nÚmero xviii | 3º trimestre | outubro 2014 nº18 cercioeiras... · num tempo em frequentemente...

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news NÚMERO XVIII | 3º TRIMESTRE | OUTUBRO 2014 editorial Lar Residencial ISS COMEÇAMOS POR AFIRMAR QUE A INCLUSÃO É UMA QUESTÃO DE DIREITOS HUMANOS! HOJE EM DIA, O CONCEITO DE INCLUSÃO É SOBEJAMENTE UTILIZADO EM CONTEXTOS QUE VÃO DESDE A EDUCAÇÃO À RESTAURAÇÃO, MAS HÁ 10 ANOS NÃO SERIA ESTA A PERSPETIVA. O movimento de integração escolar e a desinstitucionalização dos então chamados “deficientes” generaliza-se a partir do final dos anos 70. Para Wolfensberger (1972), “a integração é o oposto a segregação, consistindo o processo de integração nas práticas e nas medidas que maximizam (potencializam) a participação das pessoas em atividades comuns (mainstream) da sua cultura”. Por outro lado, a National Association of Retarded Citizens (EUA) define a integração escolar como a “oferta de serviços educativos que se põem em prática mediante a disponibilidade de uma variedade de alternativas de ensino e de classes que são adequadas ao plano educativo, para cada aluno, permitindo a máxima integração institucional, temporal e social entre alunos deficientes e não-deficientes durante a jornada escolar normal”. A integração escolar retirou as crianças e os jovens em situação de deficiência das organizações de ensino especial, em defesa da sua normalização, o que lhes permitiu o usufruto de um novo espaço e de novos parceiros de convívio, de socialização e de aprendizagem (a escola regular). A experiência que se adquiriu com a integração escolar, e toda a reflexão que a mesma gerou sobre a escola, ajudou a desencadear o movimento da inclusão que pretende promover o sucesso pessoal e académico de todos os alunos, numa escola inclusiva. A inclusão é a palavra que hoje pretende definir igualdade, fraternidade, direitos humanos ou democracia (Wilson, 2000), conceitos em que acreditamos, mas que não sabemos ou não queremos pôr em prática. A escola em que vivemos e trabalhamos está longe de cumprir estas prerrogativas, mas há um caminho a percorrer e um sonho a comandar a vida (Gedeão, 1956): a participação na construção de uma sociedade democrática, em que a justiça, o respeito pelo outro e a equidade sejam os grandes princípios de ser e de estar consigo e com os outros. Com a escola inclusiva, os alunos, todos os alunos, estão na escola para aprender, participando. Não é apenas e só a presença física, é a pertença à escola e ao grupo. É o direito à diferença, ao respeito, à individualidade, às oportunidades mas, também, a visão de que o movimento não deve partir única e exclusivamente do indivíduo, mas que o contexto, seja ele escolar, social ou politico, tem que se modificar e aproximar-se das necessidades de cada um. Ivone Félix Diretora Executiva vai acontecer NOVEMBRO/DEZEMBRO Atividades Desportivas de Basquetebol - APPACDM - (6 de novembro) 1ª Edição Market Place Lisboa - (7 de novembro) Atletismo - CERCIAMA (20 de novembro) Jornadas Técnicas CERCIOEIRAS, CNBC, EMDIIP (28 e 29 de novembro) Dia Internacional da Pessoa com Deficiência (3 de dezembro) Festa de Natal dos Clientes (11 de dezembro) Lanche de Natal dos Colaboradores (12 de Dezembro) INTEGRAÇÃO VS INCLUSÃO EXCLUSÃO SEGREGAÇÃO INTEGRAÇÃO INCLUSÃO Editado por: www.FilosofiaHoje.com

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newsNÚMERO XVIII | 3º TRIMESTRE | OUTUBRO 2014

editorial

Lar Residencial

ISS

COMEÇAMOS POR AFIRMAR QUE A INCLUSÃO É UMA QUESTÃO DE DIREITOS HUMANOS! HOJE EM DIA, O CONCEITO

DE INCLUSÃO É SOBEJAMENTE

UTILIZADO EM CONTEXTOS QUE VÃO

DESDE A EDUCAÇÃO À RESTAURAÇÃO, MAS HÁ 10 ANOS NÃO SERIA ESTA A PERSPETIVA.

O movimento de integração escolar e a desinstitucionalização dos

então chamados “deficientes” generaliza-se a partir do final dos

anos 70. Para Wolfensberger (1972), “a integração é o oposto a

segregação, consistindo o processo de integração nas práticas e

nas medidas que maximizam (potencializam) a participação das

pessoas em atividades comuns (mainstream) da sua cultura”.

Por outro lado, a National Association of Retarded Citizens (EUA) define a integração escolar como a “oferta de serviços

educativos que se põem em prática mediante a disponibilidade

de uma variedade de alternativas de ensino e de classes que são

adequadas ao plano educativo, para cada aluno, permitindo a

máxima integração institucional, temporal e social entre alunos

deficientes e não-deficientes durante a jornada escolar normal”.

A integração escolar retirou as crianças e os jovens em situação

de deficiência das organizações de ensino especial, em defesa

da sua normalização, o que lhes permitiu o usufruto de um novo

espaço e de novos parceiros de convívio, de socialização e de

aprendizagem (a escola regular).

A experiência que se adquiriu com a integração escolar, e

toda a reflexão que a mesma gerou sobre a escola, ajudou a

desencadear o movimento da inclusão que pretende promover

o sucesso pessoal e académico de todos os alunos, numa escola

inclusiva.

A inclusão é a palavra que hoje pretende definir igualdade,

fraternidade, direitos humanos ou democracia (Wilson, 2000),

conceitos em que acreditamos, mas que não sabemos ou não

queremos pôr em prática.

A escola em que vivemos e trabalhamos está longe de cumprir

estas prerrogativas, mas há um caminho a percorrer e um sonho a comandar a vida (Gedeão, 1956): a participação na construção

de uma sociedade democrática, em que a justiça, o respeito pelo

outro e a equidade sejam os grandes princípios de ser e de estar

consigo e com os outros.

Com a escola inclusiva, os alunos, todos os alunos, estão na escola

para aprender, participando. Não é apenas e só a presença física,

é a pertença à escola e ao grupo. É o direito à diferença, ao

respeito, à individualidade, às oportunidades mas, também,

a visão de que o movimento não deve partir única e

exclusivamente do indivíduo, mas que o contexto, seja

ele escolar, social ou politico, tem que se modificar

e aproximar-se das necessidades de cada um.

Ivone Félix

Diretora Executiva

vai acontecerNOVEMBRO/DEZEMBRO• Atividades Desportivas de Basquetebol - APPACDM - (6 de novembro)

• 1ª Edição Market Place Lisboa - (7 de novembro)

• Atletismo - CERCIAMA (20 de novembro)

• Jornadas Técnicas CERCIOEIRAS, CNBC, EMDIIP (28 e 29 de novembro)

• Dia Internacional da Pessoa com Deficiência (3 de dezembro)

• Festa de Natal dos Clientes (11 de dezembro)

• Lanche de Natal dos Colaboradores (12 de Dezembro)

INTEGRAÇÃO VS INCLUSÃO

EXCLUSÃO SEGREGAÇÃO

INTEGRAÇÃO INCLUSÃOEditado por: www.FilosofiaHoje.com

C Um novo ano letivo está a começar. Novos caminhos, renovados planos e ex-

pectativas cruzam-se no horizonte de crianças e jovens, famílias, professores,

técnicos e funcionários em contextos educativos e sociais onde se deseja que

a igualdade de oportunidades e a participação plena de todos seja uma realidade.

Numa sociedade onde os desafios são cada vez complexos e prementes, onde a indi-

ferença e o individualismo exacerbados tendem a prevalecer sobre outros valores, a

exigência atual que se coloca à escola inclusiva é a da promoção de uma convivência

comum, no respeito pela diferença que o outro representa em espaços onde todos se

cruzam.

Num tempo em frequentemente ouvimos dizer que somos todos diferentes, mas iguais na diferença, revela-se ainda incompleta a aceitação da diversidade, do que não é con-

vencional. O desafio da inclusão reclama a capacidade de construção de espaços quo-

tidianos de aprendizagem onde se possa partilhar, na diferença e na pluralidade, em

liberdade e com autonomia, as nossas próprias diferenças para que se possa respeitar

a diferença do outro.

A aprendizagem só é possível na troca, na interação, no respeito pela individualidade

e experiências particulares de cada um. O processo de aprender com a diferença e de

pensar a diferença na escola tem necessariamente de começar pela partilha entre todos

aqueles que desempenham uma função junto de crianças e jovens, seja de natureza

educativa, técnica, administrativa, terapêutica ou outra.

A diferença enriquece e torna-se facilitadora de uma ação mais eficaz se tivermos a

capacidade de abrir a escola à inclusão de outros profissionais cujos saberes e métodos

são indispensáveis ao desenvolvimento e formação dos alunos.

Mais do que assumir uma perspetiva restrita e fechada do ato de ensinar, que se en-

contra tão em voga em determinados setores da sociedade portuguesa na atualidade,

importa recentrar o debate sobre a escola inclusiva na necessidade de desconstrução

de preconceitos e imagens estereotipadas que ainda hoje marcam e limitam a evolução

escolar e a inclusão social de muitas crianças e jovens.

São muitos ainda aqueles a quem, ainda hoje, se vê negada a participação efetiva no

acesso a oportunidades diferenciadas, violando-se valores e princípios estabelecidos em

normativos nacionais e internacionais.

Por isso, comemorando-se este ano, em 20 de novembro, os 25 anos da aprovação

pela Assembleia Geral das Nações Unidas da Convenção sobre os Direitos da Criança

(CDC), nunca será demais reafirmar que a aceitação da diferença começa a ser vivida

e apreendida muito cedo.

Neste sentido, cabe à escola um papel privilegiado onde “cada criança e jovem têm

de convidar o outro a aprender, e a aprender a aprender, do seu próprio modo, na sua

diferença, fazendo o papel daquele que estimula e requer do outro que ele possa ultra-

passar-se a si mesmo” (Sardi, 2004, p.19). Só assim fará sentido falar de uma escola

verdadeiramente inclusiva.

1 Professora Educação Especial, Agrupamento de Escolas Carnaxide-Portela, Investigadora do CESNOVA, FCSH-Universidade Nova de Lisboa.

2 Sardi, Sérgio (2004). Ula: Um Diálogo Entre Adultos e Crianças. Rio de Janeiro: Ed. Vozes.

AGOSTO• Praia acessível a pessoas com

deficiência (durante o mês)• Manhã de Culinária e Almoço ao Ar

Livre - pátio (dia 14)• Concerto Natiruts (dia 19)• Aula de Karaté (dia 20)• Um dia na piscina (dia 21)

SETEMBRO• Reinício das atividades do CAO e IP

(dia 2)• Benchmarking (partilha de boas

práticas) com CERCICA e CECD (Unidades Residenciais) na CERCIOEIRAS (dia 11)

• Projeto “ Fazer Contas à Vida” (dias 15 a 19)

• Lançamento do Livro “O Sabor está na Diferença” (dia 25)

• Inauguração da Exposição (IN)Diferenças (dia 26)

• Feira Solidária CERCIOEIRAS – Recolha de bens e workshops de reciclagem (dias 26 a 28)

• Formação Higiene e Segurança no Trabalho (dias 26 e 29)

OUTUBRO • Almoço “Chef Lurdes” – Arroz de

Cabidela (dia 3)• Auditorias Externas APCER (dias

9 e 30) • 39º Aniversário da CERCIOEIRAS

(dia 13)• Reunião de Revisão pela Gestão

(dia 13)• Ação de sensibilização “Higiene e

Prevenção oral” (Master Dental) para colaboradores (dia 20)

• Dádiva de Sangue na CERCIOEIRAS (dia 22)

• Apresentação da equipa da ELI OEIRAS no encontro da Unidade Cuidados Familiares no Hospital São Francisco Xavier (dia 22)

aconteceu... APRENDER COM A DIFERENÇA – PARA UMA ESCOLA INCLUSIVAMaria João Leote de Carvalho 1

“Que mundo é esse em que vivemos... onde é mais fácil quebrar o núcleo de um átomo do que um preconceito.” Albert Einstein (1879-1955)

news

SENDO A EDUCAÇÃO RECONHECIDAMENTE UMA DAS FERRAMENTAS MAIS EFICAZES NA ERRADICAÇÃO DA PO-BREZA, CONSTITUI INDUBITAVELMENTE UM DOS MAIS EFICAZES INSTRUMENTOS NO DERRUBE DAS BARREI-RAS QUE SUSTENTAM A EXCLUSÃO SOCIAL DE GRUPOS TRADICIONALMENTE MENOS FAVORECIDOS E MAIS DESPROTEGIDOS.

APRENDER COM A DIFERENÇA - A ESCOLA INCLUSIVA

É um desafio de cada um entender o desenvolvimento das esco-las inclusivas como uma tarefa pessoal, que exige de nós uma reflexão profunda sobre os nossos (pre)conceitos e práticas e sobre a forma como olhamos para o outro. Temos que ir além da aceitação e do respeito pela diferença. Temos que vivê-la como uma realidade intrínseca a cada um, que não pode ser geradora de barreiras mas pelo contrário faça de cada um de nós um ser único, pleno e insubstituível aos olhos do outro.

Alexandra Crespo, Mãe da Matilde Castro

A massificação da educação trouxe consigo a possibilidade de acesso de todas as crianças e jovens às estruturas educativas, mas a visão de uma escola direcionada para grupos homogéneos, igual para todos, foi criando mecanismos de exclusão educativa e social. A escola, para manter o seu propósito de vetor fundamen-tal de inclusão, ao confrontar-se com as exigências de um público heterogéneo, sentiu a necessidade de levar a cabo uma profunda reflexão sobre os conceitos que foram sendo o motor do seu de-senvolvimento e as práticas que daí foram resultando.Após muitas transformações, a escola adotou para si os valores da educação inclusiva, como sejam a equidade, a diversidade, a igualdade e solidariedade que lhe dão uma dimensão ética in-questionável. Estes mesmos valores enformam a Declaração dos Direitos Humanos e são a base de um percurso civilizacional que se reconhece como o mais promissor para o desenvolvimento de comunidades verdadeiramente inclusivas que acolhem e respei-tam todos e cada um, independentemente das suas característi-cas individuais e credos. Assim, a escola inclusiva não deve ser olhada de uma forma isolada, mas sim no contexto dos direitos humanos e da justiça social.A escola inclusiva não se resume a um espaço a que todos podem aceder e onde todos podem permanecer, mas sim a uma estrutura onde todos podem aprender. Uma organização onde todos podem participar e, sobretudo, uma comunidade educativa dinâmica que faz da diferença e da diversidade um motor de desenvolvimento constante. No entanto, a escola inclusiva não se constrói apenas pela as-sunção de conceitos e valores eticamente inquestionáveis. Para serem inclusivas, as escolas têm que combinar visão e compro-misso à luz desses valores e assumir a necessidade de inovação e renovação, o reconhecimento de que não há grupos de alunos diferentes mas sim alunos com características diversas entre si que têm o direito de encontrar na escola as práticas de que ne-cessitam para aprender.Para que a escola seja um espaço inclusivo de aprendizagem, de desenvolvimento e de participação efetiva é necessário que a diferença de cada um encontre respostas diversificadas e ade-quadas no que respeita à acessibilidade, aos currículos, às estra-tégias e aos métodos. Mas, antes de mais, é necessário o reco-nhecimento por parte de todos os que integram a comunidade educativa de que a diferença não é, per si, sinónimo de barreira à aprendizagem, à atividade e à participação e a premissa de que todas as crianças e jovens têm o direito a aprender na escola aquilo de que necessitam para se tornarem o mais independentes e autónomos possível.

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APOIOSCERCIOEIRASRua 7 de Junho, nº 572730-174 BARCARENATelef: 21 423 96 80 / Fax: 21 423 96 89E-Mail: [email protected]: www.cercioeiras.pt

DESIGN DE COMUNICAÇÃO

“O SABOR ESTÁ NA DIFERENÇA”

EXPOSIÇÃO (IN)DIFERENÇAS

LIVRO DE RECEITAS DE JOSÉ MARIA CAMBEIRO, COM PREFÁCIO DO CHEF JOSÉ AVILLEZ, FOI APRESENTADO NA CERCIOEIRAS EM 25 DE SETEMBRO.

A exposição (IN)Diferenças decorreu das atividades realiza-das pelos clientes do Centro de Atividades Ocupacionais, que visam a valorização pessoal e a sua integração em contextos

mais inclusivos, permitindo o desenvolvimento das suas capacidades e competências. Realizou-se em 26 de Setembro no Museu do Oriente.Mais do que uma mostra de competências artísticas, de expressão de emoções e de sentimentos, a exposição constitui um reforço dos direi-tos da igualdade de oportunidades que contribuem para a desmistifica-ção de estereótipos, atitudes e barreiras de natureza diversa à inclusão das pessoas com deficiência na sociedade, consciencializando para a importância de uma sociedade civil mais equitativa e inclusiva!Este dia tão especial para os nossos artistas, que tiveram a possibilida-de de expor e apresentar as suas obras aos familiares e amigos, contou ainda com a especial presença da Dr.ª Maria Cavaco Silva. Agradecemos a todas as pessoas que estiveram connosco neste final de tarde cheio de arte! Em especial ao Museu do Oriente que nos deu a possibilidade de expor as obras. Parabéns Artistas!

A postamos na construção de uma sociedade inclusiva, queremos uma participação ativa e plena, assim

como a igualdade de oportunidades e o re-conhecimento das competências das pessoas com deficiência intelectual.É com este espírito e com a premissa do em-preendedorismo e da inovação que nasce o livro do José Maria Cam-beiro, cliente do Centro de Atividades Ocupacionais, que contou com a colaboração e prefácio do chef José Avillez. Um livro de receitas adaptado, que segue as regras europeias de leitu-ra fácil e símbolos pictográficos, acessível no manuseamento e com a possibilidade de acesso digital (impressão dos símbolos e jogos didáticos). Com base nestas características, pretendemos que seja usado em contexto familiar, escolar e institucional.Ao longo deste tempo, o José Maria Cambeiro ensinou-nos: “A Trissomia 21 não define quem eu

sou, nem o que quero fazer!” Divirta-se!