde ou quando

interessa o usuário desse plano.

Na pré-categoria 2.2 “O conhecimento sobre fonte de informação ou reclamação para

dificuldade com os direitos contratados” estabeleceu-se na figura de instituições públicas de

direito, esfera judicial de direito, as empresas, família, conselhos e amigos. As empresas

referem-se não somente ao setor de recursos humanos das empresas empregadoras no caso de

planos empresariais, mas também às operadoras dos planos de saúde que foram muito

divulgadas.

A maior frequência de relatos de procura dos consumidores de planos de saúde para

reclamar os direitos contratados tolhidos direcionou-se às instituições públicas de direito, tal

como o órgão de defesa do consumidor e a ANS. Não obstante, os usuários de planos em caso

de algum problema de cobertura ou similar se reportariam primeiramente à operadora:

Procuraria a operadora imediatamente e depois o órgão PROCON. (E2)

Para defender os meus direitos procuraria o instituto de defesa do consumidor. (E4)

Eu recorro à própria ANS. (E10)

Em último caso, os entrevistados informaram que procurariam a esfera judicial ou

empresa:

O último caso seria o meio judicial. (E12)

Reclamo na empresa, se eu não resolver, a empresa resolve. (E18)

Eu ligo para minha empresa, e a empresa que faz convênio com essas operadoras. (E26)

No que se refere à proteção dos direitos contratuais, reitera-se que a maioria procuraria

imediatamente a operadora e num segundo momento as instituições públicas de direito,

seguidamente os plantões judiciários ou advogados.

Page 138: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

136

O papel da ANS é mediar justamente tais divergências que o mercado têm,

identificando formas de sustentabilidade, apoiando-se em indicadores de qualidade

(LOTTENBERG, 2007). Quanto à capacidade avaliativa do usuário salienta-se que

a avaliação pode produzir informação tanto para a melhoria das intervenções em saúde como

para o julgamento acerca de sua cobertura, acesso, equidade, qualidade técnica, efetividade,

eficiência e percepção dos usuários a seu respeito. Com essa finalidade pode e deve mobilizar

as estratégias e técnicas necessárias da epidemiologia e das ciências humanas, sem

preconceitos e sem interdições (SILVA, 2005, p.30).

A mediação de conflitos entre os atores setoriais que constituem a saúde suplementar é

uma das atribuições concretas por parte da ANS, mas observou-se que alguns entrevistados

desconhecem sua existência e missão institucional, preferindo recorrer às próprias operadoras

num primeiro momento, além do setor de recursos humanos da empresa, família, amigos,

advogados, PROCONS e plantões judiciários. Para Montone (2009, p.82), “a agência multa,

mas tem grande dificuldade em efetivar a punição, reduzindo a credibilidade do sistema”.

A redução da credibilidade nas agências reguladoras quanto às dificuldades inerentes à

aplicação de penalidade pode estar relacionada à procura isolada pelo usuário até a esfera

judicial ou de outro mecanismo de defesa, até mesmo à procura concomitante ao papel

regulatório dessas agências. Um fator primordial é que se deveria fomentar e divulgar mais as

tarefas fiscalizatórias da ANS focada no usuário, considerando que este será o avaliador mais

próximo da realidade e mais indicado por usar o serviço contratado pela operadora. A

percepção do usuário é muito importante na avaliação de um serviço de saúde prestado ou não

prestado.

Os conhecimentos sobre os direitos contratados com o plano de saúde foram

incompreendidos inicialmente, mas através de reformulação da questão abordaram que não

sabiam muito, porque não tinham o hábito de ler o contrato, alguns faziam referências aos

direitos de cobertura às consultas, exames e internações; outros relataram que efetuavam

pesquisas on line, caso necessitassem ou outros meios. Em suma, como fonte para consulta ou

reclamação, em caso de se sentirem tolhidos de alguns desses direitos contratados com as

operadoras de plano de saúde recorreriam à grande maioria às operadoras de planos de saúde,

às PROCONS, advogados, plantões judiciários, ANS, a família e as empresas do trabalho, em

caso destas últimas de o plano ser coletivo empresarial ou adesão imediatamente na frente das

operadoras.

Page 139: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

137

4.3.3 Motivações para realizar os exames de alta complexidade nos planos de saúde, ao invés

do SUS

Os beneficiários de planos de saúde demandam mais os serviços em todos os níveis de

renda quando comparados com os que não têm planos de saúde no estudo realizado por

Pessoto et al. (2007) no conjunto de municípios-caso, como na cidade de São Paulo e na

Região Metropolitana de São Paulo, ressaltando que a população usuária exclusiva do SUS

nesse estudo buscou atendimento de saúde em menor proporção.

Ainda no estudo realizado por Pessoto et al. (2007), observou-se também que tanto os

que tinham plano, como os que não tinham plano privado de saúde, nos níveis de renda

inferiores a procura por serviços em saúde foi maior do que aquela apresentada pelo nível de

renda superior, com escala decrescente da demanda da renda financeira inferior (até R$

605,00) para a superior (mais de R$ 3.540,00). Tais valores foram descritos em reais de

agosto de 2003, atualizados pelo ICV-Dieese (PESSOTO et al., 2007).

A motivação e o estado emocional do ser humano influenciam decisivamente a

percepção, que ao ser estudada é delineada em grupos homogêneos com instruções altamente

padronizadas para que o pesquisador tente eliminar as ,diferenças individuais entre os sujeitos

(SIMÕES, TIEDEMANN; RAPPAPORT, 1985).

Nesse contexto acredita-se que a motivação direciona a opção do usuário de plano de

saúde que decide com base na sua preferência ou experiência prévia qual rede lhe atenderá

melhor, tal como percebe ser esta rede de prestadores de serviços na saúde privada

selecionada pela amostra desta pesquisa.

Para Simões, Tiedemann e Rappaport (1985, p.84), “[...] modificações da percepção

podem, no entanto, ser tão sutis e diversificadas que fica difícil medi-las, uma vez que as

regularidades que ocorrem na percepção são muito mais proeminentes”.

Na categoria “Motivações para realizar os exames de complexidade nos planos de

saúde ao invés do SUS” representada por 3,60% do total percentual de unidades de registro

das falas contém a pré-categoria equivalente quanto às motivações para realização do exame

de complexidade no plano de saúde em lugar do SUS, conforme pode ser observado nos

Apêndices D e E.

Os usuários relataram como maior motivação à realização dos exames de alta

complexidade pelo plano de saúde, a rapidez na marcação (autorização), pronta realização e

entrega rápida dos resultados dos exames. Além desses motivos expressaram o fato de terem

Page 140: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

138

um plano empresarial ou porque já se encontram na situação de pagantes dos seus planos de

saúde. A principal alegação de não usarem o SUS estava pautada na morosidade do

atendimento, se assim conseguissem o atendimento perante a perspectiva negativa desses

usuários de planos privados de saúde. Exemplificam-se por esses relatos:

Pagando é melhor. (E1)

Porque é mais rápido e mais prático. (E4)

Pela rapidez. (E5)

Se eu esperar o exame pelo SUS, meu problema pode se agravar. (E10)

O atendimento privado de saúde em relação ao atendimento oferecido pelo SUS foi

melhor avaliado, tendo em vista que as demandas dos exames de alta complexidade foram

rapidamente atendidas nos planos de saúde, segundo os usuários entrevistados.

As motivações dos sujeitos entrevistados para a realização de exames de alta

complexidade através da rede privada de assistência, ao invés do SUS, oscilaram dentre as

principais, como acesso rápido, marcação fácil com a atendente do laboratório prestador do

exame ou através de uma ligação telefônica, através do intermédio desta atendente;

flexibilidade de horário de agendamento e para realização do exame, tendo sido citado o

horário do almoço e horário noturno após o expediente do trabalho; entrega rápida do

resultado; conforto da hotelaria do prestador de serviço; organização; qualidade na execução

do serviço, como garantia e resolutividade de um diagnóstico de imagem de excelência,

dentre outros. A exceção de uma entrevistada que dizia estar em fase de mudança para outra

operadora, foi relatado que não teve facilidade na marcação do exame de alta complexidade,

pois a autorização era na sede da empresa distante do trabalho e do laboratório, cuja rede

credenciada só apresentava este laboratório para o exame de alta complexidade prescrito.

O SUS constitui o maior sistema público de saúde do mundo, organizado com

orientações de atendimento integral, com destaque às ações preventivas sem prejuízo das

ações assistenciais, participação da comunidade e, finalmente, à descentralização, com

direção única em cada esfera do governo (PAIM, 2008).

De fato com o SUS houve ampliação das formas de acesso da população, mas a falta

de equidade ainda é um problema que persiste. No entanto, o SUS como sistema nacional de

saúde brasileiro é compreendido como

[...] uma forma de articular e produzir ações e serviços de saúde, de acordo com princípios,

diretrizes e dispositivos no ordenamento jurídico, ou seja, estabelecidos pela Constituição da

Page 141: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

139

República, Leis 8.080/90 e 8.142/90 e outros instrumentos jurídicos-normativos (PAIM,

2008, p.96).

Para quem define o SUS como um plano de saúde gratuito restrito aos cidadãos

carentes e pobres deve-se ter em mente que

[...] o SUS não é um mero meio de financiamento e de repasse de recursos federais para

estados, municípios, hospitais, profissionais e serviços de saúde. Não é um programa de saúde

pública, nem um „plano de saúde‟ para pobres. Também „não é‟ um sistema de serviços de

saúde destinado apenas aos pobres e „indigentes‟. Não se reduz a uma política de governo-

federal, estadual ou municipal-, muito menos a uma proposta política exclusiva desse ou

daquele partido. Enfim, não é caridade de instituição beneficente, organização governamental,

prefeito, vereador, deputado, governador, senador ou presidente (PAIM, 2008, p. 96).

As dissonâncias refletidas na percepção dos entrevistados trazem a ideia de que

pagando pelo serviço de saúde é melhor, pois subentende a segurança trazida por um serviço

extra contratado que estaria sempre à disposição. Uma sensação percebida que precisa de

comprovação, já que nesse estudo, embora, não tivessem existido barreiras de acesso para os

exames de alta complexidade, não desmerece a preocupação com as lacunas regulatórias no

âmbito da saúde suplementar.

Para quem tem pressa, logicamente, o tempo é uma variável importante que merece

ser evidenciada. São inúmeros problemas de saúde que emergem e a dor é peculiar, e não

podendo ser comparada requer atenção devida para que a resolutividade deles prepondere.

A comodidade que surge da facilidade de agendar um exame mais caro, além da

presença física no laboratório evocada nos discursos dos depoentes traduziu a praticidade

elencada em outras maneiras de marcar o exame, tal como a internet e o telefone, relatados

como meios de agendamento inexistentes numa transversalidade comparada com o SUS.

De qualquer forma, parecem existir problemas de agenda de vagas na saúde

suplementar. Não se conhecem os critérios utilizados pelos prestadores que priorizam a

marcação do exame pelo tipo de plano de saúde ou segmentação de seu produto, o que pode

estar relacionado com a variação dos tempos de autorização para os procedimentos que

necessitam de autorização prévia das operadoras de planos privados de saúde entre as diversas

operadoras. Algumas operadoras liberam a autorização mais rapidamente do que outras,

enquanto algumas não utilizam essa medida de controle de custos que não tem previsão legal.

Assim,

além das imposições descritas nos contratos, as operadoras adotam diversos mecanismos

“administrativos” que visam limitar procedimentos e exames solicitados, o que atinge os

consumidores e também os médicos, que são cerceados em sua autonomia e atuação

Page 142: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

140

profissional. A autorização prévia é uma dessas medidas de controle (MARTINS; PAULO,

2010, p. 60).

A ANS em quase dez anos de existência não regulamentou prazos máximos para

atendimento em planos de saúde para saber se o tempo que o beneficiário de plano de saúde

leva para agendar consultas, exames e cirurgia eram considerados razoáveis. Contudo,

realizou pesquisa inédita no ano de 2010 entre os dias 21 de junho e 05 de julho para

publicação de norma que regulamentasse essa temática. Não obstante, foram objeto desta

primeira consulta pública, as operadoras de planos privados de assistência, não contemplando

a opinião dos usuários desse sistema. Ainda que se proponha a regulamentação através de

norma para direcionar parâmetros de tempo hábil para atendimento que não seja prejudicial a

quem usa e depende do serviço de saúde contratado, é pertinente envolver os demais entes

regulatórios nessa discussão e formulação de ditames legais, sendo relevante ouvir a categoria

médica e, principalmente, o beneficiário de plano de saúde privado.

Contudo, a sociedade civil poderá participar da nova consulta pública nº 37/2011 para

enviar contribuições no prazo de 30 dias, a partir de 03/02/2011 até 04/03/2011 para avaliar a

proposta de Resolução Normativa, a ser publicada pela ANS (ANEXO). Além dos prazos

máximos de atendimento nos planos privados de saúde (Tabela 1, f. 64), esta Resolução

compreenderá, sobre a garantia de atendimento em prestador não credenciado no mesmo

município; ou garantia do transporte do beneficiário até o prestador credenciado para o

atendimento, assim como seu retorno à localidade de origem; ou sobre o reembolso,

integralmente, quando os custos com as despesas com a saúde pelo serviço ou procedimento

realizado forem pagos pelo beneficiário (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE

SUPLEMENTAR, 2011).

A categoria médica poderá participar desta consulta pública como sociedade civil,

avaliando os critérios da proposta normativa (ANEXO) (AGÊNCIA NACIONAL DE

SAÚDE SUPLEMENTAR, 2011).

Os limites máximos de espera para consultas básicas e especializadas, além de

cirurgias e procedimentos mais complexos foram parametrizados por prazos máximos de

atendimento, os quais foram definidos e regulamentados pela primeira vez na ANS, depois de

mais de uma década da promulgação da lei que rege o setor suplementar (LEITE, 2010).

Segundo Franzen (2010), o Conselho Federal de Medicina criticou a normativa da

ANS que estabeleceu prazos máximos de atendimento, alegando que as regras mobilizam

respostas das operadoras às demandas dos usuários de planos de saúde no intervalo de três a

vinte e um dias, dependendo da especialidade. Dessa forma, esse normativo estaria

Page 143: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

141

interferindo na autonomia do prestador médico, principalmente quanto ao déficit de horários

para atendimento na agenda, e que a baixa remuneração dos serviços pelas operadoras vem

gerando descredenciamento de muitos profissionais, aumentando a demanda do atendimento

para aqueles prestadores que não se descredenciaram, além da prerrogativa que o médico tem

de definir seu cronograma de acordo com sua avaliação de diagnóstico e riscos (FRANZEN,

2010).

Dentro dos normativos para os prazos máximos de atendimento nos planos de saúde

observou-se que os entrevistados conseguiram realizar seus exames de alta complexidade em

tempo menor que os 21 dias determinados pela ANS (Tabela 1, f. 64).

4.3.4 Nível de satisfação acerca do plano de saúde

De acordo com Ferraz (2008, p.79), “é absolutamente impossível obter a satisfação

das expectativas de todos; embora desejável e possível, o atendimento às expectativas de uma

determinada maioria já se caracteriza num considerável desafio”.

Acredita-se que de acordo com a facilidade para realização de certo procedimento

necessário à manutenção das condições vitais do indivíduo e a variação na qualidade do seu

plano de saúde contratado, o atendimento das expectativas no tempo desejado poderá indicar

se os usuários de planos privados de saúde estão satisfeitos. Segundo Pessoto et al. (2007),

existem desigualdades do mercado de planos privados de saúde baseadas em diferenças

socieconômicas que irão definir se o produto contratado terá mais ou menos opções de

assistência.

A categoria “Nível de satisfação acerca do plano de saúde” representada por 23,22%

do total percentual de unidades de registro das falas subdivide-se nas pré-categorias „Nível de

satisfação acerca do plano de saúde contratado em relação a outros planos privados de saúde‟,

„Nível de satisfação acerca do plano de saúde em relação ao SUS‟, „Julgamentos positivos

sobre os planos de saúde‟ e „Julgamentos negativos sobre os planos de saúde‟, conforme

podem ser observados nos Apêndices D e F.

A pré-categoria 4.1 “Nível de satisfação acerca do plano de saúde contratado em

relação aos planos privados de saúde” indicou-se a satisfação dos usuários de planos com o

atendimento privado contratado, embora quatro entrevistados tivessem informado que

migrariam para outro plano de saúde. Quando indagados sobre qual nota de zero a dez dariam

Page 144: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

142

aos seus planos, a maioria concedeu uma nota maior que sete, o que corrobora a satisfação

enunciada dos entrevistados com seus planos de saúde. Assim, na concepção avaliativa dos

usuários de planos, denotam-se nas falas:

Eu tô demais satisfeita, dou dez para o meu plano, eu adoro meu plano. (E3)

Com meu plano estou satisfeita, porque até hoje não me desatendeu em nada, daria 9,0. (E7)

Estou muito satisfeita, eu daria 8,0. (E14)

A satisfação dos usuários nos planos de saúde tem relação com as avaliações

descritivas de notas indicadas pelos entrevistados.

Para Stenzel, Misoczky e Oliveira (2004, p. 87), “a utilização da satisfação dos

usuários como indicador de qualidade dos serviços de saúde é uma tentativa de incorporar a

perspectiva do usuário nos processos de avaliação”.

A avaliação do usuário é importante não somente para sua satisfação pessoal, mas

direciona o alvo de mudanças governamentais, porque ele é o mais apto a diagnosticar sua

percepção, porque como contratante de plano de saúde usa o serviço que lhe é ofertado, e,

portanto, qualquer problema enfrentado pressupõe se o que está a sua disposição é realmente

adequado às suas necessidades.

Para Silva (2005, p. 22), “a seleção das características ou atributos das práticas,

serviços, programas, estabelecimentos ou do sistema de saúde a serem avaliados contribui

para o aprofundamento no processo de definição do foco de avaliação”.

Na pré-categoria 4.2 “Nível de satisfação acerca do plano de saúde em relação ao

SUS” houve predomínio de relatos que afirmavam a não migração dos planos de saúde para o

SUS. A alegação que fundamentava a não migração para o SUS era a de que o serviço na rede

privada era mais bem prestado do que o do público. Porém levantando-se a pressuposição de

inexistência de demora do atendimento no SUS, ainda que sem o luxo da hotelaria vinculada

ao serviço privado, e sem as comodidades extras desse serviço como quarto particular e

suítes, no lugar de enfermarias, apenas oito entrevistados disseram que migrariam para o SUS.

Os demais desiludidos com o sistema de saúde público não manifestaram nem que tamanha

pressuposição pudesse ser comprovada. As falas que apontam a migração para o SUS são:

Se eu conseguisse comprovar isso, com certeza. (E9)

Claro eu pago imposto para isso. (E11)

Page 145: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

143

Em antagonismo com as falas dos usuários dos planos de saúde migrantes para o SUS,

transcreveram-se os relatos:

Você sair do certo para o duvidoso...? (E13)

Não desistiria do meu plano, não vou desistir, eu não vou largar meu plano de jeito nenhum.

(E26)

Verificou-se que a desilusão com o atendimento do SUS é generalizada pela expressão

de relatos como falta de agilidade e imprevisão de atendimento no SUS, o que gera a

insatisfação dos entrevistados para com o sistema público de saúde.

Na pré-categoria 4.3 “Julgamentos positivos sobre os planos de saúde”, muitas

vantagens desde a infraestrutura, como também a qualidade dos serviços prestados na rede

privada de assistência, foram colocados em pauta pelos entrevistados, evidenciadas nas falas:

Eu tenho mais conforto. (E1)

Eu acho tudo positivo, tem vários hospitais, muito bom lá, o atendimento, as enfermarias, os

médicos, tudo. (E3)

O atendimento rápido, a facilidade de marcação, leque de opções. (E12)

A comodidade, o atendimento, a qualidade. (E14)

A pesquisa mostrou um alto nível de satisfação dos usuários entrevistados em relação

aos planos de saúde, tendo como grande destaque a variedade de prestadores, a qualidade da

rede de atendimento, a rapidez e a localização de médicos, hospitais e laboratórios. Para

corroborar esse resultado, em pesquisa de opinião com amostra representativa, realizada nos

meses de setembro a dezembro de 2005 pela ANS por meio de 1688 entrevistas com

beneficiários de planos de saúde domiciliares em todos os estados brasileiros, e a partir das

bases de dados disponíveis na ANS, e nos bancos de dados públicos do setor saúde foram

constatados em relação ao componente “satisfação com os planos e prestadores”, um

percentual significativo de beneficiários que se declararam satisfeitos, principalmente no que

se refere à agilidade de agendamento de procedimentos e cobertura da rede assistencial

(AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, 2005).

Na pré-categoria 4.4 “Julgamento negativo sobre o plano de saúde” o custo das

mensalidades, reajustes de preços por idade, demora na marcação, despesas com material

cirúrgico e as medidas de controle das operadoras como autorizações, solicitações de senhas e

fatores de moderação como a cobrança de coparticipações prévias aos exames de alta

Page 146: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

144

complexidade foram as características negativas mais sobressalentes no grupo dos

entrevistados:

O custo é muito caro por causa da idade, a idade vai avançando e vai onerando mais o bolso.

(E1)

Tá esse problema de médicos demorando para marcar. (E2)

A gente arcou com o material que foram as placas e os pinos, a parte que caberia o plano

cobrir. (E5)

O preço dos planos, principalmente para quem tem mais de 60 anos. (E7)

Você tem que pagar novamente o plano para poder ter qualidade e dignidade, porque senão

você fica esperando. (E10)

Esta pesquisa demonstrou a existência de aspectos negativos dos planos de saúde, tais

como os elevados custos das mensalidades e as solicitações de senhas às autorizações prévias

de atendimento, em especial para os exames de alta complexidade, considerando que os

exames mais simples como hemograma, cultura de urina e parasitológico de fezes não tinham

necessidade de solicitação de autorização prévia pela operadora. Além disso, os relatos de

insatisfação convergiram para os problemas das altas mensalidades oriundas das mudanças

das faixas etárias, as quais acabavam pesando mais no orçamento do idoso que aposentado

tinha sua remuneração reduzida. Os processos dinâmicos trazidos ao longo do ciclo natural de

envelhecimento da vida e as experiências compartilhadas consagram interesses, crenças,

ideias, sensos, perspectivas, frustrações e atitudes importantes na avaliação coletiva sobre a

transversalidade de determinado tema.

A viabilização do acesso à saúde suplementar, principalmente para o idoso é um

requisito importante para a consolidação da cidadania plena, satisfação dos assistidos e a

melhora na qualidade de vida, embora a maior parte dos sujeitos desse estudo tenham se

configurado mais frequencialmente nas faixas etárias de 30 a 49 anos.

Quanto aos reajustes de mensalidades nos planos de saúde existe uma diferenciação

entre os planos individuais e coletivos. Nos planos individuais, os índices de reajustes são

definidos pela ANS, ao passo que nos coletivos há livre negociação entre as partes que

posteriormente é informada à ANS. Essa diferença, embora regulamentada pela ANS, implica

em poderes de negociação distintos entre os planos individuais com baixo poder de

negociação em virtude de sua representatividade reduzida, em detrimento ao alto poder de

negociação dos planos coletivos representados pelas pessoas jurídicas (empresas, associações

e sindicatos), em função do número maior de beneficiários vinculados aos planos desta

natureza (ALBUQUERQUE et al., 2008).

Page 147: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

145

Segundo Santos, Malta e Merhy (2008), antes da regulação dos planos de saúde os

reajustes eram praticados livremente pelas empresas por faixas etárias, onde algumas dessas

empresas que operavam planos privados de saúde praticavam até 32 faixas de reajustes entre

os mais novos e os mais idosos.

Após a regulação dos planos de saúde medidas regulatórias foram utilizadas para

definirem reajustes máximos entre as faixas etárias, a partir da resolução do Conselho

Nacional de Saúde Suplementar (CONSU) nº 6 de 04 de novembro de 1998 e da RN nº 63 de

22 de dezembro de 2003 da ANS, as quais definiram reajustes de, no máximo, seis vezes entre

os mais jovens e os mais idosos, subsidiando o “pacto intergeracional” no momento em que

os mais jovens “auxiliam” no custeio dos planos dos mais idosos (SANTOS; MALTA;

MERHY, 2008).

Assim, o aumento do custeio dos planos para os mais jovens implicou na redução

proporcional das crianças e jovens de 19 anos na população de beneficiários de planos, e

aumento da participação proporcional das faixas acima de 20 anos, provavelmente decorrente

da expansão dos planos coletivos (SANTOS; MALTA; MERHY, 2008).

Analisando a questão dos reajustes dos planos de saúde, ainda que seja significativo o

„pacto intergeracional‟ para os jovens produtivos no mercado de trabalho alçarem os valores

maiores com as despesas de planos de saúde, considerando a baixa probabilidade do risco

numa carteira de composição saudável, os preços das mensalidades dos planos, conforme o

avançar na faixa etária continua desproporcional para a renda familiar reduzida de um

aposentado que tem que custear outros dividendos extras à saúde. Há que se pensar também

em formas de revisão das aposentadorias para restabelecer ou aproximar a liquidez real de

seus salários como quando eram ativos no mercado de trabalho. Programas de reinserção de

aposentados no mercado de trabalho com jornada reduzida poderia restabelecer essa liquidez

ou revisão monetária baseada em critérios dignos para cidadania plena na terceira idade.

Sobre o nível de satisfação dos usuários de planos de saúde da amostra há uma relação

direta com a realização do exame de forma efetiva no tempo esperado. Ao passo que são

atendidos, a satisfação é efeito do que foi requisitado pelo médico assistente. O controle social

regulatório ocorre a partir da satisfação desse grupo que traduz a efetividade dos produtos

comercializados e contratados pelas operadoras de planos de saúde.

Os resultados desta pesquisa apontam que os planos de saúde dos entrevistados

autorizam prontamente a realização de exames, em especial, os mais custosos como os de alta

complexidade. Por outro lado, foram experimentadas pela amostra do estudo negativas

prévias para exames desta natureza em situações temporais distintas, os quais seriam de

Page 148: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

146

direito contratual. Alguns entrevistados referiram que as operadoras exigiam justificativa do

médico assistente para o exame requerido no lugar de outro procedimento diagnóstico mais

barato. Foi revelado que algumas operadoras contestavam a solicitação médica para

determinado diagnóstico. Alguns entrevistados disseram que para autorização de outros

procedimentos cirúrgicos que não os exames de alta complexidade tiveram problemas, da

mesma forma que para determinado material cirúrgico necessário. Um sujeito entrevistado

relatou que foi negada uma cirurgia de miopia para o grau 5,0, visto que só era autorizado este

tipo de intervenção, a partir do grau 7.0, conforme o rol de procedimentos obrigatórios

regulamentados pela ANS naquela ocasião.

Para Montone (2009), o rol de procedimentos obrigatórios materializa a cobertura

mínima dos planos, incluindo todas as doenças. A atualização do rol pela ANS permite a

inclusão de novas coberturas de procedimentos para restabelecimento da saúde, como o

transplante de medula, revisão de parâmetros em outras, como a cirurgia a laser para correção

de miopia, que era obrigatória para miopia superior a sete graus e atualmente com garantia

acima de cinco graus.

O Rol de procedimentos e eventos se baseia na lista de procedimentos médicos da

Classificação Internacional de Doenças (CID) -10 da OMS que deve ser disponibilizada como

cobertura mínima obrigatória para cada segmentação de planos de saúde (ambulatorial,

hospitalar com ou sem obstetrícia e plano referência) contratados pelos consumidores, a partir

de 02 de janeiro de 1999. Os contratos antigos assinados anteriormente à vigência da Lei

9.656/1998 têm cobertura estabelecida pelo contrato (MARTINS; PAULO, 2010).

A atualização do rol de procedimentos e eventos na saúde suplementar permite que os

contratos novos regulados desde 1999 acompanhem o desenvolvimento de novas tecnologias

de prevenção, diagnóstico e tratamento (MONTONE, 2009).

Porém, Bahia (2001) ressalta a importância de se desenvolverem pesquisas acerca da

assistência médica supletiva para aprofundar o conhecimento sobre o sistema de saúde

brasileiro de forma a ampliar o significado da saúde, que no âmbito da saúde suplementar, foi

reduzido a um rol de procedimentos e eventos médico-hospitalares.

Perceberam-se diferentes reações perante as negativas de autorização prévia aos

procedimentos em outras ocasiões que não a realização dos exames de imagem dessa

pesquisa, incluindo recursos ao judiciário, pagamento direto do procedimento ou até

desistência da realização de tais procedimentos, em virtude do custo.

Page 149: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

147

4.3.5 Percepção do atendimento no SUS

A perspectiva de problema de saúde entendida como pedido do usuário, ora como um

favor, ora como uma demanda, na qual se implica um dever, mantém a lógica de afastamento

entre o Estado e a sociedade civil, o que revela o desafio para maior participação cidadã nesse

processo de reivindicação de serviço público em prol da saúde (ASENSI, 2010). Para Lacerda

e Valla (2010, p.287), “as necessidades em saúde ou demanda de cuidados médicos fazem

parte do imaginário social e, portanto, estão permeadas de conteúdos simbólicos”.

O SUS como o maior sistema nacional público traz simbolismos e significados para

usuários e não usuários desse sistema.

Existem diferenças entre a porta de entrada no sistema de saúde pelos usuários do SUS

e aqueles que são beneficiários de planos privados de saúde. Enquanto os dependentes do

SUS procuram mais os serviços de urgência e emergência, os beneficiários de planos buscam

mais as clínicas e consultórios, do que os prontos-socorros ou hospitais, com utilização de

serviços de postos ou centros de saúde em apenas 3,9% dos casos. Tal situação ocorre devido

à possibilidade da menor oferta ou acesso aos serviços de saúde da rede de unidades básicas

no SUS, paralelo ao padrão diferenciado de consumo dos diversos tipos de serviços nos

planos de saúde, principalmente para os detentores de rendas superiores (PESSOTO et al.,

2007).

A utilização residual de postos de saúde pelos beneficiários de planos de saúde (3,9%)

pode ser explicada pela utilização de serviços exclusivos oferecidos pelo SUS, a exemplo das

vacinas e medicamentos que não são fornecidos pelos planos privados de saúde (PESSOTO et

al., 2007).

Compreendem-se como hipóteses explicativas para a reduzida procura dos clientes aos

serviços de urgência e emergência dos planos privados de saúde: a maior oferta e facilidade

de acesso aos demais serviços (clínicas e consultórios); tipo de plano ou seguro de saúde que

pode levar usuários de planos de saúde com menor renda e menor disposição de oferta de

serviços privados a buscarem atendimento nos prontos-socorros ou hospitais do SUS;

barreiras de acesso aos serviços de urgência e emergência dos planos embora numerosos,

conforme o tipo de produto contratado do plano; percepção diferenciada sobre a morbidade do

quadro entre beneficiários de planos de saúde e usuários do SUS e diferenças perceptivas para

usuários exclusivos do SUS em relação ao conjunto dos beneficiários de planos (PESSOTO et

al., 2007).

Page 150: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

148

A categoria “Percepção do atendimento no SUS”, está representada por 13,34% do

total percentual de unidades de registro das falas que se subdivide nas pré-categorias

„Julgamentos positivos sobre o SUS‟ e „Julgamentos negativos sobre o SUS‟, conforme pode

ser observado nos apêndices D e F.

Na pré-categoria 5.1, apesar dos entrevistados não simbolizarem muitas características

positivas no SUS, muitos deles apontaram como excelente os atributos de qualidade

vinculados aos recursos humanos do SUS, hospitais de referência e contrarreferência, o

programa de saúde da família, gratuidade de medicamentos, vacinas, serviços de emergências,

acesso para as pessoas de baixa renda, entre outros. São aparentes nas falas:

Eu to gostando de pegar só dois remédios lá no posto. (E3)

Acho que a gente tem bons hospitais, bons médicos, e gente tem hospitais de referência no

país. (E4)

O serviço de emergência é positivo. (E5)

O médico de família, o programa de saúde da família, o PSF, é um coisa que efetivamente

funciona. (E6)

De positivo, eu citaria aquele hospital de Laranjeiras, que é um hospital de referência, eu

conheço, inclusive, o médico de lá, o próprio INCA é uma referência. (E9)

Um acidente que eu tiver primeiro vou para o Souza Aguiar, depois eu vou para o particular,

os profissionais para mim da rede pública são os melhores do mundo. (E13)

Eu entrei com um pedido de um aparelho auditivo no governo, deve ser pelo SUS, é assim,

demorou um ano para conseguir, mas eu consegui. (E30)

Percebe-se que a descrição dos serviços do SUS mais valorizados é os de natureza

humana no atendimento, identificada pelos usuários como processo necessário para a

formação dos profissionais de alta qualidade pela diversidade da demanda e de referência para

casos de urgência e emergência. Para infraestrutura, os hospitais públicos de grande porte

foram os mais elogiados quanto às especialidades cardiológicas, oncológicas e de pronto

atendimento para as situações que envolvem risco iminente de morte - afogamentos, traumas,

queimaduras, ferimentos por arma de fogo, acidentes pessoais. A atenção domiciliar centrada

no modelo do cuidado foi valorizada a partir da atuação dos médicos de família e suas equipes

de trabalho como uma experiência que deu certo no SUS.

Na pré-categoria 5.2 sobressai a insatisfação em relação ao SUS, entretanto baseada

em vivências e informações compartilhadas por parentes, amigos e empregados próximos, e

àquelas que são provenientes de televisão, jornais de grande circulação, rádios e revistas.

Na análise da percepção negativa do atendimento no SUS destacam-se as deficiências

apresentadas pelos serviços de saúde, falta de médicos e equipamentos, demora no

Page 151: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

149

atendimento, sobressaindo as falhas de gestão da verba pública destinada à saúde e

improbidades administrativas, conforme os relatos:

Desinteresse da Administração Pública. (E14)

A gente chega ao pronto-socorro do SUS e a gente mofa na fila. (E16)

O sistema tá doente, esse sistema do SUS é doente. (E17)

Deviam abrir mais concurso para mais profissionais. (E19)

O problema do SUS é a má gestão do dinheiro público, o SUS é um susto. (E20)

A forma, o mecanismo não funciona. (E21)

A espera, o acúmulo de gente. (E23)

O descaso das autoridades que deixam os hospitais em caso de abandono. (E24)

Tem muita corrupção, muita coisa errada, muito ruim não tem médico para atender. (E26)

Observou-se que o destaque nos relatos dos entrevistados foi maior para o aspecto

negativo do SUS, ressaltando predominantemente a incompetência da gestão das autoridades

administrativas, mau uso da verba pública, a corrupção e o desvio do dinheiro destinado à

saúde pública. Bertolli Filho (2008) ressalta que desde 1980 a política de saúde brasileira

pouco fez para modificar o quadro sanitário vigente nas décadas anteriores, evidenciando a

persistência de um cenário marcado por epidemias evitáveis, como os surtos de cólera e

dengue, índices crescentes de tuberculose, tracoma, doença de Chagas e doenças mentais.

Portanto,

segundo alguns dos principais administradores da saúde pública brasileira, o setor sofre

sobretudo da ausência de planejamento e da descontinuidade dos programas.Tal situação

permite não só o alastramento da corrupção, mas também a ineficiência dos serviços de

atendimento às necessidades básicas da população (BERTOLLI FILHO, 2008, p.61).

Sobre a transparência na gestão existem elementos similares que impedem a atuação

mais qualificada dos conselhos de saúde que inibem o exercício da cidadania quanto ao

controle dos gastos e dos resultados da ação pública (SANTOS; ANDRADE, 2009).

De acordo com Campos (2006), os conselhos de saúde foram criados em cada uma das

três instâncias de governo para atuar como mecanismo de controle social na instituição de um

sistema de gestão compartilhada. Suas funções estão relacionadas ao poder de fiscalizar,

acompanhar e a avaliar a gestão do sistema, cuja composição e funcionamento devem ser

determinadas por normas nacionais, das quais a definição é de que a metade de seus membros

Page 152: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

150

deve ser escolhida diretamente por usuários e a outra entre governantes, prestadores de

serviços e trabalhadores de saúde.

Na VIII Conferência Nacional de Saúde realizada em 1986 foi requisitada e defendida

a inserção das deliberações dos conselhos no núcleo decisório das políticas, contudo embora

existam afirmações sobre o caráter deliberativo dos conselhos a política de saúde é produzida

de forma centralizada no Poder Executivo. A este poder caberia a proposição e apresentação

aos conselhos, cuja função seria a „aprovação ou deliberação‟ das propostas assim colocadas

(GUIZARDI et al., 2004).

Não obstante embora tivessem criado milhares de conselhos com funções relevantes

para o bom funcionamento da Administração Pública, terem realizado centenas de

conferências e reuniões diversas sobre temas específicos na saúde percebe-se um grau

importante de desligamento do movimento interno ao SUS em relação à sociedade que

deveria representar, tal como a efetivação dos representantes dos usuários, evidenciada pela

pequena taxa de renovação, onde as mesmas pessoas representam os mesmos segmentos há

anos (CAMPOS, 2006).

Conforme Campos (2006, p.435), “torna-se cada vez mais frequente a indicação de

dirigentes do SUS principalmente em função de suas ligações orgânicas com partidos ou

grupos políticos”.

Analisando a problemática da interferência política partidária na indicação dos

dirigentes e gestores nas diferentes esferas de comando único do SUS e em seus órgãos

públicos vinculados, a escolha dos dirigentes poderia ser substituída por concursos seletivos

específicos elaborados por instituições públicas universitárias neutras, que tivessem

imparcialidade e isenção de conflitos de interesse. Desta forma, prevalecer-se-ia a defesa

maior do interesse público e não os interesses antagônicos descompromissados de qualquer

interesse social. Para Campos (2006, p. 435), “[...] a gestão do SUS ainda é excessivamente

atravessada pela lógica partidária e pela racionalidade decorrente do simples jogo pela

manutenção do poder”.

Por outra vertente dessa análise, observa-se uma lacuna enorme entre o conhecimento

da operacionalidade da Administração Pública com atividades vinculadas ao ensino e a

pesquisa, sendo econômico, oportuno e conveniente aproveitar o próprio quadro técnico

específico em parcerias interinstitucionais no aprimoramento das competências técnicas do

corpo funcional, incluindo o treinamento em serviço de futuros gestores desse sistema de

saúde, no lugar de „importação política‟ de agentes externos, os quais muitas vezes podem

Page 153: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

151

não ter o mérito e capacidade técnica dos agentes operacionais que lidam mais diretamente

com as questões prioritárias „efervescentes‟ da saúde pública.

No aspecto do comportamento humano relacionado aos profissionais que atendem nos

hospitais públicos, a espera parece ser organizada por triagem baseada em critérios subjetivos

de avaliação desses profissionais que às vezes não consideram uma anamnese e um exame

clínico bem apurados, passando a priorizar dores tradicionais de enfarte ou acidentes, e a

subestimar qualquer problema diferente desses, os quais se tornam desclassificados de

situações de urgência e emergência, desmerecendo nessa lógica desumanizada, a atenção

devida daqueles profissionais de saúde. Percebe-se tal situação na passagem:

entre as dores, uma é figura de exceção, pois é geralmente levada muito à sério pelos médicos,

sobretudo se é recente: a „dor no peito‟.Ela confere ao paciente um valor mobilizador alto que

se traduz por um atendimento rápido,pois pode ser o sinal de um enfarte que, entre os ditos

„casos clínicos‟, é considerado como a emergência por excelência.Nos exemplos de

emergências que dão os médicos, o enfarte é o único problema de saúde não decorrente de um

trauma físico, sistematicamente citado ao lado dos acidentes.Assim, é considerado também

pelos seguranças e atendentes de centrais.Segundo bombeiros que atuam na central do 193, o

enfarte é o único „caso clínico‟ que resgatam sistematicamente, como o fazem com os

problemas resultantes de acidentes, pois, como estes, é uma emergência (GIGLIO-

JACQUEMOT, 2005, p. 69).

Por outro lado, o comportamento do paciente tende comumente a classificar sua dor

como urgência e emergência para conseguir resgate, atendimento rápido e desviar-se das filas

no SUS, assim como se observa a seguir:

certos pacientes sabem do valor dado à „dor no peito‟ e assinalam quando querem a vinda do

Regate ou de uma ambulância. É comum os solicitantes se referirem a esse sintoma no

telefone, e os motoristas do 192 descobrirem, uma vez no lugar, que a pessoa a ser atendida

nunca sentiu essa dor,mas está sofrendo de outra coisa, por exemplo, de coma alcoólico, para

o qual se teme não conseguir a assistência da ajuda móvel de urgência.A mesma observação

pode ser feita no pronto-socorro.A importância dada pela equipe médica à dor no peito é

facilmente perceptível e certos pacientes se queixam desse sintoma no intuito de apressar o

atendimento (GIGLIO-JACQUEMOT, 2005, p. 69).

Os julgamentos negativos do SUS podem ser remetidos na literatura por algumas

respostas que talvez possam designar o caos descrito pela quase grande maioria dos

entrevistados, a saber:

[...] não obstante todos esses valores, princípios, diretrizes e inovações, o SUS é apenas uma

das respostas sociais aos problemas e necessidades de saúde. Outras respostas significativas

dizem respeito às políticas econômicas, sociais, ambientais, culturais que incidem sobre

determinantes e condicionantes de saúde. Apesar da existência do SUS, o sistema de saúde no

Brasil ainda não é único, continua segmentado, tendo em vista o fortalecimento do Sistema de

Assistência de Desembolso Direto (SDD), representado por consultórios, clínicas e hospitais

particulares nos quais o pagamento é realizado após a prestação de serviços (PAIM, 2008,

p.97).

Page 154: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

152

Para Campos (2006, p. 425), “a descentralização supõe distribuição de poder e

ampliação dos mecanismos de participação e de controle da sociedade sobre o Estado, sobre

governos e sistemas públicos - um efeito desejado e buscado pelo espírito democrático”.

Contudo, a descentralização que seria um modo de conseguir maior êxito de funcionalidade

no SUS não atua na sua amplitude de ação, por que

[...] esse é exatamente o caso da descentralização, que é um meio de conseguir que o SUS

funcione com mais eficiência e eficácia. O critério para avaliar programas ou projetos não

poderia ser, principalmente, sinal ou sintoma de que o sistema estaria funcionando de modo

mais descentralizado. A avaliação deveria considerar centralmente a ampliação da capacidade

de produzir saúde em função de novos arranjos descentralizados eventualmente adotados.

Assim, a potência ou os limites dessa diretriz devem ser verificados mediante resultados

sanitários e não apenas em função de sua capacidade de se produzir a si mesma; ou seja,

descentralização (CAMPOS, 2006, p. 425).

Para Campos (2006, p.420), “[...] optou-se por descentralizar para os municípios a

responsabilidade pela organização e gestão dos sistemas locais de saúde”. De acordo com

Santos e Andrade (2009), essa descentralização mesmo que 100% dos municípios e estados

brasileiros cuidassem diretamente da saúde da população, seguem-se regras determinadas pelo

Ministério da Saúde com pouca liberdade de gestão, com sinais de centralismo imposto pelo

financiamento dos programas. Tal situação é corroborada por Campos (2006), ao passo que na

descentralização de recursos federais para os demais entes federativos, pratica-se uma indução

à gestão estadual e municipal, na medida em que a União condiciona o repasse de importante

parcela de recursos à adesão ao planejado e definido no nível central.

Para Montone (2009, p. 148), “a desconstrução do poder centralizado na Constituinte

priorizou, num certo sentido, o combate ao seu autoritarismo, subordinando o sistema de

gerenciamento ao processo de construção da cidadania por meio da saúde”.

O municipalismo no Brasil foi um dos componentes do movimento que lutou pelo

término da ditadura militar, fortalecido por reação de vários segmentos ao grau excessivo de

centralização ocorrida durante o período ditatorial, onde o movimento democrático e o

pensamento de esquerda incluíram a descentralização como elemento primordial à

democratização do país (CAMPOS, 2006).

Segundo Paim (2008), existem representações acerca do SUS que constituem

interesses baseados na „indústria da saúde‟, em governos e corporações profissionais, além de

ideais de mudança social. Dentre elas, o „SUS para pobres‟, resultado do modelo

institucionalizado de saúde pública, de políticas específicas influenciadas por entes

internacionais e de restrições à expansão do financiamento público. O „SUS real‟ formatado

pelas políticas econômicas monetaristas e de ajuste macroestrutural, pelo clientelismo,

Page 155: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

153

patrimonialismo e partidarização na saúde. O „SUS formal‟ de base normativa (Constituição

de 1988, Leis nºs

8.080/1990, 8.142/1990, normas e pactos) e, finalmente o „SUS

democrático‟ integrado a Reforma Sanitária Brasileira na sua dimensão institucional através

da universalidade, equidade, humanização e qualificação da assistência.

Tantas representações sobre o SUS que é complementado pelo setor privado trazem

mais expectativas na concepção do „SUS democrático‟ para um atendimento humanizado e

responsável, com mudanças no modelo assistencial médico hegemônico vigente, que traga à

tona o compromisso para construção de um sistema unificado e integrado na perspectiva da

linha do cuidado de modo que proporcione a resolutividade pelo projeto terapêutico

personificado e não instrumentalizado, sem prejuízo às outras ações e serviços de atenção

secundária e terciária.

Existe um sistema contraditório de relações dos diferentes grupos sociais que

constituem os perfis epidemiológicos de classe, ao passo que enquanto uns conseguem manter

saúde beneficamente, outros vivenciam processos deletérios produtores de doenças. Este

sistema de reprodução social dos diferentes grupos inclui os padrões de trabalho e consumo,

as atividades práticas da vida cotidiana, as formas organizativas ou de participação social, a

política e a cultura (BARATA, 2009).

Dentro desse sistema de contradições, Bahia et al. (2008) referem pragmaticamente as

assimetrias de acesso, as quais reiteram a segmentação do sistema de saúde brasileiro que se

aplica aos SUS dependentes e SUS não dependentes. Desta forma, embora também exista a

dicotomia entre os cidadãos “pagantes” e “não pagantes” de hospitais públicos esta divisão

não deve ser um antônimo, por que

[...] ambos referem-se a atendimentos remunerados. Na prática, “não pagante” quer dizer um

menor valor de pagamento do procedimento-o valor pago pela Tabela do Ministério da Saúde-

e o vocábulo “pagante” significa que o atendimento será remunerado pela Tabela utilizada

pelas empresas de planos e seguros de saúde (BAHIA et al., 2008, p.1389).

Os serviços privados podem ser conveniados ao SUS e os leitos de hospitais públicos

podem ser ocupados por clientela da saúde suplementar, e vice-versa.Os tipos de convênio

relacionam-se à forma de remuneração de um determinado atendimento ou serviço prestado

pelo estabelecimento de saúde, onde os convênios podem ser SUS, particular, plano de saúde

público e plano de saúde privado (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR,

2010a).

Conforme Ceschin (2010), é importante rediscutir a percepção suplementar,

complementar ou substitutiva da saúde suplementar, principalmente quanto ao anseio que o

Page 156: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

154

consumidor tem sobre o caráter substitutivo da saúde suplementar em relação ao SUS, haja

vista que não se contempla nesse impasse a integração entre a saúde suplementar e pública.

O modelo de remuneração no sistema de saúde suplementar não é suportável, porque

passou a ser baseado no consumo e quanto mais exames, procedimentos e internações se

geram, mais o sistema, com exceção das operadoras, ganha. Há que se propor um novo

modelo de remuneração da saúde suplementar, que recupere a remuneração dos honorários e

serviços, tendo em vista o resultado e não o consumo de insumos, já que os recursos

financeiros não são infinitos (CESCHIN, 2010).

Dependendo da concepção adotada pelo usuário quanto à denominação da interface

SUS e planos de saúde percebeu-se que os entrevistados designaram consensualmente um

caráter predominantemente substitutivo da saúde suplementar em relação ao SUS,

considerando que embora pudessem usar o SUS, e eventualmente o setor privado, na maior

parte em referência ao direito de duplicidade de acesso em ambos os sistemas, a revelação foi

amplamente generalizada para o foco da substituição por terem relatado maior frequência de

acesso às ações e serviços de saúde privados.

Na realidade dos SUS dependentes, a interface com o setor privado pode ser designada

como complementar, porque existem serviços no SUS que são prestados à população por

intermédio com o setor privado, como hemodiálise e diálise peritoneal no setor de alta

complexidade, entre outros. Nesse contexto,

para se entender melhor a extensão dos prejuízos ao SUS é preciso conhecer um pouco

melhor outra característica do sistema de saúde brasileiro. Somos um país em que a saúde é

um direito constitucional do cidadão e deve ser garantido pelo Estado de forma universal,

integral e gratuita. Porém, a produção de serviços de saúde é majoritariamente privada,

principalmente nos procedimentos hospitalares e de média e alta complexidade, ou seja, para

atender gratuitamente o cidadão, o SUS tem serviços próprios, mas também contrata serviços

privados. Ao ser internado para uma cirurgia, o cidadão pode estar usando um hospital

público ou um hospital privado contratado pelo SUS. Esse hospital pode ser filantrópico, sem

fins lucrativos, mas ainda assim privado (MONTONE, 2009, p.27).

Para reforçar a complexidade da interface SUS e planos de saúde, verifica-se que

um cidadão com direito ao SUS, como todo cidadão, “preferiu” comprar um plano ou seguro

privado. Paga sua mensalidade e reclama todo mês que “ainda por cima tem que pagar

imposto”. Por infelicidade, seu médico do plano descobre que ele tem um problema grave de

insuficiência renal e que vai precisar de hemodiálise, um procedimento caro e que terá de ser

realizado 2 a 3 vezes por semana pelo resto de sua vida ou até que consiga um transplante de

rim.A hemodiálise não é coberta por seu plano de saúde.Então seu médico, que também é do

SUS, faz um encaminhamento para hemodiálise numa clínica privada que tem convênio com

o SUS, e então indica-se o tratamento, que é pago pelo SUS e continua sendo acompanhado

por seu médico do plano de saúde, que também é do SUS (MONTONE, 2009, p. 29).

Page 157: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

155

Tantas designações e rediscussões são factíveis, porque refletem a heterogeneidade da

sociedade que avalia o que é melhor para si, o que é mais satisfatório e mais completo,

trazendo o resultado pautado na qualidade do enfrentamento dos seus problemas de saúde.

Porém, pode ocorrer a necessidade de ressarcir os cofres públicos perante o flagrante

enriquecimento ilícito das operadoras quando têm seus beneficiários usando o SUS em

serviços que estariam cobertos pelos seus planos de saúde. Torna-se, assim, imperiosa a

atuação regulatória da ANS nesse sentido, independente da dualidade de cobertura pública e

privada nortear a opção do usuário, o qual é livre para escolher o âmbito de seu tratamento de

saúde em qualquer rede assistencial - seja quando concebe a saúde pública como um direito

público- seja quando concebe a saúde suplementar como um direito privado.

Page 158: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

156

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A percepção dos usuários de planos de saúde que, por inúmeras razões, optam por

serem consumidores exclusivos da saúde suplementar permitiu a análise da efetividade do

acesso aos produtos comercializados pelas operadoras, bem como da sua real disponibilidade

aos usuários, expressando as facilidades e dificuldades verificadas, dentre outros aspectos,

pelo tempo entre a solicitação médica e a marcação para realização do exame.

A convivência ligada aos problemas de saúde aproximada da realidade social dos

brasileiros usuários da saúde suplementar torna esses consumidores os mais aptos dentro de

um certo grupo social homogêneo estudado a descreverem a percepção de acesso aos exames

de alta complexidade diagnóstica e nível de satisfação voltados para a qualidade do

atendimento contratado.

As perspectivas dos 30 usuários entrevistados para análise do objeto de estudo podem

ser tomadas como instrumentos regulatórios sentinelas, quando as experiências e vivências

compartilhadas são explicitadas na sua magnitude de significados relevantes para a defesa do

interesse público.

Os achados decorrentes tanto do formulário, quanto das entrevistas permitiram

reconhecer um cenário caracterizado por impressões e pensamentos coletivos dos

entrevistados, os quais não podem ser generalizados através de relação causa-efeito na

contemplação dos resultados. Assumem-se, portanto, inferências para o entendimento de um

contexto compartilhado por um grupo homogêneo de beneficiários de planos de saúde, onde

praticamente todos descreveram o acesso aos exames de alta complexidade como rápidos,

fáceis e sem problemas, garantidos no sistema privado de saúde.

O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde privados, na

perspectiva dos usuários, firma a eficácia descritiva pontual e temporal subjetiva do

atendimento dos planos de saúde, que se traduz pela rápida liberação das autorizações dos

planos de saúde para os exames de ressonância magnética, tomografia computadorizada e

densitometria óssea, que foi inferior ao período normatizado recentemente pela ANS (Tabela

1, f. 64).

Embora as autorizações prévias às requisições de exames e procedimentos não tenham

previsão legal em normativo discriminado por número pela ANS, percebeu-se no contexto

desta pesquisa uma diferenciação de tempos de validade dos pedidos médicos, quando

Page 159: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

157

datados, variando em função da razão social da operadora, produto e segmentação dos planos

de saúde contratados.

A proposta de Resolução Normativa que tratará dentre outras peculiaridades sobre os

prazos máximos de atendimento nos planos privados de saúde está sendo submetida à nova

consulta pública nº 37/2011, com a participação da sociedade civil, destacando-se nesta

atuação regulatória uma maior preocupação com a perspectiva do usuário que está mais

próximo das condições de avaliadores, do que os demais entes regulatórios-prestadores de

serviços e operadoras de planos privados de assistência à saúde.

Nessa perspectiva, outros estudos seriam importantes para investigar as relações de

negócios entre diversos atores da saúde suplementar, para aprimorar o processo regulatório

equitativo de forma a ampliar seu escopo de atuação a todos os segmentos, sobretudo o social

que tange ao bem maior coletivo, independente da rentabilidade e sustentabilidade a ser

garantida do segmento privado ou pessoa jurídica de renome envolvida (tipo de operadora) ou

produto do plano de saúde contratado.

Como proposta, os prazos máximos de atendimento normatizados ineditamente em

2010 pela ANS, poderiam ser acrescentados como informações obrigatórias no manual de

contratação de planos de saúde para que se intensificasse, através de maior disponibilidade de

informação ao usuário, a mobilização deste ator social, que ao se sentir prejudicado passasse a

procurar imediatamente o canal institucional de diálogo com o agente regulador. A

mobilização social está relacionada ao conhecimento prévio da sociedade sobre as

metodologias temáticas da saúde suplementar, diretamente ligada à transparência do órgão

regulador, o qual deve estar disponível e preparado para receber a maior pressão de suas

demandas, a partir da participação de todos os atores da saúde suplementar - operadoras,

prestadores e usuários de planos de saúde. Para tanto, é fundamental ter transparência nessas

metodologias para que a participação social se viabilize de fato, sendo a divulgação de

critérios técnicos das consultas públicas permeáveis ao conhecimento da funcionalidade do

sistema de saúde suplementar, garantindo a credibilidade desse sistema, através da

participação equilibrada para negociação entre todos os atores descritos anteriormente.

A consulta pública sobre prazos máximos de atendimento realizada pela ANS

considerou, para elaboração de normativo disciplinador dessa matéria, somente a opinião das

operadoras de planos de saúde. Antagonicamente, evocou-se uma contrariedade do segmento

médico de prestadores de serviços pelos conselhos federais corporativos a tais prazos de

atendimento, principalmente pela questão da baixa remuneração dos honorários médicos na

saúde suplementar, que estaria motivando o descredenciamento de alguns prestadores e,

Page 160: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

158

consequentemente, aumentando a demanda de atendimentos para os credenciados

remanescentes em prazos de tempo de atendimento inexequíveis.

Convém aqui refletir se a não datação dos pedidos por alguns médicos observada neste

estudo estaria relacionada à convicção desses profissionais de que as operadoras demorariam

um tempo demasiadamente longo para liberar as autorizações para a realização de consultas,

exames e procedimentos ou se estaria relacionada ao temor médico de superlotação de suas

agendas, considerando a baixa remuneração dos seus honorários. Nessa discussão de

interesses antagônicos, o ente que menos se percebe manifestar são os usuários de planos de

saúde, porque comumente presume-se que desconhecem seus direitos contratuais e

normativos regulatórios.

A partir da observação não sistemática realizada durante a coleta de dados percebeu-se

que os atendentes do laboratório de medicina diagnóstica estudado tinham manuais de regras

de operação digitalizados nos sistemas computacionais, no que se refere à contratualização,

possivelmente para os 60 planos de saúdes credenciados, incluindo os diferentes prazos de

validade das requisições médicas por razão social da operadora de plano de saúde e produtos

dos segmentos contratados.

Embora o acesso aos exames de imagem de alto custo tenha sido descrito como rápido

pelos sujeitos deste estudo, não se pode afirmar que todos os produtos de planos de saúde

funcionam dessa maneira. A maioria dos sujeitos estudados encontra-se muito satisfeita com

os planos de saúde, avaliando-o como bom, excelente, ótimo e necessário. Poucos

entrevistados relataram ter vontade de migrar para um outro plano de saúde ou para o SUS.

A saúde é tratada consensualmente considerando pelo menos uma característica em

comum entre indivíduos de um grupo. O grupo de beneficiários ou usuários de planos de

saúde traz imediatamente a ideia e requisito de inclusão de sujeitos pesquisados que todos os

indivíduos entrevistados deste grupo apresentem vínculo com a assistência à saúde privada.

Porém, não somente esta característica pode ser considerada determinante para traçar a

opinião do grupo de usuários de planos de saúde sobre o acesso descritivo aos exames mais

caros, pois existem diferenças no poder aquisitivo para determinado produto contratado

nesses planos, os quais podem ser piores, ou melhores. Piores diferenças de um plano de

saúde para outro podem significar uma rede própria ou credenciada de prestadores com

número insuficiente, lentidão nas autorizações para consultas, procedimentos e exames,

demora no atendimento, falta de conforto, grande distância geográfica, entre outras

desvantagens. E melhores diferenças dentre eles significando o oposto, sobretudo

representando fartura de prestadores, várias opções de escolha, e com acesso rápido. A

Page 161: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

159

satisfação do beneficiário de plano privado de saúde traz analogia com a melhor experiência

do uso de um serviço, portanto sua vivência certamente definirá sua posição pelo que

experimentou de melhor, não podendo ser uma opinião generalizada para todos os usuários de

planos de saúde, considerando que existem aqueles com padrões de vida e de trabalho

diferenciados e, às vezes, antagônicos, condicionados aos que podem ter ou àqueles que se

oneram mais para ter determinado plano, o qual pode apresentar produtos dos níveis básico ao

standard, dentro de uma mesma operadora. Usuários de categorias básicas de rede de

prestadores de serviços privados de saúde podem não contemplar a mesma opinião, quando

comparados àqueles que dispõem de uma categoria melhor, como standard, executivo,

especial, entre outras consideradas topes de linhas que aportam oferta maior de prestadores,

equipamentos e conforto.

A maior parte dos entrevistados afirmou que não utilizaria os serviços do SUS, mesmo

que esses fossem acessíveis e qualitativamente bons. Isto porque a avaliação do SUS, a priori,

apresenta-se negativa no grupo estudado, pautada em relatos de insucesso de utilização do

SUS por terceiros, que não têm acesso aos planos de saúde. Um segundo elemento

determinante desta avaliação negativa eram impressões reveladas pela insatisfação

proveniente da vivência testemunhada por empregados que usavam o SUS, onde se

retratavam experiências compartilhadas de marcações tardias para exames, consultas e

internações, falta de especialidades médicas, imagens de longas filas divulgadas pela mídia e

meios de comunicação em massa, entre outras dificuldades como infraestrutura precária, má

gestão de recursos financeiros, humanos e materiais.

Os exames eletivos foram autorizados num tempo subjetivo considerado rápido para

os entrevistados, da mesma forma que os de urgência e emergência. Analisando esses

procedimentos no SUS muitos sujeitos disseram que para marcar demora, no dia do exame

demora e para pegar o resultado pronto também demora, sendo verificado o oposto nos planos

de saúde, na opinião dos entrevistados nesta pesquisa.

Reitera-se que a característica de atendimento contratado no plano de saúde varia e a

percepção do usuário também pode variar, conforme o produto seja melhor ou pior,

principalmente em relação à rede credenciada que pode ter ampla cobertura de prestadores de

serviços, inclusive interferindo na velocidade de autorizações prévias dos exames de alta

complexidade em questão.

Foi percebido que quase todos os entrevistados não leem as guias de confirmação de

comparecimento dos seus exames, o que aponta um descuido grave dos beneficiários que

podem estar autorizando análises de despesas médicas em seus prontuários clínicos,

Page 162: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

160

fornecendo dados sigilosos às operadoras que podem traçar perfil de morbidade para

dificultarem, e até mesmo negarem, coberturas para exames, consultas e até internações.

Resta uma análise documental apurada dessas guias em outros estudos para melhor

conhecimento da situação e fortalecimento da regulação da saúde suplementar.

Após a análise dos dados verbais dessa pesquisa, verificou-se que os usuários de plano

de saúde declararam que o acesso é garantido com facilidade para os exames de alta

complexidade, após terem experimentado vivências de atendimento com rapidez e ausência

de problemas para o laboratório de medicina diagnóstica credenciado aos planos de saúde

contratados. Suas principais motivações para a realização desses exames na rede privada de

assistência à saúde foram confirmadas nos relatos pela rapidez de atendimento, facilidade de

marcação pela internet, telefone e pessoalmente no laboratório, dificuldade e morosidade do

atendimento do SUS, localização próxima de bairros residenciais ou do trabalho e

possibilidade de escolha pelo usuário entre as modalidades abertas e fechadas de ressonâncias

magnética e tomografia computadorizada, além da densitometria óssea.

O nível de satisfação foi correspondido com a realização dos exames prescritos,

reiterando o pronto atendimento destes em caráter eletivo e de urgência, quase equiparados na

escala de tempo descrito. Contudo, cabe ressaltar que embora as notas de avaliação dos

usuários aos seus planos de saúde tenham variado, localizando-se majoritariamente no

intervalo de sete a dez, acrescida da avaliação positiva, de um modo geral, foram abordados

problemas de barreiras de acesso, em face às distorções regulatórias de medidas de controle

de acesso exercidas pelas operadoras. Essas medidas de controle podem ser exemplificadas

como supostos prazos de validade aos pedidos médicos com data e condutas inadequadas de

alguns prestadores médicos, que deixam de datar os pedidos de exames, deixando tal tarefa a

encargo das atendentes de laboratório credenciado do plano de saúde, para o próprio paciente

ou até mesmo a operadora, mascarando o prazo máximo de tempo para o atendimento real das

demandas. Letras pequenas nas declarações de confirmação de atendimento ou procedimento,

emitidas pela operadora podem estar correlacionadas ao hábito já conhecido da não leitura

pelos usuários dos planos de saúde durante o preenchimento das guias de confirmação de

atendimento, em convergência com outras medidas de controle de acesso aos serviços

privados, tais como solicitações de senhas de autorização pelas operadoras. Procedimentos

burocratizados dificultam o acesso para tratamentos como implantes, fisioterapia, RPG,

pilates, home care; reembolsos parciais ou quando são negados; restrição de materiais

cirúrgicos, em especial as próteses e órteses, e restrições de graus específicos para cirurgias de

miopia.

Page 163: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

161

A oferta dos serviços de saúde é diferenciada por particularidades, principalmente

devido à heterogeneidade dos serviços, recursos oferecidos pelo provedor, preferências do

consumidor, renda financeira maior ou menor, entre outras especificidades. A oferta pelo

provedor passa a ter grande poder de mercado para servir a um produto altamente

especializado e a saúde é esse produto especializado na estrutura do mercado da saúde

suplementar, pois diferente da educação, em que se espera a satisfação do sujeito na trajetória

escolar e acadêmica com a aquisição de um bom emprego e auto-realização profissional;

espera-se que a saúde seja um bem público insaciável devido à demanda por este bem ser

presumidamente maior, já que a necessidade fisiológica alterada requer reparação imediata.

Enquanto a educação pode ser satisfeita individualmente em diferentes níveis escolares,

dependendo do desejo e mérito de cada um, e não somente a partir da oferta do Estado ou

sociedade perante as boas oportunidades sócio, econômica e políticas para aperfeiçoamento

educacional, é pertinente pensar que a saúde não pode adquirir o mesmo grau de satisfação,

considerando as colocações anteriores.

A atenção centrada no cuidado reflete melhores diferenças na qualidade da assistência

prestada. No âmbito da saúde suplementar algumas iniciativas que podem evidenciar um certo

tipo de cuidado, tal como práticas de programas de promoção e prevenção para fortalecimento

da saúde de beneficiários ainda não são suficientes para desvincular-se do modelo assistencial

biomédico centrado em procedimentos.

O enfoque do modelo de atenção centrada no cuidado, formas de prevenção e

promoção à saúde continuam sendo os pilares norteadores para rediscussão do modelo

biomédico hospitalocêntrico centrado no procedimento. Entretanto, “a baixa efetividade da

atenção básica leva à sobrecarga das demais instâncias, com aumento da tensão entre os níveis

de complexidade da atenção, implicando a persistência de mecanismos de seletividade e

iniquidade social” (PAIM, 2008, p.99).

As formas estatais e privadas de assistência à saúde participam do Sistema Nacional

de Atenção à Saúde, segmentado pela diferença entre a atuação estatal que representa a saúde

como um bem público e gratuito; e pelo mercado de planos e seguros privados regulados pelo

Estado como um bem adquirido. Resta ainda a comprovação da necessidade de ambos para

consolidar os direitos à saúde com qualidade ou se somente o SUS resolveria os problemas

apresentados sem interdependência com o sistema privado.

De certa forma, para os sujeitos do estudo a imagem traduzida nos relatos implica na

percepção substitutiva do SUS pela da saúde suplementar, haja vista a sensação manifesta de

maior segurança advinda da cobertura pelos planos de saúde. Ocorre que a saúde suplementar

Page 164: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

162

não contempla a diretriz de direito à universalidade da assistência à saúde, da mesma forma

que no SUS. Práticas de mercado não têm a responsabilidade legal de garantir a

universalidade das ações e serviços de saúde como exigência proveniente de direito

fundamental previsto na constituição brasileira. Portanto, como não há estratificação de

atendimento na saúde suplementar, não há atenção primária de forma organizada e articulada

a ponto de garantir a universalidade, equidade e integralidade do acesso a todas as ações e

serviços de saúde nesse setor.

Embora existam programas de promoção e prevenção, assim como a oferta de

programas de atenção domiciliar como opção contratual por algumas operadoras de planos de

saúde, tais iniciativas não caracterizam uma categoria de atenção primária na saúde

suplementar, porque a lógica é de mercado.

Por outro lado, sabe-se também que o SUS não é provedor suficiente de todas as ações

e serviços de saúde, de forma a garantir a equidade e integralidade do acesso na sua práxis

resolutiva a todas às demandas espontâneas e as de urgência e emergência. Os serviços de

nefrologia no setor de alta complexidade tecnológica no SUS é um exemplo claro da

necessidade da complementaridade pelo setor privado, seja em hospital público ou privado

conveniado ao SUS, assim como no segmento ambulatorial de clínicas privadas de diálise.

Como destaque deste estudo, menciona-se a contribuição dos seus resultados para as

tarefas inerentes às atribuições regulatórias da ANS, destacando a regulação como política

pública, integrando a inserção da saúde suplementar na política nacional de saúde,

intensificando as ações regulatórias sobre a rede e utilização de serviços de natureza privada.

Uma importante iniciativa seria aproximar os conhecimentos da área de saúde

suplementar na educação de nível superior para os alunos que ingressam no vestibular nas

carreiras de Enfermagem, Medicina, Odontologia, Nutrição, Serviço Social, Psicologia,

Fisioterapia, Farmácia, principalmente para as carreiras da saúde que não dispõem nos seus

currículos de disciplinas específicas da saúde suplementar, que poderiam ensinar os ditames

da regulação e importância do papel do Estado na fiscalização dos serviços de saúde

suplementar prestados à população brasileira, onerada com gastos extras na saúde, educação e

segurança.

Uma outra iniciativa positiva para o desenvolvimento de pesquisas na saúde

suplementar seria oferecer programas de treinamento em serviço, como residência ou estágio

trainee para desenvolvimento profissional em saúde suplementar, em parceria com

universidades públicas, com vistas ao desenvolvimento de propostas para novas estratégias de

atuação, no cumprimento da missão da ANS. Como efeito benéfico dessas iniciativas, é

Page 165: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

163

promissor o aperfeiçoamento na capacitação técnica do próprio quadro de servidores da

agência, em sinergismo com futuros profissionais em fase de treinamento, que tivessem

motivação pela pesquisa direcionada à pauta da regulação pública em saúde. Da mesma forma

para as carreiras das ciências exatas e humanas, focando também aspectos da regulação

econômica e assistencial das operadoras de planos privados de assistência à saúde.

Aproximar-se das pesquisas acadêmicas e de pós-graduação pouparia gastos públicos

da ANS com consultorias externas pagas, aproveitando o vínculo com universidades

renomadas, como a UERJ, Universidade Federal Fluminense (UFF), UFRJ, Universidade

Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

(UFRRJ), Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET), Escola Nacional de Ciências

Estatísticas (ENCE), entre outras dos demais Estados do Brasil. Não somente no Rio de

Janeiro, onde se encontra a sede da ANS, mas as pesquisas universitárias em sinergismo com

a ANS seriam de extrema importância para ações regulatórias que equilibrem os conflitos

entre prestadores de serviços, consumidores e operadoras de planos privados de assistência à

saúde.

Desta forma, muitas implicações positivas podem ser resultantes deste trabalho,

incentivando futuros alunos formandos a ingressarem na carreira pública de regulação

fiscalizatória dos planos de saúde. Assim, somando forças com a ANS no cumprimento de sua

missão institucional de defender os interesses públicos dos interesses privados abusivos,

globalizantes e excludentes da contemporaneidade.

Page 166: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

164

REFERÊNCIAS

ACESSO. In: LAROUSSE, Pierre. Dicionário enciclopédico ilustrado Larrousse. São

Paulo: Larrousse, 2007. p. 41.

ACURSIO, Francisco de Assis; GUIMARÃES, Mark Drew Crosland. Acessibilidade de

indivíduos infectados pelo HIV aos serviços de saúde: uma revisão de literatura. Cad. Saúde

Pública, Rio de Janeiro, v.12, n.2, p.233-242, abr./jun. 1996.

AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR (Brasil). Caderno de Informação

da Saúde Suplementar: beneficiários, operadoras e planos. Rio de Janeiro: ANS, 2010a.

60p.

______. Consumidores: planos novos, planos antigos. Disponível em:

<http://www.ans.gov.br/main.jsp?lumPageId=8A9588D425C1ACB20125DA8FDC847E8F&

lumItemId=8A9588D425E4D53D0125FAF6C47E1A30>.Acesso em: 06 nov. 2010b.

______. Legislação-Resolução Normativa nº 211, de 11 de janeiro de 2010. Dispõe sobre a

atualização do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde, que constitui a referência básica

para cobertura assistencial mínima nos planos privados de assistência à saúde, contratados a

partir de 1º de janeiro de 1999, fixa as diretrizes de atenção à saúde e dá outras providências.

Disponível em:

<http://www.ans.gov.br/main.jsp?lumPageId=8A9588D4257EE41901257F3589BA1708&lu

mS=ans.corporativo.service.legislacao&id_legislacao=8A9588D42670BEE0012670DB3F67

5D1E&lumItemId=8A9588D42670BEE0012670DB3F775D1F>. Acesso em: 15 nov. 2010c.

______. Notícias - ANS publica entendimento sobre remissão de contratos. Disponível em:

<http://www.ans.gov.br/main.jsp?lumPageId=8A9588D4249738000124974BF44B05BE&lu

mItemId=FF8080822C133404012C191EBD343688 >. Acesso em: 06 nov. 2010d.

______. Notícias - Consulta pública sobre garantia de atendimento aos beneficiários.

Disponível em:

<http://www.ans.gov.br/main.jsp?lumPageId=8A9588D4249738000124974BF44B05BE&lu

mItemId=FF8080822DC881AA012DCD046C546399>. Acesso em: 30 jan. 2011.

______. Ofício nº 041, de 03 de setembro de 2010. Rio de Janeiro: Ouvidoria da ANS, 2010e.

______. Pesquisa de opinião ANS-2005-dados preliminares. 2005. Disponível em:

<http://www.ans.gov.br/portal/site/home2/pesquisa_2005/Resumo_Pesquisa.pdf>. Acesso em

01 jan. 2011.

Page 167: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

165

AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR (Brasil). Portaria nº 3891, de 31 de

agosto de 2010. Boletim de serviço nº 64. Rio de Janeiro: ANS, 2010f. p.6.

______. Prazos máximos para atendimento em planos de saúde. Disponível em:

<http://www.ans.gov.br/main.jsp?lumPageId=8A9588D4249738000124974BF44B05BE&ite

mId=8A9588652B3AC3BB012BCA1041A40348>.Acesso em 28 out. 2010g.

______. Sistema de Informações Gerenciais - SIG . Disponível em:

<http://novaintransis/sig/produtos/pesquisa planos>. Acesso em: 28 dez. 2010h.

______. Resolução Normativa-RN nº 26, de 1 de abril de 2003. Estabelece critérios para

registro e avaliação contábil de títulos e valores mobiliários para as seguradoras

especializadas em saúde e para as operadoras de planos de assistência à saúde. 2003.

Disponível em:

<http://www.ans.gov.br/data/files/8A9588D42670BEE0012670C2BCAF3623/rn.26.pdf>.

Acesso em: 31 dez. 2010.

______. Resolução de Diretoria Colegiada-RDC nº 24, de 13 de junho de 2000. Dispõe

sobre a aplicação de penalidades às operadoras de planos privados de assistência à saúde.

2000a. Disponível em:

<http://www.ans.gov.br/data/files/8A9588D42670BEE0012670C163A71E34/Res.RDC.

24.pdf>. Acesso em: 31dez. 2010.

______. Resolução de Diretoria Colegiada-RDC nº 39, de 27 de outubro de 2000b. Dispõe

sobre a definição, a segmentação e a classificação das operadoras de planos de assistência à

saúde. Disponível em:

<http://www.ans.gov.br/data/files/8A9588D42670BEE0012670C142A21BC2/Res.RDC.39.p

df>. Acesso em: 01 jan. 2011.

ALBUQUERQUE, Ceres et al. A situação atual do mercado da saúde suplementar no Brasil e

apontamentos para o futuro. Cienc. Saúde Colet., Rio de Janeiro, v.13, n. 5, p. 1421-1430.

2008.

ALCOFORADO, Flávio Carneiro Guedes. Um desafio para a regulação do mercado de

assistência à saúde no Brasil: a escolha do consumidor de planos de saúde. 2003. 125f.

Dissertação (Mestrado Executivo em Administração Pública e de Empresas) - Fundação

Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2003. Disponível em:

<http://virtualbib.fgv.br/dspace/handle/10438/3654>. Acesso em: 26 nov. 2010.

ALMEIDA, Eduardo; PEAZÊ, Luís. Envelhecimento, doenças crônicas e processo

degenerativo. In: ______.O elo perdido da medicina: o afastamento da noção de vida e

natureza. Rio de Janeiro: Imago, 2007. p. 211-238.

Page 168: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

166

ANDER-EGG, Ezequiel. Introducción a las técnicas de investigación social: para

trabajadores sociales. 7. ed. Buenos Aires: Humanitas, 1978 apud MARCONI, Marina;

LAKATOS, Eva. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens

e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. 7.ed. São Paulo: Atlas,

2009. 277p.

ANDREAZZI, Maria de Fátima Siliansky de; KORNIS, George Edward. Transformações e

desafios da atenção privada em saúde no Brasil nos anos 90. Physis, Rio de Janeiro, v.13, n.1,

p.157-191, 2003.

ASENSI, Felipe Dutra. Direito e usuários em saúde: três representações sobre a relação entre

a forma e a alma. In: PINHEIRO, Roseni; LOPES, Tatiana Coelho (Org.). Ética, técnica e

formação: as razões do cuidado como direito à saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO, 2010.

p.15-31.

ASSIS, Marluce Maria Araújo; VILLA, Tereza Cristina Scatena; NASCIMENTO, Maria

Angela Alves do. Acesso aos serviços de saúde: uma possibilidade a ser construída na prática.

Ciênc. Saúde Colet., Rio de Janeiro, v.8, n. 3, p.815-823, 2003.

BAHIA, Ligia. A démarche do privado e público no sistema de atenção à saúde no Brasil em

tempos de democracia e ajuste fiscal, 1988-2008. In: MATTA, Gustavo Corrêa; LIMA, Júlio

César França. (Org.). Estado, sociedade e formação profissional em saúde: contradições e

desafios em 20 anos de SUS. 20. ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008. p.123-185.

______. Padrões e mudanças no financiamento e regulação do sistema de saúde brasileiro:

impactos sobre as relações entre o público e privado. Saúde Soc., Rio de Janeiro, v.14, n.2,

p.9-30, maio/ago. 2005.

______. Planos privados de saúde: luzes e sombras no debate setorial dos anos 90. Cienc.

Saúde Colet., Rio de Janeiro, v.6, n. 2, p. 329-339. 2001.

BAHIA, Ligia et al. As contradições entre o SUS universal e as transferências de recursos

públicos para os planos e seguros privados de saúde. Cienc. Saúde Colet., Rio de Janeiro,

v.13, n. 5, p. 1385-1397. 2008.

______. O mercado de planos e seguros de saúde no Brasil:uma abordagem exploratória sobre

a estratificação das demandas segundo a PNAD 2003. Cienc. Saúde Colet., Rio de Janeiro,

v.11, n.4, p.951-965, 2006 apud ALBUQUERQUE, Ceres et al. A situação atual do mercado

da saúde suplementar no Brasil e apontamentos para o futuro. Cienc. Saúde Colet., Rio de

Janeiro, v.13, n.5, p.1421-1430. 2008.

Page 169: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

167

BARATA, Rita. Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde. 22 ed. Rio

de Janeiro: Fiocruz, 2009. 120p. (Coleção temas em saúde).

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. 223p.

______. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2000 apud OLIVEIRA, Denize Cristina

de. Análise de conteúdo temático-categorial: uma proposta de sistematização. Rev. Enferm.

UERJ, Rio de Janeiro, v.16, n. 4, p.569-576, out/dez. 2008.

BAVA, Silvio Caccia. O resgate da dignidade. A herança de Lula: o projeto de consolidação

das leis sociais. Le Monde Diplomatique Brasil, São Paulo, n.28, p.3, nov. 2009.

BERTOLLI FILHO, Cláudio. História da saúde pública no Brasil. 4.ed. São Paulo: Ática,

2008. 71p. (Série História em movimento).

BLAKE, Glen M.; FOGELMAN, Ignac. An update on dual-energy x-ray absorptiometry.

Seminars in Nuclear Medicine. London, v. 40, p.62-73. 2010.

______. Lei nº 9.656, de 03 de junho de 1998. Dispõe sobre os planos e seguros privados de

assistência à saúde. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 04 jun. 1998. p. 1. Disponível em:

<http://www.ans.gov.br/portal/site/legislacao/legislacao_integra.asp?id_original=455>.

Acesso em: 27 out. 2009.

______. Lei nº 9.961, de 28 de janeiro de 2000. Dispõe sobre a criação da ANS e estabelece

outras providências. Diário Oficial da União, 29 jan 2000, Brasília, DF, 2000. p. 5.

Disponível em:

<http://www.ans.gov.br/portal/site/legislacao/legislacao_integra.asp?id_original=8>. Acesso

em: 27 out. 2009.

______. Ministério da Saúde. Atualidades em alta complexidade. Disponível em:

<http://portal.saude.gov.br/portal/sas/mac/area.cfm?id_area=821>. Acesso em: 22 nov. 2010.

BRUNA, Sérgio Varella. O cotidiano judiciário e a representação das agências em um

contexto de judicialização. In: SALGADO, Lucia Helena (Org.). Marcos regulatórios no

Brasil: judicialização e independência. Rio de Janeiro: IPEA, 2009. p.64.

Page 170: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

168

CALAZANS, Gabriela. Os jovens falam sobre sua sexualidade e saúde reprodutiva:

elementos para a reflexão. In: ABRAMO, Helena Wendel; BRANCO, Pedro Paulo Martoni

(Org.). et al. Retratos da juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional. Instituto

Cidadania. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2005. p.215-241.

CAMPOS, Gastão Wagner. Efeitos paradoxais da descentralização no Sistema Único de

Saúde do Brasil. In: FLEURY, Sonia (Org.). Democracia, descentralização e

desenvolvimento: Brasil e Espanha. Rio de Janeiro: FGV, 2006, p.417-442.

CAMPOS, Gastão Wagner; BARROS, Regina; CASTRO, Adriana. Avaliação de política

nacional de promoção da saúde. Cienc. Saúde Colet., Rio de Janeiro, v. 9, n. 3, p. 745-749,

2004.

CECÍLIO, Luiz Carlos de Oliveira. Modelos tecno-assistenciais em saúde: da pirâmide ao

círculo, uma possibilidade a ser explorada. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.13, n.3,

p.469-478, jul./set.1997.

CECCIM, Ricardo Burg et al. Imaginários da formação em saúde no Brasil e os horizontes da

regulação em saúde suplementar. Ciênc. Saúde Colet., Rio de Janeiro, v.13, n. 5, p. 1567-

1578, 2008.

CESCHIN, Maurício. O modelo de remuneração está errado. Economia-Defesa do

consumidor. O Globo, Rio de Janeiro. 2.ed., 09 maio 2010. p.33. Entrevista.

COHN, Amélia et al. O acesso em discussão: o viés da racionalidade e o viés da carência. In:

______. (Org.). A saúde como direito e como serviço. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2006. p.67-

94.

CONILL, Eleonor Minho et al. O mix público-privado na utilização de serviços de saúde: um

estudo dos itinerários terapêuticos de beneficiários do segmento de saúde suplementar

brasileiro. Cienc. Saúde Colet., Rio de Janeiro, v.13, n. 5, p. 1501-1510. 2008.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Plenário e Comissões. Órteses e próteses.

Aprovada regra que disciplina prescrição. Alerta nacional-entidades promovem mobilização.

Jornal Medicina do Conselho Federal de Medicina, Brasília, DF, n. 189, p.9, out. 2010.

CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE (Brasil). Resolução nº 196, de 10 de outubro de

1996. Dispõe sobre a aprovação de diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas

envolvendo seres humanos. 1996. Disponível em:

<http://www.datasus.gov.br/conselho/resol96/RES19696.htm>. Acesso em: 22 dez. 2009.

Page 171: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

169

CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE (Brasil) Ciência e Tecnologia

em Saúde / Conselho Nacional de Secretários de Saúde. 20. ed. Brasília, DF: CONASS,

2007. 166 p. (Coleção Progestores – Para entender a gestão do SUS, 4)

COSTA, Célia; AMORA, Dimmi. A fila dos que têm plano: dificuldade para marcar

consultas superlota emergências de hospitais particulares. Hospitais particulares: planos de

saúde lotam as emergências no Rio. Espera passa de 3 horas nas principais unidades privadas.

O Globo, Rio de Janeiro, 8 fev. 2009. Saúde privada, p.14-15.

DESLANDES, Suely; GOMES, Romeu; MINAYO, Maria Cecília (Org.). Pesquisa Social:

teoria, método e criatividade. 27. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. 108p.

FERRAZ, Marcos Bosi. O processo de decisão e a complexidade do sistema de saúde.

In:______. Dilemas e escolhas do sistema de saúde. Economia da saúde ou saúde da

economia?Rio de Janeiro: Medbook, 2008. p.79-83.

FIGUEIREDO, Nébia Maria. Ensinando a cuidar em saúde pública. São Caetano do Sul:

Yendis, 2005.

FLEURY, Sônia. Reforma do Estado, seguridade social e saúde no Brasil. In: MATTA,

Gustavo Corrêa; LIMA, Júlio César França (Org.). Estado, sociedade e formação

profissional em saúde: contradições e desafios em 20 anos de SUS. 20. ed. Rio de Janeiro:

Fiocruz, 2008. p.49-87.

______. A produção imaginária da Demanda e o Processo de Trabalho em Saúde. In:

PINHEIRO, Roseni; MATTOS, Ruben Araujo (Org.). Construção social da demanda:

direito à saúde, trabalho em equipe, participação e espaços públicos. 2. ed. Rio de Janeiro:

ABRASCO, 2010.

FRANCO, Túlio Batista; MERHY, Emerson Elias. Atenção domiciliar na saúde

suplementar:dispositivo da reestruturação produtiva. Cienc. Saúde Colet., Rio de Janeiro,

v.13, n.5, p.1511-1520, 2008.

FRANZEN, Cláudio Balduino. Reação do CFM-criticado prazo para atendimento. Alerta

nacional-entidades promovem mobilização. Jornal Medicina do Conselho Federal de

Medicina, Brasília, n. 189, p.10, out. 2010.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 26. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,

2002. 150p.

Page 172: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

170

GERSHMAN, Silvia et al. Estudo de satisfação dos beneficiários de planos de saúde de

hospitais filantrópicos. Cienc. Saúde Colet., Rio de Janeiro, v.12, n.2, p.487-500, 2007.

GIAMBIAGI, Fabio; GARCIA, Pedro. O peso das despesas previdenciárias e assistenciais no

valor de um salário mínimo. Boletim de Conjuntura n.76. Rio de Janeiro: IPEA, 2007. p.81-

88. (Nota técnica).

GIGLIO-JACQUEMOT, Armelle. Urgências e emergências em saúde: perspectivas de

profissionais e usuários. 20. ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005. 144p. (Coleção Antropologia e

Saúde).

GUIZARDI, Francine Lube et al. Participação da comunidade em espaços públicos de saúde:

uma análise das Conferências Nacionais de Saúde. Physis, v.14, n.1, p.15-39, 2004.

IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2009. Dispõe sobra dados estatísticos

demográficos e socioeconômicos da população brasileira e por estado da federação.

Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=rj>. Acesso em: 03 jan.

2011.

KRISCHKE, Paulo J. Questões sobre juventude, cultura política e participação democrática.

In: ABRAMO, Helena Wendel; BRANCO, Pedro Paulo Martoni et al. (Orgs). Retratos da

juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional.Instituto Cidadania. São Paulo:

Fundação Perseu Abramo, 2005. p.323-350.

LACERDA, Alda; VALLA, Victor Vincent. Um outro olhar sobre a construção social da

demanda a partir da dádiva e das práticas de saúde. In: PINHEIRO, Roseni; MATTOS, Ruben

Araujo (Org.). Construção social da demanda: direito à saúde, trabalho em equipe,

participação e espaços públicos. 2. ed. Rio de Janeiro: ABRASCO, 2010. p.281-293.

LEFEVRE, Fernando; LEFEVRE, Ana Maria. Promoção de Saúde: a negação da negação.

Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2004.166p.

LEITE, Fabiane. Plano de Saúde terá de oferecer consulta em até 7 dias, segundo ANS. ANS

determina que planos de saúde agilizem autorizações. O Estado de São Paulo, São Paulo, 30

set. 2010. p. 30.

LESSA, Carlos. O Rio de todos os Brasis: uma reflexão em busca de auto-estima. Rio de

Janeiro: Record, 2000. 478p. (Coleção Metrópoles).

Page 173: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

171

LIMA, Maria José. O que é enfermagem. 3.ed. São Paulo: Brasiliense, 2005.126 p. (Coleção

primeiros passos, 277).

LODI, João Bosco. A entrevista: teoria e prática. 2.ed. São Paulo: Pioneira, 1974. 176 p.

apud MARCONI, Marina; LAKATOS, Eva. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução

de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de

dados. 7.ed. São Paulo: Atlas, 2009. 277p.

LOTTENBERG, Claudio. O Atendimento Privado. In:______. A saúde brasileira pode dar

certo: os caminhos para garantir um atendimento de qualidade, sustentável e acessível para

toda a população. 2.ed. São Paulo: Atheneu, 2007. p.65-71.

MACHADO, Cristiani. Direito universal, política nacional: o papel do Ministério da Saúde

na política de saúde brasileira de 1990 a 2002. Rio de Janeiro: Museu da República, 2007.

501p.

MALARD, Neide. O cotidiano judiciário e a representação das agências em um contexto de

judicialização. In: SALGADO, Lucia Helena (Org.). Marcos regulatórios no Brasil:

judicialização e independência. Rio de Janeiro: IPEA, 2009. p.75-76.

MALTA, Deborah Carvalho et al. Perspectivas da regulação na saúde suplementar diante dos

modelos assistenciais. Cienc. Saúde Colet., Rio de Janeiro, v.9, n.2, p.433-444, 2004.

MARCONI, Marina; LAKATOS, Eva. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de

pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados.

7.ed. São Paulo: Atlas, 2009. 277p.

MARTINS, André Amorim et al. A produção do cuidado no Programa de Atenção Domiciliar

de uma cooperativa médica. Physis, v.19, n.2, p.457-474, 2009.

MARTINS, Joel; BICUDO, Maria Aparecida Viggiani. A pesquisa qualitativa em

psicologia: fundamentos e recursos básicos. 5.ed. São Paulo: Centauro, 2005. 110p.

MARTINS, Plínio Lacerda; PAULO, Antônio de (Ed.). Planos e Seguros de Saúde. Lei

9.656/98-Lei dos Planos e Seguros Privados de Assistência à Saúde e Portaria 211/2010 com

as novas regras para os planos de saúde. Petrópolis, Rio de Janeiro: DP et Alii, 2010. 80p.

MEDEIROS, Marcelo. As teorias de estratificação da sociedade e o estudo dos ricos.

Brasília, DF: IPEA, 2003.26p.

Page 174: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

172

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Aposentadoria e pensões-regime de previdência

complementar público.In: FABRÍCIO, Adroaldo Furtado; COSTA, Maria Isabel Pereira da

(Org.). Previdência ou Imprevidência? 2.ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003.

p.45-63.

MENEZES, Leonardo Carlos. Do estresse à síndrome de Burnout: implicações para a saúde

mental do trabalhador da saúde. In: OLIVEIRA, José (Org.). Qualidade de vida e saúde no

trabalho no serviço público estadual: experiência e reflexões dos servidores do Rio Grande

do Norte. Natal: EDUFRN, 2009. p.51-73.

MENICUCCI, Telma Maria. Público e privado na política de assistência à saúde no

Brasil: atores, processos e trajetória. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007.

MESTRINER, Maria Luiza. O estado entre a filantropia e a assistência social. 3.ed.São

Paulo: Cortez, 2008. 320p.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em

saúde. 7. ed. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Abrasco, 2000. 269p. (Saúde em Debate,

46).

MONTONE, Januário. Planos de saúde: passado e futuro. 10 anos da Lei geral dos planos de

saúde. Rio de Janeiro: MedBook, 2009.196p.

OLIVEIRA, Denize Cristina de. Análise de conteúdo temático-categorial: uma proposta de

sistematização. Rev. Enferm. UERJ, Rio de Janeiro, v.16, n. 4, p.569-576, out/dez. 2008.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE. Reunion especial de ministros de

salud de las Americas. Washington, D.C., 1978a. (Documentos Oficiales, n. 155).

______. Extension de la cobertura de servicios de salud com las estratégias de atencion

primaria y participacion de la cumunidad. Washington, D.C., 1978b. (Documentos

Oficiales, n. 156).

PAIM, Jairnilson Silva. Reforma Sanitária Brasileira: avanços, limites e perspectivas. In:

MATTA, Gustavo Corrêa; LIMA, Júlio César França. (Org.). Estado, sociedade e formação

profissional em saúde: contradições e desafios em 20 anos de SUS. 20. ed. Rio de Janeiro:

Fiocruz, 2008. p. 91-122.

Page 175: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

173

PAREDES, Eugênia. Entrevista: anotações para pesquisadores iniciantes. In: MENIN, Maria

Suzana de Stefano; SHIMIZU, Alessandra de Moraes (Org.). Experiência e representação

social: questões teóricas e metodológicas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005. p.131-155.

PEREIRA, Isabel Brasil; RAMOS, Marise Nogueira. Educação Profissional em Saúde. 20.

ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006.120p. (Coleção Temas em Saúde).

PESSOTO, Umberto Catarino et al. Desigualdades no acesso e utilização dos serviços de

saúde na Região Metropolitana de São Paulo. Ciênc. Saúde Colet., Rio de Janeiro, v.12, n.

2, p. 351-362, 2007.

PINHEIRO, Paulo. Planos repetem erro do sistema público de saúde. ANS investigará filas

em hospitais privados. In: AMORA, Dimmi. O Globo, Rio de Janeiro, 9 fev. 2009. p.11.

PINHEIRO, Roseni; MATTOS, Ruben. As implicações da integralidade na gestão da

saúde: gestão em rede-práticas de avaliação, de formação e participação na saúde. Rio de

Janeiro: Cepesc, 2006. p. 41-66.

POPE, Catherine; MAYS, Nicholas. Pesquisa qualitativa na atenção à saúde. 3.ed. Porto

Alegre: Artmed, 2009.172p.

RICARDO, David. Principios de economia política e tributação. Lisboa: Calouste

Goulbenkian, 1978. 3. ed. 1821 apud MEDEIROS, Marcelo. As teorias de estratificação da

sociedade e o estudo dos ricos. Brasília, DF: IPEA, 2003.26p.

RIZZINI, Irma; CASTRO, Mônica Rabello de; SARTOR, Carla Silvana Daniel.

Pesquisando...: guia de metodologias de pesquisa para programas sociais. Rio de Janeiro:

USU Ed. Universitária, 1999.147p. (Série banco de dados, n.6).

SALGADO, Lucia Helena. O cotidiano judiciário e a representação das agências em um

contexto de judicialização. In: SALGADO, Lucia Helena (Org.). Marcos regulatórios no

Brasil: judicialização e independência. Rio de Janeiro: IPEA, 2009. p.72.

SANTOS, Fausto Pereira dos; MALTA, Deborah Carvalho; MERHY, Emerson Elias. A

regulação na saúde suplementar: uma análise dos principais resultados alcançados. Cienc.

Saúde Colet., Rio de Janeiro, v.13, n.5, p.1463-1475. 2008.

SANTOS, Lenir; ANDRADE, Luiz Odorico Monteiro de SUS: o espaço da gestão inovada e

dos consensos interfederativos. Aspectos jurídicos, administrativos e financeiros. 2.ed.

Campinas: Saberes, 2009.165p.

Page 176: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

174

SCHOCAIR, Nelson Maia. Manual de Redação: teoria e prática: redação oficial, dissertação

e textos argumentativos. 3.ed. Niterói: Impetus, 2009.308p.

SILVA, Alceu. Relação entre operadoras de planos de saúde e prestadores de serviços:

um novo relacionamento estratégico. Porto Alegre, p.1-76, 2003. Disponível em:

<http://www.ans.gov.br/portal/upload/biblioteca/TT_AR_6_AAlvesdaSilva_RelacaoOperado

rasPlanos.pdf>.Acesso em: 23 dez. 2009.

SILVA JUNIOR, Aluisio; MASCARENHAS, Mônica Tereza. Avaliação da atenção básica em

saúde sob a ótica da integralidade: aspectos conceituais e metodológicos. In: PINHEIRO,

Roseni; MATTOS, Ruben (Org.). Cuidado: as fronteiras da integralidade. São Paulo: Hucitec,

2004. p. 241-257.

SILVA, Ligia Maria Vieira da.Conceitos, abordagens e estratégias para a avaliação em saúde.

In: HARTZ, Zulmira Maria de Araújo; SILVA, Ligia Maria Vieira da (Org.). Avaliação em

saúde: dos modelos teóricos à prática na avaliação de programas e sistemas da saúde.

Salvador: EDUFBA; Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2005. p.15-39.

SILVERMAN, David. Interpretação de dados qualitativos: métodos para análise de

entrevistas, textos e interações. 3.ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. 376p.

SIMÕES, Edda Augusta Quirino; TIEDEMANN, Klaus Bruno; RAPPAPORT, Clara Regina

(Coord.). Temas básicos de psicologia. Psicologia da percepção-II. São Paulo: EPU,

1985.100p. (Temas básicos de psicologia, v.10).

SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. São

Paulo: Nova Cultural, 1988. v. I, 1776 apud MEDEIROS, Marcelo. As teorias de

estratificação da sociedade e o estudo dos ricos. Brasília, DF: IPEA, 2003.26p.

SOARES, Sergei. A demografia da cor: a composição da população brasileira de 1890 a 2007.

In: THEODORO, Mário Lisboa et al. (Org.). As políticas públicas e a desigualdade racial

no Brasil 120 anos após a abolição. 2.ed. Brasília, DF: IPEA, 2008a. p.101-121.

______. A trajetória da desigualdade: a evolução da renda relativa dos negros no Brasil. In:

THEODORO, Mário Lisboa et al. (Org.). As políticas públicas e a desigualdade racial no

Brasil 120 anos após a abolição. 2.ed. Brasília, DF: IPEA, 2008b. p.123-133.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Departamento de Cardiologia Clínica.

Grupo de Estudos de Ressonância e Tomografia Cardiovascular. I Diretriz de Ressonância e

Tomografia Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Sumário executivo. Arq.

Bras. Cardiol., São Paulo, v. 87, n. 3, set. 2006. p.48-59.

Page 177: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

175

STENZEL, Ana Cecília Bastos; MISOCZKY, Maria Ceci; OLIVEIRA, Aládia Inês

de.Satisfação dos usuários dos serviços públicos de saúde. In: MISOCZKY, Maria Ceci;

BORDIN, Ronaldo (Org.). Gestão local em saúde: práticas e reflexões. Porto Alegre:

Dacasa, 2004. p.87-102.

TEIXEIRA, Aloísio et al. Nota sobre a regulação dos planos de saúde de empresas no Brasil.

In: BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Saúde. Regulação em saúde:

estrutura, evolução e perspectivas da assistência médica suplementar. Rio de Janeiro: ANS,

2002. p.18-34 apud MACHADO, Cristiani. Direito universal, política nacional: o papel do

Ministério da Saúde na política de saúde brasileira de 1990 a 2002. Rio de Janeiro: Museu da

República, 2007. 501p.

UNGLERT, Carmen Vieira de Sousa. O enfoque da acessibilidade no planejamento da

localização e dimensão de serviços de saúde. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v.24, n.6,

p.445-452.1990.

VIANNA, Cid Manso de Mello. Estruturas do sistema de saúde: do complexo Médico-

industrial ao Médico-financeiro. Physis, Rio de Janeiro, v.12, n.2, p.375-390, 2002.

VIANNA, Cid Manso de Mello et al. (Coord.). Projeto Economia da Saúde. Brasília, DF:

Ministério da Saúde, 2005. v. 1 apud CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE

SAÚDE (Brasil). Ciência e Tecnologia em Saúde. 20. ed. Brasília : CONASS, 2007. p.57.

(Coleção Progestores – Para entender a gestão do SUS, 4).

VIEIRA, Marcelo; VILARINHO, Paulo. O campo da saúde suplementar no Brasil. Rev. cien.

adm., v. 6, p. 09-34, 2004.

VÍCTORA, Ceres; KNAUTH, Daniela; HASSEN, Maria de Nazareth. Pesquisa qualitativa

em saúde: uma introdução ao tema. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2000.136p.

Page 178: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

176

APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para os usuários de planos de

saúde privados

Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento

Prezado (a) Senhor (a),

Gostaria de contar com sua participação na pesquisa de Mestrado vinculada à Faculdade de

Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), sob orientação da Profª Titular

Denize Cristina de Oliveira, com o título de “O acesso aos exames de alta complexidade nos planos

de saúde privados na perspectiva dos usuários”, que pretende analisar as percepções do acesso

aos exames de alta complexidade no sistema de saúde privado entre usuários de planos de

saúde no Rio de Janeiro. Caso aceite participar desta pesquisa, você deverá preencher um formulário

para caracterização sócio-econômica, assim como a caracterização de seu exame prescrito e plano de

saúde privado. Além disto, haverá uma entrevista, cujas respostas serão anotadas e/ou gravadas pelo

entrevistador. A participação nesta pesquisa não interferirá no atendimento recebido por você nos

serviços de saúde, não causará desconfortos, não custará nada para você. Você poderá solicitar

qualquer esclarecimento quando sentir necessidade e poderá interromper sua participação na pesquisa

a qualquer momento. Tudo o que você informar será respeitosamente utilizado apenas para a

realização de um trabalho científico, sem a identificação do seu nome e será mantido o sigilo das

informações dadas por você. Sua participação é de fundamental importância para a realização deste

estudo, de forma a buscar a melhoria dos serviços oferecidos pelos planos de saúde privados.

Desde já agradeço a sua colaboração.

Rio de Janeiro, _____ /____/_____.

______________________________________

Nádia Regina da Silva Pinto

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Eu, ______________________________________concordo em participar da pesquisa intitulada“ O

acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde privados na perspectiva dos

usuários”, e autorizo o registro das informações prestadas por mim, em forma escrita e oral, para que

sejam utilizadas integralmente ou em partes, a qualquer tempo, a partir da presente data. Da mesma

forma, autorizo que as informações dadas por mim sejam usadas por outros pesquisadores, ficando o

controle e a guarda dos formulários e relatos da entrevista sob a responsabilidade de Nádia Regina da

Silva Pinto, aluna do programa de Pós-graduação da Faculdade de Enfermagem da UERJ, sob

orientação da Prof.ª Dra.Denize Cristina de Oliveira.

Rio de Janeiro, ______/______/______.

______________________________

Assinatura do entrevistado Telefone de contato: 55-021-2587-6335 / 55-021-2568-8175/55 -021-9216-5738-Nádia Regina da Silva Pinto

Endereço de contato: Boulevard 28 de Setembro, 157, 7º andar, Vila Isabel, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, CEP: 20551-030/ e-mail:

[email protected] “Caso você tenha dificuldade em entrar em contato com o pesquisador responsável, comunique o fato à Comissão de Ética em pesquisa da

UERJ: Rua São Francisco Xavier, 524, sala 3020, bloco E, 3º andar, Maracanã, Rio de Janeiro, RJ, e-mail: [email protected]:

(021)2334-2180.”

Page 179: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

177

APÊNDICE B – Formulário de caracterização socioeconômica dos usuários de planos

privados da assistência à saúde e dos exames de alta complexidade

prescritos

Page 180: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

178

APÊNDICE C – Roteiro de entrevista estruturada

Tema 1: Acesso aos exames de alta complexidade

Como você percebe o acesso aos exames diagnósticos sofisticados mais caros no seu plano de

saúde?

A rede credenciada do seu plano oferta o serviço que procura em quantidade e qualidade que

lhe permita escolher entre opções para mais de um prestador (laboratório)?

Quais barreiras de acesso você tem enfrentado para realizar esses exames?

Quais facilidades de acesso você tem encontrado para usufruir desses exames?

Tem algum relato de experiência prévia bem sucedida para obter tais exames?Qual?

Seu pedido médico tinha data?No caso de não ter data a que você atribui a inexistência deste

dado pelo prestador médico assistente conveniado a seu plano?

Quanto tempo (dias ou meses) você levou para agendar seu exame? Por quê?

Quanto tempo (dias ou meses) seu plano levou para liberar a autorização para realizar seu

exame?

Quantas guias (documentos emitidos e timbrados da operadora) de confirmação de

comparecimento você assinou com a atendente do laboratório antes da realização do seu

exame?Lembra se em alguma delas havia solicitação de autorização por parte da operadora

auditar seu prontuário clínico?

Após autorização do seu plano você esperou quanto tempo aproximadamente na sala de espera

antes do exame?

Tema 2: Conhecimentos adquiridos sobre os direitos associados à contratação

individual/familiar, coletivo sem patrocinador ou coletivo com patrocinador

Quais conhecimentos você tem sobre seus direitos contratados com seu plano de

saúde?

Quais fontes de informação você utiliza para consulta ou reclamação, em caso de

se sentir tolhido de algum desses direitos contratados com sua operadora de plano

de saúde?

Page 181: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

179

Tema 3: Motivações para a realização de exames de alta complexidade na rede

privada de assistência em detrimento ao uso de serviços desta natureza no SUS

Quais suas motivações para a realização de exames de alta complexidade através da

rede privada de assistência ao invés do SUS?

Tema 4: Nível de satisfação do usuário acerca do plano de saúde

Você está satisfeito com seu plano de saúde?

Em uma escala de zero a dez que nota você daria para seu plano de saúde como um

todo?Por quê?

Você migraria para outro plano de saúde?

Você desistiria de seu plano de saúde se em dada situação hipotética no SUS você

tivesse garantia de qualidade no atendimento, porém sem luxo nem comodidades

extras(sem apartamento com acompanhante,p.ex.), mas nos ambulatórios existindo

atendimento competente(com fila de espera razoável)?

Quais suas aspirações positivas e negativas do seu plano de saúde e no SUS?

Page 182: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

180

APÊNDICE D - Resultados de entrevista individual estruturada da pesquisa

Quadro 2 - Categorias e pré-categorias com temas de significação da pesquisa

Page 183: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

181

APÊNDICE E - Resultados de entrevista individual estruturada da pesquisa categorias 1.0,

2.0 e 3.0

Quadro 3 - Categorias 1.0, 2.0 e 3.0 da pesquisa

Page 184: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

182

APÊNDICE F - Resultados de entrevista individual estruturada da pesquisa categorias 4.0 e

5.0

Quadro 4 - Categorias 4.0 e 5.0 da pesquisa

Page 185: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

183

APÊNDICE G - Pré-categorias de entrevista individual estruturada da pesquisa

Quadro 5 - Pré-categorias da pesquisa

Page 186: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

184

APÊNDICE H – Dicionário de significações padronizadas das falas dos sujeitos

entrevistados para análise do acesso aos exames de alta complexidade

nos planos de saúde privados na perspectiva dos usuários

Quadro 6 - Dicionário de significações padronizadas das falas dos sujeitos entrevistados da

pesquisa (continua)

Page 187: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

185

Quadro 6 - Dicionário de significações padronizadas das falas dos sujeitos entrevistados da

pesquisa (continuação)

Page 188: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

186

Quadro 6 - Dicionário de significações padronizadas das falas dos sujeitos entrevistados da

pesquisa (continuação)

Page 189: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

187

Quadro 6 - Dicionário de significações padronizadas das falas dos sujeitos entrevistados da

pesquisa (continuação)

Page 190: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

188

Quadro 6 - Dicionário de significações padronizadas das falas dos sujeitos entrevistados da

pesquisa (conclusão)

Page 191: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

189

ANEXO – Proposta de Resolução Normativa da ANS sobre a garantia de atendimento dos

beneficiários de plano privado de assistência à saúde

RESOLUÇÃO NORMATIVA - RN EM FASE DE CONSULTA PÚBLICA.

Dispõe sobre a garantia de atendimento dos

beneficiários de plano privado de assistência à

saúde.

A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS, no uso das atribuições

que lhe são conferidas pelos arts. 4º, incisos II, XXIV, XXVIII e XXXVII, e 10, inciso II, da Lei

nº 9.961, de 28 de janeiro de 2000; pelo art. 9º, inciso III, do Anexo I ao Decreto nº 3.327, de 5 de

janeiro de 2000;e pelo art. 86, inciso II, alínea “a”, da Resolução Normativa - RN nº 197, de 16 de

julho de 2009; em reunião realizada em XX de XX de XXXX adota a seguinte resolução

normativa e eu, Diretor Presidente,determino a sua publicação.

CAPÍTULO I

DA DISPOSIÇÃO PRELIMINAR

Art. 1º Esta Resolução Normativa dispõe sobre a garantia de atendimento dos beneficiários de

plano privado de assistência à saúde.

CAPÍTULO II

DAS GARANTIAS DE ATENDIMENTO AO BENEFICIÁRIO

Art. 2º A operadora deverá garantir a existência de prestadores para os serviços ou procedimentos

definidos no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da ANS para atendimento integral das

coberturas previstas nos arts. 10, 10-A e 12 da Lei n° 9.656, de 3 de junho de 1998, no município

onde o beneficiário os demandar, desde que sejam integrantes da área de atuação do plano.

Art. 3º A operadora deverá garantir o atendimento integral das coberturas referidas no artigo 2º

nos seguintes prazos máximos:

I – consulta básica - pediatria, clínica médica, cirurgia geral, ginecologia e obstetrícia, cardiologia

e ortopedia e traumatologia: 7 (sete) dias úteis;

II – consulta nas demais especialidades médicas: 14 (quatorze) dias úteis;

III – consulta de fonoaudiologia: 10 (dez) dias úteis;

IV – consulta de nutrição: 10 (dez) dias úteis;

V – consulta de psicologia: 10 (dez) dias úteis;

VI – sessão de terapia ocupacional: 10 (dez) dias úteis;

VII – sessão de fisioterapia: 10 (dez) dias úteis;

VIII – serviços de diagnóstico por laboratório clínico e radiografias: 3 (três) dias úteis;

Page 192: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

190

IX – serviços de diagnóstico por imagem, exceto radiografias: 10 (dez) dias úteis;

X – procedimentos de alta complexidade (PAC): 21 (vinte e um) dias úteis;

XI – internações eletivas: 21 (vinte e um) dias úteis;

XII – urgência e emergência: imediato; e

XIII – consulta de odontologia: 7 (sete) dia úteis.

§ 1º Os prazos máximos para atendimento consistem no período compreendido entre a data da

demanda do beneficiário pelo serviço ou procedimento e a data de sua efetiva realização.

§ 2º As radiografias e os procedimentos de alta complexidade de que tratam os incisos VIII e X

são aqueles elencados no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da ANS.

§ 3º Os procedimentos que se enquadram nos incisos VIII e IX e estão classificados no Rol de

Procedimentos e Eventos em Saúde da ANS como procedimentos de alta complexidade obedecem

ao prazo definido no item X.

Art. 4º Na hipótese de ausência ou inexistência de prestador credenciado, que ofereça o serviço ou

procedimento no município pertencente à área geográfica de abrangência do plano, a operadora

deverá garantir o atendimento em prestador não credenciado no mesmo município.

§ 1º O pagamento do serviço ou procedimento realizado pelo prestador não credenciado será

efetuado diretamente pela operadora.

§ 2º O disposto no caput e no § 1º se aplica ao serviço de urgência e emergência, sem

necessidade de autorização prévia.

Art. 5º Na hipótese de ausência ou inexistência de prestador credenciado ou não, que ofereça o

serviço ou procedimento demandado no mesmo município pertencente à área geográfica de

abrangência do plano, a operadora deverá garantir o transporte do beneficiário até o prestador

credenciado para o atendimento, assim como seu retorno à localidade de origem.

§ 1º O disposto no caput não se aplica aos serviços ou procedimentos previstos no Rol de

Procedimentos e Eventos em Saúde da ANS que contenham diretrizes de utilização que

desobriguem a cobertura de remoção ou transporte.

§ 2º O disposto no caput se aplica ao serviço de urgência e emergência, sem necessidade de

autorização prévia.

Art. 6º Se o beneficiário for obrigado a pagar os custos do atendimento, na hipótese de

descumprimento do disposto nos arts. 4º e 5º, a operadora deverá reembolsá-lo integralmente pelo

serviço ou procedimento prestado no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contado da data da

solicitação de reembolso.

Page 193: O acesso aos exames de alta complexidade nos planos de saúde

191

CAPÍTULO III

DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 7º A autorização para realização do serviço ou procedimento, quando necessária, deverá

ocorrer de forma a viabilizar o cumprimento do disposto no art. 3º.

Art. 8º A operadora deverá informar no Planejamento Assistencial do Produto, de que trata art.

7º-A da Instrução Normativa – IN nº 23, de 1º de dezembro de 2009, e suas alterações posteriores,

da Diretoria de Normas e Habilitação dos Produtos – DIPRO, os prazos máximos para

atendimento, que não poderão ser superiores aos previstos no art. 3º.

Art. 9º O descumprimento do disposto nesta Resolução sujeitará a operadora às sanções

administrativas cabíveis previstas na regulamentação em vigor.

Art. 10. Ficam revogados os §§ 1º ao 5º do art. 7º da IN nº 23, de 1º de dezembro de 2009, da

DIPRO.

Art. 11. Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação.

MAURICIO CESCHIN

Diretor-Presidente