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Nutrição e Lesões Desportivas Nutrition and Sports Injuries Ana Rita Bastos Orientado por: Prof. Doutor Vitor Hugo Teixeira Monografia Porto, 2009

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Nutrição e Lesões Desportivas

Nutrition and Sports Injuries

Ana Rita Bastos

Orientado por: Prof. Doutor Vitor Hugo Teixeira

Monografia

Porto, 2009

Nutrição e Lesões Desportivas i

Ana Rita Bastos 2008/2009

Dedicatória

A todos os atletas, amadores ou competidores…

…deixo duas célebres frases de reflexão e motivação.

“Os dias prósperos não vêm por acaso. Nascem de muita fadiga e muitos

intervalos de desalento”

Camilo Castelo Branco

“Pedras no caminho?

Guardo todas, um dia vou construir um castelo...”

Fernando Pessoa

Nutrição e Lesões Desportivas ii

Ana Rita Bastos 2008/2009

Agradecimentos

Ao Prof. Doutro Vitor Hugo Teixeira pela sua disponibilidade, colaboração,

correcção científica e motivação que foram essenciais para construir e concluir

esta tese.

A TODAS as pessoas que me apoiaram e que, cada uma à sua maneira, se

dedicaram para que a realização desta tese fosse uma realidade!

Muito Obrigada!

Nutrição e Lesões Desportivas iii

Ana Rita Bastos 2008/2009

Índice

Dedicatória .......................................................................................................... i

Agradecimentos .................................................................................................. ii

Lista de Abreviaturas .......................................................................................... iv

Resumo .............................................................................................................. v

Abstract .............................................................................................................. vi

Introdução .......................................................................................................... 1

Lesões Desportivas ............................................................................................ 3

Estados de Fadiga e Lesão ................................................................................ 5

Nutrimentos no contexto das Lesões Desportivas ............................................. 6

Glícidos e Hipoglicemia ........................................................................... 6

Proteínas ................................................................................................. 9

Antioxidantes ......................................................................................... 11

Cálcio e Vitamina D ............................................................................... 14

Ferro ...................................................................................................... 16

Água ................................................................................................................. 18

Composição Corporal ....................................................................................... 20

Suplementos Alimentares ................................................................................ 23

Grupos de Risco ............................................................................................... 30

Análise Crítica .................................................................................................. 33

Conclusão ........................................................................................................ 35

Referências Bibliográficas ................................................................................ 36

Nutrição e Lesões Desportivas iv

Ana Rita Bastos 2008/2009

Lista de Abreviaturas

AACR – Aminoácidos de Cadeia Ramificada

AOX - Antioxidantes

CC – Composição Corporal

COI – Comité Olímpico Internacional

DRI – Dose Diária Recomendada

EF – Exercício Físico

ERO - Espécies Reactivas de Oxigénio

Hb – Hemoglobina

LD – Lesões Desportivas

MG – Massa Gorda

MM – Massa Magra

RD – Rendimento Desportivo

RL – Radicais Livres

SNC – Sistema Nervoso Central

Nutrição e Lesões Desportivas v

Ana Rita Bastos 2008/2009

Resumo

Apesar dos avanços das ciências e tecnologia, os dados

epidemiológicos referentes às diversas modalidades desportivas revelam uma

elevada prevalência de lesões desportivas (LD) com perfis multifactoriais,

causando preocupação aos atletas e profissionais envolvidos, devido à

interrupção do processo de adaptações orgânicas, influenciando o rendimento

e capacidade para a prática desportiva.

A intervenção sobre os inúmeros factores que intervêm na etiologia das

LD é imprescindível no sentido de diminuir a sua incidência, bem como o

conhecimento dos mecanismos subjacentes ao tratamento e à optimização da

reabilitação, promovendo um regresso à prática desportiva o mais rápido e

eficazmente possível.

Uma óptima nutrição é reconhecida como essencial para melhorar o

desempenho e o rendimento, evitando os mecanismos de fadiga e prevenindo

doenças e lesões decorrentes da prática desportiva. Por outro lado, existem

poucos estudos explicativos da mecanística da Nutrição na prevenção da

ocorrência de LD e a sua função nos processos inerentes à sua reabilitação.

Uma ingestão correcta de Glícidos, Proteínas e Água, de vitaminas A, C

e E e oligoelementos como o Zinco, Ferro e Cobre entre outros, com função

antioxidante exógeno, de Cálcio e Vitamina D para protecção óssea, de Ferro

para um eficiente transporte de Oxigénio para os tecidos e músculos, relaciona-

se com múltiplos mecanismos envolvidos na ocorrência de LD. A desidratação

tem consequências a nível do rendimento desportivo (RD) e da saúde,

desencadeando mecanismos fisiológicos e neurológicos com impacto negativo.

Nutrição e Lesões Desportivas vi

Ana Rita Bastos 2008/2009

A Composição Corporal “ideal” será aquela que melhor se adapte à modalidade

praticada, trazendo menos obstáculos ao atleta no desempenho das suas

funções. Por fim, o recurso a Suplementos Nutricionais na prevenção ou na

recuperação das LD, deverá ser minuciosamente estudado, planeado e

monitorizado por um Nutricionista, para que exerçam o benefício esperado.

Apesar do papel da Nutrição ser limitado no conjunto de factores

associados à prevenção e reabilitação das LD, este é de extrema importância

quando o objectivo é elevar o rendimento físico e a preservação da saúde ao

mais alto nível.

Palavras-Chave: Lesões Desportivas, Prevenção, Tratamento, Nutrição,

Rendimento desportivo

Abstract

Despite advances in Science and Technology, the epidemiological data

regarding various sports modalities reveals a high prevalence of Sports Injuries

(SI) Profiles associated with multiple factors, causing concern over involved

athletes and professionals, due to an interruption of the organic adaptation

process, influencing sport performance.

In order to diminish Sports Injuries incidence, it’s essential to intervene

on many factors involved in its etiology, as well as to have the knowledge of the

mechanisms underlying rehabilitation treatment and its optimization, promoting

the fastest possible efficient return to sports activities.

Nutrição e Lesões Desportivas vii

Ana Rita Bastos 2008/2009

An excellent nutrition is recognized as essential to improve sport

performance, avoiding fatigue mechanisms and preventing diseases and

injuries resulting from sports activities. On the other hand, there are few studies

supporting Nutritional mechanisms in preventing the occurrence of SI and its

role in the rehabilitation process.

A correct intake of Carbohydrates, Proteins and water, Vitamins A, C and

E and trace elements such as zinc, iron and copper, among others, with

exogenous antioxidant function, Calcium and Vitamin D for bone protection, Iron

to an efficient oxygen transport to tissues and muscles, relates to multiple

mechanisms involved in SI occurrence. Dehydration has consequences in

terms of sport performance and health, triggering physiological and neurological

mechanisms with negative impact. The “ideal” Body Composition will be the one

that best fits sport practised, bringing fewer obstacles in the performance of the

athlete duties. Finally, the use of Nutritional Supplements in SI prevention and

recovery, should be thoroughly studied, planned and monitored by a nutritionist,

to promote the expected benefit.

Although the role of Nutrition is limited in the set of factors associated

with SI prevention and rehabilitation, this is very important when the objective is

to increase sport performance and health preservation at the highest level.

Key-Words: Sports Injuries, Prevention, Treatment, Nutrition, Sport

Performance

Nutrição e Lesões Desportivas 1

Ana Rita Bastos 2008/2009

Introdução

No panorama desportivo actual, a prevenção é uma palavra-chave. A

actividade desportiva pode ser utilizada com o objectivo de prevenir a

ocorrência de determinadas doenças, por exemplo as cardiovasculares, mas

por outro lado pode conduzir ao aparecimento de malefícios – lesões, ao

organismo dos praticantes se não forem tomados determinados cuidados na

sua prática (1).

A ocorrência de LD é um acontecimento que afecta desde o simples

atleta de recriação, ao atleta de elite. A lesão é um risco inerente ao próprio

treino desportivo, e com a qual os atletas têm de contar no decurso da sua

carreira, sabendo ultrapassá-lo física e psicologicamente (2). O aumento do

número de praticantes e do nível competitivo tem vindo a originar um crescente

aumento de lesões tipicamente desportivas (3).

O medo da degradação da performance desportiva associada à

ocorrência de uma lesão é, provavelmente, o factor psicológico mais forte que

influencia o desempenho desportivo (4). Todas as medidas possíveis de serem

tomadas no sentido de prevenir a ocorrência de lesões e de optimizar a sua

reabilitação são fundamentais para que os objectivos da prática desportiva

sejam alcançados – bem-estar físico, psíquico e social, desde o simples

amador ao desportista de elite.

É da responsabilidade de todos os intervenientes ligados ao fenómeno

desportivo a colaboração num esforço inter e multidisciplinar para que o

desporto não se torne uma causa permanente de problemas mais ou menos

Nutrição e Lesões Desportivas 2

Ana Rita Bastos 2008/2009

invalidantes. Desses intervenientes, o Nutricionista tem sem dúvida um papel

fundamental.

A importância dada a influência da nutrição na performance desportiva é

já amplamente descrita e estabelecida na literatura científica. Uma nutrição

adequada às exigências desportivas e competitivas relaciona-se com uma

melhoria da actividade física, da performance e da recuperação (5).

Além do grande impacto que tem no treino desportivo, uma alimentação

adequada contribui para que o atleta suporte períodos de treino intensivos,

prevenindo a ocorrência de doenças ou lesões e promovendo adaptações do

organismo aos estímulos induzidos pelas cargas de treino (6). São diversos os

estudos que relacionam uma ingestão nutricional desadequada às

necessidades da população desportiva com impacto negativo nas funções

fisiológicas, imunológicas, no rendimento e na saúde dos atletas (4, 7-9). São

estes estudos que evidenciam o enquadramento da Nutrição como Ciência

implicada na prevenção e recuperação das LD.

Este trabalho pretende identificar os principais factores nutricionais

envolvidos na génese das LD e explicar como estes poderão ajudar a preveni-

las e, sempre que se aplique, abordar a forma como intervêm no tratamento e

reabilitação, pois apesar dos esforços preventivos, a ocorrência de LD é um

acontecimento que afecta muitos atletas ao longo da sua carreira desportiva.

Nutrição e Lesões Desportivas 3

Ana Rita Bastos 2008/2009

Lesões desportivas

A ocorrência de lesões no desporto é um risco inerente ao próprio

exercício físico (EF). O primeiro passo para minimizar esse risco é identificar os

factores que o predispõem.

As lesões resultantes de um trauma agudo ou de um stress repetido

associado ao EF, denominam-se Lesões Desportivas (LD). Existem diversas

classificações para LD, sendo que a do Conselho Europeu de Medicina

Desportiva as define como qualquer agravo decorrente da participação no

desporto, acompanhado de uma ou mais das seguintes ocorrências: redução

da intensidade ou nível de actividade física; necessidade de atendimento

médico, o qual prescreve tratamento ou medicação específica; impacto social

ou efeitos económicos decorrentes do agravamento, no âmbito individual ou

colectivo (10).

Em relação ao tipo de LD, elas variam entre desportos sendo mais

comuns as lesões musculares, as lesões ligamentares, onde ocorre o ferimento

total ou parcial do ligamento que une um osso ao outro e estabiliza as

articulações correspondentes, as lesões tendinosas, correspondem a

inflamações de tendões e as lesões esqueléticas, mais susceptíveis ao nível

dos membros superiores e inferiores. Mais raramente, e de maior gravidade,

surgem as lesões cerebrais, nomeadamente os traumatismos crânio-

encefálicos que levam a perdas de consciência, memória e equilíbrio (2, 11). As

lesões anteriormente referidas são normalmente classificadas como agudas,

ocorrendo em situações como uma queda ou colisão. Associado à crescente

competitividade e nível de desempenho exigido aos atletas, principalmente de

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Ana Rita Bastos 2008/2009

elite, surge um “novo” tipo de lesões denominadas de overuse, resultantes de

microlesões repetitivas no mesmo tecido ou estrutura, ao longo do tempo e nos

diversos eventos da prática desportiva, sendo as mais comuns as fracturas de

stress, as tendinites e a osteoartrite entre outras associadas a alguns dos

sistemas indicados nas lesões agudas (11-13).

Considerando a causalidade das lesões desportivas, apontam-se como

factores intrínsecos aqueles que predispõem o atleta para a ocorrência das

mesmas, tais como a idade, o sexo, o desenvolvimento motor, a composição

corporal, o estado psicológico, a aptidão física (flexibilidade, força), a anatomia

do atleta e o estado de saúde (história de LD, instabilidade articular) que

quando expostos a determinados factores extrínsecos como o tipo de desporto,

o equipamento desportivo, o planeamento do treino (correcto aquecimento), as

cargas de treino e competição (tempo de repouso), as condições atmosféricas

e ambientais, a alimentação e a hidratação (14-16), vão determinar a

susceptibilidade do atleta de desenvolver uma LD num determinado momento

da prática de EF (12, 17). São considerados grupos de risco acrescido as

crianças, adolescentes e atletas do sexo feminino, devido a factores fisiológicos

específicos (7, 18). Apesar dos desportos de grupo (contacto) terem uma maior

susceptibilidade de provocar lesões, as de maior gravidade estão associadas a

desportos individuais (11, 19).

Percepcionando a multiplicidade de factores implicados na génese das

lesões desportivas, anteriormente referidos, e sabendo que a nutrição tem um

papel importante e crucial na causalidade de estados de fadiga e das lesões

desportivas, torna-se importante compreender a relação causa/efeito baseada

em pressupostos científicos.

Nutrição e Lesões Desportivas 5

Ana Rita Bastos 2008/2009

Existem diversos níveis na prevenção das LD, variando a classificação

entre autores. Consideremos a classificação utilizada por Bahr (14) e seguida

por outros autores (2, 20), que divide a prevenção em “Primária”, promotora da

saúde e preventiva da ocorrência de lesões, “Secundária”, definida como o

diagnóstico inicial e tratamento, e a “Terciária”, referida como o processo de

reabilitação que permite o regresso gradual à prática desportiva.

Estados de Fadiga e Lesão

A fadiga é determinada por uma inter-relação complexa, que culmina

num prejuízo para a performance devido a factores musculares, hormonais,

cardiovasculares ou centrais. Existem diversos modelos explicativos para a

ocorrência da fadiga muscular, no entanto sabe-se que esta se traduz numa

incapacidade para manter o nível de determinados parâmetros de produção

muscular durante o exercício, tais como diminuição da força máxima, das taxas

de força e relaxamento e, da potência muscular. Dos fenómenos que têm sido

explicados para a ocorrência destas alterações musculares, e consequente

fadiga associada, destacam-se as alterações na placa motora (mais

susceptíveis nas fibras tipo II), as alterações no acoplamento

excitação/contracção (directamente relacionada com a libertação de cálcio) e

as alterações metabólicas como a acumulação de ácido láctico, de fosfato

inorgânico, a diminuição das reservas de glicogénio muscular e hepático e,

consequentemente, uma diminuição da concentração de glicose (21). A fadiga

Central está associada com alterações funcionais específicas do Sistema

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Ana Rita Bastos 2008/2009

Nervoso Central (SNC) que influenciam o humor, a sensação de esforço e a

tolerância à dor e ao desconforto, limitando de forma significativa o RD (22).

Apesar da complexidade dos mecanismos que levam o atleta a um

estado de fadiga, há que ter em conta que este fenómeno se encontra

envolvido na etiologia de muitas LD e, portanto, atrasar ou impedir a sua

ocorrência será um caminho essencial a percorrer quando se fala em prevenir

lesões. Abordaremos ao longo do trabalho, o papel da nutrição na prevenção

de estados de fadiga, como sendo essencial no trabalho multidisciplinar da

prevenção de LD (1, 23, 24).

Nutrimentos no contexto das LD

Glícidos e Hipoglicemia

Os Glícidos sendo o principal substrato energético da maioria das

modalidades desportiva, quando a sua ingestão é insuficiente leva à diminuição

do glicogénio muscular disponível, comprometendo o fornecimento de energia

para a realização do EF e diminuindo o RD. Uma ingestão adequada de

glícidos é essencial tanto para a prevenção de lesões como para o

fornecimento de energia.

O glicogénio muscular é uma das principais fontes de fornecimento de

energia durante o exercício físico e provém quase na sua totalidade da

ingestão alimentar de glícidos, existindo evidências de uma relação directa

entre a ingestão diária de glícidos e as reservas de glicogénio muscular após

exercício físico (25).

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Ana Rita Bastos 2008/2009

Durante exercícios contínuos prolongados ou de elevada intensidade, o

glicogénio muscular é o substrato preferencial, podendo ocorrer depleção do

mesmo caso não haja reposição correcta entre sessões (25). Os défices de

glicogénio muscular podem instalar-se subitamente no caso de exercícios de

longa duração e predominantemente aeróbios ou de exercícios curtos

caracterizados por esforços intermitentes, ou de forma cumulativa e lenta em

períodos de treinos consecutivos em que a reposição através da alimentação é

insuficiente (1).

A depleção das reservas musculares de glicogénio leva à ocorrência de

fadiga, que se associa a lesões estruturais das fibras musculares e a músculos

fatigados que perdem força e capacidade de proteger as articulações mais

fracas, levando a uma maior predisposição para a ocorrência de lesões (23, 26).

A intensidade e duração do exercício, a condição física individual e a

alimentação são determinantes para ocorrência da fadiga, devendo ser

implementadas estratégias nutricionais específicas, adequando a ingestão de

glícidos antes, durante e após o treino, no sentido de atenuar ou eliminar a

ocorrência de lesões associadas à mesma (25).

Um outro factor responsável pelo aumento da susceptibilidade de lesões

no desporto e relacionado com a ingestão glicídica é a ocorrência de

hipoglicemia durante o treino/competição. A glicose é um substrato importante

para todas as células orgânicas, mas para o sistema nervoso central (SNC)

esta é a sua única fonte energética. Facilmente se compreende que qualquer

défice de glicose a nível sanguíneo compromete o bom funcionamento de

diversos sistemas, principalmente o SNC (1).

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Ana Rita Bastos 2008/2009

A ocorrência de hipoglicemia durante o exercício deve-se a um

desequilíbrio entre a produção de glicose e/ou ingestão de glícidos e a sua

utilização a nível muscular (27). A intensidade do exercício é o maior

determinante quer da utilização de glicose pelo músculo quer da sua produção

endógena (28).

O principal fornecedor de glicose sanguínea é o glicogénio hepático,

antevendo-se que quando as reservas deste se encontram diminuídas no inicio

de um treino, a ocorrência de hipoglicemia na parte final do mesmo poderá

verificar-se. São vários os factores que podem levar à ocorrência de

hipoglicemia durante o exercício. Em exercícios de longa duração, o organismo

recorre à oxidação dos ácidos gordos como substrato energético e quando este

não consegue compensar a falta de glicose, fazendo com que a concentração

desta diminua no sangue e consequentemente no SNC, instala-se um estado

hipoglicémico (29).

A ocorrência de uma resposta hipoglicémica durante o exercício parece

estar relacionada com o tipo de glícidos ingeridos na refeição imediatamente

antes do treino/competição e o respectivo momento de ingestão (período de

tempo desde a ingestão até ao inicio da sessão). Alimentos de elevado índice

glicémico podem levar a uma resposta hiperinsulinémica e consequentemente

ao surgimento de uma hipoglicemia reactiva durante o exercício. Por outro

lado, longos períodos de jejum favorecem também a ocorrência de

hipoglicemia por défice de aporte glícido, como ocorre por exemplo de manhã

quando a ingestão de glícidos do pequeno-almoço não é suficiente para

compensar o prolongado jejum nocturno (28, 30).

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Ana Rita Bastos 2008/2009

A sensibilidade à insulina não é igual em todos os atletas e,

consequentemente, a ocorrência de défices da glicose sanguínea também não.

Os atletas com maior susceptibilidade para hipoglicemia estão mais fragilizados

para a ocorrência de lesões musculares traumáticas e tendinites, durante a

prática desportiva (27), pois o mau funcionamento do SNC originado pelo

insuficiente aporte de glicose, origina alterações do equilíbrio, da coordenação

neuromuscular, da proprioceptividade, da concentração e da atenção,

aumentando a predisposição às lesões supracitadas (1).

Proteínas

A ingestão proteica é, sem dúvida, um dos pontos mais debatidos e

estudados na comunidade científica desportiva. A sua relação com as LD não é

fácil nem clara de estabelecer, uma vez que não existem estudo de

causa/efeito das mesmas.

Sabe-se que as proteínas têm uma função essencial na reparação,

manutenção e síntese muscular e que, em algumas circunstâncias, poderão

ser fonte energética em exercícios de longa duração. Quando utilizadas como

fonte energética, as perdas musculares, associadas à degradação proteica

para produção de ATP, poderão ser desvantajosas pois favorecerão a

ocorrência de lesões musculares (7).

A ingestão proteica “ideal” deverá ter em conta o tipo de desporto, a

intensidade e duração dos treinos, bem como a idade, sexo, peso e

composição corporal do atleta. Um balanço azotado (proteico) positivo é

desejável na fase de recuperação, pois promove uma diminuição da taxa de

degradação proteica que ocorre durante o treino e promove a hipertrofia, a

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Ana Rita Bastos 2008/2009

reparação e a adaptação muscular decorrentes do estímulo causado pelo

exercício físico (EF). Este mecanismo é vantajoso pois auxilia na prevenção da

fadiga e outros sintomas, que estão relacionados com lesões músculo-

esqueléticas e/ou de overuse (31). Se a quantidade de proteína ingerida for

inferior às necessidades, ocorrerá degradação muscular devido ao catabolismo

proteico, os atletas não recuperarão eficazmente entre os eventos ficando mais

susceptíveis a estados de fadiga e a uma maior fragilidade muscular.

Importa referir que a co-ingestão de proteína e glícidos, torna mais

eficiente a síntese proteica e a reposição do glicogénio muscular, actuando de

forma sinérgica numa melhor recuperação e prevenindo a ocorrência de fadiga

precoce em eventos subsequentes (8, 32, 33).

Quando ocorre uma lesão, uma vez que há um stress adicional para o

organismo causado pelo processo inflamatório inerente à mesma, são

necessários nutrientes adicionais para optimizar os processos de reparação e

recuperação. A quantidade de proteína da alimentação e respectivos derivados

metabólicos (aminoácidos), está associada ao processo de regeneração dos

tecidos musculares. Em caso de deficiência a resposta de diversos

intervenientes da recuperação da LD será afectada, nomeadamente a

diminuição da proliferação dos fibroblastos, da neoangiogénese e da síntese de

colagénio, essenciais à reparação das lesões musculares e formação de novas

células e tecidos necessários ao processo de reabilitação (4).

Assim sendo, é necessário ter atenção à quantidade de proteína ingerida

após uma lesão e durante a fase de reabilitação, ajustando a mesma de acordo

com a severidade e variação das necessidades (34). Em modalidades como a

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Ana Rita Bastos 2008/2009

ginástica, a patinagem artística ou desportos de resistência e por classes de

pesos (judo, remo), deverá existir uma vigilância redobrada no caso de

ocorrência de lesões, pois uma possível deficiência proteica é mais frequente

devido ao baixo peso e à baixa quantidade de massa muscular associados às

restrições energéticas frequentes, que levam à utilização das proteínas como

combustível, promovendo um ainda mais acentuado catabolismo muscular (35).

Antioxidantes

O EF eleva a produção de Radicais Livres (RL) e outras Espécies

Reactivas de Oxigénio (ERO) pelo sistema muscular esquelético (36). O sistema

de defesa do organismo depende da cooperação entre os antioxidantes (AOX)

endógenos (produzidos pelo organismo) e exógenos (obtidos através da

alimentação) e a sua capacidade de converter as ERO em moléculas menos

activas e/ou evitar que se tornem mais perigosas (37).

A quantidade ERO gerada durante a prática de exercício físico parece

estar directamente relacionada com a duração e intensidade do exercício (37).

Sendo estes compostos tóxicos para o organismo, uma insuficiência de

defesas orgânicas para compensar um aumento na produção de RL,

nomeadamente por défice de AOXs exógenos, leva à ocorrência de stress

oxidativo nas células, e este a uma diminuição das capacidades físicas e do

rendimento, levando em situações mais graves à destruição de membranas e

proteínas celulares, estruturas articulares entre outras lesões, decorrentes da

peroxidação lipídica que ocorre nas células musculares (1, 38, 39). O próprio

músculo tem mecanismos de resposta inflamatória no sentido de eliminar as

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células lesadas, estando estes associados às dores musculares que

frequentemente os atletas têm após treinos, ou períodos de treino, intensos (36).

Dos AOXs exógenos, as vitaminas A, C e E actuam directamente como

AOXs celulares, e os oligoelementos Manganésio, Selénio, Cobre, Zinco e

Ferro, actuam como co-factores ou componentes de enzimas AOXs (4) .

Nos atletas de elite, sujeitos a longos períodos de treino e elevada

intensidade, é previsível que haja uma maior produção de ERO, sendo

necessária uma ingestão adequada de alimentos ricos em AOXs de forma a

prevenir a indução de danos musculares e outras consequências nefastas para

a saúde e desempenho desportivo, que poderão estar na génese de algumas

LD (40, 41).

Todavia, há uma corrente que defende que na recuperação de

determinadas LD, os AOXs em excesso podem inibir a remoção do tecido

muscular danificado pelas células inflamatórias atrasando a regeneração de

lesões musculares. Pensa-se que as ERO podem ter um papel fisiológico

importante na regeneração muscular e, as tentativas para impedir a sua

produção através da intervenção antioxidante pós-exercício poderão ser

prejudiciais para o processo de recuperação (42,43). Uma suplementação em

AOX após a ocorrência de lesão muscular causada pelo exercício excêntrico,

tem sido relacionada com um aumento acentuado do dano tecidual nos dias

seguintes (44).

Vitamina A

A vitamina A promove a fase inicial da inflamação, evita a acumulação

de pus na zona lesada, aumentando o número de monócitos e macrófagos

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Ana Rita Bastos 2008/2009

circulantes, facilitando a eliminação das células lesadas e tecidos mortos e

acelerando o processo de reparação e cicatrização do tecido, contribuindo para

uma recuperação mais rápida e eficaz (45, 46).

Vitamina C

Para além da função antioxidante anteriormente descrita, a vitamina C

tem um papel crucial na reabilitação das LD. Esta vitamina tem um papel

crucial na síntese do colagénio (são necessárias concentrações específicas de

vitamina C para activar a enzima responsável pela produção de colagénio),

coopera na actividade de diversas enzimas envolvidas em processos de

reparação tecidular, auxiliando na formação de fibroblastos e condrócitos,

células-chave para a produção de tecido conjuntivo e cartilagem (45). A vitamina

C favorece a absorção de ferro e participa na regeneração da vitamina E,

fortalecendo a capacidade AOX. É, portanto, essencial ter em conta uma

adequação da ingestão de vitamina C em períodos após lesões desportivas,

como fracturas, inflamações dos tendões e articulações, entre outras, pois além

das necessidades estarem aumentadas pelo stress orgânico causado, as

perdas urinárias poderão estar aumentadas, levando facilmente a uma situação

de deficiência prejudicial à reabilitação (4, 34, 47).

Vitamina E

Esta vitamina actua como um anti-inflamatório, pois está directamente

relacionada com a inibição da actividade da enzima Fosfolipase A2 e,

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consequentemente, com a produção de prostaglandinas, que são mediadores

químicos da resposta inflamatória, sendo importante, que as necessidades

sejam ajustadas durante períodos de recuperação de lesões (45). Parece que

uma correcta ingestão de vitamina E, aumenta a elasticidade das fibras

musculares, prevenindo o dano muscular e, consequentemente a ocorrência de

uma nova lesão (9).

Zinco

O Zinco é componente de mais de 200 enzimas chave envolvidas em

diversos processos de síntese e metabolismo, particularmente importante

quando é necessário promover crescimento celular. Após a ocorrência de uma

LD, o processo inflamatório inerente à mesma necessita deste oligoelemento

na formação de colagénio e de novo tecido epitelial. A deficiência de zinco está

associada a uma diminuição da elasticidade do colagénio e a um aumento da

susceptibilidade de infecções recorrentes. Na reabilitação de fracturas ósseas

em que ocorre imobilização temporária, a deficiência deste mineral está

associada a uma perda de densidade óssea que lentifica e prejudica a

reabilitação (45, 46, 48).

Cálcio e Vitamina D

O Cálcio tem um papel muito importante no metabolismo do osso, na

coagulação sanguínea, no SNC e na contracção muscular. A sua função no

primeiro e último processos biológicos interessam no contexto das LD,

nomeadamente no metabolismo do osso relacionado com as fracturas de

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stress e nos mecanismos de contracção muscular com a ocorrência de

contracturas musculas e miopatias do exercício (1).

A ingestão de cálcio é um dos factores que contribui para a densidade

óssea, podendo-se concluir que deficiências neste oligoelemento, poderão

causar maior fragilidade óssea ou osteoporose, que se relacionam

inversamente com os níveis de cálcio armazenados. Se o cálcio é essencial

para a densidade óssea, qualquer deficiência na sua ingestão vai repercutir-se

nas suas reservas, podendo levar a necessidade de reabsorção óssea e ao

consequente aumento o risco de fracturas (49-51).

Diversos estudos têm demonstrado uma associação directa entre a

prática de EF e aumento da massa óssea. Este efeito só é possível se houver

associado à prática de EF uma correcta ingestão de cálcio através de uma

alimentação rica em produtos lácteos e ricos em cálcio, caso contrário não

haverá efeito benéfico (52, 53). Caso a intensidade e duração do exercício forem

tais que haja uma elevada produção de suor, poderão ocorrer perdas

significativas de cálcio através do mesmo, aumentando portanto as

necessidades (49, 54).

A ocorrência de fracturas de stress, é frequente em atletas do sexo

feminino, jovens e envolvidas em desportos em que a aparência estética, o

baixo peso corporal e reduzida massa magra são factores valorizados

(ginástica, ballet, corrida de fundo), pois habitualmente sujeitam-se a elevadas

restrições energéticas associadas a deficiências da ingestão de diversos

alimentos, entre eles os produtos lácteos. Muitas destas atletas acabam por

sofrer alterações menstruais, que provocam uma diminuição da produção de

estrogénios e, consequentemente, a uma diminuição da densidade mineral,

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Ana Rita Bastos 2008/2009

aumentando a predisposição para este tipo de lesões (40, 55, 56). Nesta

população é crucial que haja uma monitorização e controlo apertado

relativamente à ingestão de cálcio, pois apesar deste não ser o único e mais

importante factor da ocorrência de lesões, a sua deficiência poderá

comprometer ou agravar a saúde óssea destas atletas, predispondo-as a um

risco aumentado de fracturas (56, 57).

A vitamina D tem um papel vital na promoção da absorção de cálcio e

uma deficiência desta reduzirá a quantidade de cálcio absorvido pelo

organismo (48).

Deverá, então, ser garantida concomitantemente com a ingestão de

cálcio, uma adequada ingestão de vitamina D, como promotora da saúde

óssea, prevenindo a ocorrência das tão indesejáveis fracturas de stress

durante a prática de exercício físico (58).

Esta vitamina parece também ter um papel importante no sistema

imunitário, controlando a inflamação que resulta da acumulação de fluidos e

células imunitárias no tecido lesado. Assim sendo, é possível que

comprometendo os níveis de vitamina D no organismo aumente o risco ou a

severidade de algumas lesões relacionadas com a prática desportiva (58).

Ferro

Os atletas, em particular o sexo feminino e os adolescentes, são mais

susceptíveis à depleção das reservas de ferro devido ao aumento das

necessidades ou de perdas. Se não tratado, este défice poderá evoluir para

uma anemia, que afectará a capacidade de treino, a saúde e potenciará a

Nutrição e Lesões Desportivas 17

Ana Rita Bastos 2008/2009

ocorrência de LD (7). Este micronutrimento é o único que possui uma DRI

estabelecida para atletas, devido a um efectivo e amplamente estudado

aumento das necessidades em praticantes regulares de EF (59).

O ferro é um importante constituinte da hemoglobina (Hb), molécula que

transporta o oxigénio para os músculos e outros tecidos. A ferritina é a proteína

que está directamente relacionada com as suas reservas orgânicas, sendo a

sua concentração indicadora do estado nutricional. A influência da baixa

ingestão de ferro na Hb é um pouco controversa, no entanto é de prever que

baixos níveis de ferro, e consequente de ferritina, se reflictam numa baixa da

concentração de Hb, comprometendo a distribuição de oxigénio aos tecidos,

levando ao aparecimento precoce de estados de fadiga durante exercícios de

longa duração (maratona, por exemplo), relativamente a atletas com valores

normais. O músculo fatigado torna-se menos capaz de estabilizar e suportar as

articulações, como as do joelho e tornozelo, aumentando a susceptibilidade à

ocorrência de lesões nestes locais (40, 60, 61).

A produção de energia pelo sistema aeróbio necessita de ferro em

diversas reacções bioquímicas envolvidas, tendo este um importante papel na

manutenção de níveis adequados de energia para desportos de resistência (62).

Uma incorrecta ingestão diária de ferro, associada ao aumento das

necessidades, é, indubitavelmente, a causa primária de deficiências de ferro na

população desportiva. No entanto, outros factores como as perdas associadas

ao suor, patologias gastrointestinais, hematúria e hemólise intravascular

causada por mecanismos traumáticos associados ao EF, poderão contribuir

para uma maior predisposição à ocorrência de anemia e ao aumento da

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Ana Rita Bastos 2008/2009

predisposição de LD associadas à fadiga e alterações funcionais despoletadas

por esta deficiência (49, 63).

Os atletas com uma alimentação vegetariana, do sexo feminino e jovens

deverão ter uma monitorização mais rigorosa pois estão mais susceptíveis à

deficiência, seja por ingestão insuficiente ou perdas aumentadas (64).

Água

A água é um nutrimento essencial para qualquer Humano, pois é o meio

preferencial onde se realizam diversas reacções químicas de produção de

energia no organismo, constituindo grande parte do volume celular e como tal

faz parte do músculo (40).

Ao iniciar a prática de exercício físico é essencial que o organismo se

encontre bem hidratado. À medida que a intensidade e duração do exercício

aumentam, a temperatura corporal também sobe, admitindo-se que a

temperatura ambiente se mantém constante. Deve-se ter em conta que o

mecanismo da sede não é suficiente para estimular eficientemente a ingestão

voluntária de forma a repor as perdas pelo suor, podendo levar a situações de

desidratação (65).

Os desportos de resistência, especialmente se realizados num ambiente

quente e húmido, resultam num aumento substancial da produção de suor, com

perdas importantes de água e electrólitos. Estas perdas provocam uma

diminuição do mecanismo de termorregulação corporal, com consequências

negativas na saúde e no desempenho desportivo, como o aumento da

frequência cardíaca, diminuição do aporte sanguíneo para os músculos,

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Ana Rita Bastos 2008/2009

alterando o seu metabolismo (utilização do glicogénio muscular para a

produção de energia) e levando a uma sensação de esforço e aparecimento de

fadiga precoces (49, 66) como resultado da desidratação.

Considera-se desidratação quando ocorre uma perda de pelo menos

2% do peso corporal durante a prática de exercício, sendo um reflexo das

perdas hídricas e da não reposição das mesmas através da ingestão de

líquidos (67). O défice de hidratação pode ocasionar situações de fadiga aguda

(por exemplo na maratona) ou crónica, sendo esta última resultante de uma má

reposição de líquidos e electrólitos após treinos/competições em dias

consecutivos ou no mesmo dia, principalmente em climas quentes e húmidos.

Esta fadiga, associada a alterações da coordenação motora, do equilíbrio, da

proprioceptividade, e de outras alterações sensoriais e fisiológicas já referidas,

reflecte-se numa quebra do RD, intervindo na génese das LD. Também a fibra

muscular desidratada perde grande parte das suas qualidades contrácteis e de

elasticidade, predispondo o músculo à lesão (1, 65, 68).

Para além da duração e intensidade do exercício, são diversos os

factores que participam na ocorrência de desidratação, tais como temperatura

e humidade atmosféricas elevadas, a radiação solar, vestuário impróprio,

ingestão de bebidas com cafeína ou alcoólicas antes do treino/competição e o

estado de hidratação pré-exercício (49, 66).

Dependendo da severidade da desidratação, poderá ocorrer associado à

mesma uma perda de electrólitos, especificamente de sódio, uma vez que este

se encontra em grandes quantidades no líquido extra-celular, sendo o primeiro

electrólito perdido com o suor, originando situações de hiponatremia (69). A

desidratação e as perdas de sódio associadas à sudorese permite recomendar

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Ana Rita Bastos 2008/2009

que em exercícios de longa duração se recorra a bebidas desportivas que

contenham água e quantidades adequadas de sódio (e normalmente também

glícidos), diminuindo as consequências decorrentes destes défices, que

poderão ser precursoras de alguns tipos de LD (70).

Composição Corporal

A composição corporal (CC) dos atletas depende de múltiplos factores,

tais como o sexo, a idade, a modalidade praticada, a posição em campo ou a

especialidade dentro de cada modalidade, o nível de prestação desportiva e os

factores étnicos, entre outros. Pensa-se que as diferenças na composição

corporal dos atletas entre as diferentes modalidades e especialidades

dependem de pré-requisitos constitucionais que determinam a selecção de um

determinado desporto e adaptações fisiológicas recorrentes do treino (9).

A quantidade de massa gorda e massa magra corporais vão determinar

o peso e composição corporal de cada indivíduo, sendo desejável que na

população desportiva a percentagem de massa gorda (MG) seja baixa, pois

diversos estudos relacionam o excesso de peso à custa desta a uma

diminuição do RD pelo aumento dos gastos energéticos para a realização do

esforço físico e ao aparecimento precoce da fadiga, principalmente em

modalidades desportivas de resistência e onde o corpo tem de ser deslocado

no espaço (1).

Por outro lado, há que ter em conta que um peso corporal elevado

relacionado com uma elevada percentagem de massa magra (MM) à custa de

musculatura não específica à modalidade praticada, não será proporcional a

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Ana Rita Bastos 2008/2009

uma melhoria do rendimento nem a uma protecção relativamente às LD

associadas à sobrecarga (1, 9).

O excesso de peso corporal associado a um excesso de MG provoca

alterações posturais, uma maior carga e tensão sobre as estruturas músculo-

tendinosas e articulares, podendo conduzir à lesão das mesmas (71). Em

diversos estudos, nomeadamente em corredores de fundo, o excesso de peso

associa-se a um stress aumentado das extremidades, ao desenvolvimento de

sintomatologia dolorosa do joelho e anca, derivado do aumento do impacto nas

articulações, e osteoartrite (degeneração articular). Assim, é desejável nesta

população um peso corporal baixo, pois para além de facilitar o desempenho

desportivo e retardar a fadiga, por diminuição da energia dispendida, diminui a

incidência de lesões microtraumáticas, nomeadamente tendinites e fracturas de

fadiga (10, 72, 73).

Tendo em conta as exigências de cada modalidade desportiva, como foi

dito anteriormente, a composição corporal “ideal” será diferente. Caso haja

movimentação corporal na vertical, para saltar, ou na horizontal, para correr,

será uma vantagem metabólica e mecânica ter baixos níveis de MG. Pelo

contrário, desportos de contacto, como o rugby e o futebol, níveis adequados

de MG apropriadamente distribuídos, poderão ser vantajosos para absorver os

choques e promover a disputa de contacto (74).

Em atletas de desportos por classes de pesos, como as artes marciais,

ou em que a aparência estética é valorizada, como a ginástica, é habitual a

percentagem de MG e o peso corporal atingirem valores mínimos. No primeiro

caso, muitas vezes a obtenção do peso desejado ocorre à custa de métodos

desaconselhados como a desidratação, diuréticos, sauna, restrição energética

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Ana Rita Bastos 2008/2009

drástica, levando obviamente a diversas perturbações fisiológicas que terão

repercussões graves na saúde, aumentando a susceptibilidade de LD (6).

Quando o peso e respectiva percentagem de MG são muito baixos devido a

uma elevada restrição energética, como acontece nas ginastas e bailarinas,

poderão ocorrer alterações hormonais, com disfunções menstruais, que

poderão associar-se a uma maior incidência de LD, especificamente de

fracturas, por desmineralização óssea (55, 72, 74).

As variações que podem ocorrer na CC associadas à interrupção na

actividade desportiva, que serão mais acentuadas quanto maior a intensidade

habitual de treino e o tempo da paragem, aos períodos de férias e às

interrupções forçadas pela ocorrência de uma lesão ou doença, deverão ser

monitorizadas e controladas para que não hajam alterações comprometedoras,

com recurso a métodos impróprios de controlo do peso e para que o regresso à

prática desportiva não esteja comprometido.

As LD têm quase sempre associada uma interrupção da actividade

desportiva de duração variável de acordo com a gravidade e processo de

reabilitação.

Assim, para garantir uma nutrição adequada, promovendo a ingestão

dos nutrientes específicos envolvidos nos processos de reparação e

recuperação, é crucial manter uma alimentação equilibrada, fornecendo a

quantidade de energia necessária. Dependendo da severidade da lesão e do

trauma associado à mesma, as necessidades energéticas poderão sofrer

alterações associadas à diminuição da actividade física. No caso de fracturas

Nutrição e Lesões Desportivas 23

Ana Rita Bastos 2008/2009

de ossos como o fémur, traumatismos cranianos, infecções graves ou cirurgias,

geradoras de maior stress metabólico ao organismo, levam a um aumento das

necessidades energéticas no período imediato após a lesão ou intervenção.

Nos casos de lesões em que a recuperação, devido a imobilização ou restrição

à prática de actividade física se preveja de longo termo, como nas lesões

musculares ou overuse, a ingestão energética devera ser reajustada, devido à

diminuição da actividade física, evitando que ocorra um aumento do peso

durante a reabilitação, associado a um aumento da MG, que depois será

prejudicial no regresso (75).

Uma restrição demasiado severa na ingestão energética poderá levar a

uma perda desnecessária de peso, deficiência de nutrientes essenciais e

consequentemente a um atraso da reabilitação.

É extremamente importante o acompanhamento do atleta por um

nutricionista a fim de evitar as alterações supracitadas, reajustando as

necessidades energéticas e nutricionais, de forma a optimizar a recuperação e

acelerar a reabilitação para que no regresso à prática desportiva o atleta se

sinta preparado e confiante (4).

Suplementação

O consumo de suplementos nutricionais tem vindo a crescer por parte da

população desportiva, desde os escalões mais jovens até aos atletas de elite.

Para quem treina arduamente, a suplementação é vista como uma ajuda para

promover adaptações ao treino permitindo que estes sejam mais consistentes e

intensos, melhorando a recuperação entre sessões e reduzindo as interrupções

provocadas por lesões ou doenças, aumentando a performance competitiva (6).

Nutrição e Lesões Desportivas 24

Ana Rita Bastos 2008/2009

No entanto, o uso em atletas deverá ser baseado em mecanismos de

acção plausíveis e identificados, conhecendo o metabolismo e outros factores

implicados nas repercussões no desempenho e na saúde do atleta (35).

No caso de deficiências específicas de um nutriente, que não seja

possível obter através da alimentação diária as quantidades necessárias,

normalmente associadas a dietas ou escolhas alimentares restritivas este

poderá ser suplementado por um período limitado de tempo, numa quantidade

definida e com acompanhamento de um profissional de nutrição, até que esta

deficiência seja tratada (76).

A suplementação nutricional na prevenção das LD só fará sentido

quando os nutrientes identificados como envolvidos na etiologia das mesmas

não puderem ser obtidos através da alimentação diária, levando a um prejuízo

das exigências desportivas de nutrimentos e de hidratação, com repercussões

directas no RD e na protecção de estados que predisponham à ocorrência de

lesões, como o aparecimento da fadiga (8, 33).

Proteínas e Aminoácidos

O recurso aos suplementos proteicos é um assunto amplamente

discutido. É claro que uma correcta ingestão proteica, na quantidade certa e

nos momentos adequados trará benefícios ao atleta e protegê-lo-á de algumas

LD. No entanto a suplementação neste nutriente só fará sentido caso o atleta

não consiga obter através da sua alimentação a quantidade diária, seja por

restrição energética ou por necessidades proteicas aumentadas numa

magnitude tal, que a quantidade necessária para suprir as necessidades se

torna impraticável (76, 77). Para além da suplementação proteica, existem

Nutrição e Lesões Desportivas 25

Ana Rita Bastos 2008/2009

suplementos de misturas de aminoácidos, particularmente aminoácidos de

cadeia ramificada (AACR: leucina, isoleucina e valina), que parecem ter um

papel importante na recuperação após o exercício associada à manutenção

dos níveis de glutamina, ao estímulo da síntese proteica e protecção da

degradação da mesma, à ressíntese do glicogénio muscular e no atraso da

fadiga, por competição com o triptofano na barreira hematoencefálica,

diminuindo as acções deste último na promoção da fadiga central (77-79). Sendo

os factores anteriormente descritos associados à ocorrência de determinadas

LD, a suplementação com AACR poderá ser uma medida preventiva quando a

ingestão dos mesmo via alimentar não está garantida (80).

A suplementação proteica e/ou de misturas de aminoácidos, poderá

também ser necessária na fase de tratamento e/ou reabilitação de uma LD.

Dependendo da gravidade da lesão e da extensão do processo inflamatório

inerente, poderá ocorrer um stress metabólico acrescido, com um aumento da

degradação proteica e da perda de massa muscular associada,

comprometendo os processos de cicatrização e recuperação caso não haja um

incremento da ingestão proteica proporcional às necessidades (76).

Antioxidantes

A suplementação em AOX, nomeadamente Vitaminas A, C e E,

por atletas apresenta-se um pouco controversa. Por um lado, diversos estudos

têm demonstrado o efeito protector da sua suplementação, contra os danos

musculares induzidos pelos RL produzidos durante o EF (81, 82). Por outro lado,,

estudos mais recentes demonstram que um desportista tem aumentados os

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Ana Rita Bastos 2008/2009

seus mecanismos AOX endógenos, pelo que a suplementação se mostra

desnecessária (64, 83).

É de referir que em caso de suplementação, esta deve ser

minuciosamente controlada, uma vez que alguns destes nutrientes funcionam

como pro-oxidantes quando ingeridos em doses mais elevadas (84).

Minerais e Oligoelementos

A suplementação de minerais como o cálcio ou ferro, e outros

micronutrientes como o zinco e selénio poderia ser apetecível na população

desportiva como forma de prevenir a ocorrência de deficiências dos mesmos

com possíveis repercussões em mecanismos lesionais. No entanto, a

suplementação “cega” poderá ter consequências negativas para os atletas,

como a ocorrência de toxicidade e envolvimento de mecanismos pro-oxidativos

ou simplesmente não trazer qualquer benefício para o atleta (5, 84, 85).

Glutamina

O exercício intenso e de longa duração, particularmente se regular,

provoca uma redução marcada deste aminoácido no plasma podendo levar à

imunodepressão. Pelo facto da glutamina ser o substrato primordialmente

utilizado por diferentes células imunitárias, como linfócitos e macrófagos, esta

redução dos níveis de glutamina em circulação compromete a capacidade dos

atletas responderem à infecção, o que torna o atleta mais vulnerável à

ocorrência das mesmas e, em caso de LD a um comprometimento da

recuperação (86, 87). Este aminoácido não essencial relaciona-se com um

aumento da síntese proteica e de colagénio (88), essenciais em períodos de

Nutrição e Lesões Desportivas 27

Ana Rita Bastos 2008/2009

recuperação, sendo referido por alguns autores que uma diminuição da sua

concentração poderá ser um importante marcador para prevenir situações de

overtraining (87, 89).

A suplementação deste aminoácido poderia ser tentadora para manter a

sua concentração plasmática e prevenir o decréscimo da função imunitária

após sessões de exercício prolongado. No entanto, actualmente não há um

consenso em relação aos benefícios desta suplementação, existindo estudos

que comprovam o seu efeito benéfico e outros que não (90-92).

Enzimas Proteolíticas

Alguns estudos fazem referência à utilização de enzimas proteolíticas ou

Proteases no tratamento de lesões músculo-esqueléticas, nomeadamente

entorses, fracturas e contusões. Estas enzimas actuam na moderação do ciclo

inflamatório inerente a todas as LD e a regulação do processo cicatricial

subsequente. Estas enzimas têm a capacidade de aumentar a permeabilidade

dos tecidos, facilitando a reabsorção do edema gerado, diminuindo a dor e

aumentando a sensibilidade da estrutura lesada e acelerando a sua

reestruturação, diminuindo o tempo necessário à reabilitação da lesão em

causa. Assim sendo, a suplementação oral com estas misturas enzimáticas

poderá ser benéfica no tratamento de algumas LD (45, 93, 94).

Creatina

A ingestão de creatina como suplemento nutricional é efectuada por

atletas que pretendem aumentar a sua massa muscular e a relação entre a

força muscular e a potência aplicáveis ao desempenho, trazendo vantagens a

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Ana Rita Bastos 2008/2009

nível competitivo (79, 95). No caso da reabilitação de lesões em que seja

necessária imobilização temporária, esta leva a perda de massa muscular no

membro afectado e diminuição da sua capacidade funcional. Nestes casos, há

evidências científicas que demonstram um aumento no estímulo da hipertrofia

muscular associado a um aumento da capacidade funcional após desuso,

optimizando e acelerando a reabilitação, com recurso à suplementação oral de

creatina (79, 96-99).

Sulfato de Glicosamina e Condroitina

As articulações dos atletas são estruturas muitas vezes lesadas,

nomeadamente as dos joelhos e tornozelos, devido a sobrecargas contínuas,

stress ou desgaste por overuse da estrutura, levando a que a sintomatologia

dolorosa das mesmas seja uma queixa frequente na população desportiva (100).

A glicosamina está envolvida na produção de glicosaminoglicanos e colagénio,

factores essenciais para a protecção e reparação da cartilagem das

articulações e a condroitina faz parte da cartilagem, tendões e tecidos

conjuntivos, desempenhando um importante papel como amortecedor. A

utilização de suplementos de Sulfato de Glicosamina e Condroitina,

administrados individual ou conjuntamente, associa-se à diminuição da

severidade dos sintomas dolorosos e à prevenção da degeneração articular

que pode levar ao aparecimento de osteoartrite e outras lesões osteo-

articulares (76, 79, 101, 102).

No caso da população desportiva feminina, envolvida em

modalidades caracterizadas por baixas ingestões energéticas, existem

inúmeras descrições de deficiências ao nível da ingestão de lípidos, cálcio,

Nutrição e Lesões Desportivas 29

Ana Rita Bastos 2008/2009

ferro entre outros, sendo necessário o recurso a suplementação destes

nutrientes para evitar consequências graves tais como fracturas ósseas,

anemia e diminuição das defesas imunitárias (81). Na restante população

desportiva recomenda-se uma vigilância do estado nutricional, preconizando

uma alimentação diversificada e equilibrada, capaz de fornecer a quantidade

de todos os nutrientes necessária ao óptimo desempenho e prevenção dos

mecanismos envolvidos na origem das LD. A suplementação só será

necessária em casos especificamente identificados de deficiência de um

determinado nutriente e por período limitado de tempo, tendo sempre vigilância

de um profissional na área (5, 6, 37, 79, 103).

Grupos de Risco

Quando se fala em prática desportiva e seus benefícios para a saúde,

esta mensagem é transmitida para a população em geral. No entanto, e apesar

do Desporto ser considerado para todos, existem alguns grupos específicos

com os quais se deverá ter um cuidado adicional na prevenção e reabilitação

das LD, pois estas poderão estar condicionadas por factores hormonais, de

crescimento e desenvolvimento, comportamentais, entre outros, levando a uma

susceptibilidade aumentada de contrair lesões durante a prática de EF (104).

Atletas do sexo feminino

Com a recente envolvência do sexo feminino em alguns desportos até

há pouco tempo considerados “para homens” e do aumento do número de

praticantes deste sexo quer a nível recreativo quer competitivo, existem

Nutrição e Lesões Desportivas 30

Ana Rita Bastos 2008/2009

diversos esforços a fim de desenvolver e implementar medidas para reduzir a

incidência de LD neste género e melhorar a qualidade da sua participação (105).

Existem, estudos que demonstram uma maior prevalência de lesões do

ligamento cruzado anterior, relativamente a homólogos do sexo masculino. As

razões por detrás desta ocorrência poderão estar relacionadas com factores

anatómicos, como o maior perímetro perineal ou o ângulo do joelho, hormonais

e/ou da própria condição física (106). Em relação às lesões por overuse, mais

especificamente as fracturas por stress, o sexo feminino terá um risco que

poderá ser explicado em alguns casos pela tão documentada “Tríade da

Mulher Atleta”. Este fenómeno verifica-se quando as raparigas/mulheres sobre

treino intenso, restringem a sua ingestão energética, tornando-a insuficiente

para suprir as necessidades energéticas do EF, levando a irregularidades

menstruais associadas a uma diminuição da produção de Estrogénios. Estes

últimos são essenciais na formação óssea e quando em défice provocam uma

diminuição do conteúdo mineral ósseo, fragilizando os ossos e aumentando o

risco de fracturas e osteoporose associados ao tipo de treino (107).

As deficiências de micronutrientes mais comuns nesta população são o

Cálcio e o Ferro. O primeiro devido à restrição energética e a alguma

reabsorção óssea que pode ocorrer associado a distúrbios alimentares. No

segundo caso, para além das necessidades aumentadas pelo EF devido às

perdas possíveis, estas serão mais acentuadas devido às hemorragias

menstruais, podendo levar a casos de anemia quando a ingestão não assegura

uma reposição correcta deste elemento.

Alertar as raparigas/mulheres para a importância da nutrição no

desempenho desportivo e na preservação da saúde é fundamental para que

Nutrição e Lesões Desportivas 31

Ana Rita Bastos 2008/2009

estas atinjam níveis elevados de RD, que só será possível conseguindo

minimizar o risco da ocorrência das lesões a que são mais susceptíveis.

Atletas crianças e adolescentes

O início da prática de EF cada vez se verifica mais precoce,

nomeadamente em modalidades que implicam a aquisição de determinados

parâmetros físicos e adaptações fisiológicas essenciais para se ser bem

sucedido, mais fáceis em idades menores. Também ao nível competitivo, as

exigências aumentam nas idades mais baixas, fazendo com que crianças e

jovens tenham desde cedo uma elevada intensidade e regularidade de treinos,

sendo portanto essencial um planeamento correcto dos treinos e competições

que garantam uma carreira desportiva segura e saudável e promovam o seu

bem-estar futuro (108).

Sendo a infância e adolescência um período crucial de crescimento e

desenvolvimento, existem diversos aspectos nutricionais essenciais para que a

prática desportiva não prejudique estes processos e, consequentemente, não

cause problemas de saúde tais como determinadas LD, prevalentes nas idades

mais baixas (108).

A influência da actividade física associada a uma criança

saudável é um factor importante para o seu normal crescimento músculo-

esquelético, desenvolvimento cognitivo, função cardiovascular e coordenação

neuromuscular. No entanto, estes efeitos positivos poderão ser contrariados

e/ou prejudicados se não houver uma nutrição cuidada e adaptada ao atleta

jovem (13, 109).

Nutrição e Lesões Desportivas 32

Ana Rita Bastos 2008/2009

Sendo a infância, e principalmente a adolescência, períodos de

crescimento e desenvolvimento acelerados, as necessidades de macro e

micronutrimentos estão aumentadas. Associando a isto um aumento do gasto

energético total e de alguns elementos específicos percebe-se que poderá

ocorrer um atraso nos dois mecanismos referidos, aumentando o risco de LD

(13, 110). A hidratação torna-se fundamental, uma vez que as crianças têm uma

menor eficácia de termorregulação e, consequentemente, um risco aumentado

de hipertermia e hiponatremia caso não haja uma correcta monitorização da

ingestão de líquidos durante o EF, principalmente em ambientes quentes e

húmidos (104).

Uma alimentação equilibrada, diversificada e sustentável faz uma

diferença positiva no atleta jovem, sustentando a capacidade para treinar e

competir, e contribuindo para a saúde. A Hidratação adequada é essencial. As

necessidades nutricionais variam em função da idade, sexo, estado pubertal,

modalidade, regime de treinos, e da altura da época competitiva. Com o

avanço dos níveis de maturidade e competitividade, fisiológicos e psicológicos,

o treino físico e a alimentação devem ser específicos de cada desporto, de

acordo com os ciclos competitivos. O jovem atleta deverá ser avaliado de forma

confidencial, periódica e sensível desde a prescrição do treino à avaliação do

estado nutricional, que deve incluir medidas antropométricas, análises

específicas e avaliação clínica, de forma a estar preservado de consequências

negativas da prática de EF tais como as LD o são (110).

Nutrição e Lesões Desportivas 33

Ana Rita Bastos 2008/2009

Análise Crítica

Na sociedade actual, existe cada vez mais um alerta para os benefícios

da prática de EF associada a uma alimentação equilibrada como factor

promotor de saúde e preventivo de determinadas patologias. Obviamente que

os riscos inerentes a qualquer prática desportiva não podem ser eliminados,

mas, apesar destes, os benefícios obtidos através da mesma em muito os

superam!

Pequenas LD, ocorridas num atleta recreativo, terão repercussões na

sua qualidade de vida e no seu bem-estar, podendo levar a uma diminuição ou

abandono da prática desportiva. Apesar de não ser desejável, é compreensível

que a magnitude da gravidade das lesões contraídas por este tipo de

desportista seja significativa.

Ao abordarmos o tema das LD numa perspectiva do Alto Rendimento,

verificamos que cada vez mais é uma área de preocupação e investigação,

existindo trabalhos desenvolvidos por organizações como o Comité Olímpico

Internacional (COI), a Federação Internacional de Futebol, a Associação

Internacional de Atletismo, entre outras, com o objectivo de obter o maior

número de dados possíveis envolvidos na ocorrência de LDs. Segundo dados

obtidos pelo COI nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, 1055 (9,6%) dos

atletas participantes tiveram de receber assistência/tratamento devido a uma

LD (104). Para além dos efeitos directos que isto tem no atleta a nível físico e

psicológico uma vez que treinou arduamente para atingir um determinado nível

e estar presente na competição mundial com maior importância, existem custos

económicos, sociais e culturais associados a estes números.

Nutrição e Lesões Desportivas 34

Ana Rita Bastos 2008/2009

Como este exemplo, penso que existirão muitos mais, justificando a

necessidade de levar a cabo estudos rigorosos que permitam a identificação de

métodos preventivos eficazes, de forma a proporcionar o máximo rendimento

aos atletas sem pôr em causa a Saúde (condição física e psicológica).

Partindo dos pressupostos teóricos da prevenção das LD, deverá existir

um esforço sinérgico de todos os envolvidos com na prática desportiva, de

recreação ou competição, no sentido de educar, aplicar, monitorizar e optimizar

a sua área de actuação, convergindo numa diminuição do número de lesões

decorrentes da prática desportiva e numa melhoria da sua recuperação e

levando à optimização dos resultados!

O Nutricionista será um destes intervenientes que, integrado numa

equipa multidisciplinar, terá um papel crucial na optimização do estado

nutricional dos atletas, analisando e monitorizando todos os factores

nutricionais envolvidos no RD, optimizando-o, o que só é possível se a

prevenção da ocorrência de deficiências nutricionais que predisponham o atleta

a uma LD for eficaz! Daí se advogar que a educação alimentar deverá iniciar-se

nos escalões de formação desportiva, criando uma base de conhecimentos,

práticas e hábitos alimentares adequados às necessidades inerentes a cada

atleta e modalidade ao longo do tempo. Só assim poderemos afirmar que a

ocorrência de uma lesão foi um “azar” ou um “acidente de percurso” e não um

descuido ou “negligência”!

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Conclusão

Apesar de tudo o que foi referido ao longo deste trabalho, o papel

da nutrição per si na prevenção e no tratamento das LD poderá ser modesto,

tendo em conta a multiplicidade de factores envolvidos. No entanto, se os

atletas e equipa envolvida tiverem em conta os factores nutricionais envolvidos

na génese das LD, estarão também a optimizar o desempenho e a potenciar o

rendimento, pois para além da herança genética, dos factores motivacionais e

do treino, nenhum outro factor influenciará tanto o Sucesso desportivo como

uma Nutrição adequada associada ao treino físico, sem a ocorrência de Lesões

Desportivas!

“Se pudermos dar a cada indivíduo uma quantidade suficiente de

alimento e de exercício, nem de mais, nem de menos, fornecer-lhe-emos o

meio mais seguro para atingir a saúde.”

Hipócrates, 400 anos a.c.

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